Em que momentos lês poesia? É uma leitura regular ou de...
Transcript of Em que momentos lês poesia? É uma leitura regular ou de...
1. Então, antes de falarmos em particular sobre arte, cultura e depois sobre Poetry Slam,
queria-te pedir para me falares um bocadinho de como é que ocupas o teu tempo. Que
actividades fazes, de qualquer âmbito.
Trabalho…na tese, neste momento. E teatro. A nível cultural, espectáculos…
Vais ver teatro? Fazes teatro?
Faço teatro, vou ver teatro. Concertos vou.
2. Dentro da arte e da cultura, que coisas é que fazes mais ou vais ver mais?
Concertos e peças de teatro.
3. Lês poesia?
Leio menos do que gostava de ler. Não leio muito. Leio alguma
4. E tens algum autor (e quando digo autor não tem que ser um autor conhecido),poema, livro
que te tenha marcado ou que tu aches que tem particular interesse?
O meu autor de eleição, tanto a nível de prosa como poesia, é o Al Berto. A nível de um poema
que me diga qualquer coisa, que me transmite qualquer coisa, se calhar…António Gedeão.
Algum poema em particular?
Hmmm…não sei o nome dele, na realidade. “tenho 40 janelas nas paredes do meu quarto…”
5. Em que momentos lês poesia? É uma leitura regular ou de momentos?
Lês à noite, antes de dormir? Numa caminhada, numa pausa do trabalho, num sítio
especial, etc.)?
Claro. É o estado de espírito. Quando tou mais em baixo. É um refúgio. Não em
particular poesia mas leitura em si. (inaudível)
6. Compras livros de poesia? Onde?
Não, por norma não. Mas tenho alguns. (inaudível) que ficaram para trás de pais, avós.
Herdaste…
Herdei, sim.
Embora não costumes comprar livros, se tiveres que comprar um livro de poesia, o que
achas que te vai levar a comprar aquele livro? Quando vais a uma livraria, quando olhas para
os livros, o que é que te interessa mais ver?
eu por norma, antes de comprar um livro leio sempre a primeira e a última parte. E faço a
análise se realmente me interessa ou não. Por norma é isso. Se não vier com nenhuma
referência, se não vier aconselhada, é isso.
7. Lês poesia na Internet? Tens/Vais a algum site/blogue?
Não.
8. Escreves poesia?
Não. Não escrevo poesia regularmente. Ou falas de escrever esporadicamente?
Não tem que ser…nem eu escrevo regularmente, infelizmente. Já escreveste poesia mais que
2, 3 vezes?
Ah sim, sim, sim. mas não se pode considerar que escrevo poesia. Ou pode?
Não sei. O que é que tu achas?
Acho que não.
E neste momento, há quanto tempo é que já não escreves?
Poesia?
Sim.
O que é poesia?
Exacto.
O que é? Diz-me tu. A tua poesia aí é o quê?
Textos que tenham um trabalho sobre a linguagem e alguma parte de silêncio. Quando tu
olhas para uma folha onde tá um poema…as pessoas normalmente dizem que é em verso
né? Mas a definição que eu tenho implícita aqui é aquele texto que tem um trabalho com a
linguagem e que deixa alguma coisa por dizer. Que tem o tal silêncio que tu encontras ao
lado dos versos.
Isso é muito complicado…
Para ti o que é poesia?
Isso é uma boa pergunta.
Quando tu olhas para uma coisa, por que é que dizes que é um poema?
Pá, eu associo muito para mim poesia…a minha referência de poesia é a prosa.
Então como é? Fazes por oposição?
Exactamente.
Eu também. Quando tu olhas para uma folha de prosa não há espaço. Há menos espaços não
há?
Fisicamente?
Exacto.
Sim.
Pronto. Na poesia há mais espaços. E há definições que dizem que esses espaços são o tal
silêncio que deixa o leitor entrar e criar também. É uma definição…eu não concordo com
definições que me dizem que passa por rima, por métrica, por determinadas figuras de
linguagem porque há pessoas que não fazem isso.
Pois. Daí a dificuldade se calhar de…
Eu tento encontrar o mais comum. E normalmente o mais comum é esse espaço na folha. Se
bem que muitas vezes não há na performance.
Pois, realmente. Daí a dificuldade…
Por isso é que isto é só para a parte da escrita. Mas nessa parte da escrita, há quanto tempo
é que não escreves?
Há muito.
Quando escrevias, lembras-te de quando é que começaste?
Sim. lembro-me do meu 1º poema até.
Quando foi?
Devia ter para aí 13 anos, 14 anos.
E nessa altura, quando escrevias partilhavas com alguém?
Não.
Nunca partilhaste nada?
De poesia não.
Por alguma razão?
Por causa do tal estado de espírito. É uma coisa tua. Que tu te fechas no teu mundo. Acho que
pode ter a ver com isso. Acho que pode ter a ver com o estado de espírito com que escreves,
com que lês. E ser uma coisa tua, pessoal. Acho que pode passar por aí.
9. Que eventos relacionados com poesia frequentavas e/ou continuas a frequentar?
Ultimamente, ao poetry slam. A nível teatral, TEUC’s, CITAC’s, por aí afora. Vou
constantemente e muito regularmente. E depois, dentro da poesia mais clássica. Estive, em
Novembro do ano passado num recital de poesia. Carlos Carranca, não sei se conheces.que é
um grande poeta português a meu ver. E acho que foi o último. E que me tivesse marcado
muito também, no meu 9º ano organizei um recital de poesia.
Por acaso era uma das perguntas que te ia fazer agora. Que coisas é que já organizaste na
área da arte e da cultura.
Um recital de poesia no âmbito de…como é que se chamava aquela antigamente aquelas
coisas que tinhas em cada ano até ao Secundário? Eram projectos não eram?
Área de projecto? Área escola?
Isso. Fiz parte da área escola e então tive introdução à poesia no 9º ano. É quando começo a
ter mais contacto e a sentir mais a coisa. E a área escola foi exactamente sobre isso. Foi a
organização de um recital, pela turma toda.
E foram vocês que escolheram esse tema?
Fomos nós que escolhemos o tema e fomos nós que escolhemos os poemas, entre eles o
António Gedeão. Daí ter-me marcado muito. Foi espectacular. Ainda hoje falamos nisso.
E agora mais presentemente? Que tipo de coisas organizas?
Ah nada.
Nem no teatro?
Ah sim. ligado com poesia particularmente…
Não tem que ser poesia. Coisas que organizas na área da cultura e da arte.
Ultimamente…
Desde, por exemplo, que estás na Universidade.
Sim. peças de teatro. Participei na produção. Fiz como actriz “O sonho” de Buchner. Participei
na produção do “Le…(inaudível) do Popo, do Strindberg.
E quando falas dessa participação e dessa produção, é no âmbito do TEUC?
Do TEUC. Sei lá, a produção da “Orestreia” também. A produção do “Auto da Barca do Inferno”
do Gil Vicente, com o Ricardo Correia. E por aí fora, mais alguns.
Bem, já me respondeste. Tanto como artista como na parte mais da organização, já
organizaste e participaste em várias coisas na área do teatro. Alguma outra que tenha saído
fora e que gostasses de referir? Na área da música, por exemplo, ou uma exposição que
tenhas organizado…
Deixa-me pensar…exposições acho que não. Acho que não. Montei uma exposição com o meu
pais, aí há 2 anos ou 3 atrás sobre o 25 de Abril e o regime fascista. Ajudei-o a montar muito
aquilo. Mas não me marcou particularmente.
Mas eu não quero só aquilo que te tenha marcado.
Sim, sim, sim. Estou-te a perceber.
E foi aonde?
No Bombarral.
O teu pai está ligado…
É professor. Mas tem um espólio…é colecionador de coisas do regime, por demais. E então
decidiu expor tudo e eu estive a fazer isso com ele. A nível da música…
Quem diz música diz dança, artes plásticas…
Sim, sim, sim. não. Acho que não.
Relação com o Poetry Slam
Primeiras perguntas mais relacionadas com o slam.
1. Quando ouviste, leste, etc. sobre o Poetry Slam pela 1ª vez?
No 1º poetry slam cá em Coimbra.
Mas para ires já ouviste falar antes…
Não, não, não. Foi pelas pessoas que estavam envolvidas.
Mas quem é que te falou?
Foi o Bruno.
Ele convidou-te para ires ao 1º.
Antes disso, já tínhamos falado. Ah o poetry slam só começou…não, mentira. Ele tinha-
me falado disso antes, foi antes do 1º, foi em Salamanca. Sim, sim, sim. Falámos
vagamente sobre isso. Não te consigo precisar.
2. E por que é que ficaste interessado no Poetry Slam? E o que é que te…por que é
que decidiste dizer que sim ao convite, entre aspas? Toda a gente nos faz muitos
convites. “olha vem aqui, vem ali”
Porque é por ser um conceito inovador, não é? Muito engraçado. Conseguias reunir
várias vertentes dessa poesia, um bocadito incógnita. E depois porque conhecia o
trabalho das aranhiças & elefantes. Porque é um trabalho que está muito ligado ao
teatro. A mim, sendo performance, para mim, e sendo o teatro uma área que me
interessa bastante, acho que está muito, muito ligado mesmo. E no fundo, no fundo,
enquanto aranhiças & elefantes exploravam um bocadinho a performance através de
coisas de fora, não é, e ali era só voz. Foi por aí o interesse.
3. Achas que há uma relação entre o teu envolvimento na arte e na cultural em geral e o
teu envolvimento no poetry slam? Há uma relação entre o papel da arte e da cultura na
tua vida e o interesse que tens pelo poetry slam?
Ah sim, sim. sem dúvida. Não te consigo responder a uma coisa que eu não sou alheia.
Tentar imaginar não ser. É um bocadinho complicado fazer isso relativamente a mim,
não é? Porque tenho experiência com teatro, trabalho com teatro. Agora se me
perguntares, se uma pessoa que não tem qualquer experiência nem qualquer contacto
com arte, se sai de casa para ir para o poetry slam, eu acho que não.
E achas que, também, o facto de estares ligada a estas áreas também facilitou saberes
que isso existe? Porque, às vezes, também tem um bocadinho a ver com os circuitos
onde nós nos integramos.
Sim, sim.
Se estivesses completamente fora, achas que facilmente saberias do poetry slam?
Acho que é um evento bem divulgado. Será fácil chegar às pessoas com o trabalho que
se faz À volta disso. Acho que sim. mas o meio tem sempre muito a ver. Se fosse, por
exemplo, de Trás-os-Montes e não estivesse em Coimbra, e se não tivesse amigos no
Facebook em comum com aqueles que divulgam o poetry slam, dificilmente iria chegar
ao evento, pensado assim. Mas sendo o Facebook uma rede social e estando toda a
gente ligada aí, acho que é a melhor de publicitar, entre todas.
4. Conheces Poetry Slams de outros pontos do país? E de outros países?
Não.
Nunca viste nada sobre outros? Na net? Alguém já te falou?
Sim. já procurei, sim. já me falaram. O bruno fala bastante disso. E já procurei integrado
no Festival do Silêncio em Lisboa…mas não retive assim nenhuma informação
relevante.
Daquilo que te lembras, ficaram patentes algumas semelhanças ou diferenças entre
esses outros e o daqui?
Não, não. Não me lembro.
5. Participas no slam X em que vertentes: organização, slammer, público, júri?
Júri.
Não pertences ao público?
E público.
6. Em que outros Poetry Slams já participaste? Como slammer, público, júri,...?
Em mais nenhum.
7. (se respondeu sim à pergunta anterior) Que semelhanças existem entre os Poetry
Slams em que já participaste? E diferenças?
Não me lembro.
8. Como descreverias o poetry slam?
A nível de quê? De evento? De participantes?
Não digo mais nada.
Ok.
O que é que tu dirias? Se te pedissem “olha, preciso de um texto a dizer o que é o
poetry slam.”
Hmmmm. É uma noite bem passada. Hmmm…consegues-te rir muito, consegues-te rir
um bocadito menos, consegues sair de sentindo e não sentindo, consegues abrir a boca
e mantê-la fechada, bater palmas e não bater, hahaha…sais de lá contente, por norma,
sempre que lá vais…ouves coisas inteligentes, ouves coisas engraçadas…no fundo é um
espaço que não há barreiras, sem barreiras.
3 palavras que associas ao slam.
Inovação, poesia e liberdade.
Público
1. Por que escolhes o poetry slam em relação a outros eventos ou outras actividades
que poderias fazer à mesma hora e dia do slam?
Já que só se passa uma vez por mês, temos que aproveitar. Se é um sítio bom, se é um
sítio que sais a rir e sais contente por norma, acho que é de aproveitar.
2. Como é que defines o papel, a participação do público? Temos vários tipos de participação,
temos os organizadores, temos os slammers e temos o público/júri. Todos têm o seu papel
ali dentro e todos fazem o que aquilo é. Como é que tu vês a parte do público?
Em termos de quê? De organização? Em termos organizativos e dentro do…?
O que é que achas que o público está ali a fazer? Como é que vês o público do slam?
Eu acho que o público, em tudo, é muito importante, muito importante mesmo. E acho que
ali ainda, ainda se faz mais importante não é? Ainda é mais importante. Porque muitas
vezes, há muita gente que quando participa enquanto slammer no poetry slam, vai de
improviso não é? E o improviso surge muitas vezes da reacção do público. Se o público
reage melhor tu tens…tens vontade de ir mais além e de seguires a linha de pensamento e
a linha daquilo que estás a dizer mais emotivamente e explorar mais um bocadito. Se a
reacção do público é mais frouxa, tens um bocado de necessidade, se calhar por ti, de te
resguardares um bocadito. Ao fim e ao cabo, o papel do público, se calhar o papel do
público é o mais importante dentro de tudo do slam. Porque se não houver público não há
slammers.
E se eu te pedisse para me comparares a forma de estar do público no slam em relação,
por exemplo, a um recital de poesia. Que diferenças é que tu vês?
Num recital de poesia tens regras a cumprir não é? Por norma, não interrompes quem está a
recitar. Ali podes interromper com gargalhadas, com…até pelo ambiente onde ele é feito.
São públicos totalmente diferentes.
A qual é que atribuis mais importância? Com qual é que te identificas mais?
É o do slam.
3. Pensas participar no slam numa das outras vertentes: organizando, competindo ou
fazendo parte do júri? Se sim, porquê?
Sim, sim. se calhar competir, enquanto slammer. Porque não?
4. Já fizeste parte do júri de um slam?
Sim.
Júri
1. Como decides a pontuação a dar?
Por comparação.
E se estiveres a pontuar a 1ª pessoa? Não podes comparar. Como é que fazes? Em que é que
tu pensas? O que é que é importante para ti?
Muitas vezes, a conjunção, se calhar, daquilo que sinto ao ouvir e a forma como é dito. Se
bem que a forma como é dito também te faz sentir ou deixar de sentir. É um bocadinho
complicado. Se calhar, a forma como sinto aquilo que é dito, a forma como é dito e o que é
dito. Sim, acho que sim.
Quando dizes isso, estás a dizer que tentas ver a parte da performance e a parte do que
seria o texto no papel? Tentas ver as duas coisas?
Sim. sim, sim. mas…pois…nesse sentido. Quando me estavas a perguntar nisso eu estava-
me a lembrar, por exemplo, de um slammer que vai dizer hip hop. Não estava sequer a por
outra hipótese quando me estavas a perguntar isso. (inaudível) eu acho que também tem
muito a ver com o tipo de slam que as pessoas fazem. Não é? Se uma pessoa vai dizer hip
hop a fazer slam, tu ouves aquilo e o hip hop faz sentido rimar. E se rima e se diz coisas
certas é uma coisa. Se, por sua vez, vês uma performance de poesia clássica, é totalmente
diferente e a forma como é dita. Por sua vez, se vês uma performance…
Mas tu…
Não comparo, nesse sentido não estabeleço comparações, entre as formas como é dito e o
que é dito. Mas depois vês uma performance…numa linha um bocadinho diferente destas
duas, que atribui velocidades ao texto que é dito diferentes, e que apesar de…por vezes
não faz muito sentido o que é dito…aí já é diferente, as variáveis são outras, a comparar, eu
acho.
Tu, dependendo do género que reconheces, mobilizas critérios diferentes?
Hmmm, hmmm. Agora se me perguntares “e se cruzares 2 géneros que ficam para o fim,
qual é que tu preferes e qual é o teu critério de selecção?”, eu acho que aí, por aquilo que
me transmite, um e outro. E, se calhar, não ligo tanto à forma como é dito e o tipo de
performance tá (inaudível)
É mais uma questão de sensação?
Acho que sim.
2. Quais são as tuas principais dificuldades?
Muitas vezes, se calhar a maior dificuldade é saberes. Quando tens que…quando tens 2 ou
3 pessoas e não mais, não é? Em estilos diferentes, que dentro do seu estilo são muito
diferentes e que estás ali a ter que estabelecer uma comparação para uma ganhar e outra
perder. Acho que aí é a maior dificuldade.
Então, por exemplo, sentes que é mais fácil quando os estilos são mais semelhantes?
Sim, sem dúvida. Porque podes estabelecer comparação. Estava-te a dizer isso.
Relação com o Poetry Slam
O Poetry Slam tem, geralmente, uma parte de competição e uma parte de open mic. A
primeira tem algumas regras e uma certa ordem. A segunda pressupõe uma participação
com menos limites (tempo, adereços) e não tem a atribuição de pontuação.
1. O que pensas sobre o formato de competição?
Enquanto público é muito mais interessante do que o microfone aberto. Porque obriga as
pessoas a tentarem ser melhores do que a vez anterior, sempre, não é? E porque há sempre
alguém para nos fazer frente e isso torna sempre as coisas mais engraçadas, não é?
2. E o que achas da parte de open mic, microfone aberto?
Enquanto público...acho que o microfone aberto, para aquelas pessoas que não se sentem
com muita confiança de participar na parte da competição mas que querem mostrar
qualquer coisa que fizeram, acho que sim, acho que é interessante.
3. O que pensas do papel, da função do júri?
É indispensável, é indispensável.
Porquê?
Porque é, na verdade, quem dita o que vai acontecer a seguir. Quem é que vai ler a seguir e
vai decidir não é? O que é mais interessante e o que é menos.
4. Achas que deviam ser dados critérios prévios ao júri para a avaliação que fazem?
Pá, acho que sim, acho que sim. mas acho que isso também…mas conhecendo o formato,
faz sentido que não seja dado. Conhecendo o formato. Mas acho que seria muito mais fácil
para o júri e, se calhar, muito mais justo se fossem dados critérios.
Tens alguma sugestão de que critérios poderiam ser dados?
A minha sugestão são sempre os meus, não é? Sempre aquilo que eu avalio. A performance,
a forma como são ditos, não é? E depois o critério aberto é o mais fácil, que é a forma como
nos sentimos. E havia um critério aberto e dois estabelecidos. Acho que sim, acho que era
engraçado.
Se bem entendi, um dos critérios é a sensação…
Era nosso, claro, claro, sim.
5. O que pensas sobre a condição de os textos terem que ser da autoria do slammer
para que possa participar na competição?
6. Na tua opinião, qual foi a razão para se criar um evento desta natureza, com estas
características?
Porque acho que até aí era tudo muito bem feitinho, não é? (risos)
Explica.
Não sei. Parece que quando uma pessoa ouve poesia está sempre adjacente, no senso
comum, uma coisa muito séria, uma coisa em que tens que ir bem vestida, portar muito
bem. E é preciso abanar, às vezes. Foi um abanão à palavra poesia.
7. Qual a tua opinião sobre os textos que são lidos, performados no poetry slam?
Os tipos de texto…acho que…pá, como tudo, há uns melhores, há outros piores. Mas acho que,
dentro do melhores, que é sempre a base de comparação, acho que são super interessantes,
super actuais. E acho que puxa sempre muito àquilo que estás a viver agora. só tu ou toda a
sociedade à tua volta.
Falas de que encontras temas da actualidade?
Sim. sim, sim. sem dúvida.
8. Achas que há um tipo de texto, um tipo poesia do poetry slam, que tem mais a ver
com o poetry slam? (se sim) Podes descrever, dizer como é, esse tipo de texto?
Ah, sim sim. claro. Interventivo.
Isso tem a ver com o conteúdo. E em termos de forma, do aspecto da performance?
Oh pá, não sei. Os slammers são um bocadito constantes.
Na tua opinião, há algum tipo de…”olha, aquela, aquilo é o que mais, para mim, está mais de
acordo com o poetry slam”.
Com o conceito…
Por exemplo, um estilo de que falaste há bocado é o hip hop. Implica uma performance
muito característica. Tu achas que há um tipo de performance mais adequado ao conceito do
poetry slam?
Adequado não é o termo. Se calhar acho que não. Não sei, cabe tudo. No conceito de poetry
slam cabe mil estilos, mil performances. Agora, se calhar, se me disseres “se a tua performance
de eleição é uma performance clássica onde alguém leva um texto escrito por si e o diz
classicamente”, se me perguntares se esse tipo de performance encaixa no poetry slam eu
digo-te que não. Pelo menos não é aquilo que eu associo, enquanto público, ao poetry slam.
O que é que associas?
Associo um tipo de performance, se calhar, diferente, não é? Onde se brinca com as palavras,
onde se repete as palavras, onde se junta tipos de vozes em simultâneo ou não, onde existe
muita repetição o que provoca uma transformação das palavras. Se calhar, esse tipo de
performance, para mim, é slam. É o que eu associo.
9. O que gostas mais no Poetry Slam?
Sabendo previamente como é que iria ser o programa do slam? Ou…
No geral.
Do conceito em si.
10. O que gostas menos?
Se calhar, da falta de espaço, da sala.
11. Já falaste sobre o Poetry Slam com pessoas que não ouviram falar ou nunca
estiveram num? O que dizes?
Vai. Porque vais gostar. Também tem a ver com o tipo de pessoa a quem vou dizer isso. Se for
uma pessoa do meu dia-a-dia, um amigo, “vai, vale a pena ir. Vais encontrar uma coisa
diferente, que nunca viste”.
Se for outro tipo de pessoa
Se calhar, passa mais ou menos pela mesma coisa. “vai, vais gostar. É diferente.” Se for uma
pessoa com contacto com a poesia, “vai. Vai mesmo. Vai participar. Escreve qualquer coisa e
participa. Vale a pena”. Se for uma pessoa mais fora e que não liga tanto, que não tem uma
relação tão próxima com as artes, “vai ser uma noite engraçada. Vais-te divertir, vais beber uns
copos e os gajos até dizem umas coisas giras”. Por aí.
12. Na tua opinião, o que é que atrai as pessoas, público e slammers, no Poetry Slam?
Bem, eu acho que é o conceito em si. Passa muito por aí. Passa muito pela diferença, por ser
uma coisa nova. Por não encontrares a cada esquina nem todos os dias. Acho que é isso.
13. Na tua opinião, para que serve o Poetry Slam?
A conjunção do texto com a performance, se calhar. A desconstrução do texto, que é muito
importante. E o fugir ao clássico. Serve para termos uma visão diferente daquilo que é a
poesia, no fundo. Acho que sim, acho que é isso.
14. Achas que existe uma comunidade em torno do Poetry Slam? Porquê?
Entre pessoas, público, júri? Sim, sim. como em tudo. Recorrentemente, pessoas que vão e
que estão, sim.
Já fizeste amigos no slam? Ou já fizeste alguma actividade com alguém que tenhas
conhecido no slam?
Pessoas novas? Não.
15. Achas que há grupos/comunidades de diferentes tipos de poesia?
Ah sim, claro. De outros tipos de poesia? Espera…
De outros tipos de poesia, não diria assim. Mas de outros tipos de eventos de poesia. Por
exemplo, pessoas que vão regularmente a recitais de poesia ou a outros tipos de leitura.
Acho.
Cá em Coimbra, por exemplo, achas que sim?
Que eu tenha conhecimento não.
E em Portugal?
Acho que sim.
16. Achas que o Poetry Slam é influenciado por outras áreas artísticas? Como?
Sim, claro. Teatro, muito. Pela música, um bocadinho.
Em relação ao teatro, por exemplo, como é que explicarias essa influência?
A nível de desconstrução. O que o teatro faz, no fundo, é desconstruir tudo. E voltar a
construir de novo. É muito parecido com o tipo de poesia feita no poetry slam. Ou, pelo
menos, pelo conceito que para mim é poetry slam e a performance que lhe está associada. É
desconstruir as palavras (tom ligeiro de exclamação).
E em relação à música?
A forma de dizer, se calhar. Apesar da música ser sempre cantada. Quando existe voz na
música. E o slam tem sempre voz. Não necessariamente o canto.
17. Baseando-te na tua experiência de frequentadora de eventos de poesia, podes
fazer uma comparação entre o poetry slam e outros eventos de poesia em que há
leituras e performances de poesia?
É muito difícil assim. Comparar como?
Olha, por exemplo, se tivesses que dizer a alguém para ir ao poetry slam e essa pessoa te
dissesse “ah, vou a recitais e a leituras de poesia e não gosto”.
É diferente no fundo. É um sítio diferente. Estás num ambiente descontraído. Estás com
amigos, podes interagir com os teus amigos ao mesmo tempo que estás a participar no slam
enquanto…público, enquanto slammer, organização. Existe uma interacção. Num recital de
poesia não existe. Acho que a preferência de qualquer pessoa minha conhecida passava por aí,
ia muito por aí.
Se tivesses que dizer agora 3 palavras sobre o slam, o que é que dizias?
Inovação, inovador, poesia e divertimento.
Alguma coisa que gostasses de dizer e que eu não te dei oportunidade de dizer?
Oh pá sim. só espero que o poetry slam continue e não acabe. Acho que é muito importante,
mesmo. E não se torne nos sítios centrais. Espero que mais gente agarre essa ideia noutros
países e lá fora. Acho que faz muita falta a países muito sérios. E são alguns deles. Terem um
conceito como o poetry slam a funcionar.
18. (excepto para organizadores) Como vai ser o futuro do Poetry Slam em Portugal?
Em Portugal? Depende de muitas coisas, de muitas vontades. Se houver muita vontade, acho
que tem toda a possibilidade e toda a força para se expandir a várias terras deste país. Se
houver pouca vontade e poucos interessados, tem toda a probabilidade de morrer na praia.
Acho que há mais probabilidade de acontecer a expansão.