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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA EFEITOS DE FUNGICIDAS ATERNATIVOS EM FOLHAS DE Carthamus tinctorius L. (ASTERACEAE), POTENCIAL ESPÉCIE PARA CULTIVO EM AGRICULTURA FAMILIAR A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA EMANUEL ARAÚJO DE MACÊDO SOUSA 2015 Natal RN Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA

EFEITOS DE FUNGICIDAS ATERNATIVOS EM FOLHAS

DE Carthamus tinctorius L. (ASTERACEAE), POTENCIAL

ESPÉCIE PARA CULTIVO EM AGRICULTURA

FAMILIAR

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A

COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A

COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL

COMO ALTER PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

EMANUEL ARAÚJO DE MACÊDO SOUSA

2015

Natal – RN

Brasil

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Emanuel Araújo de Macêdo Sousa

EFEITOS DE FUNGICIDAS ALTERNATIVOS EM Carthamus tinctorius L.

(ASTERACEAE), POTENCIAL ESPÉCIE PARA CULTIVO EM

AGRICULTURA FAMILIAR

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

Dissertação apresentada ao Programa Regional de

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Juliana Espada Lichston

2015

Natal – RN

Brasil

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de

Biociências

Sousa, Emanuel Araújo de Macêdo.

Efeitos de fungicidas alternativos em folhas de Carthamus tinctorius L.

(Asteraceae), potencial espécie para cultivo em agricultura familiar /

Emanuel Araújo de Macêdo Sousa. – Natal, RN, 2015.

87 f.: il.

Orientadora: Profa. Dra. Juliana Espada Lichston.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Biociências. Programa Regional de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA.

1. Agroecologia. – Dissertação. 2. Azadirachta indica (nim indiano). –

Dissertação. 3. Cártamo. – Dissertação. I. Lichston, Juliana Espada. II.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 631.95

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EMANUEL ARAÚJO DE MACÊDO SOUSA

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como

requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Aprovada em: 20 de fevereiro de 2015

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________

Prof.ª Dr.ª Juliana Espada Lichston

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

______________________________________________

Prof. Dr. Renato Dantas Alencar

Membro Externo à UFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Norte – campus Apodi)

_______________________________________________

Prof.ª Dr.ª Ivaneide Soares Alves da Costa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

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AGRADECIMENTOS

Ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA) — subprograma UFRN e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Ensino Superior (CAPES), pela bolsa concedida para a realização deste trabalho.

À Prof.ª Dr.ª Juliana Espada Lichston por todos os anos de orientação e paciência.

À Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ-UFRN), pela concessão de espaço físico para

realização do experimento de campo. Em especial ao engenheiro agrônomo Anderson Patrício

Fernandes dos Santos e à técnica em agropecuária Ana Alessandra da Costa por toda a ajuda e

orientação no manejo dos cultivos.

Ao Dr. Danyhelton Douglas Farias Dantas pelo suporte estatístico e total solicitude.

Ao Prof. Dr. Edson Ito, do Departamento de Engenharia de Materiais da UFRN, pela

gentil concessão de uso do microscópio eletrônico do Laboratório de Difração e Fluorescência

de Raios X.

Ao pessoal da COOPAPI, incluindo as lideranças Eujânio e Marto, bem como a todos

os agricultores entrevistados neste trabalho, por toda a solicitude e simpatia em seu

atendimento.

Aos colegas do Laboratório de Investigação de Matrizes Vegetais Energéticas

(LIMVE), pelo companheirismo e inestimável ajuda no decorrer deste trabalho, donde destaco

os nomes de Émile Rocha de Lima, Izadora de Lima Izidro Rosa, Júlio César Gomes, Raimunda

Adlany Dias da Silva e Tullio Demostene Frescura.

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RESUMO

O atual modelo de desenvolvimento predominante na sociedade global é ditado por uma

racionalidade econômica que põe em risco meio ambiente e justiça social. Cada vez mais se

tem despertado para os riscos dessa forma de produção e consumo, impulsionando a busca pelo

desenvolvimento sustentável, com uma racionalidade ambiental que concilie as atividades

humanas com preservação da natureza e bem estar de todas as classes socioeconômicas. Um

dos esforços nesse sentido é a alteração da matriz que atende à demanda energética, substituindo

combustíveis fósseis por fontes renováveis e mais limpas, como os biocombustíveis. Carthamus

tinctorius (cártamo) é uma planta oleaginosa com potencial para produção de biodiesel, com

bom rendimento e perfil químico de óleo aliados à boa adaptação a climas como o do semiárido

nordestino. Com fomento de políticas públicas, o uso da espécie pode ser alternativa

interessante à agricultura familiar. Na agricultura em geral é comum o uso de agrotóxicos para

prevenir e combater doenças e pragas, prática não sustentável. Por isso, investiga-se o uso de

substâncias alternativas menos danosas. Neste estudo objetivou-se avaliar se o extrato foliar de

nim (Azadirachta indica) (20% m/v) e a calda bordalesa (sulfato de cobre) exercem efeitos na

espécie do cártamo. Objetivou-se também verificar a aceitabilidade da cultura entre agricultores

do município de Apodi-RN, tendo em vista situarem-se na região-alvo para o cultivo da espécie,

além da compreensão de que seu conhecimento e disposição para adotar a cultura é fundamental

para a introdução da espécie e crescimento socioeconômico associado à sua exploração. Além

disso, foi elaborada uma cartilha informativa sobre o cártamo. No experimento em campo, os

referidos fungicidas alternativos foram pulverizados em plantas cultivadas em parcelas

experimentais, havendo coleta de folhas para análise de anatomia, cutícula foliar e morfologia

da cera epicuticular, camada protetora que faz a interface planta-ambiente. Em Apodi, 45

agricultores da Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável

(COOPAPI) passaram por entrevistas semiestruturadas, abordando também a avaliação das

espécies atualmente cultivadas e a percepção do uso de agrotóxicos e alternativas sustentáveis.

Após comparação por análise de variância, constatou-se que não houve diferença entre

tratamentos no experimento, também não sendo observadas modificações anatômicas ou

morfológicas. A aceitação do cártamo entre agricultores foi ampla, com 84% dos entrevistados

acreditando na perspectiva de lucratividade. O cenário atual, com pouca diversidade de culturas,

frágil ante estiagens e pragas, pode explicar parcialmente essa opinião. A cartilha elaborada foi

bastante eficaz em chamar atenção das pessoas para o potencial da espécie. Houve amplo

reconhecimento da importância dos defensivos alternativos, justificados pela segurança à

saúde. Com base no aspecto avaliado nos resultados da pesquisa, os tratamentos podem ser

recomendados para uso como fungicidas em cártamo. Com a suscetibilidade da cultura aos

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fungos em período chuvoso, aconselha-se que sua potencial introdução na região se concentre

no semiárido.

PALAVRAS-CHAVE: Azadirachta indica (nim indiano). Cártamo. Agroecologia. Cutícula

foliar. Semiárido.

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ABSTRACT

Effects of alternative fungides on Carthamus tinctotius L. (Asteraceae), suggested crop

for family farming

The currently main development model on global society is driven by an economic

rationality that endangers the environment and social justice. More and more, attention to this

way of production and consumption is increasing, boosting research for sustainable

development, with an environmental rationality that can harmonize nature preservation and

welfare of all socioeconomic classes. One of the efforts on this sense is changing the sources

supplying the energy demand, replacing fossil fuels for renewable and cleaner sources, such as

biofuels. Carthamus tinctorius (safflower) is an oilseed crop with potential for biodiesel

production, with good oil yield and chemical profile, allied to good adaptation to climates such

like the northeastern semiarid lands of Brazil. With public policies fomentation, the use of this

species may be an interesting alternative for family farming. In farming in general, the use of

pesticides to prevent and combat diseases and plagues is common, which is not a sustainable

practice. Thus, there are researched alternative, less dangerous substances. In this study, it was

aimed to assess if neem (Azadirachta indica) leaf extract (20% m/v) and Bordeaux mixture

(copper sulfate) have effects on safflower. It was also aimed to verify acceptance of farmers on

safflower crop in Apodi, a municipality in Rio Grande do Norte state, Brazil, in view of it being

localized in the aimed region for this crop cultivation. Besides that, understanding that the

farmers’ knowledge and inclination to adopt the crop is fundamental for the introduction of this

species and socioeconomic growth due to its exploration. In addition, a booklet with basic

information on safflower was produced. In the field experiment, the fungicides were pulverized

on plants cultivated in field experimental plots, with collection of leaf samples for analysis on

anatomy, cuticle, and epicuticular wax morphology, the protective layer that interfaces with the

surrounding ambient. In Apodi, forty-five farmers from Potiguar Cooperative of Apiculture and

Sustainable Rural Development (COOPAPI) underwent semi-structured interviews, which also

addressed their assessment on currently cultivated crops and perception of pesticide uses and

sustainable alternatives. After comparing using analysis of variance, it was found that there was

no difference between treatments in the experiment, as well as no anatomical or morphological

modifications. Safflower acceptation among farmers was wide, with 84% of interviewees

believing in a perspective of good incomes. The current scenario, comprised of low crop

diversity, fragile in face of droughts and plagues, can partially explain this opinion. The booklet

was effective in catching people attention for the species potential. There was wide

acknowledgement on the importance of alternative pesticides, justified by health security.

Based on the assessed parameter in the results of this research, the treatments here utilized may

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be recommended as fungicides for safflower. Given the crop susceptibility to fungi in heavy

rainy period, it is advised that its potential introduction on the region shall be focused on

semiarid areas.

KEYWORDS: Azadirachta indica (nim indiano). Safflower. Agroecology. Leaf cuticle.

Semiarid.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Azadirachta indica A. Juss., o nim indiano ............................................................ 17

Figura 2 – estrutura química da azadiractina ........................................................................... 18

Figura 3 - Principais atores envolvidos no Programa Nacional de Produção e Uso do

Biodiesel. .......................................................................................................................... 25

Figura 4 - Carthamus tinctorius L. .......................................................................................... 27

Figura 5 – Esquemas dos tipos mais comuns de classificação de cera epicuticular. ............... 32

Figura 6 - Mapa de limites municipais do estado do Rio Grande do Norte ............................ 38

Figura 7 - Croqui com delineamento do experimento em campo ........................................... 40

CAPÍTULO 1

Figura 1 – Delineamento geral do experimento de campo. ..................................................... 54

Figura 2 – Secções histológicas de Carthamus tinctorius L. .................................................. 55

Figura 3 – Médias das medidas de espessura cuticular nas duas faces foliares de cártamo,

para cada tratamento aplicado ........................................................................................... 56

Figura 4 – Eletromicrografias de folhas de Carthamus tinctorius L. ...................................... 57

CAPÍTULO 2

Figura 1 - Perfil dos agricultores familiares entrevistados ...................................................... 70

Figura 2 – Menções a culturas produzidas pelos agricultores da COOPAPI e perspectiva de

rentabilidade ...................................................................................................................... 70

Figura 3 – Recursos citados pelos agricultores como necessários para se estabelecer uma

nova cultura no semiárido ................................................................................................. 70

Figura 4 – Conhecimento prévio sobre o cártamo e perspectiva de rentabilidade ante o

potencial apresentado ........................................................................................................ 70

Figura 5 – Experiência prévia com oleaginosas; conhecimento sobre o Programa Nacional de

Produção e Uso do Biodiesel (PNPB); e perspectiva de melhorias para a região

cultivando cártamo para biodiesel ..................................................................................... 70

Figura 6 – Percepção e uso de defensivos agrícolas alternativos aos agrotóxicos .................. 70

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relação entre morfologia da cera cuticlar foliar e sua composição química ........ 33

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL E REVISÃO DA LITERATURA .............................................. 13

1 O impasse dos agrotóxicos e alternativas sustentáveis ................................................. 14

1.1 Calda bordalesa: uma antiga e menos tóxica solução contra pragas ........................ 16

1.2 O nim indiano (Azadirachta indica A. Juss.): uma alternativa a agrotóxicos ............. 17

2 Agricultura familiar: importante modelo de desenvolvimento socioeconômico ........ 19

3 Paradigmas da matriz energética no mundo e no Brasil .............................................. 21

3.1 O biodiesel ................................................................................................................... 22

4 Cártamo, uma matriz vegetal em potencial para a produção de biodiesel no

semiárido ........................................................................................................................ 25

4.1 Potencial suscetibilidade do cártamo a doenças no Rio Grande do Norte: a mancha

da alternária ...................................................................................................................... 28

5 A interface planta-ambiente: cutícula e cera epicuticular ........................................... 30

5.1 Classificação morfológica da cera .............................................................................. 31

5.2 Origem bioquímica ...................................................................................................... 31

5.3 Fatores ambientais X cera e cutícula .......................................................................... 35

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................ 38

METODOLOGIA GERAL ................................................................................................... 39

1 Trabalho de campo........................................................................................................... 39

1.1 Cultivo de Carthamus tinctorius L. .............................................................................. 39

1.2 Tratamentos ................................................................................................................. 39

1.4 Coleta de amostras ...................................................................................................... 40

2 Técnicas para análise em microscopia óptica ................................................................ 41

2.1 Evidenciação de tecidos e caracterização anatômica ................................................. 41

2.2 Verificação de compostos fenólicos e reservas de amido ............................................ 41

2.3 Evidenciação de cutícula epidérmica e outras substâncias lipídicas .......................... 42

3 Medição e análise de espessura cuticular ....................................................................... 42

4 Análise morfológica da cera epicuticular ....................................................................... 42

5 Pesquisa de aceitação da cultura do cártamo e percepção sobre uso de agrotóxicos 42

5.1 Material gráfico de divulgação ................................................................................... 43

CAPÍTULO 1 – Fungicidas alternativos inócuos à morfoanatomia foliar de cártamo:

extrato de nim e calda bordalesa .................................................................................... 44

Resumo ................................................................................................................................. 44

Abstract ................................................................................................................................ 44

Introdução ............................................................................................................................ 45

Material e métodos .............................................................................................................. 47

Resultados e discussão ........................................................................................................ 48

Conclusões ............................................................................................................................ 50

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Agradecimentos ................................................................................................................... 51

Referências ........................................................................................................................... 51

CAPÍTULO 2 – Caracterização dos agricultores de uma cooperativa de Apodi-RN,

receptividade ao cultivo de cártamo e percepção sobre agrotóxicos e alternativas .. 58

RESUMO ............................................................................................................................. 58

ABSTRACT ......................................................................................................................... 58

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 59

2. METODOLOGIA ........................................................................................................... 60

2.1 Área de estudo ............................................................................................................ 60

2.2 Caracterização do universo de pesquisa e amostragem ......................................... 61

2.3 Instrumento de coleta de dados ................................................................................ 61

2.4 Material de divulgação .............................................................................................. 61

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 61

3.1 Perfil dos agricultores ................................................................................................ 61

3.2 Plantas cultivadas e recursos necessários a novas culturas ................................... 62

3.3 Potencial do cártamo ................................................................................................. 63

3.4 Biodiesel ...................................................................................................................... 64

3.5 Percepção da importância de defensivos agrícolas orgânicos................................ 65

3.6 Recepção à cartilha de divulgação ........................................................................... 66

4. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 66

AGRADECIMENTOS ........................................................................................................ 67

TIPO DE FOMENTO ......................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 67

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 71

REFERÊNCIAS GERAIS ..................................................................................................... 73

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista com agricultores de Apodi-RN .................................. 84

APÊNDICE B – Cartilha informativa sobre o cártamo .......................................................... 85

ANEXO A – Comprovante de submissão do artigo do Capítulo 1 ......................................... 86

ANEXO B – Comprovante de submissão do artigo do Capítulo 2 .......................................... 87

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13

INTRODUÇÃO GERAL E REVISÃO DA LITERATURA

Na atualidade, um dos maiores problemas – senão o maior – enfrentados em todo o

mundo é a dissonância entre o sistema econômico vigente, o meio ambiente e grupos sociais

desfavorecidos. A «racionalidade econômica» predominante visa o lucro máximo sem pesar as

consequências da exploração natural desenfreada (LEFF, 2009). O modelo de desenvolvimento

visualizado como sinônimo de ganho de capital termina, pois, por externalizar o meio ambiente

da equação: ele é apenas a fonte de recursos, alheia à civilização (ABRAMOVAY, 2010). A

gravidade é ainda maior quando essa fonte é tida como inesgotável. Como resultado, os

desequilíbrios ambientais põem em risco a vida na Terra como ela é hoje, o que inclui a própria

humanidade que os está provocando.

A consciência da insustentabilidade desse modelo é crescente, promovendo debates e

reflexões na agenda política e no campo técnico-científico, tanto em âmbito internacional

quanto no contexto brasileiro. Surge então o conceito de «desenvolvimento sustentável», que

busca soluções para permitir o desenvolvimento econômico de forma ambientalmente

responsável. Em sua definição oficial, ele “atende às necessidades do presente sem

comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”

(CMMAD, 1987).

Além do econômico e ambiental, um terceiro pilar deve equilibrar o desenvolvimento

sustentável: o social. As estratégias de conservação da natureza não devem buscar tão somente

isolá-la para protegê-la. A partir da consciência de que o homem e a sociedade estão incluídos

no conjunto meio ambiente, e não isolados dele, as estratégias adotadas precisam levar em

consideração a relação que os diferentes grupos humanos mantêm com o ambiente que os

envolve, promovendo um desenvolvimento igualitário, descentralizado, autogestionário,

ecologicamente equilibrado e sustentável, capaz de satisfazer as necessidades básicas da

população, de respeitar a sua diversidade cultural e melhorar a sua qualidade de vida. Essa é a

«racionalidade ambiental» proposta por Leff (2009).

Conforme apontado por Sachs (2000) para a efetivação do desenvolvimento sustentável

é necessária uma mudança de paradigmas na sociedade mundial. Para Leff (2009), a crise

ambiental levou a uma revisão de conceitos morais. Dessa forma, o desenvolvimento

sustentável possibilita a mobilização do potencial dos processos ecológicos, da inovação

científica e tecnológica, assim como da criatividade e participação social, para construir os

meios ecotecnológicos de produção.

Essa reflexão inicial relaciona-se intimamente ao estudo aqui proposto, já que é para

alcançar o patamar do desenvolvimento sustentável que faz-se necessário (re)pensar os modelos

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de produção (como o agrícola) e pesquisar alternativas renováveis e menos poluentes para a

geração da energia necessária às atividades humanas e à evolução tecnológica.

1 O impasse dos agrotóxicos e alternativas sustentáveis

A agricultura é uma das atividades mais importantes para o homem, desde seu

desenvolvimento pré-histórico até a atualidade. Sua essencialidade para a subsistência e para a

economia é inegável, sendo evidente o interesse de maximizar a produtividade das culturas,

embora essa não seja mais a única meta a ser perseguida: para Pretty et al. (2010), o setor

agrícola precisa enfrentar muitos desafios à luz dos impactos das mudanças climáticas,

aumentando a produção em, calcula-se, 70 a 100% para uma população mundial estimada a

alcançar a marca de 9 bilhões de habitantes até meados deste século; aprimorando a eficiência

em um complexo cenário de desenvolvimento rural, responsabilidade ambiental, justiça social

e consumo de alimentos.

Dentre os maiores agentes prejudiciais à produção agrícola estão as patologias

provocadas por vírus, bactérias, nematódeos e fungos. Há inúmeras medidas de combate a esses

agentes, como a aplicação de compostos químicos que matam ou impedem o desenvolvimento

dos parasitas, aplicados preventivamente (CAMPACCI, 1969). Tais compostos são

genericamente denominados “defensivos agrícolas” (termo ultrapassado e eufemístico) ou

“agrotóxicos”. Esta última é a denominação legal corrente, definida pelo Decreto 4.074, de 4

de janeiro de 2002 (Art. 1º, §IV) que regulamenta a Lei Federal nº. 7.802, de 11 de julho de

1989, como:

Produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados

ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos

agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros

ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar

a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos

considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como

desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.

Há um imenso mercado de substâncias agrotóxicas formuladas, mas muitas delas

possuem considerável risco de contaminação ao meio ambiente e à saúde humana (PERES et

al., 2003). Segundo levantamento de Santana et al. (2012), entre 2007 e 2011 foram registrados

14.166 casos de intoxicação laboral por agrotóxicos no Brasil, tendo havido um aumento de

127% de casos registrados entre o início e fim dessa série. No entanto, as autoras solicitam

cautela ao considerar tais dados, pois há grande imprecisão nos registros, além de que em

muitos casos não se procura atendimento médico, havendo então grande possibilidade dos

dados serem bastante subestimados. A maior parcela dos casos é do sexo masculino, mas as

ocorrências femininas aumentaram em 178% no período.

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15

O agricultor, contudo, não é o único que pode estar exposto a substâncias agroquímicas

prejudiciais à saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) possui o Programa

de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). O último relatório divulgado

apresenta resultados para os anos de 2011 e 2012, nos quais as amostras consideradas com

níveis insatisfatórios (acima do máximo recomendado) de agrotóxicos corresponderam a 36%

e 29% do total, respectivamente (BRASIL, 2013). O risco, portanto, existe até mesmo na mesa

do consumidor.

A contaminação ambiental é outra importante dimensão da problemática dos

agrotóxicos. Dependendo da substância utilizada, pode ocorrer contaminação do solo, de águas

superficiais e/ou de águas subterrâneas. Gama et al. (2013) inventariaram os produtos dessa

classe usados no semiárido cearense e analisaram seu potencial contaminante. 60% dos 198

produtos verificados se enquadram nas classes I e II de risco ambiental (respectivamente,

altamente e muito perigosos ao ambiente). Ao comparar com outros estudos, os autores

concluem que a região estudada figura entre as maiores do país em quantidade e diversidade de

uso de agrotóxicos. Eles também apresentam preocupação com a tendência crescente e

predominante do uso de "venenos" mais "potentes" em detrimento de práticas alternativas para

lidar com pragas. De fato, desde 2008 o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo

(GRAFF, 2013).

Outra dimensão a ser impactada pelos agrotóxicos é aquela própria à qual eles se

destinam a proteger. Os efeitos tóxicos podem afetar negativamente a fisiologia vegetal,

especialmente no tocante ao processo de fotossíntese (PETIT et al., 2012). Esse não é sempre

o caso, contudo: algumas classes de compostos como as estrobirulinas (usadas como

fungicidas) podem afetar mecanismos fisiológicos de forma favorável, como melhor eficiência

no uso de água pela redução da condutância estomática, elevação da concentração de ácido

abscísico e aumento de produtividade (DIAZ-ESPEJO et al., 2012).

Em vista dos riscos apresentados, existe a necessidade de regulamentar o uso de

agrotóxicos em cada cultura. No Brasil isso é feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA), que mantém uma base de dados sobre as culturas e substâncias

registradas, dotada de um sistema de consulta de acesso aberto – AGROFIT. Isso não significa

que a regulamentação seja integralmente respeitada: o já mencionado estudo de Gama et al.

(2013) apontou o uso de três produtos que não possuíam registro no AGROFIT.

A expansão do uso de agrotóxicos pode ser largamente atribuída à chamada Revolução

Verde, nome dado ao período, entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 1970, de intensa

modernização agrícola, através do uso de insumos, maquinário e técnicas produtivas,

aumentando a produtividade do trabalho e da terra (NUNES, 2007). É importante registrar a

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importância socioeconômica desse acontecimento, permitindo alimentos mais acessíveis e

baratos. Seu mérito histórico não deve ser esquecido, mas o contexto do presente requer uma

mudança de paradigmas, atenta à preservação do meio ambiente e à melhoria da qualidade de

vida. É preciso haver educação e conscientização ambiental e de saúde para reverter essa

perigosa prática na agricultura.

Soluções alternativas, pouco ou não nocivas, precisam ser crescentemente estudadas

para que seu potencial chegue ao campo. A partir dessa consciência, a «agricultura orgânica»

ganha força, centrada em usar soluções naturais (e.g. alguns extratos vegetais) ou compostos

inorgânicos pouco tóxicos para proteger suas lavouras. É o caso da calda bordalesa e do extrato

vegetal de nim, que podem combater fungos e insetos nas lavouras.

1.1 Calda bordalesa: uma antiga e menos tóxica solução contra pragas

A calda bordalesa é uma simples mistura sulfato de cobre II (CuSO4) e cal hidratada

(Ca(OH)2). Costuma ser diluída em água na concentração de 1% para pulverização em lavouras,

atuando como um fungicida genérico preventivo de superfície.

Sua denominação vem da cidade francesa de Bordeaux (por isso também é conhecida

como mistura de Bourdeaux), onde os agricultores a aplicavam em videiras próximas às

estradas para desencorajar o furto de uvas pela aparência (manchas azuis) e pelo gosto amargo.

O botânico Pierre-Marrie-Alexis Millardet descobriu a ação antifúngica do cobre ao notar que

essas plantas não apresentavam míldio (manchas causadas por fungos oomicetos), diferente das

que não recebiam o tratamento. Após conduzir experimentos, ele publicou a recomendação do

uso da calda em 1885.

Essa mistura é isenta de regulamentação pelo MAPA, podendo ser adquirida ou

preparada sem receita agronômica e sem restrição de culturas, o que torna seu acesso fácil e de

baixo custo. A calda bordalesa tem baixo risco à saúde (classe toxicológica IV), se houver uso

adequado de equipamentos de proteção individual (EPI). A mobilização do cobre no solo é

pequena, reduzindo o risco de contaminação de camadas profundas e águas subterrâneas. Por

esses motivos, ela tem sido admitida na «agricultura orgânica», evitando que caia em desuso.

Contudo, o exaustivo uso ao longo dos anos provoca acúmulo e então torna-se um contaminante

(FELIX, 2005). Seu uso excessivo também é prejudicial à lavoura, pois o cobre, aplicado como

fungicida de contato, é capaz de inibir a fotossíntese pela destruição de cloroplastos, afetando

a atividade do fotossistema II e a biossíntese de clorofila (PETIT et al., 2012).

Seu uso, portanto, não é uma solução definitiva, e assim como os agrotóxicos

formulados deve ser empregado de forma responsável.

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1.2 O nim indiano (Azadirachta indica A. Juss.): uma alternativa a agrotóxicos

Azadirachta indica A. Juss. (família Meliaceae, figura 1) é conhecida como "a árvore

da vida" em seu local de origem, a Índia. O nim (também grafado «neem») ou amargosa tem

essa fama pelo conhecimento milenar de suas variadas aplicações medicinais. Atawodi e

Atawodi (2009) citam, em uma revisão sobre as propriedades biológicas e farmacológicas da

planta, ações antiplasmódica, antitripanossômica, antioxidante, anticâncer, antibacteriana,

antiviral, antiúlceras, anti-helmíntica, antidiabética, anti-implantação embrionária,

espermicida, imunocontraceptiva, imunomoduladora, moluscicida, nematicida, inseticida,

larvicida, fungicida, repelente e inibidora de predação de insetos, entre outras. Ainda, a madeira

é de boa qualidade para a construção, produção de móveis e queima, além de ser ótima para

sombreamento, motivo pelo qual é muito plantada em ruas no Brasil.

Figura 1 - Azadirachta indica A. Juss., o nim indiano

Fonte: acervo próprio

As muitas propriedades do nim derivam de diversas moléculas encontradas na planta. A

função pesticida é devida aos compostos limonoides encontrados tanto nas folhas quanto, em

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maior concentração, nas sementes, sendo o principal deles a azadiractina (C35H44O16) (Figura

2) (OGBUEWU et al., 2011). Tais moléculas são facilmente biodegradáveis, o que evita

acúmulo danoso ao ambiente, e em razão disso houve grande aumento de seu interesse como

um pesticida alternativo para a agricultura dita orgânica. Evidentemente, sua rápida degradação

(acelerada por luz e calor) também implica em curta permanência de sua ação desejada – o

efeito residual de produtos à base de nim para controle de pragas dura normalmente até 5 a 7

dias (SCHMUTTERER, 1990; SARAIS et al., 2009) – o que pode significar maior esforço de

aplicação para um produto de possivelmente eficiência inferior à de agrotóxicos perigosos.

Figura 2 – Estrutura química da azadiractina

Fonte: Wikimedia Commons

Em compensação, o acesso ao produto costuma ser simples e barato. A planta é muito

usada no Brasil para fazer sombra, sendo fácil até mesmo para o pequeno agricultor obter folhas

ou sementes para o preparo de extratos aquosos. Há ainda diversos produtos comerciais

disponíveis no mercado. Não há redução de azadiractina quando comparadas preparações

domésticas e formulações comerciais, tendo ambas eficiência similar (BOURSIER et al., 2011).

Quanto à toxicidade do nim para humanos, com a devida cautela produtos destinados a

consumo alimentar podem ser tratados com ele, sendo que variedades não processadas (óleo

das sementes e extrato aquoso) devem ser os mais seguros, com uma dose máxima de resíduos

recomenda na ordem de 0,26 a 0,3 mg/Kg e 2µL/kg de massa corpórea por dia (BOEKE et al.,

2004).

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2 Agricultura familiar: importante modelo de desenvolvimento socioeconômico

Para articular práticas sustentáveis, o conhecimento sobre o uso de soluções alternativas

aos agrotóxicos precisa ser difundido entre todos os atores envolvidos nas práticas agrícolas,

enquanto se busca compreender o contexto social em que estão inseridos, de modo a considerar

suas necessidades e saberes na elaboração e sugestão de estratégias. Desse modo, visando o

desenvolvimento socioeconômico de pequenos agricultores, é preciso debruçar-se sobre

aspectos de sua realidade, normalmente estruturada em torno do núcleo familiar.

Ao se falar em agricultura familiar, é comum pensar na pequena produção camponesa,

voltada para a subsistência da família. Segundo Lamarche (1993), ela não é um elemento dentre

as diversas formas de agricultura, mas sim um conjunto que abrange vários elementos. O autor

afirma que a grande gama de situações possíveis sob essa denominação recai nas diferenças

existentes a partir da capacidade de se apropriar dos meios de produção e desenvolvê-los.

Dada a abrangência de formas de exploração agrícola que abriga, o conceito de

«agricultura familiar» não tem como ser muito específico: Wanderley (1996, p. 2) a enuncia

como “aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção,

assume o trabalho no estabelecimento produtivo”. O Art. 3º da Lei Federal nº 11.326, de 24 de

julho de 2006, delimita o agricultor familiar nos seguintes aspectos:

Proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário da reforma agrária;

Residente na propriedade ou em local próximo;

Detentor, sob qualquer forma, de no máximo quatro módulos fiscais de terra,

quantificados conforme a legislação em vigor e fixados de acordo com cada região;

Obtém no mínimo 80% da renda bruta familiar advinda da exploração agropecuária

ou não agropecuária do estabelecimento;

Apresenta, como base da exploração do estabelecimento, o trabalho familiar.

É por conta da diversidade do grupo que Navarro (2010) questiona tal delimitação legal.

Segundo ele, não há base teórica para essa caracterização, sendo o termo «agricultura familiar»,

da forma como é empregado atualmente no Brasil, reflexo de um bem-sucedido movimento

político-sindical, articulado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

(CONTAG), em tempos da assinatura do Tratado de Assunção, que originou o bloco econômico

Mercosul, em 1991. Essa conceituação visou acesso aos fundos públicos pelos antes

marginalizados pequenos produtores, tendo sido uma ação legítima sob uma ótica política.

O problema, ainda segundo esse autor, é que o conceito não abarca a grande

heterogeneidade das diferentes regiões rurais do país, o que restringe o aperfeiçoamento das

políticas públicas para os produtores enquadrados, já que atribuir uma similaridade empírica e

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conceitual às milhões de famílias rurais do grupo faz «tabula rasa» das diferenças sociais e

econômicas que existem entre elas (p.197).

Navarro faz dura crítica ao destacamento de um volume do Censo Agropecuário de 2006

para a Agricultura Familiar, cujas agregações, segundo ele, “apenas indicam que um grande

grupo de estabelecimentos rurais (a ampla maioria) foi agrupado a partir de critérios que, ao

fim e ao cabo, são inteiramente arbitrários, ainda que consagrados em lei.” (p. 187). Ele enfatiza

que os descritores de um agricultor familiar devem ser apontados após levantamento empírico,

e não partindo de um conjunto previamente estipulado de indicadores antes da pesquisa, como

foi feito.

Entraves conceituais à parte, esse setor agrícola, tal qual está delimitado, desempenha

importante papel no universo social, econômico e político na região Nordeste. Predomina a

prática tradicional, de base familiar, sendo que em algumas regiões houve rápida modernização

tecnológica (LEITE et al., 2006). A tentativa de adaptação ao ambiente local, disponibilidade

de recursos, condições de mercado e inserção social nem sempre é sustentável (GUANZIROLI

et al., 2001 apud LUZ et al., 2004). Em geral os agricultores têm baixo poder aquisitivo (LEITE

et al., 2006).

Ainda que não apresente os mais elevados níveis de produtividade e incorporação de

tecnologias, a agricultura familiar é responsável por 38% da produção agropecuária no Brasil.

Além da evidente relevância econômica, há também a social, dada pela geração de empregos e

produção de alimento para autoconsumo e abastecimento do mercado interno (GUILHOTO et

al., 2007). Colocando em números, há uma absorção de 80% de mão-de-obra, correspondendo

a 77% do total empregado na agricultura; provimento de 60% do que é consumido na mesa da

população brasileira (MELLO, 2011).

A discussão sobre a importância da agricultura familiar vem sendo impulsionada pelos

debates embasados no desenvolvimento sustentável e na geração de emprego e renda. Veiga

(1996) elenca uma série de vantagens desse modelo agrícola sobre as oligarquias fundiárias: a

diversificação, versatilidade, perfil distributivo e maleabilidade dos processos decisórios são

evidentemente melhores alternativas em contrapartida à concentração de renda, exclusão social

e especialização que o autor atribui à agricultura patronal.

No entanto, há de se reconhecer a importância desta última numa sociedade em que o

regime econômico capitalista vem historicamente determinando a natureza da vida social; a

existência de proprietários de terra que são também contratantes de trabalho assalariado não

deve ser plenamente demonizada, como se representasse um pecado ou um grave ilícito

(NAVARRO, 2010). Expurgar completamente esse modelo certamente seria inviável, mas é

preciso, evidentemente, combater todos os casos de injustiça social.

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Ao mesmo tempo, a agricultura familiar deve ser pensada dentro de perspectivas

inclusivas no contexto de relevância econômica e do desenvolvimento. É o caso de projetos e

políticas públicas voltados para a diversificação e ampliação da matriz sustentável de geração

de energia.

3 Paradigmas da matriz energética no mundo e no Brasil

Nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, sempre envolvendo a preocupação

com a finitude de recursos naturais e com a poluição da queima de combustíveis fósseis, a

problemática energética é inevitavelmente colocada em pauta. Segundo Reis et al. (2012), tal

questão tem influenciado debates sobre mudanças de paradigmas no desenvolvimento humano.

Considerando a dependência por energia da sociedade global contemporânea, essa é uma

conclusão natural.

Dita dependência é proveniente do estilo de vida que começou a ser moldado na

Revolução Industrial, final do século XVIII. Com a exponencial expansão tecnológica e

produtiva, a economia foi aquecendo, e o padrão de vida se tornando mais exigente de energia

(ATABANI et al., 2012). Essa demanda continua a crescer assustadoramente: em 2030, projeta-

se que será necessário 50% mais energia do que era produzido na década de 2000; unicamente

a China e a Índia seriam usuárias de 45% desse total (IEA, 2007; SHAHID; JAMAL, 2009).

É urgente a necessidade de mudar os paradigmas que regem a matriz energética,

dependente de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) na ordem de 80%; no Brasil,

a participação do petróleo é maior do que no mundo (45% e 36%, respectivamente (BRASIL,

2006b)). Silva (2012) aponta como essas fontes foram importantes para transformações sociais

globais, ampliando o acesso a bens de consumo e transporte, mas que em contrapartida

decorreram transformações negativas ao meio ambiente.

A emissão de gases de efeito estufa pela queima, o descarte de resíduos e o

derramamento no solo e no mar consistem nesses impactos negativos. A insustentabilidade dos

combustíveis fósseis também está na limitação de reservas; não são raros episódios em que a

demanda é maior que a oferta (IEA, 2007), apesar de, no dinamismo do mercado, também

ocorrerem períodos de inversão desse quadro, por influências políticas e econômicas, como no

período recente. A busca por fontes alternativas de energia que provoquem menor impacto

ambiental e sejam renováveis é, portanto, também motivada economicamente. Para Sachs

(2007), a revolução energética dependerá da capacidade dos estados nacionais e da Organização

das Nações Unidas de definir políticas públicas de âmbito nacional e internacional. Estas devem

ser voltadas para redução da demanda energética, do aumento da eficiência na produção e uso

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final das energias, e da substituição das energias fósseis por energias renováveis, mediante a

captura dos gases do efeito estufa.

Para Abramovay (2010), o Brasil passou por um processo expressivo de diminuição da

pobreza e desigualdade nos últimos anos, mas sem pautar o desenvolvimento na redução do uso

de energia e materiais, em contramão à tendência mundial: ciência e inovação tecnológica a

serviço dessa mitigação, contribuindo para a regeneração da biodiversidade. Como não pode

deixar de ser, o desafio para avançar não é puramente ambiental, nem puramente social.

3.1 O biodiesel

O setor de transportes é o segundo maior consumidor mundial de energia, atrás apenas

do industrial. Ele conta com 30% da demanda total, 80% dos quais são para o transporte

rodoviário. Cerca de 60% da demanda mundial de petróleo converge para esse ponto, e a

tendência é crescer ainda mais (ATABANI et al., 2012). Consequentemente, esse setor também

é responsável por grande parte das emissões de gases de efeito estufa: em 2008 foram 22% do

total de emissões mundiais de dióxido de carbono (ATABANI et al., 2011).

Na urgência em se modificar a matriz energética, os combustíveis provenientes de

biomassa – biocombustíveis – têm sido apontados como alternativas interessantes e incentivado

pesquisadores a estudá-los (SENSOZ et al., 2000; RAMADHAS et al., 2005; ATABANI et al.,

2012). Editais de pesquisa lançados pelo governo também foram responsáveis por impulsionar

os trabalhos acadêmicos nesse âmbito. Para Goldemberg (2009), é a melhor opção do uso da

energia proveniente da biomassa. São biocombustíveis o etanol e o biodiesel; o escopo do

presente trabalho é voltado para este último.

O biodiesel é a atual alternativa para o diesel de petróleo. Suas vantagens são a menor

geração de poluentes (BARNWAL; SHARMA, 2005; LAPINSKIENE et al., 2007; HU et al.,

2008), exequibilidade técnica, competitividade econômica, fácil disponibilidade e melhor

aceitabilidade do ponto de vista ambiental (DEMIRBAS, 2009). Ele é seguro, biodegradável,

renovável, atóxico e possui lubricidade inerente (AZAM; NAHAR, 2005; RASHID et al.,

2008). Com isso, é possível reduzir a pressão da exploração de recursos naturais, as emissões

de gases de efeito estufa, e a dependência de combustíveis fósseis importados. A cadeia

produtiva do biodiesel também promove desenvolvimento regional e fortalece a estrutura

social, principalmente em países em desenvolvimento (DEMIRBAS; DEMIRBAS, 2007).

A principal fonte de matéria-prima para o biodiesel da atualidade consiste nas espécies

vegetais oleaginosas. Dependendo das características da espécie, é possível valer-se de áreas

degradadas para seu cultivo, desta forma promovendo recuperação desses locais e evitando

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ocupar áreas agricultáveis para fins alimentícios (SACHS, 2007). Ainda, podem ser feitos

sistemas integrados de produção de alimento e energia adaptados aos diferentes biomas, como

rotações de culturas ou consórcios. O principal impasse envolve a preocupação com os

pressupostos de segurança alimentar, mas Abramovay e Magalhães (2007) já comentavam que

existem bases científicas sólidas para a concepção desses sistemas sobrepondo os principais

problemas apontados no debate energia x alimentos. Outra possível integração é a biodiesel-

pecuária, na qual os resíduos provenientes da extração do óleo constituem ração para o gado,

enquanto o esterco processado rende adubos e energia aproveitável na usina de biodiesel (há

ainda o aproveitamento de sebo bovino para a produção desse biocombustível). O interesse

nesse tipo de associação é crescente, pois agrega redução de custos e benefícios ambientais.

(GOLDEMBERG, 2009).

Retomando o conceito de que a tríade economia-ambiente-sociedade deve ser unificada

para que haja desenvolvimento sustentável, surgem discussões sobre a inclusão da agricultura

familiar no contexto do biodiesel. No Brasil, essa proposta está presente desde o início dos

esforços do governo federal para introduzir o biodiesel na matriz energética nacional, entre

2003 e 2004, com a instituição de uma Comissão Executiva Interministerial e do Grupo Gestor

do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) (MONTEIRO, 2007). Dessa

forma, buscou-se evitar o que foi considerado pelo governo como distorções sociais e

ambientais do PROÁLCOOL, o programa que implantou o etanol combustível ante a crise do

petróleo de 1973; garantiu-se parte da oferta de matéria-prima aos agricultores familiares,

sobretudo do Nordeste (ABRAMOVAY; MAGALHÃES, 2007).

O PNPB, lançado pelo Decreto nº. 5.297 de 2004 apresenta as seguintes diretrizes,

segundo Monteiro (2007):

Introdução do biodiesel na matriz energética brasileira de forma sustentável;

Geração de emprego e renda, especialmente no campo, com a produção de

matérias primas oleaginosas (inclusão social);

Atenuar disparidades regionais;

Reduzir as emissões de poluentes;

Reduzir a importação de diesel de petróleo;

Não privilegiar rotas tecnológicas;

Conceder incentivos fiscais e implementar políticas públicas (financiamento,

assistência técnica) para conferir sustentabilidade econômica, social e ambiental

do biodiesel.

Conforme Abramovay e Magalhães (2007), o PNPB foi formulado em um ambiente que

abre possibilidades bem diferentes das que foram adotadas pelo PROÁLCOOL – marcado pelos

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cultivos em planícies, monotonizando a paisagem agrícola, e pelas condições degradantes de

trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar (SILVA, 2005) – e que tiveram como consequências

problemas sociais e ambientais de grande magnitude. Diferente da cana, a participação dos

agricultores familiares na produção da matéria-prima do biodiesel é significativa, muitas vezes

até majoritária.

Para Peixoto (2008), o PNPB foi concebido com o objetivo de firmar um novo mercado

para os agricultores familiares e assentados da reforma agrária, conciliando produção com os

requerimentos da proteção ambiental. Para isso acontecer, destaca o autor, é necessário o

esforço de todo um conjunto de instituições organizadas em rede, tais como: pesquisas

agronômicas, tecnológicas e industriais; organização social da produção; associações e

cooperativas de agricultores; empresas; organizações não governamentais, órgãos

governamentais de fomento, regulamentação e fiscalização; representações de populações

tradicionais; universidades, centros de pesquisa e outros órgãos gestores.

A efetivação do Programa também depende da adoção de um enfoque regional, para que

os projetos se adaptem às condições edafoclimáticas e peculiaridades sociais de cada localidade

(PEIXOTO, 2008).

Monteiro (2007) reforça que a diversificação de sistemas produtivos dos agricultores

familiares, para o cultivo de diversas oleaginosas visando a produção de biodiesel no semiárido

do Nordeste brasileiro – onde há mais de 50% de representação de estabelecimentos de

agricultura familiar – consiste em um fator que contribui para a sustentabilidade dessa atividade.

Tilman (2006) demonstra que os grandes problemas da oferta de biocombustíveis frente aos

produtos dominantes da agricultura dos Estados Unidos são quase inteiramente superados ao se

fazer uso de áreas degradadas e explorar a diversidade de produtos que exigem poucos insumos

agrícolas. Dessa forma, o PNPB está voltado para integração dos agricultores familiares à oferta

de biocombustíveis e ao incentivo do uso de matérias-primas até então pouco empregadas.

Ao envolver a agricultura familiar, a substituição de diesel de petróleo por biodiesel, na

ordem de apenas 1%, tem potencial para gerar cerca de 45 mil empregos (LIMA, 2004). A

empregabilidade é 10 vezes superior à que pode gerar o modelo patronal. Nota-se, portanto,

que para promover o desenvolvimento social, os agricultores familiares devem ser priorizados

dentro do contexto da produção de biodiesel. Logo, o PNPB e o Selo Combustível Social criado

pelo governo federal tornam-se importantes recursos de desenvolvimento regional,

sistematizando-se de forma descentralizada, respeitando os termos e rotas tecnológicas e

matérias-primas adaptadas a cada localidade (BRASIL, 2004). Segundo Abramovay e

Magalhães (2007), a inserção do agricultor familiar como importante ator da rede produtiva do

biodiesel incentivou vínculos sociais entre atores que não pertencem ao mesmo universo

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econômico, político e cultural. Os autores sintetizam essas relações no esquema apresentado na

Figura 3. O resultado é um arranjo produtivo de três atores que antes apenas se viam em

conflito: empresas, movimentos sociais e governo federal, este último atuando na coordenação

e fiscalização do processo.

Figura 3 - Principais atores envolvidos no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel.

Fonte: Abramovay e Magalhães (2007).

4 Cártamo, uma matriz vegetal em potencial para a produção de biodiesel no semiárido

Para atender à crescente demanda por matéria-prima para o biodiesel, houve a

necessidade de se investigar fontes alternativas (MOSER, 2009). Em princípio existem várias

em potencial: óleos vegetais, gordura animal, óleos e gorduras residuais de produtos

domésticos, comerciais e industriais (PARENTE, 2006) e microalgas (CHISTI, 2007). A

matéria-prima compõe de 60% a 80% do preço final do combustível (GUI et al., 2008), portanto

sua escolha tem grande relevância econômica.

Dentre as plantas oleaginosas, uma boa matriz é aquela que satisfaz grande quantidade

das seguintes características (MOSER, 2009):

Adaptabilidade às condições edafoclimáticas do local de crescimento;

Viabilidade regional;

Alto teor de óleo;

Perfil graxo favorável;

Compatibilidade com a infraestrutura agrícola já existente;

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Baixa utilização de insumos agrícolas;

Uniformidade na maturação das sementes;

Mercados potenciais para subprodutos do cultivo;

Capacidade de desenvolvimento em áreas não agricultáveis e/ou no período de

entressafra das culturas convencionais.

Desse modo, as escolhas mais apropriadas não são as mesmas para todas as localidades.

Isso pode ser facilmente percebido ao se observar as matrizes consideradas com potencial para

cada região brasileira: no Norte, predomina o dendê; no Nordeste há uma grande variedade,

incluindo mamona, amendoim, gergelim e babaçu; no Centro-sul a predominância é soja,

girassol, algodão e canola. Apesar de todo esse potencial, é necessária uma avaliação da

capacidade de produção de oleaginosas no país, de acordo com as características de cada região.

Com isso, pode-se prever a expansão de espécies com domínio tecnológico (amendoim,

mamona, soja, dendê), o incentivo ao extrativismo sustentável de espécies de palmeiras nativas,

bem como o incentivo ao cultivo de oleaginosas perenes, que possuam domínio tecnológico

como, por exemplo, o dendê (PERES; BELTRÃO, 2006). O fato do PNPB não fazer restrições

de matéria-prima ou processo industrial é o que mantém sua política e permite a pluralidade de

fontes a se explorar (GARCEZ; VIANNA, 2009).

Na atualidade, contudo, o Brasil está amplamente concentrado na cultura da soja,

responsável por 90% da faixa anual de seis milhões de toneladas de óleo vegetal produzidas no

país. Outras oleaginosas tradicionais como mamona, algodão, girassol, canola, amendoim e

dendê contribuem com pequenas quantidades de óleo, por terem pouca área plantada

(BELTRÃO; OLIVEIRA, 2007). É muito relevante o descobrimento de espécies não

convencionais para integrar a matriz energética.

A partir desse panorama, o cártamo (Carthamus tinctorius L.) (Figura 4) apresenta-se

como mais uma potencial opção para a produção de biodiesel na região Nordeste,

principalmente na área semiárida.

Originária da Ásia, pertence à família Asteraceae e é uma das mais antigas plantas

cultivadas, sendo empregada no tingimento de tecidos por povos antigos («Carthamus» deriva

do hebraico «kartami», que significa «tingir»). Esse efeito é dado por pigmentos como a

cartamina, responsável pelas cores das inflorescências em capítulo, que podem ser amarelas,

laranjas ou vermelhas (EMONGOR, 2010).

As plantas chegam a 150 cm de altura, com caule se ramificando para terminar em um

a cinco capítulos e raiz bastante profunda (característica interessante para ambientes com baixa

disponibilidade de água, permitindo alcançar camadas mais profundas do solo). As folhas

podem variar largamente de tamanho entre variedades e mesmo indivíduos; a filotaxia é alterna,

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o limbo denteado ou lobado, brácteas involucras, externas e verdes (ROCHA, 2005).

Apresentam numerosos espinhos, mas algumas variedades foram desenvolvidas para facilitar

seu manejo (DAJUE; MÜNDEL, 1996). As sementes são inseridas em frutos secos do tipo

aquênio.

Figura 4 - Carthamus tinctorius L.

Fonte: acervo próprio

O cártamo apresenta boa resistência ao estresse hídrico e salino, temperaturas elevadas

e frias e baixa umidade relativa do ar (EMONGOR, 2010). Isso o torna plenamente apto ao

semiárido nordestino.

O ciclo de vida, segundo Rocha (2005), é de aproximadamente 140 dias, podendo ser

reduzido a até 75 dias quando o cultivo é feito sob temperaturas mais elevadas. Em um hectare

pode ser plantada uma população de 180 a 250 mil plantas. A produção média é de uma a três

toneladas de sementes por hectare, dependendo da tecnologia empregada. Uma boa

produtividade é observada com precipitações entre 300 a 600 mm anuais (VIVAS, 2002;

ROCHA, 2005), o que fica dentro do intervalo médio observado no semiárido, de 400 a 800

mm (NÓBREGA, 2001).

O teor de óleo nas sementes varia entre 20% e 45% (DAJUE; MÜNDEL, 1996; EKIN,

2005; CARVALHO et al., 2006; SACILIK et al., 2007; HAN et al., 2009). É um conteúdo

médio que chega a superar o de oleaginosas convencionais, como soja (17-21%), algodão (15-

24%) e girassol (42%). 70-75% do óleo é constituído por ácido linoleico e 20% por ácido oleico

(VIVAS, 2002; HOEKMAN et al., 2012), caracterizando perfil graxo adequado para produção

de biodiesel (KUMAR; SHARMA, 2008). Knowles (1989) (apud GECGEL et al., 2007)

considera o cártamo como um dos melhores exemplos de cultura com variabilidade na

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composição dos ácidos graxos no óleo das suas sementes. Existem dois tipos de cártamo que

produzem diferentes tipos de óleo: um com altos teores de ácido oleico (C18:1) e outro com

abundância em ácido linoleico (C18:2).

É conveniente salientar que além de todo o perfil potencialmente adequado para o

biodiesel, C. tinctorius tem várias possibilidades de valor agregado, o que é extremamente

positivo para o agricultor familiar. A torta residual após processamento dos aquênios possui

cerca de 35% de proteínas em sua constituição (VIVAS, 2002), rendendo um bom suplemento

para a alimentação animal. Os pigmentos florais produzem corantes alimentícios e podem tingir

tecidos finos. As flores também têm uso medicinal (DAJUE; MÜNDEL, 1996), e os capítulos

têm valor estético, sendo comercializados para ornamentação. O próprio óleo das sementes é

usado na indústria farmacêutica, por ser rico em ácidos graxos poli-insaturados, que estão

correlacionados a níveis reduzidos de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) no sangue, sem

prejuízo às de alta densidade (HDL), o que contribui para a eficiência da microcirculação e

tratamentos de hiperlipidemia, arteriosclerose e doenças cardíacas coronárias (HAN et al.,

2009; EMONGOR, 2010). O uso como cosmético (cápsulas para emagrecimento) tem sido

bastante popular, apesar de não haver estudos contundentes de eficácia no presente.

Com todo esse potencial a ser explorado, Emongor (2010) considera que a cultura do

cártamo é subutilizada e negligenciada. Portanto, as possibilidades de renda agregada na

agricultura familiar parecem promissoras.

4.1 Potencial suscetibilidade do cártamo a doenças no Rio Grande do Norte: a mancha da

alternária

Como cultura exótica ainda não estabelecida no estado do Rio Grande do Norte,

localidade para qual está sendo proposta sua inserção no presente trabalho, é necessário avaliar

possíveis doenças a que a espécie do cártamo possa estar suscetível.

A proximidade filogenética de C. tinctorius com outra Asteraceae já bem estabelecida

no estado potiguar, o girassol (Helianthus annuus L.), pode ser um bom ponto de partida para

essa abordagem. Para essa cultura há registros de infecção pelo fungo Alternaria helianthi

(Hansf.) Tubaki; Nishih., causador da mancha de alternária (LIRA et al., 2011). Embora a

espécie não seja parasita primária do cártamo, há registros na literatura de que ela pode adotar

tal cultura como hospedeiro alternativo (ALLEN et al., 1983; FREIRE, 2009), embora em

temperaturas altas (acima de 28 °C) possa ocorrer degeneração dos conídios, reduzindo

reprodução e germinação de esporos (ABBAS et al., 1995). Uma outra espécie do mesmo

gênero, Alternaria carthami S. Chowdhury, tem ocorrência primária para essa cultura, mas não

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há descrição de sua ocorrência na região, sendo considerada endêmica da Índia (RANAWARE

et al., 2010).

Os fungos do gênero Alternaria são mitospóricos, possuem conídios com comprimento

e largura variável, geralmente individuais e raramente catenulados, retos ou ligeiramente

curvos, corpo oblongo ou elipsoidal que afina em direção ao ápice, formando um bico

comprido, sinuoso e ocasionalmente ramificado. Coloração palha, parda ou ouro claro, com

septos transversais e poucos ou nenhum longitudinal. Os conídios se inserem em conidióforos

septados retos ou sinuosos de ocorrência isolada ou em grupos. As populações são

morfologicamente heterogêneas, diferindo na coloração do micélio, produção de pigmentos em

meio de cultura, presença ou ausência de esporulação em condições de laboratório, bem como

na patogenicidade e formação de setores em meio de cultura (TÖFOLI; DOMINGUES, 2004).

A mancha de alternária é uma fitopatologia disseminada pela propagação de esporos do

fungo por via aérea, atacando as folhas. O fungo pode ganhar acesso ao mesofilo através de

lesões ou estômatos, sendo também capaz de permear a cera e cutícula que revestem a folha

(ALLEN et al., 1983). Os sintomas se manifestam na forma de lesões necróticas, circulares ou

não, pardo-escuras, com característicos anéis concêntricos e bordos bem definidos. Elas podem

ocorrer em grupo ou isoladamente, às vezes com a presença de um halo clorótico (TÖFOLI;

DOMINGUES, 2004).

Não há registros de agrotóxicos registrados pelo MAPA para uso em cártamo no Brasil.

Isso, aliado ao desejo de uma agricultura mais sustentável, segura e acessível às famílias a que

se sugere o cultivo, leva à busca de alternativas naturais ou de baixo risco para a prevenção de

sintomas nas lavouras.

Extratos de nim (Azadirachta indica) são descritos em diversos estudos como tendo

ação contra a mancha de alternária em diversas culturas, afetadas por diversas espécies desse

gênero de fungos. O mecanismo de ação não parece atuar diretamente contra o fungo, mas sim

como um indutor de resistência na planta, induzindo alterações metabólicas que levam à

produção de substâncias de defesa. Guleria e Kumar (2006) investigaram o uso do extrato foliar

em sésamo (Sesamum indicum L: Syn. S. orientale L.), em defesa a Alternaria sesami. Seus

resultados sugerem que não houve inibição significativa da germinação de esporos, mas houve

elevação das enzimas fenilalanina amônia-liase e peroxidase na planta, que levou à biossíntese

de compostos fenólicos, classe de moléculas com ação defensiva. Contudo, Mesta et al. (2009)

realizaram testes in vitro para avaliar inibição na germinação de esporos de A. helianthi e

conseguiram eficiência de 38,49% para o extrato de nim.

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30

5 A interface planta-ambiente: cutícula e cera epicuticular

Os órgãos aéreos vegetais (caules, folhas, flores e frutos) são revestidos por uma camada

denominada cutícula, permeada por cera (dita, portanto, intracuticular), e que também secreta

uma camada cerosa, epicuticular. Elas consistem, então, a interface direta da planta com o

ambiente. Sua importância na retenção de água, devida à composição química majoritária de

lipídios, é a propriedade mais notável (RIEDERER; SHREIBER, 2001), enquanto também

atuam na redução da lixiviação de solutos intracelulares essenciais. As duas funções são reflexo

da capacidade impermeabilizante da cutícula e cera (SCHÖNHERR, 2001).

Nas folhas, há uma perda de apenas 5% de água através de difusão cuticular; dessa

forma, a planta pode regular a maior parte da evapotranspiração através de mecanismos

fisiológicos que controlam a abertura dos estômatos (TAIZ; ZEIGER, 2004). A presença de

cera também é apontada como redutora da temperatura foliar, outro fator importante contra o

escape hídrico (LOPEZ-SANTILLAN et al., 2003).

A função impermeabilizante da cutícula e cera cuticular, em conjunto com tantas outras

adaptações que evitam perda excessiva de água, foi crucial para a conquista do ambiente

terrestre pelas plantas (RAVEN; EDWARDS, 2004; KOCH; ENSIKAT, 2008). Registros

fósseis que remetem a cutículas datam desde o período Ordoviciano (EDWARDS et al., 1996

apud BARGEL et al., 2004), com aumento expressivo no Siluriano (RAVEN; EDWARDS,

2004). Pela sua delicadeza, a cera epicuticular não é preservada em fósseis.

A cutícula é notável já em várias briófitas como fina membrana extracelular (BARGEL

et al., 2004), e em alguns grupos pode estar presente uma cera granulosa ou cristalina, ainda

que conspícua (XU et al., 2009; PROCTOR, 2000). A análise de táxons mais recentes sugere o

grande sucesso do desenvolvimento dessas camadas protetoras, já que estão vastamente

presentes nos órgãos primários aéreos das plantas vascularizadas.

Além de proteger contra dessecação, a cutícula e cera podem desempenhar diversas

outras funções: a cera epicuticular, que molda a topografia foliar, influencia largamente a

refletividade de raios ultravioleta (SHEPHERD; GRIFFITHS, 2006). Segundo Holmes e

Keiller (2002), uma espessa camada de cera é mais eficaz nesse quesito do que tricomas

presentes na epiderme.

A estrutura física e composição química da cutícula e cera podem dificultar a fixação e

germinação de esporos fúngicos (GNIWOTTA et al., 2005; RINGELMANN et al., 2009), bem

como a proliferação de bactérias, prevenindo infecções por esses microrganismos (KOCH;

ENSIKAT, 2008). Também podem dificultar ou desestimular insetos herbívoros (BRENNAN;

WEINBAUM, 2001; REIFENRATH et al., 2005), afetar sua adesão às folhas (EIGENBRODE;

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JETTER, 2002; GORB; GORB, 2009) e inibir ou incitar oviposição (CERVANTES et al.,

2002; PEREIRA et al., 2013).

Com alta diversidade de ornamentações, resultado de grande variedade de constituição

química, a cera epicuticular mostra valor também para sistemática vegetal, constituindo caráter

taxonômico (BARTHLOTT; FRÖLICH, 1983; MEDINA et al., 2006).

5.1 Classificação morfológica da cera

O primeiro estudo compreensível sobre ceras epicuticulares foi publicado por De Bary

em 1871, que observou quatro categorias morfológicas analisando 60 espécies em microscopia

óptica (BARTHLOTT et al., 1998). Em 1967, agora com disponibilidade da microscopia

eletrônica de varredura, Amelunxen e colaboradores revisaram o trabalho anterior

(BARTHLOTT et al., 1998; KOCH; ENSIKAT, 2008). Com ampla análise a partir de 13 mil

espécies de angiospermas e gimnospermas, Barthlott et al. (1998) expandiram esse

conhecimento, reconhecendo 23 tipos morfológicos de cera. Numa revisão mais recente deste

trabalho, Jeffree (2006) destaca seis tipos principais dentre o grupo anterior.

O tipo mais básico é o filme, uma delgada camada sempre presente em adjacência à

cutícula, de forma solitária ou superposta por outra camada contínua mais espessa, por crostas

ou cristaloides. Esses últimos podem se apresentar como grânulos, placas e plaquetas,

filamentos, bastões e túbulos ocos (Figura 5) (KOCH; ENSIKAT, 2008).

Há ainda uma subclassificação baseada no arranjo formado pelos cristaloides, também

proposta por Barthlott et al. (1998), mas esses padrões não são observáveis com grande

frequência. Quando ocorrem, podem ser homogêneos em toda a epiderme, ou restritos a

estruturas como nervuras ou bases de tricomas.

Plaquetas podem se organizar em rosetas paralelas ou agrupadas. Túbulos e bastonetes

podem se formar a partir de um ponto em comum, bem como se agregarem longitudinalmente,

podendo formar chaminés estomáticas: longos cilindros que circundam estômatos. Isso também

pode acontecer com camadas contínuas e crostas (mais comum em xerófitas, enquanto as

chaminés de bastonetes são mais típicas de monocotiledôneas).

A associação de diferentes tipos de cristaloides também é possível, um fenômeno

denominado sintopismo (BARTHLOTT et al., 1998).

5.2 Origem bioquímica

A cutícula e a cera são sintetizadas pelas células epidérmicas (KUNST; SAMUELS,

2009). O processo depende da atividade coordenada de muitas enzimas, as quais se acredita que

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estejam organizadas em complexos multienzimáticos, em geral ainda não muito bem

identificados.

A cutina – principal componente da matriz cuticular – é um polímero de poliésteres

composto majoritariamente de ω-hidroxiácidos alifáticos de cadeia longa (C16 e C18), além de

glicerol e ácidos alcanoicos e cumáricos. Também contém resíduos de polissacarídeos,

compostos poliaromáticos e em alguns casos cutana – um composto alifático não esterificado.

A composição é variável entre órgãos e espécies. Mantem-se fixa à epiderme através de uma

rede de fibrilas de polissacarídeos, das quais pode ser separada por hidrólise enzimática

(GRAÇA; LAMOSA, 2010).

Figura 5 – Esquemas dos tipos mais comuns de classificação de cera epicuticular.

A: cera de camada lisa; B: cera com camadas fissuradas; C: cera do tipo crosta. Morfologia dos cristaloides: D:

grânulos; E: placas; F: plaquetas; G: filamentos; H: bastões; I: túbulos ocos. Na base de todos os tipos, a sempre

presente camada do tipo filme. Adaptado de Barthlott et al., 1998.

A cera é composta por diversas classes de substâncias: de forma ubíqua, ácidos graxos

de cadeia muito longa, álcoois primários, aldeídos, ésteres e, em concentrações menores,

alcanos. De maneira mais restrita a grupos taxonômicos, é possível citar larga ocorrência de

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álcoois secundários (muitas vezes associados a alcanodióis e cetóis), cetonas e β-dicetonas,

além de muitos outros compostos minoritários e menos frequentes. A presença de compostos

que fogem à definição química de ceras também foi relatada, a exemplo dos terpenoides

(JETTER et al., 2006; KOCH; ENSIKAT, 2008).

Diversos estudos indicam correlação entre a morfologia da cera epicuticular e sua

composição química (Quadro 1), enquanto diversas outras formas ainda não têm uma clara

relação estabelecida nesse sentido.

Quadro 1 - Relação entre morfologia da cera cuticlar foliar e sua composição química

Tipo/ornamentação Constituição química principal Referências

Filme Alcanos JETTER et al., 2000;

CAMERON et al., 2006

Túbulos Álcoois secundários

(principalmente nanocosan-10-ol);

β-dicetonas;

Alcanodióis;

δ-lactonas

JETTER; RIEDERER, 1999;

JEFFREE, 2006

Bastonetes Cetonas KOCH; ENSIKAT, 2008

Plaquetas Cetonas (e.g. Allium porrum L.,

Euphorbia spp.);

Álcoois primários (e.g. Triticum

spp. e Eucalyptus spp.);

Aldeídos (e.g. Saccharum

officinarum Salisb., Oriza sativa

L.)

KOCH et al., 2006b;

JEFFREE et al., 1975;

BAKER, 1982;

HAAS et al., 2001

Textura farinácea Flavonoides MABRY, 1973;

STAR et al., 1975;

TANAKA et al., 1992

Amorfa Terpenoides SALATINO et al., 1986

É importante ressaltar que a maioria dos estudos de caracterização qualitativa adveio da

análise de ceras extraídas por solvente, o que mistura a cera epicuticular e intracuticular

(KOCH; ENSIKAT, 2008); estas podem diferir em composição, como visto em Jetter et al.,

2000, quando se desenvolveram técnicas que permitem a extração diferenciada.

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A proporção e diversidade de compostos podem variar amplamente entre espécies

(JETTER; SCHÄFFER, 2001; JETTER et al., 2006), e daí resultaria a variação morfológica.

Até em nível intraespecífico é possível verificar variações, como resposta a diferentes

condições ambientais (e.g. disponibilidade de água (KIM et al., 2007a, b)). Barthlott et al.

(1998) se referem a esse tipo de fenômeno como polimorfismo. O comprimento das cadeias dos

compostos é outro fator que parece influir no aspecto morfológico: no trabalho de Rashotte e

Feldmann (1998) com Arabidopsis thaliana, compostos de cadeia curta se correlacionaram a

estruturas dendríticas e os de cadeia longa a estruturas em forma de guarda-chuva.

Ainda há mais fatores responsáveis pela estrutura dos cristaloides de cera, o que foi

demonstrado com estudos de recristalização sob diferentes condições (KOCH; ENSIKAT,

2008). A cera apresenta auto-organização, um processo geral de organização em sistemas

biológicos que resulta em estruturas bem definidas (BENYUS, 1997 apud KOCH; ENSIKAT,

2008).

Além da composição, outros quatro fatores determinam esse processo em nível

molecular: interações, reversibilidade, ambiente e transporte de massa / agitação (as moléculas

precisam ter mobilidade) (WHITESIDES; BONCHEVA, 2002). Sendo substrato, a matriz de

cutina que forma a cutícula é um fator influente na morfologia da cera (KOCH et al., 2006b);

contudo, suas exatas consequências na distribuição espacial e padrões de formação desta ainda

são desconhecidas (KOCH; ENSIKAT, 2008).

É possível também verificar correlação entre composição química da cera e a função

que ela exerce na planta. Oliveira e Salatino (2000) verificaram a preponderância de n-alcanos

em plantas da caatinga, e num estudo mais recente constataram que, juntamente com triterpenos

alcoólicos, este é o constituinte mais eficiente contra perda de água (OLIVEIRA et al., 2003).

Os autores ainda relataram que o aumento do teor de cera, embora verificado em condições de

estresse hídrico, não reduziu significativamente a evaporação.

Os mecanismos de transporte e deposição da cera também não estão bem esclarecidos:

não se sabe ao certo qual a rota que os ácidos graxos de cadeia longa e seus derivados tomam

no percurso citoplasmático, do retículo endoplasmático – onde se originam – até a membrana

plasmática; nem como esses componentes hidrofóbicos atravessam o ambiente hidrofílico da

parede celular (KUNST; SAMUELS, 2003, 2009). DeBono et al. (2009) evidenciam o

envolvimento de uma proteína transportadora de lipídios – LTPG – na exportação de cera em

A. thaliana através da parede. Contudo, o estudo realizado não permitiu concluir se ela possui

relação direta com o transporte; apesar do nome, é possível que atue como proteína regulatória

ou como responsável por criar condições favoráveis à exportação de lipídios, sem participar

diretamente da ação.

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5.3 Fatores ambientais X cera e cutícula

Como previamente mencionado, variações na morfologia, teor ou mesmo composição

da cera podem diferir dentro de uma mesma espécie, decorrentes de influência ambiental. A

umidade do ar pode afetar de forma inversa a quantidade de cera depositada e a densidade de

cristais nas folhas (KOCH et al., 2006a). O estresse hídrico pode induzir maior deposição (KIM

et al., 2007 a, b) ou mesmo aumento na concentração de ceras de alto peso molecular, que são

mais hidrofóbicas, reduzindo o potencial de escape hídrico (OOSTERHUIS et al.,1991).

Temperaturas mais amenas geralmente levam a uma relativamente maior produção de

cera, embora nem sempre seja esse o caso (REED; TUKEY, 1982; SHEPHERD et al., 1995).

Também podem direcionar alterações na composição química e morfologia; isso também pode

ser afirmado para o fator intensidade luminosa (SHEPHERD et al., 1995).

Agentes poluentes são outros potenciais modificadores das características das ceras, o

que evidencia seus efeitos prejudiciais à flora. A ação da chuva ácida é capaz de causar lesões

necrosantes nas folhas e provocar erosão da cera, também possivelmente afetando sua produção

e aumentando a afinidade da epiderme pela água (SANT’ANNA-SANTOS et al., 2006).

O antimônio (Sb) de aerossóis acelera o processo erosivo (TAKAMATSU et al., 2001).

O ozônio (O3) e o ácido nítrico (HNO3) são outros gases citados na literatura como

problemáticos para as ceras cuticulares, sendo ambos produzidos pelos mesmos processos

fotoquímicos (PADGETT et al., 2009). O primeiro parece afetar a formação de nova cera via

síntese de novo, possivelmente porque ocasiona degradação de membrana por oxidar ligações

duplas de ácidos graxos e grupos sulfidrila de proteínas (CARLSSON et al., 1994; HELLGREN

et al., 1995), afetando os plastídios nos quais a síntese ocorre (SHEPHERD; GRIFFITHS,

2006). A deposição de HNO3 na superfície da folha causa rachaduras, lesões e mudanças na

conformação da estrutura cristalina da cera epicuticular (PADGETT et al., 2009).

Na agricultura, o uso de agrotóxicos, tais como fungicidas, apresenta efeitos

semelhantes. Lichston e Godoy (2006) testaram o efeito da aplicação de fungicida em cultivares

de café (Coffea arábica L.) e observaram que este provocou diminuição de teor e rupturas na

cera, com desaparecimento de cristaloides. A diminuta área de contato entre a gotícula da calda

pulverizada de agrotóxicos e a superfície da cera epicuticular limita o potencial de difusão,

principal via de entrada da maioria das substâncias nas folhas (HULL, 1970). Assim, os

aspectos das superfícies foliares (topografia celular, morfologia da cera, tricomas e glândulas)

influenciam a deposição dos agrotóxicos nas folhas (PRICE, 1982).

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A redução da emissão de poluentes pode retardar o quadro nocivo, e mesmo permitir a

recuperação da cera; dessa forma, ela tem possibilidade de ser adotada como bioindicadora de

poluição atmosférica (BEDNAROVA, 2001).

***

Tendo em vista que a cutícula, bem como o teor e morfologia da cera, tem papel na

resistência do vegetal a fatores ambientais diversos, e considerando que isso se relaciona à

eficiência produtiva, torna-se interessante investigar tais características em espécies de interesse

econômico. Afinal, na agricultura é almejada a máxima produtividade, e isso é particularmente

importante na agricultura familiar, na qual cada família usualmente não dispõe de áreas muito

vastas disponíveis para cultivo.

A deficiência hídrica é uma das maiores causas de ineficiência agrícola (PIMENTEL;

HÉBERT, 1999). Fungos que infectam culturas de interesse econômico têm o potencial de

provocar grandes perdas e duros prejuízos, mas as medidas tomadas para contê-los também

podem ser prejudiciais. Ambos os temas são muito pertinentes ao cultivo de cártamo no

semiárido do Rio Grande do Norte, considerando a baixa disponibilidade hídrica e a presença

de fungos do gênero Alternaria no estado, com possibilidade de infecção dessa nova matriz

vegetal em potencial. A busca por soluções pouco agressivas ao ambiente também é sempre

relevante.

Dessa forma, objetivou-se neste trabalho verificar os efeitos de fungicidas alternativos

de baixa toxidez – extrato foliar de nim (Azadirachta indica) e calda bordalesa (sulfato de

cobre) – na espessura cuticular e na cera epicuticular foliar de Carthamus tinctorius. Pretendeu-

se testar a hipótese de que o tratamento com essas substâncias não afeta a mencionada defesa

natural da planta contra a penetração de agentes exógenos, na concentração e frequência

utilizadas. Os outros cenários possíveis seriam a ocorrência de influência, de forma positiva

(espessamento da cutícula e/ou aumento de cera epicuticular), ou negativa (redução da

espessura cuticular e/ou redução de cristais de cera). Tanto o efeito inerte (mantendo ação

apenas contra o fungo) quanto o acréscimo de defesa são indicativos para permitir recomendar

o uso de extrato de nim e/ou calda bordalesa em cártamo cultivado.

Entendendo a necessidade de uma abordagem interdisciplinar que envolva o objetivo

último do estudo dessa espécie, que é a inserção social, na expectativa de promover mais uma

opção de renda às famílias rurais do semiárido e consequente desenvolvimento socioeconômico

da região, acrescenta-se como objetivo o contato direto com agricultores, visando verificar a

aceitação da espécie e o seu conhecimento sobre defensivos agrícolas e meio ambiente.

Também é objetivo divulgar as características do cártamo para esse grupo através de uma

cartilha informativa, de modo a evidenciar seus potenciais.

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37

Em atendimento aos objetivos e conforme padronização estabelecida pelo

PRODEMA/UFRN, esta dissertação é composta por uma introdução geral, caracterização geral

da área de estudo, metodologia geral empregada para o conjunto da obra, e por dois capítulos

que correspondem a artigos científicos para publicação em periódicos indexados. O cap. 1,

intitulado “Fungicidas alternativos inócuos à morfoanatomia foliar de cártamo: extrato de nim

e calda bordalesa”, foi submetido à Revista Brasileira de Agroecologia (Anexo 1) e, portanto,

está formatado conforme este periódico (normas disponíveis no site <http://www.aba-

agroecologia.org.br/revistas/index.php/rbagroecologia/about/submissions>); o cap. 2,

intitulado “Receptividade de agricultores de Apodi-RN ao cultivo de cártamo e percepção sobre

defensivos agrícolas alternativos”, foi submetido à Rede – Revista Eletrônica do PRODEMA

(Anexo 2) e, portanto, está formatado conforme este periódico (normas no site

<http://www.revistarede.ufc.br/revista/index.php/rede/about/submissions#authorGuidelines>).

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38

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O cultivo experimental deste trabalho foi realizado na Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ-

UFRN), município de Macaíba/RN, a 14 km de Natal, capital do estado (Figura 6) oferecendo

proximidade favorável à logística do trabalho. O município pertence à microrregião de Macaíba

(temperatura média: 27,1°C, precipitação anual: 1.070,7 mm, umidade relativa média anual:

76%, horas de insolação: 2.700, solos tipos Podzólico Vermelho Amarelo Abrúptico Plinthico

e Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico (IDEMA-RN, 2013). A definição do local se deu

pela disponibilidade de área e proximidade favorável à logística do trabalho.

A comunidade de agricultores a ser consultada localiza-se em Apodi/RN, microrregião

da Chapada do Apodi, a 328 km da capital (Figura 6), caracterizada na principal área de

interesse à introdução da cultura do cártamo, o semiárido. De acordo com o IDEMA (2008), o

solo da região é do tipo Podzólico Vermelho Amarelo Equivalente Eutrófico, com aptidão

restrita para lavouras e apto para culturas de ciclo longo, regular e restrito para pastagem natural.

Figura 6 - Mapa de limites municipais do estado do Rio Grande do Norte

Em laranja, município de Apodi; em azul, município de Macaíba. Adaptado de:

<http://www.mapasparacolorir.com.br/mapa/estado/rn/estado-rio-grande-do-norte-municipios.jpg>.

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METODOLOGIA GERAL

1 Trabalho de campo

1.1 Cultivo de Carthamus tinctorius L.

O cultivo de cártamo foi realizado em campo no mês de janeiro de 2014. Amostras de

solo da área foram analisadas para determinar a composição química (cálcio = 1,32 cmolc dm³,

magnésio = 0,59 cmolc, alumínio = 0,0 cmolc, hidrogênio + alumínio = 1,26 cmolc, fósforo =

= 7 cmolc, potássio = 56 cmolc, sódio = 11 cmolc, pH = 6,18). Com base nessa análise,

procedeu-se com adubação de base com os fertilizantes superfosfato, FTE BR 12, ureia e cloreto

de potássio. Na adubação de cobertura (30 dias após o cultivo) empregou-se ureia e cloreto de

potássio.

As sementes foram plantadas em nove parcelas de 2,5 x 2,4 m, equivalentes a três

tratamentos (um deles o controle) em três repetições, espaçadas entre si por 2,5 m e dispostas

em quadrado latino. Totalizaram-se em cada parcela seis linhas espaçadas em 0,5 m, cada uma

com 13 covas espaçadas em 0,2 m (Figura 7). Em cada cova plantou-se em torno de 15 a 20

sementes para se garantir ampla germinação. Com as plântulas estabelecidas, efetuou-se o

desbaste, de modo a serem mantidos três indivíduos por cova. A área foi irrigada por aspersão,

duas vezes por semana. Como bordadura do cultivo, foi plantado milho (Zea mays L.).

Em casos previsão de chuva, uma cobertura plástica era montada sobre as parcelas para

evitar a lavagem imediata dos tratamentos durante a noite, e removida na manhã seguinte.

1.2 Tratamentos

As aplicações dos tratamentos foram iniciadas 35 dias após a germinação, consistindo

em aplicações por pulverização em via foliar, na seguinte frequência:

Aplicações semanais de água (controle);

Aplicações semanais de extrato foliar de nim (Azadirachta indica A. Juss.) a 20% (m/v)

(CARNEIRO, 2003);

Aplicações quinzenais de produto à base de sulfato de cobre equivalente à calda

bordalesa (nome comercial Cupro Dimy), diluído em água à proporção de 5 g/L

(diluição e frequência de aplicação conforme indicação do fabricante).

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1.3 Preparo e aplicação do extrato de nim

O extrato foi elaborado com folhas coletadas de três matrizes, no dia anterior a cada

aplicação. Realizou-se a pesagem de massa fresca, que foi então triturada em multiprocessador

e diluída em água à proporção de 20%, deixando-se descansar por 12 horas (CARNEIRO, 2003

(modificado)).

Após esse período, o extrato foi coado em tecido e acondicionado ao abrigo da luz e

calor, em razão da sensibilidade dos princípios ativos. Por esse mesmo motivo, as pulverizações

foram realizadas ao final do período vespertino, totalizando quatro aplicações ao longo do

experimento.

A opção pela periodicidade semanal é dada pelo caráter biodegradável dos princípios

ativos, que persistem no máximo por cinco a sete dias (SCHMUTTERER, 1990); um período

de meia-vida em torno de três dias (SARAIS et al., 2009).

Figura 7 - Croqui com delineamento do experimento em campo

A: Esquema de uma parcela experimental, com cada círculo representando uma cova plantada. Os círculos em

cinza foram considerados área de borda e desconsiderados para coleta. B: Esquema geral das nove parcelas

montadas para o experimento. As indicações em cada quadrado representam a distribuição dos diferentes

tratamentos: H20: controle (água); CuSO4: calda bordalesa (sulfato de cobre); Nim: extrato foliar de Azadirachta

indica a 20% (m/v). C: fotografia com visão geral do experimento em campo.

1.4 Coleta de amostras

As coletas foram realizadas aos 0, 15, 30 e 45 dias, relativos à primeira pulverização

dos tratamentos.

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Desprezando-se as duas linhas de cultivo mais externas (consideradas como bordadura),

dois indivíduos distintos de cada parcela foram aleatoriamente selecionados a cada coleta,

sendo retiradas folhas, acondicionadas nas seguintes condições:

Em frascos com etanol 70%, para fixação e preparação de lâminas histológicas.

Em sacos de papel perfurados, para dessecação natural e análise em microscopia

eletrônica de varredura.

2 Técnicas para análise em microscopia óptica

Foram feitas secções transversais à mão livre das folhas coletadas, para preparação de

lâminas histológicas semipermanentes. Os cortes obtidos foram submetidos a diferentes

reagentes citoquímicos, a fim de produzir coloração para diferenciação tecidual e análise

histoquímica (KRAUS; ARDUIN, 1997).

2.1 Evidenciação de tecidos e caracterização anatômica

Cortes destinados a essa finalidade foram clarificados em hipoclorito de sódio (NaClO)

1% (m/v), lavados em água destilada, corados com soluções aquosas de Azul de Alcian 1%

(m/v) e Safranina, e lavados em água destilada novamente. Em seguida, foram transferidos

brevemente para etanol 80% (v/v) acidificado e então etanol 100% (v/v), para diferenciação dos

corantes e fixação (LUQUE et.al., 1996 - modificado). Retornaram à água destilada e então

foram montados entre lâmina e lamínula em solução de glicerina 50% (v/v) (KRAUS;

ARDUIN, 1997).

Os cortes foram fotografados em microscópio com câmera acoplada (modelo Nikon

Eclipse Ni-U).

2.2 Verificação de compostos fenólicos e reservas de amido

Para a identificação de compostos fenólicos (substâncias de defesa química), cortes

histológicos foram montados em lâmina contendo solução de glicerina 50% (v/v) e gotas de

cloreto férrico 10% (m/v). Para verificar amido (substância de reserva energética),

procedimento similar foi realizado, substituindo-se o cloreto férrico por lugol 5% (m/v)

(KRAUS; ARDUIN, 1997).

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2.3 Evidenciação de cutícula epidérmica e outras substâncias lipídicas

Os cortes foram colocados em etanol 50% (v/v) por 30 min, transferidos para etanol

70% (v/v) por 30 min, e então para o corante sudan III, por mais 30 min. Após o processo,

foram montados em lâmina com solução de glicerina 50% (v/v) (KRAUS; ARDUIN, 1997 -

modificado).

3 Medição e análise de espessura cuticular

As lâminas coradas com sudan III foram fotografadas em microscópio trinocular

(modelo Nikon Eclipse 2000) com câmera (modelo Canon PowerShot A3200 IS) em suporte

adaptado. Com as imagens obtidas, procedeu-se à medição de espessura cuticular com o auxílio

do programa ImageJ (v1.48). A calibração das medidas foi feita com o auxílio de lâmina

graduada, fotografada nas mesmas condições.

Foram realizadas 18 medições de cutícula por cada face foliar (abaxial e adaxial) para

cada repetição de tratamento, sendo três cortes com três medições de localização padronizada:

nervura central e mesofilo em ambas as laterais. As médias das medições no tempo final dos

tratamentos (quarta coleta) foram comparadas através de análise de variância (ANOVA one

way) a 5% de probabilidade (software GraphPad Prism V5) para verificar se houve diferença

estatisticamente significativa na espessura cuticular entre tratamentos. O teste foi também

realizado entre as médias iniciais para verificar se havia diferença anterior aos tratamentos.

4 Análise morfológica da cera epicuticular

As folhas desidratadas por secagem natural, durante período de oito meses, foram

analisadas e fotografadas em microscópio eletrônico de varredura (MEV) de bancada (modelo

Hitachi TM-3000), no Laboratório de Difração e Fluorescência de Raios X, Departamento de

Engenharia de Materiais da UFRN, com tensão de aceleração de 5 e 15 kV e ampliações de 250

a 2 mil vezes. Foi observada a morfologia da cera epicuticular, com a comparação das três

condições em estudo (controle, uso do extrato de nim e uso do sulfato de cobre), nas duas faces

foliares, ao longo do tempo das quatro coletas realizadas.

5 Pesquisa de aceitação da cultura do cártamo e percepção sobre uso de agrotóxicos

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com agricultores de Apodi-RN,

associados à Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável

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(COOPAPI), que possui um total de 222 cooperados. A amostragem utilizada foi não

probabilística por acessibilidade, aproveitando a ocasião de reunião ordinária dos agricultores.

Foram entrevistadas 45 pessoas no mês de dezembro de 2014, representando 20% do grupo

total.

As perguntas seguiram roteiro consistente do levantamento de informações gerais dos

participantes (gênero, faixa etária, estado civil, local de residência e formação escolar), seguido

de 12 questões contemplando o perfil atual da agricultura local, conhecimento e aceitabilidade

da cultura do cártamo, incentivo governamental para a produção de biodiesel, e percepção

quanto ao uso de agrotóxicos e soluções alternativas para controle de pragas e doenças

(Apêndice A). O questionário foi adaptado a partir do trabalho de Bezerra et al. (2011).

Os dados obtidos foram tabulados em termos percentuais e representados em gráficos

construídos no software Microsoft® Excel 2013, servindo de base para análise, em conjunto

com a percepção dos entrevistadores sobre o discurso dos agricultores.

5.1 Material gráfico de divulgação

Após a entrevista, cada participante recebeu uma amostra de sementes de cártamo e uma

cartilha ilustrada, intitulada “Cártamo: alternativa para cultivo no semiárido” (Apêndice B),

elaborada pelo mestrando, contendo informações básicas sobre a cultura, incluindo usos

potenciais (EMONGOR, 2010; PEREIRA, 2013), manejo básico e resultados da pesquisa

experimental desenvolvida nesta dissertação e em outros trabalhos com cártamo do Laboratório

de Investigação de Matrizes Vegetais Energéticas – LIMVE/UFRN e parceiros.

Para possuir ampla acessibilidade, a linguagem da cartilha é simples, com texto curto

apoiado por elementos visuais.

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CAPÍTULO 1

Fungicidas alternativos inócuos à morfoanatomia foliar de cártamo: extrato de nim e

calda bordalesa

Alternative fungicides innocuous to safflower leaf morphoanatomy: neem extract and

Bordeaux mixture

SOUSA, Emanuel Araújo de Macêdo¹; LICHSTON, Juliana Espada²

ESTE ARTIGO ESTÁ SUBMETIDO AO PERIÓDICO REVISTA BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA E,

PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA

(acessar: <www.aba-agroecologia.org.br/revistas/index.php/rbagroecologia/about/submissions>)

1 - Graduado em Ciências Biológicas e mestrando do Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento

e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências,

Natal/RN, [email protected]; 2 - Bióloga, Mestre em Ciências e Doutora em Biologia Comparada, Docente

do Departamento de Botânica e Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN,

[email protected].

Resumo

A busca por modelos de desenvolvimento sustentável tem levado ao interesse por alternativas

de produtos menos poluentes, como o uso de biocombustíveis e práticas agrícolas sem o

emprego de agrotóxicos. O cártamo é uma potencial matriz vegetal para produção de biodiesel,

sendo interessante investigar defensivos ecologicamente aceitáveis e seus efeitos na planta.

Estudou-se o efeito de extrato foliar de nim a 20% (m/v) e calda bordalesa (solução à base de

sulfato de cobre) na anatomia foliar e espessura cuticular do cártamo, pulverizados em parcelas

experimentais em campo, com triplicatas. As análises de microscopia óptica e eletrônica de

varredura, bem como as medições de cutícula não mostraram diferença significativa na

anatomia foliar e espessura cuticular, resultado considerado desejável.

Palavras-chave: Azadirachta indica A. Juss.; Carthamus tinctorius L.; sulfato de cobre;

biodiesel.

Abstract

The search for sustainable development models is leading to interest in less pollutant material

alternatives, such as the use of biofuels and practices in agriculture without toxic pesticides.

The safflower is a potential crop for biodiesel production, and therefore there is interest in

investigate ecologically acceptable pesticides and their effect on the crop. In this paper, there

were studied the effects of neem leaf extract at 20% (m/v) and Bordeaux mixture (copper

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sulfate-based solution) in leaf anatomy and cuticle thickness of safflower, pulverized on

triplicated field experimental plots. Optical and scan electron microscopy analyses, as well as

cuticle measurements showed no significant difference in anatomy and cuticle thickness, a

result considered desirable.

Keywords: Azadirachta indica A. Juss.; Carthamus tinctorius L.; copper sulfate; biodiesel.

Introdução

A substituição da predominante racionalidade econômica por uma ambiental (LEFF,

2009) é um dos grandes desafios contemporâneos. Isso significa pôr em prática modelos de

desenvolvimento sustentável, que levam em conta a preservação dos recursos naturais e o bem-

estar social de todos ao lado do ganho de capital.

O modelo atual de desenvolvimento depende fortemente de uma matriz energética

concentrada na queima de combustíveis fósseis: petróleo, carvão e gás natural. Diante dos

problemas ambientais que isso gera, a energia proveniente de biomassa tem se apresentado

como alternativa interessante, sendo os biocombustíveis considerados como sua melhor opção

de uso (GOLDEMBERG, 2009).

O biodiesel é um biocombustível que tem sido alvo de pesquisa em todo o mundo nos

últimos anos, voltado para o abastecimento de motores veiculares, substituindo ou

complementando o diesel de petróleo. Sua grande vantagem é a redução da emissão de gases

de efeito estufa, sendo um produto tecnicamente exequível e comercialmente competitivo

(DEMIRBAS, 2009). O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) e o Selo

Combustível Social do Governo Federal envolvem a agricultura familiar nessa importante

cadeia produtiva, promovendo desenvolvimento socioeconômico em diversas regiões

(ABRAMOVAY; MAGALHÃES, 2007).

O formato flexível do PNPB incentiva o investimento em fontes diversas de matéria-

prima para o biocombustível, incluindo variadas culturas vegetais. O cártamo (Carthamus

tinctorius L., Asteraceae) é uma potencial adição a esse rol. A planta originária da Ásia chega

a 150 cm de altura e tem ciclo de vida de cerca de 140 dias. Tem boa tolerância a estresse

hídrico e salino, temperaturas elevadas e baixa umidade relativa do ar (DAJUE; MÜNDEL,

1996), o que indica aptidão a cultivo até mesmo no semiárido do Nordeste brasileiro.

O teor de óleo nas sementes varia entre 20% e 45% (DAJUE; MÜNDEL, 1996; EKIN,

2005; CARVALHO et al., 2006; HAN et al., 2009). 70-75% desse óleo é constituído por ácido

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linoleico e 20% por ácido oleico (VIVAS, 2002; HOEKMAN et al., 2012). Isso torna a espécie

interessante para o biodiesel qualitativa e quantitativamente.

Para o sucesso da introdução do cártamo, é importante verificar estratégias para o

controle de pragas e doenças ocorrentes na região (neste caso, o Nordeste). Verificou-se que a

espécie é suscetível ao fungo Alternaria helianthi (Hansf.) Tubaki & Nishih., 1969, que na

região afeta o girassol (Helianthus annuus L.), uma outra Asteraceae (ALLEN et al., 1983;

FREIRE, 2009). A mancha de alternária é propagada por via aérea e causa lesões necróticas nas

folhas (TÖFOLI; DOMINGUES, 2004).

Para buscar a prevenção da doença e evitar perda da produção dentro de uma perspectiva

sustentável, é preciso adotar soluções que fujam ao uso de agrotóxicos, principalmente

considerando que não existe recomendação, por parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, de um produto específico para essa cultura.

A calda bordalesa é um tradicional fungicida de contato à base de sulfato de cobre II

(CuSO4) e cal hidratada (Ca(OH)2), que é aceito na agricultura orgânica por oferecer baixo risco

à saúde (classe toxicológica IV). A mobilização do cobre no solo é pequena, o que reduz seu

espalhamento como contaminante, mas sua persistência pode acabar levando ao acúmulo local

em níveis nocivos após pulverizações sucessivas (FELIX, 2005). Seu uso em excesso também

pode prejudicar as plantas, pela capacidade de inibir a fotossíntese com a destruição de

cloroplastos, afetando a atividade do fotossistema II e a biossíntese de clorofila (PETIT et al.,

2012).

Outra potencial solução reside em produtos orgânicos, como extratos vegetais. O nim

indiano (Azadirachta indica A. Juss., Meliaceae) é uma planta de fácil acesso com grande

potencial de combate a pragas e doenças. Essa ação se deve a compostos limonoides,

principalmente a azadiractina A, encontrada nas folhas e, em maior abundância, nas sementes

(OGBUEWU et al., 2011). Tais moléculas são facilmente biodegradáveis, com efeito residual

permanecendo por até cinco a sete dias (SCHMUTTERER, 1990). Existem relatos da eficiência

de extratos de nim contra fungos do gênero Alternaria, induzindo resistência da planta pela

produção de compostos fenólicos (GULERIA; KUMAR, 2006), ou inibindo a germinação de

esporos (MESTA et al., 2009).

Substâncias aplicadas por pulverização entram em contato com as folhas das plantas,

mais especificamente com sua interface: a cutícula, que também secreta uma camada de cera

epicuticular. Essas estruturas protegem o vegetal contra a perda de água e contra a entrada de

substâncias e patógenos. Podem ser altamente influenciadas pelo ambiente, alterando em

espessura e morfologia (ESPADA, 2002). Como isso reflete nas defesas do vegetal e na

retenção de água, seu estudo torna-se interessante.

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No presente trabalho testou-se a hipótese de que tratamentos com os fungicidas

alternativos — calda bordalesa e extrato foliar de nim — não comprometem a integridade

estrutural (espessura cuticular, morfologia epicuticular, anatomia e histoquímica) de folhas de

cártamo, com base na premissa de serem produtos pouco tóxicos e agressivos.

Material e métodos

Sementes de cártamo foram plantadas em campo no mês de janeiro de 2014, em área

cedida pela Escola Agrícola de Jundiaí, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(município de Macaíba-RN, a 14 Km da capital, Natal). A composição química do solo foi

analisada como tendo: 1,32 cmolc dm³ de cálcio, 0,59 cmolc de magnésio, 0,0 cmolc de

alumínio, 1,26 cmolc de hidrogênio + alumínio, 7 cmolc de fósforo, 56 cmolc de potássio, 11

cmolc de sódio e pH = 6,18. Foi realizada adubação de base com os fertilizantes superfosfato,

FTE BR 12, ureia e cloreto de potássio. Na adubação de cobertura (30 dias após o cultivo)

empregou-se ureia e cloreto de potássio.

O cultivo foi realizado em nove parcelas equivalentes a três repetições de três

tratamentos, dispostas espacialmente em quadrado latino (Figura 1). Em cada parcela havia seis

linhas espaçadas em 0,5 m, cada uma com 13 covas espaçadas em 0,2 m. Em cada cova plantou-

se em torno de 15 a 20 sementes para se garantir ampla germinação (observou-se taxa de

97,5%). Efetuou-se posteriormente o desbaste, mantendo três indivíduos por cova. A área foi

irrigada por aspersão, duas vezes por semana. Foi plantado milho (Zea mays L.) como

bordadura do cultivo. O controle de plantas daninhas foi feito por capina manual, sempre que

necessário.

Iniciaram-se os tratamentos 35 dias após a germinação, consistindo em aplicações por

pulverização em via foliar, sempre em suas respectivas parcelas, de calda bordalesa (produto à

base de sulfato de cobre, formulação comercial “Cupro Dimy”, diluído em água a 5 g/L

conforme instrução do fabricante), extrato foliar de nim a 20% (massa fresca / volume) e água

(controle). A pulverização de água e a do extrato de nim foram realizadas semanalmente

(CARNEIRO, 2003); o sulfato de cobre foi pulverizado quinzenalmente, conforme

recomendação do fabricante. O procedimento foi realizado sempre ao final da tarde, evitando

períodos intensos de luz e calor. Uma cobertura plástica abrigava as plantas durante a noite para

evitar possível contato com chuva, sendo removida na manhã seguinte.

O extrato de nim foi preparado com folhas coletadas de três matrizes, no dia anterior a

cada aplicação. Realizou-se a pesagem de massa fresca, que foi então triturada e diluída em

água à proporção de 20%, descansando por 12 h antes de ser coada (CARNEIRO, 2003

(modificado)).

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Realizaram-se quatro coletas quinzenais, a partir do momento anterior à primeira

aplicação dos tratamentos (t = 0, 15, 30 e 45 dias). Folhas de plantas foram selecionadas

aleatoriamente para cada parcela (sendo as duas linhas mais externas desprezadas como borda).

Amostras para análise histológica foram fixadas em etanol 70%; amostras para análise da

morfologia da cera foram acondicionadas em sacos de papel perfurados e secas naturalmente

ao longo de oito meses.

Para caracterização anatômica e histoquímica, foram feitos cortes histológicos

transversais e paradérmicos à mão livre para microscopia, com coloração em safranina e azul

de alcian para evidenciação dos tecidos vegetais, lugol para amido e cloreto férrico para

compostos fenólicos (KRAUS; ARDUIN, 1997).

Usou-se o corante sudan III para evidenciar lipídios e a cutícula foliar (KRAUS;

ARDUIN, 1997), fotografada em microscópio óptico e medida sua espessura com auxílio do

software ImageJ v1.48. Mediram-se faces foliares abaxial e adaxial em três cortes, com três

medidas em pontos padronizados em cada corte. As médias das medidas para cada face foliar

na coleta final foram comparadas por análise de variância (ANOVA one way) a 5% de

probabilidade para verificar se diferiam entre si significativamente. O teste foi também

realizado para as médias iniciais, de modo a verificar se havia diferenças prévias aos

tratamentos.

As folhas desidratadas por secagem natural foram analisadas em microscópio eletrônico

de varredura (MEV) de bancada (Hitachi TM-3000), com tensão de aceleração de 5 e 15 kV e

ampliações de 250 a 2 mil vezes. A morfologia da cera epicuticular foi comparada entre os

tratamentos, nas duas faces foliares, ao longo das quatro coletas realizadas.

Resultados e discussão

As folhas de cártamo não diferiram na anatomia interna entre os tratamentos. A

epiderme é unisseriada, com células tabulares a irregulares e estômatos anomocíticos presentes

em ambas as faces (Figura 2). Tricomas tectores pluricelulares foram observados

ocasionalmente, tanto na face abaxial quanto adaxial, especialmente na nervura central, que é

biconvexa (Figura 2-A) ou côncavo-convexa. Nessa mesma região são observadas camadas de

colênquima abaixo da epiderme, seguida de parênquima, e então três feixes vasculares distintos.

Também é notável em algumas amostras (independentemente de tratamento) a presença de uma

grande cavidade ao centro da nervura (Figura 2-A).

O mesofilo é dorsiventral a isolateral, com duas a três camadas de parênquima

paliçádico (Figura 2-B), uma característica frequentemente atribuída a plantas adaptadas a

ambientes xéricos (APEZZATO-DA-GLÓRIA; GUERREIRO, 2006). Frequentemente essas

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células não se apresentam com grande alongamento e arranjo uniforme, e podem adentrar a

nervura central. Nelas também se observou abundante presença de conteúdo celular, inerte aos

reagentes utilizados (Figura 2-B). O parênquima lacunoso corresponde a quatro ou cinco

camadas de células, sem a mesma abundância de conteúdo celular visível.

Imersos no parênquima, sempre acompanhando os feixes vasculares em todas as

nervuras, ocorrem ductos delimitados por células de paredes delgadas (Figura 2-A, B, E, F;

Figura 4-H). O conteúdo observado no interior dessas estruturas reage ao sudan III, indicando

constituição majoritariamente lipídica (Figura 2-E). Ductos e feixes separam-se por uma

camada de endoderme. Segundo Fonseca et al. (2006), cavidades secretoras como essas têm

sido identificadas em plantas de vários gêneros da família Asteraceae, o que lhes confere caráter

taxonômico.

Não se observou concentração de amido ou compostos fenólicos no controle e

tratamentos.

A cutícula possui formato serreado com estrias de cera epicuticular, na região da nervura

central, e é delgada por toda sua extensão na folha em todos os casos observados (figura 2-G).

Esse aspecto não reflete a boa adaptabilidade a ambientes de alta temperatura e baixa

disponibilidade de água; plantas adaptadas a ambientes áridos ou semiáridos tendem a ter

cutícula mediana ou espessada. Uma cutícula espessa pode dificultar a perda de água

(APEZZATO-DA-GLÓRIA; GUERREIRO, 2006), e a cera a ela inerente ajuda a controlar a

temperatura no interior da folha, bem como refletir radiação ultravioleta (SHEPHERD;

GRIFFITHS, 2006).

O estresse hídrico provoca no cártamo redução da espessura foliar total, bem como da

epiderme, o que parece refletir diretamente na produtividade da planta (BAHRAMI et al.,

2013). No geral, essa espécie rústica tende, em situações de temperatura mais elevada, a acelerar

seu ciclo reprodutivo, priorizando o preenchimento de sementes em vez de estratégias para

ampliar a retenção de água. Rocha (2005) observou grande diferença entre a duração do ciclo

do cártamo cultivado durante o outono-inverno (142 dias) e a primavera-verão (74 dias).

Apesar da espessura cuticular ser pequena, a parede periclinal externa das células da

epiderme (abaixo da cutícula) é notavelmente mais espessa do que as demais, possivelmente

compensando em alguma extensão a fina cutícula nas funções mencionadas.

Ao se comparar a espessura cuticular sob os tratamentos avaliados, não se observou

diferença significativa entre tratamentos, nem para a face adaxial (p = 0,5051; F = 0,7669), nem

para a abaxial (p = 0,29; F = 1,49) (Figura 3). Ao comparar as médias das medidas no tempo

anterior ao início dos tratamentos, a análise constou diferença significativa para a face adaxial

(p = 0,0161; F = 8,874). Pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, diferiram os grupos

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equivalentes ao controle e ao tratamento com o extrato de nim. Como o desvio dessas medições

foi elevado e o perfil da distribuição manteve-se ao término do experimento (Figura 3),

considerou-se que não houve de fato influência do tratamento na espessura cuticular. As faces

foliares opostas também não diferem entre si dentro de um mesmo tratamento.

A análise morfológica da cera epicuticular também não mostrou diferenças entre

tratamentos, tempo ou face foliar. A cera observada é do tipo filme, com pequenas crostas

salientes em alguns pontos, sendo uma camada majoritariamente lisa e sem presença de

cristaloides (Figura 4) (BARTHLOTT et al., 1998). Esse tipo de cera muitas vezes é constituído

de forma majoritária por alcanos. Em muitas espécies da caatinga há abundância de n-alcanos,

que possuem alta eficiência contra perda de água (OLIVEIRA et al., 2003). Esse pode ser um

fator que contribui para o cártamo ter boa tolerância a regiões áridas.

Em estudos com agrotóxicos encontram-se relatos de redução da cutícula e alteração

estrutural da cera, como é o caso de um fungicida à base de oxicloreto de cobre, testado em

folhas de café (ESPADA, 2002). Isso pode significar diminuição da defesa natural da planta à

entrada de substâncias e patógenos, tornando-a mais dependente do produto aplicado, bem

como mais vulnerável ao próprio, que pode ser absorvido e se distribuir pelas folhas e outros

órgãos, chegando inclusive a frutos e sementes (FANTKE et al., 2013). Nesse sentido, tanto o

extrato foliar de nim quanto o sulfato de cobre não causam prejuízo ou benefício direto ao

organismo vegetal, na concentração e frequência avaliadas. Considera-se que esse aspecto é

satisfatório, pois ao menos se isenta de causar impacto negativo na planta quanto às dimensões

observadas.

Conclusões

Os resultados do presente trabalho sugerem que os fungicidas extrato de nim e calda

bordalesa, nas concentrações avaliadas, não alteram a integridade estrutural das folhas de

Carthamus tinctorius.

São necessários mais estudos para verificar se o comportamento se mantém em outras

concentrações do extrato de nim e do sulfato de cobre, bem como em outras variações de

condições de preparo e de ambiente — com foco especial em áreas de semiárido, às quais se

sugere o cultivo do cártamo voltado para produção de matéria-prima para o biodiesel.

Também é interessante que se aborde a incisão de fungos do gênero Alternaria na

cultura do cártamo em estudos consecutivos, sob as condições ambientais da região de interesse

econômico — em perímetro controlado e em campo — com avaliação de parâmetros como

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severidade de sintomas e eficiência percentual dos fungicidas alternativos na prevenção e/ou

inibição da patologia.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Capes e ao Programa Regional de Pós-graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente — Subprograma UFRN pela concessão de bolsa de

mestrado Demanda Social ao primeiro autor.

À Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ-UFRN), pela área cedida ao experimento.

Ao Dr. Danyhelton Douglas Farias Dantas pelo suporte estatístico.

Ao Prof. Dr. Edson Ito, do Departamento de Engenharia de Materiais da UFRN, pela

concessão de uso do microscópio eletrônico do Laboratório de Difração e Fluorescência de

Raios X.

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Figura 1 – Delineamento geral do experimento de campo.

A: Esquema detalhado de uma parcela experimental. Círculos representam covas cultivadas,

sendo os pretos utilizados nas análises e os cinzas desprezados como borda; B: Esquema geral

de distribuição das parcelas experimentais em quadrado latino. CuSO4: tratamento com

composto à base de sulfato de cobre (calda bordalesa); H2O: controle pulverizado com água;

Nim: tratamento com extrato foliar de Azadirachta indica (20% m:v (massa fresca)).

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Figura 2 – Secções histológicas de Carthamus tinctorius L.

A-D, F: coloração com azul de alcian e safranina; E, G: coloração com sudan III; H: sem

coloração histoquímica. A: nervura central, com três feixes vasculares e cavidade (*); B: detalhe

do mesofilo, parênquima paliçádico com conteúdo celular em abundância; C: epiderme adaxial

em secção paradérmica, evidenciando estômatos anomocíticos; D: detalhe com tricoma

glandular na região da nervura central; E: Ducto com conteúdo corado por sudan III

(composição lipídica); F: ducto em vista longitudinal no mesofilo; G: cutícula destacada pela

coloração com sudan III; H: esporo de Alternaria (circulado). (Xi: xilema, Fl: floema, Co:

colênquima, PP: parênquima paliçádico, PL: parênquima lacunoso, Ep: epiderme, Tr: tricoma,

Es: estômato, setas pretas: ductos, setas vermelhas: cutícula).

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Figura 3 – Médias das medidas de espessura cuticular nas duas faces foliares de cártamo,

para cada tratamento aplicado

A: face foliar adaxial; B: face foliar abaxial. Círculos preenchidos (●): controle (pulverização

com água), círculos abertos (○): tratamento com extrato foliar de nim; quadrados abertos (□):

tratamento com calda bordalesa (sulfato de cobre).

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Figura 4 – Eletromicrografias de folhas de Carthamus tinctorius L.

A: 0 dia (prévia à aplicação de tratamentos), face abaxial; B: controle (pulverização com água),

15 dias, face abaxial; C: tratamento com extrato foliar de nim, 45 dias, face adaxial; D:

tratamento com CuSO4, 45 dias, face abaxial; E: controle, 30 dias, face abaxial. Detalhe

evidenciando estômato, com penetração de hifa de fungo (seta); F: tratamento com CuSO4, 45

dias, face abaxial. Detalhe de estriamento da nervura central; G: 0 dia, corte transversal

evidenciando os elementos de vaso (EV) do xilema; H: tratamento com extrato de nim, 30 dias,

corte transversal evidenciando ducto (+) no mesofilo. (*): estômatos.

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CAPÍTULO 2

CARACTERIZAÇÃO DOS AGRICULTORES DE UMA COOPERATIVA DE

APODI-RN, RECEPTIVIDADE AO CULTIVO DE CÁRTAMO E PERCEPÇÃO

SOBRE AGROTÓXICOS E ALTERNATIVAS

CHARACTERIZATION OF FARMERS IN A COOPERATIVE FROM APODI-RN

(BRAZIL), RECEPTIVITY TO THE SAFFLOWER CROP AND PERCEPTION ON

PESTICIDES AND ALTERNATIVES

Emanuel Araújo de Macêdo Sousa¹; Juliana Espada Lichston² ¹Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, PRODEMA-UFRN, Brasil/ e-mail: [email protected];

² Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Brasil/ Professora do Departamento de Botânica e

Zoologia/ Doutora em Biologia Comparada, USP-Ribeirão Preto ESTE ARTIGO SERÁ SUBMETIDO AO PERIÓDICO REDE – REVISTA ELETRÔNICA DO PRODEMA

E, PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA

(acessar: <http://www.revistarede.ufc.br/revista/index.php/rede/about/submissions#authorGuidelines>)

RESUMO

As mudanças climáticas impulsionam a busca por fontes sustentáveis ao desenvolvimento

humano. Dentre elas está a substituição de combustíveis fósseis pelos oriundos de biomassa,

como o biodiesel. O cártamo é uma planta com potencial de se tornar matéria-prima para

produção desse combustível no semiárido nordestino, sendo interessante para a agricultura

familiar, como impulso ao desenvolvimento socioeconômico local e regional. Objetivou-se

verificar aceitabilidade de agricultores de uma cooperativa de Apodi-RN quanto a essa

possibilidade, apresentando cartilha com informações da espécie e trabalhos com ela realizados.

Também se verificou a percepção sobre uso de defensivos agrícolas alternativos a agrotóxicos.

Para tanto, conduziram-se entrevistas semiestruturadas. Os participantes foram receptivos à

cartilha e à possibilidade de cultivo, estando atualmente num cenário pouco diverso em culturas,

frágil ante estiagens e pragas, apesar de considerarem que as espécies atuais oferecem boa

lucratividade. Houve amplo reconhecimento da importância dos defensivos alternativos,

principalmente justificados pela segurança à saúde.

Palavras-chave: Agricultura familiar, Carthamus tinctorius, semiárido

ABSTRACT

Climate changes urge a search for sustainable sources for human development. Among them,

there is the fossil fuels replacement for biomass-originated ones, such as biodiesel. Safflower

is a crop with potential to use as raw material for biodiesel in Brazilian northeastern semiarid

region, being interesting for family farming, as a way to promote local socioeconomic

development. It was aimed to verify if farmers from a cooperative in Apodi, Rio Grande do

Norte state, would accept this possibility, while presenting a booklet with facts and research

info about the species. It was also verified their perception on alternative pesticides over the

conventional, chemical ones. The participants were very receptive to this possibility, as

currently being in a context of low crop diversity, which is a fragile condition under droughts

and pests, although they classify current species as profitable. There was great acknowledgment

of alternative pesticides importance, mostly justified by health safety.

Keywords: Family farming, Carthamus tinctorius, sustainability

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1. INTRODUÇÃO

O cenário de desenvolvimento socioeconômico no semiárido do nordeste brasileiro ainda

hoje apresenta lentidão em seus avanços, perpetuando severos quadros de desigualdade social

e degradação ambiental, esta intensificada pelo agravamento das mudanças climáticas.

A preocupação com as alterações de temperatura em função da ação antrópica tem levado

cada vez mais à busca de alternativas sustentáveis para o desenvolvimento humano. Com a

demanda energética constantemente aumentando e o conhecimento de que, além de grandes

poluidores e emissores de gases de efeito estufa, os combustíveis fósseis apresentam reservas

finitas, a atenção verte para soluções como os combustíveis provenientes de biomassa. Dentre

esse grupo, destaca-se o biodiesel, que pode ser feito a partir de gordura animal ou vegetal,

sendo as sementes de oleaginosas a principal fonte de matéria-prima.

Trata-se de alternativa vantajosa pela menor geração de poluentes (BARNWAL;

SHARMA, 2005; LAPINSKIENE et al., 2007; HU et al., 2008), exequibilidade técnica,

competitividade econômica, fácil disponibilidade e melhor aceitabilidade do ponto de vista

ambiental (DEMIRBAS, 2009). Ele é seguro, biodegradável, renovável, atóxico e possui

lubricidade inerente (AZAM; NAHAR, 2005; RASHID et al., 2008).

De acordo com Demirbas e Demirbas (2007), a cadeia produtiva do biodiesel promove

desenvolvimento regional e fortalece a estrutura social, principalmente em países em

desenvolvimento. No Brasil, procura-se assegurar essa assertiva através do Programa Nacional

de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), lançado pelo Governo Federal em 2004.

Para Peixoto (2008), o programa objetiva firmar um novo mercado para os agricultores

familiares e assentados da reforma agrária, conciliando produção e meios de proteção

ambiental. Para isso acontecer, destaca o autor, é necessário o esforço conjunto de instituições

organizadas em rede, tais como: pesquisas agronômicas, tecnológicas e industriais; organização

social da produção; associações e cooperativas de agricultores; empresas; organizações não

governamentais, órgãos governamentais de fomento, regulamentação e fiscalização;

representações de populações tradicionais; universidades, centros de pesquisa e outros órgãos

gestores.

O enfoque regional é fundamental para o funcionamento do PNPB, de modo que a

elaboração de projetos contemple as particularidades edafoclimáticas e sociais de cada

localidade (PEIXOTO, 2008). É importante notar que as culturas vegetais precisam ser

compatíveis com as condições locais para bom desenvolvimento e produtividade; por

conseguinte, é necessária uma diversidade de espécies cultivadas, na qual se insere a relevância

da investigação de novos potenciais para cada região.

O cártamo (Carthamus tinctorius L.) é uma planta promissora para cultivo voltado ao

biodiesel no semiárido. Pertencente à família Asteraceae, a mesma do girassol — uma cultura

mais tradicional nesse uso — ele é originário da Ásia e apresenta boa resistência ao estresse

hídrico e salino, a temperaturas elevadas e frias, e à baixa umidade relativa do ar (EMONGOR,

2010). O ciclo de vida dura 140 dias, podendo ser encurtado a até 75 dias em temperaturas mais

altas. Uma boa produção é observada com precipitações entre 300 a 600 mm anuais (ROCHA,

2005; VIVAS, 2002), compatível com o intervalo médio observado no semiárido, de 400 a 800

mm (NÓBREGA, 2001).

A espécie tem ainda várias possibilidades de valor agregado, o que pode ser bastante

positivo para o agricultor familiar: nutrição animal (VIVAS, 2002), corantes para alimentos e

tecidos finos, uso medicinal (DAJUE; MÜNDEL, 1996; EMONGOR, 2010; HAN et al., 2009),

ornamentação. O uso do óleo em cápsulas para emagrecimento tem sido bastante popular.

A adoção de uma nova cultura, no entanto, requer diversos estudos para ser feita de forma

responsável. Além de avaliar adaptação ao solo e ao clima, outro fator importante a se

considerar é a suscetibilidade da espécie a patógenos e predadores locais. Na região Nordeste,

o cártamo pode ser afetado por fungos do gênero Alternaria (FREIRE, 2009), que causa a

doença da mancha foliar no girassol. Embora a reduzida umidade e elevada temperatura possa

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reduzir a incidência desse fungo no semiárido (ABBAS et al., 1995), é interessante trabalhar

formas de prevenção e tratamento.

A proteção às lavouras frequentemente é feita com o uso de compostos químicos, os

agrotóxicos, com o Brasil sendo seu maior consumidor em todo o mundo desde 2008 (GRAFF,

2013). No entanto, sua adoção é incompatível com uma perspectiva de sustentabilidade, posto

que podem representar grande risco ambiental e também serem prejudiciais à saúde do

trabalhador (PERES et al., 2003). Ressalte-se também que o uso de agrotóxicos é regulado para

cada cultura e doença pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, não havendo

ainda algum registro para uso em cártamo.

Defensivos agrícolas alternativos buscam eliminar esse entrave, sendo uma solução mais

segura e ambientalmente responsável, também não requerendo regulação legal, apesar de

geralmente terem menor eficácia e persistência na lavoura, no caso dos orgânicos (e.g. à base

de extratos vegetais), que são biodegradáveis (SCHMUTTERER, 1990).

Unindo todo o panorama aqui traçado está a figura do agricultor. É aquele que inicia a

cadeia produtiva do biodiesel, é aquele a quem as políticas do PNPB se voltam para incentivar

o desenvolvimento regional. É um ator fundamental no processo, mas que muitas vezes é

excluído das pesquisas acadêmicas ou das discussões de gestão. A organização cooperativista

torna-se uma forma de dar maior força aos pequenos produtores na penetração de mercado e na

mobilização política. Ribeiro (2004) aponta a produção cooperativa como desafio capaz de criar

alternativas de trabalho e produção de renda, principalmente em um cenário social de

desemprego, relações de trabalho desregulamentadas e perda de direitos constitucionais.

Fato é que a visão de mundo do agricultor deve ser levada em conta, se o que está sendo

produzido ou discutido em outras esferas almeja impacto em sua vida. O presente trabalho

objetivou apresentar a cultura do cártamo a agricultores de uma cooperativa do município de

Apodi-RN, e verificar a aceitabilidade quanto à sua possível introdução na região, como forma

proposta para diversificação e crescimento da atividade agrícola local, na perspectiva de ajudar

a promover o desenvolvimento socioeconômico e ambientalmente sustentável.

A fim de divulgar a espécie de forma mais clara e ilustrada, foram elaboradas e

distribuídas cartilhas explicativas sobre o cártamo, contendo dicas de cultivo, importância

econômica da espécie e alguns resultados de pesquisas.

Considerando o dado contexto, o manejo da espécie também precisa ser levado em conta

sob a ótica da sustentabilidade. Desse modo, a pesquisa realizada ainda objetivou avaliar a

percepção do grupo estudado quanto à prática do uso de agrotóxicos e defensivos agrícolas

alternativos.

2. METODOLOGIA

2.1 Área de estudo

Apodi é um município do oeste do estado do Rio Grande do Norte (5°39´51˝ S; 37°47´56˝

W), com uma área de 1.602,48 km² ocupada por 34.763 habitantes, sendo 17.376 homens e

17.387 mulheres (BRASIL, 2010).

Sua localização geográfica insere-o no clima semiárido, com temperatura média anual de

28,1° C, precipitação pluviométrica anual de 717,9 mm (concentrada entre março e maio) e

vegetação natural composta predominantemente pela caatinga hiperxerófila. O solo de maior

parte da região apresenta restrições para a prática agrícola e pastagem animal, embora haja áreas

favoráveis ao desenvolvimento de lavouras de ciclo curto (RIO GRANDE DO NORTE, 2008).

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2.2 Caracterização do universo de pesquisa e amostragem

A pesquisa foi realizada com agricultores de Apodi, associados à Cooperativa Potiguar

de Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável (COOPAPI). Há um total de 222

cooperados.

Utilizou-se amostragem não probabilística por acessibilidade, aproveitando a ocasião de

reunião ordinária dos agricultores. A amostra consistiu em 45 pessoas, representando 20% do

grupo total, consultadas no mês de dezembro de 2014.

2.3 Instrumento de coleta de dados

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas conduzidas

oralmente, seguindo um roteiro consistente do levantamento de informações gerais dos

participantes (gênero, faixa etária, estado civil, local de residência e formação escolar), além de

12 questões – abertas e fechadas – contemplando o perfil atual da agricultura local,

conhecimento e aceitabilidade da cultura do cártamo, incentivo governamental para a produção

de biodiesel, e percepção quanto ao uso de agrotóxicos e soluções alternativas para controle de

pragas e doenças. O questionário foi adaptado a partir do trabalho de Bezerra et al. (2011). O

discurso dos participantes que assim o permitiram foram gravados, de modo a auxiliar a análise

e possibilitar a transcrição de falas.

Os dados obtidos foram tabulados em termos percentuais, o que consistiu na base para

análise, associada à percepção dos pesquisadores quanto ao discurso dos entrevistados.

2.4 Material de divulgação

Uma cartilha foi produzida para distribuição entre os agricultores após as entrevistas, com

informações gerais a respeito do cártamo, incluindo seus potenciais usos econômicos de acordo

com a literatura, bem como resultados e observações de pesquisas experimentais com a espécie,

realizadas pelo Laboratório de Investigação de Matrizes Vegetais Energéticas da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (LIMVE-UFRN), em parceria com a Escola Agrícola de

Jundiaí (EAJ-UFRN) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande

do Norte (IFRN-Campus Apodi).

Para possuir ampla acessibilidade, o material tem linguagem simples, com texto curto e

amplamente ilustrado, funcionando como uma introdução geral ao tema e uma ponte de contato

com os pesquisadores.

Em conjunto com a cartilha, amostras de grãos de cártamo foram fornecidas para

conhecimento dos agricultores, considerando que a espécie atualmente não possui tradição de

cultivo na região.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Perfil dos agricultores

Na amostra acessada por esta pesquisa, houve predominância de homens — 78%, com

22% de mulheres — sendo ambos distribuídos majoritariamente na faixa etária dos 22 aos 59

anos (93%). 80% dos entrevistados são casados, e a maioria reside na própria zona rural de

Apodi (96%).

Quanto à escolaridade, a maior parte possui o Ensino Fundamental incompleto

(geralmente tendo cursado até a 4ª série), seguidos de 18% que declararam não serem

alfabetizados, 13% com Ensino Médio completo, 11% com o Fundamental completo, 9% com

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o Médio incompleto e, por fim, uma pessoa com nível Superior incompleto e uma com

Graduação completa. Os dados de perfil foram sumarizados na Figura 1.

Figura 1: Perfil dos agricultores familiares entrevistados da Cooperativa de Potiguar de

Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável (COOPAPI). A: gênero, B: idade, C: estado

civil, D: local de residência; E: escolaridade.

3.2 Plantas cultivadas e recursos necessários a novas culturas

A mais viável fonte de renda agrícola citada foi o cajueiro – lembrado por 71% dos

entrevistados – sendo uma das culturas mais características do RN, que disputa o segundo lugar

na produção nacional de castanha (BRASIL, 2014). Recentemente, o caju (pedúnculo carnoso

reconhecido como fruta), antes frequentemente desprezado, também vem ganhando

importância econômica.

A escassez pluviométrica na região nos últimos três anos tem intensificado, além da

deficiência hídrica (GOIS, 2014), a proliferação da mosca branca, praga que afeta o cajueiro e

constitui perigosa ameaça à produção (SILVA et al., 2008). Esse momento de fragilização

econômica evidencia a importância de se firmar alternativas de renda viáveis, reduzindo

prejuízos. A grande maioria dos agricultores entrevistados (96%) afirma que já sofreu grandes

perdas no passado em função de períodos prolongados de estiagem.

À parte do viés comercial, o feijão foi a cultura mais lembrada pelos entrevistados (96%).

Diferente do caju, destina-se primariamente à subsistência. A espécie cultivada é o feijão

macáçar, Vigna unguiculata (L.) Walp, tradicionalmente a base da alimentação sertaneja. A

estabilidade de rendimento da espécie sob condições de estresse abiótico (temperaturas

elevadas e pouca chuva) e a baixa necessidade de intervenção durante o período vegetativo

(LOBATO et al., 2009; STOILOVA et al., 2003), justificam sua adoção. Segundo F., 34 anos,

“o pessoal prefere algo que seja só jogar e colher.”

Milho e sorgo concluem a lista de culturas mais citadas, com 64% e 53%,

respectivamente. Culturas menos lembradas foram mencionadas como tendo escala de

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produção pequena: hortaliças e frutas (com maior destaque para a melancia), macaxeira, capim,

carnaúba (Figura 2-A).

Figura 2: Perfil e perspectiva do estado atual da agricultura na região. A: Menções a culturas

produzidas pelos agricultores da COOPAPI. B: percepção de rentabilidade das culturas

produzidas.

Com baixa diversidade de espécies cultivadas, relacionada às dificuldades encontradas, é

compreensível que os agricultores sejam bem receptivos à perspectiva de novas culturas –

mesmo que a maioria das pessoas tenha respondido que as atuais oferecem boa lucratividade e

condições dignas de sobrevivência (Figura 2-B) – considerando que haja assistência técnica

para ensinar os tratos de cultivo. Quase todos os agricultores entrevistados (98%) estariam

dispostos a plantar novas espécies em suas propriedades. A única pessoa que afirmou não ter

interesse acredita não haver outra cultura que consiga se estabelecer nas condições da região.

Evidentemente, não é necessário apenas vontade; o estabelecimento de uma nova cultura

é dependente de recursos. A água foi a mais lembrada (47%), o que é condizente com as

dificuldades anteriormente expostas. A maioria lembrou desse recurso na forma pluvial, citando

a necessidade de um bom inverno (referência ao período chuvoso). Nota-se, pois, que as

menções se aproximam da realidade corrente dos participantes. A irrigação, que permitiria

distribuição constante e regulável de água, foi lembrada por poucos.

Cerca de 16% dos entrevistados afirmaram que é preciso a cultura ser adaptada às

condições da região, ou seja, tolerante ao clima, condições do solo e escassez de água, com

ciclo de vida curto, compatível com o período de chuvas. Outros 16% remetem à importância

de projetos e de incentivo governamental para viabilizar o cultivo. Para 9%, é preciso um bom

solo ou adubação adequada.

A necessidade de compradores ou indústria para o produto foi lembrada por 9% dos

agricultores, uma preocupação muito válida: em anos anteriores, houve incentivo por parte do

governo para o cultivo de mamona para biodiesel no nordeste. A espécie nunca alcançou boa

rentabilidade para os agricultores. 7% dos entrevistados mencionaram a importância da própria

capacitação ou conhecimento sobre a cultura. Outras menções incluem a atratividade para

abelhas (posto que a cooperativa desenvolve atividade apicultora), adequação a consórcio e

rotação de culturas e instrumentos/maquinário adequados ao manejo. 11% dos participantes não

souberam responder (Figura 3).

3.3 Potencial do cártamo

Quando perguntados se já haviam ouvido falar em cártamo, 84% afirmaram que não

(Figura 4-A). A espécie não é vastamente difundida no Brasil, tendo maior ocorrência no sul

do país. Os 16% que reconheceram o nome podem ser justificados pela veiculação de produtos

na TV (anúncios de cápsulas à base de óleo de cártamo, vendidas como alternativas para auxiliar

o emagrecimento), e pelos experimentos conduzidos no campus do IFRN que fica no município

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de Apodi – um dos entrevistados disse que sua filha frequentava o curso técnico em

biocombustíveis oferecido pela instituição.

Figura 3: Recursos citados pelos agricultores como necessários para se estabelecer uma nova

cultura no semiárido.

Além do potencial para biodiesel pelo qual está sendo estudado, foram citados para os

participantes outros potenciais usos do cártamo documentados na literatura (EMONGOR,

2010), e em seguida questionado se haveria perspectiva de lucratividade com a espécie. 84%

acredita que sim, 2% não e 13% comentaram que apenas saberiam responder se testassem a

cultura previamente (Figura 4-B). Ressalta-se aqui a importância da pesquisa de viabilidade e

manejo adequado do cártamo na região, pois de fato uma resposta concreta somente pode ser

obtida com esses dados. No entanto, a predisposição do agricultor a adotar a cultura é

fundamental, sendo importante verificar sua opinião em um momento preliminar como o aqui

documentado.

Figura 4: Conhecimento prévio e perspectiva dos agricultores quanto à cultura do cártamo. A:

conhecimento prévio sobre a espécie. B: perspectiva de lucratividade ante o potencial

apresentado.

3.4 Biodiesel

O cultivo de espécies vegetais oleaginosas para produção de biodiesel não é prática

presentemente difundida entre os agricultores da COOPAPI. Somente 18% dos participantes

afirmaram ter alguma experiência com espécies como girassol e mamona (Figura 5-A), não

obtendo resultados satisfatórios.

Além das já conhecidas dificuldades de ordem natural, a falta de informação e incentivo

na região podem ser apontados para a incipiência da prática. Dentre os entrevistados, 71%

desconhecem o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), desenvolvido pelo

Governo Federal e que inclui em suas metas a inserção da agricultura familiar na cadeia

produtiva do combustível como via de desenvolvimento socioeconômico (ABRAMOVAY;

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MAGALHÃES, 2007). 20% ouviram falar do programa por rádio ou televisão, mas

desconhecem detalhes, 7% afirmam conhecer e avaliam positivamente, enquanto para 2% a

avaliação é negativa (Figura 5-B).

Para 93% dos participantes desta pesquisa, o cultivo de cártamo para produção de

biodiesel traria perspectiva de melhorias para a região (Figura 5-C). Isso reforça novamente a

receptividade dos produtores locais e a grande necessidade do acompanhamento técnico e

investimento financeiro.

Figura 5: Relação e perspectivas dos agricultores da COOPAPI sobre a produção de culturas

para biodiesel. A: experiência prévia com oleaginosas para biodiesel. B: conhecimento prévio

sobre o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). C: perspectiva de

melhorias para a região cultivando cártamo para biodiesel.

3.5 Percepção da importância de defensivos agrícolas orgânicos

Embora não tenha sido lembrado por nenhum participante durante o questionamento

sobre recursos necessários a uma nova cultura, é importante que se estabeleçam formas de

prevenção e tratamento adequados ao ataque de insetos e doenças. Agrotóxicos são uma via de

escolha comum, mas seu uso não deve ser indiscriminado, dados os riscos para a saúde do

trabalhador e para o meio ambiente (PERES et al., 2003).

Muitos dos agricultores não costumam usar qualquer forma de prevenção ou controle de

pragas e patologias em suas lavouras. Dentre os entrevistados, 47% já fizeram uso de

tratamentos com produtos alternativos. Essa taxa considerável se deve à capacitação por meio

de cursos ministrados na cooperativa, que têm incentivado o uso de extrato (vegetal) de nim

(Azadirachta indica A. Juss.) e urina bovina.

Mesmo dentre os que nunca usaram um produto dessa natureza, há reconhecimento de

seu valor: 80% do total acreditam que é importante optar por produtos orgânicos, mesmo que

requeiram maior esforço de aplicação — por serem biodegradáveis, compostos desse tipo

possuem baixa persistência no ambiente e logo perdem eficácia (SCHMUTTERER, 1990) —

e em geral não sejam tão eficientes quanto formulações químicas comerciais. A preocupação

com a saúde é unânime, enquanto menções ao risco ambiental foram mais escassas. Algumas

pessoas também consideraram que os químicos adoecem as plantas cultivadas; essa afirmação

pode ser verdadeira em alguns casos, pois há substâncias que podem afetar negativamente o

processo de fotossíntese do vegetal (PETIT et al., 2012). 16% acreditam que, seguindo as

instruções corretamente, é possível usar agrotóxicos sem grandes problemas, quando necessário

(Figura 6). Para alguns deles, o “veneno” é mais acessível e barato, justificando a escolha.

Para F., 34 anos, o uso de agrotóxico resulta da falta de apoio técnico, que promoveria

manejo adequado e asseguraria boa produção de forma orgânica. Ele alega que o crescente uso

de químicos tem provocado aumento de casos de câncer, assertiva que é corroborada por

estudos científicos (PARRÓN et al., 2014; PEREIRA et al., 2010). Ainda segundo ele, sabendo

plantar e colher nos períodos adequados não é necessário fazer aplicação de nenhum tipo de

produto.

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Figura 6: Percepção e prática de uso de defensivos agrícolas alternativos a agrotóxicos. A: uso

de defensivos orgânicos. B: Percepção da importância do uso de orgânicos.

J., 44 anos, adepta ao uso do extrato de nim e urina de vaca, afirma que "trabalhar com o

químico é para quem não tem paciência". "Usar o orgânico é praticar o bem para si e para o

próximo." Ela demonstra consciência dos problemas ambientais e reforça bastante os benefícios

à saúde, alegando ser alérgica aos químicos. M., 48 anos, argumenta: "se você vai produzir uma

coisa pra você comer, você não vai botar o veneno", indicando que os produtos comercializados

convencionalmente em supermercados são todos tratados com agrotóxicos — uma preocupante

verdade, com parte considerável dos alimentos contendo níveis de resíduo acima do máximo

recomendado (BRASIL, 2013). Por preferir não usar esse tipo de substância, ele afirma que sua

produção de castanha na última safra foi reduzida, mas que prefere essa escolha. “Não gosto de

mexer em veneno, me ataca logo a cabeça...”. Para S., 63, “o orgânico é bom pra tudo, já o

químico faz mal pra toda a humanidade da terra.”

3.6 Recepção à cartilha de divulgação

A cartilha de divulgação produzida para este trabalho e entregue após cada entrevista foi

bastante chamativa para os agricultores. Alguns deles foram atraídos ao perceber a entrega do

material, e então foram convidados a responder às questões.

Contudo, ele não foi produzido com a intenção de angariar participantes para a pesquisa,

mas de promover a divulgação das características e potencial da espécie (que, com efeito, era

desconhecida da maioria) e dos trabalhos experimentais desenvolvidos pelos pesquisadores e

seus colaboradores.

A idealização desse material advém da compreensão de que a informação e o

conhecimento não são vias unilaterais, de modo que o papel da população consultada não deve

ser meramente o de fonte de dados para os pesquisadores, mas que também destes receba algum

benefício. É preciso haver bilateridade entre ciência e sociedade em uma prática interdisciplinar

que está aliada ao desenvolvimento socioeconômico com responsabilidade ambiental.

Com seus dados gerais, sem um aprofundamento que não seria apropriado ao formato e

momento, a cartilha deve ser encarada como passo inicial para esse tipo de relação, fomentando

o interesse para experiências posteriores.

Os resultados obtidos com a presente pesquisa incentivam o desenvolvimento de mais

estudos no campo experimental, validando o esforço da pesquisa científica em favor do

desenvolvimento sustentável, pautado na tríade sociedade-meio ambiente-economia.

4. CONCLUSÕES

Embora em geral os agricultores da COOPAPI acreditem que as culturas produzidas

atualmente por eles sejam suficientes para boas condições de sobrevivência, nota-se que o

discurso sobre lucratividade pesa fortemente apenas para a cajucultura.

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Com as condições climáticas da região não infrequentemente prejudicando a produção,

em meio a estiagens e pragas como a mosca branca, a diversificação de fontes de renda a partir

de novas culturas torna-se uma perspectiva interessante para reduzir o potencial de prejuízos e

gerar valor agregado, que pode ajudar a elevar o patamar socioeconômico local. Com isso, a

aceitação do cártamo, mesmo sendo uma espécie pouco conhecida na região, foi bastante

positiva.

O material distribuído mostrou-se eficiente na divulgação da espécie, contribuindo com

a elucidação do método de cultivo e importância econômica.

No tocante ao uso de agrotóxicos e soluções alternativas, fica evidente no senso comum

a associação dos “venenos” com prejuízos à saúde. Há ainda que se despertar a consciência para

os prejuízos ambientais, de modo a inibir mais amplamente o consumo de agrotóxicos e

estimular o uso de produtos seguros.

Para aprofundamento nos temas, recomendam-se mais estudos de consulta popular,

abordando outras populações rurais do semiárido, como agricultores não cooperados ou

associados — estes, com menor coesão e força política, podem ter visão diferenciada ante suas

próprias dificuldades. Também é preciso avaliar os elos seguintes da cadeia produtiva de

biodiesel, de modo a conhecer o interesse da indústria e do governo em negociar a aquisição de

matéria-prima dos agricultores familiares da região.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à colaboração dos estudantes de iniciação científica Júlio César

Gomes, Raimunda Adlany Dias da Silva e Tullio Demostene Frescura pela colaboração na

realização das entrevistas em campo. Também à EAJ-UFRN e ao IFRN-Apodi pela parceria

nas pesquisas experimentais que subsidiaram dados à cartilha produzida, bem como à Editora

da UFRN pela impressão.

TIPO DE FOMENTO

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescente despertar dos diferentes setores da sociedade global para a consciência da

insustentabilidade do modelo de produção vigente tem incentivado o surgimento de pesquisas

como a do presente trabalho. É a partir da reflexão e discussão que se começa a mudança de

paradigmas rumo a uma racionalidade que preze pela justiça social e a preservação ambiental.

Mas também é imprescindível avançar para a etapa seguinte, de investigação dos meios para

efetivamente realizar essa mudança. Entra nesse âmbito a pesquisa técnica e científica,

buscando explorar alternativas e avaliar sua viabilidade e eficiência.

As discussões sobre a matriz energética que alimenta o estilo de vida e de produção

vivenciado na contemporaneidade estão sempre presentes e atreladas aos limites de exploração

de recursos naturais e emissões de poluentes que degradam a atmosfera e intensificam as

temperaturas globais. Portanto, é natural e necessária atenção especial a esse tema, iniciando

pela busca de alternativas para mitigar essas duas dimensões preocupantes, o que é feito com a

adoção de novas fontes para produção de energia. No caso do presente estudo, o cártamo, uma

matriz vegetal oleaginosa, é a proposição feita para integrar essas novas fontes.

Os modelos de produção agrícola atuais estão permeados por práticas perigosas ao

trabalhador que atua nas lavouras e ao meio ambiente. Não bastaria então realizar uma

transferência de problemas, reduzindo a extração predatória de recursos naturais para favorecer

uma prática que lesione outros componentes da natureza. Não existe sustentabilidade parcial;

todos os aspectos de uma prática devem ser pensados de modo a manter em harmonia a tríade

natureza-sociedade-desenvolvimento. Desse modo, neste trabalho foi proposto estudar uma

dimensão do complexo tema de “defensivos agrícolas”, na expectativa de validar o uso de

substâncias que ocupem o lugar dominado pelos perigosos agrotóxicos. Pelos relatos de

literatura, optou-se pelo extrato vegetal de nim e pela calda bordalesa.

Os resultados do primeiro capítulo da dissertação correspondem à hipótese nula

formulada, confirmando a predição do efeito inócuo de ambas as substâncias na integridade

estrutural das folhas de cártamo. Levando esse aspecto em conta, o extrato foliar de nim e a

calda à base de sulfato de cobre podem ser recomendados para o uso com o cártamo. No entanto,

com o surgimento da infecção fúngica nas plantas do experimento em campo (aspecto não

avaliado nesta proposta de estudo), observou-se que em ambiente muito favorável ao

crescimento do fungo, a eficiência das substâncias não foi verificada.

A proposta do uso da cultura do cártamo é voltada principalmente para a agricultura

familiar no semiárido no Nordeste brasileiro, área com condições de umidade menos favoráveis

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à proliferação de fungos do que a área experimental deste trabalho. Dessa forma, ainda é

interessante avaliar o desempenho da espécie nas condições da região.

Outra dimensão de avaliação frequentemente desconsiderada em trabalhos acadêmicos,

mas que é muito importante, é a posição do produtor rural, a quem se destina a aplicação da

pesquisa. Com possível bom desempenho da cultura, o semiárido pode se concentrar como polo

da produção de cártamo, sendo já uma área que recebe considerável atenção das políticas

públicas voltadas para a cadeia produtiva do biodiesel. Dessa maneira, a cultura (em seu uso

sustentável) pode ser uma plataforma para impulso de desenvolvimento local. Os agricultores

entrevistados na etapa final do presente trabalho parecem concordar com esse potencial,

mostrando-se muito receptivos ao diálogo e à experimentação de novas espécies em suas

propriedades. O pequeno produtor já não é uma figura fechada em suas limitações locais, e ao

menos em parte isso pode ser atribuído à articulação da população em cooperativas e

associações, que permitem maior competitividade no mercado e força política.

É imprescindível que os estudos subsequentes mantenham e fortaleçam o contato com

os agricultores e suas lideranças, desenvolvendo parcerias e trocando experiências,

aproximando-se da realidade prática que tem a função social de se fazer ciência.

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APÊNDICE A – Roteiro de entrevista com agricultores de Apodi-RN

Gênero: (M/F) Idade: (16-21 / 22-59 / 60+)

Estado civil: (1-Solteiro / 2-Casado / 3-Separado / 4-Viúvo(a) / 5-União consensual)

Local de residência: (1-Zona rural / 2-Zona urbana)

Formação escolar: (1-Não alfabetizado / 2-E.F. incompleto / 3-E.F. completo /

/ 4-E.M. incompleto / 5-E.M. completo / 6-Superior incompleto / 7-Superior completo)

1. O que você planta em sua terra? Quais as principais culturas produzidas pelos agricultores

da região?

2. As plantas cultivadas atualmente dão bom lucro e condições dignas para sobrevivência?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe/não opina

3. Já houve caso de grandes prejuízos nas culturas produzidas por conta de estiagens?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe/não opina

4. O que você acha necessário para estabelecer bem uma nova cultura na região?

5. Se alguém ensinasse os tratos de cultivo, você aceitaria introduzir uma nova cultura em sua

propriedade, sabendo que ela é considerada adaptada ao clima seco?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe/não opina

6. Você já ouviu falar em cártamo e alguma de suas utilidades?

( ) Sim ( ) Não

7. O cártamo pode apresentar variados usos em potencial, por exemplo: óleo comestível,

forrageiro, medicinal, cápsulas de emagrecimento, tintura, ornamentação e óleo para

biodiesel. Você acredita que seria possível ter boa lucratividade cultivando cártamo?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe/não opina (precisa ver na prática para saber)

8. Você tem alguma experiência em cultivar oleaginosas para biodiesel? É/foi positiva ou

negativa? Acha seguro investir nisso, o governo dá subsídio/apoio suficiente?

9. Você acha que a produção de biodiesel de cártamo poderia trazer melhorias para a região?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe/não opina

10. Conhece o PNPB (Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel)? [Se sim,] acha

bom, parcialmente bom ou ruim? Por quê?

( ) Sim, mas desconhece detalhes ( ) Não ( ) Sim, bom ( ) Sim,

parcialmente bom ( ) Sim, ruim

11. Você usa ou já usou algum produto orgânico ou natural para prevenir ou combater pragas

e doenças nas lavouras? O que te levou a usar/abandonar o uso?

12. Você acredita que é importante usar defensivos orgânicos ou naturais para a proteção das

lavouras, com menor risco à saúde e ao meio-ambiente? Leve em conta que, comparado aos

químicos comerciais, eles geralmente são menos eficazes e precisam de mais aplicações. Ou

você acredita que seguindo corretamente as instruções é possível usar os químicos sem

grandes problemas?

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APÊNDICE B – Cartilha informativa sobre o cártamo

Download em PDF para impressão:

https://www.dropbox.com/s/fnvl6fdu

2y620f0/cartilha-cartamo.pdf

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ANEXO A – Comprovante de submissão do artigo do Capítulo 1

1

O título foi alterado no corpo da dissertação para refletir sugestões da banca final, apesar de o artigo ter sido

submetido em momento anterior por exigência do programa de pós-graduação.

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ANEXO B – Comprovante de submissão do artigo do Capítulo 2