Educação, inclusão e qualidade -...

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  • Educao, incluso e qualidade

    Leandra B er Possa (Organizadora)

  • Leandra Ber Possa

    (Organizadora)

    EDUCAO, INCLUSO E QUALIDADE

    Santa Maria, RS, Brasil. LABORATRIO DE PESQ. E DOC. - CE

    2014

  • 3

    E24 Educao, incluso e qualidade [recurso eletrnico] / Leandra Ber Possa (organizadora). Santa Maria, RS : UFSM, Centro de Educao,

    2014. 1 e-book

    ISBN: 978-856112843-2

    1. Educao 2. Educao inclusiva. I. Possa,

    Leandra Ber

    CDU 37

    376.1/.5

    Ficha catalogrfica elaborada por Luzia de Lima SantAnna CRB-

    10/728 Biblioteca Central da UFSM

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reproduo total ou parcial, por qualquer meio ou processo. Vedada a memorizao e/ou a recuperao total ou

    parcial, bem como a incluso de qualquer parte desta obra em qualquer sistema computacional. Essas proibies aplicam-se tambm s caractersticas grficas da obra e sua editorao. A violao dos direitos autorais punvel como crime (art. 184 e pargrafos, do Cdigo Penal), com pena de priso e multa, conjuntamente com busca e apreenso e indenizaes diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

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    COMIT ORGANIZADOR

    Marilene Gabriel Dalla Corte UFSM

    Rosane Carneiro Sarturi UFSM

    Leandra Ber Possa - UFSM

    COMISSO CIENTFICA

    Leandra Ber Possa - UFSM

    Alana Claudia Mohr UFSM

    Vantoir Roberto Brancher - IFF

    Eliana Pereira de Menezes - UFSM

    Valmr Scott Junior - UFSM

    Vanise Mello Lorensi - SEDUC-RS

    Fernanda Machado - IFF

    Eliane Sperandei Lavarda SEDUC-RS

    Thais Virgnea Borges Marchi SEDUC-RS

    EDITORAO E CAPA

    Evandro Bolzan (Pr-Conselho UFSM)

    Gabriel Marchesan (Pr-Conselho UFSM)

    Marilene Gabriel Dalla Corte (UFSM)

    Marina Lara Silva dos Santos Teixeira (Bolsista OBEDUC/CAPES UFSM)

    COMIT DE APOIO TCNICO

    Francine Mendona da Silva (Pr-Conselho UFSM)

    Ticiane de Arruda da Silva (Bolsista OBEDUC/CAPES UFSM)

  • SUMRIO

    APRESENTAO ...................................................................................................... 7

    REPRESENTAES ESCOLARES SOBRE A POLTICA DE INCLUSO ................................................................................................................ 14 Denise Ferreira da Rosa

    CRIANAS COM DEFICINCIA EM SITUAO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: DEBATES SOBRE GESTO EDUCACIONAL E INCLUSO ................................................................................................................ 22 Carolina Terribile Teixeira Andria Jaqueline Devalle Rech Soraia Napoleo Freitas

    ADAPTAES CURRICULARES COMO REGRA OU EXCEO? DISCUSSO ACERCA DA EXPERINCIA NO IF FARROUPILHA- CAMPUS SO BORJA ............................................................................................ 32 Clucia Honnef Ana Paula Del Aghenese Lutiele Machado Godois

    AS CONTRIBUIES DO GESTOR ESCOLAR PARA IMPLEMENTAO DA EDUCAO INCLUSIVA NA EDUCAO PROFISSIONAL E TECNOLGICA ......................................................................... 43 Lidiane Falco Martins Camila Koerich Burin

    APRENDIZAGEM DA DOCNCIA DIANTE DA INCLUSO DO PBLICO ALVO DA EDUCAO ESPECIAL NO ENSINO SUPERIOR ................. 55 Karina Silva Molon de Souza Doris Pires Vargas Bolzan

    UMA TRADE EM DISCUSSO: CONSTITUIES BRASILEIRAS, EDUCAO (SUPERIOR) E PROCESSO DE IN/EXCLUSO ................................ 63 Valmr Scott Junior Valdo Hermes de Lima Barcelos

    PROJETO POLTICO PEDAGGICO: UM OLHAR SOBRE A ORGANIZAO DO AEE EM DUAS ESCOLAS DE DIFERENTES MUNICPIOS DA REGIO CENTRAL DO ESTADO DO RS ................................... 74 Fabiane Ramos Valquirea Martins Monteblanco

    EFEITOS DE DOCUMENTOS INTERNACIONAIS NAS POLTICAS DE EDUCAO ESPECIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BRASIL, ARGENTINA E CHILE ............................................................................... 84 Maria Ins Naujorks Leandra Ber Possa

  • A EDUCAO PARA AS DIVERSIDADES: GESTO DAS DEMANDAS DO COTIDIANO ESCOLAR ..................................................................................... 95 Elize de Matos Souto Alana Claudia Mohr

  • 7

    APRESENTAO

    Desde 2013, o Programa de Ps-Graduao em Educao e Gesto

    Educacional, da Universidade Federal de Santa Maria, em parceria com os grupos

    de pesquisa iniciou um novo ciclo de eventos que passaram a ser organizados por

    eixos temticos e, com isso, por grupos de trabalho que envolvem o campo da

    educao e da gesto educacional.

    Em 2014 esta organizao, testada anteriormente, ganhou novos contornos e

    integrou os seguintes eventos: o II Seminrio Internacional de Polticas Pblicas da

    Educao Bsica e Superior, o IV Seminrio Internacional de Gesto Educacional,

    a VIII Semana Acadmica do Curso de Especializao em Gesto Educacional e a II

    Semana Acadmica do Centro de Educao da Universidade Federal de Santa

    Maria.

    A experincia com os eixos temticos gerou o investimento em avaliar os

    trabalhos submetidos para apresentao nos eventos e, com isso, empreender na

    feitura de e-books que nascem do estudo em parceria. Entre eles, nasce este e-

    book, fruto de um dos eixos dos eventos, intitulado Educao, Incluso e

    Qualidade.

    Foi na parceria dos grupos de pesquisa ligados ao Programa de Ps

    Graduao em Educao e em Gesto Educacional da Universidade Federal de

    Santa Maria e, mais especificamente, entre o Grupo de Pesquisa ELOS e o Grupo

    de Estudo sobre Educao Especial e Incluso GEPE, que tornou-se possvel

    qualificar a produo do eixo temtico Educao, Incluso e Qualidade.

    Olhando para o trabalho do eixo Educao, Incluso e Qualidade, destacamos

    as discusses produzidas pelos professores Alfredo Veiga-Neto, Maura Corcini

    Lopes e Mrcia Lise Lunardi-Lazzarin, levando-nos a identificar a necessidade de

    pensar outros modos e modelos tericos para enfrentar os problemas sociais e

    educacionais do sculo XXI. Sem desprezar as teorias educacionais do sculo

    XIX e XX insistiram em nos apresentar um panorama em que os modelos

    anteriores no do mais conta de explicar o presente. No desenvolvimento da

    temtica propuseram algumas discusses que podem ser tomadas por ns como

    alertas. Alertaram para que faamos um esforo extra, em nossas prticas de

    pesquisa sobre a escola, para que: a) possamos compreender as transformaes

    no campo da educao escolar; b) tenhamos em mente que o conceito de qualidade

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    tem sido utilizado como sinnimo de indicadores que servem de metro para o

    financiamento e avaliao e que a mudana destes indicadores que mudam

    constantemente de foco, como por exemplo: num momento no ensino, em outro

    na aprendizagem; tendo colocado nfase na educao como esfera que sofre

    diretamente os efeitos de prticas lgicas do capitalismo liberal e neoliberal; c)

    possamos pensar que no festejo das diferenas, tomadas como diversidade de

    indivduos que vo escola, temos dificuldade de pensar a gesto, pois investe-se

    em gestar a diferena ao invs de gestar o ensino e a aprendizagem; d)

    reconheamos elementos potencializadores nas polticas de incluso do Estado,

    para que possamos produzir um alargamento do sentido da incluso, ou seja,

    atribuir sentido a ela no como modelo que fortifica a excluso; d) possamos pensar

    a incluso no como imperativo, mas como uma matriz de experincia em que

    gesto signifique pensar a si e ao outro; em detrimento de posies que, no

    presente so comuns, levando gestores e professores a tornarem-se um ente

    nominal entre ser contra ou a favor da incluso; e) identificarmos porque estamos

    subjetivados com a impresso de que h um lugar para todos e, com isso, pensar

    que a incluso um indicador de uma arte de governar no presente que tem nome e

    endereo (todos e cada um) e para tanto a necessidade de pensar de outras formas

    nos apropriando de outros modos de pensar.

    Os alertas deixados pelos referidos professores movimentaram o grupo e as

    apresentaes de trabalhos do GT, bem como mobilizaram pesquisadores dos

    Grupos de Pesquisa ELOS e GEPE a produzirem outros textos que tambm

    compem este e-book. Assim, este livro est organizado em: "Trabalhos

    Endereados" compostos por seis artigos aprovados pela Comisso Cientfica do

    eixo e todos eles trazem uma analtica em torno das polticas pblicas e de gesto

    educacional tendo como foco a escola e as prticas educativas; "Trabalhos dos

    Grupos de Pesquisa e Reflexes" que contemplam textos cientficos derivados das

    pesquisas dos grupos a partir do estudo efetivado pelo eixo temtico.

    O trabalho intitulado Representaes escolares sobre a poltica de incluso,

    de Denise Ferreira da Rosa, tensiona o modo em que se d a produo do

    sujeito/aluno da incluso nos discursos da Gesto educacional. Tomando como

    lcus de pesquisa uma escola da rede pblica, a pesquisadora tece com alguns

    materiais a produo de uma materialidade analtica para olhar as representaes

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    da escola sobre as polticas educacionais e, com isso, a experincia e discursos da

    incluso na escola que colocam em operao a produo do aluno includo. Nas

    concluses, a autora problematiza a gesto escolar e os modos de

    homogeneizao acionados para identificar a escola como lugar que acolhe

    todos os sujeitos com deficincia e ao mesmo tempo o pouco investimento na

    gesto da aprendizagem.

    O trabalho de Carolina Terribile Teixeira, Andria Jaqueline Devalle Rech e

    Soraia Napoleo Freitas, intitulado Crianas com deficincia em situao de

    acolhimento institucional: debates sobre gesto educacional e incluso, busca

    interpretar o sentido da incluso para a Gesto Escolar num estudo bibliogrfico que

    toma como referncia a institucionalizao da criana com deficincia. Apresenta a

    articulao dos temas gesto educacional e incluso a partir de um estudo

    bibliogrfico. Apresenta a trama de conceitos como gesto e incluso, acesso e

    permanncia na escola, proposta pedaggica e funo social da escola. Identifica a

    necessidade de as escolas investirem em profissionais qualificados e em

    recursos materiais e estruturais tendo em vista a qualificao da mesma para a

    incluso e para encontrar sadas para o atendimento educacional das pessoas

    includas no contexto da prpria escola. Constitui-se um estudo bibliogrfico que

    contribui para pensar e problematizar sobre as bases com as quais estamos

    lidando com a incluso e gesto educacional num quadro de generalizao e

    universalizao desta poltica.

    Clucia Honnef, Ana Paula Del Aghenese e Lutiele Machado Godois

    encaminham o artigo Adaptaes curriculares como regra ou exceo:

    discusso acerca da experincia no IF Farroupilha Campus So Borja.

    Comeam esclarecendo a relao errnea que se coloca para a Educao

    Especial como sinnimo de educao inclusiva. Para as autoras estas duas se

    atravessam, mas no so a mesma coisa. O texto retoma diversos tericos da

    educao do sculo XX e com eles o texto caminha para apontar as

    caractersticas dos sujeitos como elemento primordial das propostas de

    aprendizagem escolar. Com isso, identificam que o campo pedaggico precisa

    mobilizar atividades diversas que levem em considerao a diversidade de alunos

    tendo em vista as polticas educacionais presentes. O texto aponta como caminho

    metodolgico a anlise de narrativas de uma experincia de gesto curricular

    em torno de adaptaes, que se do em funo da presena de alunos com

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    deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades em um

    instituto federal de educao, cincia e tecnologia no Rio Grande do Sul. As

    autoras concluem indicando a importncia das condies de trabalho dos

    professores e da relao destes com os professores da Educao Especial.

    Apontam a gesto participativa e cooperativa dos saberes ligados as adaptaes

    curriculares, como capazes de gerarem condies de aprendizagem dos alunos

    com necessidades educacionais especiais.

    O artigo intitulado As contribuies do gestor escolar para implementao

    da educao inclusiva na educao profissional e tecnolgica, de Lidiane

    Falco Martins e Camila Koerich Burin, discute a implementao da incluso em um

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Santa Catarina. Para tanto,

    descreve o papel da gesto educacional no processo de sensibilizao dos

    profissionais tomando como referncia o estudo participativo da legislao e mais

    especificamente da histria de pessoas com deficincia e como essa vem se

    produzindo como sujeito ao longo dos processos sociais da humanidade.

    Identificam, ao final do artigo, que a experincia promovida pela gesto educacional

    criou estratgias na comunidade escolar e em seu entorno no sentido de articular

    parcerias e poder, com isso, aproximar sujeitos com necessidades educacionais

    especiais com seus direitos de acesso e permanncia na escola.

    As autoras Karina Silva Molon de Souza e Doris Pires Vargas Bolzan nos

    brindam com o artigo Aprendizagem da docncia diante da incluso do pblico

    alvo da educao especial no ensino superior. Nesse, apresentam a relao

    docente de professores universitrios com os alunos da cota b, pblico alvo da

    Educao Especial, no ensino superior. Problematizam atravs do estudo do estado

    da arte pesquisas que buscam identificar como os professores universitrios esto

    se mobilizando ou no para o trabalho de mediao deste pblico na instituio de

    ensino superior. Utilizam como conceito orientador da analise a resilincia tendo em

    vista que este potencializa a capacidade dos indivduos para lidarem e superarem

    obstculos, ou ainda, movimentarem-se diante de situaes adversas que enfrentam

    como docentes. O texto inicial, mas traz uma contribuio importante para a

    pesquisa da docncia universitria em tempos de incluso colocando a funo do

    professor universitrio como mediador do processo de acesso e permanncia do

    aluno cotista no ensino superior.

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    O texto de Vlmor Scott Junior e Valdo Hermes de Lima Barcelos, intitulado

    Uma trade em discusso: Constituies Brasileiras, educao (superior) e

    processo de in/excluso, esclarecedor para situar as condies de

    possibilidade de uma poca histrica em que surgem nas cartas constitucionais

    brasileiras e o direito educao. Os autores empreendem uma analtica dos textos

    constitucionais que se referem ao direito do cidado brasileiro educao superior,

    tratando esse como um direito entre outros. Identificam que, somente na Carta

    Constitucional de 1988, se assegura os direitos de todos educao superior e

    que nela fica determinada a obrigao do Estado financiar e regular tal nvel de

    ensino.

    Os Trabalhos Endereados remetem diferentes analticas, no entanto, todos

    eles tem como foco pensar as polticas de incluso associadas as prticas de gesto

    educacional. O aparato poltico da mesma forma que regulamenta as prticas de

    gesto educacional parece, tambm, nesses trabalhos, estar qualificando

    indicadores de 'boas prticas educacionais', sendo, entre muitos, um deles a

    incluso.

    Nos trabalhos produzidos por Grupos de Pesquisa e reflexes, encontramos

    textos cientficos de alguns pesquisadores do Programa de Ps-Graduao em

    Educao e em Gesto Educacional da UFSM, tendo em vista a parceria,

    especialmente, entre os grupos de pesquisa ELOS e GEPE. Nesses textos, discute-

    se a educao e a gesto educacional articulando-as s polticas pblicas que

    recebem por efeito a perspectiva inclusiva. Esse efeito que vem colocando em

    operao modos de ser das prticas educacionais, num tempo em que novas

    prticas recobrem outras e velhas prticas em educao, como estratgia para

    gestar a presena de todos nos espaos educacionais institucionalizados. Ao olhar

    para materiais oficiais e/ou produzidos no interior das instituies escolares

    esses textos buscam colocar em suspeio as verdades naturalizadas o que se

    representa sair da zona de conforto das publicaes que tem como objetivo

    sacralizar modelos polticos tomados, no presente, como verdadeiros.

    O primeiro texto dos trabalhos produzidos por Grupos de Pesquisa se intitula

    Projeto Poltico Pedaggico: Um olhar sobre a organizao do AEE em duas

    escolas de diferentes municpios da regio central do estado do RS, de

    Fabiane Ramos e Valquirea Martins Monteblanco, tem por objetivo a anlise

    comparativa dos projetos polticos-pedaggicos de duas escolas das redes

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    municipais da Regio Central do estado do Rio Grande do Sul. Para anlise as

    autoras elencaram duas categorias que so: a organizao do atendimento

    educacional especializado e a interlocuo do AEE com o professor da sala de aula

    comum. A partir dessas categorias, as autoras apresentam subcategorias que

    envolvem a rea da educao especial nestas instituies e chegam a concluso

    de que os projetos polticos-pedaggicos das duas escolas possuem itens que

    divergem com o que prev a Poltica Nacional de Educao Especial na

    Perspectiva da Educao Inclusiva. Apontam necessidade de haver uma reflexo

    frente construo dos projetos escolares, pois estes precisam levar em

    considerao a organizao do atendimento educacional especializado previsto

    na poltica de incluso, o que poder unificar as aes que devem ser

    desenvolvidas na escola.

    O segundo texto, das autoras Leandra Ber Possa e Maria Ins Naujorks, o

    resultado de um primeiro movimento de pesquisa em torno as polticas

    internacionais de incluso tomando como referncia a analtica de polticas em

    pases da Amrica Latina. O texto intitulado Efeitos de documentos internacionais

    nas polticas de Educao Especial: um estudo comparativo entre Brasil,

    Argentina e Chile, comea com uma imerso na Declarao Mundial Sobre

    Educao Para Todos (1990) e da Declarao de Salamanca (1994) que completam

    respectivamente 24 e 20 anos em 2014. Tomando esses documentos mundiais que

    se constituram em referncias para que diferentes pases, dentre eles o Brasil, a

    Argentina e o Chile, reconfigurassem suas polticas educacionais, lanam um olhar

    para as polticas nacionais desses trs pases a prioridade lanada para a educao

    de pessoas com deficincia, nos sistemas educacionais regulares. A partir desse

    princpio que indica metas s polticas pblicas de educao nacionais

    consideramos, comparativamente, documentos legais que o Brasil, a Argentina e o

    Chile vm produzindo para atender a gesto deste princpio - a incluso - das

    pessoas com deficincia nos seus sistemas educacionais. Como resultados, as

    autoras discutem a consonncia das polticas implementadas nos pases

    analisados com as recomendaes da UNESCO, j que esse organismo

    internacional intermediou e assumiu como meta a implementao da educao

    para todos e o princpio da incluso educacional/escolar, ratificadas nas

    declaraes mundiais. Tambm, identificam certa similaridade na poltica de

    educao especial desses pases tendo em vista os efeitos dos documentos

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    internacionais. Por um lado essas polticas recaem na tnica de que a incluso

    est para alm da escolaridade da pessoa com deficincia e, por outro, tem sua

    centralidade na educao formal e escolarizada.

    O terceiro texto de Elize de Matos Souto e Alana Claudia Mohr, A educao

    para as diversidades: gesto das demandas do cotidiano escolar, consiste

    em um estudo de caso etnogrfico de cunho qualitativo que buscou identificar as

    demandas da gesto escolar de duas instituies com propostas distintas em Santa

    Maria/RS, cujo cenrio marcado pela diversidade e desigualdade social. As

    autoras identificam que a criminalidade, a prostituio, o uso de drogas, o abuso

    sexual, a pobreza, entre outras difceis situaes que fazem parte do cotidiano dos

    alunos, assim como integram a realidade dos professores, gestores e funcionrios

    desta escola. Da anlise de dados as autoras chegaram ao levantamento das

    seguintes dimenses: Desigualdade social versus diversidade como desafio a

    prtica da educao inclusiva; comprometimento com o ensino; alternativas de

    avaliao; escola com vis protetivo/assistencialista e currculo; esses elementos

    que esto imbricados com a gesto escolar.

    Apresentar os trabalhos deste e-book Educao, Incluso e Qualidade e

    coordenar a Comisso Cientfica desse eixo, oferece a possibilidade de

    aprendizagem compartilhada com muitos colegas pesquisadores que apresentam,

    aqui, seus resultados de pesquisa. De certa forma, d-me, tambm, a autoridade,

    por conhecer estes trabalhos e de indicar, a todos os interessados, a leitura

    deles que acredito serem capaz de proporcionar a reflexo sobre as interfaces

    das polticas pblicas e dos processos de gesto educacional.

    Leandra Ber Possa Organizadora

  • 14

    REPRESENTAES ESCOLARES SOBRE A POLTICA DE INCLUSO

    Denise Ferreira da Rosa1

    INTRODUO

    Esse estudo visa realizar algumas aproximaes das discusses realizadas no

    decorrer das disciplinas do curso de Especializao em Gesto Educacional/UFSM,

    bem como das problematizaes que surgiram enquanto acadmica do Curso de

    Educao Especial Licenciatura Plena Diurno/UFSM. Essas problematizaes

    fundamentam o problema de pesquisa que vem sendo desenvolvido na disciplina de

    Elaborao Defesa de Monografia: Quais sujeitos em processo de incluso escolar

    esto sendo produzidos nos discursos dos gestores? Cabe ressaltar que esse

    projeto encontra-se em fase inicial de desenvolvimento.

    Durante a formao inicial no curso de Educao Especial, ao ter contato com

    espao destinado ao estgio supervisionado, uma srie de representaes so

    produzidas. Essas representaes fundamentam-se na queixa dos gestores da

    escola, na queixa dos professores da sala regular, na queixa da educadora especial

    para os casos de alunos que recebiam atendimento educacional especializado.

    Estas queixas tambm aparecem no discurso dos familiares, por meio da entrevista

    familiar (Anamnese)2, dos laudos/diagnsticos mdicos e pareceres anteriores.

    Nesse sentido, logo no primeiro contato com a escola, j se produz um aluno com o

    qual se realizar a prtica pedaggica, durante os trs meses de estgio. Para

    pensar neste sujeito narrado recorro a compreenso que o sujeito uma inveno

    discursiva, atravessada pelas relaes de poder/saber (FOUCAULT, 1995), busca-

    se apoio nas obras de Michel Foucault para pensar como as queixas escolares,

    entendidas como prticas discursivas, produzem representaes sobre os sujeitos

    includos, que por sua vez, tero efeitos na constituio desses sujeitos.

    Nesse sentido, o trabalho tem como objetivo a partir das queixas dos

    professores e gestores escolares sobre a incluso escolar, ocasionados pela

    implementao das orientaes das polticas de Educao Inclusiva problematizar

    1Acadmica do Curso de Gesto Educacional/CE/UFSM. Mestranda em Educao/PPGE/CE/UFSM. E-mail: . 2 Tem como finalidade a coleta de informaes sobre o desenvolvimento do aluno, a fim de tentar compreender seus processos e planejar os atendimentos.

  • 15

    discursos produzidos no interior das escolas, que so produtores dos sujeitos ditos

    includos.

    Os dados para anlise, at aqui, foram coletados por meio de entrevistas

    abertas com gestores de uma escola municipal da cidade e So Pedro do Sul/RS;

    foram tambm apreciados diagnsticos e pareceres dos alunos, assim como

    registrados em dirio de campo produzido durante as observaes realizadas na

    escola, afim de que possam ser analisadas as representaes presentes nas

    queixas escolares, expressas nos discursos produzidos por cada uma das partes

    envolvidas no processo de incluso dos sujeitos pblico alvo da Educao Especial.

    De acordo com o Decreto n 7.611/2011 em seu Art. 2

    A educao especial deve garantir os servios de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam obstruir o processo de escolarizao de estudantes com deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotao. (BRASIL, 2011)

    Para melhor compreenso o que esta sendo proposto com esse trabalho no

    primeiro momento apresenta-se como est sendo compreendida a incluso e no

    segundo momento discute-se como essa compreenso est produzindo os sujeitos

    includos.

    INCLUSO COMO ESTRATGIA EDUCACIONAL DE GOVERNAMENTO DOS

    SUJEITOS

    Frente ao que foi apresentado anteriormente, inicialmente procura-se localizar

    como est sendo compreendido o processo de incluso escolar, para num segundo

    momento fazer anlise do discurso dos gestores a partir desse referencial.

    Compreende-se o processo de incluso como um imperativo de Estado (LOPES,

    2009) ou como uma estratgia educacional para que tal imperativo entre em

    operao. Enquanto imperativo, conforme Lopes e Rech (2013) a incluso

    [...] se materializa na atualidade como uma alternativa econmica vivel para que os processos de normao e de normalizao se efetivem, bem como para que outras formas de vida no previstas na modernidade por exemplo, mais empreendedoras, autossustentadas e autnomas se expandam no tecido social. Dessa forma, incluso como imperativo implica, pelo seu carter de abrangncia e de imposio a todos, que ningum possa deixar de cumpri-la, que nenhuma instituio ou rgo pblico possa dela declinar. (p. 2012, apud LOPES e FABRIS, 2013, p. 21)

  • 16

    Nesse vis a incluso pensada como forma de minimizar as desigualdades

    sociais, tnicas, polticas, religiosas, cognitivas, entre tantas outras que foram

    produzidas pelos sujeitos com o passar dos tempos. Para que esse imperativo seja

    respeitado o governo cria inmeras polticas para a conduo das condutas dos

    sujeitos, constituindo o que em Foucault significa governamento, ou seja, aes

    distribudas microscopicamente pelo tecido social (VEIGA-NETO, 2002, p. 21).

    Como exemplos dessa forma de pensar a incluso escolar podemos citar a

    Poltica Educacional e os Programas de Governo como o Programa de Implantao

    de Salas de Recursos Multifuncionais e o Programa Escola Acessvel. O programa

    de implantao de salas de recursos multifuncionais criado em 2005, foi institudo

    pela Portaria Ministerial n 13/2007, no mbito do Plano de Desenvolvimento da

    Educao PDE. Nesse programa so disponibilizadas salas Tipo I e Tipo II, as

    salas Tipo I so compostas por equipamentos, mobilirios, recursos de

    acessibilidade e materiais didtico/pedaggicos e as salas Tipo II, possuem ainda

    recursos e equipamentos especficos para o atendimento de estudantes cegos. O

    Programa Escola Acessvel disponibiliza recursos para aes de acessibilidade nas

    escolas pblicas como construo de rampas, adaptaes nos banheiros, compra

    de materiais didtico-pedaggicos para as salas de recursos, entre outras aes.

    Ao se verificar a maneira que a incluso, mas principalmente a incluso

    escolar, vem sendo compreendida pela escola pode-se compreender como a

    mesma produz os sujeitos includos.

    A PRODUO DOS SUJEITOS NA ESFERA ESCOLAR

    Ao se olhar para a poltica pblica que apresentam uma proposta de educao

    inclusiva no Brasil, considerando que est j vem sendo discutida desde a

    Constituio Federal (BRASIL, 1988), percebe-se que tais polticas vm sendo

    pensadas como uma estratgia educacional e social que coloca em operao os

    ideais do Estado. Como se pode verificar na Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional n 9.394/96 (BRASIL, 1996), no Artigo 59, preconiza que os sistemas de

    ensino devem assegurar aos alunos currculo, mtodos, recursos e organizao

    especficos para atender s suas necessidades, alm de outros aspectos abordados

    neste documento, pela primeira vez consta um captulo especfico da educao

    especial.

  • 17

    O Decreto n 3.298 (BRASIL, 1999), que regulamenta a Lei n 7.853/89, ao

    dispor sobre a Poltica Nacional para a Integrao da Pessoa Portadora de

    Deficincia, define a educao especial como uma modalidade transversal a todos

    os nveis e modalidades de ensino. Atualmente encontra-se em vigor, desde 2008, a

    Poltica Nacional de Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva, a

    mesma refora e garante que todas as crianas devem estudar em escola regular de

    ensino. Ao se apresentar os ltimos documentos que tratam da incluso escolar

    tem-se como objetivo mostrar como as prticas discursivas marcam a histria

    desses sujeitos.

    Com relao s prticas discursivas Foucault (1980) coloca que se referem a

    [...] um conjunto de regras annimas, histricas, sempre determinadas no tempo e no espao, que definiram em uma poca dada, e para uma rea social, econmica, geogrfica ou lingustica dada, as condies de exerccio da funo enunciativa. (p. 136, apud KLEIN, 1998, p. 77)

    Assim, compreende-se que a partir de prticas discursivas possvel

    visualizarmos enunciaes que produzem por efeito representaes nas relaes

    saber-poder sobre a clientela/ populao atendida pela Educao Especial na escola

    inclusiva. No contexto deste estudo, olha-se para como os sujeitos tidos como

    normais produzem aqueles tidos como anormais, e assim determinam o espao que

    esses sujeitos devem ocupar, a forma como devem ser tratados, a modalidade de

    ensino que devem frequentar, como devem se relacionar com os demais. Nesse

    sentido, importante ressaltar que

    [...] em toda sociedade a produo do discurso ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuda por certo nmero de procedimentos que tm por funo conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatrio, esquivar sua pesada e temvel materialidade. [...] Sabe-se bem que no se tem o direito de dizer tudo, que no se pode falar de tudo em qualquer circunstncia, que qualquer um, enfim, no pode falar de qualquer coisa. (FOUCAULT, 1998a, p. 8-9, apud SOMMER, 2007, p. 59)

    Dessa forma, possvel pensar que a rede discursiva tramada sobre os

    sujeitos que devem estar includos pode ser visualizada na escola a partir das

    queixas dos professores na produo de seus pareceres, assim como nas queixas

    dos gestores escolares sobre as aes que devem ser desenvolvidas nas escolas

    para a incluso. Tais queixas esto produzindo sujeitos, produzindo caractersticas

    dos sujeitos que podem marc-los por toda a vida, a partir de representaes como

    o aluno que no aprende; o aluno coitado; o terrvel que s perturba a aula; o

  • 18

    aluno esforado, mas com dificuldade; o aluno desorganizado, o aluno que no

    aprende porque no normal, dentre tantas outras que os mesmos passam

    assumir como verdades.

    CAMINHOS DA PESQUISA

    Os dados coletados at o momento foram resultado de uma conversa com

    gestores de uma escola, anlise do Projeto Poltico Pedaggico, apreciao dos

    diagnsticos e pareceres dos alunos, observaes realizadas na escola. Partindo

    tambm da observao dos alunos nos espaos escolares (sala de aula, sala de

    recursos, recreio, etc.), afim de que possam ser visualizadas as representaes

    presentes nos discursos produzidos por cada uma das partes envolvidas no

    processo de incluso dos sujeitos pblico alvo da Educao Especial. Sendo esse

    pblico definido de acordo com a Poltica de Educao Especial na Perspectiva de

    Educao Inclusiva (BRASIL, 2008).

    O campo de realizao da pesquisa uma escola municipal de educao

    bsica da rede pblica de ensino localizada na Vila Maturino Bello, na cidade de So

    Pedro do Sul/RS, nesse espao realiza-se o trabalho de Educadora Especial

    acompanhando os alunos includos nas atividades na sala regular.

    CONCLUSO

    Ao concluir esse trabalho retoma-se os objetivos do mesmo de realizar

    algumas aproximaes das discusses realizadas no decorrer das disciplinas com o

    que vem sendo produzido na pesquisa realizada para elaborao da monografia. A

    fim de situar o que est sendo proposto com essa pesquisa apresentou-se o que se

    est compreendendo por incluso escolar, sendo essa compreenso de incluso

    enquanto um imperativo de Estado que embasa as anlises que esto sendo

    constitudas no decorrer da pesquisa. Assim como tambm apresentar alguns

    exemplos de como o governo vem operacionalizando a incluso com relao a

    Poltica e Programa e, por fim, as prticas que esto produzindo sujeitos includos e

    quem so esses sujeitos aps a Poltica Nacional de Educao Especial na

    Perspectiva da Educao Inclusiva (BRASIL, 2008).

  • 19

    O trabalho apresenta-se inicial, pois est em desenvolvimento. A escola que j

    se desenvolve a pesquisa est localizada no municpio de So Pedro do Sul. At o

    momento foi realizado observaes dos alunos, com isso iniciou-se a construo do

    dirio de campo e primeiro contato com o Projeto Poltico Pedaggico da mesma.

    Como nessa escola atuo como educadora especial, acompanhando trs alunos na

    sala regular de ensino, ficando o Atendimento Educacional Especializado para a

    outra educadora especial. Sendo assim, as observaes constam com muita

    interao com a turma, aluno e professor. Dialoga-se com os professores regentes -

    para conhecer melhor os alunos, tentar sanar suas dvidas, auxili-los nos

    planejamentos, adaptaes dos materiais realizando um trabalho articulado para que

    se possa, na medida do possvel, minimizar as dificuldades dos alunos assim como

    a dos professores, como tambm com a gesto da escola (diretora, vice-diretora) e

    educadora especial do AEE.

    A referida escola define sua concepo de incluso segundo a coleo A

    Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva do Ministrio da

    Educao (BRASIL, 2010) e desde 2005 vem construindo a sua poltica de

    incluso. Consta com uma educadora especial 20h e atualmente com outra 12h,

    uma equipe escolar voltada para a mudana educacional em que se prioriza a

    incluso (PPP, 2012). Desde o ano de 2005 a escola recebe recursos Federais para

    equipar a sala de recursos, porm, apenas em 2010 foi contemplada com a Poltica

    de Educao Inclusiva e passa atender como Atendimento Educacional

    Especializado (AEE) na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) e recursos da

    Escola Acessvel para manuteno da SRM, adaptaes arquitetnicas como

    construo de rampas, adequaes no banheiro.

    O AEE conforme o Decreto 7.611/2011 o conjunto de atividades, recursos de

    acessibilidade e pedaggicos organizados institucionalmente, prestado de forma

    complementar ou suplementar formao dos alunos no ensino regular (BRASIL,

    2011). Os atendimentos na SRM so destinados aos alunos pblico-alvo da

    educao especial, conforme est estabelecido na Poltica Nacional de Educao

    Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva (BRASIL, 2008) principalmente no

    contra turno, mas os casos em que os alunos dependem de transporte escolar ou

    caractersticas individuais ocorrem no mesmo turno, sendo os horrios adequados

    s necessidades individuais de cada aluno.

  • 20

    Embora os resultados encontram-se ainda em fase de amadurecimento, como

    j colocado anteriormente, uma vez que o trabalho est em fase inicial de

    desenvolvimento, percebe-se at o presente momento, com base no que foi

    apresentado anteriormente, que a escola cumpre com o propsito de que o AEE

    integre a proposta pedaggica da escola: que seja previsto a SRM, matrcula no

    AEE, cronograma de atendimento, plano do AEE, professores para com formao

    para o exerccio no AEE, outros profissionais da educao conforme previsto no Art.

    10 da Resoluo CNE/CEB 4/2009. Como tambm evidencia-se pelas observaes

    que apesar de todas as limitaes encontradas nessa instituio3 a gesto da escola

    sempre esteve comprometida em proporcionar ao seu alunado um espao mais

    completo e adequado possvel para que o processo de ensino-aprendizagem se

    concretize.

    REFERNCIAS

    BEYER, H. O. Incluso e Avaliao na escola: de alunos com necessidades educacionais especiais / Hugo Otto Beyer. Porto Alegre: Mediao, 2005.128p.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Resoluo CNE/CEB n 2/2001. Braslia: MEC, 2001. Disponvel em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf

    ______. Poltica Nacional de Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva. Braslia: MEC, 2008. Disponvel em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf Acesso: 23/04/2012

    ______. Decreto n 7.611/2011. Braslia: MEC, 2011. Disponvel em: Acesso: 23/04/2012

    ______. Orientaes para implementao da Poltica de Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva. Disponvel em:

    FERNNDEZ, A. A mulher escondida na professora: uma leitura psicopedaggica do ser mulher, da corporeidade e da aprendizagem. Traduo Neusa KernHickel. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 1994.

    FONTANA, R. Ap. Cao. Mediao pedaggica na sala de aula. 2.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1996. (Coleo educao contempornea)

    3 Questo estrutural do ptio, nem sempre consegue atingir seu papel social e educacional, alunos no motivados aos estudos.

    http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdfhttp://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf

  • 21

    KLEIN, M. Os discursos sobre surdez, trabalho e educao e a formao do surdo trabalhador. In: SKLIAR, C. B. (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenas. Porto Alegre: Mediao, 1998.

    LOPES, M. C.; FABRIS, E. H. Incluso & Educao. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2013.

    LOPES, M. C. Polticas de incluso e governamentalidade. Revista Educao & Realidade, Porto Alegre, v.34(2): maio/ago.2009, p.153-169.

    MINTO, C. A. Educao especial: da LDB aos planos nacionais de educao (MEC) e a proposta da sociedade brasileira. Revista Brasileira de Educao Especial, Marlia, v.6, n.1, p. 01-26, 2000.

    SOMMER, L. H. A ordem do discurso escolar. Revista Brasileira de Educao. v. 12 n. 34 jan./abr. 2007

    VEIGA-NETO, A. Coisas do governo...In: RAGO; M.; ORLANDI, L.; VEIGA-NETO, A. (Orgs.). Imagens de Foucault e Deleuze: ressonncias nietzschianas. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

  • 22

    CRIANAS COM DEFICINCIA EM SITUAO DE ACOLHIMENTO

    INSTITUCIONAL: DEBATES SOBRE GESTO EDUCACIONAL E INCLUSO

    Carolina Terribile Teixeira1

    Andria Jaqueline Devalle Rech2

    Soraia Napoleo Freitas3

    INTRODUO

    Esse artigo se prope a debater a respeito da articulao entre gesto

    educacional e a incluso. Dessa forma, visa compreender como esse processo

    acontece e como tem sido percebido na atualidade pelos pesquisadores. O sistema

    de ensino nacional vem sofrendo adequaes nas ltimas dcadas influenciadas por

    organismos internacionais e por movimentos pela educao. Inicialmente faz-se

    necessria uma contextualizao a respeito dessas influncias.

    Com essas mudanas a gesto da educao tambm precisou adequar-se e

    vem cada vez mais exercendo caractersticas democrticas, com a participao da

    comunidade. Com a Poltica de incluso, a gesto passou a trabalhar para sua

    implementao, o que se tornou um desafio dirio.

    Para fomentar a discusso que aborda tanto a gesto como o processo de

    incluso e os seus entrelaamentos recorreu-se a autores como: Oliveira (2011),

    Lck (2006), Paro (2008), Garcia (2009) e Campos (2009). Alm disso, dedicou-se

    ateno as polticas pblicas que ao longo do tempo vem determinando o contexto

    educacional.

    Por isso, esse artigo resultado de uma pesquisa de tipo bibliogrfica, que

    buscou utilizar como recurso a consulta em documentos bibliogrficos (CERVO;

    BERVIAN; SILVA, 2007). A partir de estudos a respeito da gesto educacional e da

    incluso de alunos com deficincia que vivem em situao de acolhimento

    institucional que esta pesquisa foi realizada. Neste sentido, a mesma aconteceu

    tendo como embasamento a leitura de artigos publicados em peridicos nacionais

    que discutissem o tema e/ou tem uma abordagem prxima e que poderia ser

    1 Acadmica do curso de Especializao em Gesto Educacional (UFSM). Mestranda em Educao Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: 2 Doutoranda em Educao (UFSM). E-mail: 3 Professora Dra. do Centro de Educao da UFSM. E-mail:

  • 23

    estabelecida uma relao para fomentar a discusso. Essa configurou uma temtica

    relevante de ser pesquisada, pois ao estabelecer relaes entre os campos de

    estudo, verificou-se que pesquisas com essa abordagem so escassas.

    GESTO ESCOLAR E INCLUSO

    A educao brasileira recebe influncias de organismos internacionais, e sofreu

    grandes mudanas ao longo das ltimas dcadas por ter aderido aos princpios e

    propostas, por exemplo, da Conferncia Mundial de Educao para Todos

    (UNESCO, 1990) e a Declarao de Salamanca (UNESCO, 1994). Com base

    nesses documentos foi elaborada a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    9.394/96 e tambm foi proposta a Poltica Nacional de Educao Especial na

    Perspectiva da Educao Inclusiva que tem como objetivo,

    [...] assegurar a incluso escolar de alunos com deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotao, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participao, aprendizagem e continuidade nos nveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educao especial desde a educao infantil at a educao superior; oferta do atendimento educacional especializado; formao de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educao para a incluso; participao da famlia e da comunidade; acessibilidade arquitetnica, nos transportes, nos mobilirios, nas comunicaes e informao; e articulao intersetorial na implementao das polticas pblicas. (BRASIL, 2008, p. 14)

    Para isso, conforme Garcia (2009) devem ser seguidas orientaes

    educacionais que faam parte da proposta pedaggica da escola. Dessa forma, a

    educao especial atende o seu pblico alvo de forma a complementar e

    suplementar s suas necessidades, seguindo o que apontado pela Poltica

    Nacional (BRASIL, 2008) que encontra-se em vigncia.

    Todas essas aes tambm foram influenciadas por movimentos que levaram

    a elaborao de documentos como a Declarao Universal dos Direitos Humanos

    (ONU, 1948), Declarao dos Direitos das Pessoas Deficientes (ONU, 1975) e a

    realizao da Conveno dos Direitos das Pessoas com Deficincia (BRASIL, 2007).

    Tudo o que proposto e est firmado em Lei para a educao precisa ser

    conhecido e discutido para ser efetivado com qualidade. Para isso, preciso que

    haja uma gesto que compreenda as questes polticas envolvidas, alm das

    necessidades do pblico a quem atende e que deve participar dessa gesto.

  • 24

    Uma elucidao a respeito disso realizada por Miranda (2009, p. 205),

    A organizao e a gesto do sistema de ensino de um pas podem ser consideradas em trs grandes instncias: o sistema de ensino como tal, a escola e a sala de aula. As escolas situam-se entre as polticas educacionais, as diretrizes curriculares, as formas organizativas do sistema e as aes pedaggico-didticas na sala de aula. A escola , assim, o espao de realizao tanto dos objetivos do sistema de ensino, quanto dos objetivos de aprendizagem.

    J Oliveira (2011, p. 326) chama ateno para a inteno vinculada s

    reformas educacionais que aconteceram no Brasil, dizendo que,

    As reformas educacionais dos anos de 1990, no Brasil, tiveram como grande foco a gesto, buscaram por meio da descentralizao administrativa, financeira e pedaggica promover a ampliao do acesso educao bsica no pas a partir de uma lgica racional, que tinha como paradigma os princpios da economia privada.

    Percebe-se, com isso, o foco apenas no acesso, esquecendo a importncia de

    fomentar a permanncia desses estudantes na escola, assim como a qualidade do

    ensino e a valorizao do professor como profissional. Porm, preciso refletir a

    respeito disso, porque o direito educao um exerccio de cidadania, a

    formao de pessoas e no apenas o fato de atingir ndices estipulados. preciso

    que sejam elaborados projetos que visualizem os educandos como sujeitos em

    processo de aprendizagem, que compreendam suas necessidades, dem espao

    para o exerccio da criatividade e para o desenvolvimento de suas habilidades.

    Enfim, que pense e esteja de acordo com a comunidade em que est inserido.

    Bordignon e Gracindo (2011, p. 149) destacam que, [...] pensar, pois, um

    processo educacional e a ao das escolas significa definir um projeto de cidadania

    e atribuir uma finalidade escola que seja congruente com aquele projeto.

    Reafirma-se a necessidade de articulao entre gesto e comunidade escolar.

    Assim, os autores afirmam tambm que,

    A gesto democratizada da escola autnoma consiste na mediao das relaes intersubjetivas, compreendendo, antes e acima das rotinas administrativas: identificao de necessidades; negociao de propsitos; definio clara de objetivos e estratgias de ao; linhas de compromissos; coordenao e acompanhamento de decises pactuadas; mediao de conflitos, com aes voltadas para a transformao social. (Ibid., p. 164).

    Outra questo levantada por Oliveira (2011) o vnculo entre educao e

    desigualdade social o que leva a estratgias polticas com medidas assistencialistas

    por parte do governo. Surge a preocupao com a instruo da populao de forma

  • 25

    que investir na educao tambm investir na evoluo do pas. Em relao a isso

    Oliveira (2008, p. 66) coloca que,

    A educao assim concebida como um instrumento econmico indispensvel ao desenvolvimento, ao progresso. Investir em educao equivale a investir em capital humano, j que o planejamento educacional considera o analfabetismo como responsvel pelo atraso, pelo subdesenvolvimento.

    Bonetti (2011, p. 213) pontua que, [...] a escola sempre lembrada como uma

    instituio encarregada da promoo da incluso ou da diminuio da excluso

    social. O referido autor ressalta as mudanas das polticas sociais destinadas a

    atender as minorias, como os pobres, pois se alteram conforme as caractersticas

    exigidas pelo momento histrico vivenciado e pelas questes econmicas vigentes.

    Essas polticas so uma forma de diminuir a desigualdade social que to grande

    em nosso pas e abrangem no somente os pobres, como tambm as pessoas com

    deficincia, entre outros que vivem a margem da sociedade.

    Os debates que abordam as questes sobre a incluso e suas implicaes no

    apenas na educao, mas na sociedade em geral, levam a problematizaes e a

    articulam com questes sociais complexas.

    Isso salientado por Veiga-Neto e Lopes (2007, p. 498),

    [...] abre-se a oportunidade de problematizar vrias questes sociais, culturais, polticas e pedaggicas que, de outra maneira, permaneceriam sombra, ou seriam consideradas resolvidas ou, at mesmo, nem seriam vistas como problemticas [...]

    Com isso, segundo Vieira (2011), a escola que estava esquecida passa a

    ganhar espao nas polticas educacionais por seu carter de funo social e de

    construo da cidadania. Caracteriza-se assim, a funo social da escola atravs de

    intenes governamentais que visam capacitao da populao para o mercado

    de trabalho. Dessa forma, abrange questes que envolvem a incluso de pessoas

    com deficincia nas escolas e no mundo do trabalho.

    Nesse sentido, Miranda (2009) afirma que aes recentes do governo visam

    transformao e desenvolvimento do sistema de ensino de forma que o mesmo seja

    inclusivo, esto embasadas em debates que destacam a ateno a diversidade e o

    respeito s diferenas. Porm, Freitas (2009, p. 227) pontua que [...] no contexto

    sociopoltico brasileiro, s a existncia de polticas pblicas no suficiente para a

    implementao das aes.

  • 26

    Ao sistema de ensino compete, ento, formular polticas claras e decisivas em relao incluso, buscando aperfeioar os recursos da educao especial e da educao em geral para dotar as escolas de infraestrutura, equipamentos e recursos materiais e didtico-pedaggicos necessrios ao bom desenvolvimento das atividades escolares. (MIRANDA, 2009, p. 218)

    Percebe-se que o que se tem realizado at o momento ainda insuficiente

    para que haja a efetivao da educao inclusiva de qualidade. preciso pensar

    nas condies existentes para colocar em prtica o que est disposto nas polticas

    pblicas, principalmente no que diz respeito incluso e ao papel da gesto para a

    efetivao delas, pois as escolas necessitam de profissionais qualificados alm de

    recursos materiais e estruturais.

    Schneider (2012, p. 93) alerta que as polticas pblicas tm muito de evoluir,

    mas na implementao e no cumprimento das leis que ser aprimorada a incluso

    das pessoas com deficincia em todos os mbitos sociais. Alm disso, existe a

    necessidade de formao dos professores constante e voltada para a realidade em

    que atuam para que possam atender a diversidade apresentada por seus alunos.

    Para isso, imprescindvel que se conhea a comunidade escolar e que todos

    trabalhem em prol da educao.

    Isso vem a corroborar com o que diz Paro (2008, p. 1) a educao, entendida

    como emancipao humana, precisa levar em conta a condio de sujeito tanto de

    educandos quanto de educadores. necessrio que se saiba compreender ambas

    as partes e as necessidades de cada um, o que os alunos precisam para aprender e

    estar includos e o que os professores precisam para ensinar e incluir.

    de suma importncia que os professores estejam preparados e que se

    proporcione aos alunos experincias educacionais estimuladoras do processo de

    aprendizagem. Sendo a gesto articuladora dos fatores envolvidos na educao,

    deve buscar caminhos para planejar e agir com a participao de todos os sujeitos

    envolvidos. Segundo Lck (2006, p. 49),

    importante notar que a idia de gesto educacional, correspondendo a uma mudana de paradigma, desenvolve-se associada a outras idias globalizantes e dinmicas em educao, como, por exemplo, o destaque sua dimenso poltica e social, ao para a transformao, participao, prxis, cidadania, autonomia, pedagogia interdisciplinar, avaliao qualitativa, organizao do ensino em ciclos, etc., de influncia sobre todas as aes e aspectos da educao, inclusive as questes operativas, que ganham novas conotaes a partir delas.

    Com isso, ressalta-se o que afirma Lck (2006), a respeito da gesto

    educacional, esclarecendo que essa abrange tanto a gesto dos sistemas de ensino

  • 27

    quanto a gesto escolar. E tambm que tem como foco a interao social, o que

    de grande valia para que haja uma gesto democrtica e participativa, voltada para

    a comunidade. Em relao a isso Paro (2008, p. 6) destaca que,

    Em termos organizacionais, os mecanismos autoritrios de mando e submisso devem dar lugar a processos e dispositivos que favoream a convivncia democrtica e a participao de todos nas tomadas de deciso. Nesse sentido que devem ser implementados os conselhos escolares, os grmios estudantis e outras formas que favoream a maior participao de todos os usurios e o relacionamento mais humano e mais democrtico de todos os envolvidos nas atividades escolares.

    Sendo assim, para que acontea uma transformao do processo educacional

    preciso que seus participantes sejam conscientes de sua responsabilidade pelo

    desenvolvimento e resultado atingidos. Dessa forma, mostra-se que a realidade

    educacional dinmica e complexa, e com a descentralizao possvel melhor

    atender todas as aes necessrias para o seu desenvolvimento.

    Sobre a incluso preciso ter conscincia de que uma garantia constitucional

    e que a gesto educacional tem papel de proporcionar da melhor forma possvel

    esse processo aos seus alunos. Uma gesto que trabalha para que a incluso de

    fato acontea estar colaborando para o exerccio da cidadania, o que possibilita

    refletir que,

    Portanto, a incluso e a cidadania so temas que se complementam mutuamente. Os avanos que aquela proporciona so legitimados por esta, A educao, ento, pode ser a instncia em que os valores vigorosos criados pela cultura e pelo conhecimento do lugar no somente incluso de pessoas com deficincia, mas tambm ao exerccio da cidadania e da alteridade. (CAMPOS, 2009, p. 56)

    Alm disso, necessrio salientar a importncia da participao dos diferentes

    segmentos da educao na gesto. Percebe-se que ainda h muito que se trabalhar

    com a comunidade em seu todo para a valorizao da educao e que s com o

    trabalho, contribuio e empenho de todos que alcanaremos uma educao de

    qualidade. Segundo Campos (2009, p. 52),

    A incluso envolve um processo de reforma e de reestruturao das escolas como um todo, essa reformulao tem por objetivo assegurar que todos os alunos possam ter acesso vasta gama de oportunidades sociais e educacionais que a escola pode oferecer, impedindo assim a segregao e o isolamento.

    Para que a incluso acontea necessrio que ela faa parte dos objetivos da

    escola, pois no basta ser instituda por Lei, tem que fazer parte da prtica, estar

  • 28

    presente nas relaes sociais estabelecidas dentro do ambiente escolar e tambm

    fora dele. A gesto, em sua prtica e organizao, precisa pensar na educao que

    pretende proporcionar aos seus alunos. Libneo, Oliveira e Toschi (2005, p. 266)

    ainda destacam que, [...], preciso refletir sobre o sentido da escola inclusiva e de

    todas as diferenas que ela deve abarcar. Isso se confirma tambm de acordo com

    o que alegado por Veiga-Neto e Lopes (2007, p. 498),

    Vive-se um momento em que, na maioria dos acalorados debates sobre o assunto, sobram opinies e posicionamentos polticos, mas faltam clareza e objetividade sobre aquilo que dito. Isso assim no apenas porque a incluso um tema que s recentemente entrou na agenda das polticas pblicas, mas, tambm, porque, sob essa palavra, coloca-se em jogo um intrincado conjunto de variveis sociais e culturais que vo desde princpios e ideologias at interesses e disputas por significao.

    O censo de responsabilidade e a necessidade de se colocar em prtica aquilo

    que est previsto nas polticas pblicas so fatores relevantes para que o processo

    de ensino tenha qualidade e para que a incluso possa ser uma realidade. Referente

    a isso, Schneider (2012, p. 41), coloca que os projetos governamentais e civis so

    fundamentais para a incluso, mas no podem ficar no papel, precisam ser

    implementados.

    Para que isso se efetive de forma democrtica necessrio o envolvimento de

    toda a comunidade, pois, o sistema de ensino est relacionado a fatores polticos e

    sociais. Dessa forma, a sociedade precisa apresentar um olhar de acolhida aos

    indivduos. (Ibid., p. 42).

    As relaes sociais esto em constante mudana, o movimento de incluso e

    compreenso das diferenas tem contribudo para uma sociedade que procura olhar

    para o outro e respeit-lo da forma como ele . Sobre isso, ainda necessrio

    caminhar e refletir muito, mas os passos a caminho de uma sociedade inclusiva j

    iniciaram.

    CONSIDERAES FINAIS

    Esse artigo se props a debater a respeito da articulao entre gesto

    educacional e a incluso de forma que buscou autores que tratam desse panorama

    da educao brasileira. Com o objetivo de compreender como esse processo

    acontece e como tem sido percebido na atualidade pelos pesquisadores, chega-se a

    concluso de que ainda h muito que ser feito e debatido. O processo de incluso

  • 29

    lento, as adaptaes ocorrem conforme as escolas tm possibilidade e o apoio que

    recebem.

    Percebe-se o papel fundamental exercido pela gesto nessa articulao. E,

    alm disso, a grande influncia que abate as polticas pblicas brasileiras por

    organismos internacionais. Precisamos agir e ter polticas pblicas que estejam em

    acordo com a realidade brasileira, e que levem em considerao as especificidades

    existentes.

    Assim, destaca-se a necessidade de formao para professores, de maior

    envolvimento e comprometimento da sociedade com a educao. importante que

    se reflita a respeito da situao apresentada para que se siga lutando por melhorias

    no sistema de ensino e para que se possa realizar um trabalho de melhor qualidade,

    tornando a educao inclusiva um fato, uma realidade.

    necessrio que se acompanhe os movimentos que influenciam a educao,

    assim como, ter conhecimento a respeito dos fatores polticos e sociais que esto

    relacionados ao sistema de ensino. Os debates que seguem nesse vis ainda sero

    longos e aprofundados mobilizando e problematizando questes polticas,

    pedaggicas e sociais.

    REFERNCIAS

    BONETTI, L. W. As polticas educacionais, a gesto da escola e a excluso social. In: FERREIRA, N. S. C.; AGUIAR, M. A. da S.(org.). Gesto da Educao: impasses, perspectivas e compromissos. So Paulo: Cortez, 2011.

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  • 32

    ADAPTAES CURRICULARES COMO REGRA OU EXCEO? DISCUSSO

    ACERCA DA EXPERINCIA NO IF FARROUPILHA- CAMPUS SO BORJA

    Clucia Honnef1

    Ana Paula Del Aghenese2

    Lutiele Machado Godois3

    INTRODUO

    A incluso de pessoas com deficincia em escolas comuns, mesmo estando

    legitimada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional 9.394/96, hoje um

    dos grandes desafios da educao nacional, pois preciso ir de encontro aos vrios

    sculos que a excluso dessas pessoas preponderou. Assim, todo o contexto

    escolar, bem como a sociedade, precisa educar seu olhar s pessoas com

    deficincia, enxergar as possibilidades delas e no somente as dificuldades.

    Um dos marcos da busca pelo reconhecimento das pessoas com deficincia

    como cidads foi a Conferncia Mundial de Educao para Todos, realizada em

    1990, em Jomtiem-Tailndia. Nela a ideia da universalizao da educao bsica

    ganha fora e as polticas educacionais brasileiras passam a ser apoiadas em

    discursos inclusivos.

    Ento, h aproximadamente vinte e cinco anos o discurso acerca da incluso

    de pessoas com deficincia em escolas comuns foram, iniciando na ltima dcada

    do sculo XX, na qual alm da Conferncia mencionada, acontecem ainda outros

    dois eventos que vo reforar a perspectiva da educao inclusiva, em que hoje a

    Educao Especial est alicerada, conforme sua atual Poltica, de 2008.

    Um dos eventos a Conferncia Mundial sobre Necessidades Educacionais

    Especiais- acesso e qualidade, realizada em Salamanca, na Espanha, no ano de

    1994. Este encontro reuniu mais de 300 participantes entre representantes de 92

    pases e 25 organizaes internacionais. Teve por finalidade discutir a Educao

    para Todos, examinando as mudanas polticas necessrias para desenvolver a

    1 Graduada em Educao Especial e em Pedagogia. Professora de Educao Especial do Instituto Federal Farroupilha- Campus So Borja (2012-2013). E-mail: 2 Acadmica do Curso de Matemtica- Licenciatura Plena, pelo do Instituto Federal Farroupilha- Campus So Borja. E-mail: . 3 Acadmica do Curso de Matemtica- Licenciatura Plena, pelo do Instituto Federal Farroupilha- Campus So Borja. E-mail:< [email protected]>.

    mailto:[email protected]

  • 33

    educao inclusiva, a capacitao das escolas para atender todas as crianas,

    sobretudo, as que tm necessidades educativas especiais. Desta conferncia tem-

    se a Declarao de Salamanca e Linhas de Ao sobre Necessidades Educativas

    Especiais, um documento orientador s prticas inclusivas na escola, as quais

    devem se [...] ajustar a todas as crianas, independentemente das suas condies

    fsicas, sociais, lingusticas ou outras. (DECLARAO DE SALAMENCA, 1994. p.

    6, grifos do documento)

    importante destacar que Conforme a Declarao de Salamanca, as

    necessidades educativas especiais no so restritas as crianas com deficincia, ou

    as crianas pblico- alvo da Educao Especial segundo a Poltica Nacional de

    Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva (2008). A Declarao

    aponta como crianas com necessidades educativas especiais todas aquelas

    [...] com deficincia ou superdotados, crianas da rua ou crianas que trabalham, crianas de populaes remotas ou nmadas, crianas de minorias lingusticas, tnicas ou culturais e crianas de reas ou grupos desfavorecidos ou marginais. (DECLARAO DE SALAMENCA, 1994. p. 6)

    A Educao Inclusiva, ento, no restrita ao pblico alvo da Educao

    Especial, que so as pessoas com deficincia, transtornos globais do

    desenvolvimento e altas habilidades/ superdotao (BRASIL, 2008). Entende-se que

    Educao Inclusiva exige das escolas a incumbncia por proporcionar situaes de

    aprendizagem diversas, que consigam atingir e ser significativas a todos os seus

    educandos, considerando suas singularidades.

    Outro evento que acontece na dcada de noventa do sculo XX a Conveno

    Interamericana para a Eliminao de todas as formas de Discriminao contra as

    Pessoas Portadoras de Deficincia, a qual acontece na Guatemala em 1999. Ela

    tem por objetivo, conforme documento do Ministrio da Educao organizado por

    Gotti et al (2004, p.281), Prevenir e eliminar todas as formas de discriminao

    contra as pessoas portadoras de deficincia proporcionar a sua plena integrao

    sociedade.

    Retomando as datas destas conferncias, possvel verificar que logo aps a

    segunda, que acontece em 1994, em 1996 a perspectiva da educao inclusiva

    aflora no Brasil e tambm na educao especial com a Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional (LDB) n 9.394/96 (BRASIL, 1996). Nesse documento, balizador

    da educao nacional, encontra-se a educao especial como uma modalidade de

  • 34

    educao escolar, oferecida preferencialmente, na rede regular de ensino, para

    educando chamados com necessidades educacionais especiais. Hoje, com a

    recente alterao da LDB, o pblico dessa modalidade educacional engloba as

    pessoas com: deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e

    altas/habilidades superdotao.

    Dessa forma, h o acesso do pblico acima as escolas comuns e estas

    precisam desenvolver o processo de aprendizagem de todos os alunos. Para

    aqueles com alguma deficincia, muitas vezes, h a necessidade de adaptaes

    curriculares para que se consiga mobilizar as possibilidades do educando. Para

    realizar tais adaptaes o Ministrio da Educao- MEC- possui um material

    intitulado Parmetros Curriculares Nacionais- Adaptaes Curriculares (BRASIL,

    1998), no qual so apresentadas as adaptaes de pequeno ou grande porte.

    O Instituto Federal Farroupilha - Campus So Borja, a partir do ingresso de

    alunos com deficincia, buscou realizar tais adaptaes com fim de potencializar as

    situaes de aprendizagem oferecidas a esses educandos. As adaptaes foram

    mobilizadas pela Professora Temporria de Educao Especial, junto ao Ncleo de

    Pessoas com Necessidades Especiais (NAPNE), com auxlio de acadmicos do

    curso de Licenciatura em Matemtica da instituio.

    Apresentar-se- aqui o trabalho realizado, com fim de discutir as inquietaes e

    contribuies que o desenvolvimento das chamadas adaptaes curriculares

    puderam trazer a alunos, professores e a instituio como um todo.

    ADAPTAO CURRICULAR A ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS

    ESPECIAIS DECORRENTES DE DEFICINCIA

    Hoje, com a questo da insero de alunos com deficincia nas escolas

    comuns faz-se essencial a adaptao de materiais educativos para esses

    educandos, sejam eles cegos, surdos, com baixa viso ou deficincia intelectual.

    importante destacar que se formos verificar na histria da educao autores

    como Pestalozzi, Rosseau, Claparede, Freinet, Montessori, Paulo Freire, Vygotsky4,

    por exemplo, estes apontam que preciso valorizar e considerar a criana, seu

    4 Ver obras sobre esses autores na Coleo Educadores, disponvel em .

    http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do?first=50&skip=0&ds_titulo=&co_autor=&no_autor=&co_categoria=133&pagina=1&select_action=Submit&co_midia=2&cohttp://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do?first=50&skip=0&ds_titulo=&co_autor=&no_autor=&co_categoria=133&pagina=1&select_action=Submit&co_midia=2&co

  • 35

    espao, sua realidade, sua condio social e orgnica na promoo da

    aprendizagem.

    Tendo por base o que esses autores j apontavam a sculos atrs, e

    observando como tem se configurado o ensino em nosso pas, surgem algumas

    inquietaes como: oferecer uma atividade nica a todos os alunos, como

    geralmente acontece nas instituies de ensino, leva todos a construo de

    conhecimentos, a aprendizagem? Essa forma de conduo do ensino consegue

    atingir e desenvolver a diversidade de formas de aprendizagem dos estudantes?

    Com uma proposta de educao inclusiva, que visa educao de qualidade5 para

    todos e considera a diversidade como potencializadora da aprendizagem, consegue-

    se mobilizar, mediar a construo de conhecimento de todos os alunos, utilizando-se

    da forma de ensino subscrita?

    No se tem respostas estabelecidas para estas problematizaes, pois

    acredita-se que preciso discutir com mais aprofundamento a educao inclusiva e

    educao especial nessa perspectiva nas instituies de ensino. O que se tem

    conhecimento hoje aponta para a predominncia da realizao de uma mesma

    atividade por todos os alunos em uma sala de aula, isso acontece em muitas

    instituies desde a educao infantil at as universidades. Com isso o que deveria

    ser comum nas escolas, ou seja, proporcionar atividades diversas, que motivem a

    aprendizagem de todos os alunos considerando suas caractersticas de

    aprendizagem, muitas vezes no acontece. Assim, preciso as adaptaes

    curriculares.

    Geralmente nas instituies de ensino as adaptaes curriculares so vistas e

    mencionadas como necessrias a partir do momento em que nesta se tem alunos

    com necessidades educacionais especiais, principalmente devido a alguma

    deficincia ou transtorno global do desenvolvimento6.

    No entanto, tendo por base uma perspectiva inclusiva, considerando os

    educandos, suas diversas formas e ritmos de aprendizagem, considerando a

    possibilidade e importncia da flexibilizao curricular, as chamadas adaptaes

    5Entende-se por educao de qualidade o alcance do objetivo maior das escolas, de qualquer instituio de ensino, ou seja, a aprendizagem dos alunos, conforme Libneo, Oliveira e Toschi (2005). 6 A partir das experincias e realidades educacionais que se conhece, pode-se dizer que os educandos com altas habilidades/superdotao, tambm pblico alvo da Educao Especial, so muitas vezes esquecidos, no identificados nas instituies. Por isso, geralmente, so pouco lembrados e mencionados ao se falar em adaptaes curriculares nas escolas.

  • 36

    curriculares no deveriam ser comuns nas escolas e no somente mencionadas e

    direcionadas a alunos pblico alvo da Educao Especial? Entende-se que sim, mas

    geralmente no isso que acontece. Assim, preciso maior discusso acerca do

    entendimento sobre adaptaes curriculares nas instituies de ensino.

    Em muitas instituies, inclusive no IF Farroupilha na cidade de So Borja, as

    adaptaes curriculares so entendidas como direcionadas a alunos pblico alvo da

    Educao Especial, seguindo-se o documento Parmetros Curriculares Nacionais:

    adaptaes curriculares, de 1998, elaborado pelo MEC. Esse material apresenta as

    adaptaes curriculares divididas em dois nveis: as adaptaes significativas e as

    no significativas. Senra et al (2008) divide em adaptaes em: adaptaes de

    grande porte e de pequeno porte.

    Carvalho (2010) coloca que as adaptaes curriculares significativas,

    geralmente so recomendadas para severas dificuldades na aprendizagem, devem

    ser decididas aps rigorosas observaes do aluno e inmeras discusses em

    equipe.

    J as adaptaes no significativas dizem respeito s aes dos professores,

    as atividades elaboradas, a modificao na avaliao etc. Essas adaptaes podem

    ser definidas [...] pelo duplo aspecto de serem modificaes menores do currculo

    [...] e, ao mesmo tempo, de serem modificaes que esto mo do professor-tutor,

    j que esto plenamente integradas a dinmica de sala de aula [...] (CARVALHO

    2010, p. 117).

    Para Senra et al (2008) as adaptaes curriculares de grande porte so as que

    exigem um planejamento e observao coletiva, a fim de possibilitar atender

    demanda diversificada dos alunos e a organizao e o funcionamento da escola.

    As categorias de adaptaes de pequeno porte ou menos significativas so

    caracterizadas por aes em mbito focal, voltadas principalmente as adaptaes

    que podem ser realizadas pelos professores. Para elas Senra et al (2008) coloca

    que os professores devem permitir que sua criatividade esteja sempre atuante, para

    poderem criar formas alternativas de ensinar.

    No IF Farroupilha-Campus So Borja se buscou desenvolver tais adaptaes.

    Elas foram pensadas de acordo com as necessidades dos alunos com deficincia

    intelectual, fsica e visual da instituio. Alm disso, tambm foram adaptados jogos

    pedaggicos para educandos cegos de escolas onde os alunos do curso de

  • 37

    Matemtica atuavam pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia-

    PIBID.

    Algumas das adaptaes realizadas no IF Farroupilha de So Borja foram de

    grande porte, visto que mobilizam um trabalho poltico administrativo para a criao

    de condies fsicas, ambientais e materiais para os alunos. Como tais adaptaes

    podemos citar a adaptao de mobilirio, equipamentos e recursos ao aluno

    cadeirante do curso de Cozinha, modalidade subsequente.

    No que tange as adaptaes curriculares de grande porte, a adaptao de

    objetivos diz respeito possibilidade de se alterar objetivos bsicos ou estabelecer

    objetivos especficos do e no curso aos alunos com deficincia. Esse um processo

    que constantemente pensado pelo NAPNE, principalmente, junto aos docentes

    dos alunos com deficincia intelectual includos no Campus So Borja.

    A adequao de pequeno porte dos objetivos se refere, segundo Senra et al

    (2008), aos ajustes que os professores podem fazer nos objetivos de seu plano de

    ensino, para poder adequ-los as condies e caractersticas dos alunos com

    deficincia. Podem ser criados novos objetivos e/ou priorizados alguns objetivos em

    detrimento de outros, considerando-se a anlise do conhecimento j apreendido

    pelo aluno. No IFFARROUPILHA - Campus So Borja est uma prtica constante,

    realizada principalmente com uma parceria entre os professores da classe comum e

    a professora de Educao Especial.

    As adaptaes de contedo esto intimamente ligadas com as adaptaes de

    objetivos, pois [...] se um objetivo for suprimido o contedo tambm dever ser

    eliminado. Do mesmo modo que, se novos objetivos forem determinados, os

    contedos que a eles correspondem devero ser includos. (SENRA et. al, 2008, p.

    63)

    No IF Farroupilha- Campus So Borja as adaptaes de contedo de pequeno

    porte tambm foram realizadas a partir de dilogos entre os professores das

    disciplinas e a professora de Educao Especial, pois estes dois profissionais atuam

    com o educando com deficincia e possuem conhecimentos distintos, mas com o

    mesmo objetivo de proporcionar aprendizagem ao aluno. Assim, a partir do dilogo

    entre esses profissionais define-se a priorizao de tipos, reas ou unidades de

    contedos, a reformulao de sua sequncia, ou at a retirada de contedos

    secundrios, de acordo com as adaptaes de objetivos propostas ao educando

    com deficincia.

  • 38

    Aps a adaptao de contedo tem-se a adaptao de mtodos de ensino e

    organizao didtica de grande e pequeno porte. Na de grande porte se enquadram

    orientaes como a organizao diferenciada da sala de aula, mobilirio especfico

    ou iluminao diferenciada, tudo para garantir o atendimento s necessidades

    educacionais especiais(NEE) os alunos.

    J a adaptao de mtodos de ensino e organizao didtica de pequeno porte

    faz referncia a necessidade de adaptar os materiais didticos s necessidades de

    cada aluno, o que fundamental em uma escola inclusiva, visto que o ensino-

    aprendizagem s ocorrer se todos os alunos tiverem acesso aos materiais didticos

    e se a maneira de cada um aprender for respeitada. Frente a isso se disponibilizou

    aos alunos com baixa viso o recurso da lupa, bem como orientou os professores a

    ampliarem o material utilizado em aula e a adaptarem as atividades aos alunos com

    deficincia mental usando imagens para que ele conseguisse melhor entender o que

    solicitado e realizar o proposto.

    A adaptao de jogos e materiais didticos se insere na adaptao de mtodos

    de ensino e organizao didtica de pequeno porte. No NAPNE do campus So

    Borja realiza-se este trabalho, tendo como protagonistas acadmicos do Curso de

    Matemtica- Licenciatura Plena, estudantes estes bolsistas e voluntrios do NAPNE

    e do Projeto de Extenso Potencializando a Leitura, Escrita e Matemtica. O

    trabalho foi coordenado pela professora de Educao Especial da instituio, a qual

    inicialmente desenvolveu encontros de estudo com os alunos. Nesses encontros

    verificou-se aspectos a serem considerados na adaptao dos materiais, como alto-

    relevo, contrastes de cores e texturas diferenciadas nas figuras para ajudar na

    identificao de formas e o uso do Sistema Braille.

    Alm desses aspectos, os acadmicos a partir de suas vivncias no PIBID e

    nas monitorias realizadas na instituio com os alunos com deficincia e dificuldades

    de aprendizagem, elencaram contedos que poderiam ser abordados nos materiais

    a serem adaptados. Com isso, buscaram-se jogos que envolvesse tais assuntos e

    pudessem ser adaptados.

    Os recursos didticos adaptados at o momento foram: Rgua de Clculo:

    adaptada para uso de aluno cego no PIBID, inserindo nela o Braille; Baralho das

    Fraes e Mico das Fraes: adaptados usando alto-relevo, destinado a alunos

    cegos, mas podendo ser usado pelos videntes tambm; Roleta Magntica: material

  • 39

    que trabalha formao de palavras e o clculo, destinado principalmente a alunos

    com deficincia mental e alunos surdos.

    Esses materiais foram utilizados pelos acadmicos nas intervenes que

    realizava-se no NAPNE e nas escolas com os alunos com deficincia e dificuldades

    de aprendizagem. Segundo os professores dos alunos os jogos favoreceram o

    desenvolvimento dos estudantes, melhorando principalmente sua percepo e

    raciocnio lgico-matemtico.

    Tem-se tambm a adaptao da avaliao. Essa constituiu-se atravs de todos

    os momentos que permearam o trabalho pedaggico, sendo ela formativa,

    possibilitando rever os objetivos, os contedos traados, analis-los e verificar a

    necessidade da retomada de algum trabalho ou os avanos alcanados com as

    atividades realizadas.

    No campus So Borja, principalmente aos alunos com deficincia mental, as

    avaliaes escritas seguem o material j adaptado para as aulas, bem como

    tambm so realizadas avaliaes orais, que posteriormente so avaliadas em

    conjunto entre o professor da classe comum e o professor de Educao Especial.

    Os professores da classe comum, com auxlio da professora de Educao Especial

    se necessrio, elaboram no final de cada semestre uma avaliao descritiva dos

    alunos com deficincia. Essa tem por objetivo proporcionar um melhor

    acompanhamento e realizar o registro detalhado dos objetivos elencados aos

    alunos, o que lhe foi proporcionado para tal e seus alcances e dificuldades.

    Por ltimo tem-se a categoria das adaptaes de temporalidade. Essa

    categoria, dentro das adaptaes de grande porte, trata dos ajustes no perodo de

    permanncia do aluno num determinado ano de escolaridade, respeitando sua faixa

    etria, e trata tambm, do remanejo de algum aluno para outra srie, mesmo que

    este no tenha concludo todo o planejamento proposto.

    As adaptaes de temporalidade, no que tange a categoria de pequeno porte,

    podem realizar-se quando o professor aumenta ou diminui o tempo previsto para o

    trato de determinados objetivos e contedos e quando ele organiza o tempo das

    atividades propostas considerando o ritmo de cada aluno.

    No IFFarroupilha - Campus So Borja realizou-se adaptao de temporalidade

    de pequeno porte, pois alguns professores, a partir de dilogos com a professora de

    Educao Especial, disponibilizam tempo maior aos alunos com deficincia mental e

    com baixa viso, por exemplo, para realizao das avaliaes.

  • 40

    A adaptao de temporalidade de grande porte foi realizada com os alunos

    com deficincia mental, visto que em reunio entre NAPNE, Setor Pedaggico e

    professores desses estudantes, se definiram as disciplinas que estes alunos

    realizariam em cada semestre. Assim estes estudantes no realizam todas as

    disciplinas de um semestre, pois devido ao comprometimento cognitivo o ensino a

    estes educandos precisa ser melhor direcionado, sendo necessrio mediar

    concretamente para que possa conseguir associar os conceitos e as prticas a eles

    apresentadas em sala de aula, e por isso, o nmero de disciplinas diminudo por

    semestre.

    Ainda, com alunos com deficincia mental foram realizados momentos de

    interveno especifica, proporcionados pela professora de Educao Especial e por

    acadmicos do curso de Matemtica Licenciatura. Essas intervenes foram

    desenvolvidas a fim de potencializar competncias e habilidades de leitura, escrita,

    clculo e interpretao textual.

    Nesses momentos foram utilizados como mediao da aprendizagem dos

    alunos com deficincia alguns dos materiais adaptados, tais como: jogo da memria,

    bingo e roleta magntica, os quais pelo carter ldico puderam proporcionar ao

    aluno contentamento e o gosto em aprender. Dessa maneira, o jogo se tornou uma

    ferramenta capaz de conciliar aprendizado e entretenimento, podendo ser utilizado

    para minimizar diversas dificuldades.

    As intervenes aconteceram semanalmente e trabalhou-se com dois

    estudantes com deficincia mental matriculados em cursos tcnicos e um terceiro,

    tambm com deficincia mental, matriculado em curso tcnico integrado ao ensino

    mdio.

    Tais encontros foram organizados individualmente, em que se desenvolveu as

    habilidades acima descritas, necessrias para aprendizagem de contedos

    especficos do curso de cada aluno. Tambm promoveu-se encontros com a

    interao entre os trs estudantes, para que pudessem trocar experincias,

    desenvolver-se social e cognitivamente. Os educandos foram conduzidos

    realizao de tarefas, atividades, jogos didticos preparados previamente com as

    devidas adaptaes, tendo em vista suas necessidades.

    A partir do trabalho desenvolvido pode-se identificar a importncia dos

    materiais concretos para o desenvolvimento da aprendizagem. O processo de

    aprendizagem dos alunos com deficincia mental, relacionados a conceitos como

  • 41

    adio, subtrao e outros, permitiram que se relacionassem cognitivamente com o

    seu cotidiano, o que tambm produziu xito na aprendizagem de alguma disciplinas

    a partir dos conceitos e aprendizagens desenvolvidos nas intervenes.

    Verificou-se tambm a necessidade de rever constantemente os assuntos j

    trabalhados nas intervenes, devido dificuldade de abstrao e fixao de

    conhecimentos, caracterstico de pessoas com deficincia mental.

    Com o trabalho desenvolvido pode-se identificar que, o uso de materiais

    adaptados para auxiliar os alunos com deficincia em seu processo de

    aprendizagem, precisam ser aprimorados, de forma que consiga abarcar todas as

    necessidades desses discentes para que os mesmos tenham acesso as diversas

    formas de ensino e aprendizagem possveis. Assim, tendo esses estudantes

    condies adequadas para avanar na vida escolar, e podem conseguir utilizar e

    aplicar os conhecimentos adquiridos em suas situaes do dia a dia.

    CONSIDERAES FINAIS

    Por fim, acredita-se que o processo das vrias adaptaes curriculares

    realizadas no Campus So Borja aproximou este do que se almeja hoje como

    educao inclusiva. A instituio oportunizou a realizao de discusses sobre os

    alunos com necessidades educacionais especiais decorrentes de deficincia, trouxe

    o olhar dos professores, servidores e da instituio como um todo a estes alunos e

    proporcionou espaos de formao para todos.

    Aos acadmicos do curso de Licenciatura em Matemtica, bolsistas e

    voluntrios do NAPNE, a adaptao de materiais lhes oportunizou conhecer

    aspectos a serem considerados quando do ensino de pessoas com deficincia, bem

    como conhecimentos sobre elaborao dos jogos utilizando a LIBRAS, o Braille e

    algumas regras a serem consideradas na identificao de letras e nmeros.

    Os prprios acadmicos acreditam que o trabalho que realizam de grande

    importncia para a instituio, para eles prprios, enquanto formao, mas

    sobretudo aos alunos que necessitavam e utilizaram os materiais didticos

    adaptados.

    Na instituio, apresentado o leque de adaptaes curriculares realizadas,

    percebeu-se a variedade de aes possveis para conseguir melhor promover a

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    aprendizagem do aluno com necessidades educacionais especiais decorrentes de

    deficincia, e acredita-se, tambm dos demais alunos.

    Promover essas adaptaes no uma tarefa simples, mas uma necessidade

    que se impe em classes que foram, so e sempre sero heterogneas. Afinal,

    ningum aprende da mesma maneira, no mesmo ritmo, com os mesmos interesses

    e, desse modo, uma igualdade de oportunidades para a apropriao - do saber, do

    saber fazer e do saber ser e conviver - precisa ser ofer