Ego - A Personalidade Humana Do Espírito !!!

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ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL Uma doutrina de vida Ego A personalidade humana do espírito Este livro contém textos de palestras espirituais realizadas por incorporação pelo amigo espiritual JOAQUIM DE ARUANDA e organizados por FIRMINO JOSÉ LEITE.e MÁRCIA LIZ CONTIERI LEITE Os ensinamentos deste livro seguem as bases da Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal.

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ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL

Uma doutrina de vida

Ego

A personalidade

humana do espírito

Este livro contém textos de palestras espirituais realizadas por incorporação pelo amigo espiritual JOAQUIM DE ARUANDA e organizados por FIRMINO JOSÉ LEITE.e

MÁRCIA LIZ CONTIERI LEITE

Os ensinamentos deste livro seguem as bases da Doutrina Espiritualista Ecumênica Universal.

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Egoísmo

Baseado em estudo de O Livro dos Espíritos

913. Dentre os vícios, qual o que se pode considera r radical? Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todo s os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o m al pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdade ira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproxim ando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimen to de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.

O que é um vício? O que é estar viciado em alguma coisa? Antes de entramos no aspecto do maior precisamos entender o que é vício.

Vício é uma dependência. Uma pessoa viciada é alguém dependente de alguma coisa.

Este é o primeiro aspecto que devemos ter em mente para o que estudaremos hoje. Buscaremos compreender a ação do egoísmo como o elemento universal ao qual o ser humanizado se torna dependente, do qual depende para viver.

O egoísmo é o vício “mãe” do ser individualizado. É a sua dependência maior, aquilo que sem ele o espírito encarnado não vive e que, por isso, está sempre buscando realizar.

Definindo egoísmo, podemos afirmar que ele é o querer para si em primeiro lugar. Ocorre quando o ser humanizado vive a partir do “eu”, quando pensa sempre em si, nas suas verdades, antes de qualquer coisa.

Esta é a dependência maior de um espírito humanizado: pensar sempre em si antes do próximo. É por isso que o Espírito da Verdade diz que o egoísmo, ou individualismo, acaba com o amor e com a caridade. Isto ocorre porque a necessidade de levar vantagem, de ser premiado sempre, elimina quaisquer resquícios de espiritualidade no espírito encarnado.

Ainda falaremos muito mais sobre este aspecto durante o dia de hoje, mas por agora é preciso de que se compreenda que é necessário buscar-se o fim do vício no “eu” para poder se elevar espiritualmente (viver a espiritualidade do ser).

É preciso que o ser humanizado perca o vício do egoísmo, da necessidade do atendimento às suas vontades, ao seu desejo, às suas paixões. Precisa se libertar do condicionamento da necessidade de ser atendido sempre, para poder aproximar-se de Deus.

É isso que o Espírito da Verdade está ensinando. Se o ser humanizado permanecer preso no que querer, gosta, acha certo, no que acha que deveria estar acontecendo, no que imagina que deveria ser justo acontecer, não alcançará nada com relação à reforma íntima.

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Ele não consegue viver o espiritualismo e o universalismo, elementos resultantes da reforma íntima, porque está preso apenas no individualismo. Se o ser humanizado opta por sempre viver situações que atendam nos mínimos detalhes os seus requisitos para ser feliz, comprova a sua dependência do egoísmo, do seu “eu material”, do seu querer e estes elementos não são universais. Portanto, nada foi conseguido no sentido de integrar-se ao Todo Universal.

Este é o primeiro aspecto de hoje: entender que o vício capital é esta dependência e que todas as outras atitudes dos seres humanizados se originam no querer para si sempre.

914. Fundando-se o egoísmo no sentimento do interes se pessoal, bem difícil parece extirpá-lo inteiramente do coração humano. C hegar-se-á a consegui-lo? A medida que os homens se instruem ace rca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais. D epois, necessário é que se reformem as instituições humanas que o entre têm e excitam. Isso depende da educação.

Isso que o Espírito da Verdade falou neste trecho deveria ser realidade, mas não é. A regra deveria ser que quanto mais o ser humanizado se instruísse a respeito das coisas espirituais, mais deveria se afastar do materialismo, mas infelizmente não é isso que vemos.

O que se constata é que aqueles que “aprendem” sobre espiritualidade se prendem cada vez mais ao materialismo. Poderia dizer que a busca de viver a espiritualidade na Terra ainda é fundamentada num “espiritualismo materialista”. Isso porque os ensinamentos não reforçam a espiritualidade do ser, mas são utilizados no sentido de proporcionar melhores condições para a vida humana.

O espiritualismo ou qualquer outro ensinamento dos mestres é usado pelos seres humanizados no sentido de criar uma vida humana mais agradável, mais aprazível, de acordo com o individualismo (desejos individuais) de cada um ao invés de levá-lo a viver os acontecimentos deste mundo dentro da essência espiritual que eles possuem. Ou seja, o espiritualismo praticado no planeta está viciado pelo individualismo.

Para se vivenciar o espiritualismo na sua essência é necessário que o individualismo seja extirpado, ou seja, que os seus parâmetros de “certo” ou “errado” não prevaleçam para criar obrigações ao próximo. Sem que o ser humanizado se vença (suas paixões e desejos) não há espiritualismo. No máximo haveria um “espiritualismo materialista”.

Desta forma, saiba que sempre que você entrar em contato com qualquer coisa espiritual, a primeira ação deste ensinamento deve ser atacar aquilo que você acha que é “certo”, “bonito”, “limpo”, porque estes são os frutos do seu individualismo, instrumentos do seu egoísmo. Se o ensinamento não fizer isso o vício do individualismo neutralizará a sua ação espiritual.

É por isso que muitas pessoas acham que não trago nenhuma notícia “boa” para as suas vidas. Se trouxesse apenas aquilo que você quer ouvir, estaria nutrindo o seu materialismo e não ensinando o espiritualismo.

Eu sempre digo aos outros: compreenda que a sua vida é uma droga. Não uso este adjetivo no sentido de “ruim”, mas afirmo que “viver a vida” é ser viciado. “Viver” a vida material por ela mesmo é usar material que vicia, porque ela é fundamentada no egoísmo, no individualismo, no “eu”.

Quer um exemplo? Os que vivem a vida material, ou seja, baseiam-se nos conceitos materialista, criticam o viciado em cocaína, cigarro, bebida, carne ou qualquer elemento material considerado não-certo.

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No entanto, não compreendem que agindo desta forma estão mostrando que são viciados em egoísmo, ou seja, em quererem dizer o que deve ser feito pelo outro.

Quem quer viver a vida, ou seja, reformar atitudes humanas, não compreende que a vivência da vida é, por essência, um ato individualista, por que sempre começa pela constatação da existência do eu, da minha vida.

915. Por ser inerente à espécie humana, o egoísmo n ão constituirá sempre um obstáculo ao reinado do bem absoluto na Terra? É ex ato que no egoísmo tendes o vosso maior mal, porém ele se prende à inf erioridade dos Espíritos encarnados na Terra e não à Humanidade me sma. Ora, depurando-se por encarnações sucessivas, os Espírit os se despojam do egoísmo, como de suas outras impurezas. Não existir á na Terra nenhum homem isento de egoísmo e praticante da caridade? H á muito mais homens assim do que supondes. Apenas, não os conhec eis, porque a virtude foge à viva claridade do dia. Desde que haj a um, por que não haverá dez? Havendo dez, por que não haverá mil e a ssim por diante?

O que será que quer dizer o Espírito da Verdade quando afirma que o egoísmo se prende à inferioridade dos espíritos encarnados na Terra? Que o egoísmo se prende ao seu nível de elevação destes espíritos.

Portanto, o egoísmo que hoje você vivencia é resultante do seu nível de elevação e não uma “maldade” enraizada em seu coração. Ou seja, o egoísmo que fundamenta as compreensões que você tem durante a encarnação é o objeto de sua provação, um dos seus carmas que precisa ser “vencido”.

A partir daí a compreensão do nosso ensinamento se altera fundamentalmente. Muitos acreditam que quando falamos que o ser humanizado é egoísta estamos afirmando que ele é “mal”, “errado”, mas isso não é verdade.

Temos a plena consciência que é natural que você vivencie hoje o egoísmo quando interpreta os acontecimentos da vida carnal, porque ele faz parte do seu atual nível de elevação. Não estamos aqui para criticar ninguém, mas para alertar sobre a ação contrária do individualismo nas suas pretensões de elevação espiritual e, por conseguinte, da necessidade de libertar-se deste padrão vibratório para que você mude de patamar de elevação.

Constatamos o seu egoísmo apenas para poder afirmar que é necessário que se liberte do vício de ser sempre atendido e não para acusar. Este é um padrão de todos aqueles que realmente se interessam em aproximá-los de Deus: constatar, propor alternativas, mas nunca acusar nem cobrar aceitação ou cumprimento das diretrizes propostas.

Isto é muito diferente dos “espiritualistas materialistas”, ou seja, daqueles que utilizam o ensinamento para atender a pré-requisitos seus. Eles compreendem o ensinamento dos mestres e descobrem um “erro” seu, lhe acusam de ser errado, pecador, de não “prestar”.

Não é isso que estamos querendo dizer quando apontamos o egoísmo com o qual vive hoje. Sempre que constatamos uma característica do ser humanizado, como hoje estamos fazendo com o egoísmo, compreendemos que ela é um fundamento do ser humanizado porque faz parte do nível de elevação do espírito. Jamais afirmamos que um ser universal, um filho de Deus é “ruim”, “mal” ou “errado”.

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Aliás, como já afirmamos anteriormente em diversas oportunidades, sabemos que o espírito é sempre luz, puro por natureza e jamais perderá na sua essência esta pureza. Ele “está” viciado em egoísmo, “está” egoísta, como resultante do seu nível de elevação espiritual, mas não é nada disso. Todo seu individualismo é uma poluição que surgiu com o advento, ou seja, com a ligação à personalidade humana (ego) que está vivenciando para provar a si mesmo que é capaz de superar o vício do egoísmo.

Então, não acusamos ninguém: mostramos o caminho onde o egoísmo pode ser superado para que o ser humanizado tenha consciência da sua ação e possa mudar a sua forma de vivenciar a vida carnal. Só isso.

Declaramos expressamente que para nós não há “mal”, não há nada “errado”, mas que existem apenas espíritos vivenciando a sua existência, seja na matéria ou fora dela, dentro do seu nível de elevação espiritual.

Esta também deverá ser a sua atitude se quiser libertar-se nesta vida do egoísmo que está vivenciando. Constatar que não existem seres humanizados “maus”, “ruins” ou “errados”, mas que cada espírito possui valores dentro do seu grau de elevação espiritual.

Se ao contrário, continuar se prendendo aos seus padrões como o “certo”, saiba que, mesmo que busque o caminho da espiritualidade, estará praticando o espiritualismo materialista, aquele que acusa os outros de “pecador”.

916. Longe de diminuir, o egoísmo cresce com a civi lização, que, até, parece, o excita e mantém. Como poderá a causa destruir o efe ito? Quanto maior é o mal, mais hediondo se torna. Era preciso que o eg oísmo produzisse muito mal, para que compreensível se fizesse a nece ssidade de extirpá-lo. Os homens, quando se houverem despojado do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxi liando-se reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então, o forte será o amparo e não o opressor do fr aco e não mais serão vistos homens a quem falte o indispensável, porque todos praticarão a lei da justiça. Esse o reinado do bem que os Espíritos estão incumbidos de preparar.

Repare bem no início deste ensinamento do Espírito da Verdade para que possamos ter consciência da hipocrisia (dizer que está pensando no outro, mas está sempre pensando em si) com que o ser humanizado vive: “era preciso que o egoísmo produzisse muito mal para que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo”.

Para falar dessa hipocrisia lhes pergunto: o que motivou as cruzadas, as chamadas guerras santas? Egoísmo. O que motivou os senhores de terra em criar e sustentar a escravidão? Egoísmo.

Os acontecimentos hediondos da história da humanidade sempre foram causados para atenderem a interesses individuais de determinados seres humanizados, ou seja, viciados no egoísmo destes. Mas por que Deus permitiu que isso acontecesse? Segundo o Espírito da Verdade para que você e todos os outros espíritos encarnados compreendessem o que o egoísmo de cada um produz.

Mas, não foram apenas esses os acontecimentos hediondos que ocorreram na história da humanidade. Na verdade eu utilizei exemplos muito distantes no tempo da realidade. Por que fiz isso? Porque este livro é do final do século XIX, ou seja, os acontecimentos hediondos a que se referiu o Espírito da Verdade eram esses.

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Depois da publicação deste livro, ou seja, depois da divulgação deste ensinamento, já tivemos outros acontecimentos hediondos. Aconteceu a primeira e a segunda guerra mundial, a bomba atômica e mais recentemente os atos terroristas que podem ser considerados como acontecimentos hediondos fundamentados no egoísmo de seres humanizados.

Estes acontecimentos recentes certamente não estavam na “cabeça” de Kardec quando ele fez a pergunta ao Espírito da Verdade. No entanto, se estivessem, o ensinamento seria o mesmo: ocorreram para que os seres humanizados compreendessem a que ponto pode levar a ação egoísta baseada nas suas vontades individuais.

Eu pergunto então: o que você, que já conhece este ensinamento, fez com relação a estes crimes hediondos? Agiu egoisticamente criticando aquele que foi egoísta. Mas você não acha que ao agir assim foi egoísta. Pelo contrário, imagina que estava “certo”.

A humanidade precisa compreender que a crítica, mesmo que dirigida ao egoísta, é ação do egoísmo de quem critica. Nenhuma crítica pode ser considerada “sadia” porque ela é fundamente numa verdade individualista, num padrão individual de verdade. Portanto, ação egoísta.

Como já estudamos fartamente, Deus cria os acontecimentos da Terra para que você compreenda a essência que causou tal ato e possa, assim, abrir mão da utilização de tal essência.

Nenhuma guerra surge no planeta se não houver uma intenção egoísta, se não houver um desejo individual. Portanto, as guerras existem para que você aprenda onde o egoísmo pode levar e abra mão de seus desejos próprios, mesmo que eles sejam considerados “certos”. Mesmo que você deseje a paz, abra mão desse desejo para não criticar o próximo, pois se o fizer, estará agindo igualzinho a ele: fazendo guerra a quem quer guerrear.

O primeiro passo para poder abrir mão do egoísmo é abrir mão da crítica a quem age fora dos seus padrões individuais de “certo”. Ame a todos e a tudo acima de qualquer padrão que você tenha de certo ou errado. Aliás Cristo ensinou: se você só cumprimenta quem lhe ama que vantagem tem? Até os pagãos fazem isso...

Faça a paz com quem quer a guerra, pois só assim expressará o verdadeiro amor. A crítica, por mais que embasada em “boas intenções”, jamais será um ato de amor, pois ela se fundamenta no “eu”, no que cada um “sabe”, o que cerceia o direito do outro achar diferente.

Mas, para que você possa fazer a paz com quem quer a guerra é preciso antes libertar-se do seu “eu” e da vontade de que este “eu” se sobreponha ao do próximo.

E não me venham dizer que é impossível deixar de criticar Hitler porque ele fez a guerra ou o presidente dos Estados Unidos à época porque ele autorizou o uso da bomba atômica, porque não são deles estas ações. Como o Espírito da Verdade acabou de nos dizer, o egoísmo precisa gerar um crime hediondo para ver se a humanidade cai na real e deixa de ser egoísta, de querer só para si, de querer levar vantagem em tudo na vida. Por isso, se não fossem estes seres humanos que você acusa teriam que ser outros, pois a guerra existiu e continuará existindo porque os seres humanizados ainda agem egoisticamente no seu dia a dia.

Nós estudamos anteriormente em “O Livro dos Espíritos” que a justiça consiste em respeitar o direito do outro (pergunta 875). Portanto, se você não quer que haja guerra, para ser realmente justo, precisa respeitar o direito do outro que quer fazer a guerra e não criticá-lo ou acusá-lo por isso.

Mas não, você acredita que precisa atacar quem quer guerrear para poder defender a paz para que a justiça prevaleça. Na verdade você não está defendendo a paz nem a justiça, mas aquilo que você

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considera como paz e justo, ou seja, os seus padrões individuais de paz e justiça. Por isso falei inicialmente em descobrir a nossa hipocrisia.

Estou usando a guerra como um exemplo apenas para entendermos, mas leve isso para todas as coisas da vida. Você diz que quer viver bem com todos, mas para que isso aconteça realmente tem que aprender a viver bem com todos e não exigir que os outros se fundamentem em você para que possa existir a boa convivência.

Ou seja, você acredita que os outros precisem agir como você agiria em determinada situação para que esteja em paz com ele. Para mim isto tem outro nome: opressão, totalitarismo.

Veja como é hipócrita a sua posição. Você diz que critica o próximo por amor, por querer o “melhor” para ele ou até para que a justiça aconteça, mas na verdade a sua real intenção é a total submissão do próximo ao seu padrão de “certo” para satisfazer o seu egoísmo.

Não, a crítica jamais será fundamentada no amor ou na justiça. Cada um tem o direito e a liberdade de agir e para que eu p ame verdadeiramente preciso respeitar este direito. Mas poder conceder esta liberdade ao próximo, é preciso que cada um se liberte do seu egoísmo, do vício de olhar primeiramente para si: o que acha “certo”, “bonito” ou o que quer.

Aprenda: para o mundo espiritual não é o ato em si que vale, mas a intenção com que cada um participa dos atos da existência carnal. E a intenção com a qual os espíritos participam dos atos humanizados hoje devido ao seu patamar de elevação espiritual fundamenta-se no “eu”, pois busca atender àquilo que cada um acha que deveria acontecer.

917. Qual o meio de destruir-se o egoísmo?

Antes da resposta do Espírito da Verdade deixe-me fazer um pequeno comentário. Preste bem atenção ao que vamos falar agora porque se o egoísmo é a determinante do seu nível de elevação espiritual, a ascensão só acontecerá com a destruição dele. Portanto, o que falaremos agora é fundamental para aquele que pretende aproveitar esta encarnação.

Só quando compreendemos profundamente a questão do egoísmo e da retirada da hipocrisia que comentei anteriormente (dizer que faz por amor e justiça quando apenas quer a submissão) poderemos realmente realizar o trabalho da reforma íntima. Sem esta ação moralizadora verdadeira o espírito se ilude durante a sua existência carnal achando que está fazendo o “certo”. Só depois do desencarne percebe a intenção egoísta com a qual vivenciou os atos de sua vida, mas aí já é tarde para alcançar a reforma íntima.

Costumo dizer que na luta contra o ego é preciso mirar no general e não nos soldados. O supremo comandante do ego é o egoísmo que cria vários soldados (vaidade, ganância, soberba) para combaterem o espírito. Este general, no entanto, está camuflado pelas próprias ilusões de “certo” e “errado” que o ego criou e por isso não é localizado.

O espírito, então, luta contra os soldados, mas não ataca o comandante. O egoísmo permite que o espírito faça isso e até que vença alguns de seus subordinados, para poder proteger-se no anonimato e continuar agindo nos subterrâneos da intenção dos seres sem ser percebido.

Portanto neste trecho iremos mirar no general do seu ego (nos seus padrões de “certo” e “errado”) e não ficar atirando em soldadinhos que são peões nesta batalha. Iremos tratar o cancro que causa a ferida e não tratar dos efeitos que ele provoca.

Como a resposta de Fénelon é grande e aborda diversos aspectos, a estudaremos em parte.

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De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mai s difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pode libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organi zação social, sua educação.

O egoísmo decorre da materialidade, nos ensina o amigo espiritual.

Já estudamos anteriormente o tema “materialidade” e definimos que ela não se consiste em estar ligado a uma massa carnal, mas acontece quando o ser universal encontra-se ligado a um ego humano. Portanto, o egoísmo surge e é natural no espírito quando ele está ligado a um ego humano.

Sendo assim, enquanto houver a ligação com o ego, a intenção que o ser humanizado terá será sempre fundamentada no egoísmo. Não importa a que ato estejamos nos referindo, vivenciá-lo subordinado aos padrões ditados pelo ego é ter a intenção baseada no egoísmo.

Seja na aplicação das leis humanas, seja nos padrões organizacionais de uma sociedade, seja na orientação do próximo sobre o que é “certo” (educar), enquanto o ser universal estiver humanizado (submisso aos padrões ditados pelo ego) o egoísmo ocorrerá. Não importa que você “ache” que esteja “certo” ou até que a grande maioria concorde com você, se aplicar o que você acha que deveria estar acontecendo para julgar a atitude do próximo ocorreu um egoísmo e não uma justiça ou um amor.

Mas você não vê assim. Acredita que o acatamento às leis humanas deve ocorrer, que os padrões organizacionais de uma sociedade precisam ser respeitados, que você deve “educar’” os outros para eles ajam de forma “certa”. Mas quem disse isso?

As leis humanas são temporárias e individualizadas; as organizações sociais são extremamente diferenciadas de acordo com cada povo; o que você acha “certo” já se modificou milhares de vezes durante essa existência. Ou seja, nada disso é universal; e tudo não é universal é ilusório, individual.

As leis que você acha certa são ilusórias, as organizações sociais que você imagina que todos tem que se submeter são ilusões, tudo que você acredita como “certo” mudará quando libertar-se dos padrões impostos pelo ego. Portanto, exigir agora o cumprimento destes padrões ao próximo é submeter-se ao ego o que, naturalmente, nos leva ao egoísmo.

Enfim, ter um padrão, seja sobre que assunto for, de “certo” ou “errado”, “bonito” ou “feio”, gera automaticamente o egoísmo. Porque o egoísmo consiste na cobrança de que o próximo atenda o seu padrão.

É por isso que Buda chama os padrões de paixões. Você é verdadeiramente apaixonado pelos seus padrões de “certo” e “errado” e desta paixão surge, então, o desejo do cumprimento daquilo que você acha “certo” e o desejo da não existência daquilo que você acha “errado”. Ou seja, o egoísmo em ação.

O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida mo ral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, qu e o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não desfigu rado por ficções alegóricas.

Dois aspectos a analisarmos neste trecho. Primeiro: o egoísmo acaba com a elevação moral.

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Se o egoísmo é contrário à elevação espiritual e se ele é fundamentado no “eu” a elevação moral, então, o processo de reforma íntima se consiste em buscar o “nós”. A partir daí pergunto: o que é elevar-se moralmente?

Certamente não tem nada a ver com não fazer aborto, com não matar, ou seja, não está vinculada à padrões humanos. A elevação moral ocorre apenas quando o ser humanizado abandona o “eu” e vive o “nós”, não tendo importância que atos ele pratique.

O “nós” a que estamos nos referindo é aquele que é alcançado pela fusão perfeita de todos, ou seja, quando todos tiverem direitos iguais. Sendo assim, a elevação moral é alcançada quando cada um tiver o direito de ser, estar e fazer o que quiser e você não o julgue por isso.

Segundo aspecto destacado por Fénelon: o espiritismo lhe ensina a Realidade. Para podermos entender isso vamos ver que Realidade o Espiritismo nos ensina.

Em primeiro lugar o Espiritismo diz que você é um espírito. Encarnado, ligado a um ego, mas que não deixa de ser um espírito. Isso fica bem claro numa série de perguntas que já estudamos.

O que era a alma antes de encarnar? Espírito. O que voltará a ser a alma depois de desencarna? Espírito. “Estar alma”, ou seja, encarnado, portanto, não acaba com nossa essência Real (espírito), mas apenas destaca uma condição especial temporária de vivência (estar ligado a um ego).

Segunda Realidade que o Espiritismo ensina: há uma interação entre mundo espiritual e material a tal ponto que nada acontece neste mundo sem a interseção dos espíritos.

Como esta Realidade criada pelo Espiritismo nem sempre é aceita pelo ego humanizado, vou citar textualmente o comentário de Kardec aos ensinamentos do Espírito da Verdade.

“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se escuta com o concurso deles.

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio” (pergunta 525 a).

Nas perguntas seguintes (526 à 528) esta Realidade fica muito mais clara quando o Espírito da Verdade mostra que os espíritos conduzirão o homem que deve sucumbir de tal forma para uma escada quebrada ou para debaixo da árvore onde o raio cairá, já que eles não podem alterar o curso dos elementos da natureza, mas dirigem o homem para que lhe aconteça o que está previsto. Cita ainda que aquele que não deve morrer de uma bala perdida será inspirado para se desviar e não que desviem a bala para salvar o homem.

Esta é a Realidade que o Espiritismo ensina: os espíritos comandam as ações do ser humano ao invés de, como mágicos, agirem sobre os elementos da natureza.

Este conhecimento deveria lhe levar, nas palavras de Fénelon a acabar com a ficção alegórica que você vive e que chama de realidade, verdade. A sua realidade não tem nada de Real, pois não percebe toda movimentação dos amigos espirituais guiando seus passos, mas imagina que age por moto próprio.

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Krishna também ao comentar a realidade que o ser humanizado vive a define a como fantasias fantasmagóricas. Ou seja, os dois mestres têm a mesma compreensão sobre aquilo que você vive como real: uma ficção, uma fantasia.

Olhe agora para o computador à sua frente. Você está vendo um monitor que está projetando uma imagem? Esta percepção é uma ficção alegórica, uma fantasia fantasmagórica. O que está à sua frente na realidade é fluído cósmico universal.

Você está vendo um inimigo, aquele que você não gosta. Isto é uma ilusão, uma ficção alegórica, porque não há um ser humano à sua frente, mas um espírito encarnado. A sua compreensão de que ele está agindo contra você também é uma ficção porque ninguém pratica atos, mas cumpre a ação guiado pelos amigos espirituais a partir do mundo dos espíritos.

Então veja. Não é só hinduismo que fala, mas também o Espiritismo diz que você vive uma peça de teatro chamada “Divina Comédia Humana”, como realidade, mas que ela não passa de uma ficção alegórica, de fantasias fantasmagóricas.

Quando, bem compreendido, se houver identificado co m os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais.

Quando bem entendido e identificado o Espiritismo poderá surtir algum resultado na sua elevação espiritual. Antes, não.

Que ainda você dizer que compreende os ensinamentos de O Livro dos Espíritos; que adianta você dizer que se identifica com os ensinamentos trazidos pelo Espírito da Verdade, se ainda chora em um enterro acreditando que seu ente querido acabou?

Que adianta dizer que se identifica com estes ensinamentos se eles afirmam que os espíritos nos guiam e que ninguém morre antes da hora e que Deus sabe a forma como cada um vai desencarnar (pergunta 853 a) se você ainda acredita num assassinato?

Não adianta estudar: é preciso compreender e se identificar com a Realidade criada pelo ensinamento. Mas, para criar esta Realidade é preciso se libertar do individualismo, porque senão será ele que criará uma interpretação individual de O Livro dos Espíritos.

Neste caso você não mudou nada, não reformou nada, porque a base, a essência da intencionalidade continua o que você acha está “certo” e o que os outros acham “que se dane”.

Esta palavra parece forte, mas é preciso compreender que quando nos apegamos somente aquilo que acreditamos como “certo” e não damos aos outros o direito de pensar diferente em qualquer aspecto da vida, estamos demonstrando o nosso menosprezo pelo irmão.

Repare que, como Fénelon, falei em todos os aspectos da vida e não só naqueles que você quer alterar. Este é o aspecto que precisa ser atentado por quem quer atacar diretamente o general. Se o ser humanizado separar verdades que podem ser abandonadas e deixar outras que imagina que são sem importância para o mundo espiritual, nada estará realizando. A vitória precisa ser total.

Não existem atos da vida que não tenham relevância na elevação espiritual. Tudo é fundamental no trabalho da reforma íntima porque só existe um único mundo que é composto por tudo.

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O egoísmo assenta na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade.

Exato: o seu sentimento egoísta precisa acabar quando surge a compreensão da existência única do espírito.

O desejo da sua mãe permanecer “viva’, por exemplo, precisa acabar quando se compreende a real existência de um ser humano: a encarnação de um espírito. Quando você entende que “ela” é um espírito e que tem toda uma vida espiritual a ser vivida, precisa abandonar toda a sua vontade de que permaneça “viva” para satisfazer os seus “caprichos”.

Sem isso não adianta se dizer espírita, não adianta orgulhar-se de seu conhecimento, não adianta ir ao centro toda semana. Sem esse despossuir o “eu” nada se faz., por mais que se desvende o invisível.

Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzi ndo-a às suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.

O que é reduzir às suas devidas proporções? É reduzir os fatos da vida à carne, à matéria, apenas.

No exemplo que dei anteriormente (a morte da mãe) reduzir este acontecimento à sua legítima proporção seria acreditar que um papel até então desempenhado por um espírito encerrou-se e não acreditar que “a mãe morreu”. É isso que é reduzir a importância: dar ao acontecimento o valor temporário que ele tem.

No entanto, mesmo para aqueles que conhecem os ensinamentos do Espírito da Verdade, a morte é tratada como se fosse o fim. Choram afirmando que nunca mais verão seus parentes e amigos, enquanto aprenderam que a existência do espírito é eterna. Quem age desta forma pode se dizer espírita?

É preciso reduzir os acontecimentos do mundo à sua real importância. E o que vale um acontecimento do mundo? Nada. Cristo já nos ensinou: Deus julga a intenção de cada um. É isso que tem valor para o mundo espiritual: a intenção com que se participa dos acontecimentos.

Se você participa com a intenção de ganhar individualmente, não importa o que esteja fazendo, mesmo que seja um ato considerado pela humanidade como caridoso, você nada fez a respeito do mundo espiritual, ou a respeito da sua reforma: deixar de ser egoísta.

Participante: E como nós passamos isso para nossos filhos?

Para sabermos como passar para nossos filhos, precisamos saber antes como passamos agora.Ou seja, como você educa seu filho hoje.

“Olha como você está bonita com esta roupa nova”... “Como você está lida penteada e de banho tomado”... “Como seu quarto está lindo arrumado”.

Posso, sem medo de errar, dizer que toda a educação que você dá a seu filho é forjada em cima daquilo que você acha “certo”, não? São os seus padrões de “certo” e “errado” que criam o “elogio” (aquilo que deve ser aprendido) e a “crítica” (aquilo que não deve mais continuar sendo feito).

Isto é egoísmo e não amor. Muitos pais dizem que agem assim para “ensinar” os filhos porque os amam, mas na verdade estão agindo egoisticamente, ou seja, estão pensando em satisfazer a si mesmo, aos seus padrões, e não nos filhos.

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Além de se prenderem unicamente em posturas materiais, os pais não respeitam o direito do filho, o livre arbítrio deles, pois coíbem o “querer” do próximo.

É assim que educam seus filhos: pensando em ter o prazer de ter um filho que seja cópia de vocês, mesmo que para isso eles percam a sua individualidade.

Como passar este ensinamento que estamos conversando hoje para seu filho? Abrindo mão do seu egoísmo, ou seja, abrindo mão do seu desejo de transformar o seu filho na cópia daquilo que você quer.

Ensina-se o filho a acabar com o egoísmo não sendo egoísta. Achando-o lindo de qualquer jeito, não o incentivando a estudar apenas para ser “alguém na vida” e ganhar um salário maior e ter mais posses...

Os seres humanizados, mesmo os que se dizem espíritas, incentivam seus filhos a valorizar aqueles que têm posses materiais e a possuir às próprias posses. Na verdade, transformam aqueles que possuem um “bom nível de vida” num espelho a ser seguido e não aqueles que, mesmo não tendo, amam a todos e a tudo.

Mude tudo isso.

Ensine seu filho a valorizar o “nós” e não valorizar o que os outros têm. A viver feliz não importando se o quarto esteja arrumado ou não. Não o incite a valorizar o ato elogiando a organização dele, o não fazer barulho quando você quer silêncio, o agir de determinada forma porque você e a sociedade esperam isso dele, mas sim a perseguir uma intenção amorosa em todas as situações.

Criar o espírito e não o filho: este é o segredo.

Ensine-o a amar incondicionalmente: a tudo e a todos. Amar sem regras, sem exceções. Não o ensine a “ganhar”, a ser bem comportado, organizado, culto ou a valorizar o que é material, mas sim a ter “paz de espírito” e estar em harmonia com o mundo.

Mas, para poder ensinar tudo isso ao seu filho você precisa também estar buscando isso e, para tanto, é preciso estar livre do seu egoísmo, do seu desejo de que seus padrões sejam atendidos. Portanto, para educar seu filho, comece mudando você mesmo.

Liberte-se você do seu egoísmo para poder educar o seu filho dentro desta forma de viver. Liberte-se dos seus padrões de “arrumado”, de “bonito”, de “certo” e “errado”, do que seu filho tem que fazer agora, senão não saberá ensinar nada.

Aliás, o fundador material do espiritismo, Allan Kardec, compreendeu bem isto. Veja o seu comentário ao estudo deste item:

Louváveis esforços indubitavelmente se empregam par a fazer que a Humanidade progrida. Os bons sentimentos são animados, estimul ados e honrados mais do que em qualquer outra época. Entretanto, o egoísmo, verme roedor, continua a ser chaga social. É um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem é mais ou menos v ítima. Cumpre, pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade e pidêmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do mal. Procurem-se em todas as partes do organismo social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, tod as as influências que, ostensiva ou ocultamente, excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Conhecidas as causas, o remé dio se apresentará

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por si mesmo. Só restará então destruí-las senão to talmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouc o será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as ca usas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa que tende a faz er os homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de be m. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do pr ogresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar inteligências, conseguir-se-á corrigi-lo s, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige m uito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pen sar-se que, para exercê-la com proveito, baste o conhecimento da Ciê ncia. Quem acompanhar, assim o filho do rico, como o do pobre, desde o instante do nascimento e observar todas as influências pernicio sas que sobre eles atuam, em conseqüência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que os dirigem, observando igualmente com freqüência fa lham os meios empregados para moralizá-los, não poderá espantar-s e de encontrar pelo mundo tantas esquisitices. Faça-se com o moral o qu e se faz com a inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refrat árias, muito maior do que se julga é o número das que apenas reclama boa cultura, para produzir bons frutos.

O homem deseja ser feliz e natural é o sentimento q ue dá origem a esse desejo. Por isso é que trabalha incessantemente para melhor ar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de seus males, para r emediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas ca usas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba as relações sociai s, provoca dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, e nfim, a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança. E quanto mais haja sofrido por efeito de sse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, como se combatem a pes te, os animais nocivos e todos os outros flagelos. O seu próprio i nteresse a isso o induzirá.

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a cari dade o é de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o a lvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a sua felici dade neste mundo, tanto quanto no futuro.

Participante: Mas, o senhor ensina que os atos desta existência estão pré-escritos como vivencia de carmas. Sendo assim, se ela precisar carmaticamente de alguém que lhe cobre organização eu terei que ser o instrumento deste carma, certo?

Se ela precisa do carma de ser chamada à organização você, com certeza, praticará atos que espelhem uma cobrança à organização. No entanto, tal entendimento não fere o ensinamento que lhe passei agora. Isto porque eu não falo em atos, mas no interior de cada um.

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O que estou ensinando aqui ao comentar o egoísmo que move cada ser humanizado é que você pode, se isso é o carma dela, cobrar organização, mas, por dentro (sentimentalmente) não pode se sentir responsável e nem esperar ou exigir que ela se organiza. Por dentro, no íntimo, e não nos atos.

Aí está a diferença. A decisão dela se organizar ou de continuar sendo desorganizada não está ao seu alcance nem ao dela. Ela será da forma que terá que ser carmaticamente falando, independente de qualquer outra atitude sua ou de qualquer um, pois este é o “papel” dela nesta vida. Como ensina Krishna, cada um age dentro da sua personalidade

Da mesma forma, você falar, brigar, gritar, pedindo que ela se organize também terá que acontecer, pois este é o seu “papel”. Agora, quando você sofre porque ela não faz o que você quer utilizou o seu individualismo, o seu egoísmo para gerar o sofrimento.

O ensinamento que estamos debatendo hoje é interno, é um estado de espírito.

Na hora que você, por atos, cobrar organização mas, ao mesmo tempo, não cobrar de você sofrer porque ela não se organizou, libertar-se-á do individualismo, deixará de ser egoísta.

O choque, que o homem experimenta, do egoísmo dos o utros é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de co locar-se na defensiva.

Que ensinamento maravilhoso. Vamos “lê-lo” juntos para tentar captar em toda profundidade o que Fénelon ensina.

O choque do egoísmo do outro lhe faz egoísta. Ou seja, quando o outro faz o que quer baseado nos seus padrões de “certo” e “errado”, você se torna egoísta, ou seja, utiliza os seus padrões para julgar o outro e, assim, acaba achando que ele não deveria fazer o que está fazendo.

Você se transforma em egoísta quando alguém lhe contraria porque premia os seus valores como “certos” e quer impô-los ao outro. Julga e critica porque quer defender o seu “eu” (conjunto de valores de um ego – consciência) do outro.

Para acabar com este egoísmo existe um provérbio de Salomão que diz: se Deus é por mim, quem poderá ser contra. É isso que o ser humanizado se esquece e, por isso, tenta se “defender” do outro.

A humanidade não vê Deus a seu favor. Vive com a realidade de que o outro está lhe massacrando, ferindo, atacando, mas isso é ilusão. Na verdade o outro está apenas exercendo o direito dele achar que está certo.

Mas, para que ele age assim na sua frente? Para que você se liberte do seu individualismo.

Veja, se você não se conscientizar que não existe o “certo”, mas sim o que você quer que seja feito, ou seja, o seu “certo”, não evoluirá nunca. É para que você se conscientize de que tem um “certo” que precisa ser eliminado para acabar com o egoísmo é que Deus faz os outros fazerem diferente do que você espera e quer

Podemos, então, compreender que Deus faz o outro usar do individualismo dele na sua frente para que você tenha uma oportunidade de dizer: “meu Deus, eu sou egoísta porque quero que o outro utilize o meu “certo” e não o dele”. Este é o “motor” da vida, ou o carma em ação.

Conscientize-se de que você quer cobrar mudanças no outro, exigir padrões de ação neles, mas não quer que ninguém lhe cobre, que ninguém lhe contrarie. Egoísmo, puro egoísmo.

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Se Deus é por mim e está ao meu lado, o outro pode fazer o que quiser que eu não vou precisar exigir a justiça para mim, mas vou entender o “recado” do Pai e louvá-Lo amando a todos que são diferentes de mim, sem cobrar mudanças neles.

Foi isto que Fénelon ensinou e, por isso eu disse: que lindo ensinamento.

Notando que os outros pensam em si próprios e não n ele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Sirva de base à s instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de hom em a homem, o princípio da caridade e da fraternidade e cada um p ensará menos na sua pessoa, assim veja que outros nela pensaram.

Portanto, aplique este ensinamento para qualquer situação que você viva, independente da suposta “importância” que conceda a eles. Assim, com certeza, ele servirá como base para a prática da caridade necessária ensinada pelos mestres.

Ou seja, que ele sirva como guia à você quando é criticado, acusado, perseguido, xingado, ofendido, atacado, para poder praticar a caridade: dar ao outro o direito de, aparentemente, agir contra você sem que para isso você precise criticá-lo. Aliás não foi assim que Cristo reagiu durante a sua “crucificação”: Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem...

Deixe os outros falarem e acharem o que quiserem: esta é a verdadeira caridade. Dê ao outro o direito de ser individualista, de viver a sua individualidade e você, abrindo mão de vivera sua, vivencia a universalidade.

Nós ainda estamos na mesma pergunta: como vencer o egoísmo. Repare, ainda, que os ensinamentos extraídos desse texto não precisam de conhecimentos anteriores para ser compreendido. Portanto, se você quer se libertar do mal maior da humanidade (o egoísmo) não precisa perder tempo em estudos profundos, mas apenas ler este trecho de Fénelon e compreendê-lo em toda a sua profundidade.

Todos experimentarão a influência moralizadora do e xemplo e do contacto. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande vir tude é verdadeiramente necessária, para que alguém renunci e à sua personalidade em proveito dos outros.

É o que eu acabei de falar: abrir mão da sua personalidade em favor do outro.

Vamos criar um exemplo poder explicar melhor. Alguém lhe diz que você está fazendo a coisa errada, que você não sabe fazer aquilo. A sua personalidade, o seu “eu material” (ego) dirá que ele é que não sabe o que faz. O acusará , xingará e criticará.

Esta é a reação de um ser humanizado. Mas você, que quer se espiritualizar, que quer se elevar, que quer chegar mais perto de Deus precisa abrir mão de tudo isso e deixar outro achar o que quiser, sem acusações ou críticas.

Isto porque no fundo de tudo, no resumo de tudo da vida, não de nada terá influência o que o outro acha de você ou vice-versa, pois tudo é sempre entre você e Deus. Então o que importa o que os outros acham?

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O que importa para a sua existência espiritual o que o outro, exercendo o seu individualismo, os seus padrões de “certo” e “errado”, acha de você, se na hora do seu “julgamento” (avaliação do resultado de sua encarnação) o que importará é o que Deus souber...

E Ele sabe o que ninguém sabe. Ele sabe que não há nada “errado” ou “certo” acontecendo, mas que um carma foi proposto e o espírito humanizado agiu com individualismo e com egoísmo.

Lembre-se do que Cristo ensinou: com o mesmo argumento que você usar para julgar será julgado. Ou seja, se você coloca o seu individualismo para julgar os outros ao invés de deixar tudo nas mãos de Deus, o seu individualismo será “julgado”

Principalmente para os que possuem essa virtude, é que o reino dos céus se acha aberto. A esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, no dia da justiça, se rá posto de lado e sofrerá pelo abandono, em que se há de ver, todo aq uele que em si somente houver pensado..

Foi exatamente o que estudamos nesta resposta.

918. Por que indícios se pode reconhecer em um home m o progresso real que lhe elevará o Espírito na hierarquia espírita? O espíri to prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal represent am a prática da lei de Deus e quando antecipadamente compreende a vida esp iritual.

Como se reconhece o “homem de bem”? Quando ele coloca o amor ao próximo em prática. E como se amar ao próximo? Libertando-se do seu individualismo.

Não há como mamar ao próximo e a si mesmo ao mesmo tempo.. Não estou falando em amar como vocês conhecem, no sentido material que se dá a este sentimento, mas sim no amor universal, fraternal.

Este estado de espírito acontece quando o ser humanizado ama ao próximo antes de si, ou seja, quando ele respeita o direito do outro ser diferente dele. Por isto afirmei que a crítica, por mais bem intencionada que seja, não é e jamais poderá ser um ato de amor.

Veja a conclusão que chegou Allan Kardec e repare se não é isto que falei agora:

Verdadeiramente, homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consci ência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa le i, se não fez o mal, se fez todo bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim, se fez aos outros o que desejara que lhe fiz essem.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao pró ximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica se us interesses à justiça.

É bondoso, humanitário e benevolente para com todos , porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raças, nem de cre nças.

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Se Deus lhe outorgou o poder e a riqueza, considera essas coisas como um depósito, de que lhe cumpre usar para o bem. Delas não se envaidece, por saber que Deus, que lhas deu, também lhas pode retirar.

Se sob a sua dependência a ordem social colocou out ros homens, trata-os com bondade e complacência, porque são seus iguais pera nte Deus. Usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não par a os esmagar com o seu orgulho.

É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que também precisa a indulgência dos outros e se lembra destas palavras do Cristo: atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado.

Não é vingativo. A exemplo de Jesus, perdoa as ofen sas, para só se lembrar dos benefícios, pois não ignora que, como houver perdoa do, assim perdoado lhe será.

Respeita, enfim, em seus semelhantes todos os direi tos que as leis da Natureza lhes concedem, como que que os mesmos direitos lhe sejam respeitados.

É isto que caracteriza um “homem de bem”: aquele que participa das ações com a intencionalidade de servir ao próximo, buscando sempre servi-los e não corrigi-los. E esta característica deve surgir principalmente naquele que aprende a ver as coisas do alto, ou seja, aquele que conhece e reconhece a existência espiritual.

A prática do ensinamento é o espiritualismo e não apenas o conhecimento dele.

Encerrando, posso dizer que o dia de hoje foi totalmente destinado à libertação do eu, das nossas verdades e dos nossos padrões.

O Espírito da Verdade nos ensinou hoje o que é elevar-se espiritualmente: dar ao próximo o direito dele ser, estar e fazer o que quiser sem que com isso possamos julgá-lo ou criticá-lo.

Aí está o segredo do Universo. Aí está o segredo da elevação espiritual.

Ninguém falou em meditação, em viagem astral, em oração ou técnicas espirituais. Falou-se em coisas reais, não em ilusões. Isto porque tudo que o ser humanizado vive racionalmente é vivenciado na ilusão, mesmo que to tema seja espiritualidade.

A viagem astral é uma ilusão porque a compreensão do que se vê quando se “sai da carne” passa pelo ego. A oração também é uma ilusão porque ela passa pelo ego.

Desta forma afirmo que o único trabalho, a única coisa que você pode fazer no sentido de espiritualizar-se é vencer a si mesmo.

Vencer o seu apego ao ego que lhe transforma em egoísta. Vencer o seu apego aos seus padrões de “certo” e “errado”, de “bonito” e “feio”, de “limpo” e “sujo”, que diz o que tinha que fazer ou não.

É só nisso que se consiste a vida. Você está vivo para isso. Você nasceu para fazer isso, acordou hoje de manhã para isso, está respirando agora para isso e mais nada.

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Você não tem um trabalho material nem espiritual a realizar nem família para cuidar. O que você tem para fazer é na vivência em cada um desses elementos, não importa o que estiver acontecendo, vencer você.

Você tem que vencer suas verdades, seus apegos, suas paixões, suas convicções que levam ao exercício do egoísmo. É nisso que se resume a sua vida.

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Conhece a ti mesmo

Conceituação

O estudo destes três dias será sobre o ego. Iremos conversar sobre este elemento da vida material, mas não chamaremos este conjunto de palestras de ‘estudo do ego’.

Isto porque quando falamos em conhecer o ego, temos que ter em mente que estudar o ego é falar sobre si mesmo, que conhecer o ego é se auto conhecer.

Como nós iremos definir depois, o ego é o que você é hoje. O ego é aquilo que você se considera hoje. Portanto, este estudo, apesar de falar do ego, se chamará “Conhece a ti mesmo”, porque, como disse anteriormente, se você é o ego, conhecer o ego é trabalhar o auto conhecimento, trabalhar o conhecer-se.

Sendo assim, as palavras que serão ditas durantes estes três dias têm o objetivo de levá-lo a conhecer você mesmo. Este é o primeiro aspecto da introdução a este estudo, mas existe um segundo que é o objetivo pelo qual se vai estudar o ego.

Existem muitos estudos sobre o ego, muitas abordagens no estudo sobre o ego, mas aqueles que o fazem como ciência ou cultura não compreendem que estão vivendo apenas ilusões e não saber, porque toda ciência e cultura estão contidas no ego.

Eu diria que não pode existir um ‘doutor’ em ego que tenha ego, pois senão ele estaria iludido pelo ego e não estaria vivendo realidades. Para poder se compreender perfeitamente o ego e sua atuação seria necessário que o ser estivesse desligado deste elemento, mas isto não é possível no ‘mundo carnal’.

Então, o objetivo para o qual vamos abordar o tema ego não será composto por um estudo científico e nem objetivará, apesar de passar por isto, definir-se cientificamente o ego. Objetivaremos sim, com este estudo, entender aquilo que comumente se chama “reforma íntima” ou reforma do seu relacionamento com o ego.

Desta forma, quando estivermos analisando algum aspecto do ego, sempre usaremos aquilo que compreendermos não apenas como cultura, mas como ferramenta para a reforma íntima através da “luta” contra o ego.

Serão, portanto, estes dois aspectos que nortearão nossas conversas neste trabalho. Primeiro elas deverão trazer como resultado o conhecimento sobre si mesmo e em segundo lugar buscarão trazer, através deste auto conhecimento, instrumentos para a elevação espiritual, para a reforma íntima.

Comecemos definindo o ego.

“Ego é uma personalidade transitória à qual o espírito se liga durante um determinado ‘espaço de tempo’ na sua existência espiritual”.

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Esta é uma definição padrão de ego que estamos usando apenas para podermos direcionar nosso trabalho. Muitos elementos da definição podem sugerir a vocês a ilusão de saber o que quer dizer, mas na realidade estamos apenas tentando dar uma idéia do que seja o ego, já que a descrição perfeita deste elemento universal é incompreensível aos seres humanizados por falta de conhecimentos prévios.

Antes de avançarmos no estudo do ego propriamente precisamos, ainda, definir o termo personalidade para não confundi-lo com as demais definições existentes.

“Personalidade é um conjunto de crenças que formam a consciência de um espírito”. Como consciência, entendemos o conjunto de informações ou memória que o espírito vivencia.

O ego, portanto, como conjunto de personalidades pode ser entendido como um “conjunto de crenças” à qual o espírito se liga durante determinado ‘espaço de tempo’ de sua existência eterna.

Dizemos que o espírito se liga porque ele possui uma outra personalidade ou conjunto de crenças que chamaremos de ‘personalidade espiritual’. Ou seja, o espírito possui um conjunto de crenças próprias, que é próprio seu, que existe no espírito independente da ação do ego.

Este conjunto de crenças ou personalidade espiritual é que determina a Realidade do espírito e não o temporário. Usamos o termo ‘realidade’ no sentido da elevação espiritual, ou seja, o que determina o que é conhecido como ‘grau de evolução do espírito’.

O espírito por si possui as suas crenças e elas não são as mesmas do ego. Quando o espírito está ligado ao ego esta personalidade espiritual é ‘desligada’ e o espírito ‘vive’ pelas crenças do ego e não pelas suas próprias.

Podemos então afirmar a partir disso que o ‘espírito encarnado’ é o ser universal que possui crenças espirituais, mas crenças estas que não estão acessíveis por causa da ligação com o ego.

Já aqui desfazemos um ‘mito’ ou uma compreensão ilusória que a humanidade possui. Espírito encarnado não é aquele que está ligado a uma carne, mas sim aquele que vivencia a realidade ditada pelo ego, personalidade transitória. Espírito encarnado é o ser universal que vive a partir de crenças temporárias ao invés de utilizar as suas próprias e não aquele que está ‘vivo’.

Não sei se me fiz compreender. Esta parte é complicada porque é um início e alguns elementos ainda são desconhecidos de vocês, mas é preciso que algumas idéias fiquem claras.

Primeira: assim como o ego é uma personalidade temporária, o espírito possui a sua personalidade fixa ou eterna. Segunda: esta personalidade fixa ou eterna é a mesma coisa de um ego, só que ela é formada por crenças diferenciadas.

Este é o início do estudo ego: saber que ele é um conjunto de crenças, mas que ao mesmo tempo o espírito possui outro conjunto diferente daquele existente no ego.

Participante: Eu gostaria de entender melhor estas outras crenças que o espírito possui. Como ele as adquiriu?

Vou lhe explicar, mas antes me deixe alertar algo: a formação das crenças do ego é diferente das do espírito. Depois vamos falar como as crenças do ego passam a existir, mas, por hora, saiba que as da personalidade espiritual são formadas ao longo da existência espiritual.

Participante: De encarnação em encarnação?

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Eu não vou falar em encarnação porque vocês ligariam esta informação à carne. Estou falando de aprendizado espiritual.

Como já estudamos, o espírito possui dois campos de evolução: o técnico e o moral. No primeiro estágio ele ‘viverá’, por exemplo, ao lado do átomo de uma pedra. Quando estiver fazendo isso ‘aprenderá’ algo. Este conhecimento adquirido é uma crença que ficará guardada na memória ou na personalidade do espírito.

Quando ele sai do mundo mineral e começa a vivenciar o aquático, adquire novos conhecimentos, formando, assim, novas crenças. Ao longo de todo o período de evolução que chamamos de técnico o espírito irá adquirindo conhecimentos e eles se transformarão em crenças que comporão a personalidade espiritual.

Depois disso ele entra no estágio de evolução moral e novos aprendizados vão surgir e novas crenças serão formadas. Neste estágio, por exemplo vocês que estão saindo do ‘mundo de provas e expiações’ estão adquirindo novas crenças que passarão a compor as suas personalidades espirituais. Quando completarem o próximo ciclo idem.

Assim caminha a formação da consciência espiritual durante toda a eternidade.

Participante: Quando o senhor diz crenças, fala em materiais e espirituais ou só uma ou outra?

Só espirituais. Na consciência do espírito não existem crenças materiais, porque, como veremos, a matéria só pertence ao ser humanizado e não pertence ao espírito.

Participante: Acima do ego, entre ele e a consciência do espírito, existe outra personalidade?

Não. Para poder lhe responder melhor, vamos adiantar um pouco o assunto, mas depois voltamos.

Você está vivendo um ego humanizado, um ego programado para viver no planeta Terra, no ‘mundo de provas e expiações’. No próximo ciclo ou sentido de encarnação você se unirá a outro ego.

Este novo ego será diferente do atual, pois será programado para se viver o ‘mundo de regeneração’. Quando isto acontecer o ego atual, de provas e expiações não mais existirá. Ou seja, sempre haverá uma consciência espiritual e um só ego.

Todos os egos são inferiores à personalidade espiritual e ela é a realidade, é aquilo que o espírito é, por isso não há outra acima dele. Poderíamos considerar que houvesse uma personalidade universal que é Deus, entendido como conjunto do ‘todo’, formado pelo ‘todo’, mas isso é outra história. Além do que, ela não chega a ser propriamente uma personalidade.

Voltando à nossa conversa, até aqui definimos o ego, falamos das personalidades que existem e também da sua temporalidade. Dentro da definição que demos anteriormente para ego podemos, agora, falar da ligação do espírito às suas personalidades.

A ligação do espírito com uma personalidade cria uma identidade. Cada vez que o espírito se liga a uma personalidade, seja ela um ego (personalidade temporária) ou à sua personalidade espiritual, o espírito adquire uma identidade. Vamos entender isso.

Identidade é aquilo que você acha que é, o que o identifica. Hoje você está ligado a um ego que está rotulado com determinado nome. Por exemplo uma pessoa que se chama Márcia.

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Márcia não existe. Na realidade é um espírito que está ligado a um ego rotulado como Márcia. Devido a esta ‘ligação’ o espírito se auto identifica como Márcia.

A identidade Márcia foi criada na ligação do espírito com este ego e o espírito passou, então a identificar-se como Márcia. Assumir esta identidade é, então, o que caracteriza a ligação de um espírito com um ego ou com uma personalidade.

Fica difícil explicar de outra forma para vocês o que é esta ‘ligação’. Muitos se arriscariam em falar em fios energéticos, em energia, fluído cósmico universal, que ligaria o ego ao espírito, mas tudo isto seria simbólico. Como disse anteriormente, apesar de termos que nos aproximar da ciência, não nos fixaremos no conhecimento científico.

O que é preciso realmente compreender para o objetivo de criar instrumentos de elevação espiritual é que a fusão do espírito com uma personalidade cria uma identidade. E que quando esta identidade é temporária ela é falsa e quando surge da personalidade espiritual é real.

Participante: A personalidade a qual eu me liguei para vivenciar uma encarnação já existia antes de eu me ligar a ela?

Não, nós chegaremos lá, mas por enquanto lhe respondo que essa personalidade só existe a partir do momento que você a constrói. Portanto, é posterior a você.

Participante: O ego humano é independente do espírito? Ele possui uma consciência própria?

Nós vamos chegar a isso também, mas para não lhe deixar sem resposta agora afirmo que, se definimos ‘consciência’ como um conjunto de crenças, o ego tem uma consciência própria, ou seja, crenças próprias. Mas, no tocante a ter vida própria já chegaremos neste aspecto.

Quero falar agora um pouco sobre as crenças que citamos. O que são as crenças que estão embutidas no ego e na personalidade espiritual do espírito?

Para tornar compreensível à vocês vou falar por meio de figuras. Não é exatamente isso, mas utilizando alguns exemplos conhecidos no planeta podemos nos aproximar um pouco da Realidade.

Não sei vocês conhecem programação de computador, sabem como é feito um programa de computador. Mas, mesmo quem não conhece a fundo o assunto, sabe que um programa de um computador é uma série de comandos que reagem a uma ordem.

Exemplificando. Se você apertar a tecla ‘a’ no teclado do seu computador, essa letra aparecerá no visor. Mas para que ela apareça lá é necessário que um programa a crie. Para isso ele terá que conter o seguinte comando: se a tecla ‘a’ for apertada, desenhe no visor a letra ‘a’. Sem isso, você pode apertar quantas vezes quiser a tecla que nada surgirá.

O conjunto de crenças do qual o ego é composto é idêntico. Ele diz: se houver um determinado impulso, utilize a crença ‘x;’ se o impulso for outro, utilize a crença ‘y’, se o impulso for outro ainda, utilize a crença ‘z’.

Este é o funcionamento do ego. Na realidade ele é um ‘programa’ que transforma um impulso, uma ordem, numa determinada verdade ou realidade de acordo com crenças pré-estabelecidas. O ego não é um ser, um espírito, não tem vida própria. Ele é uma série de informações que serão ativadas a partir de determinados comandos.

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Isto é o conjunto de crenças ao qual eu me referi que compõe o ego ou a personalidade que o espírito se liga temporariamente. No entanto, este mesmo critério pode ser aplicado à personalidade do espírito.

Digo isto porque este procedimento (reagir a comandos criando realidades pré-fabricadas) é o fundamento daquilo que vocês chamam de raciocínio. O raciocínio, em qualquer nível, é exatamente isso: um impulso que ativa uma determinada compreensão para o espírito.

Portanto, não importa se estamos falando de ego ou de personalidade espiritual do espírito, a função da personalidade é exatamente esta: a criação de compreensões que se transformem numa realidade para o espírito.

Creio que agora ficou claro o que é que é o ego. Podemos, então, começar a falar um pouco mais da personalidade transitória à qual o espírito se liga para configurar o que é chamado de encarnação.

O ego, ou personalidade transitória, é criada pelo espírito antes da encarnação. Ou seja, o conjunto de comandos que criarão realidades durante a encarnação para o espírito vivenciar é obra e fruto deste mesmo espírito quando de posse da sua consciência espiritual.

Podemos afirmar, então, que o espírito, de posse da sua consciência, ou seja, dentro do seu saber espiritual, escolhe códigos que serão acionados para criar determinadas realidades que ele ‘vivenciará’ durante a encarnação.

Vamos dar um exemplo. A realidade de ser agredido, você ou qualquer outro, é uma informação que o ego dá. O fato de você ou alguém ter sido agredido nada mais é do que uma visão que você programou para o seu ego criar em determinadas circunstâncias.

Perguntaram-me agora pouco se o ego existia antes da encarnação: a resposta está aí. Não, o ego só passa a existir do momento que o espírito o cria, assim como o programa do computador só passa a existir depois que alguém o escreve.

Desta forma, o conhecimento do ego quanto à sua temporalidade é que o conjunto de comandos que criarão realidades foi escrito por você espírito antes da encarnação. Além disso, é preciso compreender que quando você o escreveu estava de posse da sua consciência espiritual.

Há exceções neste aspecto. É o caso onde o espírito não consegue reassumir a sua identidade espiritual e já tem que, por determinação de Deus, iniciar uma nova encarnação. Se ele estiver nesta condição terá que reencarnar, mas não poderá programar o seu próximo ego.

Neste caso, o ego ou o criador de realidades é escrito por um mentor deste espírito. Por alguém a quem o espírito, ainda de posse da sua consciência espiritual, nomeou como seu ‘tutor’ enquanto ele não recobrasse a sua consciência real.

Esta é uma exceção à regra. No momento em que falamos que o espírito escreve o seu ego, para não fugirmos à Realidade, é preciso também citar que há exceções nesta regra. Fazemos isso como fidelidade à Verdade, mas vocês não devem se prender a isso.

Como disse é uma exceção e casos semelhantes a este, pouco representam em quantidade de espíritos hoje encarnados. Portanto, trabalhemos apenas com a regra e não nos prendamos a exceções.

Participante: Significa que eu escrevi ser teimosa?

Significa que você escreveu comandos no seu ego para criar realidades que contrarie seu desejo. Quanto ao ‘ser teimosa’, já chegaremos lá.

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Página 24 Ego – A personalidade humana do espírito

Respondo-lhe, por agora, que você criou desejos, um comando para interpretar que foi ‘atacada’ nos seus desejos e um outro para vivenciar a reação.

Por que não abordei na resposta o tema ‘teimosia’? Porque falei até agora de ‘compreensões racionais’. O que chamo de compreensão que o ego cria é aquilo que vocês conhecem como razão, racional.

Tudo aquilo que para vocês é racional, ou seja, é compreensível por uma razão, fruto de um raciocínio, é criado pelo ego.

É uma realidade temporária e ilusória. Uma realidade que surge apenas por causa do seu comando para criar para si aquela realidade e não que seja ‘verdade’ ou esteja realmente existindo.

Isto precisa ficar bem claro quando se fala de auto conhecimento. Tudo aquilo que você compreende no mundo, não é real, lógico, racional, mas uma realidade que você comandou para que fosse criada enquanto estivesse ligado àquele ego.

Mas, dentro do conjunto de crenças do ego não existe só a parte racional, ou seja, a parte das idéias, do conhecimento através de imagens e formas, mas também existem as ‘crenças emocionais’. Vamos falar disso.

A personalidade, ou ego, é formada pelas idéias e pelas emoções ou sensações. No ego existe um conjunto de realidades lógicas, racionais, mas também existe um conjunto de emoções ou sensações pré-determinadas pelo espírito. Da mesma forma que a razão, que já falamos, este conjunto de emoções está subordinado à programação do ego e cada uma delas será usada quando determinado comando for ativado.

Vou dar um exemplo. Você vê uma barata e sente medo, nojo ou horror. Mas este nojo, horror e medo não são reais: são reações pré-programadas do ego para lhe criar um estado emocional que você viverá como realidade. Sendo assim, podemos afirmar que o ego lhe cria uma realidade racional, idéia, pensamento, mas também lhe cria realidades emocionais.

Um outro aspecto importante que precisamos compreender é que a realidade emocional que o ego cria está sempre ligada à razão ou a compreensão racional.

No caso da barata, a compreensão racional, ou seja, o pensamento, será de que a barata é suja, nojenta. Ao mesmo tempo em que o ego lhe joga essa racionalidade, ele também lhe dá a sensação do nojo, do medo e do horror.

O ego jamais lhe dará uma razão com emoção diferenciada. Ou seja, ele jamais lhe fará crer racionalmente que a barata é nojenta e lhe dará uma sensação de calma e paz.

E você, espírito, que só vive aquilo que o ego propõe como realidade, acha que você acredita e está sentindo o que o ego está propondo, ou seja, se deixar ser comandado pelo ego e não consegue sentir-se de forma diferente, mesmo que racionalmente quisesse.

É isso que estamos falando que é se ligar temporariamente a uma personalidade ou conjunto de crenças: vivenciar obrigatoriamente as proposições racionais e emotivas que o ego dá como verdade, realidade, sem condições de fugir delas.

Agora fica muito mais fácil e muito mais claro compreender o que é ego. E, como eu disse no início, de se entender que o ego é você,. Isto porque você só conhece, compreende e sente o que o ego quer que você compreenda, entenda e sinta.

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Mas, tudo que você conhece compreende e sente isso não existe: tudo foi gerado a partir de um programa que foi escrito para reagir desta forma, pelo próprio espírito antes da encarnação.

Podemos então avançar no nosso estudo. Por que o espírito cria tudo isso? Por que o espírito cria uma ilusão, uma não verdade, algo transitório para vivenciar quando ele já possui na sua personalidade espiritual o Real e o Verdadeiro e pode vivê-lo?

Para comprovar a si mesmo aquilo que aprendeu quando na ‘erraticidade’, ou seja, quando ligado à sua consciência espiritual. Vamos entender isso melhor.

Segundo ‘O Livro dos Espíritos’ quando na erraticidade o espírito de posse da sua consciência espiritual se prepara estudando para sua futura ligação com o ego ou encarnação. Este preparo, ainda segundo ‘O Livro dos Espíritos’, se consiste em observar como lida o espírito humanizado (ligado ao ego) no seu relacionamento com as realidades criadas pelo ego.

Ou seja, os espíritos na erraticidade estão observando neste momento como vocês estão se relacionando com o ego ao qual estão agora ligados. Durante esta observação o espírito sabe a diferença entre o que está sendo criado e a Realidade por que está de posse da sua consciência espiritual que não cria as mesmas ilusões do ego.

Como eu disse anteriormente, hoje, você vendo uma barata, vivenciará o raciocínio, a parte racional que lhe diz que a barata é nojenta e o nojo e o asco pela barata como real. Quando na erraticidade o espírito não vivenciará isso. Ele não verá a barata e nem será bombardeado por esta compreensão racional e emocional. Por isso eu disse que o espírito na erraticidade vê o que é Real e não o que é ilusório.

Não quero neste momento entrar no assunto da Realidade. Posteriormente falaremos no que é Real, no que está acontecendo verdadeiramente. Mas, por enquanto, você precisa compreender que vive uma realidade ilusória, não Real, e quando na erraticidade os espíritos têm consciência de que aqueles que estão encarnados, ou ligados ao ego, são como crianças iludidas por aquilo que lhe dizem.

Depois de determinado tempo de observação o espírito programa, então, o seu ego para provar a si mesmo que será mais forte do que esta ilusão, ou seja, não acreditará nela, não a vivenciará como Realidade.

Participante: Quando você fala que o espírito na erraticidade não está vendo as coisas como quando ligado ao ego se refere ao espírito livre do processo reencarnatório?

Não, falo de espíritos ainda presos ao ‘processo reencarnatório’.

Participante: Mas como, então ele vê sem o ego se ainda está com o ego?

Você está fazendo confusão entre ‘processo reencarnatório’ e ‘encarnação’.

A encarnação é a ligação com um ego; o processo reencarnatório é a obrigação de ter que criar ainda novas personalidades para vivenciar um dia.

Desta forma um espírito pode ainda estar preso a um ‘processo reencarnatório’, mas no espaço de tempo entre um ego e outro, uma personalidade e outra, consegue acessar à sua consciência espiritual.

Participante: Então, o espírito quando não está encarnado não está ligado ao ego?

Já definimos anteriormente encarnação como ligação ao ego e não como ligação a um corpo físico.

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Todo espírito encarnado está aprisionado à personalidade com que viveu ou vive a vida ‘carnal’. Mas isto não quer dizer que ele esteja liberto da carne, do corpo. Ele pode permanecer ligado ao ego, ou seja, vivenciando as realidades a partir do comando do ego, e não estar mais ligado ao corpo físico.

Você está partindo do pressuposto que encarnação é ligar-se a um corpo, a uma massa carnal, mas isso não é real. Na Realidade a encarnação é ditada pela ligação a uma personalidade temporária que é caracterizada pelo ego.

Enquanto o espírito viver guiado pelo ego estará ainda na mesma encarnação, não importando se está preso ou não ao corpo.

Participante: E quando você fala em espírito na erraticidade, a que quer se referir? Não entendi a relação do espírito na erraticidade estar observando ele mesmo com o ego.

Não falei em ele observar a si mesmo com o ego, mas a observar outros espíritos que estejam vivendo aprisionados à identidades geradas pelo ego.

Quanto a definir espírito na erraticidade vou conceituá-lo agora, mas só posteriormente falaremos mais sobre o assunto.

Existem espíritos em dois níveis no Universo: aqueles que estão na ‘materialidade’, seja de que planeta for, e os que estão na ‘erraticidade’.

O espírito que está na materialidade é aquele que vive a ilusão que o ego propõe como realidade. Espírito na erraticidade é aquele que está desligado da materialidade, ou seja, aquele que está desligado das realidades que o ego cria.

Este conhecimento nos leva a compreender que erraticidade não é um lugar, um ’espaço’ do Universo, mas um ‘estado’ no qual o espírito está vivendo com a sua personalidade espiritual. Da mesma forma, a ‘materialidade’ ou encarnação de um espírito também não gera um lugar específico, mas se trata do ‘estado’ do espírito que está vivendo um mundo, realidades, criadas por egos, não importando a que matéria se refira.

Vamos continuar. Pergunto: a partir do que o espírito cria o seu programa (ego) que irá fazê-lo vivenciar ilusões como realidade? A partir do seu estágio de evolução espiritual. Vamos compreender isso.

Anteriormente disse que a personalidade espiritual é fixa, mas não declarei que ela é imutável. A personalidade ou conjunto de crenças do espírito que não é iludida pelo ego se forma através da eternidade. Vou dar um exemplo.

Existem espíritos na erraticidade, libertos da ação de egos, que na sua consciência espiritual acreditam no ‘bem’ e no ‘mal’, no ‘certo’ e no ‘errado’, no ‘bonito’ e ‘feio’. Eles crêem nestes dualismos, que são características ilusórias ditadas pelo ego, mesmo ligados à sua consciência espiritual.

Quando na etapa de estudos que já citei, estes espíritos compreendem que estes conceitos são ilusórios ao observar a Realidade do Universo. Verificam, ainda, que eles ainda possuem tais ilusões na sua consciência espiritual e compreendem que precisam se libertar delas para poder avançar em direção a Deus.

Ou seja, compreendem que acreditar em parâmetros que dividam o que é uno não comunga com a Realidade. Compreendem que esta forma de ‘ver’ o mundo não é espiritual e aí sentirão a necessidade de trabalhar para se libertar do dualismo. Como? Criando esta mesma ‘verdade’ no ego.

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Colocam as mesmas verdades gênero de suas provas no futuro ego para que ele crie realidades para que agora, cônscio de que estas compreensões não são dignas daquele que vive com Deus, libertarem-se da ação do ego.

Portanto, o que motiva o espírito a criar um conjunto de informações, programa que irá gerenciar realidades durante a encarnação, é a sua consciência sobre a sua personalidade espiritual. Vou dar um exemplo mais prático para facilitar a compreensão.

Um ego que seja vivenciado por um espírito e que contenha comandos para criação de racionalidades e emoções de ciúme, é um ego que foi projetado por um espírito que ainda possui na sua consciência espiritual posse, já que o ciúme nasce do desejo de possuir.

Desta forma, apesar de ser transitório, o ego é um reflexo do atual estágio da consciência espiritual do espírito. Não um reflexo perfeito porque o espírito não alimenta o seu ego com todas as suas ‘imperfeições’, mas parte delas.

Conhecendo esta Realidade do Universo podemos afirmar que uma ‘pessoa’ (espírito ligado a um ego) que tenha desejos de posse simboliza que o espírito ainda possui este desejo. Simboliza, ainda, que com a vitória sobre o ego (não acreditar no desejo de posse que ele incitará) o espírito conseguirá retirar de sua personalidade espiritual este mesmo desejo.

Volto a repetir. Está sendo muito difícil falar tudo isso porque muitas vezes faltam palavras para explicar, mas o sentido é esse. Se você está ligado ao ego e ele possui uma determinada característica, esta também existe na sua personalidade espiritual e você precisa vencê-la durante a carne para eliminá-la por completo de lá.

Um detalhe. Como também já afirmei antes, existem exceções em algumas regras no mundo espiritual. Aqui está um exemplo.

Existem egos que não refletem os valores da consciência espiritual do espírito. Trata-se dos chamados ‘egos missionários’, ou seja daqueles egos que são projetados por espíritos para vivenciarem determinadas missões ou papéis na ilusão da vida carnal. Neste caso, o espírito não possui aquelas características, mas como o papel a desempenhar pede que elas existam, o espírito as inclui no ego e as vivencia.

Agora, isso são exceções e não regra. Vamos ficar com a regra que é mais vinculada às encarnações da grande maioria dos espíritos. Ela diz: aquilo que você vivencia hoje está presente na sua consciência espiritual.

Vamos, então continuar definindo o ego e o entendendo, já que este é o assunto deste primeiro dia de palestras. Vamos agora para uma parte muito delicada e gostaria que vocês prestassem muita atenção.

Ao conjunto de realidades formadas pela compreensão racional e pela emocional chamo de ‘mundo interior’. É o seu mundo interno, o seu ‘eu’ interior, a sua ‘vida’ interior.

No entanto, este mundo não surge do nada. Precisa haver algo que faça surgir estas realidades ilusórias dentro de você. Ao elemento que cria a oportunidade para o ego fazer você vivenciar o seu ‘mundo interior’ chamo de ‘mundo exterior’. Vamos compreender estes dois conceitos com um exemplo prático como sempre fazemos.

A criação de uma ilusória verdade racional de que você foi agredido fisicamente e a também ilusória sensação de se sentir humilhado faz parte do seu ‘mundo interior’. No entanto, esta falsa realidade só surge quando no ‘mundo exterior’ é detectada a movimentação de uma mão encontrando com o rosto.

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Existe, portanto, um ‘mundo exterior’ onde uma mão se movimenta e se encontra com uma face e existe o ‘mundo interior’ onde esta movimentação ganha na razão e na emoção o valor de agressão, humilhação e sofrimento.

No mundo exterior não há agressão; há a movimentação de uma mão encontrando-se com o rosto. Só o mundo interior vivenciou racional e emocionalmente a agressão.

Participante: Foi o ego que nomeou como agressão?

Foi o ego que nomeou pela razão e pela emoção aquele ato externo como agressão e lhe deu a sensação de sentir-se agredida.

A ‘agressão’, portanto, não está na intenção do outro, mas é uma criação do seu ego, é um mundo interno. Ela não existe fora de você, mas acontece apenas dentro do seu ‘interior’.

Agora, esta compreensão não é válida em apenas alguns casos, em algumas movimentações, mas vale para qualquer coisa. É válida para qualquer compreensão que você tenha sobre as movimentações do mundo externo das quais participa, sejam elas racionais ou emotivas. Todas as ‘movimentações, ou atos, em si não possuem o valor que você dá, pois ele foi criado pelo ego.

Não há compreensão humana que seja real, que esteja realmente acontecendo. Toda compreensão é uma interpretação que o ego faz seguindo o comando que você mesmo fez.

Neste caso (agressão), você programou o seu ego para que se uma mão se encontrasse com o seu rosto sob determinadas circunstâncias aquilo deveria ser considerado como uma agressão. Por que fez isso?

Porque você, espírito, ainda tem vaidade, soberba ou outros sentimentos que envolvam o individualismo dentro da sua consciência espiritual e compreendeu a que a existência deles é incompatível com a espiritualidade que precisa vivenciar.

Acho que agora começa a ficar claro a funcionalidade do ego e sua operação. Mas, vamos complicar um pouco mais para poder compreender perfeitamente.

Ora, se a sua razão espiritual de existir na carne, ou seja, ligado àquele ego é passar por determinadas circunstâncias para que sejam criadas determinadas realidades ilusórias pelo ego, não seria justo que você ficasse dependente do ‘mundo’. Ou seja, que você ficasse dependente dos acontecimentos para que houvesse a criação da realidade ilusória que você precisa para sua elevação espiritual.

Portanto, além de você ter elaborado no ego o conjunto de comandos que cria a realidade ilusória no ‘mundo interno’, você programa as movimentações (atos) que perceberá. Dentro do exemplo que dei (agressão) afirmo que você, para se submeter a esta interpretação, também criou a necessidade da movimentação externa (‘mundo externo’) com o ato do tapa.

Ou dizendo mais claramente, você pediu para ser esbofeteado, antes da encarnação. Por que fez isso? Porque se você não pedisse para vivenciar este determinado ‘mundo externo’ de que adiantaria programar o seu ego com um comando para interpretar um tapa como agressão?

O ego, portanto, além de ser um conjunto de verdades, também é programado para vivenciar um conjunto de movimentações, ou atos, pré-determinados. Para isto é necessário que o seu ego criasse determinadas movimentações.

Não sei se estou conseguindo me fazer entender, mas o que quero dizer é que o seu ego criou a movimentação da mão do outro em direção à sua carne.

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Participante: Como assim?

Vou explicar.

O ato, ou a atitude, para os seres humanizados é gerado por moto próprio, ou seja, por motivação própria, mas isso é uma ilusão. Quem lhe dá o tapa não está agindo desta forma porque ele quer dar, mas age dessa forma porque o ego dele foi programado para dar tapa.

O ego de quem precisa receber sabe que para a prova daquele espírito ele precisa receber o tapa. Juntando-se uma coisa à outra, o ego de quem tem que receber ‘pede’ ao universo a presença no mundo externo em determinado momento da ‘pessoa’ que tem que dar tapas.

Quando afirmo que o ego cria a movimentação não estou dizendo que ele criou o levantar do braço do outro, mas que criou a ‘oportunidade’ de haver o tapa conclamando alguém que tenha o ego que lhe faz dar tapa a se relacionar com você no momento pré-determinado para que o tapa aconteça.

Esta é a lei da interdependência das coisas que Buda ensina. Ela é ativada através de um pedido do seu ego, da sua programação anterior à encarnação.

Portanto, dizer que o ego criou o tapa não é afirmar que ele esbofeteou você, mas que conclamou o ‘tapeador’ e criou a situação (realidades ilusórias) para que o tapa acontecesse.

Participante: Esta conclamação é feita na programação de vida antes de encarnar?

Sim. Você programa o ego antes da encarnação para que em tal momento ele ‘conclame’ um ‘tapeador’, para que em determinado momento haja a percepção da movimentação da mão e também para que ele crie determinada interpretação para aquele ato.

Mas, preste atenção em um detalhe. Ainda não estou dizendo como o ego funciona.

Afirmo isso porque se o ego é só um programa, um conjunto de comandos, precisa que ‘alguém’ (um ser inteligente, que haja) ligue esses comandos, ative o funcionamento deste ou daquela ordenação. Vamos falar disso amanhã. Por enquanto só estamos falando de funcionamento e não explicando como ele funciona.

Participante: Existe a possibilidade de por um deslize fugir da programação ou mudá-la?

Jamais. Isto porque toda programação é operada por um operador e eu garanto que quem opera os comandos dos egos não comete deslizes. Vamos falar disso amanhã.

Participante: Mesmo porque se houver uma mudança isso mexerá com diversos outros egos programados na nossa interdependência de carmas, não?

Isto. Na verdade mexeria com o Universo inteiro porque todo ele é interdependente.

Participante: Como se fosse um quebra cabeças?

Exatamente.

Além do mais, se houvesse um deslize, se não acontecesse algo que deveria acontecer, não valeria a pena ter encarnado, pois você não teria feito a prova à qual se dispôs a fazer.

Participante: Quando se diz que uma pessoa deveria perder um braço e por merecimento ela perdeu só uma mão, isso também já estava pré-programado?

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Sim. Este merecimento está no aprimoramento da consciência espiritual e não da vivência com o ego nesta vida. É um merecimento anterior à vida e não durante a vida.

Ainda falando de ‘mundo externo’, vamos nos aprofundar mais no invisível, naquilo que não é percebido pelos instrumentos de percepção (olhos, nariz, ouvido, língua e sensibilidades do corpo físico) do ser humanizado para poder compreender mais uma função do ego.

O que é uma mão? Uma formação de diversos elementos. O que são estes elementos (ossos, carne, gordura, sangue, músculos, nervos) que compõem a mão? Fluído cósmico universal.

Se você decompor uma mão achará diversos elementos. Decompondo-os mais ainda encontrará as células que formam estes elementos. Mas se as decompor achará o fluído cósmico universal.

Isto não é verdade para você porque os ‘olhos humanos’ não conseguem ‘ver’ este elemento universal, mas esta informação está disponível na pergunta 30 de ‘O Livro dos Espíritos’: ‘A matéria é formada de um só ou de muitos elementos? De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva’.

Então, o que é uma mão? Fluído cósmico universal. O que é um rosto? Fluído cósmico universal. O que existe no ‘espaço’ entre uma mão e um rosto? Fluído cósmico universal.

Como então, no mundo externo acontece a formação da mão e do rosto independente um do outro além da ilusão da movimentação da mão através do ar até chegar ao rosto? Obra do ego.

Vamos entender este último aspecto da criação do ego. Já estudamos a criação do ‘mundo interno’ feita pelo ego e agora precisamos estudar como o ego cria o ‘mundo externo’.

Para isto eu vou precisar entrar um pouco no conhecimento científico da Terra. A ciência humana diz que a imagem se forma no fundo da retina quando a luminosidade refletida por um corpo é captada pela visão. O princípio da criação pelo ego do ‘mundo externo’ é semelhante.

Quando determinada transformação de fluído cósmico universal é detectada pelo ego, em outra programação diferente da usada para a criação do ‘mundo interno’, existe uma codificação desta transformação que gera imagem, som, sabor, cheiro ou sensibilidade ilusória. Exemplifiquemos.

O que você vê como mão é uma transformação de fluído cósmico universal de determinada forma. Quando estes fluídos sensibilizam o ego (são ‘vistos’), e não posso explicar como porque vocês não têm condição de entender, através da programação deste ego ele cria a imagem de uma mão.

Você, que nem sabe da existência do ego acredita que está ‘vendo’ a mão, mas isto é uma ilusão, pois a figura de uma mão está sendo formada dentro da sua mente. Ela não pode ser ‘vista’ porque no ‘mundo externo’ não existe mão, mas transformação de fluído cósmico universal.

Sendo assim, tudo que existe e é percebido por você, seja através da visão, da audição, do paladar, olfato ou sensibilidades do corpo, não existe de verdade. Não existe como realidade: são figuras, imagens, criadas pelo ego quando sensibilizado por tais ou tais combinações do fluído cósmico universal.

Ou seja, o mundo que você vive não existe externamente a você, mas são criações do seu ego, sejam os elementos ou a movimentação destes. Não sei se ficou claro, mas é isso que é a Realidade.

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Olhe para sua frente, ouça o som que estou falando, respire e perceba os cheiros ao seu redor. Nada disso é real, nada disso existe no mundo exterior, mas foram criados no eu ego, formatado pelo seu ego como resultado da ação de uma programação. Ou seja, realidade virtual.

Aquilo que você vivencia externamente é uma realidade virtual, aquilo que você compreende e vivencia internamente, racional e emotivamente, também é ilusório porque surge da do ego, não está acontecendo.

Sendo assim, você e toda a sua vida são ilusões..

Por isto, no início do trabalho de hoje disse: falar do ego é conhecer a si mesmo. E tudo o que você pode saber hoje, ou seja, afastado da sua personalidade espiritual, é que você e o mundo criado por você são ilusórios.

Este é o maior conhecimento que alguém pode ter sobre si: que tudo que ele é o que vivencia é irreal, ilusório, porque foi criado pelo ego através de uma pré-programação do espírito.

Aí vocês poderiam me perguntar: então existe um ego coletivo, um formador de imagens coletivas? Eu diria que um formador de imagens coletivas não, mas existem programações comuns a todos os espíritos que ‘vivem’ na ‘Terra’. Ou seja, existe uma programação coletiva para a criação do ‘mundo exterior’.

Todos que olharem para uma parede verão uma parede. Isto porque todos os egos com os quais os espíritos vivenciam a vida no orbe terrestre possuem para formação da imagem a mesma codificação.

Esta codificação não é válida para quem mora em Marte, Plutão, Netuno, na Lua ou em qualquer outro planeta, mas é válida para todos que vivem no orbe terrestres. Os egos aos quais os espíritos se ligam para ‘viverem’ em qualquer outro planeta possuem outra programação que codificam e criam imagens que você, ser humanizado, não é capaz de criar porque seu ego é um ‘ego terrestre’.

É por isso que o homem vai a lua e não vê nada a não ser aquilo que vê daqui: aquilo que possui decodificação através do seu ego.

Encerrando a conversa de hoje, então, afirmo que o ego é o formador da realidade com a qual o espírito ‘vive’, quer seja essa realidade formada por objetos ou por compreensões racionais e emocionais. Tudo criado pelo próprio espírito antes da encarnação para que ele comprove a si mesmo a vitória sobre determinados aspectos da sua consciência espiritual.

Este é o resumo do dia de hoje.

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Formação

Vamos continuar nosso estudo sobre o ego, mas se alguém quiser fazer alguma pergunta antes, fique à vontade.

Participante: Os animais ou plantas têm egos? Se houver, como funciona?

Nem animal, nem planta e nem ser humano tem ego. Quem tem ego é espírito e não os elementos materiais. Aliás, estes elementos são o resultante da ligação do espírito com o ego. O ser humano é o resultante da ligação do espírito com um ego, mas a planta e os animais também.

A partir daí podemos entender que todos os seres têm um ego. Mesmo aqueles que estão na erraticidade possuem uma espécie de ego, pois, como dissemos ontem, a personalidade espiritual funciona de forma idêntica ao ego.

No entanto, os egos, ou consciências diferenciadas das espirituais, são diferenciados de acordo com a missão que o espírito terá que realizar durante a sua encarnação. O espírito que habita e constrói a planta não tem o mesmo ego dos humanos, porque a consciência temporária deste espírito não cria realidades.

Para o ser humanizado o ego é o criador de realidades. Se o espírito que está ligado à planta não constrói realidades, ele não tem o ego como você entende e como estudamos ontem.

Já o espírito que está ‘encarnado’ como animal vivencia realidades, ou seja, o seu ego possui esta propriedade. No entanto, não podemos dizer que é o mesmo ego do ser humano.

Participante: Mesmo o animal mais simples na sua estrutura?

Mesmo o animal mais simples na sua estrutura possui ego, pois o que determina a presença de um ego é a existência do espírito e não a constituição material do animal. Agora, para que o ego tenha a função de formação de realidades é preciso que o ‘animal’ vivencie atos.

Sendo assim, se um micro organismo que seja considerado um animal não tiver percepções, o espírito ligado a ele terá com certeza um ego, mas este não será igual àquele ao qual está ligado o ser que vive como ‘cachorro’, por exemplo.

O que precisa ficar bem claro, por enquanto, é que o espírito que vive ligado à uma matéria animal possui ego, mas que esse não é igual ao do ser humano. Existem diversas diferenças entre eles.

Participante: O ego do espírito ligado ao animal é instintivo?

Por agora vou apenas dizer que é diferente, pois se falasse que ele era instintivo estaria fugindo à realidade, pois o instinto também está presente no humano e não é apenas característica do ego de espíritos que vivem ligados à determinados animais.

Não tente caracterizar o ego animal, mas apenas compreenda que ele não é igual ao humano. Só para exemplificar melhor as diferenças, o ego humano cria a individualidade, o se ver como um independente do todo universal. Já o ego animal não.

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O espírito que está encarnado numa forma animal não sabe que ele é ele, ou seja, não se compreende como individualidade. Por força do seu criador de realidades (ego) se identifica como fundido ao universo e não como um elemento destacado.

Esta é uma diferenciação entre o ego humano e o animal, mas existem diversas outras. Por que? Porque cada ego é criado de acordo com o objetivo da encarnação do espírito.

Desta forma, o ego do espírito que vai vivenciar o mundo animal é criado para atender a um objetivo e o do espírito que vai viver o ser humano é criado para outros.

Participante: E no caso de haver um consciente coletivo, uma consciência controlando vários pequenos animais, este consciente pode ter um ego?

Existe um consciente coletivo, nós falaremos dele hoje. Mas este consciente coletivo não é propriamente um ego. Deixe para mais tarde explicarmos este ponto com mais calma.

Participante: Como um ego agiria em várias pessoas, animais e plantas simultaneamente?

Como disse, não há um ego, uma consciência individual que controla as demais. Por este motivo não é um ego que age.

Sendo assim, não há o que responder nesta pergunta.

Participante: No caso de obsessão, como funciona a aplicação de vários egos a uma única pessoa ou animal?

Quando ocorre uma obsessão? Quando existem espíritos no mesmo grau de elevação se intercomunicando, ou seja, quando existem espíritos que se harmonizam porque possuem realidades, paixões e desejos semelhantes.

Então, o que é a obsessão? É uma comunhão de egos que faz com que espíritos interajam dentro de realidades ilusórias que são frutos de suas paixões e desejos.

A obsessão não é, portanto, um ego agindo sobre o outro, como se costuma imaginar, mas espíritos ligados a egos semelhantes que se comunicam e se confraternizam por estarem no mesmo padrão vibracional, ou seja, por vivenciarem paixões e desejos semelhantes.

Participante: Obsessor, amigo de fé, irmão camarada...

Exato. Os que estão envolvidos em um processo de obsessão são espíritos que vivem com egos muito parecidos, que tem possuem comandos semelhantes em sua montagem.

Por exemplo. Se um encarnado é obsediado por outro espírito (dentro ou fora da carne) para beber compulsivamente é porque ele tem no seu ego esta paixão e este desejo de beber.

A obsessão, portanto, acontece porque desejo com desejo igual se junta. Nada mais do que isso.

Participante: Existe um ego coletivo para todo planeta?

Não, não existe um ego coletivo para o planeta. Falaremos disso mais tarde.

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Na realidade o que é conhecido como ‘ego coletivo’ é um ‘banco de dados’ que é utilizado como depósito de comandos coletivos para programar egos humanos. Os egos se abastecem no ‘banco de dados’, mas este não é por si um criador de realidades.

Digo isso porque ontem definimos o ego como uma consciência temporária criadora de realidades. Não há um criador de realidade planetária’, mas existem dados arquivados num banco de memória que são usados nas programações dos egos.

Respondida as dúvidas iniciais, vamos, então começar a conversa de hoje. Faremos isso exatamente conversando sobre este aspecto que é tratado pelos seres humanos como ‘ego coletivo’.

Como disse, não existe um ‘ego coletivo’ se você aplicar ao ego a definição de que ele é um criador de realidades, mas existe um ‘banco de dados’ de onde são retirados comandos que aparecem nos egos humanos ou terrestres.

Existe, portanto, um ‘banco de dados’ para o planeta Terra. Mas para falarmos dele, precisamos antes entender o que é o planeta Terra.

Ontem encerramos nossa conversa dizendo que a própria realidade material, ou seja, os corpos e movimentações que existem, são criações do ego. Se assim é, o planeta Terra, ou qualquer outro planeta, não existe externamente a você, mas é uma criação do seu ego.

Isto precisa ficar bem claro porque quando definimos globalmente algumas coisas (tudo, todos) muitos separam coisas que não englobam na totalidade que afirmamos ser. Um dos exemplos é o planeta. Nós afirmamos que toda a realidade material não existe, mas muitos continuam acreditando que a Terra como um planeta existe, mas isso não é realidade.

E, se a Terra não é um planeta o que é ela? Vamos entender.

Por definição, Universo é o campo de trabalho para elevação do espírito. Tudo que você conhece assim como o que não conhece no Universo foi criado e idealizado por Deus para servir ao espírito no seu processo de provação. Todos os sóis, estrelas, planetas, satélites naturais, espaços vazios entre eles que você percebe como as chamadas ‘dimensões’ espirituais que não podem ser percebidas pelo ser humanizado, são criações de Deus com função de auxiliar o espírito na sua evolução espiritual.

Sendo assim, não existem planetas, mas sim campos de trabalhos diversos separados um do outro. Vamos criar uma figura para melhor compreensão.

É como se o Universo fosse um estádio desportivo onde houvesse pista de atletismo, campo de futebol, quadra de basquete, de tênis, etc. Ou seja, um lugar que reunisse todas as arenas necessárias para a prática de todas as atividades desportivas conhecidas.

Cada arena tem a sua finalidade, ou seja, abrigar a realização do seu desporto, e o estádio seria o local que abrigaria todos as arenas com todas as suas finalidades. Cada arena tem uma razão de existir e o estádio existe com finalidade de abrigar todos os desportos.

Cada elemento do Universo (planeta, sol, estrela, etc.) é como se fosse a arena para a execução de um determinado esporte. Existe o ‘planeta’ que serve de campo de futebol, onde os espíritos se desenvolvem em um determinado aspecto; existe aquele que serve de ‘campo de atletismo’, onde o espírito desenvolve outro determinado aspecto, e assim por diante.

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A Terra, portanto, é um destes campos onde o espírito se desenvolve num determinado aspecto da evolução espiritual. Hoje, a Terra serve para o espírito como campo de trabalho naquilo que é chamado de ‘mundo de provas e expiações’.

Não nos compete neste estudo falar de ‘mundo de provas e expiações’ e por isso não abordaremos este aspecto. O que temos que entender hoje é que não existe o planeta Terra, mas que aquilo que compreendemos como tal é uma criação do ego que serve como um ‘espaço’ universal onde os espíritos se desenvolvem dentro de um determinado aspecto.

Planetas são ‘espaços’ que servem a grupo de espíritos que estão dentro do mesmo padrão vibracional (nível de elevação espiritual) e que servem para que estes espíritos trabalhem determinados aspectos da existência espiritual.

A compreensão desta idéia ou noção é fundamental para entendermos o que vai ser falado a partir de agora. Porque quando buscamos comentar sobre ‘ego coletivo planetário’ estamos, na realidade, falando sobre um ‘banco de dados’ que contém comandos para serem agregados a egos que se ligarão à espíritos que viverão em um mundo onde o sentido da encarnação seja provas e expiações e não sobre o ‘ego da Terra’.

Começamos a entender um pouco sobre o ‘banco de dados’ disponível para aqueles que encarnarão na ilusão planeta Terra, ou seja, no sentido de encarnação provas e expiações. Mas ainda existem detalhes que precisam ser mais esclarecidos.

Isto porque a Terra não é uma, ou seja, não é igual. Ela é formada por raças e pátrias que são diferentes entre si. Por causa desta diversidade entre elas posso afirmar que as raças e as pátrias também são ‘lugares’ para trabalhar diferentes tipos de aspectos espirituais.

Se anteriormente comparamos um planeta a uma arena para a prática de determinado esporte dentro de um estádio (Universo), podemos dizer que a Terra como a pista para atletismo abriga diferentes modalidades de esporte. São corridas de grandes extensões ou rápidas; com obstáculos ou não.

Cada pátria ou raça é uma modalidade do mesmo esporte, ou seja, uma subdivisão dos elementos contidos no ‘banco de dados’ planetário. Isso ficará mais bem entendido daqui a pouco quando definirmos o ‘banco de dados’, mas por enquanto devemos ter em mente que o trabalho de elevação espiritual se divide dentro de aspectos macros e estes se subdividem em diversos outros aspectos.

Sendo assim, a Terra não é um planeta, mas um congregado de espíritos trabalhando determinados aspectos da existência espiritual e o Brasil, a Argentina e os Estados Unidos também não são países, mas ‘espaços’ que servem para que espíritos trabalhem determinados aspectos da existência espiritual.

Tendo anteriormente falado na existência de um ‘banco de dados’ para formação de egos que caracteriza universalmente aquilo que os humanos chamam de Terra, precisamos, agora, que dizer que existe um ‘banco de dados’ com a mesma finalidade que caracteriza cada país e raça conhecida pelos seres humanizados.

Sendo assim, ninguém é brasileiro, argentino ou americano, mas são espíritos ligados a egos que foram abastecidos com ‘verdades’ retiradas destes ‘banco de dados’. Ninguém é preto, branco ou amarelo, mas cada um destes possui em seu ego comandos que foram retirados de determinados ‘bancos de dados’ que são subdivisões do central (o do planeta).

Mas, quando falamos em ‘bancos de dados’ não podemos pensar macro, pois existe diversas micro características que são retiradas de outros bancos. Além de pensar na pátria, temos que pensar nos regionalismos presentes nos próprios países e raças.

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No caso do Brasil, por exemplo, as regiões norte, nordeste, sudeste, centro e sul concedem àqueles que ali vivem características de personalidades completamente diferentes umas das outras. Estas características de personalidades servem como campo de algumas determinadas provas para o espírito.

Não paremos por aí, pois os estados, as cidades e os próprios bairros das cidades são campos de trabalhos para determinados aspectos da elevação espiritual já que criam coletivamente determinadas características nas personalidades de seus habitantes. Por este motivo, afirmamos que também se constituem em micro banco de dados onde estão à disposição do espírito comandos para serem agregados aos ‘programas’ de seus egos para o trabalho espiritual.

Mas, se estamos falando de personalidades não podemos esquecer outros aspectos que influenciam nela além da questão geográfica. É o caso da profissão que se vivencia, do sexo, do casamento ou não, da maternidade ou paternidade ou não, etc. Chamo a isso de ‘papéis’ exercidos por espíritos durante a encarnação e que criam comunidades que possuem personalidades iguais.

Uma mãe, por exemplo, é sempre uma mãe. Existem traços que são comuns a todos os espíritos que exercem o papel de ‘mãe’ durante a encarnação. Estes traços estão presentes em micro ‘banco de dados’ que servem para abastecer o ego do espírito durante a montagem da personalidade temporária com a qual irá vivenciar determinada encarnação. Mesmo coisas consideradas fúteis como torcer para um determinado time de futebol, cria comunidades com traços de personalidade iguais e cada vez que isso acontece serve como instrumento para a provação do espírito em determinado aspecto da elevação espiritual.

Com tudo isto que falamos, começamos a compreender aquilo que vocês chamam de ‘ego coletivo’ e que chamei de ‘banco de dados’ que abastece os egos humanos. Entendemos que ser humano, habitante da Terra, é estar ligado a um ego que contenha comandos retirados do ‘banco de dados’ terrestre e das micro divisões que ele possui: país, região, cidade, bairro e comunidades.

Podemos, então, dizer que um homem que tenha como profissão a medicina, seja brasileiro, more na cidade de São Paulo,em um bairro de classe alta é um espírito que está ligado a um ego que tenha comandos retirados de cada um destes micros bancos de dados. Ou seja, tudo isso é uma realidade ilusória criada pelo ego para que o espírito possa cumprir determinadas missões dadas por Deus para que ele alcance a felicidade que eterna que o Pai tem prometido.

NOTA: Esta afirmação refere-se ao ensinamento transmitido pelo Espírito da Verdade na pergunta 115 de O Livro dos Espíritos:

“115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da Verdade, para aproximá-los de Si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa a meta que lhes foi assinada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”.

Esta é a Realidade sobre a identidade criada a partir da união do espírito com o ego: comandos que possibilitam a execução de determinadas missões. A sua identidade atual (aquele que você imagina ser) é composta pelos comandos que retirou de micros bancos de dados para realizar a sua provação espiritual.

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Não sei se me fiz entender porque o assunto é complexo e dificilmente poderá ser compreendido por inteiro. Não há possibilidade do espírito dominado pelo ego entender profundamente o como, por que, para que de tudo isso que estou afirmando.

Portanto, não queira entender profundamente o que digo. Saiba apenas que todos os traços de sua personalidade atual foram retirados de arquivos que estão vinculados ao banco de dados terrestre para que fosse criada determinada realidade ilusória com o objetivo de você, o espírito, aproximar-se de Deus e vivenciar a felicidade eterna. Para isso é preciso que você conviva com esses traços sem ‘ranger de dentes’.

Apesar de jamais poder ser compreendido por inteiro e profundamente o tema de hoje, continuaremos ainda falando dele para poder lançar um pouco mais de luz na sua realidade.

Até aqui conceituamos o ‘banco de dados planetário’ e suas subdivisões. Vamos, agora, aplicar estes conhecimentos à sua vida, à sua personalidade, pois o objetivo deste trabalho é conhecer a si mesmo.

Ontem definimos o ego como um programa de computador e hoje falamos que este programa é montado a partir de comandos que estão disponíveis em micros bancos. Ou seja, cada ‘papel’ que se representa no mundo carnal é originado em um ‘banco de dados’ que possui comandos que dão determinadas características de personalidade ao ser humanizado. Vou explicar melhor isso.

Quem trabalha ou conhece programação (fazer programas de computador) sabe que nem tudo precisa ser escrito. Existem mini programas que podem ser copiados e acoplados ao seu programa para poder se atingir determinados fins que se quer alcançar.

O espírito quando vai fazer o programa com o qual irá criar suas realidades, ou seja, quando escreverá o ego, define, por exemplo, que irá lutar contra a ação da personalidade temporária que lhe induzirá ao materialismo.

NOTA: Todo o ensinamento passado neste trecho da palestra parece coisa extremamente nova, sem ensinamentos que tenham o precedido. Mas, isso é irreal. Tudo aquilo que será falado aqui, de forma simplificada, foi comentado no da Vida Espírita, subtítulo Escolha das Provas, de O Livro dos Espíritos.

Para ilustrar e fazer referência, iremos, aos poucos, referindo-nos ao ensinamento do Espírito da Verdade.

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”.

Este espírito, que já vive agregado ao orbe terrestre, irá procurar nos ‘bancos de dados’ disponíveis no planeta Terra os comandos relacionados com a luta ao materialismo, dentro da intensidade que ele quer trabalhar.

Vou a um exemplo mais prático para poder ser bem compreendido. No entanto, quero deixar bem claro que tudo que falarei a partir de agora é apenas exemplificação, pois verdades de um mesmo micro banco podem servir para diversas provações.

Sendo assim, se um espírito decide como gênero de sua provação atacar profundamente o materialismo buscará o banco de dados de um ‘país’ onde os comandos criem na personalidade que

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vivenciará durante a ‘encarnação’ um forte apego ao materialismo. Neste caso ele irá anexar ao seu ego comandos que estão disponíveis no banco de dados pátria rotulado como Estados Unidos.

NOTA: “260. Como pode o Espírito desejar nascer entre gente de má vida? Forçoso é que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem! É necessário que haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, preciso é que se ache em contacto com gente dada à prática de roubar”.

Por que isso? Porque lá, notadamente, o materialismo, a paixão pelo mundo material, é muito forte. O espírito buscará, então, os comandos que já estão prontos e guardados sobre o nome ‘pátria Estados Unidos’ e agregará estes comandos ao ego de sua futura encarnação.

Quando isto é feito, ou seja, quando os comandos são agregados ao ego, cria-se, então uma realidade ilusória que será vivenciada durante a encarnação. Neste caso, o espírito que anexou os comandos do arquivo ‘pátria Estados Unidos’ terá, durante a encarnação a realidade ilusória de ‘nascer’ neste país.

Desta forma o patriotismo, orgulho patriota, com o qual os seres humanizados vivem não existe, não é real. Isto porque o espírito não escolhe pátria para nascer por achá-la bonita ou gostar dela, mas porque nela estão os comandos que se adaptam àquilo que ele quer vivenciar com o sentido de negar a realidade que está vivendo. A escolha dos programas fará, necessariamente ele nascer naquele país.

Depois disso o espírito escolherá ainda, cidade, estado, região, bairro e os ‘papéis’ que serão vivenciados naquela encarnação e as sociedades com o as quais conviverá. Mas não faz tudo isso aleatoriamente: todas as escolhas serão feitas a partir da determinação de lutar contra o materialismo, gênero inicialmente escolhido pelo espírito para servir de provação nesta encarnação.

NOTA: “269. A que se devem atribuir as vocações de certas pessoas e as vontades que sentem de seguir uma carreia de preferência a outra? Parece-me que vós mesmo podeis responder a esta pergunta. Pois não é isso a conseqüência de tudo o que acabamos de dizer sobre a escolha das provas e sobre o progresso efetuado em existência anterior?”

Da mesma forma, o espírito, antes da encarnação, não procura uma profissão pela própria profissão. Ele criará para o seu ego a ilusão de ser determinado profissional a partir da aglutinação de comandos de determinados bancos de dados ao seu ego.

No caso do nosso exemplo (um espírito que escolheu o gênero materialismo para lutar contra) ele poder ser médico, pois aqueles que exercem esta profissão têm a ilusão de ter o poder de dar a vida ou a morte. Ele pode ser um economista, que lida com o dinheiro e com a ganância sua e dos outros.

Enfim, o espírito vai a partir da idéia central de combater determinada atitude espiritual (ser materialista) buscar nos bancos de dados disponíveis no planeta programas que criem ilusões para que ele as vivencie. A partir da programação do seu ego formada por comandos dos bancos de dados do planeta Terra, o espírito vai criando o seu ‘destino’ na ‘vida’.

Então, o espírito escolhe comandos que estão rotulados como pátria Brasil e nascerá neste país. Escolhe o programa que represente uma sociedade carente, e nascerá numa favela. Escolhe um programa de busca de evolução material pelos próprios valores materiais e terá um como destino uma personalidade que pode ser definida como ‘um pobre soberbo’. Escolhe alcançar a vitória material (fama) para poder libertar-se do orgulho e com isso decide antes da encarnação que se ‘formará numa faculdade’.

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Por isso lhes afirmo: o destino da vida material do espírito será escrito automaticamente de acordo com as suas escolhas para vivenciar esta ou aquela realidade. Escolhas estas que são opções de comandos que estão disponíveis nos micros bancos de dados do planeta Terra.

NOTA: Aparentemente esta informação leva àquilo que é conhecido como determinismo. No entanto, não é bem assim. Há outras opções que o espírito pode viver durante a encarnação além de ‘criar’ seu destino. Senão vejamos:

“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resisti”. (O Livro dos Espíritos).

Podemos dizer, então, que as situações da vida são predeterminadas, mas que cada espírito vivendo a mesma realidade ilusória é livre para escolher se passará por ela na depressão do sofrimento, no êxtase do prazer ou ainda com a felicidade eterna que o Pai concede.

Quem vivencia as realidades ilusórias com a felicidade eterna são aqueles que foram chamados pelo Espírito da Verdade de submissos; quem vive tanto na dor quanto no prazer são os que passam pelas suas provações murmurando como foi falado pelo Espírito da Verdade na resposta à pergunta 115 que já citamos.

Volto a repetir: este assunto é extremamente difícil de entendimento por vocês, pois estou falando da vida de cada um.

Até hoje vocês imaginam que escolheram durante a encarnação ser e estar o que são e estão porque gostam ou tem ‘afinidade’ com estes elementos, mas isso é irreal. Tudo que você é hoje foi decidido antes da encarnação e não porque gostasse, achasse bonito, ou tivesse ‘afinidade’, mas para que provações fossem criadas e, com a vitória sobre elas, se aproximasse mais de Deus.

Alguém aqui falou que é geógrafo, mas isso é uma mentira. Ninguém é geógrafo; está geógrafo (vive a ilusão de ser) para vivenciar algumas realidades comuns à comunidade de geógrafos. Ou seja, o carma que esta profissão traz embutido em si.

Este conhecimento acaba, por exemplo, com todos os méritos que imagina ter por haver se formado na faculdade.

O mérito de ter estudado e se formado na faculdade não existem, pois você se transformou em geógrafo não quando se formou na faculdade, mas quando programou o ego desta existência com comandos que estavam arquivados no ‘papel profissão’ com o nome de geógrafo. Esta programação gerou a obrigação de, ilusoriamente, se formar numa faculdade. Portanto, a sua formatura não se deve a esforços humanos, mas a atitudes espirituais antes da encarnação.

Outra pessoa aqui presente, exerce a profissão de professora, ou seja, acha-se professora. Por isso imagina que tem que ‘ensinar os outros’. Mas isso é irreal, pois ser professora não é ensinar os outros, mas sim criar determinadas realidades ilusórias para que o espírito as vivencie e execute o seu trabalho de elevação espiritual.

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Ou seja, esta pessoa não estudou para ter uma determinada profissão, mas para que fosse criado um papel ilusório nesta vida para que ela vivenciasse determinadas realidades que todos os profissionais desta área específica vivenciam.

Veja como esta compreensão mexe com suas vidas. Até hoje vocês tinham a ilusão que um espírito escolhia ser médico para poder ajudar os outros, mas isso é mentira, é ilusão, pois para o espírito dar a saúde material não é ajudar ninguém, pois ele entende que tudo que é material é maya. O espírito escolhe formar-se na faculdade de medicina porque vivenciar o ‘papel’ de ser médico durante a encarnação possui a prova que ele tem que fazer nesta ‘vida’.

Veja como este ensinamento altera suas existências. Tudo que vocês são hoje, tudo que vocês já foram até hoje, deixa de ter a razão que tem ou teve e passa a ser vivenciado com um outro sentido, com uma nova razão para ser.

Não mais ser médico para curar, mas para vencer as tentações que o ‘titulo’ de doutor lhe dá. Não mais ser professora para ensinar, mas para vencer as tentações que este título lhe dá.

Por isso que estou falando que tudo que disse hoje é de difícil compreensão, pois ele acaba com a sua vida como conhecida até então. Até ontem sua vida era uma, a partir de agora tem que ser outra, porque se inverteram os valores de tudo que você foi ou é, fez ou está fazendo.

Mas, não aplique isso apenas nos exemplos que estou dando, ou apenas às coisas consideradas como materiais. Mesmo para o trabalho espiritual este ensinamento é realidade.

Ser médium, por exemplo, é um ‘papel’ pré-escrito pelo espírito para si durante a encarnação. Ele não serve apenas para ‘ser instrumento de Deus para auxiliar o próximo’, mas também para vencer determinadas realidades criadas com o exercício da mediunidade: soberba, orgulho, vaidade, etc. Por isso tenha a certeza que você não é tão ‘bonzinho’ assim, ou seja, não escolheu ser médium para ajudar os outros, mas para fazer determinadas provações.

Veja como muda a vida. Altera tudo porque se aplica aos mínimos detalhes da sua existência. A partir da conscientização dele, ao invés de viver a sua profissão ou a sua masculinidade/feminilidade, passará a descobrir o que estas particularidades que vivencia hoje criam como prova para você, espírito.

Na prática, é isto que os ensinamentos dos mestres querem dizer quando aconselham aos seres humanizados a buscar dentro de si mesmo a elevação espiritual. Praticando este ensinamento vocês buscarão nas suas origens espirituais o que quer dizer ser homem ou mulher, ser mãe ou pai, ser filho ou neto e, com isso, deixarão de vivenciar estes papéis.

Como ensinou Cristo, vivendo a busca interior abandonarão pai e mãe, pegarão sua cruz e aí poderão segui-lo. No entanto, este abandono não se trata de algo físico, material, mas ele se origina com o fim da vivencia do ‘papel’ filho e o entendimento do que ele representa como prova nas suas vidas.

Quem conscientizar-se da Realidade, ou seja, da virtualidade das realidades criadas pelo ego, deixará de vivenciar a maternidade ou paternidade e passará a buscar o que esses papéis representam como provação para cada um. Só assim a pergunta ‘quem é minha mãe, quem é meu irmão’ que foi proferida por Cristo poderá ser respondida.

É deste o conhecimento que estamos falando hoje. É disto que estamos falando agora. Com ele, a sua vida vira de ‘ponta cabeça’ porque deixa de ser externa e passa a ser meditativa: uma vida onde você medita sobre os aspectos da vida e não os vivencia.

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Participante: O problema, então, é passar a se apegar ao conhecimento carnal ou material?

Não é apegar-se à nada, mas querer ‘ viver’. É ‘vivenciar’ os acontecimentos da vida como realidades externas à você.

O problema é você viver a maternidade, o ser professor, o ser homem ou mulher. Porque o espírito não é homem ou mulher, professor ou pai/mãe, mas, está estes elementos.

E está para que isso? Como uma prova seja proposta para você, ou seja, que realidades sejam criadas para que você não se apegue a elas.

O problema, portanto, é você querer viver a ilusão que o ego cria, a realidade ilusória que o ego cria. Isto é problemático para o espírito porque quando você vive a sua feminilidade, que é uma realidade ilusória criada pelo ego, já que não existe ‘espírito fêmea’, você deixa de fazer a sua prova.

Aliás, nem sabia que existia uma prova a ser vivida na sua sexualidade: como então realizá-la? Tudo isso porque se apegou ao ser feminino.

Vamos continuar ainda falando do ego, mas acho que devemos ficar ainda um pouco mais neste aspecto, pois ele é fundamental para a vida de um espírito encarnado. Este ensinamento explica tudo o que vocês estudaram até hoje a respeito de reforma íntima.

O que é ser e estar, o que é mudar-se, o que é aproximar-se de Deus, elevar-se espiritualmente: tudo está ligado à conscientização das realidades que vivem como provações.

Explica tudo. Explica o que é o sentido da vida. Quando eu digo que você não nasceu para viver a vida estou fundamentando-me neste conhecimento. Você não nasceu para viver a sua masculinidade ou feminilidade , mas nasceu para não vivê-las, ou seja, para entender que a sua feminilidade é uma realidade ilusória criada pelo à qual você precisa se libertar.

Participante: Nesta tentativa de não me deixar levar pelo ego e às vésperas de festividades tão comemoradas por todos nós, como são o natal e o ano novo, nesta minha luta para não vivenciar aquilo que a humanidade está vivendo nestes dias, o que está acontecendo é que estou caindo num vazio, que eu não consigo realmente entender isso tudo, mas também não quero fazer aquela comilança e aquele monte de presentes porque não acredito mais nestas coisas. Então, eu me acho perdida e com um fundo de tristeza muito grande sem saber o que fazer. Gostaria que o senhor falasse sobre isso.

Em seu Evangelho, na logia 002, Tomé nos ensina: ‘Jesus disse: aquele que procura, não cesse de procurar até quando encontrar; e quando encontrar ficará perturbado; e ao perturbar-se, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo’.

Esta sensação de vazio que está sentindo hoje, é originada pelo fato do natal, como comemorado anteriormente, não ter mais sentido para você. Apesar desta consciência, você ainda não consegue interpenetrar no ‘Real’ sentido do natal. Ou seja, é o estado intermediário entre a sua materialidade e a sua espiritualização.

Isto é normal ocorrer para quem está ‘procurando’, pois a luta contra o ego é realizada paulatinamente e a vitória é uma conseqüência da persistência. Durante a luta, a primeira reação é sentir este vazio que você diz estar sentindo. Só que, a partir do momento que você encontra o vazio, tem que preenchê-lo com Deus e isso ainda é muito difícil para vocês.

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A luta contra o ego não se vence em uma só batalha, mas há estágios que precisam ser vivenciados em seqüência. Primeiro você é humano, vive humanamente; depois começa a compreender a necessidade da busca de espiritualizar-se e inicia, então, esta busca.

Com isso vai abandonando aos poucos a materialidade mas ainda não chegou à espiritualidade, ainda não encontrou Deus universalmente falando. Por isso surge o vazio. Mas, com a persistência na luta surge, então, o espiritualismo, a presença de Deus na sua vida e aí, então, poderá reinar sobre o Todo, pois está ligado ao Tudo.

Ficou claro?

Participante: Ficou, mas esta sua resposta não ajuda muito em como vou me comportar neste natal.

Os atos que você irá praticar neste e em outros natais já estão programados no seu ego desde antes do seu nascimento e eles acontecerão inexoravelmente da forma prevista. Você não pode, agora, agir de uma forma diferente.

Quando abordo a luta contra o ego, não estou falando de atos, de mudança de atitudes, mas mudar-se por dentro. Eu não disse que não pode haver comilança nem presentes no natal, pois se fizesse isso estaria dizendo que você pode alterar o seu destino.

Quem pratica estes atos durante o natal é porque o seu ego está programado para isso e terá que fazê-lo. O que venho insistindo sempre em dizer é que você, se quiser aproximar-se de Deus, não pode aproveitar esta época para buscar a felicidade material. Então, se fez a comilança, comprou presentes, louvado seja Deus.

Agora não acredite por dentro que isso é natal. Acredite que isso é a Márcia (personagem, ego) que está fazendo e não você, o espírito. Mantenha a sua comunhão apenas com Deus e não com o que está acontecendo, fazendo o que fizer materialmente (atos) durante estes dias, e, assim, terá conseguido superar o natal material.

Participante: Então, é negar tudo que se é?

Não é negar, é deixar de ser. São duas atitudes bem diferentes, porque negar algo é criar uma nova verdade e isso é impossível. Você será sempre quem programou para ser e nada poderá alterar isso.

Se a realidade hoje, por exemplo, é que você é professor, negá-la seria não mais exercer esta profissão. Isso não poderá deixar de ser, pois este é o papel pré-estabelecido por você antes da encarnação.

Por isso não é este o trabalho que estou falando que deve ser realizado. O que estou afirmando é que você, ao vivenciar o ato de ensinar, não se senta professor.

É bem diferente do negar. É a liberdade, a libertação do ser aquilo que o ego diz que você é.

Participante: O preconceito regional estaria no espírito ou seria uma criação do ego. Vou explicar melhor. Um chileno, por exemplo, tem preconceito do argentino; o baiano do pernambucano; o francês do alemão; e assim por diante. Este preconceito estaria no espírito e, portanto se nascesse ou não na Alemanha teria preconceito contra o francês, ou o preconceito está no ego e foi programado pelo espírito. Onde reside o preconceito?

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O preconceito não está no espírito, nem no ego. O preconceito faz parte do ‘banco de dados’ de determinadas regiões, raças ou países. O espírito que vai vivenciar a prova de vencer o preconceito escolhe este ‘banco de dados’ justamente porque eles induzem naturalmente a ter esta lógica racional.

Sendo assim, o espírito não escolhe o povo que vai nascer ou de quem terá preconceito, mas os comandos pré-programados é que criam a lógica racional que o ser humanizado deve ser preconceituoso com este ou aquele outro povo. Depois da escolha, o espírito abastece o seu ego, o seu programa individual, com estes comandos e, só então, o preconceito estará presente no ego.

Desta forma, o preconceito originalmente não está nem no espírito nem no ego, mas num ‘banco de dados’. Ele também não se refere a uma outra raça por qualquer razão lógica, mas porque no ‘banco de dados’ que dá origem àquela raça existe a necessidade de receber o preconceito.

O espírito ao escolher determinados comandos absorve este preconceito e por isso tem a ilusão de nascer em tal país, povo ou raça e terá preconceito daquela outra que o comando manda ter. Mas estas coisas não conspurcam o espírito.

O espírito continua sendo o espírito, já que a sua Realidade é ditada pela consciência espiritual e esta não é afetada pelas verdades incluídas no ego. As verdades incluídas no ego são do ego e não do espírito.

Participante: Como fazer, se em casa só eu me interesso pelo trabalho do ecumenismo universal? Às vezes prefiro não assistir à palestra para não arrumar briga com a minha esposa. Ela diz que não está preparada para ouvi-lo e que eu estou virando um beato.

Elevação espiritual é a coisa mais individual que existe: você tem que tratar da sua e de mais ninguém.

Lembre-se que assistir ou não a palestra não depende de você, pois são atos, que não comandará. Por isso começo a resposta lhe dizendo: assistindo ou não, esteja em paz.

Ou seja, se hoje a sua realidade ilusória criou o assistir a palestra, louvado seja Deus. Agora, se amanhã a sua realidade ilusória não criar esta ilusão, louvado seja Deus também. Não a culpe por isso ou fique chorando pelos cantos, dizendo que você é um pobre coitado, que sua mulher não lhe compreende ou acusando-a de não quer evoluir.

Outro aspecto que devo lhe passar nesta resposta: você tem todo o direito de buscar a sua elevação espiritual, mas não tem o direito de cobrar dela que faça a mesma coisa.

Portanto, se estes ensinamentos lhe tocam, coloque-os em prática. Agora se não tocam a ela, dê o direito dela de não querer colocá-los em prática, inclusive quando brigar com você porque os está colocando em prática.

Saiba que o ato dela cobrar de você porque está colocando em prática, ou seja se tornar beato como falou, é direito dela. Aquele que vivencia aquilo que acabamos de falar entende que ela não está cobrando nada dele, mas que o seu ego, a partir de verdades que ele mesmo colocou lá, está criando racional e emocionalmente o se sentir cobrado.

Para que o ego faz isso? Como uma prova. Para ver se você vivencia cobrança ou não.

Então, é muito simples conviver com a situação que você está vivendo. Viva o que você tiver para viver sem acreditar que está vivendo, mas entendendo que em tudo está uma oportunidade para você dizer louvado seja Deus ao invés de ficar imaginando coisas.

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Agora que já tiramos algumas dúvidas, voltemos ao nosso estudo.

Até aqui comentamos alguns aspectos das propriedades dos diversos ‘micros bancos de dados’ que compõem o planeta Terra (povos, raças, países e sociedades). Por exemplo, falamos que nos Estados Unidos o programa tem a propriedade mais forte do combate ao materialismo. Mas, não fizemos a análise global do planeta, ou seja, não falamos das propriedades que levam um espírito à encarnar na Terra.

Veja bem. Se você nasce em determinado país por um motivo, nasce primariamente na Terra também por um motivo e não por acaso. É sobre isso que eu queria falar agora agora: por que você está encarnado na Terra?

Compreender isto é fundamental, pois esta motivação primária para se encarnar na Terra é o fundamento, a ‘mãe’, que determina o seu atual estado de elevação espiritual. É fundamental se compreender também, porque são a partir desta característica primária que todos os ‘banco de dados’ (pátria, raça, povo, sociedades) com suas características se formam.

O desejo pela posse material, que está embutido em um ‘banco de dados’ é originado em alguma coisa, mas a fome, que está em outro, também é originada nesta mesma coisa, assim como a sensação de prazer é formada também a partir deste mesmo aspecto que comanda todas as realidades virtuais do planeta.

Desta constatação eu poderia dizer, então, que a característica do ‘banco de dados’ do planeta Terra é única para todos que estão encarnando aqui. Que a característica fundamental do ‘banco de dados’ planeta Terra é comum a todos que estão encarnados nela.

E, se anteriormente dissemos que não existe um ‘planeta Terra’ materialmente falando, mas um ‘espaço’ onde os espíritos trabalham o que vocês chamam de ‘mundo de provas e expiações’, a características do ‘banco de dados Terra’ é a determinante do ‘mundo de provas e expiações’, ou seja, é a determinante do seu grau de elevação espiritual.

Esta determinante, esta característica, nivela todos os espíritos que encarnam no planeta Terra, porque é comum a todos. Se não fosse, o espírito não estaria encarnando no planeta Terra, vivendo o mundo de provas e expiações: estaria em outro planeta, outro mundo.

Portanto, esta característica é fundamental de ser compreendida porque ela é a raiz de todas as ilusões que você cria, ou seja, ela é que dá origem e determina um sentido para tudo o que você vivencia.

Participante: Meu ego me diz para sentir atração por japonesas. Apesar de saber que o espírito não é mulher, nem japonesa, o fato de um espírito encarnar com esta característica não é uma forma que Deus encontra para aproximar dois espíritos em prova? Se aquele espírito viesse com outra roupa corporal iríamos nos aproximar e ser instrumento do carma do outro?

Volto a repetir: vocês continuam se prendendo em atos, em coisas materiais.

Você está querendo saber se deve continuar se aproximando de japonesas ou não, mas isso não interessa saber, pois você não se aproxima agora, durante a ‘vida’, de ninguém: o aproximar-se ou não já foi escolhido antes da encarnação.

O que você não pode, dentro da luta contra o ego, é vivenciar aquilo que acabou de dizer: ‘o seu ego lhe diz’, ou seja, acreditar na proposição feita pelo ego. Veja como você está aprisionado a esta identidade provisória...

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Ego – A personalidade humana do espírito Página 45

Não lhe interessa o que o ego disser: se você está próximo de uma japonesa, louvado seja Deus, se não estiver, da mesma forma. Agora, acreditar que está em seu destino aproximar-se de orientais, isto é ilusão.

Foi o que respondi a quem me perguntou sobre negar. O trabalho não é negar nada, mas libertar-se. É não vivenciar o que o ego lhe diz, seja o que for, como real.

Se o seu ego lhe diz que deve gostar mais de japonesas e você acredita nisso, mas o seu ‘destino’ não faz isso acontecer? Lembre-se: os acontecimentos não dependem do que o ego lhe diz, mas sim daquilo que você programou para vivenciar em conjunto com a razão ou lógica ditada pelo ego.

Digamos que o ego lhe fale que você deve se aproximar de orientais, mas o que você escreveu para acontecer não seja isso? Ou digamos, até, que você tenha escrito se aproximar japonesas, mas se nenhuma delas, por opção sua anterior à encarnação, não ligar para você? O que acontece? Sofre.

Então, veja, não se apegue ao que você está vivendo, mesmo que seja aquilo que o ego lhe diz hoje como plenamente real, pois amanhã poderá não ser. Liberte-se da vivência do que o ego lhe diz e só assim poderá ser realmente feliz, independente dos acontecimentos e da razão que o ego impõe.

Não queria saber o porque do ego lhe dizer isso ou aquilo, pois tudo o que ele lhe diz tem só um fundamento: criar uma realidade, Neste caso ele está criando um desejo por japonesas para ver se você vivencia este desejo positivamente (querendo), negativamente (não querendo), ou simplesmente dizendo: ‘eu desejo e daí? Se acontecer aconteceu, mas senão acontecer, não aconteceu’.

Respondida à pergunta, vamos voltar a nossa conversa. Eu falei que existe um fundamento terrestre, ou fundamento do ‘banco de dados’ que vocês chamam Terra e que é o determinante da elevação espiritual de cada um.

Este fundamento é o individualismo . É o ‘eu’: ser, estar, querer para mim. Todo espírito encarnado no planeta Terra, ou seja, ligado a um ego terrestre, é por essência, individualista. Todo ego formado para vivenciar a vida carnal é essencialmente individualista, mesmo aqueles que dizem suplantar o ‘eu’, pois ao dizer que ‘eu suplantei o eu ‘, não suplantou nada, pois está preso à razão que lhe diz que suplantou.

Isto precisa ficar bem claro para aquele que pretendem realizar a libertação do ego.

Você pode ir se libertando, por exemplo, dos carmas ou das realidades de uma sociedade, mas enquanto não entender que a realidade societária nacional, de raças ou povos e tudo o que você vive é formado a partir de um individualismo não vence nada.

Não adianta querer ou imaginar que se libertou do doutor que ‘está’ enquanto ainda for o personagem que está vivenciando. Isto porque o individualismo que fundamenta todos os comandos do ego gerará outras programações onde ele estará sempre sendo a base das realidades.

Desta forma, afirmo que é preciso lutar contra as realidades que uma nacionalidade traz, mas acima disso é preciso lutar contra o ‘eu’ que é nacionalista.

Sendo assim pergunto: o que é esse ‘eu’ ou esse individualismo que estou falando? Ele é representado por todas as suas crenças, ou seja, ele é o formador e o organizador de toda programação do seu ego. Tudo que você vivencia enquanto subordinado ao ego é formado a partir deste ‘eu’, deste individualismo.

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Por isso, tudo que você imaginar, ou tiver acesso pela razão ou pela emoção, liberte-se. Não adianta querer libertar-se apenas daquilo que acredita que deve se libertar, porque esta realidade ilusória que quer manter, ainda foi fomentada pelo ‘eu’, pelo individualismo, pelo que você acha das coisas.

Não adianta querer trabalhar determinados aspectos do seu ego, sem entender que a origem destes aspectos está no individualismo, porque se não vira hipócrita: continua preso no ‘eu’ dizendo que está livre do ‘eu’.

Então, veja, se nós definimos cada grupo de verdades que você possui como determinado aspecto criador de realidades para a sua existência, para sua encarnação, agora deixamos bem claro que estes aspectos só existem porque você ainda está totalmente preso no ‘eu’, ainda é individualista.

Participante: Mas para seguir numa profissão é preciso se aperfeiçoar. Como fica, então, esta questão frente ao que o senhor está dizendo?

Se aperfeiçoar em que? Em conhecimentos teóricos? Para que? Para trabalhar melhor? Mas, você não age, não trabalha... A ilusão que vivencia e entende como trabalhar, a realidade de que age, opera materialmente, foi criada pelo ego: ela não existe.

Uma professora, por exemplo, não leciona, pois lecionar, dar aulas, é ilusão criada pelo ego. Sendo assim, o desejo de ser uma melhor professora acaba.

Veja bem. Você não é uma profissional, está uma profissional como instrumento de criação de realidades para que se liberte de viver esta ilusão como real.

Sendo assim, não importa o quanto queira se atualizar, isto só ocorrerá, ou seja, você só vivenciará a realidade de estar se atualizando, na hora que estiver programado que isto aconteça.

Esta programação, no entanto, é feita antes da encarnação, não agora. Portanto, se tiver que vivenciar o ‘se atualizar’, isto não acontecerá por decisão atual, mas como realidade criada antes da encarnação.

Portanto, não se preocupe com o externo, não olhe para fora: olhe para dentro. Veja como você está vivenciando a necessidade de se atualizar, de se profissionalizar. Veja como está lidando com o ato de se aperfeiçoar ou não, com o ato de trabalhar ou não.

É para isso que você nasceu, não para realizar atos.

Participante: O espírito pode desencarnar e ficar preso ao ‘eu’ (ego) e permanecer assim no plano espiritual e, depois, reencarnar preso a este ‘eu’?

O espírito pode desligar-se da carne e permanecer ligado ao ego, ao ‘eu’, mas, neste caso, ele não desencarnou, pois desencarnar não é desligar-se da carne e sim do ego. Isto é uma realidade muito comum.

Agora, ele jamais poderá assumir um novo ego enquanto estiver vivenciando realidades criadas pelo anterior. O espírito não pode se ligar a uma nova personalidade enquanto estiver ligado a outra.

Ontem comentamos este caso e falamos que, quando o espírito não consegue retornar à sua consciência espiritual para preparar uma nova personalidade, existem mentores ou tutores nomeados pelo espírito quando ainda de posse da sua consciência espiritual para preparar esta nova ‘vida’. Este é o procedimento espiritual para esta reencarnação que você perguntou.

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Desta forma, uma personalidade é ‘apagada’ e a outra, simultaneamente, é ligada. Isto acontece porque o espírito não pode ter o mesmo ego (personalidade) em duas encarnações.

Participante: Alguns livros espíritas falam de espíritos que foram médicos na Terra, continuam sendo médicos no plano espiritual e, quando encarnam, voltam a ser médicos. Neste caso, eles continuam presos aos egos? Não passaram nas provas? São outras provas ou são mistificações espíritas?

Ainda estão ligados a este determinado aspecto da programação como elemento construtivo de realidades ligadas a uma determinada essência. Ou seja, estes espíritos, ou alguém por eles, escolheram novamente a ilusão de ser médico para vivenciarem uma essência que pretendem combater durante a encarnação.

Não estão presos ao ‘eu’ anterior, mas continuam vivenciando a ilusão de serem médicos até que em determinado momento deixarão de sê-lo.

Participante: Quando o espírito se liberta do mundo de provas e expiações.

Quando acabar com o individualismo. Se o ‘eu’ ou individualismo é à base do mundo de provas e expiações, só quando o espírito acabar com ele poderá encarnar com um novo sentido, com uma nova batalha.

Participante: Acredito que nós não nascemos para praticar atos, mas vivenciá-los sendo espírito, como o senhor ensina, mas aqui no planeta é preciso praticar atos.

Você não nasceu para praticar atos, até porque pela explicação que dei ontem os atos não existem, mas sim uma ilusão de ação.

Você nasceu para compreender esta realidade do universo. Aliás, nem para isso, mas sim para colocar em prática esta compreensão, ou seja, a consciência de que você não age. Porque aprender, já aprendeu no plano espiritual.

Lembra-se que falei que os espíritos estudam observando os que estão encarnados, ligados ao ego? Então, você já sabe o que é se ligar ao ego e agir a partir dele, ou seja, ter a ilusão da ação. Só depois de tanto ver isso acontecendo e conscientizar-se da ilusão da ‘vida’ é que você cria um ego com o objetivo de libertar-se das ilusões que vive e faz isso conscientemente.

Esta é a realidade. Agora, quando você diz que é preciso praticar atos, eu digo que não. Isto porque a vida material não existe. Ela é uma série de realidades ilusórias criadas pelo ego.

Sendo assim, não precisa, por exemplo, haver o ato de um médico cuidando de um corpo, pois não existe o remédio, a mão do médico e o próprio corpo. A ‘cura’, se houver, não acontecerá por causa da ação destes elementos, mas por uma pré-programação.

Todos os elementos materiais são formados de fluído cósmico universal e suas ações são controladas por Deus e não por você, por qualquer outro espírito ou pelas propriedades dos elementos.

NOTA: Aqui citamos duas informações de O Livro dos Espíritos que falam exatamente da ação dos elementos materiais controlada pela Causa Primária de todas as coisas.

“007. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas? Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária”.

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“Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa” – comentário de Kardec à resposta 007.

“009 – Em que é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas inteligências? Tendes um provérbio que diz: pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater”!

“Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à Humanidade. Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe dêem” – comentário de Kardec à resposta 009.

Apesar destas afirmações tão contundentes, como diz o Espírito da Verdade, o homem orgulhoso nada acredita haver acima dele, mesmo que tenha tido acesso a estes ensinamentos. Deturpa-os para continuar mantendo o ilusório poder de se sentir a ‘raça forte do planeta’.

Quando este ilusório poder é contestado através da Natureza (acontecimentos da vida) o homem acusa o próximo ou credita ao acaso, sorte ou azar a origem dos acontecimentos sem, no entanto, jamais dar a Deus a função de Causa Primária de todas as coisas. Para estes mais um recado do Espírito da Verdade e de Allan Kardec:

“008. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso? Outro absurdo! Que homem de bom senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso?Nada”.

“A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso”.

Se você não tem que ‘agir’ durante a vida, o que tem que fazer? Libertar-se da ilusão da ação e dos valores que são aplicados a ela no seu mundo interno pelo ego. Ou seja, se médico, deixar o médico agir e lutar para não se ‘sentir médico’ e nem acreditar na cura ou na doença.

Participante: Voltando ao assunto da profissionalização, a gente fica insegura com o seu ensinamento para viver a ‘vida’.

Você não fica insegura, quem criou esta sensação foi o ego. Pare de se sentir insegura, pois você nasceu para vencer esta emoção racional que o seu criador de realidades levou à sua consciência.

É isso que estou dizendo o tempo inteiro. Volto a repetir: este ensinamento se aplica à tudo da sua vida, à tudo que compreender racionalmente e sentir emocionalmente. Nada disso existe, são realidades ilusórias criadas pelo ego para que você vença a tentação de vivenciá-las.

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A insegurança que você falou que sente com relação ao seu futuro se colocar em prática o ensinamento não existe: é maya. O ego a está criando e você está vivendo o que o ego cria, dizendo que é seu.

Participante: a partir destes ensinamentos, qual a diferença entre o veneno e o remédio, se tudo é fluído cósmico universal?

Nenhuma. A programação que está no ego é que faz surtir uma determinada realidade ou ilusão.

NOTA: Mais uma vez reforçamos o ensinamento da espiritualidade com informações anteriores repassadas pelo Espírito da Verdade através de O Livro dos Espíritos.

“0031. De onde se originam as diversas propriedades da matéria? São modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias”.

“0032. De acordo com o que vindes de dizer, os sabores, os odores, as cores, o som, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos não passam de modificações de uma única substância primitiva? Sem dúvida e que só existem devido à disposição dos órgãos destinados a percebê-las ” (grifo nosso).

“0033. A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades? Sim e é isso o que se deve entender, quando dizemos que tudo está em tudo ” (grifo do original).

Apesar de, aparentemente, o ensinamento agora trazido pela espiritualidade parecer novo, pelas respostas do Espírito da Verdade podemos constatar que se trata, apenas, de aprofundamento de um ensinamento anterior que agora, com novos conhecimentos científicos, pode ser entendido.

Que estes ensinamentos eram verdadeiros e que um dia seriam complementado Kardec sabia e por isso afirmou:

“O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que consideramos simples são meras modificações de uma substância primitiva. Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não ser pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros elementos e podemos, sem maiores conseqüências, tê-los como tais, até nova ordem” – comentários à resposta 33.

Apesar da compreensão sobre o tem ser, portanto, velha e fazer parte de doutrinas religiosas, o homem não consegue aceitá-la como Real e ainda se choca quando a Verdade lhes é exposta. Por que? Porque não coloca em prática outro ensinamento do próprio Kardec ao comentar uma resposta do Espírito da Verdade:

“Quanto mais consegue o homem penetrar nesses mistérios, tanto maior admiração lhe devem causar o poder e a sabedoria do Criador. Entretanto, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência o faz joguete da ilusão. Ele amontoa sistemas sobre sistemas e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho”.

Como o homem não se admira do poder e da sabedoria do Criador ao vivenciar os acontecimentos da vida, mas liga-se apenas à ciência, se choca com tudo aquilo que é revelado e que está acima dos limites científicos. Mas, para aqueles que, mesmo depois

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de tantas constatações ainda estão incrédulos com este ensinamento, outro recado do Espírito da Verdade e de Allan Kardec:

“0020. É dado ao homem receber, sem ser por meio das investigações da Ciência, comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos? Sim, se o julgar conveniente, Deus pode revelar o que à ciência não é dado apreender”.

“Por essas comunicações é que o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro”.

Se o ego está programado para a fusão de fluído cósmico percebido como elemento químico com a daquele que é percebido como corpo para criar uma ilusória ação de ‘cura’ ele agirá assim, mas, se não estiver criará a ilusão da doença e até da morte.

É por isso que Kardec ensina e a ciência comprova que existem elementos que ao mesmo tempo curam ou podem matar. Isto porque a ‘ação’ não depende do elemento, mas sim das programações do ego, das criações de realidades por parte do ego.

Vê como algumas coisas do mundo material que são incompreensíveis para vocês agora passam a fazer sentido? Quando nos libertamos da ilusão da ação e retiramos do elemento material a causa primária das coisas, entendemos que tudo que acontece é uma realidade ilusória criada pelo ego. Podemos, assim, entender porque no mundo, às vezes, dois mais dois não dá quatro.

Participante: O senhor falou a pouco que o planeta Terra é um banco de dados que é igual a todos os habitantes do mundo de provas e expiações. Porque então o mesmo programa de veneno mata uns e não provoca essa ação a outros?

Porque não é o veneno que mata, mas a programação do ego.

O ego cria a ‘morte’, não é o veneno que mata. O ego cria a ilusão de ação ‘morte’ e você, que está preso à ilusão da vida como realidade, diz que foi o veneno que matou mas, quem matou e criou a realidade ilusória de morte, foi o ego.

Participante: O veneno no caso seria...

Um programa agindo em cima de outro programa.

Participante: Seria uma desculpa para o desencarne do espírito.

Seria uma desculpa para criar a realidade ilusória do desencarne do espírito. Não seria para fazer o desencarne, mas para criar a ilusão de que ele desencarnou.

Veja se o que está acontecendo com minhas respostas não é aquilo que conversamos anteriormente: viramos a sua ‘vida’ ao avesso, ou seja, a partir de hoje, se aplicado o ensinamento, tudo tem que ser diferente, vivenciado de forma diferente.

E, esta nova compreensão que estamos falando, pode ser muito melhor entendida depois desta série de perguntas. Com ela entendemos que deve acabar a preocupação de se especializar ou a angústia de se buscar a elevação espiritual. Mas, isso precisa ser trabalhado incansavelmente, pois, mesmo tendo acabado de dizer que tudo que sentem é o ego que cria, as pessoas ainda me dizem que ficam angustiadas em não agir.

Como eu disse, todo este ensinamento é muito profundo e mexe em tudo que você vivencia.

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Participante: Estou às voltas com um ratinho em minha casa e não estou com vontade matá-lo. Descobri que ele estava comendo a ração dos meus cachorros, ou seja, seria este o motivo para ele nos visitar todas as noites. Então, tirei a ração daquele lugar. Pergunto: isso provocará a ida definitiva deste bicho para o mato que é onde eu acho que ele mora?

Essa ação de ‘ver’ o rato, dele ‘estar’ na sua casa, de estar ‘comendo’ qualquer coisa e de você imaginar que o rato está na sua casa porque tem comida, é tudo ilusão, é criação do seu ego.

O seu ego ‘criou’ o rato e a ilusão de ele estar lá porque tem comida ao seu alcance, mas nada disso é real. E será o seu ego que criará a realidade do rato ir embora ou não e não ação dele.

Participante: Mas eu não sei fazer isso.

Vou explicar como fazer e para tanto entrarei em um novo assunto, em um novo aspecto de nosso estudo.

Ontem eu disse que o ego não poderia ficar somente ligado no mundo interno, ou seja, criar realidades racionais. Seria preciso que no mundo externo houvesse uma movimentação com a participação de outras formas para criar uma ilusão de ação para que o ego criasse uma razão

Aí me perguntaram: mas como ele faz isso? Eu disse que o ego agiria chamando, no universo, outros espíritos com egos programados para serem instrumentos de ações ilusórias com as quais ele precisa interagir. E aí, pela lei da interação, um se juntaria frente ao outro.

A partir daí, podemos entender que o fato do rato estar na sua casa, ou seja, o fato da criação da ilusão de que há um rato se origina num pedido feito pelo seu ego para que o espírito ligado a um ego de rato estivesse lá.

Participante: Esse pedido foi feito quando?

Não há tempo, não existe o tempo, então, não há como mensurar.

Participante: Pergunto se foi uma programação antes da encarnação ou depois dela...

Pode ter sido antes ou agora.

Participante: E onde fica o livro da vida, a pré-programação nisso que o senhor falou agora?

Ficaria no que sempre ficou. Antes de encarnar você pediu determinada essência de prova. Ela terá que acontece. Agora, se o instrumento que agirá para a criação desta essência de prova é ilusoriamente percebido como uma girafa ou um rato, isso é outro detalhe. O que preside a criação da ilusão da ação não é a cena, mas a essência dela.

Voltando à explicação da presença ou não do rato, no momento que estava falando da interação entre os elementos me perguntaram também: mas, como o espírito pede ao mundo, ao universo e como ele sabe que ela precisa e encaminha? Para responder isso, eu vou entrar em novo aspecto de nosso estudo.

Lá atrás definimos o ego como um programa de computador, ou seja, como pré-programações que reagirão de determinada forma a um comando. Eu disse assim: o ego é como um programa de computador que faz, ao você apertar a tecla ‘a’, aparecer o desenho deste símbolo no visor.

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Mas, para que isso aconteça, é necessário que alguém aperte a tecla. Ou seja, dentro desta nossa figura, o Universo é o computador, cada ego é um programa que roda dentro dele, mas é necessário haver um operador que faça os programas interagir criando as realidades ilusórias ou virtuais.

Pois bem, este programador é Deus. É Ele que ativa a criação das ilusões das realidades ilusórias de acordo com o programa de cada ego.

Portanto, dentro da pergunta que me foi feita (como o ego conclamou ao universo a presença do rato e como ele apareceu) respondo, agora, que Deus ativou determinadas ordenações do programa deste ser humano e do rato, fundindo, assim as realidades ilusórias que cada um (você e o rato) vive numa só.

O rato, então, não está na sua casa porque não tem o que comer , mas sim porque Deus ativou determinada ordenação no ego dele e esta realidade se criou. Isto porque aquilo que é realmente o ‘rato’ (espírito) não está aqui nem acolá, mas está no único ‘lugar’ que existe: o Universo.

Da mesma forma, o rato não irá embora por livre e espontânea vontade, mas porque Deus comandará através de determinada ordenação do programa para acabar com esta ilusão, com este ato ilusório.

Se isto se aplica ao rato, aplica-se também a você. Será Deus que a fará deixar de ‘perceber’ o rato e, então, o ego lhe dirá que ele foi embora e você, que vive aprisionada ao que o ego diz, acreditará nisso.

Esta é a Realidade e o ensinamento máximo trazido pelo espírito da Verdade: Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Isto porque quando falamos que cada espírito ligado a um ego tem uma programação individual e que elas se interagem, não podemos nos esquecer que precisa haver o Operador que conecta todos os programas de forma que a Justiça e o Amor sempre imperem no Universo.

Um Conector que faça o ego que precisa viver a ilusão de ser agredido interagir, numa ilusória realidade, com aquele que tem o ego que está programado para agredir. Somente Deus pode ser este Conector, pois é a Inteligência Suprema, ou seja, a capacidade suprema de compreender as coisas, e porque Ele é Onipresente, Onisciente e Onipotente.

Isto é Deus: A Inteligência Suprema, que julga com a Justiça Perfeita e o Amor Sublime e que possui a Onipresença, Onisciência e a Onipotência. Por isso Ele é Causa Primária de todas as coisas.

Mas para exercê-la, Deus não precisa trazer um espírito de lá até aqui, ou levá-lo daqui para lá, como vocês acreditam por estarem aprisionados à ilusão da ação como real. Saibam, que o espírito não se mexe, não se movimenta: vivencia ilusões de movimentação.

O espírito está ‘parado’ no mesmo lugar sempre, já que o tempo e o espaço são elementos do ego e não do mundo espiritual. Ali parado, ele vivencia, em conjunto com outros espíritos ligados a egos, as viagens, os passeios e toda movimentação que faz.

Tudo ‘realidade virtual’: ilusões de movimentações vivenciadas sem sair do lugar. Vou criar uma figura apenas para vocês poderem compreender o que estou falando. O espírito está ‘sentado’ em uma cadeira na frente do computador utilizando uma máscara (ego) que o faz vivenciar uma realidade virtual de um ‘cenário’ da ‘vida humana’.

Sempre que ele se locomove nesta realidade virtual, não há movimentação do espírito, mas Deus é que aperta determinado botão e um novo cenário é criado. Você, portanto, não se locomove: toda movimentação é criação ilusória do seu ego.

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Volto a repetir para ficar bem claro: tudo que você acredita hoje é ilusão, são realidades pré-fabricadas por Deus, Causa Primária de todas as coisas, comandando o funcionamento do seu programa individual ou ego.

Você, que acredita na carne, no carro, no locomover-se, mas isso não existe: são realidades virtuais criadas por Deus utilizando os comandos do seu ego.

Sendo assim, para juntar duas pessoas Deus não traz ninguém de lá para aqui, mas, permanecendo o espírito em seu ‘lugar’ no Universo, Ele junta realidades virtuais, ou seja, faz cada programa interagir com o outro. Os egos estão interagindo, mas você, o espírito, está lá ‘sentadinho’ no seu canto assistindo a tudo isso.

Abismado? Incrédulo? Deixe-me dizer uma coisa: esse conhecimento é antigo para os seres humanos, principalmente para os espíritas.

No livro ‘Nosso Lar’, de André Luiz, este mentor ensina isso, de forma figurada. Ele narra que entrou numa enfermaria com milhares de macas, onde percebeu um espírito deitado em cada uma. Reparou, também, pelas ‘feições’ de cada um, que eles estavam vivenciando no seu inconsciente alguma coisa.

Aí André Luiz pergunta ao seu mentor: o que está acontecendo? O mentor responde: são os espíritos vivendo a vida deles .

Como eu disse, isto é uma figura, já que não existem macas ou enfermarias, mas serve para vocês compreenderem o que estou dizendo. Cada um dos espíritos aqui encarnados, é um daqueles que está deitado em uma maca, vivendo realidades no inconsciente espiritual, achando que está ‘consciente’.

E Deus opera tudo isso, cria todas essas visões inconscientes para o espírito e ele, que está inconsciente de ser espírito, vivencia como realidade.

É por isso que se diz que muitos dizem que o espírito está adormecido durante a encarnação. Isto é Real, mas não é o espírito que está adormecido, mas a ‘consciência espiritual’ desse, o formador de realidades espirituais do ser universal é que está adormecido.

O que está funcionando (‘acordado’) é o criador de realidades temporárias, vulgarmente conhecido como ego. E você, por não entender que é o espírito e que, portanto, está adormecido, acredita neste criador de realidades.

Com isso, encerramos a transmissão dos ensinamentos necessários para o conhecimento do ego.

Descobrimos como é ego, como ele é formado, que verdades são usadas para formá-los e entendemos, agora, como ele funciona, ou seja, como cada ego cria uma realidade a partir de um comando de Deus, a Causa Primária de todas as coisas. Dentro desse nosso estudo, amanhã vamos usar tudo isso e descobrir o que fazer para se libertar de toda ilusão que vivemos.

Participante: Esta semana estava em uma loja quando pratiquei o ato de enfiar a mão no bolso. A partir daí a vendedora ficou me vigiando. Eu tinha que vivenciar esse mal-estar de se sentir ladra por outra pessoa?

A compreensão de que você foi avaliada como ladra, não é real: foi seu ego que criou. Ela pode não ter existido por parte da vendedora, mas apenas como um mundo interno seu criado pelo seu ego.

Estou dizendo isso a partir de tudo que conversamos ontem e hoje. Aliás, aplicando-se estes ensinamentos, você e a vendedora não estavam na loja, já que a própria loja, os objetos que lá existem,

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você e ela não existem: são realidades ilusórias criadas pelos egos que interagem segundo uma virtualidade criada por Deus.

Esta compreensão foi criada por seu ego porque você pediu para que em determinado momento vivenciasse esta compreensão e Deus montou todo o ‘cena’ para que seu pedido fosse atendido.

Então, sim, era para você vivenciar isso. Para que? Para não viver isso.

Para dizer que você não é você, que não estava com a mão no bolso, que não estava vendo a loja, que a vendedora não existe e por isso não pode compreender nada. Ao invés de fazer tudo isso, para aproveitar este momento, deveria ter dito ‘louvado seja Deus’, ao invés de viver a chateação porque imagina que passou.

Ou seja, tudo foi criado para você não viver o acontecimento, mas sim a compreensão de que aquilo foi criado como um dos instrumentos de criação de realidades ilusórias, das quais você deve se libertar.

Será sobre isso que falaremos amanhã: como fazer para deixar de viver a realidade ilusória. A partir do momento que descobrimos o que era possível sobre a criação e o funcionamento do ego, agora é preciso saber como se libertar.

Participante: Se o espírito não está vivendo o acontecimento, onde afinal ele está?

O espírito está no único espaço que existe: o Universo.

Mas, o Universo não é o que você entende como tal: sóis, planetas, estrelas, etc. Por isso, ao responder desta forma não estou lhe respondendo verdadeiramente. Para ser preciso, tenho que dizer que o espírito está no nada.

Este nada, no entanto, não é um vazio, mas alguma coisa desprovida de qualquer elemento que você possa compreender. Ele é alguma coisa, mas aquilo que ele é, é incompreensível para você.

Participante: Estão corretos os indianos que dirigem sem se preocupar com os sinais de trânsito, uma vez que, se tiver que haver um acidente de trânsito, eles não poderão evitar. Esta forma de comportamento seria uma libertação do ego?

Não. Estão corretos os indianos que dirigem sem se preocupar com o sinal, mas também estão corretos os brasileiros ou o povo de qualquer outro país, que dirija se preocupando com o sinal. Isso porque o ato em si está sempre correto.

Observar o ato para julgar o que você quer (ser liberto do ego) é uma incompreensão dos ensinamentos, pois estou falando de libertar-se do mundo interior, das compreensões que o ego dá para cada um e não de atitudes.

Eu não posso julgar pelos atos porque não sei se esse indiano que não presta atenção no sinal ou se o brasileiro que presta estão vivenciando o ato achando que estão dirigindo. Achando que eles estão respeitando ou não o sinal. Volto a dizer, não é o que você faz, mas como se relaciona coma ilusória ação que o ego cria.

Como eu disse, cada região, cada povo tem um programa. No programa do indiano, para vencer determinadas coisas, está escrito que ele não respeitará sinal e no programa do brasileiro está escrito que ele respeitará. Por isso cada um age como age e não porque ele está fazendo ou deixando de fazer.

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Então, todos os dois estão corretos nos seus atos, pois seguem os seus programas. Agora, a forma como interagem é outra história. Tem indiano que interage com isso de uma forma liberta, assim como tem brasileiro que também faz isso.

O aproveitamento das oportunidades é individual, é de cada um. Não podemos julgar o resultado da libertação do ego por uma raça, ou seja, querer dizer que uma raça é superior à outra porque pratica determinados atos, porque não existem raças, mas provações coletivas para os espíritos.

Participante: No caso do livro ‘Nosso Lar’ que você falou, um desencarnado que está numa maca está vivendo uma ilusão, mas André Luiz vendo os espíritos na maca também não está vivendo uma ilusão?

Antes de lhe responder deixe contestar uma coisa que você disse. Na verdade, não é um desencarnado que está na maca, pois encarnado é aquele que está vivendo as ilusões criadas pelo ego como realidades.

O desencarnado estaria consciente de ser espírito: não estaria dormindo em uma maca. Portanto, são espíritos encarnados que estão dormindo na maca.

Respondendo agora sua pergunta, sim, André Luiz está usando um ego para poder ver tudo o que enxergou, inclusive o espírito. Digo isso porque nenhum ego humano é capaz de enxergar este elemento o Universo. Espírito é um brilho, um clarão, que não pode ser percebido por nenhum criador de realidades humanas.

Sendo assim, quando André Luiz vê o espírito, as faces destes e as macas, ainda está traduzindo o intraduzível para uma forma ilusória e isso denota que ele ainda estava ligado a um ego. Aliás, ele próprio se achar André Luiz já nos dizia que, naquele momento, ele ainda estava ligado a um ego: o ‘André Luiz’.

Por isso, quando citei o assunto, disse, que era só uma comparação para vocês poderem entender. Nunca afirmei que isso é a realidade. O espírito não está em nenhuma maca e nem em nenhum hospital, pois como disse agora a pouco, o espírito está no Universo e não em um determinado ‘lugar’.

Usei este exemplo só para você compreender o que eu quis dizer quando falei do caso daquela senhora com o rato. O espírito dela está, figuradamente, dormindo numa maca e o do rato em outra. Deus ativou os egos de cada um e criou, no inconsciente destes espíritos, estar na mesma casa, no mesmo ‘espaço físico’.

Se quiserem fazer mais perguntas...

Participante: Perguntar o que agora, se tudo é ilusão?

Para você compreender que tudo é ilusão.

Se você coloca, como estão colocando, acontecimentos e realizações materiais nas perguntas, mesmo que consideradas espirituais, dá a você mesmo a oportunidade de ouvir que aquilo é uma ilusão e, assim, vai alcançando o sentido abrangente de ilusão que estou afirmando existir.

Participante: Viver a ilusão não é problema, o problemático é se apegar a ela. Estou certo?

Não. Vivenciar a ilusão do ato não é problemático quanto à libertação do ego, mas, acreditar que está vivendo o ato é problema.

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Página 56 Ego – A personalidade humana do espírito

Vou dar um exemplo. Você come, ou seja, vivencia o ato de trazer o garfo com alimento até a boca. Isto não é problema. O problemático é acreditar que está se alimentando. Por quê? Porque o alimento não alimenta ninguém. Isto porque você não é o corpo e o alimento é para o corpo.

Aí está o problema: você achar que está vivendo aquele ato a partir das compreensões que o ego cria no seu mundo interno. O problema é você achar que, já que o ego lhe criou a realidade ilusória de um alimento entrar no seu corpo, acreditar que está se alimentando.

Acho que este exemplo deixa bem claro tudo o que disse. O problema não é segurar o volante de um carro e mexer para lá ou para cá, o problema é achar que está dirigindo.

Você acredita que está dirigindo porque o ego lhe afirma isso e, para confirmar, lhe mostra a sua mão mexendo o volante de um lado para o outro. Mas, quem está fazendo isso é Deus, ou seja, quem está dirigindo é o Pai e, tudo que você vê, lhe é criado pelo ego a partir da sua programação.

Aí está à diferença entre o que é ou não problemático. A diferença está em viver os atos, mas não vivenciá-los, não achar que é você que está fazendo. Aquele que alcança realmente a liberdade, ao estar vivendo a ilusão do ato, não vivencia aquilo que o ato diz que está vivendo.

Participante: É complicado...

É sim, é muito complicado. Por quê? Porque você ainda acha que você é você. Ainda acha que você é o ser humano, que é o fabricador de egos.

Por isso eu falei da raiz, do individualismo, o que se fundamenta no ‘eu’. Na hora que entender que não há um ‘eu’ para dirigir, deixará de viver o dirigir. Mas, enquanto achar que há um ‘eu motorista’ quererá ser aquele que dirige.

Só quando você anular o ‘eu’ poderá ver agindo.

Participante: A frase célebre ‘penso logo existo’, está equivocada? Deve estar incompleta, no mínimo.

Não, ela não está equivocada. Ela é humana. Para o ser humano, pensar é existir, mas para o espírito, pensar no sentido material não é viver. Aquilo que você chama de pensamento (formação de compreensões) sempre existirá, mas para o espírito eles possuem outros valores do que para os humanos.

Portanto, o problema não é pensar, mas como pensar: pense como espírito e viverá como espírito, pense como humano e viverá como tal.

Esta frase, como disse é humana. Mas, se a espiritualizarmos, ou seja, se usarmos a compreensão que estamos tendo a partir deste ensinamento, ela passaria a ter o seguinte texto: ‘eu existo como penso que sou ’ ou ‘eu existo como penso que penso’ .

Ou seja, se penso que sou humano existo como tal e o mundo existe como material; se penso como espírito, eu existo como tal e o mundo passa a ser espiritual.

Participante: O pensamento é dispensável?

Não. O pensamento não é dispensável. Ele é necessário, pois é o conhecimento racional que o ego lhe dá. Ele faz parte da criação da realidade.

Olhe para as paredes da sua casa. O seu pensamento lhe dirá que o que está percebendo é uma parede e que está pintada de tal cor. Isto é necessário para a evolução espiritual: a criação de uma

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realidade. Para que? Para que você possa exercer a sua espiritualidade e dizer que aquilo é uma ilusão na qual não acredita.

Portanto, o pensamento é necessário para que você se liberte, já que sem ele não existiria a criação da ilusão. Agora, ele não é necessário para o espírito apegar-se, mas sim para vencê-lo.

Participante: O que quero dizer é se o pensamento é dispensável ao espírito.

Não, porque sem ele não há prova. Ele é fundamental nessa fase de sua elevação espiritual.;

E não é dispensável, é necessário. Mas, não pode ser objeto de sua paixão, ou seja, você não pode se apaixonar por ele, acreditar nele.

Então ele não é dispensável, mas, também, é não confiável.

Participante: Quando desencarnar, como é? Deixo de pensar quando desligar do meu corpo?

Quando desligar do corpo não: só quando desligar do ego. Enquanto houver ego existirá pensamento.

Participante: E este processo vai até quando?

Até que você vença esta etapa e volte à consciência espiritual.

Participante: Isso ainda demorará muitas vidas...

Não, isso pode acontecer no final dessa encarnação.

Mesmo que você não consiga a liberdade total ao final desta encarnação, poderá voltar à espiritualidade de posse da sua consciência espiritual e não deste ego que usa hoje. Isto porque a sua consciência espiritual vai, ao passar por determinadas provas, se depurando.

Sendo assim, mesmo que você não se liberte- totalmente deste ego enquanto ligado à carne, mas tenha alguma consciência de que há um ego e que sua identidade espiritual é outra, que as realidades que está vivenciando são ilusórias e que há outra a ser vivida, poderá voltar à sua consciência espiritual depois do desligamento da massa física.

Aí poderá voltar a estudar, formar outro ego e encarnar novamente.

Participante: Os espíritas falam em fé raciocinada. Está coerente isso, então?

A fé raciocinada não é a fé de Cristo. Vou explicar esta afirmação.

No Evangelho do João há uma frase de Cristo diz. Ela é dita depois do episódio que é conhecido como Santa Ceia e momentos antes de ser preso. Sinto uma grande aflição, mas o que vou fazer. Dizer, Pai afasta de mim este cálice? Mas, eu nasci para isso. Pai glorifique seu nome em mim.

Repare bem nesta frase. Ela dita num momento onde a racionalidade de Cristo aponta para a aflição, ou seja quando o seu ego está criando uma realidade aflitiva. No entanto, o mestre reage a tal proposição com sua fé, ou seja, com a entrega total a Deus.

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Veja bem: a fé de Cristo é fundamentada numa entrega total e absoluta a Deus, mesmo acima do que você chama de racional, razão. A personalidade, o ego Jesus Cristo tinha uma ‘razão’, uma lógica racional como a sua, mas ele exerceu a fé superando a própria razão.

Quando se fala em exercer uma fé raciocinada, a compreensão que nos vem é de que devemos subordinar a entrega a Deus (fé) à razão, à lógica humana, material, do ser espiritual. Se ela fosse usada por Cristo ele oraria a Deus pedindo que o afastasse da crucificação assim como qualquer humano faria, pois, ninguém em sã consciência se entregaria a uma cruz, se deixaria levar preso sem reagir sendo inocente.

Esta mesma oração libertando dos perigos foi sugerida por um ser humanizado (Pedro) ao próprio Cristo em outro momento e o mestre lhe respondeu: cala a boca Satanás, você está falando igual a um ser humano. Isto porque a fé de Cristo sempre maior que qualquer razão lógica humana.

Portanto, a fé raciocinada não foi ensinada por Cristo e não pode existir para aqueles que querem aproximar-se de Deus, pois se trata da fé subordinada ao que o ego diz, enquanto que a elevação espiritual é exatamente ao contrário. Completamente incongruente este ensinamento.

Mas, deixe-me dizer algo. Não há, nos ensinamentos do Espírito da Verdade, o aconselhamento desta postura.

Estudamos com este grupo todo ‘O Livro dos Espíritos’ e não há nenhuma informação do Espírito da Verdade que tenha nos levado a encontrar uma orientação para se raciocinar a sua entrega a Deus. Portanto, isto foi criado pela ‘doutrina espírita’ e não pelos espíritos.

Mas, o que é a doutrina espírita, senão também um ‘banco de dados’ de onde são retirados comandos que criam realidades ilusórias como prova para o espírito? Ou seja, um ‘banco’ de comandos para o seu ego, o criador de determinadas realidades?

Então, a doutrina espírita não está ‘certa’ ou ‘errada’ ao ensinar a fé raciocinada, mas o religioso que vive o que esta ou qualquer outra doutrina prega como ‘certa’ é que não está realizando o seu trabalho de elevação espiritual: deixar de viver o que o ego lhe diz.

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Vencendo o ego

Hoje, vamos voltar a falar sobre o ego e, com isso, terminaremos esta série de palestras. Mas, antes, vamos resumir o que foi falado até agora.

No primeiro dia definimos o ego como o criador de realidades ilusórias à qual o espírito se liga para vivenciar o que é chamado de encarnação. Vimos, ainda, que estas ilusões são formadas pelo ego em dois mundos: o mundo externo, ou dos objetos e animações, e o mundo interno, que é aquele que interpreta (dá valores) o mundo externo.

No segundo dia conversamos sobre as bases para a formação de um ego. Vimos que ele é abastecido por comandos específicos que existem em diversos ‘banco de dados’ universais e que estes comandos criam a ilusão de se estar vivendo em determinadas sociedades e regiões do planeta. Compreendemos, ainda, que, apesar das múltiplas utilidades destes comandos, todos são fundamentados no individualismo.

Por último, descobrimos no segundo dia que quem opera, ou seja, quem faz o programa criar a realidade virtual que o espírito agregado ao ego vive é Deus. Ele é quem opera os egos.

Em resumo, foi isto que vimos até aqui. Hoje iremos conversar sobre como aproveitar a oportunidade de estar ligado a um ego. Claro que usaremos tudo que falamos nos dois dias anteriores, mas abordaremos estes aspectos não mais tecnicamente, mas buscaremos a prática da elevação espiritual usando os conhecimentos já adquiridos.

Para que isso seja possível, gostaria de deixar um alerta. Queria, se possível, que todos tivessem a atenção redobrada. Por quê? Porque até agora tudo que conversamos foi técnica, foi ciência espiritual.

Definir o ego, explicá-lo, conhecer o seu funcionamento, é ciência espiritual, cujo conhecimento não lhe leva a nada. Saber tudo isso não lhe leva a realização espiritual alguma.

Tudo que existe no universo é instrumento para que o espírito se use dele. A posse de qualquer elemento não resolve nada no sentido da elevação espiritual. É preciso que haja uma determinada ação do espírito fundamentada naquilo que se aprende para que a encarnação pode ser aproveitada.

Por isso, se possível, gostaria que a atenção hoje fosse redobrada para que, além de conhecermos o ego, possamos saber utilizar este conhecimento para o objetivo de ‘estar vivo’.

Sei que muitos acham que ‘estar vivo’ é apenas respirar, mas é muito mais do que isso. Estar vivo é estar ligado a um ego, ter uma determinada personalidade.

Mas, para que você está vivo? Para que se uniu a uma determinada personalidade? Estas são perguntas que o ser humanizado esquece de fazer a si mesmo e, por isso, ‘vive a vida’ de uma forma material (buscando realizações materiais) e não espiritual.

A cultura espírita do planeta afirma que cada ser humanizado está vivo para promover a sua ‘reforma íntima’. E afirma mais: a promoção da reforma íntima ocorre quando você mata o homem velho e deixa surgir o homem novo. Vamos entender estes dois aspectos.

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Reforma íntima: reforma do eu, do íntimo de cada um.

Quem é você no seu íntimo? Quem é você hoje no seu íntimo? Quem é o seu íntimo? O seu ego. Você é o ego porque, como já disse, você vivencia tudo que o ego diz como realidade. Desta forma afirmo: quem vive a vida é o ego e não você.

Reformar o íntimo é mudar o seu interior. Não se trata de mudar o ego, porque, como também já vimos, depois que o espírito programa o ‘criador de realidades’ ele não pode ser alterado. Reforma íntima, então, não se realiza alterando o ego, mudando valores, pois estes estão escritos no ego e continuarão sempre lá.

Reforma íntima é deixar de ser o ego. Reformar o seu interior é deixar de vivenciar o ego (as realidades, paixões e desejos) como você e voltar a ser o espírito que você é eternamente.

Na verdade quando se fala em matar o homem velho para nascer o novo, há um equívoco grande. Isto porque, neste processo, não nasce nem morre ninguém.

Na verdade, o homem velho (o ego) continua existindo até a libertação da matéria carnal, porque ele não acaba até à libertação, e não nascerá ninguém novo, pois você, o espírito, já existe desde sempre. O que acontecerá com a realização da reforma íntima é que o espírito ressurgirá, ou seja, você deixará de se auto reconhecer pela personalidade do ego e se reconhecerá a partir das suas verdades existentes na sua consciência espiritual.

Então, aí está o início do trabalho de hoje. Falaremos sobre reforma íntima, ou seja, falaremos como deixar de se ver como o ego e passar a viver a sua real identidade: a identidade espiritual.

Colocando os ensinamentos recebidos nos dois primeiros dias, ou seja, promovendo a reforma íntima, vocês voltarão às suas reais personalidades: as personalidades espirituais que vocês são.

É isso que conversaremos hoje.

Começando nossa conversa, então, podemos constatar que muito do que falamos estes dias é de conhecimento de religiosos. Os budistas, hindus e religiosos de outras seitas conhecem parte do que estudamos sobre o ego e o processo de reforma íntima através da ‘luta ’ contra o ego.

Exatamente neste conhecimento, ou seja, na consciência de que é preciso se ‘lutar’ contra o ego, estes ensinamentos começam a deixar de ser reais. Isto porque ninguém pode lutar contra o ego sem perder todas as batalhas.

Contra o ego não se luta: se liberta.

Este é o primeiro detalhe que quero abordar hoje. A reforma íntima não é um trabalho de ‘lutar’ contra alguma coisa, nem de mudança nenhuma. A reforma íntima é um trabalho de libertação.

O espírito precisa libertar-se do ego e não derrotá-lo. Libertar-se no sentido de não ser mais o ego, de não ter o seu mundo externo criado pelo ego.

Quando me refiro a não ter o seu mundo externo criado pelo ego, não falo no sentido de acabar com as criações do ego para o mundo externo (os objetos e ilusões de ações), mas, e aí vem a grande ação da reforma íntima, em não acreditar nas compreensões que formam o mundo interno que o ego cria a partir do mundo externo.

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Esse é a reforma do interior. O homem velho é aquele que acredita e vivencia aquilo que o ego cria como realidade, como verdade. O espírito que consegue aproveitar a encarnação para reformar-se é aquele que não acredita no mundo interno que o ego cria.

Dentro do exemplo que já usei nesta série de palestras, quando o ego cria no mundo externo uma mão bater no rosto e no interno a agressão, a humilhação, o ser que promove a reforma íntima não acredita nestes valores (agressão, humilhação) e não vivencia este sofrimento.

Este ser ligado à matéria densa é bombardeado pelo ego da mesma forma que aquele que ainda continua humanizado, ou seja, tem consciência do mundo interno como o ego cria, mas não acredita naquilo que lhe é dito e vivencia, então, a vida, sem estes valores. Ele, como o outro, ‘vê’ a mão atingir o rosto, recebe a informação que foi ‘agredido’, mas não acredita nesta informação e, por isso, não se deixa levar pelo ‘sentir-se agredido’.

Concluindo, então, o primeiro aspecto da conversa de hoje, afirmo que reforma íntima, não é trabalho de construção, mas de libertação. Este trabalho realiza-se vivendo completamente atento ao mundo interno que o ego gera para não se deixar levar pelas verdades e emoções ilusórias que lhe são criadas como provas e expiações.

Nota: Este ensinamento (viver atento ao mundo interno) encontra-se no ‘Nobre Caminho Óctuplo’ ensinado por Sidarta Gautama, o Buda, como ‘Atenção Plena Correta’.

Esse é o primeiro aspecto de hoje. Como aproveitar esta vida no sentido da elevação espiritual? Vivendo isoladamente do seu ego. Ele foi criado por você para que se libertasse dele, ou seja, para que tivesse, como provação, uma consciência deturpada da Realidade e se libertasse dela.

Participante: Poderia dar um exemplo concreto para entendermos melhor como fazer isso?

Poderia dar um exemplo concreto de um ato. O ego lhe diz que recentemente você viajou à Uberlândia: não acredite nisso. Apesar de você ter recebido toda ilusão da movimentação, não acredite.

O ego também lhe diz a reunião da qual você participou naquela cidade estava muito bonita. Para realizar a reforma íntima, não acredite nisso.

Poderia, ainda, lhe dar um exemplo de coisas não movimentadas criadas pelo, ou seja, de definições sobre você e os outros. O ego lhe diz que você é homem e que sua namorada é mulher, que você é médium, geógrafo, escritor: não acredite nisso.

Como eu disse ontem, todas estas concepções sobre você e sobre os outros são detalhes do programa que você escolheu para realizar suas provas. Se o ego lhe diz que você é homem e que sua namorada é mulher, na verdade, está propondo determinadas provas aos dois.

Isto porque para você ser homem e ser namorado, existe padrões que precisam ser atendidos, que precisam existir para que tudo esteja ‘certo’. Quando você acredita no que o ego diz, nas concepções sobre você e os outros que ele cria, passa a vivenciar subordinado a estas condições. Por esta subordinação cada vez mais você vai se identificando como o ego com o qual está ligado e, em contrapartida, abandona a sua essência espiritual.

Quando você não credita que é homem, mesmo recebendo esta informação do ego, não se sujeita a estes padrões. Neste momento alcançou a liberdade.

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Quando você é homem, assume que é homem, não realiza nada. Isto porque todos os elementos da masculinidade são ilusões criadas pelo ego. Você como ser universal precisa, então, fazer o trabalho de espírito: libertar-se do ego que diz que você é homem.

Aí estão, portanto dois exemplos práticos do que falei até aqui: quer seja nas movimentações ou ilusões de ações que o ego cria, quer seja nas definições de caracteres sobre você e sobre o mundo que ele lhe faz, não acredite nele.

Voltando ao nosso estudo, concluímos que este é o trabalho da reforma íntima: você, bombardeado pelas informações do ego, não acreditar no que ele lhe diz, não vivenciar o que ele cria como realidade. Agora, como fazer isso?

A maioria não realiza o trabalho da reforma íntima porque diz que não sabe como fazê-lo, apesar de, pelo planeta, já haver passado diversos enviados de Deus que transmitiram os ensinamentos necessários para tanto. Falarei, então, com bastante calma os passos para se colocar em prática a libertação do ego.

Primeiro passo: ter a consciência de tudo que foi falado aqui nestes dias. Ou seja, conscientizar-se do que é o ego, da sua função, da criação do mundo externo e interno a partir dele, dos motivos pelos quais você representa determinados papéis na vida e que é Deus quem faz funcionar o programa do ego. Este é o primeiro passo.

Agora, reparem bem que falei em conscientizar-se e não em compreender os ensinamentos. Eu falei em ter consciência e não em entender como funcionam estes elementos universais.

O que vou falar agora é muito difícil de ser dito. Se não for muito bem compreendido pode lhe levar a abandonar tudo o que ouviu até aqui. Por favor, não me interprete mal.

As pessoas que dão palestras, que falam em público pretendendo ensinar alguma coisa, devem compreender melhor o que vou dizer agora, mas, mesmo quem nunca fez isso, pode entender o que vou dizer.

Quando um ser humanizado ‘ouve’ alguma coisa, tudo que for ouvido será raciocinado. Este raciocínio trata-se de um processo de comparação daquilo que é ouvido com elementos já existentes na memória, ou seja, com o que ele já sabe. Só a partir do raciocínio é que o ser humanizado ‘acredita’ ou não no que está ouvindo.

Mas o que será que determina o não acreditar? Quando não há lógica,não há razão, racionalidade. Ou seja, quando o que for dito não combinar com o que o ser humanizado já sabe. Se o que está sendo ouvido não combina com a lógica racional do ser humanizado ele, então, diz que não acredita.

Aí pergunto: de que adianta ouvir coisas novas se o parâmetro que será utilizado para julgá-las é a sua crença pré-existente, o que você já sabe? De que adianta buscar novidades se elas serão julgadas pelo que já existe na memória?

Aí está a diferença entre conscientizar-se do que conversamos nesses dias e tentar entender o que foi dito. Conscientizar-se é ter consciência, ter conhecimento, sem que necessariamente o que foi recebido como ensinamento tenha sido aceito racionalmente pelos parâmetros que você já possuía antes.

Volto a repetir: por favor, não me entendam mal. De nada adianta para você querer entender o que eu disse, pois isto lhe é impossível.

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Primeiro porque, como estudamos, todo som que você capta é interpretado pelo seu ego. Desta forma, existe uma diferença imensa entre o que eu falo e o que você ouve.

Segundo: se você for quer julgar o que eu sei a partir do que sabe, perde tempo me ouvindo. Isto porque eu não vim aqui dizer ‘amém’ à sua cultura, mas despertá-lo do ‘sono ilusório’ que está vivendo.

Portanto, o primeiro passo para a reforma íntima que declaro como fundamental para a elevação espiritual é ouvir o que está ouvindo e acreditar naquilo que foi dito, mesmo que não tenha entendido, compreendido.

Mas, não pense que estou falando isso apenas para os ensinamentos que estou passando nesta série de palestras. Esta premissa para a reforma íntima vale para qualquer ensinamento que você receba dos amigos espirituais através de qualquer segmento religioso.

Não importa a que segmento religioso você esteja ligado, porque mestre mais se simpatize: seus ensinamentos são para serem seguidos e não compreendidos ou questionados.

Se Cristo ensina que o ser humanizado deve amealhar bens no céu, de nada se adianta perguntar por que, é preciso começar a abrir mão dos prazeres mundanos. Se Buda diz que é preciso desapegar-se de suas paixões, de nada adianta questionar de qual delas é preciso libertar-se: é preciso desapegar-se de todas. Se Krishna afirma que a equanimidade é o caminhar que leva a Deus, de nada adianta se indagar para que: é preciso libertar-se das emoções.

No entanto, o ser humanizado continua caminhando sobre o planeta sempre perguntando por que, como, quando, onde e para que. Na verdade quem faz isso é o ego, comandado por Deus, para testá-lo. Para ver se você se prende àquilo que o ego lhe diz o ‘endeusa’.

Quem precisa primeiro compreender, entender, aceitar, para só depois colocar em prática o ensinamento do mestre, mentor ou guru ao qual se liga são como os judeus que idolatravam o ‘bezerro de ouro’ quando do retorno de Moisés depois de receber as tábuas das leis.

Fé, confiança, entrega: é disso que estou falando aqui. Sem confiança absoluta e irrestrita que leve a uma entrega absoluta ao ensinamento de um mestre, mentor ou guru que o espírito humanizado siga nada pode ser conseguido.

Quando o ensinamento só é colocado em prática depois que passa pelo ‘crivo da sua razão’, ou seja, só depois que ele foi analisado e julgado como ‘correto’, a confiança não está em quem ensinou, mas no ego. Quem precisa primeiro avaliar e analisar para, só depois de concordar, realizar, está entregando-se ao ego e não a Deus.

Nenhum espírito vem ao mundo ilusório da vida carnal para brincar, dominar ou criar um movimento para seu próprio prazer. Todo espírito vem ao planeta para o trabalho espiritual de trazer informações necessárias para a elevação espiritual, para ajudar os encarnados a realizarem suas provações. Aí os seres humanizados ficam julgando o que é ensinado a partir de sua restrita visão da Realidade.

Como eu disse não me entendam mal. Não estou querendo ser presunçoso, mas ensinar o caminho que leva à realização da reforma íntima. Sem a confiança em mim ou em qualquer mentor ao qual se ligue, sem a entrega àquilo que é ensinado e a partir destes dois aspectos, aceitar, crer no que é dito sem que seja preciso gerar uma razão, uma racionalidade, uma lógica racional, vocês não fazem nada, não realizam reforma íntima alguma.

É por isso que, carmaticamente, tem muito espírito vivendo a vida ilusória ‘pulando de galho em galho’, ou seja, mudando constantemente de religião ou orientação espiritual.

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Sempre que o que é dito ou acontece dentro de determinado templo e que desagrada às verdades do ego do ser humanizado, este procura outra que mais se adapte ao que ele ‘acha’ das coisas. Diz que está procurando Deus, mas na verdade busca encontrar um lugar onde os ensinamentos combinem com aquilo que ele ‘sabe’.

Este, portanto, é o primeiro aspecto que deve ser levado em consideração por aquele que quer realizar a reforma íntima. E é um dos mais importantes, pois é por esse aspecto que a maioria não consegue. Isto porque quer entender, criar uma cultura para si, quando elevação espiritual não é cultura, mas amor e fé como já ensinou o apóstolo Paulo.

Se você tem fé em meu ensinamento, então o ponto de partida para a sua elevação espiritual é reler tudo o que falamos e atentar a cada ensinamento para poder colocá-lo em prática. Não estou falando em reler para compreender, mas sim ler e acreditando que aquilo que foi falado é Real, mesmo que não tenha compreendido.

Se você não confia em mim, então o seu ponto de partida é abandonar tudo o que disse e buscar os ensinamentos nos quais tem confiança e executá-los, sem questionamentos. Não importa a doutrina religiosa que você siga é isto que precisa ser feito, pois, como ensinou Cristo, há muitas moradas na casa de meu Pai.

Pratique o que já sabe, coloque como base da sua vida o ensinamento que recebeu de quem confia, pois não importa qual seja, se você colocá-lo em prática, chegará a Deus.

Desculpem, volto a repetir, não me entendam mal. Não achem que estou querendo formar seguidores que sejam cegos. Até se fosse isso seria bom, pois Cristo disse que o cego é quem vê espiritualmente enquanto que o que quer enxergar é cego.

Aqui no grupo tem pessoas que me conhecem e sabem que nunca liguei se havia ou não uma grande platéia. Já fiz, inclusive, palestras neste grupo incitando pessoas a não vir mais aqui, pois elas já tinham recebido todo ensinamento necessário para a sua obra.

Apesar disso, tenho que insistir neste ponto, pois esta fé ou confiança mútua entre você e quem segue precisa existir. Se você não confia no que eu ou qualquer outro diz, mas só no que entende, para que ouvir?

Agora quanto àquilo que conversamos nestes, tudo que dissemos está nos ensinamentos de Krishna, Buda, Cristo, Lao-Tsé, do Espírito da Verdade e do Anjo Gabriel através de Maomé. Sendo assim, não estou dizendo nada de meu, mas reproduzindo o que os mestres disseram.

Estes ensinamentos podem não fazer parte das doutrinas religiosas, mas não contrariam uma linha que tenha sido ensinada pelos mestres. É por isso que digo que podem confiar no que estou falando, mesmo que não compreendam ou que a doutrina religiosa criada sobre as transmissões de determinado mestre não expliquem desse jeito. Afinal de contas o que é uma doutrina religiosa senão uma realidade virtual?

Mais uma vez peço desculpas, mas isto precisava ser falado um dia.

Durante todo o ‘mundo de regeneração’ espíritos mensageiros do Senhor vieram à esta vida ilusória, ligados à egos humanos ou desencarnados para ensinar a promover a reforma íntima, mas as pessoas continuam afirmando: ‘eu não sei fazer...’

Por que não sabe? Porque quer compreender o que é incompreensível para um ser humanizado ou quer escolher o que realizar e o que não realizar dos ensinamentos.

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Este, portanto, é o primeiro aspecto para quem quer realizar a reforma íntima. Existem outros, mas este é o primeiro, o primordial.

Conscientizar-se de todos os ensinamentos que recebeu até hoje sem procurar entendê-los, sem questioná-los, é o ponto de partida de qualquer ser humanizado que queira realmente promover a sua reforma íntima. É preciso ‘trabalhar’ as informações no sentido do caminhar para Deus que fazem parte do seu ego como verdades e não querer mudá-las, alterá-las ou usar delas o que lhe interessa e esquecer o que não interessa.

Volto a repetir não me levem a mal. Não é desabafo, briga ou busca de dominação, mas simplesmente uma orientação de um preto velho.

Participante: Estranho este seu comentário...

Não é estranho: é a seriedade do momento que o exige.

A época que vivenciam os espíritos que estão ‘encarnados’ na vida ilusória do planeta Terra pede que sejamos totalmente francos. O momento presente pede esta informação.

Já não há mais condições de ficarmos presos ao culto aos mestres, mentores ou gurus vivenciando apenas a compreensão que cada um cria de seus ensinamentos a partir do que quer entender, da forma que quer compreender e na hora que ‘interessa’ saber. É preciso, além de cultuá-los, praticar o que eles praticaram quando ligados a egos.

Além do mais, comentamos aqui que não é você que está compreendendo nada, mas sim o ego. É ele que está interpretando e usando a compreensão do jeito que ‘quer’, ou melhor, do jeito que precisa fazer para criar ilusões. Falamos também que você precisa se libertar do ego e, se isso é verdade, é preciso ser claro em dizer que você não deve buscar compreender nada.

Então não é estranho o que disse: é decorrência natural do próprio estudo. Porque estudamos que tudo que lhe vem à mente, todo processo de raciocínio através de idéias, imagens, é fruto do ego.

Então, o que foi dito agora, é simplesmente decorrência natural de tudo que conversamos nestes dois dias.

Participante: Eu não compreendi uma coisa. Nós não devemos acreditar no que o ego me diz a não ser neste conhecimento que estamos tendo através do senhor. É isso?

Não. Você não deve acreditar em nada e isso inclui o que está compreendendo de tudo o que eu falei.

Participante: Mas você acabou de abordar a questão da confiança, do crer sem compreender...

O que falei nestes três dias, em resumo, foi: tudo que vem à sua consciência é fruto da criação do seu ego. Isto é Verdade e não porque eu falei, mas porque os mestres ensinaram assim.

A partir da conscientização desta Verdade que é universal, pois foi ensinada por todos os mestres, gera-se a necessidade de se libertar de tudo, inclusive das compreensões que foi formando ao longo destes dias.

Vou repetir para ficar bem claro que não estou querendo ser o ‘certo’, o único que conhece a Verdade. Você precisa se conscientizar de tudo o que falamos. E, o que falamos? Que toda compreensão que lhe vem à mente é fruto do ego. Então, liberte-se de toda compreensão e não apenas de parte dela,.

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Aliás não é a primeira vez que digo isso. Já conversamos anteriormente sobre este assunto e você, tanto daquela vez como desta, está recebendo do seu ego um raciocínio que afirma que estou querendo dizer que você deve acreditar no que eu digo e em mais ninguém. Mas não é isso.

O que quero é que acredite que deve desacreditar de tudo, inclusive do que eu ensino. Quando você se conscientizar de tudo o que foi dito ontem, anteontem e hoje não sobrará nada para você acreditar, nem o que foi dito nestes dias.

É isso que falei agora. É preciso você se conscientizar de que não há nada a se apegar. Não há um fio de cabelo em que possa acreditar piamente nele.

Os mestres foram categóricos: no mundo material não há uma única corda na qual o ser humanizado possa se segurar. Nem os ensinamentos podem servir de corda para você se apoiar, pois um dia eles também terão que ser suplantados;.

A conscientização de tudo o que foi dito nestes três dias leva a isso.

No entanto, este não crer não pode se transformar numa crença para você, ou seja, tem que acreditar que não deve crer em nada. Isto porque se quiser entender que tem que não acreditar, não entende nada, e, ao viver assim, não consegue fazer.

Então veja, a única coisa que ensino (e como já disse não estou inventando nada, mas reproduzindo o que os mestres ensinaram), é não acredite nada. Nem em mim.

Participante: Conscientizar-se é saber que é assim, sem procurar saber como funciona, já que não temos parâmetros para entender o processo de funcionamento?

Exatamente. Saber que você não saberá como se libertar: esta é a única coisa que deve lhe ficar claro.

Saber que não saberá como funciona o libertar-se, mas saber que tudo que você acredita é fruto do ego.

Participante: Hoje o ego falou alto e claro. Eu assisto, mas fico pisando lá e cá. Observo o que acontece como alguém vendo um filme, mas é depois de sentir ou quando estou sentindo. Ontem e hoje foram dias muito movimentados nesse sentido.

Boa pergunta e isso vai ilustrar ainda mais o que falei acima: você não pode acreditar que precisa nada compreender.

Veja, você já consegue em determinados momentos compreender que é o ego falando e em outro não. Isto é muito bom, mas não exija mais, ou seja, não queira conseguir sempre.

Se não conseguiu não conseguiu: ponto final. Viva naturalmente sem esforços imensos, obsessões, pois como Cristo ensinou, venha para mim que o meu jugo é leve.

Tornando a busca da elevação espiritual numa obsessão (tenho que conseguir) nada conseguirá. Estará apenas trocando uma verdade ilusória (tenho que rezar, por exemplo) por outra. Além disso, acreditando que tem que conseguir sempre, criará o lamento de não ter conseguido em determinado momento.

Veja bem. Quando não consegue libertar-se da influência do ego é um momento, uma provação; quando está lamentando que não conseguiu é outro. Se não fez no primeiro, também não fez no segundo,

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pois estava presa ao ego que lhe dizia que tinha que fazer. Na verdade, acabou perdendo dois momentos, duas provações, ao invés de uma porque aceitou a obrigação que o ego gerou a partir do que eu disse.

Sendo assim, não tente entender porque não conseguiu da primeira vez; faça agora: não aceite a imposição que o ego está lhe fazendo vivenciar como realidade.

É isso que estou falando em se conscientizar. É ter a certeza que cada um momento é um momento para não acreditar no que o ego está dizendo.

Se o ego diz que você não conseguiu em determinado momento, não acredite nisso. Na verdade você não sabe se conseguiu ou não, pois estava desatenta lá.

A conscientização que afirmei ser necessária para a reforma íntima é exatamente o que disseram acima: a convicção de que não se tem a capacidade de saber o que é ‘certo’ ou ‘errado’, e aí entregar-se. A que? A nada.

Quem quer aproximar-se de Deus precisa libertar-se do ego e entregar-se a nada. Não é integrar-se a um ensinamento, a uma doutrina, a uma compreensão, mas conscientizar-se de que o ensinamento é nada saber e, a partir daí, não saber nada, inclusive o próprio ensinamento.

Quando o ego lhe disser que hoje foi um dia tumultuado, não acreditar nisso. Isto porque você não conhece os elementos da vida, ou seja, não sabe o que é dia, o que é ser tumultuado, etc. Quando o ego lhe disser que o dia foi gostoso, pleno de realizações, também diga a ele que não sabe se foi ou não. Isto porque você nada sabe.

Tem uma frase que eu uso muito e que se encaixa perfeitamente no que estamos falando: da sua declaração de expressa incompetência para viver a vida material nasce a sua competência para ser um espírito.

É isso que estou falando: não saiba de nada, para poder, depois, saber tudo.

Participante: E no mundo espiritual, como viver como espírito sem acreditar em nada?

Para início de resposta, veja a ação do ego querendo compreender alguma coisa, ou seja, criar uma verdade. Estamos falando de vida carnal e seu ego já está buscando amealhar cultura querendo saber como é viver dentro do ensinamento na vida espiritual.

Isso é impossível para você, pois seu ego não possui comandos que criem dentro da perfeição os elementos do mundo invisível.

Por isso, no Evangelho de Tomé, há a seguinte logia: “Os discípulos disseram a Jesus: diz-nos como será nosso fim. Jesus lhes disse: descobristes então o princípio para que possais perguntar sobre o fim? Bendito aquele que se mantiver no princípio, pois que não provará da morte” (logia 18).

Se você não sabe como começou tudo isso, ou seja, como você passou a existir dentro desta identidade, como quer saber como acabará? Se você nada conhece sobre o mundo espiritual, como quer saber como é lá?

O que você conhece do mundo espiritual é o que seu ego diz que é e não a realidade. No Livro dos Espíritos, o Espírito da Verdade sempre que vai responder a alguma questão sobre ‘como’ é alguma coisa espiritual ele diz assim: vou fazer uma comparação, não é bem isso, mas serve para o entendimento, etc.

Se isso é Verdade, como então quer compreender como é viver lá?

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Voltamos ao ensinamento: é preciso não querer saber nada. Quando chegar lá você verá, mas não com o ego ao qual está ligado hoje, mas de posse da sua consciência espiritual que pode gerar a Realidade que está acontecendo. Enquanto isso, não se preocupe com isso, pois se agir assim, você criará novas verdades e se manterá preso a elas.

Só isso que posso lhe responder sem comprometer o que estamos estudando hoje.

Participante: Ser espírito é ser feliz incondicionalmente, com turbulência ou não na vida humanizada.

Não, a felicidade universal não pode ser criada, ou seja, não pode nascer de uma compreensão racional.

Ser espírito não é ser feliz, isto porque você não pode ser feliz, não pode criar uma felicidade. Você precisa sentir a felicidade sem que ela nasça de uma condicionalidade, sem que seja criada a partir de um determinado aspecto.

A felicidade que o espírito sente não pode ser criada a partir de elementos lógicos. A felicidade assim criada não é incondicional, mesmo que a lógica usada para que ela passasse a existir pareça ilógica para a maioria da humanidade.

Ser espírito é ser espírito: a felicidade decorre desta condição. Quando você coloca como fez na sua pergunta (ser espírito é ser feliz incondicionalmente, com turbulência ou não na vida humanizada), criou condições para ter a felicidade: ser espírito e ser feliz incondicionalmente.

Esta felicidade não é mais incondicional. Seja feliz se for espírito ou não; seja feliz, incondicionalmente ou não. Ou seja, se você agir espiritualmente seja feliz, se agir humanamente, também; se conseguir libertar-se da condicionalidade para ser feliz, seja, mas se ainda for feliz quando os seus desejos forem satisfeitos, seja.

A felicidade tem que ser completamente incondicional para ser Real. Para tanto ela não pode nem ser condicionada à incondicionalidade.

Por isso disse que sua afirmativa não está de acordo com a visão espiritualista que estamos conversando, apesar de você ter usado para compô-la um ensinamento que já ouviu de mim em algumas outras palestras. Sei que esperava por isso que eu confirmasse o que disse, mas, na verdade, você nunca compreendeu o que foi dito até aqui.

Antes de ficar magoado com o que disse, lembre-se: é o ego que cria as compreensões e não você que entende. Ao criá-las ele engendra de tal forma a ‘razão’ para que surja uma compreensão, que se transforma em uma verdade e que lhe leva sempre a acreditar em alguma coisa.

No ensinamento utilizado nesta sua pergunta (ser feliz incondicionalmente) o seu ego engendrou durante o raciocínio uma condição para que você não vivesse a verdadeira felicidade: a incondicionalidade. Ele estabeleceu como condição para a felicidade universal a incondicionalidade.

Quando transmiti o ensinamento não coloquei a incondicionalidade como uma condição para que você vivesse a verdadeira felicidade. Disse apenas que deve ser feliz incondicionalmente, ou seja, sem qualquer condição. O que quis ensinar foi: seja feliz libertando-se das condições que utiliza atualmente para tanto ou não. É diferente do que você entendeu, ou melhor, da compreensão que o seu ego criou.

Na sua compreensão precisa haver a incondicionalidade para ser feliz.. A partir daí, posso afirmar que quando a incondicionalidade não acontece, jamais poderá haver a felicidade. Ou seja, você sofre

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quando não consegue ser feliz incondicionalmente e sente o prazer de ter posto em prática o ensinamento quando consegue manter-se feliz nas turbulências da vida.

Foi para poder lhe manter preso neste dualismo do prazer e da dor que o ego transformou racionalmente a incondicionalidade numa condição.

Sei que a felicidade incondicional não é o tema desta conversa, mas explorei o assunto para que vocês pudessem ‘ver’ algo que está relacionado com o ego: repare que qualquer compreensão que a mente cria se transforma numa condicionalidade que impede a Verdadeira Felicidade, mesmo que esta compreensão seja sobre os ensinamentos que estamos transmitindo.

Por isso disse antes: não acredite em nenhuma compreensão formada pelo ego, mesmo que seja a partir dos ensinamentos que estou passando. Viva o nada, duvide de tudo que lhe seja real, pois só assim você poderá atingir a felicidade que Deus tem prometido a todos os seus filhos.

Desta forma, o primeiro trabalho necessário para a reforma íntima é você se conscientizar do que é ensinado, sem buscar compreender aquilo que é dito. Vamos, agora, ao segundo trabalho: não acreditar em nada que o ego lhe diz.

Pode parecer que há entre o primeiro e o segundo trabalho uma redundância, mas não é bem assim. A partir do momento que você se conscientiza de que não pode acreditar em nada que o ego diz, é preciso que você não acredite em nada que o ego diz, ou seja, aja a partir da conscientização.

É este o segundo trabalho necessário para quem pretende promover a reforma íntima: viver sem acreditar em nada que o ego diz. Por que jamais podemos acreditar no ego?

Como disse, o ‘criador de realidades’ está constantemente operando, ou seja, criando novas ilusões que ele rotula como verdades. Apesar de ilusórias, estas ‘verdades‘ criadas pelo ego parecerão lógicas, racionais. Perdido na ilusão de que aquilo que o ego criou é real, você vive de uma forma material a encarnação, sem aproveitá-la para a realização espiritual.

Foi exatamente o que acabou de acontecer na última pergunta (ser espírito é ser feliz incondicionalmente, com turbulência ou não na vida humanizada).

Um ego, trabalhando informações novas que foram ouvidas, formulou uma verdade: ser espírito é ser feliz. No momento da pergunta este ego colocou a verdade ilusória que já estava na ‘memória’ e criou a ilusão do som, do proferir palavras.

O espírito ligado a esta identidade, por não entender que era o ego que estava ‘falando’, mas achar que ele se lembrou do que havia dito anteriormente e que ele formulou a pergunta, acreditou que estava ‘certo’ no que estava dizendo. Mas, como vimos, não foi bem assim...

Nunca se esqueça: o ego pegará tudo o que você ouvir e criará uma lógica, uma razão, que transformará o que foi ouvido em uma realidade. Fará isso para que você se ‘prenda’ (acredite) no que foi ‘compreendido’ (tornado racional) e, assim, o ego possa dualizar (‘certo/errado’, ‘bom/mau’, ‘bonito/feio’) os acontecimentos da vida material, mantendo-o preso às vicissitudes emocionais: prazer e dor.

Desta forma, não importa quem lhe diga qualquer coisa, compreenda que não foi a pessoa que lhe disse aquilo, mas o seu ego é que criou esta ilusória compreensão para que lhe prender no dualismo e no ciclo emocional material (prazer/dor). A partir do momento que você se conscientizar deste ensinamento, conscientize-se também de que precisa se libertar de tudo.

Agora, um grande detalhe: tudo é tudo . O ser humanizado não pode identificar algumas coisas para se libertar e ter outras das quais imagina que não precisa se libertar. Tudo é qualquer coisa que exista.

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Quando falamos que o segundo trabalho necessário para aquele que pretende promover a reforma íntima é libertar-se das verdades formadas pelo ego, estamos falando de desacreditar de tudo, de todas as coisas. O problema é que existem pessoas que buscam apenas libertar-se daquilo que não gostam ou daquilo que não é espiritualmente correto segundo a humanidade.

Como diz o apóstolo Paulo, ‘quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que morre se vestir com o que não pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: a morte está destruída. A vitória é total!’ Se não podemos compreender o que é imortal (espiritual), pois nos faltam elementos para tal compreensão, pelo menos podemos nos despir do que é mortal, ou seja, de tudo aquilo que o ego cria como real.

Na execução destes dois trabalhos que conversamos até aqui, estão as maiores causas do fracasso do aproveitamento da encarnação como instrumento da elevação espiritual pelos espíritos.

Primeiro porque querem entender como viver espiritualmente e isto jamais um ser escravizado ao ego conseguirá. Já tinha dito anteriormente: não existe um doutor em ego que tenho ego, senão o ego seria o doutor e não o espírito. Segundo porque querem compreender do que se libertar e, com isso, acabam se ‘prendendo’ (reforçando a crença na compreensão) cada vez mais.

Resumindo, sabe por que é tão difícil a um espírito sair da sansara? Porque primeiro quer ‘saber’ (conhecer, entender, ser sábio culturalmente) como evoluir e, quando descobre como fazer, ao invés de executar o trabalho na totalidade, quer escolher do que se libertar.

Mas, quem escolherá do que se libertar? Você? Não, o ego é que escolherá do que separar, já que a escolha será racional.

Como disse anteriormente, o ego é como um general que espalha o seu exército na frente de batalha. Como todo bom estrategista, ele pode, quando preciso, entregar alguns soldados ou até um batalhão inteiro ao martírio para se poupar. Faz isso porque sabe que combatentes não lhe faltam, pois ele está sempre criando novos soldados e colocando-os na frente de batalha sem que você se dê conta disso.

Participante: E os instintos de sobrevivência (sentir fome, necessidades fisiológicas) existem ou são criações do ego?

Criações do ego.

O espírito que vive a sua essência, mesmo ligado ao ego, não tem fome nem necessidade fisiológica. Agora, quem é subordinado ao ego tem vontade de ir ao banheiro.

Isto não quer dizer que quem viva a sua essência espiritual não tenha atividades fisiológicas... Ele tem a atividade, não a necessidade.

Quem compreende a ação do ego vai ao banheiro na hora que estiver indo, sem se preocupar anteriormente se irá ou não, se terá vontade ou não.

Vamos, então, ao terceiro trabalho do postulante da reforma íntima. Antes, porém, recapitulando: primeiro, precisamos acreditar que é este o trabalho, mesmo sem compreendê-lo; segundo, libertar-se de todas as verdades criadas pelo ego sem exceção.

Terceiro trabalho: não deixar o ego criar coisas novas.

Anteriormente falamos em libertar-se do que já se sabe; agora dizemos que você não deve deixar o ego criar coisas novas, ou seja, não deixar o ego criar novas verdades ou novas definições. Vamos entender mais este ‘trabalho’ que o espírito deve realizar durante a encarnação.

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Como disse anteriormente, o trabalho da elevação espiritual se caracteriza em não ‘aceitar’ a compreensão que o ego lhe dá a partir do que eu falo ou o que qualquer outra pessoa diz. Por isto, é importante sempre evitar a criação de novas verdades a partir daquilo que se ouve.

Sem este trabalho de contenção de formação de novas verdades de nada adianta a luta contra o ego. Isto porque o ego estará sempre criando novas verdades contra as quais certamente você terá que lutar para libertar-se amanhã.

No Bhagavata Puranas, livro védico que estamos estudando no trabalho do Senhor da mente, Krishna fala assim: o verdadeiro sábio não tem outro receptáculo para a comida que não a barriga.

Raciocinando este ensinamento fixando-se no sentido alimentação, os outros receptáculos para comida que o mestre diz que o verdadeiro sábio não tem são os potes onde os seres humanizados armazenam comida para comer em outro dia. Podemos, então, entender que Krishna diz que o verdadeiro sábio não armazena nada.

Levando este ensinamento para a intenção desta conversa (o ego), podemos entender que o verdadeiro sábio, além de ‘trabalhar’ diuturnamente na ação do ego para não acreditar no que ele ‘diz’, deve, também, ‘trabalhar’ para que ele não forme novas idéias e armazene-as na memória. Ou seja, é preciso que o ser humanizado elimine a ‘verdade’ também na criação e não apenas quando ela for utilizada para que possa se tornar um verdadeiro sábio.

Se agirmos assim o que acontecerá? Novas verdades não se formarão e o ego não conseguirá mais gerar ilusões. Já me pediram anteriormente e, antes que o façam novamente, deixe-me colocar o ensinamento de uma forma mais prática.

Com certeza você já visitou um lugar que não conhecia. Nesta visita digamos que você esteve pela primeira vez em uma residência que não conhecia. Com certeza se lhe pedisse para descrever essa casa, você seria capaz fazê-lo, não? Por quê?

Porque o ego criou imagens e você as aceitou como reais, como realidades. A partir desta ‘aceitação’ as imagens que descrevem o ambiente foram arquivadas na memória e criou-se um ‘conceito’: uma verdade sobre aquele lugar.

Até aqui não haveria problemas com relação à elevação espiritual, pois crer em uma descrição ilusória criada pelo ego não é tão ‘comprometedor’ para quem pretende realizar a reforma íntima. Mas, não foram apenas as imagens do lugar que o ego levou à racionalidade, mas também uma ‘adjetivação’. Compreendamos melhor...

Junto com a imagem do quadro na parede veio o adjetivo ‘bonito’; com a sensação de estar sentado no sofá veio a classificação de ‘desconfortável’; com a imagem dos móveis da sala a sentença de ‘sujos’. Enfim, além das imagens o ego determinou valores às coisas.

Acreditar nestes valores, vivê-los como reais, é ‘comprometedor’ no sentido da elevação espiritual, pois eles nascem de um julgamento a partir de valores individualistas. Aquele que aceita estes valores que o ego cria em conjunto com as imagens e os vivencia como realidades quebra o amor que deve existir entre todos os filhos de Deus.

Este ‘desamor’ pode ser muito melhor compreendido se alterarmos as imagens percebidas: ao invés de objetos, uma pessoa é percebida. Sempre que você se relaciona com alguém, além das imagens do momento, o ego ‘conclui’ valores do relacionamento e arquiva na memória.

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Digamos, por exemplo que o seu ego lhe diz que aquela pessoa é ‘chata’. Quando você ‘aceita’ esta definição ela é arquivada na memória. A partir daí, cada vez que esta pessoa for percebida o ego trará novamente à consciência esta definição.

Só neste ‘julgamento’ o ‘desamor’ está provado, mas a ação do ego vai além. Mais do que lhe trazer à consciência q verdade de que aquela é uma pessoa ‘chata’, o ego irá criar o desejo de afastar-se dela.

Porém, digamos que isto não tenha sido programado como ilusão de ação para aquele momento, ou seja, que você não consiga afastar-se da pessoa. O que acontecerá? Você terá que ficar perto dela sofrendo (chateado, amolado, etc.).

Por que sofreu? Por estar frente a ‘alguém chato’ e ‘não conseguir livrar-se’ dele? Não, sofreu porque deixou o ego armazenar na memória a adjetivação sobre aquela ‘pessoa’. Se isso não houvesse acontecido esta pessoa jamais seria ‘chata’ e você nunca se ‘chatearia’ ao vivenciar a ilusão da ação de estar relacionando-se com ela.

Resumindo, então, as primeiras três etapas do trabalho da elevação espiritual: primeiro, conscientizar-se de que tem que fazer o que lhe é ensinado, compreendendo ou não, aceitando ou não os ensinamentos; segundo, fazer ou seja, libertar-se das verdades; terceiro: não deixar o ego criar verdades novas, armazenar conceitos

Todos os três trabalhos precisam ser executados simultaneamente, pois, caso você execute apenas os dois primeiros sem se atentar para o terceiro, será uma luta inglória porque, amanhã, sempre haverá uma nova verdade da qual terá que libertar-se.

Participante: O problema no tocante à elevação espiritual que o senhor se refere é o sofrimento que advém da falta de consciência da ação do ego?

O problema é acreditar no ego porque tudo que ele fala racionalmente é ilusão, mentira, falsa realidade, baseada no que você programou. Além disso, é problemático você vivenciar como suas as emoções ou sensações que o ego lhe dá, já que elas estarão sempre vinculadas ao prazer e a dor.

Aí está o problema para quem quer elevar-se espiritualmente: acreditar racional e emocionalmente no ego. Mas, porque isso é problema?

Porque quando você acredita no ego, não crê em Deus. O ego é o ‘bezerro de ouro’ que Moisés encontrou os homens adorando, o falso ídolo. E se ele é aquilo que você chama de ser humano, este elemento é o falso ídolo a quem você presta as suas homenagens, a quem idolatra acima de tudo e de todo, ferindo o primeiro mandamento da lei de Deus.

Veja se o que estou afirmando (idolatria a si mesmo) não é verdade...

O ser humanizado se idolatra ao ponto de achar que está sempre ‘certo’, mesmo quando se acha ‘errado’...

Idolatra-se ao ponto de dizer que o outro ‘não sabe o que está falando’ e que só ele sabe o que é ‘certo’...

Cultua-se ao ponto de dizer que o outro está lhe ferindo magoando, só porque não faz o que ele acha que deveria ser feito...

Portanto, acreditar no ego racional e emocionalmente fere à primeira lei de Deus.

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Voltemos aos nossos ‘trabalhos’ para a promoção da reforma íntima. Já falamos de três (conscientizar-se dos ensinamentos, não acreditar no ego e eliminar a formação de novas convicções) e agora abordaremos o quarto e último aspecto.

Este ‘trabalho’ pode, à primeira vista, parecer que já é executado por vocês, mas isso é uma ilusão do ego. O quarto ‘trabalho que compõe a ‘reforma íntima’ é: ‘viver a vida’.

Mas, eu já vivo a minha vida, dirão vocês, mas isso é uma mentira. O ser humanizado não vive a sua vida, mas sim o que o ego diz para ele viver. Vocês vivenciam os seus ‘mundos internos’ criados pelo ego e não a vida realmente.

No exemplo que usei anteriormente (a mão encostando no rosto) a ilusão de movimentação é a vida, mas vocês vivem a agressão, a dor e a humilhação que o ego cria. Viver a vida é vivenciar as ações ilusórias sem anexar a elas nenhuma compreensão ou emoção.

Este exemplo, no entanto, não é propício para o entendimento, pois a simples menção a uma ação desse tipo já faz com que vocês vivam o ‘não querer’ passar por esta situação que está sendo criada agora pelos seus egos. Por isso, vamos citar um outro exemplo.

Você tem um filho e diz que vive com ele, mas isso é mentira. Você vive com a responsabilidade, a preocupação e a chateação de ser ‘mãe’. Ao invés de ‘curtir’ seu ‘filho’, você vive presa a tudo que o ego cria.

Quando deixar de viver o que o ego diz para você viver, só lhe restará uma coisa: viver a criação de Deus.

Lembram que comentamos que o mundo externo é criado por Deus para que a provação aconteça? Pois então, quem vive o mundo interno como real não vivencia a criação de Deus, mas a do ego. Não vive com e para Deus, mas para o ego. Por isso disse anteriormente que o ego é o ‘bezerro de ouro’ que os seres humanizados preferem idolatrar ao invés do Senhor Supremo.

É só o ego ‘abrir a boca’ e vocês abandonam Deus na mesma hora. Se ele diz que vocês têm que ganhar dinheiro através de um emprego, já não encontram mais tempo para trabalhar as suas espiritualizações. Não estou falando em religiosidade, em freqüentar cultos, mas em ser feliz incondicionalmente, que já citamos anteriormente como estado daquele que é espiritualizado.

Vivenciando o mundo interno como real, sai ‘correndo’ de casa todo dia vivendo um estado de espírito de ansiedade e nervosismo porque acredita quando o ego diz que existe horário e que você está atrasado. Quanta ‘vida’ (criação de Deus) você perdeu no trajeto da sua casa até o trabalho por estar obcecado com a idéia que o ego deu?

Afirma que gostaria de ter uma vida mais suave, ter mais tempo para você poder relaxar indo, por exemplo, à praia mais vezes. Acredita piamente que se isso fosse realidade seria mais feliz, não é mesmo?

Mas, o que acontece quando chega na praia? Fica preocupado com o trabalho de amanhã, onde estará o seu filho àquela hora, se a sua casa está protegida, se o carro não vai ser roubado, etc. Sempre existe algum fator que não lhe deixa ‘curtir’ o momento presente.

Isto porque não compreende que estes ‘pensamentos’ são criações do ego para que você não vivencie com felicidade a criação de Deus. Ou seja, são proposições de provações ao espírito para ver se ele consegue manter a felicidade independente do que o ego está criando racionalmente.

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Aí estão, portanto, os quatro ‘trabalhos’ para quem quer promover a reforma íntima. Aí está em rápidas palavras a reforma íntima, o renascimento que leva ao reino do céu, a libertação dos apegos. Aí está o equilíbrio que Lao-Tsé ensina e o não sofrimento que Buda diz que pode ser vivenciado.

Tudo o que todos os mestres ensinaram é alcançado quando você consegue se conscientizar do que deve fazer durante a encarnação: liberta-se do que já existe no seu ego e não o deixar formar novas verdades. Só assim você pode ‘curtir’ a vida, ou seja, vivenciar os acontecimentos da vida com um estado de espírito de felicidade incondicional.

Vive a felicidade que existe, não a construa. Não crie felicidade, viva a que já está dentro de você. Quando você vivencia esta felicidade honra a palavra empenhada com Deus e com os mentores na hora da encarnação.

Veja bem. Quando você acabou de criar o seu ego e ele foi ‘aprovado’ por Deus, garanto que você estava em lágrimas aos pés do Criador agradecendo a oportunidade e dizendo para Ele: ‘Senhor conte comigo. Eu já vi o que os seres humanizados, o que os espíritos que se deixam levar pelo ego fazem. Eu não vou fazer igual’.

Aí ‘nasce’ para não fazer igual àqueles que você observou, mas acaba agindo igualzinho e com isso não honra a ‘palavra’ empenhada ao Pai.

Participante: O caminho para libertação seria viver sem sentir nenhuma emoção? Fazer o que tiver que fazer sem se envolver com os frutos do trabalho?

Sim, o caminho para libertação é não se viver as emoções e realidades criadas pelo ego. Mesmo que seus atos aparentem que esteja vivendo as emoções ditadas pelo ego, interiormente não os viva. Ou seja, mesmo que seus atos aparentem um nervosismo, não se sinta nervoso internamente.

Nestas duas formas de se participar de um acontecimento do mundo carnal está a distinção entre viver e vivenciar. Viver é participar do ato racional e emocionalmente; vivenciar é observar o ato sem acreditar nos valores e nas emoções que o ego cria.

Participante: Como fica a questão do servir: servir ao próximo é servir a Deus ao ego?

Vou dividir a sua pergunta em duas (servir ao ego e servir a Deus) para poder lhe responder melhor. Vamos primeiro falar do serviço ao próximo.

Servir ao próximo é servir àquele que lhe está próximo e não ao ego, a você ou a Deus. E, o que determina a quem você está servindo é a intencionalidade com que participa da ação e não o ato que está sendo praticado.

Quando você acredita na racionalidade e na emotividade ilusória que lhe vem a mente durante uma determinada ação estará sempre servindo ao ego, pois tudo que vem deste criador de realidades ilusórias é fundamentado no individualismo. A característica individualista de qualquer ilusão criada pelo ego faz com que sempre ocorra uma intencionalidade e ela acaba com o serviço ao próximo.

Vou dar um exemplo para podermos compreender melhor.

Digamos que o ato que está ocorrendo é você dar um prato de comida a alguém que está com fome. Aparentemente você o está servindo, mas será que, dentro de tudo o que vimos neste estudo, realmente é isto que está acontecendo?

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Veja bem. A sua felicidade não advém de dar o prato de comida, mas surge porque o que o ego racionalmente lhe disse que é ‘certo’ fazer aconteceu. Por isto reafirmo: você está servindo primariamente ao ego (ao desejo por ele proferido pela razão) do que ao próximo.

Claro que o prato de comida está sendo ofertado ao próximo, mas isto ficou em segundo plano. A intenção primaria foi fazer o que se quer (servir a racionalidade criada pelo ego). Antes de servir ao próximo, portanto, está servindo ao seu ego.

Agora, quando você pratica atos sem participar racional ou emocionalmente, ou seja, sem submeter-se às intenções individualistas embutidas naquilo que o ego está ‘falando’, estará servindo ao próximo. Este ‘serviço‘, no entanto, se dá por não servir ao seu ego e não pelo ato que se pratica.

Quanto a servir a Deus, não importa como você viva (se acredita ou não na racionalidade e nas emoções criadas pelo ego) sempre estará servindo a Deus. Isto porque, como ensina o Espírito da Verdade, cada espírito toma um instrumento em harmoniza com a matéria onde encarnará para ali cumprir as ordens de Deus (pergunta 132 de ‘O Livro dos Espíritos’).

Não importa o que seja feito, que ato seja praticado e nem como você vivencie cada um deles, tudo o que se realizar terá sido feito pelo Seu comando e,por isso, estamos sempre servindo a Deus.

Participante: Na maioria das vezes servimos ao ego achando que estamos servindo ao próximo...

Sempre é isso. Enquanto você não se libertar estará sempre servindo ao ego achando que está servindo ao próximo.

Por isso orientei anteriormente: se o seu ego diz que você é médium, não acredite, porque senão servirá ao ego. Ou seja, exercerá a mediunidade para ser médium e não servir ao próximo.

Mediunidade é doação, é caridade, não é benefício para quem a exerce. E, aquele que se acha ‘médium’ vê nisso um benéfico para si. Com isso não está servindo ao próximo, mas ao seu ego.

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O ego e a ação carmatica

Todos que estão aqui hoje certamente já freqüentam esta casa em outros dias e com certeza já viram o professor Wagner Borges falar da necessidade de se vencer o ego. Todos com certeza já ouviram falar sobre isto e já estudaram o tema da vencer o ego.

Portanto, a minha pergunta para iniciarmos este trabalho é: o que é o ego? Veja, se vocês estão estudando para vencer o ego, por isso devem pelo menos saber o que é este elemento da vida carnal, não?

Participante: O “eu ilusório”?

A resposta está certa, mas ainda está acadêmica demais. Como vamos combater o “eu ilusório” se nem sabemos o que é o “eu ilusório”? Temos apenas definições e não compreensão sobre isto.

Na busca da reforma íntima há um caminho que não leva a lugar nenhum: o estudo acadêmico do processo de elevação. Estuda-se muito para compreender este processo, mas como a maioria prende-se apenas em saber os conceitos sem entendê-los profundamente, ficam presos à letra fria das palavras que todos os mestres condenaram.

Precisamos acabar com a discussão científica sobre espiritualidade, com a mania de criar teorias acadêmicas que não são colocadas em prática. Discutir a espiritualidade no campo da ciência, no científico, acadêmico, filosófico apenas não leva a lugar nenhum. Precisamos começar a nos preocupar em debater profundamente a prática ao invés da teoria.

Espiritualidade precisa ser discutida no campo prático, na vida, não só na teoria, no filosófico. Se não compreendermos todo processo evolutivo como se processa no dia a dia da vida, só formamos teorias sobre espiritualidade e não promovemos a reforma íntima.

Portanto, sua resposta está certa, mas o que é este “eu ilusório” na prática?

Participante: O ego é uma pessoa que eu penso que sou.

Também está certa a sua resposta: o ego é uma pessoa que você pensa que é. Mas, que pessoa é esta que você pensa que é?

Precisamos chegar à prática, ao dia a dia, ao agora. Se vocês estão “vivos” humanamente falando neste momento, estão em processo de trabalho de reforma íntima. Portanto, é preciso identificar o ego agora. Quem é a pessoa que você pensa que é neste momento?

Vejam bem, como vocês vão combater alguma coisa que não conhecem? Teorizar a reforma íntima, escrever teorias elevadas sobre quem é o ego é lindo, mas elas não levam vocês à real compreensão de quem é o ego e por isto não se realiza a elevação espiritual agora.

Então, volto a perguntar na prática, na realidade, neste exato momento, como eu posso reconhecer quem é o ego e que sou eu?

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Pergunto desta forma, porque como você disse, cada ser humano possui dois “eu interior”: o espiritual e o material. O “eu material” é o ego e o “eu espiritual” é o espírito.

Para que vocês possam realizar os seus trabalhos de reforma íntima, quem é o “eu material”, ou seja, o ego que está presente agora junto com vocês, os espíritos?

Participante: O ego seria a troca de valores: ao invés de usar o espiritual utiliza o material.

Isto é uma característica do ser humano.

O ser humano é um ser espiritual humanizado. A característica principal da humanização do ser espiritual é exatamente esta: achar que os valores do ego é a realidade enquanto que os valores espirituais não existem, não estão presentes.

Você também está certo, mas ainda não me disse o que e quem é o ego.

Participante: O ego é uma percepção voltada para o lugar errado?

Não, o ego não tem nada a ver com percepção.

Percepções é tudo aquilo que é “sentido” através dos órgãos de sentidos do corpo (visão, audição, olfato, paladar e sensibilidades da pele). Isto é percepção.

O ego não tem nada a ver com isto. Aliás, o ego só interfere em você depois que as percepções são alcançadas.

Participante: O ego é a minha parte consciente da personalidade.

Também está certo: é a parte consciente da sua personalidade. Mas, que parte consciente da personalidade é esta?

Participante: Tudo aquilo que eu acredito que exista.

Perfeito: o ego é as suas verdades. Tudo aquilo que você acha, que sabe, que conhece, que acredita como real, verdadeiro é ilusão, pois se trata de valores que compõe o ego e não seus.

O ego, portanto, é o conjunto de verdades que cada “eu espiritual” possui enquanto humanizado.

A partir desta definição, faço mais uma pergunta: qual o seu sexo?

Participante: Homem.

Quem respondeu isto para mim? O ego e não você.

Lembre-se, você é um espírito e este ser universal não possui sexo. Desta forma você não é homem nem mulher, mas o que imagina ser lhe é ditado pelo ego e você acredita ser aquilo que ele afirma.

Como Krishna ensinou precisamos derrotar o ego para poder alcançar a evolução espiritual. Portanto, você precisa vencer a idéia de que é homem para poder elevar-se.

Participante: Mas eu não posso viver com esta verdade e realizar a elevação espiritual? Não posso apenas me elevar formando uma egrégora (conjunto de sentimentos positivos que permanecem em torno do espírito, aura brilhante, estado de espírito) elevada?

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Para formar esta egrégora você comparece toda noite aos trabalhos espirituais nos centros ou templos (casas de oração). No entanto, durante o dia, vive dentro das verdades que o ego lhe impõe e às quais se submete. Com isso posso dizer que você se contamina o dia inteiro. De que adiantou, então, “rezar” de noite?

Veja, você está se sujando durante o dia para a noite se limpar. No dia seguinte se suja novamente. De que adianta o trabalho? O melhor não seria se limpar e não mais se sujar? Então, você não pode se deixar escravizar pelo ego vinte e quatro horas por dia.

Mas, porque viver escravo do ego lhe suja? Continuamos na pergunta que eu fiz. Se você se achar homem entrarão em ação uma série de verdades que o ego lhe transmitirá e que você se sentirá obrigado a cumpri-las.

O homem tem que trabalhar para sustentar a família, ser mais forte que a mulher, não pode fazer determinados atos. Estas verdades condicionarão a sua vida, ou seja, determinarão um padrão de existência para você e para os demais que reconhece como homem.

A partir delas, o próprio ego julgará as suas ações e as dos outros. Você o “eu espiritual” que acredita piamente no ego, então, dará valor de verdade a estes julgamentos e às críticas que dele surgirão também criadas pelo ego.

Daí nascerá a crítica ao homem que não sustenta a mulher, àquele que deixa o serviço pesado para as pessoas do sexo feminino ou para aqueles que não se portam com masculinidade. Esta forma de comportamento (julgamento, acusação e crítica) é apontada por todos os mestres como um padrão negativo de vida, ou seja, como uma não realização da elevação espiritual.

Portanto, se você vive preso a este conceito diuturnamente não forma egrégora bonita nenhuma e isto só ocorre porque é escravo do conceito (verdade) que o ego.

Desta forma, se quiser alcançar a Deus nesta encarnação terá que viver a ilusão de ser homem (perceber que está preso a um corpo masculino) sem se prender aos padrões impostos pelo ego. Portanto, precisa se libertar do ego, deixar de ser seu escravo

Então, o ego é isto: um conjunto de verdades que você acredita que sejam reais e suas e por isto se subordina a elas.

Participante: O ego é bom?

O que é “bom”? O que é uma coisa “boa”? Para poder lhe responder preciso saber o que é ser “bom” para você.

Participante: Alguma coisa que satisfaça meus valores.

Que valor e que você? Falando como “eu material” e sendo os seus valores direcionados a busca do bem material, o ego é “bom” para você, pois vai lhe ajudar na busca da fama; mas se a sua busca é espiritual, o ego é “ruim” porque lhe atrapalha a elevar-se.

Agora se está falando do “eu espiritual” em busca de valores materiais, o ego é “ruim” porque atrapalha a conquista deles; mas se busca amealhar bem no céu, o ego é “bom” e já entenderemos porque. Até agora estamos apenas definindo o ego, mas depois vamos falar de sua criação evolução e da vitória sobre ele e aí você entenderá o que quero dizer.

Neste mundo, quando falamos de “bom” ou “mal” temos que ter em mente que tudo depende do que você gosta, ou seja, do que é “bom” para você. Ser “bom” ou “mal” é relativo, ou seja, surge a partir de

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verdades que o ego cria. Se você gosta da cor vermelha, por exemplo, e vê-la é algo “bom”, esta classificação é oriunda de uma ação do seu ego.

Voltemos ao nosso assunto: o ego.

Posso, então, dizer que o ego é você, porque você é uma soma das verdades que acha que é. Você acredita que é homem? Você é. Acredita que é doutor, casado, pai, você é estas coisas.

Portanto, em regra, o espírito humaniza-se para combater o ego, mas ao invés de destruí-lo, o vive como se fosse ele mesmo. Dá credibilidade ao ego, imaginando ser ele mesmo, o espírito.

Participante: Mas Joaquim, pelo que estou vendo o ego é bom. Ele me faz viver a paternidade, a relação com minha esposa, meu sexo, ou seja, as coisas que eu gosto. Onde está a coisa ruim que me obriga a derrotar o ego?

Individualismo. Enquanto você torcer por um time, por exemplo, vai criticar quem torce por outro. Só quando você abdica do individualismo (o que quer, o que gosta) poderá amar ao próximo como a si mesmo.

Por isto que Cristo ensinou: eu não vim trazer a paz, mas a espada (Mateus – capítulo 10 – versículo 34). O ensinamento dos mestres não deve servir para que o ser humano consiga viver em paz consigo mesmo, mas para matar a ele mesmo.

O mestre nazareno ainda diz mais: em verdade vos digo que ninguém chegará ao reino do céu enquanto não renascer. Reparem que ele não fala em reencarnar, mas em nascer de novo nesta mesma vida.

Para que você renasça para o reino do céu, então o que precisa antes acontecer? Morrer para esta vida: isto é o vencer o ego, o que Krishna também sugeriu como caminho. Ou seja, os dois falaram a mesma coisa, mas com palavras de acordo ao seu povo e à sua época.

Portanto, os dois ensinamentos são idênticos, mas ninguém quer seguir o caminho ensinado pelos mestres. Todos querem renascer, mas não morrer. Mas para renascer você precisa morrer, precisa se matar, matar todas as verdades que formam o seu “eu”.

Esta ação de matar-se com a espada (os ensinamentos) que Cristo trouxe é o que é conhecido como a promoção da reforma íntima.

Está, portanto, clara a necessidade de se matar o ego. Continuemos em nossa conversa de hoje.

Para tanto pergunto: por que quando o espírito vem à carne (se humaniza), cria este tal de ego? Por que será?

Aparentemente esta ação é sem sentido: criar uma coisa para depois exterminá-la. Pela lógica racional humana, poderia até dizer que o espírito é masoquista, pois se não houvesse o ego a lhe tentar, a lhe transmitir ilusões como realidade, a elevação espiritual seria muito mais fácil, não? Então, por que criamos este tal do ego quando viemos para a carne?

O espírito que se humaniza não está a asseio na Terra. Ele não encarna para tirar férias dos afazeres espirituais.

A humanização do espírito tem como finalidade um trabalho: a elevação espiritual. Esta é conseguida quando se prova o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

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Para que o espírito execute esta prova, é preciso que haja questões que deverão ser respondidas. Estas questões da prova que o espírito executa são escritas pelo ego.

A cada segundo ele lhe propõe uma pergunta: você vai amar mais ao que você acredita (o que o ego lhe diz) ou a Deus, Senhor Todo-Poderoso do Universo, Causa Primária de Todas as Coisas. Ou seja, você vai deixar de se chatear (sofrer) quando as suas verdades não são contentadas ou de se exaltar quando isto ocorre para permanecer na equanimidade, no equilíbrio?

É para isto que o espírito que se humaniza, cria o ego: para lhe propor perguntas para que ele possa trabalhar respondendo-as. Já ouviram falar da “Tentações de Cristo” no deserto (Mateus – capítulo 1 – versículos 1 a 11)? O ego é o diabo desta história.

Ele permanece agregado ao espírito enquanto este estiver humanizado tentando-o, ou melhor, testando-o a cada segundo, com a única finalidade de saber se você ficará prisioneiro da ilusão humana ou se libertará dela buscando a Deus. Esta é a função do ego. É por isto que não existe ser espiritual que se humanize sem um ego. Todos vêm para carne fazer prova e, por isto, precisam gerar antes um ego.

Deixe-me dizer uma coisa: a humanização (vida carnal) é de relevada importância para o mundo espiritual. Não pelos valores que vocês dão a ela, que gera o apego desmedido a “estar vivo”, mas por outras razões.

Em “O Livro dos Espíritos” está perguntado sobre a necessidade da reencarnação, ou seja, se todos os espíritos precisam passar por este processo de humanização. O Espírito da Verdade responde que sim, porque só vencendo as suas provas com esta consciência (humana) o espírito alcança a evolução espiritual.

Ou seja, a evolução espiritual só pode ser conseguida por qualquer espírito quando ele está humanizado, vivendo como ser humano na matéria densa. Sem isto, o espírito não evolui.

Permanecer no éter com a sua consciência espiritual estudando como afirma a literatura espírita, não resolve nada. É preciso praticar o que estudou, provar que aprendeu.

Este é o motivo porque cada um ganha a oportunidade da encarnação. No entanto, encarnar não é juntar-se a uma massa carnal, como muitos pensam, mas humanizar-se. Ou seja, conviver com um ego formado por um conjunto de verdades pré-definidas que criem os temas da prova que o espírito irá realizar.

Por exemplo, se o espírito antes da humanização “estudou” sobre o tema humildade, seu ego conterá verdades de soberba e vaidade. Durante a “vida carnal” os acontecimentos ocorrerão, o espírito irá atribuir valores que espelhem uma reação soberba ou vaidosa e o espírito precisa, para elevar-se, abrir mão destas e conviver harmonicamente com o mundo, ou seja, vencer as tentações de ser soberbo e vaidoso que o ego propõe.

Então, a existência de um ego não é um ato de masoquismo, mas de necessidade. Sem ele, não haveria as duas opções necessárias para que o espírito pudesse provar a sua elevação adquirida com o conhecimento antes da humanização.

Portanto, o ego, espiritualmente falando, não é “mal”, mas é “ótimo”. Se o espírito ao humanizar-se não tivesse ego não venceria nada e sem a vitória não alcançaria a elevação espiritual. Teria que retornar ao mundo espiritual (desumanizar-se), estudar tudo de novo e voltar para a carne para prestar as provas.

Portanto, o ego é “maravilhoso”, porque é a sua oportunidade de elevação.

Participante: Mas noventa e nove por cento não vence o ego?

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Eu diria que se você colocasse nos noventa e nove por cento mais uma casa decimal (vírgula nove) estaria mais perto da realidade. É por isto que vocês estão encanando e desencarnando a sete mil anos, pela contagem de tempo de vocês.

Participante: O sofrimento faz parte do ego?

Não, o sofrimento é o sentimento que você escolhe para reagir entre a relação do que você acha (do que o ego lhe diz que deveria estar acontecendo) e os acontecimentos do mundo. Ele surge da subordinação à verdade transmitida pelo ego.

O ego lhe diz, por exemplo, que você é um excelente profissional e por isto deveria ter um emprego. No entanto, o acontecimento atual de sua vida é que você está desempregado.

No encontro destas duas coisas (o que está ocorrendo de verdade e o que deveria estar ocorrendo para você) o espírito escolhe sofrer porque acredita na verdade do ego (você deveria estar empregado). Não foi o ego que sofreu, mas você, o espírito, que, subordinando-se às verdades criadas por ele como verdadeiras optou por sofrer com a situação.

Por isto já tinha respondido a uma pergunta hoje dizendo que o sentimento não é do ego, mas reflete uma opção do espírito quando do encontro da verdade do ego com a realidade material.

Você espírito possui o livre arbítrio entre o “bem” e o “mal”, ou seja, pelo amor a Deus ou a subordinação ao ego (individualismo).

Participante: A vitória sobre o ego, então, é a salvação?

Salvação do que? O espírito não está em perigo nenhum para ser salvo. Está em processo de evolução. A vitória sobre o ego é a evolução no mundo de provas e expiação.

Algumas palavras mal usadas podem trazer verdades que não correspondem com a realidade. Nenhum espírito está perdido para que possa ser salvo. Ele está na hora certa, no lugar que deveria estar, fazendo o que deveria fazer.

A vitória sobre o ego é a realização do espírito no mundo de provas e expiações e não a sua salvação.

Participante: Mas, o ego pode causar uma frustração também?

Não, o sentimento não é do ego, mas seu. Se você se sentir frustrado pelas razões que o ego criar, foi você quem se sentiu assim e não o ele que se sentiu.

Participante: Mas se eu não perseguir o objetivo que o ego me dá, que o ser humanizado tem, não vou me sentir frustrado?

Depende do seu ponto de vista, ou seja, depende do seu objetivo de vida. Mesmo que você não persiga os objetivos humanos que o ego lhe transmite (perseguir os desejos humanos), você ainda assim poderá ser feliz.

O espírito, independente de estar humanizado ou não, sempre tem o livre arbítrio concedido pelo Pai: o de amá-Lo sobre todas as coisas ou amar a si mesmo. Quando o objetivo da existência de um espírito é alcançar a Deus, ele sempre opta pelo amor ao Pai e por isto não se frustra em não realizar o que o ego propõe. Mas, quando se ama acima de todas as coisas, escolherá frustração quando seus desejos não forem realizados.

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Participante: Sempre haverá duas opções?

A presunção do livre arbítrio sempre leva a uma dualidade. Como exercer um livre arbítrio se não houver pelo menos duas opções para escolher entre elas?

Sim, para o espírito sempre haverá a possibilidade entre amar a Deus e viver na Sua glória (felicidade incondicional) ou exaltar-se quando suas expectativas forem correspondidas ou afundar-se na depressão da dor quando não.

Tanto o prazer quanto a dor satisfazem o ego, reforçam a verdade. Na libertação da verdade, ou seja, relacionar-se com o mundo dentro do amor universal que não admite frustração nem exaltação você venceu o ego.

Participante: Então a vida não tem objetivo?

Tem sim. Como Cristo ensinou: vencer o mundo.

Vencer o mundo é libertar-se da ação do ego não sendo submisso a ele. “Eu queria tanto aquilo”: acreditar que você realmente quer algo material é submissão ao ego, pois é ele quem lhe dá, racionalmente, este desejo.

Este é o objetivo espiritual da “vida”. Agora, vencer na vida, alcançar objetivos materiais, profissionais, realizar-se socialmente, como mulher ou como homem são objetivos materiais que só servem para nutrir o ego, pois profissão, família, sexo, é tudo fruto do ego, verdades que só valem para humanidade. O espírito não tem cor, raça, sexo ou profissão.

Participante: o desapego, então, é a lei do amor universal?

O desapego só acontece quando o espírito escolher o amor universal no encontro entre um acontecimento e ação do seu ego (pensamentos que ditam realidades). Então, ele não é a lei: é a conseqüência da ação do amor universal.

Quando você ama universalmente as pessoas, acontecimentos e objetos deste mundo alcança o desapego. Se não amar universalmente jamais se desapegará.

Por isto eu sempre afirmo: não existe uma mãe que ame seus filhos. Elas não os amam universalmente, mas individualmente. Por isto, a mãe na verdade os possui: “é meu filho, não pode acontecer nada com ele, tem que ser o que eu quero, o que eu acho que é o melhor para ele”.

Ela diz que tem amor universal por ele, mas na realidade o possui, pois o ama condicionalmente às suas verdades e não com desapego.

Voltemos ao nosso estudo do ego. Eu pergunto: se o ego é tão importante assim, tão fundamental para nossa elevação espiritual, nós podemos deixar a formação dele por conta do acaso? “Eu por acaso nasci no meio da favela e aí me foi introduzida a verdade que me levou a ser ladrão”.

Não estou dizendo que todos nascem na favela são marginais, mas a maioria daqueles que hoje se encontram na bandidagem alegam exatamente isto: não tiveram oportunidades de crescimento porque nasceram naquele meio. Isto é uma mentira.

Na verdade foi o espírito que está ligado a este ser humano que pediu para que a história deste personagem fosse aquela.

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“260. Como pode o Espírito desejar nascer entre gente de má vida? Forçoso é que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem! É necessário que haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, preciso é que se ache em contato com gente dada à prática de roubar” (O Livro dos Espíritos).

Depois de encarnado o espírito sucumbiu ao instinto transmitido pela coletividade que nasceu, ou seja, optou por aquele caminho. O ego teve participação nesta opção porque ele criou as ilusões (falsas verdades) que deram o sentido lógico para a opção do espírito.

Foi uma opção individual do espírito, pois muitos que nascem no mesmo meio, não fazem esta opção e, portanto, não vivem desta forma.

Perguntei se a formação de algo importante pode ser deixada ao acaso para afirmar que o ego é formado antes da encarnação.

Como eu disse, a formação do ego não pode ser deixada ao acaso, porque senão ela poderia levar o espírito a não participar de provas que precise. Você, o espírito que está ligado ao ser humano que se imagina ser, sabe antes de encarnar que prova vai fazer e para poder vivenciá-las forma um ego que, por analogia, conterá verdades que criem as provas que pretende fazer durante a “vida”.

O ego conterá verdades que criem a luxúria, a ganância e a avareza, por exemplo, se isto for aquilo que você pretende provar que é capaz de vencer. Portanto, é você que cria as verdades que irá combater para provar que atingiu a compreensão de que aqueles sentimentos não são universais.

O ego, então, é criado antes da encarnação, pois é você que escolhe suas provas.

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio” (O Livro dos Espíritos).

Na verdade neste processo de escolha o espírito é amparado por irmãos superiores. Se deixássemos apenas pela vontade que motiva o espírito antes da encarnação, todos os seres humanos nasceriam cegos, surdos, mudos, sem os braços e as pernas. Isto porque o espírito, quando de posse de sua consciência espiritual, anseia em realizar logo todas as suas provas para mais rapidamente alcançar a elevação espiritual.

Se deixarmos por conta do espírito fora da carne, a encarnação conterá diversos elementos purgatórios, porque ele, vislumbrando o porvir espiritual que lhe espera depois do fim do processo encarnatório com a elevação espiritual, se imagina capaz de vencer tudo.

Isto é uma ilusão e por isto Deus não aceita tudo o que o espírito pede. Ele coloca mentores espirituais que auxiliem este espírito na hora de executar a escolha de suas provas.

Assim mesmo o espírito insiste, porque se acha capaz de tudo. No entanto, quando chega o dia de realizar a junção à consciência material (ego) dá “dor de barriga” de medo no espírito.

Então, veja, os elementos da “vida” (acontecimentos e verdades) não são obras do acaso: você escolhe, os espíritos superiores dialogam mostrando a impossibilidade de realizar tudo aquilo e aos poucos vocês se acertam com relação ao total de provas que executará nesta encarnação.

Eu diria que este total que resta após o aconselhamento dos mentores, que é a a “vida” que você está vivendo hoje, não representa mais do que vinte e cinco por cento daquilo que você pretendia fazer nesta encarnação.

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O assunto de hoje é o ego. Já havíamos o definido e agora estamos mostrando como ele é criado: você, espírito, propõe as provas, ou seja, os sentimentos que lutará para vencer; a partir daí, você, espírito, propõe as situações da sua vida e as verdades que comporão o ego. Nada é por acaso, mas tudo fruto do seu livre arbítrio espiritual.

Só que depois que o espírito “nasce” o ego continua sendo montado. A ação da mãe, pai, família, sociedade e escola, que transmitem verdades planetárias à criança, acabarão de formar o ego.

“Não mexe aí”, “está na hora de papar”, “tem que tomar banho todo dia”, “lave suas mãos antes de comer”. Todos estes “ensinamentos” vão se juntando às verdades que você criou antes de nascer e passarão a fazer parte do ego, como elementos necessários às provações do espírito.

Por isto também não pode ser por acaso que o espírito nasça nesta ou naquela família, que conviva com esta ou aquela sociedade. Para que a provação seja perfeita é necessário que cada um destes elementos que auxiliam na composição do ego tenham verdades que resultem no gênero de provas que você pediu.

Assim, se você tem uma mãe dominadora que busca castrar as suas verdades, isto era necessário. Se você tem um pai desleixado com a sua criação ou que não lhe dá amor, isto era necessário para a sua provação. Se você nasceu em um país subdesenvolvido onde a fome e a corrupção existe, isto era necessário para sua provação.

Quando se fala, então, na formação do ego é preciso saber que ele é criado antes do nascimento com verdades básicas e depois é completado com verdades planetárias que são transferidas pelos os outros seres humanos.

Daí então podemos dizer que a função da mãe e do pai não é aquela que os seres humanos querem lhe atribuir (preparação para a vida carnal), mas sim de completar ou ego, ou seja, transmitir as verdades planetárias que auxiliarão na composição do “campo de provas” do espírito encarnado.

Participante: O meu corpo também é feito pelo ego?

De certa forma sim. Ele é projetado pelo espírito em consonância com as provas e as verdades contidas no ego, pois ele também é instrumento da ação carmatica que você vai vivenciar.

Por exemplo: se você é apegado à vaidade poderá, como prova, pedir para ter um corpo “gordo” e verdades que dizem que você não deve ser daquela forma.

Desta forma, com a união das verdades do ego e o desenho do corpo está formado o seu “campo de batalha”: lutar para amar a Deus acima de todas as coisas ou entregar-se ao sofrimento porque, por vaidade, gostaria de ser magro.

A partir desta sua pergunta podemos, então, evoluir em nossos estudos de hoje. Já definimos o ego e vimos como ele é criado e agora descobrimos para que ele existe: para criar a dualidade que serve de prova ao espírito encarnado.

A “vida”, portanto, começa na programação do ego antes da encarnação e se desenrola através do encontro deste com os acontecimentos também pedidos.

Com esta consciência o espírito entra no processo de “nascer”. Ele apesar da existência do ego, ainda possui a consciência espiritual, mas durante o início da “vida” (infância e juventude) o espírito começa a receber impulsos externos (os ensinamentos que a sociedade passa) que combinam com as verdades

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que estão no seu ego. Isto solidifica esta verdade até o ponto em que as verdades espirituais acabam ficando esquecidas.

Por isto as mães não devem ser culpadas pela forma como “educam” seus filhos. Nenhuma mãe deve temer pela “educação” que transmitirá aos seus filhos, pois quando agem de qualquer forma, estão prestando um serviço ao espírito.

Não aquele serviço que ela acha que está fazendo (ensinando-o a “viver”), mas o serviço de solidificar verdades que no futuro servirão como campo de provas para o espírito.

Depois do “nascimento” os pais, família, sociedade e escola vão solidificando verdades e o ser humanizado vai esquecendo as verdades espirituais e passa a vivenciar as verdades materiais como realidade, o que é necessário para que a provação do espírito aconteça.

Este processo de esquecimento, no entanto, não pode ser traduzido por um “abandono” completo das verdades espirituais. Na verdade o espírito não acaba com as verdades espirituais, mas as esquece, as abandona, as troca pelas verdades materiais.

A melhor palavra para definir esta ação seria a de jogar o “véu do esquecimento” sobre as realidades espirituais que possui e gerar mayas (ilusões) que servirão de guia para as provas que irá executar.

Vamos explicar isto melhor. Todas as verdades que um ser possui estão guardadas na memória ou consciência. Se falarmos que existem verdades materiais e espirituais, é justo também afirmarmos que existe uma memória material e outra espiritual, ou seja, consciências diferentes para “guardar” estas verdades.

Quando fora da carne o espírito opera apenas as verdades contidas na memória espiritual. Quando vai encarnar cria uma memória material (ego ou conjunto de verdades) que gradualmente vai se sobrepondo à espiritual.

O espírito quando assume a sua materialidade por completo não consegue mais acessar a memória espiritual que está encoberta pelas verdades materiais. Este é o abandonar que falei.

No entanto, esta transferência de valores não ocorre apenas de uma vez. Vamos fazer uma figura apenas para que vocês possam compreender o que estou dizendo. Isto não é realidade, mas apenas uma figura para que possa haver compreensão por parte de vocês que precisam de formas para compreender as coisas.

A memória material é como se fosse um “pedaço de madeira cheio de buracos”. Em cada “furo” está guardada uma verdade sobre cada elemento do mundo material. Quando estes “furos” estão “cheios” o espírito não consegue acessar à consciência espiritual porque a memória material está sobreposta à espiritual.

Quando o espírito, através do processo raciocínio vem buscar verdades para avaliar as percepções, só consegue acessar as que estão acima, na consciência material, porque o “furo” está cheio. Enquanto o “buraco” estiver vazio o espírito conseguirá acessar à espiritual.

Por isto dissemos que gradativamente a sociedade vai humanizando o espírito, ou seja, vai transferindo verdades materiais que ocupam estes “furos” não permitindo o acesso à Realidade universal. Isto é o que ocorre na infância do ser humano.

O “espírito” nasce com consciência espiritual, mas aos poucos não mais consegue ter acesso a elas porque todos os “furos” estão ocupados”. Aí vive só com as verdades espirituais. Ao longo do processo de

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reforma íntima, ou seja de troca de valores, vai destruindo estas verdades materiais desobstruindo os “furos” e aí pode, então, acessar as verdades espirituais que estão abaixo delas.

Participante: Mas, assim, não vou me lembrar de nada que aconteceu nesta “vida”?

Você está confundindo memória de lembranças com verdades embutidas no ego. Não estou falando da memória que guarda a lembrança dos acontecimentos, mas daquela que dita as verdades da sua vida.

As verdades que estão nesta memória consciência que estou falando podem ser eliminadas, mas isto não quer dizer, por exemplo, que esquecerá a cena do seu casamento.

Continuando no nosso estudo de hoje. Você programou as verdades para a sua encarnação e ao longo do que chama de infância e juventude elas vão sendo reforçadas até a ponto de se alguém lhe disser que o está ali arquivado é mentira, você dirá que o mentiroso é ele, porque acredita e confia piamente nas verdades arquivadas na sua consciência material.

Para o ser humano a consciência material é o guia infalível: a razão. Por isto se auto proclama o ser racional. Mas, pelo que estudamos isto não é virtude, mas pelo contrário, significa um espírito que se prende à uma consciência material em detrimento da sua Realidade: as verdades espirituais.

Por isto afirmo: toda vez que você busca qualquer informação racionalmente fugiu da razão espiritual. Isto porque trabalhou a partir da sua verdade individual e passageira e não da espiritual que é eterna e universal que está abaixo desta.

Participante: Então é para isto que existe a meditação? Para que nós fujamos da memória material e consigamos acessar diretamente a consciência espiritual?

Exato, mas a meditação que você está falando (estado onde não há pensamentos) é impossível de ser realizada pelos seres humanizados.

A característica fundamental do espírito é ser inteligente. Ele é o princípio inteligente do Universo e na carne se confunde com a inteligência do homem: estas duas informações estão em “O Livro dos Espíritos”.

Para você, “viver” é estar se mexendo, em atividade, pois algo que não possui movimentação aparente não tem “vida”. Então, sem medo de errar, posso dizer que para você ser humano vida é sinônimo de movimento.

Pergunto então: qual é o movimento que uma inteligência faz? Raciocinar. Portanto, a inteligência que não raciocina é uma inteligência morta.

Desta forma o “calar a mente” que se procura hoje através da meditação (deixar de raciocinar) é impossível porque significaria a sua morte e você jamais se suicidaria.

Tanto isto é realidade que, se perguntarmos aqui – e olha que aqui tem muita gente que faz meditação – quando cada um consegue realmente silenciar a mente, ninguém diria que sempre.

Mesmo que dissesse eu provaria que não, pois vocês só fazem meditação ouvindo músicas ou sons. Neste caso, a mente continuaria funcionando, pois quando isto está acontecendo ela está trabalhando.

Participante: Mas na meditação entramos em contato com outra vibração.

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Não, você não entra em contato com outra vibração externa porque está preso ao ego (mente). Lembre-se que para você apenas o que lhe é consciente, ou seja, passa pela mente, existe. Portanto, a outra vibração que você alega que entra em contato e que é compreendida através da razão foi criada dentro de você pelo seu ego.

Sendo assim, esta vibração que você acha linda e maravilhosa faz parte do seu ego e ao vivenciá-la não algo que alcançou no Universo, apesar de imaginar que sim.

O que você sente, na verdade, não é um êxtase espiritual, mas, vamos dizer assim, a programação de maravilhoso que você fez antes de encarnar. Para que realmente alcançasse algo extra você isto teria que ser compreendido sem a utilização da razão e isto é impossível para o ser humanizado.

Aquilo que você sente durante o processo de meditação não é algo externo, novo, mas apenas o que você padronizou na formação do ego para ser avaliado como maravilhoso.

Este é o meditar ao qual você se reporta. Mas, deixe-me colocar no sentido espiritual da reforma íntima o que deve ser a meditação para você: silenciar a mente...

Não calá-la: silenciá-la. “Hoje eu estou tão cansado! Cala a boca mente; eu não estou cansado”. “Eu queria tanto comprar aquilo! Cala a boca mente; eu não quero comprar nada”.

É isto que podemos chamar de meditação espiritualmente falando: raciocinar o raciocínio para silenciá-lo, não deixá-lo agir conduzindo-o dentro das verdades dele na “vida”.

Participante: Então meditar é ir contra a mente?

Não, você não vai contra: você desmente-a. Você precisa deixar de acreditar no raciocínio e não lutar contra ele.

Esta meditação à qual estou me referindo é fundamental para a elevação espiritual, pois se você não desmentir as idéias que lhe vêm à mente não está lutando contra o ego porque elas compõem o seu ego. Então, o processo de meditação que auxilia o espírito a elevar-se é raciocinar o seu próprio raciocino.

“Eu quero comprar um carro”. Neste caso meditar seria perguntar “por que eu quero comprar carro, para que eu quero isto”?

Claro que o ego não vai se entregar logo na primeira meditação: ele terá sempre respostas prontas: “porque é preciso ter um carro”. Continue meditando: “por que eu preciso ter um carro”? “Para andar mais rápido”. “Para que eu quero andar rápido?” E assim sucessivamente.

Meditar é questionar todo raciocínio que surge até que você desmoralize o ego, a verdade que ele propõe, deixando-o sem ação.

Veja bem. Com este exemplo não quis dizer que você não pode ter carro, mas que o desejo expresso pelo ego que cria uma condição para ser feliz diferente do que você, espírito, possui, precisa ser combatida.

Na verdade o que você precisa fazer é não criar a obrigação de “ter” porque o sofrimento de “não ter” é originado pela obrigação de “ter” e ele lhe afasta da Realidade: a vida em “bem-aventurança”.

Participante: O senhor está falando em apego?

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Eu tenho medo da palavra apego porque o ego cria mayas e vocês muitas vezes se iludem afirmando que não estão apegados a nada, mas estão. Quando decretam que devem se sentir livre do carro, estão trocando um apego pelo outro: o do “ter um carro” pelo de “não ter um carro”.

Isto ocorre porque você quer se desapegar através do ego, ou seja, do raciocínio, da razão, da lógica. Quando isto ocorre está criando uma nova verdade, uma nova razão e uma lógica à qual se apegará.

Existe um ensinamento do Buda que é o “não-eu”. A humanidade imagina que este ensinamento é “não ser nada”, mas o que Buda quis dizer é que cada um deve compreender que é composto pelo todo.

Você já é e tem tudo o que pode “ser’ ou “ter”. Compreendendo isto, ao invés de lutarem para não ter o carro, vocês se sentirão possuidores dele, mesmo que a matéria que o compõe não esteja sob sua guarda.

Aplicando este ensinamento no momento que o ego lhe propuser verdades, você não criará uma nova verdade (de “não ter”) e só aí poderá libertar-se realmente dos apegos que possui sem criar um novo.

Participante: Fale um pouco mais sobre o “não eu”.

O problema é que você se sente uno, ou seja, não composto de nada. Isto ocorre porque a sua visão não alcança os detalhes microscópios de tudo aquilo que lhe compõem e está vivo dentro de você.

Se eu, por exemplo, disser agora que você é uma vaca, se ofenderia? Mas, certamente já bebeu leite, não? Este fato levou a vaca para dentro de você, para lhe compor. Sendo assim, eu posso afirmar que a vaca está lendo este livro.

O problema é que você não vê isto: não vê o leite e a vaca agindo na sua leitura. Para compreender o “não eu” é preciso entender a existência da vaca dentro de cada um que já bebeu leite ou alimentou-se de um derivado dele.

Outro exemplo da sua curta visão sobre as coisas. Chovendo nesta cidade com certeza vocês que estão aqui dirão que o tempo está “feio”, “ruim”. Mas, vocês sabiam que se não chover não há comida?

Por isto, para o agricultor, quando chove é um tempo “bom”. Ele sabe que a chuva garante a colheita e com isto o abastecimento de outros seres humanos, sem falar no seu próprio lucro.

Portanto, a chuva é “ruim” ou “boa? O que é preferível: o “bom” tempo ou a “chuva”?

A chuva não é “boa” nem “má”. A qualificação que se dá a ela depende do ponto de vista de cada um. Agora em um ponto todos tem que concordar: a chuva é necessária, pois sem ela não haveria alimentos para o ser humano alimentar-se.

Mesmo compreendendo agora a realidade da necessidade da chuva, amanhã quando chover, vocês ainda dirão que o tempo está ruim? Por que?

Por causa da sua não visão da interdependência das coisas, ou seja, porque acreditam que a comida nasce no super mercado e ali não há necessidade de chuva para ela existir.

Era isto que eu queria mostrar para lhe explicar o “não eu”: a sua pequenez ao “enxergar” a vida. A comida nasce no campo, mas você não vê isto; a vaca está lendo estas linhas, mas você não vê isto, porque está olhando para si superficialmente como olha para todas as coisas do mundo.

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Toda esta compreensão do “não eu”, portanto, pode nos levar a compreender que é possível se desapegar, mas que isto não representa que você deve trabalhar para não ter carro ou qualquer outro objeto material.

Aliás, veja bem, eu disse claramente: você constrói o ego e os acontecimentos pelos quais passará durante a encarnação. Assim sendo, se você tem uma casa própria a construiu antes de nascer: criou o acontecimento antes da encarnação.

Agora se você a construiu para a sua encarnação, precisa agora depois de encarando largá-la, abandoná-la? Claro que não. O que precisa é aprender a viver com ela sem obrigações que são verdades que você também colocou no ego para criar a sua prova.

Isto é o desapego: libertar-se da prisão de verdades que o ego lhe propõe. Sobre a casa, por exemplo, ele pode dizer que ela é “pequena”, “feia”, ou incrementar a luxúria (“maravilhosa, “luxuosa”, etc).

Se você não se prende às condições que o ego dita para a casa existir, amanhã ela se deteriorar ou se Deus a desfizer, não sofrerá, mas enquanto a casa estiver de pé e você morar lá seja feliz com ela do jeito que está, sem subordinar-se ás paixões e desejos que o ego lhe instiga.

Se o desapego fosse livrar-se do bem material, como poderiam existir para você estas provas?

Participante: O senhor está falando em não se escravizar as coisas materiais, é isso?

Esta escravidão que você fala também tem que ser entendida. A escravidão que eu falo é no sentido de não atribuir à coisa material o sentido de real e verdadeiro.

Participante: Este desapego seria estar sem sentimentos (“bom ou mau”, “certo ou errado”)?

Não, pois sem sentimento você jamais estará. Eu falo em viver com equanimidade todas as coisas, que é um sentimento que deve ser vivenciado.

Além de tudo, “bom ou mau” não é um sentimento, mas uma conceituação que nasce de um sentimento.

O ser espiritual precisa ter sempre um sentimento senão estaria morto, sem “vida”, já que viver para o espírito é sentir.

Participante: E os dons com que cada um nasce? Por exemplo, a música, a pintura, etc. Também existe a necessidade de se libertar do apego a eles?

Os dons com que cada ser humano “nasce” também são construções que o espírito faz dentro do ego para suas provas.

Ter o dom da música, por exemplo, leva o espírito a testar a sua equanimidade, ou seja, viver com quem não gosta de música sem críticas e julgamento. Tem gente que tem o dom da música e não aceita aqueles que não gostam dela e dizem que eles são bobos, não sabem o que é “bom”, que não compreendem a beleza da música: estes não realizaram a contento a sua provação.

Olha o tema de hoje: o ego agindo, lhe propondo verdades que precisa vencer. Esta ação do ego poderá ser encontrada em qualquer ângulo da vida humana, pois combatê-lo é o motivo da existência da “vida”.

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O ego é o código de leis através do qual você vê o mundo, cria realidades. Por isto ele participa de todos os momentos da existência do ser humanizado.

Na verdade, para criar as realidades que vivencia, o ego julga o mundo de acordo com as suas verdades embutidas. Por isto afirmo: o ego é a trave que está no seu olho que lhe faz ver cisco no olho dos outros.

Viva as suas verdades só para você porque é isto que elas são: verdades relativas e individuais. Não é porque gosta de música que todos tem que gostar disso.

Portanto, respondendo-lhe: o dom também faz parte do ego, da prova, do carma do espírito.

Participante: O ego existe em todo Universo?

O ego, uma consciência à qual o espírito se liga, sim. Agora o ego humanizado não, pois ele é um instrumento de provas e por isso só está presente onde existem provas a serem realizadas.

Agora, isto não quer dizer que é só neste planeta que ela exista.

Participante: Ele só existe nos espíritos encarnados?

Ser encarnado é estar em prova, independente da “carne” (matéria) ao qual estão ligados. Portanto, enquanto houver “encarnação” há ego.

Isso nos leva a compreender que a “morte” não é o fim da encarnação, mas o “fim do ego” é que determina este momento. Aquele que acredita que “morte” põe fim a uma encarnação não vê que o ego pode acabar muito depois do espírito estar liberto da matéria carnal, depois do espírito se separar da carne.

Isto é verdade. Vocês nunca ouviram falar de fantasmas? Aqueles espíritos que permanecem na casa material afirmando que ela é deles e que ninguém vai morar lá? Que continuam carregando um imaginário bem (dinheiro, jóias, títulos) dizendo que não deixarão para os herdeiros?

O que é isto senão um espírito comandado pelo seu ego? Um ser espiritual aprisionado às verdades individualistas que o ego lhe propõe? Este espírito ainda está na encarnação mesmo sem carne.

Aliás, este é o grande destino de todos que possuem as coisas do mundo, ou seja, que acreditam na verdade do ego que lhe diz que aquilo é necessário e imprescindível para a “vida”.

Participante: Então o espírito não tem ego?

Este que estamos falando aqui não.

Quando você prepara a encarnação cria o ego de acordo com as provas que pretende realizar. Quando adormece para juntar-se ao corpo liga-se a este ego, ou seja, a esta consciência.

Participante: As verdades que estão no ego são eternas para o espírito?

Não, elas são criadas para esta encarnação e acabam com o fim dela. Ou seja, quando você se libertar do ego, de uma forma ou de outra, libertar-se-á das verdades dele.

De qualquer maneira, sempre terá que haver uma libertação do ego presente seja preso à carne ou não, para que possa haver uma nova encarnação. O fim das verdades programadas para uma encarnação é necessário porque enquanto você não se libertar do ego que vive hoje, não poderá reencarnar.

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Se o seu ego de outra vida era composto por verdades que lhe prendia ao sexo masculino, como poderá agora viver uma encarnação com verdades femininas? Precisa haver o fim destas verdades para que novas possam ser assumidas.

Por isto se afirma que, quando o espírito sai da carne e sem se libertar do ego terá que passar por um processo de desmagnetização. Já ouviram esta palavra?

Ela está presente em todos os livros da literatura espírita: o espírito “morre” e vai para o hospital espiritual onde receberá passes de desmagnetização. Isto quer dizer: receberá passes que o desligará da consciência do ego que criou para a encarnação.

Isto ocorre com alguns. Outros vão para o umbral e continuam “vivendo” e sofrendo por causa das verdades que tem. Continuarão vivendo com aquelas verdades que possuíam durante a vida carnal e que precisarão ser contestadas até o dia em que o espírito, cansado de sofrer, apela a Deus.

Aí ele será atendido, levado para o hospital, desmagnetizado para voltar a viver com a memória espiritual. Depois disto passará por processo de estudo das coisas espirituais até que um dia desenvolverá novo ego e encarnará. Este é o ciclo da vida do espírito.

Participante: E o “saldo” que ficou de vidas passadas, são parte do ego?

Fazem parte do ego atual e não mais o ego anterior. O “saldo” que não foi trabalhado em vidas anteriores poderão ser partes do novo ego, mas o ego anterior morreu, acabou.

Participante: Então o que se faz numa terapia de vidas passadas?

Você acessa acontecimentos de vida passadas, de egos passados, que estão presentes na lembrança deste ego. Se eles não tiverem sido colocados no ego de agora não conseguiria ter acesso a eles.

Por isto muita gente não consegue “voltar” ao passado mesmo com a terapia. E também por isto as pessoas só se lembram de fragmentos, de momentos de outras vidas e não dela toda.

Participante: Então, o espírito precisa ter o seu ego apagado para poder reencarnar novamente, mas quando isto acontecerá?

Você falou bem: o ego será apagado. Não será a sua ação que apagará o ego, mas ele será apagado de fora para dentro.

Isto é necessário, mas só acontecerá quando o espírito tiver merecimento para tanto. Você já leu nos romances espíritas as visitas dos “socorristas” ao umbral? Eles passam por milhares de espírito em sofrimento e não os atendem.

Fazem isto porque não podem agir de forma diferente com aqueles espíritos porque eles ainda não têm o merecimento de serem atendidos. Só quando o espírito começa a lutar contra o seu ego pode ser socorrido. Por isto os socorristas vão sempre a lugares determinados socorrer espíritos determinados.

Este tema que estamos conversando agora (o da necessidade de se apagar o ego mesmo depois da encarnação) é muito importante. Veja bem, vocês já viram corridas de carro?

Enquanto está na corrida o carro está andando. Depois que cruza a reta final, ele não para: continua andando. Só que este “andar” não vale mais nada para a corrida.

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Com a elevação espiritual é a mesma coisa: tudo que você vencer do ego enquanto estiver presa à carne, “conta pontos” para a elevação espiritual; tudo que fizer depois do desencarne não “conta”.

Ou seja, você terá que obrigatoriamente vencer o ego para continuar a sua caminhada: se vencê-lo ligado à carne promove a elevação espiritual; desligando-se dela depois do desligamento da matéria, não terá vitória, mas precisará eliminar as verdades do mesmo jeito. Nesta forma de vitória sobre o ego, você terá realizado apenas uma limpeza de verdades para poder se preparar para uma nova encarnação e isso de nada vale para a elevação espiritual.

Então, veja: quem foge nesta vida de lutar contra o ego está fazendo uma besteira, pois terá que limpá-lo de todo jeito. Quem aproveita a oportunidade e luta quando ainda encarnado liberta-se da sansara (roda de encarnações – termo hindu), mas quem não faz, executa o mesmo trabalho (limpeza de verdades) e ainda terá que criar um novo ego para ter que vencê-lo novamente.

Participante: Por favor, me mate uma curiosidade. Como foi, por exemplo, a ação do ego na vida de Jesus Cristo?

Qual a notícia que você tem de Jesus antes do início da missão? Nenhuma, pois ele era um ser humano comum, ou seja, um espírito em luta contra o seu ego.

Com o despertar, ou seja, com a vitória sobre as verdades do mundo ele se transforma em Jesus Cristo, ou seja, Jesus, o Messias.

Participante: Então ele também teve uma programação?

Claro, pois se não houvesse passado por provas e as vencido não teria moral para ensinar. Todos diriam que para ele foi muito fácil viver da forma que viveu porque não tinha nada a vencer. Portanto, ele só virou Jesus Cristo porque venceu o seu ego.

Estudem a história dos santos que verão que todos têm um “despertar”, ou seja, um momento em que se desligam das verdades humanas e passam a viver outra realidade. Todos os santos nasceram seres humanos normais e um dia eles despertaram: venceram o ego.

Participante: Acho que para ele era mais fácil, pois deveria se lembrar de vidas passadas.

Isto seria injusto. Por que ele teve este privilégio no seu trabalho material e você, por exemplo, não teve? Deus não pode fazer isso: “meu filho eu gosto mais de você vou dar lembranças de vidas passadas”. Isto seria injusto.

Não, Jesus viveu com as mesmas verdades que você vive e as venceu. E não venha me dizer que para ele foi mais fácil porque a vida de hoje é mais complexa, que isso não é real.

Aliás, no tempo dele eu acredito que a vida fosse muito mais complexa que a de hoje.

Hoje, por exemplo, você vai ao mercado e compra a comida pronta que pode vir de muitas fontes. Ele, no entanto, tinha que plantar para comer e só dependia daquela fonte para viver.

Sendo assim, era preciso estar muito mais atento às coisas do mundo do que vocês hoje, pois poderia morrer de fome se alguma coisa desse errada na sua plantação.

Esta preocupação é claro, era composta por verdades que precisaram ser vencidas, enquanto hoje, suas preocupações estão voltadas a coisas mais fúteis, mais fáceis de vencer do que a própria subsistência.

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NOTA: Esta vitória pode ser constatada no ensinamento do mestre nazareno onde ele pergunta aos discípulos porque eles se preocupam com a comida. Nele estão as bases daquele que venceu as preocupações de uma época que outros não fizeram.

Participante: Qual a diferença entre missão e prova?

Prova é a encarnação de um espírito que tem como objetivo conseguir a sua elevação espiritual. Missão é aquela onde o espírito que já promoveu a sua elevação espiritual, reencarna para auxiliar o próximo na sua caminhada.

Apesar desta definição, todos os espíritos podem ser considerados missionários, pois na maioria dos relacionamentos dos seres humanos acontecem provas e missões simultaneamente.

Sempre que você se relaciona com alguém está passando por uma prova para você e, ao mesmo tempo, com sua ação está ajudando o outro a passar pelos testes dele. Portanto, existem “espíritos missionários” e espíritos que, mesmo em prova, cumprem missões.

Ainda dentro deste tema, podemos afirmar que existem espíritos missionários coletivos e individuais. Ou seja, existem espíritos que vêm cumprir missão para uma coletividade, qualquer que seja o tamanho dela, mas existem alguns que encarnam apenas em missão de auxiliar especificamente determinado espírito na sua vida.

Participante: Os “espíritos missionários” possuem egos?

Todos os espíritos encarnados possuem, mas os missionários globais, aqueles que vêm trazer auxílio para uma coletividade, precisam passar por provas para poderem iniciar a sua missão, enquanto que aqueles que encarnam com o fim específico de auxiliar um só espírito muitas vezes não.

A única diferença entre o missionário e aquele que encarna para provações é que para os missionários as provas não existem com o objetivo de se conseguir uma elevação individual. Elas servem apenas como preparatório para assumirem as suas missões.

Eles não “ganham” nada, espiritualmente falando, por vencer o seu ego, mas apenas a condição de assumir a sua missão, ou seja, auxiliar o próximo a se elevar.

Participante: É, os missionários tem que servir de exemplo para a humanidade.

Nem sempre. Existe missionário que não serve de exemplo para a humanidade dentro dos critérios de “bom” dela, mas que realiza a missão necessária para auxiliar os outros.

Como exemplo eu cito o “maníaco do parque”, aquele que ficou famoso por estuprar e matar mulheres na cidade de São Paulo.

NOTA: Um caso policial ocorrido na cidade de São Paulo que ficou conhecido por este nome. Trata-se de uma pessoa que matou diversas mulheres depois de havê-las estuprado nas matas de um parque da cidade.

Ele, com sua ação, levou para os espíritos que estavam vivenciando encarnações a prova que cada um pediu para passar. Ele não matou ou estuprou nenhum “inocente”, mas apenas aqueles que pediram para passar por aquela situação, ou seja, que criaram no seu carma aquelas passagens. Ele é, portanto, um missionário, mas não serve de exemplo para ninguém dentro dos padrões humanos.

Como missionário, afirmo ainda, teve que vencer o seu ego antes de executar as suas missões. Sei que falar disto desta forma é difícil para vocês.

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Compreender nestas atitudes (estupro e assassinato) uma missão resultante de uma vitória sobre o ego, para os padrões humanos é completamente impossível. Mas, vamos tentar entender pelo ponto de vista espiritual que vocês verão que o que estou falando é lógico, dentro dos ensinamentos.

A vitória sobre o ego se dá quando o espírito vivencia situações sem prazer nem êxtase. Vivenciar a vida livre da ação do ego é não ter prazer nem dor, ou seja, quando se vivencia o caminho do meio, que chamarei de neutralidade.

Portanto, libertar-se da ação do ego é estar acima do “bem” e do “mal”, do “certo” e “errado”, do “prazer” e do “sofrimento”, ou seja, atingir a neutralidade sentimental (tanto faz) com os acontecimentos do mundo.

Quase todos os indivíduos que comumente matam alguém sentem “prazer” ou “dor” pelo que fizeram. No entanto, aqueles que são considerados, como é o caso deste moço, “psicopatas” têm como característica de personalidade ser indiferente ao que fez. Não sentem “prazer” nem “dor” pelas suas ações.

Então, posso afirmar que os “psicopatas” realizam as ações da sua existência, por mais cruéis que possam parecer aos olhos humanos, sem tirar proveito individual para si (“prazer” ou “dor”). Quando isto ocorre é justo afirmar, de acordo com os ensinamentos dos mestres, que a ação foi vivenciada de uma forma universal.

Portanto, os “psicopatas” são missionários para matar quem precisa morrer do jeito que precisar acontecer. A missão deles é esta: vieram para a carne para dar a oportunidade de outros passarem pela prova deles de serem assassinados.

No entanto, só um detalhe: estou falando dos “psicopatas” e não daqueles que alegam ser. Muitos daqueles que a psicologia considera como psicopata ainda carrega no seu íntimo o prazer em fazer as ações de sua missão e isto os descaracteriza como missionários.

No caso que citei (“maníaco do parque”) este moço é reconhecido como tal pelo mundo espiritual, pois o seu íntimo é conhecido, mas nem todos os psicopatas possuem esta característica.

Se, mesmo tendo sido diagnosticada a psicopatia, ele “sofre” (se acusa) ou tem “prazer” (gosta) com o que faz, tira proveito particular do acontecimento e com isto não pode ser considerado um missionário. No entanto, mesmo assim ele não será “culpado” pelo que faz.

Isto porque, de qualquer maneira, mesmo não sendo um missionário coletivo, ele é um agente carmatico, ou seja, uma pessoa que “negativamente” merecia se transformar em assassino.

Este merecimento negativo ao qual me referi é o carma da pessoa. Por seu aprisionamento ao ego aceitando as verdades que ele propõe como realidade, o espírito gera um tipo de merecimento. Libertando-se desta ação nefasta, espiritualmente falando, do ego ele geraria para si outro tipo de merecimento.

Portanto, se este espírito não está agindo impulsivamente comandado pela ação do ego (“aquela pessoa tem que morrer porque não presta”), mas age sem razões especiais, podemos, então, dizer que ele mereceu “positivamente” exercer esta missão, ou seja, é um missionário.

Sei que este assunto está chocando vocês e que a Realidade das coisas não consegue ser compreendida, mas isto porque ainda estão aprisionados à morte da carne. Quando se libertarem da carne, ou seja, compreenderem que a vida humana nada mais é do que ações carmaticas para o espírito compreenderão o que quero dizer.

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Portanto, todo missionário é um “santo” do ponto de vista espiritual, mas não pelo padrão de santidade da humanidade, pois este é designado pelo ego dos seres humanos que defende a materialidade (a vida carnal) e não a existência espiritual.

O “santo” só pode ser assim considerado se nos ligarmos à eternidade espiritual, ou seja, pelo padrão espiritual: aquele que serve de instrumento a Deus para as ações carmaticas do próximo sem tirar nenhum proveito individual.

É por se basear no padrão de santidade dado pelo ego que a maioria sai da carne imaginando que fez a sua elevação espiritual, mas quando está lá fora vê que nada realizou. Ele não alcançou nada em termos espirituais, mas apenas submeteu-se ao padrão imposto pelo ego, ou seja, continuou sendo escravo das verdades que ele programou para vencer que eram contrárias ao amor universal.

Portanto, quando ouvirem alguém dizer que conseguiu realizar a sua elevação espiritual, saiam de perto: ele nem começou a tentar ainda, pois continua preso aos padrões pré-estabelecidos pelo ego.

Participante: Mas o espírito não pode recusar as missões que lhe são pedidas?

O missionário não recusa missões, mesmo que elas sejam contrárias aos padrões humanos; mesmo que suas atitudes não o levem a tornar-se famoso positivamente.

O apóstolo Paulo nos diz que para alcançarmos a elevação espiritual é preciso servir ao próximo, mas este serviço não pode ser realizado condicionado ao ego. Para se servir ao próximo é preciso realizar o que o espírito precisa, necessita, para poder evoluir-se.

Sendo assim, o espírito quando aceita uma missão, só se interessa em saber se aquilo é realmente necessário para a evolução do espírito e para ele pouca importa se o que irá praticar materialmente (atos) contentará os egos humanos.

Já o ser humano, no entanto, serve ao ego. Para servir ao próximo almeja contentá-lo em suas verdades, satisfazer os seus desejos. Isto quando pensa no outro, porque a maioria se submete apenas ao seu ego, ou seja, serve ao outro do jeito que ele quer, que gosta. Isto não é servir ao próximo, mas se servir dele para nutrir o ego com prazer ou dor.

O ser humano, o espírito aprisionado às verdades do ego, acha que ser “santo” é dar ao próximo o que o mundo precisa, o que a materialidade exige para ser feliz.

No entanto, agir desta forma é ser contrário ao espírito, pois se estará servindo ao ego, às verdades humanas ali embutidas. O que o espírito realmente precisa é justamente de situações que sejam antagônicas com o que ele quer para que possa vencer as idéias propostas pelo ego e alcançar com isto a liberdade na união com Deus.

Participante: É, realmente é difícil compreender o que está sendo dito, porque nós achamos que ser estuprado não é “legal”, mas concordo que realmente pode ser uma prova extremamente necessária ao espírito.

Sim, isto é verdade. E se isto é necessário, porque Deus utilizaria um espírito que se “sujaria” aproveitando-se da ação (sentindo “prazer ou dor”) contribuindo assim mais ainda para aumentar a distância entre ele e Deus?

É por isto que o Pai envia missionários, ou seja, aqueles que podem realizar a missão sem se prejudicar com isso, para realizar os grandes crimes bárbaros e em série. Ele aproveita a vinda destes missionários e coloca diversos espíritos que precisam passar pela mesma situação frente a eles.

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Com isto dá a cada um o que precisa sem expor diversos espíritos que poderiam se “prejudicar”, espiritualmente falando, para servir ao próximo. Sendo assim, Deus aproveita a encarnação de um missionário e faz ele matar logo um “monte” e com isto os carmas são realizados.

O ser humano criado pelo missionário para cumprir a sua missão não é “culpado” destas mortes, espiritualmente falando, mesmo que condenado pela lei humana, pois uma das grandes características dos “psicopatas” (os assassinos em série) é não ter intenção quando pratica o ato.

Se perguntarmos a eles porque fizeram aquilo, não saberiam responder. Diriam que uma força interna o levou a realizar sem que ele conseguisse se deter. Ou seja, eles não saberiam dizer quais foram as suas intenções ao agir.

Cristo ensinou que Deus julga as intenções de cada um. O Pai não julga os atos, o que se faz, mas a intenção com que cada um pratica as suas ações. Estas intenções são a característica da subordinação ao ego, ou seja, a explicação lógica e racional para o que foi feito.

O “psicopata” não tem isto, ou seja, não conhece a intenção de matar, mas age apenas por agir. Portanto, não pode ser considerado “culpado” pela lei de Deus. Pode até ser condenado pela lei humana, mas não pela lei divina, que afinal é o que vale para a existência eterna do espírito, não?

O pecado (culpabilidade pela lei divina), portanto, não está no que se faz, mas na intenção com que se participa das ações. Se alguém faz alguma coisa com a intenção de ter “prazer” individual, isto é pecado, porque demonstra que o espírito fez para se servir e não servir ao próximo. Mas, se não existe esta busca, não é pecado.

Deixe-me contar simbolicamente para vocês uma coisa que acontece no mundo espiritual. Talvez assim consigam compreender a vida humana.

Lá no “céu” tem uma “rádio” que fica tocando música o tempo inteiro. De vez em quando a música para e são ouvidos avisos para os espíritos trabalhadores na seara de Deus.

Um destes avisos, que está ficando cada vez mais comum, diz o seguinte: “atenção senhores espíritos! O avião que vai sair da cidade tal para a cidade tal as tantas horas vai cair. Ponham dentro quem precisa morrer de acidente de avião”.

Na natureza nada se perde. Quem não precisa morrer é induzido a “perder a hora” e quem precisa é induzido a trocar de vôo: do dia de amanhã para o de hoje.

Ou vocês ainda acham que no atentado terrorista dos Estados Unidos morreu alguém que não precisava?

Quando achamos que morre quem não precisava, que não merecia, estamos julgando Deus. Afirmamos que ele errou ou que pelo menos foi omisso: não ajudou quem não merecia.

Acusar omissão em Deus é o mesmo que dizer que ele é a fonte de uma injustiça, pois deixou acontecer algo para quem não merecia aquilo. No entanto, como buscadores religiosos, acreditamos que Deus é absolutamente justo.

Como acreditar numa coisa e viver em outra realidade, ou seja, acreditar que Deus é soberanamente justo e ao mesmo tempo acusá-lo de omisso?

Isto só pode acontecer porque, mesmo os buscadores, se prendem às verdades ditadas pelo ego: isto é bárbaro, é um crime.

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Continuamos no nosso assunto, apesar de parecer que saímos dele completamente: o desenvolvimento do ego. O ego se desenvolve justamente assim: acreditando nele e não em Deus.

Participante: Mas os espíritos não têm o livre arbítrio?

Sim, mas o livre arbítrio de um não pode ser ferido pela ação do livre arbítrio do outro sem que com isto se castre este dom que Deus concedeu a todos.

O livre arbítrio de quem quer jogar o avião dentro do prédio não pode ferir o livre arbítrio de quem está no prédio e não quer morrer. Senão este mundo seria o caos seria a injustiça completa.

Estaria tudo abandonado ao acaso: “eu por acaso fui no prédio, o outro por acaso neste momento decidiu que ia jogar o avião no prédio e eu por acaso morri”.

Este espírito ao desligar-se da carne teria o direito de colocar “as mãos nas cadeiras” e questionar Deus que se diz Onipresente, Onipotente e Onisciente, mas que nada fez para controlar os acasos que interferiram decisivamente na ação universal.

Neste caso o espírito teria “desculpas” para lançar culpa sobre Deus pelo seu fracasso na sua encarnação. “Eu não venci o meu carma, o meu ego, porque o Senhor não agiu para frear o livre arbítrio do outro. Então, a culpa é sua. Por isso, vamos fazer uma coisa: apaga tudo o que eu devo e me considere elevado”.

Na verdade este era o sonho dos espíritos humanizados: ganhar sem fazer por onde merecer, receber de graça. Mas isto, universalmente falando, é impossível, pois cada um recebe apenas de acordo com as suas obras.

Por isto Deus é o Supremo Administrador dos carmas, ou seja, da decisão de realizar provas fruto de um livre arbítrio do espírito. Portanto, tenham a certeza: quem estava dentro dos prédios ou quem estava dentro dos aviões que se chocaram contra eles, ali estavam como fruto do seu livre arbítrio espiritual, Pediram tal prova para sua existência e Deus os colocou lá administrando o que cada um desejou quando ainda de posse da sua consciência espiritual.

Participante: É, realmente seria mais fácil se ganhássemos de graça a elevação espiritual. Por isto nos deixe sonhar com esta possibilidade, pois afinal sonhar não custa nada.

Custa muito caro: sonhar custa a fuga da realidade.

Quem sonha com o futuro vive num mundo ilusório cedendo ao ego cheio de ilusão enquanto a Verdade, a Realidade, a vida, a oportunidade de elevação está passando à sua frente.

Sonhar que este mundo pode ser totalmente constituído de atos santificados sem ter feito por onde merecer que isto ocorra, é uma ilusão que o leva a transformar a Realidade (a ação carmatica justa e merecida) em horror, sujeira.

“260a. Assim, se não houvesse na Terra gente de maus costumes, o Espírito não encontraria aí meio apropriado ao sofrimento de certas provas? E seria isso de lastimar-se? É o que ocorre nos mundos superiores, onde o mal não penetra. Eis porque nesses mundos, só há Espíritos bons. Fazei que em breve o mesmo se dê na Terra” (O Livro dos Espíritos).

Participante: Então a eutanásia não é errada?

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Não. Sendo praticada é porque tinha que ser e era naquela hora e daquela forma que deveria acontecer o desencarne. Se não foi praticada não era para ser. Não era ainda aquele o momento nem a forma que o espírito deveria desencarnar.

“853a. Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos? Não, não perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora de tua partida, nada poderá impedir que partas. Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e muitas vezes seu Espírito também o sabe, por lhe ter sido isso revelado, quando escolheu tal ou qual existência” (O Livro dos Espíritos).

Reparem bem no que estamos fazendo enquanto respondemos a todas estas perguntas: combatendo os egos de vocês, ou seja, as verdades que estão contidas nas suas memórias sobre os acontecimentos da vida. Estamos mostrando, dentro dos ensinamentos dos mestres, que aquilo que você acredita não é Real no sentido espiritual ou universal, mas uma particularidade criada pelas verdades planetárias.

No entanto, o que estou falando aqui não pode lhe levar a criar novas verdades: “a eutanásia deve ser praticada”. Se isto ocorresse vocês apenas teriam trocado uma verdade pela outra, mas não teriam se libertado do ego.

O ensinamento que Deus enviou através dos seus mestres não é para vocês saberem o que vai acontecer no futuro (ter verdades que determinem o que é “certo ou errado”), mas para não julgarem os outros nem você mesmo.

Se a ação foi praticada era isto que tinha que acontecer, se não ocorreu é porque nunca deveria ter ocorrido: isto você pode concluir sem apegar-se ao ego.

O que estou ensinando, na realidade, é que depois que os acontecimentos já ocorreram vocês não devem culpar os outros ou a si mesmo. O que se passou não foi obra exclusiva da vontade de um, mas os dois, utilizando-se do seu livre arbítrio, combinaram tal ação antes da encarnação.

Toda a vida é baseada nestes acordos pré-escritos que compõem aquilo que chamamos de livro da vida do ser humano. Depois que encarnam, ou seja, depois que assumem a consciência humana (acreditam ser o ego), esta Realidade some das suas mentes.

Portanto, amanhã acontecerá tudo o que foi acordado previamente com outros espíritos, mas você não tem como prever o futuro, ou seja, saber o que irá acontecer, porque o “véu do esquecimento” cobre a sua consciência espiritual.

Seus atos e daqueles com quem se relacionará serão guiados por estes acordos pré-estabelecidos e Deus fará com que eles aconteçam no momento que vocês planejaram para tanto na sua encarnação. Agora, depois que eles aconteceram você, pelo aval divino, pode ter a certeza de que aquilo estava pré-estabelecido e por isso não existem culpados.

Isto quer dizer, também, que vocês não podem querer antecipar que reações surgirão de tal ato, ou seja, o que sucederá pelo que aconteceu agora. Isto, como ato que é, também já está pré-estabelecido e ocorrerá independente do que vocês acharem agora que vai acontecer.

Querer saber o que irá ser feito, o que resultará de tal acontecimento, é uma ação racional do ser humano, ou seja, pensamentos criados pelo ego que vocês acreditam como reais, mas que são originados por verdades que precisam vencer.

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Desta forma, se o ego lhe diz que tal coisa resultará naquilo, isto é o que precisa vencer. Se o ego lhe diz que tem que agir de tal forma, isto é uma verdade que precisa ser vencida.

Se você não luta para desmoralizar o ego, ou seja, se submete ao que ele afirma que é real, não estará realizando a sua reforma íntima e alcançando a elevação espiritual.

Nada que o ego lhe diz é real. Nem o que ele fala de outras pessoas nem o que fala de você mesmo.

Um dos grandes aspectos que o ego explora é a sua culpabilidade, a sua sensação de culpa. Ele próprio cria esta sensação e você, que se aprisiona a ele, crê-se culpado e com isto para de buscar a Deus.

No livro “Jesus no Lar”, transmitido pelo espírito Néio Lúcio, existem parábolas que Cristo contou durante as reuniões noturnas que não estão na Bíblia Sagrada. Numa delas ele fala de um homem totalmente devotado a Deus que estava sendo observado pelas hordas do inferno que queriam destruí-lo.

Para isto Satanás bolou dezenas de plano. Levou aquele ser humano à falência total, financeira e física; criou diversos embaraços para que o homem ficasse desacreditado pela sociedade e pela família. Em nada resultaram os esforços diabólicos, pois o homem continuava temente a Deus.

Um dia Satanás teve uma grande idéia: orientou seus discípulos a explorarem as supostas “falhas” daquele ser humano acusando-o. Foi o bastante: o homem oprimido por suas culpas deitou-se e não mais obrou pelo Pai até o desencarne.

Quem lê esta história pensa que Satanás agiu sozinho, mas isto não é Realidade. No livro de Jó encontramos passagem na qual Deus estava no céu em reunião com seus anjos quando Satanás vai visitá-Lo.

“De onde vem vindo”, pergunta Deus a Satanás. “Estive dando uma volta pela Terra, passando por aqui e por ali”. Aí Deus disse: “viste o meu servo Jó? No mundo inteiro não há ninguém tão bom e honesto como ele. Ele me teme e procura não fazer nada que seja errado”.

Satanás, então diz a Deus que ele só agia assim por interesse próprio. “Tu não deixas que nenhum mal aconteça a ele, à sua família e a tudo o que ele tem”. E lança um desafio ao Pai: “Mas, se tirares tudo o que é dele, verá que ele te amaldiçoará sem nenhum respeito”.

O Deus Eterno, para provar Jó diz então: “pois bem. Faça o que quiser com tudo o que Jó tem, mas não faça nenhuma mal a ele mesmo” (A primeira tentação de Jó está no livro bíblico de Jó, capítulo 1, versículos de 6 a 13).

A parábola não para por aí: existe ainda a segunda prova de Jó, mas já dá para compreendermos o que estamos falando: Deus dá permissão ao “diabo” para nos tentar no sentido de nossa fé, mas dentro de condições que reflitam o nosso carma ou merecimento.

Mas quem é o diabo? É o ego que a todo momento nos faz as três proposições que constam das “Tentações de Cristo”: “se você é filho de Deus, mande que estas pedras virem pão”; “se você é filho de Deus, jogue-se daqui de cima, pois as Sagradas Escrituras dizem que Deus mandará que os seus anjos cuidem de você”; depois o diabo levou Jesus para um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e suas grandezas e disse a ele que lhe daria tudo isto se o adorasse de joelhos (A tentação de Jesus – Mateus – capítulo 4 – versículo 3 a 9).

Para se libertar das tentações do ego é preciso acima de tudo, livrar-se da culpa: sua e dos outros e do próprio ego. É preciso compreender que todas as situações da vida são ações carmaticas, ou seja, é aquilo pelo qual o espírito humanizado precisa vivenciar como justa recompensa do que fez anteriormente.

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Sendo assim, não há culpas, pois todos recebem aquilo que mereceram e nem um centavo a mais.

Participante: Já que o senhor falou em carma, como ficam as culpas daqueles que mataram Cristo, Gandhi, Martin Luther King?

Nos casos onde a exposição à execração pública é muito grande são espíritos missionários que executam estas missões. Neste caso (executando missões) o espírito não gera para si o “carma negativo” que você quis afirmar na sua pergunta (culpados).

Eles não são culpados porque participam de uma ação que é imperioso que aconteça. Imagine se Cristo houvesse morrido velho, de cama, sem nenhum dos sofrimentos pelo qual passou? Certamente vocês nem teriam ouvido falar deles, assim como não conhecem muitos dos missionários que tiveram este fim.

Portanto, era preciso ser feito o que foi feito e quem fez não teve culpa alguma.

Por isto Cristo diz na cruz: “Pai, perdoa porque eles não sabem o que estão fazendo”. Eles imaginam que estão se vingando contra mim, mas nada estão fazendo além da Sua própria obra.

Participante: O senhor poderia enumerar alguns dos missionários, ou seja, espíritos que não tinham mais provas para realizar durante a sua encarnação?

Como já falei anteriormente, sempre que duas ou mais pessoas se relacionam ocorrem dois acontecimentos diferentes no sentido espiritual para cada um dos envolvidos.

Ao mesmo tempo em que está participando de provas suas que são propostas pela ação do próximo, o espírito humanizado também serve de instrumento para gerar provas para os outros que estão se relacionando naquele momento.

Isto caracteriza a missão individual de cada um, ou seja, o servir de instrumento para a elevação do próximo. Portanto, em todos os momentos onde estão acontecendo relações entre seres humanizados cada um está passando por sua prova, mas ao mesmo tempo sendo um missionário para auxiliar o outro.

É por isto que em “O Livro dos Espíritos”, na pergunta 132, que diz respeito ao objetivo da encarnação, há o seguinte trecho: há ainda na encarnação o objetivo de “pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de ali cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.

Portanto, a obra da criação da vida é guiada por Deus (“cumprir as ordens de Deus”) que proporciona a ação carmatica para os espíritos. Participando da ação carmatica o espírito está concorrendo para a obra geral e ele próprio se adianta.

Se o adiantar é manter-se em harmoniza com Deus (amá-Lo acima de todas as coisas) e a participação na ação carmatica serve, ainda, para levar os outros também à elevação todos executam missões. Por isto, respondendo a sua pergunta, posso afirmar que todos os seres que já encarnaram no planeta, mesmo que para provas e expiações, foram missionários.

Participante: Estou perguntando isto porque a imagem que nós temos de missionários são aqueles que vem trazer coisas “boas” para nós.

Mas, mesmo o missionário que não é reconhecido como tal, está fazendo coisa “boa”: uma oportunidade de elevação. Mesmo aqueles que “matam” estão fazendo coisa “boa” para o espírito porque aquilo é o deveria acontecer para ele dentro do seu plano carmatico para a encarnação.

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Se não fosse isto, Deus não deixaria acontecer. Portanto, todos estão fazendo coisas “boas”, mesmo o bandido que lhe rouba na rua e o marido que abandona a esposa.

Sei que isto soa estranho para vocês, mas é disto que quero falar agora na nossa conversa de hoje. Já falamos da primeira parte, da segunda e da terceira parte do tema de hoje: o que é o ego, como ele é criado e como se desenvolve. Agora pergunto: como destruir o ego?

Entendendo que toda situação é um carma. Ou seja, o marido que arruma outra não é um “safado sem vergonha”, mas um missionário de Deus criando uma situação necessária para que o espírito que está encarnado como sua esposa realize a sua prova.

Ele cria, sob o comando de Deus, uma situação para ver se aquele espírito se subordina ao seu ego que lhe cria a realidade (“ele não presta”), ou se reage ao acontecimento de uma forma universal: amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Sei que as “mulheres” que já passaram por esta situação estão achando que estou justificando as ações dos seus maridos, mas não é isto: esta é a Realidade do universo.

Vocês conhecem a lei do carma na teoria, conhecem a encarnação e a vida espiritual também teoricamente. Apesar disto, no momento que o seu “calo dói”, não conseguem colocar em prática os ensinamentos porque estão subordinados ao ego que está julgando e acusando pessoas para defender as suas vontades e paixões, que ele mesmo criou.

Nenhum marido jamais conseguirá arrumar uma amante, se este não for o carma da esposa e vice-versa, pois cada um encarna com o objetivo de, sob as ordens de Deus, auxiliar na obra da criação. Ninguém age porque quer, mas dirigido para que o Universo se crie.

Deixe-me dizer uma coisa que talvez choque ainda mais as “mulheres” que passaram por esta situação: se existe um culpado da ação de trair do marido, é a própria esposa, ou melhor, do espírito que está convivendo com aquele ser humano.

Por quê? Porque ela é um espírito que precisou passar por aquela situação como resultado de ações anteriores.

Participante: Então, devemos aceitar tudo que acontece passivamente?

Desculpe, não estou falando em aceitar passivamente, com resignação, mas em amar. Você tem que amar tudo que lhe acontece, mesmo que isto contrarie os seus desejos.

Você tem que amar o marido, a outra, a separação, porque a lei de Deus é amar a Deus sobre todas as coisas. Agora, se eu O amo acima de algumas coisas, mas não O amo acima de outras, que diferença eu tenho de um ateu?

NOTA: Refere-se ao ensinamento de Cristo transmitido no Evangelho de Mateus – capítulo 5 – versículo 47: “se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso!”.

Participante: Então tudo que acontece é carma?

Veja, se não houver carma não há vida, pois a existência carnal de um espírito é o carma em ação. Você não está “viva”, mas vivenciando carma.

Este é o objetivo da encarnação: provar que pode vivenciar seus carmas utilizando-se do amor universal abandonando o seu individualismo. Para isto precisa seguir os dois mandamentos deixados por

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Cristo: amar a Deus acima do que não gosta e amar ao próximo como a si, mesmo que ele possa ser considerado seu “inimigo”.

Agora, por que não consegue viver estes dois mandamentos? Porque o marido é posse da mulher e vice-versa.

Se você ama mesmo de verdade, por que deixará de amá-lo apenas porque saiu de casa? Quem deixa de amar ao próximo apenas porque lhe contrariou ou se afastou, nunca amou: possuiu.

Quem ama mesmo não precisa da presença física do amado. Portanto, o casamento que, quando termina, gera críticas e acusações nunca foi embasado no amor, mas na posse. As pessoas queriam o outro para si porque achavam que eles eram delas. Por isto sofrem se houver separação.

Mas cada ser humanizado não é de nenhum outro espírito, mas de Deus, filho do Pai. Então, amando-o mesmo no momento de suposta traição e desligamento, você pode provar o amor a Deus.

Vivenciando qualquer situação com o amor universal você dá uma compreensão de que crê em Deus e sabe que tudo que aconteceu foi gerado por Ele, como fruto do seu Amor Sublime por cada filho.

Quem compreende que Deus dispõe das pessoas para criar situações que gerem os seus carmas e não vê culpados em ninguém por nada, consegue realizar as sus provas com sucesso e acaba com suas provas alcançando a evolução espiritual.

Esta sua pergunta (se tudo é carma) é fundamental porque o ser humano tem o hábito de separar a vida em duas: a material e a espiritual.

Mas, no entanto, isto não existe, porque não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Ou você opta por viver a vida material pela realidade material (acontecimentos que cada um gera ao seu bel prazer) ou pela realidade espiritual (Deus criando ações carmaticas para sua prova através da utilização de outros seres humanizados).

Ou a sua vida é uma existência espiritual, e aí precisamos entender que tudo faz parte do carma porque termina com a morte, ou a sua vida é material. Se este último é o seu caso, o meu conselho é que abandone a busca espiritual. Se persistir em atingir a Deus sem abandonar a visão material da vida, se enganará dizendo que realizou alguma coisa e quando chegar depois do desencarne sofrerá uma desilusão muito grande.

Não se pode separar o que você gosta e o que não para por em prática ou não no ensinamento que aprende na sua busca a Deus. Sabe qual o nome disto? Maya, ilusão.

Você freqüenta centros, templos ou igrejas de segunda a sexta, faz suas orações diariamente, cumpre com as obrigações de caridade e acha que com isto está servindo a Deus, mas enquanto não colocar em prática o ensinamento do mestre que segue durante vinte e quatro horas e não apenas em espaços isolados nada terá realizado.

Aí, se você freqüenta uma religião fervorosamente, mas não leva os ensinamentos para a sua existência diária, sua vida começa a “dar para trás”. Desiludido sai daquela casa e diz que a religião ou a casa não é boa, é fraca, porque não resolveu o seu problema.

Você estava freqüentando lá para servir a Deus ou para se servir?

É isto que estamos falando. Libertar-se do ego é acabar com as ilusões materiais da vida. Acabar com a ilusão, por exemplo, que você pode ter um carro se quiser ter. Se você pode ter um carro se quiser ter o que Deus está fazendo nesta hora: está de braços cruzados?

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Sim este é o Deus da maioria dos religiosos: um Deus parado, morto, que só “aparece” (age) quando o ser humano precisa Dele para fazer o que ele quer. O ser humano só louva a Deus quando Ele faz o que o homem quer.

Então, Deus é escravo do homem: alguém que é mantido preso na senzala (igreja, centro) e quando o ser humano quer o tira de lá e coloca para trabalhar em seu benefício exclusivo.

Esta é a relação da humanidade com Deus. Na hora que o marido foi embora Deus não estava lá, mas na hora que a “mulher” conseguiu namorar e casar quem ilusoriamente achava que amava, com certeza disse graças a Deus.

Nos momentos que o casamento esteve dentro do contentamento desta “mulher” com certeza ela louvou a Deus por ter lhe dado tal relacionamento. Mas, agora, que nada mais acontece do jeito que ela quer, Deus não está presente?

Então, quem é este Deus com o qual a humanidade convive senão um submisso às vontades individuais de cada um?

Desculpe, sei que é duro ouvir isto. É duro ouvir que se o seu marido lhe abandonou você foi a culpada, não porque o traiu ou deixou a desejar, mas porque, dentro da eternidade da existência espiritual fez por onde merecer e precisar que tal situação acontecesse para aprender a amar a Deus sobre todas as coisas.

É duro, mas, esta é a Realidade e é para passar por isto que você nasceu, para vivenciar isto que está na carne. Não culpando os agentes carmaticos das suas situações, mas trabalhando para vencer o ego.

Mesmo os buscadores da elevação espiritual não compreendem a ação do ego (afirmar que o marido é um “sem vergonha” e que a amante dele é uma “prostituta”) porque não trazem Deus para o seu cotidiano. Aí se entregam ao diabo no prazer ou na dor.

Sim, tem gente que se entrega ao prazer na separação. Tem “mulher” que dá a graças a Deus que o marido foi embora. No entanto, a maioria cai na depressão.

Não importa: as duas estão servindo ao ego. Isto porque estão submissas ao que ele diz como realidade, enquanto que a Verdade é que aquele acontecimento como o ego está retratando, mas é apenas uma situação carmatica que cada um precisa passar.

Apesar de que tudo que está sendo dito aqui estar soando lógico dentro da sua razão, sei que tem muita gente que tem “medo” de aceitar este ensinamento e divulgá-lo. Acreditam que com isto estarão levando desculpas para que maridos ou esposas traiam seus conjugues. Mas, isto é impossível.

Se você possui missão espiritual de auxílio ao outro não deixe de levar a Realidade a eles, pois ninguém conseguirá trair o outro se não estiver escrito no livro da vida de cada um. Mesmo que as pessoas pensem que poderão trair a vontade ao ouvi-los, Deus não deixará isto acontecer.

Estamos, então chegando ao fim da quarta etapa de nossa conversa de hoje: como vencer o ego? Lutando contra a tentação de ter verdades; lutando contra tudo aquilo que a razão afirma ser verdadeiro.

Agora, esta luta não pode se dar em alguns detalhes, mas tudo, tudo mesmo, precisa ser combatido. Não se pode lutar contra algumas verdades e deixar outras para depois, pois senão nada será vencido.

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Lutar contra o ego é estar constantemente consciente do seu pensamento para que você possa lutar contra as verdades traduzidas pelo pensamento. Ou como Cristo disse: orai e vigiai.

É preciso ter atenção plena nos seus pensamentos para que possa dizer ao ego “cala a boca, isto que está falando não é verdade. Você quer me iludir outra vez, quer me jogar de novo no prazer ou na tristeza. Então cala a boca que eu não acredito no que me diz”.

Participante: Viver a vida em meditação?

Veja, você não pode viver a vida em meditação como hoje entendida, ou seja, permanecer o tempo inteiro com o corpo estático pronunciando sons (mantras) purificadores. Se agisse assim não estaria participando de ações carmaticas e com isto não venceria nada.

É por isso que Buda ensina a meditação andando e falando, ou seja, viver os acontecimentos da vida meditativamente.

Você está no seu trabalho, por exemplo, e chega a notícia que o seu amigo foi promovido para uma vaga que você se considerava apto a assumir. Neste momento o ego lhe dirá: passou a perna em você.

Vivendo em meditação, ou seja, com a consciência dos pensamentos que lhe vêem à mente fixado na Realidade universal (tudo é ação carmatica) pode responder a altura ao ego: “cala a boca, ninguém passou a perna, Deus é Supremo, se Ele não achou que era a minha hora é porque não era. Está tudo certo”.

Participante: O despossuir das verdades ...

Isto é ensinamento do Buda. Você tem que abandonar a paixão pelas suas formações mentais.

Participante: Mesmo que este companheiro que tenha sido promovido zombe de mim?

Mesmo que ele diga: viu só...

Participante: trouxa?

Você falou uma palavra interessante: trouxa. Quem é o maior trouxa que viveu neste planeta, ou seja, aquele mais deixou de se aproveitar das situações para benefício próprio? Cristo.

Ele podia ser o Rei dos Reis e era carpinteiro; podia dominar o planeta com um gesto de mão, mas foi para a cruz. Aliás, eu lembro, ele disse assim: eu sou o caminho a verdade e a luz, ninguém chega a Deus a não ser através de mim. Se ele era um trouxa como é que se chega a Deus? Sendo esperto?

Deixe-me explicar uma coisa. Alguém sabe o que quer dizer oferecer a outra face? Oferecer a outra face não é uma atitude física, mas uma atitude mental. É não reagir aos acontecimentos.

Sabe de uma coisa: é muito mais difícil um ser humano conseguir se dominar para não reagir do que se deixar levar pelas paixões e sair “batendo em quem lhe bateu”. Por isto é que é mais importante espiritualmente oferecer a outra face: você venceu, se dominou, se controlou.

Você que oferece a outra face não é bobo, mas aquele que lhe acusou é que é um bobo, pois é um escravo do ego.

Veja, os seres humanos preservam a idéia do livre arbítrio de praticar atos como uma prova de sua liberdade, de sua autonomia. Mas, quem precisa reagir de uma determinada forma padrão a um

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acontecimento, na verdade se escraviza aos padrões do planeta. Que liberdade é esta? Que autonomia é essa que tem que seguir padrões ditados pelos outros?

Ele perdeu sua autonomia e se tornou um escravo do outro porque se sentiu obrigado a dar o troco daquilo que recebeu. Sentiu-se obrigado a ter raiva de quem lhe contrariou.

Se o outro lhe passou a perna e você se sentiu obrigado a acusá-lo, criticá-lo e difamá-lo perante seus colegas para não se sentir um trouxa, aí é que estará sendo, pois perdeu o controle de si mesmo e reagiu de uma forma padronizada pelo planeta e ditada pela ação do outro.

Você aprender a se controlar, ou seja, se libertar da ação do ego é uma atitude sublime.

Participante: Mas, tem gente que consegue depois de passado o momento se controlar e até dar risadas do que aconteceu.

Eles estão no caminho da vitória sobre o ego. Se ontem alguém ficava com raiva durante uma hora e hoje só fica cinqüenta e nove minutos, já melhorou. Mas não quer dizer que já tenha realizado alguma coisa.

A vitória tem que ser completa para que a elevação espiritual seja alcançada. Só aí você poderá dizer que já realizou alguma coisa.

Enquanto ainda se deixar dominar pelo ego estará preso a sansara e terá que novamente passar por todo processo de formação do ego e das situações para tentar viver plenamente a liberdade do ego. Portanto, nada mudou.

Não adianta considerar que já está fazendo alguma coisa, que já trabalhou muito para a sua evolução, porque senão para por aí. Aquele que imagina que conseguiu alguma coisa estanca a sua caminhada. Ao invés de dizer que já conseguiu vencer vinte e três horas, diga que ainda não conseguiu vencer uma hora.

Cristo ensinou que aquele que está procurando não deve parar jamais de procurar (Citação de trecho do Evangelho Apócrifo de Tomé, logia 002). Isto porque se você imagina que já fez muito, estanca na sua atenção plena aos pensamentos e aí retroage no que já havia conseguido.

Isto ocorre porque o ego não deixará de tentá-lo até o fim da encarnação, ou seja, até a vitória completa sobre ele. Enquanto ele não for derrotado totalmente continuará adaptando-se com novas verdades para poder continuar a tentá-lo.

Portanto, a compreensão racional de que já se evoluiu é uma outra ilusão que o ego cria ao ser humanizado para levá-lo a relaxar e com isto ele continuar, sorrateiramente a minar tudo o que já foi feito.

Saiba disto: se você está em um ponto e quer chegar ao outro, estar no meio do caminho não significa que já alcançou o objetivo, mas apenas que já iniciou a caminhada, já se locomoveu durante o processo. Isto, no entanto, não quer dizer que alcançou nada.

Você só chegará no ponto de destino quando chegar lá. Enquanto estiver no caminho estará no caminho: mais nada que isto. Mas com certeza o ego lhe dirá que você já melhorou muito, já trabalhou bastante. Achando que isto é verdade para na caminhada.

Para encerramos nossa conversa sobre o ego, deixe-me fazer uma figura que eu quero que guardem para sempre.

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Sabe o que é “viver” materialmente falando? É como se você tivesse sido mandado para um prédio imenso de trinta andares, cheio de apartamentos, com a finalidade de demoli-lo. Só que você só tem um martelinho para trabalhar.

Viver é isso: é você de martelinho quebrando pedacinho a pedacinho do prédio das verdades que construiu antes de encarnar.

Além disso, é preciso compreender que durante a vida cada vez que para tirar o suor do rosto, ou seja, a cada segundo que não dá uma martelada coloca outro tijolo, ou seja, uma nova verdade. Isto é viver a vida carnal no sentido espiritual.

Você está lá com o seu martelinho quebrando suas paredes e em determinado momento, cansado do trabalho que está realizando coloca o martelo do lado para descansar e quando olha de volta a parede já o engoliu novamente.

Tudo no que você acredita é o ego que lhe diz, mesmo que você considere estas coisas como benéficas para você. Passear, ir para o campo, viver o final de semana onde não há trabalho, a sensação de ter sido aprovado em um concurso, etc. Sabe o que é tudo isto? É ilusão. É assentar mais um tijolinho na parede do seu prédio.

Para poder se trabalhar com afinco sem jamais parar de martelar e reconhecer que mesmo nestes momentos precisamos continuar o processo de demolição, precisamos é saber o que queremos: destruir ou assentar.

O grande problema da vida não é construir, colocar mais tijolos na construção, pois Deus dá ao espírito o direito dele não evoluir, mas ser hipócrita: destruir de noite e construir de dia. Não avança nem retroage. Ou seja, é tempo jogado fora.

A encarnação há muito tempo tem sido jogada fora. A oportunidade de vitória sobre o ego, ou seja, quebrar as paredes têm sido jogada fora em troca do prazer do “ser” e “estar”, em troca da obediência as leis do planeta, para ficar famoso como ser humano: isto é importante para quem está “vivo” e buscando a Deus se lembrar.

Sabe de uma coisa: aqueles que viveram neste planeta antes, em gerações anteriores, não são outros homens nem outros espíritos que deixaram de aproveitar a oportunidade para a reforma íntima, mas nós mesmos, com outras personalidades, com outros egos, com outros carmas.

Não foi ninguém diferente que fez o planeta do jeito que está, mas cada um de nós o criou do jeito que está encarnado e desencarnado nele por centenas de vezes.

Esta consciência deve lhe levar a preocupar-se em começar a trabalhar já. Ou será que ainda esperará voltar a encarnar no futuro e acusar você mesmo de não ter feito nada para que o planeta Terra evoluísse?

Alguns são fortes e quando batem na parede caem três tijolos de uma vez, outros são sábios, acham o ponto certo e o prédio cai de uma vez, mas a grande maioria precisa bater constantemente para quebrar a parede.

Por isto, amigos, agora que já sabem que sua vida não é obra do “acaso” nem de reações biológicas, mas uma oportunidade de provação espiritual; agora que já conhecem a escravidão ao ego como instrumento desta provação, preparem-se para mudar.

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Lutem contra tudo aquilo que acreditam ser real e verdadeiro e destruam o prédio que moram (sua vida) para poder entrar no universo, na comunhão universal com Deus.

Com as graças de Deus.

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Ciclo de estudos sobre os acontecimentos da vida hu mana

Maya

Vamos conversar hoje sobre a “vida humana”.

O que é a “vida humana”? Acho que essa pergunta, que deveria ser tão simples para a humanidade, é muito complexa.

Ela deveria ser simples porque, afinal de contas, vocês estão “vivos”, mas quando pedimos uma definição para “vida”, poucos sabem dar. Mesmo aqueles que se aventurarem a responder, apenas transmitirão fórmulas filosóficas ou acadêmicas pré-estabelecidas, mas a realidade de uma “vida”, nenhum encarnado consegue imaginar.

Por isso vamos falar sobre o que é “viver”, o que é uma “vida”.

“Vida humana” é uma coletânea de fatos (acontecimentos) onde o espírito encarnado interage com eles através do processo raciocínio. Isso é uma “vida”: uma coleção de acontecimentos onde, a cada um deles, o espírito promove um raciocínio dando um determinado valor ao que está acontecendo.

Vamos dar um exemplo: andar de um lugar a outro. Este fato é um acontecimento onde o espírito, por observar cenários diferentes durante o acontecimento “caminhar” afirma que está andando, se locomovendo.

Ele, no entanto, não é apenas um único acontecimento, mas a soma de diversos: sair, ir e chegar. Em cada um deles há um raciocínio que determinará um valor.

Quando o ser humanizado “vê” se afastar o ponto de origem afirma que está saindo; durante o caminhar vai dizendo que está em diversos lugares e quando chegar haverá um raciocínio que dirá “cheguei”.

Isso é a “vida humana”: uma série de acontecimentos que são avaliados pelos espíritos através do seu processo raciocínio conferindo a cada um deles um valor.

A partir dessa definição de “vida humana” podemos dividi-la em dois momentos distintos: o que está acontecendo (o movimento das pernas) e um outro onde o espírito raciocina o que está acontecendo (cria o valor “sair”, “saber onde está”, “chegar”).

Isso é “vida”: a cada segundo algo acontece e o ser humanizado raciocina o acontecimento e determina o que está acontecendo (dá um valor para o momento). Para que compreendamos profundamente a “vida humana” dentro do sentido espiritual vamos analisar cada um desses dois elementos para que possamos entendê-la. Comecemos pelo acontecimento.

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O que está acontecendo na realidade? Vamos exemplificar: alguém chega perto de você e lhe fala alguma coisa ou age de determinada forma. O que é isso, que “valor” tem esse acontecimento? É alguém falando, é alguém fazendo algo? Não, é o carma em ação.

O acontecimento não se traduz, não se define, pelo que está acontecendo (ato físico, movimento físico), mas pela essência dele. Essa essência representa a provação do espírito, que é o motivo da sua encarnação.

Novamente exemplifiquemos: alguém rouba você. Não pode haver roubo porque não há ladrão, pois ninguém pode tirar o que é seu porque você não tem nada. Tudo que está sob sua guarda é de Deus e continuará sendo mesmo que a guarda tenha passado para outra pessoa. Isso tudo sem falarmos que o próprio objeto do furto não existe.

O que acontece ali, que “valor” tem aquele acontecimento? Porque o ladrão foi roubar exatamente você? É o seu carma. O objetivo de acontecer esse fato exatamente a você é para que possa ser realizada uma determinada prova no sentido espiritual.

Esta provação está embutida na essência do acontecimento. Vamos falar um pouco da essência deste acontecimento que estamos exemplificando, mas isso não é regra fixa, ou seja, muitas podem ser as essências de um mesmo acontecimento.

Um roubo pode ser um teste ao despossuir material do espírito; à paciência; à vaidade. Nestes sentimentos está a essência da ação carmatica. Dessa forma não há roubo, mas uma ação carmatica que serve como prova a um espírito.

Participante: Sob esse prisma, então, não existe vítima?

Nem culpado, porque não importa o que aconteça na sua frente é Deus colocando uma prova para você, colocando uma essência onde você será testado no seu individualismo ou no seu universalismo.

Não há vítima e não há culpado. .

Anteriormente definimos a “vida humana” como uma sucessão de fatos. Agora podemos ampliar essa definição para uma sucessão de carmas. Cada espírito passa a existência carnal inteira vivenciando ações carmaticas onde existem essências colocadas por Deus como prova para a elevação espiritual. Isso porque, como ensinado, a vida carnal é uma etapa da vida espiritual onde o espírito está executando provas.

Dessa forma, nada que lhe aconteça pode ter acontecido por acaso, por sorte, por azar ou porque o outro é grosso, não presta ou é um safado: tudo o que acontece você precisava e merecia passar por aquilo como uma essência carmatica onde será testada a sua reação ao acontecimento.

Participante: Ninguém vem a Terra sem ter carma?

Não porque este é o mundo de provas e expiações. Para se expiar é preciso ter carma.

No entanto, carma não é condenação, pena, mas simplesmente a reação a um momento anterior. Sem haver o carma não haveria vida, pois todos seriam estáticos.

Se você consegue colocar um pé na frente do outro é porque existe o carma. Sem ele o pé não se moveria. Mas, para vermos dessa forma é preciso compreender que o carma não é expiação, pena, mas a justa e merecida reação à ação executada no momento anterior.

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Participante: Então separado o “joio do trigo” estaremos em um novo mundo, o mundo de Regeneração?

Sim, um mundo onde não mais haverá os carmas que hoje existem. Haverá outros, mas não mais os carmas que hoje existem porque eles são carmas do mundo de provas e expiações.

Participante: Quando acontecerá essa transformação: a separação do “joio e do trigo”?

O processo já começou desde a aparição de Maria (Nossa Senhora) em Fátima e vai até o fim desse século (2.100).

Voltemos ao estudo.

O que está acontecendo não é o que está acontecendo, ou seja, o que você acha que está acontecendo. Não é o que vê, cheira, ouve, mas a Realidade é que é o seu carma sendo executado. A ação carmatica, porém, não é representada pelo acontecimento em si, mas por uma essência que está embutida no ato.

Participante: Como escapar das sucessivas encarnações se estamos sempre produzindo carma?

Produzindo o carma de não mais reencarnar, ou seja, alcançando a reforma íntima, ou seja, vivenciando esse mundo dentro dos padrões ensinados por Cristo: amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Na hora que você viver desse modo gerará o carma de encarnar no mundo de Regeneração e aí não estará mais no planeta Terra. Aí começará uma nova “sansara”, uma nova roda de encarnação para regeneração e não mais para prova e expiação.

Participante: Maria, mãe de Jesus na Terra, em todas as suas comunicações demonstra estar muito preocupada com o atual estágio que estamos passando.

Porque ela é a Senhora da Regeneração. Porque ela foi escolhida por Deus e por Cristo para comandar os exércitos que trarão os ensinamentos para a mudança do planeta. É por isso que ela pede sempre a conversão para Deus não para uma religião.

Então, tudo o que acontece com você não é o que está acontecendo, mas reflete uma essência que serve de prova necessária e que é fruto (carma) de uma utilização por sua parte daquela mesma essência. Vamos exemplificar novamente para ficar claro.

Tendo você um dia se utilizado da posse será necessário que agora passe por uma nova situação que exponha essa essência. Esta necessidade surge porque você precisa provar a Deus que é capaz de despossuir.

Tendo vaidade precisará de uma situação onde a essência seja este sentimento. Esta será uma oportunidade para a reforma íntima, ou seja, optar pelo amor a Deus e ao próximo ao invés de querer possuir.

No momento que optar pelo amor terá alcançado a elevação espiritual. Isso é o carma e esta é a sua função na vida dos seres humanizados.

Como já dissemos um mesmo ato pode refletir diversas essências. No exemplo do assalto encontramos diversas delas.

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Dentro da análise do acontecimento (raciocínio que dá um valor aos acontecimentos), o ser encarnado não consegue saber a que essência ele está sendo provado. Se você foi assaltado pode ter que despossuir, deixar de ter ganância, de ter vaidade, deixar de se sentir superior. Diversos sentimentos podem ser a essência de uma mesma ação carmatica.

Assim, quando cada um “vive”, quando passa por situações, não pode afirmar nem no ato nem na essência o que está acontecendo, o que está se passando. O ato não tem o valor que o ser humanizado lhe aplica e a gama de possibilidades de essências é tão ampla que o espírito jamais descobrirá com certeza.

Se o ser humanizado persistir em tentar compreender a essência do acontecimento racionalmente, mesmo assim não conseguirá porque, como Paulo nos ensina, Deus não deixa o homem conhecê-lo pela sua lógica. O raciocínio lógico do ser humanizado jamais permitirá que ele compreenda a essência que está sendo testado.

Por mais que você tente descobrir a essência daquele acontecimento pela lógica material (razão), isso será impossível, pois se isso fosse possível, não haveria o exercício da fé.

Participante: É verdade que existem irmãos de outros planetas ajudando na transição?

Sim. Encarnado, desencarnado, na matéria deles, em outras matérias: muito mais do que vocês pensam.

Participante: Como a espiritualidade observa as ações do presidente dos Estados Unidos da América?

Ação carmatica do planeta. Só isso. Ele é um instrumento de Deus para gerar um carma para humanidade.

Todos o são, independente da repercussão de seus atos. O ato é só isso: ação carmatica. Seja o ato de quem for: o seu ou de outro qualquer.

Qual a essência que ele está trazendo para servir de prova à humanidade? Não sei. É o que acabamos de dizer. Você não sabe o que está acontecendo seja no ato ou na essência.

Voltando a definição de “vida humana” (sucessão de fatos). Já vimos que não podemos conhecer o que está acontecendo porque é apenas uma prova e nem a essência carmatica que está sendo utilizada.

A partir disso voltemos ao nosso primeiro exemplo: o caminhar. O ser humanizado que busca reformar-se deve vivenciar o início do “caminhar” sem saber que “partindo”; “andar” sem saber que está se locomovendo; e alcançar determinado lugar sem saber que “chegou”. Ou seja, viver a “vida” sem aplicar valor algum ao que está se passando.

Essa é a evolução espiritual: quando você vivencia todos os acontecimentos da sua vida de uma forma equânime, ou seja, sem aplicar nenhum valor a eles. O “roubo” não é um “roubo”, mas algo que não se pode definir de modo algum, um nada. “Andar” não é “andar”, “comer” não é “comer”: tudo é um nada. É uma ação carmatica que o ser humanizado não consegue entender porque ela está acontecendo e para o que ela está acontecendo.

É por isso que o Krishna diz que o sábio, o yogue, o verdadeiro buscador de Deus, liberto das “coisas do mundo”, transita por elas como um bobo, como aquele que não sabe nada, que não aplica valores a nada.

Participante: Devemos, então, viver cada momento como se fosse o “último”?

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Como se fosse o único, pois ele é único.

Cada momento é único porque o que se passou já acabou, não existe mais e o futuro ainda não chegou, não existe ainda. Então, só se pode viver o momento de agora como único, ou seja, sem saber de nada, sem vínculos a nenhum valor.

Participante: A escolha de querer evoluir para um novo mundo ou viver encarnando em um outro mundo menos evoluído ainda pode ser feita?

É o momento de fazê-la. Essa é a última oportunidade para aqueles que estão encarnados compreenderem que precisa haver essa escolha e lutarem para fazê-la. É a hora de se buscar não a vida na felicidade material, mas promover a reforma íntima.

Chegamos à primeira conclusão deste trabalho: tudo que acontece é um nada, ou seja, coisas sem valor algum. No entanto, quando definimos a vida humana, falamos que ela era uma série de acontecimentos que eram analisados pelo raciocínio através do qual se aplicava um valor a eles.

Se agora compreendemos que o acontecimento é um nada (algo que não pode ser definido, compreendido), aquele que alcança a evolução espiritual, ou seja, aquele que vive com a Realidade, precisa no seu raciocínio chegar ao “nada” como valor para as coisas da vida.

Qualquer outro valor dado pelo raciocínio a alguma coisa é o que o Krishna descreve como maya: ilusão. Existe um carma sendo executado não pela forma, mas pela essência e você se ilude dizendo que está acontecendo isso, aquilo ou aquilo outro.

Mover as pernas é um carma e você tem a ilusão de estar se locomovendo. Parar de mover as pernas é um carma e você tem a ilusão de ter chegado. Todo resultado de um pensamento que dá um valor a alguma coisa é maya, é ilusão.

A vida humana, portanto, poderia ser descrita pelo ser humano como a coleção de acontecimentos que são analisados pelo raciocínio. No entanto, para aquele que pretende viver a vida de espírito na carne (com a consciência espiritual), a “vida humana” é um momento único onde ele se exime de dar qualquer valor ao que está acontecendo, pois sabe que assim responde de forma perfeita (universal) à prova que Deus está lhe aplicando.

Participante: É verdade que existe um planeta que é chamado de “12º Planeta” que virá para fazer a “limpeza” da Terra? É verdade, ainda, que ele é habitado por espíritos que estão na mesma evolução dos que habitam a Terra?

Existe um novo planeta que é habitado por espíritos que estão começando o seu processo de evolução nele e por espíritos que já foram retirados do planeta Terra e que não vão permanecer aqui no mundo de Regeneração.

Agora se a “limpeza” da Terra será feita por um planeta ou uma nave, não importa, pois tudo é ilusão. Não existem planetas, não existem naves: tudo é ilusão, ou seja, fruto de um raciocínio.

Planeta, nave, é o valor que alguém está dando a alguma coisa. Na verdade o que existe é um “ambiente” onde os espíritos se juntam e que o ser humanizado dá o valor que quiser.

Participante: Às vezes tenho a impressão de que tudo é muito temporário. Estou certo em afirmar que o que fica é a sabedoria e a experiência?

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O que fica é o quanto você evoluiu aproximando-se de Deus. A sabedoria não é conhecimento, pois a cultura é ilusão, maya: é fruto de um raciocínio. Todo fruto de um raciocínio é o valor que se aplica a alguma coisa, algo que só você acha que é.

Agora, a experiência fica, porque o espírito vai aprendendo com os seus próprios “erros”.

A sabedoria, ou seja, o abandono da cultura e a experiência de ter abandonado a cultura continuam com o espírito depois de se desumanizarem.

Chegamos agora à grande conclusão deste trabalho e que é ensinamento de Krishna: o verdadeiro yogue silencia a mente, ou seja, não raciocina e não aplica valores a nada. Está sempre na neutralidade. “O que está acontecendo? Não sei. Você irá lá? Não sei”.

Ele não sabe de nada. Vive cada segundo sem ligação com o anterior ou o próximo. Está sempre atento àquele momento. Essa é a elevação espiritual: o fim do raciocínio, o fim do dar valor às coisas.

Quando isso acontecer você terá caído na Realidade: Deus agindo. Deus emanando e através da emanação agindo sobre o universo gerando os carmas que são as essências das ilusões dos atos.

Eu diria, então, que a elevação espiritual é parar de raciocinar, mas, será que alguém conseguiria parar de raciocinar? Não. É por isso que o Krishna ensina também: desapegar-se. O yogue raciocina, dá valor às coisas como você, mas não se apega ao fruto do raciocínio, aos valores gerados pela sua consciência.

Ele vê um objeto que pelo raciocínio dá o valor de “parede pintada na cor verde”. Isso vem a “mente” do yogue como viria na sua se estivesse frente a este objeto. Só que ele não se apega a isso, ou seja, ele não declara para os outros nem para si que aquilo é uma parede nem muito menos verde.

Se alguém disser que aquilo é “ar”, “madeira”, ou qualquer outra coisa que não parede, o yogue não discutirá e aceitará a ilusão do próximo consciente de que tudo o que se puder declarar sobre o assunto será ilusão (maya).

O ser evoluído continua construindo valores pelo raciocínio, mas não está apegado a eles, às verdades que se formam na sua “mente”. Está centrado em Deus e por isso sempre afirma que aquela conclusão é ilusão, que na Realidade está acontecendo um carma que embute uma essência onde está sendo testado.

Este ser vive o mundo material vendo, cheirando, ouvindo, igual àquele que ainda não promoveu a reforma íntima. Só que ele não “vive” a “vida humana” como o outro, ou seja, não participa dos acontecimentos pelos acontecimentos em si, nem aplica valores a eles.

Participante: Ao sair do meu corpo de madrugada, consciente, encontro a minha rua que está vazia totalmente cheia de espíritos. Essa população extra física é tão grande assim?

Muito maior. Só para reencarnar, aguardando fora da carne o seu momento de “nascer”, existem dez espíritos para cada encarnado. Só essa população já seria grande, mas deve se acrescer a esse número aqueles que estão trabalhando, auxiliando os encarnados e os desencarnados.

A rua vazia é ilusão, não se apegue a isso.

Participante: É verdade que existem várias “naves-mãe” estacionadas em nosso céu só que não conseguimos vê-las por ter uma vibração diferente?

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Sim é verdade, mas só que a “nave-mãe” não é uma “nave-mãe”. Ela não tem forma, não tem combustível, não possui materialidade. Tudo isso é ilusão, valor que você dá pelo seu raciocínio.

Participante: Temos então que treinar sempre a nossa “mente” a ver além das ilusões da vida que é o maya?

Não, porque você não conseguirá ver além. O que você precisa é bloquear qualquer coisa que venha à “mente”, treinar para bloquear o fruto do seu raciocínio, seja ele o valor que o ser humanizado ou qualquer outro que você compreenda.

Qualquer coisa que você seja capaz de ver será também fruto de um raciocínio material, será imaginação, será uma ilusão, pois ninguém enxerga com os olhos, mas vê com o raciocínio (aplica valores). Não se apegue à ilusão alguma, seja ela percebida ou imaginada.

Como respondi anteriormente quando o moço que me perguntou sobre a rua que ele vê vazia quando está na carne e espíritos quando projetado: não importa se ela está cheia ou vazia porque não existe rua, o seu espaço e nem os espíritos como vistos.

Achar que ela está cheia ou acreditar que está vazia é maya, é ilusão, tudo fruto do raciocínio que aplica valores que cada um dá ao que está sendo percebido.

Participante: O mundo espiritual é uma ilusão?

O mundo espiritual, como concebido pelo encarnado, é uma ilusão, pois não existe mundo material ou espiritual, nem existe mundo como você concebe que ele seja. Tudo o que você consegue conceber (dar valor) é ilusão, maya, porque é fruto de um raciocínio.

Participante: O mundo espiritual é uma matéria rarefeita?

O universo é constituído de matérias, mas se aplicarmos o valor de rarefeito cairemos na ilusão, porque não conhecemos o que é rarefeito. Aliás, não sabemos nem o que é matéria.

É isso que estou querendo explicar e as perguntas estão servindo perfeitamente para exemplificar os ensinamentos. Cada coisa que você acreditou até hoje e tudo que você acreditar a partir de hoje, inclusive nos ensinamentos que estou passando agora, é maya, é ilusão. Não porque o ensinamento é falso, mas porque a sua compreensão não é o ensinamento que estou falando.

Apenas o Absoluto existe e Ele não é compreendido pelo espírito enquanto humanizado, enquanto utilizando-se do raciocínio.

Isso é vida humana, ou seja, nada. Qualquer outra compreensão que se tenha sobre qualquer coisa será uma ilusão completa, porque será fruto de um pensamento, será o valor aplicado a partir de um raciocínio e ele é a ilusão. Será a junção, como o Krishna ensina, dos gunas pensados com os gunas pensantes.

Participante: A única realidade é Deus?

Perfeito. Deus é a Realidade, o resto tudo é ilusão.

Agora, Deus de Verdade e não a ilusão que criamos através do raciocínio do que é Deus: uma energia, uma potência, o tudo, etc. Deus é uma Realidade, mas o que é Deus, eu não sei.

Compreendendo assim entramos na Realidade do universo. Mas, enquanto imaginarmos Deus e utilizarmos o “deus” imaginado como realidade ainda estaremos presos na ficção, na ilusão, no maya.

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Participante: Sendo a matéria uma ilusão ela pode ser moldada de qualquer forma pelos humanos?

Pode ser moldada, mas pelos seres humanos não. Falo desse jeito porque senão você pensará que poderá moldá-la com a mão (elemento do ser humano), mas isso não é realidade. Você poderá moldá-la, mas com a sua força mental (elemento do ser espiritual).

No entanto, para poder chegar a fazer isso você terá que estar apto para usá-la dentro do universalismo e não para fins individuais. Todos já têm esse poder dentro de si. Deus não deixa utilizá-lo porque senão os seres humanizados agiriam em seu próprio benéfico.

Muitos, por exemplo, querem sair da carne consciente e nunca conseguem enquanto outros fazem. Por que? Porque não tem o merecimento. São individualistas querem sair da carne para ir para a casa do vizinho ouvir o que estão falando dele. Aí Deus não deixa utilizar o poder que o espírito já possui.

Participante: A ilusão para mim é acreditar em algo que não existe.

Exatamente isso. Tudo que você acredita não existe, porque é apenas fruto de alguma coisa que você acreditou antes.

Tudo o que você acredita é verdade relativa, só sua. Não existem dois espíritos que possuam a mesma crença sobre todas as coisas do universo, seja sobre qualidade ou intensidade.

Participante: E a pessoa má intencionada que consegue enganar muitas pessoas: isso é real?

Não, é seu carma. Se você foi enganada, na verdade, não foi. Alguém agiu carmaticamente na sua frente e você ilusoriamente deu o valor de estar sendo enganada.

Se Deus é a seu favor quem pode ser contra? Qual a pessoa má intencionada que poderia fazer mal para o Filho De Deus? Não existe, não é mesmo?

Então, se alguém agiu, foi Deus emanando um acontecimento (carma que se transforma em prova) e você ilusoriamente, utilizando-se do seu maya, aplicou o valor de estar sendo prejudicada. Ou seja, não passou na sua prova.

Participante: Cada pessoa tem, então, o seu maya personalizado?

Eu diria que não há um maya personalizado, mas um ego personalizado que cria um maya. Dessa forma, podemos até compreender que os mayas são personalizados.

Participante: Fazer turismo astral é ignorância para quem pretende?

Sim, porque no Universo não existe tempo perdido. Deus não pode perder tempo. Então ele não tiraria ninguém da carne apenas para ter o prazer de voar.

Muitos já leram nossos ensinamentos há bastante tempo e até hoje pegam eles para tentar prever como vivenciar atos futuros. Querem saber como, ao alcançar a elevação espiritual, trabalharão no seu emprego, como se relacionarão com os filhos após o fim da família como hoje concebida.

O ensinamento espiritual seja ele qual for não é para se programar próximos atos porque eles estão programados antes da encarnação e não importa como o espírito humanizado reaja, viverá o ato pré-programado, o carma.

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A única coisa que cada um pode fazer com relação a atos é reagir a eles e não criá-los. A reação é apenas espiritual (sentir) e não material (agir), porque se assim fosse, você provocaria atos, o que é incumbência de Deus como Causa Primária de todas as coisas.

A reação espiritual que você pode ter é de duas maneiras: acreditar na sua ilusão, no seu maya, ou universalizar-se, ligar-se a Deus. Não importa o que está acontecendo o que o espírito pode fazer é: “viver” iludido achando que está fazendo, achando que está acontecendo alguma coisa ou “viver” a realidade: o nada.

Essa “vida” no nada, porém, não é vazia. Ela é sem valores, sem ações intencionais, mas repleta no gozo perfeito do entrosamento com Deus. Isso porque o nada que estamos dizendo que existe é o próprio Deus e Sua ação, a Sua emanação.

É por isso que o Cristo ensina: em verdade, em verdade vos digo, quem não nascer de novo não verá o reino do céu. “Viver” a “vida” sem valores é o renascimento em “vida”.

Essa nova forma de reagir aos acontecimentos é o renascimento, o nascer de novo, o viver de outra forma. Mas, para renascer tem que morrer, ou seja, tem que matar os valores que se tem pelas coisas da “vida”.

Participante: Como sair de uma situação que foi criada. Como a reverter?

Para que sair de uma situação? Toda situação que você acredita que exista é ilusão, maya, algo que você criou a situação na sua mente. Ela não existe. O que está acontecendo ali é uma situação carmatica à qual foi dado um valor. Sendo assim, reverter o que?

O que você pode é simplesmente achar que aquilo é “ruim”, um “problema”, não “presta”. Essa é a única coisa que você pode fazer em todos os momentos da vida: dar um valor a eles.

Os acontecimentos se reformarão ou não de acordo com a sua ação carmatica e não pela sua ação material.

Participante: Por que é mais fácil acreditar no “mal” do que ir em busca da Verdade?

Porque é mais fácil acusar os outros. É fácil acreditar no “mal” porque aí acusamos o próximo de nos fazer o “mal”.

Com isso não precisamos nos esforçar para entender que fomos nós que criamos o “mal”, ou seja, demos esse valor ao que os outros fizeram como instrumento da nossa ação carmatica.

Todo ato é feito por Deus e quem afirma que ele é “mal” está dizendo que o próprio Deus é “mal”.

É mais fácil acusar os outros porque aí eu não preciso me mudar, não preciso me libertar dos meus mayas. Posso viver em paz com os meus mayas e não preciso “morrer” para me aproximar de Deus.

Participante: O que alimenta a alma?

Deus. O único refrigério para a alma é Deus, a ligação perfeita com Deus. Ou seja, o apagar tudo que você acha das coisas. Quando você aplica o bloqueio do seu raciocínio se alimenta de Deus, alcança Deus.

Leia a história de Adão e Eva. Esse casal nunca existiu, mas eles representam o espírito encarnado. Passaram a viver na vida carnal, nascer e morrer, porque queriam ser como Deus: aplicar valores às coisas.

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É por isso que eles se afastaram do paraíso, é por isso que eles se afastaram de Deus.

Participante: Então o “mal” é maya?

O “mal” é maya, mas o “bem” também. O “certo” é maya, mas o “errado” também; o “bonito” e o “feio” também são. Tudo é uma ilusão porque cada um tem o seu padrão de certo e errado.

No universo não existem padrões porque tudo é perfeito, pois vem de Deus.

Dentro da conversa que tivemos hoje também se falou sobre o próximo mundo, mundo de Regeneração. Vamos comentar um pouco este assunto a partir da Realidade da vida criada nessa conversa.

O mundo que vivemos hoje no planeta Terra é o de Provas, ou seja um mundo onde o espírito tem que provar a Deus que quer buscar a sua elevação. É o lugar de tentar colocar em prática o amor a Deus matando o próprio eu, o fruto do raciocínio.

O próximo mundo será o de Regeneração e como a palavra fala é o mundo da mudança completa. Enquanto ainda estivermos vivendo as provas não precisamos alcançar a reformulação completa, mas é o momento apenas de mostrar que se está buscando a Deus. Só quando chegarmos no mundo celestial viveremos a totalidade da vida como hoje conversamos.

Já imaginaram o que é viver assim? Uma vida onde alguém coloque “o dedo na sua cara” e você louve a Deus por isso. Uma vida onde lhe roubem e você louve a Deus por isso? Uma vida onde tudo o que acontece não lhe afeta, não lhe leva nem a exultação do prazer nem a depressão do sofrimento?

Hoje ainda não conseguimos viver assim, mas se não colocarmos como objetivo primário nesta existência a busca de Deus, de viver na Realidade, nos desapegando dos mayas, jamais conseguiremos viver esse mundo.

Participante: Qual o tamanho do Universo?

O próprio Universo é maya. Não existe Universo porque se ele existisse teria que haver algo além do Universo para ele fosse o próprio Universo e a outra coisa fosse algo diferente.

Só existe o Universo e, portanto, chamar o tudo de Universo é maya, valor que se aplica.

Participante: O que não é ilusão?

Deus. O resto tudo é ilusão, todo resto é ilusão.

Sua dor, por exemplo, é ilusão. Tanto isso é verdade que existem pessoas que amputam a perna e tem dor no dedinho que não existe mais.

Mágoa é ilusão, pois ela se origina de um querer não atendido. Mas, o querer também é uma ilusão, porque não há nada para ser querido, pois todos os espíritos possuem tudo o que existe.

A outra pessoa não fazer o que você quer é uma ilusão, porque ninguém faz nada: é Deus quem está fazendo a ação carmatica.

Tudo é maya. Tudo é ilusão, menos Deus e Sua ação. Todo resto é ficção que Deus cria para lhe colocar à prova: inclusive esse ensinamento, porque nós não sabemos o que é Deus, não sabemos o que é ficção nem o que é prova.

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Participante: A ilusão ajuda a evoluir?

Sim, a ilusão é extremamente necessária para que cada um evolua. O que não é necessário é você aceitar a ilusão como realidade.

É o que eu disse: este ensinamento não é você parar de raciocinar. É preciso haver a ilusão, o raciocínio, para que você não se prenda àquele valor merecendo, assim, alcançar a evolução espiritual.

Então, vamos dizer assim, a ilusão, o maya, é o diabo, o tentador, aquele que vai lhe tentar para lhe dar a oportunidade de não cair na tentação e desta forma provar a Deus que é capaz de amá-Lo acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Participante: Porque Deus não me ouve?

Ele lhe ouve toda hora, mas não está aqui para lhe satisfazer, para fazer as suas vontades. É exatamente quando Ele não lhe satisfaz que está amando-o e lhe dando uma oportunidade de amá-Lo acima de todas as coisas, ou seja, acima do seu desejo de que as coisas fossem diferentes.

Participante: Somos uma fusão de energias de Deus sendo que em vibrações mais baixas?

Essa sua afirmação é maya. O espírito é um brilho. Você sabe o que é um brilho? Nem eu.

Nós ainda somos capazes de nos reconhecer apenas pelo corpo que vestimos ou pelo perispírito que estamos envolvidos. Só espíritos muito elevados conseguem se reconhecer na sua própria essência.

Dar um valor ao espírito seria um maya, seria criar uma ilusão. Então saiba só: eu sou um brilho. O que é um brilho? Não sei.

Participante: Mas se eu pensar assim, como fica o dinheiro para pagar as contas? O dinheiro não é ilusão.

O dinheiro é ilusão, ter que pagar as contas também é: tudo ação carmatica. Você comprar, vender, pagar ou dever, faz parte da ação carmatica de cada ser.

Se dentro da ação carmatica de um homem ele tiver que passar por uma falência, terá que passar. Para isso é necessário que algumas pessoas deixem de pagá-lo.

Dessa forma, dever é ilusão. Você acha que está devendo, mas na verdade é Deus que não paga através de você àquele homem para propor a ele uma situação carmatica para ver como reage.

Participante: Temos que concordar que nossa missão é bastante difícil, pois estamos cheios de ilusão por todos os lados. Como sair desse labirinto de ilusões? Só com o amor a Deus nos libertaremos?

Orando e vigiando. Orando, ou seja, estando em contato com Deus, e vigiando o raciocínio para não se apegar aos valores que ele dá, para não transformar as ilusões, os mayas, em realidade.

Ficou claro então o que é “vida humana”, ou seja, ficou claro que a “vida humana” não é nada do que você acha que é? Que a “vida humana” é um maya é uma ilusão?

Na hora que isso ficar claro na sua “vida”, você continuará trabalhando no seu emprego, continuará se alimentando na hora do almoço, continuará vivendo a mesma “vida” que vive hoje. Afinal, ela é a sua

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ação carmatica e você não pode “escapar” dela. Esta nova forma de viver, no entanto, terá um detalhe diferente da de hoje: você deixará de aplicar valores aos acontecimentos.

Comerá por comer e não para manter a saúde, para emagrecer ou engordar; trabalhará por trabalhar e não para ganhar dinheiro para se sustentar ou qualquer outra coisa. Nesse momento você alcançará algo que não conhece: a Felicidade, a Felicidade Universal.

Felicidade Universal é a paz, a tranqüilidade do espírito. É a vida sem exultação ou sem depressão. Uma vida reta no sentido de que não existem subidas nem descidas. Mas, principalmente, uma vida plena da glória de Deus. É isso que resultará quando você se libertar dos seus mayas.

Não será o fim da vida encarnada. Não será o ter que se isolar para viver em meditação. Não será a omissão: sentar no sofá e cruzar os braços. Todos os acontecimentos são maya, são ações carmaticas.

Você continuará realizando tudo o que realiza hoje sem estar preso à ilusão que o seu raciocínio está dando.

Participante: Em que nível de evolução o senhor está?

É difícil se falar em que nível de evolução alguém está, pois qualquer que seja a escala utilizada para medir ela é maya, é ilusão.

Cada espírito tem o seu próprio nível de evolução. Eu diria que já consigo praticar muita coisa do que estou falando, mas tudo o que eu falo me foi transmitido para chegar e lhes repassar.

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Realidade

Desde a primeira palestra deste ciclo estamos conversando no sentido de destruir o que você chama de realidade, de real, nos acontecimentos da vida material. Até que na última palestra (Maya), concluímos que tudo da vida material era maya, ilusão, fruto da conexão do pensamento com o objeto pensado.

Hoje falarei sobre o outro lado: veremos o que é Real, o que é Realidade neste mundo, ou seja, aquilo que não é a ilusão que se vive quando na carne.

Começaremos pelo “princípio” de tudo. A Bíblia nos diz: no princípio era o nada e Deus resolveu criar e, assim, Ele criou tudo que existe. Esta é uma afirmação muito importante e Real: o Universo e as coisas não existiam até que Deus criou tudo que existe.

A Bíblia nos diz que Deus executou a criação de todas as coisas utilizando como instrumento apenas o “faça-se”. Podemos, então compreender que o Senhor Supremo comanda através de sua ordem e as coisas são feitas: esta é a informação bíblica sobre a ação criadora do Pai.

Agora, não se pode querer explicar o “faça-se” divino, como Deus faz as coisas acontecerem, pois para a grande maioria dos seres isto ainda é um mistério. No entanto, a Bíblia é muito clara: Deus, pela sua vontade, comanda “faça-se” e as coisas são feitas.

Mesmo que não se compreenda como ocorre a ação divina, isto é Realidade no universo. Tudo que existe é criado por Deus apenas com Sua ordem, sua determinação, e nada se interpõe a isto.

Conhecida a origem e a forma da criação divina nos resta ainda uma pergunta: quando Deus cria? Em que “tempo” Deus cria?

O Pai não pode criar no passado, porque este não existe; não pode criar no futuro, porque este também não existe. Assim sendo, Deus só pode criar as coisas do universo no presente. Mas, o que é um presente? Quanto tempo dura o presente?

Nota:

No livro “Confissões” de Santo Agostinho, existe uma profunda reflexão sobre o tempo que recomendamos a leitura.

Se formos analisar profundamente o tempo presente veremos que é algo tão fugaz, tão rápido, tão passageiro, que não conseguimos mensurar. Não se pode dimensionar o tempo presente em qualquer medida conhecida pelo ser humanizado (ano, mês, dia, hora, minuto ou segundo), pois este tempo é muito menor, inclusive, do que aquele que é levado para se pronunciar a palavra “presente”.

Quando estou falando a palavra “presente” e soletro a letra “r”, a letra “p” já terá ido para o passado e a “e” ainda estará no futuro. Além disso, a própria letra “r” é composta por outros sons (“erre”) e, por isso, pronunciá-la envolve diversos “presentes” que virão do futuro e irão para o passado depois.

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O tempo presente é, portanto, tão fugaz que não se pode mensurar. Além disso, somente ele existe, é Real.

Quando algo acaba de acontecer, vai para o passado, não mais existe Pode se ter lembranças daquele momento, mas aquele tempo não mais existe.

O futuro é o presente que ainda não ocorreu e que, portanto, também não existe. Podem se fazer conjecturas sobre ele, mas enquanto não se transformar em presente não será Realidade. Apenas o presente é Real.

O Senhor do Universo, portanto, só tem o “presente” para criar as coisas do Universo. Podemos, então, afirmar que Deus cria as coisas universais (tudo que existe) a cada presente, ou seja, a cada micro fração de tempo que não pode ser mensurada.

Deus cria tudo que existe a cada presente através do Seu “faça-se”, que é oriundo da Sua Vontade: isto é Real, isto é Realidade. Todas as coisas do universo são “construídas” a cada micro fração de tempo por Deus através do seu “faça-se”.

Apenas para colocar alguma imagem que torne compreensível aos seres humanizados esta Verdade, diria que a Realidade assemelha-se a um filme. São diversos fotogramas que se sobrepõe tão rapidamente que dá, a quem os “vê”, a ilusão de movimento.

Cada presente é um momento distinto do outro. Assim como quando um fotograma acaba de ser projetado e vai para o passado levando junto consigo tudo que estava nele, aquilo que existe no universo também “acaba” quando um novo presente se inicia.

Os seres não conseguem acompanhar a velocidade da criação divina e por isso vêem movimento e permanência nas coisas. A Verdade, no entanto é que Deus cria todas as coisas do universo a cada micro fração de tempo.

O ser humanizado não consegue acompanhar a criação divina porque está obscurecido pela matéria, ou seja, utiliza-se dos “Cinco Agregados” para viver. No entanto, “quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá” (Livro dos Espíritos – pergunta 11).

A criação divina pode ser de dois tipos: ser (espírito) e matéria. Estes são os dois únicos elementos que existem no universo (Livro dos Espíritos – pergunta 27), ou seja, o resultado da obra de Deus a cada micro fração de tempo através do seu “faça-se”.

“A matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação” (Livro dos Espíritos – pergunta 22ª). Já o espírito é “o princípio inteligente do Universo” (Livro dos Espíritos – pergunta 23.).

Portanto, uma das “criações” de Deus é o espírito, o ser universal, o princípio inteligente do Universo, a alma, o homem: o nome não importa, mas sim saber que este elemento não é gerado por nenhum outro método (fecundação do óvulo, por exemplo) a não ser pelo “faça-se” divino.

Ao criá-lo Deus colocou a seguinte observação: agora façamos o homem (o espírito), que será criado à Nossa imagem e semelhança (Bíblia Sagrada – Livro da Gênesis – Cap. 1 – Versículo 26). A partir deste ensinamento, podemos concluir que todo ser universal é filho de Deus e, além disso, é cópia perfeita de Deus (criado à imagem e semelhança).

Eu, você, todos os espíritos, somos “filhotes de deuses”, somos iguais a Ele. Tudo que Deus possui, todo espírito também o tem, porque senão não haveria a imagem e semelhança. É por isto que Cristo diz: vós sois deuses. Somos todos iguais ao Pai, mas apesar desta semelhança, não somos o próprio Deus.

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A diferença entre um e outro está na utilização das “coisas” que o espírito recebeu “geneticamente” de seu Pai. No nível de compreensão atual, os seres humanizados conhecem três características de Deus: Inteligência, Amor e Justiça. Estes três elementos são as características de Deus que o ser humanizado pode conhecer com a compreensão que tem hoje.

Se eles existem em Deus, é preciso que cada espírito do Universo também o tenha, para que o que foi dito (criado à imagem e semelhança) seja Verdadeiro. Portanto, você, como herdeiro das características de seu Pai também tem a mesma inteligência, justiça e amor que Ele possui.

Deus, porém, possui a Inteligência Suprema e o ser humanizado possui a inteligência primária. Deus possui o Amor Universal, um amor idêntico para todos, mas você possui o amor individualista, o amor a si acima de todas as coisas.

Deus sabe o que é Justo, é a Justiça na verdadeira acepção da palavra: a capacidade de dar a cada um de acordo com suas obras sem prejudicar ninguém. Mas, o ser humanizado tem a justiça individualista, ou seja, aquela que prioriza sempre o que ele acha que está certo.

O código de leis que a justiça do ser humanizado se fundamenta é baseado no “eu”: eu sou, eu estou, eu sei. Tudo que um ser humanizado “julga” (raciocina) tem como referencial suas próprias verdades e desejos enquanto o julgamento de Deus é totalmente impessoal. Por isso reflete a Realidade.

Com estes ensinamentos podemos compreender agora o Universo. Ele é uma criação de Deus a cada micro fração de tempo, composto por matérias, elemento não inteligente, e pelos filhos de Deus, elementos iguais ao Pai, mas ainda utilizando-se das suas propriedades espirituais no sentido individualista.

Continuemos. Deus gera os espíritos dentro da Perfeição. Aquele que possui a capacidade infinita de tudo não poderia gerar nada incompleto ou defeituoso. É por isto que o Espírito da Verdade ensinou que o espírito nasce puro, simples e perfeito.

Deus não pode criar nada que não seja Perfeito. Todas as coisas do Universo têm que ser perfeitas para serem obras de Deus.

Então, podemos concluir que todo espírito quando nasce é perfeito, é puro, é simples, mas como toda criança humana quando nasce, o espírito é desprovido de cultura, ou como se fala no Livro dos Espíritos: ele é simples e ignorante (desprovido de cultura).

Assim nascem, começam a existir todos os espíritos: simples, puros, inocentes e sem cultura. Depois de gerados precisarão, então, “caminhar” no sentido de obter a cultura.

Depois que é gerado por Deus, o espírito começa uma “caminhada” (existência) no sentido de conhecer as coisas universais: os elementos e as ações materiais do universo. Durante toda esta “caminhada”, esta busca da cultura, o espírito continua simples, puro, inocente.

Em determinado momento o espírito gerado por Deus deixa de ser ignorante. Ele agora conhece todas as coisas do Universo e, então, terá que provar ao Pai que, mesmo tendo a cultura possível, pode manter a sua simplicidade.

O processo de adquirir cultura que o espírito vivencia não é objetivo da conversa de hoje, pois para a reforma íntima que o ser humanizado precisa fazer no Mundo de Provas e Expiações este conhecimento de nada valeria. Portanto, vamos nos focar nesta segunda etapa onde o espírito vai precisar provar a sua inocência a Deus.

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Utilizando-se de uma figura, podemos comparar o primeiro período de existência de um espírito com o início da vida de “Adão” e “Eva” no paraíso, quando eles aprendem sobre as criações divinas. Já o segundo iniciar-se-á quando Deus dá a ordem: não coma do fruto da árvore que fica no meio do paraíso.

Através desta ordem Deus está propondo ao espírito uma provação, onde o resultado positivo (manter-se puro) será alcançado por quem cumprir a ordem sem contestações, mas não é isto que ocorre.

O espírito aceita alimentar-se daquele fruto que é oferecido pela cobra e ao fazer isto perde a pureza, ganhando em troca um determinado poder que o maculará e do qual precisará se libertar. Este é o assunto que iremos abordar hoje e que é fundamental para o processo de reforma íntima.

Nota:

De acordo com o livro Gênesis da Bíblia Sagrada (Capítulo 03 – Versículo 05) o poder é: ter os olhos abertos (capacidade de discernimento sobre as coisas) e conhecer o que é” bem” ou “mal”. Ainda segundo este versículo, este poder é exclusivo de Deus (“ser como Deus”).

Participante: Temos, então, que absorver conhecimento e transmutar para a Real sabedoria com o passar da evolução?

O “conhecimento” que cito não é aquele que se adquire durante a vida carnal. Estou falando de um conhecimento anterior ao início das encarnações como seres humanos. Ainda não estamos falando do ser humanizado.

Como disse, o processo de busca do conhecimento que acaba com a ignorância que o espírito nasce pode ser comprado com a vivência de “Adão” e “Eva” no paraíso, quando eles aprendem sobre as criações do Pai. Até este ponto da conversa ainda não fomos expulsos do paraíso para vir habitar a Terra, ou seja, nascer e morrer.

Portanto, tudo o que falei até agora não se refere à cultura terrestre, mas a universal que o espírito adquire antes de começar as encarnações dentro do sentido atual que vocês conhecem.

Participante: Porque o espírito tem que provar isto? É por causa do “fruto” que comeu?

O “fruto” que comer será o que precisará vencer, pois ele é que macula a Perfeição criada por Deus.

Mas, vocês poderiam me perguntar: por que precisa haver uma prova, se o espírito já é puro? Porque há uma lei básica no universo chamada merecimento, ou seja, receber de acordo com suas obras.

É preciso realizar para merecer receber. Deus não dá nada de graça para ninguém, pois senão estaria ferindo a lei do trabalho, criada por Ele mesmo.

Desta forma o espírito é simples e puro, mas precisa trabalhar para provar a Deus que a cultura adquirida não afetou a sua pureza. Só quando não passa nesta primeira prova tem que reencarnar até conseguir libertar-se de toda complexidade que maculou a pureza original.

Portanto, na primeira encarnação o espírito vem simples e puro para realizar uma prova e assim contemplar a lei do trabalho e gerar o merecimento de não ter que entrar na “roda do sansara” (ciclo reencarnatório, segundo a crença hindu). Só quando não consegue este merecimento o espírito precisará reencarnar até que tenha voltado à sua origem: simples e puro.

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Participante: Uma língua enganosa esmaga o espírito. Então, porque as pessoas viram às costas para ajudar o semelhante?

Porque são individualistas. Ser individualista é a característica primária do espírito encarnado no planeta Terra, o espírito em prova e expiações. Ele é individualista, só pensa em si primeiramente para depois pensar em Deus e por último nos outros.

Mesmo quando este espírito pensa em Deus só o faz para levar vantagem para si. “Meu Deus me dê isso”, “faça aquilo para mim”. Ele nunca comunga com Deus para louvá-Lo ou para pedir pelo seu semelhante.

Mesmo quando pede para o próximo, nunca se preocupa com o que o próximo quer, mas sempre pede a Deus aquilo que ele quer para o outro. Está sempre baseado no “eu quero”, “eu acho”, “eu sei”, que são características do individualismo que vive.

Esta é a característica dos espíritos que encarnam no planeta Terra que não os leva a servir ao seu semelhante.

Participante: Mas tem pessoas que não são assim e se dão mal por pensarem nos outros antes de si mesmo.

O achar que “se deu mal” já é uma prova de que esta pessoa é assim, ou seja, individualista. Ela só vive esta realidade quando queria alguma outra coisa diferente daquilo que aconteceu.

Quem não é assim, ou seja, não é individualista, não quer nada, não espera nada, está “de bem com a vida”, com tudo que vier, por isso jamais imaginará que “se deu mal”.

Agora, quem quer alguma coisa, quem espera algo, é o individualista que eu falei. Ele está sempre preocupado consigo e por isso julga os acontecimentos do mundo para saber se estão de acordo com as suas verdades e desejos.

A visão “se dar mal” já é uma prova de que este ser está preocupado consigo e não aceita o mundo do jeito que ele está.

Voltemos ao nosso tema de hoje: Realidade

Então, o espírito ciente de toda cultura universal recebe uma primeira tarefa de Deus, seja de que tipo for. Ao executá-la com pureza e simplicidade (não discernindo entre o que é “bom” ou “mal”, mas vivenciando tudo dentro da felicidade incondicional) gera o merecimento de permanecer entre aqueles que vivem a simplicidade que são.

A prova acontece durante os acontecimentos da vida carnal. O espírito participa de uma primeira encarnação (vivencia acontecimentos materiais) para provar a sua simplicidade. Neste momento, falha, ou seja, busca para si o poder de julgar (quer determinar o que está acontecendo) e por isto não serve ao próximo.

Ao macular-se neste primeiro momento, o espírito gera o merecimento de ter que cumprir “expiações”. Expiar é repor ao Universo o “desequilíbrio” que o espírito causa quando não age com simplicidade. O espírito quando não usa de simplicidade, de amor universal, causa um desequilíbrio no Universo e, pela lei do carma, precisa repô-lo.

Nestes dois paradigmas (provação e expiação) se fundamenta o ciclo de encarnações que vivem os seres humanizados. Estes são os objetivos das encarnações hoje no planeta.

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Todo ser humano é, independente da cor e forma do corpo, raça, pátria, sexo, condição social ou cultural, um espírito puro, simples e não ignorante que ainda não conseguiu provar a Deus que é capaz de conviver com simplicidade com a cultura que adquiriu durante a sua primeira etapa de existência e por isso está expiando e fazendo provas na vida carnal.

Por maior que seja a posição que um ser humano ocupe, por mais bens ou fama que tenha, ele é um espírito que em determinado momento deixou a sua simplicidade e se maculou exercendo o falso poder de dar valores (“bem” ou “mal”) a um acontecimento da vida carnal.

Isto é a humanidade, isto é a Realidade do ser humanizado. O “ser humano” como entendido pela humanidade é maya, ilusão. Como dissemos, a compreensão que a humanidade tem de si não é verdadeira.

Na Realidade o ser humano é um espírito encarnado simples e puro na sua essência, repleto da sabedoria universal, e que agora precisa “limpar-se”, tirar as máculas oriundas da utilização do falso poder para julgar os acontecimentos (dualismo) que recobre temporariamente a sua simplicidade.

Isto é, por definição, o ser humanizado, mas é também a realidade do espírito que, mesmo fora da carne, ainda encontra-se em processo de evolução no Mundo de Provas e Expiações (planeta Terra). A humanidade de um ser não se decreta pela densidade de seu corpo, mas por encontrar-se maculado pelo poder de julgar os acontecimentos.

Ou seja, todos os espíritos ligados ao orbe terrestre em processo de evolução são seres universais simples e puros repletos de cultura que estão sujos, maculados pelo que ficou conhecido no planeta Terra como pecado original.

Participante: Qual o objetivo final da evolução?

Limpar-se e gerar o merecimento de estar próximo ao Pai provando a sua simplicidade. Tirar todas as manchas que adquiriu desde o início da provação: este é o objetivo final da evolução. Mas, isso durará ainda muitos milhares de anos.

Este processo de evolução, ou processo de limpeza, que estamos falando (Mundo de Provas e Expiações) se dá nos chamados “mundos inferiores”, que é o universo material em si. Os seres que estão em provação habitam os planetas físicos do Universo, o que chamamos de “cosmos”. Nestes lugares estão os espíritos em processo de evolução.

Vivendo nestes planetas transitando entre matérias com densidades diferentes (encarnando no “mundo material” e vivendo um período no “espiritual”) estes espíritos precisam sempre provar sua simplicidade a Deus. Cada vez que provam a sua pureza se limpam de máculas geradas pelo uso anterior do falso poder de julgar as coisas do mundo.

Foi para que os espíritos vivenciassem estas provas, este processo de evolução, que Deus criou o que chamamos de “mundos de vida”: os planetas (Terra, Marte, Júpiter, etc) e as suas diversas camadas espirituais (planos em outras dimensões).Todas estas coisas são campos de trabalho para o espírito no sentido de provar a Deus sua simplicidade e com isso retirar as máculas oriundas de encarnações anteriores, oriundas do processo de evolução.

Anteriormente já havíamos compreendido algumas Realidades sobre os seres humanos; agora podemos compreender mais uma. A vida espiritual em todos os níveis, desde que presas aos orbes planetários, faz parte de um processo de evolução: mais nada do que isso.

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A vida carnal faz parte de um processo de evolução do espírito; a vida espiritual fora da carne, seja em que nível for, quando ainda presa ao planeta Terra, faz parte da evolução do espírito. Faz parte do processo de limpeza do ser universal. Um processo onde os espíritos vão paulatinamente retirando as marcas que encobrem a sua pureza, a sua inocência.

Portanto, não é só a vida carnal que faz parte da evolução, mas quem habita uma colônia espiritual ou quem está no umbral, está vivenciando um processo de evolução. Quem vive o ciclo de encarnações ou quem está no orbe terrestre apenas para “trabalhar espiritualmente” fora da carne em qualquer grau de evolução, está vivenciando um processo de provação e expiação.

Não existem “santos” ou seres de elevação suprema junto aos planetas materiais. Todos os trabalhadores espirituais estão vivenciando um processo de evolução, assim como cada ser encarnado também está. Esta vivência pode se dar com a realização de trabalhos diferentes, mas todos fazem parte de um mesmo processo evolucionário.

Você vive com esta Realidade? Você consegue enxergar assim ao seu parente, seu amigo ou inimigo? Você compreende que as coisas que estão acontecendo fazem parte de um processo de provação a Deus e expiação? Não? É por isso que afirmamos que a vida que você leva é maya.

A compreensão que cada um tem dos acontecimentos da vida são ilusões, pois não existe vida, mas sim um processo de evolução para o espírito. O ser humano não tem a vida que imagina, não participa de atos ou acontecimentos, mas vive um processo de evolução espiritual, onde estará sempre sendo questionado por Deus para que possa ter a oportunidade de provar a sua simplicidade.

Participante: Há vida espiritual nos outros planetas do nosso sistema solar?

Sim, há vida espiritual em todos os planetas, no mesmo sentido da vida terrestre (processo de evolução espiritual) e há vida fora dos planetas, no espaço entre as constelações.

Quando o ser não vive atrelado a um planeta específico, aí já vive outra Realidade diferente do que estamos falando. Mas esta Realidade os seres humanos não têm capacidade de compreender.

Agora que compreendemos os elementos do Universo e a Realidade deste, podemos então começar a trabalhar estas informações.

Deus é o Supremo Comandante do processo de evolução, ou seja, Deus é o Supremo Comandante da vida ligada ao orbe planetário. Ele a organiza (organiza os acontecimentos) de acordo com o processo de evolução de cada espírito. Nada mais O motiva no exercício da função de Supremo Comandante da vida.

Para criar cada presente (as situações universais), sejam elas na vida carnal ou espiritual atrelada a um planeta, o “faça-se” de Deus é sempre motivado pelo processo de evolução que cada espírito vive. Esta motivação, no entanto, não sofre interferências dos “desejos” de Deus, mas é criada pela chamada lei do carma, ou lei da ação e reação.

O mestre dos mestres (Cristo) ensinou a Realidade: Deus dá a cada um segundo as suas obras. Esta mesma Realidade é o que vimos até aqui: Deus cria as coisas universais a cada micro fração de tempo tendo como motivação o processo de evolução do espírito. Para criar ele é movido pela lei da ação e reação.

De acordo com a Realidade acima exposta, podemos concluir que a cada micro fração de tempo você está recebendo de Deus o resultado de suas ações anteriores, ou seja, a resposta aquilo que fez anteriormente. Isto é Real, isto é Realidade. Esta concepção de vida não é maya.

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Ilusão é achar que você é o ser humano que se imagina ser, quando na Realidade é um espírito, simples, puro e com cultura, mas que está maculado. Ilusão é você achar que está “vivo”, que vive a vida, quando na Realidade vivencia um processo de elevação que acontece a cada micro fração de tempo. Ilusão é você imaginar que está realizando alguma coisa materialmente falando, quando a única coisa que o espírito pode realizar durante a vida é provar a Deus que é capaz de voltar ao seu estado original.

Isso é Realidade, isso é Real. O resto tudo é ilusão.

Participante: No universo, entre as constelações, teria algo como colônias em pleno espaço sideral?

Não, entre as constelações, não. Ligado aos planetas sim.

Entre as constelações existem espaços imateriais que chamamos de “macrocosmo”. Ali não há necessidade de materialidade alguma. As colônias existem somente para aqueles que estão presos a planetas (matérias).

Participante: Quer dizer que nossos atos não são controlados pelo espírito? Deus comanda nossos atos e nós apenas escolhemos como nos sentimos?

Deus não comanda os seus atos: os faz. É muito mais do que comandar: é gerar a ação através do “faça-se”.

Se ele apenas comandasse seria você que executaria o ato sob comando Dele. Isso não é Real: as coisas são feitas a partir do comando de Deus. Portanto, você não faz, Deus faz.

Para nós não nos aprofundarmos muito, pois como já disse este “faça-se” é incompreensível para a maioria de nós espíritos, diria que Ele usa o seu braço para criar ação. Isto, no entanto, é uma definição apenas para não nos aprofundarmos muito no tema agora, pois até isto ainda é irreal. Por agora compreenda apenas que não é você ou o outro que age.

Você não é capaz de decidir ou realizar nada neste mundo materialmente falando. Se pudesse, seria como um aluno que, ao fazer provas, escrevesse as questões durante a prova. Esta provação seria muito fácil e continuaria não gerando merecimento.

Portanto, saiba apenas que você não faz, mas Deus faz. A você caberá apenas escolher um sentimento para vivenciar o que Deus fez.

Descobrimos com tudo que conversamos até aqui a Realidade da vida. Agora nos resta responder: como fazermos este processo de evolução?

Como devemos vivenciar os acontecimentos universais para que promovamos a retirada das máculas que encobrem nossa pureza original? Reagindo a tudo que existe com simplicidade.

Alguém falou anteriormente que as pessoas lhe fazem mal. Pergunto: isto é uma reação com simplicidade? Não, é uma reação onde houve um julgamento, ou seja, uma análise onde estiveram envolvidos diversos aspectos (multiplicidade). Foi desta análise guiada pela dualidade (saber o que é “bom” ou “mal” para esta pessoa) que surgiu a verdade: eles me fizeram “mal”.

Além disso, é uma reação não amorosa, com agressão, pois conclui que aqueles que agiram não prestam, são ruins. Também foi uma reação individualista que levou em conta apenas às paixões individualistas deste ser: eu não gostei.

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A reação simples é caracterizada pelo nada saber, nada opinar, nada declarar sobre o acontecimento. Isto porque a reação do simples é realizada com a entrega a Deus da Verdade. Por isso não contém opiniões individuais sobre o assunto.

Se alguém fala alguma coisa, o simples não sabe se está sendo xingado ou não, não sabe se está perdendo ou não, se está sendo criticado ou não. Agindo com simplicidade (sem julgar as coisas) o simples não consegue vivenciar os dualismos de “certo” e “errado”, “bonito” e “feio”, “bom” e “mal”, “limpo” e “sujo”. Vivendo na simplicidade o espírito não tem nada a declarar sobre qualquer coisa.

Omitir-se conscientemente de dar valores ao mundo é viver na Realidade. O ser humanizado está na carne e fora dela, preso a um planeta, dentro de um processo de evolução, para provar a Deus a sua simplicidade, abrindo mão de todo e qualquer valor que possa aplicar às coisas.

Para retirar a mácula e viver a pureza que lhe é característica o ser humanizado precisa nada saber, nada conhecer e nada ser. É para criar oportunidades para isso que Deus cria os acontecimentos da vida material e espiritual. Deus gera os “presentes” da existência de um espírito para que ele tenha uma oportunidade de provar a sua simplicidade.

Para isso Deus cria o Universo a cada micro fração de tempo, para isso: para que o espírito tenha uma oportunidade de trabalhar no sentido da evolução espiritual agindo o tempo inteiro com simplicidade.

Isso é Real. Qualquer outra coisa que você falar, imaginar ou acreditar, será ficção, maya, ilusão proveniente de um espírito que vive no falso poder oriundo da sua desobediência. Isto é Real, pois você ainda está preso a um orbe planetário, ou seja, ainda está em processo de evolução.

Comentário do amigo espiritual fora do tema.

Anteriormente me haviam pedido para falar do amor entre homem e mulher. Agora com este ensinamento já podemos falar.

Para a realização das provas do espírito enquanto encarnado, há a necessidade de que existam os “instrumentos” que gerem os acontecimento (outras pessoas e objetos). Em cada micro fração de tempo dois ou mais espíritos trabalham juntos, cada um vivendo o seu carma ou aquilo que Deus cria para ele.

O amor de um homem por uma mulher é um acontecimento, portanto, uma criação de Deus. É um acontecimento que gera a oportunidade de um espírito responder ao Pai se vai continuar simples ou vai se prender às suas manchas, as suas máculas, que determinam os valores individualistas da vida.

Ou seja, o amor entre o homem e uma mulher é maya, é uma ilusão: ninguém ama ninguém neste sentido. Trata-se apenas de um “faça-se” de Deus que aproxima dois espíritos que precisam viver juntos o seu carma.

Voltemos agora ao nosso estudo deste ciclo de palestras. Até hoje destruímos todas as bases com a qual os seres humanizados vivem. Mostramos que tudo é maya. Hoje falamos sobre o que é Real para que o espírito tenha uma base de vida.

Na palestra de hoje eu coloquei algo Real na vida para substituir todo o maya que você tem: o nada. O simples vive o nada: nada saber, ter, ouvir, aprender comentar, imaginar. Isto é viver na Realidade.

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No entanto, como já foi dito o nada não existe: tudo é sempre alguma coisa. Também já foi ensinado: Deus é tudo e tudo é Deus. Juntando as duas coisas, poderíamos dizer que viver na Realidade é muito simples: basta você substituir tudo o que acha por Deus: Seu Amor, Sua Justiça. Vivendo assim você se libertará das máculas e retornará à sua essência: simples e puro.

O simples vive Deus, ponto final. O simples não ataca nem acusa os outros, não casa nem namora, não tem filhos nem dirige carro, porque vive somente para Deus. É por isso que o espírito ao se elevar vai libertando-se de todas estas coisas e vai vivendo cada vez o “nada absoluto” que é o próprio Deus.

Esta é a Realidade de vocês e a minha. Fora isto, todo resto é maya; todo resto contraria os ensinamentos dos mestres.

Todos eles nos ensinaram que com a evolução espiritual iríamos viver com Deus, para Deus, sem mais nada. Para isto é preciso não haver mais nada mesmo. Para isto é preciso não dar valor a nada que acontece.

Este é o processo que está se iniciando com o novo tempo. Os espíritos quando conseguirem completar o círculo de encarnações para regeneração estarão vivendo esta Realidade. O que é isso? Não sei. O que é aquilo? Nada, não conheço, não vi.

Esta é a marca a ser alcançada no novo tempo: a vida onde os espíritos não falam com a boca e nem ouvem com a orelha, mas que focam apenas o coração, os sentimentos. Neste tempo a comunicação será simplesmente sentimental e não material.

Não precisará haver palavra ou forma: bastará um emanar o amor para o outro e a compreensão acontecerá perfeitamente. A palavra é um fruto de um raciocínio, por isso é maya, é ilusão individualista que não deixa o amor universal existir. Hoje os homens não se entendem apesar da palavra e das formas porque não se amam.

Participante: Este processo que estamos falando é o total desapego?

Sim, é o total desapego a tudo. Ainda hoje a humanidade compreende o ensinamento do desapego como apenas às coisas materiais, por isso não consegue realizar este ensinamento dos mestres.

Para desapegar-se de verdade o ser humanidade precisa se libertar da razão, da lógica, da verdade, do julgamento proferido pelo raciocínio (formação mental), da visão, da audição. Libertar-se do mundo como o próprio Cristo fez.

Entendido o tema de hoje e aproveitando a pergunta sobre o desapego, eu perguntaria: qual a primeira coisa que cada um precisa desapegar-se? Desapego às doutrinas religiosas.

Desapego aos livros doutrinários religiosos, ou seja, àquelas explicações materialistas para coisas espirituais. Desapegos às mágicas, às bruxarias, às orações recitadas e a pontos cantados ou riscados. Desapego a tudo o que é cultura material sobre coisas espirituais, porque esta cultura mantém você preso ao dualismo.

Todas as doutrinas religiosas criadas a partir de ensinamentos dos mestres baseiam-se no “bem” ou “mal”, no “certo” e “errado”, no “bonito” e “feio”, por isso prendem o ser humanizado no dualismo e não lhe deixa limpar-se desta mácula para voltar à simplicidade.

Desapego inclusive a essas palavras ou ao que se formou na sua mente durante toda a leitura deste texto. Não entenda estes ensinamentos como sabedoria, mas compreenda o caminho e se liberte também deste texto.

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Página 130 Ego – A personalidade humana do espírito

Este ensinamento é antigo, mas o ser humanizado ainda acredita que precisa “se agarrar” a algo, ter referências no estágio atual de evolução. Isso é apego, é maya gerado pelo seu ego. Para se fazer a evolução não é preciso ter referência alguma, pois o retorno a pureza só acontecerá quando o ser humanizado não tiver mais referências nenhumas.

Mas você como ser humano ainda achará que precisa, mesmo depois de ler estas palavras e concordar com ela. Ainda irá buscar ler outras fontes, ir a reuniões e a sermões, freqüentar centros ou igrejas. Agindo assim só estará gerando mais mayas que um dia, em alguma encarnação, terá que se libertar para poder voltar a ser puro.

Eu diria dentro de tudo que vimos hoje que qualquer ser humanizado, pela sua pureza intrínseca recebida “geneticamente” tem condição de se libertar e se atirar neste vazio. Mas a maioria absoluta não sabe disso, não vê isso. Prefere não se arriscar no “nada” Deus e confiar no “tudo” cultural que pode ser percebido pelos órgãos do corpo.

É por isso que eu continuo falando e conversando sobre as coisas da vida.

Participante: O universalismo é uma forma de desapego, correto?

O universalismo não é uma forma de desapego; é o resultado do desapego.

O universalismo ocorre quando diversas individualidades se reúnem e criam um novo todo que passa a ser a individualidade de todas as individualidades que se reuniram para formar aquele todo. Vou dar um exemplo.

Na hora que você for uma individualidade sem individualismo se integrará perfeitamente à comunidade espiritual universal e com ela participará conscientemente de uma nova individualidade: o Universo. Você será você, mas tudo que fizer, pensar, imaginar, estará, pensando, fazendo, imaginando como o Todo Universal e não como você apenas.

Tem algumas palavras e conhecimentos que são difíceis de explicar para vocês.

Vocês hoje fazem parte da individualidade Universo, mas de uma forma individualista, pois ainda agem com idéias próprias: “eu não gosto daquilo, se o universo gostar o problema é dele, eu continuo não gostando”.

Participante: Me confundi toda agora com essa resposta.

Compreender o universalismo é realmente muito difícil para os seres humanizados. Ele ocorre quando o objetivo do grupo é total para você e não há de sua parte nenhum objetivo individual no grupo. Deixa de ter querer, vontade, de achar qualquer coisa e passa a viver o querer, a vontade e o achar grupal como seu. Isto é universalismo.

Hoje o ser humanizado não consegue fazer isso porque está preso no raciocínio individualista: pensando a partir do eu. Por mais que ele goste, que se afine com as idéias do grupo, sempre coloca objetivos e paixões individuais na sua participação neste grupo. Quando este ser chegar na consciência universalista estará raciocinando coletivamente e aí viverá os objetivos e paixões do grupo e não os seus.

Diríamos assim. Quando existe o universalismo há uma inteligência grupal que raciocina pelo todo. Esta inteligência grupal, no caso do Universo, é o próprio Deus que raciocina pelo todo. Todo espírito já vive isso quando vivencia o “faça-se” de Deus, mas enquanto tiver o raciocínio individual (o maya, as ilusões) a partir do eu (acho sei, gosto) não vive o universalismo.

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Participante: Mas os grandes cientistas descobridores agiram em termo de individualismo e trouxeram grandes progressos para a humanidade, não foi?

Não. Os grandes descobridores, os grandes cientistas, não descobriram nada porque não há nada a ser descoberto: tudo existe e é criado por Deus.

Deixe-me dizer uma coisa: o que há para ser descoberto no Universo? Deus sabe tudo, conhece tudo, criou tudo. Não há incógnitas no Universo.

Eu diria que os grandes descobridores foram instrumentos para trazer a informação das criações de Deus. Eles não descobriram nada: foram apenas portadores daquilo que Deus queria que fosse trazido à luz da humanidade.

Agora, se eles agiram assim com individualismo, este fato para eles, em termos de evolução espiritual, nada serviu. No entanto, outros trouxeram grandes descobertas e não tiraram patente, direito autoral do que descobriram. Esses trouxeram a informação de Deus igual aos primeiros, mas se elevaram no seu trabalho dentro da ação de Deus como conversamos hoje.

Participante: Eles encontraram o caminho para a descoberta, mas a título individual. É isso?

Eles não encontraram nada: Deus deu o caminho. Tudo nasce do “faça-se” divino. Se Ele não quisesse que eles descobrissem nada, nada seria descoberto.

Então, não foram eles que descobriram nem que percorreram o caminho: Deus revelou através deles. Esta visão sobre as descobertas científicas está no Livro dos Espíritos quando o Espírito da Verdade afirma: Deus pode ampliar conhecimentos de acordo com Sua vontade, através da ciência ou não, para o avanço da humanidade em todos os campos.

Já ali estava afirmado: não é nenhum cientista que descobre, mas sim Deus quem amplia os conhecimentos através do cientista.

Isso precisa ficar bem claro. Sem esta compreensão das coisas o homem seria mais forte que Deus. Descobria coisas fora da sua época e aí este teatrinho que vocês chamam de vida existira como realidade.

Já pensou quantos carmas deixariam de existir se o homem tivesse descoberto a penicilina um século antes? Não pode descobrir, pois neste caso os carmas poderiam deixar de ser vivenciados e sem eles o Universo não tem razão de existir: ele só existe para a realização dos carmas.

Se o homem tivesse descoberto a cura da Aids como ficaria o carma dos que passam por esta doença? Já pensou se na guerra dos bárbaros houvesse bomba atômica? Que holocausto. Realmente o homem não pode descobrir nada sem que o Supremo Comandante dos carmas decrete pelo Seu “faça-se”.

Participante: Realmente é difícil se imaginar como será o mundo de Regeneração. É melhor viver este de provas e expiações que já está difícil compreender.

Isso; vá vivendo este mundo, mas comece a colocar em prática o desapego, senão não conseguirá viver nunca no mundo de Regeneração.

Mesmo que não consiga se desapegar de tudo, vá caminhando no sentido do desapego porque esse caminho preparativo para próxima vida. Quem não estiver neste caminho, estiver apegado no mundo material, terá que renascer no mundo onde este apego é generalizado.

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Participante: O fato de termos consciência de que o espírito não faz nada é só canal de Deus, já mata a nossa arrogância de realizador de coisas no plano material, astral, mental e búdico.

Isso. É isso mesmo, você está certo.

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Índice

Egoísmo ........................................... ...................................................................................................................................... 2

Conhece a ti mesmo ................................ ............................................................................................................................ 19

Conceituação ................................................................................................................................................................ 19

Formação ...................................................................................................................................................................... 32

Vencendo o ego ............................................................................................................................................................ 59

O ego e a ação carmatica .......................... .......................................................................................................................... 76

Ciclo de estudos sobre os acontecimentos da vida hu mana .............................................. ........................................... 108

Maya ........................................................................................................................................................................... 108

Realidade .................................................................................................................................................................... 120

Índice ............................................ ...................................................................................................................................... 133