Em estudo Anúncio de possível cura da Aids representa ... · Diferente do drive-thru do Corpo de...

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A6 Campo Grande-MS | Domingo/Segunda-feira, 12 e 13 de julho de 2020 CIDADES Em estudo RT-PCR ou teste rápido? R$ 860 mil Tratamento foi capaz de anular por 17 meses o vírus HIV do organismo do paciente, que segue em monitoramento Anúncio de possível cura da Aids representa esperança para mais de 3 mil infectados na Capital Histórico clínico é fator decisivo para aplicação de exame Prefeitrura compra remédios de protocolo contra COVID Rafael Ribeiro Pelo menos 3.100 mora- dores somente de Campo Grande que vivem em luta contra a Aids, segundo dados da Sesau (Secretaria Muni- cipal da Saúde Pública), ga- nharam uma nova esperança no último fim de semana, quando a Unifesp (Universi- dade Federal de São Paulo) anunciou que um tratamento desenvolvido por um de seus pesquisadores anulou há 17 meses o vírus HIV de um pa- ciente que tinha a doença há sete anos. O paciente, que não teve o nome revelado, parti- cipou de um estudo liderado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz e mostra que os cientistas brasileiros estão no caminho certo da cura. Segundo o médico, o vírus não foi detectado no corpo do paciente nem mesmo após passar por exames de alta precisão de diagnóstico. O número de anticorpos que combatem o HIV, que são usados como parâmetro para descobrir se uma pessoa con- traiu o vírus ou não, também tem caído progressivamente, “o que é uma evidência de que o vírus pode não estar mais ali”, disse Diaz, ao jornal O Estado. É o terceiro paciente no mundo a ter erradicada a Aids de seu corpo. Antes, dois homens, um nos EUA e outro na Alemanha, foram considerados curados do HIV após passarem por um tra- tamento baseado no trans- plante de medula óssea du- rante a última década, que apresentou uma mutação inédita. “Ainda é cedo para definir como uma cura, pois sempre há a possibilidade do vírus voltar a se manifestar. Por isso deixamos o paciente em acompanhamento”, com- pletou Diaz. Por esta razão, o professor e sua equipe aguardam a liberação da An- visa (Agência Nacional de Vi- gilância Sanitária) para que mais testes sejam realizados em 50 voluntários. “Estamos com uma perspectiva muito boa”, disse. Os estudos coordenados por Diaz trabalham em duas frentes para combater o vírus: a primeira utiliza me- dicamentos que eliminam o microrganismo durante sua replicação e em células in- fectadas (mesmo que o vírus esteja adormecido nelas); e a segunda visa ao desenvol- vimento de uma vacina que leve o sistema imunológico a reagir contra as células doentes que os fármacos não conseguiram eliminar. O paciente noticiado foi um dos 30 voluntários com carga viral indetectável e sob tra- tamento-padrão que parti- ciparam de um dos testes do estudo, cujos primeiros resultados foram anunciados em 2018. Na época, os vo- luntários foram divididos em seis grupos e receberam diferentes combinações de remédios que eliminam o vírus, além do coquetel de antirretrovirais usado no tratamento-padrão. O subgrupo que apre- sentou os melhores resul- tados à época foi o de pa- cientes que receberam Dolu- tegravir e Maraviroc, aliados à nicotinamida (uma forma de vitamina B3 que impediu que o HIV se escondesse nas células) e à auranofina (que revelou potencial para en- contrar células infectadas e matá-las). Além disso, para fortalecer a imunidade dos voluntários, os pesquisadores também criaram uma vacina personalizada de células den- dríticas (um tipo de glóbulo branco que nos protege de antígenos), baseada em mo- nócitos (células de defesa) e peptídeos do vírus do próprio paciente. Assim, o próprio organismo pode aprender a detectar e destruir células infectadas, ajudando a eli- minar o HIV. “Somente após as análises de sangue e das biópsias do intestino reto desses pacientes vacinados é que partiremos para o de- safio final: suspender todos os medicamentos de um deles e acompanhar como seu or- ganismo irá reagir ao longo dos meses ou, até mesmo, dos anos. Caso o tempo nos mostre que o vírus não voltou, aí, sim, poderemos falar em cura”, explicou Diaz. Rafaela Alves O novo ponto de testes en- trou ontem (10) em operação na Escola Estadual Lúcia Martins Coelho. Diferente do drive-thru do Corpo de Bom- beiros, que realiza dois tipos de exames, o local vai aplicar apenas testes rápidos. Mas fica a dúvida: quais critérios definem o encaminhamento de uma pessoa com suspeita de COVID-19 para um exame RT-PCR ou teste rápido? O período dos sintomas é fundamental para esta decisão. Quando a pessoa liga no disque-Covid para fazer o teste e saber se está ou não infectado pelo novo corona- vírus, o histórico clínico, se- gundo o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, define qual o tipo de teste será feito no ponto de coleta. “Se você está no início dos sin- tomas, preferencialmente com até sete dias, porque o ideal é do 3º ao 5º dia, será indicado a fazer o RT-PCR. Agora, se já se passaram mais de oito dias de sintomas, essa pessoa vai fazer o teste rápido”, ga- rantiu. O teste rápido, como o próprio nome diz, revela em questão de horas se a pessoa está infectada ou não, dife- rentemente do RT-PCR, que precisa do tempo de análise em laboratório, pois utiliza técnicas de biologia molecular para detectar se o vírus está presente no corpo. Uma mesma pessoa pode realizar o teste mais de uma vez? E para quem já fez o teste, mas voltou a ter sintomas referentes à COVID-19, o co- ordenador dos drive-thrus do Estado, coronel Marcello Fraiha, afirmou que a pessoa pode refazer os exames. “In- clusive, já houve casos de pessoas que estavam com sintomas e o resultado deu negativo, mas que voltou a apresentá-los depois de um tempo e refez a testagem para saber se havia sido in- fectado”, assegurou. Para passar pelos testes é necessário fazer o agenda- mento. A pessoa pode entrar em contato pelo disque-Covid, pelo telefone (67) 3311-6262. Por este número, conforme a consulta feita na chamada, a pessoa será direcionada para o drive-thru ou para a Escola Estadual Lúcia Martins Co- elho. Neste último local, os exames são feitos apenas no período da noite, das 18h30 até as 23h30. Para implantar o protocolo de tratamento precoce e pro- filaxia em casos do novo coro- navírus, a Prefeitura de Campo Grande está comprando mais de R$ 860 mil em medica- mentos. Conforme o despacho publicado em edição extra do Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande) da sexta-feira (10), houve dispensa de lici- tação e a entrega dos remédios será imediata. Os medicamentos serão fornecidos pela Nunesfarma Distribuidora de Produtos Far- macêuticos Ltda., no valor de R$ 637.980, pela Farma Cinco Ltda., no valor de R$ 165.700, e pela Medicinalis Farmacêutica Ltda., no valor de R$ 59.850. To- talizando, os três pagamentos somam R$ 863.530. No entanto, o despacho não revela qual medicamento cada empresa fornecerá. Já o documento detalhando aquisição ainda será divulgado no portal da transparência da prefeitura. Entre os medica- mentos usados no protocolo está a cloroquina. A Capital recebeu uma remessa do Mi- nistério da Saúde com 10 mil comprimidos nesta semana. (Rafaela Alves) Segundo dados do Minis- tério da Saúde, somente a Ca- pital teve 732 novos casos regis- trados de Aids no ano passado, quando 83 pessoas morreram da doença. Até aqui, em 2020, já são 257 pessoas infectadas, com 19 mortes. E os dados de 2019 mostraram uma queda em relação ao ano anterior, 2018, quando Campo Grande teve 621 casos. Desde que o primeiro caso de infecção por HIV foi descoberto no Brasil, em 1980, Mato Grosso do Sul teve 3.837 óbitos registrados, tendo como agente causador o vírus, até o fim de 2019. No geral, até ano passado, a do- ença era a responsável pela morte de 4,6 pessoas por grupo de 100 mil, segundo as estatís- ticas, índice inferior apenas ao de Goiás (4 na mesma média) na Região Centro-Oeste. Em 2010, esse índice era de 6,3 na mesma média. Na mesma série histórica de 39 anos, ao todo, 11.823 moradores de Mato Grosso do Sul contraíram HIV, segundo os dados do Ministério da Saúde. Segundo a pasta, 82% desses casos foram contaminados por meio de relações sexuais sem proteção (camisinha). Na média, o Estado tem 303 novos casos por ano registrados. En- quanto os resultados dos es- tudos de Diaz não forem con- cluídos, o infectologista deixa o alerta. “Apesar do avanço no tratamento e controle do HIV, a infecção por esse vírus ainda é a pior notícia que podemos dar ao paciente em termos de do- enças sexualmente transmissí- veis”, declarou. “A pessoa com HIV, mesmo com carga viral in- detectável, passa por inúmeros processos inflamatórios devido aos efeitos colaterais dos medi- camentos.” Além disso, o uso de preservativos durante a re- lação sexual garante – segundo o coordenador – a proteção contra o HIV e outras doenças graves para quem não tem o vírus e principalmente para quem já o tem. “Atualmente, o CDC [Centro de Controle de Doenças] dos EUA afirma que pessoas com carga viral indetectável não transmitem HIV. A falta de proteção pode, porém, acarretar ao indivíduo com o vírus controlado a rein- fecção por um tipo diferente de vírus HIV ou por outro mais resistente”, completou o infec- tologista. Por meio de comunicado, o governo do Estado anun- ciou que 75 mil testes de HIV são distribuídos para todas as cidades do Estado por mês, chegando a quase 1 milhão de testes rápidos por ano. A SES (Secretaria de Estado de Saúde) ainda distribui, por ano, 12 milhões de camisinhas a todas as unidades de saúde dos 79 municípios. Os preser- vativos podem ser retirados em qualquer unidade de saúde, sem restrição de quantidade e sem a necessidade de identi- ficação. A gerente técnica de STA/ Aids e Hepatites Virais de Mato Grosso do Sul, Alessandra Sal- vatori, lembra que, apesar da queda de notificações, é im- portante continuar o trabalho e que a implementação de campanhas em todos os muni- cípios do Estado deve ocorrer intensamente. “A gente pre- cisa reforçar a procura das testagens principalmente nas nossas faixas de interesse, que hoje é o jovem de 16 a 29 anos. Eu acho que a gente precisa comemorar, mas também co- locar o foco na população que realmente precisa ser testada”, disse. Alessandra diz que o trabalho deve ser reforçado constantemente e que teoria e prática devem andar de mãos dadas para que gerem mais co- nhecimento sobre o tema. “Isso é importante para a população, não só de Mato Grosso do Sul, mas para todo o Brasil”, disse. Para os portadores da do- ença, resta o sonho da espe- rada cura. “Muita gente deixou de temer a Aids achando que não é um problema, mas vejam o que acontece nessa epidemia, estamos constantemente em risco. Mesmo com o coquetel, um resfriado já pode se tornar fatal. A gente espera com ex- pectativa e um certo ar de fé que esse sonho se torne realidade. Ninguém quer ficar tomando 15 comprimidos por dia o resto da vida”, disse um publicitário de 29 anos, por- tador do vírus há seis deles, morador da Vila Piratininga e que pediu para não ser identi- ficado. Ele, que se contaminou há dez anos em uma relação se- xual, alerta para a necessidade de se proteger com o uso da camisinha sempre. “Eu achava que tinha sorte e que nunca aconteceria comigo, por ter um parceiro fixo. Mas ele não era fiel. Agora na COVID-19, não falam que é pra ficar em casa e usar máscara porque não tem remédio? Então, é assim também com a Aids, não tem cura, só prevenção”, apontou. A Aids no Estado Valentin Manieri

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A6 Campo Grande-MS | Domingo/Segunda-feira, 12 e 13 de julho de 2020 cidadES

Em estudo

RT-PCR ou teste rápido?

R$ 860 mil

Tratamento foi capaz de anular por 17 meses o vírus HIV do organismo do paciente, que segue em monitoramento

Anúncio de possível cura da Aids representa esperança para mais de 3 mil infectados na Capital

Histórico clínico é fator decisivo para aplicação de exame

Prefeitrura compra remédios de protocolo contra COVID

Rafael Ribeiro

Pelo menos 3.100 mora-dores somente de Campo Grande que vivem em luta contra a Aids, segundo dados da Sesau (Secretaria Muni-cipal da Saúde Pública), ga-nharam uma nova esperança no último fim de semana, quando a Unifesp (Universi-dade Federal de São Paulo) anunciou que um tratamento desenvolvido por um de seus pesquisadores anulou há 17 meses o vírus HIV de um pa-ciente que tinha a doença há sete anos. O paciente, que não teve o nome revelado, parti-cipou de um estudo liderado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz e mostra que os cientistas brasileiros estão no caminho certo da cura. Segundo o médico, o vírus não foi detectado no corpo do paciente nem mesmo após passar por exames de alta precisão de diagnóstico. O número de anticorpos que combatem o HIV, que são usados como parâmetro para descobrir se uma pessoa con-traiu o vírus ou não, também tem caído progressivamente, “o que é uma evidência de que o vírus pode não estar mais ali”, disse Diaz, ao jornal O Estado.

É o terceiro paciente no mundo a ter erradicada a Aids de seu corpo. Antes, dois homens, um nos EUA e outro na Alemanha, foram considerados curados do HIV após passarem por um tra-tamento baseado no trans-plante de medula óssea du-rante a última década, que apresentou uma mutação inédita. “Ainda é cedo para definir como uma cura, pois sempre há a possibilidade do vírus voltar a se manifestar. Por isso deixamos o paciente em acompanhamento”, com-pletou Diaz. Por esta razão, o professor e sua equipe aguardam a liberação da An-visa (Agência Nacional de Vi-gilância Sanitária) para que mais testes sejam realizados em 50 voluntários. “Estamos com uma perspectiva muito boa”, disse.

Os estudos coordenados por Diaz trabalham em duas

frentes para combater o vírus: a primeira utiliza me-dicamentos que eliminam o microrganismo durante sua replicação e em células in-fectadas (mesmo que o vírus esteja adormecido nelas); e a segunda visa ao desenvol-vimento de uma vacina que leve o sistema imunológico a reagir contra as células doentes que os fármacos não conseguiram eliminar. O paciente noticiado foi um dos 30 voluntários com carga viral indetectável e sob tra-tamento-padrão que parti-ciparam de um dos testes do estudo, cujos primeiros resultados foram anunciados em 2018. Na época, os vo-luntários foram divididos em seis grupos e receberam diferentes combinações de remédios que eliminam o vírus, além do coquetel de antirretrovirais usado no tratamento-padrão.

O subgrupo que apre-sentou os melhores resul-tados à época foi o de pa-cientes que receberam Dolu-tegravir e Maraviroc, aliados à nicotinamida (uma forma de vitamina B3 que impediu que o HIV se escondesse nas células) e à auranofina (que revelou potencial para en-contrar células infectadas e matá-las). Além disso, para fortalecer a imunidade dos voluntários, os pesquisadores também criaram uma vacina personalizada de células den-dríticas (um tipo de glóbulo branco que nos protege de antígenos), baseada em mo-nócitos (células de defesa) e peptídeos do vírus do próprio paciente. Assim, o próprio organismo pode aprender a detectar e destruir células infectadas, ajudando a eli-minar o HIV. “Somente após as análises de sangue e das biópsias do intestino reto desses pacientes vacinados é que partiremos para o de-safio final: suspender todos os medicamentos de um deles e acompanhar como seu or-ganismo irá reagir ao longo dos meses ou, até mesmo, dos anos. Caso o tempo nos mostre que o vírus não voltou, aí, sim, poderemos falar em cura”, explicou Diaz.

Rafaela Alves

O novo ponto de testes en-trou ontem (10) em operação na Escola Estadual Lúcia Martins Coelho. Diferente do drive-thru do Corpo de Bom-beiros, que realiza dois tipos de exames, o local vai aplicar apenas testes rápidos. Mas fica a dúvida: quais critérios definem o encaminhamento de uma pessoa com suspeita

de COVID-19 para um exame RT-PCR ou teste rápido? O período dos sintomas é fundamental para esta decisão.

Quando a pessoa liga no disque-Covid para fazer o teste e saber se está ou não infectado pelo novo corona-vírus, o histórico clínico, se-gundo o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, define qual o tipo de teste será

feito no ponto de coleta. “Se você está no início dos sin-tomas, preferencialmente com até sete dias, porque o ideal é do 3º ao 5º dia, será indicado a fazer o RT-PCR. Agora, se já se passaram mais de oito dias de sintomas, essa pessoa vai fazer o teste rápido”, ga-rantiu. O teste rápido, como o próprio nome diz, revela em questão de horas se a pessoa está infectada ou não, dife-

rentemente do RT-PCR, que precisa do tempo de análise em laboratório, pois utiliza técnicas de biologia molecular para detectar se o vírus está presente no corpo.

Uma mesma pessoa pode realizar o teste mais de uma vez?

E para quem já fez o teste, mas voltou a ter sintomas referentes à COVID-19, o co-

ordenador dos drive-thrus do Estado, coronel Marcello Fraiha, afirmou que a pessoa pode refazer os exames. “In-clusive, já houve casos de pessoas que estavam com sintomas e o resultado deu negativo, mas que voltou a apresentá-los depois de um tempo e refez a testagem para saber se havia sido in-fectado”, assegurou.

Para passar pelos testes

é necessário fazer o agenda-mento. A pessoa pode entrar em contato pelo disque-Covid, pelo telefone (67) 3311-6262. Por este número, conforme a consulta feita na chamada, a pessoa será direcionada para o drive-thru ou para a Escola Estadual Lúcia Martins Co-elho. Neste último local, os exames são feitos apenas no período da noite, das 18h30 até as 23h30.

Para implantar o protocolo de tratamento precoce e pro-filaxia em casos do novo coro-navírus, a Prefeitura de Campo Grande está comprando mais de R$ 860 mil em medica-mentos. Conforme o despacho publicado em edição extra do Diogrande (Diário Oficial de

Campo Grande) da sexta-feira (10), houve dispensa de lici-tação e a entrega dos remédios será imediata.

Os medicamentos serão fornecidos pela Nunesfarma Distribuidora de Produtos Far-macêuticos Ltda., no valor de R$ 637.980, pela Farma Cinco

Ltda., no valor de R$ 165.700, e pela Medicinalis Farmacêutica Ltda., no valor de R$ 59.850. To-talizando, os três pagamentos somam R$ 863.530. No entanto, o despacho não revela qual medicamento cada empresa fornecerá.

Já o documento detalhando

aquisição ainda será divulgado no portal da transparência da prefeitura. Entre os medica-mentos usados no protocolo está a cloroquina. A Capital recebeu uma remessa do Mi-nistério da Saúde com 10 mil comprimidos nesta semana. (Rafaela Alves)

Segundo dados do Minis-tério da Saúde, somente a Ca-pital teve 732 novos casos regis-trados de Aids no ano passado, quando 83 pessoas morreram da doença. Até aqui, em 2020, já são 257 pessoas infectadas, com 19 mortes. E os dados de 2019 mostraram uma queda em relação ao ano anterior, 2018, quando Campo Grande teve 621 casos. Desde que o primeiro caso de infecção por HIV foi descoberto no Brasil, em 1980, Mato Grosso do Sul teve 3.837 óbitos registrados, tendo como agente causador o vírus, até o fim de 2019. No geral, até ano passado, a do-ença era a responsável pela morte de 4,6 pessoas por grupo de 100 mil, segundo as estatís-ticas, índice inferior apenas ao de Goiás (4 na mesma média) na Região Centro-Oeste. Em 2010, esse índice era de 6,3 na mesma média.

Na mesma série histórica de 39 anos, ao todo, 11.823 moradores de Mato Grosso do Sul contraíram HIV, segundo os dados do Ministério da Saúde. Segundo a pasta, 82% desses casos foram contaminados por meio de relações sexuais sem proteção (camisinha). Na média, o Estado tem 303 novos

casos por ano registrados. En-quanto os resultados dos es-tudos de Diaz não forem con-cluídos, o infectologista deixa o alerta. “Apesar do avanço no tratamento e controle do HIV, a infecção por esse vírus ainda é a pior notícia que podemos dar ao paciente em termos de do-enças sexualmente transmissí-veis”, declarou. “A pessoa com HIV, mesmo com carga viral in-detectável, passa por inúmeros processos inflamatórios devido aos efeitos colaterais dos medi-camentos.” Além disso, o uso de preservativos durante a re-lação sexual garante – segundo o coordenador – a proteção contra o HIV e outras doenças graves para quem não tem o vírus e principalmente para quem já o tem. “Atualmente, o CDC [Centro de Controle de Doenças] dos EUA afirma que pessoas com carga viral indetectável não transmitem HIV. A falta de proteção pode, porém, acarretar ao indivíduo com o vírus controlado a rein-fecção por um tipo diferente de vírus HIV ou por outro mais resistente”, completou o infec-tologista.

Por meio de comunicado, o governo do Estado anun-ciou que 75 mil testes de HIV

são distribuídos para todas as cidades do Estado por mês, chegando a quase 1 milhão de testes rápidos por ano. A SES (Secretaria de Estado de Saúde) ainda distribui, por ano, 12 milhões de camisinhas a todas as unidades de saúde dos 79 municípios. Os preser-vativos podem ser retirados em qualquer unidade de saúde, sem restrição de quantidade e sem a necessidade de identi-ficação.

A gerente técnica de STA/Aids e Hepatites Virais de Mato Grosso do Sul, Alessandra Sal-vatori, lembra que, apesar da queda de notificações, é im-portante continuar o trabalho e que a implementação de campanhas em todos os muni-cípios do Estado deve ocorrer intensamente. “A gente pre-cisa reforçar a procura das testagens principalmente nas nossas faixas de interesse, que hoje é o jovem de 16 a 29 anos. Eu acho que a gente precisa comemorar, mas também co-locar o foco na população que realmente precisa ser testada”, disse. Alessandra diz que o trabalho deve ser reforçado constantemente e que teoria e prática devem andar de mãos dadas para que gerem mais co-

nhecimento sobre o tema. “Isso é importante para a população, não só de Mato Grosso do Sul, mas para todo o Brasil”, disse.

Para os portadores da do-ença, resta o sonho da espe-rada cura. “Muita gente deixou de temer a Aids achando que não é um problema, mas vejam o que acontece nessa epidemia, estamos constantemente em risco. Mesmo com o coquetel, um resfriado já pode se tornar fatal. A gente espera com ex-pectativa e um certo ar de fé que esse sonho se torne realidade. Ninguém quer ficar tomando 15 comprimidos por dia o resto da vida”, disse um publicitário de 29 anos, por-tador do vírus há seis deles, morador da Vila Piratininga e que pediu para não ser identi-ficado. Ele, que se contaminou há dez anos em uma relação se-xual, alerta para a necessidade de se proteger com o uso da camisinha sempre. “Eu achava que tinha sorte e que nunca aconteceria comigo, por ter um parceiro fixo. Mas ele não era fiel. Agora na COVID-19, não falam que é pra ficar em casa e usar máscara porque não tem remédio? Então, é assim também com a Aids, não tem cura, só prevenção”, apontou.

A Aids no Estado

Valentin Manieri