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Ditado pelo Espírito Jésus Gonçalves EM BUSCA DA ILUSÃO

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Ditado pelo Espírito Jésus Gonçalves

EM BUSCADA ILUSÃO

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CÉLIA XAVIER CAMARGO

EM BUSCADA ILUSÃO

Ditado pelo Espírito Jésus Gonçalves

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Casa Editora O Clarim(Propriedade do Centro Espírita O Clarim). Fone: (0xx16) 3382-1066 – Fax: (0xx16) 3382-1647C.N.P.J. 52313780/0001-23 – Inscr. Est. 441002767116Rua Rui Barbosa, 1070 – Cx. Postal, 09CEP 15990-903 – Matão, SPhttp://[email protected]

6ª edição40.001 a 45.000 exemplares

Maio de 2005

Capa: Célia Xavier Camargo

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FICHA CATALOGRÁFICA

(C.D.D.) CLASSIFICAÇÃO DECIMAL DEWEY

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO

133.9 Espiritismo133.901 Filosofia e Teoria133.91 Mediunidade133.92 Fenômenos Físicos133.93 Fenômenos Psíquicos

133.91

EM BUSCA DA ILUSÃOCamargo, Célia XavierAutor Espiritual: Jésus GonçalvesCasa Editora O ClarimMatão - SP - Brasil344 páginas - 15,5 x 22 cm

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A edição desta obra somente foi possível graças à valiosa colaboração recebida da equipe de nossos funcionários, mais a gentil participação das seguintes pessoas:

Alberto de Souza RochaCarlos Alberto VarellaCélia Xavier CamargoGregorio Perche de MenesesIvan CostaJoaquim Norberto de CamargoPaulo César de Camargo Lara

AGRADECIMENTOS DA EDITORA

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ÍNDICE

PALAVRAS DO AUTOR .............................................................................. 11CAPÍTULO I - ANOS SERENOS ................................................................. 13CAPÍTULO II - TENTATIVA FRUSTRADA.............................................. 19CAPÍTULO III - NO PAÇO REAL ............................................................... 29CAPÍTULO IV - INFORMAÇÕES PERTURBADORAS........................... 39CAPÍTULO V - MONTMORENCY ............................................................. 47CAPÍTULO VI - O ANTIGO MOSTEIRO .................................................. 59CAPÍTULO VII - RETORNO A PARIS ....................................................... 67CAPÍTULO VIII - O ENLACE ...................................................................... 77CAPÍTULO IX - VOLTA AO PASSADO .................................................... 87CAPÍTULO X - EM BUSCA DA ILUSÃO .................................................. 93CAPÍTULO XI - TOLEDO ........................................................................... 103CAPÍTULO XII - A CIGANA ..................................................................... 117CAPÍTULO XIII - O ACAMPAMENTO CIGANO ................................. 125CAPÍTULO XIV - A TABERNA ................................................................. 133CAPÍTULO XV - RAMÓN DE OVIEDO .................................................. 142CAPÍTULO XVI - O MOSTEIRO ............................................................... 148CAPÍTULO XVII - A INQUISIÇÃO ESPANHOLA ................................ 159CAPÍTULO XVIII - A MORTE DE MIGUEL DE ZAMORA ................. 166CAPÍTULO XIX - TOMADA DE DECISÃO ............................................ 175CAPÍTULO XX - UMA LUZ NAS TREVAS ............................................. 183CAPÍTULO XXI - NOVA VIDA ................................................................. 191CAPÍTULO XXII - CONFISSÃO DOLOROSA ........................................ 198CAPÍTULO XXIII - NOVAS DESCOBERTAS .......................................... 211CAPÍTULO XXIV - RENAN DE MONTMORENCY .............................. 222CAPÍTULO XXV - ENCONTRO INESPERADO ..................................... 232CAPÍTULO XXVI - A MENSAGEM .......................................................... 241CAPÍTULO XXVII - A FUGA ..................................................................... 251CAPÍTULO XXVIII - A CIDADE DOS MIL OLHOS .............................. 260CAPÍTULO XXIX - RODRIGO HERNANDEZ, DUQUE DE ALCALÁ ................................................................................. 270CAPÍTULO XXX - LIBERTAÇÃO ............................................................. 283

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CAPÍTULO XXXI - A TOMADA DE GRANADA .................................. 291CAPÍTULO XXXII - NO ALÉM-TÚMULO .............................................. 298CAPÍTULO XXXIII - INÍCIO DO RESGATE ........................................... 306CAPÍTULO XXXIV - MISSÃO SOCORRISTA ......................................... 313CAPÍTULO XXXV - O RENASCER DA ESPERANÇA .......................... 323CAPÍTULO XXXVI - EPÍLOGO ................................................................. 335

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PALAVRAS DO AUTOR

Queridos Irmãos,

Muita Paz!

É com imensa alegria que entregamos ao público mais esta obra.Mercê da infinita misericórdia do Mestre, e após ingentes esforços, muitas

dificuldades, mas com o coração sempre cheio de esperança e confiança no Pai, aqui estamos, concluída mais uma tarefa.

Por muitos meses, resgatamos imagens de um passado distante, esquecido no tempo, renovando as emoções.

Durante esse período, pudemos fazer uma análise meticulosa dos fatos, retirando lições que ficarão indelevelmente marcadas em nosso íntimo.

Embora carreie sofrimentos, por vivenciarmos novamente as situações conflitantes e os acontecimentos mais dramáticos, o retorno ao passado também nos traz íntima satisfação por ver o quanto já progredimos.

Ao planejar-se o renascimento, existe toda uma programação de vida, em que se aliam as necessidades do espírito reencarnante às condições que irá enfrentar durante a vida terrena, que serão sempre proporcionais às suas possibilidades, uma vez que Deus não dará um fardo maior do que se possa suportar.

Bastas vezes, contudo, já mergulhados na carne, olvidamos os compro-missos estabelecidos e deveres assumidos, para corrermos atrás de quimeras, fogos-fátuos, que nada representam para o espírito eterno.

Tentando ser feliz, iludidos e amesquinhados perante nós mesmos, afundamos no erro e na degradação, no vício e, muitas vezes, no crime.

Como filhos pródigos, retornamos um dia ao regaço do Pai, que nos recebe sempre de braços abertos e com muito amor.

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Esta história representa o caminho que percorremos “Em Busca da Ilusão”, os obstáculos que encontramos, os sofrimentos e as dores que experimentamos. Contudo, representa também a volta à razão e a busca do entendimento e da paz, conscientes dos próprios erros e da responsa-bilidade que pesa sobre nossos ombros pelo mal praticado contra o próximo e contra nós mesmos.

Muitos nomes de personagens e até de lugares foram substituídos para evitar que os componentes do grupo, que vivenciaram o drama aqui narrado - atualmente reencarnados -, possam prejudicar-se com lembranças funestas.

Todo o grupo de espíritos envolvidos nesta história se encontra a caminho da regeneração, lutando e trabalhando para o próprio aprimoramento, salvo raras exceções. Sob o estandarte do Consolador Prometido, em terras brasileiras, fugindo ao ambiente saturado de lembranças deletérias da Europa, onde habitaram por tanto tempo, reconquistam a paz da consciência no doce labor evangélico do exercício da caridade em sentido amplo, seja dedicando-se à beneficência, seja auxiliando ao próximo necessitado através da mediunidade gloriosa, com Jesus.

Aos antigos companheiros, ainda apegados às idéias de vingança, amargando a revolta e a inconformação, teremos que destinar nossas melhores energias com vistas à sua regeneração, porque, tendo sido nossas vítimas no passado, jamais seremos felizes sabendo-os desventurados.

Aos que porventura vierem a folhear estas páginas, gostaríamos que as experiências aqui descritas lhes possam ser de alguma utilidade, mostrando-lhes a necessidade de resignação perante as determinações divinas, da responsabilidade diante dos deveres assumidos e da renovação interior, como meios para a evolução do espírito imortal.

Unidos em prece, elevemos os corações ao querido Mestre Jesus, envolvendo a todos os companheiros de jornada evolutiva num grande amplexo, agradecidos ao Criador pelas dádivas que nos foram concedidas e rogando-Lhe possa sustentar-nos na luta redentora do aprimoramento íntimo e fortalecer-nos o ideal de servir, para que sejamos, realmente, aquele trabalhador digno do seu salário.

Jésus Gonçalves

Rolândia (PR), 19 de abril de 1994.

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CAPÍTULO I

ANOS SERENOS

O campo estendia-se a perder de vista. Era primavera e, tangidas pelo vento que soprava suave, as pequenas flores silvestres balou-çavam docemente como se acariciadas por mãos divinas.

O céu muito azul e sem nuvens desdobrava-se qual manto celeste sobre a Terra, e o sol cálido aquecia ternamente todas as coisas.

Hoje eu sei que foram anos felizes aqueles, quando nada parecia empanar o brilho do sol, a beleza do dia nascente, o afeto que nutríamos um pelo outro e a convivência fraterna e amiga.

Não obstante passarmos a maior parte do tempo sozinhos, porque nossos pais geralmente não estavam presentes, isso não nos incomodava.

Na verdade, não éramos irmãos consangüíneos. Caroline veio para nossa casa ainda bebê, quando sua mãe, minha tia, faleceu repentinamente. Seu pai, desesperado pela morte da esposa, a quem muito amava, um dia montou seu cavalo e foi para os campos de batalha, de lá não mais retornando, tudo fazendo crer que perecera em combate.

A infeliz criança ficara então completamente órfã com poucos meses de vida. Uma vez que os avós, por problemas de saúde, estavam impedidos de fazê-lo, meus pais assumiram a responsa-bilidade da tutela, como parentes mais próximos, dedicando-se à sobrinha com amor, conquanto a seu modo.

Muito envolvidos com a vida da Corte, raramente os víamos, entregues invariavelmente à ama, Annette, por quem nutríamos acendrado carinho e por quem nos sentíamos amados.

Quando o tempo permitia, passávamos muitas horas a brincar no parque, sob a copa de uma grande árvore centenária, em cujas raízes grossas e possantes Annette acomodava-se com um bordado, uma costura ou um conserto qualquer que tivesse para fazer.

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Era para ela que Caroline corria quando se machucava ou quando brigávamos por qualquer razão.

- Annette, Gaston aborrece-me. Não gosto dele! - reclamava em sua vozinha infantil, a chorar desconsolada.

E a ama, acolhendo-a em seu colo farto, afagava-lhe os louros e encaracolados cabelos com ternura, enquanto me recriminava com o doce olhar:

- Gaston, o que houve? Já és um rapazinho de sete anos e não é bonito de tua parte ficar brigando com uma pequena dama!

Sério, eu me aproximava contrito:- Nada fiz, Annette. Caroline queria brincar com meu cavalinho

de madeira e disse-lhe que o emprestaria logo que terminasse de ajeitá-lo, pois tem uma perna bamba, porém ela começou a chorar e correu para ti.

Annette então, embalando a pequena chorosa, aconselhava-a meigamente:

- Precisas ter mais paciência, “chérie”. Gaston estima-te muito e quer o teu bem. Não te agastes com ele sem motivo. Vai brincar! Logo teremos que voltar para o almoço. Faz-se necessário um banho, pois a mamãe chegou de viagem e deseja ver os filhinhos mais tarde.

E voltávamos às brincadeiras, felizes e despreocupados, já amigos novamente. Corríamos pelo campo em meio às flores que, como um tapete, alegravam com seu colorido a paisagem, em busca de belas borboletas que entrevíamos aqui e ali sem conseguir apanhá-las.

Voltávamos ao castelo cansados, esfomeados e alegres.Caroline contava então quatro anos de idade e estava no auge da

sua graça ingênua. Seus olhos eram dois pedaços do céu encravados num rosto de linhas suaves e perfeitas; a tez era clara, algo dourada pelos raios do sol, e seus cabelos encaracolados da cor do mel eram a minha paixão.

Ao longe, avistava-se o castelo de linhas sóbrias e majestosas, com um grande gramado em torno, e o jardim entremeado de ruas simetricamente delineadas, sendo que por uma delas, mais larga, transitavam as carruagens, após transporem o grande portão que dava acesso à propriedade.

No centro do jardim, via-se uma fonte recoberta de ladrilhos azuis, onde peixes ornamentais, belos e raros, nadavam tranqüilamente.

Nos fundos do castelo, do lado sul, existia um pomar que ia terminar, mais a oeste, num pequeno lago, onde cisnes deslizavam

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suavemente e onde permanecia sempre um pequeno barco ancorado.Às vezes ficávamos brincando nesse parque, localizado mais à

esquerda da entrada, ou no pomar a colher maçãs, uvas, pêssegos, dependendo da estação.

Mas a nossa maior alegria era correr pelo campo colhendo morangos silvestres. Levávamos uma pequena cesta, que Caroline fazia absoluta questão de carregar e que eu, condescendentemente, permitia, e ali íamos depositando as frutinhas colhidas. Depois, Annette, para evitar desentendimentos, passou a levar duas cestas que orgulhosamente portávamos, para contentar um e outro. Fa-zíamos então, nessas ocasiões, torneios para ver quem colhia mais morangos. Naturalmente, eu sempre saía vencedor por ser mais velho e mais ágil do que ela.

Caroline punha-se a chorar, descontente. E eu, generosamente, transferia para sua cesta parte da colheita que fizera, com ar infinitamente protetor, entre orgulhoso e satisfeito por ver, enfim, um sorriso a iluminar-lhe o lindo rosto.

Meu coração nesses momentos enchia-se de carinho por ela. Reconheço até que muitas vezes fi-la chorar para depois, bancando o protetor generoso, vê-la sorrir feliz e agradecida.

Ah! Nada poderia pagar esses momentos de terna felicidade que sentia então. Nem a alegria que me inundava por dentro ao perceber a confiança que depositava em mim e a segurança que sentia com minha presença.

Não raro, quando o tempo estava chuvoso e não podíamos brincar ao ar livre, fazíamos passeios pelo próprio castelo, imenso e cheio de salas, corredores e quartos que desconhecíamos, que eram verdadeiras expedições de reconhecimento e pesquisa.

Ao chegar no limiar de um quarto escuro perguntava-lhe, já saboreando o prazer de ouvir-lhe a resposta, que conhecia de antemão:

- Tens coragem de penetrar aí neste aposento?E ela, agarrando-me a mão fortemente, respondia, confiante:- Se estiveres comigo não terei medo de nada.Ou então, quando a noite escura prenunciava tempestade, e o

vento assobiava forte retorcendo as árvores do parque, quando os trovões e relâmpagos inundavam o céu, provocando pânico em Caroline, era suficiente minha presença para acalmá-la. Ao ouvir os primeiros estertores da tormenta que se avizinhava, preocupado, não

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obstante a tenra idade e considerando-me forte e corajoso, corria para junto dela. Penetrava em seus aposentos e encontrava-a, via de regra, encolhida no enorme leito a tremer de medo, os olhos arregalados de inaudito terror.

Ao ver-me, imenso alívio estampava-se em sua fisionomia; estendia os bracinhos e abraçava-me com ímpeto, e adormecíamos juntos. No dia seguinte Annette nos encontrava dormindo placidamente.

Sim! Eram tempos felizes. Foram anos de convivência perfeita, em que o entendimento e o carinho eram nossos companheiros constantes.

Quando me recordo daquela época perdida no tempo, é sempre com profundo amor que agradeço a Deus pela bênção que me proporcionou. Porque, em meio a minhas desditas de espírito rebelde e orgulhoso, de crimes hediondos, ações terríveis quão funestas e amarguras atrozes, esse período foi como um hiato benéfico para meu espírito endividado e sofredor. Como um bálsamo refrescante a aliviar minhas tensões e remorsos acerbos. Como uma brisa suave a refrigerar minha fronte escaldante, ou como um oásis de paz em meio ao deserto inclemente.

Nada me faltava. Eu tinha tudo o de que necessitava para viver e ser feliz. Sem ela, sem sua presença, faltar-me-ia tudo, pois era-me tão importante como o ar que respirava, o alimento de que me nutria ou a água que me aplacava a sede.

P P P

Após a refeição, Annette vestiu-nos com apuro. A senhora minha mãe não gostava de ver-nos mal arrumados. Portanto, era sempre com muito cuidado que a ama nos aprontava para essas entrevistas com mamãe, observando todos os detalhes e vendo se nada fora esquecido.

Quando terminou a arrumação, que executara circunspecta e grave, deu um passo atrás e fitou-nos com ar crítico.

Eu vestira uns calções largos de veludo azul e uma camisa de cassa branca; sobre a camisa, um gibão em tecido brocado, de cor púrpura. Completando a indumentária, meias justas revestindo-me as pernas finas e um lustroso sapato novo.

Caroline vestia um traje amplo, com saias superpostas, de cambraia rosa; as mangas eram longas e bufantes, e larga faixa de cetim marcava-lhe a cintura, praticamente inexistente, terminando num grande laço nas costas. Na cintura, um ramo de “muguets” completava

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a elegância da vestimenta. Os cabelos encaracolados estavam presos por uma fita no mesmo tom do vestido.

Annette colocou as mãos sobre o rosto com ar de aprovação, falando com carinho:

- Ambos estais lindos! A Senhora Condessa ficará orgulhosa dos filhos que tem.

E, ajeitando ainda uma vez o laço dos cabelos de Caroline, bateu palmas, apressando-nos:

- Vamos, vamos. A Condessa não gosta de esperar. Faltam cinco minutos para as quinze horas. Estamos no horário. Aviai-vos, crianças!

Atravessamos corredores e salas, parando defronte à porta dos aposentos de “ma mère”. Annette estacou para uma última vistoria em nossas toaletes e bateu levemente na porta.

Uma criada veio abrir. Entramos.Sempre que penetrava nos aposentos de minha mãe, prendia a

respiração, com assombro. Tudo ali dentro era luxuoso e de muito bom gosto. O enorme leito com dossel, as amplas cortinas esvoaçantes sob as outras de tecido pesado, os tapetes, os estofados em cetim adamascado e os objetos de decoração me fascinavam. Mas o que mais atraía a atenção eram os objetos de toucador sobre uma grande penteadeira, encimada por imenso espelho de cristal. Eram potes de cremes, loções para o corpo, essências raras, ânforas com óleos aromáticos e jóias, muitas jóias.

Mais discreto, continha meus arroubos examinando tudo com os olhos arregalados, porém Caroline corria para o toucador, obrigando Annette a acompanhá-la para que não tocasse em nada.

Mamãe era uma bela dama; ainda jovem, tinha pele perfeita e muito bem cuidada. Quando não estava dormindo, a maior parte do tempo era gasto com massagens, máscaras de beleza, tratamentos para manter a juventude, os cuidados com os bastos cabelos escuros, longos e sedosos, as mãos e os pés.

Cá por mim, não via necessidade de todas aquelas coisas, pois minha mãe era belíssima. Mas, como as mulheres são diferentes mesmo, aceitava tudo com ar divertido.

Acordara havia pouco e tomara sua primeira refeição do dia. Na verdade, o dia para “ma mère” era curto, pois, cansada de festas e noitadas, chegando sempre alta madrugada, dormia até às duas ou três horas da tarde.

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Quando nos viu chegar, recebeu-nos com um largo sorriso, estendendo os níveos braços que assomaram da roupa de dormir.

- Meus queridos! Como estão formosos! Não parecem dois anjos caídos do céu, Gérard? - perguntou, dirigindo-se para papai que deixara o vão de uma janela.

- Sim, naturalmente. São as crianças mais belas do mundo!Corremos para abraçá-lo.- Estais com ótimo aspecto. O que tendes feito o dia todo?- Passeado, “mon père”, brincado no parque, colhido frutas silvestres

e muitas coisas mais - respondi.Caroline pôs-se a tagarelar, querendo em pouco tempo contar tudo

o que acontecera.Mamãe acompanhava a cena com sorriso complacente.- Gérard, farão um belo casal, não achas? Parecem feitos um para

o outro!- O que é isso, mamãe? - quis saber Caroline, curiosa.- Quero dizer, minha querida, que quando cresceres casar-te-ás

com Gaston e serás Condessa de Vernon.- É verdade, papai? - inquiri, surpreso.- Sim, meu filho. Já está decidido que tu e Caroline tendes um

compromisso de matrimônio.- E isso é bom? - perguntou a pequena, na sua inocência.- Claro, querida. Não amas a Gaston? - perguntou a mãe.- Gosto muito de Gaston...- Então, serás sua noiva e vivereis sempre juntos.- Como a senhora e o papai?- Isso mesmo.- Ah! E quando será isso? Amanhã?- Não. Vai demorar alguns anos ainda. Sois ambos muito crianças

e precisais crescer.Sem entender muito bem o que significava aquele compromisso,

fiquei feliz porque compreendi que Caroline seria minha e que ninguém iria separá-la de mim.

Logo mamãe apresentou sinais de cansaço e despedimo-nos. Risos e tagarelices infantis davam-lhe dor de cabeça, por isso não ficávamos muito tempo em sua companhia.

Além do mais, ela precisava preparar-se para a recepção da noite e gastava muitas horas fazendo a sua toalete.

P P P