ELIANE HIRATA
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ELIANE HIRATA
PROPOSTA DE UM ESQUEMA CONCEITUAL PARA
SISTEMA DINMICO DE MAPEAMENTO COLABORATIVO DE
ALAGAMENTOS E INUNDAES NA CIDADE DE SO PAULO
So Paulo
2013
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ELIANE HIRATA
PROPOSTA DE UM ESQUEMA CONCEITUAL PARA
SISTEMA DINMICO DE MAPEAMENTO COLABORATIVO DE
ALAGAMENTOS E INUNDAES NA CIDADE DE SO PAULO
Dissertao de Mestrado apresentada
Escola Politcnica da Universidade
de So Paulo para obteno do ttulo
de Mestre em Engenharia de
Transportes
rea de Concentrao:
Engenharia de Transportes
Orientador: Professora Doutora Ana
Paula Camargo Larocca
So Paulo
2013
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FICHA CATALOGRFICA
Hirata, Eliane
Proposta de um esquema conceitual para sistema dinmico de mapeamento colaborativo de alagamentos e inundaes na cidade de So Paulo / E. Hirata. -- verso corr. -- So Paulo, 2013. 137 p.
Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade
de So Paulo. Departamento de Engenharia de Transportes.
1.Sistemas dinmicos 2.Inundaes 3.Desastres ambientais I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Transportes II.t.
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DEDICATRIA
Ao meu pai (in memoriam) que certamente est muito
feliz com esse trabalho, minha me por toda fora,
oraes e incentivos e minha irm pelo
companheirismo e apoio.
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AGRADECIMENTOS
Professora Ana Paula Camargo Larocca pelo acolhimento e confiana. Ao
Professor Jos Alberto Quintanilha pela co-orientao e pela oportunidade. Em
especial, Professora Mariana Abrantes Giannotti por me presentear com a ideia do
projeto, pela parceria e orientao constante durante todo o desenvolvimento do
trabalho.
Ao Departamento de Transportes da Escola Politcnica da Universidade de So
Paulo e ao Laboratrio de Geoprocessamento (LabGeo) pela estrutura fornecida ao
desenvolvimento da pesquisa.
Aos professores e funcionrios pelos ensinamentos e disponibilidade em todos os
momentos. Aos alunos de graduao e a todas as pessoas que colaboraram ao
responderem o questionrio sobre o prottipo. Professora Linda Lee Ho e ao
Professor Eduardo Macedo pelo auxlio.
Aos amigos por toda ajuda, conversas e dicas, especialmente Jana, ao Luiz,
Cludia, ao Rafa, Marta, ao Jun, ao Sidney, ao Rmulo, ao Christian, ao Bruno, ao
Weber, ao Gabriel, rica e ao Carlos.
Ao gerente Humberto Mesquita pela compreenso e apoio, ao Alcmenes, ao
Leandro e ao Sadeck pelas sugestes.
Ao Centro de Gerenciamento de Emergncias (CGE) pela recepo e
disponibilidade em apresentar o funcionamento do sistema de divulgao dos dados
de alagamentos e inundaes na cidade de So Paulo.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) pelo
tempo de financiamento da pesquisa.
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RESUMO
A tendncia de utilizao de dados voluntrios e colaborativos no contexto de
fenmenos naturais crescente. Esse fato, aliado aos alagamentos e inundaes
que ocorrem na cidade de So Paulo, traz a possibilidade de explorao sobre o
modo voluntrio e colaborativo de gerao e transmisso do dado geogrfico de
forma dinmica. Isso proporcionado por tecnologias acessveis populao, como
a Internet, o GPS (Global Positioning System) e demais sistemas de localizao
embarcados em celulares. A presente pesquisa tem como objetivo a proposta de um
esquema conceitual para um sistema dinmico e colaborativo de mapeamento dos
pontos alagados, cuja fonte de dados advm das pessoas equipadas com aparelhos
celulares que permitem a sua localizao. Os resultados apresentados
correspondem aos esquemas conceituais do sistema, bem como ao prottipo
Pontos de Alagamento - mapa disponibilizado via web com os pontos de
alagamento da cidade, fornecidos no momento da ocorrncia do evento por pessoas
comuns. O prottipo foi desenvolvido por meio da plataforma livre e de cdigo aberto
Crowdmap/Ushahidi. O sistema foi avaliado atravs de um questionrio respondido
por usurios, os quais opinaram sobre a viabilidade do mesmo, bem como os
ajustes que devem ser realizados para o uso efetivo da populao. Constatou-se a
complexidade e as particularidades da aplicao para alagamentos e inundaes,
em especial com relao questo temporal.
Palavras-chave: Volunteered Geographic Information. Celulares. Mapeamento
Colaborativo. Alagamento. Inundao.
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ABSTRACT
The trend of using volunteered and crowd data in natural phenomenon contexts is
growing. This fact coupled with flooding that occurred in the city of So Paulo, brings
the possibility of exploration about the voluntary and collaborative approach to the
generation and transmission of the geographic data dynamically. And these are
provided by technologies accessible to the population, such as internet, GPS (Global
Positioning System) and other positioning systems embedded in cell phones. This
research aims to propose a conceptual scheme for a dynamic and collaborative
mapping system of flooding, whose source of data corresponds to those equipped
with mobile devices that enable location. The results correspond to the conceptual
schemes of the system as well as the prototype Points of Flooding available map
on the web with the points of flooding, provided at the time of the event by people.
The prototype was developed through the free and open source platform
Crowdmap/Ushahidi The system was evaluated by a questionnaire answered by
users, who opined about the viability of this as well as the adjustments that must be
done for the effective use by population. There has been a thoughtful analysis of the
complexity and particularities of the application to flooding, particularly related to
temporal issue.
Keywords: Volunteered Geographic Information. Mobile Phones. Collaborative
Mapping. Flood.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1.1: Proporo dos dias com registros de alagamentos. ................................ 15
Figura 2.1: Perfil esquemtico representando os processos de enchente e
inundao. ............................................................................................................... 255
Figura 3.1: Esquema geral das etapas do trabalho. ................................................ 455
Figura 4.1: Representao do tempo de forma linear. ............................................ 533
Figura 4.2: Representao do tempo de forma ramificada........................................54
Figura 4.3: Representao do tempo de forma cclica...............................................54
Figura 4.4: Representao da variao temporal discreta - Ponto-a-ponto...............56
Figura 4.5: Representao da variao temporal discreta - Escada.........................56
Figura 4.6: Representao da variao temporal discreta - Funo.........................56
Figura 4.7: Representao da granularidade temporal atravs da durao de um
chronon.......................................................................................................................58
Figura 4.8: Diagrama de casos de uso Usurios....................................................72
Figura 4.9: Diagrama de casos de uso Fontes dos dados......................................73
Figura 4.10: Diagrama de casos de uso Usurios visitantes..................................74
Figura 4.11: Diagrama de casos de uso Administrador do sistema........................75
Figura 4.12: Diagrama de atividades Fornecimento dos dados via aplicativo........76
Figura 4.13: Diagrama de atividades Fornecimento dos dados via pgina web.....77
Figura 4.14: Diagrama de atividades Consultas ao sistema...................................79
Figura 4.15: Diagrama de atividades Gerenciamento do sistema..........................81
Figura 4.16: Diagrama de atividades Recebimento de alertas...............................82
Figura 4.17: Classes presentes no sistema...............................................................85
Figura 4.18 Pgina inicial do website......................................................................86
Figura 4.19 Pgina de envio do dado.....................................................................87
Figura 4.20 Grfico da pergunta relacionada utilidade pblica do sistema.........90
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Figura 4.21 Grfico da pergunta relacionada confiabilidade dos dados..............91
Figura 4.22 Grfico da pergunta relacionada facilidade de navegao no
website......................................................................................................................92
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1 Nmero de ocorrncias de pontos de alagamentos na cidade de So
Paulo. ........................................................................................................................ 14
Tabela 4.1 Questo temporal em diferentes projetos de VGI.................................60
Tabela 4.2 Metadados e qualidade dos dados em diferentes projetos de VGI.......68
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SUMRIO
1. INTRODUO ..................................................................................................... 13
1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 18
1.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 18
1.1.2 Objetivos Especficos ................................................................................... 18
1.2 HIPTESE ......................................................................................................... 19
1.3 ESTRUTURA ..................................................................................................... 19
2. REVISO DA LITERATURA ............................................................................... 21
2.1 CONCEITOS RELACIONADOS AOS FENMENOS DE ALAGAMENTOS E
INUNDAES......... .............................................................................................. 211
2.1.1. Alagamento ................................................................................................. 222
2.1.2. Inundao ................................................................................................... 233
2.1.3. Enchente ..................................................................................................... 244
2.2 VOLUNTEERED GEOGRAPHIC INFORMATION (VGI) .................................. 255
2.2.1 Uso de VGI em situaes de fenmenos ou desastres naturais ............ 299
2.2.2 Anlise dos Dados Geogrficos Voluntrios...............................................32
2.3 SISTEMAS QUE INFORMAM SOBRE ALAGAMENTOS E INUNDAES EM
SO PAULO...............................................................................................................35
2.3.1 Salas de Situao DAEE .......................................................................... 355
2.3.2. Sistema de Alerta a Inundaes de So Paulo (SAISP) .......................... 366
2.3.3. Iniciativas de mapeamento dinmico para alagamentos e inundaes em
So
Paulo..................................................................................................................377
2.4 TECNOLOGIAS AUXILIARES AO SISTEMA PARA MAPEAMENTO
COLABORATIVO DE ALAGAMENTOS E INUNDAES........................................39
2.4.1. Aparelhos celulares com sistemas de localizao.....................................41
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2.4.2 Plataformas web para publicao de mapas................................................42
3. MATERIAIS E MTODOS.....................................................................................45
3.1 LISTA DE
REQUISITOS......................................................................................466
3.2 MODELAGEM CONCEITUAL DO SISTEMA......................................................48
3.2.1 Diagramas utilizados para a elaborao do esquema conceitual..............48
3.3 PLATAFORMA CROWDMAP/USHAHIDI ........................................................ 499
4. RESULTADOS E DISCUSSO.............................................................................51
4.1 IDENTIFICAO DOS PADRES TEMPORAIS DOS DADOS GEOGRFICOS
VOLUNTRIOS DE ALAGAMENTOS E INUNDAES...........................................51
4.1.1 Ordem .......................................................................................................... .533
4.1.2 Variao ....................................................................................................... 555
4.1.3 Granularidade .............................................................................................. 577
4.2 ANLISE DOS METADADOS E DA QUALIDADE DOS DADOS GEOGRFICOS
VOLUNTRIOS EM DIFERENTES PROJETOS DE VGI..........................................63
4.3 ESQUEMA CONCEITUAL DO SISTEMA DINMICO DE MAPEAMENTO
COLABORATIVO DE ALAGAMENTOS ............................................................... 7171
4.3.1 Interao do usurio com as funcionalidades do sistema
.........................722
4.3.2 Fornecimento dos
dados................................................................................755
4.3.3 Consulta sobre os pontos
alagados..............................................................788
4.3.4 Gerenciamento do
sistema.............................................................................8080
4.3.5 Recebimento de alertas..................................................................................81
4.3.6 Viso geral do
sistema....................................................................................833
4.4. PROVA DE CONCEITO: PROTTIPO PONTOS DE ALAGAMENTO............
............................................................................................................................... 866
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4.5. AVALIAO DO SISTEMA QUESTIONRIO ................................................ 90
5. CONCLUSO........................................................................................................94
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.....................................96
APNDICE A - Questionrio para anlise do sistema de mapeamento dos
pontos de alagamento em So
Paulo...................................................................1022
APNDICE B - Respostas do questionrio aplicado para avaliao do
sistema....................................................................................................................106
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1. INTRODUO
As inundaes so fenmenos naturais que fazem parte da histria da
humanidade. No entanto, o nmero de ocorrncias e o nmero de pessoas atingidas
aumentaram significativamente nos ltimos anos, fato que pode ser justificado pelas
alteraes antrpicas no ambiente, como desmatamento, urbanizao sem
planejamento e ocupao de reas de risco (KOBIYAMA; GOERL, 2005).
Por outro lado, os alagamentos e inundaes tambm podem ser
considerados desastres naturais quando correspondem a situaes ou eventos de
grandes danos, destruio e sofrimento humano, que superam a capacidade local
de gerenciamento e requerem ajuda a nvel nacional ou internacional (GUHA-SAPIR
et al., 2011).
A cidade de So Paulo vivencia situaes de alagamentos e inundaes
desde o incio de sua ocupao. Os constantes processos de alagamento e
inundao ocorrem em toda a Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP) e
provocam danos sociais e econmicos significativos populao (DAEE, 2013).
Os motivos que levam existncia desses fenmenos esto relacionados s
caractersticas fsicas da cidade e ao processo de urbanizao ocorrido a partir da
dcada de 1960. A localizao da cidade sobre um planalto com baixos declives,
aliada impermeabilizao do solo, decorrente do processo de ocupao
desordenada, fizeram com que as reas de vrzeas dos rios, destinadas ao
armazenamento natural das guas, fossem substitudas por novas reas inundveis
habitadas (DAEE, 2013).
As caractersticas dos rios existentes aliadas ao modo como foi implantado o
sistema de gerao de energia eltrica tambm so fatores que corroboram para a
ocorrncia de tais fenmenos na cidade (SO PAULO, 2010).
Alagamentos e inundaes so situaes recorrentes nos meses de vero,
cujas consequncias acarretam diversos transtornos e perdas materiais para os
indivduos afetados. Como exemplo recente pode ser citado a ocorrncia do dia 08
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de maro de 2013, na qual foram registrados 43 pontos de alagamento (CGE, 2013)
aps um temporal. Em decorrncia desse episdio, um total de 261 quilmetros de
vias ficou congestionado, ruas foram bloqueadas e pessoas ficaram ilhadas em um
prdio que teve o piso trreo inundado (AGNCIA BRASIL, 2013).
A quantidade de ocorrncias de alagamento nos meses de vero em So
Paulo significativa. O acmulo das guas das chuvas causa fortes impactos
principalmente nos sistemas de trnsito e transporte e, consequentemente, toda a
dinmica da cidade afetada. A tabela 1 apresenta a quantificao dos pontos de
alagamento ocorridos na cidade de So Paulo nos ltimos cinco perodos de vero.
Os dados correspondem ao perodo de 21 de dezembro a 20 de maro coletados
pelo Centro de Gerenciamento de Emergncias (CGE), rgo ligado Prefeitura de
So Paulo.
Tabela 1.1 Nmero de ocorrncias de alagamentos na cidade de So Paulo.
Fonte: Adaptado de CGE (2013)1
2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013
Dezembro 95 38 22 27 65
Janeiro 245 540 581 174 114
Fevereiro 200 377 324 172 284
Maro 116 0 20 73 118
Total 656 955 947 446 581
1 Disponvel em: . Acesso em 02 de agosto de 2013.
http://www.cgesp.org/v3/alagamentos.jsp?dataBusca=17%2F07%2F2012&enviaBusca=Buscar
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Os nmeros mostram que os alagamentos so eventos que ocorrem em
grande escala na cidade, com o registro de at 80 pontos de alagamento em um
mesmo dia (CGE, 2013).
Alm disso, os alagamentos e inundaes so fenmenos cotidianos com os
quais o paulistano convive nos dias de chuva. O grfico da figura 1.1 mostra a
quantidade de dias com registros de pontos de alagamento para cada ms e ano.
Os dados foram registrados pelo CGE e referem-se ao perodo de vero.
Os eventos de alagamentos ocorrem em torno de uma mdia de 50% dos
dias em meses de vero com durao que varia de minutos a horas. J eventos
considerados desastres naturais de grandes propores so mais raros. Ento, com
base nos dados apresentados pela tabela 1 e pela figura 1.1, pode-se dizer que os
casos de alagamento e inundao especficos da cidade de So Paulo so
considerados fenmenos cotidianos.
Quantidade de dias com registros de alagamentos (%)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Maro
Figura 1.1: Proporo dos dias com registros de alagamentos.
Fonte: Adaptado de CGE (2013).
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Perante essa realidade, diversas medidas tm sido tomadas pelo poder
pblico para mitigar o problema dos alagamentos e inundaes na cidade. Dentre
elas encontram-se o Plano Diretor de Macrodrenagem, a construo de piscines,
polderes e barragens mveis, alm do projeto de desassoreamento dos rios (DAEE,
2013).
No entanto, esses problemas no sero extintos a curto e mdio prazo, dadas
as circunstncias. Ainda h a necessidade da convivncia com o problema por parte
da populao. Por outro lado, a tecnologia oferece meios para atuao mais direta
das pessoas em relao aos problemas enfrentados pelas mesmas no cotidiano.
Segundo Goodchild (2007a), a Web 2.0 permite a participao dos usurios como
fornecedores de informao, deixando de ser apenas receptores. Para Boulos et al.
(2011), as mdias sociais so meios de comunicao eficientes, utilizado para
informar os acontecimentos no momento em que estes ocorrem.
Desta forma, diante do cenrio de alagamentos e inundaes presente na
cidade de So Paulo e das tendncias tecnolgicas atuais de disseminao e
compartilhamento de informaes pela Web, vlido analisar o modo como tais
eventos vm sendo gerenciados pela sociedade em geral.
Goodchild (2007a) analisa a questo da colaborao da sociedade no
compartilhamento de informaes sobre fenmenos naturais, principalmente em
situaes de desastres. Segundo o autor, desde o terremoto no Haiti ocorrido em
2010, diversos esforos tm sido realizados no sentido de envolver a sociedade civil
na produo de informaes sobre as reas atingidas por desastres, o que
possvel devido disponibilidade das tecnologias de informao e comunicao,
como GPS, web 2.0, aparelhos celulares, entre outros.
A popularizao do GPS, aliada disponibilidade de ferramentas de
Geoprocessamento de forma livre e gratuita, permite ao cidado uma maior
participao na produo de informao geogrfica, assim como o compartilhamento
das informaes em forma de mapa e sua disponibilizao na internet. Esse
processo de gerao de dados por pessoas no qualificadas (usurios comuns)
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conhecido como Volunteered Geographic Information (VGI), assim denominado por
Goodchild (2007a).
O VGI um fenmeno relativamente recente, em que as pessoas atuam
como sensores na coleta de informaes, se tornando capazes de fornecer dados
que podem ser usados para diversos fins pela sociedade e que funcionam bem em
situaes de desastres naturais, como mostram estudos j realizados
(GOODCHILD, 2007 a).
Diante do contexto de alagamentos e inundaes no qual est inserida a
cidade de So Paulo, cujas consequncias afetam diretamente a vida da populao,
bem como da disponibilidade tecnolgica ao alcance de pessoas sem qualificao
tcnica, justifica-se o interesse e a motivao para a realizao deste trabalho.
Assim, a fim de contribuir com a temtica em questo, a presente pesquisa
tem como objetivo apresentar e discutir um esquema conceitual para um sistema
dinmico e colaborativo de mapeamento dos pontos alagados. No esquema
proposto a transmisso dos dados realizada atravs do sistema de localizao do
aparelho celular, cujo aplicativo permite que os dados sejam carregados
automaticamente no mapa.
Uma prova de conceito foi desenvolvida - o prottipo Pontos de Alagamento
(https://pontosdealagamento.crowdmap.com/) atravs da plataforma livre e de
cdigo aberto Crowdmap/Ushahidi. Nesse prottipo foram mapeados os pontos de
alagamento na cidade de So Paulo com dados obtidos por meio da contribuio
voluntria das pessoas, a fim de testar a viabilidade da proposta.
Para o sistema em questo, o termo dado geogrfico corresponde aos
pontos de alagamento coletados pelos usurios no momento do evento, enquanto o
termo informao geogrfica corresponde ao contedo gerado pelo sistema e
disponibilizado em forma de mapa na web. Tais termos foram definidos de acordo
com suas citaes em trabalhos j realizados acerca do conceito de VGI, como pode
ser visto em Elwood, Goodchild e Sui (2012); Hardy, Frew e Goodchild (2012); Sui e
Goodchild (2011), entre outros.
https://pontosdealagamento.crowdmap.com/
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De acordo com Longley et al. (2013), os dados consistem em nmeros, texto,
smbolos que podem ser considerados neutros e quase sem contexto.
Correspondem aos fatos geogrficos brutos, como a temperatura num dado
momento e local.
J o termo informao pode ser usado no sentido restrito ou amplo. No
sentido restrito, a informao pode ser tratada como sinnimo de dado, desprovida
de sentido. A informao tambm pode ser definida como qualquer coisa que possa
ser representada de forma digital, nesse caso, a informao diferencia-se de dado
porque implica numa seleo, organizao e preparao para fins especficos.
Ento, a informao pode ser definida como dados que servem a um propsito ou
dados aos quais agregada uma interpretao (LONGLEY et al., 2013).
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
O objetivo geral do trabalho apresentar e discutir um esquema conceitual de
um sistema dinmico de mapeamento colaborativo de alagamentos e inundaes na
cidade de So Paulo/SP, atravs da contribuio voluntria de dados geogrficos
obtidos principalmente por meio de receptores GPS ou outras formas alternativas de
informao da localizao pelo celular.
1.1.2 Objetivos Especficos
Os objetivos especficos consistem em:
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1. Elencar os benefcios e restries da utilizao de dados de VGI em sistemas
dinmicos de mapeamento, em especial com relao s caractersticas
temporais do fenmeno mapeado.
2. Investigar sobre o uso de metadados e qualidade dos dados geogrficos
voluntrios em diferentes aplicaes.
3. Validar o esquema proposto de acordo com o contexto da cidade de So
Paulo a partir do desenvolvimento de prottipo e realizao de fase de teste
como prova de conceito.
1.2 HIPTESE
Um sistema Web para capturar dados sobre pontos de alagamento ou
inundao pode ser concebido e implementado para receber informaes
voluntrias relevantes de cidados sem treinamento prvio ou conhecimento
especializado.
1.3 ESTRUTURA
A presente dissertao est dividida em quatro captulos, sendo um captulo
de reviso da literatura, um captulo sobre os materiais e mtodos, um captulo
sobre os resultados e a discusso e um captulo sobre as concluses.
O captulo dois traz uma reviso sobre os conceitos dos principais termos
envolvidos na pesquisa, assim como um breve levantamento sobre os sistemas que
informam sobre alagamentos e inundaes na cidade de So Paulo, assim como as
tecnologias auxiliares a estes sistemas.
O captulo trs trata do procedimento metodolgico adotado para o
desenvolvimento do trabalho.
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O captulo quatro discute as questes relacionadas aos padres temporais,
aos metadados e qualidade dos dados geogrficos voluntrios. Apresenta o
esquema conceitual do sistema dinmico de mapeamento colaborativo de
alagamentos e o prottipo Pontos de Alagamento como prova de conceito. E por
fim, discorre sobre o questionrio aplicado para avaliao do sistema.
O captulo cinco traz as concluses geradas a partir da anlise dos
resultados obtidos.
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2. REVISO DA LITERATURA
2.1 CONCEITOS RELACIONADOS AOS FENMENOS DE ALAGAMENTOS E
INUNDAES
Os alagamentos e inundaes so eventos intensificados pelo processo de
urbanizao desordenado. Estes podem ser considerados desastres naturais ou
fenmenos naturais. Os eventos classificados como desastres so caracterizados
pela abrangncia aos seres humanos, atravs de danos materiais e prejuzos
socioeconmicos. Caso no haja danos e/ou prejuzos, o fenmeno no deve ser
considerado um desastre e sim um evento natural (KOBIYAMA et al., 2006).
A Prefeitura de So Paulo (2013)2 considera os desastres naturais como
aqueles provocados por fenmenos e desequilbrios da natureza e produzidos por
fatores externos e que atuam independentemente da ao humana.
A UNISDR (2012) considera como desastre natural a interrupo do
funcionamento de uma comunidade ou sociedade, cujos danos podem constituir em
perdas e/ou impactos materiais, econmicos ou ambientais, os quais afetam a
capacidade da sociedade em lidar com seus prprios recursos.
De acordo com a PNDC (BRASIL, 2007a), desastre considerado o resultado
de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, cuja ao ocorre em um
ecossistema vulnervel, causando danos humanos, materiais e ambientais e
conseqentemente prejuzos econmicos e sociais. A intensidade de um desastre
varia de acordo com a magnitude do evento e a vulnerabilidade do sistema, sendo
quantificada em funo de danos e prejuzos.
2 Disponvel em: < http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/seguranca_urbana/defesa_civil/terminologiadesastres/index.php?p=7789>. Acesso em 17 de agosto de 2013.
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/seguranca_urbana/defesa_civil/terminologiadesastres/index.php?p=7789http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/seguranca_urbana/defesa_civil/terminologiadesastres/index.php?p=7789
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Os conceitos apresentados permitem classificar eventos de alagamentos e
inundaes como desastres naturais. No entanto, a presente pesquisa considera os
eventos naturais cotidianos de alagamentos e inundaes para o mapeamento.
A seguir sero apresentados os conceitos de alagamento, inundao e
enchente para o esclarecimento sobre o uso desses termos no trabalho.
2.1.1. Alagamento
Alagamento corresponde ao acmulo de gua nas ruas e nos permetros
urbanos devido s fortes precipitaes pluviomtricas, onde os sistemas de
drenagem so ineficientes. Est relacionado reduo da infiltrao natural nos
solos urbanos, devido impermeabilizao do solo, pavimentao das ruas,
desmatamento de encostas, assoreamento dos rios, entre outros (CASTRO, 2003).
Para Brasil (2007b) alagamento pode ser definido como o acmulo
momentneo de guas em uma dada rea causado por deficincia no sistema de
drenagem, o qual pode ou no estar ligado aos processos de natureza fluvial.
De acordo com Nobre et al. (2010), alagamento o acmulo de uma lmina
rasa de gua, o qual afeta as vias pblicas e consequentemente causa transtornos
para a circulao de pedestres e veculos. Os processos de alagamento ocorrem
frequentemente na RMSP, principalmente por deficincias no sistema de drenagem
urbano.
Ento, para esta pesquisa, o alagamento ser considerado o acmulo de
gua nas ruas dentro do permetro urbano, causado por problemas nos sistemas de
drenagem, seja por infraestrutura inadequada ou chuvas em excesso.
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2.1.2. Inundao
A inundao ocorre quando h o aumento do nvel dos rios, alm da sua
vazo normal, com consequente transbordamento de suas guas sobre a plancie
adjacente s suas margens, denominada plancie de inundao (KOBIYAMA, 2006).
Tambm pode ser considerada como o processo de transbordamento da
gua de rios, lagos e audes causado por precipitaes anormais, cujo
transbordamento invade as reas adjacentes, provocando danos. As inundaes
so classificadas em funo da magnitude e da evoluo. Em funo da magnitude,
as inundaes so classificadas em inundaes excepcionais, inundaes de
grande magnitude, inundaes normais ou regulares e inundaes de pequena
magnitude. Em funo da evoluo, as inundaes so classificadas em enchentes
ou inundaes graduais, enxurradas ou inundaes bruscas, alagamentos e
inundaes litorneas provocadas pela brusca invaso do mar (BRASIL, 2007a).
As inundaes graduais, aquelas em que a elevao do nvel da gua e
consequente transbordamento do leito do rio ocorrem lentamente, de forma gradual
(CASTRO, 2003), tambm podem ser denominadas flood ou flooding, de acordo
com a literatura inglesa, cujo conceito caracteriza uma condio geral ou temporria,
onde propriedades (terra seca) so inundadas pela gua resultante de diversos
fatores como furaces, barragens, sistemas de drenagem obstrudos e rpida
acumulao de gua da chuva (NFIP, 2012).
De acordo com o NOAA (2012), inundao o transbordamento das guas
dos rios em terras secas e pode ser causada por chuvas fortes, quando as ondas do
mar invadem o continente, quando a neve derrete rpido demais ou quando
barragens ou diques se quebram. Pode ocorrer com alguns centmetros de gua ou
cobrir o telhado de uma casa.
A inundao pode ocorrer rapidamente (flash flood) sem nenhum aviso ou
pode ocorrer lentamente e perdurar por dias, semanas ou mais. Este mesmo
conceito compartilhado pelo NDEC (2012), o qual considera inundao como o
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transbordamento do leito do rio para as reas circundantes e, de acordo com a
intensidade, pode ser gradual ou repentino.
Para Tucci e Bertoni (2003) as inundaes das reas ribeirinhas ocorrem
quando a quantidade de gua que chega ao rio superior sua capacidade de
drenagem, causadas por fenmenos naturais ou por diversos usos do solo, como
urbanizao ou obras hidrulicas.
Neste estudo o conceito de inundao adotado ser quele considerado
como o processo de extravasamento das guas de um determinado canal de
drenagem para as reas adjacentes, como consequncia de uma enchente, onde as
guas atingem a cota mxima de suporte da calha principal do rio (BRASIL, 2007b).
2.1.3. Enchente
A enchente considerada como um aumento do nvel dos rios at o limite de
sua vazo sem a ocorrncia de transbordamento. Neste caso, o rio fica cheio, mas
no ocorre o extravasamento de suas guas para alm de seu leito (KOBIYAMA,
2006).
Castro (2003) caracteriza o termo enchente como uma inundao gradual do
prprio leito do rio em que as guas elevam-se de forma paulatina e previsvel,
mantendo os leitos cheios durante algum tempo e escoando-se gradualmente em
seguida. A enchente tambm pode ser caracterizada como a elevao do nvel da
gua, durante certo perodo de tempo, em um canal de drenagem, causada pelo
aumento da vazo ou descarga (BRASIL, 2007b).
A figura 2.1 representa um canal de drenagem em trs situaes distintas:
situao normal, com o nvel da gua em cotas medianas de sua capacidade;
situao de enchente, com o nvel da gua na sua cota mxima de capacidade e
situao de inundao, com o nvel da gua alm da sua capacidade de suporte,
onde h o extravasamento do leito e alcance das reas circundantes.
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Figura 2.1: Perfil esquemtico representando os processos de enchente e inundao.
Fonte: Brasil (2007b).
A enchente ser considerada o estado intermedirio das guas dos rios ou
canais de drenagem para a ocorrncia de inundao, portanto, este conceito ficar
subentendido ao mencionarmos o termo inundao.
2.2 VOLUNTEERED GEOGRAPHIC INFORMATION (VGI)
O desenvolvimento tecnolgico e dos meios de comunicao, principalmente
da web 2.0, GPS e aparelhos celulares, tem proporcionado a gerao de uma
quantidade significativa de dados geogrficos, bem como sua disponibilidade aos
usurios. Neste contexto, torna-se possvel a democratizao e acesso a tais dados
por pessoas comuns e por diversas finalidades, onde a sociedade como um todo
pode gerar, compartilhar e disseminar informaes geogrficas.
Goodchild (2007a) chama a ateno para o comportamento da humanidade
frente a essas novas tecnologias, pois h um grande nmero de cidados comuns
contribuindo para a criao de informaes geogrficas, com pouca ou nenhuma
qualificao formal, uma funo que por sculos foi reservada a instituies oficiais.
Essas pessoas esto agindo de forma voluntria, sendo que o resultado pode ou
no ser preciso. Coletivamente, isso representa uma inovao que ir gerar impacto
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nos Sistemas de Informao Geogrfica (SIG), inovao esta intitulada pelo autor
como Volunteered Geographic Information (VGI), ou seja, informao geogrfica
obtida por cidados comuns, de forma coletiva e voluntria, sem a necessidade de
qualificao profissional.
De acordo com Goodchild (2007b), o ser humano pode se comportar como
sensor, pois ao longo da vida adquire conhecimentos sobre os lugares em que vive,
trabalha ou visita, como nomes dos lugares, feies topogrficas, redes de
transportes. O ser humano pode ser considerado um sensor mvel inteligente,
equipado com habilidades de interpretao e integrao que variam de acordo com
a experincia da pessoa. Tais habilidades ainda podem ser acentuadas com a
possibilidade de uso de telefones celulares com GPS embarcado, cmeras digitais,
veculos que rastreiam a posio, entre outros.
Nos ltimos anos houve um rpido crescimento de websites que permitem
aos usurios contriburem com uma gama diversificada de informaes geogrficas
ou informaes de atributos. Como exemplo, WikiMapia, OpenStreetMap,
Mapufacture, GeoCommons, TerraWiki, FixMyStreet, WhoIsSick etc (GOODCHILD,
2007b).
A chamada wikificao atingiu tambm os SIGs, pois as quatro principais
funes do SIG (aquisio de dados, armazenamento, modelagem e
mapeamento/visualizao) tm sido cada vez mais realizadas no esprito
colaborativo. O desenvolvimento mais significativo para a wikificao do SIG est na
rea de produo de dados, isto se deve ao fato da mudana de comportamento das
pessoas frente vasta informao geoespacial disponvel on-line (GOODCHILD,
2007b).
Elwood; Goodchild e Sui (2012) tambm fazem uma anlise das
caractersticas da informao voluntria que a diferencia da informao obtida
convencionalmente. Para os autores, o contedo da informao, as tecnologias
utilizadas para adquiri-las, as questes sobre a qualidade dos dados, bem como os
mtodos e tcnicas relacionadas e os processos sociais envolvidos na sua criao e
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impactos fazem do VGI um universo diferenciado no modo de aquisio,
compartilhamento, disseminao e uso de informaes geogrficas.
Embora existam muitas questes com relao investigao dos motivos que
levam as pessoas a contriburem, qualidade dos dados e aos mtodos adequados
para sntese e anlise de VGI, fato que se encontra disponvel uma vasta
quantidade de dados VGI e que estes constituem uma rica e imediata fonte de
informaes geogrficas para diversos fins (ELWOOD; GOODCHILD; SUI, 2012).
Os mesmos autores apontam uma outra caracterstica do VGI, o qual pode
ser entendido como Prtica Social, fundamentado nos modos de representao da
informao para diferentes grupos sociais e em lugares diferentes, na questo da
excluso digital, nos novos papis e prticas sociais que esto surgindo, como auto-
representao e ao coletiva, entre outros (ELWOOD; GOODCHILD; SUI, 2012).
Sui e Goodchild (2011) complementam esse pensamento ao afirmarem que
as interaes entre os usurios de SIG no se limitam ao ciberespao, comum os
usurios de uma comunidade virtual se encontrarem em reunies, como ocorre nas
mapping parties do OpenStreetMap, um projeto de esforo voluntrio para o
mapeamento livre e editvel das ruas do mundo inteiro.
A informao geogrfica voluntria tambm pode contribuir com as pesquisas
cientficas no campo da Geografia Cultural, Histrica, Poltica, como base em
observaes preliminares, na formulao de hipteses e sistemas conceituais e na
seleo de reas de estudo. Tambm pode conter dados importantes em questes
que envolvem a percepo humana, como no conceito de lugar, por exemplo
(ELWOOD; GOODCHILD; SUI, 2012).
No entanto, ainda h desafios a superar no estudo do VGI, o desenvolvimento
de metodologias para fazer uso da informao e a compreenso das implicaes
sociais desse fenmeno, principalmente quanto ao acesso s novas tecnologias
(ELWOOD; GOODCHILD; SUI, 2012).
Com relao qualidade dos dados VGI, Elwood; Goodchild e Sui (2012)
argumentam que uma maneira de testar a qualidade do dado pode ser atravs do
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mtodo da comparao, em que uma informao pode ser comparada s outras
relacionadas ao mesmo assunto. Outro indicativo pode ser a quantidade de pessoas
que contribuem com dados, sendo assim, fatos sobre lugares mais povoados
tendem a ser mais precisos do que fatos sobre lugares menos povoados. Alm
disso, em muitos casos a reviso dos dados pode ser feita por um grupo de pessoas
voluntrias, o que tambm pode reduzir o erro.
Sui e Goodchild (2011) reforam a questo da necessidade de estudo
cientfico a respeito da qualidade dos dados, assim como a questo da aplicao
correspondente aos dados gerados, o rastreamento da origem dos dados, a
interoperabilidade semntica e a questo de como trabalhar com grandes volumes
de dados de diversas fontes em tempo real. A questo seria como combinar dados
com precises variadas e com diferentes nveis de detalhes e generalizaes.
No entanto, trabalhos sobre mtodos para estudar VGI j vm sendo
desenvolvidos, como podemos observar em Hardy; Frew; Goodchild (2012). Neste
trabalho foi desenvolvido um mtodo quantitativo para medir distncias entre a
localizao do autor e a localidade do assunto ao qual este contribuiu, discutindo,
assim, o papel das distncias na produo VGI.
Os autores analisaram como as contribuies so afetadas pela distncia, e
consequentemente, pelas questes scio-comportamentais geradas a partir das
novas formas de autoria coletiva on-line, o que os autores chamam online collective
authorship. Ainda de acordo com Hardy; Frew e Goodchild, (2012), as novas
abordagens para a geolocalizao dos contribuintes de dados geogrficos teriam um
impacto significativo sobre as pesquisas relacionadas ao VGI.
Estudos relacionados integrao de dados voluntrios com IDE
(Infraestrutura de Dados Espaciais) tambm esto sendo desenvolvidos. Como
exemplo pode ser citada a pesquisa desenvolvida por Miranda et al. (2011), na qual
os autores desenvolveram uma arquitetura para sistemas de informao com
capacidade para receber dados voluntrios. Os autores propem a adaptao e
integrao de uma arquitetura para infraestrutura de dados espaciais com
componentes colaborativos.
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2.2.1 Uso de VGI em situaes de fenmenos ou desastres naturais
Segundo Goodchild (2007a), acontecimentos relativamente recentes, como o
Tsunami ocorrido no Oceano ndico em 2004 ou o furaco Katrina nos Estados
Unidos em 2005, despertaram a ateno para a importncia da informao
geogrfica no gerenciamento de emergncias e na fase posterior aos desastres.
O mesmo autor argumenta que satlites de observao da Terra podem no
passar pelo mesmo local afetado repetidamente e por vrios dias, que imagens de
satlites e imagens areas podem ser comprometidas devido s condies
atmosfricas desfavorveis, como nuvens e fumaa, e que o rpido download de
imagens digitais pode ser impedido por imprevistos, como falta de energia, conexo
com a internet ou problemas com o hardware ou software do computador.
Diante disso, cidados da rea afetada podem se apresentar como
fornecedores de dados geogrficos, podendo relatar as condies do local atravs
de recursos presentes em celulares, como mensagens de texto, voz ou fotos
(GOODCHILD, 2007a).
Goodchild (2007b) complementa ao afirmar que cada pessoa pode ser
considerada um sensor mvel, equipada com suas prprias habilidades. Sendo
que o uso de equipamentos, como os telefones celulares habilitados com GPS,
cmeras digitais ou sensores que monitoram a poluio atmosfrica, permite a
otimizao dessas habilidades no momento da coleta do dado geogrfico.
A informao geogrfica voluntria pode ser importante em todas as fases
que envolvem um desastre, antes, durante e aps o evento. Nesses casos os
cidados podem contribuir com informaes a respeito da identificao e
quantificao dos riscos, dos parmetros de vulnerabilidade, do planejamento de
aes de emergncia. Podem, tambm, colaborar com informaes sobre o histrico
dos desastres, como localizao, frequncia, extenso e intensidade. Podem ainda
comunicar suas opinies e percepes sobre as estratgias de enfrentamentos dos
riscos e medidas de mitigao (POSER; DRANSCH, 2010).
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Durante um evento natural, os cidados podem contribuir com dados em
tempo quase real, como a descrio da extenso e intensidade do evento, bem
como dos resultados e status das atividades de resposta (POSER; DRANSCH,
2010).
De acordo com Sui (2008), as pessoas podem ser consideradas usurias
ativas na produo e disponibilidade de dados, enquanto que at recentemente
eram consideradas usurias passivas, consumidoras de informao. Para ilustrar a
ideia de Sui (2008), vale a pena lembrar de uma srie de incndios em Santa
Brbara (Califrnia/EUA) nos anos de 2008/2009 que perdurou por dias e destruiu
centenas de casas. Um dos incndios Jesusita Fire ocorreu em maio de 2009,
queimou por dois dias e destruiu setenta e cinco casas (GOODCHILD; GLENNON,
2010). Neste episdio, vrios indivduos se mobilizaram produzindo informao
voluntria, como por exemplo, a atualizao constante do permetro do fogo em
mapas na web. No fim da emergncia havia vinte e sete mapas voluntrios on-line, o
mais popular com 600.000 acessos, o qual trazia informaes essenciais sobre a
localizao dos pontos de fogo, ordens de evacuao, locais de abrigo de
emergncia, etc (GOODCHILD; GLENNON, 2010).
Outro caso semelhante aconteceu na Austrlia em fevereiro de 2009, em que
uma srie de mapas voluntrios foram disponibilizados na web durante os incndios
ocorridos nos estados de Victoria, Nova Gales do Sul e territrio da capital
australiana. Os incndios foram marcados como pontos no Google Maps,
associados s caractersticas referentes data e hora de incio, status, tipo,
tamanho, veculos enviados para o local, dentre outros (ROCHE et al., 2011).
Com o mesmo propsito, a plataforma Ushahidi foi desenvolvida em 2008
para a gerao de mapas colaborativos destinados gesto de crises (crise poltica,
desastres naturais, conflitos locais etc). Esta plataforma permite que qualquer
pessoa possa compartilhar informaes atravs de mensagens de celular, e-mail ou
formulrios disponveis no website. Trata-se de uma plataforma gratuita, de cdigo
fonte aberto, que opera de acordo com a lgica mashups, isto , combina diversos
servios da web, tais como mapeamento, banco de dados, ferramentas de
manipulao de dados, funcionalidades visuais, dentre outros (ROCHE et al., 2011).
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Essa plataforma foi utilizada durante o terremoto do Haiti em 2010 e, mais
recentemente, durante o terremoto de Christchurch, na Nova Zelndia, em fevereiro
de 2011. Desde sua criao, o Ushahidi foi usado em vrias situaes que envolvem
eventos naturais, seja por ONGs (Organizao No-Governamental) ou autoridades
nas respostas aos eventos (ROCHE et al., 2011).
Outras iniciativas para o uso mais eficaz da informao geogrfica voluntria
em situaes de fenmenos naturais so desenvolvidas pelo meio acadmico. De
Longueville et al. (2010) propuseram a integrao de VGI com IDE por meio da
iniciativa SWE (Sensor Web Enablement). O projeto conhecido como DENS
(Digital Earths Nervous System), considerado pelos autores como uma nova
metfora para fornecer recursos mais dinmicos gesto de sistemas de
informao. O sistema consiste na gerao de informao sobre focos de incndio
na Europa, em que os dados de VGI so considerados complementares aos dados
oficiais da Comisso Europeia.
No Brasil, as experincias com VGI tambm vm acontecendo. J existem
diversos websites de mapeamento voluntrio, como Wikimapa, Wikicrimes,
OpenStreetMap Brasil, dentre tantos outros. Na rea ambiental no diferente,
dadas as ltimas tragdias de deslizamentos ocorridas na Regio Sul do pas, as
intensas chuvas e inundaes na Regio Sudeste e os deslizamentos de grandes
propores na regio serrana do estado do Rio de Janeiro no incio de 2011.
Atualmente existem de dados voluntrios sobre fenmenos naturais no Brasil
distribudos na internet. O site O ECO lanou em janeiro de 2011 um mapa para
registrar os estragos da chuva em 2011. Neste espao, o usurio pode postar fotos,
vdeos e relatos sobre inundaes, deslizamentos e soterramentos a partir de uma
base de mapas do Google (O ECO, 2012)3.
Outro exemplo o Disaster Map, criado em 2009, o qual permite a insero
de eventos catastrficos em um mapa de desastres do mundo inteiro, tambm sobre
3 Disponvel em: . Acesso em 07 de maro de 2012.
http://www.ecocidades.com/2011/01/13/participe-mapa-colaborativo-oeco-dos-desastres-das-chuvas/http://www.ecocidades.com/2011/01/13/participe-mapa-colaborativo-oeco-dos-desastres-das-chuvas/
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uma base de mapas do Google. A informao pode ser postada em forma de textos,
fotos, vdeos ou links aps a ocorrncia do evento (DISASTER MAP, 2012)4.
Estas experincias no Brasil e no mundo demonstram que h uma forte
tendncia para a obteno, compartilhamento e disseminao de dados pela prpria
sociedade civil. A facilidade de obteno dos dados aliada participao da
populao permitem a criao de diversos mapas, bem como a publicao destes
na web. Seja nas situaes de fenmenos naturais cotidianos ou de desastres, o
VGI pode ser considerado uma fonte de informao importante para o auxlio nas
tomadas de deciso.
Em situaes de desastres naturais o VGI j se tornou elemento fundamental,
dadas as experincias conhecidas, onde em muitos casos h a necessidade por
dados e informaes em questo de horas para salvar vidas. Em muitos pases h
uma deficincia no quadro de profissionais habilitados para a utilizao de dados
provenientes de fontes oficiais, havendo uma sobrecarga nas instituies
governamentais nos contextos de desastres, onde a demanda muito maior em
relao ao cotidiano.
Ento, a disponibilidade de imagens de satlites com alta resoluo, aliada a
ferramentas como o Google Earth, tornam possveis a obteno e o
compartilhamento de dados de forma muito rpida. As interfaces simples permitem o
acesso por pessoas comuns, mesmo que no haja qualificao profissional
nenhuma, apenas disposio para compartilhar (GOODCHILD, 2006).
2.2.2 Anlise dos Dados Geogrficos Voluntrios
Os dados geogrficos esto relacionados aos fenmenos geogrficos como
sero descritos a seguir. Neste trabalho, os dados referem-se aos fenmenos de
4 Disponvel em: . Acesso em 07 de maro de 2012.
http://wikimapps.com/a/disastermap
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alagamentos e inundaes que ocorrem na cidade de So Paulo. Sendo assim, um
dado representa um local especfico numa determinada rua que encontra-se
alagada. No esquema conceitual resultante do processo de modelagem e na
implementao do prottipo, esse dado representado por um ponto e visualizado
num mapa que representa a situao real.
Os dados geogrficos so considerados dados brutos, ou seja, aqueles que
ainda no passaram por processamento e no foram transformados em informaes
geogrficas. Podem ser considerados como medidas observadas de um
determinado fenmeno relacionado superfcie terrestre, cuja localizao espacial
se faz um componente fundamental (LISBOA FILHO, 2000).
De acordo com o mesmo autor, os dados geogrficos so dados espaciais,
uma vez que descrevem as formas geomtricas (coordenadas numricas) dos
objetos no espao. Assim, quando h a relao entre um dado espacial e sua
localizao na superfcie atravs das coordenadas geogrficas, diz-se que esse
um dado geogrfico, alm de ser um dado espacial.
Os fenmenos geogrficos esto relacionados na contextualizao dos dados
geogrficos e por sua vez, possuem caractersticas qualitativas e quantitativas que
so descritas de forma textual e/ou numrica. Essas caractersticas correspondem
aos atributos, cujo objetivo descrever as caractersticas no espaciais de um
fenmeno geogrfico (LISBOA FILHO, 2000).
Os fenmenos geogrficos ainda possuem uma caracterstica temporal que
refere-se ao instante da ocorrncia ou observao do fenmeno (PEUQUET; DUAN,
1995), muitas vezes correlacionada aos demais componentes da informao e que
em diversas aplicaes corresponde uma caracterstica fundamental (LISBOA
FILHO, 2000).
Os fenmenos geogrficos, como eventos naturais, desastres e atividades
antrpicas em geral, podem ser compilados por meio do VGI conforme discutido nas
sees anteriores.
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A ao de mapear os fenmenos geogrficos atravs de dados voluntrios
possui diversos aspectos que merecem ser analisados, dentre eles, as questes
relacionadas ao tempo, aos metadados e qualidade dos dados, de acordo com
apontamentos de Sui e Goodchild (2011).
Nessa pesquisa, alguns exemplos de projetos com VGI de diversas reas de
aplicao foram analisados a fim de verificar como as questes referentes s
dimenses temporais, metadados e qualidade dos dados so tratadas. Os projetos
analisados foram: OakMapper.org, QLD Flood Crisis Map, OpenStreetMap,
Interactive Injury Hotspot Mapping Tool, eBird, Jesusita Fire, Projeto Tracksource,
Ushahidi Christchurch Recovery Map, Sinsai.info e AbandonedDevelopments.com.
Atravs desses exemplos foi possvel comparar o modo como as caractersticas
relacionadas questo temporal, aos metadados e qualidade dos dados foram
abordadas em tais projetos em relao ao esquema conceitual proposto por esse
projeto de pesquisa.
Na anlise, o tempo foi classificado de acordo com a ordem, variao e
granularidade proposta por Edelweiss (1998). Quanto aos metadados foi verificada a
existncia dos mesmos, assim como seu contedo. Com relao qualidade dos
dados foi apresentado o procedimento de verificao da qualidade utilizado em cada
projeto, assim como a maneira como o usurio pode informar o dado ao sistema.
Ainda foi apresentada a descrio dos projetos e o local do fenmeno mapeado a
fim de situar as caractersticas apresentadas.
Sendo assim, as questes relacionadas ao tempo, aos metadados e
qualidade dos dados geogrficos voluntrios foram analisados e discutidos, com o
objetivo de melhor entender o VGI relacionado aos fenmenos de alagamentos e
inundaes no contexto de So Paulo/SP.
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2.3 SISTEMAS QUE INFORMAM SOBRE ALAGAMENTOS E INUNDAES EM
SO PAULO
2.3.1 Salas de Situao DAEE
O DAEE (Departamento de guas e Energia Eltrica) do Estado de So Paulo
possui um setor responsvel por auxiliar diretamente no controle de enchentes em
quatro cidades do Estado So Paulo, Taubat, Piracicaba e Registro. Este setor
constitudo pelas Salas de Situao, cuja funo avaliar diariamente os nveis
das guas nos rios, barragens e reservatrios, bem como monitorar o potencial das
precipitaes nos vrios perodos do ano, principalmente na poca das cheias
(DAEE, 2012a).
O monitoramento realizado atravs dos dados do radar meteorolgico de
propriedade do DAEE em convnio com a Fundao de Amparo Pesquisa do
Estado de So Paulo (FAPESP), o qual fornece informaes a respeito das chuvas
que se aproximam. Estas informaes so cruzadas com as de outros servios e a
partir de ento, so traados possveis cenrios para a cidade, onde podem ser
obtidas as caractersticas das chuvas, como sua velocidade, o tempo provvel que
chegar e quais regies tero maior probabilidade de serem afetadas (DAEE,
2012a).
Como o Estado est dividido em regies e possui mapeados os pontos onde
esto localizadas as encostas e os crregos com histrico de extravasamento, o
DAEE desenvolveu um sistema de alerta aos lderes de comunidades cadastrados.
Por meio deste sistema, os moradores cadastrados que habitam as reas de
encosta e as reas sujeitas inundao recebem mensagens via celular com at
duas horas de antecedncia chegada das chuvas, para que j fiquem atentos
possibilidade de evacuaes (DAEE, 2012a).
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2.3.2. Sistema de Alerta a Inundaes de So Paulo (SAISP)
O SAISP um sistema de alerta operado pela Fundao Centro Tecnolgico
de Hidrulica (FCTH). Est em funcionamento desde 1977 e tem como objetivo o
monitoramento automtico de chuvas e dos nveis dos principais rios da bacia do
Alto Tiet (DAEE, 2012b).
Uma das funes do SAISP gerar boletins sobre as chuvas e suas
consequncias na cidade de So Paulo a cada cinco minutos. A cada evento de
chuva so gerados relatrios com intervalos de duas horas informando sobre seu
estado e andamento (DAEE, 2012b).
O monitoramento hidrolgico realizado atravs da Rede Telemtrica de
Hidrologia do DAEE e do Radar Meteorolgico do Estado de So Paulo. A partir
deste monitoramento so gerados os mapas de chuva observados na rea do Radar
de Ponte Nova, as leituras de postos das Redes Telemtricas do Alto Tiet,
Cubato, Registro e Piracicaba e os mapas com previses de inundaes na cidade
de So Paulo (SAISP, 2012).
O radar meteorolgico possibilita a observao e acompanhamento da
evoluo espao-temporal dos fenmenos de chuva localizados nas reas das
bacias hidrogrficas. Os dados obtidos atravs do radar so introduzidos em
modelos hidrolgicos que possibilitam prever as vazes nos rios (SAISP, 2012).
Logo em seguida o resultado da anlise enviado para um computador na
Central de Operao do CTH (Centro Tecnolgico de Hidrulica e Recursos
Hdricos), localizado na Cidade Universitria em So Paulo, via rede telefnica
privada. Por fim, o resultado enviado juntamente com os dados das redes
telemtricas do DAEE (Alto Tiet-Pinheiros), via linha privada, para a Prefeitura de
So Paulo, para a distribuidora de energia eltrica ELETROPAULO, para o DAEE e
para a imprensa (SAISP, 2012).
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2.3.3. Iniciativas de mapeamento dinmico para alagamentos e inundaes em
So Paulo
A cidade de So Paulo possui iniciativas de mapeamento que informam sobre
alagamentos e inundaes por meio de rgos pblicos e projetos colaborativos. O
CGE, rgo da Prefeitura responsvel pelo monitoramento das condies
meteorolgicas na cidade, disponibiliza informaes sobre alagamento em seu
website por meio de dados fornecidos pela Companhia de Engenharia de Trfego
(CET). As informaes so classificadas sob trs categorias - transitvel,
intransitvel e inativo e disponibilizadas na sua pgina (CGE, 2013).
Os dados gerados pelo CGE tambm podem ser visualizados atravs do
aplicativo para celulares Alaga SP, compatvel com iPhone, iPod touch e iPad. Este
aplicativo informa quais ruas, avenidas e vias esto alagadas na cidade em tempo
quase real5.
Outro aplicativo disponvel para usurios iPhone, iPod touch e iPad o
Apontador Trnsito, onde possvel acompanhar a situao do trnsito de
corredores, vias e estradas. Alm disso, o aplicativo traz notcias e informaes
sobre incidentes em tempo quase real e disponibiliza imagens das cmeras da
cidade e rodovias6.
Existe ainda o aplicativo Waze, desenvolvido para iPhone e iPad, o qual traz
informaes em tempo quase real sobre o trnsito e eventos relacionados, como
acidentes, perigos e quaisquer situaes que possam interferir na rota viria7.
5 Disponvel em: . Acesso em: 25 de agosto de 2013.
6 Disponvel em: Acesso em: 25 de agosto de 2013.
7 Disponvel em: < https://itunes.apple.com/br/app/waze-social-gps-traffic/id323229106?mt=8&ign-mpt=uo%3D2>. Acesso em: 25 de agosto de 2013.
https://itunes.apple.com/br/app/alaga-sp/id355652124?mt=8https://itunes.apple.com/br/app/maplink-transito/id296691011?mt=8https://itunes.apple.com/br/app/waze-social-gps-traffic/id323229106?mt=8&ign-mpt=uo%3D2https://itunes.apple.com/br/app/waze-social-gps-traffic/id323229106?mt=8&ign-mpt=uo%3D2
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Outros aplicativos foram desenvolvidos com o intuito de compartilhar
informaes sobre a fluidez do trnsito e possveis entraves. Dentre eles podem ser
citados o Trnsito Colaborativo (TRNSITO COLABORATIVO, 2013)8 e Wabbers
(WABBERS, 2013)9.
A CET, rgo municipal responsvel pelo monitoramento, avaliao e controle
dos ndices de congestionamento dirio no trnsito, possui tcnicos que realizam as
atividades operacionais posicionados no alto dos prdios ou atravs de viaturas. So
tcnicos que possuem a finalidade de transmitirem as informaes sobre as
ocorrncias, inclusive de pontos alagados, em tempo quase real. Os dados
coletados na rua so transmitidos para a Central de Operaes, onde so
processados, armazenados e apresentados na pgina on-line em forma de mapas,
grficos e tabelas (CET, 2013)10.
Quanto iniciativa colaborativa, ainda h carncia da participao popular em
mapeamentos dos pontos de alagamento e inundao especficos da cidade de So
Paulo.
O portal de notcias G1 criou em 2012 o mapa Indique onde alaga na Grande
So Paulo, atravs do qual o usurio pode indicar os locais que costumam alagar
na regio. O mapa mostra os endereos dos pontos passveis de alagamento e fotos
do local (G1 SO PAULO, 2013).
Existem algumas pginas na web destinadas ao mapeamento dos
alagamentos e inundaes em todo o Brasil, casos que incluem a cidade, porm de
forma generalizada. Como exemplo, pode ser citado o Projeto Enchentes, cujo
8 Disponvel em: . Acesso em 19 de agosto de 2013.
9 Disponvel em: . Acesso em 19 de agosto de 2013.
10 Disponvel em: http://cetsp1.cetsp.com.br/monitransmapa/agora/ajuda.htm. Acesso em 02 de
agosto de 2013.
http://robertorobson.com/transitocolaborativo/http://www.wabbers.com/http://cetsp1.cetsp.com.br/monitransmapa/agora/ajuda.htm
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objetivo prestar servios de informao e ajuda no enfrentamento de algamentos e
inundaes em todo o pas, de forma colaborativa. No blog existe uma pgina ligada
ao Google Maps, onde possvel localizar e compartilhar dados relacionados a
reas de inundaes, reas de risco, reas seguras, locais de abrigo, rotas
alternativas, deslizamentos em estradas e locais de doao (PROJETO
ENCHENTES, 2012)11.
2.4 TECNOLOGIAS AUXILIARES AO SISTEMA PARA MAPEAMENTO
COLABORATIVO DE ALAGAMENTOS E INUNDAES
Nos ltimos anos houve avanos significativos quanto ao desenvolvimento
tecnolgico e social. A internet evoluiu com a banda larga e melhorias nas tcnicas
de visualizao, enquanto a sociedade melhor se organizou com a adoo
generalizada de mdias sociais como um importante meio de comunicao
(CRAGLIA et al., 2012).
De acordo com os autores, o desenvolvimento tecnolgico dado pela
interoperabilidade dos sistemas, organizao, armazenamento e recuperao dos
dados, alm dos navegadores web, trouxe diversos elementos para a produo e
compartilhamento de dados geogrficos ao alcance de centenas de milhares de
pessoas em todo o mundo (CRAGLIA et al., 2012).
Goodchild (2007a) j mencionava o importante papel da tecnologia para o
VGI. Segundo o autor, o Google Earth e o Google Maps popularizaram o termo
mash-up e atravs da web 2.0 foi possvel o compartilhamento das informaes pela
populao. O uso generalizado de GPS em aparelhos eletrnicos, como cmeras
fotogrficas e celulares permitiram a localizao geogrfica dos eventos. Assim
11 Disponvel em: . Acesso em 02 de agosto de 2012.
http://projetoenchentes.radioramabrasil.com/mapa/
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como os grficos, resultados do desenvolvimento da computao possibilitaram a
obteno de imagens em 3-D, como quelas do Google Earth.
Atualmente e em termos globais, mais de cinco bilhes de pessoas possuem
acesso a telefones celulares. H um aumento na proporo de acesso a
smartphones com capacidades para cmera, microfone, GPS, armazenamento de
dados e transferncia de dados em rede (FERSTER; COOPS, 2013).
De acordo com Ferster e Coops (2013), dados obtidos com dispositivos de
comunicao mvel pessoal podem fornecer uma geometria de viso diferente dos
satlites de observao da Terra. Alm disso, os dispositivos possuem custo menor
em comparao aos equipamentos de sensoriamento remoto, alm da possibilidade
de utilizao dos mesmos por voluntrios em escalas espaciais amplas e com
elevada frequncia temporal.
Os autores mencionam que dentre as vantagens do uso de dispositivos
mveis ainda so destacados a capacidade de coletar dados com rapidez e
metadados consistentes, alm do fornecimento de ferramentas para a participao
das pessoas na coleta de dados (FERSTER; COOPS, 2013).
O aumento da disponibilidade de conexes internet domstica de alta
capacidade e o custo reduzido associado a esses servios, os quais permitem
aquisio rpida da informao, criaram as condies necessrias para a mudana
no tratamento da informao geogrfica na web. O desenvolvimento contnuo de
tecnologias relacionadas internet, como eXtensible Markup Language (XML),
Simples Object Access Protocol entre outros, tambm colaborou com o
compartilhamento de dados e informaes na web e consequentemente com a
disseminao do VGI (HAKLAY; SINGLETON; PARKER, 2008).
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41
2.4.1. Aparelhos celulares com sistemas de localizao
Atualmente os sistemas de localizao so utilizados para diversas
aplicaes. As atividades que envolvem posicionamento esto cada vez mais
amparadas por tais sistemas, o que permite a localizao mais precisa dos objetos e
eventos sobre a superfcie terrestre. Aliado aos sistemas de comunicao, como a
telefonia mvel, esta tecnologia fornece uma extensa gama de utilizao em
diferentes contextos.
A fabricao de aparelhos cada vez mais completos, com agilidade de
processamento e capacidade para suportar diversas aplicaes, como conexo Wi-
Fi, acelermetros e sistemas de localizao, tornou vivel o uso de aparelhos
celulares em situaes de fenmenos ou desastres naturais. A comunicao em si
deixou de ser a nica funo dos celulares e estes passaram a ser utilizados
tambm como ferramentas no processo de coleta de dados geogrficos.
Dentre a temtica relacionada aos fenmenos e desastres naturais so
inmeros os trabalhos relacionados ao uso de sistemas de localizao do celular
nas fases de preveno, monitoramento e mitigao dos eventos, como pode ser
observado em estudos j realizados (FLOR et al., 2011; HASTAOGLU et al., 2011;
SARIFF et al., 2011; YANG et al., 2000, entre outros).
Como exemplo pode ser citado o trabalho de Wu et al. (2011), em que os
autores desenvolveram um mecanismo de utilizao de smartphones em situaes
de desastres, em que o funcionamento do sistema de mensagens no depende da
infra-estrutura convencional. Mesmo que as estaes de base sejam destrudas,
possvel, de acordo com essa aplicao, o envio de mensagens de emergncia.
A informao voluntria no contexto de desastres naturais pode ser facilmente
difundida por meio dessas novas tecnologias, como celulares com GPS, as quais
permitem o rpido acesso e compartilhamento via web, j que so aparelhos
portteis, de fcil manuseio e acessvel maior parte da populao (GOODCHILD,
2007a).
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Kanhere (2011) define esta utilizao de dispositivos mveis para a coleta
voluntria de dados geogrficos como sensoriamento participativo. Segundo o autor,
os dados gerados a partir da utilizao de infra-estruturas existentes na
comunicao, como o servio 3G e pontos de acesso Wi-Fi, podem constituir
informaes importantes para a comunidade, a exemplo de estatsticas de trfego
em tempo quase real, geradas a partir de trilhas com receptores GPS produzidas por
motoristas.
Com relao ao uso de sistemas de localizao do celular em projetos de VGI
os exemplos tambm so vrios. O projeto OpenStreetMap, cujos arruamentos so
traados via rota ou coleta de pontos com receptores GPS, pode ser citado como
um deles (OSM, 2012). Outros casos relacionados aos fenmenos ou desastres
naturais, dentre os citados nas sees anteriores, tambm utilizam ou utilizaram o
sistema de localizao do celular para a coleta do dado.
Uma forma de consolidar e dar visibilidade a esses tipos de dados carreg-
los em servidores de mapas na internet. Existem diversos aplicativos web livres e
gratuitos que oferecem servios de hospedagem para mapas colaborativos. Por trs
desses servios existe tambm um grande nmero de usurios desenvolvedores, os
quais somam esforos para o aperfeioamento e customizao das ferramentas
para atender os diversos interesses de mapeamento.
2.4.2 Plataformas web para publicao de mapas
A quantidade de mapas produzidos e disponibilizados via web aumentou
significativamente. Este fato se deve, em parte, difuso de programas gratuitos
com interfaces amigveis, as quais permitem a realizao de tarefas complexas sem
a necessidade de muitos conhecimentos em informtica (QUEIROZ FILHO;
GIANNOTTI, 2012).
De acordo com Fernandes e Ribeiro (2011) a publicao de mapas interativos
na internet surgiu da necessidade de disponibilizar dados com caractersticas
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cartogrficas no ambiente web, de forma que um grande nmero de usurios tivesse
acesso para os mais diversos fins.
As aplicaes geradas por plataformas web geralmente so amigveis ao
usurio, as quais possuem interfaces intuitivas e comandos de fcil entendimento.
Diversas empresas j manifestam interesse diante das novas tecnologias que
permitam disponibilizar mapas com interfaces e contedos interativos. A empresa
Google um exemplo, pois disponibiliza o servio de API do Google Maps, uma
interface de desenvolvimento para aplicaes de mapeamento na web (OLIVEIRA;
NETO; SANTOS, 2010).
As plataformas tradicionais como ArcGIS da ESRI ainda so largamente
utilizadas para os procedimentos complexos que envolvem SIG. No entanto, novas
ferramentas vm sendo disponibilizadas para possibilitar a visualizao do dado
espacial. Dentre as novas ferramentas destaca-se a crescente variedade de
plataformas independentes e servios GeoWeb (Geospatial Web) dedicados ao
fornecimento de ferramentas para automatizar ou simplificar tarefas relacionadas
aos dados espaciais (CINNAMON; SCHUURMAN, 2012).
Atualmente existem diversas plataformas livres e gratuitas que possibilitam a
hospedagem de mapas, como Crowdmap12, Meipi13, Mapme14, UMapper15,
Wikimapps16, entre outros. Essas plataformas disponibilizam ferramentas gratuitas
que permitem a criao de mapas pelos prprios usurios sobre os temas de seus
interesses. A maioria possui aplicativo para celular e interface com mdias sociais,
como Facebook e Twitter.
Tais plataformas so compostas por objetos que podem ser modificados pelo
usurio de acordo com o objetivo da aplicao. De modo geral, o sistema padro
12
https://crowdmap.com/welcome
13 http://meipi.org/
14 http://www.mapme.com/
15 http://www.umapper.com/
16 http://wikimapps.com/
https://crowdmap.com/welcomehttp://meipi.org/http://www.mapme.com/http://www.umapper.com/http://wikimapps.com/
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composto por um mapa, onde a informao visualizada, por campos editveis,
como as reas da legenda, ttulo, descrio da aplicao e logotipo, alm do menu
principal, com as funes de pesquisa, contribuio com dados e gerenciamento.
Na maioria dos casos, as plataformas so criadas de forma colaborativa, em
que um grupo de desenvolvedores se une para a elaborao e constante
aprimoramento do sistema. Em alguns casos, como WikiMapps, a iniciativa pode ser
desenvolvida por empresas privadas. No entanto, existem diversas plataformas com
cdigo-fonte aberto e disponibilizadas gratuitamente na web, onde o usurio pode
desenvolver sua aplicao.
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3. Materiais e Mtodos
O esquema conceitual do sistema proposto corresponde primeira etapa de
implementao de um sistema Web colaborativo em que qualquer pessoa possa
informar pontos alagados na cidade de So Paulo. Os dados podem ser inseridos
via aplicativo para celular ou pgina web, e so carregados dinamicamente no
mapa.
Para o desenvolvimento do esquema conceitual do sistema foram realizados
o levantamento bibliogrfico dos temas correlatos, a elaborao da lista de
requisitos, a escolha da plataforma, a elaborao do esquema em si e o teste do
mesmo a partir de um prottipo desenvolvido para este fim. O desenvolvimento do
trabalho seguiu as etapas representadas na figura 3.1.
Figura 3.1: Esquema geral das etapas do trabalho.
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46
O primeiro passo foi a realizao de um levantamento bibliogrfico acerca dos
conceitos relacionados aos temas abordados pelo estudo. Assim, foi realizada uma
pesquisa sobre os conceitos de alagamentos, inundaes e enchentes, a fim de
delimitar parte do objeto de estudo.
O conceito de VGI foi explorado por meio da literatura existente. As
tecnologias envolvidas tambm foram verificadas para demonstrar a potencialidade
e viabilidade do desenvolvimento de sistemas dinmicos de mapeamento
colaborativo.
Aps a verificao do estado da arte dos itens envolvidos foi realizada uma
anlise crtica sobre algumas caractersticas consideradas relevantes em projetos de
VGI. A questo da temporalidade foi destacada devido natureza do fenmeno
estudado. Ainda foram levantadas as questes referentes aos metadados e
qualidade dos dados para satisfazer aos objetivos da pesquisa.
De acordo com a reviso bibliogrfica constante e anlise dos principais
aspectos envolvidos em projetos de VGI foi elaborada a proposta do esquema
conceitual do sistema dinmico de mapeamento colaborativo de alagamentos e
inundaes para a cidade de So Paulo.
3.1 LISTA DE REQUISITOS
Algumas perguntas foram formuladas para orientar o desenvolvimento dos
esquemas conceituais e implementao do prottipo, as quais foram julgadas
necessrias para o bom funcionamento do sistema e uso efetivo pela sociedade.
As perguntas so relacionadas aos locais dos pontos alagados, aos usurios,
aos dados e aos metadados. As questes a serem respondidas pelo sistema
durante um evento de alagamento constam na relao abaixo.
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Perguntas relacionadas aos locais alagados:
1 A rua X est alagada?
2 A rua X est interditada?
3 Desde que horas a rua X est alagada?
4 O local ainda est alagado?
Perguntas relacionadas aos usurios:
1 O usurio se identificou?
2 Quantas vezes o usurio contribuiu?
3 Quantos comentrios ou votos de credibilidade o usurio recebeu?
4 O usurio compartilhou a informao com redes sociais?
5 O usurio cadastrado para receber alertas?
Perguntas relacionadas aos dados:
1 O dado foi informado atravs do website?
2 O dado foi informado atravs do aplicativo para celular?
3 Quantos dados foram informados na mesma rua?
Perguntas relacionadas aos metadados:
1 Qual o ttulo do dado?
2 Qual a data e horrio que o dado foi informado?
3 - Qual o nome da pessoa?
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4 Qual o sistema de referncia?
5 A qual categoria da legenda o dado pertence?
6 Possui resumo (descrio)?
7 Qual o formato do arquivo?
De acordo com a reviso bibliogrfica e a lista de requisitos, o sistema
Pontos de Alagamento foi implementado atravs da plataforma Crowdmap do
Ushahidi. Sendo assim, se faz oportuno esclarecer as caractersticas de tal
plataforma para a melhor compreenso do sistema em questo.
3.2 MODELAGEM CONCEITUAL DO SISTEMA
Para o desenvolvimento do esquema conceitual foi utilizada a linguagem UML
(Unified Modeling Language), cujas especificidades adotadas neste trabalho sero
brevemente apresentadas no item 3.1.1. Somado a isso, a modelagem partiu de
uma lista de requisitos proposta a partir da anlise do fenmeno, descrita no subitem
3.1.2.
3.2.1 Diagramas utilizados para a elaborao do esquema conceitual
O esquema conceitual foi elaborado usando a linguagem UML, linguagem
utilizada para visualizao, especificao, construo e documentao de artefatos
de sistemas de software. Dentre suas funes, proporciona uma forma padro para
a elaborao de projetos de sistemas, inclusive aspectos conceituais, como as
funes a serem desempenhadas pelo sistema (BOOCH; RUMBAUGH;
JACOBSON, 2005).
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Para a representao do esquema conceitual foram utilizados diagramas de
casos de uso, diagramas de atividades e diagramas de classes com o objetivo de
apresentar a ideia, o funcionamento geral e as classes do sistema.
O diagrama de casos de uso envolve a interao dos atores com o sistema,
um requisito funcional do sistema como um todo. O ator representa um conjunto
coerente de papis desempenhados pelos usurios na medida em que interagem
com o sistema (BOOCH; RUMBAUGH; JACOBSON, 2005).
O diagrama de atividades mostra o fluxo entre as atividades em um sistema,
cujo objetivo representar os aspectos dinmicos do mesmo. As atividades resultam
em alguma ao e consequentemente em uma mudana de estado do sistema ou o
retorno de um valor (BOOCH; RUMBAUGH; JACOBSON, 2005).
O diagrama de classes utilizado para demonstrar a viso esttica de dados
no projeto de um sistema, onde so apresentados o conjunto de classes, interfaces
e colaboraes e os seus relacionamentos. Este diagrama oferece o suporte para
definir os requisitos funcionais de um sistema, ou seja, os servios que este ir
fornecer aos usurios finais (BOOCH; RUMBAUGH; JACOBSON, 2005).
Por fim, o prottipo Pontos de Alagamento foi implementado como prova de
conceito para validar e testar o esquema proposto. Para tanto, foi utilizada a
plataforma Crowdmap/Ushahidi. Foi realizada uma fase de testes do sistema, que foi
divulgado para ser utilizado. Juntamente a esta fase de testes foi disponibilizado um
questionrio para ser respondido pelos usurios com o objetivo de aprimorar o
prottipo e o esquema conceitual desenvolvido.
3.3 PLATAFORMA CROWDMAP/USHAHIDI
O aplicativo web Ushahidi foi originado no Qunia em 2008, como um sistema
destinado a mapear os incidentes de violncia, bem como os esforos de paz no
pas durante um perodo de crise relacionado s consequncias ps-eleitorais no
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incio do ano de 2008. Atualmente o sistema conta com cerca de 45.000 usurios no
Qunia, dentre os quais se encontram indivduos com as mais diversas
experincias, como pessoas que trabalham com direitos humanos e pessoas que
desenvolvem softwares (USHAHIDI, 2012)17.
Mardsen (2012) ressalta a robustez, eficcia e facilidade de uso do Ushahidi,
o qual foi utilizado em grande escala nos terremotos do Haiti em 2010 e
Fukushima/Japo em 2011, por organizaes como a ONU (Organizao das
Naes Unidas). Outros exemplos de aplicaes da plataforma em desastres so as
inundaes de Queensland em 2011 e as fortes tempestades na regio dos Blcs
em 2012.
O Crowdmap uma plataforma do Ushahidi, onde os mapas e os bancos de
dados so hospedados, sem a necessidade de instalao do servidor. um servio
prestado pelo Ushahidi para facilitar o uso das pessoas na implementao de
sistemas colaborativos.
Com o Crowdmap possvel criar uma pgina e personaliz-la, escolher
temas, editar categorias, solicitar relatrios, entre outros. Tudo feito on-line, sendo
necessria apenas a criao de uma conta de e-mail com senha, assim como o
preenchimento de um pequeno formulrio. A partir de ento o website j
implementado e passvel de ser configurado de acordo com as necessidades do
usurio (CROWDMAP, 2012)18.
As caractersticas da plataforma em questo, assim como suas possibilidades
de uso sem a exigncia de conhecimentos tcnicos foram pontos que colaboraram
na escolha da aplicao, j que uma das caractersticas do VGI a viabilizao de
mapas com informaes provenientes de voluntrios, sem a necessidade de
conhecimentos tcnicos para tal. Sendo assim, a plataforma Crowdmap/Ushahidi se
apresentou compatvel ao objetivo do estudo, fato que justifica sua escolha.
17 Disponvel em: . Acesso em 01 de agosto de 2012.
18 Disponvel em: Acesso em 01 de agosto de 2012.
http://ushahidi.com/about-ushttps://crowdmap.com/welcome
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4. RESULTADOS E DISCUSSO
4.1 IDENTIFICAO DOS PADRES TEMPORAIS DOS DADOS GEOGRFICOS
VOLUNTRIOS DE ALAGAMENTOS E INUNDAES
A questo temporal amplamente discutida na literatura. Na dcada de
sessenta foi introduzido o modelo Espao-Tempo-Cubo, cujas imagens possuem os
eixos x e y, e o eixo z representa o tempo. H um ambiente interativo de
visualizao dinmica, cujo usurio tem total flexibilidade para visualizar, manipular
e consultar os dados em um cubo de espao-tempo (KRAAK, 2003).
Cooper, Coetzee e Kourie (2012), ao avaliarem a dimenso da acurcia
temporal em dois projetos de VGI (2nd South African Bird Atlas Project e
OpenStreetMap), destacaram a preciso do tempo no fornecimento do dado e a
consistncia temporal (ordem de gravao) em relao s iniciativas com as
mesmas caractersticas do 2nd South African Bird Atlas Project.
Quanto s iniciativas que possuem o mesmo formato do OpenStreetMap os
autores destacaram a questo do tempo decorrido do incio do projeto e a
quantidade de contribuintes ativos. Em reas onde h uma grande quantidade de
contribuintes ativos os dados podem ser mais atualizados do que os dados oficiais,
j que se trata de um projeto atual, com menos de uma dcada de existncia
(COOPER; COETZEE; KOURIE, 2012).
Le (2004) props a representao temporal para base de dados geogrficos
baseados em objeto. O autor prope um modelo com vrios intervalos de tempo e
status vlidos durante o intervalo, alm de temas temporais durante a sua vida til.
No artigo, as questes relacionadas ao tempo para dados geogrficos, como ordem,
variao e granularidade so discutidas.
De acordo com Edelweiss (1998), a dimenso temporal corresponde
informao temporal associada a cada valor de atributo. Assim, forma-se uma
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sequncia histrica de dados, o que possibilita a anlise da evoluo temporal do
fenmeno.
Edelweiss (1998) analisa a questo temporal ao tratar da ordem, da variao
e da granularidade do tempo. A dimenso temporal corresponde ao eixo temporal,
composto por uma sequncia de pontos consecutivos no tempo, sendo que a
definio de uma ordem a ser seguida no tempo fundamental para sua
representao.
Segundo a autora, h duas formas de variao temporal, o tempo contnuo e
o tempo discreto. A representao do tempo de forma discreta simplifica a
implementao de modelos de dados. Neste caso, a variao do tempo
representada por uma linha composta por uma sequncia de intervalos temporais
consecutivos, de durao idntica, denominados chronons (EDELWEISS, 1998).
O chronon considerado a menor unidade de durao do tempo dentro de
um sistema, sua durao pode ser fixa, como a durao de uma hora, ou varivel,
como a durao de um ms (EDELWEISS, 1998).
A granularidade corresponde durao de um chronon. Dependendo do
objeto ou fenmeno representado, a granularidade pode variar em minutos, dias,
anos. E sua classificao se d em instante, intervalo ou perodo (EDELWEISS,
1998).
Parte dos fenmenos geogrficos devem ser representados em modelos
computacionais condizentes com suas caractersticas espaciais e temporais. Sendo
assim, suas representaes devem ser dinmicas e includas suas caractersticas
temporais, tal qual seu comportamento na realidade (DIAS; CMARA; DAVIS JR,
2005).
As caractersticas temporais dos dados geogrficos variam conforme o
fenmeno representado. Sendo assim, fenmenos naturais como alagamentos,
incndios florestais, terremotos requerem tratamento diferenciado dado seu aspecto
temporal dinmico.
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De acordo com Longley et al. (2013), os problemas geogrficos podem ser
diferenciados atravs da escala temporal. Os autores afirmam que algumas
decises so operacionais e de curto prazo, outras so tticas e de mdio prazo,
enquanto outras so estratgicas e de longo prazo. No entanto, essa distino
passvel de confuso, dada a complexidade do mundo real. Como exemplo, uma
enchente que segundo estatsticas ocorre a cada mil anos influencia as
consideraes estratgicas e tticas, embora ela possa ocorrer um ano aps o
outro.
A partir da tabela 4.1 possvel verificar as diferentes classificaes das
caractersticas temporais para cada projeto de VGI. Cada objeto de representao
foi classificado de acordo com seu comportamento ao longo do tempo.
A seguir sero apresentados alguns conceitos relacionados representao
temporal dos fenmenos geogrficos de acordo com Edelweiss (1998). Os
diferentes objetos de estudo dos projetos de VGI sero comparados ao fenmeno
alagamentos e analisados sob a tica temporal.
4.1.1 Ordem
De acordo com Edelweiss (1998) e Dias, Cmara e Davis Jr (2005), o tempo
pode ser representado por um eixo temporal, onde os pontos so distribudos de
forma consecutiva. Essa distribuio pode ser linear ou ramificada. O tempo linear
corresponde a uma total ordenao entre dois pontos quaisquer. A figura 4.1 mostra
a representao do tempo de forma linear, cujo eixo admite um ponto consecutivo
ao anterior.
Figura 4.1: Representao do tempo de forma linear.
Fonte: DIAS; CMARA; DAVIS JR (2005).
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J no tempo ramificado, no h a necessidade de restrio linear, assim, dois
pontos diferentes podem