Educação Emocional: Um Relato de Experiência de...
-
Author
nguyenkiet -
Category
Documents
-
view
218 -
download
0
Embed Size (px)
Transcript of Educação Emocional: Um Relato de Experiência de...
Educao Emocional: Um Relato de Experincia de professores no
desenvolvimento desta metodologia em uma escola pblica da cidade de
Queimadas
Ana Patrcia Martins Barros (1); Maria Jos Loureno Ramos (2); Rubenice Macdo da Silva
(3); Fernanda Monteiro Barbosa (4); Francisco Ferreira Dantas Filho (5)
Universidade Federal da Paraba, [email protected]
Resumo: O presente trabalho trata de um relato de experincia de docentes da disciplina de cincia e de
matemtica realizada em uma escola pblica da cidade de Queimadas, sobre o desenvolvimento de
vivencias de educao emocional, destacando o quanto esse tipo de abordagem pode contribuir para um
ensino e aprendizagem e um crescimento social e humano para os que compem esse sistema.
Participaram desta pesquisa os professores concluintes de um curso de formao oferecido pela
Secretaria de Educao do municpio. A partir dos relatos dos professores ficou e a necessidade que
educao ainda possui de avanar alm de contedos em sala, do quadro e giz. Percebemos a evoluo
dos alunos e o quanto a educao emocional pode enriquecer e contribuir em uma aula quando
desenvolvida com propriedade do que se est trabalhando. A educao emocional, cientificamente
construda e aplicada com responsabilidade, certamente poder desenvolver experincias significativas
na educao escolar.
Palavras-chave: Educao Emocional; Vivncias; Cincias.
Introduo
Nas ltimas dcadas o estudo das emoes vem sendo desenvolvido por profissionais das
diversas reas do conhecimento cientfico, configurando-se como um fator relevante para o
processo de desenvolvimento humano. Na educao, apesar ainda recente os estudos e
pesquisas esto contribuindo significamente. Para que se possa compreender o
desenvolvimento desta pesquisa se faz necessrio destacar o sentido de alguns termos aqui
abordados, baseando-se nos fundamentos de Goleman (1995, p. 20) para o autor todas as
emoes so, em essncia, impulsos para lidar com a vida que a evoluo nos lanou. A partir
dessa proposio, julgamos que as emoes funcionam como um sinalizador interno de que
algo importante est acontecendo.
Desta forma podemos entender que as emoes, numa perspectiva cognitiva, surgem como
elementos da cognio; como mecanismos mentais presentes na percepo, no pensamento, na
ateno, na memria, de cada indivduo; a serem utilizados sempre que necessrio para dar
respostas apropriadas aos acontecimentos a que sejam submetidos. Contribuindo ainda para um
maior entendimento acerca do termo emoes, GONSALVES 2017, destaca:
A palavra emoo tem seu significado associado a abalo de
ordem moral ou afetiva; perturbao, geralmente passageira,
mailto:[email protected]
provocada por algum fato que afeta o nosso esprito (boa ou m
noticia, surpresa, perigo). GONSALVES 2017, pg. 15.
O que nos faz perceber, a diversidade de significados que podem se utilizar para explicar
em muitos casos algo que apenas sentido. Fortalecendo o conhecimento na construo deste
conceito, GONSALVES 2017 relata:
A emoo uma reao. A ideia significa algo que se manifesta em um corpo pela ao feita por algo que lhe
exterior. Reao a resposta um estmulo, a uma ao
provocado por um agente. Por sua vez, a ao o que acontece
mediante uma iniciativa, no uma resposta a uma provocao.
GONSALVES 2017, pg.18.
E estudos relacionados o tema das (emoes) identificam existncia de duas reas
distintas para identific-las. As emoes bsicas: medo, alegria, raiva; so identificadas desde
o nascimento e, podem estar relacionadas s necessidades naturais de sobrevivncia do ser
humano. Em consecutiva, outras emoes podem surgir ao longo da vida, mediante situaes
vivenciadas as secundrias (sociais); so elas: a vergonha, paixo, tristeza, desprezo, surpresa,
amor. Sobre a importncia das emoes no contexto educacional, Santos (2000, p. 22), acredita
que:
...a educao com objetivos exclusivamente cognitivos tem se
mostrado insatisfatria, pois, apesar de tantos avanos
tecnolgicos, da televiso, de computadores e, multimdia
utilizados no processo educacional, as novas geraes tm
mostrado crescente falta de competncia emocional e social.
A partir do pensamento deste autor, pode-se entender que o modelo educacional ainda
vigente, dispe na maioria dos casos, de recursos materiais necessrios para o desenvolvimento
cognitivo do estudante; porm, a sociedade atualizada a qual estamos vivenciando
constantemente, abstm-se de outras competncias afetividade, solidariedade, iniciativa, etc.;
e por essa razo, exige que a escola cuide da formao humana em sua complexidade e
totalidade, possibilitando ao homem relacionar-se de forma saudvel, consigo mesmo, com o
outro e com o mundo.
Para Luckesi (1994, p. 37), a questo primordial, quando pensamos em educao, : Que
sentido pode ser dado educao, como um todo, dentro da sociedade?. O autor complementa
dizendo:
Alguns respondero que a educao responsvel pela
direo da sociedade, na medida em que ela capaz de
direcionar a vida social, salvando-a da situao em que se
encontra; um segundo grupo entende que a educao reproduz
a sociedade como ela est; h um terceiro grupo de pedagogos
e tericos da educao que compreendem a educao como
uma instncia mediadora de uma forma de entender e viver a
sociedade. Para estes a educao nem salva nem reproduz a
sociedade, mas pode e deve servir de meio para a efetivao de
uma concepo de sociedade. (LUCKESI, 1994, p. 37).
A educao se apresenta, para alguns, como esperana de transformao e
desenvolvimento dos seres humanos, na articulao da teoria e prtica e do discurso e ao.
Percebemos que o trao predominante da educao oriental, por exemplo, era o idealismo
religioso. O ensino era, sobretudo, oral. A repetio e a reviso constituam os processos
pedaggicos bsicos [...] o ensino hebraico era conteudista, enchendo a criana de trabalhos.
(GADOTTI, 2005, p. 26).
Diante das mudanas impostas pelo modelo social vigente, a educao, mais precisamente
a escolar, tambm necessita passar por transformaes nos processos de ensino para garantir a
aprendizagem significativa e atender as necessidades da sociedade. Sobre a aprendizagem
significativa Ausubel et al., 1978, p. 159 define :
...o aprendizado significativo acontece quando uma informao
nova adquirida mediante um esforo deliberado por parte do
aprendiz em ligar a informao nova com conceitos ou
proposies relevantes preexistentes em sua estrutura
cognitiva. (Ausubel et al., 1978, p. 159).
Percebemos na reviso do autor que, a aprendizagem significativa depreende a condio
de o estudante organizar hierarquicamente, os conhecimentos adquiridos e consolidados,
previamente, para ter acesso a novos conceitos. Entretanto, para outros estudiosos, a
aprendizagem acontece mediante um misto de condies: memria, ateno, concentrao,
interesses, desejos; mas tambm, por estmulos pessoais a partir da ao dos prprios
hormnios/ neurnios, bem como, por informaes advindas do ambiente externo que
influenciam as reaes do crebro humano.
Sobre a influncia das emoes nos processos educacionais COSENZA (2011, p.82)
destaca a importncia da interao entre os processos cognitivos e emocionais no crebro. A
partir dessa verificao podemos perceber que o crebro responde aos estmulos recebidos, e
dependendo do tipo de estmulo positivo ou negativo regies especficas do crebro so
ativadas favorecendo ou no, a aprendizagem. Nesse caso, necessrio que o professor esteja
atento s emoes dos alunos, mas tambm, s prprias emoes; considerando que antes do
que dito verbalmente, as expresses emocional, facial e corporal podem transmitir algo
diferente do que se prope ensinar.
Com isso, a ao docente assume um lugar extremamente importante, visto que, atravs
de seu trabalho o professor poder contribuir para a transformao de certas realidades pouco
humanizadas. Contribuindo, Cassassus (2009), afirma que, ter um ambiente emocional
adequado, gerado pelo bom relacionamento entre professor e aluno, revela o papel das emoes
como caracterstica fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem e da vida das
pessoas.
Como podemos observar, necessrio que se promova, de fato, as mudanas na educao
que a sociedade requer e necessita, sendo o professor pea fundamental para essa conquista.
Para Sampaio (2004, p. 37): A educao no pode restringir-se a treinamentos ou apenas
informaes. necessrio repens-la e faz-la servir vida, realizao humana, social e
ambiental. Esta necessidade tambm enfatizada por Beauport (1998), quando afirma que, se
a elaborao do processo racional contribuiu para o avano da cincia, e de se esperar que a
elaborao de nosso processo emocional contribua para o avano humanstico.
Nesse contexto, o objetivo inicial desse artigo relatar a experincia de dois professores da
disciplina de cincia, na realizao de vivncias metodolgicas, com abordagens centradas na
promoo de uma educao emocional.
Metodologia
Este artigo refere-se a um relato de experincia didtica realizado por dois professores da
disciplina de cincias e matemtica, na aplicao de vivncias abordando a educao
emocional, como uma inovao metodolgica no dia a dia de suas aulas.
importante destacar que estes professores fizeram o curso de formao em educao
emocional, realizado e oferecido pela secretaria municipal de educao, da cidade de
Queimadas, ministrado pela professora Dr Elisa Gonsalves Possebon e o professor Dr. Fabricio
Possebon com uma durao de 180 horas. As turmas em que foram aplicadas as vivncias,
foram as turmas A e D do 9 ano manh e as turma do 9 B e C de matemtica do mesmo turno,
totalizando 128 alunos .
Durante todo o curso foi disponibilizado material, para que estes professores utilizassem de
forma prtica em suas aulas, para a obteno de resultados positivos a partir das vivncias em
educao emocional. Para obteno dos dados foi solicitado aos professores que descrevem
informalmente suas experincias com a educao emocional se possvel desde o
desenvolvimento do curso. Desta forma destacamos aqui o relato destes professores
identificados por Professor 1 e Professor 2, expostos a seguir:
Relato Professor 1
Minha experincia com aplicao de prticas abordando a educao emocional nas salas de
aula iniciou-se ainda durante o curso, onde foi apresentado a educao emocional para os
alunos em sala como nos tinha sendo trabalhada no curso. Inicialmente apenas com dialogo e
algumas curiosidades sobre o poder e a compreenso das emoes em nosso cotidiano, os
alunos mostraram-se de incio um pouco incredibilidade, porm faziam questo de destacar a
mudana que notavam em minhas atitudes em sala estariam mudadas depois da realizao
deste curso. Ouvi muitos comentrios em relao a diversas posturas e formas em relao na
abordagem dos contedos, verificao de aprendizagem e at mesmo em pequenos momentos
de afetividade entre o aluno e eu. Percebi que conforme foi se trabalhando as vivencias, eles
tinham mais uma certa confiana de questionar como tambm dialogar sobre o contedo
trabalhado, alguns alunos chegaram inclusive em contar sobre alguns problemas pessoais, e
foi onde percebi primeiramente meu crescimento pessoal e profissional depois do curso, mas
principalmente o quanto esse crescimento estava fazendo bem para mim e meus alunos.
Sobre a aplicao das prticas, busquei de incio trabalhar em salas especificas, as que
acreditava que estavam mais necessitadas de ser regular emocionalmente, porm sempre
que realizava uma vivencia em uma sala e em outras no, as quais sou professora, os alunos
falavam que eu estava tendo algum tipo de favoritismo por tal turma, e assim acabava
realizando as vivencias em todos as minhas turmas. Pude notar e remeto isso a minha mudana
de conduta em sala, que depois do curso os alunos que realmente participavam e estavam
sempre entusiasmados pelas novas prticas a cada encontro do curso, um grande avano em
relao aprendizagem ao comportamento em sala e at mesmo em relao ao dialogo comigo.
Alguns alunos com caractersticas de famlias desestruturadas com histricos de mal
comportamentos e at mesmo de violncia, chegaram a se emocionar com a dinmica do tnel
da qualificao, estes inicialmente chegaram a no querer a nem pintar a mandala. A
assiduidade em minha tambm foi bem maior. Sempre procurei no avisar os dias que iria
aplicar alguma vivncia, os alunos que faltava chegavam a no gostar disso, porm para mim
era um meio de faz-lo no faltarem sem motivos e acredito que acabou dando certo. Enfim
minha experincia com a educao emocional aplicada em minhas aulas, tem me ajudado
muito a olhar meu aluno como algum que merece ser ouvido mais antes de tudo tambm
compreendido, no penas como um simples aluno que est ali para aprender os contedos, mas
tambm como algum que em muitos casos no possuem ningum por eles, quanto mais, pais
que nem se quer nunca lhe deram um abrao. A seguir algumas fotos de vivncias aplicadas
pelo Professor 1
Figura 01: Aluna na dinmica inicial Mandala.
FONTE: Autor, 2018.
Figura 02: Aplicao das vivncias andar confiante e abelhinha
FONTE: Autor,2018.
Relato Professor 2
Sou professora de matemtica na Escola Municipal de Ensino Fundamental Antnio Vital
do Rgo, na cidade de Queimadas - PB. No ano passado tive a oportunidade de participar de
um Curso de Formao em Educao Emocional promovido pela Secretaria de Educao do
municpio em parceria com o Ncleo de Educao Emocional da Universidade Federal da
Paraba.
Aps esta formao muitas coisas mudaram para melhor no dia a dia da minha sala de
aula. Passei a ter um olhar mais afetivo em sala, buscando observar meus alunos com mais
ateno e refletindo sobre estratgias que pudessem proporcionar aos meus alunos um
encontro mais tranquilo e afetivo com a matemtica. importante destacar o fato desta
disciplina ser considerada muito difcil e, por isso se torna um tormento na vida de muitos
alunos, sendo na maioria das vezes motivo de fracasso e frustrao. A partir da, muitas
emoes so despertadas como a raiva, o medo e a tristeza. Dessa forma, tenho buscado formas
de tornar o encontro com cada novo contedo, um encontro tranquilo e prazeroso. Alm de
aplicar em sala as vivncias da Educao Emocional, tenho utilizado mtodos como a
resoluo de problemas e recursos tecnolgicos. Ao aplicar a Educao Emocional nas minhas
aulas, tenho percebido bons resultados, pois ao proporcionar um bem estar nos alunos, eles
tm se tornando cada vez mais seguros e receptivos ao estudar os contedos matemticos.
Sendo assim, a cada novo contedo apresentado, eles encaram como mais conhecimentos que
sero somados aos contedos j estudados. Outro ponto muito importante, tem sido a aplicao
das vivncias de Educao Emocional, que so momentos muito intensos onde os alunos podem
expor suas emoes e viverem um momento especial que lhes causa bem estar, proporcionando
um clima agradvel em sala, entre alunos e alunos e alunos e professora. Portanto, a Educao
Emocional causou uma mudana em minha prtica que tem gerado bons resultados, pois o
ambiente da minha sala de aula se tornou bem mais propicio a aprendizagem, principalmente
porque meus alunos no demonstram ter medo ou raiva da matemtica. Dessa forma, o
rendimento dos meus alunos tem melhorado a cada dia mais.
Resultados
Percebemos a partir das experincias vivenciadas ficaram motivadas com s atividades que
envolvem os aspectos emocionais; mas necessitam de orientao para aprenderem a lidar com
as emoes, utilizando-as a favor da aprendizagem cognitiva e da prpria formao cidad.
Sendo assim, atribumos ao professor essa competncia em estabelecer uma relao entre o
emocional e o social to presente na realidade destes alunos. Entretanto, imprescindvel que
o educador procure desenvolver um trabalho de autoconhecimento, identificando as prprias
emoes potencialidades, fragilidades, para que seja capaz de lidar, de forma adequada com a
emoo dos seus alunos, de modo a prepar-los para serem autnticos em suas aes e emoes.
O que foi o diferencial dos professores que relataram suas experincias anteriormente, o curso
de formao em educao emocional. A educao emocional deve ser vista como uma forma
otimizadora do processo cognitivo. O diferencial hoje, parece estar na possibilidade de otimizar
as emoes. Entretanto, as educaes emocionais no devem ser como uma frmula milagrosa
como a verdadeira redeno para todos os problemas da educao. O que percebemos a partir
dos relatos dos professores a eficincia de vivenciais abordando a educao emocional em
sala, em todos os aspectos, e em favorecendo todos os envolvidos no corpo acadmico.
Concluses
Por meio da educao emocional na sala de aula, acreditamos poder diminuir a violncia
forma mais extrema da raiva, praga que est destruindo o mundo inteiro. As estatsticas
mostram tambm que em todo o mundo h um crescente aumento da solido, tristeza, suicdio
e de pessoas que, cada vez com menos idade, entram em depresso. Seguramente, a educao
emocional ser til para diminuir as emoes tidas como negativas. Se aprendemos a controlar
a raiva e procuramos divulgar suas formas de controle na escola, em casa e com os amigos [...]
seguramente estaremos contribuindo para um mundo melhor, sem tanta violncia. (SANTOS,
2000, p. 52).
Afirmamos, enfim, que a educao emocional pode ser alcanada por meio de vivncias e
esforos individuais e coletivo, mas que isso requer, principalmente, persistncia. Cabe-nos
desencadear no presente as aes mobilizadoras necessrias para dar Educao e Sociedade
o de que elas tanto necessitam: amor, equilbrio, respeito ao prximo, valorizao do ser
humano e harmonia nas relaes.
Referncias
AUSBEL, D. NOVAK, J. HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Editora
Interamericana, 1978.
SANTOS, Jair de Oliveira. Educao Emocional na Escola: a emoo na sala de aula. 2 Ed.
Salvador, 2000.
COSENZA, Ramon; GUERRA, Leonor. Neurocincia e educao: como o crebro aprende.
Porto Alegre: ArtMed, 2011.
LUCKESI, C. C. Filosofia da educao. So Paulo: Cortez, 1994.
GONSALVES, E. P. (2017). Educao e Emoes. Campinas, Libellus, 2017.
CASASSUS, Juan. Fundamentos da Educao emocional. Braslia: UNESCO, Liber Livro
Editora, 2009.
SAMPAIO, D. M. A pedagogia do ser: educao dos sentimentos e dos valores humanos.
Petrpolis, RJ: Vozes, 2004.
SANTOS, J. O. Educao emocional na escola: a emoo na sala de aula. Salvador: Faculdade
Castro Alves, 2000.