EM TEMPO - 15 de março de 2015

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VENDA PROIBIDA EXEMPLAR DE ASSINANTE PREÇO DESTA EDIÇÃO R$ 2,00 FALE COM A GENTE - ANÚNCIOS CLASSITEMPO, ASSINATURA, ATENDIMENTO AO LEITOR E ASSINANTES: 92 3211-3700 ESTA EDIÇÃO CONTÉM - ÚLTIMA HORA, OPINIÃO, ECONOMIA, PAÍS, MUNDO, DIA A DIA, PLATEIA, PÓDIO, SAÚDE, ILUSTRÍSSIMA, ELEIÇÕES E ELENCO. ANO XXVII – N.º 8.652 – DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO O JORNAL QUE VOCÊ LÊ MÁX.: 30 MÍN.: 25 TEMPO EM MANAUS DENÚNCIAS • FLAGRANTES 98116-3529 A melhor parte da história de Manaus se esconde por trás de fachadas imponentes gastas pelo tempo. Os fantasmas de pedra não lembram nem de perto o apogeu da belle époque. À exceção de alguns prédios antigos, a maioria deixou de con- tribuir para o legado arquitetônico de uma cidade perdida na própria memória. A boa notícia é que novos projetos podem mudar esse cenário e trazer de volta os tempos áureos da capital da Amazônia. Política A8, Dia a dia C1 a C5 e Plateia D1 O print fever continua com toda força como objeto de desejo das fashionistas. O mix das etnias maia, inca e asteca é o ponto de partida para a tendência das novas estampas. Elenco 10 e 11 O Fundo de Garantia por Tempo de Servi- ço pode proporcionar benefícios, especial- mente quando se trata de adquirir ou quitar um imóvel. Conheça os pré-requisitos para utilizá-lo. Salão Imobiliário 1 Quem vive em constante luta com a balança muitas vezes acaba se confun- dindo com tantas opções de dieta. O ideal é saber escolher a mais apropriada para o seu organismo. Saúde F4 e F5 Com a palavra A5 José Sarney se considera ‘injustiçado’ ENTREVISTA DIVULGAÇÃO FOTOS: DIVULGAÇÃO Sarney crê que seu papel na democracia foi alvo de injustiças Última Hora A2 Jovens perdidos na mata já estão em casa APÓS 12 HORAS SUPLEMENTOS FANTASMAS DO PASSADO EXPLOSÃO DE PROTESTOS Política A6 e A7 Criação de alevinos ainda caminha a passos lentos RICARDO OLIVEIRA Imóvel que abrigou o Hotel Cassina e o Cabaré Chinelo foi incluído no Plano de Aceleração do Crescimento 2, o PAC Cidades Históricas ALBERTO CÉSAR ARAÚJO A blogueira Martha Graeff é a estrela da campanha que traz refe- rências da cultura étnica Estado ainda não produz o que consome PISCICULTURA Maior consumidora per capita de pescado do mundo, Manaus está longe de ser autossuficien- te na piscicultura, pois importa 20 toneladas de pescado. No entanto, investimentos em qualificação e pesquisas começam a mudar essa configuração. Economia B1 e B2 Eu acredito que contribuí para o país José Sarney

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EM TEMPO - Caderno principal do jornal Amazonas EM TEMPO

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VENDA PROIBIDA

EXEMPLARDE

ASSINANTEVENDA PROIBIDA

EXEMPLARDE

ASSINANTE

PREÇO DESTA EDIÇÃO

R$

2,00

FALE COM A GENTE - ANÚNCIOS CLASSITEMPO, ASSINATURA, ATENDIMENTO AO LEITOR E ASSINANTES: 92 3211-3700ESTA EDIÇÃO CONTÉM - ÚLTIMA HORA, OPINIÃO, ECONOMIA, PAÍS, MUNDO, DIA A DIA, PLATEIA, PÓDIO, SAÚDE, ILUSTRÍSSIMA, ELEIÇÕES E ELENCO.

ANO XXVII – N.º 8.652 – DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 – PRESIDENTE: OTÁVIO RAMAN NEVES – DIRETOR EXECUTIVO: JOÃO BOSCO ARAÚJO

O JORNAL QUE VOCÊ LÊ

MÁX.: 30 MÍN.: 25TEMPO EM MANAUS

DENÚNCIAS • FLAGRANTES

98116-3529

A melhor parte da história de Manaus se esconde por trás de fachadas imponentes gastas pelo tempo. Os fantasmas de pedra não lembram nem de perto o apogeu da belle époque. À exceção de alguns prédios antigos, a maioria deixou de con-tribuir para o legado arquitetônico de uma cidade perdida na

própria memória. A boa notícia é que novos projetos podem mudar esse cenário e trazer de volta os

tempos áureos da capital da Amazônia. Política A8, Dia a dia C1 a C5

e Plateia D1

O print fever continua com toda força como objeto de desejo das fashionistas. O mix das etnias maia, inca e asteca é o ponto de partida para a tendência das novas estampas. Elenco 10 e 11

O Fundo de Garantia por Tempo de Servi-ço pode proporcionar benefícios, especial-mente quando se trata de adquirir ou quitar um imóvel. Conheça os pré-requisitos para utilizá-lo. Salão Imobiliário 1

Quem vive em constante luta com a balança muitas vezes acaba se confun-dindo com tantas opções de dieta. O ideal é saber escolher a mais apropriada para o seu organismo. Saúde F4 e F5

Com a palavra A5

José Sarney se considera ‘injustiçado’

ENTREVISTA

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Sarney crê que seu papel na democracia foi alvo de injustiçasÚltima Hora A2

Jovens perdidos na mata já estão em casa

APÓS 12 HORAS

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FANTASMASDO PASSADO

EXPLOSÃO DE PROTESTOSPolítica A6 e A7

Criação de alevinos ainda caminha a passos lentos

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Imóvel que abrigou o Hotel Cassina e o Cabaré Chinelo foi incluído no Plano de Aceleração do Crescimento 2, o PAC Cidades Históricas

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A blogueira Martha Graeff é a estrela da

campanha que traz refe-rências da cultura étnica

Estado ainda não produz o que consome

PISCICULTURA

Maior consumidora per capita de pescado do mundo, Manaus está longe de ser autossufi cien-te na piscicultura, pois importa 20 toneladas de pescado. No entanto, investimentos em qualifi cação e pesquisas começam a mudar essa confi guração. Economia B1 e B2

Eu acreditoque contribuí para o país

José Sarney

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A2 Última Hora MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

Pais resgatam filhos queficaram 12 horas na mataOs adolescentes, que moram nas proximidades, foram encontrados por volta das 6h de ontem sem nenhuma sequela

Aproximadamente oito adolescentes, com idades entre 12 e 16 anos, foram res-

gatados pelos próprios pais, no início da manhã de ontem, depois de passarem a noite da última sexta-feira perdidos dentro da Reserva Florestal Adolpho Ducke, localizada na Zona Norte de Manaus.

De acordo com informações de familiares, os jovens haviam saído para irem à escola, po-rém se desviaram do caminho e foram tomar banho em um igarapé na reserva, como cons-tumavam fazer.

Segundo a tia de um adolescente que integrava o grupo, Lais Rodrigues, o sobrinho comentou que se perderam durante a chuva que caiu na tarde de sexta-feira em diversos pontos da cidade, inclusive na reserva Adolpho Ducke. “Depois que começou a chover, eles não conseguiram mais encon-trar a saída e ficaram per-didos na floresta”, revelou.

Ela disse que os familiares ficaram sabendo do desapa-recimento dos jovens no início da noite de sexta, após um

adolescente, que não quis ir ao passeio porque tinha tare-fas para fazer, informar que os adolescentes não haviam retornado do passeio na flo-resta. “Acionamos o Corpo de Bombeiros, mas informaram que só poderiam iniciar as buscas pela manhã e hoje (ontem), por volta de 6h. Como eles não haviam aparecido ainda, os pais resolveram procurar os jovens e encon-traram”, afirmou.

O tenente do Corpo de Bom-beiros, Ferreira de Amorim, informou que a corporação ficou sabendo do fato na noite de sexta, mas por conta do horário era inviável mandar uma equipe de busca para a mata. Ainda mais, confor-me ele, porque não tinham confirmado oficialmente com os familiares se as crianças haviam sumido de fato.

Com a confirmação do de-saparecimento dos adoles-centes na reserva logo ontem pela manhã, ele destacou que uma equipe de busca e res-gate do Batalhão de Incêndio Florestal e Meio Ambiente foi mobilizada para iniciar as buscas. Porém, quando che-gou ao local foi informada que os jovens já haviam sido encontrados por familiares. Oito adolescentes, entre 12 e 16 anos, ficaram perdidos na reserva Adolfo Ducke, desde a tarde da última sexta até ontem

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

Idoso cai no ‘golpe do sequestro’

Um servidor público de 63 anos, que não quis ter o nome revelado, foi vítima do golpe do telefone em que os bandi-dos conseguiram levar mais de R$ 20 mil, após terem simulado o sequestro de uma das filhas, de 26 anos.

Segundo os investigadores da Delegacia de Especiali-zada de Homicídios e Se-questros (DEHS), na noite da última quinta-feira, o servidor recebeu uma ligação de um número com código de Disca-gem Direta à Distância (DDD) de número 21, que abrange cidades do Estado do Rio de Janeiro e, durante a ligação, os falsos sequestradores afir-maram que estavam com a filha da vítima.

Eles também ameaçaram matá-la, caso ele não de-

positasse quantias exigidas pela quadrilha em uma conta fornecida pelos suspeitos.

De acordo com a polícia, os falsos sequestradores con-seguiram convencer o idoso a fazer vários depósitos. A extorsão só teve fim após familiares acionarem a DEHS durante toda sexta-feira, em que os investigadores, coor-denados pelo delegado titu-lar Ivo Martins, se dedicaram para elucidar o caso.

Os falsários teriam pedido à vítima para que não acio-nasse a polícia, mas, por volta das 23h do dia do golpe, o servidor já havia transferido aproximadamente de R$ 20 mil em caixas eletrônicos de diferentes pontos de Manaus. Ele passou horas sem se co-municar com a família.

Os familiares do idoso estranharam seu sumiço e resolveram acionar a po-

lícia, imaginando que ele pudesse ter sido vítima de um sequestro.

ResgateA polícia localizou o idoso

em um hotel próximo à ro-doviária de Manaus, na tarde da última sexta-feira. O local seria onde a vítima poderia buscar a filha, segundo os bandidos, após o pagamento do resgate.

Ainda segundo a polícia, o idoso foi orientado a ir até a Delegacia Geral da Polícia Civil (DG), que fica a poucos quilômetros do local onde ele estava, pois o delegado Ivo Martins já tinha conseguido contato com a filha do servi-dor, que estava em casa, com a família, e não havia sido se-questrada. A DEHS investiga se os bandidos já conheciam a vítima ou se aplicaram o golpe aleatoriamente.

POLÍCIA INTERIOR

Posse de novo prefeito deSanta Isabel do Rio Negro

Arailton do Nascimento (PTB), o “Careca”, e o vice Evandro Aquino são os no-vos prefeitos do município de Santa Isabel do Rio Negro. Eles foram empossados na última sexta-feira, na Câmara de Vereadores.

Depois da posse, os novos governantes foram até a pre-feitura acompanhados pela população. Logo em seguida, o prefeito “Careca” discursou. “Meu compromisso é com o povo, não estou aqui para perseguir ninguém, estamos aqui para trabalhar, vou servir o povo, isso é meu papel e meu compromisso, sei que não vai ser fácil mas vamos juntos para uma no direção, dar realmente o direito do

povo”, disse.Arailton e Evandro assumi-

ram a prefeitura depois que o ex-prefeito Mariolino Siqueira (PDT) e o vice Cornélio Dimas de Albuquerque (PRP) foram cassados pelo Pleno do TRE-AM por abuso de poder econô-mico nas eleições de 2012.

De acordo com a denúncia do MP, durante a campanha, o ex-prefeito declarou gas-tos R$ 178.126,58, mas o ex-trato bancário da conta ofi-cial da campanha constava apenas R$ 15 mil. “Eviden-ciando que mais de 90% dos recursos declarados como gastos não transitaram pela conta bancária específica de campanha”, cita o parecer do MPE.

Arailton do Nascimento, o “Careca”, tomou posse na sexta

DIVULGAÇÃO

Bandidos ligaram para a vítima e solicitaram R$ 20 mil para o suposto resgate da filha dela

EBC

Protestosrealizadosem Brasília

Em Brasília, a mani-festação convocada por centrais sindicais em de-fesa da Petrobras e da reforma política come-çou por volta das 17h de sexta e foi até a manhã de ontem, na Rodoviária do Plano Piloto, na área central da cidade. O ato, que integra o chamado de Dia Nacional de Luta, foi organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), pela Central dos Trabalhadores e Traba-lhadoras do Brasil (CTB) e outras entidades.

Segundo os organiza-dores, cerca de 1,5 mil pessoas participaram do evento. A Polícia Militar contabilizou 800. Com bandeiras das centrais sindicais e do Partido dos Trabalhadores (PT), os manifestantes deram voltas na rodoviária com palavras de ordem a fa-vor da presidente Dilma Rousseff, da Petrobras e contra a oposição.

“Essa manifestação é em defesa da democracia, do Brasil, da Petrobras e dos direitos dos tra-balhadores. Defendemos a permanência da presi-dente eleita e dialogare-mos com ela por todos os direitos dos trabalhado-res”, disse o integrante da direção nacional da CTB, Paulo Vinícius.

Manifestação em defe-sa da Petrobras e dos di-reitos dos trabalhadores, na Rodoviária do Plano Piloto, no centro de Bra-sília (Fabio Rodrigues Po-zzebom/Agência Brasil).

NACIONAL

MAIRKON CASTROEspecial EM TEMPO ONLINE

SILANE SOUZAEquipe EM TEMPO

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Page 3: EM TEMPO - 15 de março de 2015

MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 A3Opinião

As manifestações de sexta-feira e deste domingo em ao menos 16 Estados estão apoiadas em três percepções de um mesmo problema, a crise a que foi levado o país, menos por ignorância do que por má-fé. Em uma das vertentes, os manifestantes querem a qualquer preço o afastamento da presidente Dilma Rousseff , como se a questão fosse a Presidência. Em um segundo plano (mas não de importância), a defesa da presidente recusa qualquer responsabilidade e recua o relógio da crise, preferivelmente, até o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

Três: trabalhadores, suas centrais sindicais e algumas relíquias nacionalistas entendem que a Petrobras está sendo atacada por ameaças alienígenas, quando já se provou que o inimigo do nosso petróleo mora dentro de casa e tem acesso aos segredos da cozinha.

As três situações revelam o quanto os brasileiros continuam receosos de encarar a realidade, quaisquer que sejam os motivos para esse recalque. Revelam mais: o quanto os partidos políticos estão longe de re-presentarem as demandas da sociedade, nos seus mais diferentes interesses ideológicos. Já está claro (se alguma vez não esteve) que distribuição de renda não é meter a mão no bolso de uns em favor de outros. Trocar a presidente por meia dúzia (sempre se fez isso), já se começa a entender, não colocará o país nos trilhos. E agora?

O governo da inclusão social mandou o povo pintar a fachada da casa e, agora, sem a menor cerimônia, dispara a solução que considera viável: segurem no pincel que vamos tirar a escada. E tirou a escada. O custo da limpeza da calçada é de quem se estatelou no chão. Neste domingo, o Brasil parece um hospício que indultou seus internos. A governabilidade que se sustenta na chantagem está ameaçada. Mas o grande o golpe ainda é o medo do golpe. Ele está na rua.

Contexto3090-1016 [email protected]

Para a Secretaria de Estado da Cultura, que está promovendo concertos itinerantes em pontos diferentes de Manaus, levando o talento da Amazonas Filarmônica e do Coral do Amazonas até a população com espetáculos gratuitos.

Secretaria de Cultura

APLAUSOS VAIAS

‘Vem pra rua’

O movimento “Vem pra rua” divulgou em sua página do Fa-cebook vídeos com os artistas se manifestando e chamando seus seguidores para partici-parem do ato.

***

Marcio Garcia, Christine Fernandes, Malvino Salvador, Marcelo Serrado, Alessandra Maestrini e Kadu Moliterno são alguns dos que gravaram mensagens. Ronaldo Fenôme-no e a cantora Wanessa tam-bém confi rmaram presença.

Diploma de jornalismo

A Proposta de Emenda à Constituição – PEC 386/2009 – que restabelece a exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profi ssão volta à pauta de debates na Câmara dos Deputados.

Proposta

O presidente da casa, Eduar-do Cunha, incluiu a proposta na pauta da próxima terça-feira (17). A proposta – que foi apro-vada por comissão especial em julho de 2010 - precisa de 308 votos favoráveis para ser aprovada, em dois turnos.

Resposta

Apresentada pelo deputa-do Paulo Pimenta (PT-RS), a proposta é uma resposta à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que revogou a exigência do diploma de jor-nalismo como requisito para o exercício da profi ssão.

Burrice

O STF considerou inconsti-tucional o decreto-lei 972/69, que exige a formação de ní-vel superior específi ca para a prática do jornalismo. Segun-do o Supremo, a exigência do diploma “vai contra a liberda-de de expressão prevista na Constituição”.

***

O que é uma burrice. A exigência do diploma de jor-nalista nada tem a ver com a ausência de liberdade de expressão. Pelo contrário. Somente um profissional com conhecimentos cien-tíficos, que só a faculdade oferece, saberá usar a li-berdade de expressão com responsabilidade.

Balela

O ministro Gilmar Mendes, verdadeiro culpado pela defe-sa da revogação do diploma, é formado em direito. Ora, direito não é senso comum? Então, diploma para quê, caro ministro? Se assim fosse, para quê médicos se existem tantos curandeiros por aí?

***

É óbvio que a formação acadêmica se faz necessária, principalmente em um país onde a educação é deixada para segundo plano.

***

Não se discute aqui talen-to e vocação. Tais atributos todos podem ter. Mas é es-

sencial aperfeiçoá-los, e so-mente com o conhecimento adequado é possível desen-volvê-los dentro de universo que não depende de teorias empíricas.

Protestos

A manifestação contra o governo de Dilma Rous-seff, marcada para ocor-rer nas principais cida-des do país hoje, deverá contar com a presença de muitos famosos.

Solidariedade

A Assembleia Legislati-va do Amazonas (Aleam) está convocando servido-res e a população em ge-ral a participar da primeira campanha solidária do ano para ajudar as vítimas da enchente no interior.

Doações

Amanhã, a Escola do Legis-lativo começa a arrecadar do-ações de alimentos não pere-cíveis, colchões, produtos de higiene, roupas e outros ob-jetos pessoais, para entregar à Defesa Civil do Amazonas, órgão responsável por levar as doações aos moradores das cidades atingidas.

Sabatina

O programa “Roda Viva”, da TV Cultura, entrevista ama-nhã o presidente da Câma-ra dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Entre os assuntos da sabatina estão os desdobramentos da ope-ração Lava Jato.

Para pedestres que preferem arriscar a própria vida a usar passarelas ou faixas sinalizadas para atravessar vias de intenso movimento. “Perder” alguns minutos para chegar ao destino desejado pode evitar tragédias.

Imprudência

O dia de hoje é emblemático para o Brasil. Em um 15 de março de 1985, José Sarney tomava posse no Palácio do Planalto – interinamente, no lugar de Tancredo Neves – como primeiro presidente civil após o golpe de 1964, marcando assim a redemo-cratização do país.

Trinta anos depois, o país traz o movimento “Vem pra rua” contra a corrupção na política justamente neste 15 de março. O que será da História daqui a 30 anos ninguém pode prever, mas que prevaleça a democracia e que qualquer tipo de autoritarismo ou corrupção seja extinto pelas futuras gerações.

A folhinha marca 15 de março

EBC EBC

[email protected]

O golpe do medo está na rua

Meu caro Arthur: tenho absoluta certeza de que você bem sabe que, desde que voltou a Manaus, lá pelos anos 1960, e assumiu então a sua maior vocação, de político e homem público, tenho comparecido regular-mente à seção eleitoral e ali votado em você, candidato a deputado, a prefeito, a senador, a governador.

E não o fi z movido pela amizade que lhe dedico, por sinal mais velha do que nós, porque de família, cujas fi guras de fundadores, gravadas na minha memória, concentram-se nas imagens do meu pai e do seu avô, o inesquecível desembargador Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro, depois passando pela fi gura do seu pai, o senador Arthur Virgílio Filho. Como acho que o voto não pode ser guiado pela afetividade, porque envolve res-ponsabilidade social, tenho votado em você em razão das suas creden-ciais pessoais e políticas.

Neste preciso momento, vejo você a enfrentar uma “barra pe-sada” na administração da nossa cidade, quando um simples ato de gestão, no caso a implantação de vias expressas para os ônibus, começa a dividir a população en-tre os que entendem e aprovam e aqueles que apenas destacam os efeitos negativos, concretamente a expansão dos congestionamentos. Para opinar, direi que, se houve um erro de logística, este consistiu no fato de o carro ter ido adiante dos bois: a faixa privativa é perfeita, mas faltam os ônibus do BRS para preencher o seu chocante vazio e ao mesmo tempo esvaziar o que está cheio do outro lado da via.

A respeito, já soube que há uma imposição superior a pressionar a prefeitura na efetivação de uma melhor mobilidade urbana. Não sei se ocorreu realmente essa pressão, mas sei com certeza que o seu estilo não é de deixar para depois o que deve ser feito e isso, lá atrás, já

foi demonstrado no seu primeiro mandato de prefeito.

Na verdade, você tomou para go-vernar uma cidade extremamente difícil, inclusive porque nela estão as heranças de gestões desastrosas que não souberam respeitá-la, mas apenas dela se serviram para im-plementar governanças populistas e eleitoreiras em proveito próprio. Nessa herança foram incluídas as invasões e proliferações de bairros sem planejamento; a entrega total da cidade a camelôs e a ambu-lantes; a irresponsável instituição das motocicletas como transporte público; o licenciamento de micro-ônibus como coletivos que se situ-am acima e à margem das mais elementares regras do trânsito. E não para por aí.

Mas vamos ver onde vai parar esse tal BRS, que ainda não justifi cou a que veio. E olhe que esta já é a segunda vez em que tenta entrar em cena e a primeira foi um fi asco total, quando passou de Expresso a “Estresso”, depois de infernizar o prefeito Serafi m, que nem era o pai da criança. Enquanto isso, Arthur, por que você não ataca vários im-passes que aí estão e que tocam a unanimidade da população?

Por exemplo, a Zona Azul, que de-verá dar vez, com justiça, a quantos precisem estacionar no Centro e acabará com as vagas cativas por até doze horas, libertando muitos de nós dos achaques dos “fl anelinhas”. Outra sugestão, dentro do projeto de repaginar a Eduardo Ribeiro, seria a reabertura das vias que compõem a Praça do Congresso, onde hoje todo o trânsito da avenida é deslo-cado à esquerda, para a Monsenhor Coutinho (mais de uma vez por dia bloqueada pelos funerais que dela partem) e ainda impede qualquer acesso à rua Tapajós. Às vezes, pequenas ações se juntam para gerar grande efeito.

João Bosco Araú[email protected]

João Bosco Araújo

João Bosco Araújo

Diretor executivo do Amazonas

EM TEMPO

Carta ao Arthur

[email protected]

Regi

A respeito, já soube que há uma imposição superior a pressionar a prefeitura na efetivação de uma melhor mobilidade urbana. Não sei se ocorreu realmente essa pressão, mas sei com certeza que o seu estilo não é de deixar para depois o que deve ser feito e isso já foi de-monstrado no seu primeiro mandato”

[email protected]

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Page 4: EM TEMPO - 15 de março de 2015

A4 Opinião MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

FrasePainelVERA MAGALHÃES

Embora não defenda publicamente o impeachment de Dilma Rousseff , a oposição aposta no de-poimento de Alberto Youssef à CPI da Petrobras como o caminho jurídico para embasar um eventual pedido, caso as manifestações pela saída da presidente ganhem força. O doleiro disse em delação na Lava Jato que Dilma e Lula sabiam dos desvios na estatal. Para os oposicionistas, a oitiva de Youssef pode ter no petrolão o mesmo impacto que a de Duda Mendonça teve no mensalão.

Alvará Tucanos estudam como contornar um ato da Mesa da Câmara, de 2006, que impede que presos sejam ouvidos em comissões da Casa, para escutar o doleiro ainda em março.

Telefone... O deputado An-tonio Imbassahy (PSDB-BA) vai apresentar um requerimento para ter acesso a todas as de-núncias que chegaram à Ouvi-doria da Petrobras e a quebra de sigilo telemático dos termi-nais do órgão.

... sem fi o Chegaram à CPI relatos de que a ouvidoria recebeu várias denúncias de irregularidades e as repassou à presidência da estatal.

A conferir Em depoimento na semana passada, o ex-pre-sidente Sérgio Gabrielli disse que nunca foi informado sobre corrupção na empresa.

Ordem dos fatores Nas conversas que teve com par-lamentares e empresários nas últimas semanas, Joaquim Levy (Fazenda) demonstrou contrariedade com o papel de causador da recessão que ten-tam lhe imputar.

Ovo e galinha O ministro tem

dito que as medidas de ajuste fi scal que está adotando são “consequência” e não “causa” da desaceleração provocada pela equipe econômica que o antecedeu.

Dinastia O empresário Fernando Sarney, vice-presi-dente da CBF, teceu críticas abertas a Dilma em almoço com dirigentes da entidade do futebol, como o presidente José Maria Marín, na última quarta-feira, no Rio.

De berço Fernando disse que acompanha política “des-de criança” e que nunca viu um presidente “tão perdido” quanto Dilma. Para o fi lho de José Sarney, a presidente está “isolada” e é assessorada por um ministério “pífi o”.

Reação 1 Para tentar sair das cordas no debate político, o governo enviará nesta semana ao Congresso o pacote anticor-rupção, promessa de Dilma na campanha.

Reação 2 São duas as prin-cipais medidas: a regulamen-tação da Lei Anticorrupção, para eliminar divergências de interpretação, e o projeto de lei que tipifi ca o crime de caixa

2 eleitoral, impondo sanções para sua prática.

Pra torcida O governo tam-bém vai submeter a deputados e ao Bom Senso FC o texto fi nal da medida provisória sobre a re-negociação das dívidas dos clu-bes de futebol, incluindo uma contrapartida das equipes.

Tiro de meta A redação foi fi nalizada na sexta-feira. Em ja-neiro, Dilma vetou texto aprova-do pelo Congresso sobre o tema que não exigia compensações dos times.

Cimento Nelson Barbosa (Planejamento) convocou a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) para reunião nesta segunda-feira no Ministério das Cidades para de-bater a terceira fase do Minha Casa Minha Vida.

Duplo... O ministro Pepe Var-gas articulou café da manhã nesta quarta-feira de líderes partidários com o vice-presi-dente Michel Temer, no Palácio do Jaburu.

... comando A iniciativa já faz parte da nova tentativa de divi-são de tarefas na coordenação política do governo.

Caminho das pedras

Contraponto

No início de 2013, pouco após as eleições municipais do ano anterior, um grupo de prefeitos aliados de Geraldo Alckmin (PSDB) que acabara de tomar posse procurou o governador para uma sessão de lamentações.Os políticos reclamaram da situação em que encontraram as administrações locais e pediram mais recursos:— Está o caos. Falta remédio, os salários estão atrasados, há máquinas quebradas, ameaça de greve... – enumerou um dos prefeitos.— Se não fosse assim, talvez vocês não tivessem ganhado – respondeu o governador, sem prometer ajuda.

Publicado simultaneamente com o jornal “Folha de S.Paulo”

Reclamando de barriga cheia

Tiroteio

DE AÉCIO NEVES (MG), presidente nacional do PSDB, sobre a relação entre o governo e o Con-gresso, que oscila entre ameaças e tréguas pontuais.

A presidente da República, hoje, é refém de Eduardo Cunha e Renan Calhei-ros. Se os dois estalarem os dedos, Dilma não governa.

Marauá, Xibauazinho, Santa Rosa do Copeá, Santo Antônio do Ipapucu, São Francisco do Baua-na, Forte das Graças, Igarapé da Dona Nenê, são localidades do interior do Amazonas. Elas estão localizadas junto com outras cen-tenas ao longo dos rios Japurá, Solimões, Juruá, Jutaí, Tefé e seus afl uentes. Têm em comum a fé católica de seus moradores, que os leva a viver em comunidade. Junto com outras dezenas de comunidades urbanas, formam uma porção da Igreja Católica que, presente em dez municípios, constitui a Prelazia de Tefé.

A história dessas comunidades tem início nos anos setenta e sua formação deveu-se à renovação da igreja, que viu na sua forma-ção a realização dos desejos do Concílio Vaticano II; isto é, uma Igreja Povo de Deus, uma igreja dos pobres, uma igreja que anun-cia o Reino, levando as pessoas à libertação de tudo o que diminui a vida e a dignidade.

Cursos, assembleias, educação à distância, formação bíblica, catequese renovada, formação humana, dinâmica de grupo, fo-ram alguns dos elementos pe-dagógicos e metodológicos do que se convencionou chamar de evangelização libertadora. O sucesso foi grande. As comuni-dades participaram da formação das unidades de conservação, formaram lideranças políticas e religiosas, mudaram a face da Igreja e da sociedade. Não con-seguiram, no entanto, neutralizar a ação de políticos que dividem para dominar, que chegam ao poder para se locupletar.

O próprio Estado se apropriou do processo, no caso das re-servas, e em geral, sem enten-der o povo, sua cultura e suas demandas, fez retroceder uma

experiência que poderia e pode ainda ser para a humanidade um caminho de civilização que convive com a natureza. A própria religião mudou com o surgimento de propostas fundamentalistas e individualistas na linha da teolo-gia da prosperidade e na rejeição da piedade popular.

Mesmo dando a impressão de estarem na contramão da história, e de serem ingênuas num momento em que no jogo do poder vale tudo, setecentos delegados dessas comunidades se reuniram em Carauari, situa-da no médio Juruá para o quar-to encontro das Comunidades Eclesiais de Base da Prelazia de Tefé. Vieram delegados de todos os recantos, o que em si já é um sinal da vitalidade destas comunidades, se levar-mos em conta as distâncias, os custos e as atividades de cada participante que teve que deixar casa, trabalho e família por alguns dias.

O mais impressionante foi a acolhida que tiveram da parte das famílias da cidade. Tudo foi partilhado e o encontro tornou-se uma grande festa de confra-ternização e compromisso. Nes-tes mesmos dias, o país assistia estarrecido a denúncias e mais denúncias de corrupção, compra de votos, emissão de notas frias, e todo um festival de violência em muitas partes do mundo.

A existência dessas comunida-des não é um resquício do pas-sado, mas presente que aponta para o futuro. Elas vivem mesmo que de forma precária o sonho da humanidade, que é tecido pelo desejo de paz, partilha justiça, numa palavra amor concreto e real. Para quem tem fé, elas anunciam o Reino de Deus pre-sente entre nós.

Dom Sérgio Eduardo [email protected]

Dom Sérgio Eduardo Castrianiopiniao

Dom Sérgio Edu-ardo Castriani

Arcebispo metropolitano de

Manaus

O mais im-pressionante foi a acolhida que tiveram da parte das famílias da cidade. Tudo foi partilhado e o encontro tornou-se uma grande festa de con-fraternização e compro-misso. Nestes mesmos dias, o país assis-tia estarreci-do a denún-cias e mais denúncias de corrupção, compra de votos”

Comunidades Eclesiais de Base

Olho da [email protected]

Aconteceu, como esse olho da rua não deixa mentir e a terra haverá de comer, domingo passado, 8, Dia Internacional da Mulher. Estavam para se enfrentar o Na-cional Borbense e o Fast, no estádio Carlos Zamith. O jogo não começava, não pela ausência de torcedores nas arquibancadas, mas pelo atraso da ambulância, que não estava onde deveria. Quem veio de Borba chegou mais rápido

DIEGO JANATÃ

Pelos esforços do Ministério Público, esse esquema foi exposto ao país, e será também pela nossa atuação que os verdadeiros culpados irão responder judicial-mente e sofrerão as penas cabíveis (...) Tenham uma

certeza: unidos no mesmo propósito, chegaremos ainda mais fundo nesse caso, sem considerar cargos, títulos

ou honrarias de quem quer que seja

Rodrigo Janot, procurador-geral da República, pediu, sex-ta-feira 13, união aos integrantes do Ministério Público, em reunião com procuradores-gerais de Justiça, e estranhou as

críticas que tem sofrido do Congresso Nacional.

Norte Editora Ltda. (Fundada em 6/9/87) – CNPJ: 14.228.589/0001-94 End.: Rua Dr. Dalmir Câmara, 623 – São Jorge – CEP: 69.033-070 - Manaus/AM

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Page 5: EM TEMPO - 15 de março de 2015

MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 A5Política

Acho que contribuí grandemente para o êxito [da redemo-cratização] e também durante o governo, com meu tempera-mento, com minha paci-ência, tole-rando todas as injustiças de que fui alvo”

Aos 85 anos, três déca-das depois de assumir como o primeiro presi-dente civil após a dita-

dura militar, em 15 de março de 1985, José Sarney acredita que seu papel na transição democrática foi alvo de injus-tiças. Criticado por alguns por sua proximidade com grupos que deram suporte à ditadura, o político maranhense vê sua abertura ao diálogo e capa-cidade de conciliação como atributos importantes para a concretização do processo de redemocratização do país. Apesar de ter se oposto ao golpe militar que depôs o pre-sidente João Goulart em 1964, Sarney logo em seguida aderiu ao partido de sustentação da ditadura, a Arena, pelo qual foi eleito em 1965 governador do Maranhão. Sarney foi eleito pelo Congresso em janeiro de 1985 como vice-presidente na chapa de Tancredo Neves, polí-tico do PMDB, partido de opo-sição à ditadura. Mas Tancredo não pôde assumir porque foi hospitalizado no dia anterior à posse e morreu dias depois, em 21 de abril. No período que presidiu o país, Sarney convo-cou a Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição Federal de 1988 - documento que determinou a ampliação de uma série de políticas sociais. Mas deixou a Presidência em 1990 com baixa popularida-de em meio a denúncias e ao caos econômico causado pela hiperinfl ação.

BBC Brasil - O senhor as-sumiu a Presidência em um momento de muita insta-bilidade, tanto pela transi-ção de regime da ditadura para a democracia como por causa da perda de Tancre-do Neves. Como foram os momentos imediatamente anteriores a sua posse?

José Sarney - Para todos nós no Brasil foi de uma per-plexidade absoluta. Jamais esperávamos que tivéssemos a realidade imitando a fi cção naquela noite em que Tan-credo era hospitalizado. Era uma frustração para o povo brasileiro, que há tanto tempo esperava a posse de um pre-sidente civil. Eu pelo menos não sabia [de sua doença]. Fui saber no dia 14, às 17h. Nós chegávamos a um momento difícil em que nós concluíamos a transição democrática. Não sabíamos o que podia ocorrer a partir daquele instante.

BBC Brasil - Qual foi o grande desafio que o senhor enfrentou naquele momento?

JS - Primeiro, o da posse

mesmo. O [presidente, general João] Figueiredo, como todos sabem, recusava-se a que eu assumisse. Não me passou a faixa presidencial. E, ao mesmo tempo, o ministro do Exército dele [general Walter Pires] dizia que ia levantar os quartéis para que pudesse haver uma reação militar contra [minha posse]). Aquilo tudo se desenrolou na noite em que nós tínhamos os problemas da transição, os problemas da doença do Tan-credo, e a costura constitucio-nal - como fazer [para garantir a redemocratização] naquele instante. Mas o Brasil tem sempre tido condições de atra-vessar momentos de extrema difi culdade. Nós encontramos sempre, os políticos, uma solu-ção não traumática, essa é um característica brasileira. Foi assim desde a independência, nós transformamos um prín-cipe português em imperador do Brasil e construímos um grande país.

BBC Brasil - Tancredo Neves nem chegou a assu-mir a Presidência. Havia uma incerteza legal sobre se o senhor podia ou não assumir?

JS - Eu me recusei a assumir porque na realidade era uma frustração para o povo bra-sileiro e queria assumir junto com Tancredo. Consultei os médicos e eles me disseram que dentro de cinco dias ele estaria pronto para assumir o governo. Mas Ulysses Guima-rães também me disse que a Constituição assegurava que o vice devia assumir, e que eu não podia criar nenhum embaraço [para a redemocratização]. Não podíamos morrer, como se diz popularmente, na praia.

BBC Brasil - No seu últi-mo discurso de despedida do Senado, ao se referir ao seu papel no processo de redemocratização, o se-nhor afi rmou: “Só Deus é testemunha do que isso me custou e das cicatrizes que até hoje sangram”. Que ci-catrizes são essas?

JS - Olha, as cicatrizes… Eu acho que, como um vice-presi-dente da República de um par-tido que não era o partido ven-cedor, eu não tinha uma ligação com o establishment nacional, com a grande imprensa, eu não tinha participado do programa de governo, eu não tinha esco-lhido nenhuma das pessoa do ministério. De maneira que eu, de certo modo, quando tive que assumir o governo, eu pensava nas responsabilidade que reca-íam nas minhas costas. Eu tinha uma certa experiência política e sabia que [seria um desafi o] governar um país naquele ins-tante de tantas esperanças e tantos problemas juntos. E ao

mesmo tempo me preocupa-va o problema militar porque nós não tínhamos vencido os militares pelas armas, e sim num processo de engenharia política que levou o Brasil à transição democrática. Não é fácil, mas eu acho que contribuí para o país, com meu jeito de dialogar, de saber que eu não sou o dono da verdade. A partir daquele instante, nós temos trinta anos que os militares se profi ssionalizaram, voltaram para os quartéis, deixaram de ter ingerência política.

BBC Brasil - Durante o regime militar o senhor fazia parte da Arena, que era o partido de susten-tação do regime. Depois o senhor liderou o proces-so de redemocratização. Como foi esse processo de transição pessoal?

JS - Durante todo o regime militar constituímos dentro do Congresso um grupo que sempre defendia que devía-mos fazer tudo para manter o Congresso aberto, porque enquanto estivesse aberto, teríamos uma instituição que era utilizada na democracia. Faziam parte desse grupo eu, Teotônio Vilela, Petrônio Por-tela, Daniel Krieger e muitos outros. Fizemos todo esforço possível para manter a cha-ma da abertura democrática. Quando ocorre a escolha do senhor Paulo Maluf para can-didato à Presidência da Re-pública nós verifi camos que todo nosso esforço estava sendo de certo modo perdido, não achávamos que fosse o nome adequado para aquele instante. Então, [Maluf] seria uma certa continuidade [do regime militar]. Diante disso, eu renunciei à Presidência do partido. A minha convicção era de que naquele momento tinha encerrado a minha carreira po-lítica e me preparei para o pior. Então, o Tancredo e o Ulysses [Guimarães] me procuraram e tentaram me cooptar para que eu entrasse na luta e fi zésse-mos a transição democrática. Tancredo acreditava que eu saberia o mapa da mina, por-que, sendo presidente do PDS eu conhecia os delegados e teria condições de ajudar mui-to nos resultados [da eleição indireta]. Acho que contribuí grandemente para o êxito [da redemocratização] e também durante o governo, com meu temperamento, com minha paciência, tolerando todas as injustiças de que fui alvo. Todos os candidatos [em 1989] a presidente da República eram contra mim. Eu pagava por ter feito a abertura política. Essas eram as cicatrizes que eu falava, das minhas amar-guras, das minhas feridas, que guardava.

BBC Brasil - O senhor es-teve no governo na maioria dos 60 anos da sua vida pú-blica. Muito críticos asso-ciam o sobrenome Sarney à perpetuação do poder, à oligarquia. Como o senhor recebe essa crítica?

JS - Eu confi o muito na história. Eu sei que o erro que eu cometi foi justamente ter entrado na luta política. Por-que na realidade a transição democrática brasileira, esses trina anos que nós estamos vivendo de democracia, nas-ceram ali. Eu fui o presidente que foi escolhido com todas essas difi culdades e, entretan-to, consegui realizar a tran-sição democrática, entregar para um adversário meu o governo. E quem é político de Estado pobre, do Norte/Nor-deste do Brasil, sempre tem uma grande restrição. Fui mui-to vítima desse preconceito. Os jornais me tratavam como provinciano, caipira, quando na realidade eu tinha uma longa experiência política. Ao mesmo tempo, eu nunca esti-ve sempre no governo, eu fui contra o Getúlio Vargas, eu fui contra o Juscelino Kubitschek. Os militares nunca me trata-ram como se eu fosse uma pessoa muito ligada a eles. Pelo contrário, muitos deles me chamavam de uma coisa inacreditável: comunista.

BBC Brasil - Por que os militares chamavam o se-nhor de comunista?

JS - Porque durante todo o tempo eu tive uma posição muito voltada para as ideias das reformas, eu sempre fui a favor da reforma agrária, eu sempre fui a favor de mudanças na parte econô-mica. Tive oportunidade de realizar o seguro-desempre-go [implementado no país em 1986], e muitos outros avanços sociais que nas-ceram naquele [momento]. Tanto que o slogan meu era “tudo pelo social”. E no do-cumento que eu convoquei a Constituição [a Assembleia Constituinte], eu dizia lá que convocava para criarmos no Brasil os direitos sociais, que não existiam. Nunca nin-guém tinha falado isso a nível constitucional.

BBC Brasil - Para concluir, qual a contribuição que o senhor ainda pode dar para a democracia brasileira?

JS - Olha, minha fi lha, é difícil, com 85 anos de idade, a gente dizer… Eu tenho passa-do, eu não tenho mais futuro. Até porque Deus limitou a vida de todos nós e fez muito bem. Por isso eu falei de Deus e ao mesmo tempo das cicatrizes [no discurso de despedida do Senado]. Faz parte da vida.

JOSÉ SARNEY

‘Acho que contribuí GRANDEMENTE

Os militares nunca me trataram como se eu fosse uma pessoa muito ligada a eles. Pelo contrário, muitos deles me chamavam de uma coisa inacredi-tável: comunista”

MARIANA SCHREIBERBBC Brasil

Preocupava-me o proble-ma militar porque nós não tínha-mos vencido os militares pelas armas, e sim num processo de engenha-ria política que levou o Brasil à transição democrática”

para o êxito da REDEMOCRATIZAÇÃO’

JOSÉ SARNEY

‘Acho que contribuí GRANDEMENTE para o êxito da REDEMOCRATIZAÇÃO’

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A6 Política

Dilma pede ajuda da igreja contra impeachment

Ateia, a presidente Dilma apelou à misericórdia da Con-ferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em audiên-cia no Palácio do Planalto, contra o pedido de impeach-ment. Em diversos momentos da reunião com o cardeal de Aparecida (SP), Raymun-do Damasceno de Assis, e o arcebispo Dom Leonardo Ulrich Steiner, Dilma pediu que a igreja evite apoiar o impeachment, que causaria “instabilidade ao país”.

Ato fracassadoDilma fi cou preocupada,

em especial, por causa ato de sindicalistas ligados ao PT “em defesa da Petrobras”.

Pelos fundosNo fi m da reunião, Dilma

pediu aos representantes da CNBB que saíssem pelas por-tas do fundo do Planalto, sem falar com a imprensa.

Dois senhoresDilma queria apenas

Deus como testemunha do seu encontro com a CNBB porque temia irritar os aliados evangélicos.

EntrincheiradosA ordem – inócua – para

que ministros ficassem em Brasília no fim de sema-na é reveladora do temor que os protestos provocam no governo.

Empregados da ECT vão contribuir por 50 anos

O Postalis, fundo de pensão dos Correios, criou taxa de 25,98% sobre benefícios dos associados. A notícia é muito ruim, pois esse desconto será feito pelos próximos 15 anos e cinco meses, mas ainda pio-ra no caso dos aposentados: a nova taxa de 25,98% será somada à contribuição men-sal atual de 9%. Com isso, o

total da tunga imposta pelo fundo sem direito a contesta-ção será de 34,98%. Durante longos 50 anos.

Dívida como herançaFuncionários da ECT que

se aposentam aos 65 anos ainda acham graça: dizem que, morrendo antes dos 80, a dívida “fi ca para os netos”.

Que azarEmpregados iam pedir

ajuda do ministro Berzoini (Comunicações), mas lem-braram o que ele fez com os idosos quando estava na Previdência.

Votou contraO senador Paulo Paim (PT-

RS) garante haver votado contra o veto de Dilma à redução da contribuição da empregada doméstica ao INSS.

Petrolão eletrizanteO presidente do Senado,

Renan Calheiros, tem reco-mendado a criação de uma “pauta positiva”, para o Pe-trolão não monopolizar o noticiário. Mas o problema é encontrar assunto mais eletrizante, em Brasília.

Mão duplaO Palácio do Planalto pre-

cisará retribuir ao Congres-so a manutenção do veto da presidente Dilma ao re-ajuste de 6,5% no Imposto de Renda. Os aliados man-daram o recado: querem a cabeça de Mercadante.

Fale menos, DilmaO PT lamenta que a presi-

dente Dilma fi que isolada em seu gabinete. De um deputado com infl uência no Palácio do Planalto: “Ou Dilma aprende a conversar com os parlamen-tares ou viverá em crise”.

Vigarice conhecidaA descoberta de que o PT

pagou R$ 35 a cada manifes-tante pró-Dilma, ontem, não é novidade em Brasília, onde há empresas especializadas. Cobram por cabeça até R$ 70 (mais um sanduíche), para entidades interessadas em promover passeatas nas ave-nidas da capital.

Discurso do medoTemerosos com o aumen-

to de adesões ao impeach-ment, aliados de Dilma es-palham e-mails alarmantes sobre risco de “instabilida-de”. A mensagem é obra de militantes do PT aboletados no serviço público.

Sangria continuaO gerente de imprensa

da Petrobras, Lúcio Pimen-tel, até parece continuar na assessoria do ex-presidente Sérgio Gabrielli. Reapareceu na Câmara para acompanhar o depoimento do suspeito na CPI.

Sede de vingança O PMDB da Câmara avi-

sou ao Planalto que a no-meação de Henrique Alves (RN) para o Ministério do Turismo não apaziguaria os ânimos da bancada, que está “com sangue nos olhos” contra Dilma.

Por que não te calas?O senador Aloysio Nunes

Ferreira (PSDB-SP) levou um pito de outros tucanos pela seguinte pérola: “Não quero o impeachment, quero ver a Dilma sangrar”. Ele é acusado de não consultar o partido sobre o tema.

Kit impeachmentCamelôs faturam em Be-

lém (PA) com a venda de uma espécie de “kit impea-chment”: uma panela made in China acompanhada de uma colher. Tudo por apenas R$ 10. O grito “fora Dilma” não está incluído.

PODER SEM PUDOR

Cláudio HumbertoCOM ANA PAULA LEITÃO E TERESA BARROS

Jornalista

Cafezinho impertinente

www.claudiohumberto.com.br

Absolutamente inviável, impensável”

VICE-PRESIDENTE MICHEL TEMER, sobre o impeachment de Dilma Rousseff

O jornalista Aparício Torelli, o “Ba-rão de Itararé”, terror dos poderosos, foi preso em 1935 e levado à pre-sença do juiz Castro Nunes.

- A que o senhor atribui a sua prisão, seu Aparício?

- Tenho pensado muito, excelência, e só posso atribuí-lo ao cafezinho.

- Como assim?- Vou explicar. Eu estava no Café Belas Artes,

tomando o meu oitavo cafezinho e pensando em minha mãe, que sempre me advertiu contra o excessivo consumo de café. Nesse momento, che-garam os policiais e me deram voz de prisão. Só pode ser um castigo pelo abuso do cafezinho...

Manifestações devem acontecer em todos os

Estados brasileiros pelo impeachment de Dilma

Mas, nos protestos tam-bém têm quem defenda a

permanência de Dilma

Ativistas pró-Dilma vão às ruas em defesa da

continuidade

CARAS PINTADAS VOLTAM ÀS RUAS

IMPEACHMENT

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Page 7: EM TEMPO - 15 de março de 2015

MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 A7

Para o ex-deputado Mar-celo Ramos, que também é advogado, é importante des-mistifi car esse discurso de que falar em impeachment é defender um golpe. Do ponto de vista jurídico, impe-achment é um instrumento da democracia, previsto na Constituição Federal. Ramos destaca que do ponto de vista político, o PT e seus aliados já foram às ruas para defen-der o “Fora, Collor” e depois o “Fora, FHC” e não se viu

nessa atitude uma tentativa de golpe, mas sim um instru-mento da luta democrática. “Quando Collor perdeu o mandato, ele não tinha apoio dos movimentos sociais e nem do povo (social), não tinha maioria no Congresso (político) e fora acusado de um crime de responsabilida-de relacionado à compra de um veículo com sobras de campanha (jurídico). A situ-ação de Dilma, pelo menos até agora, não é tão extrema.

Ainda existe forte apoio nas bases de sindicatos e

entidades de classe, ligadas ao petismo e seus aliados, a maioria no

Congresso ain-da é confortável e ainda não sur-giu nenhum cri-

me praticado pela presidente no exercício

do atual mandato”, diz.

‘Ação faz parte da democracia’

Ainda existe forte apoio nas bases de sindicatos e

entidades de classe, ligadas ao petismo e seus aliados, a maioria no

Congresso ain-da é confortável e ainda não sur-giu nenhum cri-

me praticado pela presidente no exercício

do atual mandato”, diz.

Após 23 anos do impe-achment de Fernan-do Collor de Melo, os brasileiros prometem

hoje (15) realizar uma grande manifestação popular para to-mar as ruas do Brasil pedindo pela saída da presidente Dilma Rousseff (PT). Em Manaus, a grande ação dos caras pin-tadas vai acontecer às 9h30 na avenida Eduardo Ribeiro, no Centro. Segundo os orga-nizadores, a expectativa será reunir 20 mil pessoas.

De acordo com Júlio Lins, um dos líderes do manifesto, cerca de 150 pessoas participantes de outros 15 grupos de ativistas políticos e movimentos sociais se unifi caram para compor o movimento “Fora, Dilma”, que vem amplamente sendo divul-gado pelas redes sociais. “O ob-jetivo é manifestar publicamen-te a ‘indignação’ da população contra os desmandos e medidas abusivas que o governo fede-ral vem adotando nos últimos anos”, dizem os organizadores por meio de um manifesto que está circulando na internet.

Durante o evento, será dispo-nibilizada uma estrutura para

captação de assinaturas que serão incorporadas a outros documentos que contemplam as pautas para serem enviados à Câmara Municipal de Manaus (CMM), à Assembleia Legislati-va do Estado do Amazonas (Ale-am) e ao Congresso Nacional, “forçando os representantes a tomarem uma decisão acerca desta demanda popular”, afi r-mam os organizadores.

Ainda conforme eles, os polí-ticos que não se manifestaram ou se manifestaram contrários à vontade popular terão seus nomes amplamente divulgados para a imprensa e, por meio das plataformas de comunica-ção digital, bem como serão estudadas sanções jurídicas pertinentes e dispostas na le-gislação brasileira.

Entre os movimentos que aderiram ao protesto estão: “Amazonas Também Diz Não à Corrupção”, “Movimento Brasil Melhor”, “Movimento Brasil Li-vre”, “Movimento Conservador do Amazonas”, ”Clube Ajurica-ba”, Maçonaria, “Movimento Impeachment Já”, “Unidos Por um Brasil Melhor”, Força Sindi-cal e “Revoltados On-line”, além de centros de acadêmicos e DCEs de várias faculdades e das igrejas católica e evangélicas, segundo informou Júlio Lins.

EscândalosA pauta do protesto baseia-

se, segundo os líderes, no atual cenário de escândalos do país, incluindo desde o mensalão, anistia de ditadu-ras africanas, empréstimos secretos do BNDES para in-vestimento em outros países sem a anuência do Congresso Nacional, petrolão e mais de uma centena de escândalos juridicamente documenta-dos, delatados com provas robustas e amplamente divul-gados pela imprensa. “Que-remos que as autoridades instaurem imediatamente o processo de impeachment contra a presidente da Re-pública Federativa do Brasil, senhora Dilma Rousseff ”, diz a carta de manifesto que circula nas redes sociais.

Os ativistas dizem ainda que o manifesto será pacífi co, “fei-to em defesa da ética, moral, democracia, liberdades indivi-duais e pela gestão efi ciente do Estado”. Para tal, não será permitido o uso de máscaras ou qualquer coisa que encubra o rosto como tecidos, papéis etc., assim como bandeiras de partidos e/ou de candidatos. Materiais perfurantes, cortan-tes e explosivos também são terminantemente proibidos.

Uma explosão de protestos está prevista para este domingo em todos os Estados brasileiros pelo “Fora, Dilma”

Passeata percorre ruas do Centro

Por questão de segurança dos frequentadores e asso-ciados, a tradicional ferinha da Eduardo Ribeiro foi sus-pensa, hoje, em razão da manifestação pública. De acordo com o presidente da Associação da Feira de Arte-sanato e Produtos Amazô-nicos (Afapa), Uigson Aze-vedo da Silva, o prejuízo para os associados será de 100%, já que os mes-mos são responsáveis pela produção do que comercia-lizam aos domingos.

“Nós estamos preocupa-dos com a segurança de todos. Pensamos até em reduzir o horário da feira, mas não teríamos como desmontar as barracas em tempo hábil. A gente sabe que onde tem concentração de pessoas, pode ocorrer al-gum imprevisto. Tomamos a decisão em conjunto e vamos comunicar à prefeitura”, in-formou Silva.

Segundo o presidente da

Câmara Dirigente dos Lojis-tas (CDL), Ralph Assayag, as lojas e supermercados ins-talados na Eduardo Ribeiro também não abrirão. “Com a crise econômica no país es-tamos vivendo um momento

crítico, com isso temos que vender muito. Esse dia em que as lojas não abrirão as portas com certeza trará pre-juízos e pode resultar até em algumas demissões. Essa é a nossa maior preocupação”, disse Assayag.

Ato ‘fecha’ feirinha da Eduardo

Já o deputado Serafi m Corrêa (PSB) destacou que, apesar de seu par-tido fazer oposição ao governo federal, posi-ciona-se contra o impe-achment da presidente Dilma Rouseff (PT). Ele justifi ca que, apesar da presidente ter cometi-do muito mais erros do que acertos em sua gestão, foi reeleita pela democracia, que se fez no voto popular dos brasileiros. “No Parti-do Socialista Brasileiro entendemos que a pre-sidente Dilma foi eleita de maneira legítima e o mandato dela deve ser respeitado. Então, não há o que fazer com re-lação a impeachment, essa é a nossa posição”, afi rma Serafi m.

Serafi m se posiciona contra

Dilma Rousseff disse que “passou a vida” pro-testando nas ruas e que não tem o “menor interes-se” em restringir o direito à livre manifestação no país. “Já falei para vocês que sou uma pessoa mais velha e sou de uma época em que não era possível se manifestar. As pesso-as que se manifestavam iam direto para a cadeia ou eram chamadas de subversivas ou de nomes piores. Eu passei minha vida manifestando nas ruas, principalmente na minha juventude. Não te-nho o menor, mas o menor interesse, o menor intuito nem tampouco o menor compromisso com qual-quer processo de restri-ção à livre manifestação neste país”, disse.

Dilma diz que tudo é legítimo

PREJUÍZOSO prejuízo para os associados com o fechamento da feiri-nha da Eduardo Ri-beiro será de 100%, já que os mesmos são responsáveis pelo que produzem durante a semana

Foi defi nido um trajeto de três quilômetros para o percur-so da passeata. O início será na avenida Eduardo Ribeiro, passando pela rua Monsenhor Coutinho, avenida Getúlio Var-gas, rua Silva Ramos e avenida Djalma Batista, esquina com a rua Pará, onde o grande ato será encerrado, por volta das 11h. Ainda de acordo com Júlio Lins, a estrutura organizacio-nal terá gradil para isolamento de área, três trios elétricos, banheiros químicos, rádios comunicadores, tendas, equi-pes de coleta de assinaturas, assessoria jurídica, segurança

e monitoramen-to, assessoria de imprensa,

apoio, controle de acesso e para

informação aos participantes. O evento também deve contar com o apoio dos órgãos de po-liciamento ofi ciais e controle de trânsito, além de atendi-mento de urgência. Apesar de levantar a bandeira de uma ação apartidário, a mobiliza-ção está sendo organizada por membros da juventude de diversos partidos políticos. Nesta semana, o PSDB divul-gou uma nota declarando que por meio de seus militantes, simpatizantes e várias de suas lideranças participará, ao lado de brasileiros de todas as regi-ões do país, desse movimento apartidário que surge do mais legítimo sentimento de indig-

nação da sociedade brasileira.

Para

o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, o impeach-ment é uma possibilidade legal e legítima se o povo assim quiser, não é matéria de rua e nem se ganha no grito, é uma decisão jurídica da corte maior do país, bem como do Congresso Nacional. “No mo-mento, as manifestações de rua querem contestar contra a corrupção, a impunidade e a recessão econômica com grave repercussão no suca-teamento das políticas públi-cas. Para esse fi m tem como bandeira de luta a reforma política democrática popular e a criminalização dos partidos políticos”, comentou.

ISABELLA SIQUEIRACONCEIÇÃO MELQUIAS Equipe EM TEMPO

Presidente Dilma afi rma que atos pelo país fazem parte da democracia e liberdade de expressão FO

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apoio, controle de acesso e para

lideranças participará, ao lado de brasileiros de todas as regi-ões do país, desse movimento apartidário que surge do mais legítimo sentimento de indig-

nação da sociedade brasileira.

Para

teamento das políticas públi-cas. Para esse fi m tem como bandeira de luta a reforma política democrática popular e a criminalização dos partidos políticos”, comentou.

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A8 Política MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

‘Revitalização dos prédios históricos é uma prioridade’Prefeito Arthur Neto se reuniu com representantes do Iphan e cobrou celeridade no processo de aprovação dos projetos

O sonho de apreciar a vista do rio Negro de uma orla revitalizada, como prometeu o pre-

feito Arthur Neto (PSDB), bem como andar com tranquilidade e segurança no entorno da ca-tedral Metropolitana ou ler um livro com conforto na Biblioteca Pública Municipal ainda parece estar longe da realidade. Isso porque os dez projetos do PAC Cidades Históricas encontram-se emperrados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No entanto, há uma esperan-ça no fi m do túnel, pois no dia 3 o prefeito esteve em Brasília e, em conversa com a presiden-te nacional do órgão, Jurema Machado, trouxe a notícia de que os projetos serão analisa-dos de forma mais célere para que as obras sejam iniciadas na capital amazonense.

As dez obras previstas para serem reformadas no proje-to do PAC Cidades Históricas são: praça dom Pedro II, pra-ça Terneiro Aranha, praça XV de Novembro (Matriz), praça Adalberto Vale, ruas e entorno do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, antiga Câmara Munici-

pal, antigo edifício do Corpo de Bombeiros, antigo Hotel Cassi-na, Casarão da Biblioteca Muni-cipal e o Pavilhão Universal.

Segundo a Secretaria de Co-municação da prefeitura (Se-mcom), de todos os projetos, três já estão aprovados e terão o edital publicado no Diário Ofi cial do Município (DOM) nos próximos dias: praças da Matriz, Relógio, Tenreiro Aranha e Adalberto Vale. No entanto, o edital do entorno do Mercado Adolpho Lisboa deve ser publicado em 60 dias. Já o prédio do Corpo de Bombeiros, do Pavilhão Universal e a praça don Pedro II estão aguardando aval do Iphan. O projeto do Hotel Cassina aguarda o do-cumento de posse ser emitido pelo Estado. Os projetos da Biblioteca Municipal e Câmara Municipal aguardam revisão fi nal e aprovação do Iphan. Prefeitura pede celeridade do Iphan para a revitalização dos prédios históricos do centro da capital

A presidente Jurema Machado afi rmou que Manaus entra em uma fase muito positiva em relação aos projetos, uma vez que alguns deles já estão deliberados e os demais entram na fase fi -nal para a aprovação. Ela esclareceu que o Iphan do Amazonas passou por di-fi culdades devido à troca constante de servidores. Entretanto, essa situação também já está sendo superada. “Estas inter-venções que serão feitas terão um signifi cado real agora, até porque vemos que o comércio ambu-lante está sendo sanado. Tivemos alguns percalços por conta da perda de alguns técnicos. Agora, estamos montando uma força-tarefa reunindo profi ssionais de outras superintendências”.

Projetos em fase fi nal de aprovação

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

MOARA CABRALEquipe EM TEMPO

FANTASMAS

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LG manterá produção no Amazonas

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MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 3090-1045Economia B

O processo de produção de pós-larvas no CTTPA/Balbina da Seprors começa pela seleção de reprodutores e segue com a desova e a fertilização em água tratada até a geração dos alevinos

Pesquisa e criação para desenvolver pisciculturaManaus é a maior consumidora per capita de peixe do mundo, mas o Amazonas não é autossufi ciente, apesar dos rios

Considerada a maior consumidora per capita de pescado do mundo, com 33

quilos ao ano, a cidade de Manaus importa hoje mais de 20 toneladas de pescado oriundas do excedente da piscicultura de Estados como Roraima e Rondônia. Confor-me dados da Secretaria de Estado da Produção Rural (Seprors), de cada cem pis-cicultores amazonenses, 99 são produtores familiares.

Para reduzir essa média de 99,1% de produtores de baixa escala e tornar-se exportador de pescado para Estados vi-zinhos e países fronteiriços como a Venezuela e a Colôm-bia, por exemplo, o Amazonas intensifi ca trabalhos práticos e pesquisas na antiga Estação de Piscicultura de Balbina, hoje Centro de Tecnologia, Treina-mento e Produção (CTTPA), localizada no município de Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus).

Criado há mais de 20 anos como forma de compensação à construção da hidrelétrica de Balbina, o CTTPA inten-sifi cou nos úl- t i -mos anos o p rograma de pro-d u ç ã o

de pós-larva e alevinos de espécies como, por exemplo, tambaqui, matrinxã e pirapi-tinga. Responsável pela co-ordenação do centro, a Se-cretaria Executiva de Pesca e Aquicultura (Sepa) - ligada à Seprors - estima para este ano um crescimento de 22,22% na produção de pós-larvas de tambaqui.

De acordo com o titular da Sepa/Seprors, Geraldo Ber-nardino, o Estado alcançou

no ano passado o posto de maior produtor de pós-larvas do país, quando atingiu o índice de 18 milhões. No decorrer de 2015, a meta é chegar a 22 milhões de pós-larvas, os quais, segundo cálculos de Bernardino, devem resultar em aproximadamente 11 milhões de alevinos e, em dois anos, cerca de seis mil de toneladas

de tambaqui.O pescado produzido pelos piscicultores em diferentes sistemas

de produção como açudes, barragens e tanques deve ge-rar rendimento estimado em R$ 30 milhões, no ano, para mais de dois mil piscicultores. “Somente entre janeiro e feve-reiro alcançamos a produção de quatro milhões de pós-larvas”, afi rma.

Para alcançar esses núme-ros, segundo o gerente do CTTPA, engenheiro de pesca José Mário Baracho de França, as pós-larvas e alevinos são distribuídos hoje para 17 Uni-dades de Produção de Alevinos (UPAs) instaladas em muni-cípios como Coari, Maués, Humaitá, Careiro Castanho e Parintins. Atende também outras 18 UPAs criadas em parceria com prefeituras e associações de produtores e benefi cia pelo menos 3,3 mil famílias de piscicultores.

“A demanda em Manaus é muito grande. Atualmente, a capital amazonense é abas-tecida pelos produtores de Roraima e Rondônia, que são de dois Estados de população menor que a do Amazonas. O excedente eles exportam para a capital brasileira que tem o maior consumo per capita do mundo por ano. No interior do Estado, o consumo per capita é maior ainda. São mais de cem quilos por ano”, afi rma Baracho.

EMERSON QUARESMAEquipe EM TEMPO

Conhecimento para o produtorPara qualifi car o setor pro-

dutivo, o titular da Sepa, Ge-raldo Bernardino, afi rma que a criação do centro aproxi-mou o Estado de instituições como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Univer-sidade do Estado do Amazo-nas (UEA), Instituto Federal do Amazonas (Ifam), Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), Institu-to Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária (Embrapa).

Segundo ele, acadêmicos de engenharia de pesca e

pós-graduandos em aqui-cultura e recursos pes-

queiros recebem cursos de formação no CTTAP, enquan-to pesquisadores colaboram nas pesquisas de sanidade da água para produção de tambaqui e melhoramento genético da espécie de ca-tiveiro, mantidas por meio de convênio com o Fundo de Financiamento de Estu-dos de Projetos e Programas (Finep). “Ou nós formamos o nosso pessoal, ou nós vamos fi car para trás. O conheci-mento tem que chegar ao produtor para gerar sua renda”, comenta.

O chefe do depar-tamento de pesca e aquicultura da Se-

prors, Ivo Rocha Calado, ex-plica que a antiga estação transformada em Centro de Tecnologia, Treinamento e Produção já capacitou 169 produtores, por meio do cur-so de boas práticas de ma-nejo. O objetivo é estimular o setor produtivo a adotar Boas Práticas de Manejo (BPMs) com vistas a praticar uma aquicultura sustentável e competitiva.

Leia mais na página B2

Sepa estima crescimento de 22% da produção de pós-larvas de tambaqui para este ano no AM

Engenheiros de pesca e aquicultores selecio-nam tambaquis repro-dutores no CTTPA

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A demanda em Ma-naus é muito gran-de. Atualmente, a

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José Mário Baracho, engenheiro de pesca

de Balbina, o CTTPA inten-sifi cou nos úl- t i -mos anos o p rograma de pro-d u ç ã o

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de tambaqui.O pescado produzido pelos piscicultores em diferentes sistemas

Estado, o consumo per capita é maior ainda. São mais de cem quilos por ano”, afi rma Baracho.

Amazônia (Inpa) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária (Embrapa).

Segundo ele, acadêmicos de engenharia de pesca e

pós-graduandos em aqui-cultura e recursos pes-

fi car para trás. O conheci-mento tem que chegar ao produtor para gerar sua renda”, comenta.

O chefe do depar-tamento de pesca e aquicultura da Se-

Leia mais na página B2

Engenheiros de pesca e aquicultores selecio-nam tambaquis repro-dutores no CTTPA

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B2 Economia MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

Gargalos são entraves para a autossuficiênciaAlém da organização da produção, o setor precisa de desoneração da cadeia produtiva para tornar o Estado competitivo

Para alcançar a autos-suficiência de pescado em Manaus, não basta apenas produzir pós-

larvas e alevinos. Duas outras fronteiras precisam ser alcan-çadas pelo Estado. A primeira é a própria organização da produção, que caminha a pas-sos tímidos rumo ao patamar de agroindústria. A outra é garantir o despertar para a produção de ração.

A dificuldade quanto à ração está na estocagem, segundo explica o titular da Seprors, Valdenor Cardoso. Trata-se de um produto que não pode passar muito tempo sem ser consumido, caso contrário per-de a validade. Mas, o principal problema se dá na produção das indústrias do segmento instaladas no Estado, que en-frentam a falta de produção de ingredientes como o milho e soja no Amazonas. “Sem es-ses ingredientes a produção de ração no Estado encarece de 70% a 80%”, diz.

Valdenor avalia que, para a aquicultura no Estado se tornar mais competitiva, ela precisa de desoneração fiscal da cadeia. De acordo com ele, o Amazonas

importa aproximadamente 20 toneladas de ração, por mês, dos Estados de Rondônia e Roraima, onde a saca de ra-ção custa entre R$ 28 e R$ 29, enquanto no Amazonas a mesma saca é vendida por até R$ 39. “Um valor que se dá com o esforço do governo amazonense em prol de uma subvenção sobre os custos da

produção, que conseguiu baixar o preço da saca de R$ 42 para R$ 33”, observa.

Atualmente há no Amazonas três fábricas de ração para pes-cados. O titular da Sepa, Geral-do Bernardino, afirma que elas são responsáveis por 40% do consumo local do setor. Segun-do ele, há outras oito marcas em processo de instalação no Es-tado. “Há outras empresas que

querem vir para cá (Amazonas) por conta do nosso potencial produtivo e também por conta do grande mercado consumidor de peixe”, avalia.

OrganizaçãoA Região Metropolitana de

Manaus (RMM), composta por oito municípios, apresenta po-tencial para produção de pisci-cultura, na avaliação de Valde-nor. No entanto, falta o ajuste do sistema produtivo, que, segundo ele, se faz com a organização da produção a partir da terra com regularização fundiária, licen-ciamento ambiental e a meca-nização, com o crédito rural, a capacitação da mão de obra e a assistência técnica, e ainda com o fomente à produção.

Como meta para os próximos quatro anos, o governador José Melo afirmou que trabalhará pelo fortalecimento do setor primário, a partir da fruticultura e da piscicultura. De acordo com o titular da Seprors, um dos prin-cipais projetos é a construção de três mil tanques, por ano, para os produtores do segmento. “Mas precisamos de mais formação e capacitação para que alcan-cemos nível de agroindústria para processar o pescado. Nes-se rumo temos parceria com o Sebrae-AM”, conta. Indústrias de ração do Amazonas sofrem com a falta de ingredientes como o milho e a soja

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CONFAZA agroindústria no Amazonas é isenta do ICMS. Para que o preço da ração chegue pró-ximo do zero, segundo Valdenor, a desonera-ção depende do Conse-lho Nacional de Política Fazendária (Confaz)

EMERSON QUARESMAEquipe EM TEMPO

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B3EconomiaMANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

LG segue produção no PIMDurante o LG Digital Experience, em São Paulo, multinacional afi rmou que manterá empregos na sua fábrica instalada em Manaus, e em meio ao cenário pessimista do setor, anunciou a intenção de fabricar novos produtos, como compressores

Em meio ao cenário pessimista da indús-tria amazonense, que iniciou o ano com que-

da de 12,4%, em janeiro de 2015, frente a igual mês do ano anterior, a LG Electronics

no Brasil anunciou a mantenção dos funcionários e a intenção de fabricar compressores no Polo Industrial de Manaus (PIM). A informação foi divulgada ao EM TEMPO pelo gerente de relações institucionais da com-panhia, Mauro Apor.

Ele explica que não há previ-são para iniciar a fabricação,

uma vez que depende da apro-vação do Processo Produtivo Básico (PPB) e outros assuntos correlatos. Conforme Apor, so-mente quando estas questões forem resolvidas poderão con-fi rmar se realmente a produção de compressores ocorrerá em Manaus. “Por enquanto, é só uma intenção”, frisa.

Quanto à criação de novas vagas de emprego na região, Apor diz que toda a produ-ção concentrada em Manaus, especialmente, sofre com a sazonalidade do mercado. Nesse rumo, não há previsão de novos postos, apenas a ma-nutenção dos vigentes. “O que já é uma sinalização positiva,

levando em consideração a situação econômica que paira sobre o país”, salienta.

A LG aponta planos de manter os investimentos no segmento de ar-condicionado, segundo afi rma o diretor geral da linha branca e de ar-condicionado da companhia, Lúcio Bacha. “Não são planos ambiciosos,

em virtude dos investimentos feitos em 2013 na ampliação da fábrica do PIM, que dobrou nossa capacidade de produ-ção. Mas, esse mercado está em amadurecimento e tem uma vasta oportunidade de trabalho. Nós da LG acredita-mos muito no desenvolvimento desse setor”, afi rma.

SILANE SOUZAEquipe EM TEMPO

LG manterá no PIM investimentos no setor de ar-condicionados

A LG Electronics no Brasil promoveu, no último dia 12, a 11ª edição do “LG Digi-tal Experience”. O evento, que foi realizado no pavi-lhão da Bienal no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, apresentou ao público as novidades tecnológicas que chegarão aos consumidores durante este ano.

O principal lançamento fo-ram os televisores OLED 4K, que combinam a resolução Ultra HD (quatro vezes uma Full HD) e a altíssima quali-dade de imagem do painel de OLED. As TVs são extre-mamente fi nas e curvas, e podem ser encontradas nas versões de 77 polegadas, 65 e 55, a partir de abril.

O outro destaque foi para o segmento de celulares, com a apresentação do G Flex2, um smartphone com tela e bateria curvas. O pri-meiro do mercado a contar com o processador Qual-

comm® Snapdragon™ 810 Octa-Cora (oito núcleos) e tecnologia 64-bit, respon-sáveis por um desempenho mais rápido e regular. O aparelho tem previsão de chegar ao mercado ainda este mês, no valor sugerido de R$ 2.899.

Na linha de áudio e ví-deo, o destaque foi o mini system X-Boom Pro, com novos comandos, e o Hi-Fi Áudio, família de alto-falan-tes sem fi o para casa, com lançamentos previstos para o segundo semestre.

No segmento de informá-tica, o monitor Ultrawide curvo de 34 polegadas, o primeiro desse modelo do mundo. Ele ainda não tem data de lançamento. E do portfólio de linha branca, a LG trouxe a TitanPair, maior combo de lavadora e secadora do mercado e uma parceria exclusiva com a ONG WWF.

Lançamentos ousados

Entre os lançamentos da LG está o smartphone G Flex2

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B4 Economia MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

Quase 100% de vendas no shopping SumaúmaEm apenas cinco meses com as portas abertas, empreendimento comercializou praticamente todas as lojas disponíveis

Situado no bairro Cidade Nova, Sumaúma é opção de compras na Zona Norte

Em três meses de fun-cionamento, o Sumaú-ma Park Shopping, na Zona Norte de Manaus,

alcançou números que refle-tem a perspectiva de cresci-mento do setor de varejo e a fase de consolidação do centro de compras localizado na Ci-dade Nova. De um universo de 172 operações, apenas cinco estão disponíveis para comer-cialização, o que representa uma média de 97% das lojas em operação e algumas com visão de abertura no primeiro semestre deste ano.

Apesar da situação eco-nômica do país neste ano marcado por expectativa de recessão, o shopping tem ge-rado frutos positivos e suaviza-do o efeito da desaceleração econômica. “Em um momento conturbado do ponto de vista político, de aumento de impos-tos e do combustível ao longo deste primeiro trimestre, o shopping se posiciona em um patamar favorável no cenário brasileiro”, enfatiza o diretor do Sumaúma Park Shopping, Ilton Nóbrega.

Embora a fragilização no mercado brasileiro, a visão para mercado é positiva para o diretor. “Até julho deste ano, 40 grandes lojas serão inauguradas, completando, principalmente, o mix de en-tretenimento do Sumaúma, representado por oito salas de cinema da rede UCI, boliche e parque indoor”.

FavorávelO diretor de relações institu-

cionais da Associação Brasilei-ra de Lojistas de Shopping (Al-shop), Luís Augusto Ildefonso, reafirma a posição favorável do centro de compras no mercado brasileiro. “Levando-se em conta que a economia

anda na contramão e os pou-cos meses de inauguração do shopping, disponibilizar ape-nas cinco lojas para comercia-lização, de fato, é uma posição diferenciada”, avalia.

Entre os fatores que justifi-cam o sucesso em curto prazo do empreendimento, Ildefonso aponta a maturação do gru-po DB, rede de hipermercados responsável pelo Sumaúma. “Amparado por estudos e in-formações, o grupo construiu um empreendimento e levou ao encontro da comunidade que não tinha qualquer opção naquela área”, explica o diretor da associação, ao citar como exemplo alguns shoppings

que inauguraram há três me-ses e, no entanto, apresentam o índice de vacância pouco satisfatório.

“Os shoppings Roraima Gar-den e Pátio Roraima foram inaugurados na mesma época, mas são dois grupos fortes que construíram dois shoppings de qualidade, porém, a demanda não acompanhou e acabou di-vidindo os lojistas e o público”, explica Ildefonso.

Expansão No ano passado, conforme

pesquisa do Ibope Inteligência, 50 shoppings foram inaugura-dos em todo o Brasil, sendo que

desses, 21 tiveram uma média de ocupação de 38% em três meses de funcionamento. No Sumaúma, neste mesmo perío-do, a média é de 97% da área bruta locável negociada.

Além do fundo de comércio estabelecido, conquistado pelo grupo DB no local há 23 anos, Ilton Nóbrega, aponta como outro fator favorável ao suces-so a localização do shopping na avenida Noel Nutles, principal corredor viário do bairro.

Ainda segundo Nóbrega, outro ponto positivo é a possibilidade de ampliação do espaço ocupado pelo lo-jista. “É mais vantajoso para o investidor ampliar seus ne-gócios em um local que ele já conhece e sustente o hábito do consumidor. É diferente de ocupar uma área ‘greenfield’ (campo verde), onde é preciso começar do zero”.

Diante desse cenário, o Sumaúma desenvolve estra-tégias de potencialização à altura do ritmo de crescimento do varejo naquela região.

O projeto de expansão está entre as metas do shopping. Tendo como base as informações da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), a indústria de sho-pping centers está em plena expansão no país.

Neste ano, aproximada-mente 93 shoppings passam por expansões, visando mais conveniência, comodidade e segurança aos frequentado-res. “Quando planejamos a construção de um shopping, pensamos em 50 anos na fren-te e no potencial máximo do terreno. Após isso, vem a fase de execução de cada etapa e o Sumaúma está cami-nhando para este processo de ampliação gradativamen-te”, finaliza.

SUCESSOInaugurado em novem-bro de 2014, Sumaúma Park Shopping comer-cializou, neste curto período, quase 97% das lojas de um total de 172 operações, de acordo com assessoria do empreendimento

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Sumaúma Park Shopping tem atraído bom público desde a sua inauguração no ano passado

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B5EconomiaMANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

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B6 País MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

Somente três propostas de CPMI saíram do papelComissão que investigou violência contra a mulher apresentou 14 projetos. Nove ainda estão na Câmara e 2 no Senado

Brasília - Mais de um ano e meio depois do fim da Comissão Parlamentar Mista

de Inquérito (CPMI) que in-vestigou a violência contra as mulheres no país, das 14 mudanças legislativas pro-postas pelo colegiado, ape-nas três saíram do papel: uma que oficializa o Disque 180 como o telefone nacional para receber denúncias desse tipo de agressões; uma que cria uma comissão permanente no Congresso Nacional para monitorar o problema; e outra que agrava a pena contra as-sassinos de mulheres, quando o crime envolve violência do-méstica, menosprezo ou dis-criminação contra a vítima, o chamado feminicídio.

Dos outros 11 projetos de lei defendidos pela CPMI, nove ainda esperam votação na Câ-mara e dois no Senado. Entre eles, estão três propostas (PLs 6011/13, 6012/13 e 6296/13) que pretendem dar garantias de sobrevivência à vítima que depende financeiramente do agressor. A ideia é que a de-pendência econômica deixe de ser um obstáculo na hora de denunciar a violência.

Outro projeto ainda penden-te de votação (PL 6294/13) fixa um limite de 24 horas para que o juiz e o Ministério Públi-co comecem a analisar cada caso de mulher que procura abrigo por ter sido agredida. Hoje, em episódios classifica-dos como urgentes, a polícia tem dois dias para notificar a

Justiça, mas não existe prazo para que sejam colocadas em prática medidas de proteção à vítima, o que muitas vezes dá espaço para que a violência se agrave, podendo até acabar em morte.

O quadro atual já comprova a necessidade de agilizar esse processo, defende a coorde-nadora da bancada feminina da Câmara, deputada Jô Mo-raes (PCdoB-MG): “Quando a queixa chega à delegacia, até o juiz estabelecer medida pro-tetiva que possa levar à prisão do agressor, muitas vezes o criminoso já está na casa da mulher outra vez”.

O juiz Ben-Hur Viza con-corda com a proposta de dar um prazo máximo de 24 ho-ras para que as autoridades

responsáveis analisem casos de violência contra a mulher. “Não é uma simples comuni-cação. É uma comunicação para que seja examinada a possibilidade do decreto de prisão preventiva. Se for ne-cessário, o agressor vai ser privado de liberdade, e a mu-lher voltará ao convívio so-cial”, explica o magistrado.

Apesar de achar a iniciativa positiva, Leila Rebouças, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), acredita que não basta apenas fazer uma nova lei: “O que vai de-pender mesmo é da vontade desses juízes em efetivar essa legislação. Se limita o prazo [para análise dos casos], a mulher corre menos riscos de ser revitimizada”.

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito de Violência contra a Mulher funcionou no Congresso até 2013 e aprovou três projetos

Reforma política entra na pautaBrasília - Na próxima sema-

na, o plenário do Senado deve continuar imerso nos projetos de reforma política. A orienta-ção do presidente da casa, se-nador Renan Calheiros (PMDB-AL), é que cada projeto pronto para votação seja colocado na pauta para discussão até que a reforma política vá, aos poucos e de maneira fatiada, tomando corpo. “Nenhum dos temas ob-teve acordo, nenhum alcançou consenso. Por isso a orientação tem sido votar os projetos na ordem com que chegam ao plenário”, explica o secretário-geral da mesa, Luiz Fernando Bandeira de Mello.

A prioridade da semana deve ser a proposta, dos ex-sena-dores Francisco Dornelles e

José Sarney (PLS 268/2011), que institui o financiamento público exclusivo das campa-nhas eleitorais. A tirar pela votação do tema na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ocorrida em 2011, deve ser uma votação disputada.

Na comissão, o projeto teve empate em nove votos contrá-rios e nove favoráveis, sendo decidido pelo então presiden-te, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que indicou sua aprovação. Ape-sar de não ser obrigatória sua passagem pelo plenário, por ser terminativo na CCJ, houve três recursos nesse sentido, e agora o texto está pronto para análise de todos os senadores.

O PL proíbe os partidos políti-cos e candidatos de receberem

doações em dinheiro ou esti-máveis em dinheiro oriundas de pessoas físicas e jurídicas. Os recursos para as campa-nhas sairiam de fundo admi-nistrado pela Justiça Eleitoral que, para isso, deverá receber em ano de campanha transfe-rência orçamentária à base de R$ 7 por eleitor inscrito.

Quem defende o financia-mento público exclusivo diz que, além de assegurar equi-líbrio econômico entre os can-didatos, deixa claro quem paga a conta das campanhas. Em tese, excluir agentes privados do processo facilita a fiscali-zação, elimina a influência de grandes empresas nas eleições e permite que os partidos me-nores tenham mais recursos.

SENADO

O secretário-geral da mesa, Luiz Fernando, também avalia que Orçamento entre na pauta

MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO

AGÊNCIA SENADO

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B7MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 Mundo

Morte de civis por policiais é duas vezes mais nos EUARelatório do governo mostra que os dados oficiais do total de homicídios praticados pela polícia americana diverge da realidade

São Paulo - Um rela-tório do governo dos EUA apontou que o total de homicídios

praticados pela polícia norte-americana é duas vezes maior do que o número de casos que são oficialmente relatados pe-las forças de segurança ao governo. Isto é, em média dos 928 casos anuais de mortes civis por mãos policiais, ape-nas 383 eram reportados ao governo.

Em média, a cada ano na última década, as instituições policiais municipais e estadu-ais deixaram de reportar 545 casos de morte.

Até a publicação deste es-tudo, produzido pelo Depar-tamento de Estatísticas da Justiça dos EUA, a ferramenta usada para monitorar a vio-lência policial no país era o levantamento feito pelo FBI, que, ano após ano, publicava informes contabilizando o to-tal de “homicídios justificáveis pelas forças de segurança”.

A título de comparação com a situação brasileira, em 2012, por exemplo, o registro oficial dá conta de que 1.890 pessoas foram mortas pelas mãos da polícia no Brasil. Apenas em São Paulo, a PM paulista ma-tou em média 540 pessoas por

ano, entre 1995 e 2014.

TerrorismoO estudo também analisa as

mortes de norte-americanos vítimas de atentados terro-ristas. A média nos últimos anos é de 16 pessoas mor-tas nessas circunstâncias. Em comparação com os números de violência policial, a chance

de ser assassinado pela polícia é 55 vezes maior do que por um ataque terrorista nos EUA.

Após investigação do caso de Michael Brown, jovem ne-gro desarmado morto por um policial em Ferguson em agos-to do ano passado, a Justiça dos Estados Unidos concluiu na semana passada que o racismo faz parte da rotina da polícia local, principalmente,

contra a comunidade negra.De acordo com o relatório

do órgão federal, a polícia de Ferguson violava regularmen-te os direitos constitucionais dos cidadãos e participou de uma “rotina” de discrimina-ção contra a população negra na cidade. Além disso, o do-cumento ressalta que, entre 2012 e 2014, enquanto os negros respondiam por 67% da população, 85% dos auto-móveis parados pela polícia eram conduzidos por negros e 90% das pessoas convoca-das ao tribunal eram negras, bem como 93% dos detidos, apontou a AFP. Em 88% dos casos de uso da força policial, os suspeitos eram afro-ame-ricanos, diz o relatório.

Quatro meses após o assas-sinato do jovem negro Michael Brown, a polícia americana se envolveu em outro crime se-melhante: matou outro jovem negro, de 24 anos, na cidade de Berkeley, no Missouri, nas proximidades de Ferguson.

Segundo a polícia, o rapaz estava armado e apontou a arma quando o agente se aproximou dele e de outro indivíduo, em uma ronda de ro-tina a uma bomba de gasolina. O agente afirma que disparou em legítima defesa. Protestos contra violência policial têm levado milhares de pessoas às ruas dos Estados Unidos

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MANIPULADOSConforme o levanta-mento, a cada ano na última década, em média, as instituições policiais municipais e estaduais deixaram de reportar 545 casos de morte, mascarando os números oficiais

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B8 Mundo MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

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[email protected], DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 (92) 3090-1041

Fantasmas de pedra, fantasmas sem memória

Testemunhas de uma época áurea na história de Manaus, os prédios históricos da capital têm sua importância enquanto registro de um pas-sado de apogeu e de uma beleza arquitetônica que nunca mais será vista na modernidade. Mesmo assim, à exceção dos imóveis famosos, como o Teatro Amazonas e o Palácio da Justiça, muitas de suas histórias são desconhecidas, comprometendo a memória histórica da cidade.

O centro histórico reúne diversos desses testemunhos, verdadeiros fantasmas de pedra que se erguem em meio ao traçado moderno dos atuais prédios - muitos de gosto duvidoso. São palacetes, residências antigas, hoje ocupadas por outros moradores ou empreendimentos. Nas próximas páginas está um pouco do que se conhece e desco-nhece desses lugares e como há exemplos a serem seguidos quanto à preservação da memória.

(Leia nas páginas C2 a C5)

ALBERTO CÉSAR ARAÚJO

FANTASMAS

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C2 Dia a dia MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

Falta de informação faz patrimônio ser esquecidoPreservados ou não, imóveis antigos do centro histórico guardam histórias de personalidades quase esquecidas

No largo São Sebastião, no centro histórico, onde é possível encontrar imóveis históricos restaurados, os atuais ocupantes praticamente desconhecem as histórias dos antigos moradores

Em pouco tempo, a his-tória antiga de Ma-naus é esquecida e perdida por trás de

paredes de concreto e cimento de imóveis abandonados. A situação é delicada, e prédios como o da biblioteca munici-pal João Bosco Pantoja Evan-gelista, situado na rua Monse-nhor Coutinho, além de servir como abrigo para moradores de rua, foi completamente saqueado e seus pequenos objetos que recordavam o passado seguem agora ape-nas na lembrança de poucos.

Quem procura informações sobre o ano da criação da bi-blioteca vai esbarrar na falta de informações, pois até mesmo os órgãos competentes da cul-tura local não guardam muitas informações do que um dia foi importante para a sociedade.

A biblioteca municipal está há mais de dois anos fechada para reforma, porém quem passa em frente ao prédio observa que nenhuma obra foi iniciada. Antes da reforma da praça Antônio Bittencourt (do Congresso), que fica em frente

ao prédio da biblioteca, a po-pulação era assaltada quase diariamente por infratores que viviam no imóvel.

Agora, diariamente, vigi-lantes atuam na segurança da praça. Um dos seguranças afirmou que nas ruas adjacen-tes, assaltos e roubos sempre ocorrem, e os infratores cor-rem com o bem roubado para o prédio abandonado. “Infeliz-mente, temos que presenciar essa situação, pois o prédio está completamente aban-donado. Além de cometerem roubos e furtos, esses mora-dores de rua deixam o prédio sujo e destroem tudo o que há dentro, até simples peças como piso são arrancados e vendidos”, relatou.

Em janeiro deste ano, o prefeito Arthur Neto anun-ciou a reforma de três praças do Centro que fazem parte do programa PAC Cidades Históricas. No anúncio, foi explicado que a biblioteca não foi contemplada no projeto nesta primeira etapa, pois falta a liberação da verba, que depende de análise do Insti-tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília.

Apesar da boa conserva-ção resultante da interven-ção da Secretaria de Estado da Cultura, o esquecimento da história também ocorre no casario do largo São Sebastião. Os funcionários das lojas, lanches e res-taurantes do local e até os moradores não sabem muito sobre a história de suas atuais moradias.

A administração do largo possui um pequeno registro de cada morador. Na casa 634, onde funciona a African House, morou nos anos 1940 o desembargador Leôncio Salignac de Souza, promo-tor em várias cidades do interior do Amazonas, vice-presidente e presidente do Tribunal de Justiça e imortal da Academia Amazonense de Letras.

Segundo os documentos da administração do largo, há poucas lembranças dos moradores antigos sobre o local, que por muito tempo

ficou sem utilização. Na casa 626, morou a família do se-nhor Alfredo James Baird, comerciante e quinto presi-dente da Associação Comer-cial do Amazonas (ACA).

O contador e diretor ad-ministrativo das Centrais Elétricas de Manaus e seu presidente por mais de 13 anos, Jorge Augusto de Sou-za Baird, morou na casa nas décadas de 1930 e 1940. Na casa 618 morou o pro-fessor Aristóteles Comte

de Alencar e sua esposa, a professora Rosa Branca de Lima Alencar, que a adqui-riram por compra feita de Irene de Araújo Barbosa; José dos Santos Barbosa e sua esposa Maria Tereza Pereira Barbosa; Daniel dos Santos Barbosa e Maria da Conceição Araújo Barbosa, por escritura em 1960. A casa funciona atualmente como um laboratório de análise clinicas e o consul-tório médico do doutor Aris-tóteles Comte de Alencar Filho, cardiologista.

Na Casa das Artes, de número 564, morou o ad-vogado Thaumaturgo de Al-buquerque Sapha, com sua esposa Liverdade Sapha e seus filhos Ieda Moreira Sha-pa, o diplomata de carreira, atualmente embaixador do Brasil nos Emirados Árabes, Flávio Sapha, e o aposentado do Ministério das Relações Exteriores como oficial de Chancelaria, Hugo Sapha.

Histórias ocultas entre paredes

Na casa de número 508, que atualmente é de propriedade de Pará Amazonas Tu-rismo, morou o co-merciante Félix Fink, proprietário das dro-garias Fink, além da cunhada do gover-nador Plínio Coelho, Virginia Coelho, e o professor da Univer-sidade do Amazonas, o jornalista e escritor Genesino Braga e a inspetora do Ministé-rio da Educação (MEC), Dinoralva Braga.

Sobre os atuais e eventuais futuros projetos de reforma, até o fechamento desta edição a Se-cretaria de Estado da Cultura não havia se pronunciado.

Comerciantes e jornalistas no largo

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LEMBRANÇASA administração do lar-go possui um pequeno registro de cada mora-dor. Na casa 634, por exemplo, onde funciona a African House, morou nos anos 1940 o de-sembargador Leôncio Salignac de Souza

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C3Dia a diaMANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

TIM LOJAS

Santa Casa: um drama que pode chegar ao final felizImóvel sobrevive com o apelo pela sua restauração e reativação. Por enquanto, abandono está apenas “remediado”

No último dia 12 de janeiro, o juiz da Vara de Registro Público Ernesto An-

selmo Chíxaro determinou o registro do imóvel localizado no número 328 da rua 10 de Julho, Centro Histórico de Manaus. Desde 1917, o prédio abrigava a Santa Casa de Misericórdia, centro de referência no atendimento à saúde no Amazonas. A ins-tituição, apesar de ocupar o prédio há quase 100 anos, não dispunha do registro do referido bem.

A medida fui cumprida no dia 28 daquele mês, por meio do cartório do 2º Ofício de Imóveis de Manaus. Trata-se de um avanço na retomada das atividades do hospital, fechado desde 2004. Desde então, o local se transfor-mou em ponto de consumo de drogas e alvo de depre-dações, além de apresentar

risco de desabamento. Um estacionamento funciona-va em frente ao prédio, e dessa forma pessoas ten-tavam obter lucro indevido com o espaço.

Baseando-se nesses indí-cios, no dia 23 de outubro de 2014 o governador José Melo decretou a desapropriação do prédio. A decisão repre-sentou mais uma vitória para a comissão interventora da Santa Casa, composta por três integrantes nomeados pela 4ª Vara Cível.

“Para ter suas portas re-abertas e voltar a servir a população, a Santa Casa ne-cessita apenas que o governo conclua a desapropriação e lhe pague a indenização de-vida”, explica Tiago Queiroz, integrante da comissão. O processo administrativo da ação está em trâmite na Procuradoria Geral do Es-tado (PGE) e espera-se que a situação esteja resolvi-da no primeiro semestre deste ano.

No entanto, falta um pro-jeto elaborado de reforma, pois a desapropriação ainda não começou a ser realiza-da. “A maior vantagem da reforma resulta não só do tombamento, tendo em vista a necessidade de preserva-ção do patrimônio histórico e cultural, como também do respeito aos sítios arqueoló-gicos localizados no centro histórico”, diz Tiago.

O vereador Mário Frota (PSDB) alerta para a necessi-dade de ações emergenciais de restauração do prédio. “Trata-se de uma construção inaugurada antes do Teatro Amazonas e o hospital mais antigo de Manaus. É comum encontrar membros de vá-rias famílias que tenham sido atendidos ali”, argumenta.

Construído em 1880, o hos-pital já recebeu autoridades como o ex-governador Álvaro Maia. Em 4 de maio de 1969, após sofrer um infarto do miocárdio, o político morreu em um dos leitos do Pavi-

lhão Santana. Atualmente, tapumes cercam a fachada e vigias tentam manter os vândalos longe dali.

Há seis anos, Frota ten-ta sensibilizar autoridades sobre a situação da Santa Casa. O principal obstáculo das negociações, no entanto, é o custo financeiro do pro-jeto de revitalização. Apesar disso, ele mantém a esperan-ça na atuação do governador José Melo. Durante a última campanha para o governo do Estado, Melo deu sinal posi-tivo ao apelo do vereador e sugeriu que o hospital fosse transformado num centro de atendimento infantil.

Para Frota, a importân-cia da Santa Casa deve ser avaliada também em razão de sua localização estraté-gica. “Até hoje, não dispo-mos de um pronto-socorro nas imediações do porto de Manaus. Pacientes de ou-tros Estados ou municípios poderiam ser atendidos ali”, propõe o vereador.

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Interior da Santa Casa, prédio histórico abandonado mas em processo para restauração: um dos exemplos de preocupação com o patrimônio, com resultados positivos em vista

DANIEL AMORIMEspecial para o EM TEMPO

Fachada da Santa Casa: depois do abandono, uma nova história

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A paixão que preservaO Castelinho da rua Barroso é um dos exemplos de história de preservação motivada pelo respeito à importância histórica e amor pelo que é antigo e belo

a história

Enquanto alguns luxu-osos casarões ergui-dos na última década do século 19 e início

do século 20 sucumbem ao esquecimento, outros resis-tem ao tempo e à mudança dos valores da sociedade. Exemplo de resistência é o prédio construído em 1907 na esquina das ruas Barroso e 24 de Maio, no centro, que fi cou conhecido como “Cas-telinho” por sua estrutura assobradada.

Apesar dos 108 anos de existência, o prédio possui ainda muitos elementos ori-ginais, graças à paixão dos proprietários em conservar a arquitetura original e a me-mória histórica da cidade.

Por fora, a fachada incrus-tada por janelões revela a preservação do estilo predo-minantemente art nouveau, assim como a torre encober-ta de cerâmica e o austero portão de ferro fundido. O interior do palacete desperta uma viagem ao tempo, com a conservação de elementos característicos das constru-ções da época, o piso e a escada de madeira maciça, o forro parte em alumínio, que se assemelha a uma peça de gesso, e outro em madeira. Janelões em madeira ador-nadas por azulejos coloridos em alto relevo desposam em um pé direito (distância do chão ao teto) de cerca de 4 metros.

O local foi restaurado du-rante cinco meses, em maio de 1992, quando comprado pelos atuais proprietários, os empresários Olinto Cabral e Nahyde Cabral. Reinaugura-do em 27 de junho de 1993, o palacete abrigou até 1999 a agência de viagens Ata Turismo, e de 1999 até hoje, um restaurante.

Além de conservar a es-trutura, os donos também investiram em um mobiliário e decoração que lembram o estilo europeu, com me-sas de madeira, lustres e quadros com fotografi as de praças e avenidas de Ma-

naus antiga. Há também uma sala com 16 relógios antigos em madeira, pendurados na parede. “O Castelinho tem bastantes detalhes antigos, relógio, quadros, lustre, lou-ças. Tudo meu pai compra em antiquário”, afi rmou o fi lho do empresário, Márcio Cabral, 33.

Vizinho ao Teatro Ama-zonas, o estabelecimento chama atenção dos turistas pela conservação fi el. “Era um sonho do meu pai desde a adolescência. Sempre que ele passava por aqui dizia que um dia seria dele. Em 1993, ele comprou”, contou.

Apaixonado pelo casarão, Olinto buscou manter tudo original, e quando precisou substituir algumas peças consumidas pelo tempo, op-tou por modelos similares para preservar o estilo. “Ele manteve tudo original, só tro-cou o que foi necessário, mas manteve a originalidade, tan-to que é patrimônio histórico. Quando meu pai comprou, o prédio era abandonado, tinha algumas infi ltrações no telhado, por isso algu-mas telhas foram trocadas, além de peças de marcenaria do piso e das janelas, que apodrecem rápido”, disse. Manutenções periódicas são feitas no castelinho o que, de acordo com o proprietário, tem um custo 50% maior ao comparado a reforma de um prédio moderno. “Acho muito legal essa paixão do meu pai. Temos interesse em manter futuramente o Castelinho sempre restaurado. Mesmo dando muito trabalho para manter, o gasto é muito alto, diferente se fosse um prédio moderno, em que a manu-tenção é bem mais barata”, analisou Márcio.

IVE RYLOEquipe EM TEMPO

O Castelinho foi erguido durante o período de apogeu econômico decorrente da ex-tração da borracha, que fi nan-ciou a construção de grandes obras arquitetônicas como o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, os casarões do co-merciante alemão Waldemar Scholz, conhecido hoje como o palácio Rio Negro, e o do governador Silvério Nery, na avenida Joaquim Nabuco.

A edifi cação de casarões no Centro da cidade aconte-ceu após o aterro do igarapé Espírito Santo, que percorria o espaço onde foi construído o Teatro Amazonas e cor-tava as ruas José Clemente, Barroso, Eduardo Ribeiro, 24 de Maio e Saldanha Marinho. Os investimentos se estende-ram por toda Manaus, que se transformava em um gran-de canteiro de obras, com a construção de praças, pontes, ruas, fornecimento de água e energia elétrica e drenagem de igarapés.

O palacete foi construído em 1907, e o primeiro proprie-tário foi o médico do hospi-tal da Sociedade Benefi cente

Portuguesa, Francisco da Cos-ta Fernandes. Ele participou da equipe acadêmica fundadora da Escola Universitária Livre de Manáos, em 1909, atual Universidade Federal do Ama-zonas (Ufam). De acordo com livreto distribuído pelos atuais donos do imóvel e baseado em

estudos da escritora Etelvina Garcia, em seguida Fernandes teria alugado a casa para o médico maranhense Basílio Torreão Franco de Sá, prefeito de Manaus em 1914.

Em 1925, o médico Francis-co da Costa Fernandes vendeu o castelinho para ao médico Manuel Osório de Sá Antunes

que, após uma década repas-sou para Ambrósio Moysés Ezaguy. Além de residência, o castelinho também compor-tou o Consulado da Colômbia na década de 1930. Em 1940, tornou-se o consulado de Por-tugal, onde foi cenário de dis-putados eventos sociais.

Em 10 de junho de 1952 foi feito no espaço uma fes-ta em comemoração ao Dia de Portugal, com direito a participação do governador Álvaro Botelho Maia, do arce-bispo dom Alberto Gaudêncio Ramos, e de personalidades políticas e culturais.

Em 1974, os descendentes de Ezaguy venderam o pala-cete para o empresário Moi-sés Israel, que transformou o espaço em sede da escola de idiomas Aliança Francesa.

Já em 1981 o prédio foi transferido para os servido-res da justiça Raimundo Leite e Stanley Fortes. Em 1992, passou para o casal de empre-sários Olinto Cabral e Nahyde Cabral, que fi zeram do local uma agência de viagens e mais tarde um restaurante, que permanece até hoje.

Algumas lembranças do apogeu

MUDANÇASA edifi cação de ca-sarões no Centro da cidade aconteceu após o aterro do igarapé Es-pírito Santo, que per-corria o espaço onde foi construído o Teatro Amazonas e cortava diversas ruas

Um ano antes da constru-ção do palacete da Barroso, no Centro, foi encerrada a obra e inaugurado o Cas-telinho na rua São Luiz, no bairro Adrianópolis, na Zona Centro-Sul.

O casarão foi construído em uma área de 5,5 mil metros quadrados, e assim como na maioria dos edi-fícios erguidos na época, foi ornamentado com ferros fundidos da empresa Walter MacFarlane, de Glasgow, na Escócia.

O primeiro proprietário foi o então prefeito de Ma-naus, o coronel Adolpho Gui-lherme de Miranda Lisboa. A residência da família foi batizada por “Vila Alcida”, em homenagem à fi lha dele. A obra foi entregue durante o terceiro mandado de Lis-boa, de 1905 a 1907.

Após a construção do Castelinho, a área no entor-no, no bairro Adrianópolis, começou a receber investi-mentos com a abertura de ruas e o fornecimento do serviço de abastecimento

de água, energia elétrica e a implantação da linha de bondes, inaugurado em 1911, pela empresa The Manáos Tramways & Light Co Limited, em 1911 na Vila Municipal.

O Castelinho permaneceu fechado por muitos anos e

sem revitalização. Recen-temente foi restaurado e hoje se tornou uma adega de vinhos da loja Top In-ternacional, sendo uma das poucas edifi cações antigas que vem resistindo ao avan-ço da modernidade naquela área da cidade.

O Castelinho do Centro-Sul

BELEZAO casarão de Adria-nópolis foi construído em uma área de 5,5 mil metros quadra-dos, e assim como na maioria dos edifícios erguidos à época, foi ornamentado com ferros fundidos

O Castelinho do Centro Histórico, na rua Barroso: exemplo

Interior do Castelinho do Centro: paixão pela história do lugar

No entorno do Largo São Se-bastião é pos-sível constatar a preservação

Interior do Ideal Clube: outro exemplo de história pre-servada

Parte do centro histórico quase preservado: muito a se aprender

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A paixão que preservaO Castelinho da rua Barroso é um dos exemplos de história de preservação motivada pelo respeito à importância histórica e amor pelo que é antigo e belo

a história

Enquanto alguns luxu-osos casarões ergui-dos na última década do século 19 e início

do século 20 sucumbem ao esquecimento, outros resis-tem ao tempo e à mudança dos valores da sociedade. Exemplo de resistência é o prédio construído em 1907 na esquina das ruas Barroso e 24 de Maio, no centro, que fi cou conhecido como “Cas-telinho” por sua estrutura assobradada.

Apesar dos 108 anos de existência, o prédio possui ainda muitos elementos ori-ginais, graças à paixão dos proprietários em conservar a arquitetura original e a me-mória histórica da cidade.

Por fora, a fachada incrus-tada por janelões revela a preservação do estilo predo-minantemente art nouveau, assim como a torre encober-ta de cerâmica e o austero portão de ferro fundido. O interior do palacete desperta uma viagem ao tempo, com a conservação de elementos característicos das constru-ções da época, o piso e a escada de madeira maciça, o forro parte em alumínio, que se assemelha a uma peça de gesso, e outro em madeira. Janelões em madeira ador-nadas por azulejos coloridos em alto relevo desposam em um pé direito (distância do chão ao teto) de cerca de 4 metros.

O local foi restaurado du-rante cinco meses, em maio de 1992, quando comprado pelos atuais proprietários, os empresários Olinto Cabral e Nahyde Cabral. Reinaugura-do em 27 de junho de 1993, o palacete abrigou até 1999 a agência de viagens Ata Turismo, e de 1999 até hoje, um restaurante.

Além de conservar a es-trutura, os donos também investiram em um mobiliário e decoração que lembram o estilo europeu, com me-sas de madeira, lustres e quadros com fotografi as de praças e avenidas de Ma-

naus antiga. Há também uma sala com 16 relógios antigos em madeira, pendurados na parede. “O Castelinho tem bastantes detalhes antigos, relógio, quadros, lustre, lou-ças. Tudo meu pai compra em antiquário”, afi rmou o fi lho do empresário, Márcio Cabral, 33.

Vizinho ao Teatro Ama-zonas, o estabelecimento chama atenção dos turistas pela conservação fi el. “Era um sonho do meu pai desde a adolescência. Sempre que ele passava por aqui dizia que um dia seria dele. Em 1993, ele comprou”, contou.

Apaixonado pelo casarão, Olinto buscou manter tudo original, e quando precisou substituir algumas peças consumidas pelo tempo, op-tou por modelos similares para preservar o estilo. “Ele manteve tudo original, só tro-cou o que foi necessário, mas manteve a originalidade, tan-to que é patrimônio histórico. Quando meu pai comprou, o prédio era abandonado, tinha algumas infi ltrações no telhado, por isso algu-mas telhas foram trocadas, além de peças de marcenaria do piso e das janelas, que apodrecem rápido”, disse. Manutenções periódicas são feitas no castelinho o que, de acordo com o proprietário, tem um custo 50% maior ao comparado a reforma de um prédio moderno. “Acho muito legal essa paixão do meu pai. Temos interesse em manter futuramente o Castelinho sempre restaurado. Mesmo dando muito trabalho para manter, o gasto é muito alto, diferente se fosse um prédio moderno, em que a manu-tenção é bem mais barata”, analisou Márcio.

IVE RYLOEquipe EM TEMPO

O Castelinho foi erguido durante o período de apogeu econômico decorrente da ex-tração da borracha, que fi nan-ciou a construção de grandes obras arquitetônicas como o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, os casarões do co-merciante alemão Waldemar Scholz, conhecido hoje como o palácio Rio Negro, e o do governador Silvério Nery, na avenida Joaquim Nabuco.

A edifi cação de casarões no Centro da cidade aconte-ceu após o aterro do igarapé Espírito Santo, que percorria o espaço onde foi construído o Teatro Amazonas e cor-tava as ruas José Clemente, Barroso, Eduardo Ribeiro, 24 de Maio e Saldanha Marinho. Os investimentos se estende-ram por toda Manaus, que se transformava em um gran-de canteiro de obras, com a construção de praças, pontes, ruas, fornecimento de água e energia elétrica e drenagem de igarapés.

O palacete foi construído em 1907, e o primeiro proprie-tário foi o médico do hospi-tal da Sociedade Benefi cente

Portuguesa, Francisco da Cos-ta Fernandes. Ele participou da equipe acadêmica fundadora da Escola Universitária Livre de Manáos, em 1909, atual Universidade Federal do Ama-zonas (Ufam). De acordo com livreto distribuído pelos atuais donos do imóvel e baseado em

estudos da escritora Etelvina Garcia, em seguida Fernandes teria alugado a casa para o médico maranhense Basílio Torreão Franco de Sá, prefeito de Manaus em 1914.

Em 1925, o médico Francis-co da Costa Fernandes vendeu o castelinho para ao médico Manuel Osório de Sá Antunes

que, após uma década repas-sou para Ambrósio Moysés Ezaguy. Além de residência, o castelinho também compor-tou o Consulado da Colômbia na década de 1930. Em 1940, tornou-se o consulado de Por-tugal, onde foi cenário de dis-putados eventos sociais.

Em 10 de junho de 1952 foi feito no espaço uma fes-ta em comemoração ao Dia de Portugal, com direito a participação do governador Álvaro Botelho Maia, do arce-bispo dom Alberto Gaudêncio Ramos, e de personalidades políticas e culturais.

Em 1974, os descendentes de Ezaguy venderam o pala-cete para o empresário Moi-sés Israel, que transformou o espaço em sede da escola de idiomas Aliança Francesa.

Já em 1981 o prédio foi transferido para os servido-res da justiça Raimundo Leite e Stanley Fortes. Em 1992, passou para o casal de empre-sários Olinto Cabral e Nahyde Cabral, que fi zeram do local uma agência de viagens e mais tarde um restaurante, que permanece até hoje.

Algumas lembranças do apogeu

MUDANÇASA edifi cação de ca-sarões no Centro da cidade aconteceu após o aterro do igarapé Es-pírito Santo, que per-corria o espaço onde foi construído o Teatro Amazonas e cortava diversas ruas

Um ano antes da constru-ção do palacete da Barroso, no Centro, foi encerrada a obra e inaugurado o Cas-telinho na rua São Luiz, no bairro Adrianópolis, na Zona Centro-Sul.

O casarão foi construído em uma área de 5,5 mil metros quadrados, e assim como na maioria dos edi-fícios erguidos na época, foi ornamentado com ferros fundidos da empresa Walter MacFarlane, de Glasgow, na Escócia.

O primeiro proprietário foi o então prefeito de Ma-naus, o coronel Adolpho Gui-lherme de Miranda Lisboa. A residência da família foi batizada por “Vila Alcida”, em homenagem à fi lha dele. A obra foi entregue durante o terceiro mandado de Lis-boa, de 1905 a 1907.

Após a construção do Castelinho, a área no entor-no, no bairro Adrianópolis, começou a receber investi-mentos com a abertura de ruas e o fornecimento do serviço de abastecimento

de água, energia elétrica e a implantação da linha de bondes, inaugurado em 1911, pela empresa The Manáos Tramways & Light Co Limited, em 1911 na Vila Municipal.

O Castelinho permaneceu fechado por muitos anos e

sem revitalização. Recen-temente foi restaurado e hoje se tornou uma adega de vinhos da loja Top In-ternacional, sendo uma das poucas edifi cações antigas que vem resistindo ao avan-ço da modernidade naquela área da cidade.

O Castelinho do Centro-Sul

BELEZAO casarão de Adria-nópolis foi construído em uma área de 5,5 mil metros quadra-dos, e assim como na maioria dos edifícios erguidos à época, foi ornamentado com ferros fundidos

O Castelinho do Centro Histórico, na rua Barroso: exemplo

Interior do Castelinho do Centro: paixão pela história do lugar

No entorno do Largo São Se-bastião é pos-sível constatar a preservação

Interior do Ideal Clube: outro exemplo de história pre-servada

Parte do centro histórico quase preservado: muito a se aprender

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Criatividade para atraira atenção dos estudantesProfessores inovam suas tradicionais lições com a ajuda dos quadrinhos e músicas, além de interpretação de notícias

Para facilitar o conteúdo de biologia, a professora Alice Gomes, da escola estadual Ruy Araújo, utiliza os conteúdos da disciplina com a ajuda de músicas, o que agradou aos alunos

Tornar as aulas mais dinâmicas e atrati-vas tem sido o foco da atividade de pro-

fessores da rede pública es-tadual de ensino que apostam em práticas pedagógicas di-ferenciadas para despertar o interesse dos estudantes e melhorar o rendimento em sala de aula.

Na escola estadual Ruy Araújo, localizada no bair-ro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus, a professora de biologia Alice Gomes tem investido na criativida-de para chamar a atenção dos estudantes e facilitar o aprendizado.

“O conteúdo de biologia, para alguns, pode ser de di-fícil compreensão. Para rom-per essa barreira, tenho feito uso da música para despertar o interesse dos alunos e levá-los a uma maior compreensão sobre temas da disciplina. Ao trabalhar o conteúdo, por exemplo, de taxonomia [ramo da biologia que nomeia os grupos de organismos bio-lógicos], criei uma música que engloba os principais termos que eles precisam conhecer”, explicou.

Professora Alice afirmou que a ideia tem sido muito bem aceita pelos estudantes. “Com a música, o conteúdo se tornou muito mais fácil de ser absorvido pelos alunos, já que eles lembravam os nomes com mais agilidade e o resultado nas avaliações foi muito mais proveitoso”, mencionou a educadora.

Quadrinhos e recortes Pensando em melhor pre-

parar os estudantes para avaliações nacionais como a Prova Brasil, que será aplica-da em novembro deste ano, a escola estadual Carvalho Leal, localizada também no bairro da Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus, desenvolve ações pedagógicas igual-mente diferenciadas.

Coordenado pelas profes-soras Soraya Freire e Alde-misa Costa, um dos projetos pedagógicos procura levar o conteúdo da disciplina de lín-gua de portuguesa por meio da utilização de linguagem e recursos muito próximos do universo e cotidiano das crianças.

“Para trabalharmos os con-teúdos de leitura, escrita e pontuação, por exemplo, tra-balhamos com histórias em quadrinho e textos relacio-nados com o imaginário in-fantil”, explicou a professora Soraya Freire.

A educadora mencionou que esse trabalho foi plane-jado após a escola notar a dificuldade que alguns alunos tinham na aplicabilidade das normas (de língua portugue-sa) em seu dia a dia.

“Essa dificuldade vem sen-do sanada, pois eles passa-ram a perceber que o que é ensinado pode ser aplicado no cotidiano, na forma de se expressar e interpretar o que leem”, disse a professora.

Além de trabalhar com recursos como histórias em quadrinho e textos de lin-guagem infantil, a escola também faz uso de recor-tes de jornais e de revis-tas no ensino da disciplina língua portuguesa.

Os recursos auxiliam na orientação quanto à leitura e interpretação textual.

Ainda na escola estadu-al Ruy Araújo, o professor de educação física Daniel Corrêa procura estimular o aprendizado dos estu-dantes por meio de ativi- dades diferenciadas.

Há dois anos na escola, professor Daniel tem buscado incentivar os jovens por meio de exercícios laborais antes do início das aulas. “Quando

iniciamos este trabalho de ginástica laboral com orien-tação especializada notamos que os alunos passaram a ter uma maior motivação para acompanhar as demais au-las”, comentou o professor.

Ele cita que o trabalho de ginástica laboral repercute positivamente, sobretudo, no rendimento dos alunos que frequentam as aulas de refor-

ço, ministradas pela escola aos sábados.

Daniel salientou que o resultado positivo das ati-vidades se reflete em várias disciplinas. “Todo professor deveria verificar a melhor forma de melhorar o apren-dizado dos seus alunos. A minha contribuição é por meio da atividade física, o que acaba sendo positivo

para todas as outras disci-plinas”, destacou.

Para a gestora da escola Ruy Araújo, Francinete Ser-rão, o trabalho criativo dos educadores é muito impor-tante para motivar os alunos aos estudos. “Nosso objetivo é motivar cada vez mais nos-sos estudantes e o trabalho diferenciado dos professores é imprescindível”, frisou.

Ginástica para o corpo e também para a mente

O professor de educação sísica Daniel Corrêa procura estimular o aprendizado em outras disciplinas com a ginástica laboral

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UPA tem mais de 100 milatendimentos em um anoUnidade funciona todos os dias da semana, 24 horas, com sistema de urgência e emergência, em média complexidade

Com mais de cem mil atendimentos em um ano de funcionamento, a Unidade de Pronto

Atendimento (UPA) Campos Sales, unidade da Secretaria de Estado de (Saúde), se refe-rencia como uma unidade de saúde que cumpre os padrões de humanização conforme por-taria do Ministério de Saúde.

Dentre os atendimentos re-alizados merecem destaque a clínica médica, que chega a aproximadamente 90 mil atendimentos, seguida da odontologia, com 6,5 mil, or-topedia e traumatologia, com cinco mil, e pediatria, 3,5 mil. Também foram realizados 70 mil exames, entre laborato-riais, raios-X e eletrocardio-grama. “Moro no Santa Etelvi-na e faço questão de vir à UPA porque tenho um atendimento digno e humanizado. Todos os profissionais desta unidade estão de parabéns pelo que fazem pela população”, disse o funcionário público Marcelo Barros, de 38 anos.

O secretário de Estado de saúde, Wilson Alecrim, que vi-sitou a unidade de saúde na semana do aniversário, desta-cou a importância do trabalho desenvolvido pela unidade de saúde. “Nós completamos esse primeiro ano de trabalho na

UPA com um saldo extrema-mente positivo, com mais de cem mil pessoas atendidas, num local onde até um ano atrás nós não tínhamos ne-nhuma unidade de saúde que atendesse a urgência e a emer-gência. Hoje nós temos a UPA e o pronto-socorro Delphina Aziz, e sabemos que nossa po-pulação aqui das zonas Oeste e Norte está bem assistida na área de saúde”.

Alecrim destacou que a UPA Campos Sales foi a primeira unidade deste tipo inaugura-da em Manaus, para compor a rede estadual de atenção às urgências e emergências, formada por nove SPAs e sete prontos-socorros.

Programação especialA programação comemorati-

va contou com palestras educa-tivas, com temas como saúde da mulher, e disponibilização de exames. Os pacientes inter-nados nas salas de observação receberam kits de higiene pes-soal, uma vez que a higiene é fundamental para manutenção do quadro de saúde. “Nosso compromisso é melhorar a qua-lidade de vida da população que precisa de nossos serviços. Por isso iniciamos essas ativi-dades de prevenção à saúde dos moradores que procuram

atendimento na UPA”, afirma a diretora da unidade, Márcia Alessandra Nascimento.

A programação incluiu tam-bém a população residente no entorno da unidade de saúde. Por meio da parceria firmada entre a UPA Campos Sales e a Unidade Básica de Saúde (UBS) Lindalva Damasceno, as mulheres residentes no Tarumã e bairros adjacentes realizaram a coleta de exame preventivo e receberam o encaminhamento para consulta ginecológica.

As pacientes e funcionárias da unidade de saúde ganharam um dia de atenção exclusiva com a oferta de serviços de massagem, beleza com pente-ados e cortes de cabelos, além de exercício físico laboral.

Para o líder comunitário do Parque Solimões, Antônio Carlos Picanço Rodrigues, a iniciativa tem ajudado na me-lhoria da qualidade de vida das pessoas. “Os moradores aqui da comunidade estão muito satisfeitos com os serviços ofertados na uni-dade, que além de resolver o problema de saúde, também têm nos ajudado a melhorar nossa qualidade de vida com a realização das palestras de prevenção e promoção à saúde, frequentemente rea-lizadas na unidade”.

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ULG

AÇÃO

Dentre os serviços realizados merecem destaque a clínica médica com cerca de 90 mil atendimentos

Mais agilidade no atendimentoA agilidade no atendimen-

to aos seus pacientes é um dos diferenciais da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales. Isso acontece por conta do sistema digital de prontuário eletrônico.

Uma vez atendido na UPA, as informações do pacien-tes ficarão guardadas, e sempre que for necessário o médico terá em mãos o his-tórico de cada paciente.

“Em um possível caso de retorno à unidade de saúde, o médico ganha agilidade no atendimento, pois terá acesso imedia-to aos dados clínicos do paciente; logo, seu tempo de espera para atendimen-to será reduzido”, ressalta a diretora da UPA, Márcia Alessandra Nascimento.

Todos os computadores da unidade de tratamento estão interligados e cada

procedimento realizado com o paciente, como medi-cação, exames laboratoriais e raios-X, são monitorados pelo médico que iniciou o atendimento.

Com a digitalização do sis-tema na unidade de saúde, o paciente sai da UPA com sua receita médica digitalizada. Essa medida adotada evita que o paciente tenha dificul-dade para ler a prescrição, os horários indicados para ingestão e a duração do tratamento.

Classificação de RiscosO atendimento segundo a

os critérios do Acolhimento com Classificação de Risco é prioridade na UPA Campos Sales. Pela classificação, que segue o Protocolo de Manchester, os casos mais graves são atendidos com prioridade, e nos casos me-

nos complexos o paciente aguarda atendimento.

“Mesmo sabendo que posso passar um tempo aguardando o atendimento, sei que o tem-

po de minha espera é curto. Por isso sempre procuro a UPA quando estou doente”, res-saltou a dona de casa Maria Dolores Redman Costa.

FuncionamentoA UPA Campos Sales com-

põe a rede estadual de saúde e é gerenciada pela Secretaria de Estado de Saúde (Susam) em parceria com o Instituto Novos Caminhos – Organiza-ção Social.

A unidade de saúde funcio-na todos os dias da sema-na, em regime de 24 horas, oferecendo atendimento de urgência e emergência, em média complexidade.

A unidade de saúde conta com 18 leitos de observa-ção, divididos entre as en-fermarias pediátrica e adulto (masculino e feminino), além de dois leitos de isolamento para pacientes portadores de doenças contagiosas.

Dentre as especialidades médicas oferecidas estão pediatria, odontologia, or-topedia e clínica médica e exames laboratoriais.A UPA Campos Sales tem atendimento de média complexidade

UPA

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AÇÃO

Nosso compromisso é melhorar a quali-dade de vida da po-pulação que precisa de nossos serviços. Por isso iniciamos essas atividades

Márcia Nascimento, diretora da UPA

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MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 [email protected] (92) 3090-1010

3 Arte, política e mercadoEntrevista com Luiz Camillo Osorio. Págs. 4 e 5

2 A economia do fim do mundoJustiça social e crescimento no Antropoceno. Pág. 3

1 A abstração de Sarah MorrisE seis indicações culturais. Pág. 2

Do arquivo de Wanderléa

4 Realidade e ficção policialDiário de Buenos Aires. Pág. 6

5 São Paulo, 1967. Pág. 7

‘Rosa púrpura #10’, de Berna Reale

Capa

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Ilustríssimos desta edição

DIVULGAÇÃO

WANDERLÉA, 68, é cantora. O texto publi-cado é uma versão modifi cada de um trecho da autobiografi a que ela lança no segundo semestre pela editora Record.

IZABELA MOI, 44, é jornalista e bolsista do pro-grama J. S. Knight da Universidade Stanford.

TIAGO MESQUITA, 36, é crítico de arte.

MARIANA CARNEIRO, 35, é correspondente da Folha em Buenos Aires.

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES, 58, é editor da “Ilustríssima”, autor de “Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada” (Publifolha) e “1922 - A Semana que Não Terminou” (Com-panhia das Letras).

LEONARDO MATOS/DIVULGAÇÃO

Ilustríssima SemanaO MELHOR DA CULTURA EM 6 INDICAÇÕES

Ponto Crítico EXPOSIÇÕES - SARAH MORRIS

1 Abstração simulada

Nos fi lmes de Sarah Morris, o tráfego de automóveis, pes-soas e imagens é intenso. Tudo se contamina. Os seus motivos são sugeridos pelas grandes cidades. Nas exposições da artista em São Paulo, ela se apropria de elementos da ar-quitetura, situações urbanas e padrões decorativos das maio-res metrópoles brasileiras.

Sarah Morris nasceu na In-glaterra em 1967 e foi identi-fi cada com o grupo de artistas britânicos que fez sucesso nos anos 90. Apesar disso, ela se formou nos Estados Unidos e o seu trabalho é profundamente americano. Lida com uma ima-gem artifi ciosa, um colorido

TIAGO MESQUITA

sintético, feito com esmalte. Tem algo de abstração e algo de simulação.

O fi lme “Rio” (2012), exibido na galeria Fortes Vilaça, era o carro-chefe das mostras. As pinturas de “Galeria do Rock”, na galeria White Cube até 28/3, têm parentesco com outra série mostrada em Lon-dres em 2013. Na Inglaterra, ela trabalhou a partir de for-mas cariocas, aqui mostra pinturas paulistas.

“Rio” não é um documentá-rio, tampouco fi cção. É uma colagem de imagens frag-mentadas do Rio de Janeiro. A ordem dessas imagens repete, mais ou menos, a ordem de dois dias. O fi lme se inclui na longa tradição das notas de viagem de estrangeiros no Brasil. Ele começa em uma lanchonete, descrevendo a primeira refeição dos traba-lhadores, e termina tarde da

noite, em um desfi le de escola de samba.

A música corre tensa, repe-titiva, monótona. São loops de sintetizador que se repetem e se alternam. É marcada, tem destino e ritmo certo, muito diferente da deriva de imagens que passa de um lugar a outro sem sobressal-tos. A artista repete no fi lme as sobreposições que faz em algumas pinturas.

O seu ponto de vista é assumidamente incompleto, de quem não sabe direito o que acontece, mas olha com curiosidade. Por isso, os pla-nos lembram as perspecti-vas oblíquas de Edgar Degas (1834-1917). Sobretudo nas telas em que cenas de balé misturam o palco, a plateia e a coxia, criando outro sentido para a peça. O modo como Sarah Morris decupa as cenas também muda o sentido do

que é fi lmado.Uma sequência do fi lme é

particularmente reveladora. Depois de passar pela praia, pelo gabinete do prefeito, por um baile funk, a câmera se encontra em um estúdio da rede Globo, onde a atriz Ca-mila Pitanga é maquiada. A cena é amena, descreve um dia corriqueiro. Logo depois, a atriz reaparece, mas dessa vez na tela da TV, contra-cenando com Paolla Oliveira em uma novela. Em seguida, as duas são capturadas no-vamente pela câmera, com o mesmo fi gurino, sentadas em uma mesa, conversan-do. Não sabemos quem está lá. Podem ser as atrizes ou as personagens. Mas talvez não importe, a imagem de Sarah Morris é especular, e através do espelho ninguém é o que era antes, os papéis são trocados. O resultado é

muito interessante.Isso se repete no tratamento

das formas geométricas nas pinturas da White Cube. Não por acaso, o título da exposi-ção é um trocadilho: “Galeria do Rock”. De saída o sentido das telas já é inexato. Embora feitas de formas geométricas simples, elas não são exa-tamente abstratas. Sugerem aspectos de algum lugar ou situação conhecidos, que dá nome às telas.

Os trabalhos são rigorosa-mente estruturados. Muitas vezes, são divididos em um gradeado regular, de onde ela posiciona ou desloca formas com contorno forte e colori-do vibrante. Morris muda as formas de lugar, as secciona e atribui uma cor contrastante a cada uma das partes. Ela as embaralha, sugere novas relações que impedem que reconstruamos qualquer as-

pecto mais regular. O colorido reforça a fragmentação.

A artista parece interessada na maneira como se dão as contaminações. Nas transfor-mações que ideias e projetos regulares sofrem ao serem usados. Isso a aproxima da crítica à ideia de forma pura, neutra, associada a um certo tipo de modernismo. Infeliz-mente, quando olhamos cada pintura individualmente, sem nos preocupar com as ideias e o acervo histórico e social que ela mobiliza, não sobra muito. Para não ser injusto, diria que a artista acerta nos trabalhos em papel e nos cartazes.

Desconfi o que ela sinta von-tade de aproximar as van-guardas da decoração das estações de metrô de São Paulo, dos ordinários padrões gráfi cos da lateral de ônibus. O esforço é produtivo. No entanto, essa simulação de abstração, que manteria uma distância irônica do trabalho, revela-se como a abstração geométrica mais convencio-nal e decorativa.

EXPOSIÇÃO | O INFERNO DE DANTERobert Rauschenberg (1925-2008),

artista norte-americano que foi um dos precursores da arte pop, produziu 34 litogravuras com base nos 34 cantos que compõem a primeira parte de “A Divina Comédia”, do italiano Dante Ali-ghieri (1265-1321). Além das imagens, a mostra também traz gravações em áudio dos poemas de Dante.

Centro Cultural Correios | tel. (11) 3227-9461 | de ter. a dom., das 11h às 17h | grátis | até 22/3

LIVRO | O CAMINHOPOÉTICO DE SANTIAGOOs professores Yara Frateschi Vieira

(Unicamp), Maria Isabel Morán Caba-nas e José António Souto Cabo (Uni-versidade de Santiago) selecionaram 28 poetas da lírica galego-portuguesa relacionados à cidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Os autores presentes no trabalho, como Dom Di-nis, Airas Nunes e João Zorro, ilustram a variedade de gêneros praticados pelos trovadores.

Cosac Naify | R$ 32 | 224 págs.

LIVRO | SOBRE O ESPÍRITOE A LETRA NA FILOSOFIAOs textos do fi lósofo alemão Jo-

hann Gottlieb Fichte (1762-1814) agrupados no volume tratam de tema central no pensamento do fi m do século 18: a relação entre arte e fi losofi a. O livro retrata a evolução das ideias de Fichte e a gênese de seus ensaios, escritos para o periódico mensal “As Ho-ras” a convite do poeta Friedrich Schiller (1759-1805).

trad. de Ulisses Razzante Vaccari Humanitas/Imprensa Ofi cial | R$ 40 | 342 págs.

EXPOSIÇÃO | FÁBIO MIGUEZO paulistano do antigo ateliê Casa

7 apresenta 20 pinturas na mostra “Horizonte, Deserto, Tecido, Cimen-to”. O colecionador Carlos Figueiredo Ferraz, o crítico Tiago Mesquita e o artista participam de bate-papo no sábado (21), às 11h.

galeria Nara Roesler | tel. (11) 3063-2344 | de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h | grátis | até 28/3

CINEMA | ECOFALANTEA quarta edição da mostra de cinema

ambiental ocorre em seis salas de exibição de São Paulo. A programação inclui “Era Uma Vez na Floresta”, de Luc Jacquet, exploração sensorial de uma mata tropical; “De Sul a Norte”, de Antoine Boutet, retrato de um projeto de transposição de água na China; e “O Sal da Terra”, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, coprodução brasileira sobre o fotógrafo Sebastião Salgado indicada ao Oscar.

de qui. (19) a 29/3 | programação em ecofalante.org.br | grátis

TEATRO | OCUPAÇÃO ACIDENTALA Cia. de Teatro Acidental promove gratuitamente uma peça, duas ofi cinas e um

seminário. O espetáculo “O que Você Realmente Está Fazendo É Esperar o Acidente Acontecer” (1), inspirado na obra de Nelson Rodrigues, enfoca o ódio cultivado em nome da liberdade de expressão. O seminário “Ódio como Afeto Político” (2) trará um convidado a cada sábado, como o professor da USP e colunista da Folha Vladimir Safatle e o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ). A partir de abril o grupo também fará as ofi cinas “Dramaturgia Brasileira Contemporânea” (3), sob coordenação de Carlos Canhameiro, e “Estética e Política no Teatro Brasileiro Contemporâneo” (4), com Artur Kon.

Ofi cina Cultural Oswald de Andrade | tel. (11) 3222-2662 | (1) qui., sex. e sáb., às 20h; retirar senha 30 min. antes; até 16/5

(2) sáb., às 17h; até 16/5(3) seg. e qua., das 14h às 17h; de 6/4 a 29/4(4) seg., das 14h às 17h; de 13/4 a 18/5 | Inscrições ofi cinasculturais.org.br

‘Canto VIII’ (1965), obra de Robert Rauschenberg inspirada em Dante

DIVULGAÇÃO

‘Estandartes’ (2014), do artista Fábio Miguez

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G3MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

2 O realismo talvez não seja o que você imagina

Ambiente

Há algum tempo, um meme circulava pela internet com a foto de um vasto território em Alberta, Canadá, inteiramente transfi gurado pela extração de petróleo. “Se isto é bom para a economia”, dizia, “foda-se a economia”. A carga afetiva da imagem certamente su-geria, e parecia mesmo jus-tifi car, o sentimento expres-so na frase. Mas talvez até aqueles que inicialmente se deixassem impactar enxerga-riam ali, após alguma refl exão, as limitações que se costuma atribuir ao ambientalismo.

Primeiro, o sentimentalismo e a falta de visão de con-junto: os apelos emotivos em que supostas catástrofes são apresentadas fora do contexto dos empregos que geram, dos investimentos que atraem, de seu peso na balança comercial. Segundo, o utopismo ingênuo, que age como se realmente pudéssemos dar-nos ao luxo de frear a economia por causa de uma tribo distante, uma espécie rara ou uma bela pai-sagem. De bom coração, mas incapaz de apreender a com-plexidade do mundo, o irrealis-mo ambientalista seria o exato contrário da realista “ciência” econômica: enquanto esta nos ensina que não há almoço grá-tis, aquele parece acreditar que energia e dinheiro podem vir do nada, e sonha com um mundo onde os omeletes se façam sem quebrar os ovos.

RODRIGO NUNES

A natureza também não dá almoço grátis

RESUMOVisto como irrealis-ta, o ambientalismo costuma ser posto ao lado da emoção, da particularidade e do sensível, em contras-te com o racional, o ocidental, o adulto. O realismo econômico, entretanto, mostra-se irrealista ao supor que, contra toda ló-gica, o planeta pode oferecer energia e absorver dejetos indefi nidamente.

Feministas e antropólogos ensinaram-nos a reconhecer, numa série de oposições que estruturam nosso pensamen-to, refl exos do modo como operamos a divisão fundamen-tal entre natureza e cultura. Parece inevitável que, ao tomar a defesa de territórios ditos virgens ou populações ditas selvagens, o ambientalismo acabe colocado – junto com mulheres, crianças e não oci-dentais – do lado da emoção, da particularidade e do sensível, em contraste com o racional, o universal, o abstrato, o ociden-tal, o adulto, o masculino.

Vista através desta grade, toda preocupação ambiental que vem à tona no debate pú-blico já se encontra neutraliza-da de antemão. Infantilizada e isolada como uma expressão irrefl etida, ela pode ser facil-mente ignorada; na melhor das hipóteses, é reconhecida como questão legítima porém parcial, a ser incorporada na racionalidade mais ampla e madura dos economistas. No entanto, é esta mesma gran-de divisão que se complexifi ca diante das questões político-científi cas que o aquecimento global levanta. Peça central neste reembaralhar de cartas é o conceito de Antropoceno: a ideia, atualmente em discussão pela comunidade científi ca, de que teríamos abandonado a era geológica em que se deu quase toda história da humanidade – o Holoceno – para entrar em um período que se defi ne pelas transformações impostas por nossa espécie ao funcionamen-to do sistema terrestre.

Quando atribuímos à história da cultura o valor de força geológica, é a própria natureza que deixa de ser o pano de fundo estático do progresso humano para ganhar historici-dade: o planeta que temos hoje é diverso daquele que nossos ancestrais tiveram, não apenas na sua aparência superfi cial, mas segundo parâmetros pro-fundos como temperatura e acidez oceânica.

Mais que isso, a temporali-dade não linear dos processos físicos nos faz entrar numa qua-dra em que as mudanças natu-rais têm sido mais velozes que as sociais: enquanto cientistas revisam sistematicamente para cima suas previsões sobre o ritmo do aquecimento global, 23 anos de conferências da ONU sobre o tema ainda estão longe

de produzir um acordo efetivo. Somos, em suma, uma espécie natural cuja cultura, tendo mo-difi cado a natureza de maneira radical, agora se nos opõe com a resistência bruta e muda de uma natureza que parecemos incapazes de modifi car.

Realista o quê?Não é apenas a fronteira entre

natureza e cultura que se con-funde, mas também a diferença entre o “realista” e o “irreal”. E não apenas porque o consen-so esmagador da comunidade científi ca hoje está do lado de gente que até ontem reduziria a ciência a uma ferramenta de dominação, enquanto supostos racionalistas pendem cada vez mais para apostas com um pé na fi cção científi ca (como a geoen-genharia) ou um “pós-modernis-mo tático” que reduz evidências a questões de opinião.

Poderíamos descrever a situ-ação, aliás, como uma inversão de posição entre particular e universal. Ainda que tirem a legitimidade de sua disciplina de uma suposta homologia com os modelos matemáticos da física, a realidade em relação à qual os economistas são realistas – quando o são – não é a Terra como sistema físico, mas algo chamado “a economia”. Eviden-temente, uma realidade está contida na outra: a economia existe na Terra e depende de seus processos físicos. Aí, justa-mente, reside o problema.

No momento em que a ciência afi rma que o planeta é inca-paz de suportar o atual ritmo e modelo de desenvolvimento econômico, ser realista em rela-ção à economia sem ser realista em relação a seu suporte físico é exatamente como acreditar que existe almoço de graça; que, contra toda lógica, o pla-neta pode continuar a oferecer energia e absorver dejetos in-defi nidamente e cada vez mais rápido. Trata-se, em resumo, de um “realismo” que complemen-ta a certeza de que só se faz omeletes quebrando ovos com a crença mágica numa Galinha dos Ovos de Ouro infi nitamente dadivosa. Não é à toa que o eco-nomista Nicholas Georgescu-Roegen, autor de “Energia e Mitos Econômicos”, tem tido um revival ultimamente.

É por isto que aquele meme sobre as areias betuminosas do Canadá é menos ingênuo do que aparenta à primeira vista. Por isso, também, o ônus da

prova no debate público, que costuma pesar desproporcio-nalmente contra qualquer tipo de proposta mais radical, pre-cisa começar a ser distribuído de maneira mais equânime: não é mais tão evidente de que lado, hoje, está o pensamento mágico. Um exemplo deste de-sequilíbrio pode ser encontrado num artigo de 7 de dezembro de 2014 nesta “Ilustríssima”, em que o jornalista Marcelo Leite, comentando o debate em torno do conceito de Antropoceno, opõe a perspectiva de Naomi Klein a visões mais modera-das, com clara desvantagem para a primeira. Movida apenas pelo “pensamento positivo” que funda sua fé numa “reviravolta anticapitalista” como solução para a crise ambiental, Klein seria impedida por sua “viseira” ideológica de entender que “o capitalismo não é um monólito, mas um sistema fl exível e cam-biante”. “Reconhecer a mudança do clima como uma falha de mercado não obriga ninguém a concluir que a falha não possa ser corrigida”, o artigo arrema-ta, citando a historiadora da ciência Naomi Oreskes.

Bom para quemMas serão as coisas tão sim-

ples? A expressão “falha de mer-cado” é altamente carregada, porque sugere que o objetivo do mercado seria a preserva-ção ambiental. Contudo, cha-mar algo como a crise hídrica paulista de “falha de mercado” é ignorar que ela foi provocada em grande parte pelo sucesso do mercado em render dividen-dos aos acionistas da Sabesp – em detrimento da qualidade do serviço e do bem-estar da po-pulação. O que move os agentes de mercado é essencialmente a busca do lucro, não a promoção do bem comum; talvez não seja preciso uma viseira ideológica, mas apenas uma dose saudável de ceticismo, para duvidar que a segunda se produza esponta-neamente a partir da primeira, ou que seja racional apostar to-das as fi chas nisso. Além disso, como o próprio artigo acaba por reconhecer, o caminho das solu-ções de mercado é exatamente aquele que tem sido tentado há décadas – com resultados pífi os e “falhas” notáveis. Enquanto isso, a janela de oportunidade para evitar aumentos desastro-sos de temperatura se fecha cada vez mais rápido.

A falácia em dizer que “o bem

da economia” coincide com “o bem da sociedade” decorre de que nem economia, nem so-ciedade são uma coisa só: “a economia” distribui “o bem” de maneira sempre mais ou menos desigual. Quando a desigualda-de cruza um certo limiar, sobra a alternativa de “pagar para ver”; foi o caso das recentes eleições na Grécia. Quando a alternativa “realista” consistia em aprofundar medidas que geraram desemprego de 65% entre a juventude e um aumento de 40% na taxa de suicídios (sem, diga-se de passagem, reanimar a economia do país), os gregos optaram por serem realistas a respeito de outra realidade: a crise aguda de re-produção social que ameaça a própria sobrevivência física de uma parcela crescente da população. Nestas condições, exigir aquilo que o mercado diz ser impossível era a coisa mais razoável a fazer.

Pode-se objetar que a ruína grega é uma situação bastante distinta da brasileira, onde, até recentemente pelo menos, o crescimento econômico tirava milhões da pobreza. Como ser contra o crescimento neste caso? Com efeito, consolidou-se nos governos do PT, partido que abrigou parcela importante do ambientalismo nascente nos anos 80, um consenso políti-co segundo o qual a bandeira ambiental seria elitista e “de direita” – ainda que a direi-ta, dentro ou fora do governo, seja notoriamente desinteres-sada em empunhá-la. Se ser de esquerda é distribuir renda, e só pode haver distribuição de renda quando há crescimento econômico, como não concluir que ser de esquerda é apostar no crescimento econômico?

O raciocínio parece a própria defi nição de uma “esquerda realista”, até que lembramos que é precisamente a ideia de crescimento econômico ilimi-tado nos moldes atuais que os cientistas dizem ter se tornado irreal – e que, se indicadores como o PIB são divisíveis por país, as mudanças climáticas não conhecem fronteiras. Mas seria o caso, então, de sermos obrigados a escolher: ou justiça social ou ambiente? É nisto que insiste boa parte de nossa es-querda, fl ertando publicamen-te com um negacionismo que, no exterior, apenas a direita mais retrógrada tem coragem de abraçar.

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Por trás dessa insistência, contudo, esconde-se outra coi-sa: a blindagem da premissa segundo a qual só pode haver distribuição de renda quando há crescimento econômico. É verdade que esta foi a fórmula do bem-sucedido pacto lulista, que aproveitou um momento propício da economia global para criar uma situação em que os ricos fi cavam mais ricos e os pobres, menos pobres. Agora que aquele momento parece ter atingido o limite, fi ca evidente que se esconde aí uma opção política. Seria possível produ-zir mais igualdade crescendo menos, caso não se tivesse abandonado o projeto de re-distribuir a riqueza já existente, representado por antigas ban-deiras como o imposto sobre grandes fortunas e a reforma agrária. Abandonado este pro-jeto, sobrou apenas a distri-buição da renda por ser criada – e, portanto, o compromisso com o crescimento econômico ilimitado e o enriquecimento continuado dos mais ricos.

A lógica do “anticapitalis-mo” de Naomi Klein poderia ser reconstruída de modo que víssemos aí não a expressão de um “pensamento positivo”, mas a enunciação de um princípio: num momento de crise global, o justo é que a corda arrebente do lado dos mais fortes. Se é impossível seguir crescendo de modo desenfreado, e se não se quer abandonar o propósito da justiça social, é necessário dissociar justiça social e cres-cimento econômico.

Não se pode apenas dizer “todos precisamos fazer sa-crifícios”, quando tanto lucros quanto prejuízos, nesta curva histórica que nos trouxe à crise ambiental, sempre foram tão desigualmente distribuídos. Isto signifi ca que os custos da transição para uma economia pós-carbono e da mitigação dos efeitos das mudanças cli-máticas devem pesar propor-cionalmente mais sobre quem tem mais condições de absorvê-los e mais se benefi ciou deste processo. Daí resultam ideias como a taxação pesada da in-dústria petroleira, para a qual já foram pensadas propostas concretas com medidas que não oneram o consumidor.

Esta opção é seguramente mais justa e, sob vários aspectos, provavelmente mais realista do que oferecer incentivos e criar novos mercados justamente para quem causou a crise, as-sumindo o risco de que, no futuro, nós teremos de pagar por novas “falhas de mercado”. Da mes-ma forma, por mais distantes que estejamos de ter pressão e organização popular na escala necessária, parece mais realista acreditar que mudanças verda-deiras só acontecerão por esta via do que confi ar o ue mercado e sistema político saiam por conta própria de sua inércia.

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RESUMOCurador da represen-tação brasileira na próxima Bienal de Ve-neza, ao lado de Cauê Alves, Luiz Camillo Osorio fala sobre os critérios adotados e trata de outros temas da arte contemporâ-nea. Ele diz acreditar que as relações da arte com a política são históricas e ine-vitáveis, embora, por si, não sejam garantia de qualidade.

3Estratégias engajadas

Há seis anos à frente do Museu de Arte Moderna do Rio, o carioca Luiz Camillo Osorio é o responsável, ao lado do paulista Cauê Alves, pela curadoria do pavilhão brasileiro da próxima Bienal de Veneza, que abre suas por-tas no dia 9 de maio. A dupla indicou para representar o país um trio formado pelo veterano Antonio Manuel e dois nomes promissores da arte contemporânea, Berna Reale e André Komatsu. A obra de Manuel engendrou-se no ambiente de alta voltagem cultural e política das décadas de 1960 e 1970, quando uma geração de artistas se viu diante da urgência de adotar estratégias de engajamento e contestação que preservas-sem a potência e a intensida-de estética de seus trabalhos. Em diálogo com essa cena antecedente, Osorio consi-dera que as obras de Reale e Komatsu, cujas trajetórias despontam neste século, “se precipitam no mundo e não temem a contaminação com a realidade bruta”.

Doutor em filosofia e pro-fessor da PUC-Rio, o curador fez parte do conselho do MAM paulista e é autor de inúmeros ensaios e textos críticos, além de livros so-bre artistas como Flávio de Carvalho e Abraham Palat-nik. Em entrevista à Folha, ele fala sobre as escolhas para Veneza, a politização da arte, o estatuto da crítica e os desafios enfrentados pelos museus e instituições no Brasil.

Folha - Você pode comen-tar os critérios das esco-lhas para a representação brasileira na próxima Bie-nal de Veneza?

Luiz Camillo Osorio - O primeiro critério, subjetivo mas relevante, é que tanto

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

EntrevistaLUIZ CAMILLO OSORIO

Arte num mundo de urgências

eu como o Cauê gostamos muito das obras desses três artistas que escolhemos e temos a convicção de que farão um pavilhão potente. É bom frisar que não foi nada fácil fazer a escolha. Tem muito artista interessante e o espaço de Veneza é peque-no. Decidimos de início que queríamos levar um artista já com carreira consolidada

e um ou dois outros, mais jovens, de trajetória recente, que pudessem dialogar com ele constituindo uma única exposição e não duas ou três individuais. O nome do Anto-nio Manuel veio primeiro.

Um artista indiscutível, cujo engajamento político e quali-dade artística se mantiveram ao longo dos anos sem nunca cair no ilustrativo. Há em

sua poética uma articulação bastante interessante entre corpo e forma ou entre pre-cariedade e rigor.

Do “Corpobra” (1970) aos muros (“Ocupações/Desco-brimentos”, 1998) há uma urgência latente que projeta o corpo e rompe com os limites dados. Essa mesma urgência, a mesma precarie-dade e a mesma concretude

estão presentes, de modos muito distintos, é claro, em Berna Reale e André Komatsu. São dois artistas cujas obras se precipitam no mundo e não temem a contaminação com a realidade bruta.

Nas duas primeiras sa-las teremos o filme “Semi-ótica”, do Antonio Manuel (1975), de frente com o vídeo “Americano” (2013), da Ber-na. Com quase 40 anos entre eles, é um mesmo Brasil dos desvalidos que eles revelam e enfrentam e o fazem de modo poético, pondo-se em risco, experimentando com a linguagem e com o próprio corpo. Nas outras duas salas, teremos “muros” do Antonio Manuel com uma instalação menor – “Nave” –, realizada no ano passado no MAM-Rio, em que projeções são desfocadas com uma água que pinga incessantemen-te dentro de um cubículo feito de portas. Em frente teremos uma instalação do Komatsu, “Status Quo”, que será montada pela primeira vez com cercas de arame que comprimem o corpo do visitante. Como diz o título escolhido para o pavilhão: “É Tanta Coisa que Não Cabe Aqui”. A frase, aliás, foi apro-priada de um dos milhares de cartazes que invadiram as ruas brasileiras nas ma-nifestações de 2013.

A arte contemporânea parece premida por uma certa vontade de “par-ticipar”, de “intervir no mundo”, de se mostrar “consciente e política”. Os resultados não raro são de-sastrosos. Estamos viven-do uma época de politiza-cão exacerbada, e muitas vezes inefi caz, produzida para bienais e curadores?

Eu diria que essa “vontade de participar, de intervir no mundo, de se mostrar cons-ciente e política” não é só da arte contemporânea, mas de todos nós que vivemos em um mundo, no mínimo, inquietan-te. A arte não poderia fi car de fora. O que vem se passando no mundo – 1989, 2001, 2008, 2012 e aqui 2013, para falar só de datas recentíssimas – leva qualquer um a buscar algum tipo de envolvimento com a realidade. Isso tam-pouco é novo na arte: a arte nos anos 1920/30 e depois nos anos 1960/70 também foi extremamente politizada. Muitas obras fi caram datadas e outras estão entre as mais relevantes no século 20.

É claro que a dimensão po-lítica não é garantia alguma de boa arte e que há artistas que produzem grandes obras sem qualquer interesse em política. A política da arte não passa, necessariamente, pela intenção do artista. Os resultados frequentemente desastrosos a que você se

refere não me parecem ter a ver com isso, com a von-tade política, mas sim com a quantidade superlativa de exposições, galerias, museus, centros culturais, bienais, fei-ras e mais feiras. A quantida-de não é inimiga da qualidade, todavia a qualidade é sempre rara. A inefi cácia é algo a ser matizado nesse contexto. A temporalidade da arte é di-ferente da política e ela atua abrindo novas formas de per-ceber, falar e compreender a realidade. Ela opera neste registro virtual em que a lin-guagem e a subjetividade se reinventam na confi guração de novas possibilidades de ser que não necessariamente se atualizam no presente. Neste aspecto, a imaginação ainda é algo da maior relevância.

Como diziam os românti-cos, é a rainha das faculda-des. A arte e a imaginação estão sempre irmanadas. E a arte é política justamente nos fazendo imaginar outros mundos possíveis, nos fazen-do desnaturalizar aquilo que a ideologia dominante crista-liza, nos viabilizando outras formas de vida.

Grande parte da críti-ca de arte migrou para a curadoria. Como você vê o estatuto da crítica hoje, seja a da imprensa, das revistas especializadas e da academia?

É um problema complicado. A crítica na imprensa retraiu-se, principalmente em função da retração da própria im-prensa. Ter um jornal no Rio e dois em São Paulo mostra que o jornal impresso tem um campo de ação reduzido.

Quando o Sábato Magaldi fazia crítica de teatro no Rio, em 1950, havia mais de dez jornais na cidade e, naquele ano, ele fez quase uma crítica por dia, sendo que alguns espetáculos recebiam crítica ao longo de vários dias se-guidos, analisando múltiplos aspectos da mesma peça. Até no dia seguinte a fi nal da Copa, entre Brasil e Uru-guai, saiu uma crítica dele! Ou seja, o jornal cumpria um papel na formação de um debate público. Hoje os três jornais principais mantêm suas colunas de crítica, com profi ssionais da maior com-petência, mas ela acontece apenas uma vez por semana e tem um lugar meio lateral nos cadernos de cultura. Suple-mentos como a “Ilustríssima” resistem heroicamente, mas gostaria de saber com que reverberação pública.

Infelizmente, estamos pre-midos pelos afazeres e as pessoas não dispõem de tem-po para parar e ler algo mais refl exivo. A crítica não está a serviço do entretenimento, mas da arte, do que nela é pensamento e complexidade, ou seja, com a dimensão críti-

ca da obra e de sua inserção no circuito. Somos cotidiana-mente forçados a saber de mil coisas inúteis e deses-timulados a problematizar o que se apresenta. E isso só serve à máquina do consumo e à angústia.

Quanto à crítica ter migra-do para a curadoria, pode ser um aspecto interessante, não vejo problema nisso, é como se a crítica passasse a pensar espacialmente e não verbalmente. As expo-sições de arte estão dentro de um circuito complicado, cheio de armadilhas, mistu-rando entretenimento e um mercado poderoso com uma pretensão refl exiva e crítica constante da arte, com refe-rências fi losófi cas, antropo-lógicas, científi cas, tudo ao mesmo tempo.

Podemos ler isso como ape-lativo, como algo arbitrário e pernóstico a serviço de um circuito comercial dominan-te, mas também podemos olhar os museus e as bienais como lugares institucionais que buscam se redefi nir, pro-curando oferecer ao público experiências não convencio-nais que nos obriguem a parar para lidar com o não evidente, aquilo que o [crítico de arte americano] Harold Rosen-berg (1906-78) chamava de objeto ansioso.

Eu tenho o maior apreço por museus, pelos encontros que podem acontecer ali com coisas inesperadas e pela vi-

vência sempre desnorteante de uma experiência estética. Há que se dar este tempo e esta oportunidade a qualquer um que se disponha.

Já a crítica universitária tem seu circuito próprio, segue produzindo um material in-teressante, apesar das pres-sões absurdas do sistema acadêmico. Entretanto, ela sofre de um certo isolamento, obrigando o teórico e crítico a ter uma atuação combinada com museus e outras institui-ções culturais e artísticas. É o meu caso, por exemplo, como de muitos outros.

Eu sou da universidade, professor da PUC, e estou atuando como curador no MAM. Outro aspecto que acho que só tende a crescer é a crítica no espaço virtual, nos blogs e sites. É natural que haja esse crescimento e que nichos se produzam a partir daí. O espaço públi-co está se redefi nindo e se fragmentando a partir dessa mediação tecnológica.

Quais são os desafi os das instituições de arte no Bra-sil? Como poderiam se tor-nar mais sustentáveis?

O principal desafi o é en-contrar sua própria forma de atuação. Acho irrealista querermos ser MoMA ou Tate. Temos que ser mais preocu-pados com a sustentabilida-de dos processos, ao mesmo tempo que devemos ter em mente o tipo de atuação que

o museu ou centro cultural deve ter em cada caso. Acho que as coisas estão melhores hoje, vejo com bons olhos as mudanças no Masp, por exem-plo, que quer encontrar uma forma de governança viável e que esteja à altura daque-la coleção. O MAR, no Rio, também procura criar a sua especifi cidade institucional e o IMS mostra que uma insti-tuição privada com acervo e uma programação impecável ligada a uma empresa ou a um banco pode funcionar sem lei de incentivo.

O mercado de arte está infl acionando os valores de circulação de obras e de produção de exposições, tornando o processo insus-tentável. Para pedir uma pintura emprestada a qual-quer museu, principalmente lá fora, paga-se uma fortuna de “fee” (taxas), de seguro, de transporte, além do “cou-rier”, que muitas vezes quer viajar de classe executiva para a montagem e a des-montagem da mostra. Com dez obras assim, inviabiliza-se uma exposição ou fi cam os museus à mercê de fi nan-ciamentos bilionários. Como sair desse impasse? Deve haver uma ação coordenada pelos museus, criando parce-rias e mecanismos de troca entre as instituições.

Não é fácil, é um desafi o. Há que se baratear as coisas, não dá para as exposições serem orçadas em R$ 1 mi-

lhão, R$ 2 milhões, e isso ser normal. Baratear não signi-fi ca piorar a qualidade, não é isso, mas racionalizar e coordenar os processos.

Qual o papel da educação no que diz respeito à arte? Estamos longe do ideal? Os tais setores “educativos” de museus e instituições funcionam ou são mais para constar?

Dizer que a educação tem papel fundamental é chover no molhado. Ninguém diria que não tem. O problema é como fazer para qualifi car e democratizar ao mesmo tem-po. Quando o Brizola (1922-2004) falava de tempo inte-gral nas escolas – com escolas preparadas para turno único – era taxado de populista, demagogo e se dizia que não haveria dinheiro para isso. Tem que ter, há que se tirar de algum lugar. Há que se fazer um investimento sério em educação, nos programas pedagógicos e nas escolas públicas. Ensino fundamen-tal e ensino médio deveriam estar sendo articulados pelo governo federal, junto com os Estados e municípios.

Por outro lado, não dá para negar a crise da educação no mundo contemporâneo. Não podemos fi ngir que bas-ta comprar uns computado-res, botar nas salas de aula e o problema se resolve. É preciso encontrar outras e novas formas de educação,

sem excluir o bom e velho livro e as aulas presenciais como mecanismos de troca e aprendizado coletivo. As crianças hoje aprendem nos seus computadores e celula-res, eles são aliados, mas há que se ensinar a pesquisar, a pensar junto ao que se pesquisa, há que se ensinar a problematizar os dados e a se admirar com a beleza e a simplicidade.

A arte e a cultura têm um papel decisivo aí. Parte do orçamento dos museus deveria estar integrado ao fi nanciamento da educação. Não é uma coisa fácil. O MAC de Niterói, por exem-plo, construiu um espaço, desenhado pelo Niemeyer, o “Maquinho”, para projetos educativos e sociais dentro da comunidade que fi ca em frente ao museu. Algo ino-vador e que até hoje sofre de certa incompreensão da prefeitura, que não mantém a regularidade do fi nancia-mento como deveria. Os pon-tos de cultura criados pelo ministro Gilberto Gil têm um papel relevante. É algo a ser multiplicado, que pode servir como forma de viabilizar o aprendizado e a criação, a educação e a arte. Não se pode educar sem estimular a criação, e não se pode criar sem uma base de co-nhecimentos mínima, sem um quadro de referências que sirva como parâmetro, mesmo que se transformem

os parâmetros depois.Os museus e centros cul-

turais têm feito sim um tra-balho educativo importante, atuando na maior acessibi-lidade pública destes espa-ços, mas não basta fazer visita guiada, é preciso es-timular o olhar de cada um, fazer cada um ver que nem tudo se mostra de uma vez, que há algo invisível, ina-preensível, intraduzível na experiência da arte. Há que se estimular a contamina-ção de olhares diferentes e de formas de diálogo novas entre obras de arte e de não arte. Este também é um papel da curadoria.

A arte é necessariamente elitista?

Esta é uma pergunta cap-ciosa. Necessariamente eu diria que não é, mas há nela uma opacidade que não a tor-na acessível imediatamente. Não adianta explicar arte, não há algo que se resolva no âmbito da explicação. Há que se dispor a uma relação trabalhosa, mas é um traba-lho prazeroso, estimulante, jamais penoso e chato.

O escritor português Lobo Antunes faz uma distinção in-teressante entre literatura re-levante e literatura de entre-tenimento. Diz que, como as piscinas, tem literatura que dá pé e outra que exige o esforço do nado para nela fi carmos sem afundar.

A arte sempre exige alguma natação, não pode dar pé. Em suma, se não é para todos, é para qualquer um que se disponha a ter com ela uma troca criativa.

Como você vê a produção brasileira hoje em relação aos principais centros, em termos de qualidade e tam-bém de valor?

Acho, sinceramente, a pro-dução brasileira da maior qualidade, não deixa nada a dever a qualquer outro cen-tro. Na verdade, o mundo da arte está completamente globalizado e falar em arte brasileira traz sempre uma pergunta sobre o que seria o brasileiro nesta arte – se tem a ver com passaporte ou pertencimento a um quadro de referência histórico.

É interessante como a arte brasileira está influencian-do artistas estrangeiros e como há pesquisadores e curadores discutindo arte brasileira. Não fico uma se-mana no MAM sem receber alguém de fora interessado na arte brasileira.

Você vai aos principais mu-seus e eles já misturam obras brasileiras em suas exposi-ções permanentes. Fora isso, a arte brasileira nos últimos anos também se “descentra-lizou”, aparecendo muitos ar-tistas interessantes fora do eixo Rio-São Paulo. Pegue-mos o Jonathas de Andrade, a Berna Reale e o Yuri Firmeza, para falar dos últimos anos. Cada um vem de um Estado diferente e segue vivendo em cidades do Norte e Nordeste: Recife, Belém e Fortaleza, respectivamente.

Duas instituições funda-mentais surgidas recente-mente também estão fora deste eixo: Inhotim, em Minas, e Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Isso é ótimo para a arte brasileira. Sobre valor de mercado, aí não tem muito o que discutir – se tem quem pague, tem valor, apesar da instabilidade e da difi culdade de liquidez. A mi-nha sensação, entretanto, é que os preços estão loucos, al-tíssimos, insustentáveis. Não só aqui, por toda parte.

Antonio Manuel quebra um muro da instalação ‘Ocupações/Descobrimentos’ (1998-2013)

‘Choque de Ordem 4’ (2013), obra do artista André Komatsu

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RESUMOCurador da represen-tação brasileira na próxima Bienal de Ve-neza, ao lado de Cauê Alves, Luiz Camillo Osorio fala sobre os critérios adotados e trata de outros temas da arte contemporâ-nea. Ele diz acreditar que as relações da arte com a política são históricas e ine-vitáveis, embora, por si, não sejam garantia de qualidade.

3Estratégias engajadas

Há seis anos à frente do Museu de Arte Moderna do Rio, o carioca Luiz Camillo Osorio é o responsável, ao lado do paulista Cauê Alves, pela curadoria do pavilhão brasileiro da próxima Bienal de Veneza, que abre suas por-tas no dia 9 de maio. A dupla indicou para representar o país um trio formado pelo veterano Antonio Manuel e dois nomes promissores da arte contemporânea, Berna Reale e André Komatsu. A obra de Manuel engendrou-se no ambiente de alta voltagem cultural e política das décadas de 1960 e 1970, quando uma geração de artistas se viu diante da urgência de adotar estratégias de engajamento e contestação que preservas-sem a potência e a intensida-de estética de seus trabalhos. Em diálogo com essa cena antecedente, Osorio consi-dera que as obras de Reale e Komatsu, cujas trajetórias despontam neste século, “se precipitam no mundo e não temem a contaminação com a realidade bruta”.

Doutor em filosofia e pro-fessor da PUC-Rio, o curador fez parte do conselho do MAM paulista e é autor de inúmeros ensaios e textos críticos, além de livros so-bre artistas como Flávio de Carvalho e Abraham Palat-nik. Em entrevista à Folha, ele fala sobre as escolhas para Veneza, a politização da arte, o estatuto da crítica e os desafios enfrentados pelos museus e instituições no Brasil.

Folha - Você pode comen-tar os critérios das esco-lhas para a representação brasileira na próxima Bie-nal de Veneza?

Luiz Camillo Osorio - O primeiro critério, subjetivo mas relevante, é que tanto

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

EntrevistaLUIZ CAMILLO OSORIO

Arte num mundo de urgências

eu como o Cauê gostamos muito das obras desses três artistas que escolhemos e temos a convicção de que farão um pavilhão potente. É bom frisar que não foi nada fácil fazer a escolha. Tem muito artista interessante e o espaço de Veneza é peque-no. Decidimos de início que queríamos levar um artista já com carreira consolidada

e um ou dois outros, mais jovens, de trajetória recente, que pudessem dialogar com ele constituindo uma única exposição e não duas ou três individuais. O nome do Anto-nio Manuel veio primeiro.

Um artista indiscutível, cujo engajamento político e quali-dade artística se mantiveram ao longo dos anos sem nunca cair no ilustrativo. Há em

sua poética uma articulação bastante interessante entre corpo e forma ou entre pre-cariedade e rigor.

Do “Corpobra” (1970) aos muros (“Ocupações/Desco-brimentos”, 1998) há uma urgência latente que projeta o corpo e rompe com os limites dados. Essa mesma urgência, a mesma precarie-dade e a mesma concretude

estão presentes, de modos muito distintos, é claro, em Berna Reale e André Komatsu. São dois artistas cujas obras se precipitam no mundo e não temem a contaminação com a realidade bruta.

Nas duas primeiras sa-las teremos o filme “Semi-ótica”, do Antonio Manuel (1975), de frente com o vídeo “Americano” (2013), da Ber-na. Com quase 40 anos entre eles, é um mesmo Brasil dos desvalidos que eles revelam e enfrentam e o fazem de modo poético, pondo-se em risco, experimentando com a linguagem e com o próprio corpo. Nas outras duas salas, teremos “muros” do Antonio Manuel com uma instalação menor – “Nave” –, realizada no ano passado no MAM-Rio, em que projeções são desfocadas com uma água que pinga incessantemen-te dentro de um cubículo feito de portas. Em frente teremos uma instalação do Komatsu, “Status Quo”, que será montada pela primeira vez com cercas de arame que comprimem o corpo do visitante. Como diz o título escolhido para o pavilhão: “É Tanta Coisa que Não Cabe Aqui”. A frase, aliás, foi apro-priada de um dos milhares de cartazes que invadiram as ruas brasileiras nas ma-nifestações de 2013.

A arte contemporânea parece premida por uma certa vontade de “par-ticipar”, de “intervir no mundo”, de se mostrar “consciente e política”. Os resultados não raro são de-sastrosos. Estamos viven-do uma época de politiza-cão exacerbada, e muitas vezes inefi caz, produzida para bienais e curadores?

Eu diria que essa “vontade de participar, de intervir no mundo, de se mostrar cons-ciente e política” não é só da arte contemporânea, mas de todos nós que vivemos em um mundo, no mínimo, inquietan-te. A arte não poderia fi car de fora. O que vem se passando no mundo – 1989, 2001, 2008, 2012 e aqui 2013, para falar só de datas recentíssimas – leva qualquer um a buscar algum tipo de envolvimento com a realidade. Isso tam-pouco é novo na arte: a arte nos anos 1920/30 e depois nos anos 1960/70 também foi extremamente politizada. Muitas obras fi caram datadas e outras estão entre as mais relevantes no século 20.

É claro que a dimensão po-lítica não é garantia alguma de boa arte e que há artistas que produzem grandes obras sem qualquer interesse em política. A política da arte não passa, necessariamente, pela intenção do artista. Os resultados frequentemente desastrosos a que você se

refere não me parecem ter a ver com isso, com a von-tade política, mas sim com a quantidade superlativa de exposições, galerias, museus, centros culturais, bienais, fei-ras e mais feiras. A quantida-de não é inimiga da qualidade, todavia a qualidade é sempre rara. A inefi cácia é algo a ser matizado nesse contexto. A temporalidade da arte é di-ferente da política e ela atua abrindo novas formas de per-ceber, falar e compreender a realidade. Ela opera neste registro virtual em que a lin-guagem e a subjetividade se reinventam na confi guração de novas possibilidades de ser que não necessariamente se atualizam no presente. Neste aspecto, a imaginação ainda é algo da maior relevância.

Como diziam os românti-cos, é a rainha das faculda-des. A arte e a imaginação estão sempre irmanadas. E a arte é política justamente nos fazendo imaginar outros mundos possíveis, nos fazen-do desnaturalizar aquilo que a ideologia dominante crista-liza, nos viabilizando outras formas de vida.

Grande parte da críti-ca de arte migrou para a curadoria. Como você vê o estatuto da crítica hoje, seja a da imprensa, das revistas especializadas e da academia?

É um problema complicado. A crítica na imprensa retraiu-se, principalmente em função da retração da própria im-prensa. Ter um jornal no Rio e dois em São Paulo mostra que o jornal impresso tem um campo de ação reduzido.

Quando o Sábato Magaldi fazia crítica de teatro no Rio, em 1950, havia mais de dez jornais na cidade e, naquele ano, ele fez quase uma crítica por dia, sendo que alguns espetáculos recebiam crítica ao longo de vários dias se-guidos, analisando múltiplos aspectos da mesma peça. Até no dia seguinte a fi nal da Copa, entre Brasil e Uru-guai, saiu uma crítica dele! Ou seja, o jornal cumpria um papel na formação de um debate público. Hoje os três jornais principais mantêm suas colunas de crítica, com profi ssionais da maior com-petência, mas ela acontece apenas uma vez por semana e tem um lugar meio lateral nos cadernos de cultura. Suple-mentos como a “Ilustríssima” resistem heroicamente, mas gostaria de saber com que reverberação pública.

Infelizmente, estamos pre-midos pelos afazeres e as pessoas não dispõem de tem-po para parar e ler algo mais refl exivo. A crítica não está a serviço do entretenimento, mas da arte, do que nela é pensamento e complexidade, ou seja, com a dimensão críti-

ca da obra e de sua inserção no circuito. Somos cotidiana-mente forçados a saber de mil coisas inúteis e deses-timulados a problematizar o que se apresenta. E isso só serve à máquina do consumo e à angústia.

Quanto à crítica ter migra-do para a curadoria, pode ser um aspecto interessante, não vejo problema nisso, é como se a crítica passasse a pensar espacialmente e não verbalmente. As expo-sições de arte estão dentro de um circuito complicado, cheio de armadilhas, mistu-rando entretenimento e um mercado poderoso com uma pretensão refl exiva e crítica constante da arte, com refe-rências fi losófi cas, antropo-lógicas, científi cas, tudo ao mesmo tempo.

Podemos ler isso como ape-lativo, como algo arbitrário e pernóstico a serviço de um circuito comercial dominan-te, mas também podemos olhar os museus e as bienais como lugares institucionais que buscam se redefi nir, pro-curando oferecer ao público experiências não convencio-nais que nos obriguem a parar para lidar com o não evidente, aquilo que o [crítico de arte americano] Harold Rosen-berg (1906-78) chamava de objeto ansioso.

Eu tenho o maior apreço por museus, pelos encontros que podem acontecer ali com coisas inesperadas e pela vi-

vência sempre desnorteante de uma experiência estética. Há que se dar este tempo e esta oportunidade a qualquer um que se disponha.

Já a crítica universitária tem seu circuito próprio, segue produzindo um material in-teressante, apesar das pres-sões absurdas do sistema acadêmico. Entretanto, ela sofre de um certo isolamento, obrigando o teórico e crítico a ter uma atuação combinada com museus e outras institui-ções culturais e artísticas. É o meu caso, por exemplo, como de muitos outros.

Eu sou da universidade, professor da PUC, e estou atuando como curador no MAM. Outro aspecto que acho que só tende a crescer é a crítica no espaço virtual, nos blogs e sites. É natural que haja esse crescimento e que nichos se produzam a partir daí. O espaço públi-co está se redefi nindo e se fragmentando a partir dessa mediação tecnológica.

Quais são os desafi os das instituições de arte no Bra-sil? Como poderiam se tor-nar mais sustentáveis?

O principal desafi o é en-contrar sua própria forma de atuação. Acho irrealista querermos ser MoMA ou Tate. Temos que ser mais preocu-pados com a sustentabilida-de dos processos, ao mesmo tempo que devemos ter em mente o tipo de atuação que

o museu ou centro cultural deve ter em cada caso. Acho que as coisas estão melhores hoje, vejo com bons olhos as mudanças no Masp, por exem-plo, que quer encontrar uma forma de governança viável e que esteja à altura daque-la coleção. O MAR, no Rio, também procura criar a sua especifi cidade institucional e o IMS mostra que uma insti-tuição privada com acervo e uma programação impecável ligada a uma empresa ou a um banco pode funcionar sem lei de incentivo.

O mercado de arte está infl acionando os valores de circulação de obras e de produção de exposições, tornando o processo insus-tentável. Para pedir uma pintura emprestada a qual-quer museu, principalmente lá fora, paga-se uma fortuna de “fee” (taxas), de seguro, de transporte, além do “cou-rier”, que muitas vezes quer viajar de classe executiva para a montagem e a des-montagem da mostra. Com dez obras assim, inviabiliza-se uma exposição ou fi cam os museus à mercê de fi nan-ciamentos bilionários. Como sair desse impasse? Deve haver uma ação coordenada pelos museus, criando parce-rias e mecanismos de troca entre as instituições.

Não é fácil, é um desafi o. Há que se baratear as coisas, não dá para as exposições serem orçadas em R$ 1 mi-

lhão, R$ 2 milhões, e isso ser normal. Baratear não signi-fi ca piorar a qualidade, não é isso, mas racionalizar e coordenar os processos.

Qual o papel da educação no que diz respeito à arte? Estamos longe do ideal? Os tais setores “educativos” de museus e instituições funcionam ou são mais para constar?

Dizer que a educação tem papel fundamental é chover no molhado. Ninguém diria que não tem. O problema é como fazer para qualifi car e democratizar ao mesmo tem-po. Quando o Brizola (1922-2004) falava de tempo inte-gral nas escolas – com escolas preparadas para turno único – era taxado de populista, demagogo e se dizia que não haveria dinheiro para isso. Tem que ter, há que se tirar de algum lugar. Há que se fazer um investimento sério em educação, nos programas pedagógicos e nas escolas públicas. Ensino fundamen-tal e ensino médio deveriam estar sendo articulados pelo governo federal, junto com os Estados e municípios.

Por outro lado, não dá para negar a crise da educação no mundo contemporâneo. Não podemos fi ngir que bas-ta comprar uns computado-res, botar nas salas de aula e o problema se resolve. É preciso encontrar outras e novas formas de educação,

sem excluir o bom e velho livro e as aulas presenciais como mecanismos de troca e aprendizado coletivo. As crianças hoje aprendem nos seus computadores e celula-res, eles são aliados, mas há que se ensinar a pesquisar, a pensar junto ao que se pesquisa, há que se ensinar a problematizar os dados e a se admirar com a beleza e a simplicidade.

A arte e a cultura têm um papel decisivo aí. Parte do orçamento dos museus deveria estar integrado ao fi nanciamento da educação. Não é uma coisa fácil. O MAC de Niterói, por exem-plo, construiu um espaço, desenhado pelo Niemeyer, o “Maquinho”, para projetos educativos e sociais dentro da comunidade que fi ca em frente ao museu. Algo ino-vador e que até hoje sofre de certa incompreensão da prefeitura, que não mantém a regularidade do fi nancia-mento como deveria. Os pon-tos de cultura criados pelo ministro Gilberto Gil têm um papel relevante. É algo a ser multiplicado, que pode servir como forma de viabilizar o aprendizado e a criação, a educação e a arte. Não se pode educar sem estimular a criação, e não se pode criar sem uma base de co-nhecimentos mínima, sem um quadro de referências que sirva como parâmetro, mesmo que se transformem

os parâmetros depois.Os museus e centros cul-

turais têm feito sim um tra-balho educativo importante, atuando na maior acessibi-lidade pública destes espa-ços, mas não basta fazer visita guiada, é preciso es-timular o olhar de cada um, fazer cada um ver que nem tudo se mostra de uma vez, que há algo invisível, ina-preensível, intraduzível na experiência da arte. Há que se estimular a contamina-ção de olhares diferentes e de formas de diálogo novas entre obras de arte e de não arte. Este também é um papel da curadoria.

A arte é necessariamente elitista?

Esta é uma pergunta cap-ciosa. Necessariamente eu diria que não é, mas há nela uma opacidade que não a tor-na acessível imediatamente. Não adianta explicar arte, não há algo que se resolva no âmbito da explicação. Há que se dispor a uma relação trabalhosa, mas é um traba-lho prazeroso, estimulante, jamais penoso e chato.

O escritor português Lobo Antunes faz uma distinção in-teressante entre literatura re-levante e literatura de entre-tenimento. Diz que, como as piscinas, tem literatura que dá pé e outra que exige o esforço do nado para nela fi carmos sem afundar.

A arte sempre exige alguma natação, não pode dar pé. Em suma, se não é para todos, é para qualquer um que se disponha a ter com ela uma troca criativa.

Como você vê a produção brasileira hoje em relação aos principais centros, em termos de qualidade e tam-bém de valor?

Acho, sinceramente, a pro-dução brasileira da maior qualidade, não deixa nada a dever a qualquer outro cen-tro. Na verdade, o mundo da arte está completamente globalizado e falar em arte brasileira traz sempre uma pergunta sobre o que seria o brasileiro nesta arte – se tem a ver com passaporte ou pertencimento a um quadro de referência histórico.

É interessante como a arte brasileira está influencian-do artistas estrangeiros e como há pesquisadores e curadores discutindo arte brasileira. Não fico uma se-mana no MAM sem receber alguém de fora interessado na arte brasileira.

Você vai aos principais mu-seus e eles já misturam obras brasileiras em suas exposi-ções permanentes. Fora isso, a arte brasileira nos últimos anos também se “descentra-lizou”, aparecendo muitos ar-tistas interessantes fora do eixo Rio-São Paulo. Pegue-mos o Jonathas de Andrade, a Berna Reale e o Yuri Firmeza, para falar dos últimos anos. Cada um vem de um Estado diferente e segue vivendo em cidades do Norte e Nordeste: Recife, Belém e Fortaleza, respectivamente.

Duas instituições funda-mentais surgidas recente-mente também estão fora deste eixo: Inhotim, em Minas, e Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Isso é ótimo para a arte brasileira. Sobre valor de mercado, aí não tem muito o que discutir – se tem quem pague, tem valor, apesar da instabilidade e da difi culdade de liquidez. A mi-nha sensação, entretanto, é que os preços estão loucos, al-tíssimos, insustentáveis. Não só aqui, por toda parte.

Antonio Manuel quebra um muro da instalação ‘Ocupações/Descobrimentos’ (1998-2013)

‘Choque de Ordem 4’ (2013), obra do artista André Komatsu

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G6 MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

4Realidade argentina mais parece livro noir

Mistérios e espiões

Diário de Buenos AiresO MAPA DA CULTURA

No topo da lista dos mais vendidos na Argentina, atrás somente de “Cinquenta Tons de Cinza” e da franquia John Green, o livro “El Puñal” (o punhal, ed. Planeta), do jornalista Jorge Fernández Díaz, arregimenta leitores em meio ao clima sinistro que domina o país, comovido pela suspeita morte do pro-motor Alberto Nisman.

Espionagem, morte e mis-tério saltaram dos livros de fi cção para a realidade e fre-quentam o noticiário. Quem matou Nisman? O governo, a CIA, o Irã? Teria sido suicídio? O assunto invade as conver-sas e hipóteses são levanta-das quase aos sussurros.

Na vida real, a investiga-ção patina, versões apare-cem a cada instante e a suposição de culpa espreita o gabinete da presidente Cristina Kirchner, principal alvo das acusações do pro-motor morto.

A novela de Díaz tem como personagens uma mulher po-derosa e um espião, que vas-culha a vida dos inimigos de seus patrões. Soa ter relação com a realidade argentina, mas Díaz, que é secretário de Redação do jornal “La Nación”, diz que seu livro é pura fi cção.

O clima policialesco e de conspiração política cata-pultou outras publicações relacionadas ao tema.

“Matar Sin que se Note” (matar sem que se note, ed. Planeta), de Gustavo Pe-rednik, ganhou nova edição. Trata-se de uma reporta-gem sobre o caso investi-gado por Nisman, a supos-ta conspiração orquestrada por Cristina para encobrir os

responsáveis pelo bombar-deio da organização judaica Amia – maior atentado da história argentina.

O homem que sabia demaisOutro que chegará às li-

vrarias nos próximos dias é “Código Stiuso” (ed. Pla-neta), de Gerardo “Tato” Young, que leva no título o nome do espião mais fa-moso da Argentina: Antonio “Jaime” Stiuso.

O personagem vale mes-mo um livro. Homem po-deroso do serviço secreto argentino, espionou inimi-gos dos governantes por 43 anos. Sua imagem só foi revelada agora e até então era conhecido apenas pelo codinome “Jaime”.

Stiuso passou pela ditadu-ra, redemocratização, gover-nos de radicais e peronistas e, por fi m, pela era Kirchner. Re-cém-expulso do ninho, está sendo acusado pelo governo de fornecer provas falsas a Nisman, a fi m de prejudicar Cristina. A realidade nun-ca foi tão inspiradora para um romance noir.

O político e o papaNa semana passada che-

gou aos cinemas o documen-tário “Francisco de Buenos Aires”, uma produção argen-tino-italiana dirigida por Mi-guel Rodríguez Arias.

O diretor se notabilizou pelo documentário “Las Pa-tas de la Mentira” (1997), em que expôs contradições do ex-presidente peronista Car-los Menem e seus aliados.

Dessa vez, Arias retrata um personagem quase oposto. Tal qual Menem, Francisco parece ter apreço pela ex-posição midiática. Mas se

o ex-presidente argentino ganhou projeção com uma vida de opulência dourada, a fama de Francisco cres-ce à medida que demonstra abnegação pelos signos de riqueza da igreja.

No documentário, o papa é retratado como um sujeito popular, que telefona para os antigos amigos e afi rma não ter desejado alcançar a mais elevada (e sagrada) posição na igreja.

O fi lme reúne declarações públicas de Francisco, fotos e vídeos, histórias de amigos e entrevistas com biógrafos e com sua irmã.

Arias mostra o Francisco que todos nós imaginamos, o homem simples que luta pelos pobres e que chegou lá. Não há surpresas.

O fi lme está em cartaz em 25 salas de Buenos Aires. No Brasil, será exibido pelo canal Discovery na Páscoa, dia 5/4, às 17h10.

Ainda a copaInstantâneos registrados

por 30 fotógrafos, brasi-leiros e estrangeiros, não deixam esquecer o momento de perturbação e contrastes que foi a Copa no Brasil.

Fotos reunidas na exposi-ção “Warld Cup” – “war” de guerra, em inglês – exibem brasileiros que não foram aos estádios. Gente que per-deu a casa para ceder lugar às transformações urbanas, que vive em comunidades pobres ou que enfrentou a polícia nos protestos que antecederam os jogos.

A exposição permanece em cartaz até o dia 29 de março, no moderno edifí-cio do Centro Cultural de La Cooperación, na agitada avenida Corrientes.

MARIANA CARNEIRO

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5 Augusta, calçada da famaArquivo Aberto

MEMÓRIAS QUE VIRARAM HISTÓRIAS

São Paulo, 1967

Erasmo Carlos costuma di-zer que o cinema mostrou a cara da juventude transviada com Marlon Brando monta-do numa Harley-Davidson no fi lme “O Selvagem” (1953) e que James Dean e Sal Mineo foram os ídolos dessa con-testação visual. Elvis Presley nos trouxe, com o rock, a transgressão sonora.

Naquela época, todos os jovens queriam – na rebeldia do vestuário, topete com bri-lhantina e uma fama de mau – imitar seus ídolos. Aqueles que viram e sonharam com o fi lme “O Candelabro Italiano” (1962) adotaram a lambre-ta – menos pesada, mais romântica e acessível – no lugar da Harley.

Os cinemas que exibiram aqui, nos anos 60, o fi lme “Ao Balanço das Horas” (1956), com Bill Halley e seus Co-metas, foram quebrados na noite de estreia por adoles-centes que fi caram enlouque-cidos com o ritmo alucinante do rock and roll que chegava. A coreografi a era dançada espalhafatosamente, com

as moças se atirando em cima de seus parceiros num salto espetacular, deslizando sobre suas costas com as saias voando e ressurgindo lépidas rebolando por entre as pernas do cavalheiro num gingado frenético.

Em São Paulo, o radialista Antônio Aguillar comandava seu programa com alguns ar-tistas já envolvidos com o rock e que já marcavam território, como Carlos Gonzaga, Tony e Celly Campelo, Sergio Murillo e Ronnie Cord, que eternizou o hino em homenagem à rua Augusta com um refrão bem ao estilo juventude transvia-da: “Quem é da nossa gangue não tem medo”.

Mas foi com a entrada da jo-vem guarda que a rua Augusta tomou conta do cenário pop rock brasileiro, demarcando defi nitivamente aquela pas-sarela como o maior point de expressão jovem do país.

Em 1967 aqueles carros maravilhosos dos paulistanos bem nascidos desfi lavam na-quelas paqueras dominicais, foi ali que a juventude paulis-tana passou a se expressar.

Roberto e Erasmo compra-ram carrões maravilhosos e os rapazes, os imitando, des-fi lavam também suas madei-xas soltas sem Gumex, calças

“saint-tropez” muito justas em boca de sino, camisas de gola rolê, cinturões e botinhas car-rapetas – todos se sentindo “uma brasa, mora”.

As meninas todas à la Wandeca, de microsaias de couro pretas, botas altas, cabeleiras sem laquê, mui-to pancake, e cílios postiços – imagem rebelde que con-

trastava com as pudicas aná-guas e combinações usadas então por baixo dos vestidos compridos e rodados.

Eu também quis competir com o poder masculino que aquelas máquinas poderosas projetavam e, em 1967, tam-bém importei meu primeiro carrão: um Mustang conver-sível branco de capota preta

que causava o maior furor nas ruas paulistanas, além de uma BMW conversível – no tempo em que se podia desfi lar de capota arriada.

A rua Augusta fervia, mas a partir daí minhas participa-ções naqueles desfi les passa-ram a se tornar impossíveis devido ao assédio, que aumen-tou consideravelmente. Às ve-

zes eu percorria escondida o trajeto com o Laurão, meu motorista e “body-guards” que passei a necessitar, e dava uns rolês nostálgicos, espionando a galera divertida.

Bons tempos – mais român-ticos e ingênuos, sem dúvida – que estabeleceram a fama trepidante desta que se tornou a mais famosa rua da cidade entre os anos 60 e 70.

Hoje a Augusta se populari-zou, e os agitos jovens aconte-cem na parte baixa, mas sem aquele glamour de outrora. Pró-ximo aos seus arredores, surgiu a nossa Manhattan paulista, pela excelente localização e co-mércio altamente sofi sticado de sua parte mais nobre.

Em 2009, junto a alguns ativistas ambientais, plantei árvores em suas esquinas com a fi nalidade de humanizar sua orla tão carente de verde. Por isso torço muito para que ela seja agraciada com o parque Augusta que ambicionamos tanto, para nos proporcionar uma área de lazer e respiro.

A rua Augusta e nós mo-radores de São Paulo me-recemos a concessão desse parque que nos trará mais drenagem do solo, um ar mais saudável e vida nova a essa que foi a nossa verdadeira calçada da fama.

A cantora Wanderléa com seu Mustang conversível branco em foto de 1967, em São Paulo

ACERVO PESSOAL

WANDERLÉA

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PROSA, POESIA E TRADUÇÃO

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[email protected], DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015 (92) 3090-1042 Plateia 3

Entrevista com a cantora Ana Paula Valadão

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Projeto de restauro do imóvel que abrigou o Hotel Cassina está previsto no PAC Cidades Históricas para se tornar um Centro de Arte Popular

Célebre point durante o período da Belle Épo-que amazonense, o imóvel que abrigou o

Hotel Cassina e o Cabaré Chi-nelo encontra-se há décadas abandonado e em ruínas. Cons-truído em 1899 na rua Bernardo Ramos, 295, Centro Histórico de Manaus, hoje integra o patri-mônio cultural da cidade, e um projeto de restauração desse prédio foi incluído no Plano de Aceleração do Crescimento 2 – PAC Cidades Históricas.

O PAC é uma ação intergo-vernamental articulada com a sociedade para a preservação do patrimônio brasileiro e en-volve diversas capitais do país. Em Manaus, o plano abrange a requalifi cação urbanística das praças 15 de Novembro, Adal-berto Vale, Tenreiro Aranha, Dom Pedro 2º e do entorno do Mercado Municipal Adol-pho Lisboa, e a restauração do Pavilhão Universal (retira-do da praça Terreiro Aranha para ser implantado na praça Adalberto Vale), do Casarão da Biblioteca Municipal, da antiga Câmara Municipal e do Antigo edifício do Corpo de Bombeiros, onde será implan-tada a Pinacoteca Municipal, além do Hotel Cassina.

De acordo com a assessoria de imprensa do PAC Cidades Históricas, o projeto do Hotel Cassina, atualmente, está inter-nado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/AM) e aguarda o docu-

mento comprobatório de posse a ser emitido pelo Governo do Estado. Só depois da emissão desse documento, o projeto será analisado e, caso aprovado, o convênio vai ser “celebrado”.

A proposta é que o antigo Hotel Cassina seja transfor-mado em Centro de Arte Po-pular. O projeto, que tem valor estimado de R$ 5,9 milhões, contempla a restauração da fachada da edifi cação, recons-trução de pisos, escadas, ins-talações e cobertura.

“Samba”No ano passado, as ruínas

do Hotel Cassina chegaram a ser cogitadas para abrigar o “Point do Samba”, iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) que estava pre-vista para a programação do projeto “Amazonas de Todas as Artes, uma série de eventos durante a Copa do Mundo da Fifa, em vários espaços manti-dos pelo governo estadual.

Tal iniciativa – de transformar locais abandonados em centros de arte e cultura – é comum em outros locais do Brasil e do mun-do. Segundo o secretário Robé-rio Braga, uma licitação para a realização desse projeto chegou a ser aberta, mas nenhum em-presário se interessou.

No auge, o Hotel Cassina foi frequentado por intelectuais e empresários da borracha e, no período considerado de deca-dência, o imóvel abriu espaço para o Cabaré Chinelo. Hoje, apenas a fachada ainda resis-te às depredações do tempo e humana.

LUIZ OTAVIO MARTINSEspecial EM TEMPO

As ruínas do Hotel Cassina foram um dos focos da primeira edição, em 2012, do projeto “Lugares que o dia não me deixa ver”, da asso-ciação cultural Casarão de Ideias. A iniciativa propõe a iluminação das fachadas de prédios históricos que se encontram abandonados com a presença de performances de ar-tistas, durante as segundas-feiras do mês de setembro. No primeiro ano, o projeto também foi levado para o complexo da Booth Line, um casarão nas esquinas das ruas Getúlio Vargas e Leonardo Malcher e o Relógio Municipal.

Logo na primeira edição, o proje-to foi contemplado com um prêmio da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e, no segundo ano, a quantidade de locais iluminados passou de 4 para 16. No ano pas-sado, além de Manaus, a iniciativa passou por Paricatuba, totalizando 20 lugares. O diretor do Casarão de Ideias, João Fernandes, revela que, para este ano, existem novas

propostas para o “Lugares que o dia não me deixa ver”. “Queremos incluir um projeto de educação patrimonial. A ideia é começar pela rua Monsenhor Coutinho, onde fi ca a sede do Casarão, e fazer um trabalho com estudantes da escola estadual Eunice Serrano, com quem temos parceria. Vamos promover uma ofi cina de fotogra-fi a e aulas de ferramentas de com-putação gráfi ca para os alunos”, adianta. “A ideia é fotografar toda a rua, voltar para a escola e fazer um restauro digital desses prédios para que as pessoas percebam como a rua fi caria se fosse bem cuidada e bem tratada”.

Essa programação incluirá pa-lestras de educação patrimonial, não apenas para os estudantes, mas para toda a comunidade. “Vamos iniciar esse projeto em maio para culminar em setembro, que é o mês de realização do ‘Lugares’. E depois ampliar para outras escolas do entorno”.

Iluminação do abandono

João Fernandes destaca que um dos objetivos do projeto “Lugares que o dia não me deixa ver” é estimular a criação de uma re-lação de amor entre as pessoas e os patrimônios históricos do Centro de Manaus. “Ainda falta construir essa ‘ponte’ que acho de fundamental importância para a cidade. As pessoas gostam, mas têm medo de vir ao Centro, ainda têm uma ideia de lugar marginalizado’, observa. “O que a gente vê muito nesses projetos de revitalização é que os lugares são restaurados, mas não são revitalizados, as pessoas não se inserem novamente”.

Em relação aos resultados do “Lugares”, Fernandes comenta que as edições anteriores do projeto conseguiram chamar a atenção do público. “Vemos as pessoas acompanhando a pro-gramação, indo até os lugares

para fotografar e divulgar as ima-gens iluminadas. Pelas redes so-ciais, das pessoas mais comuns até as mais infl uentes citam o nome do projeto”, conta.

Para o diretor do Casarão de Ideias, o principal questionamen-to que envolve o descaso com o patrimônio histórico é “Como fazer com que o público adote esses lugares a ponto de zelar por eles?”.

Ele lembra ainda ter observado que muitos dos alunos da esco-la Eunice Serrano residem em outros bairros da capital. “En-tão, como não têm relação com aquela rua do Centro, termina aí a ideia de não criar uma relação afetiva. E a nova proposta do projeto é que, a partir das fo-tografi as produzidas por esses estudantes, seja criado um elo de afeto entre moradores de outros bairros com o Centro”.

Relação de afeto

De hotel a futuro centro cultural

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Atualmente, restam apenas a fachada e as ruínas do prédio

onde funcionaram o Hotel Cassina e o

Cabaré Chinelo

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Fernando Coelho [email protected] - www.conteudochic.com.br

Karine canta Adelson SantosPrestes a completar 70

anos, o compositor e ma-estro amazonense Adelson Santos terá suas obras inter-pretadas pela cantora Karina Aguiar, em uma apresenta-ção comemorativa. O show intitulado “Delírios Sonoros da Floresta” está marcado para o dia 27 de março, às 20h, no Teatro do Centro de Artes da Universidade Fede-ral do Amazonas (Caua).

Professor adjunto da Ufam, Santos terá 14 composições incluídas no repertório da can-tora. Dentre elas, estão as emblemáticas “Não Mate a Mata”, “Dessana, Dessana”e “Sonhos de Voar”. Porém, ao todo, o set list terá 16 mú-

sicas, sendo duas delas uma surpresa para o público.

Karine foi aluna do maes-tro durante sua adolescên-cia, pisou no palco do Teatro Amazonas pela primeira vez, pelas mãos de Santos quando tinha apenas 14 anos. E desde então, lá se vão 15 anos de convivência pessoal e profi s-sional. “Por isso, nada mais justo do que homenageá-lo, exaltando sua obra e todo o legado que ele construiu no Amazonas”, disse.

A banda contará com no-mes conhecidos como Ygor Saunier (bateria e percus-são), Ênio Prieto (saxofone e fl auta), Adalberto Soares (contrabaixo acústico) e cla-

ro o maestro Adelson Santos que lhe acompanhará com seu violão e dividindo os vocais com a artista. A produ-ção do espetáculo é da Porto de Lenha Produções.

Karine Aguiar teve seu disco escolhido como “Melhor Disco de MPB 2014”, pelo Portal do Brasil na França. Ela está em fase de consolidação de sua carreira internacional desde o ano passado e parte para os Estados Unidos no dia 6 de abril, para fi gurar, como solista convidada do baixis-ta norte-americano Matthew Parrish, no concerto “Brazilian Jazz Extravaganza”, no Bucks County Performing Arts Cen-ter, na Pensilvânia.

Atores divulgam curso teatralA partir de hoje, o Su-

maúma Park Shopping inicia uma semana de inscrições para quem qui-ser participar do Curso Livre para Interpretação e Teatro, promovido pela Ofi cina de Atores, que será ministrado em Manaus du-rante quatro meses.

Para divulgar o curso (certifi cado com 100 ho-ras/aulas), nesta terça-feira (17), a partir das 19h, os atores Carlos Machado, o “Inácio” da novela “Amor à vida” e o Ronny Kriwat, o “Leto” da novela “Em Família”, têm um encontro marcado com o público na praça de eventos do centro de compras.

No encontro, eles vão pro-mover um bate-papo infor-

mal para falar sobre a expe-riência na carreira artística e a importância do curso de especialização.

Na quarta-feira (18) será vez do ator Bernardo Mes-quita interagir com o pú-blico no Sumaúma. Como parte da programação de quarta, o ator – que ga-nhou destaque na nove-la Malhação - e o diretor Leo Niklevis vão promover uma aula experimental, onde os candidatos terão a oportunidade de ence-nar algumas passagens da novela juvenil. A par-ticipação do público nos dois dias é gratuita.

Uma boa notícia para quem busca entrar no meio artístico é que, na terça e quarta-feira, será

sorteada uma bolsa in-tegral para o Curso Li-vre para Interpretação de Teatro em Manaus.

Vale ressaltar que as inscrições no sho-pping seguem até o dia 21 de março.

Carlos Machado (foto) vem ao lado dos colegas Ronny Kriwat e Bernardo Mesquita

INTERPRETAÇÃOMÚSICA

Cantora amazonense adota nada menos do que 14 obras do maestro em seu “setlist”

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SERVIÇOINSCRIÇÕES CURSO LIVRE PARA INTERPRE-TAÇÃO E TEATRO

Quando praça de eventos do Sumaúma Park Shopping (Av. Noel Nutles, Cidade Nova)

. Só até o mês de março.

. O governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultu-ra (SEC), apresenta a exposição “Do Mato Nascem Coisas”, da artista plástica Priscila Pinto.

. Local do evento de arte? No Centro Cultural Palácio da Justiça. As obras da artista poderão ser visitadas pelo

público de Manaus de terça a sexta, das 13h às 17, e aos domingos, das 17h às 21h. Entrada free.

>> Arte

. Uma amazona moderna: essa é a mulher que atra-vessou a passarela da Hermès na Semana de Moda de Paris, que está acontecendo na Cidade Luz.

. Foi o début de Nadège Vanhee-Cybulski (ex-Cé-line e Margiela) como diretora criativa da marca, e ela não deixou a desejar. Sem mexer no DNA da maison, a estilista apresentou clássicos da mesma, como os carrés estampados em camisas e saias e as mantas de montaria que fazem as vezes de pon-chos. Tudo com uma cartela de cores sóbria, com alguns looks mais vivos (como o all red abaixo). Chiqueria pura!

>> Fashion

. A onda das clutchs com frases e palavras con-tinua com tudo.

. Os modelos criados por Edie Parker são desfi lados por fashionistas, celebridades, e agora a coleção Chanel tam-bém conta com modelos com frases e nomes próprios.

>> Objeto de desejo. Dando continuidade na tem-

porada de domingo, o Buteko da Piscina, agitado endereço no Vieiralves, apresenta hoje três grandes grupos de sam-bas: Cuka Fresca, Grupo Ca-cildis e Amizade do Samba. A ferveção começa a partir das 15h com Budwaisser li-berada até as 17h.

. Pixote, Sorriso Maroto, Fundo de Quintal, Revelação e muitos outros grupos são a base do reper- tório do Cuka Fresca que será a primeira ban-da a subir no palco. Eles vão fazer mui-tos outros estilos musicais para fazer um show diferente neste domingo.

. Encerrando a noi-te, o grupo Amizade do Samba segura o pique e faz um variado set list de sambas e pagodes. Opção para preencher o domingão.

>> Sambinha

Fernando Coelho [email protected] - www.conteudochic.com.br

tório

>> Objeto de desejo

Maria Inês Cestari e Lucia Viana du-rante evento voltado para o público feminino na joalheria Dryzun, que comemorava seis meses de sucesso

Alessandra e Cristiano Brandão em noite très chic

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A recepti-vidade do povo, a cultura, a comida deliciosa, os peixes maravilhosos e a própria floresta, a riqueza natural, os rios. Tudo isso sempre me maravilhou”

Ela tem sotaque mi-neiro, mas gosta de suco de cupuaçu e não dispensa um

bom tambaqui assado. Dona de uma das vozes mais co-nhecidas da música gospel nacional, Ana Paula Valadão é praticamente uma amazo-nense de coração. A líder do Ministério Diante do Trono está animada com a parti-cipação do “Louvarei 2015 – Conferência Voltando à Es-sência”, que será realizado nos dias 17 e 18 de abril, em Manaus.

Em uma das visitas à capi-tal do Amazonas, em 2012, o grupo gravou o CD/DVD “Creio”, no Centro de Con-venções – sambódromo, mesmo local onde serão re-alizados os shows do evento, considerado um dos maio-res da região Norte. Agora, retorna para relembrar os principais sucessos e apre-sentar canções do trabalho mais recente, “Tu Reinas”, que teve o sertão nordestino como cenário e vendeu 50 mil cópias em apenas um dia.

EM TEMPO - O Diante do Trono tem um “rela-cionamento” especial com o Amazonas, tanto com a realização de eventos em Manaus — como a grava-ção do CD/DVD “Creio”, em 2012 —, quanto com a comunidade no interior, onde há uma missão da IBL. Fale sobre a impor-tância do Estado para o ministério.

ANA PAULA VALADÃO – Desde o início do Diante do Trono, eu já tive várias oportunidades de estar no Amazonas e sempre foram especiais. A receptividade do povo, a cultura, a comi-da deliciosa, os peixes ma-ravilhosos — que nós não temos aqui, no Sudeste — e a própria floresta, a riqueza natural, os rios. Tudo isso sempre me maravilhou. Eu não tenho mais noção de quantas vezes estive em Manaus e já viajei também para o interior algumas ve-zes. Tenho amigos na cida-de, temos muitas lembran-

ças boas e, principalmente, o trabalho missionário da Igreja da Lagoinha entre os ribeirinhos. Por tudo isso, o Amazonas é muito espe-cial nas nossas vidas e no nosso ministério.

EM TEMPO - Muitos conhecem a trajetória do Diante do Trono, mas ainda não sabem do tra-balho missionário no in-terior do Amazonas. Fale sobre ele.

APV – É um trabalho no Lago Manacapuru, em vá-rias comunidades daquela região. Já estive lá pessoal-mente. Inclusive, nos extras do DVD “Creio”, nós grava-mos uma visita a duas dessas comunidades e cremos que, muito mais, o Senhor nos permitirá fazer; e despertar a Igreja para a necessidade de evangelização. O aspecto espiritual do Estado também sempre me chamou atenção e eu sonhava com o dia em que Deus nos mandaria fazer um grande ajuntamento e gravação em Manaus.

EM TEMPO - Mas a re-alização desse sonho não foi tão simples, certo?

APV – Em 2009, eu recebi essa direção do Senhor, mas por diversos motivos nós não pudemos realizar. Eu fiquei muito triste, mas guardei no meu coração e, no momento oportuno, o Senhor abriu as portas. Em 2012, gravamos em Manaus e fizemos um ato profético no Encontro das Águas. Os irmãos nos abenço-aram, emprestando um barco e nós estivemos ali, orando pela unidade da Igreja.

EM TEMPO - O que essa gravação no “Encontro das Águas” representou para o grupo?

APV – Uma das mensa-gens mais fortes quando nós vemos as águas que correm lado a lado por seis quilô-metros — do rio Negro e do rio Solimões — e no sétimo quilômetro elas começam a se misturar. Deixam para nós este recado, de que o número sete, que fala da perfeição

de Deus, faz com que to-das as nossas diferenças se encontrem e nos tornemos verdadeiramente um só em Cristo Jesus.

EM TEMPO - Vocês tam-bém estiveram em pontos turísticos de Manaus para gravar cenas exclusivas do DVD “Creio”, como o parque Jefferson Peres, o Teatro Amazonas, em uma comunidade carente do Bairro da União e em uma tribo indígena. Qual momento te marcou?

APV – Foi especial gra-var “Preciso de Ti”, que é a nossa música, essência, é o nosso DNA. É a música mais conhecida do nosso ministé-rio e fizemos um clipe em uma tribo indígena, próxima de Manaus.

EM TEMPO - Qual é a expectativa para o “Lou-varei 2015 – Conferência Voltando à Essência”? Tem alguma música que irá ser tocada com certeza?

APV – Temos uma santa expectativa pelo que Deus fará, junto com o ministério “Jesus Culture”, que tanto ad-miramos. Com certeza, vamos cantar músicas queridas do Diante do Trono, como “Preci-so de Ti”, “Me Ama”, “Canção do Apocalipse”; e canções que falam sobre as águas de Deus que precisam regar nossos co-rações e a nossa terra, como a canção “Águas Purificadoras”, “Ao Cheiro das Águas”, que gravamos no último álbum “Tu Reinas”.

EM TEMPO - Por falar nisso, o CD “Tu Reinas” vendeu 50 mil cópias apenas no primeiro dia de lançamento. Foi uma surpresa? O que esse tra-balho representa para o Diante do Trono?

APV – Ficamos maravilha-dos ao ver o CD “Tu Reinas” vender tantas cópias em ape-nas um dia. E os testemu-nhos que têm chegado são impactantes e nos encorajam a prosseguir gravando aquilo que o Senhor tem colocado em nossos corações; como um re-

cado, como uma voz profética que tem ecoado nos céus do Brasil. Foi um ato profético no sertão nordestino, que sofria com a pior seca dos últimos 60 anos. Ali, nós clamamos e o Senhor tem atendido as nossas orações. Muitas áreas do sertão têm sido cobertas de chuva, como nunca antes, e acreditamos que a Igreja bra-sileira tem sido despertada para olhar para a necessidade do sertão, que é a região com maior carência de evangeli-zação e de desenvolvimento social. O Senhor tem feito a sua parte e nós precisamos fazer a nossa.

EM TEMPO - Alguma novidade deve chegar às lojas em 2015?

APV – O CD e o DVD “Te-lestai”, gravado em Israel, o maior marco da nossa histó-ria até hoje, serão lançados no segundo semestre deste ano. Estamos com muita expectativa porque nós e os mais de 300 “caravanis-tas” que estiveram conos-co, adorando e intercedendo na Terra Santa, fomos pro-fundamente marcados por Deus durante a gravação. E cremos que é um momento profético, declarando “Ma-ranatha! Ora vem, Senhor Jesus”, porque Israel está no centro das profecias bíblicas dos últimos dias.

EM TEMPO - Qual recado você gostaria de deixar aos amazonenses?

APV – Convido todos, da capital e do interior, para estarem conosco no “Lou-varei”, que reúne adorado-res brasileiros e norte-ame-ricanos. Todos unidos em um só propósito: levantar o nome de Jesus. É um privi-légio, como nação, termos a liberdade de cantar os nossos louvores em eventos grandiosos como esse. En-tão, não vamos perder esse privilégio. Há tantos países onde declarar o nome do Senhor resulta em perse-guições. Mas nós podemos fazer o melhor, com toda a ousadia e liberdade. Espero por vocês!

Ana Paula VALADÃO

‘O Amazonas É MUITOESPECIAL NAS nossas vidas’

Vamos cantar músicas queridas do Diante do Trono, como ‘Preciso de Ti’, ‘Me Ama’, ‘Canção do Apocalipse’; e can-ções que falam sobre as águas de Deus que precisam regar nossos corações e a nossa terra, como ‘Águas Purificadoras’”

FOTOS: DIVULGAÇÃO

O aspecto espiritual do Estado também sempre me chamou atenção e eu sonhava com o dia em que Deus nos man-daria fazer um grande ajuntamento e gravação em Manaus”

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D4 Plateia MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

Esta semana me peguei pensando na morte do ado-lescente de 14 anos, que foi espancado em um escola pú-blica de São Paulo, por cinco colegas apenas porque era filho de um casal homosse-xual. Acredito que todos nós somos um pouco intolerantes. Intolerantes com quem fala alto, com aquele trânsito ca-ótico de todos os dias, com o alto valor das contas de água, luz, telefone; com quem men-te, com quem trai. Entendo completamente qualquer uma dessas intolerâncias.

Porém – e ele sempre existe – nunca vou conseguir enten-der a intolerância quando o assunto é a orientação sexual do outro, do próximo. Muitos irão utilizar como argumento a faixa etária dos colegas, que eles não tinham a intenção de matar. Talvez não tivessem, mas o fizeram. Meus caros, é um argumento impossível de ser utilizado por qualquer pessoa. O país está passando por uma forte crise, daquelas de arrepiar os cabelos dos bra-ços, mas a população continua mais preocupada em tomar conta, apontar, achincalhar o estilo de vida do vizinho, do amigo de trabalho, da mãe do coleguinha da escola.

É sabido que milhares de crianças estão em abrigos porque, de alguma forma ou em algum momento, foram abandonadas por seus pais. A grande pergunta é: é me-lhor deixar essas crianças em um lugar que muitas vezes oferece condições de mora-dia precária ou deixar um casal de gays lutar por uma adoção? Em que mundo um casal adotar uma criança, dar

amor, carinho, escola, comi-da e tantos outros benefícios pode ser pior do que a fome, o sistema público de saúde, o valor abusivo dos impostos, o desvio de verbas públicas?

O nosso país tem mais de 500 anos, somos extrema-mente avançados em diversos aspectos, mas somos atra-sados quando o assunto é a intolerância. Quantos ado-lescentes ainda irão morrer vítima de um preconceito que começa em casa? Quantos homens e mulheres homos-sexuais serão agredidos das mais variadas formas? Quan-tas crianças irão sofrer com o bullying por gostar de rosa e não de azul? Quantas serão espancadas porque homens não choram ou porque gostam de balé?

Senti na pele por muito tem-po esse desconforto fora de casa, mas tive uma educação na qual os meus pais – que sempre me deram todo o amor possível – me ensinaram a nunca baixar a cabeça, nunca desistir de lutar por aquilo que acredito. Se disser que não magoa, estarei mentindo, mas a minha vontade de ser feliz, de ser eu mesmo, me fizeram muito mais forte.

Hoje, tenho a função de lu-tar para que toda e qualquer impunidade seja combatida. Espero que um dia, não mui-to distante, crianças, jovens e adultos, possam ser quem realmente são, sem julgamen-tos, sem dedos apontados, sem olhares tortos e mal-dosos. Espero que um dia, a intolerância seja substituída pelo amor e que eu não pre-cise mais me questionar: até quando? Bom domingo.

Bruno Mazieri*E-mail: [email protected]

Bruno Mazieri*Jornalista e editor do caderno Salão Imobi-liário do EM TEMPO

Somos avançados em diversos aspectos, mas atrasa-dos quando o assunto é a intolerân-cia. Quantos adolescentes ainda irão morrer víti-ma de um preconceito que começa em casa?”

Até quando?

Novo álbum do cantor e compositor carioca é o segundo da carreira do artista e coleciona notoriedade internacional

Pedro Moraes em ‘Além do princípio do prazer’

O segundo álbum solo do cantor e compo-sitor carioca Pedro Sá Moraes é um tra-

balho construído com rigor estético raro, que convida o ouvinte a viagens mais profun-das e transformadoras. Fun-damentado em conhecimento vasto da tradição do samba e de outros gêneros essenciais da música brasileira, Além do Princípio do Prazer tem a melodia como soberana e conta com o vocal de Pedro, difícil de encontrar na produ-ção atual. Mas impõe desafi os singulares, não facilita o cre-diário no défi cit de atenção nosso de cada dia, avança com ousadia por inovações estruturais e sônicas, pensa e faz repensar a canção. E isso recompensa imensamente.

Jon Pareles, decano da crí-tica do jornal The New York Times, rendeu-se ao disco apontando o contraste entre a suavidade do barítono e a aspereza dos arranjos, com guitarras ruidosas, interrup-ções repentinas de bateria e sobressaltos de andamento. “A primeira canção, ‘Alari-do’, insinua um manifesto; ela adverte que ‘um rebuliço dissonante assombrará você/ Furioso fuzuê’ [que na tra-dução inglês divertidamente vira “furious racket”], mas isso vai levar a uma ‘serena tensão’, escreveu. Pareles viu

Pedro cantar ao vivo algumas vezes, desde que o conheceu, em Nova York, em 2012, na primeira edição da mostra Brazilian Explorative Music. Ele situa o cantor entre aque-les que estão “de várias for-mas, extrapolando a herança da Tropicália”.

“Alarido” é uma parceria com Thiago Amud, outro grande talento carioca des-ta geração, já devidamente reconhecido pela crítica local. Pedro e ele fazem parte do Coletivo Chama, que reúne mais seis músicos - Thia-go Thiago de Mello, Renato Frazão, Fernando Vilela, Ser-gio Krakowski, Cesar Altai e Ivo Senra - e que pretende discutir a canção como arte, em possibilidades mais am-plas, além de trabalhar uma consciência de cena.

ProduçãoIvo Senra assina a produção

musical de Além do Princí-pio do Prazer, toca todos os sintetizadores e é autor dos arranjos, que têm contribui-ções de Pedro Sá Moraes. “Ele contribuiu com esse conceito minimalista de groove, que não é MPB. Botou esse ve-neno”, aponta o cantor, que também tocou guitarras e pi-lotou ruídos que se somam à arquitetura eletrônica do pro-dutor na busca do que chama de “materialidade sonora”.

No diálogo, os dois pes-quisaram referências muito específi cas, que podem ser reconhecidas em suas fontes de pedigree mais respeitável (Radiohead, Björk, Stockhau-sen...) ou passar batido, a des-peito da extração pop, como o timbre do baixo sintetizado de uma faixa de Britney Spears.

A faixa 7, “Eunuco”, a golpes da tal guitarra incômoda que o Pareles sacou, versos como “Ditosa mazela! Senhora: dis-ponha de mim como um cão” avançam até o fi nal infeliz: “Nas blagues dos blogues, as farsas do face atiçam tuí-ters/ Cerzi hashtags de raro interesse pra mentes afl itas/ Aos vícios entregue, ergui meu palácio sobre palafi tas/ Amor me sagrastes, das fl ores do Lácio, rei dos parasitas”. Por essas e outras é que o críti-co americano Tom Pryor, que escreve sobre música para o site da National Geographic, tascou em Pedro Sá Moraes e sua turma a defi nição “van-guarda de neotradicionalis-tas”. A quarta faixa, “O Olho da Pedra”, escrita com Thiago Amud e Ivo Senra, que dialoga com vanguardas brasileiras de outras décadas, ajuda a expli-car tal carimbo. E a ambiciosa “Ela Vertigem” (escrita com Tomas Saboga, com interme-zzo de Ivo Senra), penúltima do disco, mostra até onde isso pode ser libertador. Pedro é mestrando em teoria da literatura e possui qualidade rara no cenário musical atual

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ULG

AÇÃO

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D5PlateiaMANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

Flávio Ricco

Colaboração:José Carlos Nery

TV TudoXAXAAXAA

Bate-rebate• Na Globo, não existe um

novo projeto para a volta de Denise Fraga.

• Com o encerramento de “Império”, Viviane Araújo, que fez contrato por obra, vai aguardar uma próxima convocação.

• A próxima edição do “The Ultimate Fighter – em busca de campeões” será uma pro-va de fogo na Globo.

• Importante para sua sobrevivência na emissora aberta.

• Se não emplacar, o des-tino poderá ser mesmo um canal pago do grupo.

• O humorístico “A Praça é Nossa” vai seguir com o que tem.

• Não estão previstas con-tratações para o elenco.

• Paloma Tocci caiu como uma luva no esquema do “Jornal da Band” e tem seu desempenho no informati-vo bastante elogiado pelos colegas.

XA

Na manhã da próxima terça-feira, em seu complexo Recnov, no Rio de Janeiro, a Record vai promover o evento de lan-çamento da novela “Os Dez Mandamentos”.

C’est fi ni

XAXA

TV TudoDemolição Em sua sede em São

Paulo, o SBT já mandou colocar a cidade cenográ-fi ca da novela “Chiquititas” abaixo. No mesmo local será erguida a da atração substituta, “Cúmplices de um resgate”.

MMAMonica Apor foi escala-

da pela Bandeirantes para fazer reportagens durante as transmissões do “Jungle Fight”, que passará a trans-mitir a partir deste mês.

A primeira edição do tor-neio será o Jungle Fight 76, marcado para o dia 28, com três disputas de cinturões.

Diferença O show em homenagem

aos 50 anos da Globo, com exibição no fi nal de abril, não deverá reunir apresen-tadores.

Essa é a ideia da sua direção, talvez para fugir do formato do “Criança Esperança”.

Olho do dono João Emanuel Carnei-

ro, autor de “Favela chic”, tem acompanhado de perto tudo o que se refere ao universo da sua próxima novela, substituta de “Ba-bilônia”.

Volta de Silvio agita bastidores

Com o fi m das suas férias nos Es-tados Unidos, a partir de amanhã, segunda-feira, Silvio Santos retomará suas atividades como empresário e animador no SBT. Sua volta ao Brasil, como não poderia deixar de ser, já provoca uma grande preocupação en-tre os seus comandados por conta do que ele poderá anunciar a partir daí. A semana promete.

E isso inclui até mesmo testes de atores.

FreioA Globo disparou um comu-

nicado interno cobrando de seus profi ssionais um melhor

uso dos meios de transporte da emissora.

Os deslocamentos preci-sam ser justifi cados na hora de requisitar o serviço. É mais uma medida de eco-nomia.

DIV

ULG

AÇÃO

Bola cheia Rogério Gomes, após o sucesso de “Império”,

passou a ser um dos diretores mais disputados da Globo.

Tem fi la de autores atrás dele. Mas o “problema” é que o Papinha já está comprometido

para os próximos meses. Ele vai tocar a nova novela de Elizabeth Jhin, “Além do tem-

po”, na fi la das 18h, que terá Paolla Oliveira e Alinne Moraes no elenco.

Regi

Elvis

Mário Adolfo

Gilmal

Em “Ensaios sobre a Cultura e o Mi-nistério da Cultura”, o economista Celso Furtado, através de uma coletânea de conferências e palestras, tem nos esti-mulado a um debate não exatamente novo no campo das políticas públicas para a cultura no Brasil, mas certamente instigante, impulsionador de novos ou antigos olhares. A ideia de desestatizar alguns setores produtivos da cultura, por exemplo, hoje viciados no apoio estatal e que não guardam nenhuma relação afetiva com a prática que lhes convém, ganha contornos emergenciais haja vista não apenas o interesse político do tipo eleitoreiro – o que acaba por aprisionar agentes culturais neste sistema de es-cravidão -, mas também no sentido de pensarmos uma política cultural em que o popular não seja confundido com o populista e políticas públicas com polí-ticas do público.

Houve um tempo no Brasil em que o “nacional era o popular”, segundo a fi lósofa Marilena Chauí, ou que “popular é o ‘Fantasma da Ópera’ apresentado para um milhão de pessoas”, e ainda, que “Cultura popular, hoje, no Brasil, é acima de tudo a televisão, algo que, em princípio, supostamente, os defensores da política cultural popular tradicional não pretenderiam apoiar”. Diante de tais argumentações o que se sabe é que não se tem com clareza qual o papel da cultura popular no âmbito da política cultural. Cultura popular, especialmente o folclore, já foi vista como um caso de polícia no período de nossa segunda ditadura mili-tar, mas teve a sua glória com Mário de Andrade na era Vargas. Quando se fala em popular se fala de povo, mas, de que povo estamos falando? O povo possui uma composição mista, plural, acredito que tanto os moradores da favela quanto os da Vieira Souto e da Oscar Freire são povo. O que é cultura popular, então?

A cultura popular tem avançado no que diz respeito a sua composição teórica, mas não podemos dizer do populismo que faz da primeira o seu álibi. Primeiro porque é fácil e aceitável em termos de

opinião de massa (não há espaço neste artigo para qualifi carmos esta asserti-va) justifi car o uso de seis milhões de reais com folclore e produção literária de saberes e crendices, primeiro porque já se criou um habitusde que estas são expressões mais autênticas e tradicionais (também não teremos oportunidade aqui para a problematização do termo) do que o teatro e a dança que, ironicamen-te, emprestando o conceito de tradição dos desavisados, são mais tradicionais que as carrancas ou as quebradeiras de côcobabaçú, por exemplo. Voltando a cultura popular, poderíamos dizer que Shakespeare é um autêntico represen-tante da cultura popular, primeiro porque seu teatro era “popular” no sentido de que todos assistiam no GlobeTheatre, desde os nobres até os plebeus que as-sistiam às suas peças e interagiam com ela, bebendo, brigando ou protestando. Segundo que Shakespeare valorizou a “tradicional” superstição dos castelos mal assombrados, tão presentes no folclore britânico que hoje existem até pacotes turístico de visitação.

Mas, enfi m, a cultura popular, ou a cultu-ra do povo, pode ser apropriada de muitas formas, como bem falamos aqui, basta que tenhamos um discernimento ade-quado para compreendermos a fundo a questão. O grande obstáculo é justamente o componente político (aquele mesmo do Congresso Nacional - é desta política que me refi ro), mais ainda, da Câmara dos Vereadores que transformaram o que ainda havia de espontâneo na cultura popular e o transformou no sistema mais vil de degradação. A cultura popular que, em seus requisitos básicos, deveria ter o mínimo de pertencimento com o grupo ou comunidade em que ela é praticada, hoje fora apropriada por políticos que ofe-recem dinheiro para a produção dessas expressões (danças folclóricas, produção de contos etc) tornando-se um vício ca-nhestro e difícil de corrigir, a chamada compra de votos em trajes modernos (ver especialmente a peça ‘Como se fazia [sic] um deputado’ de França Júnior).

Márcio Braz E-mail: [email protected]

Márcio Braz ator, diretor,

cientista social e membro do Con-

selho Municipal de Política Cultural.

Houve um tempo no Brasil em que o “na-cional era o popular”, (..) ou que “popular é o ‘Fantasma da Ópera’ apresenta-do para um milhão de pessoas”, e que “cultu-ra popular, hoje, no Brasil, é aci-ma de tudo a televisão”

Cultura popular como política pública

Canal [email protected]

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D6 Plateia MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

ÁRIES - 21/3 a 19/4 Você se sente mais exilado, mais solitário e talvez apartado de todos. Não é bem assim, no fundo, mas suas sensações tendem hoje a exagerar nesse sentido.

TOURO - 20/4 a 20/5 As relações humanas e as amizades sofrem de um esfriamento, talvez fora de hora e lugar. Mas entenda que o comedimento pode depurar um pouco os relacionamentos.

GÊMEOS - 21/5 a 21/6 A resistência a ganhar ou investir dinheiro é digna de ser respeitada; mas não por isso se deixe paralisar. Escolha as opções moderadas na hora em que precisar decidir algo.

CÂNCER - 22/6 a 22/7 No amor, a dureza e a frieza podem ser a tônica. Você tende a alternar sentimentali-dade e frio distanciamento. Momento para concentrar sua mente naquilo que de fato interessa.

LEÃO - 23/7 a 22/8 Momento delicado para a saúde, em que pequenos contágios rondam seu organismo. Você se sente inseguro diante de alguns com-promissos ou desafi os que a vida impõe.

VIRGEM - 23/8 a 22/9 As relações de companheirismo exigem sua boa participação. Não basta ter boa intenção. É cobrado de você contribuir de modo prático, e nos termos em que os outros precisam.

LIBRA - 23/9 a 22/10 Indício de conflito entre forças opos-tas afetando seu trabalho, mas afetan-do também sua disposição geral. Não fique sombrio, aplique-se a fundo em boas realizações práticas.

ESCORPIÃO - 23/10 a 21/11 Um esforço especial é necessário para tudo ir bem na vida amorosa. Não im-ponha suas vontade. Seja fl exível com a pessoa amada, mesmo que isso lhe pareça difícil por agora.

SAGITÁRIO - 22/11 a 21/12 O Sol afeta Saturno indicando quão im-portante é ter uma boa base fami-liar, ainda mais diante de situações que mexem com sua insegurança. Você terá que aprender a confi ar.

CAPRICÓRNIO - 22/12 a 19/1 Sol e Saturno em aspecto tenso indicam a difi culdade para se comunicar direito com as pessoas. É preciso aceitar que as pessoas à sua volta pensam de maneira diferente.

AQUÁRIO - 20/1 a 18/2 Trabalho e dinheiro são exigentes de seus esforços pessoais. A tendência é que nada lhe seja aliviado nestes assuntos. Cada pequena batalha pode ser um passo à frente.

PEIXES - 19/2 a 20/3 O rumo que as coisas tomam talvez não esteja lhe satisfazendo. É tempo de tomar conta de seus rumos, mesmo que custe um esforço extra. Concentre-se na direção certa.

Programação de TV

CruzadinhasHoróscopo Cinema

CONTINUAÇÕES

ESTREIAS

Golpe Duplo: EUA. 14 anos. Will Smith interpreta Nicky, um experiente mestre trapaceiro que se envolve romanticamente com a golpista novata Jess (Margot Robbie). Cinemark 1 – 14h10, 16h30, 19h, 21h30 (dub/diariamente), Cinemark 5 – 22h (dub/somente quar-ta-feira), Cinemark 7 – 13h, 15h30, 18h (dub/diariamente), 20h30 (dub/exceto quarta-feira), 23h10 (dub/somente sábado); Cinépolis Millennium 8 – 14h15, 16h45 (dub/diariamente), 19h15, 21h45 (leg/diariamente); Cinépolis Plaza 1 – 14h, 16h30, 19h, 21h30 (dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 2 – 14h, 20h (leg/diariamen-te), 23h (leg/somente sábado), Cinépolis Ponta Negra 7 – 14h10, 19h10 (dub/diariamente), 16h30, 21h40 (leg/diariamente); Multiplex 5 – 15h15, 17h15 (diariamente); Playarte 1 – 19h (dub/diariamente), 23h20 (dub/somente sexta-feira e sábado), 21h10 (leg/diariamente), Playarte 6 – 12h40, 14h50, 17h, 19h10, 21h20 (dub/diariamente), 23h30 (dub/somente sexta-feira e sábado).

Kingsman – Serviço Secreto: RUS. 16 anos. Cinemark 5 – 16h10, 19h10 (dub/diariamente), 22h (dub/exceto quarta-feira); Cinépolis Millen-nium 1 – 13h, 15h45, 18h30 (dub/diariamente), 21h15 (leg/exceto quarta-feira); Cinépolis Plaza 2 – 13h30, 16h15, 19h15 (dub/diariamente), 22h (dub/exceto quarta-feira); Cinépolis Ponta Negra 1 – 19h (leg/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 5 – 13h50 (dub/somente sábado e domingo), 19h30 (dub/diariamente), 16h40, 22h20 (leg/diariamen-te); Multiplex 6 – 16h30, 21h (dub/diariamente); Playarte 1 – 16h30 (dub/diariamente); Playarte 5 – 12h50, 15h20, 17h50, 20h20 (dub/diariamente), 22h55 (dub/somente sexta-feira e sábado).

Simplesmente Acontece: RUS/ALE. 14 anos. Cinemark 3 – 19h50, 22h10 (dub/diariamente); Cinépolis Millennium 3 – 20h15 (leg/diariamente); Cinépolis Plaza 7 – 13h, 15h30, 21h10 (dub/diaria-mente); Cinépolis Ponta Negra 1 – 13h (leg/somente sábado e domingo), 22h (leg/exceto quarta-feira), Cinépolis Ponta Negra 8 – 13h30 (dub/somen-

te sábado e domingo), 18h50 (leg/diariamente); Multiplex 2 – 17h (dub/diariamente); Playarte 7 – 13h30, 15h45, 18h, 20h15 (dub/diariamente), 22h30 (dub/somente sexta-feira e sábado).

Renascida do Inferno: EUA. 14 anos. Cinemark 2 – 19h40 (dub/exceto quarta-feira), Cinemark 5 – 14h (dub /diariamente); Cinépolis Millennium 6 – 13h30 (leg/diariamente); Cinépolis Plaza 5 14h45, 16h45, 18h45, 21h15 (dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 6 – 18h10, 20h30 (leg/diariamente); Multiplex 6 – 14h45, 19h (dub/diariamente).

Superpai: BRA. 14 anos. Cinépolis Plaza 8 – 15h45, 17h45 (diariamente); Kinoplex 1 – 14h, 16h, 18h, 20h, 22h (diariamente); Multiplex 2 – 15h (diariamente); Playarte 2 – 13h10, 15h, 16h50, 18h40, 20h30 (diariamente), 22h20 (somente sexta-feira e sábado).

Tinker Bell e o Monstro da Terra do Nunca: EUA. Livre. Cinépolis Millennium 3 – 13h45, 16h (3D/dub/diariamente); Cinépolis Plaza 6 – 13h15, 15h20, 17h30 (dub/diariamente);

Kinoplex 3 – 13h40, 15h30, 17h20, 19h10 (dub/diariamente); Playarte 1 – 13h (dub/diariamente), 14h45 (3D/dub/diariamente).

Bob Esponja – Um Herói Fora D’água: EUA. 12 anos. Cinemark 3 – 13h05, 15h25, 17h40 (3D/dub/diariamente); Cinépolis Millennium 3 – 18h (3D/dub/diariamente); Cinépolis Plaza 3 – 15h50, 18h (3D/dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 6 – 13h40 (dub/somente sábado e domingo), 15h50 (dub/diariamente); Kinoplex 4 – 14h20 (dub/diariamente), Kinoplex 5 – 14h40, 16h40 (3D/dub/diariamente); Playarte 3 – 13h10, 15h10, 17h10, 19h10, 21h10 (dub/diariamente), 23h10 (dub/somente sexta-feira e sábado).

Sniper Americano: EUA. 10 anos. Cinépolis Millennium 6 – 19h45 (leg/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 1 – 16h (leg/diariamente); Kinoplex 3 – 21h (leg/diariamente).

A Casa dos Mortos: EUA. 14 anos. Cinépolis Plaza 3 – 20h15, 22h30 (dub/diariamente); Kinoplex 2 – 13h40 (dub/diariamente).

DIVULGAÇÃO

O Sétimo Filho: EUA. 12 anos. Em um passado distante, um mal está prestes a ser desencadeado e reacenderá mais uma vez a guerra entre as forças humanas e sobrenaturais. Cinemark 4 – 13h20, 15h50, 18h30, 21h (3D/dub/diariamente), 23h30 (3D/dub/somente sábado e domingo); Cinépolis Millennium 4 – 14h, 16h30 (3D/dub/diariamente), 19h, 21h30 (3D/leg/diariamente); Cinépolis Plaza 4 – 13h45, 16h, 18h30, 21h (3D/dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 4 – 14h40, 19h40 (3D/dub/dia-riamente), 17h10 (3D/leg/diariamente), 22h10 (3D/leg/exceto quarta-feira); Multiplex 3 – 17h, 19h (dub/diariamente), Multiplex 4 – 15h30, 17h30 (3D/dub/diariamente).

Mortdecai – A Arte da Trapaça: EUA. 12 anos. Charles Mortdecai é um negociador de arte que procura um quadro roubado, no qual foi escon-dido um código para um tesouro nazista. Cinemark 8 – 13h10 (dub/exceto domingo), 15h40, 18h10 (dub/diariamente), 20h45 (dub/exceto quarta-fei-ra); Cinépolis Plaza 6 – 19h30, 22h15 (dub/diariamente); Cinépolis Ponta Negra 2 – 17h (leg/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 8 – 16h10, 21h30 (leg/diariamente); Multiplex 1 – 16h30, 21h (dub/diariamente).

Telespectador viaja pelo mundo em “Pla-neta Turismo”, no SBT

GLOBO

SBT

5h Santo Culto Em Seu Lar5h30 Desenhos Bíblicos8h30 Record Kids - Pica Pau10h Domingo Show 14h30 Hora Do Faro 18h30 Domingo Espetacular 22h15 Repórter Em Ação 23h15 Roberto Justus + 0h15 Programação Iurd

5h Power Rangers – Na Galáxia Perdida6h30 Santa Missa No Seu Lar7h30 Sabadão Do Baiano8h Power Rangers + Jimmy Neutron9h30 Palavra Cantada10h45 Verdade E Vida11h Irmão Caminhoneiro – Boletim11h05 Pé Na Estrada

4h45 Jornal Da Semana Sbt

6h Brasil Caminhoneiro

6h30 Planeta Turismo

7h30 Vrum

8h Chaves

10h Domingo Legal

14h Eliana

18h Roda A Roda Jequiti

18h45 Sorteio Da Telesena

19h Programa Silvio Santos

23h Conexão Reporter

0h Sobrenatural

1h Rizzola & Isles

2h Pessoa De Interesse

3h Big Bang

3h30 Igreja Universal RECORD

5h25 Santa Missa 6h25 Amazônia Rural 6h55 Pequenas Empresas, Grandes Negócios. 7h30 Globo Rural8h25 Auto Esporte

BAND

Para Sempre Alice: EUA. 12 anos. Aos 50 anos, Alice, professora de Psicologia na prestigiada Universidade de Harvard, é diagnosticada com Alzheimer de instalação precoce. Cinépolis Millennium 2 – 14h30, 17h, 19h30 (leg/diariamente), 22h (leg/exceto quarta-feira); Cinépolis Ponta Negra 3 – 15h, 18h, 21h (leg/diariamente), Cinépolis Ponta Negra 9 – 15h30, 17h50, 20h10, 22h30 (leg/diariamente); Multiplex 1 – 14h30, 19h (leg/diariamente)

9h Esporte Espetacular

12h Esquenta

13h02 Temperatura Máxima - A

Montanha Enfeitiçada

15h Futebol 2015 - Vasco Da Gama

X Nova Iguaçu

17h Domingão Do Faustão

20h Fantástico

22h20 Bi G Brother Brasil

23h10 Planeta Extremo

23h40 Domingo Maior - O Turista

1h07 Flash Big Brother Brasil

1h13 Sessão De Gala - Educação

2h46 Corujão

4h15 Mentes Criminosas

11h30 Os Simpsons – Maratona

12h30 Band Esporte Clube

14h Golh O Grande Momento Do

Futebol

14h30 Futebol 2015 –vasco

X Nova Iguaçu

17h50 3º Tempo

19h Sabe Ou Não Sabe

20h A Liga

21h30 Pânico Na Band

0h15 Canal Livre

1h15 Alex Deneriaz

1h50 Show Business –

Reapresentação

2h40 Igreja Universal

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D7PlateiaMANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

Morre o guitarrista Daevid AllenSÃO PAULO, SP - O músico

Daevid Allen, líder da banda de rock progressivo Gong, morreu aos 77 anos, em decorrência de um câncer. A notícia foi confi rmada pelo fi lho de Al-len, Orlando, em publicação no Facebook.

Nascido na Austrália, Allen mudou-se para a Inglaterra nos anos 1960, onde conheceu Robert Wyatt. Juntos forma-riam o Sost Machine, inspi-rado no livro homônimo de William Burroughs. O austra-liano deixou o grupo em 1967,

e mudou-se para Paris pouco tempo depois, onde formou o Gong.

Allen enfrentava a doença desde 2014. Passou por cirur-gia e fez radioterapia. Em fe-vereiro, descobriu a metásta-se e desistiu do tratamento.

ROCK

Jander [email protected] - www.jandervieira.com

Romyne Novoa Silva, Conceição e Cristina Oliveira estão trocan-do de idade hoje. Amanhã, Garcia Neto está aniversariando. Os cum-primentos da coluna.

As inscrições do concurso público para Assistente Operacional e Técnico de Ní-vel Superior da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas foram prorrogadas até o próximo dia 19. A seleção será realizada pela FGV Projetos. São 300 vagas de nível médio e 20 vagas nível superior.

O projeto “Música na Praça”, do Ma-naus Plaza Shopping, apresenta hoje o show com a dupla Kelly e Klinger – das 19h às 21h, na praça de alimentação do centro de compras.

O impagável show de Ney Matogrosso, no próximo dia 28, no Studio 5, vai chover de sobrenomados. Os ingressos estarão à venda no Fran’s Café.

Ontem, a Aparecida movimentou o Buteco da Fundação celebrando seus 35 anos de fundação. O skindô sacudiu o setor sambista da cidade.

Dia 31, vai ter lançamento do novo menu do Café & Chocolat, no Atelier Tânia Castro, com assinatura do jandervieira.com. Só para convidadas.

Sala de Espera

Hoje, o Sumaúma Park Shopping inicia uma semana de inscrições para a Curso Livre para Interpretação e Te-atro, promovido pela Ofi cina de Atores, que será ministrado durante quatro meses na cidade. Os atores Carlos Machado, Bernardo Mesquita e Ronny

Kriwat pilotarão, na terça-feira, a partir das 19h, um encontro com o público na praça de eventos do centro de compras.

Futuras estrelas

Os condutores que trafegam pela Djalma Batista no horá-rio de pique não aguentam mais o estresse. As faixas de pedestres devem ser respeita-das, mas é bom lembrar aos transeuntes que a faixa em-baixo do sinal, no Manaus Pla-za Shopping, só está liberada para passagem assim que o sinal ficar verde aos pedestres. Depois que acontecem os atro-pelamentos a culpa é de todo mundo menos dos teimosos que insistem em atravessar aquela avenida enlouquecida-mente. Oremos!

Perigo constante

A Academia de Tênis da Ponta Negra servirá de palco para o 2º Open Domma de Tênis da Federa-ção Amazonense de Tênis. O torneio vai reunir os melhores jogadores de todas as categorias. As inscrições

estão abertas e poderão ser feitas no próprio local do evento.

Torneio

Integrante da equipe fundadora da Escola de Pós-Graduação em Economia, da Fundação Getulio Vargas, especialista em estratégia, exe-cutivo, escritor vencedor de dois prêmios Jabuti – o mais importante prêmio literário do país – e professor, Luiz Fernando Pinto é referência no Brasil quando se fala em gestão estratégica. Ele estará em Manaus, amanhã, onde ministrará a palestra “Velocidade de Gestão e Condições de Acessos Estratégicos”, no auditório da FGV, no Adrianópolis, às 19h.

Gestão na FGV

As anfi triãs Suzanna Batista e Bruna Ianu-zzi com Menga Junqueira e Lucia Viana na noite de inauguração do delicioso Bis-trôzin Gastronomia Regional

Nívia Barroso, Karinne Braga,

Amanda Abrahão e Karina Quei-roz no almoço regionalís-simo da

Chachá

FOTOS: JANDER VIEIRA

Jander [email protected] - www.jandervieira.com

Hoje, o Sumaúma Park Shopping inicia uma semana de inscrições para a Curso Livre para Interpretação e Te-atro, promovido pela Ofi cina de Atores, que será ministrado durante quatro meses na cidade. Os atores Carlos Machado, Bernardo Mesquita e Ronny

Kriwat pilotarão, na terça-feira, a partir das 19h, um encontro com o público na praça de eventos do centro de compras.

Futuras estrelas Futuras estrelas Futuras

Os condutores que trafegam pela Djalma Batista no horá-rio de pique não aguentam mais o estresse. As faixas de pedestres devem ser respeita-das, mas é bom lembrar aos transeuntes que a faixa em-baixo do sinal, no Manaus Pla-za Shopping, só está liberada para passagem assim que o sinal ficar verde aos pedestres. Depois que acontecem os atro-pelamentos a culpa é de todo

Perigo constante

A Academia de Tênis da Ponta Negra servirá de palco para o 2º Open Domma de Tênis da Federa-ção Amazonense de Tênis. O torneio vai reunir os melhores jogadores de todas as categorias. As inscrições

estão abertas e poderão ser feitas no próprio local do evento.

Torneio

FOTOS: JANDER VIEIRA

Nívia Barroso, Karinne Braga,

Amanda Abrahão e Karina Quei-roz no almoço regionalís-simo da

Chachá

Formando par dos mais elegantíssimos e boni-tos da nova geração: os irmãos Rogério e Jaise Fraxe, em noite estrela-da no Party House

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Page 40: EM TEMPO - 15 de março de 2015

D8 Plateia MANAUS, DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

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