EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGISMO: um olhar dos gestores … · 2017. 8. 30. · paisagismo no...
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGISMO: um olhar dos
gestores da educação infantil no município de Santarém –
PA
Cleidson da Silva4
Maria Josefa Barroso Nogueira5
Edna Marzzitelli Pereira6
RESUMO
Com o crescimento dos movimentos ambientalistas, passou-se a adotar a expressão
“Educação Ambiental” (EA) para considerar iniciativas de universidades, escolas, instituições
governamental e não governamentais. Nessa perspectiva, a gestão escolar passa a constitui
uma dimensão importantíssima da educação, uma vez que, por meio dela, observa-se a escola
e os problemas educacionais, numa abordagem de ação, com ênfase à atuação e promoção da
organização, da mobilização e articulação das condições humanas e materiais, sendo que o
objetivo final da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos. Do mesmo modo,
a implantação de áreas verdes nos estabelecimentos de ensino pode contribuir com a
educação, oferecendo um ambiente mais agradável e saudável, além de aumentar a satisfação,
a diminuição do estresse e proporcionando melhor qualidade de vida aos alunos, professores,
gestores, enfim, de todos que vivenciam o ambiente escolar. Assim esse trabalho objetiva
verificar o papel da gestão educacional no desenvolvimento da educação ambiental e
paisagismo no centro de educação infantil Paulo Freire, em Santarém- Pará. Realizou-se uma
pesquisa de campo e bibliográfica, em que foi utilizada uma abordagem qualitativa no
contexto da educação ambiental, cujos dados coletados se deram através de uma entrevista
semiestruturada que expressam a compreensão das relações entre gestores, seus contextos e
suas ações. A pesquisa permitiu-nos perceber que a concepção dos gestores em relação à EA,
está posicionada no campo da preocupação com a preservação do meio ambiente (concepção
tradicional). Tal posicionamento envolve o caráter do gestor, comprometimento social e
também com os anseios que considera nortear a sociedade. Não é, portanto, proporcional ao
seu envolvimento em projetos e ações efetivas que possam favorecer e possibilitar essa
inserção, seja no currículo, no funcionamento educacional e na formação inicial e continuada
de professores. Portanto, pretende-se sugerir que os espaços verdes, como jardins e hortas
existentes na instituição, devem ser vistos como espaços privilegiados de cunho pedagógico,
cujo intuito seja propiciar às crianças vivencias praticas sobre EA, possibilitando momentos
de aprendizado de forma lúdica, através de seus espaços verdes que se ampliam dos espaços
de sala de aula, levando as crianças a aprenderem a respeitar a natureza, tornando as
4 Licenciado em Geografia e Pedagogia pela Universidade Federal do Oeste do Pará. Professor da Secretaria de Estado de
Educação do Pará-SEDUC/PA. E-mail: [email protected]
5 Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Oeste do Pará. Professora da Secretaria Municipal de Educação-
SEMED/PA. E-mail: [email protected]
6 Doutoranda em Educação da Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Professora do Instituto de Ciências da
Educação, da Universidade Federal do Oeste do Pará. E-mail: [email protected]
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atividades em maneiras prazerosas ao plantar, cuidar, aprender, pois é através de pequenas
atitudes que podemos promover transformações significativas para nossas vidas. Finalmente,
podemos dizer que o papel do gestor é acima de tudo, promover um ambiente adequado,
aglutinando de forma democrática o fazer pedagógico, onde todos os agentes envolvidos no
processo ensino aprendizado sejam promotores ativos na concretização de uma educação
ambiental que assegure a formação de sujeitos conscientes do seu papel no mundo.
Palavras-chave: Educação Infantil. Educação Ambiental. Gestão Escolar.
ENVIRONMENTAL EDUCATION AND LANDSCAPE: a look of managers of early
childhood education in the municipality of Santarém
– PA
ABSTRACT
With the growth of the environmental movement, it moved to adopt the phrase
"environmental education" (EA) to consider initiatives universities, schools, governmental
and nongovernmental institutions. From this perspective, the school management becomes
constitutes a very important dimension of education, since, through it, there is a school and
educational problems in an action approach, with emphasis on performance and promotion of
the organization, mobilization and articulation of human and material conditions, and the
ultimate goal of management is effective and meaningful student learning. Similarly, the
implementation of green areas in schools can contribute to education by offering a more
pleasant and healthy environment, and increase customer satisfaction, reducing stress and
providing better quality of life for students, teachers, managers, in short, all who experience
the school environment. So this paper aims at studying the role of educational management in
the development of environmental education and landscaping in the early childhood education
center Paulo Freire in Santarém- Pará. We conducted a field survey and literature, in which a
qualitative approach was used in the context of environmental education, whose data
collected is given through a semi-structured interview that express the understanding of the
relationships between managers, their contexts and their actions. The research enabled us to
realize that the design of the managers regarding the EA, is positioned in the field of concern
for the preservation of the environment (traditional design). This position involves the
character of the manager, social commitment and also with the desires considering guide the
society. It is therefore proportional to its involvement in projects and effective actions that
might favor and allow this insertion, either in the curriculum, the educational operation and
initial and continuing teacher training. Therefore, we intend to suggest that the green spaces
such as gardens and vegetable gardens existing in the institution, should be seen as privileged
spaces for pedagogical nature, whose aim is to provide the children vivencias practices on EA,
allowing moments of learning through play, through its green spaces that extend the
classroom spaces, taking the kids to learn to respect nature, making the activities in
pleasurable ways to plant, care for, learn as it is through small actions that can promote
significant changes to our lives . Finally, we can say that the role of the manager is above all,
promote a suitable environment, bringing together in a democratic way the pedagogical
practice, where all the agents involved in the teaching learning process are active promoters in
delivering environmental education to ensure the formation of subjects aware of their role in
the world.
Keywords: Early Childhood Education. Environmental Education. School Management.
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INTRODUÇÃO
O termo “meio ambiente” tem sido utilizado para indicar um “espaço” (com seus
componentes bióticos, abióticos e suas interações) 7 onde seres vivos convivem e se
desenvolvem, trocando energia e interagindo entre si, sendo transformados continuamente.
No caso do ser humano, ao espaço físico e biológico soma-se o “espaço”
sociocultural. A humanidade provoca modificações que se transformam com o passar da
história ao interagir com os elementos de seu ambiente. Ao transformar o ambiente o homem
também muda sua própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive.
Sabe-se que muitos desafios são enfrentados todos os dias para a melhoria das
condições de vida em todo o planeta, principalmente no que se refere às mudanças de atitudes
do ser humano para com o meio ambiente e como aquele usa os recursos naturais disponíveis.
Nesse contexto, vale ressaltar que a escola é um local adequado para a divulgação de
informações e aquisição de práticas voltadas para uma maior compreensão e conscientização
dos alunos e demais indivíduos da comunidade escolar das consequências ambientais de suas
ações no meio em que vivem.
A preocupação em relacionar a educação com a vida do aluno, seu meio e sua
comunidade vem crescendo desde a década de 1960. Com o crescimento dos movimentos
ambientalistas, passou-se a adotar a expressão “Educação Ambiental” (EA) para considerar
iniciativas de universidades, escolas, instituições governamentais e não governamentais nas
quais se busca conscientizar setores da sociedade para as questões ambientais.
Nessa perspectiva, a gestão escolar constitui uma dimensão importantíssima da
educação, enquanto conceito novo, uma vez que, por meio dela, observa-se a escola e os
problemas educacionais, numa abordagem de ação, com ênfase à atuação e promoção da
organização, da mobilização e articulação das condições humanas e materiais, sendo que o
objetivo final da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que, no
cotidiano da escola, possam ser desenvolvidas as competências que a sociedade demanda
oriundas de um determinado contexto histórico, necessários para garantir o avanço dos
7 Componentes bióticos e abióticos são os componentes de um ecossistema. Componentes bióticos são os seres vivos:
animais (inclusive o ser humano), vegetais, fungos, protozoários e bactérias, bem como as substâncias que os compõem ou
são geradas por eles. Componentes abióticos são aqueles não-vivos: água, gases atmosféricos, sais minerais e todos os tipos
de radiação (BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente, 1992).
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processos sócio educacionais dos estabelecimentos de ensino. Do mesmo modo, a
implantação de áreas verdes nosestabelecimentos de ensino pode contribuir com a educação,
oferecendo um ambiente mais agradável e saudável, além de aumentar a satisfação, a
diminuição do estresse e proporcionando melhor qualidade de vida aos alunos, professores,
gestores, enfim, de todos que vivenciam o ambiente escolar.
Desse modo esse trabalho se justifica, devido aos problemas ambientais causados
pela ação humana, principalmente após a revolução industrial, que se colocam hoje como uma
questão crucial para o futuro da humanidade. Por um lado, as pessoas são beneficiadas pelas
vantagens dos bens de consumo, por outro, vivem momentos graves, que vêm causando
grandes e irreversíveis transformações no planeta.
Foi justamente esse o tema que suscitou as indagações e constatações mais incisivas
no que diz respeito à inserção da Educação Ambiental no espaço escolar, sabendo que a
maioria das escolas do município de Santarém possuem espaços destinados a jardins, o que
nos leva a crer que os engenheiros que as construíram sabiam da importância que hána
presença de plantas para beleza no ambiente escolar e para que os sujeitos que nele convivem
desenvolvam boas atitudes em relação ao meio. Porém, muitos desses espaços não são
utilizados com o objetivo inicial, criando condições apenas para a proliferação de insetos e
acúmulo de lixo, dando um aspecto pouco agradável.
Nesse sentido, o tema se faz de grande importância, pois apresenta uma proposta de
trabalho envolvendo Educação Ambiental e Paisagismo, trazendo uma reflexão sobre o
espaço escolar como ambiente de convívio coletivo privilegiado, no qual a criança pode
desenvolver potencialidades socioambientais e interagir com o verde natural da vegetação,
estimulando e sensibilizando habilidades para preservar e cuidar dos recursos naturais e para
compreendê-los como parte do ambiente com o qual interagem, experiências que não se pode
deixar de reconhecer como fundamentais para o desenvolvimento integral dessas crianças. De
acordo com Tuan (1980) o meio ambiente fornece o estimulo sensorial que ao agir como
imagem percebida, dá forma às nossas alegrias e ideais.
Assim, partindo da observação de realidades de espaços educacionais que oferecem a
educação infantil na cidade de Santarém, o local escolhido foi o Centro Municipal de
Educação Infantil Paulo Freire, sendo referência na Educação Infantil da cidade, construído
dentro da política do PROINFANCIA do Governo Federal para o atendimento das crianças de
0 a 5 anos - primeira etapa da educação básica – e onde existe um jardim, para o
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embelezamento da instituição. Nessa perspectiva, O contato com áreas verdes, ainda que
recriadas pelo ser humano, porém conservando as características do meio natural, traz
benefícios para a saúde, como a diminuição do estresse, melhora na realização das atividades
laborais e bem-estar. (KAPLAN e KAPLAN, 1995).
É a partir daí que os professores de Educação Infantil querem aprofundar o debate e
contribuir para uma reflexão sobre a importância de inserir no contexto da educação infantil a
prática do paisagismo e da educação ambiental, possibilitando uma nova forma de
aprendizagem que foge das práticas convencionais e alia à inserção de uma educação
ambiental que traga em sua essência, uma concepção cultural, a um universo de significações
que envolvem questões presentes na vidados seres humanos desde a primeira infância,
possibilitando ainda o desenvolvimento de novos olhares sobre o meio ambiente, na formação
de uma consciência crítica e participativa, sem deixar de entender que a criança é um ser da
natureza, cultural e histórico e, por isso, motivá-las a desenvolverem comportamentos e
atitudes para um mundo melhor, é atitude que se deve ter como responsabilidade de todos.
Desse modo, a gestão educacional não pode se isentar dessa responsabilidade de
proporcionar aos seus alunos, o contato com o verde, sabendo que é possível transformar o
ambiente de tijolo e cimento, dando possibilidades de desfrutarem dos benefícios que a
vegetação proporciona.
Quer-se ressaltar ainda que o presente, não é apenas um trabalho a mais, pois de
acordo com a lei n° 9.795, de 27/04/1999, e do seu Decreto n° 4.281, de 25/06/2002, ter
acesso à Educação Ambiental é direito de todos e os PCNs no artigo 225, relata: “Todos têm
direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as atuais e futuras gerações”. E especificamente as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) através da resolução n° 5, de 17 de Dezembro de
2009 que define: “É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita e
de qualidade, sem requisito de seleção”.
Desse modo, o presente artigo objetiva verificar o papel da gestão educacional no
desenvolvimento da educação ambiental e paisagismo no Centro de Educação Infantil Paulo
Freire, em Santarém-Pará. De modo a constituir um sistema de gestão escolar democrático,
com perspectivas voltadas para a educação ambiental, onde a preocupação com a paisagem e
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o meio ambiente seja indispensável quando são elaborados projetos sustentáveis que visam à
preservação do lugar em que se vive.
Realizou-se uma pesquisa de campo e bibliográfica, em que foi utilizada uma
abordagem qualitativa no contexto da educação ambiental, cujos dados coletados se deram
através de uma entrevista semiestruturada que expressam a compreensão das relações entre as
pessoas, seus contextos e suas ações.
Com esse fim, foi feito primeiramente uso da técnica de observação, abrangendo a
abordagem operacional. Pedrini, et al (2007, p.39), afirma que “a operacionalização de uma
pesquisa e obtenção de resultados abrange estratégias de coleta e de análise de dados /
informações”.
Com o resultado do material coletado, verificou-se que os relatos, depoimentos e
concepções dos entrevistados, em todas as três esferas da gestão educacional, as quais
compreendem: a Coordenação de Educação Infantil e a Coordenação de Educação Ambiental
da Secretaria de Educação do Município de Santarém - SEMED e os Gestores da CEMEI-
Paulo Freire.
O presente artigo está estruturado em três títulos. No primeiro título fala-se da
educação ambiental e suas concepções. No segundo, trata-se sobre a compreensão do papel
dos gestores educacionais na implementação de uma educação ambiental nas instituições de
educação infantil. E no terceiro, fala-se sobre a atuação do gestor do CEMEI Paulo Freire em
Santarém, no desenvolvimento da educação ambiental e Paisagismo, afim de que a partir
desse estudo possa contribuir para reflexão dos envolvidos.
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUAS CONCEPÇÕES NA AMAZÔNIA
Ao falar em educação ambiental sabe-se ser esse um tema muito importante e
indispensável para a educação integral de um povo, de uma nação, pois com a aprovação da
Lei nº 9.795, de 27.4.1999 e do seu regulamento, o Decreto nº 4.281, de 25.6.2005,
estabelecendo a Política Nacional de Educação Ambiental, trouxe grande esperança,
principalmente para os educadores, ambientalistas e professores, já que há muito se fazia
educação ambiental, independentemente de haver ou não um marco legal.
No âmbito internacional, entre os principais documentos firmados pelo Brasil,
merece destaque o da Conferência Intergovernamental de educação ambiental de Tbilisi, em
outubro de 1977. Sua organização ocorreu a partir de uma parceria entre a UNESCO e o
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Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Desse encontro saíram as
definições, os objetivos, os princípios e as estratégias para a educação ambiental que até hoje
são adotados em todo o mundo.
Segundo a Constituição (1988 apud LIPAI, 2007) elevou ainda mais o status do
direito à educação ambiental no Brasil, ao mencioná-la como um elemento essencial para a
qualidade de vida ambiental, atribuindo ao Estado o dever de “promover a educação
ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente” (art. 225, §1º, inciso VI), fazendo surgir, assim, o direito constitucional de
todos os cidadãos brasileiros de acesso à educação ambiental.
Dando sequência aos marcos legal, o artigo 7º da lei N.9.795/99, diz que os órgãos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente, as instituições educacionais
públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos municípios e as organizações não - governamentais com atuação em
educação ambiental compõem a esfera de ação da PNEA – (Política Nacional de Educação
Ambiental) com responsabilidades por sua implementação.
Vale ressaltar, que outros documentos foram criados, a nível internacional com
intuito de orientar as ações de educação ambiental, dentre eles, podem ser citados, por
exemplo: A Carta da Terra, cuja base se constitui de princípios da Agenda 21, o Tratado de
Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, elaborado em
1992 pela sociedade civil planetária e a Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente
(Rio 92), que afirma a educação ambiental como caráter crítico, político e emancipatório. As
nações unidas e a UNESCO implantaram a década da educação para o desenvolvimento
sustentável (2005/ 2014).
Desse modo, no cenário brasileiro, em 1973, com o decreto n°. 73.030, que criou a
secretaria especial de meio ambiente, promove o esclarecimento e educação do povo
brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais, com vistas à conservação do meio
ambiente. Seguindo nesses marcos legal, não se pode deixar de mencionar, a Lei nº 6. 938, de
31.8.1981, que institui a Política Nacional de Meio Ambiente, que desejava imprimir uma
dimensão “Pedagógica no Brasil”, sob a necessidade de promover a EA a todos os níveis de
ensino.
Precisa-se ter clareza ainda de que existe diferentes concepções de MA e EA
presentes no Brasil, e especificamente na Amazônia, cujas categorias de análise das
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concepções de Meio Ambiente, nesse trabalho, foram instituídas e fundamentadas por Reigota
(2011), Diegues apud Mello (1996) e Trivelato (1999) e ficaram assim organizadas: Quando
a definição de Meio Ambiente – MA incluiu tanto aspectos biológicos como físicos, e foi
denominada como: Biocêntrica Biológica-Física, por ser mais integradora dentre todas as
propostas no presente estudo, uma vez que envolve o ambiente biológico, o físico e o
sociocultural. Representando, assim, o primeiro passo no sentido de um maior intercâmbio
entre os diferentes elementos ambientais. De acordo com Reigota (2011), a educação
ambiental tem sido realizada a partir da concepção que se tem de meio ambiente, e sabe-se
que não se pode falar em educação ambiental e não falar também em meio ambiente, pois
especialistas da área, associam o conceito de educação ambiental à concepção de meio
ambiente.
Vale ressaltar que as concepções aqui colocadas para análise teóricas de EA foram
baseadas em Dias (1994), Mello; Trivelato (1999), Reigota (1998), Sorrentino (1995) e Sauvé
(2001) e fontes secundarias. Foram também inclusas as concepções: Tradicional, Resolução
de Problemas, Integradora e suas características, onde nas concepções incluídas na categoria
tradicional predominam as preocupações com o ambiente, e prevalece a ideia de conservação,
no sentido de que este possa ser admirado e preservado, apesar de essa proteção ser marcada
como forma de utilidade do homem para com o meio. Na concepção resolução de problemas
compreende-se como ainda prevalece a ideia naturalista, porém que avança no sentido de que
não se trata mais de uma concepção abstrata da natureza, mas sim sempre enxergando a
necessidade de utilizar os recursos naturais, adicionada da ideia de que esses precisam ser
utilizados de modo racional, colocando em pauta aspectos de desenvolvimento sustentável e
gestão ambiental, não obstante ser uma concepção fragmentada de EA.
Já na concepção Integradora, ressalva-se uma concepção adjacente que compreende
os níveis de complexidade que permeiam a EA e as questões ambientais. Uma percepção
conectada da natureza complexa do meio físico-natural e do meio construído pelos seres
humanos, resultante da interação dos aspectos físicos, biológicos, sociais, econômicos e
culturais. Segundo Reigota (2011, p.91), a educação ambiental na escola ou fora dela
continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser a tendência
rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque a época atual, herança
histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacificas.
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Ainda nessa concepção, é entendido que o indivíduo exerça seu papel de preservar a
natureza e que este se perceba como meio ambiente, numa perspectiva de que meio ambiente
não se restringe apenas às plantas, florestas, animais, solo, água, enfim, é preciso agir como
multiplicador de suas descobertas e percepções.
A EA tem como um dos principais compromissos o de responder à necessidade real
do presente tempo. Diversas ações são aplicadas em escolas e outros espaços e auxiliam no
desenvolvimento de atitudes ecologicamente corretas desde cedo, pois a ideia é contribuir na
formação de uma consciência ambiental crítica e participativa, gerando mudanças de
comportamento e atitudes. Pedrini, et al (2007, p. 98-99).
Desse modo, a EA poderá também ser trabalhada como ferramenta de sensibilização
e ensino, em que os profissionais da educação podem utilizá-la, principalmente com as
crianças como elementos pedagógicos lúdicos e criativos voltados para a realidade
socioambiental. Segundo Pedrini (2007, p.106), “É simplesmente infinito o grau de
criatividade possível e já vivenciado neste enorme e cada vez maior mundo pedagógico da
ludicidade e do ambientalismo”.
Por isso, acredita-se em um ensino em EA voltado para uma linguagem alternativa e
sensível, emotiva e envolvente, que possa estar pautada na linguagem da criança, em que
possa haver influência da sua relação com o ambiente, numa abordagem de educação que
considera que alunos e professores são capazes de promover transformações com base nas
interações sujeito-objeto e vice-versa. Por isso, para que a educação ambiental possa se
instalar e permanecer na mente das crianças e professores é preciso que essa mensagem esteja
presente no seu alicerce, ou seja, desde a infância, passando por constante manutenção que
começa em casa, com os pais e com os professores na escola. (PEDRINI, 2007, p. 140).
Desse modo, para realizar um trabalho de EA voltado para a EI, no país é preciso que
as escolas encontrem seus caminhos em todos os sentidos, onde gestores e professores deixem
de lado a postura passiva e adotem novas atitudes, em que todos possam estar engajados de
forma ativa e democrática, seja na escolha de conteúdo ou na forma de abordá-los, e assim,
contribuir na formação de cidadãos plenamente conscientes de seu papel na sociedade.
Partindo da concepção de que a educação é uma política pública, de caráter universal e
responsabilidade de todas as três esferas do poder público: União, Estados e Municípios.
(TANCREDI, 2012, p. 135).
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É com base nessa perspectiva, que a proposta pedagógica da SEMED/Santarém,
através da Divisão de Educação Infantil, fundamenta-se em uma concepção de Infância
inserida no contexto social, desenvolvida por meio de atividades que considerem as crianças
como sujeitos de direitos, e ser ativo durante seu desenvolvimento e processo de
aprendizagem, pois se acredita que esse sujeito constrói sua própria trajetória. Ainda
Tancredi, (2012, p.136), “A educação infantil deverá respeitar as especificidades das crianças
amazonidas para que realmente estas possam estar em ambientes de aprendizagem
desafiantes, acolhedores, familiares, sentindo-se incluídas, pertencendo a este espaço por que
se respeitam suas diferentes linguagens e brincadeiras”.
A FUNÇÃO E O PAPEL DO GESTOR EDUCACIONAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE
UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL
O gestor escolar é um profissional que desenvolve um papel de essencial importância
na escola, por isso, crê-se que cabe a ele articular de modo democrático inúmeras ações que
visem melhorar a qualidade da educação da instituição escolar. Assim, é necessário assegurar,
que o trabalho desenvolvido pelo gestor escolar é de fundamental importância para a práxis
pedagógica, uma vez que seu papel articulador não oferece receitas prontas, porém acontece
através do diálogo, de sugestão, construção e troca de conhecimentos, ações essas que podem
viabilizar o crescimento do grupo e, por sucessivo, melhorar o processo ensino –
aprendizagem de todos os envolvidos.
Contudo, quer-se compreender o papel do gestor escolar no desenvolvimento de um
projeto de educação ambiental em uma instituição de educação infantil. Por ser essa uma
questão crucial no trabalho junto a todos os segmentos escolares; mas para isso, é importante
primeiramente que se entenda o conceito de Gestão Escolar. Segundo Alonso (2002, p.176),
gestão escolar é:
Todo o processo de organização e direção da escola, produto de uma equipe, que se orienta
por uma proposta com base no conhecimento da realidade, a partir do qual são definidos
propósitos e previstos os meios necessários para a sua realização, estabelecendo metas,
definindo rumos e encaminhamentos necessários, sem, entretanto, configurá-los dentro de
esquema rígido de ação, permitindo alterações sempre que necessário. O termo gestão implica
desconcentração de poder, compartilhamento, e permite a criação de mecanismos de
participação adequados à situação e ao projeto.
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Nesse sentido, é necessário que o gestor compreenda a importância do trabalho
democrático, articulando ações voltadas para a prática de projetos em EA em estreita
consonância com todos os profissionais, garantindo assim, que a instituição de EI seja
contemplada com um trabalho de qualidade junto a seus envolvidos.
É verídico também, o fato de que ainda existe bastante aversão no que diz respeito a
real efetivação da gestão democrática, pois quando se fala em gestão democrática, percebe-se
o quanto esse tema é discutido e efetivado com a veracidade que deveria ter, por ser esse um
assunto que induz a prováveis mudanças e desse modo essas mudanças acarretarão a
descentralização do poder, e o comprometimento de realização de um trabalho que contemple
a participação de todas as partes da comunidade escolar.
Partindo da realidade das escolas públicas, pode-se garantir que os princípios e
estruturas da gestão democrática escolar, bem como suas implicações nas ações e decisões
dos gestores precisam ser repensados com urgência, uma vez que não é levada em total
importância a grande proeminência da participação da comunidade escolar nos processos
decisivos, que desconsideram que essa ação seja relevantes para a abertura de uma
transformação, que deverá advir no campo educacional.
Nesse sentido, sabendo da importância de uma gestão democrática imediata, para que
se possa proporcionar um ambiente de trabalho favorável a inovações, principalmente no que
diz respeito ao processo de inserção de projetos em EA no contexto da EI, é imprescindível
que se tenha gestores preparados e motivados, que se envolvam nas políticas educacionais,
que sejam sujeitos ativos que participem das ações processuais e corriqueiras da escola.
Diante dos novos desafios do sistema educacional, a missão do gestor é ainda
inteirar-se e integrar-se dos discursos e leis que regem a educação, dando maior ênfase ao
desenvolvimento da educação ambiental e paisagismo, cujos temas estejam presentes no
currículo da educação infantil, para que possa mobilizar todos os sujeitos da escola nas
tomadas de decisões que irão nortear o trabalho escolar de forma democrática. Pois, para que
isso aconteça, é imprescindível que a comunidade escolar apresente uma nova concepção e
uma forma diferenciada de se trabalhar, ou seja, uma constante renovação na sua postura, para
transmitir um conhecimento de nível elevado, para preparar o aluno a ser um cidadão crítico e
pensante.
Segundo Pedrini, (2007, p.141), “Para construir esse cidadão tão desejado, a
mensagem precisa estar presente já no seu alicerce, ou seja, desde sua infância, passando por
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uma constante manutenção, que deve ser feita pela professora...”. É verdade que nas
instituições de educação infantil, a maioria dos professores não tem formação em educação
ambiental e saem ensinando “qualquer coisa” sem conexão com a realidade dos alunos e do
mundo em que vivem. Por isso, tratar da educação das crianças de forma a prepará-las para
que vivam em harmonia, para compreenderem a vida seria fundamental que a escola
começasse trabalhando o que realmente é importante, no sentido de garantir formação inicial
e continuada de professores na área ambiental. Segundo Guerra e Gusmão, apud Pedrini
(2007, p.144), “o que torna o trabalho de implementação da EA nas escolas quase que
impossível de ser realizado, são professores que acham que já estão velhos para mudar seus
métodos, é a falta de apoio do corpo técnico...” Para tanto é necessário que se tenha
um projeto em EA bem elaborado. Destaca-se também que é função do gestor escolar buscar
desenvolver ações em EA de modo a ampliar o ensino, ser também um questionador,
provocador, para que o professor reconheça as suas dificuldades e juntos, professores e
gestores possam crescer enquanto grupo. Acredita-se que ao se portar dessa forma, o gestor
escolar estará de fato desenvolvendo seu papel, contribuindo para que o professor possa estar
revendo suas práticas, percebendo suas fraquezas e buscando soluções para superá-las, através
de um trabalho de reflexão sobre suas práticas. Segundo Vasconcelos (2002, p. 89):
[...] ao mesmo tempo em que acolhe e engrenda, deve ser questionador,
provocador, animado e disponibilizando subsídios que permita o crescimento
do grupo: tem, portanto, um papel importante na formação dos educadores,
ajudando a elevar o nível de consciência: tomada de consciência, passagem
do “censo comum à consciência filosófica” ou criação de um novo patamar
para o censo comum.
Para fechar essa discussão sobre o papel do gestor no desenvolvimento da EA na EI,
é válido afirmar a ideia de que um bom gestor deve sempre gerir suas ações de forma
democrática. Recebendo e fazendo críticas construtivas sem ensejos emocionais. Destaca-se
ainda a necessidade e importância da construção de projetos em EA e ofertar cursos de
aperfeiçoamento na área ambiental, visando à melhoria do trabalho docente; e quando
trabalhado dessa maneira, pode-se dizer que a implantação da educação ambiental e do
paisagismo nas escolas será ferramenta importante para assegurar o aprendizado desde a
infância. Ressaltando que é fundamental ainda que a escola se proponha a não só divulgar
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informações e conceitos, mas trabalhar também com a formação de valores, atitudes e
comportamentos ambientalmente corretos introduzidos na prática cotidiana.
A ATUAÇÃO DOS GESTORES DO CEMEI PAULO FREIRE EM SANTARÉM NO
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DO PAISAGISMO
Nessa parte do trabalho, quer-se apresentar o objeto da pesquisa realizada junto aos
gestores educacionais, que compreende a Coordenação de Educação Infantil, à qual se fez
referência de G1, Coordenação de Educação Ambiental, que será chamada de G2 e aos
gestores do CEMEI Paulo Freire, que serão chamados de G3.
O propósito das entrevistas foi ouvir os gestores em três instâncias de ação no
Município de Santarém e analisar como esses profissionais concebem o olhar no que diz
respeito à inserção da EA e Paisagismo na EI, e quais suas concepções na gestão da escola
pública.
Para a coleta de informações, foram sugeridas algumas questões norteadoras: quando
perguntados sobre:
a) a importância da EA para a EI:
G1, disse achar importante a inserção do tema, porém no currículo, não acha
necessário pelo fato de ele ser trabalhado nos temas transversais; G2 acredita que trabalhar
a educação ambiental desde a infância possibilita criar uma cultura e concepção da
importância e conservação do meio ambiente para a qualidade de vida, formação de agentes
multiplicadores desse conhecimento. Já o G3, acha que os professores devem empenhar-se na
busca da melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente.
b) às propostas para a inserção da EA na EI, para o município de Santarém: G1 disse
que as UMEIs já desenvolvem propostas nas datas comemorativas, como dia da água, da
árvore, etc. e diariamente ao passar valores sobre o cuidado com o meio ambiente; G2 disse
que sim, com a implementação da política nacional de educação ambiental, lei n° 9.795/99,
onde todas as suas ações contemplam a educação infantil. Já G3 disse que existem propostas
e que estas são trabalhadas através de atividades diferentes, mas da maneira mais simples
possível, pois o universo da criança não permite complexidade.
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c) Quanto ao posicionamento dos gestores em relação aos PCNs que importância a
formação dos sujeitos ambientalmente alfabetizados e quanto essa educação ambiental deve
ou deveria se iniciar na escola: G1 disse que os PCNs são importantes e grandes aliados de
professores e gestores, pois se alfabetizarmos ambientalmente nossas crianças, estas poderão
construir com o meio ambiente e que as informações sobre o tema em muito contribuirá para
o desenvolvimento emocional, cognitivo e afetivo, uma vez que as crianças são a base da
sociedade de amanhã e assim formar pessoas futuramente mais conscientes; G2 disse que os
PCNs são ferramentas importantes para a construção de um sujeito ecológico, com uma
abordagem holística acerca do tema meio ambiente, devendo ser trabalhado desde a infância
como tema transversal; G3 disse que é muito importante trabalhar a educação ambiental
com as crianças e que inserir o tema nessa faixa etária, é imprescindível, por despertar a
consciência de que nosso planeta precisa ser cuidado com amor e carinho por todos,
inclusive pelas crianças.
d) Perguntados por que a proposta pedagógica da EI e o projeto político pedagógico
do CEMEI Paulo Freire, especificamente, não fazem referências voltadas para a EA e
paisagismo, sabendo que a maioria das instituições dispõe de um jardim? G1 disse que a
proposta pedagógica fala da organização do espaço, onde mostra que o ambiente também
educa, demonstrando a preocupação no que se refere ao meio ambiente no qual a criança
está inserida; G2 disse que não há uma proposta especifica para a EI, mas que trabalha com
a implementação da política nacional de EA, e que faz atendimento nas escolas, promovendo
atividades de extensão em EA, tanto teórica quanto prática para todos os alunos e demais
demandas; G3 disse que de certa forma está inserido, e que faz parte do currículo oculto da
instituição, pois e educação infantil se constrói sobre um trabalho simples onde se aproveita
o cotidiano vivido pela criança, e que todas as plantas e flores são importantes e exercem
grande atração para as crianças.
e) como esses gestores analisam e veem a importância da EA na EI? G1 disse que
analisa e vê o tema de modo importantíssimo, por estar trabalhando a base intelectual do
indivíduo, no início da trajetória escolar do mesmo; G2 analisa e vê o tema como fator
fundamental, pois possibilita proporcionar uma concepção e cultura de conservação e
multiplicação sobre esse conhecimento; G3 disse que analisa e vê o tema como importante e
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necessário, pois a EA desperta a consciência, preservação e cidadania, pois o ser humano
deve entender desde cedo que precisa cuidar e preservar, uma vez que o futuro depende do
equilíbrio entre homem e natureza e uso racional dos recursos naturais e assim deve ser
trabalhado de forma mais simples possível, a importância de preservar o meio ambiente.
Percebe-se, nas respostas dos entrevistados, uma dimensão de valores, em que as
ênfases foram sempre apontadas para uma concepção de EA de cunho preservacionista e
consciente. Com o intuito de entender essas possibilidades, recorreu-se à contribuição de
Mortimer (1996), que afirma que o perfil conceitual se refere à coexistência de múltiplas
concepções, que se referem ao mesmo conceito, em um único sujeito. É importante frisar que
o autor expressa que ideias paralelas podem ser construídas em contextos diferentes e que há
formas diferenciadas para representar e enxergar a realidade. Percebe-se que os gestores
abordam em suas falas, algumas concepções como tradicional, em que predominam as
preocupações com a conservação do meio ambiente e também a concepção integradora que
compreende os níveis de complexidade que permeiam a EA e as questões ambientais, que
possa estar conectada com a natureza complexa do ser humano e suas interações em todos os
aspectos, tanto físicos, quanto biológico, econômicos, sociais e culturais, ressaltando que esta
concepção por ser mais integradora e condizente com o olhar destes gestores, está pautada
numa dimensão que vai além dos recursos naturais, e sim como agente multiplicador de
descobertas e percepções.
É importante ressaltar o que os gestores dizem quando abordados sobre a
importância e inserção da EA na EI na rede municipal, todos são unanimes em afirmar a
grande importância, porém, o G1 especificamente, diz que não vê a necessidade da inserção
no currículo, e que acha suficiente como é trabalhada nos temas transversais, configurando
assim, uma visão errônea, pois os temas transversais estão no currículo escolar, e nessa
perspectiva Tancredi, (2012, p.136) traz uma importante contribuição quando afirma que os
currículos da EI de modo especial devem estar encharcados pela cultura amazônica e pela
preservação ambiental, no sentido de estar contribuindo para a construção do sujeito que aqui
vive.
Quando argumentados sobre as propostas de trabalho com o tema, posicionamento
referente aos PCNs, proposta pedagógica da EI e projeto político pedagógico do CEMEI
Paulo Freire em especial, todos disseram que desenvolvem trabalhos com o tema, em datas
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comemorativas, implementação da política nacional de EA, porém pode-se mencionar que de
modo um tanto incerto, pode-se notar na fala do G3, um ponto de vista simplista, entendendo
que o universo da criança não permite complexidade. Ainda Tancredi, (2012, p.142), traz uma
contribuição no sentido de que a EI é uma política de ação integrada que a criança como todo
ser humano, é um ser histórico e cultural que tem o direito de ser cuidada e educada. Nesse
sentido, acredita-se que a criança deve ser ensinada, não somente de forma simples, mas
também de modo atrativo, dinâmico e que propicie o aumento de conhecimentos, mudanças
de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas que estimulam a integração e
a harmonia das crianças com o meio ambiente.
CONCLUSÃO
As apurações dos dados que compõem a presente pesquisa nos possibilitaram
verificar o papel da gestão educacional no desenvolvimento da Educação Ambiental e
Paisagismo no CEMEI Paulo Freire, contribuindo para o cumprimento de um grande desafio
constitucional que é o de promover a Educação ambiental e Paisagismo como um sistema de
gestão escolar democrático.
Ficando claro ainda que na concepção dos gestores pesquisados, a Educação
Ambiental é uma temática que conduzirá à produção de conhecimentos voltados a solucionar
problemas ambientais. Há também afirmativas em que os gestores dizem trabalhar a EA de
forma transversal, porém esses gestores não citam como ou quais projetos desenvolvem. O
que comprovadamente demonstra que os esforços empreendidos tropeçam em alguns
obstáculos, evitando melhoria na produção didática entre a idealização e a realização do que
inegavelmente tentaram relatar.
Além disso, as ações voltadas à inserção da EA e Paisagismo na EI no CEMEI Paulo
Freire, são executados por professores como tema transversal, mas com pouca ênfase e
importância com que devem ser abordados demonstrando uma realidade preocupante paralela
a essa discussão, uma vez que o CEMEI dispõe de um jardim, mas sem uso de cunho
pedagógico.
Em síntese, apresente pesquisa permitiu perceber que a concepção dos gestores em
relação à EA, está posicionada no campo da preocupação com a preservação do meio
ambiente (concepção tradicional). Tal posicionamento envolve o caráter do gestor,
comprometimento social e também com os anseios que considera nortear a sociedade. Não é,
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portanto, proporcional ao seu envolvimento em projetos e ações efetivas que possam
favorecer e possibilitar essa inserção, seja no currículo, no funcionamento educacional e na
formação inicial e continuada de professores.
Para que este contexto seja diferente sugere-se integrar um programa de formação
inicial e continuada para esses gestores e professores com temas atuais e diversificados
difundindo a EA como um componente essencial refletido na concepção de transversalidade.
Não será necessário convencê-los da relevância do tema, o que é extremamente favorável. A
discussão poderá explorar os conteúdos convencionais e em potencial sobre o meio ambiente,
incorporando diferentes graus de interdisciplinaridade, em que esses gestores possam
empenhar-se na construção coletiva na promoção da educação ambiental com novos olhares,
dando importância aos PCNs que são documentos de referência para professores e gestores;
por que não? Já que indicam que comportamentos ambientalmente corretos sejam trabalhados
no cotidiano escolar (BRASIL 1997, p.29). Onde a criança deve aprender desde cedo a cuidar
da natureza, por isso, é fundamental essa formação cultural, responsabilizando-as e educando-
as para o resto de suas vidas, buscando desenvolver hábitos e atitudes sadias de conservação
ambiental.
Portanto, pretende-se sugerir que os espaços verdes, como jardins e hortas existentes
na instituição, devem ser vistos como espaços privilegiados de cunho pedagógico, cujo intuito
seja propiciar às crianças vivencias práticas sobre EA, possibilitando momentos de
aprendizado de forma lúdica, através de seus espaços verdes que se ampliam dos espaços de
sala de aula, levando as crianças a aprenderem a respeitar a natureza, tornando as atividades
em maneiras prazerosas ao plantar, cuidar, aprender, pois é através de pequenas atitudes que
podemos promover transformações significativas para nossas vidas.
Finalmente, podemos dizer que o papel do gestor é acima de tudo, promover um
ambiente adequado, aglutinando, de forma democrática, o fazer pedagógico, onde todos os
agentes envolvidos no processo ensino aprendizado sejam promotores ativos na concretização
de uma educação ambiental que assegure a formação de sujeitos conscientes do seu papel no
mundo.
Recebido em: Janeiro de 2015
Aceito em: Junho de 2015
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