EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO · currículo escolar brasileiro no final do século XIX, sob...
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EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO: uma proposta de valorização da disciplina.
Autor: Cláudio Luiz Deodato1
Orientador: Arestides Pereira da Silva Junior2
RESUMO
Atualmente busca-se o fortalecimento da autonomia nas aulas de Educação Física através da transmissão de conhecimentos que sejam relevantes para a vida do aluno e que deem a ele a condição de analisar e refletir criticamente sobre estes conhecimentos, utilizando-os em seu benefício e para a transformação da sociedade em que estão inseridos. O objetivo deste estudo é proporcionar aos alunos do 1º ano do Ensino Médio uma visão crítica sobre a importância da disciplina de Educação Física no sentido de contribuir permanentemente para uma vida mais saudável e com mais qualidade, obstante de uma disciplina que vise apenas a “prática pela prática” sem possibilitar um conhecimento sobre os conteúdos trabalhados. O referido estudo foi realizado no Colégio Estadual Tancredo Neves, município de Francisco Beltrão – Paraná. Participaram alunos dos 1º anos “A” e “B” do período matutino, totalizando aproximadamente 60 alunos. Inicialmente foi aplicado um questionário para investigar quais são os conhecimentos que os alunos adquiriram nas aulas de Educação Física durante o Ensino Fundamental e se esses conhecimentos são úteis para a vida deles. Também foi aplicado um questionário para os familiares dos alunos para investigar quais conhecimentos eles adquiriram nas aulas de Educação Física. Após isto, foram elaboradas e desenvolvidas atividades teóricas e práticas que estimulassem a reflexão e criticidade dos alunos frente aos aspectos pesquisados nos questionários, em consonância com os Conteúdos Estruturantes e Elementos Articuladores das DCE’s 2008. Para finalizar foi aplicado aos alunos um questionário para verificar se os objetivos do projeto foram alcançados. Com a realização deste projeto podemos concluir que os objetivos propostos foram alcançados com sucesso, principalmente no que se refere à conscientização dos alunos do Ensino Médio sobre a importância e benefícios da disciplina de Educação Física para a formação de um cidadão crítico, participativo e autônomo nas suas decisões.
Palavras-chave: Educação Física; Ensino Médio; Autonomia.
1 Pós-graduado em Treinamento Desportivo (FACEPAL), Licenciatura Plena em Educação Física
(UEPG), Professor do Colégio Estadual Tancredo Neves de Francisco Beltrão – Paraná. 2 Mestre em Educação Física (USJT); Docente do Curso de Educação Física da Universidade Estadual
do Oeste do Paraná (UNIOESTE); Professor orientador PDE.
1 INTRODUÇÃO
O Estado do Paraná, através da Secretaria de Estado da Educação (SEED),
iniciou no ano de 2003 a elaboração das Diretrizes Curriculares da Educação Básica
(DCEs). Participaram do processo, técnicos pedagógicos da SEED-PR e dos Núcleos
Regionais de Educação, direção, equipe pedagógica e professores da rede estadual de
ensino.
No ano de 2008 com a conclusão das DCES, as escolas estaduais e os
professores receberam a sua versão final. O documento apresenta-se repleto de
discussões e sugestões de mudanças nas metodologias utilizadas para o
desenvolvimento dos conteúdos, bem como no processo de avaliação, facilitando a
aprendizagem.
Seguindo uma perspectiva crítica, democrática, reflexiva e transformadora, as
DCEs dão um enfoque contemporâneo que considera a formação de indivíduos
preparados para a sociedade de hoje, na qual são seres ativos no processo educativo.
Desta forma, são apresentadas questões didático-metodológicas que estão presentes
na educação em geral e na Educação Física, tanto do Ensino Fundamental quanto do
Ensino Médio.
Segundo as DCEs:
A escola pública brasileira, nas últimas décadas, passou a atender um número cada vez maior de estudantes oriundos das classes populares. Ao assumir essa função, que historicamente justifica a existência da escola pública, intensificou-se a necessidade de discussões contínuas sobre o papel do ensino básico no projeto de sociedade que se quer para o país. (PARANÁ, 2008, pág. 14)
Portanto a escola é a oportunidade para que o aluno, independente de sua
classe econômica, aproprie-se dos conhecimentos necessários para a sua formação
como cidadão crítico, capaz de analisar e transformar a sociedade em que vive e
conseqüentemente melhorar a sua condição de vida, bem como a de seu semelhante
(PARANÁ, 2008).
Desta forma, todas as disciplinas que compõem o currículo escolar, assumem
um papel fundamental no processo ensino-aprendizagem, pois, será através delas que
os alunos terão acesso aos conhecimentos historicamente produzidos e acumulados
pela humanidade.
Conseqüentemente, a construção das Diretrizes Curriculares da Educação
Básica do Estado do Paraná proporcionou para a disciplina de Educação Física uma
nova cara, sendo valorizada e reconhecida como área do conhecimento, tão importante
para a formação do aluno, quanto às demais disciplinas que compõe o currículo
escolar.
As DCEs destacam que:
Partindo de seu objeto de estudo e de ensino, Cultura Corporal, a Educação Física se insere neste projeto ao garantir o acesso ao conhecimento e à reflexão crítica das inúmeras manifestações ou práticas corporais historicamente produzidas pela humanidade, na busca de contribuir com um ideal mais amplo de formação de um ser humano crítico e reflexivo, reconhecendo-se como sujeito, que é produto, mas também agente histórico, político, social e cultural. (PARANÁ, 2008, pág. 49)
Também entendemos que a disciplina de Educação Física assume um papel
importante na formação do cidadão, pois deverá transmitir conhecimentos que sejam
relevantes para a vida dos alunos e que dêem a eles a condição de analisar e refletir
criticamente sobre estes conhecimentos, utilizando-os em seu benefício e para a
transformação da sociedade em que estão inseridos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei n. 9394/96) alterada
através da Lei n. 10.793 de 01 de dezembro de 2003 diz que:
“A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas;
II - maior de trinta anos de idade; III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; V - (vetado); VI - que tenha prole.” (BRASIL, 1996, art. 26 - § 3º)
Portanto a legalidade da disciplina está assegurada por lei, porém sua
legitimidade ainda necessita de ações concretas para que a sociedade e principalmente
os alunos a valorizem como área do conhecimento.
Para tanto, a disciplina de Educação Física deve garantir aos alunos o acesso
aos mais diversos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade.
A aquisição destes conhecimentos, por parte dos alunos, resultará em benefícios
como poder escolher e praticar a atividade física adequada a sua necessidade e que
contribua para uma vida saudável. Além disso, orientar e estimular outras pessoas para
a prática de atividades físicas, como forma de melhoria na qualidade de vida e
promoção da saúde. Também lhe dará a condição de assistir uma partida de futebol ou
de qualquer outro esporte e entender tudo que envolve a realização da mesma, o
salário dos atletas, o preço do ingresso, os patrocinadores, a mídia, enfim, analisar e
refletir de maneira crítica o resultado desta partida e as influências que a mesma sofre.
O texto “O Futebol Para Além Das Quatro Linhas”, do Livro Didático para o Ensino
Médio, produzido pela Secretaria Estadual da Educação do Paraná, faz esta reflexão a
respeito deste esporte que é considerado como paixão nacional, porém que na maioria
das vezes, os seus apaixonados desconhecem a realidade que o cerca.
Neste sentido, a educação apresenta-se indispensável no processo de uma
formação mais crítica, reflexiva e transformadora. Silva Júnior et al. afirmam que:
A educação representa, em essência, meios de capacitar e auxiliar na formação humana das pessoas. Ou seja, um indivíduo que tem oportunidade de receber informações necessárias para estabelecer a consciência crítica tem o poder de analisar melhor a si e ao seu mundo e, assim, poder escolher o que é mais favorável para a sua vida. Desse modo, estará apto para contribuir no processo de uma sociedade mais democrática. O aprendizado que conduza à consciência crítica poderá influenciá-lo em todas as situações, por toda sua vida e por este motivo, a valorização da educação critizadora deve se dar desde cedo. (SILVA JÚNIOR, et al, 2006, pag. 21)
Atualmente busca-se o fortalecimento da autonomia nas aulas de Educação
Física através da transmissão de conhecimentos que sejam relevantes para a vida do
aluno. Entretanto, na prática esta busca pelo fortalecimento da autonomia através das
aulas de Educação Física é dificultada por diversos fatores, como: a não valorização da
Educação Física no Ensino Médio como área do conhecimento; a desvalorização da
disciplina pelos alunos e sociedade em geral; a falta de estrutura física das escolas; a
falta de materiais; a fase de desenvolvimento em que os adolescentes estão passando;
a falta de motivação de alunos e professores e a falta de formação continuada para os
professores de Educação Física da rede estadual de ensino, para que os mesmos
possam dominar e conseqüentemente desenvolver os conteúdos sugeridos nas
Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Estes são alguns dos aspectos que limitam
as possibilidades da Educação Física como uma disciplina que efetive suas práticas
pedagógicas de forma mais crítica.
Desta forma, o objetivo do presente estudo é apresentar através de um relato
de experiência os resultados do projeto de intervenção denominado “Educação Física
no Ensino Médio: uma proposta de valorização da disciplina”, realizado no Colégio
Estadual Tancredo Neves, município de Francisco Beltrão – Paraná.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A EDUCAÇÃO FÍSICA SEGUNDO AS DIRETRIZES CURRICULARES DA
EDUCAÇÃO BÁSICA
Iniciaremos esta discussão realizando uma síntese daquilo que as DCEs (2008)
expõem a respeito da disciplina de Educação Física e como esta se insere no processo
educacional.
Segundo o documento, a disciplina de Educação Física passou a fazer parte do
currículo escolar brasileiro no final do século XIX, sob fortes influências de médicos e
militares, através da implantação de modelos europeus, mais especificamente, do
método francês de ginástica, onde o principal objetivo era a formação de corpos
saudáveis e fortes para atuarem na defesa da pátria, bem como no processo de
industrialização que se iniciava no Brasil.
Já no século XX, no final da década de 30, o esporte ganhou destaque no
currículo escolar, pois era visto como uma maneira de elevar o país política e
economicamente diante dos demais países (PARANÁ, 2008).
As DCEs (2008) dizem que com o golpe militar de 64, o esporte ganhou ainda
mais força dentro da escola, pois os militares entendiam que através das práticas
esportivas seria mais fácil manter a ordem e o poder. Também vários profissionais da
área especializaram-se fora do país e incentivaram competições que priorizassem a
performance do aluno, pois entendiam a escola como um celeiro de atletas. A partir
desta Educação Física pautada numa abordagem esportivista, inicia-se inúmeras
críticas ao rendimento e competição na escola. Desta forma, surgem outras tendências
pedagógicas na Educação Física que se opõem ao esporte competitivo.
A primeira abordagem que surge adversa ao modelo estereotipado do esporte é
a psicomotricidade, que defendia a educação integral do aluno através de movimentos
e exercícios que garantissem o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor (PÁRANA,
2008).
Segundo as DCEs (2008) no final da década de 80 e início da década de 90, foi
construído o Currículo Básico para as escolas públicas do Estado do Paraná, o qual
valorizava a formação de um cidadão crítico e transformador, como mais uma tentativa
frustrada de mudança e avanço nas discussões do desenvolvimento da aula de
Educação Física na escola.
Na mesma época, na tentativa de romper com a visão tradicional das aulas de
Educação Física surgem as abordagens críticas desta disciplina, na qual destacam-se a
Abordagem Crítico-emancipatória e a Abordagem Crítico- superadora.
Em 1997 foram finalizados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
entretanto tal documento foi entendido como um retrocesso nos avanços teóricos da
disciplina de Educação Física, devido a valorização das competências e habilidades e
da inclusão dos temas transversais que ganharam destaque nas aulas e
conseqüentemente esvaziaram os conteúdos específicos da disciplina (PARANÁ,
2008).
Portanto, apesar de todas as tentativas para mudar a visão que se tinha da
Educação Física, as aulas sempre foram desenvolvidas priorizando atividades práticas,
como forma de preparação do cidadão forte e saudável para defender a pátria, para o
trabalho, para competir ou simplesmente para aliviar o “cansaço” de sala de aula
proporcionado pelas demais disciplinas que compõem o currículo escolar.
Para as DCES (2008), é preciso uma mudança de atitude para atender as atuais
necessidades dos alunos, pois a Educação Física faz parte do processo educacional e
o compromisso do professor é contribuir para a formação de um cidadão crítico frente à
Cultura Corporal, com condições de analisar as práticas corporais construídas pela
humanidade e ir além, transformando estas práticas através das relações
homem/natureza e homem/homem, para a construção de uma sociedade mais justa
onde todos tenham as mesmas oportunidades. A comunicação com as demais
disciplinas também deve acontecer para facilitar a compreensão dos conteúdos e a
aprendizagem por parte dos alunos.
Já os Conteúdos Estruturantes, segundo as DCEs (2008), são os conhecimentos
historicamente produzidos pela humanidade, representados aqui pelo Esporte, Jogos e
Brincadeiras, Ginástica, Lutas e Dança, que serão ensinados aos alunos de forma
espiralada, facilitando a compreensão do objeto de ensino/estudo da Educação Física
que é a Cultura Corporal, contribuindo para a formação de um aluno crítico, que
valorize o coletivo e saiba conviver com as diferenças.
Portanto as DCEs (2008) entendem que serão necessárias mudanças de
atitudes e metodologias, bem como as formas de avaliar o aluno, para que a disciplina
de Educação Física ocupe lugar de destaque no processo educacional e seja
reconhecida como área de conhecimento, tão importante quanto as demais disciplinas
na formação do cidadão crítico e transformador.
2.2 A EDUCAÇÃO PARA A AUTONOMIA
Neste capítulo será explanado o que vem a ser a educação para a autonomia e
qual o papel de professores e alunos neste processo.
Segundo o dicionário Aurélio autonomia significa “Faculdade de se governar por
si mesmo” e autônomo “Que tem, ou em que há autonomia”, “Que não depende de
outro”.
Dentro da visão da Filosofia a palavra autonomia vem do grego como afirmam
Silva Júnior et al:
A palavra autonomia é de origem grega, composta pelo adjetivo pronominal autos, que significa “ele mesmo” e “por si mesmo”; e pelo substantivo nomos, com o sentido de “compartilha”, “instituição”, “lei”, normas”, “convenção” ou “uso”. (SILVA JÚNIOR, et al, 2006, pag. 18)
Freire (2005) afirma que para ensinar é preciso que se tenha o aprendiz, não
existe docência sem discência. Quando ensinamos também estamos aprendendo,
portanto não podemos pensar que ensinar se resume apenas em transferir
conhecimentos.
Dentro desta perspectiva Libâneo afirma que:
...O trabalho docente não se reduz à pura transmissão de conhecimentos, nem à crença na sua apropriação espontânea pelo aluno, nem à mera formação política. É um processo simultâneo de transmissão/assimilação ativa, onde o professor intervém trazendo um conhecimento sistematizado e onde o aluno é capaz de reelaborá-lo criticamente com os recursos que traz para a situação de aprendizagem... (LIBÂNEO, 2002, pag. 137)
O professor deve ser um instigador, um problematizador e desafiar seus alunos a
produzirem novos conhecimentos, além de apropriarem-se dos conhecimentos já
existentes. O professor também deve ser curioso, inquieto, um pesquisador, pois
através da pesquisa poderá constatar o que ensina, bem como conhecer o novo, e
desta forma, estará educando e sendo educado (FREIRE, 2005).
Para Freire (2005), o professor deve respeitar os conhecimentos trazidos pelos
alunos e utilizá-los no processo ensino-aprendizagem, pois estes conhecimentos são
importantes na formação do aluno devido fazerem parte da realidade e do cotidiano
dele. Tanto os conhecimentos do senso comum quanto os conhecimentos científicos
devem ser ensinados ao aluno de forma criticizada para que o mesmo possa buscar e
construir novos conhecimentos e não apenas aceitá-los como verdade absoluta.
Tudo isso de forma ética, pois educar é formar como afirma Paulo Freire:
...É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar... (FREIRE, 2005, pag. 34)
Freire (2005), afirma que o professor não pode esquecer que ele é exemplo para
o aluno e que aquilo que ensina deve ter coerência com suas atitudes, pois o aluno
percebe quando o professor fala uma coisa e age de maneira totalmente oposta ao seu
discurso e isto pode fazer com que ele perca a credibilidade daquilo que esta
ensinando. Também deve ensinar com alegria e com esperança, acreditando sempre
que é possível mudar.
Professores e alunos devem se reconhecer como agentes sociais e através de
cinco passos que são a prática social, entendida como ponto de partida e ponto de
chegada, a problematização, a instrumentalização e a catarse, realizarem o processo
ensino-aprendizagem (SAVIANI, 1991).
Docentes e discentes são seres inconclusos, ou seja, seres inacabados e
conscientes que devem ir à busca da transformação e da evolução como pessoa,
através da aquisição e da construção de novos conhecimentos (FREIRE, 2005).
Para Silva Júnior et al. (2006), a pessoa deve primeiramente conhecer-se para
que tenha consciência de suas capacidades e limitações e a partir daí buscar
conhecimentos que a ajudem a evoluir como cidadão.
Segundo Freire (2005) a educação para a autonomia acontece quando o
professor respeita a liberdade do aluno e ao mesmo tempo desperta nele o sentido de
tomar decisões e assumir responsabilidades, pois será a partir da tomada de decisões
certas ou erradas que o aluno poderá se tornar autônomo.
A valorização do indivíduo, bem como lhe oportunizar participar da tomada de
decisões, é necessário para que se possa construir uma sociedade mais democrática
(SILVA JÚNIOR et al. 2006).
Portanto a autonomia é uma conseqüência do trabalho em conjunto desenvolvido
por professores e alunos, através da qual os alunos perceberão que é possível mudar a
sociedade em que vivem, transformando-a numa sociedade mais justa.
2.3 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO
Em resumo as aulas de Educação Física no Ensino Médio têm contemplado
apenas o Conteúdo Estruturante Esporte, onde, na proposta do professor busca-se o
aperfeiçoamento da técnica desenvolvida no Ensino Fundamental e o aprendizado de
sistemas táticos para a realização do jogo. Porém o aluno, devido não dominar essa
técnica, encara a aula como um momento recreativo, sem compromisso, o que acaba o
afastando da aula (MATTOS e NEIRA, 2004).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei nº 9394/96), diz que:
O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV – a compreensão dos fundamentos científicos-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. (BRASIL, 1996, seção IV, art. 35)
Segundo Mattos e Neira (2004), se confrontarmos essas finalidades
apresentadas pela LDB (1996), com a realidade das aulas de Educação Física nas
escolas, constataremos que a proposta da lei está bem longe do aplicado nas aulas.
Devide (apud Mattos e Neira 2004) constatou através do resultado de uma
pesquisa realizada em uma escola de Ensino Médio que os alunos não consideram a
disciplina de Educação Física importante, pois ela trabalha conteúdos de forma
repetitiva e sem relevância para o cotidiano dos mesmos.
Tabaldi (2007) afirma que devemos transmitir aos alunos conhecimentos que
sejam úteis para a vida deles, não só no período escolar, mas principalmente depois da
conclusão de seus estudos, para que possam ter uma boa qualidade de vida individual
e coletiva.
Tais conhecimentos seriam desenvolvidos através dos Elementos Articuladores e
dos Conteúdos Estruturantes, é o que afirmam as Diretrizes Curriculares da Educação
Básica (DCEs, 2008), onde a Cultura Corporal é o objeto de estudo da Educação
Física.
Portanto todos os conteúdos oferecem conhecimentos importantes para a
formação do aluno no Ensino Médio e estes conhecimentos se transformarão em
benefícios no seu dia a dia, pois o ajudarão a ser um cidadão crítico, participativo e
capaz de transformar o meio em que vive para seu benefício, bem como das demais
pessoas que dele fazem parte.
3 DESENVOLVIMENTO
O Projeto de Intervenção Pedagógica Educação Física no Ensino Médio: uma
proposta de valorização da disciplina foi realizado no Colégio Estadual Tancredo
Neves, município de Francisco Beltrão – Paraná. Participaram da implementação
alunos dos 1º anos A e B, do período matutino, totalizando aproximadamente 60
alunos.
Foram utilizadas 27 aulas para a realização das atividades, nas quintas-feiras, no
período normal de aula dos alunos, com início em 11 de agosto e término em 08 de
dezembro de 2011.
O referido projeto teve como objetivo principal a conscientização dos alunos
sobre a importância da disciplina de Educação Física no Ensino Médio como elemento
fundamental na formação de um cidadão. Os objetivos específicos foram: Investigar os
motivos que fazem com que os alunos não valorizem as aulas de Educação Física no
Ensino Médio; Despertar no aluno o senso crítico/investigativo; Despertar o gosto pela
prática de uma atividade física seja para a manutenção e melhoria da saúde ou para a
prática como lazer.
Para a obtenção destes objetivos foi elaborado o Material Didático Pedagógico
no formato de Unidade Didática, contendo atividades teóricas e práticas (slides, vídeos
e textos) que contemplavam os Conteúdos Estruturantes para o Ensino Médio,
sugeridos pelas DCEs (2008). Esta Unidade Didática foi utilizada na implementação do
projeto.
Inicialmente foram apresentados para a direção e equipe pedagógica do colégio,
slides contendo a justificativa e os objetivos do projeto, bem como os conteúdos que
seriam trabalhados com os alunos. Em seguida estes mesmos slides foram
apresentados aos alunos. Foi necessário uma hora aula para a realização deste
trabalho.
Após esta 1ª etapa, aplicou-se um questionário para investigar quais são os
conhecimentos que os alunos adquiriram nas aulas de Educação Física durante o
Ensino Fundamental e se esses conhecimentos são úteis para a vida deles. Também
foi disponibilizado um questionário para que eles investigassem com seus familiares
quais conhecimentos eles adquiriram nas aulas de Educação Física quando passaram
pelos bancos escolares, e se esses conhecimentos são úteis para a vida deles. Com
estas informações foi discutido com os alunos que tipo de Educação Física seus
familiares tiveram quando eram estudantes, se adquiriram ou não algum conhecimento
útil para a vida deles, bem como a Educação Física que eles (alunos) tiveram no Ensino
Fundamental, se adquiriram ou não algum conhecimento útil para o seu dia a dia e o
que eles esperavam aprender nas aulas de Educação Física no Ensino Médio. Foram
necessárias duas horas aulas para a realização desta atividade.
O próximo passo foi apresentar aos alunos, através de slides, os principais
tópicos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, lei nº 9394/96) e das Diretrizes
Curriculares da Educação Básica (DCEs 2008), para que os mesmos conseguissem
situar a disciplina de Educação Física no processo educacional e o porquê ela está
inserida no currículo escolar. Foram necessárias duas horas aulas para a realização
desta atividade.
Feito isto, passamos para o desenvolvimento dos conteúdos propostos pelas
DCEs 2008 para o Ensino Médio (esporte, jogos e brincadeiras, ginástica, dança e
lutas). Nesta etapa foram realizadas aulas teóricas utilizando textos, slides e vídeos
contendo informações e depoimentos sobre os objetivos e benefícios de cada
conteúdo.
A primeira unidade trabalhada foi Saúde e Qualidade de Vida, onde foram
apresentados vídeos explicando o que é Educação Física e qual a sua importância para
a vida das pessoas; qual a importância de se praticar a atividade física; o que vem a ser
saúde e qualidade de vida; o que é avaliação física; e também os benefícios da
caminhada e da corrida. Após a apresentação dos vídeos foi feita uma análise do
conteúdo dos mesmos para mostrar aos alunos a importância de conhecer os
benefícios e usufruí-los através da prática de uma atividade física.
Também foram trabalhados na prática vários tipos de alongamento e para
finalizar, foi realizado um debate através de perguntas sobre os vídeos apresentados e
a importância de realizar o alongamento antes de iniciar uma atividade física, para que
os alunos expressassem aquilo que entenderam sobre o conteúdo trabalhado.
Utilizaram-se duas horas aulas para a realização desta unidade.
A segunda unidade trabalhada foi o Conteúdo Estruturante Esporte,
desenvolvido através de vídeos que tratavam sobre: o esporte ao longo da vida; o
esporte e o lazer; benefícios e dicas do voleibol e do basquetebol; a cidadania em
construção através do esporte na escola. Também foi trabalhado, através da formação
de pequenos grupos, o texto Adolescência, Esporte e Qualidade de Vida. Após a
apresentação dos vídeos e do texto foi feita uma análise do conteúdo dos mesmos para
mostrar aos alunos a importância de conhecer os benefícios e usufruí-los através da
prática de um esporte. Na prática foi desenvolvida a atividade futbeisebol e para
finalizar, foi realizado um debate através de perguntas sobre os vídeos e o texto
apresentados, para que os alunos expressassem aquilo que entenderam sobre o
conteúdo trabalhado. Utilizaram-se quatro horas aulas para a realização desta unidade.
A terceira unidade tratou do Conteúdo Estruturante Jogos e Brincadeiras,
trabalhado através da monografia Brincar na Adolescência: uma leitura no espaço
escolar, e do texto O Fenômeno Jogo: conhecer e viver. Para a realização deste
trabalho os alunos foram divididos em pequenos grupos e cada grupo fez a leitura de
uma parte do texto, apresentando-o em seguida para o restante da turma. Também foi
feita uma análise do conteúdo dos mesmos para mostrar aos alunos a importância de
conhecer os benefícios e usufruí-los através da prática de jogos e brincadeiras.
Na prática foi realizada a brincadeira Ruas e Avenidas e para finalizar, foi
realizado um debate através de perguntas sobre os textos apresentados, para que os
alunos expressassem aquilo que entenderam sobre o conteúdo trabalhado. Utilizaram-
se duas horas aulas para a realização desta unidade.
Na quarta unidade, o Conteúdo Estruturante trabalhado foi a Dança através do
texto Vida e Dança: Tempo – Espaço – Energia – Pulsão e do vídeo Professores
ensinam passos de dança e explicam benefícios do exercício para a saúde. Após a
apresentação do texto e do vídeo foi feita uma análise do conteúdo dos mesmos para
mostrar aos alunos a importância de conhecer os benefícios e usufruí-los através da
prática de uma dança.
A atividade prática, aprendendo a dançar xote, não foi realizada devido a falta de
espaço físico adequado e a timidez e falta de coragem dos alunos em realizá-la na
quadra de esportes, pois seriam vistos pelos demais alunos que usam o mesmo espaço
no momento da aula. Para finalizar foi realizado um debate através de perguntas sobre
os textos apresentados, para que os alunos expressassem aquilo que entenderam
sobre o conteúdo trabalhado. Utilizaram-se duas horas aulas para a realização desta
unidade.
A quinta unidade abordou o Conteúdo Estruturante Ginástica, que foi
desenvolvido através do vídeo Ginástica Localizada – benefícios e dicas e do texto
Qualidades Físicas – Definições e Explicações. Após a apresentação do texto e do
vídeo foi feita uma análise do conteúdo dos mesmos para mostrar aos alunos a
importância de conhecer os benefícios e usufruí-los através da prática da ginástica.
A atividade prática realizada foi uma aula de ginástica localizada e para finalizar
foi realizado um debate através de perguntas sobre os textos apresentados, para que
os alunos expressassem aquilo que entenderam sobre o conteúdo trabalhado.
Utilizaram-se quatro horas aulas para a realização desta unidade.
A sexta e última unidade trabalhada contemplou o Conteúdo Estruturante Lutas,
desenvolvido através dos vídeos Opção Saúde Artes Marciais Blocos 2, 3 e 4. Após a
apresentação do texto e do vídeo foi feita uma análise do conteúdo dos mesmos para
mostrar aos alunos a importância de conhecer os tipos e benefícios e usufruí-los
através da prática das lutas.
A atividade prática “é lutando que se aprende” foi realizada na sala de aula e na
quadra de esportes do colégio. Para finalizar foi realizado um debate através de
perguntas sobre os textos apresentados, para que os alunos expressassem aquilo que
entenderam sobre o conteúdo trabalhado. Utilizaram-se quatro horas aulas para a
realização desta unidade.
A discussão sobre a importância e os benefícios de cada conteúdo trabalhado foi
ampliada através da realização de um seminário onde os alunos foram divididos em
grupos mistos de mais ou menos 9 alunos e cada grupo buscou mais informações
sobre um dos conteúdos propostos pelas DCEs 2008 para o Ensino Médio. A escolha
do conteúdo que cada grupo estudou foi feita através de sorteio e para a realização do
seminário os alunos utilizaram a TV Multimídia, o quadro negro e cartazes. Foram
necessárias duas horas aulas para a realização desta atividade.
Para finalizar a implementação foi aplicado aos alunos um questionário para
verificar se os objetivos do projeto foram alcançados e com estes resultados foi
realizado um debate para discutir se os alunos entendem a disciplina de Educação
Física como área do conhecimento, se ela é importante para a sua formação como
cidadão crítico, participativo e transformador do meio em que vive, se os conhecimentos
adquiridos durante a realização das atividades poderão ser ampliados nas séries
seguintes do Ensino Médio e se serão úteis no dia a dia deles, bem como de seus
familiares. Foram necessárias duas horas aulas para a realização desta atividade.
Durante a implementação do projeto na escola, também foi realizado o G.T.R.
(Grupo de Trabalho em Rede), ofertado pela Secretaria Estadual da Educação, onde
cada Professor PDE trabalhou com uma turma de no máximo 25 cursistas, formada
pelos professores da rede estadual de ensino. A minha turma, inicialmente, foi
composta por 15 cursistas, porém uma cursista não realizou nenhuma das atividades e
dois cursistas não realizaram pelo menos uma atividade, sendo considerados como não
concluintes. Portanto doze cursistas concluíram o G.T.R. Este trabalho foi feito
totalmente online, onde os cursistas primeiramente leram e debateram meu Projeto de
Intervenção Pedagógica, em seguida realizaram as mesmas ações com minha Unidade
Didática e com a ficha de implementação das atividades.
As discussões e as contribuições apresentadas pelos cursistas mostraram a
preocupação de todos com a valorização da disciplina de Educação Física como área
do conhecimento. Todos concordam que os Conteúdos Estruturantes devem fazer parte
das aulas desde o Ensino Fundamental e que os alunos devem receber esta
informação no início do ano letivo para que entendam de que forma as aulas serão
desenvolvidas durante o processo, pois através destas informações ficará mais fácil o
aluno valorizar a Educação Física como área do conhecimento tão importante para a
sua formação quanto as demais disciplinas que compõe o currículo escolar.
Também foi afirmado pelos cursistas que o sucesso do trabalho e a mudança na
maneira que a comunidade escolar vê a de Educação Física na escola depende da
mudança de atitude de todos os Professores que trabalham com a disciplina.
As discussões apresentadas mostraram a preocupação dos cursistas em definir
um norte para a Educação Física Escolar, bem como com a quantidade de conteúdos
sugeridos nas DCE's, para que o trabalho não se perca durante o processo. Outro
ponto abordado pelos participantes foram às aulas de Educação Física dos anos iniciais
do Ensino Fundamental, que estão preparando de forma inadequada o aluno para as
séries finais do Ensino Fundamental.
A valorização de todas as disciplinas como área do conhecimento também foi
citada como fundamental para a formação do aluno. Também a valorização do
conhecimento trazido pelo aluno foi considerada como essencial para que ele se sinta
responsável pela sua formação e consequentemente participe de maneira efetiva das
aulas.
As discussões comprovaram que a Educação Física está mudando, pois os
cursistas destacaram a importância de se trabalhar todos os Conteúdos Estruturantes,
bem como valorizar o conhecimento trazido pelo aluno e motivá-lo a pesquisar e buscar
outras formas de aprender. Tudo isso para fazer com que o aluno torne-se um cidadão
crítico e reflexivo, capaz de entender a importância da aula de Educação Física para a
sua formação. Outro ponto destacado foi a importância do planejamento para o sucesso
do trabalho, pois segundo os cursistas o aluno percebe quando o professor planejou a
aula e até aceita e participa com maior interesse, mesmo que seja um conteúdo que ele
não estava acostumado estudar.
Penso que a realização deste GTR foi de grande importância para o
desenvolvimento do meu Projeto de Intervenção Pedagógica, pois a participação dos
cursistas acrescentou muito para o enriquecimento do meu trabalho. Os participantes
entenderam o objetivo do GTR e de forma brilhante discutiram e contribuiram com suas
colocações, experiências e sugestões para a realização de uma aula de qualidade,
onde o aluno realmente entenda a importância da aula de Educação Física para a sua
formação e desta forma passe a reconhecer e valorizar a disciplina de Educação Física
como área do conhecimento.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Projeto de Intervenção Pedagógica Educação Física no Ensino Médio: uma
proposta de valorização da disciplina foi realizado em três etapas, sendo que na
primeira etapa foi aplicado um questionário aos alunos e aos seus familiares. Na
segunda etapa foram trabalhados, de forma teórica e prática, os Conteúdos
Estruturantes sugeridos nas DCE’s 2008 e na terceira etapa foi aplicado outro
questionário aos alunos para verificar se os objetivos deste estudo foram alcançados.
Vejamos a seguir os resultados encontrados.
Após a aplicação do primeiro questionário percebeu-se que o esporte foi o
principal conteúdo trabalhado nas aulas de Educação Física dos alunos durante o
Ensino Fundamental, sendo o futsal o esporte mais praticado. Em segundo lugar ficou o
conteúdo jogos e brincadeiras e os conteúdos ginástica, dança e lutas não foram
citados por nenhum aluno. As aulas eram realizadas, na maioria das vezes teóricas e
práticas. Vários alunos afirmaram que as atividades realizadas no Ensino Fundamental
estimulavam a reflexão sobre a prática de uma atividade física e destacaram a melhora
da saúde como principal benefício desta prática.
Questionados sobre qual conteúdo gostariam de aprender no Ensino Médio, o
esporte apareceu novamente em primeiro lugar, porém com destaque para o voleibol,
handebol e basquetebol. Os conteúdos dança e lutas também foram citados por vários
alunos, já os conteúdos ginástica, jogos e brincadeiras não despertaram o interesse dos
mesmos.
Esta realidade também se repete em muitas escolas, fazendo com que os
professores busquem modificar esta situação através de aulas atrativas, com
metodologias diferenciadas, conteúdos variados e sistemas de avaliação que motivem
o aluno a se interessar pela aula de Educação Física e consequentemente valorizá-la
como área do conhecimento.
O cuidado com a saúde foi o principal benefício citado pelos alunos em relação à
importância da disciplina de Educação Física para a vida deles. Eles também
destacaram o prazer e a diversão como pontos positivos das aulas.
Em relação a ser um aluno crítico nas aulas, 50% entendem o que isto significa,
pois responderam que o professor deve apresentar no início do ano seu Plano de
Trabalho Docente, explicando como serão realizadas as aulas, a forma de avaliação e
também ouvindo as sugestões apresentadas pelos alunos para o desenvolvimento dos
conteúdos propostos pelo professor e por eles. Já os outros 50% não responderam
esta pergunta, penso eu que por vários motivos, como por exemplo a desmotivação e o
desinteresse em aprender, o tipo de aula que tiveram no Ensino Fundamental, a
pequena importância que dão para a disciplina, entre outros, deixando uma lacuna no
processo ensino aprendizagem, onde professor e alunos, juntos precisam preenchê-la
para que ao final do trabalho os objetivos sejam alcançados .
Também foi aplicado um questionário para os familiares dos alunos, onde eles
escolheriam a pessoa da família que responderia as perguntas. As respostas trazidas
pelos alunos mostrou que o esporte também foi o principal conteúdo desenvolvido nas
aulas de Educação Física de seus familiares, sendo o conteúdo jogos e brincadeiras o
segundo mais trabalhado e o conteúdo ginástica ficando em terceiro lugar. Os
conteúdos dança e lutas não foram citados. As aulas eram somente práticas para 50%
dos entrevistados e teórico-prática para os outros 50%. Já a maioria respondeu que as
atividades trabalhadas nas aulas tanto teóricas quanto práticas não estimulavam a
reflexão sobre a importância da prática de uma atividade física. Para aqueles que as
atividades exerceram influência, destacam a importância da prática de uma atividade
física como forma de melhorar e cuidar da saúde e também como forma de lazer e
divertimento.
As DCEs (2008) defendem que a Cultura Corporal é o objeto de estudo e de
ensino da Educação Física, e numa perspectiva crítica, deve garantir ao aluno o acesso
aos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade para que o mesmo
possa de forma espiralada aprofundar esses conhecimentos e utilizá-los em seu
benefício e em benefício de seus semelhantes para a transformação do meio em que
vivem.
Dando sequência na aplicação do projeto, o trabalho realizado com os alunos
dos 1º anos “A” e “B”, através das atividades da Unidade Didática, mostrou que o
esporte é o conteúdo preferido deles, principalmente nas aulas práticas. Os demais
conteúdos, quando foram trabalhadas as atividades práticas, não despertaram nos
alunos o mesmo interesse que o conteúdo esporte. Através das atividades teóricas
todos demonstraram entender a importância e os benefícios proporcionados pelos
Conteúdos Estruturantes, porém quando estão na quadra, dão preferência somente a
prática do esporte. Talvez isto aconteça pela cultura que se criou na escola, devido a
utilização da quadra por duas e as vezes três turmas no mesmo horário, envolvendo de
70 a 100 alunos, de faixas etárias diferentes, onde a prática do esporte acaba sendo a
melhor saída para a solução desta dificuldade.
Outra dificuldade encontrada para a realização das atividades práticas dos
Conteúdos Estruturantes Dança e Lutas, foi a falta de um local apropriado, pois o
Colégio Estadual Tancredo Neves possui apenas uma quadra de esportes. Também o
fato de assumir a turma no mês de agosto dificultou o trabalho, pois como já citei
anteriormente, criou-se no colégio uma cultura de prática do esporte, onde os demais
conteúdos acabam sendo deixados de lado.
Penso que os objetivos propostos, devido às dificuldades citadas, foram
parcialmente alcançados, pois algumas atividades práticas não foram realizadas e
outras não despertaram o interesse dos alunos, como foi o caso das atividades
propostas para os Conteúdos Estruturantes Jogos e Brincadeiras, Ginástica, Dança e
Lutas.
Para as DCES (2008), é preciso uma mudança de atitude para atender as atuais
necessidades dos alunos, pois a Educação Física faz parte do processo educacional e
o compromisso do professor é contribuir para a formação de um cidadão crítico frente à
Cultura Corporal, com condições de analisar as práticas corporais construídas pela
humanidade e ir além, transformando estas práticas através das relações
homem/natureza e homem/homem, para a construção de uma sociedade mais justa
onde todos tenham as mesmas oportunidades. A comunicação com as demais
disciplinas também deve acontecer para facilitar a compreensão dos conteúdos e a
aprendizagem por parte dos alunos.
Para finalizar a implementação do projeto foi aplicado aos alunos um
questionário, onde foi perguntado se, após a realização de todas as atividades, os
mesmos entendem o que é ter consciência crítica frente à Educação Física, se
compreendem a importância da disciplina de forma permanente para a sua vida e se
mudaram de opinião a respeito da mesma.
Em relação à primeira pergunta, 100% não adquiriram esta consciência crítica,
pois a maioria não respondeu e aqueles que responderam destacaram os benefícios
para a saúde proporcionados pela disciplina.
Benefícios estes que foram novamente destacados por 99% dos alunos, quando
responderam a segunda pergunta. A seguir destaco o relato de uma aluna participante
do projeto, na qual afirma que:
“A Educação Física deve ser mais que uma matéria escolar, deve fazer parte do nosso dia a dia, pois nos ajuda a ter uma vida mais saudável. Os esportes e exercícios devem ser praticados por todas as pessoas, de todas as idades, pois além de serem saudáveis, nos dão uma melhor coordenação motora, ajudam no desenvolvimento do nosso corpo, nos afastam das drogas e outras coisas ruins, previnem doenças, nos dão mais disposição, alegria e prazer, em alguns casos vicia a pessoa, como no meu, eu amo esportes, mas principalmente vôlei, sou viciada”.
Na terceira pergunta, 70% responderam que mudaram de opinião em relação à
disciplina de Educação Física, destacando a importância da aula teórica para melhor
compreensão dos conteúdos. Para exemplificar tal afirmação, a seguir é apresentada a
resposta de um aluno que disse:
“por mais que eu pratique esportes, faça exercícios diariamente, o projeto me ajudou a entender que além de todas as coisas que citei, a Educação Física é essencial e tem muitas outras vantagens, nos ajuda a conhecer melhor nosso corpo, sem falar que mudou a vida de várias pessoas. Aprendi que nas aulas de Educação Física não é fundamental apenas ir para a quadra ou ter aula prática. A teoria é muito importante e necessária para todos”.
Outros 30% disseram que não mudaram de opinião, pois afirmaram já entender a
importância da disciplina para a vida das pessoas. É o caso da aluna que diz:
“eu já sabia por intermédio de minha irmã que cursou Educação Física, todos os benefícios desta disciplina para nós. Mas é claro que este projeto ajudou-nos a reforçar o conhecimento”.
O professor deve ser um instigador, um problematizador e desafiar seus alunos a
produzirem novos conhecimentos, além de apropriarem-se dos conhecimentos já
existentes. O professor também deve ser curioso, inquieto, um pesquisador, pois
através da pesquisa poderá constatar o que ensina, bem como conhecer o novo, e
desta forma, estará educando e sendo educado (FREIRE, 2005).
Para Freire (2005), o professor deve respeitar os conhecimentos trazidos pelos
alunos e utilizá-los no processo ensino-aprendizagem, pois estes conhecimentos são
importantes na formação do aluno devido fazerem parte da realidade e do cotidiano
dele. Tanto os conhecimentos do senso comum quanto os conhecimentos científicos
devem ser ensinados ao aluno de forma criticizada para que o mesmo possa buscar e
construir novos conhecimentos e não apenas aceitá-los como verdade absoluta.
Os resultados apresentados mostraram que o Conteúdo Estruturante Esporte
tem representado a Disciplina de Educação Física no Colégio Estadual Tancredo
Neves. Portanto penso que será necessário a realização de um trabalho constante no
ensino médio para que os alunos realmente compreendam a importância de todos os
Conteúdos Estruturantes para a formação de um cidadão crítico e participativo na
sociedade em que vive e desta forma valorizem a disciplina de Educação Física como
área do conhecimento.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Penso que a realização deste projeto de intervenção pedagógica contribuiu para
o desenvolvimento do meu trabalho em sala de aula. Desta forma acredito que poderei
planejar melhor minhas aulas, pois tive a oportunidade de interagir com os alunos e
saber deles o que pensam e o que esperam da disciplina de Educação Física no Ensino
Médio.
Acredito que o objetivo geral do projeto, que era a conscientização dos alunos
sobre a importância da disciplina de Educação Física no Ensino Médio como elemento
fundamental na formação de um cidadão foi parcialmente alcançado, tendo em vista
que apenas nos conteúdos voltados aos esportes foram contemplados na teoria e na
prática. Já em relação os demais conteúdos (lutas, dança, jogos e brincadeiras e
ginástica) foi possível apenas o desenvolvimento na parte teórica, pois devido a cultura
implantada na escola, a metodologia dos demais professores, a expectativa dos alunos
e as dificuldades de espaços disponíveis para as aulas de Educação Física foram os
principais elementos que dificultaram o trabalho.
Quanto aos objetivos específicos que eram: investigar os motivos que fazem com
que os alunos não valorizem as aulas de Educação Física no Ensino Médio; despertar
no aluno o senso crítico/investigativo e despertar o gosto pela prática de uma atividade
física seja para a manutenção e melhoria da saúde ou para a prática como lazer,
podemos afirmar que foram parcialmente alcançados. Tendo em vista que os alunos
demonstraram na realização das atividades teóricas de cada unidade,
responsabilidade, participação, interesse e dedicação, mostrando entenderem que são
necessárias mudanças nas aulas de Educação Física, principalmente no que diz
respeito às aulas práticas.
Também penso que, através da realização das atividades, tanto teóricas quanto
práticas, foi possível despertar nos alunos uma visão diferente daquela que eles tinham
da disciplina. Visão esta que, com certeza contribuirá na formação deles como cidadãos
críticos, conhecedores de seus direitos e deveres e capazes de atuar na sociedade em
que estão inseridos, transformando-a em seu benefício, bem como de seu semelhante.
Acredito também que este estudo dará início a uma discussão referente às aulas
de Educação Física do Ensino Médio, fazendo com que muitos professores repensem o
formato de suas aulas e desta forma as planejem, contemplando o máximo de
conteúdos, todos voltados para a formação integral do aluno.
Portanto penso que este estudo foi de grande importância tanto para mim,
quanto para os alunos dos 1º anos “A” e “B” do Ensino Médio do Colégio Estadual
Tancredo Neves, pois através do mesmo todos tivemos a oportunidade de repensar
para que serve e que tipo de aula de Educação Física queremos para a formação de
nossos alunos.
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