Ela canta pobre ceifeira

23
Português 12.º ano Prof.ª Catarina Labisa

description

 

Transcript of Ela canta pobre ceifeira

Page 1: Ela canta pobre ceifeira

Português 12.º ano

Prof.ª Catarina Labisa

Page 2: Ela canta pobre ceifeira

Fernando Pessoa

«Ela canta, pobre ceifeira»

Page 3: Ela canta pobre ceifeira

Estrutura externa ou formal

• Estrofes:

–Seis quadras.

• Rima:

–Cruzada.

• Métrica:

–Octossilábica.

Page 4: Ela canta pobre ceifeira

Estrutura interna

• Divisão em partes:

–1.ª parte: três primeiras estrofes

• Descrição do canto da ceifeira.

–2.ª parte: três estrofes finais

• Efeitos da audição desse canto na

subjetividade do poeta.

Page 5: Ela canta pobre ceifeira

Enunciação

• 1.ª parte:

–3.ª pessoa do singular

• «Ela» — ceifeira.

• 2.ª parte:

–1ª/2ª pessoa sdo singular

• «eu» — sujeito poético;

• «tu» — ceifeira.

Page 6: Ela canta pobre ceifeira

Tipos de frase

• 1.ª parte:

–Frases declarativas

• «Ela canta, pobre ceifeira […]»

• …

• 2.ª parte:

–Frases imperativas / exclamativas

• «Ah, canta, canta sem razão!»

• «Ah! poder ser tu, sendo eu!»

Page 7: Ela canta pobre ceifeira

Tempos / modos verbais

• 1.ª parte: –Predominância do presente do

indicativo • «canta», «ceifa», «ondula», «há»,

«tem», «alegra», «entristece»

• 2.ª parte: –Predominância do imperativo

• «canta», «Derrama», «Entrai», «Tornai», «passai»

Page 8: Ela canta pobre ceifeira

A descrição da ceifeira

• 2.1. «pobre ceifeira»

–O adjetivo anteposto (com valor não restritivo) expressa a apreciação subjetiva que o sujeito faz da mulher (ela é pobre no sentido psicológico, pois não conhece verdadeiramente a sua condição).

• (O uso restritivo do adjetivo indicaria a condição social da ceifeira.)

Page 9: Ela canta pobre ceifeira

A descrição da ceifeira

• 1. Recursos expressivos

–Adjetivação:

• «feliz» (caracterização psicológica

da ceifeira);

• «alegre e anónima» (a voz da

ceifeira);

• «suave» (o canto da ceifeira).

Page 10: Ela canta pobre ceifeira

A descrição da ceifeira

• 1. Recursos expressivos

–Antítese:

• «alegre e anónima viuvez» (a voz

da ceifeira);

• «alegra e entristece» (ouvir a

ceifeira).

Page 11: Ela canta pobre ceifeira

A descrição da ceifeira

• 1. Recursos expressivos

–Comparação:

• «Ondula como um canto de ave»;

• «No ar limpo como um limiar».

• «canta como se tivesse mais razões para cantar que a vida »

–Metáfora (sinestesia):

• «a sua voz […] // Ondula»;

• «há curvas no enredo suave / Do som».

Page 12: Ela canta pobre ceifeira

A descrição da ceifeira

• 1. Recursos expressivos

–Aliteração:

• em |l|: «limpo» e «limiar»;

• em |v|: «curvas» e «suave»);

• de sons nasais («ondula», «um»,

«limpo», «enredo»).

Page 13: Ela canta pobre ceifeira

A descrição da ceifeira

• 1. –«a voz da ceifeira domina toda esta

primeira parte com a sua suavidade, mensagem de um universo de alegria, inocência e espontaneidade, e o poeta procura apresentá-la num ritmo ondulante, repousado ou embalador, para tanto lançando mão de aliterações […]»

Page 14: Ela canta pobre ceifeira

A descrição da ceifeira

• 1. –«Mas também, desde o início, a

descrição é marcada por algumas referências antitéticas que nos dão conta do comportamento contraditório da ceifeira porque, sendo «pobre» e duma «anónima viuvez», julga-se «feliz», a sua voz é «alegre». «E canta como se tivesse / Mais razões p’ra cantar que a vida.», [...] mas não as tem, logo o seu canto é inconsciente.»

Page 15: Ela canta pobre ceifeira

Efeito do canto da ceifeira

• 2.2.

–«Apesar disso, ou por isso, a sua voz é alegre, cheia de vida, encanta e prende o sujeito, que, por um lado, se alegra por a ver feliz e, por outro, se entristece porque sabe que, se aquela ceifeira fosse capaz de tomar consciência da sua situação, não encontraria motivos para cantar.»

Page 16: Ela canta pobre ceifeira

A subjetividade do poeta

• Dois momentos da segunda parte do poema: –1.º momento: 4.ª quadra e parte da

5.ª quadra: • O sujeito faz um apelo e formula um

desejo impossível.

–2.º momento: fim da 5.ª quadra e 6.ª quadra: • O sujeito invoca a natureza e o canto

para que o invadam e levem a sua alma.

Page 17: Ela canta pobre ceifeira

O apelo do poeta

• 2.3.

–O poeta pede à ceifeira que

continue a cantar, mesmo «sem

razão» (irracional ou

inconscientemente), para que o

canto derramado entre no seu

coração.

Page 18: Ela canta pobre ceifeira

A antítese entre o poeta e a

ceifeira

• 2.3.

–Ao contrário da ceifeira, o sujeito lírico sente tristeza e alegria ao ouvir o canto, pensa no que sente, não consegue sentir sem pensar. Nele, a sensação converte-se em pensamento.

Page 19: Ela canta pobre ceifeira

A ambição paradoxal do

poeta

• 2.4.

–O sujeito poético gostaria de ser a ceifeira com a sua «alegre inconsciência» (sentir sem pensar), mas, simultaneamente, de ser ele mesmo (ter a consciência de ser inconsciente). O que o poeta deseja, afinal, é unir o sentir ao pensar.

Page 20: Ela canta pobre ceifeira

A invocação do poeta

• 3.2.«Ó céu! / Ó campo! Ó canção!» –O poeta invoca os elementos

responsáveis pela alegria da ceifeira (o céu, o campo/trabalho e a canção) pedindo-lhes que entrem por ele dentro, disponham da sua alma como sombra própria e o levem, em suma, que o impeçam de pensar.

Page 21: Ela canta pobre ceifeira

A dor de pensar

• 3.1.«A ciência / Pesa tanto e a

vida é tão breve!»

–Com tristeza e desolação, o

poeta afirma a consciência do

peso da ciência, do pensamento,

que impedem que a vida, tão

breve, seja vivida alegremente.

Page 22: Ela canta pobre ceifeira

Recursos expressivos

• A apóstrofe:

–«Ó céu! Ó campo! Ó canção!»

• A personificação/a metáfora:

–«Entrai por mim dentro! Tornai /

Minha alma a vossa sombra leve!

/ Depois, levando-me, passai!» (o

campo, o céu e a canção)

Page 23: Ela canta pobre ceifeira

Recursos expressivos

• O paradoxo:

–«Ah! poder ser tu, sendo eu!»

–«Ter a tua alegre inconsciência,

/ E a consciência disso!»

• A antítese:

–«A ciência / Pesa tanto» / «Minha

alma a vossa sombra leve!»