Efeitos de um programa de treinamento físico na ... · prova de função pulmonar, ... e na...
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ADRIANA FANELLI GALVANI
Efeitos de um programa de treinamento físico na
capacidade física, broncoespasmo induzido pelo
exercício e qualidade de vida de crianças com
asma persistente moderada e grave
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Fisiopatologia Experimental da
Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo para obtenção do título de Mestre em
Ciências.
Área de concentração Fisiopatologia Experimental
Orientador: Dr. Celso Ricardo F. de Carvalho
SÃO PAULO
2004
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
reprodução autorizada pelo autor
Galvani, Adriana Fanelli Efeitos de um programa de treinamento físico na capacidade física, broncoespasmo induzido pelo exercício e qualidade de vida de crianças com asma persistente moderada e grave / Adriana Fanelli Galvani. -- São Paulo, 2004.
Dissertação(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências.
Área de concentração: Fisiopatologia Experimental. Orientador: Celso Ricardo Fernandes de Carvalho. Descritores: 1.ASMA/terapia 2.EDUCAÇÃO E TREINAMENTO
FÍSICO/métodos 3.EXERCÍCIO 4.ASMA INDUZIDA POR EXERCÍCIO 5.QUALIDADE DE VIDA 6.ESPASMO BRÔNQUICO 7.TESTE DE ESFORÇO/métodos
USP/FM/SBD-212/04
iii
Dedico este trabalho:
Aos meus pais Antonio e Elisa e minha irmã Ana Paula que durante toda
minha vida me apoiaram e respaldaram, para que eu chegasse até aqui.
Ao meu marido Fábio que foi o meu alicerce, me deu minha coragem e
força, para que eu superasse todas as dificuldades e realizasse este sonho.
E aos meus filhos Fábio e Júlia, que não podiam deixar de estarem ao meu
lado para celebrar uns dos momentos mais importantes da minha vida.
iv
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Quaisquer palavras seriam insuficientes para expressar os meus
sentimentos, pois essas pessoas me ajudaram a realizar um sonho.
Foram mais que amigos, uma família.
Dr. CELSO RICARDO FERNADES DE CARVALHO,
Como um pai, meu orientador foi um mestre e um grande amigo.
Dra. ANNA LÚCIA DE BARROS CABRAL,
Como uma mãe que gerou todo o processo, e me guiou os primeiros passos.
Dr. PAULO, CRISTINA, ROSANGELA E YEDA,
Como irmãos que estiveram ao meu lado, sempre me incentivando a
continuar nesta caminhada.
v
Às 38 crianças e suas famílias
Criança 1, Criança 2, Criança 3, Criança 4, Criança 5, Criança 6, Criança 7, Criança
8, Criança 9, Criança 10, Criança 11, Criança 12, Criança 13, Criança 14, Criança
15, Criança 16, Criança 17, Criança 18, Criança 19, Criança 20, Criança 21,
Criança 22, Criança 23, Criança 24, Criança 25, Criança 26, Criança 27, Criança
28, Criança 29, Criança 30, Criança 31, Criança 32, Criança 33, Criança 34,
Criança 35, Criança 36, Criança 37, Criança 38.
Muito obrigado!
Suas identidades jamais serão reveladas, no entanto, neste momento uma
parte de suas vidas fazem parte da História. Talvez elas nem imaginem a
importância da doação de parte de suas Histórias para milhares de crianças
asmáticas, mas, certamente Deus lhes retribuirão com paz, amor e saúde.
Fiquem com Deus.
Até um dia.
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade de vida.
Ao Hospital Infantil Darcy Vargas e toda sua equipe, por disponibilizar
o espaço e as instalações.
Ás voluntário do HIDV, em especial a senhora Eliane, não apenas
pelos recursos doados, mas por acolher e ajudar as crianças e suas famílias
de forma tão singular.
Á Universidade cidade de São Paulo, pela permissão de realizarmos o
estudo junto aos alunos de Fisioterapia.
Aos alunos do quarto ano de Fisioterapia dos anos de 2000 a 2003,
mais do que terapeutas se tornaram amigos das crianças.
As médicas pneumologistas Dra Lílian e Dra Rosa, sempre presentes
e disponíveis para no tratamento e acompanhamento dos pacientes.
Ao Prof Dr Milton de Arruda Martins, por todo carinho e atenção
comigo e com o projeto.
A Rosana Reis, sempre me auxiliando nas tarefas fáceis e difíceis.
A Sônia Carvalho, mais do que alguém disposto a colaborar, uma
amiga.
As amigas Denise, Juliana, que sempre se dedicaram ao trabalho e
as crianças, não apenas como pesquisadoras, mas como grandes seres
humanos.
E a todos que de maneira direta ou indireta participaram da realização
deste trabalho.
Muito obrigado
vii
Esta dissertação está de acordo com:
Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver)
Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Serviço de Biblioteca e Documentação
Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro
da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely
Campos Cardoso, Valéria Vilhena. São Paulo: Serviço de Biblioteca e Documentação, 2001.
Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.
viii
SUMÁRIO
Resumo Summary 1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 01
2 OBJETIVOS......................................................................................... 09
3 MÉTODOS........................................................................................... 11 3.1 Casuística ......................................................................................... 12 3.2 Avaliações......................................................................................... 15 3.2.1 Teste ergoespirométrico (EEM)...................................................... 15 3.2.2 "Endurance" muscular de membros superiores.............................. 17 3.2.3 "Endurance" muscular de membros inferiores................................ 17 3.2.4 Broncoconstrição induzida pelo exercício (BIE) ............................. 18 3.2.5 Desconforto respiratório ................................................................. 19 3.2.6 Questionário de qualidade de vida (QQV)...................................... 19 3.2.7 Medicação ...................................................................................... 19 3.2.8 Prova da função pulmonar.............................................................. 20 3.3 Protocolo ........................................................................................... 21 3.3.1 Programa de educação .................................................................. 21 3.3.2 Programa de treinamento............................................................... 21 3.4 Análise estatística ............................................................................. 24
4 RESULTADOS..................................................................................... 25
5 DISCUSSÃO........................................................................................ 35
6 CONCLUSÕES.................................................................................... 43
7 ANEXOS.............................................................................................. 47
8 REFERÊNCIAS ................................................................................... 49
ix
RESUMO
Galvani, AF. Efeitos de um programa de treinamento físico na capacidade física, broncoespasmo induzido pelo exercício e qualidade de vida de crianças com asma persistente moderada e grave [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2004. 60p
A maioria das crianças asmáticas apresenta dispnéia ao realizar exercícios,
fazendo com que elas evitem a prática esportiva e apresentem uma redução
no condicionamento físico. Isto, por sua vez, restringe a sua independência
física e emocional, podendo, assim, deteriorar a sua qualidade de vida. Em
vista disto, o presente estudo tem por objetivo avaliar: a capacidade física, a
broncoconstrição induzida pelo exercício, a qualidade de vida e a ingesta de
medicamentos. Foram estudadas 38 crianças, de ambos os sexos, divididas
em dois grupos: um composto de crianças com asma moderada/grave
corticóide dependentes, submetidas a um programa de educação (grupo
controle), e o outro constituído de crianças, de mesmas características,
submetidas a um programa de educação e a um outro de treinamento físico
(grupo treinado). O programa educacional para crianças e pais ou
responsáveis teve duração total de quatro horas, distribuídas em duas
sessões de duas horas cada. Antes do período educacional, elas foram
clinicadas e medicadas por um pneumologista que adequou o tratamento
medicamentoso até estabilizar o quadro clínico dos pacientes. Foram
avaliados: a performance aeróbica avaliada pelo teste ergoespirométrico, o
"endurance" muscular nos membros superiores e inferiores, o Broncoespasmo
Induzido pelo Exercício (BIE), a qualidade de vida, a ingesta de medicação e
prova de função pulmonar, além do desconforto respiratório. O treinamento
físico teve a duração 16 semanas consecutivas, duas vezes por semana e
90 minutos por dia. O treinamento será dividido em quatro etapas de 15, 30,
30, 15 minutos cada respectivamente, sendo que, na primeira, os pacientes
serão submetidos a exercícios de alongamento e mobilização articular, na
segunda, serão realizados exercícios aeróbicos em bicicleta e esteira
ergométrica e, na terceira, realizarão exercícios de "endurance" muscular,
visando trabalhar grandes grupamentos musculares para membros
x
superiores e abdomem, e na última exercícios de alongamento globais. As
crianças foram avaliadas em dois momentos distintos: um anterior ao
programa de educação e outro após o período de treinamento, sendo que as
crianças do grupos controle foram avaliados nos mesmos intervalos de
tempo. Os resultados mostraram que os parâmetros iniciais de ambos os
grupos foram similares. Houve um incremento da capacidade aeróbica do
grupo treinado de 3,25mLO2/kg/min e carga máxima de 17 watts. Da mesma
forma, na avaliação do "endurance" dos membros superiores e inferiores, foi
verificado um aumento de 0,25 Kg para o primeiro e 14 watts para o
segundo. As crianças do grupo treinado apresentaram melhora na BIE tanto
na obstrução (11,6%) quanto na dispnéia (-2,22). Esse grupo ainda
apresentou uma redução do escore de gravidade de vida (-64%) superior
àqueles obtidos no grupo controle. Das crianças treinadas, 52% tiveram uma
redução na medicação contra 30% do grupo controle, redução esta sem
relevância estatística. Nossos resultados sugerem que o treinamento físico
deve ser considerado como modalidade terapêutica para o tratamento das
crianças asmáticas com graus moderado e grave.
Descritores: asma, educação e treinamento físico, exercício, asma induzida
por exercício, qualidade de vida, espasmo brônquico, teste de
esforço.
xi
SUMMARY
Galvani, AF. Effects of a physical training program on physical capacity, exercise-induced bronchoconstriction and quality of life of children with moderate and severe persistent asthma. [dissertation]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2004. 60p.
Most of the asthmatic kids present dyspnoea while working out, what
make them avoid the sports training and stop having physical conditioning.
On its side, this reduces their physical and emotional independence, hence
ruining their life quality. Thus, the present trial purpose is to evaluate the
physical capacity, the bronchus-constrictor induced by exercises, the life
quality and the drugs ingestion. Thirty eight children were studied, both
sexes, divided into two groups: one made of kids having moderate/severe
asthma, being corticoid dependents, submitted to an educative program
(control-group), and the other made of kids presenting the same conditions,
submitted to an educative program and to a physical training (trained group).
The educational program for kids, parents or their representatives, had
total four-hour duration, divided into 2 two-hour sessions each. Prior the
educational period a pneumologist treated and medicated them and who
adapted a medical treatment up to the stabilization of the patients’ clinical
condition. The aerobic performance was evaluated by an ergoespirometric
test, by the upper and lower member muscle endurance, the bronchus-
spasm induced by exercise (BIE), the life quality, the drugs ingestion and the
pulmonary function trial, besides the respiratory discomfort. The physical
training had 16 weeks consecutive duration, twice a week and 90 minutes
per day. The training will be divided into four stages of 15, 30, 30, 15 minutes
each, respectively. During the first stage patients will be submitted to
expansion exercises and articulation mobilization; during the second stage,
aerobic exercises will be performed in ergometric bicycle and treadmill;
during the third stage muscle endurance exercises will be performed, in order
to work big muscle groups for the upper members and abdomen, and during
the last stage global expansion exercises will be performed. Kids will be
evaluated in two different moments: one prior to the educational program and
xii
the other after the training period; the control groups will be evaluated in the
same lapse of time. Results showed that the initial parameters of both groups
were similar. The aerobic capacity of the trained group developed from
3.25mLO2/kg/min, and maximum load of 17 watts. In the same way, in the
member endurance, a 0.25kg increase was verified for the upper members
and of 14 watts for the lowers. Kids from the trained group presented an
improvement in the BIE both in obstruction (11,6%) and in dyspnoea (-2,22).
Still, this group presented a life gravidity score reduction (-64) higher than
those got from the control group. Among the trained kids, 52% had a
medication reduction, against 30% from the control group; this reduction has
no statistic relevance. Hence, the conclusion is that the physical conditioning
training incised in the physical improvement, in the BIE reduction, in the life
quality without any expressive medicine reduction in the medication for kids
having persistent moderate - severe asthma
Keywords: asthma, education and physical training, exercise, bronchus-
constrictor induced by exercises, quality of life, bronchus-
spasm induced by exercise.
1. Introdução
Introdução - 2
A asma é uma doença pulmonar crônica caracterizada por hiper-
responsividade brônquica, inflamação das vias aéreas inferiores e obstrução
ao fluxo aéreo reversível espontaneamente ou com tratamento. Ela é
resultante de fatores genéticos, ambientais, infecções respiratórias e
inalação de ar frio ou exercício, dentre outros1. Clinicamente, o paciente
asmático apresenta episódios de tosse, dispnéia e chiado, particularmente à
noite.
A asma brônquica é caracterizada por uma larga variabilidade, ou
seja, a gravidade da doença poder sofrer alterações dentro dela mesma ou
entre os doentes2. Esta variabilidade inter-paciente vai desde as formas mais
leves da doença, a qual permite a participação do indivíduo em competições
de alto nível, até as mais severas, caracterizadas por irreversibilidades da
obstrução ao fluxo aéreo. Já a variabilidade intra-paciente diz respeito à
instabilidade da obstrução ao fluxo aéreo ao longo de um período de tempo3.
Estudos epidemiológicos estimam que, aproximadamente, 30% das
crianças asmáticas ficarão livres dos sintomas na puberdade e até dois
terços delas poderão permanecer asmáticas na adolescência e na vida
adulta4. As estimativas de prevalência da asma na população variam de
acordo com o sexo, a idade, a raça e a exposição ambiental. De modo geral,
Introdução - 3
a prevalência desta doença em crianças varia de 5% a 10% na maioria dos
países ocidentais, sendo que, aproximadamente, 80% delas desenvolvem
sintomas antes dos cinco anos de idade. Porém, a incidência pode variar
entre 1% na Groenlândia, 8% no Reino Unido e Estados Unidos e 20% na
Nova Zelândia. Desse modo, estima-se que nos Estados Unidos existam 15
milhões de asmáticos5, dos quais, aproximadamente, três milhões são
crianças6.
A mortalidade de crianças com asma com idade inferior a 15 anos é
baixa, mas deve ser encarada como fator preocupante, porque muitos
destes óbitos são passíveis de prevenção. Estudo realizado no Rio Grande
do Sul no período entre 1970 e 1992 mostrou um aumento anual médio de
2,07% na idade de 5 a 39 anos, sendo que este número é ainda mais
elevado entre 5 a 19 anos Chatkin, 1994 apud Cabral7. Na cidade de São
Paulo, a mortalidade passou de 0,2 óbitos por 100 mil habitantes em 1971
para 0,43 em 1983, estabilizando-se por volta de 0,35 entre 1988 a 19948.
Esta taxa de mortalidade e morbidade foi superior na capital paulista,
especialmente entre 15 a 24 anos.
Uma grande parcela dos pacientes asmáticos apresenta queda da
capacidade ventilatória desencadeada pelo exercício físico, que é
denominada Broncoconstrição Induzida pelo Exercício (BIE)9.
Broncoespasmo, broncoconstrição e asma induzidos pelo exercício são
termos usados para descrever a obstrução ao fluxo aéreo desencadeado
pela atividade física10. Clinicamente, este fenômeno é caracterizado pelos
sintomas clássicos de tosse, chiado, falta de ar e aperto no peito durante ou
Introdução - 4
após o exercício. Estima-se que a BIE ocorra em 90% dos pacientes
asmáticos, 40% com rinite alérgica, 6% de indivíduos sem asma e 13% dos
atletas11,12.
Diversos fatores podem agravar a BIE, tais como: a gravidade da
doença, o tipo e a intensidade do exercício físico, a poluição atmosférica
(notadamente nos grandes centros urbanos), a obstrução nasal, a
temperatura e a umidade do ambiente. Por outro lado, vários recursos
podem amenizar ou mesmo anular o aparecimento do BIE, tais como:
- limpeza nasal, para melhor filtração do ar inspirado;
- pré-umidificação das vias aéreas;
- aquecimento físico inicial gradual e progressivo;
- redução dos níveis de poluição ou alérgenos do ambiente;
- atividades físicas com intensidade física controlada13.
A avaliação da BIE é realizada submetendo-se o paciente a um teste
de 6 minutos com uma intensidade de 80% da freqüência cardíaca máxima
predita para a idade e se avaliando a função pulmonar 5, 10 e 20 minutos
após o término do exercício14. Contudo, sabe-se que o paciente pode
apresentar a broncoconstrição durante a atividade física15. A resolução da
BIE ocorre, aproximadamente, 60 minutos após o seu início12.
O mecanismo do BIE ainda não é totalmente conhecido, mas existem
duas hipóteses mais aceitas para a sua ocorrência. A primeira sugere que,
durante períodos em que ocorre a hiperventilação, há uma perda da
umidade, em forma de vapor de água, levando ao aumento da osmolaridade
brônquica16. Como conseqüência, ocorreria desidratação dos mastócitos
Introdução - 5
localizados na árvore brônquica, levando a uma liberação de mediadores
químicos, tais como: histamina, prostaglandinas e leucotrienos, entre outros,
potencializando a inflamação crônica e o remodelamento das vias aéreas. A
segunda hipótese sugere que o exercício ocasionaria um resfriamento nas
vias aéreas, o que desencadearia uma vasodilatação reflexa das veias
bronquiolares, gerando uma hiperemia com exsudação da submucosa com
subseqüente liberação de mediadores e broncoconstrição17. Seja pelo
mecanismo de aumento da osmolaridade, seja pelo resfriamento das vias
aéreas, o exercício físico é considerado um potente fator desencadeante de
sintomatologia (chiado, tosse e falta de ar) em crianças asmáticas18.
O exercício físico tem se mostrado importante para o tratamento de
diversas doenças crônicas, como: hipertensão, doença cardíaca isquêmica,
Diabetes melitus, osteoporose, ansiedade e depressão. Além disso, o baixo
nível de aptidão física parece estar associado ao aumento da mortalidade;
estima-se que 12% das mortes nos Estados Unidos tenham sido atribuídas a
causas relacionadas ao baixo nível de atividade física19, a qual, se praticada
com regularidade e adequada intensidade e duração, envolvendo grandes
grupamentos musculares, tem promovido benefícios na saúde como um
todo. Isso inclui incremento na capacidade aeróbica, composição corpórea,
flexibilidade, força muscular e medidas psicológicas20.
Existem evidências de que pacientes asmáticos podem apresentar um
performance cardiorrespiratória reduzida tanto desconforto respiratório
quanto pela falta de condicionamento físico21. O desconforto respiratório
pode estar alterado primeiramente pela percepção subjetiva durante o
Introdução - 6
esforço físico (dispnéia) e posteriormente pela severidade da obstrução ao
fluxo aéreo e pela hiperreatividade brônquica21,22. Estas condições geram
um comportamento psicossocial de isolamento, restringindo a inserção dos
indivíduos na prática de atividades desportivas, levando-o a uma atitude
negativa em relação ao exercício e prejudicando sua vida dos pontos de
vista físico e social.
Assim, as crianças, sobretudo aquelas que apresentam maior
severidade da doença, tendem a adquirir um estilo de vida sedentário,
gerando um nível de condicionamento físico ainda pior quando comparadas
com não-asmáticas23,24.
Muitos estudos têm investigado o nível de condicionamento físico em
pacientes asmáticos. Ludwick25 et al., em 1986 estudaram a capacidade
física de 65 crianças com asma moderada e/ou grave e observou que 49%
delas foram incapazes de realizar o exercício na carga de trabalho predita.
O desempenho físico dos asmáticos parece estar relacionado com a
severidade da doença. Neste sentido, estudo realizado por Varray26et al. em
1993 revelam que o desempenho aeróbico de pacientes com asma
moderada apresentou uma adaptação cardiorrespiratória ao exercício
máximo e submáximo muito semelhante ao do grupo controle. Por outro
lado, aqueles com asma grave tiveram um desempenho físico máximo
inferior àquele observado no grupo controle ou com asma moderada, que foi
sugerido ser decorrente de menor eficiência cardíaca (redução do débito
cardíaco e do volume de ejeção). Os autores propuseram, ainda, que a
queda da eficiência cardíaca foi decorrente da hiperinsuflação pulmonar,
Introdução - 7
acarretando aumento da pressão intratorácica, levando a uma diminuição do
volume de ejeção e a um aumento da pós-carga.
Apesar de muitos estudos já terem mostrado que pacientes com asma
podem aumentar sua performance ao exercício depois da participação em
um programa de treinamento aeróbico, não existe um consenso sobre os
benefícios obtidos. O treinamento parece aumentar a capacidade física
quando da realização de exercícios e diminuição dos sintomas clínicos;
todavia, seus efeitos na BIE ainda são controversos27,28.
Atualmente, um novo modelo de gerenciamento da asma – que inclui
maior variabilidade de drogas para o seu tratamento e a elaboração de um
plano de ação, com a inclusão de programas de educação do paciente e
seus familiares e um de condicionamento físico – fez com que houvesse
mudança na nossa percepção e conduta sobre a doença29.
Este conceito de tratamento tem por fim minimizar os sintomas e
melhorar o bem-estar do paciente, para que os asmáticos tenham uma vida
o mais próximo possível do normal. Em virtude disso, programas de
treinamento físico têm sido elaborados com o propósito de melhorar o seu
condicionamento físico, coordenação neuromuscular e autoconfiança30.
Muitos pacientes têm relatado que a prática de condicionamento físico
induz a uma significativa melhora dos sintomas; no entanto, as bases
fisiopatológicas para essa percepção ainda não estão bem estabelecidas.
Há indícios que a atividade física regular promova melhora do
condicionamento físico e diminuição da ventilação minuto durante o
exercício leve e moderado, reduzindo a incidência da BIE. Além disso, este
Introdução - 8
exercício também parece reduzir a percepção da dispnéia pelos vários
mecanismos que incluem o fortalecimento dos músculos respiratórios31; tudo
isso parece ocorrer independente da melhora na função pulmonar. No
entanto, ainda não se tem conhecimento se a prática do condicionamento
físico se traduz em uma redução dos sintomas ou em uma qualidade de vida
melhor31.
2. Objetivos
Objetivos - 10
O objetivo geral do presente estudo foi avaliar os benefícios de um
programa de atividade física em pacientes com asma persistente moderada
e grave e os objetivos específicos avaliar o efeito de um programa de
condicionamento físico na:
a) performance cardiopulmonar ao esforço (trabalho máximo e
submáximo);
b) broncoconstrição induzida pelo exercício (obstrução e sintomatologia);
c) qualidade de vida;
d) ingesta de medicamentos.
3. Métodos
Métodos - 12
3.1 Casuística
Foram estudadas 38 crianças com asma persistente moderada e grave
com idades variando entre 7 e 15 anos, sendo 21 do grupo treinadas (11
meninos e 10 meninas) e 17 do grupo controle (11 meninos e 6 meninas). Todas
encontravam-se previamente em acompanhamento médico no Hospital Infantil
Darcy Vargas (rede pública da Secretaria de Estado da Saúde). Os critérios de
inclusão foram o diagnóstico de asma persistente moderada e grave em
tratamento clínico por mais de seis meses e estar em uso de corticóide terapia
inalatória. Foram considerados como critérios de exclusão para o estudo
pacientes portadores de quaisquer patologias pulmonares associadas, patologias
osteomusculares que impossibilitem a criança de realizar o programa de
reabilitação ou exacerbações respiratórias caracterizadas pela falta de controle
da asma que não fosse controlada com tratamento medicamentoso.
A realização deste estudo foi aprovada pela Comissão de Ética do
Hospital Infantil Darcy Vargas e comissão de ética da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. O Termo de Consentimento Livre e
Esclarecimento foi assinado pelos pais ou responsáveis. Nenhuma
remuneração foi oferecida a eles nem mesmo às crianças para sua
participação neste trabalho.
Métodos - 13
Devido a limitações de ordem física, havia disponibilidade de somente
seis vagas por semestre para o programa de treinamento físico. Assim
sendo, no início de cada semestre, caso seis crianças preenchessem os
critérios de inclusão, todas eram convidadas a participar do estudo. No caso
de haver mais de seis, todas eram convidadas a participar do estudo e as
seis primeiras que aceitassem participar do grupo treinado eram inclusas no
protocolo e as demais iriam compor o grupo controle ou o grupo treinado do
semestre seguinte.
Antes da inclusão no estudo, as crianças foram consultadas por um
médico pneumologista pediátrico que ajustava a medicação para a
estabilização do quadro clínico durante um período mínimo de 15 dias.
Foram considerados como critérios de estabilidade da doença a presença de
sintomas inferiores a uma vez por semana, presença de sintomas noturnos
inferiores a duas vezes ao mês e Pico Expiratório de Fluxo (PEF) maior ou
igual a 80%.
As crianças do grupo controle foram submetidas a um programa de
educação sobre a asma e tinham acompanhamento médico a cada quatro
semanas durante as 16 semanas seguintes. As do grupo treinado foram
submetidas ao mesmo programa de educação sobre a asma, ao
acompanhamento médico e a um programa de treinamento físico realizado
durante 16 semanas com duas sessões semanais de 90 minutos cada.
Antes e após a inclusão delas no estudo, submeteram-se a avaliações
que incluíam: teste para avaliação da presença de Broncoconstrição
Induzida pelo Exercício, teste ergoespirométrico, teste de "endurance" de
Métodos - 14
membros superiores e inferiores, questionário de qualidade de vida,
monitoramento da medicação e prova de função pulmonar. Os dois grupos
tiveram 100% de presença nas avaliações iniciais e finais e, pelo menos,
80% de presença ao longo de todo o programa.
Todos os participantes da pesquisa relataram não ter realizado
nenhum tipo de atividade física além daquela descrita neste estudo, exceto a
prática da disciplina de Educação Física obrigatória nas instituições
escolares. Os custos com a medicação, bem como com o transporte para o
hospital das crianças e dos seus cuidadores foram subsidiados pelos
pesquisadores durante todo o estudo.
Métodos - 15
3.2 Avaliações
3.2.1 Teste ergoespirométrico (EEM)
O teste foi realizado em bicicleta ergométrica(1) e monitorada a
Freqüência Cardíaca (FC), saturação parcial de oxigênio (Sat O2) e atividade
eletrocardiográfica (eletrocardiograma de 12 derivações) (ECG) do paciente
durante o teste. Para a realização deste, o paciente respirou através de um
sensor de fluxo de via única, de onde foram coletados os dados ventilatórios. O
sensor de fluxo estava adaptado ao indivíduo por meio de um bucal conectado
ao paciente por um capacete e, para evitar respirar pelo nariz, ele usou um
"nose clip". A seleção da carga de trabalho foi continuamente incrementada em
um padrão de rampa linear (15W/min para crianças com altura menor 150cm;
20W/min para crianças com altura maior de 150cm) maior32
Os testes foram elaborados para não terem uma duração inferior a 8
minutos e superior a 1233. Antes do seu início, os pacientes tiveram um período
de aquecimento físico de três minutos, pedalaram bicicleta sem carga. Durante
todo o teste, a criança foi instruída a manter uma aceleração de 50 a 60
rotações por minuto e a carga foi incrementada linearmente em forma de
rampa. Ao término do teste, solicitou-se que o mesmo continuasse pedalando
por mais dois minutos com a mesma aceleração (período de resfriamento).
Durante o exercício, foram mensurados os seguintes parâmetros
metabólicos e ventilatórios:
- consumo de oxigênio (VO2);
- volume minuto (VE);
- produção de dióxido de carbono (VCO2);
(1) Sensor Medics, Modelo Ergometrics 800
Métodos - 16
- coeficiente respiratório (QR);
- pressões de O2 e CO2 ao fim da expiração (PETO2 e PETCO2);
- Pico Expiratório de Fluxo (PEF);
- Freqüência Cardíaca (FC);
- Saturação Parcial de Oxigênio (SpO2);
- Freqüência Respiratória (FR);
- Volume Corrente (VC).
Os critérios de interrupção do teste foram:
- manifestação clínica de desconforto torácico, que se exacerbou com o
aumento da carga ou que se associou com alterações eletrocardiográficas de
isquemia;
- ataxia, tontura, palidez e pré-síncope;
- dispnéia desproporcional à intensidade do esforço;
- infradesnível do segmento ST de 0,3mV ou 3mm;
- supradesnível do segmento ST de 0,2mV ou 2mm;
- arritmia ventricular;
- aparecimento de taquicardia paroxística supraventricular sustentada,
taquicardia atrial, fibrilação atrial, BAV de dois e três graus;
- claudicação progressiva de membros inferiores;
- exaustão de membros inferiores ou exaustão física.
Dos quatros critérios abaixo descritos, pelo menos três foram
observados para que o teste de esforço fosse aceito como máximo:
- Presença do platô ou pico de VO2 a despeito do aumento da carga
do exercício.
Métodos - 17
- Atingir a freqüência cardíaca máxima predita ±5%.
- Atingir um coeficiente respiratório que deverá ser ≥ 1.10.
- O paciente apresentar inabilidade de manter a velocidade da
bicicleta ergométrica26.
O valor preditivo do VO2máx foi calculado de acordo com a equação
de Jones (1983) [para o sexo masculino = 60-(0,55 x idade) e para o
feminino = 48-(0,37 x idade)]. A mensuração do VO2 no limiar anaeróbico foi
avaliada pelo método ventilatório, considerando o aumento do quociente
respiratório com o menor valor de PETO2 e o maior de PETCO234.
3.2.2 "Endurance" muscular de membros superiores
Teste para estabelecer a carga de "endurance" muscular de membros
superiores foi realizado com a criança na posição sentada onde ela deveria fazer
o movimento de diagonal com o braço dominante. Inicialmente, o paciente
recebeu orientação sobre a execução do movimento sem carga e repetia o
movimento correto demonstrando que compreendeu a atividade a ser realizada.
Aprendido o movimento, o teste era iniciado com carga; a carga a qual a
criança conseguisse realizar 10 repetições do referido movimento sem
compensação do eixo corpóreo (tronco) foi considerada a "endurance" de
membro superior35. A carga inicial trabalho foi de 75% da carga máxima obtida.
3.2.3 "Endurance" muscular de membros inferiores
Para estabelecer a carga de "endurance" de membros inferiores foi
utilizada a carga, em "watts", do limiar anaeróbio no teste de ergoespirometria.
Métodos - 18
3.2.4 Broncoconstrição induzida pelo exercício (BIE)
As crianças foram orientadas a interromper o uso da medicação
broncodilatadora de longa duração por 24 horas e a de curta duração por 12
horas antes da realização do exame. A temperatura e umidade relativa do ar
foram controladas, respectivamente, 20-25ºC e 45-55%.
O teste de BIE foi realizado em esteira ergométrica com a duração de
seis minutos, em uma intensidade de 80% ± 10% da Freqüência Cardíaca
(FC) máxima predita para a idade (220-idade), monitorada por uma cinta
torácica(2). O período para se atingir a FC durante a BIE não excedeu quatro
minutos. A Freqüência Cardíaca, ausculta pulmonar e o desconforto
respiratório foram monitorados a cada minuto ao longo de todo o esforço.
Foram realizadas espirometrias (PFP) antes e 5, 10 e 20 minutos após o
término do exercício. A PFP foi realizada com o indivíduo sentado e foram
aceitas as três melhores curvas com variação inferior a 5%, segundo
parâmetros determinados pelo "software" do equipamento(3).
Foram quantificados a Capacidade Vital Forçada (CVF), o volume
expiratório forçado no 1º segundo (VEF1), o índice de Tiffenau (VEF1/CVF)
e o fluxo expiratório forçado 25-75% (FEF25%-75%). Foram considerados como
asmáticos BIE positivos aqueles que apresentaram uma queda igual ou
superior a 10% do VEF1 em qualquer das provas espirométricas realizadas
após o exercício36.
(2) marca Polar, modelo Beat, Finland (3) Kokko, EUA
Métodos - 19
3.2.5 Desconforto respiratório
O desconforto respiratório foi avaliado utilizando-se a escala
modificada de Borg, que é composta de uma escala de 0 a 10 (sendo 0
nenhum desconforto e 10 o maior)37. Esta escala foi utilizada para avaliação
do desconforto respiratório e para fadiga muscular dos membros inferiores.
3.2.6 Questionário de Qualidade de Vida (QQV)
A qualidade de vida foi avaliada por um questionário desenvolvido
especificamente para avaliar a qualidade de vida de crianças asmáticas
composto de três domínios: atividade, sintomas e função emocional. O
domínio atividade apresenta 14 questões e os domínios sintomas e função
emocional, sete, sendo que cada questão tem uma pontuação de 0 a 10 (0
nada cansado e 10 exaustão), seguindo o mesmo princípio da escala de
Borg modificada37. O escore de cada domínio foi calculado pela média
aritmética de cada um e o escore total, pela média aritmética dos três
domínios. Neste estudo, foi considerado apenas o escore total obtido.
(Anexo A)
3.2.7 Medicação
A quantidade de corticóides inalatórios utilizados foi avaliada pela
diferença da dose final pela dose inicial. Alguns pacientes (28%) concluíram o
período do estudo sendo medicados com um corticóide inalatório distinto
daquele utilizado no início do tratamento. Neste caso, a potência clínica dos
corticóides foi comparada utilizando-se o seguinte critério: flunisolida =
Métodos - 20
triamcinolona (0.330) < beclometasona (0.600) < budesonida (0.980) <
fluitcasona (1.200)38. Todas as doses de corticosteróides foram convertidas
para a droga de maior prevalência. O acompanhamento clínico e a prescrição
da medicação foram realizados por três médicas pneumologistas pediátricas,
de maneira cega, que desconheciam a qual grupo pertencia cada paciente.
3.2.8 Prova de função pulmonar
A espirometria foi feita em todas as crianças antes e 10 minutos após
a inalação 200mg de salbutamol via inalatória. O procedimento técnico, os
critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade utilizados seguiam as
recomendações da "American Thoracic Society" - 1991, assim como a
resposta ao broncodilatador (aumento maior 12% e 200ml para volume
expiratório forçado de 1 segundo - VEF1). Foram avaliados Volume Expiratório
Forçado do primeiro minuto (VEF1), Capacidade Vital Forçada (CVF), índice de
Tiffenau (VEF1/CVF) e Ventilação Voluntária Máxima (VVM).
O predito de normalidade para todas as variáveis espirométricas
utilizado foi de Polgar39 1971. O equipamento foi o Kokko (EUA) acoplado a
microcomputador. As crianças eram orientadas a não tomarem medicação por
seis horas antes do teste.
Métodos - 21
3.3 Protocolo
Mediante a grande diversidade de protocolo descrito na literatura, o do
presente estudo baseou-se em princípios fisiológicos de treinamento físico,
sendo idealizados pelos seus pesquisadores. Já o programa de educação foi
fundamentado nos programas educativos para asma descritos na literatura.
3.3.1 Programa de educação
O programa de educacional para pais e crianças era composto de
duas aulas de duas horas (total quatro horas) e foi realizado em um período
de duas semanas. Durante o programa, foram usadas uma fita de
videocassete educativa e aulas expositivas sobre diversos temas, incluindo a
fisiopatologia da doença, o conhecimento e o uso correto das medicações de
alívio e manutenção; além disso, foi orientado um plano de ação em casos
de piora dos sintomas.
Foram utilizados vídeo educativo para a explicação da Fisiopatologia
da doença e aula expositiva para os demais conteúdos do programa de
educação.
3.3.2 Programa de treinamento
O treinamento físico foi iniciado na semana seguinte ao término do
programa de educação e a participação foi aberta a todos aqueles que forem
submetidos ao programa educacional. O programa teve a duração total de
16 semanas sendo que cada sessão terá a duração de 90 minutos realizado
numa freqüência de duas vezes por semana. O programa foi subdividido em
Métodos - 22
quatro partes constituídas de um aquecimento físico composto de exercícios
de alongamento seguidos de exercícios para membros superiores (MMSS),
membros superiores mais inferiores (MMII) e MMSS mais MMII com
deslocamento e duração de 15 minutos.
A segunda parte foi composta de 30 minutos de exercícios aeróbico
em bicicleta e/ou esteira ergométrica, tendo a freqüência cardíaca
monitorada ao longo de toda a atividade. A intensidade da atividade física foi
fundamentada na freqüência cardíaca correspondente a dois terços da
diferença entre o ponto de compensação respiratória e o limiar anaeróbico
obtidos no teste ergoespirométrico previamente realizado. A intensidade da
atividade física era aumentada a partir do momento em que as crianças
conseguiam sustentá-la ininterruptamente por dois dias consecutivos. Neste
caso, a carga da bicicleta e velocidade da esteira ergométrica eram elevadas
de forma que o paciente realize a atividade a uma Freqüência Cardíaca 5%
superior àquela previamente estabelecida. No caso de não sentir condições
de realizar a atividade ininterruptamente - ele podia interrompê-la baseando-
se nos seus sintomas - e retomá-la tão logo estes tivessem diminuído ou
desaparecido. Ao longo do período de treinamento aeróbico, as crianças
tiveram o seu desconforto respiratório (DR) e de membros inferiores (DM) e
a Freqüência Cardíaca (FC) monitorados, a cada 10 minutos, até o término
de cada sessão.
A terceira etapa do treinamento físico foi formada por exercícios de
"endurance" muscular para grandes grupamentos musculares do membro
superior e do tronco e teve a duração de 30 minutos. Nesta fase, os
Métodos - 23
exercícios eram feitos com pesos para membros superiores realizados na
diagonal, utilizando-se um percentual da carga máxima encontrada e
posteriormente o era realizado exercício de "endurance" dos músculos
abdominais nas suas fibras superiores e inferiores. Cada um deles era feito
em três séries de 15 repetições e caso o paciente conseguisse realizá-las
durante duas sessões consecutivas, a carga era aumentada.
O terceiro exercício foi realizado com a criança em pé e ela jogava
uma bola com carga na diagonal. As bolas tinham peso entre 250g e 750g e
o paciente iniciava com a bola de 250g e se conseguisse realizar três séries
de 15 repetições durante duas sessões consecutivas, a carga da bola era
aumentada para a carga seguinte.
A última fase era composta de exercício de alongamento global e
relaxamento com duração de 15 minutos. Antes e após cada sessão de
treinamento, o "peakflow", DR, FR e FC de cada criança eram monitorados e
seus valores registrados em um diário de treinamento individual.
Os materiais utilizados no programa de treinamento físico foram:
"Peakflow meter"(4), esteira ergométrica(5), bicicleta ergométrica(6),
freqüencímetro(7), halteres de 1 a 3kg e bolas de 250g, 500g e 750g.
(4) Marca Aassess - Fabricante -Respironics - EUA (5) Marca Queens, modelo 3251 (6) Monark, Brasil (7) marca Polar, modelo Beat, Finland
Métodos - 24
3.4 Análise Estatística
Foram comparados os valores iniciais entre os grupos-controle e
treinado (análise inicial entre-grupos) e a variação entre os valores finais e
iniciais de cada variável quantificada (análise entregrupos). Nos dois casos
foi, inicialmente, utilizado o teste Kolmogorov–Smirnov para verificar a
distribuição normal dos dados e, em caso afirmativo, utilizado o Student t
teste e avaliada a relação linear entre a queda da função pulmonar inicial
obtida no teste de Broncoconstrição Induzida pelo Exercício (BIE) e a
melhora obtida com a BIE, utilizando-se o teste de Spearman. Para
comparar as distribuições de freqüência entre duas variáveis qualitativas da
medicação, foi utilizado o teste Exato de Fisher. Todas as análises foram
realizadas utilizando-se o programa estatístico Sigma Stat 2.03. Em todos os
casos, foi considerado como estatisticamente significante quando p ≤ 0.05.
4. Resultados
Resultados - 26
As crianças que participaram deste estudo tinham acompanhamento
clínico no Hospital Infantil Darcy Vargas. Apesar de a condição socioeconômica
familiar não ter sido quantificada, todos poderiam ser classificados como
apresentando um baixo nível socioeconômico.
Inicialmente, foi avaliado se os dois grupos estudados (controle e
treinado) apresentavam parâmetros antropométricos, de função pulmonar,
de Broncoconstrição Induzida pelo Exercício (BIE), capacidade física e
qualidade de vida similaridades antes do início do estudo. Os resultados
indicam que idade, peso e altura dos pacientes do grupo controle foram
semelhantes àquela observada nos pacientes do grupo treinado; podemos
observar ainda os percentis de peso e altura, para ambos os sexos, segundo
o gráfico de controle evolutivo do crescimento40. Além disso, verificou-se que
não houve diferença nos parâmetros de função pulmonar entre os dois
grupos estudados no início do estudo e todos apresentavam uma função
pulmonar mostrando nenhuma ou leve obstrução das vias aéreas.
Notou-se, ainda, que os grupos controle e treinado tiveram uma capacidade
física similar no início do estudo e a capacidade cardiopulmonar foi considerada
limitada, visto que o valor médio do consumo máximo de oxigênio (VO2máx.) foi
35mLO2/kg/min e a capacidade máxima de trabalho inferior a 110 Watts.
Resultados - 27
De maneira similar, não houve diferença na "endurance" muscular dos
membros superiores e inferiores entre os grupos estudados.
Os pacientes dos grupos controle e treinado apresentaram valores
semelhantes de queda da função pulmonar desencadeada pelo BIE antes do
estudo. Detectou-se, ainda, que 4 (23%) dos pacientes do grupo controle e 5
(23%) do grupo treinado não apresentaram BIE (queda ≤ 10% do VEF1). Da
mesma forma, o desconforto respiratório durante o teste do broncoespasmo
induzido pelo exercício foi semelhante em ambos os grupos.
Os escores de qualidade de vida obtidos antes do estudo denotam
que os pacientes de ambos os grupos apresentavam qualidade de vida
similar.
Haja visto, que dos 38 pacientes estudados 24 (63%) iniciaram o
programa utilizavam budesonida, esta foi eleita a droga na padronização das
doses, como droga de conversão. (Tabela 1)
Resultados - 28
Tabela 1 - Parâmetros iniciais dos pacientes asmáticos dos grupos
controle e treinado
Médias do grupo
Controle (n=17)
Médias do grupo
Treinado (n=21)
p*
Dados antroprométricos Idade (anos) 10 (2,26)(1) 11 (2,31) 0,6
gênero 11M/6F 12M/9F
altura (cm)
altura Percentil meninos
altura Percentil meninas
141 (12,20)
55,68 (34,80)
78,33 (15,70)
146,33 (11,88)
50,83 (35)
56,11 (24,33)
0,25
Peso (kg)
Peso Percentil meninos
Peso Percentil meninas
35,64 (12,31)
40,90 (16,85)
60,25 (40,66)
42 (14,27)
50,83 (35)
72,77 (34,96)
0,15
Função Pulmonar
VEF1 (l) 1,77 (0,50) 2,09 (0,53) 0,07
VEF1 (%) 78,52 (14,59) 85,28 (14,9) 0,16
CVF (litros) 2,21 (0,64) 2,57 (0,57) 0,07
CVF (%) 95,33 (9,09) 88,94 (12,97) 0,08
VEF1/CVF 0,80 (0,12) 0,81 (0,13) 0,9
VVM (litros) 77,76 (25,80) 83,29 (17,34) 0,4
VVM (%) 86,95 (20,02) 86,64 (25,84) 0,96
Queda % do VEF1 na BIE Desconforto respiratório no BIE
-21,4 (17,5)
4,65 (9,43)
-24,9 (19,38)
4,63 (7,08)
0,5
0,97 VO2 max (mLO2/kg/min) 35,56 (6,96) 32,42 (5,8) 0,13
Trabalho máximo realizado (Watts máximo) "Endurance" Membros Inferiores (watts)
106,17 (13,59)
74,47
112,85 (24,7)
73,04
0,32
0,82
"Endurance" Membros Superiores (kg)
0,5 (0,43) 0,5 (0,50) 0,3
Escore total de QQV 3,04 (2,33) 2,97 (1,98) 0,90 *analise estatística obtida pelo Teste t-Student (p<0,05) (1) todos os dados presentes são referentes as médias (desvio padrão) cm = centímetors; kg = quilogramas; l = litros; mLO2/kg/min = mililitros de oxigênio por quilograma por minuto
Resultados - 29
Após o período de 16 semanas da primeira avaliação, o treinamento
físico das crianças melhorou a sua capacidade física no teste cardiopulmonar
de esforço e no teste submáximo. Durante o teste cardiopulmonar, constatou-
se que o grupo treinado teve melhora no condicionamento cardiovascular
máximo em todos os níveis de esforço (limiar anaeróbico, ponto de
compensação respiratória e esforço máximo) estatisticamente superior àqueles
do grupo controle; este grupo apresentou uma perda de 0,5mLO2/kg/min da
capacidade cardiopulmonar e de -3,0 watts no limiar anaeróbio e o grupo
treinado, um aumento aproximado de 3,5mLO2/kg/min e 14 watts também
superior. No ponto de compensação respiratória, o ganho do grupo controle foi
de 0,77mLO2/kg/min e 3 watts, enquanto o ganho do grupo treinado foi de 3,59
mLO2/kg/min 18,3 watts.
Com relação à capacidade cardiopulmonar máxima, o grupo controle
apresentou um discreto aumento (0,22mLO2/kg/min e 4.35 watts) inferior ao
observado no grupo treinado (3,25mLO2/kg/min e 17 watts.). Dentre as crianças
deste grupo, 57% foram consideradas “respondedoras” ao treinamento físico
(VO2máx pós-treinamento - pré-treinamento/pré-treinamento x 100 maior que
10% e 100mL), enquanto no grupo controle 11% das crianças foram
consideradas “respondedoras”. Não foi observada nenhuma diferença clínica
ou de função pulmonar entre as crianças “respondedoras” e “não-
respondedoras” do grupo treinado.
Na capacidade de trabalho submáxima de membros inferiores, grupo
controle teve uma queda de 3 Watts, enquanto o treinado apresentou um
aumento na capacidade de trabalho de 14 Watts. Já no que se refere ao
Resultados - 30
trabalho de membros superiores, o grupo-treinado teve um ganho de 0,25kg
enquanto o grupo controle não apresentou ganho neste parâmetro. (Tabela 2)
Tabela 2 - Valores da diferença pré - pós programa de reabilitação dos
grupos controle e Treinado do trabalho máximo e submáximo
Controle (n=17)
Treinado (n=21) p*
Limiar anaeróbico
Watts -3,0 (-8,0)1 14 (5) 0,002*
VO2 (ml/O2/kg/min) -0,50 (3,80) 3,42 (6,51) 0,03*
aumento VO2 (%) -0,79 (14,25) 17,24 (27,85) 0,01*
PCR
Watts 3 (11,64) 18,3 (23,04) 0,017*
VO2 (ml/O2/kg/min) 0,77 (3,1) 3,59 (5,97) 0,08
Aumento VO2 (%) 1,40 (7,59) 11,55 (18,26) 0,02*
VALOR PICO
Watts Máximo 4,35 (12,16) 17,09 (19,47) 0,02*
VO2 Max (ml/O2/kg/min) 0,22 (3,16) 3,29 (5,38) 0,04*
Trabalhos submáximo
Endurance membros inferiores(watts) Endurance de membros superiores (kg)
-3 (-8,0)
0 (0)
14 (5)
0,25 (0,25)
0,002*
0,001*
* analise estatística obtida pelo Teste t-Student (p<0,05) 1 todos os dados presentes são referentes as médias (desvio padrão) kg = quilogramas; mLO2/kg/min = mililitros de oxigênio por quilograma por minuto
Resultados - 31
Nas crianças submetidas ao treinamento físico houve uma redução na
intensidade de broncoespasmo induzido pelo exercício, significando que elas
tiveram um menor broncoespasmo após o exercício (ou seja, melhora do
BIE) e as crianças do grupo controle, uma leve piora (respectivamente, 11,6
± 21,5% do VEF1 e –1,1 ± 13,76% do VEF1) (p < 0,004) (Gráfico 1). A
melhora do BIE nas crianças treinadas foi mais acentuada quanto maior a
queda da função pulmonar durante o teste de BIE realizado antes do início
do estudo (Gráfico 2). Esta melhora refletiu-se na percepção subjetiva de
desconforto respiratório que os pacientes do grupo treinado relataram no
segundo teste de BIE em relação ao primeiro; tal desconforto (-2,22 ± 3,71)
foi significativamente inferior àquele referido pelos pacientes do grupo
controle (-0,053 ± 2,53) com um p = 0,04 (Gráfico 3).
Gráfico 1 - Diferença pré e pós do valor de queda em percentual do BIE
dos grupos controle e treinado
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
P<0,004
Mel
ho
ra d
o B
IE (
vari
ação
do
VE
F1%
)l
controle treinado
Resultados - 32
Gráfico 2 - Relação entre o valor de queda em percentual do BIE basal
e o diferença pré e pós do valor de queda do BIE de 21
crianças pós programa de treinamento físico
Gráfico 3 - índice da variação do desconforto respiratório durante o
broncoespasmo induzido pelo exercício de ambos os grupos
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
P = 0,04
vari
ação
do
DR
controle treinados
Resultados - 33
Quando comparada à variação da qualidade de vida entre os escores
obtidos no início e no fim do estudo dos grupos controle e treinado, os
resultados mostram que as crianças do grupo treinado apresentaram uma
redução importante do escore, tornando a sua qualidade de vida melhor e
que foi superior àquele obtido no grupo controle, respectivamente, -64 ± 92%
e -34,9 ± 65% (p < 0,017) (Gráfico 4). A grande variabilidade na qualidade
de vida de ambos foi decorrente do fato de três pacientes do grupo controle
e dois do tratado terem tido resultados muito discrepantes em relação aos
demais grupos.
Gráfico 4 - Percentual de mudança pré pós do score total do questionário
de qualidade de vida dos grupos controle e treinado
Resultados - 34
Por último, foi comparada a variação na ingesta de corticóides
inalados nos pacientes, tendo como parâmetro de variação a dosagem de
100µg por dia de budesonida, constatou-se que a grande maioria das
crianças do grupo controle (65%) manteve inalterado o consumo de
medicamentos durante o período do estudo. Por outro lado, na maioria das do
grupo treinado (52%) houve uma redução do consumo. No entanto, não foi
encontrada diferença estatisticamente significante entre o consumo total de
corticóides inalados pelos pacientes dos grupos controle e treinado (p = 0,18).
(Tabela 3)
Tabela 3 - Análise do uso de medicação de ambos os grupos pós
programa
Grupo
Controle Treinado Total
N 5 11 16 Redução
% 29,4 52,4 42,1
N 11 7 18 Manutenção
% 64,7 33,3 47,4
N 1 3 4
Budesonida 100µg
Aumento % 5,9 14,3 10,5
N 17 21 38 Total
% 100,0 100,0 100,0
5. Discussão
Discussão - 36
O presente estudo mostrou que crianças asmáticas submetidas a um
programa de treinamento melhoram sua capacidade física e qualidade de
vida, apresentam uma redução da intensidade da obstrução das vias aéreas
e da sintomatologia desencadeadas pelo exercício sem significante redução
do consumo de corticóide inalatório.
Indivíduos asmáticos respondem de forma singular frente ao exercício
físico, o qual pode causar aumento da resistência das vias aéreas na maioria
dos pacientes asmáticos, desencadeando falta de ar e impedindo-os de
fazer parte de jogos e esportes41. Para evitar a sensação de falta de ar, o
paciente reduz o seu nível de atividades, o que vai se repercutir em uma
redução do seu grau de condicionamento físico quando comparado a
indivíduos não-asmáticos21,25,30.
No presente estudo, observou-se que as crianças asmáticas
apresentaram um comprometimento do nível de condicionamento físico com
baixos valores do consumo máximo de oxigênio (VO2máx). Estes dados são
compatíveis com estudos realizados previamente em crianças asmáticas42 e
reforça a importância da melhora do condicionamento cardiovascular nesta
população, principalmente naquelas que interagem socialmente através da
atividade física e jogos desportivos43.
Discussão - 37
Atualmente, existe um conjunto de conhecimentos que sugere que a
prática regular da atividade física é benéfica para o asmático, embora ainda
não se saiba exatamente quais são os benefícios atingidos. Em um estudo
de metanálise recente, Ram31 et al., em 2000 mostraram que pacientes
asmáticos submetidos a um programa de atividade física aeróbia melhoram
sua capacidade de trabalho em 28 watts e aumento no consumo máximo de
oxigênio em 5,5mLO2/kg/min no VO2máx. No entanto, ainda não se sabe
que atividade física é melhor, quais os pacientes que mais se beneficiam e
há controvérsias com relação ao papel do treinamento físico na redução da
sintomatologia e melhora da função pulmonar, da qualidade de vida e da
broncoconstrição induzida pelo exercício.
Após o programa de condicionamento físico aqui utilizado, as crianças
asmáticas apresentaram um aumento na capacidade de trabalho (17watts) e
no aumento da capacidade cardiopulmonar (3,3mLO2/kg/min) inferior, porém
próximos, àqueles descritos na literatura. Este menor ganho de capacidade
aeróbia observado no presente estudo pode ter sido decorrente do fato de o
programa de treinamento físico ter sido realizado somente duas vezes por
semana ao invés de três, como preconizado para os programas de
reabilitação pulmonar44. Inicialmente, este estudo foi elaborado com o
programa de treinamento físico três vezes por semana, mas foi necessário
reduzir esta freqüência, pois os cuidadores comunicaram a inviabilidade de
comparecer três vezes semanais ao hospital devido ao temor de perderem
seus empregos e reduzir, conseqüentemente, o seu ganho econômico.
Mesmo assim, este achado mostra-se relevante, pois sugere que um
Discussão - 38
programa de 90 minutos realizado duas vezes por semana pode ser
suficiente para melhorar o condicionamento físico das crianças.
Em crianças com asma o baixo nível de condicionamento físico pode
ser também explicado através da hipoatividade e do baixo nível de
resistência muscular45. Counil46 et al. em 2003 em seus estudos, avaliaram o
efeito do protocolo de treinamento aeróbico e anaeróbico no
condicionamento de crianças com asma em um programa de seis semanas;
os seus resultados demonstraram um ganho de VO2máx, potência aeróbica
máxima ("maximal aerobic power"), potência de pico ("peak power"), sendo
que esta melhora, segundo o autor, provavelmente ocorreu em detrimento
da melhora condicionamento muscular e adaptação cardíaca.
Nesse sentido, um outro aspecto relevante nos resultados refere-se
ao ganho do trabalho submáximo de "endurance" de membros superiores e
inferiores do grupo submetido ao treinamento físico. Muito já se sabe a
respeito deste treinamento para crianças asmáticas; todavia, pouco se
discute sobre os seus efeitos, sobretudo para membros superiores.
O efeito do condicionamento físico na BIE já foi estudado, contudo, os
resultados obtidos são diversificados e sua efetividade apresenta, ainda, algumas
controvérsias24,27,28,47. Neder24 et al., em 1999 mostraram que crianças asmáticas
submetidas a um programa de treinamento físico aeróbio com intensidade
baseada no limiar anaeróbio com duração de 24 sessões não resultou em
melhora na intensidade da broncoconstrição induzida pelo exercício.
Por outro lado, Matsumoto27 et al., em 1999 mostraram que crianças
asmáticas foram submetidas a um programa de treinamento físico com
Discussão - 39
intensidade baseada em 125% do limiar anaeróbio, com duração de 36
sessões; tal programa reduziu a queda do VEF1, efeito que pareceu não
estar relacionado à hiper-responsividade brônquica. O efeito do treinamento
físico tem apresentado resultados controversos, indicando que há uma
redução27,48 ou não24,49 da broncoconstrição induzida pelo exercício.
No presente estudo, as crianças apresentaram uma redução
importante da BIE após o treinamento e sete delas (33%) deixaram de
apresentar o fenômeno de BIE após o treinamento físico. Entretanto, esta
melhora não foi observada em todos os pacientes e duas crianças (9%)
apresentaram piora da intensidade da BIE após o programa de treinamento.
Os mecanismos pelos quais o treinamento físico reduz a BIE ainda
não são totalmente compreendidos. Enquanto ela é conhecidamente
desencadeada pela modificação da osmolaridade das vias aéreas
estimulada pela perda de calor ou água para o ar expirado50,51, o
mecanismo exato para este fenômeno permanece desconhecido. A
liberação de mediadores dos mastócitos da mucosa52,53 e os
leucotrienos54,55 estão envolvidos. Ainda não se sabe se o treinamento
físico pode, a longo prazo, influenciar a liberação de mediadores ou a
regulação do tono brônquico. O de curta duração tem sido mostrado
induzir o rápido aumento de catecolaminas plasmáticas e aumentar a
densidade de adrenorreceptores dos linfócitos56. O sistema beta-
adrenorreceptor tem sido mostrado estar ativado em linfócitos durante o
exercício aeróbio prolongado57. Embora estes mecanismos possam ser
importantes, isto não foi avaliado neste estudo.
Discussão - 40
Uma possível hipótese para a redução da BIE seria a melhora do
condicionamento físico levando a uma redução da ventilação durante o
esforço físico, o que poderia reduzir o ressecamento e/ou resfriamento das
vias aéreas, reduzindo, assim, a resposta brônquica frente ao esforço físico.
Pacientes com asma têm notado diminuição da dispnéia após a
participação em programas de exercício físico58. O treinamento aeróbio
parece reduzir a dispnéia através de mecanismo que incluem o
fortalecimento dos músculos respiratórios e a ventilação31. Embora a
redução da ventilação no trabalho submáximo tenha, provavelmente,
contribuído na redução da dispnéia durante o exercício, o treinamento físico
parece ter um efeito de dessensibilização central na sensação da dispnéia30.
Ritmicidade e repetitividade do exercício podem produzir um incremento na
sincronia eletroencefalográfica59, aumentar os níveis de endorfina e reduzir a
sensação da dispnéia por um efeito central independente da ventilação60.
A redução da BIE observada após o treinamento físico neste trabalho
foi também percebida pelo paciente, que relatou uma diminuição do
desconforto respiratório no segundo teste de BIE, sugerindo que,
possivelmente, o paciente vivenciou redução da dispnéia durante as
atividades do seu dia-a-dia ou mesmo durante brincadeiras com outras
crianças. Visto que alguns músculos da cintura escapular auxiliam na
ventilação pulmonar, dando um suporte e estabilizando ou puxando a caixa
torácica61,62, é possível que a melhora da ação destes músculos decorrente
do treinamento físico possa também explicar estes resultados, contudo
outros estudos são necessários para melhor explicar este achado.
Discussão - 41
A qualidade de vida é uma percepção individual que está inserida no
contexto da cultura e de sistemas de valores com os quais o indivíduo vive
em relação aos seus objetivos, expectativas, critérios e interesses63 e
diversos fatores podem influenciar positiva ou negativamente a qualidade de
vida. A asma exerce um efeito negativo sobre a qualidade de vida de
crianças e adolescentes devido a diversos fatores, dentre eles: aumenta a
ansiedade do paciente na expectativa de vivenciar crises asmáticas,
prejudica o sono e impossibilita a participação em jogos e esportes41,64.
Na nossa população, verificou-se que o treinamento físico melhorou a
qualidade de vida dos pacientes. É possível que a melhora da performance
ao exercício, com a redução da sintomatologia ao esforço do paciente, tenha
sido responsável por isso. Até o momento, tem-se conhecimento de apenas
um estudo que tenha avaliado os benefícios do treinamento físico na
qualidade de vida de pacientes asmáticos e os resultados obtidos são
similares aos nossos, reforçando a importância da melhora do
condicionamento físico na criança asmática65.
Alguns estudos têm sugerido que a melhora da capacidade física
reduz a ingesta de corticóides inalatórios11,24. No presente estudo, apesar de
o total de medicação entre os grupos controle e treinado não ter sido
estatisticamente significativo, depreendeu-se que os pacientes treinados
apresentaram uma redução em 52% da dosagem de corticóide inalatório
contra 30% de redução no grupo controle, o que parece clinicamente
relevante. Uma das limitações aqui encontradas foi a limitação dos recursos
financeiros que eram utilizados para subsidiar tanto a medicação quanto o
Discussão - 42
transporte dos pacientes e seus pais. É possível que a maior disponibilidade
dos recursos financeiros pudesse ter auxiliado na padronização da
medicação para cada criança, reduzindo possíveis dificuldades de
adaptação dos pacientes a dosagens e medicamentos utilizados.
6. Conclusões
Conclusões - 44
Os resultados obtidos reforçam os dados da literatura sobre os efeitos
benéficos do treinamento físico, na melhora da capacidade física dos
pacientes, sem redução significante da ingesta de medicação. Além disto, o
presente estudo sugere que o treinamento físico melhora a qualidade de
vida do paciente asmático, reduzindo a Broncoconstrição Induzida pelo
Exercício e sua sintomatologia, reforçando a importância desta modalidade
terapêutica no tratamento do paciente com asma.
7. Anexos
Anexos - 46
Anexo A
HOSPITAL INFANTIL DARGY VARGAS
TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO Obrigatório para pesquisas em seres humanos – Resolução n° 01 de 13/06/98 – CNS
I ) DADOS PARA IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE OU RESPONSÁVEL LEGAL: 1. Nome do paciente _______________________________________________________
Sexo: ____________________ Data de nascimento: ___ /___ /___ Endereço ______________________________________________________________Bairro _______________ Cidade: _______________ CEP: ___________________Telefone: ____________________
2. Responsável legal: ______________________________________________________Parentesco: __________________ Sexo:________ Data de nascimento: ___ /___ /___
II ) DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA: 1. Título de Protocolo de Pesquisa: “Qualidade de Vida para Crianças Asmáticas”. 2. Pesquisadora: __________________________________________________________3. Avaliação do risco da pesquisa: SEM RISCO. III ) GARANTIAS DO PACIENTE e/ou RESPONSÁVEL LEGAL: 1. Receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a cerca da pesquisa. 2. Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e deixar de participar
do estudo sem prejuízo de seu tratamento. 3. Compromisso sobre a segurança de que não se identificará o indivíduo. IV ) CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO: Declaro que, após ter sido convenientemente esclarecido pela pesquisadora, conforme registro nos itens 1 a 3, do inciso III, consinto em participar, na qualidade de paciente, do projeto de Pesquisa, descrito no inciso II. São Paulo, de de . ___________________________________ __________________________________ assinatura do responsável legal assinatura da pesquisadora
Anexos - 47
QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA APLICADO AO PACIENTE
Nome: _____________________________________ Idade: ______________________Data: __________________ Entrevistador(a): _________________________________Medicamentos (tipo, dose, freqüência de uso): __________________________________________________________________________________________________________Peak Flow: média semanal = _____________ ; menor valor/melhor valor = VEF¹ ________________________________
Domínio 1: (limitação de atividades)
1. Os sintomas da asma , ( aqueles que foram explicados antes das perguntas) que são tosse, chiado, falta de ar, aperto no peito e cansaço - podem incomodar você no seu dia/dia. Fale as atividades ( como por exemplo correr, brincar, subir escadas, dar risada) que você costuma fazer e que a asma te atrapalha. 2. Fale as 3 atividades que foram mais difíceis para você fazer na última semana: a)______________________,b)_______________________,c)_______________________ à � não respondeu. 3. Eu vou ler para você uma lista de atividades. Na última semana, diga o quanto os sintomas da asma, que são a tosse, falta de ar, chiado, aperto no peito ou cansaço, atrapalharam a realização de cada uma dessas atividades. (Obs: Mostrar à criança a escala 10, e solicitar que identifique o seu grau de comprometimento, perguntando da seguinte maneira : - o quanto correr incomodou você na última semana ?, o quanto andar incomodou).
SCORE NÃO SE APLICA Correr Andar Subir escadas ou ladeiras Andar de bicicleta Brincadeiras com bola ou educação física Dançar Nadar Brincar com os amigos Estudar ou fazer as lições da escola Cantar Rir Conversar Gritar Acordar de manhã SCORE
TOTAL: MÉDIA:
Anexos - 48
Domínio 2: (sintomas) Quanto a/o______________ incomodou você na última semana?
SCORE Crise de asma Chiado Tosse Cansaço durante as atividades Acordar durante a noite – sono interrompido Cansaço ao acordar Falta de ar
SCORE TOTAL:
MÉDIA:
Domínio 3: (função emocional) Você se sentiu _________________ por ter asma?
SCORE Irritado Triste Nervoso Preocupado Diferente dos amigos Deixado de lado pelos amigos Assustado
SCORE TOTAL:
MÉDIA:
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