Efeitos das substâncias psicoativas

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 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA Secretaria Nacional de Polícas sobre Drogas Módulo 2 Efeitos das substâncias psicoavas 5ª Edição Brasília 2014

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 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Secretaria Nacional de Polícas sobre Drogas

Módulo 2

Efeitos das substâncias psicoavas

5ª Edição

Brasília2014

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Módulo 2

Efeitos de substâncias psicoavas

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Presidenta da RepúblicaDilma Rousse 

Vice-Presidente da RepúblicaMichel Temer

Ministro da JusçaJosé Eduardo Cardozo

Secretário Nacional de Polícas sobre DrogasVitore Andre Zilio Maximiano

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 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Secretaria Nacional de Polícas sobre Drogas

Módulo 2

Efeitos das substâncias psicoavas

5ª Edição

Brasília2014

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SUPERA - Sistema para detecção do Uso abusivo

e dependência de substâncias Psicoavas:

Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e

Acompanhamento

Desenvolvimento do projeto original: Paulina do Carmo

Arruda Vieira Duarte e Maria Lucia Oliveira de Souza

Formigoni

© 2014 Secretaria Nacional de Polícas sobre Drogas –

SENAD | Departamento de Psicobiologia | Departamento

de Informáca em Saúde | Universidade Federal de São

Paulo - UNIFESP

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida,

desde que citada a fonte.

Disponível em: CD-ROM

Disponível também em: www.supera.senad.gov.br 

Tiragem desta edição: 16.500 exemplares

Impresso no Brasil/ Printed in Brazil

Edição: 2014

Elaboração, distribuição e informações:

Secretaria Nacional de Polícas sobre Drogas – SENAD

Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Anexo II, 2º andar, sala

213 Brasília/DF – CEP 70604-900

www.senad.gov.br 

Unidade de Dependência de Drogas (UDED) |

Departamento de Psicobiologia | Universidade Federal de

São Paulo (UNIFESP)

Rua Napoleão de Barros, 1038 | Vila Clemenno |CEP 04024-003 | São Paulo - SP

Homepage: www.supera.senad.gov.br

E-mail: [email protected]

Equipe Editorial

Coordenação 5ª edição

Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni

Supervisão Técnica e Cienca

Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni

 

Revisão de Conteúdo

Equipe Técnica - SENADDiretoria de Arculação e Coordenação de Polícas sobre

Drogas

Coordenação Geral de Polícas de Prevenção, Tratamento

e Reinserção Social

Equipe Técnica - UNIFESP

Eroy A. Silva

Keith Machado Soares

Monica Parente Ramos

Yone G. Moura

Desenvolvimento da Tecnologia de Educação a Distância

Departamento de Informáca em Saúde da UNIFESP

Coordenação de TI: Fabrício Landi de Moraes

Projeto Gráco

Silvia Cabral

Diagramação e Design

Marcia Omori

  E27

Efeitos de substâncias psicoavas: módulo 2. – 5. ed. – Brasília: Secretaria Nacional de

Polícas sobre Drogas, 2014.

144 p. – (SUPERA: Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência desubstâncias Psicoavas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e

Acompanhamento / coordenação [da] 5. ed. Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni)

ISBN 978-85-85820-62-6

1. Drogas – Uso – Abuso I. Formigoni, Maria Lucia Oliveira de Souza 

II. Brasil. Secretaria Nacional de Polícas sobre Drogas III. Série.

CDD – 613.8

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Sumário

Introdução do módulo ........................................................................................................................9

Objevos de ensino  ...........................................................................................................................10

Capítulo 1: Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitos biológicos comunsàs drogas de abuso .................................................................................................................... 11

O cérebro e o meio ambiente na vulnerabilidade à dependência de substâncias ............................12

Um pouco de história  ........................................................................................................................12

Sistema de recompensa cerebral  ......................................................................................................14

Aspectos comportamentais relacionados ao consumo de drogas de abuso ....................................16

Aspectos neurobiológicos relacionados ao processo de absnência da droga ................................19

Fissura (Craving)  ................................................................................................................................19

Papel do ambiente e da genéca  ......................................................................................................20

Avidades  ..........................................................................................................................................24

Bibliograa  ........................................................................................................................................26

Capítulo 2: Drogas depressoras (benzodiazepínicos, inalantes, opiáceos): efeitos agudos ecrônicos .................................................................................................................................... 27

Benzodiazepínicos  .............................................................................................................................28

Solventes ou inalantes  ......................................................................................................................31Opiáceos  ............................................................................................................................................36

Avidades  ..........................................................................................................................................39

Bibliograa  ........................................................................................................................................41

Capítulo 3: Álcool: efeitos agudos e crônicos ............................................................................ 43

Álcool é uma droga psicotrópica .......................................................................................................44

Bebidas alcoólicas e seus efeitos no organismo ................................................................................47

Álcool e bebidas energécas .............................................................................................................53

Álcool e trânsito  ................................................................................................................................54

Álcool e níveis de glicemia  ................................................................................................................55

Álcool e gravidez  ...............................................................................................................................61

Dependência de álcool  ......................................................................................................................64

Avidades  ..........................................................................................................................................66

Bibliograa  ........................................................................................................................................68

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Capítulo : Drogas esmulantes anfetaminas, cocaína e outros: efeitos agudos e crnicos .... 69

Cocaína  ..............................................................................................................................................70

Anfetaminas  ......................................................................................................................................72

Nicona  .............................................................................................................................................78

Avidades  ..........................................................................................................................................80

Bibliograa  ........................................................................................................................................82

Capítulo 5: Crack: um capítulo à parte ....................................................................................... 85

O que é o crack?  ................................................................................................................................86

Epidemiologia  ....................................................................................................................................87

A ação da droga no Sistema Nervoso Central ...................................................................................88

Danos sicos  ......................................................................................................................................90

Danos psíquicos  .................................................................................................................................94

Abordagens terapêucas  ..................................................................................................................96

Avidades  ........................................................................................................................................102

Bibliograa  ......................................................................................................................................105

Capítulo 6: Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros): efeitos agudos e crônicos................................................................................................................................................ 109

Drogas perturbadoras  .....................................................................................................................110

Indólicos (LSD, psilocibina e DMT) ..................................................................................................111

FEAs - Fenilelaminas (mescalina e êxtase) ....................................................................................114

Ancolinérgicos  ...............................................................................................................................117

Anestésicos dissociavos (fenciclidina e ketamina) ........................................................................118

Canabinoides – maconha ................................................................................................................118

Avidades  ........................................................................................................................................122

Bibliograa  ......................................................................................................................................124

Capítulo 7: Problemas médicos, psicológicos e sociais associados ao uso abusivo de álcool e

outras drogas ......................................................................................................................... 125Problemas associados ao uso de substâncias .................................................................................126

Carga global do uso de álcool e outras drogas ................................................................................127

Problemas sociais  ............................................................................................................................130

Problemas psíquicos e comorbidades .............................................................................................132

Repercussões médicas do uso abusivo de álcool e outras drogas ..................................................132

Avidades  ........................................................................................................................................140

Bibliograa  ......................................................................................................................................142

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Introdução do módulo

Sabe-se hoje que fatores neurobiológicos inuenciam de forma importante tanto o início

quanto a manutenção dos sintomas da dependência de substâncias psicotrópicas. Este

módulo traz a você informações sobre as estruturas cerebrais, os mecanismos de reforço

e recompensa, as inuências do ambiente e da genéca na dependência. Em seguida você

conhecerá os principais efeitos das drogas psicotrópicas. Aliás, você conhece a denição

de drogas e sabe qual a diferença entre droga psicoava e psicotrópica? Vamos recordar:

“Droga”, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é: qualquer substância que é

capaz de modicar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças siológicas

ou de comportamento. Aquelas que modicam a avidade do sistema nervoso central,

aumentando-a (esmulantes), reduzindo-a (depressoras) ou alterando nossa percepção(perturbadoras) são chamadas de psicoavas. Dentre as drogas psicoavas algumas são

procuradas (“tropismo”) pelos seus efeitos prazerosos, podendo levar ao seu uso abusivo

ou dependência – estas são chamadas de psicotrópicas.

No capítulo sobre drogas depressoras, você saberá quais são, seus efeitos, sinais e sintomas.

Dentre elas são destacados os opiáceos, muito importantes na medicina pelo seu poder

analgésico. Um capítulo inteiro deste módulo é dedicado ao álcool, já que esta é uma droga

lícita, mas cujo uso abusivo consiste em um grave problema de saúde pública.

Na sequência são apresentadas as drogas esmulantes, como a cocaína, as anfetaminas e a

nicona, e as drogas perturbadoras, como a maconha, LSD-25, êxtase e outras, e quais são

seus efeitos agudos e crônicos.

Os problemas causados pelo uso do crack não são muito diferentes daqueles causados

pelo uso abusivo de outras drogas. No entanto, o rápido aumento do seu consumo entre

crianças, adolescentes e adultos, principalmente entre aqueles em situação de rua, no Brasil,

tem pressionado governos e a sociedade civil para o desenvolvimento e a implementação

de ações terapêucas efevas. Assim, um capítulo inteiro deste módulo traz desde a

epidemiologia do crack até as abordagens terapêucas mais recentes.

Este módulo é encerrado com uma descrição dos problemas médicos, psicológicos e sociaisassociados ao uso abusivo do álcool e outras drogas.

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Objetivos de ensino

 Ao final do módulo, você será capaz de:

9 Descrever o modo de ação das principais drogas psicoavas, seus efeitos

agudos e crônicos;

 9 Conceituar e citar exemplos de drogas esmulantes, depressoras e

perturbadoras do Sistema Nervoso Central (SNC);

 9 Denir os mecanismos de reforço e recompensa das drogas de abuso;

 9 Idencar os principais efeitos agudos e crônicos das drogas de abuso no SNC

e em outros sistemas orgânicos; 9 Enumerar os principais problemas médicos, psicológicos e sociais associados

ao uso abusivo das drogas de abuso.

Capítulos

1. Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitos biológicos

comuns às drogas de abuso2. Drogas depressoras (benzodiazepínicos, inalantes, opiáceos): efeitos agudos e

crônicos

3. Álcool: efeitos agudos e crônicos

4. Drogas esmulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos e

crônicos

5. Crack: um capítulo à parte...

6. Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros): efeitos agudos e

crônicos7. Problemas médicos, psicológicos e sociais associados ao uso abusivo de álcool

e outras drogas

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Neurobiologia: mecanismos de reforço

e recompensa e os efeitos biológicoscomuns às drogas de abuso

TÓPICOS

 9 O cérebro e o meio ambiente na vulnerabilidade à

dependência de substâncias 9 Um pouco de história

 9 Sistema de recompensa cerebral

 9 Aspectos comportamentais relacionados ao consumo dedrogas de abuso

 9 Aspectos neurobiológicos relacionados ao processo deabstinência da droga

 9 Fissura (“Craving”)

9Papel do ambiente e da genética

 9 Atividades

 9 Bibliografia

Capítulo

1

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

O cérebro e o meio ambiente navulnerabilidade à dependência desubstâncias

Muito prováv el que você já tenha se perguntad o al gum dia: Por que algumaspessoas se tornam dependentes de substâncias psicoativas e outras não?

A dependência de substân cias pode ser entendida como uma al teraç ão cerebral

(neurobiológica) provocad a pela aç ão direta e prolongad a de uma droga de ab uso

no encéfalo. Essas alterações são inuenciadas por aspectos ambientais (sociais,

culturais, educacionais), comportamentais e genécos.

Ao longo do tempo, muitas ideias diferentes sobre esse assunto foram divulgadas.

oje, é possível armar que existem vários fatores envolvidos nesse processo,

como se pode ver na gura abaixo:

Fatores que influenciam no desenvolvimento da dependência de drogas

Um pouco de históriaEm meados do século I, algumas teorias sobre movação armavam que o

comportamento dependente resultava de “insntos subconscientes”. Contudo,

nenhuma dessas teorias conseguia explicar adequadamente todos os elementos

envolvidos na dependência de substâncias, incluindo os aspectos psicológicos e

neurobiológicos. Foi no início da década de quarenta, no século passado, que

 As teorias diferemquanto ao peso

atribuído aos fatoresque influenciam oestabelecimentoda dependência

de drogas.

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

surgiu uma nova explicação para a dependência, abrangendo conceitos tanto da

psicologia como da psiquiatria. Essa teoria, chamada de “teoria do reforço”, foitestada em laboratórios de pesquisa. Um trabalho pioneiro, realizado por Spragg,

demonstrou que chimpanzés se administravam drogas voluntariamente.

Após receberem repedamente drogas opioides, os chimpanzés “pediam a droga”

ao pesquisador - isto é, assumiam a posição própria para receber as injeções da

droga, contrariando o esperado de seus comportamentos insnvos programados

genecamente. Isso aguçou a curiosidade da comunidade cienca por esse

tema.

Olds e Milner, em 5, observaram que ratos com eletrodos (os elétricos)

introduzidos em certas regiões profundas do cérebro “trabalhavam” (isto é,baam as patas em barras, como observado na gura abaixo) para receber

um esmulo elétrico naquela região. Eles apresentavam o comportamento de

“autoesmulação” de forma tão exagerada que, às vezes, deixavam de comer

e dormir. Observou-se que somente um número limitad o de regiões cerebrai s

desencadeava tais comportamentos. As esmulações elétricas nessas regiões

também faziam com que os animais apresentassem comportamentos naturais

de consumo de água e comida, implicando em sensações de recompensa e

movação.

Os cienstas descobriram que as mesmas regiões cerebrais que provocavam“autoesmulação” também são as regiões avadas pelas drogas de abuso.

As principais vias neurais envolvidas nesse circuito movacional são as vias

mesolímbica e mesocorcal

As drogas de abuso esmulam as

mesmas regiões do cérebro que induzem

autoesmulação elétrica em animais e que

são avadas em situações prazerosas.

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

4SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Sistema de recompensa cerebral

Cada droga de abuso tem o seu mecanismo de ação parcular, mas todas elas

atuam, direta ou indiretamente, avando uma mesma região do cérebro: o

sistema de recompensa cerebral . Esse sistema é formad o por circuitos neuronai s

responsáveis pelas ações reforçadas posivamente e negavamente. uando nos

deparamos com um esmulo prazeroso nosso cérebro lança um sinal (aumento

de dopamina – importante neurotransmissor do SNC (Sistema Nervoso Central)

 – no núcleo accumbens – região central do sistema de recompensa e importan te

par a os efeitos das drogas de ab uso).

Normalmente existe um aumento de dopamina com esmulos prazerosos:

comida, avidade sexual, esmulos ambientais agradáveis, como olhar para uma

pai sag em bonita ou escutar uma música da qual gostam os. As drogas de abuso

agem no neurnio dopaminérgico representado na gura abaio, induzindo

um aumento brusco e eacerbado de dopamina no núcleo accumbens,

mecanismo comum para pracamente todas as drogas de abuso  Esse sinal é

reforçador, associado a sensações de prazer, fazendo com que a busca pela droga

se torne cada vez mais provável.

Inúmeros estudos demonstraram que as drogas de abuso ou esmulos ambientais

naturais (comer, beber água, fazer sexo, ouvir uma boa música), reconhecidos pelo

organismo como prazerosos, geram mudanças no cérebro, mais precisamente

nas substâncias químicas chamadas “neurotransmissores”, responsáveis pela

comunicaç ão entre os neurônios.

Neurôniodopaminérgico da via

mesolímbica, que parteda área tegmentar

ventral (lado esquerdoda figura) e inerva onúcleo accumbens

(lado direito da figura).

tanto com o sistema límbico (associado às emoções)como com os principais centros responsáveis pela

memória (amígdala e hipocampo).

Sistema derecompensa

cerebral: caracterizado por

seus componentescentrais (núcleo

accumbens, áreategmentar ventral e

córtex pré-frontal)e seu envolvimento

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

As drogas de abuso agem sobre muitas estruturas do SNC, mas a ação sobre o

sistema mesolímbico e o sistema mesocorcal, que juntos constuem o sistemade recompensa cerebral, é de fundamental importância.

O sistema mesolímbico (seta em verde na gura a seguir) é composto por

projeções dopaminérgicas que partem da área tegmentar ventral e chegam,

principalmente, ao núcleo  accumbens. A ár ea tegmentar ventral é onde se

localizam os corpos neuronais dopaminárgicos; a mesma também é responsável

pelas projeções desses neurônios par a as demai s estruturas do sistema de

recompensa e o núcleo  accumbens  é responsável pelo aprendizado e pela

movação, bem como pela valorização de cada esmulo. importante salientar

que existem projeções dopaminérgicas para outras estruturas cerebrais, taiscomo o hipocampo, estrutura associada com aprendizagem e memória espaciais;

e a amígdala, estrutura responsável pelo processamento do conteúdo emocional

de esmulos ambientais. O sistema mesolímbico está relac ionad o ao mecan ismo

de condicionamento ao uso da substância, bem como à ssura, à memória e às

emoções ligad as ao uso.

O sistema mesocorcal  (seta em azul-claro na gura abaixo) é composto pela

área tegmentar ventral, pelo córtex pré-frontal, pelo giro do cíngulo e pelo córtex

orbitofrontal. O córtex pré-frontal é responsável pelas funções cognivas

superiores e pelo controle do sequenciamento de ações. O giro do cíngulo, porestar localizado acima do corpo caloso, tem conexões com diversas outras

estruturas do sistema límbico e tem as seguintes funções: atenção, memória,

regulação da avidade cogniva e emocional; o córtex orbitofrontal é responsável

pelo controle do impulso e da tomada de decisão. Portanto, as alterações que

ocorrem no sistema mesocorcal em decorrência do consumo de substâncias

psicoavas estão relacionadas com os Efeitos de substâncias psicoavas,

compulsão e perda do controle par a o consumo de drogas .

Representação de umcorte sagital médio

do encéfalo humano

com a marcaçãodas principais

áreas do sistemade recompensa

cerebral. O sistemadopaminérgico

mesolímbico estárepresentado pelaseta em verde e o

sistema dopaminérgicomesocortical estárepresentado pelaseta em azul-claro.

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

6SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Ambos os sistemas, mesolímbico e mesocorcal, relacionam-se, funcionando

paralelamente entre si e com as demais estruturas cerebrais e conguram osistema de recompensa cerebral .

A dopam ina é o principal neurotran smissor presente no sistema de recompensa

cerebral, porém não é o único responsável por sua ação. Neurotransmissores

como a serotonina, noradrenalina, glutamato e o ABA são responsáveis pela

modulação do SNC e também estão presentes no sistema de recompensa.

A aç ão das drogas de ab uso sobre o sistema de recompensacerebral pode levar ao desenvolvimento da dependência.

 Aspectos comportamentaisrelacionados ao consumo de drogasde abuso

O termo reforço, bastante usado nessa área, refere-se a um esmulo que fará

com que um determinado comportamento ou resposta se repita, devido ao

prazer que causa reforço posivo, ao “desprazer ” ou desconforto que alivia

reforço negavo.

Por eemplo: quando você come uma comida deliciosa (por exemplo, um

bombom de chocolate), mesmo sem estar com fome, a comida é um reforço

posivo. uando você come uma comida de que não gosta, somente porque

está com muita fome e aquela é a única comida disponível, a comida é um reforço

negavo, porque alivia uma sensação ruim, de desconforto – a fome.

Como as drogas de abuso aumentam a liberação de dopamina no núcleo

accumbens, as pessoas podem usar drogas porque querem ter uma sensação de

bem-estar, de alegria reforço posivo.

Mas as pessoas também podem usar drogas porque estão tristes, deprimidas ou

ansiosas e querem aliviar essas sensações ruins – nesse caso, procuram a droga por

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

seu poder reforçador negavo. Essa propriedade reforçadora da droga, causando

prazer ou aliviando sensações ruins (por exemplo, a síndrome de absnência naausência da droga), aumenta a chance da reulização da droga.

O uso repedo de drogas de abuso produz alterações no SNC que podem levar

à alterações comportamentais (tolerância eou sensibilização). Essas alterações

comportamentais contribuem para aumentar a “saliência” do incenvo e o

“desejo de consumir mais drogas”.

uando uma droga é administrada repedamente e não provoca mais o mesmo

efeito, ou é preciso aumentar a dose para ter a mesma sensação, diz-se que a

pessoa está “tolerante” àquele efeito da droga. Esse fenômeno, a tolerância, é

comumente encontrad o nas pessoas que se tornar am dependentes das drogas .Isso é relavamente comum com drogas depressoras, como benzodiazepínicos,

bar bitúricos e al tas doses de ál cool.

LEMBRE-SE:

 9 Perda de tolerância: após período de absnência,

a tolerância pode ser perdida, levando a overdoses

ac identai s.

 9 Reaquisição da tolerância: após o período de “perda de

tolerância”, a reaquisição ocorre de maneira mais rápida

que a aq uisição inicial .

 9 Síndrome de Absnncia: Na AUSÊNCIA da droga, muitas

dessas ad ap taç ões se tornam disfuncionai s e podem

desencadear uma série de sintomas, em geral, opostos

aos efeitos agudos da droga e que podem ser reverdos

pela administração de novas quandades de droga.

As adaptações levam a um novo estado de equilíbrio,

mas às custas de alterações importantes em muitossistemas, que são funcionais SOB a ação da droga, mas

disfuncionai s na au sência da droga.

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Outras substâncias podem desencad ear um efeito inverso ao da tolerân cia – ao

invés de uma redução do efeito ocorre um aumento do efeito após repedasadministrações. Esse processo é chamado de sensibilização e ocorre com drogas

esmulantes, como anfetamina e cocaína, ou com doses baixas de álcool. Sabe-se

que a tolerância e a sensibilização estão relacionadas, pelo menos em parte, com

a forma de uso da droga (interval o entre as doses e via de uso).

Veja no gráco como podem ser mostradas a tolerância e a sensibilização aos

efeitos das drogas .

Par a al guns efeitos (em geral depressores)

ocorre tolerância, mas para outros

(esmulantes da avidade locomotora,

por exemplo) ocorre sensibilização.

A sensibilização pode ser mensurada de forma comportamental pelo aumento

progressivo dos efeitos motores (e locomotores) cau sad os pela ad ministraç ão

repeda das drogas de abuso. Veja na gura abaixo.

Sensibilização: a mesma dose inicial pas sa

a desencad ear um efeito inicial mai or.

 

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 Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni, Félix Kessler, Flávio Pechansky, Carmen Florina Pinto Baldisserotto, Karina Possa Abrahã

Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Aspectos neurobiológicos relacionadosao processo de abstinência da drogaNos estados de absnncia das drogas de abuso, em geral, a pessoa apresenta

sintomas opostos ao s observad os quan do ela está sob o efeito ag udo das drogas .

Nesses casos, observa-se uma “ depleção” dos níveis de dopamina (isto é, uma

redução importante devida ao excesso de liberação que ocorreu durante o uso da

droga), principalmente no núcleo accumbens. Provavelmente isso desencad eie

um forte desejo (“ ssura”) de usar a droga novam ente.

Fissura (Craving )

Esse fenômeno é descrito como um desejo urgente e quas e incontroláv el de usar

a substância, que invade os pensamentos do usuário de drogas, alterando o seu

humor e provocando sensações sicas e modicação do seu comportamento.

Vários estudos relatam que a ssura está ligada tanto a desencadeadores externos

(a própria droga, locais ou situações de uso) como internos (humor deprimido,

ansiedade). Pesquisas de neuroimagem – por tomograa computadorizada comemissão de fóton único (SPECT), tomograa por emissão de pósitron (PET) ou

ressonância magnéca funcional (FMRI) – analisaram a ssura ulizando vídeos

com imagens relacionadas à droga e compararam com vídeos neutros eou com

esmulos erócos, cenas tristes ou alegres. Observou-se que, em algumas regiões

cerebrais, usuários crônicos de cocaína têm o uxo sanguíneo diminuído (avaliado

na SPECT), e esse dado é semelhante aos observados em algumas alterações

psiquiátricas, como psicose e mania. Observou-se que tanto o uso agudo como

o uso crônico de drogas provocam mudanças na função cerebral, e que elas

persistem por longo tempo após a rerada da substância. Essas modicaçõesmanifestam-se na avidade metabólica, na sensibilidade e quandade de

receptores sinápcos, e na expressão gênica, gerando diferentes respostas aos

esmulos ambientais.

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Papel do ambiente e da genética

MECANISMOS DE APRENDIZADO E MEMÓRIA

Algumas das questões mais discudas pelos estudiosos da área são:

 9 uais são e como ocorrem as transformações biológicas na

dependência de drogas ?

 9 De que forma essas alterações são “gravadas” no cérebro a ponto de

modicar o comportamento do animal ou da pessoa mesmo após acessaç ão do efeito da substân cia?

Os mecan ismos molecular es que se relacionam com os efeitos das drogas

de abuso, a longo prazo, podem ser divididos em duas classes principais: as

adaptações omeostácas e o aprendizado associavo.

 9 As ad aptações homeostácas são as respostascompensatórias das células à exposição repeda à drogade ab uso.

 9 O aprendizado associavo representa alteraçõespermanentes ou de longo prazo que ocorrem na sinapse

(espaç o entre os neurônios) e que contêm códigos que

armazenam informações especícas, atuando como uma

“memória celular”.

á vários indícios de que esmulos ambientais podem alterar o risco de usar

drogas. o que se chama de “condicionamento” ao ambiente. Por exemplo:quem tem um animal de esmação, um cachorro, percebe que o simples fato de

pegar a vasilha na qual se colocará a comida do animal, ou levantar da mesa de

refeições, faz com que o cachorro se agite e corra para o local no qual se costuma

dar a comida, “antecipando” a recompensa.

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Com as drogas de abuso acontece coisa parecida:

A simples visão do local no qual o usuário costumava usar a droga pode esmulara vontade de usá-la, porque ocorreu uma associação entre o ambiente e o efeito

da droga. Outro indício da importância do ambiente é o papel do estresse na

dependência, que costuma esmular o uso de drogas. muito comum ver em

lmes e novelas pessoas usando bebidas alcoólicas para “relaxar”, para lidar com

estresse.

Parte desse comportamento é socialmente “aprendido” e outra parte é uma

associação entre o efeito ansiolíco (redutor da ansiedade) de algumas drogas e

a situaç ão estressan te.

Por outro lado, alguns estudos mostraram que certas condições ambientais, comoviver em um ambiente rico em esmulos posivos, com acesso a mais recursos ou

estresse diminuído, podem reduzir a autoadministração de drogas. O hábito de

consumo de álcool por determinadas famílias também pode ser um fator de risco

ao desenvolvimento de dependência.

GENÉTICA

Os fatores genécos desempenham outro papel importante no desenvolvimen-

to da dependência química. Estudos epidemiológicos têm estabelecido há muitotempo que o alcoolismo, por exemplo, possui um componente familiar prepon-

derante, com uma esmava de a do risco para o desenvolvimento des-

se transtorno. Parte dessa inuência é devida a caracteríscas herdadas por meio

dos genes. Como exemplo: predisposição genéca a algumas doenças psiquiátri-

cas ou o nível de prazer sendo pelo consumo da droga podem estar associados

ao desenvolvimento de dependência.

O fato de exisr uma inuência genéca, uma maiorvulnerabilidade, NO signica que a dependência de álcool

seja completamente herdada, que seja algo pré-determinado.

Entretanto, pessoas com história familiar de dependência

devem ser al ertad as par a o fat o de que têm mai or risco de

desenvolverem um problema semelhan te ao s pai s do que a

populaç ão em geral .

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Capítulo

1

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Estudos sobre a inuência de fatores genécos no desenvolvimento do alcoolismo

encontrar am uma relaç ão entre a grav idad e da dependência e a presença do al elo

A do receptor DRD2 de dopamina (Blum et al., ).

Esse alelo está associado à baixa responsividade à dopamina. Isto é, pessoas com

esse gene teriam mai or chan ce de desenvolver quad ros grav es de dependência de

álcool, e isso parece ter relação com seus níveis basais mais baixos de dopamina.

Além disso, há muitos estudos sobre a inuência de outros genes na dependência

de álcool.

PARA FINALIZAR!

Segundo alguns autores, a maioria dos aspectos neurobiológicos (estudados neste

capítulo) das dependências pode ser resultante da desregulação dos mecanismos

moleculares, ligados à memória de longo prazo, que futuramente poderão ser

modicados por medicações especícas.

á os comportamentos alterados, decorrentes dessa desregulação, podem com

frequência ser suprimidos, pelo menos por um período, por mecanismos de

controle que requerem funções do córtex frontal (através da lógica e da razão) eque podem ser treinados pelas técnicas de tratamento psicoterápicas. Contudo,

devido à natureza desses comportamentos e à intensidade das mudanças

biológicas associadas, não é surpreendente que, apesar dos esforços, ocorram

recaídas.

As pesquisas no campo da dependência de substâncias evoluíram muito nos

úlmos trinta anos, principalmente em relação aos aspectos comportamentais

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

e neurobiológicos envolvidos na busca e no consumo de drogas, e já trouxeram

grandes descobertas, como algumas medicações que ajudam a diminuir a ssurapelas drogas. provável que nos próximos anos novos estudos, principalmente

sobre o papel das mudanças nas expressões gênicas e os mecanismos moleculares

da memória, tragam novas formas de abordagem desse complexo transtorno.

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Capítulo

1

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Atividades

REFLEXÃO

Como o entendimento das alterações neurobiológicas pode ajudar no

desenvolvimento de novas formas de intervenção?

TESTE SEU CONHECIMENTO

Em relação ao sistema de recompensa cerebral é CORRETO  armar que:

a) formado por uma única via neuronal.

b) Consiste somente na liberação de dopamina, neurotransmissor

responsável pela sensação de prazer e bem-estar.

c) O sistema mesolímbico e o sistema mesocortical fazem parte dele.

d) ativado apenas por drogas psicoativas.

Dependência de drogas de abuso é considerada:

a) Uma alteração cerebral influenciada por fatores ambientais, afetando

o comportam ento.

b) Apenas um problema de personal idad e.

c) Uma questão genética.

d) Um problema educac ional e cultural .

Em relação ao fenmeno da tolerância ao efeito da droga de abuso, podemos

armar que:

a) O indíviduo sempre precisa da mesma quantidade da droga para

sentir seus efeitos.

b) Durante a abstinência pode ocorrer uma rápida perda de tolerância, o

que é perigoso nos episódios de recaída.

c) A tolerância só ocorre em cas os de uso esporád ico da droga de ab uso.

d) Não existe associação entre os processos de dependência e tolerância.

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Assinale verdadeiro V ou falso F:

( ) A fissura ocorre devido a al teraç ões neurobiológicas no cérebro dedependentes químicos.

( ) uando a fissura acontece, não há como evitar, o único desfecho é a

recaída.

( ) Existem técnicas cognitivo-comportamentais que podem ser ensinadas

ao pac iente par a que ele enfrente melhor a fissura e evite uma

recaída.

( ) O uso de psicofármac os tam bém é útil par a a j udar a diminuir a fissura

em al guns pac ientes.

 

A alternava CORRETA é:

a) V; V; V; F

b) F; V; V; V

c) V; F; V; V

d) F; V; V; F

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Neurobiologia: mecanismos de reforço e recompensa e os efeitosbiológicos comuns às drogas de abuso

Capítulo

1

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Bibliografia

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Drogas depressoras (benzodiazepínicos,

inalantes, opiáceos): efeitos agudos ecrônicos

TÓPICOS

 9 Benzodiazepínicos

 9 Solventes ou inalantes 9 Opiáceos

 9 Atividades

 9 Bibliografia

Capítulo

2

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oseli Boerngen de Lacerda, Luiz Avelino de Lacerda, José Carlos Fernandes Galduróz

Drogas depressoras (benzodiazepínicos, inalantes, opiáceos):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

2

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Benzodiazepínicos

São indicados terapeucamente, principalmente como tranquilizantes ou

ansiolícos, ou seja, diminuem a ansiedade, ou como hipnócos, pois facilitam a

indução do sono.

Também são empregados para controlar estados convulsivos, inclusive aqueles

decorrentes da síndrome de absnência ao álcool. Outros usos terapêucos desses

medicamentos incluem o relaxamento muscular e a sedação pré-anestésica.

Os benzodiazepínicos  podem ser classicados de acordo com

o tempo de meia-vida, isto é, o tempo que a droga permanece

no sangue até que metade dela tenha sido metabolizada e

eliminada:

 9 Longa duração (diazepam, urazepam);

 9 Média duração (lorazepam, alprazolam);

 9 Curta duração (triazolam, unitrazepam, temazepam,

midazolam).

Esses benzodiazepínicos de ação curta são os que apresentam omaior potencial de abuso.

 

Os ansiolícos reduzem a avidade em determinadas regiões do

cérebro, levando:

 9 diminuição de ansiedade;

 9 indução de sono;

 9 Ao relaxamento muscular;

 9 redução do estado de alerta;

 9 diculdade nos processos de aprendizagem e memória.

Essas drogas também prejudicam as funções psicomotoras, dicultando

avidades que eijam atenção, como dirigir automveis ou operar máquinas,

aumentando a probabilidade de acidentes

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Drogas depressoras (benzodiazepínicos, inalantes, opiáceos):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

2

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Além disso, é preciso alertar os pacientes para não usar essas substâncias

 juntamente com o álcool, pois seus efeitos são potencializados, provocandorisco de morte

O uso regular de benzodiazepínicos e de outros sedavos produz:

 9 Sonolência, vergem e confusão mental;

 9 Diculdade de concentração e de memorização;

 9 Náusea, dor de cabeça, alteração da marcha;

 9 Problemas de sono;

 9

Ansiedade e depressão; 9 Tolerância e dependência, após um período relavamente curto de

uso;

 9 Sintomas signicavos de absnência, na sua rerada abrupta;

 9 Overdose e morte, se usados com álcool, opiáceos ou outras drogas

depressoras .

EFEITOS TÓXICOS

São medicamentos relavamente seguros, sendo que a dose tóxica é cerca de 2

vezes maior que a terapêuca. Os principais efeitos tóxicos são: hipotonia muscular

(diculdade para car em pé, andar, dirigir), amnésia (perda de memória) e leve

diminuição da pressão sanguínea.

TERATOGENICIDADE

Essa palavra signica defeitos no feto, produzidos ainda no útero da mãe. Os

benzodiazepínicos podem provocar esses defeitos, principalmente se usados

pela mulher grávida no primeiro trimestre da gestação. Os mais comuns são

defeitos nos lábios e no céu da boca, como “lábios leporinos”, um espaço entre os

lábios superiores da criança, o que requer cirurgia logo após o nascimento. Mais

raramente, a criança pode nascer com problemas cardíacos.

ATENÇÃO! A gravidade do quadrode intoxicação pode seintensificar muito se a pessoa ingerir bebidaalcoólica junto com osbenzodiazepínicos, poiso efeito dos ansiolíticos

 fica potencializado(mais forte), podendolevar ao coma

(grande diminuiçãodo funcionamentocerebral), parada

respiratória eaté à morte.

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Capítulo

2

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TOLERÂNCIA E DEPENDÊNCIA

A Organização Mundial da Saúde recomenda a prescrição dos benzodiazepínicos

por períodos entre duas e quatro semanas, no máximo, e apenas nos quadros de

ansiedade ou insônia intensa. comum haver tolerância a esses medicamentos,

isto é, a pessoa precisa aumentar a dose que foi inicialmente recomendada pelo

médico para obter o mesmo efeito.

No entanto, a aplicação dos critérios diagnóscos para dependência (Apa, 22)

é limitada para essas drogas que têm indicação terapêuca.

Por exemplo: os critérios diagnóscos para dependência – uso connuado apesar

de problemas sicos ou psicológicos relacionados ao uso, esforços para reduziro uso e perda de interesse em avidades sociais e recreacionais devido ao uso –

não são indicavos de abuso ou dependência de benzodiazepínicos se a pessoa

apresenta um grave transtorno de ansiedade.

Mesmo tendo o conhecimento da possibilidade de ocorrer síndrome de

absnência, se a medicação for suspensa abruptamente os pacientes fazem uso

da droga para evitar o retorno do transtorno de ansiedade ou da insônia. O uso

abusivo ou a dependência dos benzodiazepínicos é mais comum em indivíduos

que abusam de outras drogas, como o álcool, opiáceos ou esmulantes.

 

Embora a compra desse po de medicamento seja controlada

(só pode ser vendido com a retenção de um receituário especial,

chamado de Nocação B, que tem a cor azul), essas substâncias

são bastante abusadas. s estudos mostram que em muitos

casos essas drogas são prescritas indevidamente e que as

muleres abusam mais delas que os omens

LEMBRE-SE:Quando alguém se

torna dependente debenzodiazepínicos, istoé, não consegue ficarsem usá-los, se pararrepentinamente podesofrer uma síndrome

de abstinênciaintensa. A síndrome

de abstinênciaconsiste em um

conjunto de sintomas,consequentesà retirada do

ansiolítico, geralmenteopostos aos do usoagudo: agitação,insônia, tremores,

irritabilidade,sudorese, náusea evômito, hipertensãoe dores de cabeça.

Eventualmente, podem aparecer

convulsões e delírio.

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Drogas depressoras (benzodiazepínicos, inalantes, opiáceos):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

2

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Solventes ou inalantes

Solvente signica “uma substância que dissolve outras”.

Os solventes têm a propriedade de se evaporar facilmente, e são inalados par a

obter alterações psíquicas, chamadas por alguns usuários de “barato”.

Essas substâncias fazem parte da composição de vários produtos de uso domésco

ou industrial, como colas (especialmente a cola de sapateiro), produtos de

limpeza que contêm nitritos (limpadores de cabeça de videocassete, limpadores

de couro, aromazadores líquidos para carro), lança-perfume (cloreto de ela),

combusveis (ner, aguarrás, removedores em geral, gasolina, gás de isqueiroetc.), produtos de beleza (spray   para cabelo, acetona, removedor de esmalte,

esmalte) e de papelaria (corretor líquido – “branquinho”), entre outros.

Razões típicas para uso de inalantes:

 9 Início do efeito rápido: por ser inalado, chega rapidamente ao pulmão

e de lá, pela pequena circulação, ao cérebro;

 9 ualidade e padrão dos efeitos: as pessoas relatam inicialmente uma

sensação de bem-estar e cabeça leve;

 9 Baixo custo;

 9 Facilidade de aquisição, grande disponibilidade de produtos, como

pode ser visto na tabela a seguir;

 9 Menos problemas legais do que com outras substâncias, pois em

muitos locais não há legislação especíca para sua venda;

 9 á uma grande variedade desses produtos, o que facilita o seu abuso.

O quadro a seguir mostra a diversidade de produtos voláteis conhecidos como

solventes ou inalantes.

SAIBA QUE:Popularmente

solventes e inalantes

são usados comosinônimos, mas

“solvente” se refereà propriedade dedissolver outras

substâncias e“inalante” à sua forma de uso.

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Capítulo

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Grupos químicos das substâncias voláteis mais comumente usadas para obtersensações prazerosas

PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS VOLÁTEIS GERALMENTE ABUSADAS

Classe química Produtos comercializados

Hidrocarbonetos

Alifácos

ButanoFluido de isqueiro; gás de

bojão

exanoner; ntas; contatos

adesivos; benzina

Propan o Fluido de isqueiro

Hidrocarbonetos

Aromácos

Tolueno (toluol;

melbenzeno; fenilmetano)

Vernizes; cola de sapateiro;

ntas.

ileno (xilol; dimelbenzano) Tintas; solventes de resina

(aguarrás); cola de madeira

Hidrocarbonetos

Alifácos

Aromácos

asolina (derivado do

petróleo)Combusvel

uerosene (derivado do

petróleo)Combusvel

Hidrocarbonetos

alogenados

Tricloroeleno Removedores doméscos demanchas

Cloreto de ela Anestésico

Clorofórmio Triclorometano) Anestésico

alotano (Triuobrometano) Anestésico

Freon 11

(Triclorouorometano)

Exntores de incêndio;

aerossóis; laquê para cabelos

,, Tricloroetano Fluido corretor

Compostos

igenados

Acetato e seus ésteres -melelcetona

Removedor de esmalte;esmalte

xido nitroso (dinitrogênio,

monoxigênio)“ás do riso“

Nitrito de isobula Sprays desodorizantes

ter (éter elico) Anestésico tópico Fonte: Adaptado de Flanagan Ives ()

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Capítulo

2

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

EFEITOS AGUDOS DOS INALANTES

Assim como ocorre com o álcool, os solventes são substâncias que têm efeito

bifásico, ou seja, causam uma excitação inicial, seguida por depressão do

funcionamento cerebral, cuja intensidade dependerá da dose inalada.

Os efeitos estão sumarizados no quadro a seguir:

EFEITOS CRÔNICOS DO USO DE INALANTES

Sintomas decorrentes da ação local dos inalantes:

 9 Rinite crônica; epistaxe (sangramento nasal) recorrente;

 9 alitose (mau hálito); ulcerações (feridas) nasais e bucais;

 9 Conjunvite;

 9 Bronquite.

Os nitritos (sprays e desodorantes) podem aumentar a excitação sexual, a ereção

e o relaxamento do esncter anal.

PRIMEIRA FASE

Ecitação: sintomas de euforia, excitação, tonturas,

perturbações audivas e visuais.

Efeitos indesejados: náuseas, espirros, tosse, salivação,

fotofobia e vermelhidão na face.

SEGUNDA FASEDepressão inicial do SNC: confusão mental,

desorientação, visão embaçada. Podem surgir cefaleia e

palidez.

TERCEIRA FASEDepressão média do SNC: redução ac entuad a do estad o

de alerta, incoordenação ocular e motora, fala pastosa e

perda de reexos.

QUARTA FASEDepressão profunda do SNC: inconsciência, podendo

ocorrer convulsões e mesmo morte súbita, por

problemas cardíacos ou parada respiratória.

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Capítulo

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Sintomas decorrentes da ação no Sistema Nervoso Central:

 9

Anorexia (perda do apete e perda de peso); 9 Irritabilidade;

 9 Depressão;

 9 Agressividade;

 9 Paranoia;

 9 Neuropaa periférica.

Razões associadas a mortes provocadas por inalantes:

 9 A principal causa de morte é arritmia cardíaca causada por umahipersensibilidade das bras do miocárdio, podendo provocar parada

cardíaca;

 9 Sufocamento – acidentes com o uso de saco plásco, pois no

momento da inalação a pessoa coloca o saco plásco na cabeça e

pode se sufocar;

 9 uedas – os solventes provocam vergens e tonturas, podendo levar a

quedas;

 9 Atropelamentos e outros acidentes de trânsito devidos à

incoordenação motora e ao prejuízo de reexos.

uso regular de inalantes está associado com:

 9 Vergem e alucinações, sonolência, desorientação, visão embaçada;

 9 Sintomas semelhantes a um resfriado, sinusite, sangramento nasal;

 9 Indigestão, úlceras estomacais;

 9 Acidentes e lesões;

 9 Perda de memória, confusão mental, depressão, agressão;

 9 Diculdade de coordenação, reexo diminuído, hipóxia (falta de

oxigênio no cérebro);

 9 Delírio, convulsões, coma, danos de órgãos (coração, pulmão, gado,

rins);

 9 Morte por disfunção cardíaca.

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Capítulo

2

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Perigos associados a algumas substâncias químicaspresentes em inalantes:

 9 Nitritos: suprimem a função imunológica, danicam as

hemácias, aumentam o risco de leucemia e são tóxicos ao

sistema reproduvo;

 9 Butano e propano: provocam problemas cardíacos e

queimaduras (são altamente inamáveis);

 9 Freon: causa morte súbita, por obstrução respiratória,

dano hepáco; 9 Cloreto de meleno: reduz a capacidade do sangue de

carregar o oxigênio, afeta o músculo cardíaco e aumenta

a frequência cardíaca;

 9 xido nitroso (gás do riso) e hexano: podem matar por

falta de oxigenação do cérebro, alteram a coordenação

motora e a percepção, causam blackouts (apagamento,

esquecimento do que aconteceu) devido a mudanças

da pressão sanguínea, reduzem o funcionamento do

músculo cardíaco; 9 Tolueno: altera a cognição, provoca a perda da massa de

tecido cerebral, do equilíbrio, da audição (surdez súbita)

e da visão, danos no gado e nos rins;

 9 Tricloroeleno: pode determinar morte súbita, cirrose

hepáca, danos à audição (surdez súbita) e à visão.

Como podemos reconecer uma pessoa que usa inalantes

Preste atenção aos sintomas que vimos acima e perceba se há fortes odores na

roupa ou no hálito, ou sinais de nta e outros produtos escondidos sob a manga

da roupa, se a pessoa parece bêbada ou desorientada, se sua fala está alterada,

se ela perdeu o apete ou relata náuseas, se está muito desatenta, irritável ou

deprimida.

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Capítulo

2

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Opiáceos

Os opiáceos são substâncias extraídas de uma planta

chamada popularmente de papoula (nome cienco:

Papaver somniferum), que, após cortada, elimina um

líquido leitoso branco, semelhante a um suco, que

ao secar passa a ser chamado de ópio, daí o nome

opiáceo.

Os opiáceos são drogas com grande importância na

medicina, pois são poderosos analgésicos. Entretanto,

também são usados como drogas de abuso, e sua

dependência pode se instalar rapidamente.

O pio  pode ser fumado, sendo esse hábito muito difundido no Oriente,

principalmente em séculos passados. A parr do ópio obtém-se a morna (um

potente analgésico) e a codeína (potente inibidor da tosse). A parr dos opiáceos

naturais podem ser criados os opiáceos semissintécos, como a heroína

(diamorna), que é um derivado diacelado da morna. A heroína é mais

lipossolúvel (se dissolve em gordura) do que a morna e ange o SNC mais

rapidamente.

Os opiáceos sintécos são construídos em laboratório por cópia e modicação

da estrutura química da morna. Eemplos: meperidina e propoxifeno, que são

usados na clínica como potentes analgésicos.

O organismo produz “nossa própria morfna” , isto é, substâncias analgésicas que

têm estruturas químicas semelhantes à da morna e, portanto, são designadas de

opioides endógenos: a dinorna, as encefalinas e as endornas.

A acupuntura e os exercícios sicos esmulam a liberação dessas substâncias

naturais, que agem esmulando estruturas celulares “receptoras”. Essas

mesmas estruturas (receptores de opioides) são

esmuladas pelas drogas opiáceas.

Na intoxicação aguda por opiáceos, no intuito de

reverter o efeito da droga pode ser usada uma

substância antagonista (bloqueia o efeito da

droga), como a nalorna e a naloxona.

VOCÊ SABIA?  A palavra Morfinaé derivada do nomedo Deus Grego dosSonhos “Morfeu”.

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Capítulo

2

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

OPIÁCEO OU OPIOIDE?

Nem todos os autores da área concordam sobre esse ponto e alguns usam asduas palavras como sinônimas, mas em geral usa-se a palavra piáceo  (ou

drogas opiáceas) quando nos referimos àquelas drogas que contêm ou são

derivadas do ópio – podem ser opiáceos naturais (morna, codeína) ou opiáceos

semissintécos, quando são resultantes de modicações parciais das substâncias

naturais (como é o caso da heroína).

A palavra opioide é usada para nos referirmos às substâncias produzidas pelo

nosso organismo (como as endornas, encefalinas e dinornas) que agem se

ligando aos receptores opioides endógenos. Alguns autores usam o termo

opioide também para se referir a substâncias totalmente sintécas, fabricadasem laboratório e que não são derivadas do ópio, como é o caso da meperidina, do

propoxifeno e da metadona, que são chamadas de opioides (isto é, semelhantes

aos opiáceos).

Efeitos dos opiáceos:

 9 Analgesia (reduz ou elimina a sensação de dor);

 9

Deprime o centro da tosse (por isso é usado em xaropes); 9 Diminui o peristalsmo intesnal, leva quase à paralisia e provoca

forte prisão de ventre (devido a esse efeito, alguns opiáceos

podem ser ulizados para combater diarreias intensas);

 9 Sonolência;

 9 Bradicardia (diminuição da frequência cardíaca);

 9 Bradipneia (diminuição da frequência respiratória);

 9 ipotensão arterial (diminuição da pressão) que pode chegar a

níveis graves;

 9 Acalmia: estado de serenidade, calma momentânea após umperíodo de agitação (efeito buscado pelas pessoas que fazem

abuso dos opiáceos);

 9 Miose - Contração acentuada da pupila, que pode chegar a car

do tamanho da cabeça de um alnete;

 9 Paralisia do estômago - a pessoa sente como se não fosse capaz

de fazer a digestão.

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Capítulo

2

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DEPENDÊNCIA E SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

A dependência dos opiáceos se instala com certa facilidade, porém isso não jusca

o cuidado excessivo de muitos médicos ao prescrever esses medicamentos.

A morna é um dos poucos medicamentos que abranda a dor e o sofrimento

provocados pelo câncer e pela AIDS.

Nesses casos, muitos pacientes sofrem desnecessariamente por falta do uso dos

opiáceos. A rganização Mundial da Saúde já alertou o nosso país, mais de

uma vez, pelo baio consumo desses medicamentos nos casos de doenças que

causam dores intensas

Os dependentes de opiáceos são tratados, geralmente, pela chamada terapia desubstuição. O usuário recebe diariamente uma dose de metadona, um agonista

dos opiáceos (tem efeito semelhante à droga opiácea que está sendo usada

abusivamente, mas com menor potencial de abuso), porém esse uso é controlado

por médicos e vai lentamente sendo diminuído ao longo do tempo. A metadona

tem efeito mais prolongado que a heroína, e menos intenso (principalmente em

relação aos efeitos no SNC).

A síndrome de absnência acontece quando a pessoa interrompe repennamente

o uso dos opiáceos e pode ser muito intensa, com midríase (dilatação da pupila),

dores generalizadas, náuseas e vômitos, diarreia, câimbras musculares, cólicasintesnais, lacrimejamento, corrimento nasal, sintomas que podem durar até 2

dias .

O uso regular de opiáceo está associado com:

 9 Coceira, náusea e vômito;

 9 Sonolência;

 9

Conspação, enfraquecimento dos dentes; 9 Diculdade de concentração e de memorização;

 9 Redução do desejo e do desempenho sexual;

 9 Diculdades de relacionamento;

 9 Problemas prossionais e nanceiros, violações da lei;

 9 Tolerância e dependência, sintomas de absnência;

 9 Overdose e morte por insuciência respiratória.

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Capítulo

2

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Atividades

REFLEXÃO

Se um paciente que vem tomando benzodiazepínico há alguns anos vier até

seu consultório e solicitar uma prescrição desse medicamento, qual seria sua

conduta?

TESTE SEU CONHECIMENTO

uem prescreve ansiolícos precisa orientar as pessoas para o fato de que

eles:

a) Podem provocar dependência.

b) Podem reduzir o efeito do álcool.

c) Podem melhorar os reflexos e a coordenação motora.

d) Todas as alternativas anteriores estão corretas.

s benzodiazepínicos são drogas que tm potencial para uso abusivo e

podem causar síndrome de absnncia quando o medicamento é suspenso

abruptamente São manifestações dessa síndrome:

a) Agitação, insônia e irritabilidade.

b) Tremores, hipertensão e dores de cabeça.

c) Sudorese, náusea e vômito.

d) Todas as alternativas estão corretas.

Dentre as causas mais comuns de morte provocada pelos solventes, citadas

a seguir, apenas uma está INCORRETA Assinale-a:

a) Atropelamentos.

b) Acidentes em geral.

c) Arritmia cardíaca.

d) Falência renal.

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Capítulo

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s solventes apresentam efeito bifásico, isto é, provocam uma ecitação

inicial e posteriormente um efeito depressor do sistema nervoso central Afrase está:

a) Completamente correta.

b) Completamente errada.

c) Parcialmente correta, pois os solventes apresentam um efeito bifásico,

mas ocorre inicialmente depressão e depois excitação.

d) Parcialmente correta, pois ocorre depressão inicial e posteriormente,

sonolência profunda, mas não há excitação.

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Capítulo

2

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Bibliografia

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Drogas depressoras (benzodiazepínicos, inalantes, opiáceos):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

2

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

alduróz CF. Inalantes (Solventes Orgânicos Voláteis). In: Seibel SD, Toscano r A(organizadores). Dependência de drogas. São Paulo: Atheneu; 2.

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Álcool: efeitos agudos e crônicos

TÓPICOS

 9 Álcool é uma droga psicotrópica

 9 Bebidas alcoólicas e seus efeitos no organismo

 9 Álcool e bebidas energéticas

 9 Álcool e trânsito

 9 Álcool e níveis de glicemia

 9 Álcool e gravidez

 9 Dependência de álcool

9 Atividades

 9 Bibliografia

Capítulo

3

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

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Álcool é uma droga psicotrópica

Par a muitas pessoas , DROGA  é somente aq uela substân cia cujo consumo é

proibido, ou seja, as cham ad as drogas ilícitas ou ilegai s. No entan to, é importan te

lembrar que existem as   DROGAS lícitas, aq uelas cuja venda e consumo são

permidos por lei. O álcool é uma delas. 

O uso ab usivo de ál cool é um grav e problema de saú de pública, responsáv el por

gran de número de doenças , sendo as sociad o a muitos ac identes e episódios de

violência, al ém de levar muitas pessoas a se tornar em dependentes.

O uso de ál cool é ac eito social mente e pode em al guns cas os não desencad earproblemas. Isso diculta lidar com o fato de que para cerca de das pessoas

este uso se torna ab usivo e gera problemas , entre eles a dependência.

 Uso de álcool

 9  VI Levantamento Nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas

entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública

e Privada de Ensino nas 27 capitais Brasileiras – 2010: o Uso Pesad o

(maior ou igual a 2 vezesmês) no Brasil foi de , dos estudantes,

sendo mai or o uso pesad o de ál cool em estudan tes de escolas públicas(,) se comparado com os estudantes das escolas privadas (,),

contudo o uso no an o de ál cool é mai or entre os estudan tes das

escolas privadas (,5) se comparado com as publicas (,).

 

Observe abaixo o uso no ano de álcool entre 5. estudantes de ensino

fundamental e médio das redes pública e privada das 2 capitais brasileiras, por

gênero de ac ordo com a rede de ensino.

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Uso na vida de álcool entre estudantes de ensino fundamental e médio da rede

pública das 2 capitais brasileiras, de acordo com o gênero, comparando-se osanos de 2 e 2.

 9 II Levantamento Domiciliar - 2005 o uso na vida de álcool nas

cidades com mais de 2 mil habitantes é de , e o uso pesado

(maior ou igual a 2 vezesmês) é de ,.

DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL – BRASIL E REGIÕES

Amostra total

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

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Faixa etária 12 a 17 anos

Tratamento relacionado ao uso excessivo de álcool ou outras drogas

Fonte: II Levantamento Domiciliar no Brasil (Carlini et al., 2)

Segundo o II LENAD (II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas) a prevalência

de dependência de álcool na população é de ,. O gráco apresenta o consumo

de álcool no úlmo ano por adultos, mostrando que houve uma leve redução no

consumo, comparando o ano de 2 com 22.

SAIBA QUE:Mesmo os

dependentesrelutam em procurar

tratamento. 

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Uso no último ano

Fonte: II LENAD (II Levan tam ento Nac ional de

Álcool e Drogas - hp:inpad.org.brp-content

uploads2LENADALCOOLResultados-

Preliminares.pdf)

Bebidas alcoólicas e seus efeitos no

organismoVamos conhecer um pouco mais sobre as bebidas alcoólicas e seus efeitos noorganismo?

O álcool presente nas bebidas alcoólicas é o etanol, produzido pela fermentação

de frutas e grãos ou deslação de seus produtos – como ocorre com a cana-de-

açúcar. No Brasil, há uma grande diversidade de bebidas alcoólicas, cada po

com quandades diferentes de álcool em sua composição.

Que fatores influenciam a ação do álcool?

A frequência da ingestão, a quandade de álcool ingerido, a quandade de álcool

ab sorvido, sua distribuição pelos tecidos do organ ismo, a var iab ilidad e individual ,

a sensibilidade individual dos diferentes tecidos e órgãos e a velocidade de

metabolização afetam os efeitos do álcool.

De acordo como levantamento,11,7 milhões de

 pessoas no Brasil sãodependentes de álcool.

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

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Você sabe qual a quantidade de álcool existente nas bebidas alcoólicas?

BEBIDA PORCENTAGEM DE ÁLCOOLCerveja light  ,5

Cerveja ou cooler  ,5 a ,5

Vinho 2

Vinhos forcados 2

Uísque, vodca, pinga

Você sabe o que é uma dose “padrão” de álcool?

uma quandade de bebida alcoólica que contém em torno de gramas deetanol puro. Como a densidade do álcool é , gml, em ml de álcool (etanol)

puro existem gramas de álcool. Considerando a concentração das diferentes

bebidas :

UMA DOSE PADRÃO DE ÁLCOOL EQUIVALE A:

40 ml

de pinga,

uísque ou

vodca

85 ml

de vinho

do Porto,

vermutes ou

licores

140 ml

de vinho de

mesa

40 ml

de cerveja ou

chope lata

600 ml

garrafa

gran de de

cerveja contém

2 doses

As mulheres são mais sensíveis aos efeitos do álcool e angem níveis de

concentração mais altos com menores quandades da droga.

Você sab e qual a relaç ão entre as doses ingeridas e a concentraç ão de ál cool noorganismo cerca de minutos após a ingestão??

CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL (em gramas por litro de sangue)

Doses padrão Homem com 60 kg Homem com 70 kg Homem com 80 kg

1 ,2 ,22 ,

2 ,5 , ,

3 , , ,5

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Como o álcool é metabolizado pelo organismo?

do álcool (etanol) é metabolizado no gado, transformando-se em acetaldeídoou aldeído acéco, devido à ação da enzima álcool desidrogenase. O acetaldeído

é então transformado em acetato, que será eliminado do organismo pela urina.

O acetaldeído, que se forma no processo de metabolização do

álcool, aumenta a pressão arterial, os bamentos cardíacos e

pode causar rubor facial, náuseas e vômitos.

Muitos efeitos observados após a ingestão de bebidas alcoólicas

são, na verdade, efeitos do acetaldeído, que permanece no

san gue por mai s tempo do que o ál cool. Medicam entos como

o Antabuse contêm dissulram, uma substância que inibe a

enzima aldeído desidrogenase, responsável pela eliminação do

ac etaldeído.Esses medicam entos ai nda são usad os em al guns locai s par a

au xiliar no trat am ento de pessoas dependentes de ál cool, com

a única nalidade de ajudá-las na decisão de não beber, pois

se beberem enquanto esverem sob o efeito do medicamento

(que dura até uma semana depois de ingerido o comprimido)

podem: senr mal-estar forte, com elevação na pressão arterial,

aumento dos bamentos cardíacos, chegando até a morte, por

par ad a respirat ória ou car díac a.

A ideia é fazer com que o paciente tenha de decidir apenas uma vez por dia se

vai beber ou não. Se ele tomou o comprimido NÃO PODE BEBER por até 7 dias,

pois pode senr mal-estar forte

 ATENÇÃO! Esses medicamentos jamais devem seradministrados sem

que o pacientesaiba e concorde!

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Faz diferença beber lentamente ou rapidamente?

Como o organismo só é capaz de eliminar 1 dose padrão por hora, se apessoabebervár ias doses seguidas seu organ ismo irá ac umular mai s ál cool no san gue. Algumas

formas de beber, como o “vira-vira-vira”, são parcularmente desaconselháveis,

porque au mentam muito rap idam ente os níveis de ál cool no san gue.

Veja na gura abaixo a diferença entre quem bebeu ml de uísque a cada hora,

durante horas (curva linha ponlhada) e quem bebeu de uma só vez a mesma

quandade ( x 2 ml) de uísque. Observe que o tempo total para eliminar

completamente o álcool é pracamente o mesmo, mas os níveis máximos de

álcool no sangue são bem maiores em quem bebeu tudo de uma só vez

Porcentagem de álcool no sangue de um homem em duas ocasiões diferentes:

 9 ina Ponlada: quando ingeriu ml de uísque a cada hora durante

horas (total 2 ml).

 9 ina Connua: quando foram ingeridos 2 ml de uísque de uma

única vez.

Quais são os efeitos do álcool no Sistema Nervoso Central?

Seus efeitos podem ser divididos em esmulantes e depressores do organismo:

 9 INICIALMENTE (doses baixas ou na fase inicial do efeito de doses

altas), o álcool age como um esmulante do Sistema Nervoso Central,

levando a sensações de euforia, desinibição, sociabilidade, prazer e

al egria.

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

9 EM UM SEGUNDO momento, o ál cool ag e como um “depressor” 

do Sistema Nervoso Central, reduzindo a ansiedade, contudoprejudican do a coordenaç ão motora. À medida que au menta a

concentração de álcool no sangue, ocorre a diminuição da autocríca,

que por afetar a capacidade de avaliação dos perigos, pode levar a

comportam entos de risco, como beber e dirigir ou operar máq uinas ,

levan do a ac identes.

Pode haver lencação psicomotora, deixando a fala “pastosa” ou “arrastada”,

redução dos reexos, sonolência e prejuízos na capacidade de raciocínio e

concentraç ão.

Em DOSES ALTAS, a visão pode car “dupla” ou borrada, ocorrendo tambémprejuízo de memória e da concentração, diminuição da resposta a esmulos,

sonolência, vômitos e insuciência respiratória, podendo chegar à anestesia,

coma e morte. Por essa razão diz-se que o álcool tem efeito bifásico no organismo.

Estes efeitos dependem da quandade de álcool que o indivíduo

bebe. Doses moderad as de ál cool podem provocar sensaç ão

de bem-estar, relaxamento e desinibição. No entanto com o

aumento das doses, os reexos cam prejudicados e a pessoapode se envolver em ac identes.

Embora o álcool seja uma droga bifásica, é classicado como depressor do Sistema

Nervoso Central, pois a fase depressora é mais intensa e prolongada.

Como lidar com as pessoas enquanto estão intoxicadas pelo álcool (“bêbadas”)?

Há vár ias man eiras populares de lidar com a intoxicaç ão al coólica, mas nenhuma

delas é tão ecaz quanto o tempo. Deixe a pessoa em um local tranquilo e isolado

e espere o organ ismo eliminar o ál cool.

ATENÇÃO!Dirigir veículos ouoperar máquinas

são situações de altorisco para pessoas

sob o efeito do

álcool! Conscientizeas pessoas disso!

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

SONO E ÁLCOOL

É verdade que o álcool ajuda a dormir melhor?

Embora o ál cool ac elere o início do sono, ele pode cau sar muitos problemas ,

afetando os padrões de sono normais e reduzindo algumas das fases mais

importantes dele, como o sono REM (rapid eye movement ), fase restauradora na

qual ocorrem movimentos rápidos dos olhos, sonhos e intensa avidade cerebral.

O álcool também interfere no pós-sono, levando ao cansaço e a um sono não

reparador, devido a sua fragmentação. Além disso, pode agravar problemas

como o da ap neia do sono por cau sar relax am ento da musculat ura da gar gan ta,

provocan do tam bém ronco.Durante a síndrome de absnência, no caso de pessoas que são dependentes de

álcool, podem ocorrer diversos problemas de sono, principalmente a insônia.

DIETA E ÁLCOOL

O álcool é uma droga que, quando metabolizada pelo organismo, produz calorias,

portanto, engorda. Essas calorias são “vazias”, ou seja, não fornecem ao organismo

nenhum po de nutriente.

Par a você ter uma ideia:

 9 um copo de caipirinha tem 25 cal, ou seja, o equivalente a um

pãozinho francês (5 cal) com um ovo frito ( cal).

 9 uma dose de uísque tem 2 cal, o equivalente a um prato de

espaguete (2 cal).

VOCÊ SABIA? Mesmo a pequena

quantidade de álcoolno leite materno

 já é suficiente para prejudicar o padrão

de sono do bebêamamentado.

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Álcool e bebidas energéticas

Comercializadas visando especialmente a população jovem, as “bebidasnras” o nr rins aram ao rasi por oa oo s

 popularizaram.

Os fabricantes dessas bebidas dizem que elas podem revigorar, diminuir asononia amnar a ano a msmo morar o smpno sioDevido à sua composição (cafeína, taurina, glicose e vitaminas do complexo B),as pom prooar ios smans mas sss ios pnm amm

da sensibilidade de quem as ingere.

mora iniiamn ssas ias ossm srias omo smans pormpo para m ai iriir por rias oras o praar aia siamuitas pessoas passaram a fazer uso delas em combinação com as bebidasalcoólicas e rapidamente esse novo modo de uso se difundiu pelo mundo todo.

 o misrar ias nras om ias aoóias amas pssoassnm ma ro nos ios “prssors” o oo nano oras

raam amno o io sman o orian o oo

Estudos realizados na UNIFESP, por Ferreira e Formigoni, mostraram que as

ias nras rm a snsao sa sono iam mbebe mais acordado, mas elas NÃO reduzem os efeitos prejudiciais sobrea coordenação motora. Há também estudos com animais de laboratóriomosrano apsar os animais farm mais smaos amno alocomoção), quando testados em relação à coordenação motora e aos efeitostóxicos do álcool no organismo, se encontram tão prejudicados quanto o grupo

que recebeu apenas o álcool.

É importante alertar os usuários sobre esses efeitos e mostrar que, ao tornar osabor das bebidas alcoólicas mais agradável, as pessoas acabam bebendo maisdo que poderiam, aumentando as chances de terem problemas devidos aos

efeitos do álcool.

Sionaldo E. Ferreira

Portan to, é importan te evitar o uso excessivo de bebidas al coólicas , seja

combinado ou não com bebidas energécas, e se alguém for ingerir a mistura

deve redobrar os cuidados, pois pode achar que “está bem”, quando na verdade

estará tão embriagado quanto estaria se vesse ingerido apenas a bebida

al coólica.

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Álcool e trânsito

O consumo de álcool, mesmo que em pequenas quandades, diminui a

coordenação motora e os reexos. Vários estudos indicam que grande parte dos

ac identes é provocada por motoristas alcoolizados. Mesmo que a pessoa preste

muita atenção e tome cuidado, seu organismo estará funcionando com os reexos

retar dad os, ou seja, sua reaç ão par a brecar ou desviar o car ro de um obstác ulo

será mais lenta. A quandade de álcool no sangue pode variar de pessoa para

pessoa, mas em geral esse nível é angido meia hora após o consumo de 2 a

doses pad rão. De acordo com o novo Código Brasileiro de Trânsito (Lei n 2.),

em vigor desde dezembro de 22, todo motorista que apresentar qualquerquandade de álcool no sangue estará cometendo infração gravíssima. O condutor

tam bém estar á sujeito a suspensão do direito de dirigir por um an o e a retenção

do veículo. isso mesmo, agora a tolerância é ERO para o uso de álcool por

MOTORISTAS

O corpo humano só consegue eliminar cerca de dose por hora.

uem beber doses precisa esperar cerca de 2 a horas para que seus

níveis de álcool no sangue se aproximem de zero.

Segundo o II LENAD (II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), em 22,

de brasileiros foram parados em scalizações nas estradas e foram submedos

ao teste do “bafômetro”. Como se pode observar no gráco do II LENAD, houve

uma redução no comportamento de Beber e Dirigir de 2 para 22, o que

pode ser devido ao aumento das penalidades legais e da scalização.

  Fonte: II LENAD (II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas)

1 vide Módulo 1apo oia

Nacional sobre o Álcool 

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Álcool e níveis de glicemia

Deve-se administrar glicose a pessoas embriagadas?

O álcool pode afetar a glicemia de diferentes formas, dependendo da alimentação

da pessoa:

. Em pessoas normalmente alimentadas, ele pode au mentar a glicemia,

porque provoca au mento da liberaç ão de cat ecolam inas , que

esmulam a glândula suprarrenal.

2. Em pessoas que estejam há mai s de 24 horas em jejum, ele poderia

diminuir a glicemia, mas isso só ac ontece rar am ente, em geral em

crian ças pequenas , que beberam ál cool ac idental mente, ou em

morad ores de rua, que estejam sem comer há muitas horas , por

impedir um processo cham ad o de neoglicogênese.

Por essas razões, o álcool é onrainiao para pssoas iaas porque afeta

o equilíbrio dos fatores responsáveis pela manutenção dos níveis de glicose.

A glicose só deve ser administrada a pessoas alcoolizadas quando for comprovado

que elas estão hipoglicêmicas, o que pode ser facilmente testado no pronto-

socorro, através de um exame com uma única gota de sangue, usando uma tapar a dosag em da glicemia.

Níveis de Glicemia e Alcoolemia em pacientes que chegaram embriagados a umpronto-socorro

Em um estudo realizado com mais de pessoas que chegaram embriagadas

em um pronto-socorro, apesar de altos, os níveis de glicemia estavam na faixa

de normalidade, com poucas pessoas apresentando níveis abaixo de mg por

ml (ainda não considerada uma hipoglicemia com consequências clínicas

signicavas).

Meia hora após a administração de glicose e.v. (endovenosa) ou medicação

placebo (soro siológico), os dois grupos apresentaram o mesmo nível de melhora,

provav elmente em consequência da interrupção do consumo de ál cool.

LEIAo estudo na íntegra

em: Masur J, FormigoniMLOS, Laranjeira

RR, Formigoni ir Salim RJ, Pinotti

DOF. Intoxicaçãoalcoólica e glicose.Um estudo duplo-cego em pacientesde pronto-socorro.

Revista da AssociaçãoMédica Brasileira,

São Paulo, v. 28, nº p

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Veja no quadro abaixo os resultados do estudo mencionado acima, realizado em

um pronto-socorro em São Paulo. 

TRATAMENTO DA INTOXICAÇÃO ALCOÓLICA

Tomar café ou banho frio ajuda a ficar sóbrio?

Como o café contém cafeína, que é uma substância esmulante, ele pode reduzir

os efeitos de sonolência do álcool, mas não reduz os problemas de coordenação

motora. Portanto, no máximo, a pessoa embriagada cará mais acordada. O banho

frio, da mesma forma, apenas ajuda a “acordar”, devido à sensação desagradável

que provoca.

Glicemia e alcoolemiana admissão

30 minutos apósglicose ou soro

 fisiológico: pacientes emédicos consideraram

que houve melhoraigualmente após

 placebo ou glicose.

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Ressaca

Em um curto período ( a 2 horas) após a ingestão de grande quandade deálcool, pode ocorrer a “ressaca”, que se caracteriza por: dor de cabeça, náusea,

vômitos, sede intensa, fadiga, dor muscular, vergem, aumento da sensibilidade

à luz e aos sons, ansiedade, irritabilidade, tremores e sudorese.

A ressaca pode decorrer dos efeitos desidratantes do álcool e ser considerada

uma síndrome de absnência leve. Seus sintomas estão relacionados ao acúmulo

de ac etal deído no organ ismo.

Qual é o tratamento para a ressaca?

Poucos trat am entos a j udam. Não beber em excesso é a melhor a j uda, mas par aalgumas pessoas mesmo pequenas quandades já causam ressaca. Bebidas mais

“puras”, com menor quandade de outras substâncias, costumam causar menos

ressaca do que bebidas com muitos congêneres, como vinho nto e uísque.

Consumir líquidos, como suco e água, também ajuda a evitar a desidratação

caracterísca da ressaca.

Medicamentos como aspirina e outros an-inamatórios podem

a j udar na redução de sintomas , como dores de cab eça ou dosmúsculos.

Fique de olho, porque al guns medicam entos podem piorar os problemas gás tricos.

Bebidas alcoólicas melhoram o desempenho sexual?

As bebidas al coólicas podem levar ao au mento do desejo sexual , porque a j udam

a desinibir, mas podem tam bém piorar o desempenho. É importan te lembrar que

um rin  pode ajudar alguém a relaxar e a se senr mais desinibido, mas não podeser considerado um afrodisíaco ou uma poção mágica. Lembre seu paciente de

que o interesse que ele desperta em outras pessoas depende de quem ele é e que,

na real idad e, ninguém ac ha uma pessoa bêbad a mai s sedutora ou interessan te.

CUIDADO! O acetaminofem

deve ser evitado, poisaumenta a toxicidadedo álcool no fígado.

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Efeitos nocivos no organismo, principalmente devido ao uso crônico

Muitas vezes o paciente não percebe a ligação entre seus problemas e o uso deálcool. Conhecendo melhor essa relação você poderá ajudá-lo a perceber isso e

propor mudan ças .

Como o etanol é uma molécula muito pequena ange facilmente todos os órgãos

e tecidos, causando várias doenças em quem faz uso abusivo ou em dependentes

de bebidas al coólicas .

Efeitos nocivos associados ao consumo crônico de álcool

Sistema nervoso:Distúrbios neurológicos grav es, al teraç ões de

memória e lesões no Sistema Nervoso Central.

Sistema cardiovascular:

Arritmias car díac as ag udas , au mento da

pressão ar terial , hipertensão com risco

consequente de infarto.

Sistema gastrointestinal:astrite, úlceras, cânceres de boca, de esôfago,

de laringe e de faringe, esteatose hepáca,

hepate, cirrose hepáca, pancreate aguda.

VOCÊ SABIA? O uso abusivo de álcool

mata mais do quetodas as drogas ilegais

 juntas e as causas

de morte variamde cirrose hepática

a hipertensão.

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Embora em doses baixas o uso de vinho possa reduzir o risco

de morrer por problemas car díac os, em al tas doses pode

provocar cardiomiopaas. Além disso, ainda não está provado

se esse possível efeito “benéco“ do vinho é devido ao álcool

ou a outras substâncias, como taninos e avonoides, ou ainda

ao eslo de vida das pessoas. Estas conclusões surgiram a parr

de estudos epidemiológicos e como o uso de ál cool au menta a

chan ce de ac identes ou morte precoce por violência ou outras

doenças , a redução de mortes por doenças car díac as (que em

geral ocorrem em pessoas mais idosas) pode ser reexo disto.

 

Por ser metabolizado no gado, este é um dos órgãos mais afetados pelo consumo

de álcool, sendo a cirrose hepáca um dos problemas mais graves.

A dosagem de enzimas hepácas como a T, TO, TP pode ajudar no

acompanhamento de pessoas dependentes de álcool. A enzima T é uma das

mais sensíveis aos efeitos do consumo de álcool. uando os pacientes percebem

“melhora” em seus exames alterados tendem a manter a redução do uso.

 

Fígado normal Fígado com cirrose

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MUDANÇA NOS NÍVEIS DE GGT UM MÊS APÓS O TRATAMENTO DE

DEPENDENTES DE ÁLCOOL

 

NOTAGGT: Gama-Glutamil-

ransras

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

O VCM pode ser aumentado tanto pelo uso de álcool como pelo de tabaco.

Álcool e gravidez

O consumo de álcool durante a gravidez expõe o

feto aos seus efeitos, principalmente nos primeiros

meses.

Mulheres que consomem de 2 a doses de bebida

alcoólica por dia têm de chance de ter uma

crian ça com a Síndrome Fetal pelo Álcool.

A crian ça com essa síndrome, em geral , ap resenta

alterações dos traços faciais, anormalidades labiais,

retardo do crescimento, diculdade de socialização,

problemas car díac os e al teraç ões globai s no

desenvolvimento e funcionamento intelectual,

gerando problemas de aprendizado, de memória e de

atenção. O consumo de quatro ou mais doses diárias aumenta o risco para 2.

A Síndrome Fetal pelo Álcool pode ser detectad a em ap roximad am ente um terço

dos bebês de mães que zeram uso excessivo de álcool durante a gravidez. Os

recém-nascidos apresentam sinais de irritação, mamam e dormem pouco, além

de apresentarem tremores (sintomas que lembram a síndrome de absnência).

NOTATGO: Transaminase-

Glutâmico-aoaiaVCM: Volume

Corpuscular Médioas mias

TGP: Transaminase-Glutâmico-Pirúvica

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As crianças severamente afetadas e que conseguem sobreviver aos primeiros

momentos de vida podem apresentar problemas sicos e mentais, que variam deintensidad e de ac ordo com a grav idad e do cas o.

É importan te pontuar que mesmo a ingestão de bai xas doses de ál cool duran te

a gravidez pode afetar o desenvolvimento do bebê e causar décits cognivos

menores, as sim al ertar mulheres que possam engrav idar sobre os riscos de beber,

principal mente nas primeiras seman as de gestaç ão, quan do elas nem sab em que

estão gráv idas . Muitas crian ças podem ter problemas mentai s devido ao uso de

ál cool pela mãe. Se detectar um cas o é importan te al ertar a mulher par a que não

aconteça o mesmo em uma próxima gravidez e oferecer ajuda (tratamento) para

ela.

Características de crianças portadoras da Síndrome Fetal pelo Álcool

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

INTERAÇÃO COM OUTRAS DROGAS E MEDICAMENTOS

Como o álcool é metabolizado no gado, por enzimas que também metabolizam

outras substân cias , ele pode retar dar aeliminaç ão dessas drogas ou medicam entos,

alterando seus efeitos. A combinação com cocaína, tranquilizantes, barbituratos,

benzodiazepínicos ou an-histamínicos pode levar ao aumento do efeito sedavo

ou depressor, dependendo da quandade, chegando até mesmo à morte. Alguns

anbiócos como metronidazol, furazolidona e medicamentos anmaláricos

podem causar reações adversas ou ter sua efevidade reduzida.

TOLERÂNCIA E DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL

O uso regular do álcool torna a pessoa tolerante a muitos dos seus efeitos, sendo

necessário aumentar o consumo para o indivíduo obter os mesmos efeitos iniciais.

A dependência ocorre com o uso regular de ál cool e pode se desenvolver ap ós

anos de uso connuo, porém quanto mais jovem é a pessoa, quando inicia o uso

de ál cool, menor será o tempo necessár io par a que se instal e a dependência.

A dependência pode ser denida poecamente como a “perda da liberdade de

escolha”, isto é, a pessoa não escolhe mais se vai beber e o quanto vai ingerir. Ela

perdeu o controle sobre essa decisão. As pessoas dependentes, como já estão

adaptadas à presença constante do álcool no organismo, podem sofrer sintomasde absnência quando param de beber, ou mesmo quando apenas diminuem

drascamente a quandade ingerida diariamente.

Os sintomas de absnência podem variar de intensidade, desde um leve

nervosismo ou irritação, insônia, sudorese, diminuição do apete e tremores,

podendo chegar a um quadro muito grave, com febre, convulsões e alucinações

(o cham ad o delirium tremens  - que não deve ser confundido com simples

tremores, também comuns nas fases iniciais da síndrome de absnência). Nesta

fase grave a pessoa pode ter visões de animais e se não tratada a tempo (com

benzodiazepínicps) pode morrer.

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Dependência de álcool

A pessoa que ingere bebidas al coólicas de modo excessivo pode desenvolver,

ao longo do tempo, a dependência do ál cool. No próximo módulo você verá

os critérios usados para diferenciar os padrões de uso do álcool, disnguindo o

consumo de bai xo risco par a o desenvolvimento de doenças do consumo ab usivo

e da dependência.

Existe um padrão de beber sensato, isto é, com baixo risco?

Existe, sim. Entretan to é importan te lembrar que sermpre há al gum risco

associado ao uso de álcool. O ideal é beber de modo que isso não afete a saúde,as ocupações diárias (escola, relações familiares e trabalho) e a segurança de

quem bebe ou a de outras pessoas .

Não é aconselhável beber em várias situações:

. uando houver algum compromisso ou tarefa em que o uso de álcool

possa at rap al har ou ser inconveniente (por exemplo: dirigir, trab al har ,

operar uma máquina);

2. Para enfrentar situações desagradáveis (por exemplo: quando se está

deprimido, chateado, ansioso, triste ou sozinho);

. Para fazer coisas considerados diceis (isso depende muito de cada

pessoa; por exemplo: falar com pessoas estranhas ou em público,

abordar alguém do sexo oposto etc.);

4. Para se embriagar (procurar conscientemente “car de fogo”).

LEMBRE-SE É importante percebero mais cedo possível

quais são os pacientesque apresentam

 problemas INICIAISassociados ao usode álcool, para que

você possa ajudá-losa não se tornarem

dependentes.

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Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

USO ABUSIVO DE ÁLCOOL

Para evitar intoxicações, é importante:

 9 Servir a bebida em forma de doses - assim é possível

controlar a quandade;

 9 Diluir a bebida, ao invés de bebê-la pura, e beber

pausadamente (bebericando), ao invés de beber tudo de

um só gole (virando). Isso torna a absorção mais lenta;

 9 Alternar bebidas alcoólicas com não alcoólicas;

 9 Evitar beber de estômago vazio;

 9 Não beber diar iam ente.

Quem tem problemas de uso excessivo de álcool deve:

 9 Desenvolver avidades que sejam prazerosas, mas que

não envolvam o uso de bebidas;

 9 Substuir o tempo empregado em beber por avidades

agradáveis; 9 Evitar estar frequentemente junto a pessoas que o (a)

encorajam a beber ou a se embebedar;

 9 Evitar locais onde o consumo era realizado.

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Atividades

REFLEXÃO

Pensando que o álcool é uma droga lícita e altamente ulizada no Brasil e no

mundo, quais são os efeitos posivos e negavos do seu consumo, lembrando

que o etanol exerce ampla inuência no organismo?

TESTE SEU CONHECIMENTO

1. Qual a substância produzida através da metabolização do etanol que causa

diversos efeitos indesejados no indivíduo que consome álcool?

a) Acetato.

b) Acetal deído.

c) Desidrogenas e.

d) Dissulfiram.

2. Diversos são os fatores que inuenciam na ação do álcool etanol no

organismo. Você sabe dizer quais são os principais fatores?

a) Quan tidad e de ál cool ingerida e o contexto em que houve o consumo,

assim como a metabolização da glicose no organismo.

b) Metabolização do acetato, variabilidade individual, quantidade de

álcool ingerido e absorvido, além da frequência de ingestão.

c) Quan tidad e de etan ol ingerido e ab sorvido, sensibilidad e individual

dos tecidos, frequência de ingestão, variabilidade individual e avelocidade de metabolização do álcool.

d) Apenas a sensibilidad e e var iab ilidad e individual , al ém da

metabolização, que é um dos processos mais importantes da ação do

ál cool.

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 Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni, José Carlos Fernandes Galduróz, Denise De Micheli, Ana Paula Leal Carneiro

Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

3. O álcool apresenta efeito bifásico no organismo, atuando no Sistema

Nervoso Central e gerando diversas sensações, como euforia e desinibição,além de ocasionar prejuízo da coordenação motora. Quais são os efeitos

ocasionados pelo álcool?

a) Estimulan te e perturbad or.

b) Depressor e perturbad or.

c) Estimulan te e depressor.

d) Nenhuma das an teriores.

4. O sono é de extrema importância para o bom funcionamento cerebral, para

a aprendizagem, para a prevenção do estresse e da fadiga e principalmentepara a reestruturação do organismo como um todo. Pensando na importância

de uma boa noite de sono, qual é a inuncia do etanol no sono

a) Alterações em diversas fases do sono, principalmente no sono REM,

al ém de ac elerar o início do sono. Favorece tam bém a um sono não

reparador, interferindo na fase pós-sono, levando ao cansaço.

b) O etanol não influencia de forma alguma o sono do indivíduo que o

ingere.

c) Alterações de humor e sensações de fadiga e cansaço pós-sono.

d) Facilita o início do sono, não interfere no sono REM e sim na fase de

vigília, além de ocasionar estresse devido à fragmentação do sono.

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aria Lucia Oliveira de Souza Formigoni, José Carlos Fernandes Galduróz, Denise De Micheli, Ana Paula Leal Carneiro

Álcool: efeitos agudos e crônicosCapítulo

3

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Bibliografia

BRASIL. Lei n 2., de 2 de setembro de 22.

Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) e Secretaria Nacionalde Polícas sobre Drogas (SENAD).

Chambers RA, Talor R, Potenza MN. Developmental neurocircuitr of movaon inadolescence: a crical period of addicon vulnerabilit. Am Pschiatr. 2;():-52.

Conselho Regional de Medicina do Estado de São PauloAssociação Médica Brasileira.Usuários de substâncias psicoavas: abordagem, diagnósco e tratamento. 2 edição. SãoPaulo: CREMESPAMB; 2.

Carlini EA. (supervisão) et. al.. VI Levantamento Nacional Sobre o Consumo de DrogasPsicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública ePrivada de Ensino nas 2 Capitais Brasileiras – 2. São Paulo: CEBRID - Centro Brasileirode Informações sobre Drogas Psicotrópicas: UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo.Brasília: SENAD - Secretaria Nacional de Polícas sobre Drogas; 2. 5p.

Carlini EA. (supervisão) et. al.. II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de DrogasPsicotrópicas no Brasil: Estudo Envolvendo as Maiores Cidades do País: 25. SãoPaulo: CEBRID - Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas: UNIFESP -

Universidade Federal de São Paulo. Brasília: SENAD - Secretaria Nacional Androgas; 2.Ebrahim IO, Shapiro CM, illiams A, Fenick PB. Alcohol and Sleep I: Eects on NormalSleep. Alcoholism: Clinical and Experimental research. 2; (): 5-5.

Fergusson DM, Lnske MT, orood L. Childhood exposure to alcohol and adolescentdrinking paerns. Addicon. ; ():-.

Ferreira, Sionaldo Eduardo. Álcool com bebida energéca: efeitos agudos e crônicos emcamundongos; Alcohol and energ drink: acute and chronic eects in mice. Diss. UniversidadeFederal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Curso de Psicobiologia, 25.

alduróz CF. Inalantes (Solventes Orgânicos Voláteis). In: Seibel SD, Toscano r A,

organizadores. Dependência de drogas. São Paulo: Atheneu; 2.

Naonal Instute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA). NIAAA Advances Research onFetal Alcohol Spectrum Disorders.

Revista Brasileira de Psiquiatria. Suplemento especial sobre dependência do álcool.2(Suppl.) 2.

Ronaldo Laranjeira et al.. II Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo deálcool na população brasileira. Brasília: SENAD - Secretaria Nacional de Polícas sobreDrogas; 22.

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7/24/2019 Efeitos das substâncias psicoativas

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína

e outros): efeitos agudos e crônicos

TÓPICOS

 9 Cocaína

 9 Anfetaminas

 9 Nicotina9 Atividades

 9 Bibliografia

Capítulo

4

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oseli Boerngen de Lacerda, Marcelo Santos Cruz, Solange Aparecida Nappo

Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Cocaína

HISTÓRIA

Ao chegar nas Américas , no século XVI, os invas ores espan hóis entrar am em contat o

com os índios, que costumav am mas car folhas de coca no dia a dia. Em 1862,

um químico alemão, Albert Neiman, isolou seu princípio avo denominando-o de

cocaí na, descrevendo suas propriedad es an estésicas locai s.

A parr do século I, na Europa, a droga teve seu uso difundido como um

energéco, indicado para o tratamento de depressão, fadiga, neurastenia edependência de derivad os do ópio. A cocaí na pas sou a ser vendida sob vár ias

formas , nas far mác ias , como medicaç ão, al ém de ser encontrad a em bar es, na

forma de vinho (vinho Mar ian e) e refrigeran te.

Até , a Coca-Cola era um xarope que connha coca. Naquela época, os

fabricantes, preocupados com o risco de dependência, reraram a cocaína da

fórmula, substuindo-a por cafeína. Já em 1895 a revista The Lancet  publicou um

argo com o relato de seis mortes causadas pela cocaína. Em , a venda e o

uso de cocaí na foram proibidos. O consumo quas e desap ar eceu, retornan do a

parr da década de .

Da folha de coca também se extrai o crack e a merla, que contém a mesma

substância psicoava, ou seja, a cocaína. Por sua importância atual os aspectos

neurobiológicos e efeitos do crack serão tratados separadamente no próximo

capítulo. 

Pesquisas realizad as pelo CEBRID (Centro Bras ileiro de Informaç ão sobre as

Drogas ), da UNIFESP (Universidad e Federal de São Pau lo), mostram que o

consumo de cocaína no Brasil aumentou muito a parr da década de até os

dias de hoje, principalmente sob a formacrack.

Apesar disso, o uso de cocaína e de crack

ai nda é bem menos comum do que o

uso de outras drogas , como o ál cool e o

tab ac o.

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 Roseli Boerngen de Lacerda, Marcelo Santos Cruz, Solange Aparecida Nappo

Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

PADRÕES DE CONSUMO DE COCAÍNA

 

A cocaína pode ser usad a sob forma de pó, as pirad o pelo nar iz, fumad a como

crack ou pasta-base, ou por via injetável. O crack forma pedras como cristais, que

são fumad as em uma espécie de cac himbo.

DIFERENÇAS DA ABSORÇÃO DAS VÁRIAS FORMAS DE USO

A cocaí na, usad a sob forma de pó, tem que ultrap assar a mucosa do nar iz at é

chegar ao s vas os san guíneos. Quan do é injetada ou fumada, chega ao cérebro

muito mai s rap idamente, pois cai direto nos vas os san guíneos e é daí impulsionad a

pelo coraç ão par a o cérebro.

Como o tempo de ab sorção pela mucosa do nar iz é muito mai or, o início dosefeitos mentai s pode levar at é quinze minutos, desap ar ecendo em cerca de

trinta minutos. á o uso injetável ou fumado produz efeitos em cerca de quinze

segundos, desaparecendo após aproximadamente quinze minutos. uanto mais

ráp idos são o início e o término do efeito, mai or a velocidad e de estab elecimento

de dependência. Por isso, o uso tan to da cocaí na como das an fetam inas por via

injetável (pó da cocaína ou da metanfetamina) ou fumada (crack, merla ou ice)

gera dependência tão rap idam ente.

Como o uso de qual quer droga, o seu início em geral é feito em grupo e duran te

a ad olescência. Entre os ad olescentes o grupo tem uma importân cia ai nda mai orem todas as experiências, inclusive no início do uso de drogas como a cocaína e as

an fetam inas . A mai oria d as pessoas começa usan do outras drogas (como o ál cool,

os inal an tes e a mac onha) e depois pas sa a usar a cocaí na e/ou as an fetam inas .

No entan to, tan to pode ac ontecer de uma pessoa começar usan do al guma dessas

drogas e não progredir par a outras como pode ocorrer de começar direto com a

cocaína ou com anfetaminas. Algumas pessoas já têm problemas psíquicos antes

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

de iniciar o uso de drogas , e o seu uso só piora estes quad ros. É comum que

pessoas que usam cocaí na ou an fetam inas ap resentem quad ros de depressão,ansiedade, midez excessiva ou quadros psiquiátricos mais graves. Esses quadros

são cham ad os de comorbidad es.

Anfetaminas

São substâncias sintécas – não existem na natureza, sendo produzidas em

laboratórios – que foram usadas inicialmente para diminuir o cansaço, afastar osono e reduzir o apete.

Até 2011, no Bras il, muitas pessoas consumiam essas drogas ,

sob a forma de remédios ou fórmulas, com o objevo de

emag recer. Nem sempre elas eram informad as dos seus riscos

e do seu potencial de desenvolvimento de dependência.

Em 10 de outubro de 2011, a Agência Nac ional de Vigilân cia

San itár ia (ANVISA) publicou resolução proibindo a fab ricaç ão,

man ipulaç ão, prescrição, av iam ento, venda e o uso de

anfetaminas, e restrições ao uso de outro inibidor do apete, a

sibutram ina.

Outra forma de uso das an fetam inas ocorre entre motoristas de cam inhão, que as

ulizam para conseguir permanecer acordados, enquanto dirigem por longas

distân cias e por mai s tempo do que seria prudente. “Rebites”, ou “ar rebites”, são

os nomes pelos quai s essas drogas são conhecidas pelos motoristas , que as

compram em far mác ias , restau ran tes e postos de gas olina de beira de estrad a.

Um derivado anfetamínico, a meleno-dioxi-metanfetamina (MDMA, ou êxtase),

será apresentado juntamente com os alucinógenos, uma vez que além de possuir

efeitos esmulantes potentes também induz fortes alucinações.

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

ANFETAMINAS E ESTÉTICA, UMA COMBINAÇÃO PERIGOSA

O Brasil era até 2011 um dos maiores consumidores de anfetaminas. O consumo

bras ileiro au mentou em 500% de 1997 a 2005. Este ocorria principal mente

entre mulheres, que ulizavam essas drogas para emagrecimento, pelo uso de

“fórmulas ” prescritas por médicos produzidas em far mác ias de man ipulaç ão.

O uso de an fetam inas era recomendad o ap enas nos cas os de obesidad e mórbida

(pessoas muito obesas ). Entretan to, par a se ter um corpo mag ro, essas drogas

eram consumidas indiscriminadamente, muitas vezes sem receita médica,

ou prescritas de modo inadequado por prossionais mal-informados ou mal-

intencionad os.

Esse uso pode traz er problemas sérios à saú de, principal mente quan do usad a

cronicamente (ex: dependência, taquicardia, aumento da pressão arterial, psicose

par an oide, etc.), ou quan do é as sociad o a outras drogas , como ac ontece com as

“fórmulas de emag recimento”, nas quai s, al ém das an fetam inas , eram as sociad as

outras drogas: an-hipertensivos, calmantes, hormônios da reoide, diurécos,

laxantes, andepressivos etc. Por conterem, muitas vezes, plantas medicinais em

sua composição, eram erroneam ente considerad as “nat urai s” ou “leves”.

Índice de Massa Corporal – IMC (Índice de Quetelet)

IMC = Peso(Altura)2

De ac ordo com a Organ izaç ão Mundial de Saú de (OMS), indivíduos que ap resentem

Índice de Mas sa Corporal (IMC) ac ima de 30 são considerad os obesos e, ac ima de

, obesos mórbidos.

VALORES DO IMC E CONDUTA

IMC Situação Conduta<15 Desnutrição Médica

5-2 Peso baixo Melhorar dieta

2-25 Peso normal Avidade sica e manter dieta

25- Peso excessivo Dieta hipocalórica e avidade sica

- Obesidad e Médica

Obesidad e mórbida Médica (medicam entos, inclusive)

Fonte: Monograa Ociais n . Colégio Ocial dos Farmacêucos de Badajoz - Espanha. Out. de

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

4SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Nesses casos, o médico deve av al iar a necessidad e do uso de medicam entos

inibidores do apete para reduzir o risco do agravamento de doenças. Mas,embora haja essa recomendação, na práca, principalmente as mulheres

conseguem essas substân cias , mesmo não necessitan do.

O uso de anfetaminas é comum em casos de “Dismora Corporal”, ou seja,

pessoas que têm uma visão errada ou distorcida do próprio corpo. Acreditam

estarem gordas , sem estar . Essa distorção da real idad e contribui par a o consumo

dessas substân cias .

Relato de caso de uma paciente com IMC 2, com quadro próximo da

subnutrição, descreve uma imag em irreal do corpo.

Veja abaixo:

“io nma aaa onsan om o m orpo ano mais a o fano pior a aaa rr so aima o m pso por o ia sria m

mais aaio so ora ora osaria prr ” nnima

uando essas substâncias eram permidas, muitas mulheres, para emagrecer

mai s rapidam ente, au mentav am a dose prescrita, colocan do em risco sua saú de.Além disso, o medicamento não fazia mais efeito, exigindo doses cada vez maiores

par a ag ir (efeito de tolerân cia) . Quan do par av am de usar o medicam ento, essas

pacientes rapidamente ganhavam o peso que nham anteriormente, levando-as

a consumi-lo novamente. Esse processo de emagrecer e engordar é chamado de

“efeito ioiô” ou “efeito sanfona”, que provoca baixa autoesma.

Relato de uma paciente que usou anfetaminicos – caso de tolerância:

“a o aon o omo o no omia na rn ma iao no fa ansaa no m sono s smpr isposa sm om nnmao oma m opo a s npia as a ma ora  pra s oss smpr assim ia omar para o rso a ia mas pra

 ar io” nnima

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

As aç ões no cérebro e as al teraç ões no comportam ento, provocad as pela cocaí na

e pelas an fetam inas , são bas tan te semelhan tes, com diferenças no tempo deinício e na duraç ão, principal mente quan do essas substân cias são usad as por

diferentes modos de administração. Por esse movo, os efeitos decorrentes do

uso dessas substâncias serão apresentados em conjunto.

COMO A COCAÍNA E AS ANFETAMINAS AGEM NO CÉREBRO?

As substân cias que ag em no cérebro, provocan do al teraç ão nas funções mentai s,

conseguem esse efeito modicando a comunicação entre as células cerebrais

chamadas neurônios. Dessa forma, as drogas usadas abusivamente alteram as

funções como o raciocínio, as emoções e os sendos da visão e audição. Assim, a

cocaína e as anfetaminas agem interferindo na comunicação entre os neurônios.

Como você já viu no início deste módulo, um dos efeitos dessas drogas é esmular

o sistema de recompensa cerebral, aquele sistema que é avado naturalmente

quando o indivíduo faz alguma coisa agradável ou tem uma experiência gracante

que provoca a sensação de sasfação. Como a cocaína e as anfetaminas avam

rapidamente esse sistema, elas provocam uma sensação de bem-estar. Também

é a aç ão nesse sistema que faz com que o indivíduo inicie o uso dessas substân cias

e, então, com a sua repeção desencadeia a dependência.

RISCOS|DEPENDÊNCIA|OVERDOSE

O uso da cocaína e das anfetaminas pode levar à dependência, ou seja, à perda do

controle sobre o uso, apesar dos prejuízos produzidos. uando essas substâncias

são ad ministrad as entre poucos segundos (quan do fumad as ) ou minutos (se

injetadas ou cheiradas) dez a quinze segundos após o uso começam as alterações

das funções mentais e outros efeitos sicos. No Brasil, a principal forma de uso

das an fetam inas é por via oral , tendo um início de aç ão mai s lento e um efeito

que dura cerca de a horas. A chance de induzir dependência ca muito maior(potencial de ab uso) quan do o tempo par a início do efeito é ráp ido e a duraç ão

do efeito é curta. Exatamente o que acontece com o crack (grande problema no

Bras il) e o ice/cristal (gran de problema nos EUA).

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

6SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

EFEITOS FÍSICOS E MENTAIS DO USO AGUDO DA COCAÍNA E DAS

ANFETAMINAS 9 Euforia (sensação de alegria e bem-estar), grandiosidade (sensação

de ser poderoso, de ter muitas qual idad es), hipervigilân cia (estad o de

alerta exagerado, tentando prestar atenção a tudo que está à volta),

irritab ilidad e;

 9 Agitação, prejuízo do julgamento;

 9 Taquicardia (aumento da frequência dos bamentos do coração),

au mento da pressão ar terial , ar ritmias car díac as ;

 9 Suor, cal af rios, dilat aç ão das pupilas ; 9 Alucinações ou ilusões visuai s e tát eis;

 9 Ideias par an oides (sensaç ão de estar sendo perseguido ou de que

alguém quer prejudicá-lo ou atacá-lo);

 9 Convulsões.

ABSTINÊNCIA

 9 Depressão, an siedad e, irritab ilidad e;

 9 Perda de interesse ou praz er nas coisas de que a pessoa costumav a

gostar ;

 9 Fadiga, exaustão;

 9 Insônia ou sonolência diurna;

 9 Agitaç ão;

 9 Aumento do apete;

 9 nsiassura (vontade muito intensa) pela droga.

RISCOS ASSOCIADOS AO CONSUMO

Consequências para a saúde

O uso da cocaí na ou das an fetam inas pode cau sar dan os ao organ ismo, tan to

no momento do uso (dano agudo) quanto posteriormente (dano crônico).

VOCÊ SABIA? ano ma pssoa

a so oanao anaminas

inrromp o iminimio o onsmo

 po srir o aro asinnia

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Os sistemas orgân icos mai s af etad os são o coraç ão e as ar térias , o cérebro, os

pulmões e o sistema reproduvo.No coração, a cocaína e as anfetaminas podem provocar inúmeros pos de dano.

Sob seu efeito as ar térias se contrae m, diminuindo a pas sag em de san gue, o que

reduz a quandade de oxigênio, glicose e outros nutrientes transportados. Os

esmulantes aceleram o coração e aumentam a pressão arterial.

A ac eleraç ão do coraç ão as sociad a à contraç ão das ar térias coronar ian as pode

levar ao infar to ag udo do miocár dio. Além disso, podem ocorrer ar ritmias

car díac as . Com o uso de cocaí na ou de an fetam inas , tan to as ar ritmias quan to o

infar to do miocár dio podem ser fat ai s.

No cérebro, o au mento da pressão ar terial e a contraç ão dos vas os san guíneos

podem produzir ac identes vas cular es cerebrai s, os cham ad os “derram es”. A

cocaína e as anfetaminas por esmular excessivamente o do cérebro, podem

provocar crises convulsivas , como epilepsia.

O uso crônico produz, pela contração das artérias, danos por isquemia (insuciente

chegada de oxigênio, glicose e nutrientes). Testes especiais podem idencar

diminuição da atenção, concentração e memória. Também pode se instalar um

quadro psicóco paranoide, dependendo da quandade e do tempo de uso.

No pulmão tam bém podem ac ontecer al teraç ões. No cas o da cocaí na, quan do elaé fumada, pode surgir um quadro conhecido como “pulmão de crack”, que parece

um quad ro de pneumonia grav e e que pode mat ar .

Embora, no início, o uso de esmulantes seja relacionado, por alguns usuários, ao

aumento da excitação sexual, muitos referem que, depois de certo tempo de uso,

pode ocorrer diminuição do impulso sexual e impotência.

 9 O uso da cocaí na duran te a grav idez pode provocar

retar do do desenvolvimento do feto e at é a sua morte;

 9 O uso injetável da cocaína ou das anfetaminas traz o risco

de tran smissão de doenças como a Aids e as formas B e C

da epate.

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Além dos dan os relat ad os, tran stornos psiquiát ricos podem ser induzidos pelo uso

da cocaí na. Quad ros como an siedad e e depressão podem ocorrer mesmo compouco tempo de uso moderado. Após o uso em maiores quandades, durante

mais tempo e principalmente sob forma injetável ou fumada, quadros mais

graves, como as psicoses, podem ocorrer. A maioria desses quadros é reverda

com a cessaç ão do uso.

TRATAMENTO

O uso pontual de medicaç ões pode ser necessár io par a o trat am ento de quad ros de

intoxicação e absnência de cocaína ou anfetaminas. Algumas vezes, é necessário

medicar os quad ros psíquicos as sociad os (comorbidad es), quer tenham surgido

an tes ou depois do início do uso da droga.

Quan do o envolvimento com a droga não é tão gran de, geral mente, não há

necessidad e de internaç ão, que deve ser reservad a par a cas os mai s grav es, que

não melhoraram com o tratamento extra-hospitalar.

Em conformidad e com as estrat égias de redução de dan os, o ideal é que as pessoas

não usem droga nenhuma. Aquelas que ai nda não conseguem interromper o uso,

aconselha-se que o façam com o menor risco para si e para os demais, tomando

cuidado com acidentes e com o grande risco de contaminação pelo uso injetável.

Nicotina

A forma mais comum de consumo de nicona é

pelos cigar ros de tab ac o, e as outras formas são

at ravés de char utos, cac himbos e nar guilé. Sem

dúvida, a fumaç a do tab aco, por qual quer dasformas usad as , representa um gran de risco à

saú de.

O consumo de tabaco é responsável por enorme quandade de danos à saúde

nas populações, constuindo uma das principais causas de mortes evitáveis

no mundo. Além da nicona, o tabaco contém mais de quatro mil substâncias,

al gumas das quai s as sociad as ao desenvolvimento de cân ceres.

SAIBA QUE: namna

as pessoas com promas om roascomo a cocaína e as

anaminas ramtratamento com

 psiorapia iniiao m rpo ias

 pssoas s niiammio a rnia a

rpos ma aaaróios nnimos

rnmn iniaa a rapia

amia

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

A nicona produz alguns efeitos semelhantes aos demais esmulantes, como a

sensação de bem-estar, porém de forma mais branda do que a euforia provocadapelos outros esmulantes, como a cocaína. Essa substância também esmula o

sistema de recompensa do cérebro e induz dependência intensa e ráp ida.

Abstinência

Irritabilidade, ansiedade, hoslidade, humor depressivo, lencação da

frequência cardíaca, aumento do apete, ânsia (vontade intensa) de

fumar .

O uso do tab ac o estárelac ionad o acercade 30% dos cas os de cân cer. É responsáv el,

por exemplo, por dos casos de câncer de pulmão. Também está relacionado

ao câncer da boca, laringe e faringe (garganta) e esôfago, bexiga, rins, pâncreas e

colo do útero. Além do cân cer, o tab ac o tam bém cau sa outras doenças do pulmão,

como o ensema e a bronquite.

O coração e os vasos sanguíneos também são fortemente danicados pelo uso do

tab ac o, e os fuman tes têm muito mai or chan ce de sofrerem infar tos e ar ritmias

do coraç ão, problemas da ao rta e das ar térias que levam o san gue par a as pernas,o cérebro e outros órgãos.

O fumo também provoca gastrite, úlcera de estômago e duodeno, infecções

respiratórias, alergias, inferlidade, impotência e alterações do feto em mulheres

que fumam duran te a grav idez.

TRATAMENTO

A dependência do tabaco pode necessitar de tratamento especíco. Atualmente,existem medicações (como a vareniclina – Champix ) que diminuem a vontade

de fumar. Adesivos com nicona podem substuir o consumo do tabaco, quando

o fumante para de fumar, evitando os sintomas de absnência.

No Brasil, o consumo de tabaco não é crime, optando-se, nesse caso, por uma

políca de prevenção e restrições à propaganda e ao consumo em locais públicos

fechad os. O Ministério da Saú de ap oia o trat am ento grat uito em serviços de

saú de.

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oseli Boerngen de Lacerda, Marcelo Santos Cruz, Solange Aparecida Nappo

Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Atividades

REFLEXÃO

Como você explica a diferença no potencial de abuso de drogas fumadas,

como o crack e o cristal, em relação aos mesmos princípios avos usados por

outras vias , como cheirad as ou ingeridas ?

TESTE SEU CONHECIMENTO

1. Assinale a alternava INCRRETA relacionada aos efeitos da cocaína e

anfetaminas:

a) Taquicardia, aumento da pressão arterial, arritmias cardíacas,

dilataç ão das pupilas .

b) Suor, cal afrios, convulsões, hipervigilân cia, euforia.

c) Alucinaç ões ou ilusões visuai s e táteis, ideias par an oides.d) Ataxia, incoordenação motora e anemia.

2. Assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso:

( ) Sob efeito da cocaí na ou das an fetam inas , as ar térias se contrae m,

diminuindo a pas sag em de san gue, o que reduz a quan tidad e de

oxigênio, glicose e outros nutrientes transportados.

( ) A cocaí na e as an fetam inas ag em ativan do o sistema de recompensa

cerebral .

( ) A nicotina não ativa o sistema de recompensa cerebral . Na retirad aab rupta da nicotina as principai s al teraç ões observad as são depressão,

an siedad e, irritab ilidad e, fad iga, ag itaç ão, perda do ap etite, fissura

intensa pela droga.

a) V;V;F

b) V;F;V

c) F;V;F

d) F;F;V

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

3. Assinale a alternava INCRRETA:

a) As an fetam inas são drogas estimulan tes do Sistema Nervoso Centrale, por esta raz ão, oferecem sérios riscos e problemas ao usuár io.

b) Cocaína e crack são diferentes formas de apresentação da mesma

substân cia, diferindo quan to à ab sorção e potencial de ab uso.

c) Não existe tratamento eficaz para o tabagismo.

d) O tab ac o cau sa dan os principal mente ao s pulmões e ao sistema

car diovas cular .

4. Em , a Agncia Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA publicou a

resolução RDC N 5, na qual proibiu a fabricação, importação, eportação,distribuição, manipulação, prescrição, dispensação, o aviamento, comércio

e uso de medicamentos ou fórmulas medicamentosas que contenham

as substâncias anfepramona, fempropore e mazindol anfetaminas

possível armar que:

a) A ANVISA não proibiu de forma nac ional o uso da Sibutram ina que

ag ora pode ser prescrita em doses diár ias mai ores que 15 mg por

endocrinologistas .

b) Somente a Sibutram ina teve sua fab ricaç ão e comercial izaç ão

controlada no Bras il.c) Esta frase está correta, a proibição ocorreu devido ao uso

indiscriminad o e sem prescrição médica das an fetam inas , que afetam

o coraç ão, o cérebro, os pulmões e o sistema reprodutivo.

d) Todas as alternativas anteriores estão incorretas.

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Capítulo

4

SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Bibliografia

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

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Drogas estimulantes (anfetaminas, cocaína e outros): efeitos agudos ecrônicos

Capítulo

4

4SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Crack: um capítulo à parte...

TÓPICOS

 9 O que é o crack?

 9 Epidemiologia 9 A ação da droga no Sistema Nervoso Central

 9 Danos físicos

 9 Danos psíquicos

 9 Abordagens terapêuticas

 9 Atividades

 9 Bibliografia

Capítulo

5

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Crack: um capítulo à parte...Capítulo

5

6SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

O que é o crack?

O crack é uma forma disnta de levar a molécula de cocaína ao cérebro. Sabe-se

que a cocaína é uma substância encontrada em um arbusto originado de regiões

dos Andes, sendo a Bolívia, o Peru e a Colômbia seus principais produtores. Os

navos dessas regiões mascam as folhas da coca há muito tempo, desde antes da

chegada dos conquistadores espanhóis no século VI. No século I, a planta foi

levada para a Europa, onde se idencou a substância que provocava seu efeito.

Esta foi, então, chamada de cocaína. A parr daí, processos químicos passaram

a ser ulizados para separar a cocaína da folha da coca, gerando um pó branco

denominado de cloridrato de cocaína. Desde o século I o cloridrato de cocaínaé ulizado, seja por meio de sua inalação nasal, seja dissolvida em água pela

sua injeção nas veias. Ulizando diferentes processos de fabricação, além do pó

branco, é possível serem produzidas formas que podem ser fumadas. São elas a

merla, a pasta de coca e o crack.

Essas diferentes formas de administração da molécula de cocaína (inalada,

injetada ou fumada) têm efeitos disntos no indivíduo. uando a droga é fumada,

isso faz com que grande quandade de moléculas de cocaína anja o cérebro

quase imediatamente após o uso, produzindo um efeito explosivo, descrito pelos

usuários como uma sensação de prazer intenso. Isso acontece porque a fumaça vaipara os pulmões, que são altamente vascularizados, levando rapidamente a droga

ao cérebro. A droga é, então, velozmente eliminada do organismo, produzindo

uma súbita interrupção da sensação de bem-estar seguida, imediatamente, por

imenso desprazer e enorme vontade de reulizar a droga.

Essa sequência é vivenciada pelos usuários com um comportamento compulsivo,

em que os indivíduos caem, com frequência, numa espiral em que os atos de

usar a droga e procurar meios de usar novamente se alternam cada vez mais

rapidamente. Esse efeito rápido e intenso também é descrito por usuários de

cocaína injetável. No entanto, para o uso injetável há a necessidade de cocaínabastante pura, o que torna essa forma de uso muito mais cara do que o uso do

crack. Outra diferença entre o crack e a

cocaína em pó é o preço; o crack é muito

mais barato do que a cocaína. Em outras

palavras, o crack é uma forma mais barata de

levar as moléculas de cocaína ao cérebro, de

uma forma mais rápida e com efeitos muito

mais intensos.

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Crack: um capítulo à parte...Capítulo

5

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Epidemiologia

O surgimento do uso do crack no Brasil foi detectado por redutores de danos

(prossionais que compõem o programa de Redução de Danos) que trabalhavam

com usuários de drogas injetáveis no início da década de noventa.

uando comparamos a distribuição do uso de vários pos de drogas entre a

população brasileira, percebemos que, considerando a população como um

todo, o uso do crack é muito raro. No entanto, quando se enfoca determinados

segmentos da população encontramos um padrão de consumo bastante variado.

Por exemplo, de acordo com o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas

Psicotrópicas no Brasil, realizado nas maiores cidades do país, 0,7% da

população adulta relatava já ter feito uso de crack pelo menos uma vez na vida,

o que signica um conngente de mais de mil pessoas. A maior porcentagem

de uso de crack na vida foi encontrada entre homens, na faixa etária de 25 a

anos, constuindo ,2 da população adulta, ou cerca de mil pessoas. Além

disso, a comparação dos resultados do I Levantamento, realizado em 2, e do II

Levantamento, realizado em 25, mostrou que houve aumento estascamente

signicavo daqueles que relataram uso de crack no mês da pesquisa. Embora

usuários de crack se encontrem em todas as regiões, as regiões Sul e Sudeste

concentram a maior parte dos usuários idencados na pesquisa.

Os estudos que enfocaram estudantes do ensino fundamental e médio

conduzidos entre e 2 em São Paulo, e depois no Brasil, encontraram um

crescimento do consumo de cocaína em cidades da região Nordeste (Salvador,

Recife e Fortaleza), além de Belo orizonte e Rio de aneiro. Vários estudos foram

feitos com estudantes em várias cidades do Brasil, encontrando taxas de uso de

cocaína, pelo menos uma vez na vida, sempre menores que ,. No entanto,

no I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre

Universitários das 2 Capitais Brasileiras, se somados os percentuais de uso na

vida de cocaína, merla e crack, a prevalência foi de ,.

uando a Secretaria Nacional de Polícas sobre Drogas (SENAD), por meio

do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), foi

estudar o uso de drogas por meninos e meninas em situação de rua encontrou

taxas bem maiores: o uso de cocaína no úlmo mês foi de 5 entre os menores

no Rio de aneiro, em São Paulo e 2 em Recife. O uso frequente de

crack foi mencionado em quase todos os estados, sendo maior em São Paulo,

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Crack: um capítulo à parte...Capítulo

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SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Recife, Curiba e Vitória (variando de 5 a 2). O crescimento da procura de

tratamento por usuários de crack, observado na década de noventa em outrascapitais, ocorre, atualmente, no Rio de aneiro.

A ação da droga no Sistema NervosoCentral

A dependência é uma complicação que pode ocorrer entre usuários de cocaína

e crack. A dependência esmada é de 5 a 2 dos que experimentam a droga.A dependência se relaciona a problemas pessoais, familiares e sociais bastante

graves. Comparando o uso de crack com outras formas de uso da cocaína, há uma

proporção maior de uso intenso e de aumento da ssura entre aqueles que usam

crack.

Fumar o crack é a via mais rápida de fazer com que a droga

chegue ao cérebro, e provavelmente esta é a razão para a rápida

progressão para a dependência.

O fato de fumar o crack faz com que as substâncias cheguem ao pulmão, que é

um órgão intensamente vascularizado e com grande supercie, levando a uma

absorção instantânea. Através do pulmão o crack cai quase imediatamente na

circulação cerebral, chegando rapidamente ao cérebro. Com isso, os efeitos

aparecem muito mais rápido do que por outras vias. Em dez a quinze segundos os

primeiros efeitos do crack já ocorrem, enquanto que os efeitos após cheirar o

“pó” (cocaína em pó) acontecem após dez a quinze minutos, e após a injeção, de

três a cinco minutos. Essa caracterísca faz do crack uma droga “poderosa” do

ponto de vista do usuário, já que o prazer acontece quase que instantaneamente

após seu uso.

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Crack: um capítulo à parte...Capítulo

5

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

A AÇÃO DO CRACK NO CÉREBRO

uando o crack ange o cérebro, produz sensação

de prazer e sasfação. A área do cérebro esmulada

pela droga é a mesma que é avada quando

os insntos de sobrevivência e reprodução são

sasfeitos, como, por exemplo, quando a pessoa tem

sasfação sexual ou quando bebe água quando tem

sede. Essa é uma das principais regiões envolvidas

com os quadros de dependência.

Com o uso de crack, essa região pode ser esmulada

enormemente, causando sensações de prazer que

excedem aquelas experimentadas em situações

normais. Essa região do cérebro também inclui importantes centros de memória2.

Esses centros ajudam a lembrar o que foi feito para levar o indivíduo ao estado

de prazer. uando a pessoa faz uso de crack, essas regiões registram memória

de pessoas, lugares, objetos e situações que levaram àquela sensação. Assim,

diversos esmulos associados a essas memórias podem avar o desejo de voltar

a experimentar aquela situação prazerosa. o mesmo fenômeno que ocorre

quando o indivíduo sente o cheiro de uma comida e seu organismo sofre reações

antes mesmo de ele se alimentar.

á uma outra região do cérebro que também é angida pelo crack. Essa região

é responsável por avidades relacionadas à solução de problemas, à exibilidade

mental, ao julgamento moral e à velocidade de processamento de informações.

onde o cérebro integra as informações e avalia as diversas decisões que pode

tomar.

Assim, é possível que antes de se tornar dependente o indivíduo consiga suprimir

a urgência originada nas áreas relacionadas à sasfação e à memória do prazer,

escolhendo se quer ou não usar a droga, e que, uma vez dependente, sua

capacidade de julgamento que prejudicada, tornando-se ele mais propenso a

seguir os esmulos de urgência que levam ao uso da droga.

Com o uso connuado, os efeitos de curto e médio prazo vão se acumulando e

permitem o surgimento de efeitos de longo prazo, que podem durar meses ou

anos, e podem mesmo ser irreversíveis.

1Núcleo Accumbens

2Hipocampo e Amígdala,

3Córtex pré-frontal 

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Danos físicos

INTOXICAÇÃO

Os efeitos do crack aparecem quase imediatamente depois de uma única dose.

Esses efeitos incluem aceleração do coração, aumento da pressão arterial,

agitação psicomotora, dilatação das pupilas, aumento da temperatura do corpo,

sudorese, tremor muscular. A ação no cérebro provoca sensação de euforia,

aumento da autoesma, indiferença à dor e ao cansaço, sensação de estar alerta

especialmente a esmulos visuais, audivos e ao toque. Os usuários tambémpodem apresentar tonturas e ideias de perseguição (síndrome paranoide).

ABSTINÊNCIA

Como para outros aspectos, a absnência de cocaína inalada é mais estudada do

que a do crack. No entanto, nada faz supor que haveria diferenças importantes

nos sintomas apresentados, mas sim na sua intensidade. A experiência clínica

sugere que o início dos sintomas de absnência do crack seja mais rápido e os

sintomas mais intensos do que os da absnência da cocaína inalada. Ou seja,

os sintomas da absnência do crack seriam mais intensos e de surgimento mais

rápido do que os da absnência de cocaína.

A absnência é composta por três fases:

 9 Fase I: Crash: quando acontece uma drásca redução no humor e

na energia, apresentando inquietação, ansiedade, irritabilidade. Pode

ocorrer paranoia. Instala-se cerca de cinco a dez minutos após cessado

o uso. Muitas vezes são esses sintomas que fazem com que o paciente

use a droga connuamente até a exaustão.

 9 Fase II: Síndrome disfórica tardia: Os primeiros dias são demarcados

por desgaste sico extremo. Frequentemente se dorme muito,

podendo ocorrer sonhos vívidos e desagradáveis, e despertar para

ingerir grandes quandades de alimentos. Com a recuperação sica,

as alterações de humor cam mais evidentes: inquietação, ansiedade,

irritabilidade, sonhos vívidos e intensa vontade de usar a droga. O

auge da absnência ocorre em dois a quatro dias. Ocorrem recaídas

frequentes, como forma de tentar aliviar os sintomas disfóricos.

OVERDOSE:Pode ser definida

como a falência de

um ou mais órgãos,decorrente do usoagudo da substância econsequente aumento

de estimulaçãocentral simpática.

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Crack: um capítulo à parte...Capítulo

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

9 Fase III: no Os sintomas disfóricos diminuem ou cessam por

completo e a ssura se torna menos frequente. As alterações dohumor podem durar meses.

EFEITOS DO CRACK NO CORPO

Os principais efeitos do uso do crack são decorrentes da ação local direta dos

vapores gerados em alta temperatura pela queima da droga (como queimaduras

e olhos irritados) e dos efeitos farmacológicos da substância. Os efeitos

farmacológicos incluem a ação da droga sobre os neurotransmissores (substâncias

químicas produzidas pelos neurônios) dopamina e noradrenalina, com intensa

esmulação do sistema nervoso e cardiovascular.

VIAS AÉREAS

O pulmão é o principal órgão exposto aos

produtos da queima do crack.

Os sintomas respiratórios agudos mais

comuns são: tosse com produção de

escarro enegrecido, dor no peito com ou sem falta de ar, presença de sangue noescarro e piora de asma. A tosse é o sintoma mais comum, estando presente em

até dos casos, e a presença de sangue no escarro foi relatada em até 2

dos pacientes. O escarro escuro é caracterísco do uso de crack e é atribuído à

inalação de resíduos de carbono de materiais ulizados para acender o cachimbo

com a droga. Atenção especial deve ser dada ao tratamento de pacientes com

tuberculose. Muitas vezes esses pacientes convivem em ambientes fechados,

dividem os instrumentos de consumo da droga e apresentam baixa adesão ao

tratamento, favorecendo, dessa forma, a disseminação do bacilo da tuberculose.

CORAÇÃO

O uso do crack provoca o aumento da frequência cardíaca

e da pressão arterial, podendo ocorrer isquemias e infartos

agudos do coração. A ocorrência de isquemia não está

relacionada à quandade consumida, à via de administração

ou à frequência de uso. á ainda risco de arritmias cardíacas

e problemas no músculo cardíaco.

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SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

SISTEMA NERVOSO

O uso de crack pode resultar em uma variedade de manifestações neurológicas,

incluindo acidente vascular cerebral (derrames cerebrais), dor de cabeça, tonturas,

inamações dos vasos cerebrais, atroa cerebral e convulsões.

TRATO DIGESTIVO

Os sintomas mais comuns são náusea, dor abdominal e perda de apete.

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (DST) E AIDS

O consumo de crack e cocaína têm sido associados diretamente à infecção pelo vírus

da imunodeciência humana (IV) e outras doenças sexualmente transmissíveis

(DSTs). O uso do crack tem associação direta com a aceleração da progressão da

infecção pelo IV e também com a redução da adesão ao tratamento.

Os comportamentos de risco mais frequentemente observados são o número

elevado de parceiros sexuais, o uso irregular de camisinha e troca de sexo por

droga ou por dinheiro para a compra de droga. As mulheres usuárias de crack

têm mais relações sexuais em troca de dinheiro ou droga do que as usuárias deoutras drogas, e têm mais chance de se envolverem com esse po de avidade

do que os homens, expondo-se a riscos com maior frequência. Deve ser levada

em consideração a vulnerabilidade social a que muitas delas estão expostas. Vale

ressaltar que existe possibilidade de transmissão de IV através de lesões orais

e labiais causadas pelos cachimbos. O uso de crack também tem sido associado

diretamente a outras DSTs, como gonorreia, sílis e TLV (vírus pertencente à

mesma família do IV), entre outras.

Um estudo recente realizado no Rio de aneiro e em Salvador com jovens usuários

de crack contatados na rua mostrou que eles expressam grande demanda de

serviços sociais e de saúde, mas têm muitas diculdades para acessar esses

serviços. Comportamentos de risco para DST e IV são muito frequentes entre

usuários de crack em situação de rua que apresentam taxas de infecção por IV

(, no Rio e .2 em Salvador), bem maiores do que população a em geral

(menos de ).

SAIBA MAIS:Um estudo anterior

realizado em Salvadorhavia mostrado quea prevalência de HIV

entre usuárias decrack era de 1,6%, percentual maior

que a prevalênciabrasileira (0,47%),

 porém menor que emestudos realizados com

usuários de drogasnão injetáveis na

cidade de São Paulo(11%). Esse estudo

atribuiu esse achadoàs ações de redução

de danos que ocorremnas proximidades

do local de seleçãodas entrevistadas.

Esse mesmo estudoapontou que cerca

de um terço dasentrevistadas já

haviam tido relaçõessexuais em troca dedinheiro ou droga.

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Crack: um capítulo à parte...Capítulo

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

FOME, SONO E SEXO

O uso de crack pode diminuir temporariamente a necessidade de comer e dormir.

Muitas vezes os usuários saem em “jornadas” em que consomem a droga durante

dias seguidos. Frequentemente, a alimentação e o sono cam prejudicados,

ocorrendo processo de emagrecimento e esgotamento sico. Os hábitos básicos

de higiene também podem car compromedos. O crack pode aumentar o desejo

sexual no início, porém com o uso connuado da droga o interesse e a potência

sexual diminuem.

GRAVIDEZ (GESTANTE E BEBÊ)

crac, quando consumido durante a gestação, cega corrente sanguínea

aumentando o risco de complicações tanto para a mãe quanto para o beb

Para a gestante aumenta o risco de descolamento prematuro de placenta, aborto

espontâneo e redução da oxigenação uterina. Para o bebê o crack pode reduzir a

velocidade de crescimento fetal, o peso e o perímetro cefálico (diâmetro da cabeça)

no nascimento. á ainda riscos de má-formação congênita, maior risco de morte

súbita da infância, alterações do comportamento e atraso do desenvolvimento.

O crack também passa pelo leite materno. Assim, a amamentação não é

recomendada enquanto a mulher connuar a fazer uso da droga.

ASSOCIAÇÃO COM BEBIDAS ALCOÓLICAS

Se o crack for fumado associado ao consumo de bebidas alcoólicas as duas

substâncias podem se combinar, formando o cocaeleno. Essa substância

tóxica produz um efeito mais intenso que o crack sozinho e aumenta o risco de

complicações fatais.

INTOXICAÇÃO POR METAL

uando o consumo de crack é feito em latas, além do vapor da droga o alumínio

se desprende com facilidade da lata aquecida e também é aspirado. O alumínio

é um metal que se espalha pela corrente sanguínea e é capaz de causar danos ao

organismo, decorrentes da intoxicação pelo metal.

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OUTROS

Várias situações já foram relacionadas ao uso de crack, como lesões do gado,

dos rins, dos músculos, infecções oculares, lesões de córnea e queimaduras em

mãos, boca, nariz e rosto.

Danos psíquicos

ALTERAÇÕES COGNITIVAS

O crack afeta o cérebro de diversas maneiras. A ação vasoconstritora (contração

dos vasos sanguíneos) diminui a oxigenação cerebral, alterando-o tanto

estruturalmente quanto funcionalmente.

O uso do crack pode prejudicar as habilidades cognivas (inteligência) envolvidas

especialmente com a função execuva e com a atenção. Esse compromemento

altera a capacidade de solução de problemas, a exibilidade mental e a velocidade

de processamento de informações.

Alguns efeitos são rapidamente reverdos pela absnência, mas outros persistem

por semanas, mesmo depois de a droga não ser mais detectável no cérebro. A

reversibilidade desses efeitos com a absnência prolongada ainda é incerta. As

alterações cognivas devem ser levadas em conta no planejamento do tratamento

desses pacientes. O prejuízo cognivo pode interferir na adesão ao tratamento

proposto e na elaboração de estratégia de enfrentamento de situações de risco.

QUADROS PSIQUIÁTRICOS

As complicações psiquiátricas são o principal movo de busca por atenção médica

e podem decorrer tanto da intoxicação aguda quanto da absnência. A prevalência

de transtornos mentais é maior entre usuários de crack, se comparados a usuários

de cocaína inalada.

Um outro diagnósco além dos problemas relacionados ao uso de crack é chamado

de comorbidade. A depressão e a ansiedade são as comorbidades psiquiátricas

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

mais recorrentes, angindo quase metade dos usuários. Os transtornos de

personalidade mais prevalentes entre usuários de drogas são o transtornode personalidade dissocial (ou anssocial) e o transtorno de personalidade

com instabilidade emocional. Sintomas paranoides, na maior parte das vezes

transitórios, são observados com frequência.

O usuário de crack uliza o álcool de modo menos frequente e pesado que o

usuário de cocaína inalada. A maconha muitas vezes é ulizada com o intuito de

reduzir a inquietação e a ssura decorrentes do uso de crack.

A presença de uma comorbidade piora o prognósco de ambos os quadros. Estudos

recentes também têm relatado diculdades entre pacientes em absnência de

cocaína na “regulagem das emoções” (referindo-se à capacidade de entender eintegrar as emoções com outras informações cerebrais) e também no controle de

impulsos.

CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS

Em São Paulo, um estudo com prossionais do sexo que usavam crack mostrou

que a maioria dessas mulheres é jovem, mãe, com baixa escolaridade, vive com

familiares ou parceiros e é sustentada por ela mesma. A maioria trocava sexo por

crack diariamente (de um a cinco parceiros por dia), não escolhia nem o parceiro,nem o po de sexo, nem exigia o uso da camisinha. Outro estudo sobre mulheres

trabalhadoras do sexo em Santos mostrou a associação entre o uso do crack, o

uso de cocaína injetável e posividade para o IV.

Também em São Paulo um estudo de seguimento ( follow-up) de cinco anos

com pacientes que esveram internados mostrou que morreram no

período estudado. A taxa de mortalidade anual (2,5) era vezes maior do que

a da população geral da cidade. A maioria dos que morreram eram homens de

menos de trinta anos, solteiros e com baixa escolaridade. As causas externas

foram responsáveis por dessas mortes, sendo 5, por homicídio, , poroverdose e , por afogamento. Entre as causas naturais (não externas), 2,

foram por IVAIDS e , por epate B.

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Abordagens terapêuticas

O tratamento da dependência do crack reside, em sua maior parte, em

abordagens psicoterápicas e psicossociais. Os resultados de pesquisas sobre o

uso de medicações no tratamento da dependência do crack são apresentados

adiante, tornando clara a sua pouca ecácia, pelo menos até o momento. Além

disso, a hospitalização, quando necessária, não é suciente no tratamento desses

quadros. Deve ser feita uma avaliação abrangente, considerando a movação do

paciente para o tratamento, seu padrão de uso da droga, compromementos

funcionais, problemas clínicos e psiquiátricos associados. Informações de

familiares e amigos podem ser acrescentadas. Condições médicas e psiquiátricasassociadas devem ser tratadas de maneira especíca.

FARMACOTERAPIA

Apesar de grande quandade de estudos ciencos ter pesquisado os tratamentos

farmacológicos para a dependência de cocaína, incluindo estudos recentes

especícos para a dependência de crack, até o momento não existe qualquer

medicação aprovada especicamente para o tratamento da dependência de

cocaína, seja em pó ou sob a forma de crack.Pacientes dependentes de cocaína mantêm o uso de forma compulsiva, mesmo

sabendo que isso pode lhes trazer graves prejuízos. Tentando modicar esse

quadro, diversas medicações têm sido estudadas sem sucesso no tratamento da

dependência. O uso de anpsicócos não traz benecios, não produz controle de

efeitos colaterais, não reduz a vontade (ssura) de usar a droga, nem diminui a

quandade consumida de cocaína durante o tratamento.

Vários anconvulsivantes e diversos andepressivos já foram estudados e também

não se mostraram ecazes. O estudo de psicoesmulantes mostrou resultados

inconclusivos, sem redução do uso, mas com algumas substâncias mostrandotendência de aumento do período de absnência.

ABORDAGEM PSICOSSOCIAL

A revisão dos estudos ciencos realizada pela Agência Nacional para Tratamento

do Uso Prejudicial de Substâncias da rã-Bretanha, em 22, já enfazava que

É importante lembrarque embora não

existam, no momento,medicações que

diminuam a vontadede usar o crack,a prescrição de

medicações podeser indicada parao tratamento das

intoxicações, sintomasda abstinência e

 principalmente para o tratamentodas comorbidades.

 Assim, se um usuáriode crack melhora

de um possívelquadro depressivocom o uso de umantidepressivo ele

tem melhor resultadono tratamento da

dependência do crack.

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

há evidências de tratamentos ecientes para dependência do crack. De fato,

os autores armam que tratar dependência de crack não é nem dicil nemnecessariamente implica em habilidades totalmente novas.

O que é essencial compreender é que as abordagens terapêucas incluem não

apenas os aspectos médicos ou biológicos, mas ações que privilegiem o contexto

socioemocional dos indivíduos envolvidos. Como já foi descrito, não há medicações

que por si só tratem a dependência do crack. Tanto para o tratamento e reinserção

social quanto para as avidades de prevenção é indispensável realizar ações que

aumentem a vinculação daqueles que usam a droga aos serviços e prossionais

de saúde.

Por esse movo, é importante saber que usuários de crack mais frequentementeprocuram tratamento em serviços informais, dirigidos para as suas necessidades,

que contam com pessoas que conhecem os problemas com o crack e as demandas

dos usuários, que podem, inclusive, ser promovidos por ex-usuários.

á múlplos serviços que os usuários podem acessar sem agendamento prévio,

como os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD), redes de

usuários, como os Narcócos Anônimos (NA), e linhas telefônicas 2h, como o

serviço VIVAVO (2). Esses disposivos podem ser usados para aumentar o seu

acesso ao tratamento.

Intervenções psicossociais sem prescrição de medicações, mas com

aconselhamento extra-hospitalar, têm boa relação custo-benecio para pacientes

sem complicações. No entanto, para pacientes com quadros mais graves de

dependência, abordagens psicoterapêucas individuais ou em grupo são

igualmente ecientes. Pacientes com múlplas necessidades respondem melhor

à abordagem em grupo em um esquema intensivo e com avidades prácas.

Nos casos em que o paciente não ver suporte social e ver problemas psíquicos

graves a internação pode ser necessária. Pacientes que têm suas necessidades

abordadas e prossionais empácos têm melhores resultados. Em um estudo de

revisão, os autores armam que a absnência precoce é fortemente relacionada àabsnência persistente. Uma vez que uma parte dos pacientes chega encaminhada

pela usça é importante ampliar e aperfeiçoar a discussão sobre os problemas

com drogas com os prossionais do judiciário.

Como o uso de álcool associado é muito comum, assim como os problemas

familiares, psicológicos e sicos, é importante que as instuições ofereçam

tratamento para esses problemas adicionais. Esses problemas têm que ser

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SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

enfocados, pois são determinantes na evolução do tratamento do usuário. Por

exemplo, uma pessoa que usa crack e que, após interromper o uso, volta a bebertem enorme chance de recair com o crack, assim como uma pessoa que só usa

crack após ter bebido (“efeito galho”) deve interromper o uso do álcool também.

A recuperação manda permite a reconstrução de laços afevos e sociais.

Muitos usuários veem um lugar para onde ir como um primeiro passo na

busca por tratamento. Por isso, locais que oferecem atendimentos para outros

problemas (como saúde mental, emergência e serviços sociais) são uma óma

fonte de informações sobre serviços para dependência de álcool e outras drogas.

Um exemplo de Abordagem Psicossocial:

 Embaixada da Liberdade – uma liberdade positiva

A parr do diagnósco da situação do uso de crack na cidade do Rio de

aneiro, efetuado pela realização de fóruns, os pontos de uso de drogas

e exploração sexual foram mapeados e, como estratégia de políca

pública, foi implantado o serviço da Embaixada da Liberdade em bairro

da ona Norte da cidade. A localização deve-se ao fato de o uso de crack

e exploração sexual estarem arculados, por haver grande concentração

de crianças e adolescentes em espaço de uso chamado de “cracolândia”e pela percepção de que essa clientela não procurava tratamento

espontaneamente.

Constuiu-se um plano de ações com a criação de equipes de abordagem

ampliada, Escola de Redutores de Danos e Consultório de Rua, no qual

Saúde e Assistência Social pudessem trabalhar de forma integrada. Esse

plano de ações teve como objevo atuar diretamente no território,

produzindo acesso aos serviços e aos programas socioassistenciais, como,

por exemplo, o Bolsa-família.

A proposta da Embaixada da Liberdade é proporcionar um espaço

de escuta e acolhimento para o fenômeno das drogas, desaando oimperavo legal e moral advindo do seu uso. Oferecer um espaço público

para crianças e adolescentes usuários de drogas sem impor absnência

e nem permanência no serviço já é, por si só, um grande desao aos

modelos hegemônicos de tratamento e de acolhimento instucional a

crianças e adolescentes.

 A Embaixada daLiberdade fica situadaem Manguinhos - RJ.

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS COMO PARTE DO IMPACTO DO USO

DE DROGASA discussão sobre os pressupostos para a implantação de polícas públicas

na área de álcool e outras drogas se faz necessária devido à intensicação do

uso de crack e de outras drogas no espaço urbano. Para tal, é importante nos

familiarizarmos com conceitos como reabilitação psicossocial, desliação e com a

discussão acerca dos modelos asilar e psicossocial presentes na cultura brasileira.

A necessidade de integrar a dimensão social dos problemas com o crack reete

a compreensão da relevância dessa dimensão tanto na sua origem quanto nas

propostas de abordagem. O foco dessa dimensão social é a violência e a miséria. A

violência está dramazando sintomas da sociedade, e a droga ocupa esse mesmo

lugar. Dessa forma é natural que ela siga as mudanças culturais, como é o exemplo

da presença do crack hoje, uma droga presente em diversas comunidades, em

espaços insalubres, onde há associação direta com a exploração sexual de crianças

e adolescentes, fazendo lembrar os angos campos de concentração do regime

nazista.

Crianças, adolescentes e jovens passam a ser expulsos das comunidades onde

vivem muitas vezes porque não têm mais dinheiro para pagar pela droga ou

porque passaram a cometer furtos ou, ainda, porque foram rechaçados por

moradores de áreas consideradas nobres da cidade devido ao fato de fazeremuso de crack nas calçadas da cidade, pois alguns tracantes não permitem a

ulização dessa droga nas suas áreas de domínio.

Um exemplo importante aconteceu em um bairro da ona Sul da cidade do Rio

de aneiro. Depois de uma ação isolada de repressão, diversos jovens passaram a

usar o crack diante dos moradores do bairro, e estes veram o comportamento

de jogar água sobre os usuários, o que nos remete à ideia de “higienização” social.

Entendemos que esses jovens denunciam diversos movimentos: o do tráco de

drogas, da sociedade excludente, de uma gestão da miséria. E, por isso, passam

a incomodar, chegando a viver como “refugiados em seus territórios de vida”.

DESINSTITUCIONALIZAÇÃO E REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Aqui se fala, então, em desinstucionalização do espaço urbano, pois da mesma

forma que os manicômios foram criados para excluir a loucura do espaço urbano

agora há um movimento de promover exclusão social em alguns espaços da

4 Como fala o diretordo Núcleo de Direitos

Humanos da SMAS/RJ,o médico sanitarista

Marcelo Cunha.

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0SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

cidade. A instucionalização da população de rua não se dá via espaço sico, no

sendo de um estabelecimento, como o manicômio. A desinstucionalização doespaço urbano pode ser compreendida a parr de Saraceno (), que arma

que o manicômio e sua lógica não estão nas arquiteturas dos espaços ou em

lugares abertos ou fechados, mas, sim, na forma como os sujeitos se posicionam.

Portanto, é necessário estar atento à lógica manicomial, aquela que instui a

negação do uso da palavra, do próprio corpo, dos objetos pessoais, do direito

ao uso do espaço domésco e da casa, de ir e vir... A rua hoje passa a ser um

espaço de clausura para muitos que não podem mais circular em seus territórios

de origem. Daí a importância de polícas intersetoriais com Saúde, Educação,

Assistência Social, entre outras, serem arculadas.A reabilitação psicossocial está estreitamente relacionada à ideia de casa ou

do morar, e diferencia o estar e o morar. Um dos elementos fundamentais na

qualidade de vida de um indivíduo e de sua capacidade contratual (capacidade

de promover trocas sociais) é representado pelo quanto “estar” em determinado

lugar se transforma em “habitar” esse lugar. O estar refere-se a uma mera

ocupação do espaço por parte do indivíduo. á o habitar refere-se à capacidade

de se ampliar a contratualidade, tanto em relação à organização material como

simbólica dos espaços, dos objetos e das relações afevas.

Ulizamos o conceito de reabilitação psicossocial como instrumento para omonitoramento e avaliação dos serviços implantados. Segundo Saraceno,

reabilitação seria: “(...) um conjunto de estratégias adotadas com o objevo de

aumentar as possibilidades de trocas de recursos e de afetos e que, só a parr de

uma dinâmica de trocas, se cria um efeito habilitador”.

Muitos usuários de drogas são expulsos de suas comunidades por regras

estabelecidas pelo tráco ou pela milícia. Dessa forma, a rua passa a se constuir

enquanto espaço para os “desliados”. Estes não contam mais com estruturas

sociais como família, comunidade, pátria.

A desliação surge como uma ruptura em relação às normas de reprodução

social hegemônicas, que controlam a inscrição social. O trabalho sustentável

e a sociabilidade sociofamiliar são os principais responsáveis pela integração e

inserção. A ausência desses dois elementos caracteriza a situação de desliação

como “um modo parcular de dissociação do vínculo social”. A zona de integração

seria aquela em que o sujeito dispõe de garanas de um trabalho permanente

e conta com suportes relacionais sólidos; a zona de vulnerabilidade “associa

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

precariedade do trabalho e fragilidade relacional”, e a zona de desliação “conjuga

ausência de trabalho e isolamento social”.A desliação denota a não inscrição nas regras da liação e da reprodução,

bem como nas relações sociais hegemônicas, que pode se dar pela negação dos

indivíduos ou pela falta de oportunidade desse acesso. Isso ocorre quando crianças

e adolescentes em situação de rua chegam a espaços ditos de cuidado e sequer

são recebidos ou são expulsos de forma simbólica, com alegações de que não se

adequaram ao modelo estabelecido. A criminalização das pessoas que usam drogas

ilícitas torna muito dicil sua chegada e permanência nos serviços de saúde, de

educação, de assistência, entre outros, mesmo os de caráter comunitário. uando

o pertencimento social é negado ou abandonado, a violência pode se constuirenquanto uma alternava de vida. Ela evidencia-se no aniquilamento, exclusão

ou abuso do outro, seja ele um indivíduo, um grupo ou uma comunidade. Assim,

a violência não envolve apenas o uso de força sica, mas também a negação

de direitos sociais. A abordagem psicossocial está radicalmente presente nos

disposivos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). As considerações do modo

psicossocial sobre formas de sofrimento vão para além da noção de doença. Por

isso os recursos usados na atenção também precisam ir muito além dos recursos

medicamentosos, com avidades em grupos, atendimentos individuais, ocinas

de geração de renda, entre outros. Daí a lógica da redução de riscos e danos

presente em tais disposivos de saúde.

CONCLUSÃO

Para concluirmos este capítulo sobre o crack dentro de uma perspecva

psicossocial, é importante reforçar que a abordagem ao usuário deve considerar

não somente os sintomas e os efeitos da droga no seu corpo e psiquismo, mas

também os fatores sociais e culturais presentes em seu contexto, que, em algumas

situações, podem se congurar como fatores de risco e, em outras, como fatores

de proteção para o uso de crack. O desao dos prossionais da área de saúdese situa na capacidade de olhar o usuário de forma integral, compreendendo o

seu contexto social e idencando as situações de vulnerabilidade às quais está

exposto, para que, assim, seja possível omizar as potencialidades e minimizar os

riscos.

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2SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Atividades

REFLEXÃO

Estudos epidemiológicos apontam que uma importante parcela da população

de meninos e meninas em situação de rua consome crack, prevalência maior

do que entre populações domiciliar e de estudantes. Cite e comente pelo

menos duas possíveis explicações para que esse uso seja maior entre essa

população.

TESTE SEU CONHECIMENTO

Assinale a alternava INCRRETA sobre o consumo de crac:

a) Por ser consumido fumado, a ação do crack é mais rápida do que a da

cocaína, mesmo quando esta última é injetada diretamente na

corrente sanguínea.

b) Devido aos pulmões serem uma região amplamente vascularizada,

isso favorece a chegada da substância à corrente sanguínea.

c) Ao chegar à corrente sanguínea, o crack alcança rapidamente o

cérebro, o que causa uma sensação de prazer quase que imediata ao

uso.

d) O crack é uma substância que, mesmo sendo produzida através das

folhas de coca, como a cocaína, possui ação diferente no Sistema

Nervoso Central.

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Do ponto de vista neurobiolgico, assinale a alternava INCRRETA:

a) O consumo de crack afeta o funcionamento de regiões cerebrais comoo hipocampo, núcleo accumbens e córtex pré-frontal.

b) Os primeiros efeitos do crack são observados entre dez e quinze

segundos após seu uso.

c) Ao mesmo tempo em que o consumo de crack é reforçado por gerar

prazer, novos usos também são favorecidos por associações que o

cérebro faz entre a sensação de prazer e o que foi feito para se

alcançar essa sensação.

d) Os efeitos do crack se dão somente a curto prazo, mas de maneira

muito intensa, causando uma grande sensação de prazer, não tendoconsequências a longo prazo.

Assinale Verdadeiro V ou Falso F nas armavas abaio:

( ) O atendimento ao usuário deve considerar ações que aumentem o

vínculo entre profissional de saúde e paciente, abordando diversos

aspectos da vida deste último.

( ) Existem casos em que o consumo de álcool acontece associado ao de

crack, podendo o álcool agir como um “gatilho” para um novo uso de

crack.( ) Muitos usuários de crack perdem suporte social, familiar e comunitário

decorrente de uma rejeição à sua condição, promovendo a

estigmatização e dificultando seu acesso ao tratamento adequado e

integração social.

( ) O processo de reabilitação do usuário presume uma estratégia de

abstinência total da substância, sendo o hospital o principal local de

tratamento dos usuários.

a) Todas as alternativas são verdadeiras

b) V; V; V; F

c) V; F; V; F

d) F; V; V; F

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Em relação s consequncias do uso de crac, N é correto armar que:

a) Podem ocorrer feridas nos lábios devido às altas temperaturas doscachimbos utilizados para o consumo da droga, o que por sua vez

pode favorecer a transmissão de doenças.

b) Em algumas cidades do país observou-se uma relação entre o

consumo de crack e a maior prevalência de doenças sexualmente

transmissíveis, como o IV.

c) Os sintomas de abstinência do crack podem ocorrer mais rapidamente

do que entre usuários de cocaína inalada, e a síndrome de abstinência

pode ser dividida em três fases.

d) As consequências do uso do crack ocorrem somente pelos efeitos quea substância causa no organismo da pessoa, como lesões de fígado,

problemas cardíacos e no sistema nervoso.

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Crack: um capítulo à parte...Capítulo

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

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 Marcelo Santos Cruz, Renata Werneck Vargens, Marise de Leão Ramôa

Crack: um capítulo à parte...Capítulo

5

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

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arcelo Santos Cruz, Renata Werneck Vargens, Marise de Leão Ramôa

Crack: um capítulo à parte...Capítulo

5

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Drogas perturbadoras (maconha, LSD-

25, êxtase e outros): efeitos agudos ecrônicos

TÓPICOS

 9 Drogas perturbadoras

 9 Indólicos (LSD, psilocibina e DMT) 9 FEAs – Feniletilaminas (mescalina e êxtase)

 9 Anticolinérgicos

9 Anestésicos dissociativos (fenciclidina e ketamina)

 9 Canabinoides – maconha

 9 Atividades

 9 Bibliografia

Capítulo

6

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oseli Boerngen de Lacerda, Ana Regina Noto

Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

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Drogas perturbadoras

São denominad as perturbadoras  as plan tas e as substân cias que, quan do

consumidas, produzem uma série de distorções qualitavas no funcionamento

do cérebro, como delírios, al ucinaç ões e al teraç ão na cap ac idad e de discriminar

medidas de tempo e espaço. Esse conjunto de efeitos caracteriza um estado que

os usuários conhecem como “viagem”.

Existem diferentes formas de classicar essas drogas. Além de perturbadoras,

essas drogas também são denominadas alucinógenas, psicocomimécas,

psicodislépcas ou psicodélicas. De acordo com a semelhança funcional e

estrutural (fórmula química), os alucinógenos podem ser classicados em cinco

categorias: indlicos, fenilelaminas, ancolinérgicos, anestésicos dissociavos

e canabinoides (veja no quadro a seguir).

Também é possível classicar os alucinógenos, de acordo com a sua origem, em

naturais  (como o tetrahidrocanabinol e a mescalina), semissintécos  (como

o LSD) e sintécos  (como a MDMA ou êxtase). E ainda, de acordo com o po

de efeito principal, são classicados em primários: ap resentam distorções

mentais como efeito principal (como os indólicos); e secundários: as distorções

mentais decorrem de efeitos tóxicos de doses muito elevadas da droga (como os

ancolinérgicos).

O po de efeito desencadeado pelo uso de alucinógenos é caracterizado pelo

intenso grau de subjevidade. As variações dependem de uma série de fatores

individuais, como a personalidade do usuário e as suas expectavas em relação

aos efeitos, bem como de fatores sociais e ambientais (o local e as pessoas que

estão presentes no momento do uso).

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 Roseli Boerngen de Lacerda, Ana Regina Noto

Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

CLASSIFICAÇÃO DOS ALUCINÓGENOS

de acordo com a similaridade estrutural e funcionalIndólicos

(indolalquilaminas)Família do LSD

LSD, psilocibina, Dimeltriptamina –

DMT, ibogaína

Fenilelaminas

(FEAs)

Fam ília da

mescal ina

Melenodioximetanfetamina – MDMA

ou

êxtase, mescalina

Ancolinérgicos

Fam ília dos

at ropínicos

Atropina e escopolamina: produzida

pela planta do gênero Datura

stramonium como sai a bran ca, lírio,

trombeteira, zab umba.Substância sintéca: Cloridrato de

Triexifenidil (Artane), Cloridrato

Biperideno (Akitenon)

Anestésicos

dissociavosFenciclidina – PCP, ketamina

Canabinoides Mac onha, hax ixe

Indólicos (LSD, psilocibina e DMT)

LSD (DIETILAMIDA DO ÁCIDO LISÉRGICO)

Foi descoberto por acaso, em , pelo ciensta suíço Albert ofmann, que, em

seu laboratório, experimentou acidentalmente uma substância semissintéca até

então desconhecida (LSD), derivada do fungo Claviceps sp, que se desenvolve no

centeio. Nesse incidente, ofmann viveu uma experiência “curiosa”, envolvendo

delírios e al ucinaç ões intensas .

SD é considerado a mais potente droga

alucingena  um líquido claro e a forma

mai s comum de ser encontrad o é em mata-

borrão, isto é, papel absorvente impregnado

com o líquido, com guras e desenhos. A sua

absorção é rápida e os efeitos surgem após 2

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Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

2SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

a minutos, com pico de ação após horas. Os efeitos duram de acordo com a

dose consumida, podendo durar de 6 a 8 horas .Os efeitos centrais são decorrentes de sua ação agonista no sistema serotonérgico,

principalmente nos receptores 5T2A. Os efeitos dependem do indivíduo, da

situaç ão de uso e do estad o de humor em que o usuár io se encontra. A “boa

viagem” se caracteriza por alucinações com formas coloridas e aumento da

percepção visual e audiva; enquanto a “má viagem” se caracteriza por depressão,

al teraç ões sensoriai s as sustad oras e sensaç ão de pân ico.

Efeitos psíquicos mais importantes:

 9 Distorções percepvas (cores e formas alteradas);

 9 Sinestesia (fusão dos sendos, ex: “ver um som”, “ouvir uma cor”);

 9 Perda da discriminação de tempo e espaço (minutos parecem horas);

 9 Alucinações visuais e audivas (“boa” ou “má” viagem);

 9 Flashback  (retorno de sensaç ões experimentad as an teriormente,

porém sem ter usado a droga) – atualmente englobado dentro de um

quadro denominado “distúrbio de percepção persistente”;

 9 Delírios.

Efeitos agudos sistmicos mais importantes:

 9 Aumento da frequência cardíaca;

 9 Midríase (dilatação da pupila);

 9 Sudorese (excesso de suor);

 9 Náuseas e vômitos.

PSILOCIBINA (presente em alguns cogumelos)

istoricamente, ao longo de vários séculos, o uso de

cogumelos esteve associado a contextos religiosos.

s cogumelos do gnero Psilocibe  eram ulizados

pelos Maias e Astecas há, pelo menos, 3000 anos,

considerados sagrados e camados de pequenas

ores dos deuses

Flashback podeocorrer em situaçõesimpróprias e trazer

consequênciasimprevisíveis emsituações de riscoou inconvenientes

(dirigindo, emambiente escolar ou de

trabalho, etc.), alémde gerar ansiedade.

Delírios (de grandezae persecutório) e

alucinações alterama capacidade de

 percepção dos riscosambientais e, por

exemplo, aumentama probabilidade

de acidentes.

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Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Existem várias espécies do gênero Psilocibe  (mexicana, cubensis, entre outras),

as quais possuem o princípio avo psilocibina e, portanto, apresentam efeitossemelhantes. São ingeridos em sua forma natural ou secos, misturados ou não a

alimentos. Devido à grande diculdade em diferenciar os cogumelos alucinógenos

dos tóxicos, quadros de intoxicação grave podem ocorrer. Seu mecanismo de

ação parece ser o mesmo do LSD, ou seja, agem esmulando o receptor 5T2A.

Seus efeitos iniciam em cerca de a 2 minutos e duram cerca de quatro a dez

horas, angindo o pico após uma hora.

Efeitos psíquicos mais importantes

 9 Euforia, distorção da percepção de tempo, alucinações, aumento na

percepção visual (cores brilhantes) e desorientação mental;

 9 Podem ocorrer imagens assustadoras, por sua intensidade e conteúdo

incomum, podendo gerar ansiedade e pânico.

Efeitos físicos mais importantes

 9 ipertermia, rubor facial, aumento da frequência cardíaca, sudorese,

midríase, náuseas, vômitos, dor abdominal, incoordenação motora.

DMT – DIMETILTRIPTAMINA (AYAHUASCA)A dimeltriptamina é o princípio avo encontrado nas folhas da planta Psichotria

viridis, a qual, em mistura com o cipó Banisteriopsis caapi , é usada na forma de

um chá denominad o ayahuasca.

No Brasil, o então Conselho Nacional Androgas (CONAD), por meio da Resolução

n 5, de de novembro de 2, republicada no Diário Ocial da União de

de novembro do mesmo ano, reconheceu juridicamente a legimidade do uso

religioso da aahuasca.

Para mais informações, acesse: .obid.senad.gov.br e digite a aahuasca em“busca”.

Os principais efeitos agudos envolvem experiências míscas (miração), podendo

ocorrer alguns efeitos paralelos como náuseas, vômitos e diarreia. Existem

suspeitas de precipitação de quadros psicócos, em indivíduos biologicamente

vulneráveis (por exemplo, com histórico familiar de esquizofrenia).SAIBA MAIS

sobre o uso ritual em:www.santodaime.org

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Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

4SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Em relação ao uso crônico, não existem evidências de desenvolvimento de

dependência ou síndrome de absnência. No entanto, ainda foram poucoavaliados os riscos do uso entre crianças e gestantes. Existem suspeitas de

compromemento cognivo com uso prolongado nas fases de desenvolvimento

infanl e fetal.

FEAs - Feniletilaminas (mescalina eêxtase)

ÊXTASE (METILENODIOXIMETANFETAMINA – MDMA)

A MDMA (melenodioxometanfetamina) é um derivado anfetamínico sintéco

de efeitos mistos, esmulantes e perturbadores, usado na forma de comprimido,

conhecido como êxtase. Possui vários nomes de rua: E; Adam; Bala; etc., sendo

sintezado em laboratórios clandesnos por drug designers, que al teram a

estrutura da molécula de anfetamina.

Assim, a sua pureza varia muito, podendo incluir cafeína, metanfetamina, efedrinaou ketamina. Além disso, frequentemente é associado ao consumo de álcool ou

maconha. A associação de outras substâncias à MDMA aumenta muito o risco de

problemas mais graves. O comprimido de êxtase, ao ser ingerido, se desintegra

facilmente no estômago.

Uma vez dissolvidas, as moléculas de êxtase são absorvidas

no estômago e no intesno, passando para a corrente

sanguínea. Angem o gado, sendo parte metabolizada

(inavada), e o restante é levado para o coração. Daí são

bombeados para o cérebro e outros órgãos. Se usadoem jejum, o êxtase leva quinze minutos para alcançar o

cérebro e ange os efeitos máximos (HIGH) ao nal da

primeira hora após o uso, os quais duram cerca de duas a

três horas.

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Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

A dose média usada é de um ou dois comprimidos, com a 2 mg cada.

comum o indivíduo ingerir mais doses para restabelecer a sensação

conhecida como HIGH (em inglês signica “alto”).

O mecanismo de ação da MDMA baseia-se no aumento da liberação de

monoaminas (dopamina, noradrenalina e serotonina) e no bloqueio de sua

recaptação (especialmente serotonina) para o interior do terminal sinápco. Esse

conjunto de processos provoca o acúmulo desses neurotransmissores na sinapse,

avando as vias serotonérgicas, dopaminérgicas e noradrenérgicas. A MDMA

também atua nos receptores 5T2A, do sistema serotonérgico.

Efeitos psíquicos mais importantes

 9 Afeta o pensamento, o humor e a memória;

 9 Causa ansiedade e percepções alteradas (menos intensas que o LSD);

 9 Senmentos de cordialidade e empaa;

 9 Efeitos reforçadores e esmulantes (potencial);

 9 Redução do apete.

Outros efeitos importantes

 9 Frequência cardíaca e pressão arterial aumentadas;

 9 Sudorese e boca seca;

 9 Fadiga e espasmos musculares (devido ao efeito sobre os

motoneurônios da medula espinhal);

 9 Descontrole da temperatura (geralmente ocorre hipertermia em

função do ambiente e da agitação motora);

 9 Bruxismo (ranger de dentes, sendo que alguns usuários referem

quebra dos dentes).

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Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

6SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Efeitos ticos agudos mais importantes

 9

ipertensão, arritmia cardíaca, rabdomiólise (lesão dos músculosesquelécos) e falência renal (depleção de sais e líquidos e acúmulo de

proteínas nos túbulos renais);

 9 ipertermia, que pode chegar a 2 graus, culminando em um quadro

fulminante, em decorrência da coagulação do sangue levando a dano

cerebral, renal e cardíaco, e até mesmo à morte.

Degeneração dos terminais nervosos de serotonina

 

Normal 2 semanas anos

Possível eplicação para esses efeitos ticos

A destruição pode envolver a produção de radicais livres (formas instáveis de

oxigênio), que são muito tóxicos para as proteínas, lipídios e DNA. Observaram-se,

nesse estudo, prejuízos da memória, que podem estar relacionados com menor

número de terminai s de serotonina.

Em humanos ainda faltam estudos que comprovem esse relato em macacos. Masde qualquer maneira esse estudo em macacos sugere que o uso de MDMA em

humanos pode não ser seguro.

Degeneração

de terminaisserotonérgicos

causada pela MDMAadministrada duas

vezes por dia durante4 dias em macacos.

Os cérebros foram retirados 2semanas (centro)e 7 anos (direita)após a suspensãoda administração

da droga, indicandoapenas recuperação

 parcial.

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Capítulo

6

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Anticolinérgicos

Os agentes ancolinérgicos, muitos dos quais são usados como medicamentos,

apresentam efeitos alucinógenos apenas em doses muito elevadas (em doses

tóxicas). Entre os naturais, o lírio (ou trombeteira, saia branca,Datura stramonium)

é o mais consumido no Brasil. conhecido em São Paulo como chá de lírio e, em

Curiba, como chá de bu. Também o Atroveran disponível para compra em

farmácias contém uma substância natural, a atropina, presente na planta Atropa

beladona, que, em quandades superiores às usadas terapeucamente, produz

tam bém al ucinaç ões.

Entre os sintécos, os ancolinérgicos são encontrados em vários medicamentos

de venda livre ou controlada. Os mais conhecidos são aqueles ulizados para o

tratamento do mal de Parkinson, como a triexifenidila (Artane) e o biperideno

(Akineton). á também a diciclomina (Bentl), ulizada no tratamento

sintomáco das cólicas de estômago, intesno, útero e ureter.

Os ancolinérgicos são bem absorvidos por qualquer via de administração, seus

efeitos se instalam rapidamente e duram cerca de a 2 horas. Atuam como

antagonistas dos receptores muscarínicos da acelcolina. Portanto, produzem

muitos efeitos periféricos.

Efeitos periféricos sobre o sistema nervoso autnomo

Dilatação da pupila, boca seca, taquicardia, aumento da PA, contração dos vasos

sanguíneos, lencação intesnal e retenção urinária.

Efeitos psíquicos mais importantes

Excitaç ão, al teraç ão da percepção do tempo e espaç o, melhora da sensibilidad e

para cores e sons, sensação de euforia e bem-estar e perda da memória. São

comuns delírios persecutórios e alucinações envolvendo bichos (aranhas, baratas,

etc.) e imagens de pessoas mortas.

Não existem evidências de desenvolvimento de tolerância ou síndrome de

absnência.

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Capítulo

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Anestésicos dissociativos (fenciclidinae ketamina)Os principais representantes desse grupo são a fenciclidina e a ketamina.

A fenciclidina (PCP ou “pó de anjo” ) foi muito usada nos Estados Unidos, mas

não existem evidências de uso signicavo no Brasil. Por outro lado, a ketamina

vem sendo usada, principalmente a parr da década de noventa, associada ao

contexto da música eletrônica, em diferentes países (inclusive no Brasil).

A maioria dos usuários de êxtase, por exemplo, relata ter também usado ketamina.

A forma de uso predominante parece ser a aspirada (como o uso da cocaína).

Como anestésicos, causam sensação de relaxamento, incoordenação motora

e prejuízo cognivo. Dependendo da dose, podem promover alucinações,

“revelações míscas”, sensação de utuação e euforia. Alguns usuários relatam

essa experiência como estar numa espécie de “bolha” ou “balão”.

Por se tratar de um fenômeno relavamente recente, ainda são pouco conhecidas

as peculiaridades do uso, os efeitos do uso abusivo crônico e os riscos associados

ao consumo.

Canabinoides – maconha

O uso da maconha acompanha a história do homem.

Existem referências sobre o seu uso há mais de 2.

anos. Dependendo da época, ela foi ulizada pelo

seus efeitos psicológicos, com os mais diversos ns

medicinais, e suas bras foram usadas na confecçãode cordas e roupas .

O efeito euforizante da planta foi descoberto na ndia (entre 2. e .a.C.),

onde era ulizada para esmular o apete, curar doenças venéreas e induzir sono.

No Brasil, as sementes da maconha foram trazidas por escravos, como uma forma

de ligação com a terra natal. Passou a ser culvada para nalidade têxl, mas

rapidamente seu uso, como euforizante, passou a dominar.

 A Cannabis (Cannabissativa) é uma planta

dioica, ou seja, desexos separados.

 A planta femininacontém mais princípios

ativos. As flores e folhas secretamuma resina que

contém mais de 400compostos químicos,e aproximadamente

60 deles são princípiosativos, chamadosde Canabinoides,

entre eles otetrahidrocanabinol

(THC), que possui propriedades psicoativas.

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Capítulo

6

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Como suas propriedades psicoavas e a possibilidade de abuso estavam presentes

e já eram conhecidas, o seu uso foi proibido e o tráco teve início.

Um baseado tem cerca de 5 mg a g de peso de erva

Atualmente, a quandade média de TC conda na maconha é cerca de ,5.

Assim, um baseado teria aproximadamente 22,5 mg de TC. Segundo a OMS, 2 a

mg de TC são sucientes para o indivíduo obter o efeito proporcionado pela

droga (barato ou HIGH).

Algumas variedades genécas da planta possuem maiores teores de TC, sendo

uma delas proveniente do México, a sinsemilla (sem sementes), que contém entre

,5 e 2 de TC. O uso do haxixe, resina da planta, não é comum no Brasil, masé bastante frequente no Oriente, sendo fumado na forma de pedras que podem

conter (até 2 de TC).

Com o passar do tempo, foi sendo feita uma seleção das espécies

de plantas com maiores teores de TC:

 9 – nível médio de TC ,5

 9 – nível médio de TC , - ,5

 9 – nível médio de TC ,5

O TC é metabolizado no gado, sendo um de seus metabólitos mais potente que

o próprio TC. Por esse movo, o efeito é mais prolongado. Além disso, por ser

muito lipossolúvel, é armazenado no tecido adiposo, prolongando ainda mais o

seu efeito.

A forma mais comum de uso da maconha é fumada. O efeito é angido rapidamente

(- minutos), mas o pico de ação ocorre após cerca de minutos, sendo que a

droga se concentra no cérebro.

Após 5 a minutos, os efeitos começam a reduzir, mas como sua liberação

dos tecidos adiposos é lenta podem-se encontrar traços na urina até semanas ou

meses após o úlmo uso. Outra caracterísca é que, sendo o TC insolúvel em

água, não há possibilidade de ser injetado.

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6

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Em , foi descoberto o receptor para TC com alta densidade no córtex,

hipocampo, cerebelo e estriado, que estaria relacionado, respecvamente, compensamento fragmentado, amnésia, incoordenação motora e euforia.

Em 2, foi descoberta a anandamida, a substância endógena (isto é, fabricada

pelo próprio organismo) para esses receptores chamados de canabinoides CB,

presentes no SNC, e canabinoides CB2, presentes no resto do corpo, apesar de

também serem encontrados no SNC nos neurônios e na glia.

A função da anandamida não está totalmente esclarecida, mas sabe-se que

está relacionada ao humor, memória e cognição. comparável aos opiáceos

em potência e ecácia no alívio da dor. Acredita-se que comparlha os mesmos

efeitos farmacológicos do TC, porém com ação mais curta.

EFEITOS AGUDOS MAIS IMPORTANTES DA MACONHA

No Sistema Nervoso Central  (depende da dose, experiência, expectava,

ambiente):

 9 Leve estado de euforia;

 9 Relaxamento (redução da ansiedade);

 9 Afeta sensações ligadas à música, ao paladar e ao sexo;

 9 Prolonga a percepção de tempo;

 9 Pode causar risos imovados; torna o usuário mais falante e sujeito a

delírios.

No resto do corpo

 9 Olhos avermelhados, boca seca e taquicardia.

Intoicação dose: vezes maior que a usual 9 O risco real para a saúde é mínimo: não há registro de morte por

intoxicaç ão.

Tolerância Dependncia Síndrome de Abstinncia

 9 Tolerância: observada apenas em casos de consumo elevado;

 9 Dependncia: cerca de dos usuários crônicos apresenta ssura e

centralidade na droga;

 ANA NDAMIDA ananda em sânscrito

significa alegria,contentamento,

sedação

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 Roseli Boerngen de Lacerda, Ana Regina Noto

Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

9 Síndrome de absnncia (fracamente denida e de baixa intensidade;

somente para altas doses e em períodos prolongados de uso);ansiedade; insônia; perda do apete; tremor das mãos; sudorese;

reexos aumentados; bocejos; humor deprimido.

uso regular de macona, por períodos muito longos, está associado com:

 9 Ansiedade, paranoia, pânico, depressão;

 9 Prejuízo da memória e da habilidade de

resolver problemas;

 9 Redução da testosterona (redução

transitória da ferlidade masculina);

 9 Pressão arterial alta;

 9 Asma, bronquite;

 9 Psicose entre as pessoas com histórico familiar de esquizofrenia. O uso

de maconha na adolescência aumenta a probabilidade de sintomas

psicócos após os 2 anos de idade;

 9 Doença do coração e doenças crônicas obstruvas das vias aéreas;

 9 Cânceres (propriedades carcinogênicas são superiores às do tabaco);

 9 Problemas de atenção e movação (síndrome amovacional);

 9 Prejuízo na memóriaconcentração: compromete desempenho de

tarefas complexas e rendimento intelectual.

Efeitos teraputicos potenciais da macona

 9 Redução do vômito e aumento do apete em quimioterapia e

tratamento da AIDS;

 9 Alivia a dor neuropáca, podendo ser usada como adjunta no

tratamento de pacientes com AIDS, câncer e diabetes; 9 Efeito anespásco em pacientes com esclerose múlpla;

 9 Uso no tratamento de glaucoma, por diminuir a pressão intraocular.

á a necessidade de mais estudos controlados para comprovar sua ecácia por

outras formas de administração diferente da fumada (a ser evitada pelos efeitos

lesivos desta via de administração).

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oseli Boerngen de Lacerda, Ana Regina Noto

Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

2SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Atividades

REFLEXÃO

Drogas como opioides, benzodiazepínicos e outros sedavos que têm

aplicações terapêucas mas que também podem causar dependência têm

seu uso terapêuco legalizado e normazado. Diante disso, como você avalia

a questão da liberação do uso terapêuco da maconha?

TESTE SEU CONHECIMENTO

Dos seguintes efeitos ticos, qual não é caracterísco da MDMA tase:

a) Delírio persecutório e de grandeza.

b) ipertermia com risco de falência de vários órgãos.

c) Alucinações com conteúdo bizarro.

d) Câncer de cabeça e pescoço.

uanto aos efeitos crnicos da macona, é INCRRET armar que:

a) Pode promover síndrome amotivacional, isto é, problemas de falta de

motivação.

b) Promove prejuízo da memória e concentração.

c) Pode precipitar ou agravar psicoses.

d) Pode causar hipertermia fulminante.

Um único uso agudo de SD possivelmente não causará:

a) Alucinações auditivas e visuais.

b) Sinestesia (fusão dos sentidos).

c) Dependência.

d) Delírios.

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 Roseli Boerngen de Lacerda, Ana Regina Noto

Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Sobre as plantas e substâncias classicadas como perturbadoras do Sistema

Nervoso Central SNC podemos armar que:a) Podem produzir distorções qualitativas no funcionamento do SNC,

como delírios, al ucinaç ões e al teraç ão na cap ac idad e de discriminar

medidas de tempo e espaç o.

b) Também podem ser denominadas alucinógenas, psicoticomiméticas,

psicodislépticas ou psicodélicas .

c) Promovem um conjunto de efeitos que muitos usuários denominam

como “viagem”.

d) Todas as alternativas estão corretas.

 

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oseli Boerngen de Lacerda, Ana Regina Noto

Drogas perturbadoras (maconha, LSD-25, êxtase e outros):efeitos agudos e crônicos

Capítulo

6

4SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Bibliografia

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EFEITOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVASMódulo

2

Problemas médicos, psicológicos e

sociais associados ao uso abusivo deálcool e outras drogas

TÓPICOS

 9 Problemas associados ao uso de substâncias

 9 Carga global do uso de álcool e outras drogas 9 Problemas sociais

 9 Problemas psíquicos e comorbidades

 9 Repercussões médicas do uso abusivo deálcool e outras drogas

 9 Atividades

 9 Bibliografia

Capítulo

7

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arcelo Santos Cruz, Marisa Felicissimo

Problemas médicos, psicológicos e sociais associados ao uso abusivode álcool e outras drogas

Capítulo

7

6SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Problemas associados ao uso desubstânciasComo visto no módulo an terior, gran de par te da populaç ão bras ileira faz uso de

ál cool, tab ac o ou de outras drogas . O uso dessas substân cias , muitas vezes, é

associado a avidades culturais, informais e prazerosas e pode ocorrer sem causar

dan os, como é o cas o de festas e confrat ernizaç ões, nas quai s a pessoa usa de

modo controlado e limitado. No entanto, o uso frequente ou mesmo a ulização

em quandade excessiva, em uma única situação, pode provocar problemas

grav es, tan to par a a pessoa que usa como par a as demai s. Esses problemas, que

podem ser sociais ou relacionados saúde sica ou mental, são o tema destaseção A Organização Mundial da Saúde classica os danos em crônicos e agudos 

(WHO, 2004). Os crônicos incluem as doenças e os problemas sociai s; e os ag udos

se referem a acidentes, violência e doenças ag udas . Os dan os podem ser

provocados pelos efeitos psicoavos das drogas no funcionamento mental (como

é o caso de um acidente em que a víma ou o agressor perde a capacidade de

av al iaç ão dos riscos pelo uso do ál cool); pela dependência (um indivíduo pode

deixar progressivamente de realizar avidades e até de cumprir com suas

responsab ilidad es, porque só consegue ag ir sob efeito da substân cia de que é

dependente) ou pelos efeitos tóxicos da droga no corpo (como é o caso do câncer

de pulmão, relac ionad o ao uso do tab ac o).

Esquema sobre a relação entre uso de álcool e outras drogas e problemas

sociais, de saúde sica ou mental

 

Meio Familiar e Social

Fatores

Protetores

Efeitos

Tóxicos e

Outros Efeitos

Bioquímicos

Efeitos

Psicoavos 

(Intoxicação)Dependência

VulnerabilidadeIndivíduo

Doença CrônicaAcidentes e Doenças

Agudas

Problemas Sociais

Agudos

Problemas Sociais

Crônicos

Formas e Padrão de Uso

de Álcool e Drogasuandade de

Substância Ulizada

Fonte: Adap tad o de Bab or, Cae tan o, Cas swell et al ., 2003

Em cada caso, aocorrência de danos

 pode ser relacionadaa um ou mais

mecanismos diferentese depende do tipoe da forma de usoda substância e da

quantidade utilizada. A gravidade dos

danos vai dependerde fatores, que

variam de pessoa para pessoa e que

 podem ser fatores de proteção ou de maiorvulnerabilidade (física, psicológica ou social).

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 Marcelo Santos Cruz, Marisa Felicissimo

Problemas médicos, psicológicos e sociais associados ao uso abusivode álcool e outras drogas

Capítulo

7

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Carga global do uso de álcool e ou-tras drogasO relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a saúde no mundo

cham a a at enção par a a car ga global de doenças decorrentes do uso de ál cool e

outras drogas. O uso global de substâncias psicoavas é esmado em 2 bilhões de

usuár ios de ál cool, 1,3 bilhão de fuman tes e 185 milhões de usuár ios de drogas . O

uso prejudicial do ál cool resulta em 2,5 milhões de mortes global mente por an o.

O relatório do estado global da análise do álcool e saúde de 2 mostra que

cerca de 4% de todas as mortes são relac ionad as ao ál cool, cau sad as por doenças ,acidentes, câncer, doenças cardiovasculares e cirrose do gado. lobalmente,

320 mil jovens entre 15 e 29 an os morrem an ual mente, por cau sas relac ionad as

ao uso do ál cool, resultan do em 9% das mortes desse grupo etár io.

Tran stornos relac ionad os ao uso do ál cool estão entre as 20 cau sas que lideram a

carga global de doenças e ocupam a quarta posição em países das Américas (BD

report   2004 update part 4, WHO). No estudo da OMS sobre car ga global de

doenças de 2010, os tran stornos relac ionad os ao uso das drogas e do ál cool

ocupam a 18ª e a 19ª posições no ranking  das doenças nos paí ses do Sul da

América Lana. Além disso, o abuso do álcool e do tabaco estão tambémrelac ionad os às doenças que ocupam o topo da lista: doenças car díac as ,

cerebrovas cular es e respirat órias .

Segundo a OMS (2001), se considerar mos ap enas a incap ac idad e par a pessoas

entre 5 e anos de idade, de ambos os sexos, o álcool é responsável por 5,5

de perda de an os por incapac idad e, sendo esta a segunda cau sa de perda mai s

importan te. Em 1998, o gas to nos EUA com relaç ão aos problemas cau sad os pelo

consumo das drogas ilícitas foi de 98 bilhões de dólares (Ban co Mundial , 1999).

Ainda a OMS (2008), o tab ac o é responsáv el pela morte de um terço à metad e das

pessoas que fumam , e elas terão sua vida encurtad a em cerca de 15 an os.

O relat ório da OMS mostra tam bém que os gas tos hospital ar es com os problemas

de saúde provocados pelo álcool ultrapassam a arrecadação com impostos sobre

o ál cool (OMS, 2001).

NOTA:

“DALY”, que significa“anos de vida perdidos ajustados

 por incapacidade” - éuma medida elaborada

conjuntamente pelaOMS, Banco Mundial

e Universidade deHarvard. Os “DALY”

medem o peso globalde uma doença,

associando, de umlado, os anos de vida potencial perdidos

em consequência damorte prematuradevida à doença e, deoutro, os anos de vida produtiva perdidos

em consequênciada incapacidade

resultante da doença.

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Capítulo

7

8SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Dados da MS sobre a prevalncia do uso de substâncias ilícitas

“O consumo de substân cias e as far mac odependências representam umimportan te far do par a indivíduos e sociedad es em todo o mundo. O Relat ório

sobre a Saúde no Mundo de 22 indicava que , da carga global das doenças

resultaram do consumo de substâncias psicoavas. O mesmo relatório mostrava

que, em 2000, o uso de tab ac o representav a 4,1%, o de ál cool, 4% o de drogas

ilícitas , 0,8% da car ga global das doenças . Uma gran de par te dessa car ga, que

se pode at ribuir ao consumo de substân cias e às far mac odependências , resulta

tam bém de vár ios problemas san itár ios e sociai s, incluindo HIV/AIDS, que em

muitos paí ses são cau sad os pelo uso de drogas injetáv eis.”

AVALIAÇÕES DA PREVALÊNCIA ANUAL DE CONSUMO MUNDIAL DESUBSTNCIAS ICITAS,

Todas assubstân cias

ilícitas Mac onha

Esmulantes poanfetam inas

Cocaí naTodos osopiác eos HeroínaAnfetam inas xtase

Nº deusuár ios(emmilhões)

200 162,8 34,3 7,7 14,1 14,9 9,5

Proporçãoda

populaç ãomundial(%)

3,4 2,7 0,6 0,1 0,2 0,3 0,16

Proporçãodepopulaç ãocom 15an os oumais (%)

4,7 3,9 0,8 0,2 0,3 0,4 0,22

Fonte: Organização Mundial da Saúde 2.

Dados da MS sobre o impacto do uso de substâncias na saúde da população,avaliada pelos Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade DALY )

Carga das doenças

Há at ual mente uma tendência crescente de se av al iar a contribuição do consumo

de ál cool, tab ac o e substâncias ilícitas à car ga global das doenças . A primeira

tentava importante, nesse sendo, teve lugar no âmbito do projeto da OMS

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Problemas médicos, psicológicos e sociais associados ao uso abusivode álcool e outras drogas

Capítulo

7

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

sobre carga global das doenças e traumasmos. Com base num padrão de medida

conhecido como Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade  (DALY ),av al iou-se a car ga imposta à sociedad e por mortes premat uras e an os vividos

com incap ac idad es.

O projeto sobre a car ga global das doenças mostrou que o tab ac o e o ál cool eram

cau sas importan tes de mortal idad e e incap ac idad e em paí ses desenvolvidos, com

o au mento previsto do impac to do tab ac o em outras par tes do mundo.

De acordo com os dados da Tabela, ca evidente que a carga das doenças

devidas ao consumo de substâncias psicoavas consideradas em seu conjunto é

importan te: 8,9%, em termos de DALYs. Contudo, os resultad os da car ga global

das doenças realçam o fato de que a maior parte dos problemas de saúde nomundo é devida mai s a substân cias lícitas do que ilícitas . Entre os dez principais

fat ores de risco, em termos da car ga das doenças evitáv eis, o tab ac o era o quar to

e o álcool, o quinto em 2, e connuam no alto da lista de 2 e nas previsões

par a 2020. Os dan os at ribuídos ao tab ac o e ao ál cool são especial mente grav es

entre homens, nos paí ses desenvolvidos (principal mente na Europa e na América

do Norte).

PORCENTAGEM DE MORTALIDADE MUNDIAL TOTAL E DALYS ATRIBUÍDA

A TABACO, ÁLCOOL E SUBSTÂNCIAS ILÍCITAS

Fat or derisco

Paí ses emdesenvolvimento

com gran desmortal idad es

Paí ses emdesenvolvimento

com baixamortal idad e

Paí sesdesenvolvidos

Emtodo omundo

Mortal idad e

Tab ac o 7,5 1,5 12,2 2,9 26,3 9,3 8,8

Álcool 2,6 0,6 8,5 1,6 8,0 -0,3 3,2

Drogasilícitas

0,5 0,1 0,6 0,1 0,6 0,3 0,4

DALYs

Tab ac o 3,4 0,6 6,2 1,3 17,1 6,2 4,1

Álcool 2,6 0,5 9,8 2,0 14,0 3,3 4,0

Drogasilícitas

0,8 0,2 1,2 0,3 2,3 1,2 0,8

Fonte: Organização Mundial da Saúde 2.

LEGENDA:

 - Homens

- Mulheres

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7

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Problemas sociais

No mundo todo, nas úlmas décadas, caram evidentes os problemas sociais

as sociad os ao consumo de ál cool e outras drogas . É possível pensar em fat ores

que inuenciem o consumo de drogas, tais como desemprego, más condições

de saúde e educação, falta de opções de lazer, etc. que podem contribuir para

o consumo de ál cool e outras drogas . Além disso, o consumo de drogas pode

ag ravar os problemas sociai s de um indivíduo, da fam ília, da comunidad e e do

paí s.

No Brasil, da mesma forma que em outros países, nas úlmas décadas, têm

ocorrido au mento dacriminal idad e, daviolência, da superlotaç ão das prisões, com

rebeliões nas cad eias . Nessasituaç ão, jovens e seus fam iliar es se veem envolvidos

por uma mistura de au sência de emprego estáv el com remuneraç ão justa, fal ta

de opções de lazer, diculdades escolares, diculdades nos relacionamentos da

família e convivência constante com avidades criminosas, violência, repressão

policial e carência de polícas de assistência pública. Essas condições sociais

precárias podem contribuir para o aumento do uso e venda de álcool e outras

drogas nas comunidades carentes (Cruz e Ferreira, 2001).

Nas fam ílias que têm melhores condições de vida, os problemas nos

relac ionam entos fam iliar es tam bém se as sociam ao au mento do consumo de

ál cool e outras drogas , que, por sua vez, ag rav am a situaç ão.

Os dan os pelo uso do ál cool são clar am ente relac ionad os ao pad rão de consumo

(quandade e frequência de uso). Assim, quanto mais uma pessoa bebe, maior

o risco de provocar ou sofrer danos. Isso se observa, por exemplo, nos estudos

internac ionai s que comprovam a relaç ão entre os ac identes de au tomóveis e o

consumo do ál cool (Bab or, Cae tan o, Cas swell e cols, 2003).

Segundo alduróz e Caetano (2), um estudo sobre acidentes de trânsito e

uso do ál cool real izad o no Bras il pela Associaç ão Bras ileira de Depar tam entos deTrânsito em Brasília, Curiba, Recife e Salvador mostrou que 2,2 das vímas de

acidentes de trânsito apresentavam taxas de álcool no sangue maiores do que as

permidas pelo Código Nacional do Trânsito.

Outros estudos no Brasil também encontraram altas taxas de consumo de

ál cool em pessoas que dirigem (Nery-Filho, Miran da e Medina, 1995) e que se

envolveram em ac identes de trân sito (Oliveira e Melcop, 1997). Além disso, o

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 Marcelo Santos Cruz, Marisa Felicissimo

Problemas médicos, psicológicos e sociais associados ao uso abusivode álcool e outras drogas

Capítulo

7

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

efeito do uso do álcool, au mentan do o risco de ac identes de au tomóveis, é mai or

em pessoas mais jovens e com menor experiência no volante.O número de mortes por acidentes relacionados ao uso do álcool diminui

nos paí ses que usam a lei par a au mentar o controle sobre o uso de ál cool por

motoristas (Bab or, Cae tan o, Cas swell e cols, 2003).

As pesquisas ciencas também demonstram que há relação entre o consumo de

álcool e o aumento do número de suicídios e tentavas de suicídio. Nesse caso,

tam bém o au mento de suicídios se correlac iona ao pad rão de consumo, sendo

mai or entre bebedores pesad os.

 

Danos sociais relacionados ao consumo do álcool

 9 Violência;

 9 Acidentes;

 9 Van dal ismo;

 9 Desordem pública;

 9 Problemas fam iliar es;

 9 Outros problemas interpessoai s;

 9 Problemas nanceiros;

 9 Problemas no trab al ho;

 9 Diculdades educacionais;

 9 Custos sociai s.

  Modicado de Babor, Caetano, Cassell e colaboradores. (2)

VIOLÊNCIA

No cas o da violência, o consumo do ál cool pode ser observad o tan to entre os

agressores quanto entre as vímas. Em processos de homicídio ocorridos entre

5 e , em Curiba, 5, das vímas e 5, dos autores dos crimes

estav am sob efeito do ál cool no momento do ocorrido (Duar te e Car lini-Cotrim

2000).

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Capítulo

7

2SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Tam bém se observa relaç ão com o pad rão de consumo, ou seja, quan to mai s se

bebe, mai or a ocorrência de violência (Bab or, Cae tan o, Cas swell e cols. 2003). 9 Uso de ál cool e os problemas de trab al ho;

 9 Absenteísmo (além das faltas ao trabalho inclui os atrasos e rerada

do trabalho antes do nal do expediente);

 9 Rotavidade de funcionários, devido à morte prematura;

 9 Problemas disciplinar es;

 9 Baixa produvidade;

 9 Problemas nos relac ionam entos com os colegas e chefes no trab al ho.

Problemas psíquicos e comorbidades

O uso abusivo de substâncias que modicam o funcionamento mental aumenta

o risco de surgimento ou ag rav am ento de tran stornos mentai s. Tam bém nesse

caso pode ser dicil idencar o que é causa e o que é consequência, pois pessoas

que sofrem de problemas psíquicos tendem a usar mai s ál cool ou drogas , que

por sua vez ag rav am os problemas mentai s. São cham ad os de comorbidades osquad ros que ocorrem ao mesmo tempo.

Repercussões médicas do uso abusivode álcool e outras drogas

Muitos pac ientes usuár ios de drogas e principal mente al coolistas e tab ag istas

procuram, primeiramente, as unidades básicas de saúde em busca de ajuda

par a trat ar de problemas clínicos (médicos) que vêm ap resentan do. Uma boa

par te desses pac ientes não menciona o uso ab usivo de substân cias , se não for

quesonado pelo prossional de saúde, e alguns chegam até a negar tal uso.

É muito importan te o conhecimento das principai s ocorrências clínicas

relacionad as ao uso crônico e ab usivo de ál cool e outras drogas , par a melhor

ab ordag em e orientaç ão dos pac ientes.

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Capítulo

7

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

PROBLEMAS DECORRENTES DO USO DE ÁLCOOL

Sempre na lista dos mai ores cau sad ores

de problemas de saúde no mundo, o

ál cool af eta quas e todos os sistemas

orgân icos em diversos grau s.

 

Fígado

O gado também é um órgão comumente angido pelo uso pesado de álcool. á

vár ios níveis de prejuízo e geral mente os sintomas podem demorar muito a

ap ar ecer, mesmo quan do já há dan o grav e.

 9 Esteatose epáca: A esteatose hepáca

é uma inltração gordurosa do gado que

ocorre, geral mente, sem sintomas e que

pode progredir para a cirrose hepáca(invasão do gado por tecido broso), que

invar iav elmente evolui par a a fal ência do

órgão (insuciência hepáca).

 9 Cirrose: A cirrose é, na verdad e, o resultad o de

diversas doenças crônicas do gado, que levam

a destruição grad ual das células com a

formaç ão de cicat rizes, que vão se ac umulan do

até que a estrutura do gado esteja

deformad a, com a formaç ão de nódulos.

 9 epate: A hepate (inamação e morte das células do gado)

ode ocorrer pelo uso mac iço de ál cool e tam bém por infecção viral ,

cau san do dor e desconforto na região superior direita do ab dome,

febre e icterícia (cor am ar elad a nos olhos, pelo au mento das

bilirrubinas – substâncias hepácas). Muitas vezes, a inamação pode

ocorrer de forma gradual e assintomáca. As hepates virais ocorrem

mai s frequentemente em usuár ios de drogas e serão ab ordad as mai s

ad ian te.

Sistema Gastrointestinal 

Fígado

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4SUPERA  | Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento

Pancreatite

O álcool também pode induzir pancreate (inamação do pâncreas) aguda oucrônica, que causa dor, vômito, conspação intesnal, que requer em alguns

casos a hospitalização do paciente para tratamento. A pancreate crônica pode

ai nda levar à fal ência da produção de importan tes substân cias , como a insulina,

provocan do diab etes mellitus.

Síndrome Disabsortiva

A síndrome disabsorva pode ocorrer por efeito

deletério do álcool sobre a mucosa intesnal, somada

à baixa produção de enzimas digesvas, produzindo

diarreia crônica e causando no paciente a deciência

de uma série de nutrientes (folat o, vitam inas , dentre

outros). Val e ressal tar que esse quad ro tam bém é

ag ravad o devido à má al imentaç ão e consequente

ingestão insuciente de nutrientes.

Sistema Cardiovascular

O uso abusivo de álcool parece aumentar signicavamente as chances de o

indivíduo ap resentar ipertensão arterial, além de ter ação tóxica direta sobre

o músculo cardíaco, levando à miocardiopaa alcolica, que ocas iona sintomasde can saç o ao s mínimos esforços, fal ta de ar e sinai s de edema (inchaç o nas

pernas ). Cerca de um quinto dos pac ientes com arritmia atrial (al teraç ões do

ritmo cardíaco) apresenta diagnósco de uso abusivo

crônico de ál cool.

Sobre possíveis efeitos benécos para o coração e as

ar térias , relac ionad os ao uso de ál cool, é importan te

observar que eles só ocorrem quan do o consumo

permanece em baixas quandades. O consumo pesado

de ál cool é clar am ente relac ionad o ao au mento dosriscos de doenças car diovas cular es.

 ATENÇÃO! Por isso, é muito

importante orientar pacientes diabéticos para que evitem oconsumo de álcool.

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Capítulo

7

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Sistema Nervoso

O ál cool é cap az de cau sar diversos problemasneurológicos, tan to no nível central (Sistema

Nervoso Central ) quan to no nível periférico

(Sistema Nervoso Periférico). Dentre as doenças

do SNC relac ionad as ao al coolismo, a síndrome de

ernicke-orsako é uma das mais relevantes,

caracterizada pela encefalopaa de ernicke, com

sinai s de fal ta de coordenaç ão motora, al teraç ões dos movimentos dos olhos e

confusão mental. eralmente, é seguida da amnésia de orsako, caracterizada

por perda de memória recente (diculdade de xar fatos novos).

A degeneração cerebelar, ou seja, a atroa do cerebelo, importante parte do

cérebro responsáv el pela coordenaç ão dos movimentos e equilíbrio, ocorre

principal mente entre os usuár ios crônicos de ál cool que são mal nutridos. A morte

difusa de células nervosas (neurônios), por efeito direto e indireto do ál cool, leva o

indivíduo a apresentar a demência alcoólica, de progressão gradual, que, ao nal,

pode ser dicil de diferenciar de outras demências (não induzidas pelo álcool).

A neuropaa periférica é a principal disfunção do Sistema Nervoso Periférico,

encontrada em alcoolistas de longa data. causada pela deciência de vitaminas

do complexo B (como a amina) e é caracterizada por alteração da sensibilidadedas extremidades dos membros inferiores e superiores (distribuição conhecida

como “em luvas e botas ”), ocas ionan do dores e dormência, principal mente nas

pernas .

Sistema ematolgico e Imunolgico

O álcool afeta negavamente a produção e a sobrevivência de várias células

sanguíneas. Os principais problemas encontrados são a anemia (por baixo

consumo de ferro, ác ido fólico e vitam ina B12, ou por pequenas hemorrag ias

internas ocultas), a trombocitopenia (baixo número de plaquetas) e a neutropenia

(baixo número de leucócitos - importantes no sistema de defesa do organismo).

Sistema Endcrino

Mulheres e homens que fazem uso abusivo crônico de álcool exibem alterações

hormonais que podem levar à atroa (diminuição) dos tesculos, desenvolvimento

de mamas e impotência, nos homens; e diminuição da ferlidade e menopausa

precoce, nas mulheres.

Cérebro com síndrome de Wernicke-Korsakoff 

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Capítulo

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TABACO

O tab ag ismo é aterceira mai or cau sade morte evitáv el no mundo. Segundo a OMS,

4,9 milhões de pessoas morrem a cad a an o por doenças cau sad as diretam ente

pelos componentes do cigar ro. O tab ag ismo tem consequências grav es par a

a saúde dos fumantes e também das pessoas diretamente expostas à fumaça

(fuman tes pas sivos).

Câncer

Cerca de 85% dos cân ceres de pulmão são cau sad os pelo tab ag ismo. O uso

crônico do tab ac o tam bém pode levar ao desenvolvimento de cân cer na cav idad e

oral, laringe, faringe, esôfago e estômago. Cânceres no pâncreas, rins e bexigatam bém são comuns entre tab ag istas .

Sistema Respiratrio

O tabag ismo pode cau sar desde uma tosse

crônica (pigar ro), at é doenças crônicas

e grav es do pulmão, como a doença

pulmonar obstruva crônica (DPOC) e

o ensema pulmonar, que em estágio

av ançad o levam o pac iente a depender deap arelhos par a respirar , a hospital izaç ões

prolongad as ou mesmo à morte.

Sistema Cardiovascular e Gastrointestinal

O tab ag ismo é sempre listad o entre os principai s fat ores de risco par a a ocorrência

de ac idente vas cular cerebral (AVC, derram e), infar to do miocár dio, an eurismas

da ao rta e doenças das ar térias periféricas , al ém de cau sar gas trite crônica e at é

úlceras do estômago e duodeno.

Na Gravidez

As mulheres que fumam duran te a grav idez

têm 70% mai s chan ces de sofrerem ab orto

espontân eo, 40% a mai s de risco de par to

prematuro e nascimento de bebês de baixo

peso. Os lhos de fumantes também estão mais

sujeitos a desenvolver infecções respirat órias

LEMBRE-SE  Alerte as gestantes para evitar o uso

de tabaco!

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Capítulo

7

Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

e ao agravamento dos quadros alérgicos, apenas pela exposição constante à

fumaç a do cigar ro.

PROBLEMAS RELACIONADOS AO CONSUMO DE COCAÍNA/CRACK

Os danos à saúde dos usuários de cocaína estão concentrados principalmente no

sistema cardiovascular. O efeito esmulante da droga, somado ao bloqueio de

canais de cálcio nas células cardíacas, altera o uxo sanguíneo para o coração,

o que pode ocasionar arritmias cardíacas (taquicardia, extrassístoles, brilação,

as sistolia) , hipertensão ar terial e contraç ões das ar térias , que podem levar

a isquemias (diminuição da quandade de sangue até os órgãos) e infarto do

miocár dio.

O cérebro também pode ser angido por problemas de origem vascular, que

cau sam at aq ues isquêmicos tran sitórios e ac identes vas cular es cerebrai s,

podendo deixar sequelas motoras e cognivas (memória). O efeito tóxico direto e

connuado da cocaína sobre o cérebro pode aumentar as chances de o indivíduo

apresentar convulsões e múlplos infartos silenciosos, que levam a prejuízos da

memória em longo praz o.

Com o uso crônico por inal aç ão (as pira- se a droga pelo nar iz), a mucosa nas al

pas sa a ap resentar lesões ulcerosas e san gran tes e torna- se importan te porta deentrada de microorganismos, como o vírus da hepate C, que pode ser contraído

e disseminado pelo comparlhamento do canudo ulizado para aspirar o pó.

Pode ocorrer tam bém necrose do septo nas al .

O uso da cocaí na injetáv el (bem como de outras drogas por essa

via) expõe o indivíduo a inúmeras doenças infecciosas como

a AIDS, endocardite infecciosa, hepates B e C, entre outras,

ocas ionad as pela introdução direta dos microorgan ismos nocorpo por ag ulhas contam inad as .

Os usuár ios de crac k (vejadetal hes no cap ítulo 5) têm os mesmos riscos dos usuár ios

da cocaí na e ai nda aq ueles relac ionad os à ag ressão do sistema respirat ório por

inalação de fumaça tóxica em alta temperatura. Podem apresentar dor, tosse,

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hemopse (escarro de sangue), bronquite, asma, pneumonia e edema pulmonar.

caracterísca a ocorrência do pulmão de crack, sintomas de pneumonia (dorintensa no tórax, febre alta, diculdade para respirar) sem evidências de infecção

na radiograa de tórax. Pode levar à morte.

PROBLEMAS RELACIONADOS AO CONSUMO DE OPIÁCEOS

Vár ios sintomas clínicos ac ometem os usuár ios dessas substân cias , principal mente

no período de absnência (não uso), e podem ser considerados desde de

desconfortáveis a graves. Os mais comuns são: dores musculares, conspação,

diar reia e sedaç ão. Pneumonia pode ocorrer por as piraç ão, devido à eliminaç ão

do reexo da tosse (efeito direto da substância), e outras infecções podem ser

registrad as , decorrentes do uso por via injetáv el.

PROBLEMAS RELACIONADOS AO CONSUMO DE MACONHA

Ainda são poucos os estudos a respeito dos

efeitos, em longo praz o, do uso da mac onha.

Um “bas ead o” de mac onha pode conter mai s

alcatrão e outras substâncias tóxicas que um

cigar ro comum, portan to o usuár io estar ia

exposto aos mesmos riscos dos tabagistas,

como o câncer de pulmão, bronquite e ensema

pulmonar. Podem ocorrer alterações súbitas da imunidade, deixando o usuário

sob o risco de contrair mais viroses e infecções. A diminuição da quandade de

espermat ozoides tam bém já foi relat ad a. Além disso, problemas de memória,

alterações no padrão de sono e redução da movação têm sido relatados em

usuár ios crônicos.

PROBLEMAS RELACIONADOS AO CONSUMO DE SOLVENTES/INALANTES

Inalar substâncias tóxicas de forma crônica pode causar diversos danos à saúde.

O cérebro, a medula óssea, os nervos periféricos e os rins são os mai s af etad os.

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

PROBLEMAS RELACIONADOS AO CONSUMO DE ANABOLIZANTES

O uso ab usivo de esteroides an ab olizan tes pode cau sar ac ne severa, retenção de

líquido (edemas), dor nas arculações, hipertensão arterial, icterícia e tumores

no gado. No homem, os tesculos diminuem, e o uso pode levar à impotência,

inferlidade e ao desenvolvimento de mamas (ginecomasa). As mulheres cam

virilizad as (mai s mas culinas ) e a menstruaç ão pode ser ab olida.

Em resumo

O uso de ál cool e outras drogas pode resultar em variad as

situaç ões, pois as mesmas dependem da as sociaç ão de fatorespessoais, da droga consumida e do contexto social e familiar,

ocas ionan do ar ran jos e possibilidad es muito diferentes entre

si, desde efeitos sem graves prejuízos até graves danos sicos,

psíquicos ou sociai s às pessoas que as consomem e a seus

familiares e comunidade. Assim, os Programas de Saúde da

Fam íliatêm um pap el fundam ental na prevenção, no trat am ento

e na reinserção social , e par a a resolução dos problemas

as sociad os.

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Atividades

REFLEXÃO

O uso prolongado de substâncias ou o uso de forma excessiva em uma única

ocasião podem gerar diversos problemas sociais e para a saúde, tanto sica

quan to mental . Discorra sobre os problemas crônicos e ag udos relac ionad os

a essa forma de uso e como am bos prejudicam a sociedad e e o indivíduo que

as consome.

TESTE SEU CONHECIMENTO

Com relação aos problemas de saúde decorrentes do uso de álcool, assinale

a alternava INCRRETA:

a) Como a hepatite é uma doença viral , o ál cool não contribui par a o seu

desenvolvimento, ap enas as drogas ilícitas , por proporcionar contato

de san gue ou mucosas entre usuár ios.

b) Devido ao seu impac to no coraç ão, o uso abusivo de ál cool pode

cau sar sintomas como fal ta de ar e can saç o.

c) O ál cool prejudica a ab sorção ad equad a de nutrientes necessár ios ao

corpo.

d) O ál cool afeta quas e todos os sistemas do corpo, sendo um dos

principais causadores de problemas de saúde no mundo.

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

Marque a resposta CRRETA, sobre os problemas causados pelo uso das

drogas:a) Apesar das mudan ças corporai s atingidas pelo uso dos an ab olizan tes,

o sistema reprodutor não é afetad o.

b) O efeito depressor da cocaí na pode cau sar hipotensão ar terial .

c) O uso de inal an tes pode cau sar morte por problemas cardíac os.

d) Um usuár io de mac onha tem poucas chan ces de desenvolver

problemas respiratórios porque fuma a plan ta natural , livre de

agrotóxicos.

Com relação carga global do uso de drogas, assinale a alternava CRRETA:

a) Apesar de o número de usuários de álcool no mundo ser maior que o

número de usuários de drogas ilícitas, elas contribuem em maior grau

par a a car ga global das doenças , por se tratar em de drogas mai s

pesad as .

b) O tabaco é responsável pela morte de aproximadamente das

pessoas que fumam .

c) Entre as drogas ilícitas , a cocaí na/ crac k vem em primeiro lugar no que

se refere ao número de usuários em todo o mundo.

d) Os dan os atribuídos ao tab ac o e ao ál cool são mai s graves nos paí ses

em desenvolvimento do que nos paí ses desenvolvidos.

uanto ao uso de álcool e aos riscos e danos associados, assinale a alternava

INCRRETA:

a) Bebedores pesad os têm mai s chan ce de cometer suicídio do que

pessoas que bebem de forma moderad a.

b) O uso constan te de ál cool prejudica a produtividad e e as relações no

trab al ho.

c) Pessoas que sofrem de tran storno mental têm mai s chan ce de faz er

uso ab usivo de ál cool, sendo o inverso tam bém verdade, ou seja,

pessoas que faz em uso ab usivo de ál cool, têm mai s chan ce de

desenvolverem tran stornos mentai s.

d) O pad rão de uso não influencia na ocorrência de dan os.

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Capítulo

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Módulo 2 | O uso de substâncias psicoativas no Brasil

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O QUE É O VIVAVOZ?

O VIVAVOZ é uma central telefônica de orientaç ões e informaç ões sobre a prevenção do

uso indevido de drogas . O telefonema é grat uito e o at endimento é sigiloso. A pessoa não

precisa se idencar.

É BOM FALAR COM QUEM ENTENDE