Eles cresceram, e a paixão pelos games também

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61 2011 | JULHO AGOSTO | invista | 60 | invista | JULHO AGOSTO | 2011 TECNOLOGIA E CONSUMO ||||||||||||||||||||| [ por Tabata Pitol DIVULGAçãO BRASIL GAME SHOW Principal feira de jogos eletrônicos da América Latina, a 4ª edição acontece no Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 9 de outubro, e são esperados 50 mil visitantes. Mais informações no site www.brasilgameshow.com.br. O locutor e dublador Marcelo Assol Caodaglio, 31 anos, já foi um desses. Hoje está mais con- trolado, mas sem abandonar os jogos eletrôni- cos. “Uma vez gastei o salário inteiro do mês para comprar um console de última geração. Mas, depois que casei e assumi outras respon- sabilidades financeiras, me tornei um gamer responsável. Hoje poupo, em vez de gastar tudo com as novidades do mundo eletrônico. Contu- do, parar de jogar, nunca. Agora compro jogos e acessórios bimestralmente, porém, faço isso sempre procurando por promoções ou pedindo para amigos que viajam ao exterior, porque aqui no Brasil é muito caro”, afirma. ALTA TRIBUTAçãO A saudade do Papai Noel costuma só apare- cer mesmo quando o assunto é preço. Ter que desembolsar os altos valores cobrados pelos equipamentos aqui no Brasil frustra os adeptos desse hobby. \“Os equipamentos são caros em grande par- te, por causa da alta tributação que sofrem no País. Para se ter ideia, 53,98% do preço final no Brasil é formado por impostos”, conta o presi- dente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, João Olenike. Isso certamente justifica a grande quantidade de pirataria vista no País e o fato de o equipa- mento da Sony, o PS3, custar R$ 1.778 no Brasil e US$ 297 (cerca de R$ 472) nos EUA. MERCADO INFORMAL Embora uma pesquisa da Real Games e da Newzoo aponte que o Brasil já é o 4º maior mer- cado do mundo de games, cerca de 95% desse mercado não é formal, o que impossibilita um crescimento ainda maior, mesmo que agora os consumidores não sejam mais crianças e pos- sam comprar seus próprios videogames. “Necessitamos da ajuda do Governo Federal para reclassificar os impostos de games no Brasil. A alíquota de IPI cobrada hoje é superior à cobrada sobre armas de fogo, por exemplo”, complementa Tavarez. BRINQUEDO DE ‘MENINAS’ E engana-se quem imagina que apenas os “meninos” cresceram e continuam jogando. Dados mostram que eles têm a companhia das meninas nessa paixão: 40% dos jogadores são mulheres. Curiosamente, existem mais mu- lheres acima de 18 anos jogando (33%) do que adolescentes do sexo masculino adeptos dos games (20%). “Desde a minha infância eu jogo videogame. Tenho alguns consoles antigos guardados. Pena não ter um equipamento de última geração por causa dos preços altos”, diz a assessora de im- prensa de 29 anos Meire Elen Felix. O fato de não ter o equipamento não impede que a jornalista passe madrugadas inteiras de- dicada aos jogos eletrônicos. “Costumo jogar na casa do meu pai – que tem mais de 50 anos e acaba de comprar um Wii - e dos meus amigos. Jogar é uma forma de aliviar o estresse do dia a dia. E as novas tecnologias fazem com que a gente se movimente e gaste energia enquanto brinca. É uma ótima maneira de melhorar a qualidade de vida em meio a esse caos em que vivemos”, afirma. ELES CRESCERAM, E A PAIXãO PELOS GAMES TAMBÉM! NA úLTIMA DéCADA, O PúBLICO CONSUMIDOR DE JOGOS ELETRôNICOS MUDOU E HOJE ADULTOS CHEGAM A GASTAR O SALáRIO DO MêS COMPRANDO EQUIPAMENTOS PARA DIVERSãO PRóPRIA A TRADICIONAL CENA DOS PAIS COLOCANDO embaixo da árvore de Natal o tão desejado video- game para o filho que se comportou o ano todo é cada vez mais rara. Os “gamers” cresceram e hoje não esperam mais ganhar jogos e conso- les do Papai Noel. Ao contrário, usam o próprio dinheiro para comprar os equipamentos que nesta última década se tornaram “brinquedos de gente grande”. “O público mudou e hoje é composto em sua maioria por adultos com, em média, 29 anos”, afirma o diretor executivo de América Latina da Atrativa - Real Games, Ronaldo Bastos. Marcelo Tavares, idealizador e diretor da Brasil Game Show, é uma prova disso. Aos 31 anos, ele é o maior colecionador de games do País e o 3° maior no mundo. Na feira que criou, o público adulto é maioria. Com idade suficiente para estarem bem po- sicionados no mercado do trabalho e com boa situação financeira, os “novos” gamers inflam o faturamento do setor. “Na indústria brasileira de jogos, o crescimento foi de 34,8% entre 2006 e 2010, e deve chegar a US$ 73,5 bilhões em 2013”, diz o professor de Escultura Digital da Seven Game, Marcos Gonçalves. “No Brasil, temos gamers de todos os tipos de perfil. Daqueles casuais que gastam até R$100 por mês e os hardcores, que gastam cerca de R$ 400 por mês”, completa Tavarez. Marcelo (acima): Já gastei um salário inteiro parar comprar um videogame. Marcelo Tavarez (ao lado): Público dos games mudou e tem mais de 18 anos. FOTOS ARQUIVO PESSOAL

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612011 | julho agosto | invista | 60 | invista | julho agosto | 2011

tecnologia e consumo |||||||||||||||||||||[por Tabata Pitol

divulgaçãoBrasil Game showPrincipal feira de jogos eletrônicos da América Latina, a 4ª edição acontece no Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 9 de outubro, e são esperados 50 mil visitantes. Mais informações no site www.brasilgameshow.com.br.

o locutor e dublador Marcelo assol Caodaglio, 31 anos, já foi um desses. Hoje está mais con-trolado, mas sem abandonar os jogos eletrôni-cos. “uma vez gastei o salário inteiro do mês para comprar um console de última geração. Mas, depois que casei e assumi outras respon-sabilidades financeiras, me tornei um gamer responsável. Hoje poupo, em vez de gastar tudo com as novidades do mundo eletrônico. Contu-do, parar de jogar, nunca. agora compro jogos e acessórios bimestralmente, porém, faço isso sempre procurando por promoções ou pedindo para amigos que viajam ao exterior, porque aqui no Brasil é muito caro”, afirma.

alta tributaçãoa saudade do Papai Noel costuma só apare-cer mesmo quando o assunto é preço. Ter que desembolsar os altos valores cobrados pelos equipamentos aqui no Brasil frustra os adeptos desse hobby.

\“os equipamentos são caros em grande par-te, por causa da alta tributação que sofrem no País. Para se ter ideia, 53,98% do preço final no Brasil é formado por impostos”, conta o presi-

dente do instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, João olenike.

isso certamente justifica a grande quantidade de pirataria vista no País e o fato de o equipa-mento da Sony, o PS3, custar R$ 1.778 no Brasil e uS$ 297 (cerca de R$ 472) nos Eua.

mercado informalEmbora uma pesquisa da Real games e da Newzoo aponte que o Brasil já é o 4º maior mer-cado do mundo de games, cerca de 95% desse mercado não é formal, o que impossibilita um crescimento ainda maior, mesmo que agora os consumidores não sejam mais crianças e pos-sam comprar seus próprios videogames.

“Necessitamos da ajuda do governo Federal para reclassificar os impostos de games no Brasil. a alíquota de iPi cobrada hoje é superior à cobrada sobre armas de fogo, por exemplo”, complementa Tavarez.

brinquedo de ‘meninas’E engana-se quem imagina que apenas os “meninos” cresceram e continuam jogando. dados mostram que eles têm a companhia das meninas nessa paixão: 40% dos jogadores são mulheres. Curiosamente, existem mais mu-lheres acima de 18 anos jogando (33%) do que adolescentes do sexo masculino adeptos dos games (20%).

“desde a minha infância eu jogo videogame. Tenho alguns consoles antigos guardados. Pena não ter um equipamento de última geração por causa dos preços altos”, diz a assessora de im-prensa de 29 anos Meire Elen Felix.

o fato de não ter o equipamento não impede que a jornalista passe madrugadas inteiras de-dicada aos jogos eletrônicos. “Costumo jogar na casa do meu pai – que tem mais de 50 anos e acaba de comprar um Wii - e dos meus amigos. Jogar é uma forma de aliviar o estresse do dia a dia. E as novas tecnologias fazem com que a gente se movimente e gaste energia enquanto brinca. É uma ótima maneira de melhorar a qualidade de vida em meio a esse caos em que vivemos”, afirma.

ElES cresceram,

E a paixão PEloS Games

TaMBÉM!

NA úLtiMA décAdA, o PúbLico coNsuMidoR de Jogos eLetRôNicos Mudou e hoJe AduLtos chegAM A gAstAR o sALáRio do Mês coMPRANdo equiPAMeNtos PARA diveRsão PRóPRiA

A TrAdicionAl cenA dos PAis colocAndo embaixo da árvore de Natal o tão desejado video-game para o filho que se comportou o ano todo é cada vez mais rara. os “gamers” cresceram e hoje não esperam mais ganhar jogos e conso-les do Papai Noel. ao contrário, usam o próprio dinheiro para comprar os equipamentos que nesta última década se tornaram “brinquedos de gente grande”.

“o público mudou e hoje é composto em sua maioria por adultos com, em média, 29 anos”, afirma o diretor executivo de américa latina da atrativa - Real games, Ronaldo Bastos.

Marcelo Tavares, idealizador e diretor da Brasil game Show, é uma prova disso. aos 31 anos, ele é o maior colecionador de games do País e o 3° maior no mundo. Na feira que criou, o público adulto é maioria.

Com idade suficiente para estarem bem po-sicionados no mercado do trabalho e com boa situação financeira, os “novos” gamers inflam o faturamento do setor. “Na indústria brasileira de jogos, o crescimento foi de 34,8% entre 2006 e 2010, e deve chegar a uS$ 73,5 bilhões em 2013”, diz o professor de Escultura digital da Seven game, Marcos gonçalves.

“No Brasil, temos gamers de todos os tipos de perfil. daqueles casuais que gastam até R$100 por mês e os hardcores, que gastam cerca de R$ 400 por mês”, completa Tavarez.

marcelo (acima): Já gastei um salário inteiro parar comprar um videogame.marcelo tavarez (ao lado): Público dos games mudou e tem mais de 18 anos.

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