Emergências Médicas No Consultorio Odontologico e a (in)Seguranca Dos Profissionais

download Emergências Médicas No Consultorio Odontologico e a (in)Seguranca Dos Profissionais

of 6

Transcript of Emergências Médicas No Consultorio Odontologico e a (in)Seguranca Dos Profissionais

  • REVISO

    Review Volume 16 Nmero 2 Pginas 267-272 2012ISSN 1415-2177

    Revista Brasileira de Cincias da Sade

    Emergncias Mdicas noConsultrio Odontolgico e a (In)Segurana

    dos ProfissionaisMedical Emergencies in the Dentaloffice and Professionals (In)Security

    PRISCILLA SUASSUNA CARNEIRO LCIO1ROSIMAR DE CASTRO BARRETO2

    Mestranda em Odontologia pela Universidade Estadual da Paraba (UEPB). Campina Grande/PB, Brasil.Doutor em Odontologia, rea de Farmacologia, Anestesiologia e Teraputica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). ProfessorAssociado da Universidade Federal da Paraba (UFPB), Disciplina de Farmacologia Aplicada Odontologia, Joo Pessoa/PB, Brasil.

    12

    RESUMOObjetivos: Revisar e discutir as principais ocorrncias deemergncias mdicas em consultrio odontolgico, assimcomo o manejo indicado para tais situaes. Metodologia:Foi realizado um levantamento bibliogrfico nas bases dedados PubMed, BBO, Google Scholar, utilizando as seguintespalavras-chave nos idiomas portugus e ingls:tratamentode emergncia, identificao da emergncia,odontologia. Selecionaram-se referncias mais atuais(2000-2011), alm de trabalhos clssicos de importnciahistrica para discusso do assunto. Resultados: A maioriados estudos aponta uma elevao no nmero de emergnciasmdicas, sendo a sncope responsvel pela maioria dasocorrncias, associada a uma grande insegurana doscirurgies-dentistas no enfrentamento destas situaesemergenciais. Concluso: Conclui-se que a grandeinsegurana dos cirurgies-dentistas no enfrentamento dassituaes emergenciais pode ser consequncia de uminadequado preparo durante a graduao e falta decapacitao durante o exerccio da profisso.

    DESCRITORESTratamento de Emergncia. Identificao da Emergncia.Odontologia.

    SUMMARYObjectives: To review and discuss the main instances ofmedical emergencies in dental office, as well as themanagement suitable for such situations. Methods: A literaturereview was conducted in the databases PubMed, BBO,Google Scholar, using the following keywords in portugueseand english: emergency treatment, emergencyidentification, dentistry. Were selected the most currentreferences (2000-2011), and other classical works of greathistorical importance to discuss the subject. Results: Moststudies indicate there is an increase in the number of medicalemergencies, being the syncope responsible for most cases,associated with a great insecurity of dentists in facing theseemergencies. Conclusion: It was concluded that the largeuncertainty on the part of dentists in coping with emergencysituations may result from inadequate preparation duringundergraduate studies and lack of training for the profession.

    DESCRIPTORSEmergency treatment. Emergency identification. Dentistry.

    http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs

    DOI:10.4034/RBCS.2012.16.02.23

  • CARNEIRO LCIO e BARRETO

    R bras ci Sade 16(2):267-272, 2012268

    Com o avano da medicina e elevao daexpectativa de vida, vem ocorrendo um aumentoda diversidade de pacientes que procuram portratamento odontolgico. Tais indivduos que antes nofrequentavam o consultrio odontolgico por restriesmdicas, esto cada dia mais preocupados com suasade bucal (MONNAZZI et al., 2001, CAPUTO et al.,2010).

    Desta forma o cirurgio-dentista tem, em seuambiente de trabalho, uma maior probabilidade de sedeparar com intercorrncias mdicas, que no tmrelao com o tratamento odontolgico, como porexemplo, doenas sistmicas pr-existentes (CAPUTOet al., 2010).

    O evento emergencial consiste em uma ocorrn-cia de agravo sade, com risco iminente de vida ouque cause intenso sofrimento ao paciente. um estadoimprevisto e requer uma ao imediata para a preservaoda vida. Pode acontecer com qualquer pessoa, aqualquer momento e em qualquer lugar. Portanto ocirurgio-dentista tem que estar apto e seguro para omanejo de uma emergncia (MARZOLA, GRIZA, 2001,BARRETO, PEREIRA, 2011).

    Sem dvida a melhor maneira de se tratar umaemergncia mdica prevenindo-a. Para tanto, uma boaanamnese fornece informaes sobre o estado de sadedo paciente, tornando o procedimento mais seguro,diminuindo assim a possibilidade de ocorrncia desituaes emergenciais (SHAMPAINE, 1999, CAPUTOet al., 2010).

    Dados recentes mostram que a maioria dosprofissionais de odontologia no se sente segura ecapacitada para o correto atendimento de uma emer-gncia, ficando assim dependente da presena mdicapara socorrer o paciente (SILVA, 2006).

    Com isso, o presente estudo tem o objetivo derevisar e discutir as principais ocorrncias de emergn-cias mdicas em consultrio odontolgico, assim comoo manejo indicado para tais situaes.

    METODOLOGIA

    Trata-se de um artigo de reviso de literatura,desenvolvida atravs de um levantamento bibliogrficonas bases de dados PubMed, BBO, Google Scholar. Aestratgia de busca utilizou as seguintes palavras-chaveno idioma portugus, obtidas de acordo com osDescritores em Cincias da Sade (DesCs): tratamentode emergncia, identificao da emergncia,odontologia. Do mesmo modo, buscaram-se na basede dados internacionais, utilizando as mesmas palavras,porm em lngua inglesa, de acordo com o MedicalSubject Headings (Mesh): emergency treatment,emergency identification, dentistry.

    Foram selecionadas 31 referncias divulgadas

    entre os anos de 2000 e 2011, alm de cinco trabalhospublicados entre os anos de 1995-1999 e um livro, osquais so clssicos e de extrema importncia histricapara discusso do assunto. Como critrios de inclusoadotaram-se: disponibilidade do texto integral, publi-cao nas lnguas portuguesa, inglesa e espanhola ereferncias que enfocassem urgncias/emergnciasmdicas no ambiente odontolgico. Por no seremdivulgados em peridicos cientficos, os trabalhos deconcluso de curso, dissertao e tese entraram noscritrios de excluso.

    REVISO DA LITERATURA

    A emergncia consiste em agravo a sade comiminente risco de vida. Este evento caracteriza-se porser uma situao imprevista, na qual no pode haverdemora no atendimento. Desta forma no cabe discutirde quem o domnio da execuo, mas sim avaliar ahabilidade e competncia dos agentes em ao, parasolucionar de forma adequada o caso (MARZOLA,GRIZA, 2001, GONZAGA et al., 2003, SANCHEZ,DRUMOND, 2011).

    Para tanto, na tentativa de se prevenir situaesemergenciais imprescindvel a realizao de uma pr-avaliao da sade geral do paciente e seu estado emo-cional antes do atendimento odontolgico, conhecendoos riscos da utilizao das drogas a serem empregadase minimizando o trauma emocional. Uma boa anamnesefornecer ao profissional condies adequadas paradesempenhar os procedimentos de forma segura(CAPUTO et al., 2010).

    O atendimento odontolgico est atrelado aomedo, fonte de aumento da ansiedade, que leva aoestresse. Por sua vez o estresse pode elevar o nmerode ocorrncias de emergncias mdicas (SANTOS,RUMEL, 2006).

    As situaes de emergncias mdicas podemacontecer a qualquer momento em um consultrioodontolgico, no apenas durante o tratamento, mastambm na sala de espera, por exemplo. Acometemqualquer pessoa, independente do sexo e da idade. Emvista disso, para um correto atendimento, o profissionale sua equipe devem estar preparados, com conhecimentoacerca de manobras bsicas do Suporte Bsico de Vida(SBV), alm de um adequado preparo psicolgico, postoque esses eventos representam uma fonte de tenso,devendo ser enfrentados com cautela para que no seaumente a morbidade e letalidade (JOLY, 1995, SANTOS,RUMEL, 2006, ANDRADE, RANALI, 2011).

    As principais sndromes emergenciais quepodem ocorrer no consultrio odontolgico, bem comoos passos que devem ser seguidos pelo cirurgio-dentista frente s mesmas, esto descritas abaixo, sendodivididas de acordo com o sistema de acometimento.

  • Emergncias Mdicas no Consultrio Odontolgico e a (In)Segurana dos Profissionais

    269R bras ci Sade 16(2):267-272, 2012

    Sistema Circulatrio

    Sncope

    Trata-se de perda temporria e momentnea daconscincia, devido a uma diminuio da oxigenaocerebral, consequncia da reduo do fluxo sanguneopara o crebro. Seus sinais e sintomas correspondem palidez, hipotenso, taquicardia, escurecimento da viso,zumbido, sonolncia e sensao de vazio gstrico. Oquadro causado por uma resposta autonmica exage-rada ou anormal a vrios estmulos emocionais, comoansiedade excessiva, ou no emocionais, como fome,exausto, ambiente quente e outros (RESENDE et al.,2009).

    Diante deste quadro o cirurgio-dentista deveinterromper o tratamento, avaliar o grau de conscinciado paciente, coloc-lo em posio supina com osmembros inferiores levemente elevados em relao cabea (10 a 15 graus). Deve-se estender a cabea paratrs, propiciando a passagem de ar, e aguardar de 2 a 3minutos recuperao do paciente. Caso isso no ocorradeve-se administrar oxignio (3 a 4 litros/minuto) emonitorar a respirao, pulso e presso arterial at achegada do auxlio mdico de urgncia previamentesolicitado (MARINGONI, 1998).

    Crise Hipertensiva

    Caracterizada pela elevao da presso arterialsistlica e/ou diastlica, dependente de uma predis-posio gentica ou fatores de risco, tais comoobesidade, sedentarismo, ingesto excessiva de sal,lcool, tabagismo, estresse, doena renal, entre outros(MONEGO, JARDIM, 2006).

    Como medida profiltica, a anamnese a melhordelas, no entanto, mesmo em pacientes compensados,o profissional deve tomar medidas para minimizar oestresse, como controlar a dor, fazer atendimentos emsesses curtas, conversar com o paciente durante oatendimento, se necessrio, indicar uso de ansiolticos.Alm disso, quando necessrio uso de anestesia, darpreferencia s solues que contenham felipressinacomo vasoconstrictor (RESENDE et al., 2009).

    Uma vez diagnosticado eventos que caracte-rizem uma crise hipertensiva como elevao da pressoarterial, cefaleia, epistaxe, hemorragia gengival apsmanipulao, tontura, mal-estar, confuso mental edistrbios visuais, deve-se interromper o atendimentoimediatamente, colocar o paciente em posio confor-tvel, monitorar seus sinais vitais e tranquiliz-lo, almde administrar captopril (25 a 50mg), por via sublingual.Cessada a crise o paciente deve ser encaminhado o maisrpido possvel para avaliao mdica (GOMEZ et al.,1999, CHAPMAN, 2003, MONTAN et al., 2007).

    Angina Pectoris

    definida como uma dor torcica retroesternaltransitria, ocasionada pela diminuio regional do fluxosanguneo coronrio quando o trabalho cardaco edemanda de oxignio excedem a capacidade do sistemaarterial coronariano de fornecer sangue oxigenado.Dentre os principais sintomas, a dor ou desconforto nopeito o principal, sendo descrito como um esma-gamento ou queimadura, acompanhado de sudoreseaumentada, palidez e agitao (MONNAZZI et al., 2001).

    Desencadeada por exerccios fsicos, ansiedadeou estresse, a crise dolorosa pode se irradiar para outrasreas adjacentes como ombro esquerdo, mo (atingindoprincipalmente os dedos mnimos e anular), costas,pescoo e mandbula e dentes. No entanto, a anamnesepermite a identificao do paciente com risco aumen-tado, com histrico de doena cardaca, alm de verificara necessidade de indicao de medicamentos profil-ticos como o dinitrato de isossorbida (Isordil)(GROGAN, 2004).

    Diante de uma crise de angina deve-se interrom-per imediatamente o atendimento, colocar o pacienteem posio confortvel e administrar oxignio. Emseguida administra-se cinco miligramas (5 mg) dedinitrato de isossorbida via sublingual, o qual inicia seuefeito dentro de um minuto, gerando uma vasodilataoque leva ao aumento do fluxo sanguneo. Caso ossintomas no cedam, administra-se uma segunda dose(RESENDE et al., 2009).

    Controlada a crise, cerca de 2 a 3 minutos, opaciente deve ser encaminhado para avaliao mdica.Porm havendo persistncia dos sintomas, pode tratar-se de um quadro mais grave, o infarto do miocrdio,devendo ser solicitado servio mdico de urgncia(ANDRADE, RENALI, 2011).

    Infarto do miocrdio

    O infarto a degenerao do msculo cardacodevido a uma diminuio acentuada e repentina do fluxosanguneo coronariano para um segmento do miocrdio.Este se torna isqumico devido a uma insuficincia desangue e consequentemente de oxignio, resultandoem morte celular e necrose do msculo cardaco. Aprincipal causa, na maioria dos casos, deve-se a placasateromatosas que obstruem parcial ou totalmente umdos ramos da artria coronria (MUNOZ et al., 2008).

    Clinicamente, apresenta-se como uma dor severaretroesternal semelhante angina pectoris, porm demaior intensidade, podendo se refletir para outras reas(nuca, brao esquerdo e mandbula), seguida denuseas, palidez, perda de conscincia, palpitao,sudorese e cianose das mucosas (decorrente da reduodo fluxo sanguneo) (BARROS et al., 2011).

    A primeira conduta interromper o tratamento e

  • CARNEIRO LCIO e BARRETO

    270 R bras ci Sade 16(2):267-272, 2012

    colocar o paciente em posio confortvel (cadeiraodontolgica semi-reclinada), afrouxar suas roupas emant-lo calmo. Enquanto aguarda o servio mdico deurgncia, o cirurgio-dentista deve monitorar os sinaisvitais do paciente (respirao, pulso, presso arterial);administrar 5 mg de dinitrato de isossorbida (isordil)sublingual para que haja uma vasodilatao. A fim dediminuir a ansiedade do paciente, tendo em vista queesta aumenta a atividade do sistema autnomo, econsequentemente a demanda de oxignio, pode-seadministrar midazolam (5 mg) (RESENDE et al., 2009).

    Sistema Endcrino

    Hipoglicemia

    caracterizada por nveis plasmticos de glicoseiguais ou inferiores a 40 miligramas por decilitro desangue. Representa uma ameaa vida, podendo ocorrerem indivduos diabticos e no-diabticos (RESENDEet al., 2009).

    Esse evento pode estar associado a um aumentona metabolizao de glicose de forma espontnea.Contudo as causa mais frequentes so: superdose deinsulina ou hipoglicemiante oral, ingesto excessiva delcool ou interaes medicamentosas que potencializamo efeito dos agentes hipoglicemiantes (RESENDE et al.,2009).

    Antes de qualquer procedimento, o nvel deglicose do sangue deve ser monitorado. Se esteapresentar-se abaixo dos nveis normais (70-120 mg/dlem jejum) o paciente deve ingerir um carboidrato deabsoro rpida, como substncias aucaradas (mel).Porm se o nvel estiver acima do normal, o pacientedeve receber insulina (COURSIN, UNGER, 2002,SANTOS, RUMEL, 2006).

    Os sinais e sintomas da hipoglicemia se desen-volvem rpida e progressivamente, porm caracteriza-se inicialmente por nuseas, sensao de fome e alte-rao no humor e espontaneidade. Em seguida ocorresudorese, taquicardia, aumento da ansiedade, nocooperao e agressividade. Posteriormente, em fasetardia, so comuns convulses, perda de conscincia,diminuio da presso arterial e temperatura corporal(MONNAZZI et al., 2001).

    Diante desse quadro deve-se interromper oatendimento odontolgico e fazer com que o pacienteingira carboidratos simples de rpida absoro (doce,refrigerante, mel), caso ele esteja consciente. Porm sehouver inconscincia, administra-se 50 mililitros desoluo aquosa de glicose a 50% por via endovenosadurante 2 a 3 minutos (MONNAZZI et al., 2001).

    Sistema Nervoso

    Convulso e Epilepsia

    Desordem na funo cerebral normal na qual h

    um desligamento momentneo das sinapses, caracte-rizada por perodos de atividade motora, fenmenossensoriais e mudanas de comportamento e conscincia.Normalmente se apresentam com contraes muscularessustentadas, intermitentes, com perodos curtos derelaxamento e perda de conscincia. Embora possa serde natureza idioptica tambm decorrente de traumasfsicos, estresse emocional, febre alta, abstinncia dedrogas psicotrpicas e lcool e overdose de anestsicos(RESENDE et al., 2009).

    Caso acontea um episdio de convulso noconsultrio odontolgico, deve-se interromperimediatamente o atendimento, remover objetos da bocado paciente, evitando assim sua deglutio acidental,coloc-lo em posio supina, deixando as vias areassuperiores desobstrudas e inclinar sua cabea para olado a fim de que o vmito ou saliva no sejambroncoaspirados. Alm disso, monitoram-se seus sinaisvitais e aguarda o fim da crise (3 a 5 minutos)(MONNAZZI et al., 2001, ANDRADE, RANALI, 2011).

    Caso haja necessidade, algumas drogasanticonvulsivantes podem ser administradas como osbenzodiazepnicos midazolam e diazepam, numaposologia de 0,2 a 0,3 miligramas por quilograma por viaintramuscular e 5 a 10 miligramas por via intravenosa(RESENDE et al., 2009).

    Acidente Vascular Cerebral (AVC)

    O acidente vascular cerebral (AVC) caracte-rizado por uma desordem neurolgica focal resultantede hemorragia intracerebral, devido a uma trombose,embolia, ou insuficincia vascular (MUGAYAR, 2000,BRAGA, ALVARENGA, MORES NETO, 2003).

    H dois tipos de AVCs: o isqumico, que maisprevalente e o hemorrgico. No AVC isqumico ocorreuma obstruo de um vaso sanguneo que interrompe ofluxo de sangue a uma determinada rea do crebro,interferindo assim nas funes neurolgicas depen-dentes da regio afetada. Por sua vez, o AVC hemorr-gico ocorre devido a um aumento sbito da pressoarterial dos vasos ou ruptura destes (ANDRADE,RANALI, 2011).

    Vrios so os fatores de risco para a origem doAVC, podendo ser elucidados no momento da anamnese.Entre eles esto: hipertenso arterial, cardiopatias,diabetes, nveis elevados de colesterol no sangue,hiperglicemia, obesidade, tabagismo, etilismo e uso decontraceptivos orais (CAPUTO et al., 2010).

    Seus sinais e sintomas so bastante variados,dependendo da rea cerebral afetada, no entanto afraqueza o sintoma mais comum, podendo estarassociada dormncia em um dos membros ou face. Afala pode tambm apresentar-se alterada, acompanhadade cefaleia, diminuio e/ou perda de conscincia evmitos. Em casos de AVC hemorrgico de rpidaevoluo pode acontecer diminuio da fora ou

  • Emergncias Mdicas no Consultrio Odontolgico e a (In)Segurana dos Profissionais

    271R bras ci Sade 16(2):267-272, 2012

    imobilizao do lado oposto ao sangramento, alm dedesvio no olhar (RESENDE et al., 2009).

    Em casos de indcios que caracterizem um AVCdurante o atendimento odontolgico, o profissionaldeve interromper o tratamento e ligar imediatamente parao servio mdico de urgncia enquanto mantm respira-o e circulao do paciente, colocando-o em posioconfortvel, alm de monitorar seus sinais vitais. No aconselhvel dar ao paciente nada para comer ou beber(RESENDE et al., 2009).

    Sistema Imunolgico

    Reaes de hipersensibilidade

    Tambm conhecidas como manifestaesalrgicas, so mediadas pelo sistema imunolgico,atravs de uma reao antgeno-anticorpo, podendoenvolver diferentes rgos. Entre as reaes alrgicasmais comuns na odontologia esto as relacionadas aosanestsicos locais, principalmente a lidocana,analgsicos, anti-inflamatrios e antimicrobianos, emespecial a penicilina. Alm destas o profissional temque estar atento a outras substncias capazes dedesencadear crises alrgicas, como o monmero dasresinas acrlicas e o ltex das luvas cirrgicas e deprocedimento (MONTAN et al., 2007, GAUJAC et al.,2009).

    Fenmenos mais simples como urticria (eritema,prurido de graus variveis de leses cutneas) so maiscomuns e tratados por meio da administrao por viaoral de anti-histamnicos, como loratadina, 10 miligramasde 8 em 8 horas. Porm casos mais dramticos deprogressiva sintomatologia, como a anafilaxia (ouchoque anafiltico) necessitam de maiores atenes(RESENDE et al., 2009). Esta consiste em uma reaomediada pela Imunoglobulina E (IgE), simultaneamenteem vrios rgos. O alrgeno habitualmente envolvidoconsiste em droga, veneno de insetos ou alimentos. Areao potencialmente fatal e pode ser provocada napresena de pequenas quantidades de antgeno. caracterizada por um mal-estar, reaes cutneas (rubor,urticria, prurido), dificuldade respiratria (broncocons-trico), edema de laringe, arritmia, taquicardia, paradarespiratria, podendo levar o paciente a bito (ARAUJOet al., 2005, BECKER, REED, 2006).

    Seu tratamento deve ser iniciado de imediato,sendo feita inicialmente a ventilao do paciente comoxignio (6 litros por minuto) e monitoramento de seussinais vitais. Associado a isto, administra-se adrenalina(0,3 mililitros) de forma subcutnea ou intramuscular,sendo repetida a cada cinco minutos, no excedendotrs doses; e antihistamnico (cloridrato de prometazina),50 mg por via intramuscular. Alm destas manobrassolicita-se servio mdico de urgncia (GROGAN, 2004,CHAPMAN, 2003).

    DISCUSSO

    O medo de dentista existe e estando presente considerado fonte de aumento da ansiedade, o que levaao aumento do nmero de ocorrncias de emergnciasmdicas (MALAMED, 1997). A grande maioria dessassituaes emergenciais pode ser evitada, porm, quandoelas ocorrem, alguns conhecimentos simples podemdiminuir o sofrimento, evitar complicaes futuras esalvar vidas. No entanto um atendimento de emergnciamal feito pode comprometer ainda mais a sade davtima. Por isso o cirurgio-dentista deve estar preparadopara o diagnstico da emergncia, definindo suaprioridade e a necessidade do atendimento mdicoespecializado (GUIMARES, 2001, SILVA, 2006).

    Com o aumento da expectativa de vida dospacientes, o uso de drogas potentes sugere maiorespossibilidades de o dentista enfrentar uma emergnciamdica (SANCHEZ, DRUMOND, 2011). Em seu estudocom cirurgies-dentistas, SANTOS, RUMEL, (2006)mostrou que 76,9% dos profissionais entrevistadossentem-se despreparados diante de uma emergnciamdica em seus consultrios, independentemente detrabalhar no servio pblico ou clnica privada. Assimtambm ocorreu em pesquisa feita com profissionaisatuantes nas Estratgias de Sade da Famlia de Pelotas-RS: 46,9% desses profissionais no se considerampreparados para o enfrentamento das urgncias, emborao atendimento emergencial seja o fator crucial entre avida e a morte, e a assistncia adequada e precoce namaioria das vezes, determinante no salvamento de vidasem situaes crticas (TORRES, SANTANA, 2011).

    Para ATHERTON, PEMBERTON, THORNHILL,(2000), os procedimentos cirrgicos parecem estar maisassociados a episdios de emergncias mdicas do queoutros tipos de tratamento odontolgico. O que paraSHAMPAIGNE, (1999) pode ser reflexo da administraode anestsicos locais. Eles so as causas mais comunsde emergncias mdicas, sendo a sncope correspon-dente a 50,37% destas, nos consultrios odontolgicos.Porm, em estudo realizado por MALAMED, (1997),afirmou-se que a hiperventilao, as crises convulsivas,a hipoglicemia e a sncope foram as situaes mais co-muns de emergncias mdicas ocorridas com pacientesantes, durante ou logo aps um tratamento de rotina.

    Para CAPUTO et al., (2010) o treinamento emsuporte bsico de vida imprescindvel ao profissional,mas a maior preocupao dos profissionais ainda coma atualizao e capacitao tcnica odontolgica,apenas. Geralmente, a ateno do profissional est diri-gida apenas s novas tcnicas, materiais e equipamentospara o consultrio, deixando de lado a sua maior misso,que a de cuidar da sade e vida de seu paciente.

    Estes dados mostram que o profissional poucopreparado na graduao e na ps-graduao, tendo elemesmo que buscar a educao continuada aps ter seformado. Como no h uma obrigatoriedade de cursosregulares de capacitao, o assunto torna-se esquecido

  • CARNEIRO LCIO e BARRETO

    272 R bras ci Sade 16(2):267-272, 2012

    por no ser colocado em prtica periodicamente. Comisso o cirurgio-dentista esquece que est lidando comvidas humanas, e, assim, exime-se de assumir os riscose as responsabilidades inerentes profisso (CAPUTOet al., 2010).

    CONSIDERAES FINAIS

    Face ao exposto, pode-se concluir que h um

    nmero elevado de emergncias mdicas no consultrioodontolgico, sendo este decorrente do aumento daexpectativa de vida e maior procura por tratamentos emodontologia.

    Porm tambm visvel uma grande inseguranapor parte dos cirurgies-dentistas no enfrentamento detais situaes, podendo ser consequncia de um inade-quado preparo durante a graduao e falta de capaci-tao durante o exerccio da profisso.

    REFERNCIAS

    1. ANDRADE ED, RANALI J. Emergncias mdicas emodontologia, 3. ed, So Paulo: Artes Mdicas, 2011,172p.

    2. ARAUJO MR, AZEVEDO LR, CASTRO LFA, GRCIO AMT,MACHADO MAN, MATTIOLI T. Reaes adversasmedicamentosas de interesse odontolgico. Rev OdontolAraatuba, 26(2):28-33, 2005.

    3. ATHERTON GJ, PEMBERTON MN, THORNHILL MH.Medical emergencies: the experience of staff of a UKdental teaching hospital. Br Dent, 188(6):320-324, 2000.

    4. BARRETO RC, PEREIRA GAS. Emergncia na clnicamdica-odontolgica, 1. ed, Joo Pessoa: Universitria -UFPB, 2011, 312 p.

    5. BARROS MNF, GAUJAC C, TRENTO C, ANDRADE MCV.Tratamento de pacientes cardiopatas na clnicaOdontologica. Revista Sade e Pesquisa, 4(1):109-114,2011.

    6. BRAGA JL, ALVARENGA RMP, MORES NETOS JBM.Acidente vascular cerebral. RBM, 60(3):88-94, 2003.

    7. BECKER DE, REED KL. Essentials of local anestheticpharmacology. Anesth Prog, 53(3):98-108, 2006.

    8. CAPUTO IGC, BAZZO GJ, SILVA RHA, DARUGE JNIORE. Vidas em risco: Emergncias Mdicas em ConsultrioOdontolgico. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac, 10(3):51-58, 2010.

    9. COURSIN DB, UNGER B. Endocrine complications inintensive care unit patients. Seminar in Anesthesia,Perioperative Medicine and Pain, 21(1):59-74, 2002.

    10. CHAPMAN NPJ. An overview of drugs and ancillaryequipment for the dentists emergency kits. Aust Dent J,48(2):130-132, 2003.

    11. GAUJAC C, OLIVEIRA AN, BARRETO FAM, SALGADOLM, OLIVEIRA MS, GIRO RS. Reaes alrgicasmedicamentosas no consultrio odontolgico. Revistade Odontol da Univer Cidade de So Paulo, 21(3):268-276, 2009.

    12. GOMEZ RS, MAIA DMF, LEHMAN LFC, SANTORO DR,AZEREDO P, CASTRO WH. Emergncias mdicas noconsultrio odontolgico. Rev CROMG, 5(1):4-10, 1999.

    13. GONZAGA HFS, BUSO L, JORGE MA, GONZAGA LHS,CHAVES MD, ALMEIDA OP. Evaluation of knowledgeand experience of dentists of So Paulo satate, Brazilabout cardiopulmonary resuscitation. Braz Dent J,14(3):220-222, 2003.

    14. GROGAN DV. The pharmacology of recommendedmedical emergency drugs.Tex Dent J, 121(12):1140-1148,2004.

    15. GUIMARES PSP. Emergncias mdicas emodontologia. Rev Bras Odontol, 58(5):294-295, 2001.

    16. JOLY DE. Evaluation of the medical history. Anesth Prog,42(3-4):84-9, 1995.

    17. MALAMED SF. Emergency medicine: Beyond the basics.J. Amer. Dent. Assoc, 128(7):843-54, 1997.

    18. MARINGONI RL. Principais emergncias mdicas noconsultrio odontolgico. Rev APCD, 52 (5):388-396,1998.

    19. MARZOLA C, GRIZA GL. Profissionais e Acadmicos deodontologia esto aptos para salvar vidas? Jornal deAssessoria ao Odontologista, 27(4):19-27, 2001.

    20. MONNAZZI MS, PRATA DM, VIEIRA EH, GABRIELLIMAC, CARLOS E. Emergencias e urgncias Mdicas.Como proceder? RGO, 49(1):7-11, 2001

    21. MONEGO ET, JARDIM PC. Determinantes de risco paradoenas cardiovasculares em escolares. Arq Bras Cardiol,87(1):37-45, 2006.

    22. MONTAN MF, COGO K, BERGAMASCHI CC, VOLPATOMC, ANDRADE ED. Mortalidade relacionada ao uso deanestsicos locais em odontologia. RGO, 55(2): 197-202,2007

    23. MUGAYAR FRL. Pacientes portadores de necesidadesespeciais: manual de odontologa e sade oral, 1.ed.,So Paulo:Pancast, 2000, 261p.

    24. MUNOZ MM, SORIANO YJ, RODA RP, SARRIN G.Cardiovascular diseases in dental practice. Practicalconsiderations. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 13(5):296-302, 2008.

    25. RESENDE RG, LEHMAN LFC, MIRANDA BB, CUNHA JF,COSTA MLT, GOMEZ RS, et al. Complicaes sistmicasno consultrio odontolgico: parteI. Arq em Odontol,45(1):44-50, 2009.

    26. RESENDE RG, LEHMAN LFC, VIANA ACD, ALVES FF,JORGE KO, FRAGA MG, et al. Complicaes sistmicasno consultrio odontolgico: parteII. Arq em Odontol,45(2):44-50, 2009.

    27. SANCHEZ HF, DRUMOND MM. Atendimento de urgnciasem uma faculdade de odontologia de Minas Gerais:perfil do paciente e resolutividade. RGO, 59(1):79-86,2011.

    28. SANTOS JC, RUMEL D. Emergncia mdica na prticaodontolgica no Estado de Santa Catarina: ocorrncia,equipamentos e drogas, conhecimento e treinamentodos cirurgies-dentistas. Rev Cincia e SadeColetiva,11(1):183-190, 2006.

    29. SHAMPAINE GS. Patient assessment and preventivemeasures for medical emergencies in the dental office.Dent Clin North Amer, 43(3):383-400, 1999.

    30. SILVA EL. Alunos formandos e profissionais deodontologia esto capacitados para reconheceremsituaes em emergncia mdica e utilizarem protocolosde atendimento? Arq em Odontol, 42(4): 257-336, 2006.

    31. TORRES AAP, SANTANA BP. Enfrentamento dasemergncias pelos profissionais da Estratgia de Sadeda Famlia. Rev. Enferm. Sade, 1(1):107-112, 2011.

    Correspondncia

    Priscilla Suassuna Carneiro LcioRua Desportista Aurlio Rocha, 422, Bairro dos EstadosJoo Pessoa Paraba BrasilCEP: 58.031-000E-mail: [email protected]