Educação permanente de idosos

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    1Educao permanente de idosos :da vulnerabilidade a autonomia

    Continuing education of the elderly:vulnerability of autonomy

    RESUMO

    O trabalho discute a educao permanente comoestratgia de ateno e interveno junto

    populao idosa no sentido de estimular oexerccio da cidadania, da autonomia eindependncia da pessoa idosa. Destaca que o

    processo de envelhecimento tem mltiplasperdas, mas como todos os processos humanosnunca so unilaterais, tem tambm ganhos.Discute o conceito de vulnerabilidade comocaracterstica da condio humana, e o conceitode suscetibilidade que demanda a ateno maior aalgumas pessoas e grupos que podem estar emcondies de maior vulnerabilidade, o que podeser a condio na qual encontram-se os idosos,devido as perdas decorrentes do processo deenvelhecimento serem por vezes maisexpressivas do que os ganhos (especialmente

    para determinadas pessoas ou grupos de idosos).

    Prope a educao permanente como estratgiade ateno pessoa idosa, destacando-a em seuduplo aspecto de oportunidade e desafio aos

    profissionais com ela envolvidos, tal qualtambm caracteriza a prpria velhice comoconquista/oportunidade e desafio a ser encarado

    pelos idosos. Relata na ltima parte a experinciada FATI com a oferta de educao de idosos,destacando alguns caminhos ali encontrados paraauxiliar na superao da vulnerabilidade

    promovendo atividades numa perspectiva

    multidisciplinar, e buscando trabalhar cominstrumentos que atinjam o ser na sua mltiplaconstituio enquanto ser bio-scio-psiquico-eco-espiritual, visando promover a manutenoda autonomia e independncia da pessoa idosaque ali se achega.

    Descritores: Educao continuada; Idoso;Vulnerabilidade.

    ABSTRACT

    This paper discusses the continuing education asa strategy of attention and intervention with theelderly population in order to encourage theirexercise of citizenship, autonomy andindependence. It emphasizes that the aging

    process has multiple losses, but as humanprocesses are never unilateral, it has also gains. Itdiscusses the concept of vulnerability ascharacteristic of the human condition, and theconcept of susceptibility that demands greaterattention to some people and groups who may bein a position of greater vulnerability; which may

    be the condition of the elderly, because the lossesarising from the aging process are often moreexpressive than the gains (especially for certain

    people or groups of elderly people). This workproposes permanent education as a strategy ofattention to the elderly, highlighting its double

    aspect of opportunity and challenge to theprofessionals involved in it, which alsocharacterizes the age as a conquest/opportunityand challenge to be faced by the elderly. It reportsin the last part the experience of FATI with the

    provis ion of educat ion fo r the elderly,emphasizing some ways found there to cope withthe overcoming vulnerability by promotingactivities in a multidisciplinary perspective andseeking work with instruments which reach the

    being in its multiple constitution while bio-socio-

    psychic-eco-spiritual being, aiming at promotingthe maintenance of the autonomy andindependence of the elderly person who arrivesthere.

    Keywords: Education, Continuing; Aged;Vulnerability.

    2Flvia Diniz Roldo

    1Este artigo foi apresentado e posteriormente encaminhado

    para a publicao nos anais do II Congresso de Biotica doNEB/Curitiba, 2011.2Mestre em Psicologia Ps-graduada em Arteterapia

    Graduada em Psicologia, Pedagogia e Teologia (FEPAR /FAE) professora.

    Aprovado em: 16/05/2011Autor para correspondncia:Contato:[email protected]

    Flvia Diniz Roldo

    Revista Eletrnica da Faculdade Evanglica do Paran, Curitiba, v.1, n.1, p.84-91, abr./jun. 2011. 84

    RELATOS DE EXPERINCIA PROFISSIONAL

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    INTRODUO:

    O anoitecer da vida

    deve tambm possuir um significado

    prprio e no pode ser,

    apenas, um apndice lamentvel da(1:5)

    manh da vida.

    Durante muito tempo o processo de

    envelhecimento esteve diretamente ligado a uma

    percepo de perdas, degenerao, morte. Por

    vezes o avano da idade era considerado algo

    (2:15)negativo em si mesmo. Contudo, esta viso

    unilateral vem mudando. Como tudo na vida, esta

    fase de desenvolvimento humano tem os seus

    ganhos e as suas perdas (ainda que eles possam no

    ser equnimes). O ser humano um ser

    multidimensional e multideterminado. Se na

    velhice, na dimenso biolgica as perdas so

    bastante reais pelo processo de desgaste do

    organismo, na dimenso socio-cultural e espiritual,o idoso, como detentor de sabedoria, tem muito a

    contribuir com a comunidade na qual est inserido

    e com a sociedade em geral. Ocorre entretanto, que

    quando a sociedade no valoriza essa contribuio

    que pode ser oferecida pela pessoa idosa, o idoso

    pode se ver negado a dar sua contribuio social

    naquilo que ele tem de maior potencial a oferecer:

    suas experincias acumuladas e histria de vida,

    sua sabedoria.

    Com os avanos das biotecnologias, o

    declnio da natalidade e mortalidade, o domnio das

    doenas infectocontagiosas e a melhoria do(3)

    saneamento bsico, a longevidade hoje uma

    realidade. Realidade nova e qual a sociedade tem

    buscado adaptar-se de diversas maneiras. O

    envelhecimento tem um impacto social de ampla

    escala, atingindo as diversas reas da sociedade.

    Como o perfil etrio populacional tem se

    modificado nos ltimos tempos, conhecer a

    composio etria da populao de um pas algo

    muito importante, para o planejamento de polticas

    pblicas, e tambm para os futuros profissionais;

    atentar a essa mudana fundamental, a fim de

    estabelecerem rotas para a sua atuao profissional.

    Neste sentido, eles tambm precisam estar atentos

    em seu processo de formao, para perceber se esto

    se preparando adequadamente para as demandas

    sociais, e s universidades, cabe questionarem

    constantemente a formao que esto oferecendo.

    Desde 1999, ano Internacional do Idoso, a

    comunidade mundial tem dado destaque a esta etapa

    do desenvolvimento humano, ganhando a pessoa

    idosa grande visibilidade na mdia. Novas

    mudanas culturais vo aos poucos se estabelecendo

    nas sociedades, bem como novas tecnologias e

    propostas de interveno e ateno pessoa idosa.

    Contudo cabe lembrar, como bem destaca Garrido e(1 : 4 )

    Menezes envelhecer em um pas em

    desenvolvimento tarefa bastante rdua.

    I D O S O , V U L N E R A B I L I D A D E E

    AUTONOMIA:

    A terceira idade (velhice), uma etapa do

    desenvolvimento bastante ambgua, se por um lado

    significa conquista (pois chegar a ser um idoso

    sempre uma conquista pessoal), por outro

    representa desafios (e os desafios podem ser de

    vrias ordens diferentes: econmica, social,

    familiar, etc). Como est bem explicitado no Projeto

    de Poltica de Sade denominado Envelhecimento(4:15)

    Ativo, a populao idosa no constitui um grupo

    homogneo, antes pelo contrrio, a diversidade

    entre os indivduos tende a aumentar com a idade.(3,5)

    Conforme entende Almeida

    staca o artigo 8 da Declarao Universal sobre(6)

    Biotica e Direitos Humanos, a vulnerabilidade

    uma caracterstica humana, dentro da sua condio

    humana de ser finito, e da fragilidade da vida.

    e tambm

    de

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    E como bem destaca esse documento, os

    indivduos e grupos particularmente vulnerveis

    devem ser protegidos, e devem ser respeitadas a(6)

    integridade pessoal dos indivduos em causa.(3:540-1)

    Lembra ainda Almeida, que:

    numa sociedade

    , portanto, o

    ponto de partida para uma construo

    que possibilita o encontro construtivocom o outro e as medidas necessrias

    para superar as prprias fragilidades

    perspectivada para o

    sucesso a ocultao da vulnerabilidade

    pode ser uma tentao, pela

    dificuldade de se conviver com as

    f rag i l idades . A ocu l tao da

    vulnerabilidade ter uma incidncia

    sobre o prprio sujeito que se imagina

    autnomo. Ao contrrio, valorizando a

    vulnerabilidade, o sujeito elabora as

    suas decises tendo em conta os limites

    e condicionamentos da sua prpria

    liberdade. () O reconhecimento da

    prpria vulnerabilidade

    .

    As possibilidades nestes casos, que em

    reconhecendo a sua fragilidade, a pessoa (ou grupo

    social) pode buscar superaes, e quando a negao

    ocorre, no h porque fazer movimentos neste

    sentido, ficando as pessoas (ou grupos) paralisadas

    (os). O mesmo raciocnio aplica-se ao profissional

    que trabalha com pessoas e/ou grupos ainda mais

    suscetveis vulnerabilidade, ou cujas

    s u s c e t i b i l i d a d e s s e j a m s o c i a l m e n t e( 7 : 1 3 5 )

    configuradas. A conscincia des te

    profissional, de seu papel como agente fomentador

    de transformao atravs de sua prtica

    profissional e de seu papel como ser social poltico,

    fundamental no direcionamento de suas

    atividades e enquanto agente social de mudana.

    Almeida baseada em ideias de Kottow faz

    uma diferenciao conceitual entre suscetibilidade e

    vulnerabilidade, que pode ser aqui importante.

    Escreve: A diferena entre suscetibilidade e

    vulnerabilidade como processos existenciais

    distintos considera vulnervel a pessoa intacta, mas

    sob o risco intrnseco de ser ferida, e suscetvel

    como a em situao na qual efetivamente sofre por

    deficincia ou desvantagem, o que a predispe a

    sofrer ainda dano suplementar. Os idosos devido

    s mltiplas perdas normalmente acarretadas pelo

    processo de envelhecimento, podem ser

    considerados formando um grupo de pessoas

    suscetveis a maior vulnerabilidade.

    sociedade atual ainda bastante

    preconceituosa e excludente no que tange sua

    relao com as pessoas idosas em diversos(8,9)

    aspectos. Da a importncia dos profissionais das

    mais diferentes reas trabalharem a valorizao da(3:543)

    velhice, como bem lembra Almeida ao alertar:

    A vida frgil, e os seres humanos

    vulnerveis, contudo, a velhice uma etapa da vida

    que pode tornar as pessoas mais suscetveis a serem

    feridas em diferentes aspectos da sua vida. Nem

    todos os idosos encontram-se em situao

    desfavorecida na sociedade. Atualmente a

    sociedade composta por mltiplas formas de se

    vivenciar a velhice, desde idosos que encontram-sedependentes (ou no) e que vivem em Instituies de

    Longa Permanncia, at, por idosos completamente

    ativos e integrados na sociedade, que por vontade e

    opo prpria so alunos das vrias Universidades

    Abertas da Terceira Idade, ou que ainda depois de

    aposentados dedicam parte de seu tempo atuando

    ativamente ofertando trabalho voluntrio em

    instituies. Assim perceptvel as diferenas,

    contradies e a heterogeneidade social no que

    tange s vivncias do envelhecimento, observando

    que alguns idosos esto em situao de maior

    suscetibilidade a perda de autonomia, excluso e

    marginalizao, do que outros.

    Em geral, a

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    Como, na maioria das vezes, a sociedade

    desvaloriza o idoso associando-o a preconceito,

    deve priorizar-se o trabalho de valorizao da

    velhice. E da mesma forma importante

    incentivar a incluso social e o exerccio da

    cidadania pelas pessoas de mais idade.

    Neste sentido tambm colabora a Poltica(4)

    de Envelhecimento Ativo, proposta pela Unidade

    de Envelhecimento e Curso de Vida da OMS em

    2002, que foi traduzida para a lngua portuguesa em

    2005. Esta vem orientando aes na ateno ao

    idoso, no sentido de destacar a importncia de

    propostas de ateno ao envelhecimento baseadas

    no reconhecimento dos direitos humanos,

    princpios de independncia, participao,

    dignidade, assistncia e autorrealizao, visando

    auxiliar os idosos a manterem a autonomia e(4)

    independncia ao envelhecer. O referido

    documento destaca que apalavra 'ativo' refere-se

    participao contnua nas questes sociais,

    econmicas, culturais, espirituais e civis, e nosomente capacidade de estar fisicamente ativo ou

    (4:14)de fazer parte da fora de trabalho.

    Cabe lembrar que h diversas estratgias

    sociais que podem ser encaminhadas no intuito da

    promoo de um envelhecimento ativo visando a

    autonomia e independncia do idoso. Em trabalhos

    anteriores j apontamos a educao contnua do

    adulto idoso como algo de suma importncia para

    uma velhice bem sucedida e com uma boa(10)

    qualidade de vida. A educao permanente ser

    apresentada aqui como uma destas estratgias

    possveis neste sentido. Como bem destaca(11)

    Freitag ao realizar consideraes sobre a obra de

    Maria do Rosrio Knechtel sobre a Educao

    Permanente, publicada em 1994, a educao

    permanente um dos vrios instrumentos

    pedaggicos e polticos, capaz de promover junto

    aos cidados adultos uma melhor compreenso do

    exerccio da cidadania num trplice registro: o

    econmico, o poltico e o tcnico profissional (),

    compreendida amplamente como busca da

    cidadania, da liberdade e do respeito mtuo entre

    uma populao adulta de uma sociedade moderna.(11:85)

    Esta estratgia j vem sendo cada vez mais

    empregada na sociedade brasileira, como veremos a

    seguir.

    A EDUCAO PERMANENTE COMO

    ESTRATGIA DE ATENO AO IDOSO

    Uma das estratgias sociais de ateno aos

    idosos que tem proliferado bastante nos ltimos

    anos, so as Faculdades Abertas da Terceira Idade.(2:15)

    Conforme Cachioni :

    Tendo como pressuposto a noo de que

    a atividade promove a sade, o bem

    estar psicolgico e social e a cidadania,

    dessa clientela genericamente chamada

    de terceira idade, esses programasoferecem oportunidades para a

    participao em atividades intelectuais,

    fsicas e sociais.

    Esta autora destaca que:

    Foi na dcada de 90 que a extenso

    universitria voltada para a terceira

    idade conheceu seu apogeu com a

    multiplicao de programas voltados

    para adultos maduros e idosos nas

    universidades brasileiras. Com

    denominaes, formas de organizaes

    diversas, porm com propsitos

    comuns, como o de rever os esteretipos

    e preconceitos com relao velhice;

    promover a autoestima e o resgate da

    cidadania; incentivar a autonomia, a

    integrao social e a auto expresso, e

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    promover uma velhice bem sucedida

    em indivduos e grupos, essas

    instituies hoje se espalham por todo

    o pas (). Segundo Martins de S

    (2000), entre 1990 e 1999 esses

    programas cresceram de seis para cerca

    de 140, localizaram-se em 18 estados

    brasileiros, mas principalmente em

    So Paulo, Rio Grande do Sul, Minas

    Gerais, Paran, Santa Catarina, Rio de

    Janeiro e Bahia. As instituies do

    ensino superior particulares so as que

    mais tm investido nesta rea,(2:53-4)

    seguidas das estaduais e federais.

    Os dados anteriormente apresentados

    chamam a ateno para o fato de que j h mais de

    dez anos, esta estratgia, da educao permanente

    de idosos no contexto do ensino superior, tem sido

    uma realidade. Contudo entende-se que ainda so

    muitos os desafios a serem superados para que cadavez um maior contingente de pessoas possa ser

    atrado a participar destas propostas. Tambm

    torna-se importante considerar a heterogeneidade

    dos grupos que se formam muitas vezes nestas

    propostas. Basta refletir sobre as acentuadas

    contradies que marcaram a sociedade h 50 anos

    atrs. Alguns dos idosos de hoje, foram muitas das

    vezes adultos com baixa escolaridade por falta de

    possibilidades de acesso educao superior. Mas

    esta no a situao de todos os idosos, pois outros,

    em experincia oposta a esta, tiveram acesso a

    estudo e uma formao profissional. O ambiente

    escolar acaba sempre refletindo as desigualdades

    manifestas na sociedade como um todo, e assim, o

    pblico que chega para a participao nestes

    programas pode acabar constituindo turmas

    bastante heterogneas em sua composio, seja no

    que tange escolaridade, renda e poder econmico,

    cultura, etc.

    Esta heterogeneidade do pblico a ser

    atingido, coloca tambm grandes desafios aos

    professores que iro desenvolver com eles as

    atividades. O impacto social amplo e sistmico das

    mudanas causadas pelo envelhecimento

    populacional, e as mudanas sociais que vo

    ocorrendo buscando dar respostas aos novos

    desafios colocados, mostra-se aqui mais uma vez.

    Assim, categorias como criatividade, flexibilidade,

    abertura a mudanas, vo cada vez mais ganhando

    espao e mostrando sua importncia na reflexes e

    propostas prticas de ao nas questes de ateno

    velhice. Se auxiliar na manuteno da autonomia eindependncia do idoso so objetivos claros nos

    documentos e polticas para a terceira idade, j os

    caminhos a serem percorridos visando alcanar

    estas metas no esto dados de forma pronta, e

    precisam ser criativamente construdos pelos

    profissionais na atualidade, havendo muitas(7:137)

    possibilidades. Neste sentido Ayres, chama a

    ateno para o fato de que

    (...) No plano especfico da produo do

    c o n h e c i m e n t o , o q u a d r o d a

    vulnerabilidade tambm parece abrir

    perspectivas interessantes. Porque

    permitem e reclamam contribuies

    oriundas de diversas disciplinas e o

    dilogo entre elas, estudos de

    v u l n e r a b i l i d a d e o f e r e c e mo p o r t u n i d a d e s d e d i l o g o s

    interdisciplinares que so um constante

    norte da sade coletiva.

    Assim, o envelhecimento representa

    conquista e desafio, oportunidade e perigo (que

    podem paralisar ou instigar a superao), no apenas

    para os idosos, mas tambm para os profissionais da

    atualidade e do futuro que podero propor novas

    tecnologias de ateno e interveno junto a esta

    populao.

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    A EXPERINCIA DA FACULDADE ABERTA

    DA TERCEIRA IDADE (FATI): uma

    contribuio social para a autonomia do idoso

    curitibano

    A FATI nasceu em 2009 como uma

    continuao e expanso do Programa de Ateno

    Integral ao Idoso, proposto pela professora Denise

    Machado (coordenadora de atividades de extenso

    da FEPAR), iniciado em 2005, ambos ofertados

    pelo Departamento de Extenso da Faculdade

    Evanglica do Paran (FEPAR). Tiveram por

    objetivo desde o seu incio, disponibilizar

    comunidade idosa, atividades interdisciplinares

    que promovam a sade e que colaborem na

    preveno de doenas, maximizando suas(12)

    potencialidades e minimizando suas limitaes.

    O pblico-alvo da FATI so idosos ativos

    que buscam dar continuidade s suas atividades

    intelectuais e educacionais, mantendo-se

    informados e atualizados com os avanos sociaisocorridos nos ltimos anos, especialmente nas

    reas de sade, cultura geral (especialmente artes

    plsticas, filosofia e msica), e tecnologias

    (especificamente na rea da informtica). Oferece

    desta forma uma atuao social que pode ser

    entendida como profiltica. Sua estratgia de ao

    multidisciplinar, oferecendo aulas e oficinas

    trabalhadas por profissionais das mais diversas

    reas (fisioterapia, teologia, pedagogia, nutrio,

    psicologia, musicoterapia, enfermagem, dentre

    outros), e oferece oportunidades de trocas de

    experincias intergeracionais na medida em que os

    alunos idosos e pessoas de meia-idade, convivem

    com professores e estudantes de graduao (de

    diversas idades), que acompanham alguns dos

    professores nas ministraes das disciplinas e

    oficinas.

    A s e s t r a t g i a s p e d a g g i c a s d e

    aprendizagem utilizadas desde o incio das

    atividades em 2005 foram diversas, indo desde aulas

    expositivas dialogadas e rodas de conversas,

    realizao de atividades fsicas, at apreciao e

    discusso de filmes, aulas de informtica, canto,

    dana e execuo de pequenas peas musicais com

    sinos.

    Alm da disseminao de informao, e o

    trabalho educacional de construo de

    conhecimentos, priorizam-se em determinadas

    aulas e nos momentos de intervalos e ocasies

    festivas, oportunidades de trocas de experincias e o

    estabelecimentos de vnculos de amizades entre as

    participantes, bem como, entre estes e os

    professores. Neste sentido, alguns estudos vm

    mostrando a importncia do fato de que

    o afeto, o carinho, a considerao e a

    so l idar iedade dos p rofessores

    favorecem aceitao [dos idosos] no

    grupo e ajudam, significativamente, no

    desenvolvimento dos trabalhos e naelevao da auto estima dos idosos; os

    idosos, quando valorizados, so

    altamente produtivos e criativos; as

    pessoas mais aceitas aprendem a se auto

    v a l o r i z a r e m a n i f e s t a m

    comportamentos que expressam

    felicidade, sade mental e adequao

    social () vivendo plenamente as(2:33-4)

    tarefas prprias de sua etapa vital.

    A estratgia de trabalho multi e

    interdisciplinar na FATI, segue a tendncia

    pedaggica atual, conforme bem explicitada por(2:21)

    Cachione em seus estudos, ao destacar que a

    interdisciplinariedade deve ser a base da educao

    permanente, fundamento ideal da educao dirigida

    aos idosos. Os professores que trabalham no

    programa advm dos vrios cursos oferecidos na

    Faculdade. Oferecem ao idoso a oportunidade de

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    informao e atualizao em diferentes aspectos de

    sua vida, obtendo estes aulas com enfermeiros,

    fisioterapeutas, nutricionistas, telogos,

    psiclogos, musicoterapeutas, o que possibilita que

    seja abordada uma gama grande de assuntos das

    reas de sade, cultura, filosofia e educao (fsica,

    musical, tecnolgica, etc). Oferece-se assim

    estratgias voltadas manuteno da autonomia e

    independncia em amplo aspecto, um trabalho

    contnuo de desenvolvimento pessoal e

    interpessoal (atravs de disciplinas como Relaes

    Interpessoais e Habilidades Sociais, Filosofia,

    Autoestima), e estmulo ao exerccio da cidadania e

    integrao social, alm do trabalho realizado nas

    diferentes reas de sade (rea de maior

    concentrao dos cursos ofertados pela FEPAR).

    Atravs da apresentao da proposta

    anterior que vem sendo desenvolvida na FATI,

    procurou-se destacar as contribuies que o

    Programa tem buscado oferecer ao idoso curitibano

    que tem se achegado at ele. Contudo, h que sedestacar tambm que vrios so os desafios

    colocados s instituies e aos educadores que se

    propem a trabalhar com idosos, pois, apesar do

    nmero de ofertas destes programas estarem

    aumentando cada vez mais no pas, como j

    anteriormente destacado, como bem colocou(2)

    Cachioni j em 2003, e entendemos que o fato

    ainda continua sendo realidade:

    em nosso pas, a despeito do sensvel

    aumento na oferta de programas

    educacionais para adultos maduros e

    idosos verificado nos ltimos 20 anos,

    ainda no h um ponto de vista e nem

    um conjunto de prticas institudas

    para a seleo, a formao e o

    acompanhamento do trabalho dos

    professores envolvidos com essa

    c l i e n t e l a ; n e m s e d i s c u t e m

    sistematicamente os fundamentos e as

    prticas mais apropriadas para ela.

    A titulo de consideraes finais, como

    educadora atuante na educao de idosos desde

    2002 (e professora da FATI desde 2006), a autora

    deste trabalho considera que possvel perceber a

    importncia das contribuies colocadas

    disposio da populao idosa, por estes programas

    de educao de idosos ofertados pelas

    universidades, bem como, possvel destacar que a

    receptividade e procura por estes programas vai

    paulatinamente aumentando. Contudo, ainda so

    grandes os desafios a serem enfrentados no

    cotidiano ao se lidar com essa oferta de trabalho.

    Entretanto, entende-se aqui, que a oferta de

    oportunidade para uma educao permanente da

    pessoa idosa, uma das estratgias sociais possveis

    que contribui para a manuteno da autonomia do

    idoso contemplada em mltiplos aspectos: social,

    psicolgico, cultural, relacional/interpessoal, etc,que possibilita a realizao de um caminho que pode

    estimular a realizao de um percurso que visa

    contribuir para afastar as pessoas idosas da

    suscetibilidade vulnerabilidade e aproxim-las de

    uma maior autonomia.

    REFERNCIAS

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