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1 Empreendimentos Sociais: os Desafios da Produção à Comercialização Autoria: Edileusa Godói-de-Sousa, José Eduardo Ferreira Lopes, Murilo Brehner de Faria Alves RESUMO Este trabalho analisou a eficiência dos procedimentos de produção e logísticos adotados pelos Empreendimentos Sociais no Brasil. A abordagem foi quantitativa, envolvendo 21.859 empreendimentos, abrangendo todas as unidades da federação. Destes 51% foram associações, seguidos por grupos informais (37%), cooperativas (10%) e 2% outras formas. Tais empreendimentos foram mapeados pela Secretaria Nacional de Economia Solidária, em parceria com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Os resultados apontaram que os processos de produção e logísticos desenvolvidos pelos empreendimentos analisados estão em fase de gestação em relação ao que propõem as estratégias de produção e gestão logística consistentes para o terceiro setor.

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Empreendimentos Sociais: os Desafios da Produção à Comercialização

Autoria: Edileusa Godói-de-Sousa, José Eduardo Ferreira Lopes, Murilo Brehner de Faria Alves

RESUMO Este trabalho analisou a eficiência dos procedimentos de produção e logísticos adotados pelos Empreendimentos Sociais no Brasil. A abordagem foi quantitativa, envolvendo 21.859 empreendimentos, abrangendo todas as unidades da federação. Destes 51% foram associações, seguidos por grupos informais (37%), cooperativas (10%) e 2% outras formas. Tais empreendimentos foram mapeados pela Secretaria Nacional de Economia Solidária, em parceria com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Os resultados apontaram que os processos de produção e logísticos desenvolvidos pelos empreendimentos analisados estão em fase de gestação em relação ao que propõem as estratégias de produção e gestão logística consistentes para o terceiro setor.

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1 INTRODUÇÃO

O Empreendedorismo Social, no atual contexto de grandes mudanças nos âmbitos sócio-econômico-político e organizacional, emerge como uma via promissora da renovação da intervenção social, das oportunidades do mercado de trabalho, da criação de formas alternativas de produção econômica e de participação social e democrática (Quintão, 2004; Godói-de-Sousa, 2010).

No âmbito desta pesquisa foram considerados empreendimentos sociais aqueles que incluem empreendimentos de negócios de propósitos sociais, tais como associações, cooperativas, grupos informais e empresas autogestoras (Dees, 2001; Oliveira, 2003, 2005).

Ao gerarem renda para pessoas ou grupos que estavam fora do mercado de trabalho, esses tipos de iniciativas parecem subsistir por causa também da geração de valor social. Evidentemente, tal vocação não se manifesta sem dificuldades na realidade concreta dessas experiências. Um exemplo disso é que ainda não há uma legislação específica para essas iniciativas, o que tem levado a uma incoerência no tratamento dos empreendimentos sociais. A prova disso é evidente quando se nota que esses empreendimentos sofrem as dificuldades de ora serem vistos como uma empresa, ao agirem de forma muito semelhante ao mercado, realizando processos e práticas que gerem resultados mensuráveis; e ora serem vistos como uma organização do terceiro setor, ao buscarem gerar valor social e, consequentemente, a melhoria das condições de vida das famílias envolvidas.

No primeiro caso, o risco, como aponta Tenório (1999), é que estas organizações “se enquadrem no espaço do mercado”, e a busca por profissionalização seja mais do que uma forma de defesa de novos valores de cidadania, mas uma estratégia de sobrevivência organizacional. No segundo caso, conforme Salamon (1997), o risco é de que tais organizações continuem vulneráveis às ameaças externas, ou seja, incertas quanto às suas fontes de apoio.

Assim, por um lado, o surgimento destes empreendimentos sociais revela pontos significantes, tais como a criatividade, a audácia dos empreendedores em gerir formas até então inexistente, que apontam e introduzem novos horizontes na dinâmica social; e por outro, existe a dificuldade deles se enquadrarem em uma legislação que lhes permitam sair da informalidade. Para Valadão Júnior (2003), esse é um motivo pelo qual essas iniciativas ainda não puderam se organizar no sentido de congregar uma rede de empreendimentos e, assim, adquirir mais força para lidar com os entraves do associativismo.

Apesar de estes empreendimentos sociais estarem inseridos em um campo de estudos ainda imaturo em sua produção, algumas discussões nacionais já revelam convergência de preocupações sobre alguns pontos importantes, entre eles: a natureza e as repercussões do crescimento dos empreendimentos sociais no Brasil; a necessidade de aprofundar conhecimentos sobre essas formas de organizações que vêm surgindo; e de identificar políticas e ações que possam ajudar a inserir gradualmente esses empreendimentos num quadro mais amplo de desenvolvimento sustentável.

A partir dessas discussões, tudo aponta que para que a dinâmica das ações de tais empreendimentos ocorra efetivamente é necessário que eles se utilizem tanto dos conhecimentos produzidos socialmente (Nonaka & Takeuchi, 1997) como também de ferramentas funcionais que possam ser aplicadas às organizações de terceiro setor e que se originam fundamentalmente daquelas que não são como: as ferramentas do marketing, o planejamento estratégico, o controle financeiro, a gestão das pessoas e da organização (Santana, Correa, & Paula Neto, 2010).

Nesse sentido, a produção e a logística ainda são partes esquecidas na análise do desenvolvimento estratégico das organizações de terceiro setor - sobre marketing, planejamento estratégico, controle financeiro existe uma teoria ainda tímida, no entanto mais

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desenvolvida, porém; pouco se sabe sobre como os recursos fundamentais paras as organizações sociais são movimentados e gerenciados, como é o processo de produção, de que maneira os insumos e produtos acabados são armazenados e transportados com o intento de atender às necessidade sociais em uma rede crescente de relacionamentos de organizações de terceiro setor.

Nessa perspectiva, surge a necessidade de identificar e discutir os procedimentos de produção e logísticos nos empreendimentos sociais. Ao levar em conta que a logística na contemporaneidade, juntamente com os novos sistemas operacionais, de controle e rastreamento, se tornou uma fonte estratégicas para alavancar os negócios e alcançar bons resultados operacionais nas organizações. (Santana, Correa, & Paula Neto, 2010).

Assim, este trabalho buscou identificar e analisar as formas de organização dos empreendimentos sociais no Brasil e seus aspectos de produção e logísticos, ou seja, quais as principais dificuldades dos empreendimentos sociais no Brasil nesses aspectos.

Para essa discussão, analisou-se a Base de Dados sobre os EES, Empreendimentos Econômicos Solidários no Brasil, criada a partir do Primeiro Mapeamento Nacional, e disponibilizada pela SENAES/MTE, Secretaria Nacional de Economia Solidária, ligada ao ministério do Trabalho. Na primeira fase da pesquisa, publicada em 2006, foram identificados 14.954 EES, em 2.274 municípios do Brasil. Na segunda fase, com os dados publicados em 2007, esses empreendimentos somaram-se 21.859, distribuídos em 48% dos municípios brasileiros.

A escolha destes empreendimentos para este estudo se justifica, pelo fato deles constituírem a primeira Base de Dados de empreendimentos dessa natureza no Brasil. E ainda, pelo fato dos dados do mapeamento conterem indicadores importantes quanto aos aspectos de produção e logísticos dessas iniciativas. A proposta de explorações dessa Base de Dados foi no sentido de aferir se as práticas de produção e logística adotadas por esses empreendimentos evidenciam características específicas do Empreendedorismo Social como um fenômeno de inovação e desenvolvimento local.

Nesse sentido, estar-se-á ampliando o debate realizado até então sobre empreendimentos sociais, considerando-se que a abordagem sobre esses empreendimentos ainda não conta no Brasil com o necessário suporte de fatos documentados, o que justifica a necessidade de pesquisas nessa direção.

Deste modo, a contribuição deste estudo se faz importante na medida em que os empreendimentos sociais sofrem crescentes influências de fatores do ambiente externo, tendo que implementar uma gestão que atenda os principais aspectos de produção e de cadeia logística, no sentido de sobreviverem às novas condições ambientais. Nesse sentido, espera-se que este estudo sirva como ponto de partida para uma reflexão por parte dos empreendimentos sociais da importância do planejamento da produção e logístico no terceiro setor. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Empreendedorismo Social - um fenômeno de inovação e desenvolvimento social

O empreendedorismo como modelo de gestão aplicável às organizações, ocorre no período de transição para um novo estágio da humanidade, ensejando mudanças estruturais em todos os setores relevantes – econômico, social, político e cultural. (Silva, 2011). Com isso, o tema tem sido objeto de estudo das mais diversas áreas das ciências humanas: Administração, Economia, Sociologia, Psicologia, dentre outras. O empreendedorismo tem se feito presente também na pauta de discussão dentro das instituições de diferentes perfis:

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públicas, privadas e sem fins lucrativos. Portanto, uma nova dimensão do empreendedorismo começa a se despontar a partir dessas discussões: o Empreendedorismo Social.

Para Coelho & Godoy (2007), o Empreendedorismo Social envolve setores diversos, e uma dependência múltipla que se renova espalhando-se e se espelhando de diversas maneiras para a melhora social em um processo de inclusão.

Logo, como agente de mudança, o Terceiro Setor e o Empreendimento Social – subclassificação do primeiro, entendido com um enfoque social, porém envolvido em grande parcela com atividades também mercantis e trabalhistas – possuem desafios que se colocam sobre a necessidade de profissionalização destes agentes sociais. Isso se deve, pois estão em situação de grande complexidade no contexto de um ambiente crescentemente exigente colocando-se em discussão a visão tradicional, voluntarista e intuitiva, buscando-se uma visão mais ampla como a atuação dos empreendimentos e empreendedores sociais no âmbito legal e social (Borgaza & Solari, 2001; Anheier, 2000).

Promove-se assim com o Empreendedorismo Social, o Terceiro Setor, uma inserção estrutural com efeitos menos diretos sobre a atividade econômica, pois a influência dependerá da denominada densidade com que se relacionam as organizações e de que maneira se estruturam em uma cadeia logística de troca de informações, e materiais tangíveis. Neste caso, segundo Vasconcelos (2007), as organizações trabalhando de maneira conectada, se identificando e, mesmo possuindo focos diferentes de atuação, podendo gerar modificações estruturais e comportamentais que acabariam refletindo na ação econômica e na reformulação da consciência coletiva da sociedade, na busca da reinterpretação de valores. Sendo assim, uma alta densidade de rede ocasionaria um efeito de maiores dimensões no comportamento econômico, e na conjuntura social.

Dessa maneira, o Empreendedorismo Social nas suas diversas formas, vem sendo compreendido como um fenômeno em desenvolvimento, com finalidade multidimensional - ao lado das dimensões econômica e social, tende a integrar as dimensões cultural, ecológica e política - promovendo a qualidade de vida, o desenvolvimento humano e sinalizando respostas às necessidades de inovação e desenvolvimento social. (Godói-de-Sousa, 2010). 2.2 Logística e Cadeia de produção: os desafios dos empreendimentos sociais

Para o Council of Supply Chain Management Professionals (2011), logística, trata-se de uma gestão operacional que geralmente inclue gerenciamento de transporte de entrada e saída, gerenciamento de frota, armazenagem, manuseio de materiais, atendimento de pedidos, logística do projeto de rede, gerenciamento de estoque, oferta / demanda de planejamento e gestão de serviços de terceiros, ou seja, de outros fornecedores de logística. Em graus variados, a função logística também inclui fornecimento e aquisição de planejamento, produção e programação, embalagem e montagem e atendimento ao cliente. Ela está envolvida em todos os níveis de planejamento e execução - estratégico, operacional e tático. Gestão de logística, portanto, é uma função integradora, que coordena e aperfeiçoa todas as atividades logísticas, bem como integra essas atividades com outras funções, incluindo marketing, fabricação, vendas, finanças e tecnologia da informação.

Para Santana, Correa, & Paula Neto (2010, p. 6) um dos objetivos mais importantes da logística é conseguir criar mecanismos para entregar os produtos ao destino final num tempo mais curto possível, reduzindo os custos, isso pode ser encarado em uma maneira de movimentar doações ou mercadorias de forma eficiente para se evitar possíveis gastos, esses que devem ser evitados devido à fragilidade financeira das organizações se subsidiarem.

A logística, ainda segundo os referidos autores, traz como palavras chave estoque, que se relaciona com a quantidade necessária para atender um nível de demanda, a armazenagem que diz respeito a condições de segurança, condicionamento, manuseio, temperatura, além

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disso ela agrega valores como lugar, tempo, qualidade e informação, tão necessárias no dia de hoje, o que não afasta essa necessidade para as organizações de terceiro setor, funcionando como ferramenta para alcance do objetivo de atendimento social, e papel de modificadora dos paradigmas da sociedade.

Um estudo realizado por Godói-de-Sousa (2010), envolvendo 32 empreendimentos sociais no Brasil, apontou que embora os gestores desses empreendimentos estejam preocupados com a perenidade e desenvolvimento deles, pouco se tem realizado em termos de estruturação e planejamento do processo de gestão. A pesquisa revelou, ainda, o estado de vulnerabilidade e precariedade em que se encontram tais empreendimentos sociais no Brasil: desde a instabilidade financeira, a uma precária estrutura organizacional. Existe certa desorganização no que diz respeito à captação de insumos, armazenagem, controle e distribuição dos produtos fabricados. A ausência de estratégia de produção e logística no processo foi notável.

Para França Filho e Laville (2004), tais empreendimentos, ao agirem apenas nos circuitos populares da economia, marcados pela pobreza das condições de vida, funcionando em condições precárias, com um baixo nível de estruturação interna e de articulação externa, dificilmente conseguem ir além da geração de renda apenas para os seus membros diretamente envolvidos. Quando o ideal seria gerar ocupação e renda também para a própria comunidade, ativando um circuito de relações de troca, produção e consumo de bens e serviços que pudessem reforçar a cadeia socioprodutiva local. Conforme os referidos autores, isso é possível quando ocorrer a combinação da cooperação, da autogestão e da solidariedade na realização de atividades econômicas destes empreendimentos.

A logística e a produção são de estrema importância na condução eficiente da gestão das organizações, que proporciona uma série de ações integradas entre os diversos setores que serão direcionadas às expectativas e necessidades do mercado, para o cunho legal e social. Soma-se a isso, os resultados a serem alcançados em relação à disponibilização de produtos e serviços aos clientes, dependente de como essa integração é realizada, em quais momentos e qual o tipo de relacionamento estabelecido entre as partes sendo fundamental esta capacitação operacional e estratégica para que se mantenha a sobrevivência em um ambiente competitivo e mutável (Bowersox & Closs, 2001; Christopher, 2009; Harrison & Van Hoek, 2003).

Nesse sentido, a gestão da cadeia de suprimentos deve integrar todas as atividades associadas à transformação e o fluxo de bens e serviços, desde as empresas fornecedoras de matéria-prima até o usuário final incluindo o fluxo de informação necessário para o sucesso (Ballou et al. 2000). O fluxo de produtos segue em direção aos consumidores, o de informação parte dos consumidores até chegar ao alcance dos fornecedores (Bowersox & Closs, 2001). O objetivo é que cada membro desempenhe as tarefas relacionadas à sua competência central, evitando-se desperdícios e funções duplicadas, facilitando o gerenciamento holístico que permite aproveitar as sinergias produzidas (Poirier, 2001).

As cadeias de suprimentos podem assumir diferentes formas, tamanhos e graus de complexidade de acordo com os produtos, processos de produção e posicionamento estratégico das organizações (Laudon & Laudon, 2004).

Isso não é diferente para os Empreendimentos Sociais, que devido à necessidade de profissionalização, devem considerar a logística e a gestão da cadeia de suprimentos e sua produção como uma forma importante de estratégia de sobrevivência, que gerará trabalho e renda e a obtenção dos recursos para tal, envolvendo a criação de cadeias importantes de fornecedores que seriam os contribuintes ou mesmo os doadores, encontrando-se também formas de armazenagem de todo e qualquer recurso necessário para a organização e mais a maneira de transporte e controle desses materiais. A logística e a produção envolvem planejamento, implementação e controle de materiais, bens finais e intermediários, dos pontos de origem ao ponto de uso para atender as necessidades tanto de sobrevivência da

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organização, como dos possíveis clientes, contribuindo para o desenvolvimento social autônomo (Kotler, 2000).

Em relação à estratégia de produção, é preciso pensar em prioridades, áreas de decisão e processos de negócios. Assim, de acordo com Garvin (1998), na abordagem dos processos organizacionais como processos de trabalho, os processos podem ser subdivididos em operacionais e administrativos. Os operacionais são aqueles que criam, produzem e distribuem os produtos e serviços que os clientes desejam. Os processos administrativos não geram produtos ou serviços aos clientes, mas são necessários para que os processos operacionais se realizem de maneira eficaz. Desenvolvimento de novos produtos, processos de produção e logística constituem exemplos de processos operacionais, enquanto planejamento estratégico, orçamento e sistemas de medição de desempenho são processos administrativos.

Além dos dois processos propostos por Garvin (1998), o American Productivity & Quality Center (2012), acrescenta a dimensão suporte aos processos administrativos. Os operacionais incluem: Entendimento do mercado e dos clientes; Desenvolvimento da visão e da estratégia; Projeto de produtos e serviços; Desenvolvimento da estratégia de marketing e de vendas; Produção e entrega dos produtos e/ou serviços; Emissão de faturas e prestação de serviços pós-venda. Já os processos administrativos e de suporte são: Desenvolvimento e administração de recursos humanos; Administração de informações; Administração financeira e de recursos físicos; Gestão ambiental; Gestão de relações externas; Administração de melhorias e mudanças. 3 METODOLOGIA

Quanto à abordagem, este trabalho trata-se de uma pesquisa quantitativa. Quantitativa porque traduz em números as opiniões e as informações, requerendo o uso de recursos e técnicas estatísticas (Richardson, 1999). Nesta abordagem quantitativa foram analisados os dados levantados sobre a realidade dos EES, Empreendimentos Econômicos Solidários que atuam no Brasil, disponibilizados no Banco de Dados elaborado pela SENAES/MTE.

O mapeamento sobre os EES no Brasil, começou a ser realizado em 2004, sendo publicado os primeiros dados em 2006, com 14.950 empreendimentos pesquisados, constituindo a primeira base do SIES, Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária. Em 2007, o banco de dados foi ampliado com visita a mais 6.905 empreendimentos, totalizando 21.858 EES, em todas as unidades da federação, abrangendo 48% dos municípios brasileiros e envolvendo cerca de 1 milhão e 650 mil homens e mulheres. Para a realização do trabalho de campo houve um processo de mobilização nacional com a constituição de equipes gestoras estaduais (EGEs) e a formação de equipes de trabalho envolvendo mais de 230 entidades e 600 técnicos e entrevistadores.

Com as informações disponibilizadas neste banco de dados, neste trabalho foi avaliada a descrição estatística das categorias elaboradas a partir da literatura consultada. As dimensões analisadas abrangeram, respectivamente: (1) Suprimentos (Fornecedores, Armazenagem, Transporte); (2) Produção (Escala, Automação); (3) Comercialização (Transporte, Canal de venda).

Para análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva - medidas estatísticas (medida de tendência central, dispersão, frequências e representação gráfica dos dados) como forma de resumir uma grande quantidade de dados e mostrar seu comportamento. As medidas de tendência central são aquelas que resumem uma série de dados brutos, possibilitando descrever o centro da distribuição, e as medidas de dispersão possibilitam verificar variabilidade desses dados. Com essas análise pretende-se criar uma visão geral dos dados obtidos.

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3.1 Caracterização da Amostra

A pesquisa apresentou dados sobre ano de criação, produtos e serviços, comercialização, crédito, finanças, autogestão e compromisso social e ambiental de cada um dos empreendimentos solidários identificados, distribuídos por municípios, estados, regiões, microrregiões, mesorregiões, territórios de cidadania e nacional. A seguir foi apresentada uma síntese dos principais dados do mapeamento dos EES (2005-2007).

A expansão dos EES no país ocorreu basicamente a partir dos anos 1980. Contudo, a grande maioria dos EES teve seu início na década de 90 com gradativa expansão a partir dos anos 2000. A longevidade média dos empreendimentos é de aproximadamente 8 anos, sendo que 10% dos empreendimentos mais antigos tem mais de 17 anos de existência e 10% dos empreendimentos mais novos tem menos de 2 anos de existência.

Os empreendimentos mapeados estão distribuídos pelas regiões do Brasil nas seguintes proporções: região Nordeste (9.498 - 43%), Sudeste (3.912 - 18,0%), Sul (3.583 - 16%), Norte (2.656 - 12%) e Centro-Oeste (2.210 - 10%).

De acordo com os dados da pesquisa, 6.746 (39,9%) das iniciativas em empreender foram motivadas em primeiro lugar, pela construção de alternativas ao desemprego, seguido por complemento da renda dos sócios (9.635 - 44%) e obtenção de maiores ganhos (7.974 - 36%). Destacam-se ainda: possibilidade da gestão coletiva da atividade e condição para acesso a crédito.Essa situação modifica-se ligeiramente, dependendo da região do Brasil.

Tudo leva a crer que as motivações na criação destes empreendimentos sociais foram associadas mais ao contexto de crise social gerada pelo desemprego, suscitando a necessidade de se organizar a produção social sob outras formas de gestão do trabalho e da produção, do que de alternativa organizativa para o desenvolvimento local sustentável e integrado, como defendem alguns autores (Albagli & MacieL, 2002; Quintão, 2004; Oliveira, 2005; Godói-de-Sousa, 2010). Isso talvez justifique porque o desemprego apareceu como o maior motivador da criação de 39,9% dos empreendimentos pesquisados.

Os dados indicaram que mais da metade dos empreendimentos (11.326 - 51%) organizaram-se na forma de associações, 7.978 (37%) em grupos informais, 2.115 (10%) cooperativas e 440 (2%) distribuídos entre empresas autogestionárias, redes/centrais e outras formas. Essa distribuição foi diferenciada conforme as regiões. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste predominou o perfil nacional, diferentemente das regiões Sul e Sudeste onde houve menor participação de associações e maior participação de grupos informais.

Estão associados nos EES cerca de 1 milhão e 650 mil homens e mulheres, resultando numa média de 75 participantes por empreendimento. A esse conjunto agregou-se mais de 28 mil trabalhadores e trabalhadoras participantes que, embora não-sócios, possuem algum vínculo com os EES. Na composição social dos empreendimentos verificou-se que, 15.709 (72%) são formados por homens e mulheres, 3.875 (18%) somente por mulheres e 2.053 (10%) formados somente por homens. No conjunto dos participantes associados aos EES, a participação relativa dos homens foi superior a das mulheres (63% e 37%, respectivamente).

As mulheres predominou nos empreendimentos com menos de 10 sócios (66%) e de 11 a 20 sócios (53%), e os homens nos EES que possuem mais de 20 sócios (58% nos EES de 21 a 50 sócios e 64% nos EES com mais de 50 sócios). Ao examinar a composição do quadro social dos empreendimentos verificou-se que quanto menor o seu tamanho maior a participação relativa das mulheres e vice-versa.

Quase a metade 10.513 (48%) dos EES atua exclusivamente na área rural, 7.539 (35%) atuam exclusivamente na área urbana e 3.711 (17%) têm atuação tanto na área rural como na área urbana. Considerando as regiões, cabe destacar que na região Sudeste a maioria dos EES (60%) atua na área urbana, o mesmo acontece na região Sul (41%). Nas regiões Norte e

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Nordeste a participação dos EES que atuam exclusivamente na área rural está acima da média nacional (51% e 62% respectivamente).

Ao considerar estes dados, tudo indica que as tradições de trabalho coletivo brasileiro encontram-se na dinâmica rural, uma vez que dos 21.859 empreendimentos pesquisados, mais da metade (65%) tem atuação rural, ao somar aqueles empreendimentos com atuação rural e aqueles com atuação rural e urbana.

Grande parte dos EES conseguiu obter sobras em suas atividades econômicas 8.324 (38%) enquanto que somente 3.259 (15%) dos empreendimentos foram deficitários, isto é, não obtiveram faturamento suficiente para pagar as suas despesas e 7.383 (34%), embora não obtendo sobras, conseguiu pagar as despesas realizadas. 2.776 (13%) dos EES não foram organizados com vistas à obtenção de resultados financeiros ou não informaram. Com relação à remuneração, apenas 12.220 (56%) estão conseguindo remunerar os sócios. Destes, somente 10.872 informaram a remuneração. Do total, 4.117 (38%) apresentam remuneração com valor até meio salário mínimo (SM). Em 2.657 (25%) ela é de meio a um SM e em 2.812 (26%) ganham de 1 a 2 SM, 1.043 (9%) ficam entre 2 a 5 SM e apenas 243 (2%) mais de 5 SM.

Apesar de grande parte conseguir obter sobras em suas atividades econômicas, tudo indica que esses empreendimentos foram orientados, basicamente, pela necessidade de gerar renda em função do atendimento imediato das necessidades básicas dos envolvidos, que são pessoas e comunidades inseridas nos estratos socioeconômicos mais baixos da estrutura social brasileira. Este direcionamento é previsível, conforme França Filho e Laville (2004), para quem o alcance deste tipo de iniciativa, na maioria dos casos, não consegue ir além de assegurar a sobrevivência dos grupos.

O mapeamento mostrou que a grande maioria dos EES 15.886 (73%) teve algum tipo de apoio, assistência ou assessoria para se constituir, se formalizar ou se consolidar no mercado. A maior parte 8.058 (51%) recebeu qualificação ou assessoria em áreas técnicas e gerenciais, e 5.393 (34%), formação sócio-política em autogestão, cooperativismo e economia solidária, e em menor grau 2.826 (18%) ajuda na formalização ou registro. O principal tipo de apoio aos EES (8.915 - 56%) veio de órgãos governamentais. Este dado ainda precisa ser desagregado para se examinar quais as características deste apoio governamental – por exemplo, em que regiões ou estados ocorre com mais frequência e em que áreas (produção, gestão, organização política etc.). Destaca-se o vínculo com ONGs, OSCIPs, Igrejas, associações e conselhos comunitários (5.097 - 32%), seguido pelo Sistema “S” – Sebrae, Sescoop, etc (4.466 - 28%), Movimento Sindical (2.534 - 16%), Universidades, Incubadoras, Unitrabalho (1.201 - 8%), Cooperativas de técnicos (663 - 4%) e outras (1.559 - 10%). 4 ANÁLISE DOS DADOS

As categorias e os indicadores construídos neste trabalho buscaram explorar o máximo as informações contidas na Base de Dados sobre os EES, Empreendimentos Econômicos Solidários. No entanto, talvez não sejam necessariamente os melhores do ponto de vista conceitual, pelo fato da necessidade de adaptação aos dados já disponíveis na Base de Dados. Esse fato constitui um dos limites desta pesquisa, sem comprometer os resultados da mesma, pois acredita-se que tais categorias e seus indicadores se mostraram relevantes.

Para o Empreendedorismo Social, decisões básicas de produção, como planejamento e escala e da logística como a armazenagem, os estoques e o transporte, são importantes na reflexão estratégica de sobrevivência, uma vez que afetarão na estrutura organizacional, na forma de tratamento de seus recursos que são muitas vezes escassos, mas que se bem geridos poderão contribuir para uma menor fragilidade da organização, permitindo maior controle de incertezas e observação e previsibilidade de possíveis necessidades produtivas e financeiras para a atuação social saudável.

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Na busca de sobrevivência, parcerias com outras organizações por intermédio do cuidado com a logística, poderá permitir a criação de novas redes de contato com outras organizações com fins sociais similares, canais de vendas colaborativas podem surgir, constituindo um conjunto de organizações interdependentes que divulgam e tornam os produtos e serviços disponíveis entre Empreendimentos Sociais, por meio da utilização do transporte eficiente que também poderá ser vinculado a um empreendimento social na busca de formação de redes de comunicação, podendo facilitar a comercialização e a visão de escala produtiva. A logística e controle produtivo então, para o Empreendimento Social, constituem-se como ferramenta importante para o desenvolvimento significativo, profissional e racionalizante, das atividades que ela propõe, sem, no entanto esquecer-se do foco central de promoção de trabalho e renda e promoção social legítima sem o intuito final de obtenção de lucro, com foco de atuação adicional e efetiva para e na sociedade.

Contudo, conforme os dados e as análises na sequência apontam, os empreendimentos sociais que estão representados nesta pesquisa estão distantes das situações supracitadas, necessitando de esforço e planejamento para mudarem de patamar e, efetivamente, começarem a usufruir dos benefícios do planejamento da produção e do uso eficiente dos processos logísticos.

A atividade econômica dos EES é muito variada. Destacam-se entre os principais produtos produzidos os do ramo de alimentação (agricultura, pecuária, pesca, doces e outros) e artesanato. Levantou-se a partir de respostas de 70% dos empreendimentos a cifra de mais de R$ 650 milhões de valor mensal de produção. Contudo, dado a natureza destes produtos, é possível entender a distância dos processos de produção e logística destes empreendimentos quando comparados aos processos eficientes apontados por Ballou e outros (2000).

Quando se leva em conta as atividades tradicionais da cultura brasileira, é possível compreender por que as referidas atividades aparecem em destaque. São atividades tipicamente desenvolvidas por grupos sociais que, em sua maioria, vivem em condições precárias. E que vão criando suas estratégias de sobrevivência por meio do trabalho coletivo. Entretanto, conforme se observa na Figura 1, a realização de atividades coletivas pelos próprios sócios dos empreendimentos ainda é muito baixa, com destaque positivo para as atividades de uso de infraestrutura e de equipamentos que atingem aproximadamente 50% dos empreendimentos pesquisados. O processo de produção é desenvolvido conjuntamente pelos sócios em menos de 40% dos empreendimentos.

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%

Produção

Prestação do serviço ou trabalho

Comercialização ou venda

Troca de produtos ou serviços

Uso de equipamento(s) (máquinas ,ferramentas, etc.)

Uso de infraestrutura(prédios, armazéns, sedes, lojas, etc.)

Aquisição(compra ou coleta) de matérias primas e insumos

Poupança ou crédito

Obtenção de clientes ou serviços para os/as sócios/as

Não

Sim

Figura 1. Realização Coletiva pelos Sócios do Empreendimento Fonte: banco de dados do SIES

Em relação à origem da matéria prima ou insumo, verificou-se que somente 3,2% da aquisição vinham dos próprios associados e 18,1% dos outros empreendimentos. Conforme se

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observa na Figura 2, quase 50% dos insumos utilizados no processo produtivo são adquiridos de empresas privadas.

Estes resultados apontam a incapacidade dos empreendimentos de se autosustentarem em termos da origem da matéria-prima, talvez pela falta de redes de comércio justo ou desenvolvimento de cadeias de produção.

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%

Primeira Opção

Segunda Opção

Terceira Opção

Aquisição de empresa privada

Associados(as)

Doação

Não se aplica

Coleta ( materiais recicláveis ou matériaprima para artesanato)

Aquisição de produtores(as) não sócio(as)

Aquisição de outros empreendimentos deES

Outra

Não Informado

Figura 2. Origem da matéria prima ou insumo Fonte: banco de dados do SIES

Quando verifica-se a situação da sede do empreendimento, observa-se que apenas 41,7% dos empreendimentos possuem sede própria, enquanto 39,6% dos empreendimentos estão em sedes cedidas ou emprestadas. Em conjunto com a sede, observa-se também - Erro! Fonte de referência não encontrada.3 – um volume considerável (19,4%) de equipamentos cedidos ou emprestados. Estes resultados analisados em conjunto sugerem uma precariedade no processo de produção, comprometendo o processo de planejamento.

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%

Próprios

Arrendados

Cedidos ou Emprestados

Alugados

Sim

Não

Figura 3. Situação dos Equipamentos do Empreendimento Fonte: banco de dados do SIES

O grande volume dos produtos produzidos é destinado à venda ou troca. Em apenas 5% dos empreendimentos a produção é destinada exclusivamente ao autoconsumo dos sócios, conforme ilustra a Figura 4. Estes dados apontam para a necessidade de se planejar a produção e, consequentemente o processo logístico, em todas as suas dimensões, conforme definição de logística encontrada em Council of Supply Chain Management Professionals (2011).

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Figura 4. Destino dos Produtos e/ou Serviços Fonte: banco de dados do SIES

Dos 95% dos empreendimentos que, de alguma forma, comercializam seus produtos, o

fazem diretamente ao consumidor (69,9%) e/ou destinam sua produção aos revendedores/atacadistas (41,7%). Quando se usa o canal revendedor/atacadista, estes empreendimentos estão sujeitos aos benefícios como abrangência, escala, capacidade de distribuição, entre outros, mas também aos ônus, como, por exemplo, sujeitos a preços e condições estabelecidas. No caso da venda direta ao consumidor, elimina-se o intermediário, porém, fica-se restrito a um mercado local, conforme ilustrado na Figura 5.

0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0

Primeira Opção

Segunda Opção

Terceira Opção

Venda direta ao consumidor

Venda a revendedores/atacadistas

Outro. Qual

Venda a órgão governamental

Venda  a outros empreendimentos de ES

Não se aplica

Troca com outros empreendimentossolidários

Não Informado

Figura 5. Como é feita a comercialização de produtos e/ou serviços do empreendimento Fonte: banco de dados do SIES

A comercialização dos produtos e serviços é destinada predominantemente aos espaços locais. As indicações são de que 12.695 (58%) vendem no comércio local comunitário, 11.585 (53%) em mercados/comércios municipais, 1.473 (8%) tem como destino de seus produtos o território nacional e apenas 318 (2%) realizam transações com outros países. O mesmo se repete em todas as regiões do País.

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0 20 40 60 80 100

Primeira Opção

Segunda Opção

Terceira OpçãoComércio legal ou comunitário

Mercado/comércio municipal

Mercado/comércio micro‐regional

Mercado/comércio estadual

Mercado/comércio nacional

Não se aplica

Exportação para outros países

Sem Informação

Figura 6. Comercialização dos Produtos ou Serviços Fonte: banco de dados do SIES

As indicações apontam para 57% (soma das três opções) que entregam seus produtos diretamente aos clientes e 16,4 % em lojas ou espaços próprios. Apenas 2,2% apontaram o destino como nacional. Este dado sugere a incapacidade de planejamento da produção e logístico, apontado para a incapacidade de produção em escala, transporte, parcerias, entre outros.

0 20 40 60 80 100

Primeira Opção

Segunda Opção

Terceira Opção

Entrega direta a clientes

Feiras livres

Lojas ou espasços próprios

Feiras e exposição eventuais/especiais

Espaços de venda coletivos(centrais decomercialização, CEASA)

Outro

Não se aplica

Sem Informação

Figura 7. Principais espaços de comercialização de produtos e serviços Fonte: banco de dados do SIES

Ao analisar as principais dificuldades na comercialização dos produtos ou serviços, Figura 8, observa-se que uma parte considerável das dificuldades está centrada diretamente no processo de produção e logística, a saber, transporte / estradas (9,2%), dificuldade em manter a regularidade do fornecimento (10,8%), falta de registro legal para a comercialização (emitir nota fiscal, etc.) (8,7%), agentes do mercado (concorrentes, atravessadores, monopólios) (6,3%), os compradores só compram em grande quantidade - escala (4,2%) e, outras dificuldades, de forma indireta, também estão associadas à produção e logística, levando-se em conta os processos de estratégia de produção propostos por Garvin (1998) e American Productivity & Quality Center (2012).

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0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0%

Primeira Opção

Segunda Opção

Terceira Opção

Não conseguiu encontrar quantidade suficiente declientes

Falta de capital de giro, para vendas a prazo

Preço inadequado dos produtos (baixo, desvalorizados)

Transporte / estradas

Outra dificuldade

Estrutura para comercialização (local, espaço,equipamentos etc)

Dificuldade em manter a regularidade do fornecimento

Falta de registro legal para a comercialização(emitirnota fiscal, etc)

Agentes do mercado (concorrentes, atravessadores,monopólios)

Os clientes exigem um prazo para o pagamento

O grupo já sofreu muitos calotes e não sabe comoevitar

Os compradores só compram em grande quantidade

Não se aplica/Não Informado

Figura 8. Principais dificuldades na comercialização dos produtos ou serviços Fonte: banco de dados do SIES

Outra questão relevante observada nos dados é a baixa participação em rede dos empreendimentos sociais, conforme se observa no Figura 9, apenas 54,3% dos empreendimentos participam de alguma rede ou fórum de articulação, com destaque para a participação em fóruns ou redes de economia solidária (13,7%). A participação em redes de produção/comercialização, complexos cooperativos, centrais de comercialização, atividades que poderiam contribuir para maior eficiência produtiva e logística, juntas não somam 12,5%. Faz-se necessário maior articulação tanto dos empreendimentos individualmente quanto em grupos, com vistas a obterem vantagens dos processos de produção e logísticos.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

participa de alguma rede ou fórum de articulação

Redes de produção/comercialização

Complexos cooperativos

Federações de cooperativas

Outras articulações ou redes

Fórum ou Rede de Economia Solidária

Centrais de comercialização

Movimentos social ou sindical

Conselhos de gestão e Fóruns de participação em políticas

Não

Sim

Figura 9. Participação em Rede Fonte: banco de dados do SIES

De uma forma geral, as principais dificuldades relatadas pelos EES, são: dificuldades na comercialização (61%), acesso a crédito (47%) falta de acesso a acompanhamento, apoio ou assistência técnica (27%). As regiões Norte e Nordeste estão acima da média nacional em todos os itens (Norte: 68% comercialização, 54% crédito e 34% apoio ou assistência – Nordeste: 64% comercialização, 56% crédito e 28% apoio ou assistência ). A região Centro-Oeste destaca-se pelo não acesso a apoio ou assistência técnica (34%) e dificuldade em

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financiamento/crédito (44%), as regiões Sul e Sudeste também pela dificuldade em financiamento/crédito (37% e 32% respectivamente).

Estas dificuldades relatadas, e os vários fatores analisados neste artigo, de forma direta ou indireta, estão associadas aos processos de produção e logística. É necessário, pois, pensar no modelo de produção e logístico adequado para os EES, visto que as cadeias de suprimentos, os processos produtivos e logísticos podem assumir diferentes formas, tamanhos e graus de complexidade de acordo com os produtos, processos de produção e posicionamento estratégico das organizações (Laudon & Laudon, 2004).

5 CONCLUSÕES

Ao analisar as dimensões capazes de sinalizar as formas de gestão utilizadas pelos empreendimentos sociais no Brasil, principalmente no que se refere ao processo de captação de insumos, produção, armazenagem, controle e distribuição dos produtos fabricados, verificou-se que os empreendimentos sociais estão longe da “perfeição” em termos de gestão da Produção e da gestão da Cadeia Logística, pois a maior parte apresentou práticas pouco adequadas e de pouca eficiência, levando-se em conta a necessidade de geração de renda da grande maioria desses empreendimentos.

Esse percurso analítico leva a concluir que as dificuldades mais sobressalentes, do ponto de vista da produção e logística estão centradas na capacidade de planejamento, acesso a insumos, produção em escala e comercialização dos produtos ou serviços.

A maioria desses empreendimentos no Brasil encontra-se em estado de vulnerabilidade e precariedade, com um baixo nível de estruturação interna e de articulação externa. Isso pode ser verificado a partir da baixa realização coletiva entre os sócios dos empreendimentos e pela baixa participação em redes pelos EES.

Apesar disso, eles demonstram valor social. Mesmo sem haver eficiência produtiva e logística, percebe-se o grande número de pessoas e famílias que são empregadas por tais empreendimentos e o benefício para a comunidade onde estão inseridos.

Em conclusão, os empreendimentos analisados não estão próximos aos patamares mínimos na gestão eficiente dos processos de produção e logístico, nem tampouco ultrapassam a linha média rumo ao topo de eficiência.

Deve ficar claro é que esses empreendimentos sociais fazem parte de um setor que não é só de auxílio ou apenas caridade, mas um setor que tem movimentado milhões de dólares em todo o mundo. Assim como o setor privado, os empreendimentos sociais precisam fazer uso dos conhecimentos da área de produção e logística. Os insumos, os produtos fabricados, as doações são transportadas por todo o mundo de diversas formas e meios de transportes, sendo necessários, portanto, conhecimentos de métodos de transporte, de armazenamento, de embalagem, de custos dentre outros. A proposta deste estudo foi justamente mostrar que assim como uma empresa mercantil, os empreendimentos sociais precisam estar capacitados para pensar os projetos sem esquecer a produção e logística em todos os processos. Ou seja, serem capazes de pensar o social a partir de processos produtivos e de uma Cadeia Logística capaz de integrar diferentes atores em torno do desenvolvimento social.

Sendo assim, esse estudo contribui para ampliar os conhecimentos relativos à Produção e à Logística, suas características e a necessidade de incorporá-los cada vez mais no contexto das organizações do terceiro setor. Com isso, poderão ser encontrados novos caminhos em direção à perenidade e ao desenvolvimento sustentável dessas organizações, uma vez que, a Produção e a Logística se apoiam na busca e experimentação de formas inovadoras de ação e solução, redesenhando as abordagens viáveis e as alternativas utilizáveis para a criação de uma cadeia de valor. Todavia, os processos de Produção e Logístico devem

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ser esclarecidos e direcionados estreitamente para a realidade dos empreendimentos sociais. Isso se configura como uma sugestão para estudos futuros. REFERÊNCIAS Albagli, S., & Maciel, M. L. (2002). Capital social e empreendedorismo local - Políticas

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