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4 TRIBUNA DA MADEIRA | Sexta-feira, 13 de outubro de 2017 5 TRIBUNA DA MADEIRA | Sexta-feira, 13 de outubro de 2017 A coordenadora do C.A.S.A consi- dera que é urgen- te construir no Funchal um Cen- tro de Acolhimen- to de média/lon- ga duração, que “possa proporcio- nar aos seus uten- tes condições de vida semelhantes à de uma estrutu- ra familiar saudá- vel e equilibrada, até ao momento da sua autonomi- zação”. Atualmente, o C.A.S.A apoia mensalmente cer- ca de 1450 pes- soas. Sílvia Fer- reira alerta que o número de pedi- dos de apoio tem vindo a aumen- tar, defendendo que “a criação de emprego e a habi- tação são ques- tões sempre prio- ritárias”. JOÃO TOLEDO [email protected] T ribuna da Madei- ra (T.M.) - No dia 17 de outu- bro celebra-se o Dia Interna- cional para a Erradica- ção da Pobreza. Qual a importância de se assina- lar esta data? Sílvia Ferreira (S.F.) - É, efetivamente, importante assinalar esta data. Este dia é, acima de tudo, uma chamada de atenção à população para a real necessidade de defen- der um direito básico do ser humano. Segundo o Instituto Nacio- nal de Estatística, estima-se que 2,6 milhões de portugue- ses se encontram em risco de pobreza. É uma realidade dura de se encarar, mas não podemos ignorá-la. Esta pro- blemática deve ser uma prio- ridade de todos nós 365 dias por ano. | SOCIEDADE | | SOCIEDADE | “CONTINUAMOS COM UM NÚMERO ELEVADO DE POBREZA ENVERGONHADA” Quem o afirma é Sílvia Ferreira, coordenadora da delegação da Madeira do C.A.S.A. (Centro de Apoio ao Sem Abrigo). OPINIÃO GREGÓRIO GOUVEIA gregoriogouveia.blogspot.pt Da confiança à crise dos Bancos (88) Do Banco Português do Atlântico (31/12/1942) ao Mil- lennium BCP: Com a realização da Assem- bleia Geral Anual do BCP, no dia 27 de maio de 2008, foi deliberado a favor de propos- ta submetida por accionistas relativa à eleição do Conselho de Remunerações e Previdên- cia para o triénio 2008/2010, com a seguinte composição: Presidente – José Manuel Rodrigues Berardo; Vogais – Luís de Melo Champalimaud e Dr. Manuel Pinto Barbosa. A Assembleia deliberou a favor das propostas apresen- tadas pelos órgãos sociais, nomeadamente a proposta de designação de Auditor Exter- no, bem como a de eleição do Revisor Oficial de Contas e o seu suplente. Entre os temas que, pela sua importância para a vida do Banco, mereceram um acompanhamento especial por parte do CGS destaca-se: “o aumento de capital social de 3.611.329.567 euros para 4.694.600.000 euros, que veio a realizar-se durante o primeiro semestre de 2008. O aumento de capital social, de 1.083.270.433 acções, ao preço de emissão de 1,2 euros, correspondendo a um encaixe no montante de 1.299.924.520 euros, foi oferecido à subscri- ção dos accionistas, no exer- cício dos respectivos direitos de preferência. Não obstan- te o forte nível de volatilida- de nos mercados accionistas que já se verificava ao tem- po, o aumento de capital foi completado com sucesso, ten- do a procura representado 2,2 vezes a oferta”. Em 6 de maio de 2008 foram admitidas à cotação as novas acções. “No cumpri- mento do n.º 1 do artigo 6.º dos Estatutos, que estabele- ce a emissão de parecer pré- vio sobre aumento de capital social a deliberar pelo CAE, o CGS emitiu parecer favorável ao referido aumento de capi- tal e acompanhou o processo. O CGS analisou as condições da operação nas suas reuni- ões de 18 de Fevereiro e 21 de Abril e os respectivos resulta- dos na sua reunião de 12 de Maio de 2008”. Quanto ao processo de con- sulta e selecção do Revisor Oficial de Contas e do Auditor Externo, “nos termos defini- dos no Código das Sociedades Comerciais e no Contrato de Sociedade do Banco Comer- cial Português, S.A., compe- te ao CGS, sob recomenda- ção da Comissão de Audito- ria e Risco, propor à Assem- bleia Geral a nomeação de um revisor oficial de contas ou de uma sociedade de revisores oficiais de contas para proce- der ao exame das contas do Banco e propor a designação do Auditor Externo. Na reunião de 27 de outu- bro de 2008, o CGS apreciou a actividade e as demonstra- ções financeiras consolidadas relativas ao terceiro trimes- tre de 2008. “Apreciou inclu- sivamente o relatório de cré- dito concedido a accionis- tas com ou sem colateral de acções do Banco e as con- clusões dos auditores exter- nos sobre operações de crédi- to com membros dos corpos sociais. O CGS analisou par- ticularmente a agenda estra- tégica no contexto actual, os pressupostos para o orçamen- to de 2009 e a política de divi- dendos do Banco”. Na reunião de 4 de dezem- bro de 2008, o CGS tinha como principal objectivo “apreciar o orçamento anual do Banco para 2009. Apreciou também o processo de fusão por incor- poração do Banco de Investi- mento, ratificou o pedido de concessão de garantia pesso- al da República”. O Conselho Geral e de Supervisão Portu- guesa, analisou o processo e conclusões da auto-avaliação do CGS e tomou conhecimen- to da actividade das Comis- sões Especializadas durante o quarto trimestre de 2008”. Os conflitos de poder no BCP custou muitos prejuízos aos acionistas. Além disso, no dia 10 de dezembro, o Conse- lho Diretivo da CMVM deli- berou deduzir acusação con- tra o BCP por prestação de informação não verdadeira ao mercado. n (continua) gregoriogouveia.blogspot.pt T.M. - Qual é o retrato da pobreza na Região? S.F. - Na Madeira con- tinuamos com um número elevado de pobreza envergo- nhada. No C.A.S.A., além do acompanhamento que faze- mos à população em situa- ção de sem abrigo, apoiamos também famílias carencia- das, desde 2010, e, infeliz- mente, o número de pessoas que nos procuram continua a aumentar. Iniciamos o apoio alimen- tar a 35 famílias e, atualmen- te, estamos com 430 famí- lias, número que corresponde a 1450 pessoas. O que temos vindo a assistir é que as pes- soas que foram atingidas pela crise e que, de um dia para outro, perderam o seu traba- lho, ainda não conseguiram retomar a sua vida. T.M. - Acha que as polí- ticas dos governos na área social têm ido de encon- tro às necessidades dos mais desfavorecidos? S.F. - O que tem sido fei- to não é suficiente! Urge a necessidade de rever priori- dades, sendo que a atenção e o empenho em resolver situ- ações como o emprego e a habitação devem ser maté- rias prioritárias. Não é fácil, mas as entidades competen- tes devem assumir essa res- ponsabilidade e trabalhar nas alternativas. T.M. - E que medidas governamentais conside- ra mais urgentes tomar na área social? S.F. - Como referi, a cria- ção de emprego e a habitação são questões sempre priori- tárias. A par disto, é fulcral a aposta na formação e capa- citação do indivíduo para sair da situação em que se encontra. Um dos projetos pelo qual nós temos nos debatido, e que é uma lacuna grave que temos no Funchal, é a fal- ta de um Centro de Acolhi- mento de média/longa dura- ção, que possa proporcio- nar aos seus utentes condi- ções de vida semelhantes à de uma estrutura familiar sau- dável e equilibrada, até ao momento da sua autonomi- zação. Esta medida é dirigi- da, essencialmente, a pesso- as adultas que se encontrem em situação de sem abrigo ou a viver situações graves de carência, vulnerabilidade e exclusão social. Com este centro pretende- se assegurar o alojamento, as necessidades básicas (refei- ções, higiene pessoal e distri- buição e tratamento de vestu- ário) e proporcionar o desen- volvimento de competências pessoais, sociais, profissio- nais e espirituais essenciais à capacitação de cada indivi- duo para a sua inserção. T.M. - Os governan- tes falam numa certa retoma económica. Esta situação corresponde à realidade? S.F. - Sente-se, de um modo geral, uma atmosfera mais positiva, mais otimista e isso, por sua vez, faz com que as pessoas comecem a “des- contrair” e a retomar a vida que tinham. Mas o que tenho constatado é que as pessoas que tinham dinheiro, na altu- ra da crise retraíram-se nos seus gastos. Deixaram de gas- tar tanto, por uma questão de precaução precaveram-se. Paralelamente, os que tinham trabalho e não o per- deram tiveram de reajustar a sua vida e definir prioridades para seus gastos e, atualmen- te, sentem uma certa folga financeira. Para aqueles que perderam o seu trabalho e nos casos que temos conheci- mento, que são acompanha- dos pela nossa instituição, infelizmente, ainda não con- seguiram emprego e as suas vidas mantém-se em suspen- so. Gostava de puder afirmar que as famílias que acompa- nhamos há quatro anos refi- zeram a sua vida e que, efe- tivamente, a retoma econó- mica tinha chegado a todos, mas, infelizmente, isso não se verifica. “A necessidade de dar mais respostas às pessoas que nos procuram aumentou” T.M. - O C.A.S.A pres- ta um trabalho meritório na área social. Quais as principais atividades que desenvolvem? S.F. - O C.A.S.A. assume como missão promover a paz e proteger os direitos huma- nos em todas as suas dimen- sões e trazer progresso social através do desenvolvimen- to de ações de ajuda huma- nitária aos níveis individu- al, familiar, comunitário e da sociedade que se concretiza

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4 TRIBUNA DA MADEIRA | Sexta-feira, 13 de outubro de 2017 5TRIBUNA DA MADEIRA | Sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A coordenadora do C.A.S.A consi-dera que é urgen-te construir no Funchal um Cen-tro de Acolhimen-to de média/lon-ga duração, que “possa proporcio-nar aos seus uten-tes condições de vida semelhantes à de uma estrutu-ra familiar saudá-vel e equilibrada, até ao momento da sua autonomi-zação”.Atualmente, o C.A.S.A apoia mensalmente cer-ca de 1450 pes-soas. Sílvia Fer-reira alerta que o número de pedi-dos de apoio tem vindo a aumen-tar, defendendo que “a criação de emprego e a habi-tação são ques-tões sempre prio-ritárias”.

João [email protected]

T ribuna da Madei-ra (T.M.) - No dia 17 de outu-bro celebra-se o Dia Interna-

cional para a Erradica-ção da Pobreza. Qual a importância de se assina-lar esta data?

Sílvia Ferreira (S.F.) - É, efetivamente, importante assinalar esta data. Este dia é,

acima de tudo, uma chamada de atenção à população para a real necessidade de defen-der um direito básico do ser humano.

Segundo o Instituto Nacio-nal de Estatística, estima-se que 2,6 milhões de portugue-ses se encontram em risco de pobreza. É uma realidade dura de se encarar, mas não podemos ignorá-la. Esta pro-blemática deve ser uma prio-ridade de todos nós 365 dias por ano.

| sociedade | | sociedade |

“ContinuAmoS Com um número elevAdo de pobrezA envergonhAdA”

Quem o afirma é Sílvia Ferreira, coordenadora da delegação da Madeira do C.A.S.A. (Centro de Apoio ao Sem Abrigo).

opinião

GReGÓRio GoUVeiagregoriogouveia.blogspot.pt

da confiança à crise dos bancos (88)

Do Banco Português do Atlântico (31/12/1942) ao Mil-lennium BCP:

Com a realização da Assem-bleia Geral Anual do BCP, no dia 27 de maio de 2008, foi deliberado a favor de propos-ta submetida por accionistas relativa à eleição do Conselho de Remunerações e Previdên-cia para o triénio 2008/2010, com a seguinte composição: Presidente – José Manuel Rodrigues Berardo; Vogais – Luís de Melo Champalimaud e Dr. Manuel Pinto Barbosa.

A Assembleia deliberou a favor das propostas apresen-tadas pelos órgãos sociais, nomeadamente a proposta de designação de Auditor Exter-no, bem como a de eleição do Revisor Oficial de Contas e o seu suplente.

Entre os temas que, pela sua importância para a vida do Banco, mereceram um acompanhamento especial por parte do CGS destaca-se: “o aumento de capital social de 3.611.329.567 euros para 4.694.600.000 euros, que veio a realizar-se durante o primeiro semestre de 2008. O aumento de capital social, de 1.083.270.433 acções, ao preço de emissão de 1,2 euros, correspondendo a um encaixe no montante de 1.299.924.520 euros, foi oferecido à subscri-ção dos accionistas, no exer-cício dos respectivos direitos de preferência. Não obstan-te o forte nível de volatilida-de nos mercados accionistas que já se verificava ao tem-po, o aumento de capital foi completado com sucesso, ten-do a procura representado 2,2 vezes a oferta”.

Em 6 de maio de 2008 foram admitidas à cotação as novas acções. “No cumpri-mento do n.º 1 do artigo 6.º dos Estatutos, que estabele-ce a emissão de parecer pré-vio sobre aumento de capital social a deliberar pelo CAE, o CGS emitiu parecer favorável ao referido aumento de capi-tal e acompanhou o processo. O CGS analisou as condições da operação nas suas reuni-ões de 18 de Fevereiro e 21 de Abril e os respectivos resulta-dos na sua reunião de 12 de

Maio de 2008”. Quanto ao processo de con-

sulta e selecção do Revisor Oficial de Contas e do Auditor Externo, “nos termos defini-dos no Código das Sociedades Comerciais e no Contrato de Sociedade do Banco Comer-cial Português, S.A., compe-te ao CGS, sob recomenda-ção da Comissão de Audito-ria e Risco, propor à Assem-bleia Geral a nomeação de um revisor oficial de contas ou de uma sociedade de revisores oficiais de contas para proce-der ao exame das contas do Banco e propor a designação do Auditor Externo.

Na reunião de 27 de outu-bro de 2008, o CGS apreciou a actividade e as demonstra-ções financeiras consolidadas relativas ao terceiro trimes-tre de 2008. “Apreciou inclu-sivamente o relatório de cré-dito concedido a accionis-tas com ou sem colateral de acções do Banco e as con-clusões dos auditores exter-nos sobre operações de crédi-to com membros dos corpos sociais. O CGS analisou par-ticularmente a agenda estra-tégica no contexto actual, os pressupostos para o orçamen-to de 2009 e a política de divi-dendos do Banco”.

Na reunião de 4 de dezem-bro de 2008, o CGS tinha como principal objectivo “apreciar o orçamento anual do Banco para 2009. Apreciou também o processo de fusão por incor-poração do Banco de Investi-mento, ratificou o pedido de concessão de garantia pesso-al da República”. O Conselho Geral e de Supervisão Portu-guesa, analisou o processo e conclusões da auto-avaliação do CGS e tomou conhecimen-to da actividade das Comis-sões Especializadas durante o quarto trimestre de 2008”.

Os conflitos de poder no BCP custou muitos prejuízos aos acionistas. Além disso, no dia 10 de dezembro, o Conse-lho Diretivo da CMVM deli-berou deduzir acusação con-tra o BCP por prestação de informação não verdadeira ao mercado. n

(continua)gregoriogouveia.blogspot.pt

T.M. - Qual é o retrato da pobreza na Região?

S.F. - Na Madeira con-tinuamos com um número elevado de pobreza envergo-nhada. No C.A.S.A., além do acompanhamento que faze-mos à população em situa-ção de sem abrigo, apoiamos também famílias carencia-das, desde 2010, e, infeliz-mente, o número de pessoas que nos procuram continua a aumentar.

Iniciamos o apoio alimen-tar a 35 famílias e, atualmen-te, estamos com 430 famí-lias, número que corresponde a 1450 pessoas. O que temos vindo a assistir é que as pes-soas que foram atingidas pela crise e que, de um dia para outro, perderam o seu traba-lho, ainda não conseguiram retomar a sua vida.

T.M. - Acha que as polí-ticas dos governos na área social têm ido de encon-tro às necessidades dos mais desfavorecidos?

S.F. - O que tem sido fei-to não é suficiente! Urge a necessidade de rever priori-dades, sendo que a atenção e o empenho em resolver situ-ações como o emprego e a habitação devem ser maté-rias prioritárias. Não é fácil, mas as entidades competen-tes devem assumir essa res-ponsabilidade e trabalhar nas alternativas.

T.M. - E que medidas governamentais conside-ra mais urgentes tomar na área social?

S.F. - Como referi, a cria-ção de emprego e a habitação são questões sempre priori-

tárias. A par disto, é fulcral a aposta na formação e capa-citação do indivíduo para sair da situação em que se encontra.

Um dos projetos pelo qual nós temos nos debatido, e

que é uma lacuna grave que temos no Funchal, é a fal-ta de um Centro de Acolhi-mento de média/longa dura-ção, que possa proporcio-nar aos seus utentes condi-ções de vida semelhantes à de

uma estrutura familiar sau-dável e equilibrada, até ao momento da sua autonomi-zação. Esta medida é dirigi-da, essencialmente, a pesso-as adultas que se encontrem em situação de sem abrigo ou a viver situações graves de carência, vulnerabilidade e exclusão social.

Com este centro pretende-se assegurar o alojamento, as necessidades básicas (refei-ções, higiene pessoal e distri-buição e tratamento de vestu-ário) e proporcionar o desen-volvimento de competências pessoais, sociais, profissio-nais e espirituais essenciais à capacitação de cada indivi-duo para a sua inserção.

T.M. - Os governan-tes falam numa certa retoma económica. Esta situação corresponde à realidade?

S.F. - Sente-se, de um modo geral, uma atmosfera mais positiva, mais otimista e isso, por sua vez, faz com que as pessoas comecem a “des-contrair” e a retomar a vida que tinham. Mas o que tenho constatado é que as pessoas que tinham dinheiro, na altu-ra da crise retraíram-se nos seus gastos. Deixaram de gas-tar tanto, por uma questão de precaução precaveram-se.

Paralelamente, os que tinham trabalho e não o per-deram tiveram de reajustar a sua vida e definir prioridades para seus gastos e, atualmen-te, sentem uma certa folga financeira. Para aqueles que perderam o seu trabalho e nos casos que temos conheci-mento, que são acompanha-dos pela nossa instituição, infelizmente, ainda não con-seguiram emprego e as suas vidas mantém-se em suspen-so. Gostava de puder afirmar que as famílias que acompa-nhamos há quatro anos refi-zeram a sua vida e que, efe-tivamente, a retoma econó-mica tinha chegado a todos, mas, infelizmente, isso não se verifica.

“A necessidade de dar mais respostas às pessoas que nos procuram aumentou”

T.M. - O C.A.S.A pres-ta um trabalho meritório na área social. Quais as principais atividades que desenvolvem?

S.F. - O C.A.S.A. assume como missão promover a paz e proteger os direitos huma-nos em todas as suas dimen-sões e trazer progresso social através do desenvolvimen-to de ações de ajuda huma-nitária aos níveis individu-al, familiar, comunitário e da sociedade que se concretiza

Page 2: gregoriogouveia.blogspot.pt elevAdo de pobrezA envergonhAdA” · “o aumento de capital social de 3.611.329.567 euros para 4.694.600.000 euros, que veio a realizar-se durante o

6 TRIBUNA DA MADEIRA | Sexta-feira, 13 de outubro de 2017 7TRIBUNA DA MADEIRA | Sexta-feira, 13 de outubro de 2017

pela garantia do direito à saú-de, serviços médicos, educa-ção, apoio socioeconómico, psicológico, alimentar, vestu-ário e alojamento, em espe-cial, à população sem abrigo e, em geral, a outros grupos sociais desfavorecidos (crian-ças e jovens em risco, mulhe-res, população idosa, pessoas vítimas de violência domésti-ca, imigrantes, minorias étni-cas, toxicodependentes, alco-ólicos, ex-reclusos e em par-ticular as pessoas sem-abri-go independentemente da sua nacionalidade, religião, política ou etnia, podendo ser de âmbito nacional ou internacional).

Iniciamos a nossa ativida-de em Agosto 2008 e, volvi-dos nove anos, temos vindo a desenvolver varias atividades em diversos domínios de inter-venção, designadamente:

A) Distribuição de 50 a 60 refeições diárias à população em situação de sem abrigo (de segunda a domingo, 365 dias por ano) na Cantina junto ao Campo da Barca. Para a dis-tribuição das refeições, con-tamos com a ajuda de cerca de110 voluntários, distribuídos por 14 equipas, de 8 a 10 ele-mentos, que se dirigem diaria-mente aos hotéis para recolher e embalar a comida e as distri-buir posteriormente à popula-ção em situação de sem abri-go. As nossas equipas de rua, sempre que possível, também providenciam a distribuição de cobertores, sacos cama, roupa e artigos de higiene.

B) Projecto “C.A.S.A. Ami-ga Santa Cruz” - Distribuição de refeições quentes a 18 agre-gados familiares (49 refeições quentes diárias) do concelho de Santa Cruz (de segunda a sexta), fruto de uma parceria com a Câmara Municipal de Santa Cruz. Projeto “C.A.S.A. Amiga Santa Cruz” consiste na distribuição de refeições quentes e embaladas a famí-lias em situação de maior vul-nerabilidade. A distribuição da comida é feita diretamen-te à casa das pessoas por 50 voluntários, distribuídos por 10 equipas.

C) Projeto “C.A.S.A. Ami-ga Caniço - Distribuição de refeições quentes a 37 agre-gados familiares (88 refeições quentes diárias) na zona do Caniço (de segunda a sába-do). A distribuição da comida é feita diretamente à casa das pessoas por 80 voluntários, distribuídos por 12 equipas.

D) Projeto “C.A.S.A. Amiga Funchal” - Distribuição de um cabaz mensal a cerca de 430 famílias do concelho do Fun-chal, Santa Cruz, Machico, Câmara de Lobos e Ponta do Sol. Com este projeto apoia-mos, mensalmente, cerca de

430 famílias carenciadas.E) Projeto “Atelier Ocu-

pacional” – é o nosso pri-meiro passo para reinserção social das pessoas em situa-ção de sem abrigo que apoia-mos. Fruto de uma parceria com uma empresa, preten-de-se, através da reconstru-ção de uma casa que nos foi doada, criar um espaço cons-tituído por: 1 Gabinete Téc-nico, 1 Sala de Formação, 1 Biblioteca / Sala de Informá-tica, 1 kitchenette, 1WC e 1 Jardim, onde serão desenvol-vidas atividades e formações de caracter interno e externo capazes de desenvolver com-petências pessoais e sociais na população em situação de sem abrigo e/ou de preca-ridade social, visando o seu crescimento pessoal e a sua reinserção socioprofissional.

Neste sentido, no Atelier Ocupacional serão promovi-das atividades integradas em programas estruturados que implicam a participação do utente, com vista à reabilita-ção das suas capacidades e prestará um serviço de Aten-dimento / Acompanhamento Psicossocial através da cria-ção de um Plano Individu-al de Intervenção para cada utente com vista a promo-ver a prevenção e/ou repara-ção de problemas gerados por situações de exclusão social e, em certos casos, atuar em situações de emergência.

T.M. - Quantas pesso-as o C.A.S.A. apoia na Madeira?

S.F. - Neste momento apoiamos mensalmente à vol-ta de 1450 pessoas.

T.M. - E o número de pessoas sem abrigo tem aumentado na Região?

S.F. - A população em situ-ação de sem abrigo é flutuan-te varia entre 35 a 50.

T.M. - Disse que a cha-mada “pobreza envergo-nhada” tem se feito sen-tir muito na Região?

S.F. - Há, efetivamen-te, muita pobreza envergo-nhada! Com efeito, é preciso ver que houve muitas pesso-as que, de um momento para outro, viram a sua vida mudar e têm dificuldade em lidar com a nova situação. São pesso-as que temos de ter sensibili-dade ao lidar. Estão frágeis e muitas têm receio de se expor, pedir ajuda, e no C.A.S.A. faze-mos por preservar a privaci-dade das pessoas e em muitos casos são os próprios voluntá-rios que vão à casa das pessoas entregar a comida.

Estas pessoas acabam por criar laços muitos fortes, por-que o voluntário acaba por ser um amigo, no qual con-fiam e desabafam.

T.M. - E tem sido fácil reunir voluntários para trabalhar na vossa associação?

S.F. - Nós precisamos

sempre de voluntários, tan-to para as equipas de rua, como para as recolhas nos supermercados.

Os trabalhos nas equipas de rua exigem muito e, por si só, é um verdadeiro desa-fio para os próprios voluntá-rios. Temos 14 equipas com-postas por 8 elementos que, diariamente, recolhem e dis-tribuem refeições só no Fun-chal. De igual modo, em San-ta Cruz, Caniço e Camacha temos equipas diárias, 365 dias por ano, o que impli-ca 350 voluntários no terre-no. Toda esta logística impli-ca que haja sempre a necessi-dade de novos voluntários.

T.M. - Têm conseguido reunir os apoios necessá-rios para desenvolver a vossa missão?

S.F. - O C.A.S.A. tem con-seguido, ao longo destes 9 anos, desenvolver o seu tra-balho com o apoio de vários parceiros, amigos e voluntá-rios, mas temos vindo a pro-curar mais apoios, porque a necessidade de dar mais res-postas às pessoas que nos procuram aumentou.

Em 2014, tivemos o apoio do atual executivo camará-rio do Funchal com as insta-lações da nossa sede e, mais recentemente, com a canti-na social (onde distribuímos as refeições à população em situação de sem abrigo), bem como apoio financeiro inte-grado na candidatura ao pro-grama de apoio financeiro ao associativismo e atividades de interesse Municipal.

Há 4 anos que temos vin-do a solicitar apoio do gover-no, no sentido de celebrar um contrato programa que, nes-te momento, é determinan-te para um melhor desenvol-vimento do nosso trabalho. E esperamos consegui-lo em breve…

T.M. - De que forma as pessoas podem ajudar o C.A.S.A.?

S.F. - Podem ajudar de diversas formas, através do seu tempo juntando-se a nós como voluntários e/ou atra-

vés de doações (bens alimen-tares, móveis e monetaria-mente [IBAN PT50 0036 0344 99100006255.63]).

T.M. Considera que os madeirenses são solidários?

S.F. - Perante as diversas adversidades que temos vin-do a sofrer, o povo madei-rense tem provado a sua enorme generosidade e solidariedade.

T.M. - Tem testemu-nhado casos de sucesso em que as pessoas têm conseguido sair da situa-ção de sem abrigo?

S.F. - O sucesso nes-tes casos não se traduz em números! Temos de pensar que estamos a lidar com pes-soas, que tem uma história e cada “pequena” conquista é uma vitoria.

Ao longo destes anos assis-ti a dois casos, em particu-lar, que conseguiram efeti-vamente sair. Vi muitos faze-rem tentativas de sair…. Mas não é fácil, pois envolve mui-ta força de vontade e, por sua vez, implica que haja um acompanhamento integrado e condições para tal.

T.M. - Para além dos fatores económicos, quais as outras situações que levam a pessoa a tor-nar-se um sem abrigo?

S.F. - Toxicodependência, alcoolismo, doenças do foro psicológico e famílias deses-truturadas são outras das principais causas.

T.M. - E na nossa socie-dade ainda há muito o estigma em relação aos sem abrigo?

S.F. - Infelizmente sim! T.M. - Pensa que o fac-

to de algumas pessoas ‘olharem de canto’ para os mais pobres muitas vezes é um sinal de medo por pensarem que nin-guém está livre de cair nessa situação?

S.F. - É uma realidade que ninguém quer encarar. As pessoas são céleres a fazer juízos de valor relativamente às pessoas que se encontram naquela situação e esquecem-se que a linha que separa a rua de uma casa com teto é mui-to ténue. Tudo pode mudar de um momento para outro! Como disse, o facto de perder o trabalho, perder o supor-te familiar, o apoio emocio-nal, pode levar a uma situa-ção extrema..

T.M. - E o que leva alguém a dedicar o seu tempo aos mais desfavorecidos?

S.F. - Ter consciência que não estamos sós, que somos todos interdependentes, por compaixão, por solidarieda-de, empatia! n

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A Universidade da Madeira (UMa) vai atribuir o título de Dou-tor Honoris Cau-

sa a Kay Rala Xanana Gus-mão, em reconhecimento do seu extraordinário papel na resistência timorense con-tra a ocupação estrangeira, e posteriormente por se ter tornado um dos fundadores daquela que é hoje a pátria de Timor-Leste.

A atribuição vai acontecer a 16 de outubro, dia em que a Academia madeirense assina-la a Abertura do Ano Acadé-mico 2017/2018, numa Ses-são Solene, agendada para as 17 horas, no Auditório da Reitoria, no Colégio dos Jesuítas.

Além do tradicional Cortejo Académico, a abertura solene das aulas inclui as interven-

ções do Presidente do Con-selho Geral, Doutor Francis-co Fernandes, do Presiden-te da Associação Académica, Eng. Carlos Abreu, e do Rei-tor, Professor José Carmo.

Na cerimónia de atribuição do título de Doutor Hono-ris Causa a Kay Rala Xanana Gusmão, o Juiz Conselheiro Ireneu Cabral Barreto assu-mirá o papel de Padrinho do Doutorando e proferirá o res-petivo elogio.

Kay Rala Xanana Gus-mão nasceu a 20 de 1946, em Laleia, no Distrito de Mana-tuto. Foi Presidente da Repú-blica, Primeiro-Ministro e Ministro do Planeamento e Investimento Estratégico do Governo de Timor-Leste. Atu-almente é membro do G7+, uma organização intergover-namental que tem permitido aos países afetados por con-

flitos influenciarem de for-ma mais decisiva a formu-lação de políticas de desen-volvimento. Entre os inúme-ros prémios e distinções que acumulou ao longo da carrei-ra incluem-se o Doutoramen-to Honoris Causa de universi-dades da Austrália, Portugal, Brasil, Japão e Malásia. Em todos os processos que lide-rou, com vista à libertação do seu povo Xanana Gusmão distinguiu-se pelos seus méri-tos e carisma, que consagra-ram uma imagem, de cidadão e político, ao nível das perso-nalidades mais marcantes do séc. XX.

A encerrar a Sessão Sole-ne de Abertura do Ano Aca-démico 2017/2018 terá lugar uma atuação da TUMa – Tuna da Universidade da Madeira e um “Madeira de Honra”. n

umA Atribui título de doutor honoriS CAuSA A XAnAnA guSmão

o C.A.S.A em números:População em situação de sem abrigo – Funchal - 50 a 60

refeições diárias:7 dias por semana, 365 dias por ano – 18.250 refeições /

ano

C.A.S.A Amigas – Apoio a famílias carenciadas:C.A.S.A. Amiga Santa Cruz – 16 famílias – 49 refeições –

12.936 refeições/ano;C.A.S.A. Amiga Caniço – 37 famílias – 88 refeições diárias –

27.456 refeições/anoC.A.S.A. Amiga Camacha – 18 famílias – 50 refeições diárias

– 13.200 refeições/anoC.A.S.A. Amiga Funchal – 430 famílias – 1 cabaz mensal –

5.120 Cabazes/ano