Em Busca de Cinderela - Colleen Hoover

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Muito bom livro...

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  • DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com oobjetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem comoo simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando pordinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

  • Obras da autora publicadas pela Galera Record:

    Srie Slammed

    MtricaPausa

    Essa garota

    Srie Hopeless

    Um caso perdidoSem esperana

    Em busca de Cinderela

  • TraduoPriscila Cato

    1 edio

    Rio de Janeiro | 2015

  • CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    H759bHoover, Colleen, 1979-Em busca de Cinderela [recurso eletrnico] / Colleen Hoover ; traduo Priscila Cato. - 1. ed. - Rio de

    Janeiro : Galera, 2015.recurso digital : il. Traduo de: Finding cinderellaFormato: ePUBRequisitos do sistema: Adobe Digital EditionsModo de acesso: World Wide WebISBN 978-85-01-10603-2 (recurso eletrnico) 1. Fico americana. 2. Livros eletrnicos. I. Cato, Priscila. II. Ttulo.

    15-24126CDD: 813

    CDU: 821.111(73)-3

    Ttulo original em ingls:

    Finding Cinderella

    Copyright 2013 by Colleen Hoover

    Copyright da edio em portugus 2015 by Editora Record Ltda.

    Publicado mediante acordo com Atria Books, um selo da Simon & Schuster, Inc.

    Adaptao de capa: Renata VidalDiagramao: Abreus System Ltda.

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, no todo ouem parte, atravs de quaisquer meios. Os direitos morais do autor foram assegurados.

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa.

    Direitos exclusivos de publicao em lngua portuguesa somente para o Brasil adquiridos pelaEDITORA RECORD LTDA.

    Rua Argentina, 171 Rio de Janeiro, RJ 20921-380 Tel.: 2585-2000,que se reserva a propriedade literria desta traduo.

    Produzido no Brasil

    ISBN 978-85-01-10603-2

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    Atendimento e venda direta ao leitor:[email protected] ou (21) 2585-2002.

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  • Um recado para meu fandom

    Tantas coisas incrveis aconteceram nos ltimos dois anos, todas graas a cada umdos meus leitores. De incio, o conto Em busca de Cinderela foi publicadogratuitamente na internet, como forma de agradecer a todos que transformaramminha vida no que ela hoje.

    Nunca poderia prever a reao que ele recebeu. O retorno foi uma coisa, maso fato de vocs todos terem se unido e implorado por uma verso impressa eraalgo pelo qual nunca esperei. L estavam vocs, com um e-book gratuito nasmos. J tinham lido a histria, mas ainda assim queriam uma cpia em papelpara decorar as prateleiras. Este o maior elogio que uma escritora pode receber:saber que suas palavras significam tanto para os leitores.

    Depois de meses de splicas, nunca estive to animada com o lanamento deum livro quanto estou com este aqui. Porque este livro no est nas prateleiraspor minha causa. Est nas prateleiras por causa de vocs.

    Dedico esta obra a todos os meus fs incrivelmente loucos, por seu apoio semfim e sem limites. Amo todos vocs!

  • Minha histria de Cinderela

    H dois anos, eu morava num trailer com meu marido e nossos trs filhos, e meutrabalho pagava U$9 por hora. Estava contente com o que tinha, mas no eraexatamente a vida que havia imaginado para minha famlia nem para mimmesma.

    Eu sonhava em ser escritora desde pequena, mas passei trinta e um anosdando desculpas para no fazer isso:

    No tenho tempo livre.No escrevo to bem.Nunca vo publicar o que eu escrever.Estou ocupada demais escrevendo desculpas para escrever um romance.

    Na realidade, eu s no estava indo atrs do meu sonho por achar que sonhos nopassavam disso... de sonhos. Eram intangveis. Irreais. Infantis.

    Sempre fui realista, nunca achava que o copo estava meio vazio nem meiocheio. Sou o tipo de pessoa que fica agradecida por simplesmente ter um copo.Era exatamente assim que eu enxergava minha vida h dois anos. Nunca mepermiti sentir ingratido ou querer mais do que tinha.

    Meu marido e eu viemos de famlias humildes e fizemos o nosso melhor parapagar as contas e conseguir financiar nossos estudos universitrios. Pegueiemprstimos estudantis, e ns dois trabalhvamos em tempo integral, alternandoos dias de folga para no ter que pagar creche. Eu me formei em servio social naTexas A&M University Commerce em dezembro de 2005, dois meses antes do

  • nascimento do nosso terceiro filho.Aps alguns anos nos mudando de uma casa alugada para outra, enquanto eu

    trabalhava como assistente social, meus pais nos ajudaram a comprar um trailerde pouco mais de 90m2 com trs quartos e dois banheiros. Eu me sentiaabenoada por ter trs filhos saudveis, um marido maravilhoso que me apoiava,alm de um teto sobre nossas cabeas.

    Por mais que eu estivesse feliz, sentia que faltava alguma coisa. Aquele sonhode infncia de escrever um livro no parava de ressurgir e eu continuavaignorando-o com mais desculpas.

    Ento, em outubro de 2011, quando vi um dos meus prprios filhos indoatrs de um dos seus sonhos, comecei a considerar a ideia de que talvez os sonhosfossem sim algo tangvel.

    Meu filho do meio, que tinha 8 anos na poca, queria fazer um teste para oteatro local. Fiquei felicssima com sua coragem, mas, quando ele realmenteconseguiu o papel, fui obrigada a enfrentar a realidade. Eu nunca seria capaz detrabalhar onze horas por dia e lev-lo para os ensaios durante cinco noites nasemana. Meu marido estava trabalhando como motorista de caminho em tempointegral na poca e s passava alguns dias por ms em casa, ento eu erabasicamente uma me solteira. No entanto, a felicidade dos meus filhos semprefoi minha prioridade, e eu no ia desapontar um deles. Tive a ajuda de umaamiga que o deixava no meu trabalho depois da escola para que pudssemos iraos ensaios dele enquanto minha me cuidava dos meus outros dois filhos.

    Nos dois meses seguintes, passei trs horas na plateia todas as noites assistindoaos ensaios. Ficava vendo meu filho no palco e me enchia de orgulho ao v-loseguir sua paixo ainda to novo. Aqueles momentos me fizeram pensar nasminhas prprias paixes de infncia e em como eu sonhava em me tornarescritora. Quando era mais nova, eu escrevia durante todo momento livre quetinha, em qualquer superfcie que encontrasse. Minha me lia entusiasmada ashistrias do Mystery Bob (Bob Misterioso) que eu escrevia com giz de cera emfolhas de papel grampeadas. Continuei escrevendo por lazer durante o ensinomdio e at comecei a estudar jornalismo no meu primeiro ano na universidade.No entanto, depois que me casei com minha paixo de colgio e tive nossoprimeiro filho aos 20 anos, meu sonho comeou a esvaecer medida que asresponsabilidades da vida real passaram a falar mais alto. Por mais que eu

  • quisesse ser escritora, parecia algo impossvel. Em vez disso, passei dez anosduvidando de mim mesma, insegura, deixando uma responsabilidade aps aoutra servir de desculpa.

    Enquanto estava sentada na plateia dos ensaios do meu filho, vi nele algo queestava adormecido em mim havia muito tempo: a paixo criativa.

    Por mais que tenha sido um momento extraordinrio ver meu filho indo atrsdo prprio sonho, aquilo tambm me acordou bruscamente. Eu estava fazendoum desservio aos meus filhos ao dar o exemplo de que aceitvel se colocar emltimo lugar... deixar os prprios desejos em segundo plano enquanto cuida detodas as outras pessoas. Naquela noite, prometi a mim mesma que recomearia aescrever, mesmo que fosse apenas por prazer. Aps perceber isso, passei a meinspirar e me motivar com outras coisas.

    Uma das maiores motivaes que tive foi um show dos Avett Brothers ao qualassisti com minha irm. Foi uma das melhores experincias da minha vida, noporque estvamos na primeira fila, mas por causa de alguns segundos memorveisda msica Head Full of Doubt, Road Full of Promise (Mente cheia de dvidas,caminho cheio de promessas). J havia escutado aquela msica muitas vezes,mas nunca tinha captado o significado da letra at aquele momento.

    Decida o que quer ser, e simplesmente seja.A frase era simples e direta, mas me marcou imensamente. As palavras

    continuaram se repetindo na minha cabea por vrios dias at que acabeicompreendendo: se eu queria ser escritora, no havia nenhum motivo para queeu no pudesse simplesmente ser. Peguei meu laptop durante um dos ensaios dapea e escrevi a primeira frase de Mtrica:

    Kel e eu guardamos as duas ltimas caixas no caminho de mudana da U-Haul.

    Foi a primeira frase do livro que mudaria minha vida.Naquela poca, eu estava escrevendo-o s para mim mesma, mas minha me

    sempre foi uma grande entusiasta dos meus textos. Afinal de contas, ela aindaguardava as fascinantes histrias de Mystery Bob que eu tinha escrito com gizde cera. Apesar de saber que sua opinio no seria imparcial, deixei que ela lesseo que eu tinha acabado de escrever. Ela adorou, assim como qualquer boa me, ecomeou a me pentelhar querendo mais captulos.

    Alm dela, deixei minha chefe e minhas duas irms lerem os primeiros

  • captulos, e elas tambm pediram mais. O fato de elas quererem que a histriacontinuasse me inspirou a seguir em frente. Gostava tanto que escrevia sempreque tinha oportunidade. Colocava as crianas para dormir, escrevia at bemdepois da meia-noite e na manh seguinte tinha que estar no trabalho s 7 horas.No fim de dezembro, eu havia perdido tantas horas de sono para escrever que jtinha um manuscrito completo. Tambm cuidava de trs filhos, que, quelaaltura, haviam se tornado grandes adeptos do micro-ondas.

    Quando cheguei naquela ltima palavra, Fim, senti como se tivesse realizadoo meu sonho de infncia, mesmo sem ter um livro de verdade, uma editora e nemmesmo leitores.

    Depois que a notcia de que eu tinha escrito um livro se espalhou, amigos efamiliares comearam a me pedir para ler. Eu no tinha dinheiro para public-lo,ento pesquisei e descobri o programa Kindle Direct Publishing da Amazon.Aps dias de mais pesquisas tentando aprender tudo o que podia sobre como seautopublicar, fiz o upload do meu livro no site da Amazon.

    Eu no tinha nenhuma expectativa. Nem havia tentado publicar o livro damaneira tradicional, pois na minha cabea eu j tinha realizado meu sonho deescrever o livro. No achava que haveria chance alguma de pessoas que no meconheciam lerem aquilo.

    Aconteceu o oposto. Centenas de pessoas, totalmente desconhecidas,comearam a baixar meu livro. Comecei a receber pedidos de continuao dahistria e, como gostei tanto de escrever o primeiro, fiquei muito animada emfazer uma sequncia. Publiquei Pausa em fevereiro de 2012. Logo depois, passeia receber royalties pelos direitos autorais. Tudo estava acontecendo to rpidoque me agarrei a cada momento, achando que tudo acabaria da noite para o dia.Como as vendas no eram garantidas, eu me recusei a aceitar a possibilidade deque as coisas poderiam melhorar dali em diante. Ficava esperando que oentusiasmo, as resenhas positivas e os pedidos de mais livros chegassem ao fim,pois aquilo tudo era bom demais para ser verdade.

    Mas no chegou ao fim. A cada dia surgiam novos leitores at que os livrosacabaram chegando lista de mais vendidos do New York Times. As editorasperceberam o rpido sucesso dos dois livros e, aps contratar um agente literrio,aceitei uma oferta da Atria Books para public-los.

    Minha vida ficou to movimentada que precisei largar meu emprego e passar

  • a escrever em tempo integral. Fiquei preocupada achando que talvez no fosseganhar o suficiente para sustentar minha famlia, mas, com o lanamento do meuterceiro livro, Um caso perdido (Hopeless), em dezembro de 2012, finalmente meconvenci de que essa se tornara minha nova carreira. Um caso perdido chegou aoprimeiro lugar da lista de mais vendidos do New York Times, foi o e-bookautopublicado mais vendido de 2013 e o dcimo sexto e-book mais vendido de2013.

    Ns nos mudamos do nosso trailer h menos de dez meses e agora moramosnuma casa beira de um lago que nunca pensamos que poderia ser nossa. Todasas manhs acordo sem acreditar que essa a nossa vida. Conseguimos pagar todasas nossas dvidas e comeamos a juntar dinheiro para financiar as universidadesde nossos meninos. Tambm fizemos doaes para vrias instituies de caridadecomo forma de retribuir todas as coisas incrveis que tm acontecido conosco.

    Nos ltimos dois anos, deixei de ser uma me que se recusava a acreditar queuma fantasia de infncia poderia virar realidade para me tornar autora de cincolivros que estiveram na lista de mais vendidos do New York Times, um contogratuito e mais dois romances que em breve sero publicados.

    Cada um desses livros uma prova tangvel de que, se voc tiver coragempara torn-los realidade, sonhos so bastante reais e alcanveis. Tudo o que seprecisa fazer encontrar o que o inspira, que pode ser algo to simples quantouma letra de msica ou o sorriso de uma criana no palco. E depois voc ter defazer um grande esforo que vai exigir valentia, que pode ser to intimidadorquanto se sentar na frente de uma pgina em branco na tela do computador, semdesistir antes de alcanar a linha de chegada.

    Apesar de todas as experincias maravilhosas e conquistas que vieram depois,continuo considerando o meu momento de maior orgulho a primeira vez em quedigitei a palavra Fim.

    Pois aquele foi o meu comeo.Colleen Hoover, 2013

  • Prlogo

    Voc fez uma tatuagem? a terceira vez que fao a mesma pergunta para Holder, mas ainda no

    consigo acreditar. Ele no de fazer essas coisas. Especialmente se no fui eu queo incentivei.

    Caramba, Daniel resmunga ele, do outro lado da linha. Para comisso. E tambm para de me perguntar o motivo.

    que estranho tatuar essa palavra. Hopeless. algo bem depressivo. Masestou impressionado mesmo assim.

    Tenho que ir. Ligo no final da semana.Suspiro ao telefone. Isso um saco, cara. Depois que voc foi embora, a nica coisa boa no

    colgio o quinto tempo. O que tem no quinto tempo? pergunta Holder. Nada. Eles se esqueceram de encaixar uma aula para mim, ento passo

    uma hora escondido no armrio dos zeladores todos os dias.Holder ri. Percebo que a primeira vez que escuto a risada dele desde que

    Les morreu, dois meses atrs. Talvez se mudar para Austin faa bem a ele.O sinal toca. Seguro o telefone com o ombro, dobro o casaco e o jogo no cho

    do armrio dos zeladores. Apago a luz. Depois nos falamos. Hora do cochilo. At mais diz Holder.Encerro a ligao, programo o alarme para tocar em cinquenta minutos e

    coloco o telefone no balco. Eu me abaixo e me deito no cho. Fecho os olhos e

  • penso no quanto esse ano est sendo pssimo. Odeio o fato de Holder estarpassando por essas coisas sem que eu possa fazer nada para ajudar. Nunca tiveque lidar com a morte de alguma pessoa prxima, muito menos de algum toprximo quanto uma de minhas irms. Ainda por cima uma irm gmea.

    Nem me arrisco a dar conselhos, mas acho que ele gosta disso. Acho queprecisa apenas que eu continue me comportando normalmente, pois s Deus sabeo quanto todo mundo desse maldito colgio fica sem graa perto dele. Se aspessoas daqui no fossem to idiotas, talvez ele no tivesse se mudado e as aulasno seriam to ruins.

    Mas so um saco. Todo mundo nesse colgio um saco e eu odeio todos.Odeio todo mundo, exceto Holder, e por causa deles que ele no est maisaqui.

    Estico as pernas, cruzo os tornozelos e dobro o brao por cima dos olhos. Pelomenos tenho o quinto tempo.

    O quinto tempo legal.

    ***

    Meus olhos se abrem bruscamente e solto um gemido ao sentir algo cair em cimade mim. Escuto o barulho da porta se fechando.

    Que merda essa?Ponho as mos em cima do que quer que tenha acabado de cair em mim e

    comeo a rolar a coisa para o lado, mas minha mo encosta numa cabea comcabelo macio.

    uma pessoa?Uma garota?Uma garota acabou de cair em cima de mim. No armrio dos zeladores. E ela

    est chorando. Quem diabos voc? Fao a pergunta com cuidado.A garota, quem quer que seja ela, tenta me empurrar para longe, mas ns dois

    parecemos nos mover na mesma direo. Eu me levanto e tento rol-la para ooutro lado, mas acabamos batendo nossas cabeas.

    Merda.Caio para trs no meu travesseiro improvisado e ponho a mo na testa.

  • Desculpe murmuro.Nenhum de ns se mexe dessa vez. Consigo escut-la fungando, se segurando

    para no chorar. No consigo ver nada na minha frente porque a luz ainda estapagada, mas de repente percebo que no estou mais me importando com o fatode ela ainda estar em cima de mim porque seu cheiro maravilhoso.

    Acho que estou perdida diz ela. Pensei que estava entrando nobanheiro.

    Balano a cabea, apesar de saber que ela no consegue enxergar o que estoufazendo.

    Aqui no um banheiro. Mas por que est chorando? Voc se machucouquando caiu?

    Sinto o corpo dela inteiro suspirar em cima de mim e, apesar de eu no fazerideia de quem ela nem de sua aparncia, d para sentir sua tristeza, o quetambm me deixa um pouco triste. No sei direito como acontece, mas meusbraos a cercam e ela encosta a bochecha no meu peito. Em apenas cincosegundos passamos de uma situao extremamente constrangedora para umaagradvel, como se fizssemos isso o tempo inteiro.

    estranho, normal, sensual, triste e diferente, e no quero solt-la. Tem algode empolgante nisso, como se estivssemos numa espcie de conto de fadas.Como se ela fosse a Sininho e eu, o Peter Pan.

    No, espera a. No quero ser o Peter Pan.Talvez ela possa ser a Cinderela e eu, o Prncipe Encantado., gosto mais dessa opo. A Cinderela gostosa mesmo pobre, suada e se

    matando de trabalhar na frente do fogo. Ela tambm fica bem bonita com ovestido de baile. Alm disso, nos conhecemos num armrio cheio de vassouras.Bem adequado.

    Sinto que ela est levando a mo at o rosto, muito provavelmente paraenxugar uma lgrima.

    Odeio eles afirma, baixinho. Quem? Todo mundo. Odeio todo mundo.Fecho os olhos, ergo a mo e a passo pelo cabelo dela, fazendo o que posso

    para consol-la. Finalmente algum que entende isso. No sei por que ela odeiatodo mundo, mas tenho a impresso de que seu motivo vlido.

  • Tambm odeio todo mundo, Cinderela.Ela ri baixinho, talvez por no ter entendido por que a chamei de Cinderela.

    Pelo menos ela riu e no est mais chorando. A risada dela contagiante, e tentopensar em alguma coisa que a faa rir mais uma vez. Estou tentando pensar emalgo engraado para dizer quando ela afasta a cabea do meu peito e eu a sinto seaproximar mais de mim. Antes que eu possa perceber, sinto lbios tocarem osmeus e fico sem saber se devo empurr-la ou rolar para cima dela. Comeo aerguer as mos na direo de seu rosto, mas ela se afasta com a mesma rapidezcom que me beijou.

    Desculpe diz ela. Tenho que ir. Ela pe as palmas das mos nocho e comea a se levantar, mas agarro o rosto dela e a puxo de volta para pertode mim.

    No digo.Puxo sua boca para perto da minha e a beijo. Mantenho nossos lbios

    pressionados com firmeza enquanto aproximo o corpo dela e coloco sua cabeadeitada no meu casaco. Seu hlito tem cheiro de balas de frutas, o que me dvontade de continuar beijando-a at conseguir identificar todos os sabores.

    A mo dela encosta no meu brao e o aperta com fora no instante em queminha lngua entra na sua boca. Sinto gosto de morango na ponta da lngua dela.

    Ela mantm a mo no meu brao, movendo-a de vez em quando para aminha nuca, e logo em seguida voltando para o brao. Continuo com a mo emsua cintura e no toco nenhuma outra parte de seu corpo. A nica coisa queexploramos a boca um do outro. Ns nos beijamos e no h som algum fora odo nosso beijo. Ficamos nos beijando at o alarme do meu telefone tocar. Apesardo barulho, no interrompemos o beijo. Nem hesitamos. Continuamos nosbeijando por mais um minuto inteiro, at o sinal soar no corredor l fora e osalunos comearem repentinamente a bater as portas de seus armrios e aconversar, e todo o nosso momento juntos roubado por todos os fatoresexternos e inconvenientes do colgio.

    Paro de movimentar meus lbios, mas os mantenho encostados nos dela, edepois me afasto devagar.

    Tenho que ir para a aula sussurra ela.Balano a cabea, apesar de ela no conseguir me enxergar. Eu tambm respondo.

  • Ela comea a sair de debaixo de mim. Aps rolar para ficar de costas, sinto-ase aproximar. Sua boca encontra mais uma vez a minha bem depressa e, emseguida, ela se afasta e se levanta. No instante em que ela abre a porta, a luz docorredor inunda o armrio e eu aperto os olhos, jogando o brao por cima dorosto.

    Escuto a porta se fechar quando ela sai e, depois de me ajustar claridade, aluz desaparece mais uma vez.

    Suspiro pesadamente. Continuo no cho at me recuperar da forma comomeu corpo reagiu a ela. No sei quem diabos ela nem por que veio parar aqui,mas espero mesmo que ela volte. Preciso de muito mais disso.

    ***

    Ela no apareceu no dia seguinte. Nem no dia depois desse. Na verdade, hoje fazuma semana que ela literalmente caiu nos meus braos, e eu me convenci de quetalvez aquilo tudo no tenha passado de um sonho. Fiquei vendo filmes dezumbis com Bolota durante boa parte da noite anterior, mas, mesmo tendodormido apenas duas horas, sei que no teria sido capaz de imaginar aquilo.Minha imaginao no to divertida assim.

    Quer ela volte ou no, continuo sem ter aula no quinto tempo e, enquantoningum reclamar, vou continuar me escondendo aqui. Na noite passada acabeidormindo muito, ento no estou cansado. No instante em que pego o celularpara enviar uma mensagem a Holder, a porta do armrio comea a se abrir.Escuto-a sussurrar:

    Voc est a, menino?Meu corao comea a bater acelerado no mesmo instante, e no tenho

    certeza se porque ela voltou ou porque a luz est acesa, mas no sei se querover o rosto dela quando a porta se abrir.

    Estou aqui digo.A porta mal se abriu. Ela pe a mo para dentro do armrio e tateia a parede

    at encontrar o interruptor e o desligar. A porta se abre, ela entra no armrio efecha a porta depressa.

    Posso me esconder aqui com voc? pergunta ela.Sua voz est um pouco diferente da ltima vez. Parece mais feliz.

  • Hoje voc no est chorando digo.Sinto-a se aproximar de mim. Ela roa na minha perna e percebe que estou

    sentado no balco, ento tateia a rea ao meu redor at encontrar um lugar vazio.Ela se ergue e se senta ao meu lado.

    Hoje no estou triste diz ela, dessa vez com a voz bem mais perto demim.

    Que bom. Ficamos em silncio por vrios segundos, mas acaba sendolegal.

    No sei por que ela voltou nem por que demorou uma semana, mas fico felizpor ela estar aqui.

    Por que voc estava aqui dentro semana passada? pergunta ela. E porque est aqui agora?

    Estou com um buraco no horrio. No encaixaram nenhuma aula paramim no quinto tempo, ento fico escondido, na esperana de que ningum daadministrao perceba.

    Ela ri. Que esperto. Pois .Ficamos em silncio de novo por cerca de um minuto. Nossas mos esto

    segurando a beirada do balco e, toda vez que ela balana as pernas, seus dedosencostam de leve nos meus. Depois de um tempo, eu acabo pegando a mo dela ea colocando no meu colo. Parece estranho agarrar a mo dela desse jeito, mas nasemana passada ns dois passamos uns quinze minutos nos agarrando, ento, naverdade, segurar a mo dela recuar um passo.

    Ela entrelaa os dedos nos meus e nossas palmas se encontram. Em seguida,dobro os dedos por cima dos dela.

    Isso gostoso diz ela. Nunca tinha segurado a mo de ningum.Fico paralisado.Quantos anos essa garota tem, afinal? Voc no est no ensino fundamental, est?Ela ri. Meu Deus, no. s que nunca segurei a mo de ningum. Os garotos

    com quem fiquei parecem se esquecer de fazer isso. Mas legal. Gostei. Pois concordo. legal.

  • Espera diz ela. Voc no est no ensino fundamental, est? No. Ainda no digo.Ela balana a perna para o lado e me d um chute, em seguida ns dois rimos. Isso meio estranho, no ? pergunta ela. Seja mais especfica. Muitas coisas podem ser consideradas estranhas,

    ento no sei do que est falando.Percebo que ela d de ombros. No sei. Isso aqui. A gente. A gente se beijar, conversar e ficar de mos

    dadas sem nem saber como somos fisicamente. Eu sou muito gato afirmo.Ela ri. Estou falando srio. Se me visse agora, voc ficaria de joelhos, imploraria

    para ser minha namorada e ficaria me exibindo pelo colgio inteiro. Muito improvvel diz ela. Eu no namoro ningum. Namorar uma

    coisa superestimada. Se voc no fica de mos dadas com ningum nem namora, o que que

    voc faz?Ela suspira. Praticamente todo o resto. Tenho a maior fama, sabe. Na verdade,

    possvel que a gente j tenha at transado, s no percebemos isso ainda. Impossvel. Voc se lembraria de mim.Ela d outra risada e, por mais que eu esteja me divertindo com ela, seu riso

    me d vontade de arrast-la at o cho junto comigo e beij-la sem parar. Voc mesmo um gato? pergunta ela, ceticamente. Muito gato. Deixa eu adivinhar. Cabelo escuro, olhos castanhos, abdmen

    superdefinido, dentes brancos, estilo Abercrombie & Fitch. Quase digo. Cabelo castanho-claro, acertou os olhos, o abdmen e os

    dentes, mas prefiro o estilo American Eagle Outfitters. Impressionante comenta ela. Minha vez. Cabelo louro e volumoso, grandes olhos azuis, um vestidinho

    branco e charmoso com um chapu combinando, pele azul e meio metro dealtura.

    Ela ri bem alto.

  • Voc tem fetiche pela Smurfette? No custa sonhar.Ela ainda est rindo, e o som da sua risada faz o meu corao doer. Di

    porque o que eu mais quero saber quem essa garota, mas tenho noo de que,depois que eu descobrir, provavelmente no vou mais querer ficar com ela tantoquanto quero agora.

    Ela inspira depois de parar de rir e o armrio fica silencioso. To silenciosoque quase constrangedor.

    No vou aparecer aqui de novo depois de hoje confessa, baixinho.Aperto a mo dela, surpreso com a tristeza que sinto com essa confisso. Vou me mudar. No agora, mas em breve. No vero. S acho que seria

    bobagem voltar aqui, pois vamos acabar acendendo a luz ou ento nos distraindoe dizendo nossos nomes e acho que prefiro no saber quem voc .

    Passo o dedo por sua mo. Ento por que veio aqui hoje?Ela suspira com delicadeza. Queria agradecer voc.Dou uma risada baixinha. Pelo qu? Por beij-la? Foi s isso que eu fiz. diz ela em tom neutro. Isso mesmo. Por ter me beijado. Por s ter

    me beijado. Sabe h quanto tempo um garoto no me beija e s? Depois que fuiembora na semana passada, tentei lembrar, mas no consegui. Toda vez que umgaroto me beija, ele sempre est com tanta pressa para chegar no que vem depoisdos beijos que acho que ningum nunca tinha me dado um beijo de verdade,sincero.

    Balano a cabea. Isso muito triste digo. Mas no fique pensando to bem assim de

    mim. Sou bastante conhecido por querer passar logo dessa parte tambm. S quesemana passada no tive nenhuma pressa porque voc beija bem demais.

    Pois responde ela, confiante. Eu sei. Imagina como deve ser fazeramor comigo.

    Engulo em seco. V por mim, j imaginei. Estou imaginando isso h sete dias.A perna dela para de se balanar ao meu lado. No sei se a deixei

  • constrangida com esse comentrio. Sabe o que mais triste? pergunta ela. Ningum nunca fez amor

    comigo.Essa conversa est tomando um rumo estranho. J d para perceber. Voc nova. Tem muito tempo pra isso. Ser virgem algo que d teso,

    ento no precisa se preocupar.Ela ri, mas dessa vez uma risada triste.Estranho como eu j consigo distinguir as diferentes risadas dela. No sou nada virgem explica ela. por isso que triste. Tenho

    muita experincia com sexo, mas quando olho pra trs... nunca amei nenhum dosgarotos. E nenhum deles me amou. s vezes me pergunto se fazer sexo comalgum que amamos mesmo diferente. Se melhor.

    Penso na pergunta e percebo que no sei responder. Tambm nunca ameiningum.

    Boa pergunta reconheo. meio triste, parece que ns dois jtransamos, vrias vezes, pelo jeito, mas no amamos nenhuma das pessoas comquem fizemos isso. Diz muito sobre quem somos, no acha?

    Pois responde ela, baixinho. Diz muito mesmo. uma tristeverdade.

    Ficamos em silncio por um tempo e continuamos de mos dadas. Noconsigo parar de pensar que ningum nunca segurou a mo dela. Fico meperguntando se cheguei a segurar a mo das garotas com quem transei. No quetenham sido milhares, mas foi o suficiente para que eu devesse me lembrar desegurar a mo de pelo menos uma delas.

    Talvez eu seja um desses garotos admito, envergonhado. No sei sealguma vez j segurei a mo de uma garota.

    Voc est segurando a minha.Fao que sim com a cabea lentamente. Estou mesmo.Mais alguns segundos de silncio se passam antes que ela volte a falar. E se eu sair daqui a quarenta e cinco minutos e nunca mais segurar a mo

    de ningum? E se eu continuar a viver como estou vivendo agora? E se os garotoscontinuarem a no me dar valor e eu no fizer nada para mudar isso e transarvrias vezes, mas sem saber o que fazer amor?

  • s no fazer isso. Encontre um garoto legal, fique s com ele e faa amortodas as noites.

    Ela solta um gemido. Isso me deixa apavorada. Por mais que eu tenha curiosidade para saber a

    diferena entre fazer amor e transar... a minha opinio sobre namoros tornaimpossvel eu descobrir isso.

    Fico pensando no comentrio dela por um tempinho. estranho, pois elameio que parece uma verso feminina de mim. No sei se sou to contra namorosquanto ela, mas bem verdade que nunca disse para uma garota que a amava eespero que leve bastante tempo at que isso acontea.

    No vai mesmo voltar mais aqui? pergunto. No vou mesmo voltar aqui confirma ela.Solto sua mo, me impulsiono com as palmas da mo e salto do balco. Mudo

    de posio, paro na frente dela e ponho as mos ao lado de seu corpo. Vamos resolver o nosso dilema logo.Ela inclina-se para trs. Que dilema?Movo as mos e as coloco nos quadris dela, aproximando-a de mim. Temos quarenta e cinco minutos para resolver isso. Tenho certeza de que

    consigo fazer amor com voc em quarenta e cinco minutos. Podemos ver como e se vale a pena assumir um namoro no futuro. Assim, quando voc sair daqui,no vai mais precisar se preocupar em no saber como fazer amor.

    Ela ri de nervoso e se inclina na minha direo mais uma vez. Como d para fazer amor com algum por quem no se est apaixonado?Eu me inclino para a frente at minha boca ficar perto do ouvido dela. Ns fingimos.Escuto-a arfar. Ela vira o rosto um pouco na direo do meu e sinto seus

    lbios roarem na minha bochecha. E se ns dois formos pssimos atores? sussurra ela.Fecho os olhos, pois quase no consigo assimilar que talvez eu v fazer amor

    com essa garota em questo de minutos. Voc devia fazer um teste de atuao pra eu avaliar diz ela. Se me

    convencer, talvez eu aceite essa sua ideia maluca. Fechado.

  • Dou um passo para trs, tiro a camisa e a jogo no cho. Pego o casaco nobalco e o desdobro, depois o jogo no cho tambm. Eu me viro de volta para obalco e a levanto. Ela se segura em mim, enterrando a cabea em meu pescoo.

    Onde est sua camisa? pergunta ela, passando as mos pelo meu ombro.Eu a deito no cho e me acomodo ao seu lado, aproximando-a de mim. Voc est deitada nela respondo. Ah. Que gentil da sua parte.Levo a mo at a bochecha dela. o que as pessoas fazem quando esto apaixonadas.Sinto o sorriso dela. E ns estamos muito apaixonados? Completamente digo. Por qu? Por que me ama tanto? Por causa da sua risada respondo na mesma hora, sem saber ao certo se

    estou inventando ou no. Amo o seu senso de humor. Tambm amo a maneiracomo voc coloca o cabelo para trs da orelha enquanto est lendo. E amo o fatode voc odiar falar ao telefone quase tanto quanto eu. Amo muito os bilhetinhosque voc deixa pra mim, com sua letra linda. E amo o fato de voc gostar tantodo meu cachorro, porque ele adora voc. Tambm amo tomar banho com voc.Nossos banhos so sempre divertidos.

    Deslizo a mo de sua bochecha at a nuca. Aproximo minha boca e encostomeus lbios nos dela.

    Uau diz, encostada na minha boca. Voc muito convincente.Sorrio e me afasto. No saia do personagem brinco. Agora sua vez. O que voc ama

    em mim? Amo muito o seu cachorro. Ele um cachorro maravilhoso. Tambm amo

    quando voc abre as portas pra mim, embora eu devesse preferir abri-las sozinha.Amo o fato de voc no fingir que gosta de filmes antigos em preto e brancocomo todo mundo, pois eles me deixam entediada pra cacete. Tambm amoquando estou na sua casa e voc rouba beijos toda vez que seus pais se virampara o outro lado. Mas o que mais gosto quando pego voc no flagra olhandopara mim. Adoro quando voc no desvia o olhar e simplesmente continua meencarando, como se no sentisse vergonha de no conseguir parar de olhar para

  • mim. tudo o que quer fazer na vida, porque acha que sou a coisa mais incrvelque voc j viu. Amo o quanto voc me ama.

    Voc tem toda a razo sussurro. Amo ficar olhando para voc.Beijo sua boca e depois vou beijando sua bochecha e sua mandbula.

    Pressiono os lbios na sua orelha e, apesar de eu saber que estamos fingindo,minha boca fica seca quando penso nas palavras que meus lbios esto prestes adizer. Hesito, quase desistindo. S que uma parte ainda maior de mim quermesmo dizer. Uma parte enorme de mim gostaria que eu estivesse sendo sincero,e uma pequena parte acha que eu seria realmente capaz de dizer isso comsinceridade.

    Passo as mos pelo cabelo dela. Eu amo voc sussurro.Ela inspira fundo. Meu corao est martelando no peito, e estou em silncio,

    esperando a reao dela. No fao ideia do que vai acontecer em seguida. Mas,pensando bem, ela tambm no.

    Ela tira as mos dos meus ombros e as leva lentamente at meu pescoo.Inclina a cabea at sua boca encostar no meu ouvido.

    Amo voc mais ainda sussurra ela.Sinto o sorriso em seus lbios e me pergunto se nos meus lbios tambm h

    um sorriso. No sei por que de repente comecei a curtir tanto isso, mas assimque me sinto.

    Voc to linda murmuro, movendo meus lbios para mais perto dasua boca. To, to linda. E todos esses caras que no deram valor a voc so osmaiores idiotas.

    Ela diminui o espao entre nossas bocas e eu a beijo, mas dessa vez nossobeijo parece muito mais ntimo. Por um breve instante, acredito de verdade queamo todas essas coisas nela e que ela realmente ama todas essas coisas em mim.Estamos nos beijando, nos tocando e tirando as roupas que ainda restam comtanta pressa que parece que estamos com tempo contado.

    E acho que tecnicamente estamos mesmo.Tiro a carteira do bolso da cala, pego uma camisinha e depois volto a me

    acomodar em cima dela. Ainda d tempo de voc mudar de ideia sussurro, torcendo para que ela

    no mude.

  • Voc tambm.Eu rio.Ela ri.Em seguida, ficamos quietos e passamos o resto da hora provando exatamente

    o quanto nos amamos.

    ***

    Agora estou de joelhos, juntando nossas roupas em silncio. Aps vestir minhacamisa, eu a puxo para cima e a ajudo a vestir a blusa. Eu me levanto, coloco acala e a ajudo a se levantar. Apoio o queixo no topo da cabea dela e a aproximode mim, percebendo que nos encaixamos perfeitamente.

    Eu bem poderia acender a luz antes de voc ir embora digo. No estcuriosa para ver o rosto do garoto pelo qual est to apaixonada?

    Ela ri, balanando a cabea que est apoiada no meu peito. Isso estragaria tudo. Suas palavras saem abafadas por causa da minha

    camisa, ento ela afasta a cabea do meu peito e inclina o rosto na direo domeu. No vamos estragar isso. Se descobrirmos quem somos, vamos acabarencontrando alguma coisa de que no gostamos no outro. Talvez muitas coisas.Agora est tudo perfeito. Podemos guardar essa lembrana perfeita do momentoem que amamos algum.

    Eu dou outro beijo nela, mas no um muito demorado, pois o sinal toca. Elano solta minha cintura. Pressiona a cabea em meu peito novamente e me apertacom mais fora.

    Preciso ir diz.Fecho os olhos e balano a cabea, concordando. Eu sei.Fico surpreso com o quanto no quero que ela v, porque sei que nunca mais

    vou v-la de novo. Quase imploro para ela ficar, mas tambm sei que ela temrazo. Tudo s parece perfeito porque estamos fingindo que perfeito.

    Ela comea a se afastar de mim, ento levo as mos at as bochechas delauma ltima vez.

    Amo voc, linda. Fique me esperando no final da aula, est bem? No nossolugar de sempre.

  • Voc sabe que vou estar l diz ela. E tambm amo voc. Ela ficanas pontas do p e pressiona os lbios nos meus, com fora, desespero e tristeza.

    Ela se afasta e vai at a sada. Assim que comea a abri-la, eu a alcanodepressa e fecho a porta com uma das mos. Pressiono o peito nas suas costas elevo a boca at seu ouvido.

    Queria que isso pudesse ser verdade sussurro.Coloco a mo na maaneta para gir-la, em seguida viro a cabea enquanto

    ela sai.Suspiro e passo as mos pelo cabelo. Acho que preciso de alguns minutos at

    conseguir sair daqui. No sei se j quero esquecer o cheiro dela. Na verdade, ficoparado no escuro, me esforando o mximo possvel para guardar tudo sobre elana minha memria, pois sei que esse o nico lugar em que vou encontr-lanovamente.

  • Captulo Um

    UM ANO DEPOIS

    Meu Deus! digo, frustrado. Fique calma. Ligo o carro assim que Valentra e bate a porta com raiva, sentando-se no banco.

    Logo em seguida, a quantidade avassaladora de perfume que ela colocoucomea a me sufocar. Abro a janela, mas s um pouco para que ela no penseque a estou insultando. Ela sabe o quanto eu no gosto de perfume e que gostomenos ainda quando as garotas parecem tomar banho com ele, mas pelo jeito elano se importa com a minha opinio, pois continua se encharcando com um litrotodas as vezes que samos.

    Voc to imaturo, Daniel murmura ela, virando o visor para baixo,para depois tirar o batom da bolsa e comear a retoc-lo. Estou comeando ame perguntar se um dia vai mudar.

    Mudar?O que diabos ela quis dizer com isso? Por que eu mudaria? pergunto, inclinando a cabea com curiosidade.Ela suspira, guarda o batom na bolsa, encosta os lbios um no outro e se vira

    para mim. Ento est mesmo contente com o seu comportamento?O qu?Com o meu comportamento? Ela est mesmo falando do meu

    comportamento? A garota que eu vi xingar garonetes por algo to bobo comocolocar gelo demais no copo est mesmo comentando sobre o meu

  • comportamento?H meses que vnhamos acabando e reatando nosso namoro, e eu no fazia

    ideia de que ela estava esperando que eu mudasse. Esperando que eu me tornassealgum que no sou.

    Pensando bem... sempre reato o namoro com ela na esperana de que elamude. Que ela passe a ser gentil, pelo menos. Na verdade, as pessoas so comoelas so e nunca vo mudar muito. Ento por que diabos Val e eu estamosperdendo tempo com esse namoro desgastante se um no gosta de quem ooutro ?

    Pois , foi o que achei diz ela, de um jeito convencido, presumindoincorretamente que fiquei em silncio por concordar que no estou feliz commeu comportamento.

    Na verdade, o meu silncio foi o momento de clareza do qual estavaprecisando desde que a conheci.

    Ficamos quietos at chegarmos na entrada da garagem da casa dela. Deixo ocarro ligado, indicando que no estou planejando entrar essa noite.

    Voc vai embora? pergunta ela.Fao que sim com a cabea e fico olhando pela janela do motorista. No

    quero olhar para ela, porque, afinal, sou um garoto e ela gostosa e sei que se euolhar para ela o meu momento de clareza sobre o nosso namoro vai ficarenevoado, e vou acabar entrando na casa dela e fazendo as pazes na sua cama,como sempre fao.

    No voc que devia estar com raiva, Daniel. Voc se comportou de umamaneira ridcula esta noite. E ainda por cima na frente dos meus pais! Como querque eles aprovem nosso namoro se fica agindo assim?

    Preciso inspirar lenta e calmamente para no erguer a voz como ela estfazendo.

    De que jeito estou me comportando, Val? Porque eu estava apenas sendoeu mesmo no jantar de hoje, assim como sou eu mesmo durante todos os minutosdo dia.

    Exatamente! Existe a hora certa e o lugar certo para seus apelidos ridculose brincadeiras imaturas. Sendo que um jantar com meus pais no a hora certanem o lugar certo!

    Frustrado, esfrego as mos no rosto e depois me viro para olh-la.

  • Eu sou assim digo, apontando para mim mesmo. Se no gosta dequem sou, ento temos problemas srios, Val. No vou mudar e, para ser sincero,tambm no seria justo pedir para voc mudar. Nunca pediria para voc fingirser algo que no , e exatamente isso que voc est me pedindo agora. No voumudar, eu nunca vou mudar e adoraria se voc desse o fora do meu carro agoraporque a porra do seu perfume est me deixando enjoado.

    Ela estreita os olhos, tira a bolsa do painel e a puxa para si. Ah, que legal, Daniel. Falando mal do meu perfume s para se vingar de

    mim. exatamente isso que estou dizendo. Voc a eptome da imaturidade. Ela abre a porta do carro e solta o cinto.

    Bem, pelo menos no estou pedindo para voc mudar de perfume digo,em tom de deboche.

    Ela balana a cabea. No aguento mais isso retruca ela, saindo do carro. A gente j era,

    Daniel. E no tem volta dessa vez. Graas a Deus digo, bem alto para que ela me escute.Ela bate a porta e vai para dentro de casa. Abaixo o vidro da janela do carona

    tentando fazer com que o perfume saia do carro e dou r.Cad aquele maldito do Holder? Se eu no puder reclamar dela com algum,

    vou acabar gritando.

    ***

    Entro pela janela de Sky e ela est sentada no cho, vendo algumas fotos. Ergue oolhar e sorri enquanto entro no quarto.

    Oi, Daniel cumprimenta ela. Oi, Peitinho de Queijo digo ao me deitar na cama. Cad aquele seu

    namorado?Ela aponta a cabea na direo da porta do quarto. Eles esto na cozinha pegando sorvete. Quer um pouco? No. Estou arrasado demais para comer.Ela ri. Val est tendo um dia ruim? Val est tendo uma vida ruim corrijo. E hoje finalmente percebi que

  • no quero fazer parte dela.Sky ergue a sobrancelha. mesmo? Dessa vez parece srio.Dou de ombros. Terminamos faz uma hora. E quem so eles?Ela olha para mim, confusa, ento esclareo a pergunta: Voc disse que eles estavam na cozinha pegando sorvete. Quem so eles?No instante em que Sky abre a boca para me responder, a porta do quarto se

    escancara e Holder aparece com duas tigelas de sorvete na mo. Uma garota vematrs dele, segurando sua prpria tigela, com uma colher na boca. Ela tira acolher dos lbios e chuta a porta do quarto com o p. Em seguida, se vira para acama e para ao me ver.

    Ela me parece vagamente familiar, mas no sei de onde a conheo. O que estranho, pois ela bem bonita e sinto como se eu devesse saber o nome dela oulembrar onde foi que a vi.

    Ela se aproxima da cama e se senta na extremidade oposta, me observando otempo todo. Pega um pouco de sorvete com a colher e a leva at a boca.

    No consigo parar de encarar aquela colher. Acho que amo aquela colher. O que est fazendo aqui? pergunta Holder.Com certa tristeza, desvio o olhar da Garota do Sorvete e observo Holder se

    sentar no cho ao lado de Sky e pegar algumas fotos. Ns terminamos, Holder digo, esticando as pernas para a frente. De

    vez. Ela louca, porra. Mas achei que era por isso que voc a amava diz ele, em tom de

    deboche.Reviro os olhos. Obrigado pela parte que me toca, Dr. Merdalho.Sky tira uma das fotos das mos de Holder. Acho que dessa vez ele est falando srio diz ela para Holder. Val

    passado.Sky tenta parecer triste por mim, mas sei que est aliviada. Val nunca

    combinou muito com eles dois. Mas se eu parar pra pensar, ela tambm nuncacombinou muito comigo.

    Holder olha para mim com curiosidade.

  • Acabou mesmo? Srio? Ele parece estranhamente impressionado. Sim, acabou mesmo. Quem Val? pergunta a Garota do Sorvete. Ou, melhor ainda,

    quem voc? Ah, foi mal interrompe Sky. Ela aponta para a Garota do Sorvete e para

    mim repetidas vezes. Six, esse Daniel, o melhor amigo de Dean. Daniel, essa minha melhor amiga, Six.

    Nunca vou me acostumar a escutar Sky chamando-o de Dean, mas essaapresentao serve como desculpa para eu olhar para aquela colher mais umavez. Six a tira da boca e a aponta para mim.

    Prazer em conhec-lo, Daniel.Que merda eu posso fazer para roubar essa colher antes de ela ir embora? Por que seu nome me parece familiar? pergunto para ela. No sei. Talvez porque seis um nmero bem familiar? Ou isso ou ento

    voc ouviu falar que sou a maior vagaba.Dou uma risada. No sei por que fao isso, pois na verdade o comentrio dela

    no foi engraado. Foi at um pouco perturbador. No, no isso digo, ainda confuso por no saber por que o nome dela

    me to familiar. Acho que Sky nunca falou dela para mim antes. Foi aquela festa no ano passado diz Holder, me obrigando a olhar para

    ele novamente. Tenho quase certeza de que reviro os olhos, mas no foi minhainteno. que prefiro mil vezes ficar olhando para ela do que para Holder. Lembra? Foi na semana que voltei de Austin, alguns dias antes de conhecer Sky.Voc se lembra da noite em que Grayson o encheu de porrada porque voc disseque tinha tirado a virgindade de Sky?

    Ah, t falando da noite em que voc me tirou de cima desse garoto antesque eu pudesse quebrar a cara dele? Ainda fico irritado s de pensar nisso. Euteria mesmo acabado com ele se Holder no tivesse me impedido.

    Isso confirma Holder. Naquela noite Jaxon falou alguma coisa sobreSky e Six, mas na poca eu no sabia quem elas eram. Acho que foi nessa horaque voc ouviu o nome dela.

    Pera a, pera a, pera a diz Sky, balanando as mos e olhando paramim como se eu fosse maluco. Como assim Grayson o encheu de porradaporque voc disse que tinha tirado minha virgindade? Que porra essa, Daniel?

  • Holder pe a mo nas costas de Sky para tranquiliz-la. Est tudo bem, linda. Ele disse isso s para irritar Grayson, porque eu

    estava quase dando uma surra nele pela maneira como ele estava falando de voc.Sky balana a cabea, ainda confusa. Mas voc nem me conhecia. Voc disse que isso foi alguns dias antes de

    me conhecer, ento por que ficou com raiva por Grayson estar falando mal demim?

    Tambm fico encarando Holder, esperando uma resposta. Naquele momentono pensei nisso, mas mesmo estranho ele ter ficado puto com os comentriosde Grayson se nem conhecia Sky ainda.

    No gostei do modo como ele falava de voc justifica Holder,aproximando-se para dar um beijo na cabea de Sky. Fiquei pensando que eledevia fazer os mesmos comentrios sobre Les e isso me deixou furioso.

    Merda. Claro que ele pensaria isso. Agora queria mesmo que ele tivesse medeixado encher Grayson de porrada naquela noite.

    Que meigo, Holder comenta Six. Voc a estava protegendo antesmesmo de conhec-la.

    Holder ri. Ih, voc no sabe nem metade da histria, Six.Sky ergue o olhar, e os dois sorriem um para o outro, quase como se

    estivessem escondendo alguma espcie de segredo. Em seguida, voltam a prestarateno nas fotos no cho.

    O que so essas fotos? pergunto. So para o livro do ano diz Six, respondendo pergunta. Ela deixa a

    tigela de sorvete de lado, coloca os ps em cima da cama e senta-se com as pernascruzadas. Pelo visto, precisamos mandar fotos de quando ramos pequenospara entrar na pgina do ltimo ano, ento Sky est vendo as fotos que Karen deupara ela.

    Voc estuda no mesmo colgio que a gente? pergunto, me referindo aofato de ela ter se includo na explicao.

    Sei que estudamos num colgio imenso, mas tenho a impresso de que melembraria dela, especialmente se a melhor amiga de Sky.

    No estudei no ano passado. Mas vou voltar na segunda responde ela,como se no estivesse nem um pouco animada com isso.

  • Mas no consigo evitar um sorriso com a resposta dela. V-la com maisfrequncia no me incomodaria em nada.

    Ento isso significa que vai se juntar nossa aliana do almoo? Eu meinclino para a frente, pego a tigela de sorvete que ela no acabou de tomar e tomoum pouco.

    Ela fica me observando fechar os lbios ao redor da colher e tir-la de dentroda boca. Torce o nariz, encarando a colher.

    Eu podia muito bem ter herpes, sabia?Sorrio para ela e dou uma piscadela. Voc conseguiu fazer at herpes parecer algo bom.Ela ri, mas de repente Holder agarra a tigela das minhas mos e me puxa para

    longe da cama. Meus ps encostam no cho e ele me empurra na direo dajanela.

    V para casa, Daniel. Ele solta minha camisa enquanto se abaixa para sesentar ao lado de Sky.

    O que foi, porra? grito.Srio mesmo. O que foi, porra? Ela a melhor amiga de Sky diz ele, apontando na direo de Six.

    Voc no pode dar em cima dela. Se por acaso no der certo, vai ficar umasituao constrangedora e no quero nada disso. Agora v embora e s voltequando puder ficar perto dela sem ter nenhum desses pensamentos pervertidosque sei que esto passando pela sua cabea agora.

    Pela primeira vez na vida, no sei o que dizer. Talvez eu devesse fazer quesim com a cabea e concordar com ele, mas o imbecil acabou de cometer o maiorerro de todos.

    Porra, Holder digo, gemendo, passando as palmas das mos pelo rosto. Por que fez essa merda? Agora voc me proibiu de ficar com ela, cara. Comeo a sair pela janela. Depois de passar para o lado de fora, enfio a cabeadentro do quarto e olho para ele. Voc devia ter dito que era para eu sair comela, assim bem provvel que eu no fosse me interessar. Mas voc resolveumesmo me proibir de ficar com a garota, no ?

    Nossa, Daniel diz Six, sem entusiasmo algum. Bom saber que vocme considera um ser humano e no um desafio. Ela olha para Holder ao selevantar da cama. E no sabia que eu tinha um quinto irmo superprotetor

  • comenta ela, indo para a janela. Vejo vocs mais tarde. E de todo jeito melhor eu dar uma olhada nas minhas fotos at segunda.

    Holder olha para mim enquanto me afasto para deixar Six sair pela janela. Eleno diz nada, mas o olhar que lana na minha direo uma advertncia paraque eu fique completamente longe dela. Levanto as mos na defensiva e fecho ajanela depois que Six sai. Ela anda alguns metros at a casa vizinha e comea aentrar pela janela.

    Voc sempre usa janelas como atalho ou por acaso mora a? pergunto,seguindo na sua direo.

    Depois de entrar, ela se vira e pe a cabea para fora. Essa a minha janela afirma ela. E nem pense em tentar entrar aqui.

    Essa janela est fechada para balano h quase um ano e no tenho intenoalguma de reabri-la.

    Ela pe o cabelo louro na altura do ombro atrs das orelhas e dou um passopara trs, esperando que um pouco de distncia seja capaz de fazer meu coraoparar de esmurrar meu peito. No entanto, agora que Holder fez a idiotice de meproibir de ficar com ela, tudo que quero descobrir uma maneira de reabrir essajanela.

    Voc tem mesmo quatro irmos mais velhos?Ela faz que sim com a cabea. Odeio que ela tenha quatro irmos mais

    velhos, mas s porque so quatro razes a mais para eu no ficar com essa garota.Juntando isso proibio de Holder, agora no vou mais conseguir tir-la dacabea.

    Valeu, Holder. Valeu mesmo.Ela apoia o queixo nas mos e fica me encarando. Est escuro do lado de fora,

    mas o luar est iluminando bem o rosto dela, fazendo-a parecer uma porra de umanjo. No sei nem se posso usar as palavras porra e anjo na mesma frase, masmerda. Ela parece mesmo a porra de um anjo com esse cabelo louro e olhosgrandes. No sei nem de que cor so seus olhos porque est escuro e no presteiateno quando estvamos no quarto de Sky. Mas a cor deles, qualquer que seja,acabou de virar minha cor preferida.

    Voc muito carismtico diz ela.Meu Deus. A voz dela acaba de vez comigo. Valeu. Voc tambm bem bonitinha.

  • Ela ri. No disse que voc bonitinho, Daniel. Eu disse que voc carismtico.

    So coisas diferentes. Nem tanto. Gosta de italiano?Ela franze a testa e recua alguns centmetros como se eu a tivesse insultado. Por que est me perguntando isso?A reao dela me deixa confuso. No fao ideia de como meu comentrio

    pode ter sido ofensivo. Hum... ningum nunca convidou voc para sair?Sua testa volta ao normal e ela se inclina para a frente de novo. Ah. Voc quer dizer comida italiana. Na verdade estou meio enjoada de

    comida italiana. Acabei de voltar de um intercmbio de sete meses na Itlia. Seest me convidando para sair, prefiro sushi.

    Nunca comi sushi admito, tentando assimilar o fato de que tenhocerteza de que ela acabou de concordar em sair comigo.

    Quando?Isso foi fcil demais. Esperava que ela fosse dar uma de difcil e me fazer

    implorar como Val sempre faz. Amo o fato de ela no estar fazendo joguinhos. direta e j estou gostando disso.

    Hoje no d digo. Meu corao foi completamente partido uma horaatrs por uma vaca psictica e preciso de um tempinho para me recuperar. Quetal amanh noite?

    Amanh domingo. Voc tem algum problema com domingo?Ela ri. No, acho que no. S me parece estranho marcar um primeiro encontro

    num domingo. Mas me pegue aqui s 19 horas, ento. Encontro voc na porta da frente digo. E melhor no contar pra

    Sky aonde vai, a no ser que queira me ver levando uma surra. Contar o qu? pergunta ela, sarcasticamente. At parece que vamos

    sair juntos numa noite aleatria de domingo ou coisa parecida.Sorrio e me afasto, voltando devagar para o meu carro. Foi um prazer conhec-la, Six.Ela pe a mo na janela para fech-la.

  • Igualmente. Eu acho.Dou uma risada e me viro na direo do meu carro. Estou quase alcanando a

    porta quando a escuto chamar meu nome. Eu me viro e vejo que ela est com acabea para fora da janela.

    Sinto muito pelo seu corao partido sussurra ela, bem alto. Depoisvolta para dentro do quarto e a janela se fecha.

    Que corao partido? Tenho certeza de que a primeira vez que meu coraosentiu algum alvio desde o instante em que comecei a sair com Val.

  • Captulo Dois

    Estou bem assim? pergunto para Bolota ao chegar na cozinha.Ela se vira, olha para mim dos ps cabea e d de ombros. Acho que sim. Vai pra onde?Dou um passo para a frente de um dos espelhos que ficam no corredor e dou

    mais uma conferida no cabelo. Vou sair com uma garota.Ela geme e se vira para a mesa na sua frente. Voc nunca se importou com sua aparncia antes. Acho bom no pedir

    essa garota em casamento. Eu me divorcio dessa famlia antes que voc meobrigue a trat-la como uma irm.

    Minha me passa por mim e d um tapinha no meu ombro. Voc est timo, querido. Mas eu no iria com esses sapatos.Olho para eles. Por qu? O que tem de errado com eles?Ela abre o armrio, pega uma panela e se vira para mim. Lana um olhar para

    os meus sapatos mais uma vez. So chamativos demais. Ela se vira e vai at o fogo. Nenhum sapato

    devia ser fluorescente. Eles so amarelos, e no fluorescentes. Isso amarelo fluorescente afirma Bolota. No estou dizendo que so feios diz minha me. que conheo Val,

    e bem provvel que ela v odiar esses sapatos.Vou at o balco da cozinha, pego minhas chaves e guardo o celular no bolso.

  • No dou a mnima para o que Val pensa.Minha me vira-se e olha para mim, curiosa. Bem, se est perguntando para a sua irm de 13 anos se est bonito antes

    de sair, acho que se importa sim com o que ela pensa. No vou sair com Val. Terminei com ela. Hoje vou sair com outra garota.Bolota ergue os braos no ar e olha para o cu. Graas a Deus! exclama ela.Minha me ri e balana a cabea. Isso mesmo. Graas a Deus diz ela, aliviada.Depois se vira de volta para o fogo, e no consigo parar de olhar para as

    duas. O qu? Nenhuma de vocs gostava da Val? Sei que Val uma vaca,

    mas minha famlia parecia gostar dela. Especialmente minha me. Na verdadeachei que minha me fosse ficar chateada com o fim do namoro.

    Odeio Val diz Bolota. Nossa, eu tambm acrescenta minha me. Eu tambm concorda meu pai, passando por mim.Nenhum deles est olhando para mim, mas os trs responderam como se j

    tivessem conversado sobre o assunto. Quer dizer que todos vocs odiavam Val?Meu pai se vira para mim. Sua me e eu somos mestres em psicologia reversa, Danny-boy. No devia

    ficar to surpreso assim.Bolota ergue a mo na direo do meu pai. Eu tambm, pai. Eu tambm usei psicologia reversa com ele.Meu pai estende o brao e d um high five nela. Muito bem, Bolota.Eu me encosto no batente da porta e fico olhando para eles. Vocs estavam apenas fingindo que gostavam de Val? Por que diabos

    fizeram isso?Meu pai se senta mesa e pega um jornal. Os filhos sempre tendem a fazer escolhas que desagradam os pais. Se

    contssemos para voc o que realmente achvamos de Val, o mais provvel eraque voc acabasse se casando com ela s para nos irritar. E foi por isso que a

  • gente fingiu que adorava ela.Sacanas. Os trs. Vocs nunca mais vo conhecer minhas namoradas.Meu pai ri, mas no parece desapontado. Quem ela? pergunta Bolota. Finalmente uma garota que voc est

    se esforando para impressionar. No da sua conta respondo. Agora que sei como essa famlia

    funciona, nunca vou deix-la chegar perto de nenhum de vocs.Eu me viro na direo da porta e minha me me chama. Bem, se isso ajuda, Daniel, a gente j adora essa menina! Ela um amor! E muito bonita diz meu pai. Essa pra casar!Balano a cabea. Vocs no prestam.

    ***

    Est atrasado diz Six ao aparecer na porta.Ela sai de casa virada de costas para mim, enfiando a chave na fechadura. No quer que eu conhea seus pais? pergunto, querendo saber por que

    ela precisa trancar a porta se ainda est to cedo.Ela se vira para mim. Eles so velhos. Jantaram dez horas atrs e foram dormir s sete.Azuis. Os olhos dela so azuis.Puta merda, como ela linda. Seu cabelo mais claro do que pensei quando

    a vi ontem noite no quarto de Sky. A pele impecvel. como se ela fosse amesma garota de ontem mas em alta definio. E eu tinha razo. Ela parecemesmo uma porra de um anjo.

    Ela sai do caminho e fecho a porta de tela, ainda sem conseguir desviar oolhar dela.

    Na verdade, cheguei cedo digo, finalmente respondendo ao primeirocomentrio que ela fez. Holder estava deixando Sky em casa e juro que elesdemoraram meia hora para se despedir. Tive que esperar at a barra ficar limpa.

    Ela pe a chave de casa no bolso de trs da cala e balana a cabea. Pronto?

  • Olho-a dos ps cabea. Esqueceu sua bolsa?Ela nega com a cabea. No. Odeio bolsas. Ela d um tapinha no bolso de trs. S preciso da

    chave de casa. No me dei ao trabalho de trazer dinheiro porque foi voc que meconvidou. Vai pagar, no ?

    Nossa.Calma a.Vamos examinar esses ltimos trinta segundos, certo?Ela odeia bolsas. O que significa que no trouxe maquiagem. O que quer

    dizer que no vai ficar retocando essas merdas como Val fazia. Tambm significaque no est escondendo um litro de perfume em algum lugar do corpo. Mastambm significa que ela no est planejando se oferecer para pagar sua parte dojantar, o que me parece um pouco antiquado, mas por alguma razo gosto disso.

    Amo o fato de voc no usar bolsa. Tambm amo o fato de voc no usar bolsa diz ela, rindo. Eu uso, sim. Est no meu carro digo, voltando a cabea na direo dele.Ela d outra risada e vai para os degraus da varanda. Fao a mesma coisa, mas

    vejo Sky em p dentro do quarto com a janela toda aberta. Imediatamente,seguro nos ombros de Six e a puxo at ns dois estarmos encostados na porta dacasa.

    D pra ver a janela da Sky da frente da casa. Assim ela vai nos ver.Six olha para mim. Voc est mesmo levando a srio essa histria de no poder sair comigo. Eu preciso levar a srio sussurro. Holder no brinca quando me

    probe de sair com algum.Ela ergue a sobrancelha demonstrando curiosidade. E Holder costuma mesmo dizer com quem voc pode ou no sair? No. Na verdade, voc a primeira garota com quem ele faz isso.Ela ri. Ento como sabe que ele vai ficar com raiva?Dou de ombros. Na verdade, no sei. Mas parece divertido esconder isso dele. No acha

    um pouco empolgante esconder isso de Sky?

  • concorda ela, dando de ombros. Acho que sim.Ainda estamos encostados na porta e, por alguma razo, continuamos

    sussurrando. At parece que Sky conseguiria nos escutar de l, mas sussurrardeixa a situao mais divertida. E gosto muito do som da voz de Six quando elasussurra.

    O que sugere que a gente faa para sair dessa situao, Six? Bem diz ela, pensando na minha pergunta por um instante.

    Normalmente, quando estou num encontro arriscado, secreto e clandestino epreciso escapar da minha casa sem ser notada, eu me pergunto: o que MacGyverfaria?

    Meu Deus, essa garota acabou de mencionar MacGyver?Caraca.Desvio o olhar por tempo suficiente para disfarar que estou achando que

    acabei de me apaixonar por ela e tambm para pensar na nossa rota de fuga.Olho para o balano na varanda e volto a olhar para Six aps ter certeza de que osorriso bobo desapareceu do meu rosto.

    Acho que MacGyver pegaria o balano da sua varanda e construiria umcampo de fora com grama e fsforos. Depois colaria um motor de avio neleprprio e sairia voando daqui sem ningum perceber. Infelizmente no tenhonenhum fsforo aqui comigo.

    Six acha graa. Hmmm diz ela, apertando os olhos como se estivesse elaborando um

    plano brilhante. Que inconvenincia mais infeliz. Ela olha para o meu carroestacionado na entrada da casa e depois para mim. Podamos ir engatinhandoat o seu carro, assim ela no vai nos ver.

    E seria um plano brilhante se no envolvesse deixar uma garota suja. Nosmeus seis meses de idas e vindas com Val, aprendi que garotas no gostam de sesujar.

    Voc vai sujar as mos de terra. Acho que no vo deixar voc entrar numrestaurante japons chique com as calas e as mos sujas.

    Ela olha para a cala jeans e depois para mim. Podemos ir ento para uma churrascaria tima que conheo. O cho

    coberto de cascas de amendoim. Uma vez vi um cara muito gordo comendo ldentro e ele estava at sem camisa.

  • Sorrio para Six no mesmo instante em que me apaixono ainda mais por ela. Parece perfeito.Ficamos de quatro e samos engatinhando da varanda. Ela est rindo e sua

    risada me faz rir tambm. Shh sussurro ao chegarmos no ltimo degrau. Engatinhamos com pressa

    pelo jardim, olhando para a casa de Sky a cada poucos metros. Assim quealcanamos o carro, estico a mo para a maaneta da porta. V para o lado docarona digo para Six. menos provvel que ela veja voc de l.

    Abro a porta para ela, que vai para o banco do carona. Depois que ela j estdentro do carro, a minha vez de entrar e deslizar para o meu lugar. Ns doisestamos agachados, o que meio intil, se pararmos para pensar. Se Sky olharpela janela do quarto, ver meu carro estacionado na frente da casa de Six. Nofaz diferena se ela ver nossas cabeas ou no.

    Six limpa a terra das mos na cala jeans, o que me d o maior teso. Ela viraa cabea para mim, e eu continuo encarando a terra espalhada pela coxa da suacala. De alguma maneira, consigo desviar o olhar e encar-la.

    Da prxima vez que vier pra c, vai ter que esconder seu carro diz ela. Isso foi arriscado demais.

    Gosto um pouco demais do comentrio dela. J est confiante achando que vai ter uma prxima vez? pergunto,

    sorrindo com malcia para ela. Nosso encontro mal comeou. Bem lembrado diz ela, dando de ombros. Talvez no fim da noite eu

    esteja odiando voc. Ou talvez eu esteja odiando voc. Impossvel. Ela pe os ps no painel. Sou inodivel. Inodivel nem uma palavra de verdade.Ela olha por cima do ombro para o banco de trs e depois se vira para a frente

    franzindo a testa. Por que est cheirando como se tivesse passado um harm de vadias por

    aqui? Ela tapa o nariz com a camisa para evitar o cheiro. Ainda est com cheiro de perfume? Eu nem sinto mais.O cheiro provavelmente se infiltrou nos meus poros, me deixando imune.Ela faz que sim com a cabea. insuportvel afirma ela, com a voz abafada pela camisa. Abaixe o

  • vidro. Faz um barulho fingindo que est cuspindo, como se estivesse tentandotirar o gosto da boca, o que me faz rir.

    Ligo o carro, engato a r e comeo a sair da entrada da casa dela. O vento vai bagunar seu cabelo se eu abaixar o vidro. Voc no trouxe

    bolsa, o que significa que no trouxe uma escova, ento no vai ter como pentearo cabelo quando chegarmos ao restaurante.

    Ela estende o brao e aperta o boto para abaixar o vidro da janela. J estou suja e prefiro ficar com o cabelo bagunado do que fedendo a um

    harm diz ela, abaixando o vidro completamente e gesticulando para que eufaa o mesmo, ento abaixo o meu.

    Ponho o carro em drive e piso no pedal. O carro se enche imediatamente devento e ar fresco, e o cabelo dela comea a esvoaar em todas as direes, mas elarelaxa no banco.

    Bem melhor comenta, sorrindo para mim.Depois fecha os olhos ao inspirar fundo o ar fresco.Tento prestar ateno na rua, mas ela est dificultando muito isso.

    ***

    Como seus irmos se chamam? pergunto para ela. Eles tambm tmnomes de nmeros?

    Zachary, Michael, Aaron e Evan. Sou dez anos mais nova que o maisnovo.

    Voc foi um acidente?Ela faz que sim com a cabea. O melhor tipo de acidente. Minha me tinha 42 anos quando me teve,

    mas meus pais ficaram animados por ser uma menina. Fico feliz por voc ter nascido menina.Ela ri. Eu tambm. Por que seu nome Six se voc foi a quinta a nascer? Meu nome no Six. Meu nome inteiro Seven Marie Jacobs, mas fiquei

    com raiva dos meus pais porque nos mudamos para o Texas quando eu tinha 14anos ento comecei a me apresentar como Six s para irrit-los. Eles no se

  • importaram muito, mas eu era teimosa e no quis ceder de jeito nenhum. Hojeem dia todo mundo me chama de Six, menos eles.

    Amo o fato de ela ter dado um apelido para si mesma. Ela faz mesmo o meutipo.

    Mas a pergunta ainda vlida digo. Por que eles escolheram o nomeSeven se voc foi a quinta a nascer?

    Por nenhum motivo. Meu pai gostava do nmero sete e pronto.Balano a cabea e dou uma garfada, observando-a cuidadosamente. Estou

    esperando aquele momento. O momento que sempre acaba acontecendo com asgarotas, quando o pedestal em que voc as colocou no incio chutado paralonge. Costuma ser quando elas comeam a falar de ex-namorados ou de quantosfilhos querem ter ou quando fazem algo bem irritante, como passar batom nomeio do jantar.

    Estou esperando pacientemente os defeitos de Six virem tona, mas at agorano vi nenhum. Tudo bem que s interagimos por trs ou quatro horas no total,ento talvez os defeitos dela s estejam mais bem escondidos do que os das outraspessoas.

    Ento voc o filho do meio? pergunta ela. Voc sofre da sndromedo filho do meio?

    Nego com a cabea. Provavelmente tanto quanto voc sofre da sndrome da quinta filha. Alm

    disso, Hannah quatro anos mais velha que eu, e Bolota cinco mais nova, entoas idades so bem espaadas.

    Ela engasga com a bebida ao dar risada. Bolota? Voc chama sua irm mais nova de Bolota? Todos ns a chamamos de Bolota. Ela foi uma beb gordinha.Six ri. Voc d apelidos pra todo mundo comenta. Voc chama Sky de

    Peitinho de Queijo. Chama Holder de Hopeless. Como vai me chamar quando euno estiver por perto?

    Quando escolho um apelido pra algum, fao isso na frente da pessoa. Eainda no encontrei nenhum pra voc. Eu me recosto e me pergunto por queno dei um apelido para ela ainda. Normalmente escolho com bastante rapidez.

    uma coisa ruim eu ainda no ter ganhado um apelido?

  • Dou de ombros. Na verdade, no. S estou tentando entend-la. Voc um pouco

    contraditria.Ela ergue a sobrancelha. Sou contraditria? De que maneira? De todas as maneiras. Voc bonita pra cacete, mas no d a mnima pra

    sua aparncia. Parece ser boazinha, mas tenho a impresso de que o equilbrioperfeito entre bondade e maldade. Voc parece ser muito tranquila, como se nofosse o tipo de garota que faz joguinhos, mas gosta de flertar. E no estoujulgando ningum com o comentrio que estou prestes a fazer, mas j ouvi falarda sua reputao, e ainda assim voc no parece ser o tipo de menina que precisada ateno de um garoto para aumentar a autoestima.

    Ela est com uma expresso angustiada enquanto assimila tudo que acabei dedizer. Ento pega o copo e d um gole sem desviar o olhar de mim. Quandoacaba de beber, mantm o copo encostado nos lbios, pensativa. Depois de umtempo, o coloca de volta na mesa e olha para o prato, erguendo o garfo.

    No sou mais assim diz ela, baixinho, evitando meu olhar. Assim como? Odeio a tristeza que surgiu na voz dela.Por que eu sempre tenho que falar besteiras? No sou mais como antes.Isso a, Daniel. Seu imbecil. Bem, eu no a conhecia antes, ento tudo que posso fazer julgar a garota

    que est sentada na minha frente nesse momento. E at agora ela est meparecendo uma menina bem legal.

    O sorriso reaparece nos lbios dela. Que bom diz, olhando para mim novamente. No sabia como eu ia

    me sair, porque a primeira vez que tenho um encontro.Dou uma risada. No precisa dizer isso para inflar meu ego digo. Consigo aceitar que

    no sou o primeiro cara a demonstrar interesse por voc. Estou falando srio retruca ela. Nunca tive um encontro de verdade

    antes. Os garotos costumam pular essa parte comigo e vo direto ao que querem.Meu sorriso desaparece. Pela sua expresso, vejo que ela est falando srio

    mesmo. Eu me inclino para a frente e a encaro.

  • Esses caras eram uns merdas.Ela ri, mas eu no. Estou falando srio, Six. Todos esses caras precisam de um belo chute no

    saco, pois o que voc tem de melhor o seu papo.Quando digo a frase, o sorriso desaparece de seu rosto. Ela olha para mim

    como se ningum nunca a tivesse elogiado. Fico furioso com isso. Como sabe que isso que tenho de melhor? pergunta ela, voltando a

    encontrar de alguma maneira aquele tom de voz provocante e sedutor. Vocainda nem teve o prazer de me beijar. Tenho certeza de que isso o que tenho demelhor, porque o meu beijo fenomenal.

    Meu Deus. No sei se isso foi um convite, mas quero aceitar nesse segundo. No tenho nenhuma dvida de que receber um beijo seu seria fantstico,

    mas, se eu tiver que escolher, sempre vou preferir conversar com voc a beij-la.Ela estreita os olhos. Mentira! exclama, com um olhar desafiador. Um garoto jamais ia

    preferir conversar a dar uns amassos.Tento retribuir o olhar desafiador dela, mas seu argumento bem sensato. Tudo bem admito. Talvez voc tenha razo. Mas pra mim o ideal

    seria beij-la durante nossa conversa. Assim aproveito as duas melhores coisas.Ela balana a cabea, impressionada. Voc muito bom nisso diz, recostando-se na cadeira. Ela cruza os

    braos. Onde aprendeu a dar em cima de uma garota to bem?Limpo a boca com o guardanapo e o coloco em cima do prato. Ergo os

    cotovelos at apoi-los na cabine do reservado e sorrio para ela. Isso no dar em cima. que sou carismtico, s isso... no lembra?Surge um sorriso em sua boca e ela balana a cabea como se soubesse que

    est encrencada. Os olhos dela esto sorrindo e percebo que nunca tinha mesentido assim com uma garota. No que eu tenha colocado na cabea queestamos quase nos apaixonando, que somos almas gmeas ou alguma merda dessetipo. S estou dizendo que nunca fiquei perto de uma garota com a qual pudesseser eu mesmo. Com Val, eu sempre fazia de tudo para no irrit-la. Com minhasoutras namoradas, sempre percebia que estava me segurando para no dizer todasas bobagens que queria. Sempre achei que ser eu mesmo perto de uma garota noera necessariamente algo bom porque e sou o primeiro a admitir isso s

  • vezes sou um pouco exagerado.No entanto, com Six diferente. Ela no s entende o meu senso de humor e

    minha personalidade, mas sinto at como se ela os estimulasse. Sinto que elagosta mesmo do meu verdadeiro eu, e toda vez que ri ou abre um sorriso nomomento perfeito acabo tendo vontade de bater meu punho no dela.

    Voc est me encarando diz Six, interrompendo meus pensamentos. Estou mesmo digo, sem me dar ao trabalho de desviar o olhar.Ela me encara de volta, mas seu comportamento e sua expresso vo se

    tornando competitivos enquanto ela estreita os olhos e se inclina para a frente.Ela est me desafiando em silncio para ver quem consegue encarar o outro pormais tempo.

    No vale piscar diz ela, confirmando meus pensamentos. Nem rir acrescento.Ento comea. Ficamos nos encarando por tanto tempo que meus olhos

    comeam a lacrimejar e minhas mos, a segurar a mesa com mais fora. Eu meesforo ao mximo para fit-la nos olhos, mas quero encarar cada centmetrodela. Sua boca, aqueles lbios grossos e rosados e aquele cabelo louro e macio.Sem mencionar o sorriso. Eu podia passar o dia inteiro encarando aquele sorriso.

    Na verdade, estou olhando para ele agora, e tenho certeza de que issosignifica que perdi a brincadeira.

    Ganhei diz ela, e logo depois toma mais um gole dgua. Quero beijar voc digo com sinceridade.Fico um pouco chocado por dizer isso, mas no muito. No estou com muita

    pacincia, quero muito dar um beijo nela e costumo dizer seja l o que for que euesteja pensando, ento...

    Agora? pergunta Six, olhando para mim como se eu fosse louco.Ela pe o copo de volta na mesa.Fao que sim com a cabea. Isso. Agorinha. Quero beijar voc durante a nossa conversa para aproveitar

    as duas coisas. Mas acabei de comer cebola diz ela. Eu tambm.Ela est movendo a mandbula para a frente e para trs, pensando mesmo

    numa resposta.

  • Tudo bem diz ela, dando de ombros. Por que no?Assim que ela me d permisso, olho para a mesa na nossa frente, me

    perguntando qual a melhor maneira de fazer isso. Eu poderia me sentar ao ladodela, mas talvez isso seja invadir muito o espao pessoal. Estendo o brao para afrente, empurro meu copo para o lado e depois o dela.

    Venha aqui digo, colocando as mos em cima da mesa ao me inclinarem sua direo.

    Ela deve ter pensado que eu estava brincando pela maneira como seus olhosinvestigam, nervosos, o restaurante, assimilando o fato de que nosso primeirobeijo ser em pblico.

    Daniel, isso constrangedor. Quer mesmo que nosso primeiro beijo sejano meio de um restaurante?

    Respondo que sim com a cabea. E da que constrangedor? Depois podemos repetir. E as pessoas levam

    muito a srio esse negcio de primeiro beijo.Hesitante, ela pe as palmas das mos na mesa, ergue-se e se inclina na minha

    direo. Est bem concorda ela, suspirando logo em seguida. Mas seria to

    melhor se voc esperasse at o fim do encontro, depois de me acompanhar at aporta da minha casa. Estaria escuro e a gente ficaria bem nervoso e voc acabariaesbarrando no meu peito por acidente. assim que os primeiros beijos devemser.

    Dou risada com o comentrio dela. Ainda no estamos perto o suficiente paranos beijar, mas no falta muito para chegarmos l. Eu me inclino um pouco maispara a frente, mas o olhar dela desvia do meu e se foca na mesa atrs de mim.

    Daniel, tem uma mulher na mesa atrs de voc trocando a fralda do bebna mesa. Voc est prestes a me beijar e a ltima coisa que vou ver antes de seuslbios encostarem nos meus vai ser uma mulher limpando a bunda do filho.

    Six. Olhe pra mim. Ela volta a olhar para mim e finalmente ficamosperto o suficiente para que eu consiga alcanar sua boca. Ignore a fralda. Eignore os dois homens sentados nossa esquerda que esto tomando cerveja e nosobservando como se eu estivesse prestes deitar voc na mesa.

    Ela olha para a esquerda, ento seguro seu queixo e a obrigo a prestar atenoem mim.

  • Ignore tudo isso. Quero beijar voc, quero que queira me beijar e noestou a fim de esperar at chegar sua varanda, pois nunca senti tanta vontadede beijar algum.

    O olhar dela se volta para minha boca, e eu fico observando tudo ao nossoredor desaparecer do campo de viso dela. Ela pe a lngua para fora e a desliza,nervosa, pelos lbios antes de escond-la mais uma vez. Passo a mo por seuqueixo at sua nuca e a puxo para a frente at nossos lbios se encontrarem.

    E, puta merda, eles se encontram mesmo. Nossas bocas se fundem como se jfossem apaixonadas uma pela outra e estivessem se encontrando pela primeiravez em anos. Minha barriga parece que est no meio de uma maldita rave e meucrebro est tentando lembrar como se faz isso. como se eu de repente tivesseme esquecido de como se beija algum, apesar de fazer apenas um dia queterminei com Val. Tenho quase certeza de que beijei Val ontem, mas por algumarazo meu crebro est reagindo como se tudo isso fosse novo e me mandandoabrir os lbios ou brincar com a lngua dela, mas os sinais simplesmente no estochegando na minha boca. Ou ento vai ver que minha boca est me ignorandopor estar paralisada devido ao calor macio que est sendo pressionado contra ela.

    No sei o que est acontecendo, mas nunca fiquei com os lbios de umagarota entre os meus por tanto tempo sem respirar, me mexer nem levar o beijoat onde der.

    Inspiro, apesar de no respirar h quase um minuto. Passo a segurar a cabeadela com menos firmeza e vou afastando meus lbios lentamente. Abro os olhos epercebo que os dela ainda esto fechados. Seus lbios ainda no se moveram e elaest respirando de maneira silenciosa e superficial enquanto eu continuo paradoprximo ao seu rosto, observando-a.

    No sei se ela estava esperando mais do beijo. No sei se ela j tinha dado umselinho em algum antes. No sei o que est pensando, mas amo essa expressoque est no rosto dela nesse momento.

    No abra os olhos sussurro, ainda encarando-a. S me deixe olharpara voc por mais uns dez segundos, porque voc est incrivelmente bonitaagora.

    Ela morde o lbio inferior querendo disfarar o sorriso e no se mexe.Mantenho a mo na cabea dela e fico contando em silncio os dez segundos atescutar a garonete parar ao lado da nossa mesa.

  • Posso trazer a conta?Ergo o dedo, pedindo para que a garonete espere um segundo. Bem, cinco

    segundos para ser mais exato. Six no mexe um nico msculo, mesmo depois deescutar a garonete. Conto o restante dos dez segundos ainda em silncio, entoSix abre os olhos e olha para mim.

    Eu me afasto dela, deixando vrios centmetros de distncia entre ns.Continuo olhando-a bem nos olhos.

    Pode, por favor respondo garonete.Escuto-a rasgar a conta do bloco e coloc-la na mesa. Six sorri e depois

    comea a rir. Ela se afasta de mim e se recosta no assento.Respiro e sinto como se o ar fosse totalmente novo.Eu me recosto devagar mais uma vez, observando-a enquanto ela ri. Six

    empurra a conta para mim. Isso seu afirma ela.Ponho a mo no bolso, tiro a carteira e coloco o dinheiro em cima da conta.

    Eu me levanto e estendo o brao para segurar a mo de Six. Ela olha para minhamo, sorri e a segura. Depois que ela se levanta, passo o brao ao redor de seuombro e a puxo para perto.

    Vai me dizer o quanto esse beijo foi incrvel ou prefere ignorar isso?Ela balana a cabea e ri para mim. Aquilo no foi nem um beijo de verdade diz ela. Voc nem ao

    menos tentou colocar a lngua dentro da minha boca.Empurro as portas para sairmos, mas dou um passo para o lado e a deixo sair

    primeiro. Eu no precisei enfiar a lngua na sua boca. Meus beijos j so intensos

    demais. Na verdade no preciso fazer nada. S me afastei porque tinha certeza deque a gente estava prestes a vivenciar um momento clssico de Harry & Sally:Feitos um para o outro.

    Ela d mais uma risada.Nossa, eu amo o fato de ela me achar engraado.Abro a porta do carona para ela, s que Six para antes de entrar no carro.

    Olha para mim. Voc sabe que naquela cena clssica Sally est querendo provar o quanto

    fcil para as mulheres fingirem orgasmos, no ?

  • Nossa, eu amo o fato de ach-la engraada. Preciso lev-la para casa agora? pergunto. Depende do que tem em mente. No tenho nada em mente admito. S no queria lev-la para casa

    ainda. S acho que podamos estacionar perto da minha casa. Tem um parquinhol.

    Ela sorri. Ento vamos diz, erguendo o punho fechado na frente do corpo.Naturalmente, ergo meu punho e bato no dela, que entra no carro. Fecho a

    porta, perplexo por Six ter acabado de me cumprimentar com o punho.A garota acabou de me cumprimentar com o punho e isso provavelmente foi

    a coisa mais sensual que j vi na vida.Vou para o lado do motorista, abro a porta e me sento. Antes de ligar o carro,

    me viro para ela. Por acaso, voc um garoto?Ela ergue a sobrancelha, puxa a gola da camisa e d uma olhada no prprio

    peito. No. Sou garota dos ps cabea. Est namorando algum?Ela balana a cabea. Vai embora do pas amanh? No responde ela, com uma expresso nitidamente confusa diante das

    minhas inmeras perguntas. Ento o que est escondendo? Como assim? Todo mundo esconde alguma coisa, mas no estou conseguindo descobrir

    o seu segredo. Sabe, aquele nico segredo que acaba mudando tudo. Ligo ocarro e comeo a dar r. Quero saber agora mesmo qual o seu. Meu coraono aguenta mais essas pequenas coisinhas que voc faz que me enlouquecemcompletamente.

    O sorriso dela muda. A sinceridade que havia nele se transforma em cautela. Todos temos nossos segredos, Daniel. Alguns de ns simplesmente

    esperam que eles fiquem escondidos para sempre.Ela abaixa o vidro da janela e o barulho da rua nos impossibilita de continuar

  • conversando. Tenho quase certeza de que o cheiro fortssimo do perfume j era,ento fico curioso para saber se dessa vez ela abaixou o vidro por estar precisandodo barulho.

    ***

    Voc traz todas as garotas com quem sai pra c? pergunta ela.Fico pensando na pergunta dela por um instante antes de responder: Praticamente todas digo, por fim, aps pensar em silncio nos trminos

    de todos os meus encontros. Uma vez sa com uma garota no segundo ano,mas tive que lev-la para casa no meio do encontro porque ela estava com algumvrus estomacal. Acho que foi a nica que eu no trouxe pra c.

    Ela enfia os tornozelos na terra e para o balano. Estou em p atrs dela,ento Six se vira e olha para mim.

    Srio? Voc trouxe todas aqui, menos uma?Dou de ombros. Depois balano a cabea. Trouxe. Mas nenhuma delas quis brincar. Normalmente a gente s ficava

    se agarrando mesmo.Estamos aqui h meia hora e ela j me fez ficar observando-a se pendurar nas

    barras e empurr-la no carrossel e, nos ltimos dez minutos, fiquei empurrando-ano balano. Mas no estou reclamando. legal. Muito legal.

    Voc j transou com algum aqui? pergunta ela.No sei muito bem como interpretar a franqueza dela. Nunca conheci algum

    que faz as mesmas perguntas diretas que eu, ento estou comeando a mecompadecer um pouco das pessoas que deixei em situaes constrangedorascomo essa agora. Dou uma olhada no parquinho at avistar o castelo de madeira.Aponto para ele.

    Est vendo o castelo?Ela vira a cabea na direo dele. Voc transou l dentro?Abaixo o brao e enfio as mos nos bolsos de trs da cala. Pois .Ela se levanta e comea a ir at l. O que est fazendo? pergunto para ela.

  • No sei por que Six est indo para o castelo, mas tenho quase certeza de queno porque ela meio esquisita e quer transar no mesmo lugar em que transeicom Val duas semanas atrs.

    Ou ser que quer?Meu Deus, espero que no. Quero ver onde foi que voc transou diz ela com um tom de voz

    neutro. Mostre pra mim.Essa garota me deixa completamente confuso. O mais estranho o quanto

    estou amando isso. Comeo a correr at alcan-la. Caminhamos para o castelo.Ela olha para mim, esperando, ento aponto para a entrada.

    Bem a digo.Ela vai at a entrada e d uma olhada l dentro. Investiga o local por cerca de

    um minuto e depois sai. Parece bem desconfortvel comenta. E foi mesmo.Six acha graa. Se eu contar uma coisa, voc promete que no vai me julgar?Reviro os olhos. Julgar faz parte da natureza humana.Ela inspira e depois solta o ar. J transei com seis pessoas diferentes. Ao mesmo tempo? pergunto.Ela empurra meu brao. Pare. Estou tentando ser sincera com voc. Tenho s 18 anos e perdi a

    virgindade com 16. Alm disso, no transo com ningum h um ano, mais oumenos, ento se voc fizer as contas foram seis pessoas em pouco mais de quinzemeses. praticamente uma pessoa diferente a cada dois meses e meio. Spiranhas fazem esse tipo de coisa.

    Por que no transa com ningum h mais de um ano?Ela revira os olhos e passa ao meu lado. Vou atrs dela. Six se senta no

    balano. Eu me sento no balano ao lado e viro o corpo para ficar de frente paraela, que est olhando para a frente.

    Por que no transa com ningum h mais de um ano? repito a pergunta. No conheceu ningum interessante na Itlia?

  • No consigo ver seu rosto, mas pela linguagem corporal percebo que essepode ser o segredo dela. Aquilo que vai mudar tudo para mim.

    Conheci um garoto na Itlia revela, baixinho. Mas no quero falarsobre ele. E, sim, por causa dele que no transo h mais de um ano. Ela olhapara mim. Olhe, sei que todo mundo conhece minha reputao e no sei se foipor isso que voc me trouxe pra c nem o que est querendo que acontea no fimdesse encontro, mas no sou mais aquela garota.

    Levanto as pernas at meu balano ir para a frente. A nica coisa que eu estava querendo que acontecesse no fim do encontro

    era um beijo na varanda da sua casa digo. E talvez que eu esbarrasseacidentalmente no seu peito.

    Ela no ri. De repente, comeo a ficar puto por ter trazido Six para c. Six, eu no trouxe voc aqui porque estava esperando alguma coisa. Eu sei

    que j trouxe outras garotas, mas foi s porque moro do outro lado da rua evenho muito aqui. E, sim, talvez fosse para ter um pouco de privacidadeenquanto dava uns amassos, mas s porque muito provavelmente eu queria queelas calassem a boca, me beijassem e mais nada, pois estavam me irritando pracacete. Mas voc eu s trouxe porque no queria lev-la para casa ainda. E nemquero que a gente comece a se agarrar pois estou gostando demais de conversarcom voc.

    Fecho os olhos, desejando no ter dito tudo isso. Sei que garotas gostam doscaras que fazem o papel de babaca desinteressado. Costumo fazer esse papelmuito bem, mas no com Six. Talvez normalmente eu seja mesmo um babacadesinteressado, mas com ela eu no podia estar mais interessado, curioso eesperanoso.

    Qual dessas a sua casa? pergunta ela.Aponto para o outro lado da rua. Aquela digo, indicando a casa com a luz da sala acesa. mesmo? Ela parece interessada de verdade. a casa da sua

    famlia?Fao que sim com a cabea. , mas voc no vai conhec-los. Eles so mentirosos e malvados e j avisei

    que nunca a levarei l para conhec-los.Posso sentir ela se virar e olhar para mim.

  • Voc disse pra eles que nunca vai me levar l pra conhec-los? Ento jfalou de mim?

    Olho-a nos olhos. J. Talvez eu tenha falado de voc.Ela sorri. Qual o seu quarto? A primeira janela do lado esquerdo da casa. O quarto de Bolota a janela

    da direita. A que est com a luz acesa.Ela levanta-se novamente. A sua janela est destrancada? Quero ver como o seu quarto.Nossa, como ela intrometida. No quero que veja meu quarto. No me preparei. Est bagunado.Ela comea a atravessar a rua. Mas vou l mesmo assim.Inclino a cabea para trs, solto um gemido e me levanto para segui-la. Voc d muito trabalho digo ao alcanarmos minha janela. Ela

    pressiona as mos no vidro e o levanta. A janela no se mexe, ento afasto Sixpara o lado e a abro. Nunca entrei escondido no meu prprio quarto. J sadele escondido, mas nunca entrei.

    Ela comea a se erguer por cima do peitoril, ento a seguro pela cintura paraajud-la. Ela pe a perna por cima do peitoril e entra. Passo logo depois, vou at acmoda e acendo o abajur. Dou uma olhada no quarto para o caso de encontraralguma coisa que no quero que ela veja. Chuto uma cueca para debaixo dacama.

    Eu j tinha visto isso sussurra. Ela se aproxima da minha cama,pressiona as palmas no colcho e endireita a postura. Ela observa o quarto sempressa, assimilando tudo a meu respeito. Parece estranho, como se eu estivesseexposto. Gosto do seu quarto diz ela.

    s um quarto.Ela discorda, balanando a cabea. No, mais do que isso. onde voc mora. onde voc dorme. onde

    voc teve mais privacidade em toda a sua vida. mais do que apenas um quarto. No estou tendo muita privacidade agora ressalto, observando enq