Eficácia Da Descontaminação de Resíduos Biológicos Infectantes de Laboratórios de...

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     A    r    t     i    g    o     T     é    c    n     i    c    o 323 Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331 Resumo  A pesquisa foi realizada no Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais com o objetivo de validar o processo de descontaminação de resíduos infectantes do subgrupo A 1  e identicar possíveis falhas no procedimento preliminar à sua disposição nal. Foram avaliados tanto a descontaminação dos resíduos totalmente descartáveis acondicionados em sacos plásticos termorresistentes quanto o processo de descontaminação dos resíduos reutilizáveis provenientes do Laboratório de Tuberculose, acondicionados em caixas metálicas. Enquanto os resultados obtidos no primeiro estudo indicaram uma deciência considerável no tratamento dos resíduos, no segundo caso a ecácia foi comprovada. Medidas preventivas e corretivas foram propostas e adotadas como consequência deste trabalho, e são aqui descritas. Palavras-chave: RDC 306/2004; gerenciamento de resíduos d o serviço de saúde; desinfecção; autoclave; tuberculose; Bacillus stearothermophilus. Abstract Laboratory studies were performed at the Central Laboratory of Public Health of Minas Gerais in order to validate the process of infectious waste decontamination (subgroup A 1 ) from the public health service and identify possible flaws in the procedure preliminary to its final disposal. We evaluated both the decontamination of disposable waste packed in thermo-resistant plastic bags as well and the decontamination process of reusable waste from the Tuberculosis Laboratory packed in metallic boxes. The results of the first study indicated a significant deficiency in waste treatment, while in the second case efficacy was demonstrated. Preventive and corrective measures were proposed and adopted as a result of this work and are described herein. Keywords: RDC 306/2004 ; health care waste management; disinfection; tuberculosis; autoclave; Bacillus stearothermophilus. Endereço para correspondência: Mônica Cristina Teixeira – Departamento de Farmácia – Escola de Farmácia – Universidade Federal de Ouro Preto – Campus Universitário Morro do Cruzeiro – 35400-000 – Ouro Preto (MG), Brasil – E-mail: [email protected] Recebido:  28/08/12 – Aceito: 31/07/13 – Reg. ABES: 558 Ecácia da descontaminação de resíduos biológicos infectantes de laboratórios de microbiologia após  tratamento térmico por autoclavação Efcacy of the decontamination of biological infectious waste after thermal treatment by autoclaving Maria Aparecida Galvão Bióloga. Mestranda em Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto (MG), Brasil. Servidora da Fundação Ezequiel Dias (FUNED)  Belo Horizonte (MG), Brasil. João Cesar da Silva Biomédico. Servidor da FUNED – Belo Horizonte (MG), Brasil. Mônica Cristina T eixeira Professora do Departamento de Farmácia e do Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) – Ouro Preto (MG), Brasil.

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Autoclavagem

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    cnic

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    323Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331

    ResumoA pesquisa foi realizada no Laboratrio Central de Sade Pblica de Minas Gerais com o objetivo de validar o processo de descontaminao de resduos

    infectantes do subgrupo A1 e identificar possveis falhas no procedimento preliminar sua disposio final. Foram avaliados tanto a descontaminao dos

    resduos totalmente descartveis acondicionados em sacos plsticos termorresistentes quanto o processo de descontaminao dos resduos reutilizveis

    provenientes do Laboratrio de Tuberculose, acondicionados em caixas metlicas. Enquanto os resultados obtidos no primeiro estudo indicaram uma

    deficincia considervel no tratamento dos resduos, no segundo caso a eficcia foi comprovada. Medidas preventivas e corretivas foram propostas e adotadas

    como consequncia deste trabalho, e so aqui descritas.

    Palavras-chave: RDC 306/2004; gerenciamento de resduos do servio de sade; desinfeco; autoclave; tuberculose; Bacillus stearothermophilus.

    Abstract Laboratory studies were performed at the Central Laboratory of Public Health of Minas Gerais in order to validate the process of infectious waste

    decontamination (subgroup A1) from the public health service and identify possible flaws in the procedure preliminary to its final disposal. We

    evaluated both the decontamination of disposable waste packed in thermo-resistant plastic bags as well and the decontamination process of reusable

    waste from the Tuberculosis Laboratory packed in metallic boxes. The results of the first study indicated a significant deficiency in waste treatment,

    while in the second case efficacy was demonstrated. Preventive and corrective measures were proposed and adopted as a result of this work and

    are described herein.

    Keywords: RDC 306/2004; health care waste management; disinfection; tuberculosis; autoclave; Bacillus stearothermophilus.

    Endereo para correspondncia: Mnica Cristina Teixeira Departamento de Farmcia Escola de Farmcia Universidade Federal de Ouro Preto Campus Universitrio Morro do Cruzeiro 35400-000 Ouro Preto (MG), Brasil E-mail: [email protected] Recebido: 28/08/12 Aceito: 31/07/13 Reg. ABES: 558

    Eficcia da descontaminao de resduos biolgicos infectantes de laboratrios de microbiologia aps

    tratamento trmico por autoclavaoEfficacy of the decontamination of biological infectious waste after thermal

    treatment by autoclaving

    Maria Aparecida GalvoBiloga. Mestranda em Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Ouro Preto Ouro Preto (MG), Brasil. Servidora da Fundao

    Ezequiel Dias (FUNED) Belo Horizonte (MG), Brasil.

    Joo Cesar da SilvaBiomdico. Servidor da FUNED Belo Horizonte (MG), Brasil.

    Mnica Cristina TeixeiraProfessora do Departamento de Farmcia e do Programa de Ps Graduao em Engenharia Ambiental da Universidade Federal

    de Ouro Preto (UFOP) Ouro Preto (MG), Brasil.

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    Galvo, M.A.; Silva, J.C.; Teixeira, M.C.

    Para Schneider et al. (2004), o gerenciamento dos RSS encon-

    tra srios problemas em todas as etapas. Tais problemas podem

    ser atribudos a fatores como escassez de conhecimentos espec-

    ficos, carncia de normas e leis efetivas, negligncia dos respon-

    sveis, no exigncia dos planos de gerenciamento pelos rgos

    competentes, fiscalizao inadequada e/ou ausente e carncia de

    programas de preveno da poluio, objetivando a minimizao

    da gerao de resduos.

    Com a meta de diminuir os problemas decorrentes do mau ge-

    renciamento dos resduos infectantes, a legislao brasileira tem pro-

    curado se mostrar rigorosa na tentativa de exigir que os estabeleci-

    mentos de sade atendam s disposies estabelecidas. Assim, foram

    publicadas a Resoluo do Conselho Nacional do Meio Ambiente

    (CONAMA) n358/2005 e a RDC n306/2004, da Agncia Nacional

    de Vigilncia Sanitria (ANVISA), que tratam do gerenciamento dos

    RSS em todas as etapas, determinam as responsabilidades, analisam

    os riscos envolvidos, assim como o correto gerenciamento e a dis-

    posio final ambientalmente adequada, ou seja, exigem o manejo

    especfico desde a gerao at a disposio final dos resduos.

    Mais recentemente destaca-se a aprovao, em 2010, da Lei

    n 12.305, intitulada Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS),

    como mecanismo de estmulo sustentabilidade ambiental. A PNRS

    contempla os resduos e rejeitos gerados pela produo e consumo

    da sociedade atribuindo aos seus produtores, de forma solidria,

    a responsabilidade pelo descarte adequado dos mesmos, norteando a

    poltica de saneamento a ser adotada pelo poder pblico.

    Alm das constituies estaduais e federal, o Brasil j conta com

    leis, decretos e portarias que, embora amplos, no tm conseguido

    solucionar a problemtica ambiental referente aos resduos infectan-

    tes. O fracasso no se deve apenas diversidade do pas, dada sua ex-

    tenso geogrfica e variado nvel econmico da populao, mas tambm

    necessidade de criao de polticas pblicas especficas s necessidades

    de cada servio de sade, que sejam compatveis com a realidade econ-

    mica de cada regio (MENDONA, 1997).

    Esse tipo de legislao preconiza que, para o correto gerencia-

    mento dos RSS, alguns resduos do grupo A devem ser tratados

    previamente antes da disposio final para reduzir seu potencial

    patognico. Para isso, o tratamento consiste na modificao das ca-

    ractersticas gerais dos riscos inerentes aos resduos, reduzindo ou

    eliminando o risco de contaminao, de acidentes ocupacionais ou de

    dano ao meio ambiente, sendo que tal processo pode ser desenvolvi-

    do no prprio estabelecimento gerador ou em outro estabelecimento,

    observadas as condies de segurana para o transporte entre o es-

    tabelecimento gerador e o local do tratamento (CONAMA 358/05).

    Sendo assim, os resduos dos subgrupos A1 e A

    2 devem ser sub-

    metidos a tratamento fsico ou outro, validado para a reduo ou a

    eliminao da carga microbiana em equipamento compatvel com o

    Nvel III de Inativao Microbiana. Os resduos do subgrupo A3 de-

    vem ser submetidos incinerao, cremao ou aterramento em

    Introduo

    O tema resduos de servio de sade (RSS) polmico e ex-

    tremamente relevante devido sua estreita relao com o meio

    ambiente e a nossa qualidade de vida. Neste contexto, esse tra-

    balho visa a ampliar a discusso e demonstrar a necessidade de

    os estabelecimentos geradores conhecerem melhor os processos

    de tratamento dos resduos infectantes, garantindo a eficcia do

    processo e contribuindo para a melhoria contnua dos servios

    prestados para a populao brasileira.

    Atualmente, a questo dos resduos slidos se apresenta como

    um problema do saneamento ambiental na maioria dos munic-

    pios brasileiros, principalmente no que tange ao gerenciamento

    e disposio final dos mesmos. Segundo as estatsticas nacio-

    nais realizadas em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica (IBGE), mais de 60% dos resduos slidos urbanos ge-

    rados no Brasil so dispostos em lixes a cu aberto sem gerencia-

    mento adequado.

    Os resduos gerados nos estabelecimentos de sade em geral so

    classificados em cinco grupos, conforme suas caractersticas de pe-

    riculosidade. Os resduos do grupo A so os que apresentam riscos

    biolgicos e esto subdivididos em A1,

    A2,

    A3,

    A4 e

    A

    5; o grupo B cons-

    titudo pelos resduos qumicos; no grupo C so alocados os resduos

    com risco radiolgico; no grupo D encontram-se os resduos comuns,

    inclusive os reciclveis; e, finalmente, o grupo E caracterizado pelos

    resduos perfurocortantes.

    De acordo com a Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    (ABNT) 12.807/93, os resduos biolgicos podem ser considera-

    dos infectantes por sua caracterstica de maior virulncia, infecti-

    vidade e concentrao de patgenos que representam risco poten-

    cial adicional sade pblica. O potencial de risco para a sade

    humana e ambiental atribudo aos resduos infectantes tema de

    grande discusso. Silva et al. (2002) salientam que diferentes mi-

    cro-organismos patognicos presentes na massa desses resduos

    infectantes apresentam capacidade de persistncia ambiental, pois

    nesse ambiente as condies so timas para seu desenvolvimen-

    to, j que suas exigncias vitais de abrigo, alimentao e gua so

    plenamente atendidas. Entre eles encontram-se o Mycobacterium

    tuberculosis, o Staphylococcus aureus, a Escherichia coli, os vrus da

    hepatite A e B. dentre outros. A periculosidade desses resduos

    atribuda essencialmente toxicidade e patogenicidade inerentes

    a estes micro-organismos, se presentes.

    O mau gerenciamento dos RSS, particularmente no que se refere

    ao seu tratamento, tem sido ainda uma questo de difcil soluo para

    a maioria das cidades brasileiras. O gerenciamento inadequado desses

    resduos, principalmente na etapa da disposio final, tem provocado

    problemas ambientais capazes de comprometer os recursos naturais

    e a qualidade de vida das atuais e futuras geraes (ANVISA, 2006).

  • 325Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331

    Descontaminao de RSS por tratamento trmico

    cemitrio; os do subgrupo A4 no necessitam de tratamento pr-

    vio, podendo ser dispostos em local devidamente licenciado para

    disposio de RSS. A incinerao obrigatria para o subgrupo A5.

    Os processos mais utilizados para o tratamento dos resduos con-

    taminados biologicamente so as desinfeces qumicas ou trmicas

    (autoclavao, incinerao e micro-ondas). A descontaminao por

    autoclavao consiste em manter o material em contato com o vapor

    de gua, em temperaturas elevadas, por um perodo de tempo de-

    terminado. Desta forma, os agentes patognicos so destrudos por

    termocoagulao das protenas citoplasmticas.

    A esterilizao pelo calor aquela que processa maior quantidade

    de materiais, tanto na indstria farmacutica quanto na rea hospi-

    talar. O calor uma forma de energia capaz de transferir-se de um

    sistema a outro, desde que exista diferena de temperatura entre eles.

    Segundo Tortora (2000), a esterilizao pelo calor , sem duvida, o

    mtodo mais conveniente para ser aplicado por ser o mais eficiente,

    seguro e conhecido, alm de ser o mais estudado e dispor hoje de

    equipamentos adequados.

    As bactrias em estado ativo podem ser facilmente destrudas por

    agentes qumicos e fsicos, os quais podem atuar eliminando total-

    mente os micro-organismos ou impedindo seu crescimento, criando

    condies sob as quais eles no possam se reproduzir. A esporulao

    um mecanismo protetor por meio do qual algumas bactrias so ca-

    pazes de permanecer em estado de latncia por um grande perodo de

    tempo. O esporo bacteriano a forma microbiana mais resistente aos

    agentes esterilizantes, sendo utilizada como parmetro para o estudo

    microbiolgico do processo de autoclavao. Um micro-organismo

    considerado morto se no formar colnias em nenhum meio de

    cultura (COSTA, 1980).

    Segundo Costa, Cruz e Massa (1990), o processo de esterilizao

    visa incapacidade de reproduo de todos os organismos presentes

    no material a ser autoclavado, causando a morte microbiana at que

    a probabilidade de sobrevivncia do agente contaminante seja menor

    que 1:1.000.000, quando um objeto pode ser considerado estril.

    Um dos avanos na prtica da esterilizao a compreenso de que

    os micro-organismos submetidos maioria dos processos de esterili-

    zao no morrem todos ao mesmo tempo, mas de forma progressiva.

    Os dois fatores de esterilizao que devem ser mensurados durante o

    uso de vapor como agente esterilizante so a temperatura e o tempo

    de exposio. Para que a destruio dos micro-organismos seja abso-

    luta, o processo de esterilizao a vapor deve permitir o controle de

    calor, umidade e temperatura. O calor pode eliminar prontamente

    os micro-organismos, mas necessrio que o vapor circule por con-

    veco, de forma a penetrar nos objetos porosos (NIEHEUS, 2004).

    O tratamento trmico por autoclave tem sua eficincia baseada no

    contato direto do vapor com o material, ou seja, se um organismo

    estiver dentro de um frasco, o vapor precisar aquecer o frasco at

    atingir temperatura suficiente para destru-lo. A eliminao se dar

    pelo aquecimento do meio em que este se encontra, e no pelo con-

    tato direto com o vapor (TORTORA, 2000).

    As tcnicas corretas de esterilizao so essenciais para a destrui-

    o de micro-organismos e esporos bacterianos. A padronizao de

    rotinas tcnicas necessria para permitir a uniformizao das ativi-

    dades de esterilizao. A existncia de rotina e procedimentos escritos

    para a prtica de descontaminao e esterilizao, assim como rela-

    trios de desempenho das atividades da autoclavao devem atender

    aos principais requisitos de controle (APECIH, 1998).

    Para ser eficiente, o vapor deve penetrar toda a massa de re-

    sduos. Testes de validao devem ser realizados periodicamente

    para assegurar a reprodutibilidade e a confiabilidade do processo

    e, desta forma, garantir resultados satisfatrios e seguros. A valida-

    o verifica a eficcia do equipamento ou do processo, ou seja, se

    o equipamento cumpre as especificaes exigidas. Diferentes tipos

    de testes devem ser realizados para verificar a eficincia do proces-

    so de esterilizao. Recomenda-se que esterilizadores a vapor e ar

    quente sejam testados com indicadores biolgicos semanalmente,

    e indicadores qumicos devem ser usados em cada pacote a ser

    esterilizado (NBR 9804, 1987).

    O indicador biolgico consiste de um preparado de micro-orga-

    nismos especficos, resistente a um determinado processo de esteri-

    lizao. Este indicador deve ser utilizado para a qualificao de uma

    operao fsica da autoclave, no desenvolvimento e estabelecimento

    do processo de esterilizao validado para um artigo especfico e na

    esterilizao de equipamento, material e embalagens para processa-

    mento asstico. Este produto utilizado tambm para monitorar um

    ciclo de esterilizao uma vez estabelecido (PINTO, 2000). O bioin-

    dicador o parmetro escolhido para certificar que o nvel de esteri-

    lidade estabelecido para o produto alcanado, conferindo a certeza

    de esterilidade frente margem de segurana mnima definida de

    apenas uma unidade contaminada em 106 unidades do produto

    processado (VESSONI, 1994).

    As principais causas de falha na esterilizao so decorrentes de

    eventuais problemas no funcionamento do esterilizador ou erro na

    tcnica de esterilizao. Algumas das dificuldades mais comuns con-

    templam carga incorreta no esterilizador, como pacotes empilhados,

    excesso de volume nos recipientes e, ainda, excesso de pacotes dentro

    da cmara (NIEHEUS, 2004).

    Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo conhecer

    melhor o processo de tratamento dos resduos infectantes gerados nos

    servios de microbiologia do Laboratrio Central de Sade Pblica do

    Estado de Minas Gerais (LACEN-MG), a fim de comprovar a eficincia

    do tratamento trmico por autoclavao dos resduos slidos infectan-

    tes descartveis e dos resduos infectantes reutilizveis pela instituio,

    possibilitando propostas para a melhoria contnua dos servios e para a

    garantia dos procedimentos executados.

  • 326 Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331

    Galvo, M.A.; Silva, J.C.; Teixeira, M.C.

    Metodologia

    Monitoramento da qualidade da segregao dos resduos gerados nos laboratrios

    Para a realizao dos estudos, os resduos infectantes foram

    coletados e caracterizados qualitativamente quanto sua compo-

    sio, a fim de monitorar a qualidade da segregao dos resduos,

    e tambm quantitativamente.

    Os perodos e horrios de coleta seguiram o fluxo de ativida-

    des do estabelecimento, com base na demanda de servios e na

    gerao de resduos.

    Para ambos os estudos, utilizou-se uma autoclave horizontal de

    fronteira de capacidade aproximada de 700 litros, qualificada para tal

    procedimento segundo a NBR ISO 17.665-1, 2010.

    O indicador biolgico (IB) empregado neste trabalho foi constitu-

    do de uma mistura de esporos viveis de micro-organismo termorresis-

    tente: Bacillus stearothermophilus ATCC 7953, contendo 106 UFC/frasco,

    fabricado pela Secretaria de Estado da Sade do Paran Centro de

    Produo e Pesquisa de Imunobiolgicos (CPPI) e distribudo aos

    Laboratrios de Sade Pblica do Brasil pelo Ministrio da Sade,

    com o nome comercial Esteriteste. Segundo recomendao do CPPI,

    aps o ciclo de autoclavao os bioindicadores devem ser removidos

    de dentro da cmara do equipamento e, aps o resfriamento, os fras-

    cos devem ser incubados em estufa bacteriolgica a 57,52,5C por

    48 horas. Deve-se usar, como controle positivo de crescimento micro-

    biano, um frasco de IB que no tenha sido submetido ao processo de

    autoclavao, permitindo, assim, avaliar a viabilidade dos esporos, a

    qualidade do meio de recuperao e a incubao.

    Primeiro estudo de caso: tratamento dos resduos de 13 laboratrios de microbiologia

    Os resduos infectantes descartveis foram acondicionados em sacos

    plsticos termorresistentes prprios para autoclave, com 35 ou 60 cm de

    comprimento e capacidades de 20 e 60 litros, respectivamente.

    Durante sete dias teis, os resduos foram inspecionados visual-

    mente e pesados, e seu volume foi determinado. A aferio do peso foi

    feita empregando-se balana mecnica (peso mximo de 200kg e peso

    mnimo de 200g). Para esta pesquisa, considerou-se como ideal a altura

    (volume) de ate 2/3 dos resduos nos sacos de autoclave antes da descon-

    taminao trmica em autoclave, devendo, portanto ser de 40 cm para o

    saco de 60 litros. Para tanto, a altura ocupada foi determinada com em-

    prego de trena e os dados coletados foram registrados em uma planilha.

    Os resduos foram classificados quanto origem, sendo poss-

    vel observar, neste perodo, as prticas laboratoriais que envolvem

    a gerao destes nos laboratrios, assim como parte do manejo (se-

    gregao, acondicionamento, identificao, coleta e transporte in-

    terno). Os sacos plsticos contendo os resduos infectantes foram

    identificados com o nome dos laboratrios de origem, data e hora.

    Tais sacos foram ainda numerados em ordem crescente, de acordo

    com ordem de chegada e anlise.

    Posteriormente, os resduos foram descontaminados em autocla-

    ve e a eficincia do processo foi verificada com o uso de indicadores

    biolgicos. Para a verificao da eficcia do tratamento trmico por au-

    toclavao, utilizou-se como critrio de escolha para configurao das

    cargas selecionar apenas os resduos infectantes acondicionados em sacos

    de60L, escolhidos aleatoriamente. Aps a seleo dos sacos, um fras-

    code indicador biolgico foi amarrado a um fio e introduzido na massa

    do resduo infectante. A autoclave foi configurada com uma carga de seis

    sacos (60 L cada, 360 L no total), sendo os mesmos submetidos a uma

    temperatura de 121C por 40 minutos. Os frascos de IB, aps os ciclos de

    descontaminao, foram removidos manualmente dos sacos e incubados

    em estufa bacteriolgica para verificao da eficcia da descontaminao.

    Segundo estudo de caso: tratamento dos resduos do Laboratrio de Tuberculose

    O monitoramento e os testes dos resduos do Laboratrio de

    Tuberculose foram realizados em um perodo de trs meses (setem-

    bro a novembro) no ano de 2011. Os tubos de ensaio contendo os

    resultados do cultivo do micro-organismo M. tuberculosis foram acon-

    dicionados em caixas de ao inox (caixas metlicas), por se tratarem

    de materiais reutilizveis. Os funcionrios do laboratrio gerador do

    resduo foram instrudos a colocar um frasco do indicador biolgico

    no fundo de cada caixa metlica. Aps esse processo, as caixas foram

    preenchidas com cerca de 250 tubos de ensaio contendo culturas po-

    sitivas do bacilo da tuberculose. O peso e o volume mdios das caixas

    eram de 12 kg e 30 L, respectivamente. A autoclave foi configurada

    com uma carga de oito caixas de ao inoxidvel e o tratamento trmi-

    co se deu a uma temperatura de 127C, durante 30 minutos. Aps os

    ciclos de descontaminao, os frascos IB foram removidos dos con-

    tineres e incubados conforme indicao dos fornecedores, para a

    verificao da eficcia da descontaminao.

    Resultados e Discusso

    Monitoramento da qualidade da segregao dos resduos

    Em um primeiro perodo de anlise (sete dias teis, maio e junho

    de 2010), observou-se o processo de gerenciamento de 111 sacos pls-

    ticos contendo os resduos infectantes gerados em 13 laboratrios

    de Microbiologia do LACEN/MG. Foram produzidos aproximada-

    mente 240kg de resduos, com uma mdia de gerao diria de

    48kg (Tabela 1).

    Estudo semelhante havia sido realizado em 2006 visando a sub-

    sidiar a implantao do PGRSS da instituio e, naquela ocasio, os

  • 327Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331

    Descontaminao de RSS por tratamento trmico

    Um novo ciclo de pesagem foi realizado no perodo de 11 a 19 de

    junho de 2012, e os dados comprovaram ter ocorrido uma reduo

    significativa nos volumes de resduos gerados, passando-se para uma

    produo de 12,91kg/dia. Este valor corresponde a 52,5% do valor

    observado antes da implementao do PGRSS, e a apenas 26,9% dos

    valores medidos aps a implementao do PGRSS, porm, antes das

    intervenes. A reduo efetiva na produo de resduos neste caso

    foi de 47,5 e 73,1% em comparao aos dados obtidos no primeiro e

    no segundo estudo, respectivamente (Tabela 3).

    Tabela 2 Composio dos resduos gerados pelos 13 laboratrios de Microbiologia do LACEN/MG, acondicionados em sacos autoclavveis e enviados para descontaminao, no perodo entre 24 de maio a 2 de junho de 2010.

    Carga: 240 kg (111 sacos)

    Tipo do Resduo Materiais Identificados

    Biolgico Subgrupo A1

    Vidrarias: culturas de micro-organismos patgenos (bacterioteca), frascos com amostras biolgicas, placas de vidro com meios de cultura, placas de vidro com isolados de micro-organismos patgenos, sacos plsticos contendo lquidos, tubos cnicos com inculo de micobactria.

    Biolgico Subgrupo A4

    Vidrarias, equipamentos de proteo individual, descartveis, materiais diversos: ala bacteriolgica descartvel, algodo, avental descartvel, filtros descartveis, frascos plsticos diversos, gaze, luvas cirrgicas, mscara descartvel e swab (zaragatoa).

    Comuns Grupo D

    Materiais de embalagem e outros: blisters de plstico, caixa de luvas vazias, caixa de papelo, caixa plstica, caneta, isopor, papel alumnio, papel crepado, papel toalha, papel oficio, saco plstico e frascos de lcool.

    Alimentos Grupo D

    Frutas, farinceos, gros, laticnios, carnes, alimentos prontos, leite em embalagem Tetrapack, leite em p, folhas de ch, po, po de queijo, p de caf, restos de alimento.

    Perfurocortante Grupo EVidrarias e descartveis: ponteiras, pipetas descartveis, tubos de hemlise e microtubos.

    Tabela 1 Quantidade de resduos gerados diariamente pelos 13 laboratrios de Microbiologia do LACEN/MG, no perodo de 24 de maio de 2010 a 02 de junho de 2010, em quilogramas.

    Data Sacos (Unidades) Peso (kg)

    24/05/10 09 19,03

    25/05/10 26 58,42

    26/05/10 16 39,02

    27/05/10 14 23,38

    28/05/10 17 33,79

    01/06/10 07 29,19

    02/06/10 22 35,85

    TOTAL 111 238,85

    dados apontaram uma produo de 172,1 kg no mesmo perodo de

    tempo (4 a 12 de abril de 2006). Comparando-se os dois resultados,

    percebe-se que a mdia de gerao de resduos por dia aumentou.

    A gerao de resduos, inicialmente de 24,6 kg/dia, sofreu um in-

    cremento de 23,4 kg/dia em quatro anos, passando aos 48 kg/dia

    observados em 2010. Trata-se, portanto, de um aumento de apro-

    ximadamente 95% em relao aos dados anteriores. Este valor no

    pode ser desprezado, ainda que se considerem as alteraes sazonais.

    Tal aumento pode ser indicativo da falta de investimento por parte

    dos responsveis tcnicos na efetiva implantao do PGRSS, falta de

    vistorias regulares das etapas do gerenciamento, bem como a segrega-

    o inadequada no ponto de gerao desses resduos.

    A avaliao visual dos sacos plsticos permitiu identificar os tipos

    de resduos e o volume (altura) ocupado pelos mesmos. Isso foi pos-

    svel por se tratarem de embalagens transparentes confeccionadas em

    polietileno de alta densidade (PEAD). Os tipos de resduos coletados

    esto relacionados na Tabela 2, e servem de exemplo da diversidade

    de materiais descartados.

    Esta avaliao visual demonstrou que no h correta segregao

    dos resduos na fonte geradora dentro da instituio. A etapa de se-

    gregao no atende ao preconizado pela resoluo da ANVISA, RDC

    306/2004, que estabelece que a segregao deve ocorrer de acordo

    com a classificao dos resduos por ela estabelecida, de forma a ga-

    rantir a reduo da gerao de resduos com periculosidade.

    Para cumprir o PGRSS, preciso que haja medidas de envolvimento

    coletivo dentro da instituio, pelas quais todos os laboratrios tenham

    bem definidas e institucionalizadas as responsabilidades e obrigaes de

    cada um em relao aos riscos decorrentes da falta de comprometimento

    e inobservncia no atendimento ao estabelecido no PGRSS.

    Aps a identificao das no conformidades quanto correta

    execuo das etapas de manejo, foram realizados treinamentos na

    instituio com todos os envolvidos no PGRSS. As informaes re-

    passadas surtiram efeito, sendo possvel melhorar a segregao e o

    acondicionamento dos resduos do grupo A, reduzindo, consequen-

    temente, sua gerao e os custos para tratamento dos mesmos.

    Tabela 3 Quantidade de resduos gerados diariamente pelos 13 laboratrios de Microbiologia do LACEN/MG, no perodo de 11 a 19 de junho de 2012, aps treinamento, em quilogramas.

    Data Sacos (Unidades) Peso (kg)

    11/06/12 07 22,0

    12/06/12 03 6,4

    13/06/12 05 10,2

    14/06/12 04 5,8

    15/06/12 11 20,2

    18/06/12 06 14,0

    19/06/12 03 11,8

    TOTAL 39 90,4

  • 328 Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331

    Galvo, M.A.; Silva, J.C.; Teixeira, M.C.

    Tabela 4 Resultado do monitoramento biolgico dos 18 sacos submetidos descontaminao por autoclavao, em funo do peso e do volume ocupado pelos resduos nos sacos.

    Saco Origem Peso (kg) Altura ocupada pelo resduo (cm) Resultado

    38 Laboratrio de Tuberculose 3,04 45* HC

    40 Laboratrio de Tuberculose 4,87 57* HC

    42 Laboratrio de Controle Microbiolgico 7,37 43* HC

    52 Laboratrio de Diagnstico - HIV 3,97 41* HC

    54 Laboratrio de Tuberculose 2,14 45* HC

    60 Laboratrio de Diagnstico - HIV 4,24 46* HC

    64 Laboratrio Monitoramento de Alimentos 6,01 54* HC

    83 Laboratrio de Doenas Parasitrias 5,87 37 HC

    87 Laboratrio Controle Microbiolgico 5,77 30 HC

    89 Laboratrio de Doenas Parasitrias 6,07 48* HC

    37 Laboratrio Tuberculose 3,27 36 NHC

    45 Laboratrio de Controle de Medicamentos 0,94 32 NHC

    48 Laboratrio Monitoramento de Alimentos 9,34 27 NHC

    53 Laboratrio de Diagnstico - HIV 2,17 40 NHC

    57 Laboratrio Diagnstico de Doenas Enterais 2,44 39 NHC

    84 Laboratrio Diagnstico da Dengue 3,87 33 NHC

    86 Laboratrio Diagnstico de Meningite 2,74 28 NHC

    88 Laboratrio de Doenas Parasitrias 4,87 29 NHC

    NHC: No Houve Crescimento; HC: Houve Crescimento, *Alturas acima de 40 cm.

    Monitoramento biolgico dos resduos tratados

    No primeiro estudo, os resduos do subgrupo A1 dos 13 labo-

    ratrios de microbiologia foram acondicionados nos sacos plsticos

    termorresistentes para autoclave e monitorados para verificar a efic-

    cia do tratamento trmico por autoclavao. Dos 34 sacos com capa-

    cidade de 60litros, foram selecionados aleatoriamente 18 (cerca de

    80kg). Foram necessrios trs ciclos de autoclavao para acomodar

    e descontaminar os 18 sacos selecionados.

    Aps a autoclavao, observou-se crescimento dos IB (resultado

    insatisfatrio), evidenciado pela colorao amarela em 10 dos sacos,

    totalizando cerca de 50 kg. Nos demais oito sacos, correspondente a

    cerca de 30kg, no houve crescimento dos IB evidenciado pela ma-

    nuteno da colorao violeta aps incubao (resultado satisfatrio).

    Os testes de validao dos trs ciclos realizados para verificar a

    eficcia do tratamento dos resduos infectantes foram reprovados,

    visto que, nos trs ciclos de tratamento trmico por autoclavao

    monitorados, houve crescimento dos IB. Assim, os resultados evi-

    denciaram ineficincia da descontaminao dos resduos infeccio-

    sos, o que compromete seu encaminhamento para descarte final,

    j que 62,5% dos resduos monitorados apresentaram resultados

    insatisfatrios. Com o intuito de identificar os fatores que contri-

    buram para o insucesso do tratamento trmico, dados referentes

    a peso e ocupao do volume livre nos sacos (altura do resduo

    em relao ao comprimento do saco de acondicionamento) foram

    comparados com os resultados do IB (Tabela 4).

    Os dados demonstram que os sacos que apresentaram resultados

    insatisfatrios foram aqueles com maiores pesos, e volume/altura aci-

    ma de 40 cm. Confrontando os pesos e a altura ocupados pelos res-

    duos nos testes considerados insatisfatrios, verifica-se que a altura

    fator mais determinante que o peso. A quantidade de resduos dentro

    dos sacos interfere na distribuio do vapor entre os materiais. Para

    que possa ocorrer a inativao dos micro-organismos, patognicos ou

    no, necessrio que o vapor entre em contato com todo o contedo

    do recipiente. A eficcia da descontaminao pode ser afetada pela

    capacidade de penetrao do agente esterilizante no meio, decorrente

    tanto da embalagem quanto da natureza dos materiais, bem como

    do desempenho do equipamento. Para que a destruio dos micro-

    -organismos seja completa, o processo de esterilizao a vapor deve

    permitir o controle de calor, umidade e temperatura.

    Para confirmar os resultados descritos, novos estudos foram rea-

    lizados. Durante esta segunda avaliao buscou-se verificar se a se-

    gregao ideal dos materiais e seu acondicionamento, respeitando-se

    o limite de 2/3 da capacidade total dos sacos de acondicionamento

    de RSS, garantiriam a eficincia do processo de descontaminao.

    Foram realizados trs novos ciclos de autoclavao, com seis sacos

    cada, utilizando-se IB em todos eles, sendo as configuraes das car-

    gas estabelecidas da seguinte forma:

  • 329Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331

    Descontaminao de RSS por tratamento trmico

    I. Carga com seis sacos de RSS segregados corretamente e altu-

    ra acima de 2/3 da capacidade total do saco, ou seja, acima

    de 40 cm.

    II. Carga com seis sacos de RSS no segregados e acondicionados

    com altura mxima de 2/3 da capacidade do saco (40 cm).

    III. Carga com seis sacos de RSS segregados e acondicionados

    com altura mxima de 2/3 da capacidade do saco (40 cm).

    Na configurao I, houve crescimento em todos os frascos de IB,

    enquanto na configurao II houve crescimento em um frasco de IB. Tais

    resultados levaram reprovao de ambos os ciclos de descontaminao.

    Por outro lado, adotando-se a configurao III no houve crescimento

    dos indicadores biolgicos, e o ciclo de descontaminao foi aprovado.

    Assim, comprovou-se que, alm da correta segregao, necessrio

    garantir o acondicionamento adequado de at 2/3 de ocupao dos res-

    duos nas embalagens antes do tratamento trmico por autoclavao para

    alcanar a inativao dos micro-organismos. O segundo estudo detalha-

    do (resduos segregados do Laboratrio de Tuberculose) foi conduzido

    entre os dias 29 de junho e 30 de dezembro de 2011. Neste perodo,

    foram inspecionadas e monitoradas 20 caixas que corresponderam a,

    aproximadamente, 5.000 tubos de cultura positiva para tuberculose.

    Osresultados do tratamento trmico foram satisfatrios para todas as 20

    caixas metlicas. Desta forma, pode-se observar que 100% dos resduos

    contaminados com o agente etiolgico da tuberculose foram tratados

    com eficcia, ou seja, houve destruio e/ou inativao do micro-orga-

    nismo dentro das caixas, classificando esses resduos no subgrupo A4, j

    que no houve descaracterizao dos mesmos.

    O insucesso no processo de descontaminao de resduos sli-

    dos de sade pode estar relacionado tanto s questes administrativas

    quanto s tcnicas. No que diz respeito s instituies, de modo geral

    a implantao do PGRSS medida que visa a garantir no apenas o

    cumprimento das obrigaes legais, mas tambm zelar pela sade de

    seus servidores e da populao, em geral, com economia de recursos,

    sejam eles pblicos ou privados.

    As principais fragilidades observadas nos estudos de caso aqui apre-

    sentados podem ser divididas entre duas principais categorias, sendo

    uma relacionada ao pessoal envolvido nos processos de gerao e segre-

    gao dos RSS e outra relacionada diretamente ao processo de tratamento

    trmico dos RSS. Os principais pontos de fragilidade detectados:

    (i) Do ponto de vista do pessoal envolvido:

    faltadecumprimentonacorretaexecuodogerenciamentopor

    inobservncia ou desconhecimento do PGRSS, procedimentos

    internos do servio de gesto ambiental e do servio de trata-

    mento dos RSS;

    faltadeumaequipemultifuncionalnaimplantaoefiscalizao

    do PGRSS.

    faltadecomprometimentoeenvolvimentodocorpotcnicoe

    gerencial nas questes relativas gesto ambiental;

    faltadepadronizaonasprticasdetrabalhoegrandedesco-

    nhecimento dos atores envolvidos sobre o que j est normatiza-

    do dentro da instituio;

    faltadeeducaocontinuadadosservidoresenvolvidosnaseta-

    pas do gerenciamento.

    (ii) Do ponto de vista do processo de descontaminao

    propriamente:

    faltadeidentificaocorretanossacosinspecionados;

    coletaetransporteinternodosRSSfeitosemdesacordocomo

    preconizado pela legislao, que visa a garantir segurana aos

    profissionais;

    segregaoinadequadasomadaaoacondicionamentoimprprio

    dos RSS. Como consequncia, observou-se o tratamento prvio

    inadequado de parte dos resduos infectantes do subgrupo A1.

    Aps a concluso desses estudos, os resultados foram apresentados

    para o Servio de Gesto Ambiental da instituio e medidas corretivas

    imediatas foram implantadas na instituio, dentre elas:

    encaminhamentodetodososresduosdogrupoA1 para incine-

    rao, at que a segregao e acondicionamento destes resduos

    sejam realizados de forma adequada;

    reunies com os geradores (laboratrios) para apresentar os

    resultados da pesquisa, objetivando aguar a sensibilidade dos

    mesmos para o maior comprometimento de todos na execuo

    correta das etapas do gerenciamento;

    exclusodoacondicionamentodosrestosdealimentosnossa-

    cos de autoclave, visando a diminuir o volume de resduos trata-

    dos como infectantes, sem necessidade;

    treinamento de pessoal direcionado correta segregao e

    acondicionamento dos RSS utilizando diferentes recipientes

    (sacos plsticos, caixas para materiais perfurocortantes, caixas

    metlicas).

    Alm disso, foi elaborado um procedimento operacional padro para

    o setor de tratamento dos resduos, estabelecendo critrios de segregao

    e acondicionamento daqueles do subgrupo A1 que devem ser observados

    antes da realizao do tratamento. Esta medida visa a garantir um trata-

    mento trmico eficaz, eliminando os principais fatores de insucesso, que

    so a segregao e o acondicionamento inadequados. Quanto coleta e

    ao transporte interno dos resduos, a instituio vem se esforando para

    adquirir carros coletores em quantidade suficiente e compatvel com a

    gerao dos resduos, tentando estabelecer uma equipe especializada

    para realizar tais atividades.

    Ainda, como propostas de melhoria para o gerenciamento dos RSS

    na instituio, sugerem-se:

    institucionalizao de metodologias de educao continuada

    direcionadas ao gerenciamento dos RSS, sendo que tais progra-

    mas estejam voltados para estratgias capazes de promover a

  • 330 Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331

    Galvo, M.A.; Silva, J.C.; Teixeira, M.C.

    sensibilizao e a conscientizao na busca de uma mudana de

    comportamento de todo o corpo tcnico e gerencial;

    implantaodemetasparareduodageraoderesduosna

    sua fonte;

    realizaodeauditoriainternaparafiscalizaremonitoraraseta-

    pas do gerenciamento dos RSS (Auditoria Ambiental);

    realizaodeanlisederisconomanejodosRSS;

    realizaodeanlisedoscustosdosRSSgeradosanteseapsa

    implantao do PGRSS para avaliar os benefcios gerados sa-

    de ocupacional e ambiental;

    institucionalizaodeumaequipemultifuncionalparaatuarnas

    etapas do gerenciamento RSS, bem como no programa de edu-

    cao continuada;

    publicidadedasaesdemelhoriapraticadasdentroda insti-

    tuio pelas diversas reas e atores sobre a gesto ambiental,

    utilizando ferramentas visuais como quadro de gesto visveis,

    espalhados pela instituio, boletins internos, jornal e intranet

    como forma de reconhecer o esforo de todos;

    monitoramento do recebimento dos resduos infectantes

    (Grupo A1) utilizando um documento reconhecido como

    Formulrio de Oportunidade de Melhoria.

    Concluses

    A anlise da descontaminao dos resduos infectantes (primeiro

    estudo de caso) acondicionados em sacos para autoclave demonstrou

    que os mesmos no estavam sendo adequadamente tratados. Por outro

    lado, os resduos exclusivos do laboratrio de tuberculose (segundo estu-

    do de caso), acondicionados em caixas metlicas, foram devidamente tra-

    tados. Assim, foi possvel constatar os pontos de fragilidade relacionados

    ao gerenciamento dos resduos biolgicos da instituio relacionados

    aos fatores humanos e tcnicos j descritos anteriormente. Diante desses

    dados, pde-se perceber que os micro-organismos com potencial risco

    infectante no estavam sendo inativados devido ao acondicionamento

    incorreto dos resduos, ou seja, ocupao superior a 2/3 da capacidade

    total dos sacos plsticos antes do tratamento trmico por autoclavao.

    A RDC 306/2004 recomenda que esta ocupao de 2/3 nos sacos

    seja respeitada aps a realizao do tratamento prvio dos resduos

    infectantes, mas no antes. Desta forma, os resultados desta pesquisa

    comprovam a importncia de uma reviso da norma no sentido de

    incluir esta determinao tambm antes do tratamento dos resduos

    infectantes, para que se possa garantir a eficcia do tratamento trmi-

    co por autoclavao.

    Foi possvel perceber tambm que a Instituio objeto desta pes-

    quisa, mesmo tendo PGRSS aprovado pelos rgos municipais, ne-

    cessita desenvolver poltica administrativa mais eficaz para garantir o

    cumprimento de seu plano de gerenciamento e atender s principais

    resolues vigentes. Conclui-se, ento, que a instituio ainda no

    alcanou sua perfeita operacionalizao.

    importante ressaltar que, apenas com uma anlise interna cr-

    tica e bem feita, sem medo de expor fragilidades e necessidades,

    que as instituies de sade, pblicas ou privadas, podero tornar

    seus procedimentos confiveis. A mudana de atitude deve partir de

    cada gerador de resduo, portanto, preciso dar a devida importncia

    ao tema para assim educar os profissionais que, uma vez treinados

    e conscientizados, alcanaro os objetivos de reduzir a gerao dos

    resduos e gerenci-los com sabedoria e qualidade. Apenas assim ser

    possvel garantir a manuteno da sade dos profissionais de sade

    diretamente envolvidos no manuseio dos RSS e da populao em ge-

    ral, bem como a qualidade ambiental.

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  • 331Eng Sanit Ambient | v.18 n.4 | out/dez 2013 | 323-331

    Descontaminao de RSS por tratamento trmico

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