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COMENTÁRIO GERAL (EQUIPE DE REDAÇÃO) Em conformidade com a linha adotada desde sua primeira edição, a prova de Redação do ENEM traz um tema de relevância social, no caso, O trabalho na construção da dignidade humana. O tema se faz acompanhar de dois textos (ditos “motivadores”), um dos quais ilustrado por uma fotografia, o outro pela paródia de uma “fórmula” em linguagem matemática. O primeiro texto trata da existência, ainda hoje em dia, de trabalho análogo à situação de escravidão (“trabalho degradante aliado ao cerceamento da liberdade”). O segundo, enfoca as perspectivas de transformação, em curto período de tempo (até 2020, segundo o texto) das características dominantes do trabalho, sobretudo no sentido de maior flexibilidade e liberdade, da “preocupação com o meio ambiente” aliada à “busca de qualidade de vida” e à “inovação”, tudo isso em um contexto dominado pela “globalização”. Devemos inicialmente observar que os dois textos configuram um contraste. De um lado, fala-se em grandes mudanças de paradigma que tornariam a experiência humana no trabalho muito mais rica e estimulante. De outro, observa-se a persistência de formas opressivas de trabalho que já deveriam ter sido historicamente superadas. Parece igualmente legítimo considerar (dado o mecanismo do contraste) que a proposta de redação deixa implícita uma valoração positiva do conteúdo apresentado no segundo texto (com a qual, diga- se de passagem, o estudante não está obrigado a concordar), de tal sorte que a questão colocada poderia ser assim compreendida: como é possível socialmente ultrapassar o estágio representado pelo primeiro texto, para que todos tenham acesso ao que se promete no segundo texto? Naturalmente, entre esses dois pontos extremos, há dados e aspectos que poderiam ser lembrados pelos estudantes, como a formação profissional para o trabalho, a desigualdade entre as escolas, o desemprego, a disputa pelas melhores vagas (inclusive no ensino superior), entre outros. Importante que a argumentação se fundamente, como nos lembra o enunciado da proposta, justamente “na leitura dos textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo da formação” do estudante. Noutras palavras, não é adequado desconsiderar os textos motivadores, incorrendo, com isso, no risco da fuga (ao menos parcial) ao tema. Também não podemos esquecer que o modelo de redação adotado pelo ENEM exige que apresentemos “experiência ou proposta de ação”, sempre com respeito aos direitos humanos. Dado o conteúdo dos textos da coletânea, tal experiência ou proposta de ação deveria abordar o desafio de superar o trabalho como meio de opressão e supressão da liberdade, em favor do trabalho como instrumento de realização e construção da dignidade humana. Em linhas gerais, como afirmamos no início, a proposta mantém várias das características típicas do ENEM. Se, por exemplo, em anos anteriores, a coletânea de textos mencionava autores como a filósofa Marilena Chauí ou o pensador italiano Norberto Bobbio (do exame de 2002), os psicanalistas Maria Rita Kehl, Jurandir Costa (em 2003) e Contardo Caligaris (2009), ou o cientista e ativista Tony Loveloy (em 2008), a prova deste ano faz menção ao filósofo e ensaísta Alain de Botton, conhecido, entre outras, por suas obras sobre a satisfação pessoal advinda (ou não) do trabalho. Ainda assim, parece-nos possível considerar que a coletânea de textos motivadores já teve versões mais consistentes no passado. Os dois textos deste ano não trazem autoria identificada, e a “fórmula” apresentada acaba se configurando como uma espécie de infográfico um tanto impreciso e, no limite, dispensável. Nada, contudo, que tenha desviado a prova de Redação deste ano de seu “pano de fundo” discursivo e ideológico, inclusive no tocante à busca de superação do atraso e das estruturas sociais retrógradas como condição para a plena realização dos novos paradigmas que se estaria a construir com base na educação, na democracia, nas preocupações ambientais, na maior liberdade individual, na flexibilização das relações de trabalho, na maior interação, diversidade e comunicação, enfim, nas muitas mudanças tornadas possíveis pelo mundo globalizado e a pós-modernidade.

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COMENTÁRIO GERAL (EQUIPE DE REDAÇÃO)

Em conformidade com a linha adotada desde sua primeira edição, a prova de Redação do ENEM traz um tema de relevância social, no caso, O trabalho na construção da dignidade humana.

O tema se faz acompanhar de dois textos (ditos “motivadores”), um dos quais ilustrado por uma fotografia, o outro pela paródia de uma “fórmula” em linguagem matemática.

O primeiro texto trata da existência, ainda hoje em dia, de trabalho análogo à situação de escravidão (“trabalho degradante aliado ao cerceamento da liberdade”). O segundo, enfoca as perspectivas de transformação, em curto período de tempo (até 2020, segundo o texto) das características dominantes do trabalho, sobretudo no sentido de maior flexibilidade e liberdade, da “preocupação com o meio ambiente” aliada à “busca de qualidade de vida” e à “inovação”, tudo isso em um contexto dominado pela “globalização”.

Devemos inicialmente observar que os dois textos configuram um contraste. De um lado, fala-se em grandes mudanças de paradigma que tornariam a experiência humana no trabalho muito mais rica e estimulante. De outro, observa-se a persistência de formas opressivas de trabalho que já deveriam ter sido historicamente superadas. Parece igualmente legítimo considerar (dado o mecanismo do contraste) que a proposta de redação deixa implícita uma valoração positiva do conteúdo apresentado no segundo texto (com a qual, diga-se de passagem, o estudante não está obrigado a concordar), de tal sorte que a questão colocada poderia ser assim compreendida: como é possível socialmente ultrapassar o estágio representado pelo primeiro texto, para que todos tenham acesso ao que se promete no segundo texto?

Naturalmente, entre esses dois pontos extremos, há dados e aspectos que poderiam ser lembrados pelos estudantes, como a formação profissional para o trabalho, a desigualdade entre as escolas, o desemprego, a disputa pelas melhores vagas (inclusive no ensino superior), entre outros.

Importante que a argumentação se fundamente, como nos lembra o enunciado da proposta, justamente “na leitura dos textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo da formação” do estudante. Noutras palavras, não é adequado desconsiderar os textos motivadores, incorrendo, com isso, no risco da fuga (ao menos parcial) ao tema.

Também não podemos esquecer que o modelo de redação adotado pelo ENEM exige que apresentemos “experiência ou proposta de ação”, sempre com respeito aos direitos humanos. Dado o conteúdo dos textos da coletânea, tal experiência ou proposta de ação deveria abordar o desafio de superar o trabalho como meio de opressão e supressão da liberdade, em favor do trabalho como instrumento de realização e construção da dignidade humana.

Em linhas gerais, como afirmamos no início, a proposta mantém várias das características típicas do ENEM. Se, por exemplo, em anos anteriores, a coletânea de textos mencionava autores como a filósofa Marilena Chauí ou o pensador italiano Norberto Bobbio (do exame de 2002), os psicanalistas Maria Rita Kehl, Jurandir Costa (em 2003) e Contardo Caligaris (2009), ou o cientista e ativista Tony Loveloy (em 2008), a prova deste ano faz menção ao filósofo e ensaísta Alain de Botton, conhecido, entre outras, por suas obras sobre a satisfação pessoal advinda (ou não) do trabalho. Ainda assim, parece-nos possível considerar que a coletânea de textos motivadores já teve versões mais consistentes no passado. Os dois textos deste ano não trazem autoria identificada, e a “fórmula” apresentada acaba se configurando como uma espécie de infográfico um tanto impreciso e, no limite, dispensável.

Nada, contudo, que tenha desviado a prova de Redação deste ano de seu “pano de fundo” discursivo e ideológico, inclusive no tocante à busca de superação do atraso e das estruturas sociais retrógradas como condição para a plena realização dos novos paradigmas que se estaria a construir com base na educação, na democracia, nas preocupações ambientais, na maior liberdade individual, na flexibilização das relações de trabalho, na maior interação, diversidade e comunicação, enfim, nas muitas mudanças tornadas possíveis pelo mundo globalizado e a pós-modernidade.

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COMENTÁRIO GERAL (EQUIPE DE INGLÊS)

A primeira prova de inglês do ENEM foi considerada muito fácil, com grau de dificuldade bem abaixo do que exigem os vestibulares tradicionais. Em relação à interpretação dos textos, podemos afirmar que as alternativas corretas foram óbvias demais. Tal nível não está de acordo com exames que pretendem selecionar candidatos para as melhores universidades do país. Lamentamos muito a falta de questões que mediriam melhor as habilidades e competências no que refere à gramática aplicada ao texto e léxico.

Só nos resta esperar que os elaboradores da prova de língua estrangeira façam uma prova mais equilibrada e com um número maior de questões (afinal, apenas cinco questões são insuficientes para avaliar a capacidade dos alunos mais bem preparados).

Esperamos que isso seja repensado.

Que tal uma prova mais coerente e abrangente?

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COMENTÁRIO GERAL (EQUIPE DE ESPANHOL)

A primeira prova de espanhol do ENEM não teve nenhuma surpresa porque deste o início acreditávamos que seguiria a tendência de alguns vestibulares ao cobrar interpretação de texto e, para não dificultar muito a compreensão dos candidatos, as questões sendo cobradas em português. Quanto ao número de questões, 5 ao todo, embora pareça pouco, foram questões trabalhosas não só pela necessidade que o candidato tinha de refletir sobre o que leu mas também pela quantidade de textos – 4 textos – que requeriam cautela e agilidade no momento da interpretação. Outro ponto que merece destaque é a especificidade dos enunciados, todos cobrando alguma particularidade do texto.

O primeiro texto aborda sobre o Bilinguismo no Paraguai, em que é obrigatório o ensino de espanhol e guarani e isso, segundo o autor do texto, representa um avanço no sistema educacional deste país. Para este texto, formam solicitadas duas questões interpretativas.

Já o segundo texto trata sobre a obrigatoriedade de passaporte para animais que viajem com o seu dono. Foi a questão mais acessível de todas porque a resposta estava muito clara no texto.

O terceiro texto é uma propaganda de um novo tênis e nela há alguns termos em inglês e a pergunta exigia que o aluno compreendesse a importância das palavras em inglês em um texto que estava em espanhol e por analogia com o que acontesse na língua portuguesa, em muitas situações há um uso recorrente de termos em inglês com o objetivo de tornar a leitura mais atraente e assim conquistar o público-alvo.

O último texto aborda a relação cigarro e obesidade. Tendo como referência um estudo da Universidade de Navarra, cientistas concluem que as pessoas que deixam de fumar engordam, mas os que continuam fumando engordam mais que os que nunca fumaram. Para responder corretamente a esta última questão, o aluno precisava ter uma boa competência de leitura e captar o tema central do texto, que serviria como suposto título para o texto.

Enfim, uma prova coerente, que não deve ter surprendido os nossos alunos que já estavam acostumados a ler textos destes gêneros e a resolver questões com estas especificidades.

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COMENTÁRIO GERAL (EQUIPE DE PORTUGUÊS)

As questões da prova de Linguagens, códigos e suas tecnologias com tópicos tradicionalmente associados

à disciplina de Língua Portuguesa tratam, sobretudo, de temas comuns às abordagens contemporâneas da

Linguística e das teorias de texto e discurso, como a variação linguística, as tecnologias de informação e

comunicação, a funcionalidade e a finalidade dos diversos gêneros textuais, estratégias argumentativas,

funções da linguagem e mecanismos de coesão (como o emprego de conectivos).

Trata-se, em geral, de questões bem elaboradas, com textos variados e abordagens que não privilegiam a

memorização de nomenclatura dispensável ou de casos excepcionais desprovidos de importância real.

Isso posto, julgamos pertinente salientar alguns pontos que estariam por merecer uma reflexão

complementar.

Em certas questões, o texto que lhes serve de base é dispensável ou quase. É o caso, por exemplo, da

charge que ilustra a questão 96, tornada mero pretexto para o tópico de variação presente nas alternativas.

Igualmente, na questão 100, o anúncio publicitário não precisa ser considerado em sua especificidade, pois a

alternativa correta trata de características gerais do discurso publicitário.

Vale também destacar que a funcionalidade das categorias gramaticais permanece um amplo campo bem

pouco explorado. Diante da insistência retrógrada em questiúnculas normativistas ou na memorização de

certa nomenclatura um tanto inútil ou obsoleta, o ENEM acaba, infelizmente, por optar, não pela renovação

da nomenclatura e da abordagem tradicional, mas pelo seu quase completo abandono. Uma exceção

interessante é a questão 113, sobre usos distintos do conectivo mas, que sinaliza um modo inteligente de

contextualizar e conferir funcionalidade à analise linguística, numa linha que, esperemos, possa desenvolver-

se nos exames futuros.

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COMENTÁRIO: Questão sobre variação linguística, em que, infelizmente, o sentido da charge (sua crítica ambiental) não é de modo algum contemplado. A forma reduzida “tá” para a forma verbal “está”, bastante comum na fala brasileira, é uma das marcas de oralidade e informalidade no diálogo entre o avô e seu neto. Gabarito: C

COMENTÁRIO: O texto sobre a biosfera tem intenção marcadamente informativa, o que caracteriza a chamada função referencial da linguagem. Gabarito: E

COMENTÁRIO: Questão sobre finalidade e funcionalidade de um gênero textual, no caso, o aconselhamento (amor, saúde, família, trabalho) com base na Astrologia, para os

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leitores da revista Cláudia nascidos sob o signo de Câncer. Gabarito: E

COMENTÁRIO: Entre as alternativas, a melhor fala sobre “marcas linguisticas próprias do uso técnico”. Não se observa no texto, contudo, que ele de fato possua “expressões próprias de textos científicos”. Com rigor, a revista Nova Escola, embora destinada a professores, não é uma revista “científica”. Gabarito: E

COMENTÁRIO: O texto que serve de base à questão é totalmente dispensável. Para responder à questão, bastaria ater-se à caracterização geral do texto publicitário. Gabarito: A

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COMENTÁRIO: Considerando a ironia como o recurso de expressão por meio do qual se afirma literalmente certa ideia que se busca, na verdade, contestar ou criticar, percebemos que o tom irônico dominante no texto se expressa, por exemplo, quando o autor afirma que ficou “radiante” com a consulta “paranormal” com Freud, para, na realidade, expressar que considera a tal “consulta” uma farsa. Gabarito: E

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COMENTÁRIO: A imagem intitulada Monabean mescla a conhecida tela de Leonardo Da Vinci, a Mona Lisa, com a face e o ursinho de pelúcia do personagem Mr. Bean, do cômico inglês Rowan Atkinson. Deve-se lamentar, todavia, a identificação de Funny Filez disposta antes do nome da imagem. A analogia (absolutamente legítima) com as demais alternativas levaria a supor que se trata do nome de um artista contemporâneo, autor de uma tela intitulada Monabean. E, pior, que a “obra” apresentada tenha importância ou consistência comparável a trabalhos de Andy Warhol ou Pablo Picasso… Gabarito: C

COMENTÁRIO: A questão poderia ser respondida pela simples observação do título do texto. Gabarito: C

COMENTÁRIO: Embora mal formulada, a alternativa correta salienta o fato de que, no texto-base, a gentileza aparece em oposição à educação. Gabarito: E

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Gabarito: C

COMENTÁRIO: Das opções apresentadas, a alternativa D é a única que transcende a um caráter “regional”, haja vista a possibilidade que as peças de Balé tem em apresentar qualquer história em qualquer tempo. Gabarito: D

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COMENTÁRIO: O vocábulo “corasamborim”, criado a partir de uma composição por aglutinação, é um neologismo criado pelos integrantes do grupo Tribalistas. Gabarito: B

Gabarito: D

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COMENTÁRIO: Questão bastante simples. A possibilidade de um sistema de comunicação que permita a conversação entre pessoas, sem que haja uma necessidade de identificação real dos usuários, caracteriza uma nova forma de comunicação. Gabarito: A