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Conhecimento em Destaque, Serra, ES, v. 02, n. 02, jul./dez. 2013. EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NA PROPOSTA CURRICULAR: DESPERTANDO O INTERESSE DO ALUNO PELA CONSTRUÇÃO DA SUA APRENDIZAGEM Isaac Pinto da Silva 1 Marcos Francisco de Sousa 2 Tomás Savie Eurico 3 Wilson Guasti Junior 4 RESUMO As condições e o ambiente de ensino nas escolas brasileiras, a formação e qualificação do professor são problemas que interferem na qualidade da aprendizagem do aluno, desgasta o profissional e preocupa a família que se interessa pelo conhecimento que o filho está adquirindo. A utilização de métodos e práticas de ensino pouco atraentes desmotiva o aluno, inibe seu interesse em construir seu conhecimento. Muitas mudanças foram inseridas no sistema de ensino brasileiro no sentido de atrair e manter o aluno em sala de aula até completar os ciclos escolares. A mudança mais significativa em se tratando da formação do aluno foi a inclusão do ensino profissionalizante, que representa uma oportunidade a mais para a entrada no mercado de trabalho. A partir das exigências do mercado de trabalho, o sistema de ensino brasileiro apresenta uma nova proposta de ensino, ou seja, a Educação Empreendedora cuja principal característica é a capacidade de construção de novos conhecimentos a partir dos conhecimentos precedentes. Assim, o referencial teórico tem seu desenvolvimento fundamentado na pesquisa bibliográfica e descritiva, com abordagem temática sobre empreendedorismo, o trabalho com projetos, currículo e a educação empreendedora. Conclui-se que trabalhar o empreendedorismo no prisma da educação 1 Mestrando em ciências das religiões Faculdade Unidas de Vitória - F.U.V. Especialista em Docência do Ensino Superior, Psicopedagogia, Educação de Jovens e Adultos e Gestão em Educação Ambiental pelo Centro de Ensino Superior Fabra. Atualmente é docente no Centro de Ensino Superior Fabra. Contato: [email protected]. 2 Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade Del Salvador USAL. Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade de Educação da Serra - FASE. Graduado em Tecnologia, Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Faculdade Salesiana de Vitória. Atualmente é coordenador e docente do curso de Sistemas de Informação no Centro de Ensino Superior Fabra. Contato: [email protected]. 3 Mestre em Administração de Empresas pela FUCAPE Business School. Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade de Educação da Serra - FASE e em Logística Estratégica Empresarial e Internacional pela Faculdade Batista de Vitória - FABAVI. Atualmente é docente no Centro de Ensino Superior Fabra. Contato: [email protected]. 4 Mestrando em Sistemas de Informação na Universidade Federal do Espírito Santo UFES. Especialista em Engenharia de Software pela Fundação Educacional Padre Cleto Caliman. Licenciado em Matemática pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. Atualmente é docente do curso de Sistemas de Informação no Centro de Ensino Superior Fabra. Contato: [email protected].

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Conhecimento em Destaque, Serra, ES, v. 02, n. 02, jul./dez. 2013.

EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NA PROPOSTA CURRICULAR:

DESPERTANDO O INTERESSE DO ALUNO PELA CONSTRUÇÃO DA SUA

APRENDIZAGEM

Isaac Pinto da Silva 1

Marcos Francisco de Sousa 2

Tomás Savie Eurico3

Wilson Guasti Junior 4

RESUMO As condições e o ambiente de ensino nas escolas brasileiras, a formação e qualificação do professor são problemas que interferem na qualidade da aprendizagem do aluno, desgasta o profissional e preocupa a família que se interessa pelo conhecimento que o filho está adquirindo. A utilização de métodos e práticas de ensino pouco atraentes desmotiva o aluno, inibe seu interesse em construir seu conhecimento. Muitas mudanças foram inseridas no sistema de ensino brasileiro no sentido de atrair e manter o aluno em sala de aula até completar os ciclos escolares. A mudança mais significativa em se tratando da formação do aluno foi a inclusão do ensino profissionalizante, que representa uma oportunidade a mais para a entrada no mercado de trabalho. A partir das exigências do mercado de trabalho, o sistema de ensino brasileiro apresenta uma nova proposta de ensino, ou seja, a Educação Empreendedora cuja principal característica é a capacidade de construção de novos conhecimentos a partir dos conhecimentos precedentes. Assim, o referencial teórico tem seu desenvolvimento fundamentado na pesquisa bibliográfica e descritiva, com abordagem temática sobre empreendedorismo, o trabalho com projetos, currículo e a educação empreendedora. Conclui-se que trabalhar o empreendedorismo no prisma da educação

1 Mestrando em ciências das religiões Faculdade Unidas de Vitória - F.U.V. Especialista em Docência

do Ensino Superior, Psicopedagogia, Educação de Jovens e Adultos e Gestão em Educação

Ambiental pelo Centro de Ensino Superior Fabra. Atualmente é docente no Centro de Ensino Superior Fabra. Contato: [email protected]. 2 Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade Del Salvador – USAL. Especialista em

Docência do Ensino Superior pela Faculdade de Educação da Serra - FASE. Graduado em Tecnologia, Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Faculdade Salesiana de Vitória. Atualmente é coordenador e docente do curso de Sistemas de Informação no Centro de Ensino Superior Fabra. Contato: [email protected]. 3 Mestre em Administração de Empresas pela FUCAPE Business School. Especialista em Docência

do Ensino Superior pela Faculdade de Educação da Serra - FASE e em Logística Estratégica Empresarial e Internacional pela Faculdade Batista de Vitória - FABAVI. Atualmente é docente no Centro de Ensino Superior Fabra. Contato: [email protected]. 4 Mestrando em Sistemas de Informação na Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.

Especialista em Engenharia de Software pela Fundação Educacional Padre Cleto Caliman. Licenciado em Matemática pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. Atualmente é docente do curso de Sistemas de Informação no Centro de Ensino Superior Fabra. Contato: [email protected].

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pode ser uma estratégia diferencial para despertar no aluno o interesse pela construção do seu conhecimento. Palavras-chave: Empreendedorismo; Educação; Currículo; Formação.

1 INTRODUÇÃO

Em junho de 2011 foi apresentado à Câmara Federal o Projeto de Lei nº 1673/11, de

autoria do deputado Ângelo Agnolin, ementa que acrescenta o § 7º ao art. 26 da Lei

nº 9.394/1996 a inclusão do tema empreendedorismo nos currículos do Ensino

Fundamental e Médio.

O projeto ainda está sendo analisado, mas a proposta é inovadora em termos de

educação, levando em conta que empreendedor tem visão de oportunidade e a

partir dela cria um negócio que permita todo um processo de capitalização sobre ela.

Os aspectos ligados ao empreendedorismo são a iniciativa de criação de um novo

negócio; a utilização criativa dos recursos disponíveis visando transformar o

ambiente social e econômico; a aceitação de riscos e a possibilidade de fracassar e,

principalmente, a abertura de novos caminhos e canais para aprender e/ou

aprimorar a aprendizagem.

Considerando que a educação empreendedora apresenta relevância e importância

social, acadêmica e profissional, o objetivo deste artigo buscou destacar que esta

proposta de ensino pode constituir um diferencial estratégico no processo de ensino-

aprendizagem do aluno, na qualidade da educação, em melhor formação do

cidadão.

A metodologia aplicada caracteriza este artigo como um estudo de revisão

bibliográfica sobre educação e empreendedorismo, utilizando como base de dados

informações retiradas dos sites Scielo, Google Acadêmico, Bibiblioteca Digital, teses

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e dissertações diversas, artigos científicos originais e de revisão. No processo de

busca nos sites de pesquisa, as palavras-chave utilizadas foram empreendedorismo,

educação, formação, mas foi necessário filtrar a busca, recuperando apenas os

textos que atendiam o objetivo proposto para complementar as informações com

consulta livros que tratam do tema empreendedorismo e a relação com a educação.

A coleta de dados e informações para sustentação teórica do tema foi necessária

devido a pouca publicação recente acerca da temática desenvolvida.

2 EMPREENDEDORISMO

No cenário brasileiro, empreendedorismo não é um tema novo. O fator que inova é

abordagem que o tema assumiu a partir de 1990 quando o SEBRAE (Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) demonstrou maior preocupação

com a profissionalização do típico empreendedor brasileiro. O empreendedorismo

uma revolução silenciosa que “terá maior importância no século XXI do que a

revolução industrial no século XX por ser é um fenômeno cultural, ou seja,

empreendedores nascem por influência do meio em que vivem” (DOLABELA, 1999,

p.28).

2.1 CONCEITOS

Desemprego e falta de espaço para a realização de estágios nas organizações,

destacou na sociedade e no mercado brasileiro a prática do empreendedorismo.

Essa questão possibilita muitas definições de empreendedorismo, mas um dos

conceitos mais antigos foi formulado por Joseph Schumpeter, que considera o

empreendedor aquele que cria novos negócios e também tem condições e

capacidade de inovar dentro de empresas já constituídas.

Com uma definição mais abrangente, Filion (2000) afirma,

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O empreendedorismo é um campo de pesquisa emergente, onde ainda não existe uma teoria estabelecida. A categoria empreendedorismo pode ser definida como aquele saber que estuda os empreendedores. Em outras palavras, examina suas atividades, características, efeitos sociais e econômicos e os métodos de suporte usados para facilitar a expressão da atividade empreendedora (FILION, 2000, p. 38).

Há autores que entende o empreendedorismo como o equilíbrio criado a partir de

uma posição clara e positiva em um ambiente de caos e turbulência. Nesse

contexto, “os eventos que explicam porque o espírito empreendedor se torna eficaz,

provavelmente, não são, em si, eventos econômicos. As causas, possivelmente,

estariam nas mudanças em valores, percepções, atitudes [...]” (DRUCKER, 2001, p.

19).

Mas a importância do empreendedorismo se destaca quando pesquisas indicam que

oferece graus elevados de realização pessoal. Por ser a exteriorização do que se

passa no âmago de uma pessoa, e por receber o empreendedor com todas as suas

características pessoais, a atividade empreendedora faz com que trabalho e prazer

andem juntos. Talvez seja muito “difícil encontrar um empreendedor que queira se

aposentar ou que espere ansiosamente pelo final de semana para se desvencilhar

do trabalho. Não é raro encontrar empreendedores que tiram poucas férias”

(DOLABELA, 1999, p. 29).

É na abordagem clássica “centrada na impessoalidade, na organização e na

hierarquia que está a proposta de que o trabalho do administrador ou arte de

administrar deva concentrar-se nos atos de planejar, organizar, dirigir e controlar”

(DORNELAS, 2001, p. 29).

Nessa perspectiva, toda empresa é a “solução criativa para uma angústia gerada por

um problema. O homem de negócios identifica uma necessidade não satisfeita, ou

mal satisfeita, e vê nela a oportunidade de obter uma recompensa” (DUAILIBI,

SIMONSEN JUNIOR, 1990, p.20).

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2.2 CARACTERÍSTICAS

Empreender envolve funções, atividades e ações relacionadas com a criação de

novas empresas, por isso, está associado: a algo novo, de valor; ao

comprometimento de tempo, devoção e esforço para possibilitar o crescimento da

empresa e na ousadia em assumir riscos calculados, tomar decisões críticas e não

desanimar diante das falhas e erros. A sociedade empreendedora é mais um evento

cultural e psicológico do que o econômico ou tecnológico (DRUCKER, 2001).

São características do comportamento empreendedor: a necessidade de realização

(competência); motivação (querer fazer), criatividade e inovação (fazer mais com

menos); metas e objetivos desafiadores, porém, realizáveis; predisposição e

identificação das necessidades (MALHEIROS, 2003).

A essas habilidades acrescenta-se a autoconfiança, o calculismo, a capacidade de

persuasão, a inovação, a negociação, o otimismo e a persistência (ARAÚJO, 2004).

Compreender a necessidade de mudar é fundamental para solucionar, de maneira

eficaz, o problema entre as características do empreendedor e sua adequação, no

caso da educação, ao desenvolvimento no ciclo escolar.

2.3 A PEDAGOGIA DE PROJETOS E A EMPREENDEDORA: DIFERENÇAS

2.3.1 Pedagogia de Projetos

A principal característica do trabalho com projetos na educação “não é a origem do

tema, mas o tratamento dado a ele, no sentido de torná-lo uma questão do grupo

como um todo e não apenas de alguns ou do professor”. Assim problemas e/ou

temáticas podem surgir de um aluno em particular, de um grupo de alunos, da

turma, do professor ou da própria conjuntura (HERNÁNDEZ, 1998, p.31).

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Os projetos como uma proposta de intervenção pedagógica proporciona à

aprendizagem um novo sentido, através dos quais as necessidades de

aprendizagem desperta nas tentativas de se resolver situações problemáticas. "Um

projeto é, a princípio, uma irrealidade que vai se tornando real, conforme começa a

ganhar corpo a partir da realização de ações e consequentemente, as articulações

desta" (NOGUEIRA, 2001, p.90).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (1996) e os Parâmetros

Curriculares Nacionais – PCN (1997) têm uma característica inovadora em relação

ao trabalho com projetos educativos na escola: a ação pedagógica é norteada

através das referências e dos parâmetros básicos, leis permitem ao professor

autonomia de ação, capaz de levar em conta, antes de tudo, as realidades de cada

aluno, de sua escola e de sua região.

Nessa perspectiva, a LDB (1996) exige e a elaboração de projetos pedagógicos que

definem a identidade, os objetivos e a metodologia a serem desenvolvidos pela

escola, fundamentando que as escolas devem adotar o trabalho com projetos, pois

essa nova postura pedagógica introduz atividades diversificadas gerando situações

de aprendizagem que favorecem aos alunos à busca de conhecimentos.

A LDB se preocupou com a estrutura, função e gestão da educação no contexto da

organização da escola. Assim, a educar com a utilização de projetos tem como

principal contribuição no processo de ensino-aprendizagem, na opinião de Barbosa

e Horn (2008),

[...] é a dimensão social porque oferece aos professores a possibilidade de reinventar o seu profissionalismo, de sair da queixa, da sobrecarga de trabalho, do isolamento, da fragmentação de esforços e criar um espaço de trabalho cooperativo, criativo e participativo. O professor deve criar um ambiente propício em que a curiosidade, teorias, dúvidas e hipóteses dos alunos tenham lugar, sejam escutadas, legitimadas e operacionalizadas para que se construa a aprendizagem (BARBOSA, HORN, 2008, p. 85).

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Independente do trabalho com crianças é tarefa do educador articular o tema com os

objetivos gerais previstos, discuti-lo com outros professores e ampliar seu

conhecimento apresentando a proposta ao grupo, selecionar os conhecimentos

centrais e não transmitir rapidamente os conhecimentos da área (BARBOSA, HORN,

2008).

Em relação as crianças, o trabalho com projetos “propicia criar uma história devida

coletiva, com significados compartilhados e estimula a aprendizagem do diálogo,

debate, argumentação, aprender a ouvir outros, confronto de opiniões, construção

coletiva” (BARBOSA, HORN, 2008, p.87). Os autores analisam que para a criança o

trabalho com projetos significa aprender a trabalhar em equipe, grupo e também

vivenciar a aprendizagem como função intersubjetiva.

2.3.1.1 A dinâmica da escola

A educação utilizando projetos ou como é denominada Pedagogia de Projetos visa a

re-significação do espaço escolar, transformando em um espaço vivo de interações

aberto ao real e as suas múltiplas dimensões, ou seja, dando uma dinâmica à

escola. Tudo deve ser considerado parte do currículo escolar “da arquitetura ao

menor detalhe decorativo, pois esses elementos correspondem a padrões culturais e

pedagógicos que a criança internaliza e aprende” (ESCOLANO, 2001, p.45).

Elementos como estrutura física, a localização, o tipo e a disposição das salas de

aula, das instalações, o modo como são distribuídas as carteiras e os móveis

escolares, além do tempo determinado para cada disciplina não podem ser

colocados como neutros ou em segundo plano no processo de ensino-

aprendizagem.

Educar tem uma finalidade que evolui ao longo do tempo marcando, assim, a sua

trajetória histórica, o aperfeiçoamento das atividades do homem que tem como

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objetivo compreender os espaços e o ambiente pedagógico dentro da proposta

política educacional, Alves (2000) faz a seguinte análise do espaço nas escolas

brasileiras,

[...] salas separadas: ensina que a vida é cheia de espaços estanques. Turmas separadas e hierarquizadas: ensina é que a vida é feita de grupos sociais separados, uns em cima dos outros. Consequência prática: a competição entre as turmas, competição que chega à violência. Saberes ministrados em tempos definidos, um após o outro: o que se ensina é que os saberes são compartimentos estanques [...]. Cometido o erro arquitetônico, o espírito da escola já está determinado. Mas nem arquitetos e nem técnicos da educação sabem disto [...] (ALVES, 2000, p. 13).

O espaço escolar não tem como característica a neutralidade e nem pode ser

concebido como simples formalidade ou estrutura vazia da educação. As atividades

coletivas são importantes para o desenvolvimento social da aprendizagem, por isso

devem ser desenvolvidas com oficinas de integração, brincadeiras livres ou dirigidas,

de unidades didáticas ou de atividades para reforçar a aprendizagem concreta.

O conceito de currículo se constrói dentro do aspecto socio-histórico, ou seja, ele

não é único, não se apoia em ações rígidas e seu processo de construção inicia com

as escolhas de saberes sofrem influência do momento político, econômico, social

em que vivemos. Seu conceito está sempre se (re)fazendo.

2.3.1.2 O currículo escolar

O currículo escolar expressa os seus valores, princípios, crenças, e projetos,

desperta a atenção para o que ocorre fora da sala de aulas, modo de utilização e

como são dinamizados todos os espaços e tempos, rotinas, regras, relações

interpessoais elementos que constituem o clima da escola.

Nesse aspecto, o currículo é “um artefato social e cultural. Isso significa que ele é

colocado na moldura mais ampla de suas determinações sociais, de sua história, de

sua produção contextual” (MOREIRA; SILVA, 2002, p.10).

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Não deve ser fragmentado, deve haver uma confluência de todas essas teorias para

que, numa ideia mais ampla, a ele seja dada a devida importância como agente

formador para a vida e transformador dos indivíduos (MOREIRA; SILVA, 2002).

Empreender está associado a criar, desenvolver e implantar um projeto.

Nesse contexto, o gerenciamento de projetos é um trabalho que exige a aplicação

de conhecimentos e habilidades diversas, pois o planejamento tem relação com a

com a monitoração do projeto e envolve o que pode ser direta ou indiretamente

afetado pelo resultado final. Um projeto é um empreendimento temporário ou uma

sequencia de atividades com começo, meio e fim programados, e seu objetivo é

fornecer um produto singular (NOGUEIRA, 2001).

Na proposta de uma educação empreendedora não se pode ignorar a presença do

trabalho com projetos, um recurso pedagógico que contribui positivamente para

melhorar a qualidade da aprendizagem do aluno, estimular a pesquisa e desenvolver

um estudo eleva a sua importância social, educacional e profissional. Mas há

diferenças significativas entre o educar através utilizando os recursos da Pedagogia

de Projetos e da Pedagogia Empreendedora

2.3.2 Pedagogia Empreendedora

A reforma do sistema de ensino brasileiro é necessária e se evidencia em função na

competitividade predominante no mercado de trabalho globalizado e mais exigente.

Daí a necessidade de melhorar efetivamente a qualidade do ensino, das escolas e

de investir na formação e qualificação dos educadores para que alunos e

professores sejam capazes de sobreviver em ambiente vez complexo e dinâmico em

permanente transformação (SANTOS; BEHRENS, 2006).

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Ensinar o empreendedorismo é uma dos mais novos padrões sociais e de inclusão

no mercado. Nesse sentido, é preciso que a escola seja um espaço no qual se

aprende, ensina e educa e a falta de atitude e compromisso com o futuro não mais é

tolerada no caminho ao desenvolvimento (OLIVEIRA et al., 2006).

Define-se Pedagogia Empreendedora como uma é uma metodologia de ensino de

empreendedorismo para a Educação Básica: educação infantil até o ensino médio

que atinge idades de quatro aos 17 anos, sendo que a abordagem e o conceito do

empreendedorismo como um sistema aberto (RAMOS, FERREIRA, GIMENEZ,

2005).

A educação voltada para o empreendedorismo constitui um processo de

transmissão/aquisição do conhecimento sobre o ambiente e o próprio indivíduo,

considerando que “visa a contribuir para o desencadeamento de habilidades,

atitudes e comportamentos para a prospecção e exploração de oportunidades para

transformação do meio em que vive pelo desenvolvimento econômico, social e

cultural” (RAMOS, FERREIRA, GIMENEZ, 2005, p. 3). Este conceito pode ser

observado na Figura 1.

Figura 1 – Pedagogia Empreendedora

Fonte: Adaptado de Ramos, Ferreira e Gimenez (2005)

Pedagogia Empreendedora

Processo Atividades didático-

pedagógicas e vivenciais

Resultado Feedback

Entrada Aluno: histórico, cognição, expectativas.

Saída Indivíduo

empreendedor

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Ramos, Ferreira e Gimenez (2005) explicam e destacam as características dos

elementos que compõem a pedagogia empreendedora:

- entrada: repertório comportamental e cognitivo do aluno que inclui suas

experiências anteriores, habilidades e expectativas;

- processo: um conjunto de atividades didático-pedagógicas e vivenciais cuja

finalidade é o desenvolvimento de empreendedores;

- saída: indivíduos com habilidades, atitudes e comportamentos que possibilitem a

prospecção e exploração de oportunidades revestidas de valor econômico

(empreendedor);

- feedback: o resultado das avaliações que englobam resultados tangíveis como

número de empreendimentos e alteração do perfil do aluno e intangíveis como

promoção da autorrealização.

A formação de ação empreendedora se caracteriza pela capacidade de construir

conhecimentos novos a partir de conhecimentos precedentes, tornando-se, assim,

de utilidade não só para empreendedores, mas também para todas as pessoas

ligadas a outros ramos de atividade. Este é o objetivo da pedagogia empreendedora

como pode ser observado na Figura 1.

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2.3.3 Convergências entre Pedagogia de Projetos e a Pedagogia

Empreendedora

Existem convergências entre a proposta de ensinar através de projetos e do

empreendedorismo como pode ser obervado no Quadro 1, apontadas por Pires

(2006).

Quadro 1 – Convergências pedagógicas

Convergências pedagógicas

Dimensões Elementos de convergência

Objetivos - Gerar ações empreendedoras - Levar à interação entre aluno e objeto do conhecimento - Preparar para o mundo do trabalho - Proporcionar desejo de aprendizagem contínua - Viabilizar aprendizagem real, significativa, ativa e interessante.

Professor Facilitador do processo de construção do conhecimento.

Alunos - Autônomo - Ético - Gerador de conhecimento próprio - Proativo - Protagonista.

Currículo - Flexível -Interdisciplinar - Organizado por área/tema geradores.

Conhecimento - Contextualizado - Instrumento para compreensão e intervenção na realidade - Significativo.

Tempo e espaço escolar

Reorganização democrática dos espaços na sala de aula.

Avaliação Processual Autoavaliação.

Fonte: Pires (2006).

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Assim como existem pontos convergentes, há outros que divergem de modo bem

claro como pode ser observado no Quadro 2, que destaca os da Pedagogia

Empreendedora que não são observados nas propostas da Pedagogia de Projetos.

Quadro 2 – Pontos divergentes entre as pedagogias

Pontos divergentes

Dimensões Pedagogia Empreendedora (peculiaridades)

Objetivos - Confeccionar Plano de Negócios - Gerar produtos que se transformem em oportunidades de negócio,

Professor Facilitador do processo de construção do conhecimento.

Alunos Pode ser um empresário voluntário.

Currículo Focado em resultados.

Conhecimento Disciplinas ligadas à administração.

Tempo e espaço escolar

Técnicas necessárias para administração de uma empresa.

Avaliação Não apresentam diferenças significativas de propostas.

Fonte: Pires (2006).

3 EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

É grande o interesse de pesquisadores sobre a Educação Empreendedora e

diversos estudos e pesquisas tratam do tema mesmo sendo uma questão

relativamente nova no ensino brasileiro. Contudo, é vasta a literatura voltada para o

tema e podemos destacar os trabalhos de Filion (2000); Dolabela (2003); Duarte et

al. (2004); Pires (2006); Ramos, Ferreira e Gimenez (2005), Terra e Drumonnd

(2003) entre outros.

Educar com a proposta do empreendedorismo é um assunto recente na sociedade

brasileira, mas na sociedade norte-americana esse tema é discutido desde a década

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de 1940 e alguns anos mais tarde no cenário europeu. O empreendedorismo tem

uma longa tradição em centros de ensino da Europa, Estados Unidos e Canadá. “No

Brasil, o tema vem disseminando-se com rapidez, bem como ampliando os seus

espaços entre o governo, o meio empresarial e as instituições representativas de

classe e de ensino” (DUARTE et al., 2004, p. 8).

Resultados obtidos formam conhecimento parcial sobre sua relevância, métodos e

consequências dessa proposta de ensino, porém não constituem um referencial

delimitado sobre a melhor maneira de formar empreendedores.

Com a proposta de Educação Empreendedora, busca-se gerar atitudes e ações

empreendedoras nos alunos. Nesse contexto, Dolabela (2003) acrescenta,

Nesse quadro, a ação empreendedora caracterizada desde sempre pela capacidade de gerar novos conhecimentos, a partir de uma base da experiência de vida do indivíduo, (não só do saber técnico-científico ou know-how), deixa de ser exceção e torna-se necessidade para todos (DOLABELA, 2003, p. 22).

Considerar a possibilidade de formar e desperta nos alunos o espírito e interesse

empreendedor no âmbito escolar, as propostas da Educação Empreendedora

“consistirão, basicamente, em se proporcionar condições para o

desenvolvimento de habilidades empreendedoras em crianças, adolescentes e

jovens adultos” (DOLABELA, 2003, p.25).

Há diferentes maneiras de conceituar a Educação Empreendedora em função de

sua proposta envolver duas áreas distintas de pensamentos: a economicista e a

humanista. Na vertente economicista, a Educação Empreendedora constitui um

conjunto de ações desenvolvidas pelo sistema educacional, buscando com o

valorizar o papel do empreendedor, disseminar a cultura empreendedora e despertar

vocações empresariais. Além de criar no contexto educacional e social uma

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mentalidade empreendedora estimulando a geração de negócios (PORTAL FINEP5,

2011).

Formar a ação empreendedora visando a construção de novos conhecimento

partindo partir de conhecimentos precedentes é o principal objetivo da educação

empreendedora buscando gerar atitudes e ações empreendedoras nos alunos e

nesse quadro, para Dolabela (2003),

[...] a ação empreendedora caracterizada desde sempre pela capacidade de gerar novos conhecimentos, a partir de uma base da experiência de vida do indivíduo, (não só do saber técnico-científico ou know-how), deixa de ser exceção e torna-se necessidade para todos (DOLABELA, 2003, p. 22).

Quando se coloca a necessidade de se desenvolver nos alunos as características

típicas do empreendedor, essa proposta de educação tem como base o

“desenvolvimento do autoconhecimento com ênfase na perseverança, na

imaginação, na criatividade, na inovação, sendo importante o conteúdo que se

aprende, mas, sobretudo, como é aprendido” (LUCAS, 2001, p. 243).

Educação Empreendedora é um tema de relevância social, profissional e

acadêmica, trata-se de do conteúdo a ser transmitido e, principalmente, como esse

conteúdo será assimilado. Assim, o fundamento da educação empreendedora “é a

busca por autoconhecimento, perseverança, imaginação, inovação e criatividade,

características primordiais para se obter sucesso na formação empreendedora dos

alunos, é prioritária" (LUCAS, 2001, p. 244).

3.2 EXPECTATIVAS QUANTO A EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

A Educação Empreendedora inserida nas escolas causa expectativas de uma

transformação revolucionária nos parâmetros de formação dos jovens,

5FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos é uma empresa pública vinculada ao Ministério da

Cultura e Tecnologia (MCT).

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principalmente se desdobramentos da adoção do ensino do Empreendedorismo

favorecer alunos das escolas da rede pública de ensino.

Sendo bem realista, o ensino de empreendedorismo no Brasil se propaga em

progressão geométrica e devido a instituições como o CNPq, Softex, CNI, IEL,

SEBRAE nacional, ANPROTEC e inúmeras universidades, estamos diante da

explosão de um movimento que começou pouco mais que de 10 anos no Brasil e

“não será demais afirmar que em poucos anos todas as universidades e instituições

de segundo grau terão o ensino de empreendedorismo em seu currículo”

(DOLABELA, 2003, p. 24).

O ensino do empreendedorismo durante “a formação de um novo profissional tem

sido considerado pelos especialistas como vital para o seu sucesso,

principalmente se ele for egresso das escolas ditas de massa” (TERRA,

DRUMONND, 2003, p. 35).

As escolas públicas concebem seu projeto pedagógico fundamentado em novos

paradigmas educacionais e no desenvolvimento das competências para o

trabalho, considerando todas as peculiaridades e incertezas da sociedade do

século XXI e, em função disto transforma “o empreendedorismo numa inusitada

revolução social que deverá ocorrer no século XXI, comparável aos efeitos da

revolução industrial ocorrida no século passado” (TERRA, DRUMONND, 2003,

p.37).

Essa expectativa em relação ao ensino do empreendedorismo tem uma possível

consequências, ou seja, “o sistema educacional terá de ampliar seu currículo para

além de conhecimentos técnicos e científicos, indispensáveis e, ao mesmo tempo,

menos suficientes para a inserção do homem no mundo do trabalho” (DOLABELA,

2003, p. 38).

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A implementação da proposta de Educação Empreendedora por várias instituições

de ensino brasileiras tem como fator primordial inovações elaboradas com base nas

características que atualmente são exigidas para a atuação no mundo social e no

mercado de trabalho. Cumpre, assim, o objetivo de estabelecer estratégias

educacionais que se contraponham àquelas do modelo tradicional de educação

(DOLABELA, 2003; TERRA, DRUMOND, 2003).

Alcançar os objetivos e finalidades da educação empreendedora na diversidade do

mercado de trabalho exige estabelecer condições apropriadas para que seja

possível articular proposta de uma pedagogia/metodologia apropriada de ensino.

3.3 PEDAGOGIA/METODOLOGIA DO ENSINO EMPREENDEDOR

Para o ensino empreendedor Dolabela (2003) desenvolveu a metodologia da Oficina

do Empreendedor partindo do sistema de aprendizado dos empreendedores, com

base nos requisitos da Educação Empreendedora, originando, assim, a Pedagogia

Empreendedora.

Em seus estudos as expressões pedagogia e metodologia são utilizadas de modo

ambíguo por Dolabela acarretando, assim, dificuldade na compreensão das

Distinguir os termos torna mais precisa a discussão sobre essas propostas e nesse

contexto, Moura e Barbosa (2006) ao tratarem do assunto reconhecem que essa

ambiguidade não é exclusiva de Dolabela quando afirmam,

A distinção entre os conceitos pedagogia e metodologia pode se basear na definição e articulação entre os conceitos de didática e de concepção.Apesar de uma longa e intensa discussão sobre a definição e os limites da Didática no campo da produção acadêmica, persiste uma significativa degeneração (representada por um estado de indistinguibilidade) entre os conceitos mencionados, gerando muitas dificuldades nos processos de produção de trabalhos e pesquisas no campo educacional. E, analogicamente empregam a relação entre Ciência e Tecnologia, demonstrando que é recorrente este tipo de dificuldade de conceituação e distinção entre termos de uma dada área. A alternativa que propõem é se organizar criticamente através da articulação e diferenciação entre os

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conceitos de concepção, pedagogia e didática (MOURA, BARBOSA, 2006, p.194)

Moura e Barbosa (2006) desenvolvem uma argumentação concisa ao distinguir os

campos conceituais que pode ser analisada no trecho transcrito na íntegra:

Alguns autores fazem uma diferenciação entre didática e pedagogia, colocando a didática como uma instância que decorre da pedagogia. Para Luckesi (1987), a didática se resume na “...investigação e construção metodológica que torna mais fácil, mais satisfatória e mais eficiente a atividade de ensinar e aprender”. E ainda: “A delimitação de uma didática depende da delimitação de quais são os resultados que esperamos e estes por sua vez dependem do suporte teórico que direciona nosso modo de agir, nossas intenções”. Para esse autor, a didática “... é o prolongamento operacional, no que se refere ao ensino e aprendizagem, de uma compreensão do mundo que se traduz numa proposta pedagógica”. Assim, uma pedagogia inspira uma ou mais didáticas. A didática trata dos procedimentos ou técnicas aplicáveis diretamente na situação de ensino. A pedagogia, por si só, não descreve técnicas didáticas para a sala de aula; isto o faz a didática. A pedagogia inspira e instrui a formulação das técnicas didáticas; trata de diretrizes gerais que se referem ao processo da educação; decorre de um conjunto mais geral de conceitos, que não se referem apenas e especificamente à educação; é, enfim, uma instância que decorre de uma concepção, de uma cosmovisão, de um conjunto estruturado de conceitos e valores mais profundos e abrangentes. Em geral, essa concepção refere-se a posições que podem ser identificadas com filosofia, ideologia, política. A concepção refere-se aos fundamentos das atividades humanas no seu sentido geral e, portanto, inspira e instrui a formulação de conceitos e diretrizes para a educação (assim como o faz para diretrizes que se referem a outros setores de atividade humana). Um conjunto de diretrizes gerais que pudermos deduzir para orientar a educação, inspirados numa determinada concepção, será uma pedagogia. [...] Devemos notar que essas diretrizes não informam sobre como proceder especificamente em sala de aula a fim de realizá-las. Professores diferentes, e em situações de ensino diferentes, poderão propor procedimentos diferentes, formulando didáticas diferentes - supostamente não contraditórias, uma vez que decorrem dos mesmos fundamentos. Podemos, então, estabelecer a relação: Concepção > Pedagogia > Didática (MOURA; BARBOSA, 2006, p. 195-196, grifo do autor).

As colocações de Moura e Barbosa (2003) acrescentam a existência de um „saber

empreendedor que reúne os saberes acima listados no trecho acima.

Mas, não se coloca em questão o saber de conteúdos técnicos ou científicos e sim

“o saber empreendedor, que agrega o saber em todas as suas dimensões (o saber

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ser, o saber conviver, o saber fazer e o saber conhecer), direcionado para a busca

da autorrealização”, acrescido de saber sonhar e buscar a realização do sonho

(DOLABELA, 2003, p. 113).

Essa questão do significado do saber empreendedor é polêmica. “É interessante

registrar que todas as características ressaltam a importância do aprendizado

contínuo do empreendedor” (LÜK, 2003, p.8) que resumidamente implica em:

- aprender a conhecer (ser capaz de aprender a aprender ao longo de toda a vida),

- aprender a viver com os outros (desenvolver a compreensão do outro, na

realização de projetos comuns, preparando-se para gerir conflitos, fortalecendo sua

identidade e respeitando a dos outros),

- aprender a fazer (pressupõe desenvolver a competência do saber se relacionar em

grupo),

- aprender a ser (para melhor desenvolver sua personalidade e poder agir com

autonomia, expressando opiniões e assumindo as responsabilidades pessoais).

A Educação Empreendedora deve ser norteada por princípios pedagógicos e

metodológicos que assegurem as condições básicas para que possa se

efetivar como proposta educacional integral (DOLABELA, 2003).

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Para que haja condições básicas que permitam efetivar a Educação Empreendedora

como a proposta educacional integral, Dolabela (2003) estabelece princípios que

devem balizar as propostas da Oficina do Empreendedor e da Pedagogia

Empreendedora, conforme descrito no Quadro 3.

Quadro 3 - Princípios da Educação Empreendedora

Princípios da Educação Empreendedora

1 Explicitar objetivamente uma intencionalidade

11. O professor de deve privilegiar o autoaprendizado.

2. Adotar uma postura ética. 12. A metodologia não pode ser rígida "manualizada".

3. Estar afinada com a agenda nacional de desenvolvimento.

13. Deve compatibilizar baixíssimo custo com alta eficácia.

4. Qualquer metodologia de ensino de empreendedorismo deve apoiar-se nas raízes culturais da comunidade, do município, da região, do estado, do país.

14. Deve atingir (principalmente) as populações carentes.

5. Ser formadora de capital social. 15. Não pretender “ajustar” pessoas um modelo ou conjunto de características.

6. Ser agente de mudança cultura. 16. Utilizar um conceito amplo de empreendedorismo.

7. Considerar a comunidade como verdadeiro espaço de aprendizado.

17. A Educação Empreendedora deve liminar a distancia entre sonho, emoção e trabalho.

8. A Educação Empreendedora não pode ser confinada por muros.

18. Apoiar-se em fundamentos de cooperação, rede e democracia.

9. Entender que empreender é gerar conhecimento.

19. O estudo das oportunidades.

10. A metodologia deve possuir o próprio material de aprendizado.

11.

Fonte: Dolabela (2003)

A proposta da Educação Empreendedora é possibilitar ao aluno desenvolver suas

habilidades, atitudes e comportamentos de modo que possa explorar oportunidades

e transformar o meio em que vive promovendo o desenvolvimento econômico, social

e cultural.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolvimento contínuo é o que requer a educação e o empreendedorismo

porque auxiliam a desenvolver o raciocínio e a criatividade estimulando e

possibilitando que o indivíduo busque e alcance a sua autonomia no contexto em

que está inserido.

Os dois temas foram defendidos neste artigo são relacionados à aquisição de

conhecimento e constituem constitui um recurso fortalecedor na aquisição da

autonomia e do planejamento de futuro. Educação e empreendedorismo implicam

em novos conhecimentos, espaço no mercado de trabalho, futuro melhor e,

principalmente, torna a educação tradicional mais atraente e interessante para o

aluno.

Respeitando das divergências e aproveitando os pontos positivos existentes entre a

Pedagogia de Projetos e a Pedagogia Empreendedora, utilizando metodologia

adequada para conduzir a proposta da educação empreendedora, a escola poderá

alcançar os objetivos de formar empreendedores e alunos capazes e mais atuantes

no mercado de trabalho.

Desenvolver o tema “Educação empreendedora na proposta curricular: despertando

o interesse do aluno pela construção da sua aprendizagem” permite concluir que o

ensino do empreendedorismo assegurado na grade curricular constituirá um desafio

para a escola pública brasileira e também para os professores porque o processo de

ensino-aprendizagem ao contrário de trabalhar com conteúdos distante da realidade

do aluno exigirá que a instituição de ensino e o docente concebam a interação

concreta e direta entre o saber e o fazer.

Conhecimento em Destaque, Serra, ES, v. 02, n. 02, jul./dez. 2013.

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