Emprego e Trabalho - Ministério Da Educação

65
 Cadernos de a     C   O   L E Ǡà  O    Emprego e T rabal ho CA3a_eja_ini ciais.qxd 12.12.06 23:19 Page 1

description

“Trabalho” será o tema da abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.

Transcript of Emprego e Trabalho - Ministério Da Educação

  • C a d e r n o s d e

    aCO

    LE O

    Emprego e Trabalho

    CA3a_eja_iniciais.qxd 12.12.06 23:19 Page 1

  • pagbranca.qxd 22.01.07 17:57 Page 1

  • A o longo de sua histria, o Brasil tem enfrentado o problema da excluso social quegerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhes de brasileiros aindano se beneficiam do ingresso e da permanncia na escola, ou seja, no tm acesso a um

    sistema de educao que os acolha.

    Educao de qualidade um direito de todos os cidados e dever do Estado; garantir o

    exerccio desse direito um desafio que impe decises inovadoras.

    Para enfrentar esse desafio, o Ministrio da Educao criou a Secretaria de Educao

    Continuada, Alfabetizao e Diversidade Secad, cuja tarefa criar as estruturas necessrias

    para formular, implementar, fomentar e avaliar as polticas pblicas voltadas para os grupos

    tradicionalmente excludos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que no

    completaram o Ensino Fundamental.

    Efetivar o direito educao dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliao da oferta

    de vagas nos sistemas pblicos de ensino. necessrio que o ensino seja adequado aos que

    ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,

    valorizando e respeitando as experincias e os conhecimentos dos alunos.

    Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedaggicos para o

    1. e o 2. segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. Trabalho ser o tema da

    abordagem dos cadernos, pela importncia que tem no cotidiano dos alunos.

    A coleo composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com

    a concepo metodolgica e pedaggica do material. O caderno do aluno uma coletnea

    de textos de diferentes gneros e diversas fontes; o do professor um catlogo de ativi-

    dades, com sugestes para o trabalho com esses textos.

    A Secad no espera que este material seja o nico utilizado nas salas de aula. Ao con-

    trrio, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-

    do a articulao e a integrao das diversas reas do conhecimento.

    Bom trabalho!

    Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade Secad/MEC

    Apresentao

    CA_iniciais_pag3.qxd 21.01.07 14:38 Page 3

  • Sumrio

    TEXTO Subtema

    1. O poema O operrio em construo de Vinicius de Morais Relicostumes 6

    2. Santos Dias (19421979) 10

    3. Cntico da rotina Diversidades regionais 12

    4. Pai e eu Maturidade social 13

    5. A grande data Miscigenao 14

    6. Emprego Crtica social 16

    7. Por que reduzir as jornadas? Trabalhadores 18

    8. O homem que inventou a roda Cultura suburbana 20

    9. Desempleoa luta dos negros 22

    10. Dia da confraternizao Ambiente de trabalho 25

    11. Um aplogo Identidade nacional 28

    12. A ltima carroa Ambiente de trabalho 30

    13. A cigarra e a formiga ndios do Brasil 36

    14. Trs gnios de secretariaI 38

    CA3a_eja_iniciais.qxd 12/15/06 10:36 PM Page 4

  • 15. O fazendeiro e os filhos Direitos civis 43

    16. O que a lei garante ao trabalhador 44

    17. Brasil divididondios do Brasil 47

    18. Eles trabalham feito cavalos 49

    19. Trabalho infantil Olhos da alma 51

    20. A metamorfose Arte culinria 52

    21. O funcionrio idealArte culinria 55

    22. De dar dArte culinria 56

    23. O camel Arte culinria 57

    24. Emprego e desemprego Arte culinria 58

    25. Indicador de desemprego Arte culinria 61

    26. A economia vai bem, mas o trabalho 62

    27. Procura-se empregado Arte culinria 63

    CA3a_eja_iniciais.qxd 12/15/06 10:36 PM Page 5

  • O POEMAO OPERRIO EMCONSTRUODE VINICIUS DE MORAIS

    muito raro que os poetas cantem assituaes de trabalho urbano. Sobre otrabalho no campo, a agricultura e o

    pastoreio, os poetas fizeram durante mil-nios obras picas e lricas, como As Ger-gicas, do poeta romano antigo Virglio; noprprio Brasil colonial tivemos o arcadis-mo, em que os poetas mineiros cantavampastores e pastoras, como Dirceu e Marlia.Mas sobre os trabalhos urbanos, como omilenar artesanato e a secular indstria,nunca houve muita poesia. O trabalho ruralera considerado pelos poetas ao mesmotempo mais dramtico e mais belo, porenvolver relaes diretas com as foras danatureza e estar sujeito, por exemplo, aoscaprichos do clima, sendo assim considera-

    do mais herico do que o calculista traba-lho industrial, previsto e medido nos seusmnimos detalhes.

    As excees ficam por conta dos tra-balhos industriais a cu aberto, como aconstruo civil, de estradas e de usinasde energia, em que tambm se tem de en-frentar a fria dos elementos. Alm disso,os poetas no costumam visitar o cho defbricas, mas, circulando pelas ruas eestradas, vem de relance os trabalhos deconstruo; at h poucas dcadas, quan-do no havia protees que prejudicas-sem a visibilidade, a construo civil eraum espetculo urbano, com os pedestresdetendo-se para apreciar o andamentodas obras.

    Tambm os poetas, na sua grande maio-ria oriundos das classes mais altas, se diri-giam ao pblico culto e no aos trabalha-

    Al ienao do t rabalhoTEXTO 1

    Emprego e Trabalho6

    Renato Pompeu

    01CA03TXT36P4.qxd 12.12.06 18:06 Page 6

  • dores manuais, e em geral tratavam detemas mais nobres, como o amor, a mor-te, a natureza, as artes em geral e a prpriapoesia em particular. Apenas uma minoriade poetas que, nos conflitos sociais, simpa-tizavam com as causas dos trabalhadores independente da origem de classe do poe-ta , que procuraram chamar a atenopara os dramas dos trabalhadores. Mesmoesses, por no terem a vivncia do traba-lho manual, em geral se limitaram a cantaro que consideravam a nobreza desse traba-lho, sem entrarem em detalhes concretos.

    Uma exceo no Brasil, justamentesobre a construo civil, o poema Ooperrio em construo, do poeta Viniciusde Moraes, que conhecia o trabalho depedreiros e serventes por suas contempla-es dos canteiros de obras em seus pas-sei-os de deambulador pelas ruas da cidade do

    Rio de Janeiro. Devemos chamar a atenopara o fato de que, como boa poesia, o ttu-lo ambguo: tanto significa o operrio naconstruo civil como o operrio durantea construo de si prprio, isto , durantea tomada de conscincia de sua posio nasociedade.

    Eis o incio do poema:

    Era ele que erguia casasOnde antes s havia cho.Como um pssaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mo.Mas tudo desconheciaDa sua grande misso:No sabia, por exemplo,Que a casa de um homem um temploUm templo sem religio

    Emprego e Trabalho 7

    Foto

    :Ace

    rvo

    Icon

    ogra

    phia

    Operrios protestam em So Bernardo do Campo, So Paulo, 1974.

    01CA03TXT36P4.qxd 12.12.06 18:06 Page 7

  • Como tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravido.De fato, como podiaUm operrio em construoCompreender por que um tijoloValia mais que um po?Tijolos ele empilhavaCom p, cimento e esquadria.Quanto ao po, ele o comia...(...)

    Aqui vemos que, alm de descrever acondio operria em geral, que se man-tm a mesma apesar das mudanas tecno-lgicas, Vinicius encontrou facilidade paradescrever um canteiro de obras de manei-ra compreensvel, o que se deve, alm de sua arte, tambm ao fato de que a cons-truo civil, pelo menos na alvenaria detijolos, se manteve imutvel ao longo desculos. Com a introduo de pr-molda-dos e do concreto armado, que houve aprimeira grande mudana tecnolgica naconstruo de casas e prdios e outrasobras, mas Vinicius no descreve essasnovidades, e sim a milenar alvenaria detijolos. O mais importante, porm, que,poeticamente, ele descreve a condiooperria que se manteve, se mantm e semanter inalterada enquanto houverindstria.

    Entretanto, passemos a outro trechodo poema:

    Texto 1 / A l ienao do t rabalho

    Emprego e Trabalho8

    Foto

    :Ace

    rvo

    Icon

    ogra

    phia

    (...)Mas ele desconheciaEsse fato extraordinrio:Que o operrio faz a coisaE a coisa faz o operrio.De forma que, certo dia, mesa, ao cortar o poO operrio foi tomadoDe uma sbita emooAo constatar assombradoQue todo naquela mesa Garrafa, prato, faco Era ele quem os faziaEle, um humilde operrio,Um operrio em construo. (...)

    A vemos como Vinicius descreve atomada de conscincia do operrio, j nocomo operrio em construo, mas comouma encarnao da classe operria emgeral, a qual produz praticamente todos os

    01CA03TXT36P4.qxd 12.12.06 18:06 Page 8

  • bens materiais em uso na sociedade indus-trializada. E Vinicius descreve tambm,mais abstratamente, o que ser humanoproduz: ao mesmo tempo que produzalgo externo a ele, tambm se produz, noseu ntimo como ser humano.

    Mais adiante no poema, em outrotrecho, Vinicius conta como a descobertaindividual de que um operrio umaencarnao da classe operria, passa sercoletiva:

    (...)O operrio adquiriuUma nova dimenso:A dimenso da poesia.E um fato novo se viuQue a todos admirava:O que o operrio diziaOutro operrio escutava.E foi assim que o operrioDo edifcio em construo

    Que sempre dizia simComeou a dizer: no.(...)

    Isto , da satisfao em ter um empre-go que lhe garantisse a sobrevivncia, ooperrio passou insatisfao com ascondies de trabalho e com as suas condi-es indignas de vida, que s garantiam asua sobrevivncia nua e crua para quepudesse voltar a trabalhar no dia seguinte.Essa tomada de conscincia, como diz oprprio poema, no especfica do oper-rio em construo, mas da classe operriaem geral.

    Emprego e Trabalho 9

    Greve dos funcionrios dos correios e telgrafos, Rio de Janeiro, 1932.

    Texto escrito por Renato Pompeu, escritor e jornalista.

    Trechos extrados do site:www.espacoacademico.com.br/024024poesia_vm.htm

    01CA03TXT36P4.qxd 12.12.06 18:06 Page 9

  • Dez horas da manh de 31 de outubrode 1979. Uma multido de 30.000pessoas segue pela rua da Consola-

    o para a catedral da S, no centro de SoPaulo. O cortejo canta a cano Pra nodizer que no falei das flores, do compositorGeraldo Vandr, tomada como hino pelosque se opem ditadura militar iniciadaem 1964. frente vo os bispos auxiliares

    de So Paulo e de outros Estados, cente-nas de padres e religiosos, bem como pas-tores de outras religies. Logo atrs vem ocarro de dom Paulo Evaristo Arns, cardealarcebispo de So Paulo. Tambm esto alimuitos estudantes, donas de casa e polti-cos oposicionistas, lado a lado com repre-sentantes de todas as categorias profissio-nais: professores, bancrios, funcionrios

    Lutas dos t rabalhadoresTEXTO 2

    Emprego e Trabalho10

    SANTO DIAS (19421979)O assassinato do operrio transformou-se em bandeira

    Foto

    :Ken

    do H

    onda

    / AE

    A multido vinda da rua da Consolao chega catetral da S e exige o fim da represso poltica; ganharia a anistia, menos de dois anos depois.

    02CA03TXT06P4.qxd 12.12.06 18:09 Page 10

  • pblicos e milhares de metalrgicos paulis-tas. Os operrios carregam num caixo sim-ples o corpo do metalrgico Santo Dias daSilva, assassinado no dia anterior por umpolicial militar num piquete grevista. Nocarro do cardeal arcebispo Arns est umcasal de adolescentes, filhos do morto: orapaz, tambm chamado Santo; a menina,Luciana. A viva, Ana Maria, segue a p,amparada pelos caminhantes. Faixas e car-tazes se destacam na multido: Compa-nheiro, voc ser vingado;Abaixo a represso; Abaixoa ditadura. Entre as palavrasde ordem gritadas, uma deespecial contundncia: Che-ga de manter assassinos nopoder!.

    A maior parte dos estabe-lecimentos comerciais da reacentral fecha as portas em si-nal de luto. Na periferia, prin-cipalmente na zona sul, onde se concentraa maior parte das indstrias, nenhum meta-lrgico foi trabalhar.

    Nada est certo

    O cortejo chega praa da S ao meio-dia e 40 minutos. A catedral j est lotadaquando entra o caixo com o corpo de SantoDias. Do lado de fora, milhares de pessoas.Dom Paulo preside a missa de corpo presen-te. Ele diz: No est certo. Quase nada estcerto entre ns. Que andem munidos de

    armas de fogo, os que iro encontrar-se como povo de braos cruzados. Quase nada estcerto, quando milhes que constroem ariqueza de uma cidade apanham porquequerem dar po a seus filhos. Po, s po epaz. Quase nada est certo nesta cidade,enquanto houver dois pesos e duas medidas:uma para o patro e outra para o operrio.

    Depois da missa, uma e meia da tar-de, o caixo colocado num carro funer-rio, que vai pela avenida 23 de Maio, seguido

    por incontveis veculosat o cemitrio CampoGrande. Ali, 15.000pessoas acompanham oenterro h 3 horas. Mo-mentos antes que o cai-xo baixe sepultura,Luiz Incio da Silva, oLula, presidente do Sin-dicato dos Metalrgicosde So Bernardo, faz

    um breve discurso: Se os patres pensa-vam que, com a morte de Santo, os traba-lhadores iriam ficar com medo, estamosaqui para mostrar que isso no aconteceu.

    O enterro, as manifestaes desse diase converteram num marco histrico polti-co e sindical.

    Emprego e Trabalho 11

    Texto de Luciana Dias e J Azevedo. Extrado da Coleo RebeldesBrasileiros. So Paulo: Casa Amarela.

    Quase nada est certoentre ns. Que andemmunidos de armas de

    fogo, os que iro encontrar-se com o povo

    de braos cruzados.(Dom Paulo Evaristo Arns,cardeal arcebispo de So

    Paulo, 31/10/1979.

    02CA03TXT06P4.qxd 12.12.06 18:09 Page 11

  • Todo trabalhador tem direito a bocejarTodo trabalhador tem direito a ganhar floresTodo trabalhador tem direito a sonharTodo trabalhador tem direito a ir ao banheiroTodo trabalhador tem direito a manteiga no poTodo trabalhador tem direito a promooTodo trabalhador tem direito a ver o pr-do-solTodo trabalhador tem direito a um cafezinhoTodo trabalhador tem direito a ler um livroTodo trabalhador tem direito a um rdio de pilhaTodo trabalhador tem direito a sorrirTodo trabalhador tem direito a ganhar um sorriso alheioTodo trabalhador tem direito a ficar gripadoTodo trabalhador tem direito a peru no NatalTodo trabalhador tem direito a festa de aniversrioTodo trabalhador tem direito a jogar peladaTodo trabalhador tem direito a dentistaTodo trabalhador tem direito a andar nas nuvensTodo trabalhador tem direito a tomar solTodo trabalhador tem direito a sentar na gramaTodo trabalhador tem direito a viagem de friasTodo trabalhador tem direito a catar conchas numa praia desertaTodo trabalhador tem direito a dizer o que pensaTodo trabalhador tem direito a pensarTodo trabalhador tem direito a saber por que trabalhaTodo trabalhador tem direito a se olhar no espelhoTodo trabalhador tem direito a seu corpo e sua alma

    Porque nosso corpo no uma mquina. Em nosso corpo h vida. () preciso haver sempre uma relao entre prazer e trabalho, entre satis-fao pessoal e contribuio, e uma relao individual com a natureza.Uma relao ntima entre o movimento da mo e o pensamento. Nenhumser humano deve trabalhar como se fosse uma mquina. O trabalho tem deservir ao aprimoramento de nosso ser e dar significado nossa existncia.

    CNT

    ICO

    DARO

    TIN

    ADire i tos do t rabalhador

    TEXTO 3

    Emprego e Trabalho12

    Extrado do livro Deus-Dar. So Paulo: Casa Amarela.

    Ana

    Mir

    anda

    03CA03TXT22P4.qxd 12.12.06 18:10 Page 12

  • PAI E EUAl ienao do t rabalho

    TEXTO 4

    Extrado da revista Caros Amigos Especial,Literatura Marginal, Ato I.

    Edson Veca

    Emprego e Trabalho 13

    Era manh, eu era menino.Meu pai caminhavapor dentro do sol.Muitos outros paiso sol atravessavam.Partia meu paipara o trabalho braal e pesadono norte de criar as criassem que faltassem po e farinha.Essa agonia cotidiana de anos,do rosnar incmodo do motordo nibus lotado.Vezes eu viao olhar fixo de meu pai.E num de repente,de raio rachando as nuvens,de vento sudoeste apagando as velas,ele sacudia o crniopara afugentar os gritos deste cotidiano,as sombras do desemprego,as garras da ditadura.Esses pregosperfuravam-lhe a vida,os poros, os sonhos.Livre s erana mnima fraode chegar em casa tarde, esgotado,com cinco balinhas juquinha no bolso,e saber dos filhos vivose dormindo.

    Ilust

    ra

    o:Al

    cy

    04CA03TXT01P4.qxd 12.12.06 18:13 Page 13

  • No dia 1o de maio de 1886 realizou-se uma manifestao de trabalha-dores nas ruas de Chicago, nos

    Estados Unidos da Amrica. Essa manifes-tao tinha como finalidade reivindicar areduo da jornada de trabalho para oitohoras dirias e teve a participao de cen-tenas de milhares de pessoas. Nesse diateve incio uma greve geral nos EUA. Nodia 3 de maio houve um pequeno levan-tamento que acabou com uma escaramu-a com a polcia e com a morte de algunsprotestantes. No dia seguinte, 4 de maio,uma nova manifestao foi organizadacomo protesto pelos acontecimentos dosdias anteriores, tendo terminado com olanamento de uma bomba por desconhe-cidos para o meio dos policiais que come-avam a dispersar os manifestantes, ma-tando sete agentes. A polcia abriu entofogo sobre a multido, matando doze pes-soas e ferindo dezenas. Esses aconteci-mentos passaram a ser conhecidos comoa Revolta de Haymarket.

    Trs anos mais tarde, a 20 de junhode 1889, a segunda Internacional Socialistareunida em Paris decidiu, por proposta deRaymond Lavigne, convocar anualmenteuma manifestao com o objetivo de lutarpelas oito horas de trabalho dirio. A dataescolhida foi o 1o de maio, como home-nagem s lutas sindicais de Chicago. Em1o de maio de 1891, uma manifestao nonorte da Frana dispersada pela polcia,resultando na morte de dez manifestan-tes. Esse novo drama serve para reforara data como um dia de luta dos trabalha-dores e, meses depois, a InternacionalSocialista de Bruxelas proclama esse diacomo dia internacional de reivindicaode condies laborais.

    A 23 de abril de 1919, o senado fran-cs ratifica o dia de oito horas e proclamaferiado o dia 1o de maio. Em 1920, a Rs-sia adota o 1o de maio como feriado nacio-nal, e esse exemplo seguido por muitosoutros pases.

    Lutas dos t rabalhadoresTEXTO 5

    Emprego e Trabalho14

    A GRANDE DATAO Dia do Trabalho celebrado anualmente no dia 1.o de maio emnumerosos pases do mundo e feriado nacional em muitos deles

    Foto

    :Ace

    rvo

    Icon

    ogra

    phia

    05CA03TXT4.qxd 21.01.07 13:17 Page 14

  • O Dia do Trabalho no mundo

    Alguns pases celebram o Dia doTrabalho em datas diferentes:

    Austrlia. A data de celebrao variade acordo com a regio: 4 de maro naAustrlia ocidental, 11 de maro no Esta-do de Vitria, 6 de maio em Queenslande Territrio do Norte e 7 de outubro emCanberra, Nova Gales do Sul (Sydney) ena Austrlia meridional.

    Estados Unidos da Amrica. Celebramo Labor Day na primeira segunda- feira desetembro. Por interesse do empresariado, odia 1o de maio foi transformado no "Dia daLei", quando se comemora a "associaoentre a lei e a liberdade", esquecendo-se osacontecimentos que deram origem a esse dia.

    Emprego e Trabalho 15

    O Dia do Trabalho celebrado anualmente em 1o de maio em numerosospases do mundo, e feriado nacional em muitos deles.

    Extrado de pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Trabalhador

    05CA03TXT4.qxd 21.01.07 13:17 Page 15

  • Um dia eu vi.Vi e no gostei nada.Nada poderia explicar aqueles olhos.Olhos tristes de uma dor.Dor que no poderia ter explicao.Explicao que seria fcil demaispara algo to doloroso.Doloroso foi quando chegou aohospital e lhe deram uma notcia.Notcia que jamais podia preverdesse jeito.Jeito estranho de falar que haviafalecido seu pai.Pai esse que fizera de tudo para lhedar o mnimo que era o estudo.Estudo que hoje aprendeu a valorizare a entender.Entender era difcil naquela situao,soltava uma pipa.Uma pipa que voava e tentava planara dor que sentia.Sentia uma dor muito forte no peito.Esse mesmo peito que tinha umcorao igual ao do pai.Pai que tanto havia trabalhado atficar desempregado.Desempregado, sempre visto comofracassado e sujeito a humilhao.Humilhao para o pai, homemnegro, forte, era ver o filho fumar.Fumar era algo feio para o filho, mas ele precisava de algo novo.Novo era o corao que o paiprecisava, mas sem convnio no dava.

    DesempregoTEXTO 6

    Emprego e Trabalho16

    EMPREGOFerrz

    06CA03TXT04P4.qxd 12.12.06 18:16 Page 16

  • No dava para viver aquela vidaestranha, sem dinheiro, sem futuro.Sem futuro para quem sempretrabalhou.Trabalhou de vigilante por mais de dez anos.Dez anos de um pouco de fartura.Fartura que servia para uma boacomida, roupas e diverso.Diverso que para o pai era beber e jogar bilhar.Jogar bilhar o filho aprendeu, masgostava mais de soltar pipa.Soltar pipa para ele naquele dia era at um alvio.Alvio era ver o pipa voando, os olhosenchendo dgua.Enchendo dgua sua casa sempreestava em dias de chuva.Dias de chuva traziam ao menos a lembrana.Lembrana de estar com seu paitomando chuva na viela.Viela que agora parecia vazia e sem um grande homem.Grande homem simples, que comeou a morrer quando perdeu o emprego.

    (Este texto dedicado ao Luizo, mais uma vtima de So Paulo.)

    Ferrz escritor.Publicado na revista Caros Amigos n- 71.

    Emprego e Trabalho 17

    06CA03TXT04P4.qxd 12.12.06 18:16 Page 17

  • Vivemos uma realidade de extremos,com muitas pessoas desempregadase muitas outras trabalhando longas

    jornadas. muito fcil comprovar essa situao.

    Basta olhar ao redor para saber quantosesto desempregados e quantos esto tra-balhando cada vez mais e sem tempo paraoutras coisas. Provavelmente, muitos dens se encaixam em uma dessas situaes.

    As longas jornadas de trabalho trazemdificuldades para o convvio social e fami-liar e fazem crescer os problemas relacio-nados sade, como, por exemplo, as le-ses por esforo repetitivo. Por outro lado,muitas famlias enfrentam situaes dif-ceis porque aqueles que deveriam estar tra-balhando no conseguem emprego.

    POR QUEREDUZIRAS JORNADAS?Para o movimento sindical,uma jornada menor vai gerar mais empregos e mais qualidade de vida

    Lutas dos t rabalhadoresTEXTO 7

    Emprego e Trabalho18

    Em vista disso, a reduo da jornada,como uma das formas de gerao de pos-tos de trabalho e melhor qualidade de vida,torna-se uma necessidade social.

    J foi dito que a RJT reduo da jor-nada de trabalho sem reduo salarial um instrumento capaz de preservar e criarnovos empregos e melhorar a qualidade devida.

    Entretanto, pouca gente se lembra deque novos empregos, mais gente trabalhan-

    Ilust

    ra

    o:Al

    cy

    07CA03TXT37P4.qxd 12.12.06 18:17 Page 18

  • do, contribuiriam para o aumento da rendae, portanto, do consumo, o que traria ex-pectativas positivas para o investimento e oconseqente aumento da produo. Enfim,um crculo virtuoso de crescimento econ-mico e social!

    A jornada na atual legislao brasileira hoje

    Horas extras: limite 2h/diaA luta dos trabalhadores brasileiros

    levou, nos anos 30, primeira lei nacionalsobre jornada de trabalho, limitando-a a 48horas semanais.

    No incio da dcada de 1980 garantiu-se a limitao da jornada em 44 horas se-manais, depois estabelecida na Consti-tuio Federal de 1988. Depois dela, todasas mudanas relativas aos direitos do tra-balho introduzidas na legislao foram pre-judiciais aos trabalhadores.

    A limitao das horas extras, nica pro-posta de mudana que poderia ter geradoemprego, acabou no sendo implantada. Oprojeto de lei 1.724, de 1996, que criou obanco de horas e alterou a compensao dashoras extras para doze meses, estabelecia olimite de 120 horas extraordinrias dentrodo perodo de um ano.

    Emprego e Trabalho 19

    Mas no Congresso, na hora de votar alei, prevaleceu o ponto de vista dos quedefendiam a ampliao do prazo de com-pensao, sem que fosse includa a limita-o das horas extras.

    Uma das maneiras de reverter essatendncia de precarizao das condiesdo trabalho e da vida seria a adoo dareduo da jornada de trabalho sem redu-o dos salrios.

    Essa mudana na legislao necess-ria e interessa aos trabalhadores e socie-dade em geral, porque gera emprego emelhora a qualidade de vida.

    Extrado da cartilha da campanha Reduzir Jornada Gerar Emprego CUT, CAT, CGT, CGTB, SDS e Fora Sindical, 2004.

    07CA03TXT37P4.qxd 12.12.06 18:17 Page 19

  • O HOMEM QUE INVENTOU AR DAP

    rimeiro foram os operrios menos especializados, depois os maisespecializados, e por fim chegou a vez dos executivos: HelmuthMayer foi despedido da fbrica de automveis onde trabalhava.

    Tratava-se de um administrador competente e criativo, mas, comodisse o diretor, era necessrio provar que nem mesmo os altos esca-les estavam imunes e assim mandaram-no embora.

    Ao receber a notcia de sua demisso, Helmuth Mayer no dissenada. Entrou em seu carro, ligou a mquina e tomou o rumo de casa...

    Tomou o rumo de casa, mas no chegou l. No caminho aconte-ceu-lhe uma coisa muito estranha. Deteve-se numa esquina e derepente esqueceu que marcha tinha de engatar para arrancar. Pior:nem sabia para que servia a alavanca de cmbio, nem o volante, nada.Um caso de amnsia traumtica, naturalmente, mas Helmuth Mayerno sabia que isso existia, ou se sabia, tinha esquecido tambm. Tinhaesquecido tudo. No se sentia mal por causa desta situao: um poucoesquisito, apenas. Mas alegre, como se tivesse bebido algo delicioso einebriante. Buzinavam furiosamente atrs dele. No deu importnciaaos vociferantes motoristas: abriu a porta do carro e saiu andando,sem destino. L pelas tantas deu-se conta de que carregava sua pastade executivo; mas como tal objeto j no lhe significava nada, e erapesado, jogou-o fora. E tambm se desfez do palet e da gravata, por-que fazia calor.

    Caminhando sempre, chegou ao limite da cidade, embrenhou-sepelo mato e foi indo, at que j no avistava nenhum vestgio da civi-lizao. Naquela noite, dormiu ao relento. No dia seguinte, livrou-sedas roupas; sentia-se melhor sem elas. Teve fome; movido por puroinstinto, comeu umas frutinhas, alis, muito gostosas. E movido por

    Al ienao do t rabalhoTEXTO 8

    Emprego e Trabalho20

    Moacyr Scliar

    08CA03TXT20P4.qxd 12/15/06 10:18 PM Page 20

  • este instinto foi sobrevivendo. Nos dias que se seguiram aprenderia apescar e a caar e at a plantar alguma coisa. A famlia procurou-odesesperada, mobilizando polcia, amigos, detetives particulares. Noo encontrando, concluram que tinha se suicidado e desistiram deprocur-lo. Com o tempo, todos acabaram por esquec-lo.

    Helmuth, entretanto, vivia feliz. Ele no sabia que era feliz, por-que tinha esquecido o significado desta palavra, de todas as palavras,mas era feliz.

    At que um dia fez uma roda.Isso mesmo: trabalhando com seu machado de pedra num tron-

    co rolio, fez uma roda. No sabia que aquilo se chamava roda, masgostou da coisa porque rodava. A lhe ocorreu fazer um orifcio naroda e colocar um eixo. Um pouco mais adiante j tinha as quatrorodas, estava pensando no chassi e no motor. E de repente se lembra-va do nome das coisas: roda, chassi, motor.

    Foi ento que comeou a desconfiar que aquela coisa podia nodar certo. Mas agora ia adiante. J que tinha comeado ia adiante. Eficou pensando em quem botaria na rua quando tivesse sua fbricade automveis.

    Emprego e Trabalho 21

    Publicado na Folha de S.Paulo, 4 de doutubro de 1981.

    Ilust

    ra

    o:Al

    cy

    08CA03TXT20P4.qxd 21.01.07 13:19 Page 21

  • DESEMPLEO

    Y POSIBILIDAD DE EMPLEO

    DesempregoTEXTO 9

    Emprego e Trabalho22

    Los ndices de desempleo influyen sobre la actividad econmicade las comunidades mas all de las individualidades

    Foto: Eduardo Martins / AE

    09CA03TXT12P4.qxd 12.12.06 18:21 Page 22

  • En todos los pases y tipos de economahay trabajadores desempleados (de-finidos como personas capaces y dis-

    puestas a trabajar que buscan empleo). Losperodos de desempleo constituyen unacaracterstica habitual de algunos sectoresen los que la mano de obra aumenta y dis-minuye en funcin de las estaciones (p. ej.,la agricultura, la construccin y la indus-tria de la confeccin) y de sec-tores cclicos en los que sedespide a trabajadores cuandola actividad decae y se lesvuelve a contratar cuandomejora. Asimismo, un ciertogrado de rotacin es habitualen el mercado de trabajo, ya que algunostrabajadores abandonan su empleo paraocupar otro mejor y los jvenes se incorpo-ran a la poblacin activa para sustituir a losque se jubilan.

    El proceso de desempleo estructural seproduce cuando sectores enteros sufrenuna recesin como resultado del avancetecnolgico (p. ej., la minera y la fabrica-cin de acero) o en respuesta a grandescambios de la economa local. Un ejemplode estas transformaciones es el traslado delos centros de produccin de un rea dondelos salarios se han encarecido a otra menosdesarrollada en la que hay mano de obrams barata.

    En las ltimas dcadas, el desempleoestructural tambin ha sido provocado por

    la multitud de fusiones, absorciones yreestructuraciones de grandes empresas,procesos que se han convertido en unfenmeno habitual, sobre todo en EstadosUnidos, donde el nmero de medidas obli-gatorias de proteccin sociales y del pro-pio bienestar del trabajador es muchomenor que en otros pases industrializa-dos. Estas tendencias han dado lugar al

    redimensionamiento yla reduccin de las planti-llas, a medida que se haneliminado filiales de f-bricas y oficinas y se hanvuelto innecesarios mu-chos puestos de trabajo.

    Con ello se ha perjudicado no slo a losque han perdido su empleo, sino tambina los que lo han conservado y han perdi-do seguridad en el puesto y temen ser des-pedidos.

    El desempleo estructural suele ser unproblema irresoluble, ya que muchos tra-bajadores carecen de la cualificacin y laadaptacin necesarias para optar a otrospuestos similares existentes a escala local y,con frecuencia, no cuentan con recursospara emigrar a otras zonas en las que puedehaber trabajo.

    En los casos de despidos generalizados,suele producirse un efecto domin sobre lacomunidad. La prdida de ingresos enfrala economa local y causa el cierre de lastiendas y las empresas de servicios frecuen-

    Emprego e Trabalho 23

    En los casos de despidos generalizados

    puede producirse unefecto domin sobre

    la comunidad

    09CA03TXT12P4.qxd 12.12.06 18:21 Page 23

  • tadas por los desempleados, lo que aumen-ta a su vez el nmero de stos.

    El estrs econmico y mental que gene-ra el desempleo suele afectarnegativamente a la salud delos trabajadores y sus fami-lias. Se ha observado que laprdida del empleo y, en par-ticular, la amenaza de sufrir-la son los factores de estrsms potentes relacionadoscon el trabajo y se ha demostrado que pro-vocan enfermedades emocionales. Con elfin de evitar estos efectos perjudiciales,algunas empresas ofrecen iniciativas dereconversin profesional y ayuda paraencontrar un nuevo empleo, as muchospases han adoptado leyes en las que seexige especficamente a las empresas laconcesin de prestaciones sociales y econ-

    micas a los trabajadores afectados.El grupo de los subempleados est

    constituido por los trabajadores cuyascapacidades productivas noson plenamente utilizadas.Se incluyen aqu los traba-jadores a tiempo parcialque buscan un empleo dejornada completa y los queposeen un nivel de cualifi-cacin elevado y slo en-

    cuentran trabajos que exigen una cualifi-cacin relativamente baja. Adems de lareduccin de ingresos, sufren los efectosadversos que provoca el estrs por la insa-tisfaccin en el trabajo.

    Extrado do site www.mtas.es/insht/EncOIT/tomo1.htm

    Texto 9 / Desemprego

    Emprego e Trabalho24

    GLOSARIO

    Absorcin. absoroAmenaza. ameaaAsimismo. tambmAvance. avano, progressoCualificacin. qualificaoCambio. mudana, trocaDesarrollar. desenvolver, crescerDesempleado. desempregadoDespido. demissoDisminuir. diminuirEnfriar. esfriar

    Entero. inteiro, ntegro, completoEstrs. estresseInnecesario. desnecessrioIrresoluble. insolvelLey. leiPerjudicado. prejudicadoPlantilla. conjunto de trabalhadoresPoblacin. populaoReconversin. reconversoRotacin. rotao, revezamentoSeguridad. segurana, garantiaTraslado. mudana

    El estrs econmico ymental que genera el

    desempleo suele afectarnegativamente a lasalud de los traba-

    jadores y sus familias

    09CA03TXT12P4.qxd 12.12.06 18:21 Page 24

  • DE: Gerncia Executiva

    PARA: Todos os funcionrios

    Como de conhecimento de todos, esta Empresa reali

    za

    anualmente o seu Dia da Confraternizao, uma oportun

    idade

    para colegas de trabalho e seus familiares se reunirem

    num

    ambiente de congraamento, descontrao e sadio comp

    anhei-

    rismo. Como em outras ocasies, o Dia da Confratern

    izao

    deste ano teve lugar na Sede Campestre da Funda

    o que

    leva o nome do Fundador da nossa Empresa e saud

    oso pai

    do nosso atual Diretor-Presidente. Infelizmente, nem

    todos

    sabem compreender o esprito do evento, como ates

    tam os

    desagradveis acontecimentos, a que passamos a nos r

    eferir.

    J no primeiro jogo de futebol interdepartamental que

    se

    realizou pela manh, Recursos Humanos x Manute

    no e

    Oficinas, surgiram os primeiros incidentes. O doutor Al

    meida,

    assessor do nosso Departamento Jurdico, prontificou-s

    e gen-

    tilmente a atuar como juiz. As chacotas dirigidas aos c

    ales

    largos do doutor Almeida eram compreensveis, pois e

    stavam

    dentro do esprito descontrado da ocasio. Nada justi

    fica, no

    entanto, a covarde agresso de que foi vtima o

    doutor

    Almeida depois de apitar o pnalti que deu a vit

    ria ao

    Departamento de Recursos Humanos. No jogo Contab

    ilidade

    x Almoxarifado, realizado a seguir, era evidente a in

    teno

    dos jogadores do Almoxarifado de atingir, deslealme

    nte, o

    nosso estimado caixa Gurgel, que quando se recusa

    a des-

    Emprego e Trabalho 25

    DIA DA CONFRATERNIZAO

    Relaes no t rabalhoTEXTO 10

    Luis Fernando Verissimo

    10CA03TXT33P4.qxd 12.12.06 18:23 Page 25

  • contar vales para o pessoal o faz por orientao da D

    ireo

    e no como pareciam pensar seus adversrios po

    r deci-

    so prpria. Gurgel ficou desacordado at a hora da

    distri-

    buio dos brindes, outros lastimveis episdios que c

    omen-

    taremos adiante. O torneio de futebol atingiu o cmu

    lo da

    violncia no jogo decisivo, Secretaria x Embala

    gem e

    Expedio, realizado s 3 da tarde, quando todos j

    recla-

    mavam o incio do churrasco e uma tentativa de inva

    so da

    churrasqueira, por parte de um grupo de mes procu

    ra de

    comida para seus filhos, fora repelida fora por elem

    entos

    do nosso Departamento de Segurana Interna. Houve

    uma

    batalha campal entre jogadores e assistentes e o nosso

    com-

    panheiro Druck, do Faturamento, que atuava como juiz

    , est

    hospitalizado at hoje. Recebendo, alis, completa as

    sistn-

    cia da Empresa, embora no fosse um acidente de tra

    balho,

    mas tudo bem.

    Como faz todos os anos, o nosso Diretor-Presidente p

    re-

    parou-se para dizer algumas palavras antes de comear o

    chur-

    rasco, agradecendo a colaborao de todos para o cres

    cimen-

    to da Empresa durante o ano. Foi recebido com gritos d

    e A,

    linginha, Fala, seboso e Nada de discurso, que

    remos

    comida. Tambm recebeu um po na testa. Com seu co

    nheci-

    do esprito democrtico e tolerante, nosso Diretor-Pre

    sidente

    decidiu suprimir o discurso. O churrasco transcorreu sem

    maio-

    res incidentes, fora o prato de salada de batata despe

    jado,

    traio, sobre a cabea do doutor Almeida, reflexo ai

    nda da

    sua atuao como juiz pelamanh, mas o consumo de

    chope

    Texto 10 / Re laes no t rabalho

    Emprego e Trabalho26

    10CA03TXT33P4.qxd 12.12.06 18:23 Page 26

  • Emprego e Trabalho 27

    foi alto e a certa altura ouviram-se pedidos descabidos para

    que a dignssima esposa do nosso Diretor Industrial, dona

    Morena, fizesse um strip-tease em cima da mesa, sendo

    nosso Diretor obrigado a segurar sua mulher fora.

    Chegou a hora de sortear os nmeros que receberiam os

    brindes, o que foi feito pela dignssima esposa do nosso

    Diretor de Planejamento, Dona Santa, recebida com gritos

    de Pelancuda! Pelancuda! O primeiro nmero sorteado

    por Dona Santa foi o do sobrinho Roni, do Departamento

    de Arte, o que despertou revolta geral e gritos de

    Marmelada! Todos avanaram sobre os brindes e na con-

    fuso diversos membros do nosso Conselho Fiscal foram

    pisoteados e Dona Morena sofreu alguns apertes.

    A Direo est disposta a esquecer os acontecimentos do

    Dia da Confraternizao se os funcionrios se compromete-

    rem a esquec-los tambm. Elementos da Secretaria e de

    Embalagem e Expedio tm-se envolvido em seguidas bri-

    gas durante o horrio de trabalho a respeito do jogo inacaba-

    do e o doutor Almeida, cuja presena no nosso Departamento

    jurdico indispensvel, est impedido de aparecer na

    Empresa sob o risco de apanhar. Isto est afetando a nossa

    produo. Se as coisas continuarem assim, a Direo ser

    obrigada a tomar medidas drsticas, podendo, inclusive, can-

    celar o Dia da Confraternizao do prximo ano!

    Extrado do livro Ed Mort e outras histrias. Porto Alegre: L&PM, 1984.

    10CA03TXT33P4.qxd 12.12.06 18:23 Page 27

  • Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: Por que est voc com esse ar, to-

    da cheia de si, toda enrolada, para fingirque vale alguma cousa neste mundo? Deixe-me, senhora. Que a deixe? Que a deixe, por qu?Porque lhe digo que est com um ar insu-portvel? Repito que sim, e falarei sempreque me der na cabea. Que cabea, senhora? A senhora no alfinete, agulha. Agulha no tem cabea.Que lhe importa o meu ar? Cada qual temo ar que Deus lhe deu. Importe-se com asua vida e deixe a dos outros. Mas voc orgulhosa. Decerto que sou. Mas por qu? boa! Porque coso. Ento os vestidose enfeites de nossa ama, quem que oscose, seno eu? Voc? Esta agora melhor. Voc queos cose? Voc ignora que quem os cose soueu e muito eu? Voc fura o pano, nada mais; eu quecoso, prendo um pedao ao outro, dou fei-o aos babados... Sim, mas que vale isso? Eu que furoo pano, vou adiante, puxando por voc,

    que vem atrs obedecendo ao que eu faoe mando... Tambm os batedores vo adiante doimperador. Voc imperador? No digo isso. Mas a verdade que vocfaz um papel subalterno, indo adiante; vais mostrando o caminho, vai fazendo o tra-balho obscuro e nfimo. Eu que prendo,ligo, ajunto...

    Estavam nisto, quando a costureirachegou casa da baronesa. No sei se disseque isto se passava em casa de uma baro-nesa, que tinha a modista ao p de si, parano andar atrs dela. Chegou a costureira,pegou do pano, pegou da agulha, pegou dalinha, enfiou a linha na agulha, e entrou acoser. Uma e outra iam andando orgulho-sas, pelo pano adiante, que era a melhordas sedas, entre os dedos da costureira,geis como os galgos de Diana para dara isto uma cor potica. E dizia a agulha: Ento, senhora linha, ainda teima no quedizia h pouco? No repara que esta dis-tinta costureira s se importa comigo; eu que vou aqui entre os dedos dela, unidinhaa eles, furando abaixo e acima...

    A linha no respondia; ia andando.Buraco aberto pela agulha era logo enchido

    Relaes no t rabalhoTEXTO 11

    Emprego e Trabalho28

    UM APLOGOMachado de Assis

    11CA03TXT23P4.qxd 12.12.06 18:24 Page 28

  • Emprego e Trabalho 29

    por ela, silenciosa e ativa, como quem sabeo que faz, e no est para ouvir palavrasloucas. A agulha, vendo que ela no lhedava resposta, calou-se tambm, e foiandando. E era tudo silncio na saleta decostura; no se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, acostureira dobrou a costura, para o diaseguinte. Continuou ainda nesse e no outro,at que no quarto acabou a obra, e ficouesperando o baile.

    Veio a noite do baile, e a baronesa ves-tiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho,para dar algum ponto necessrio. E enquan-to compunha o vestido da bela dama, epuxava de um lado ou outro, arregaavadaqui ou dali, alisando, abotoando, acol-chetando, a linha para mofar da agulha,perguntou-lhe: Ora, agora, diga-me, quem que vai ao

    baile, no corpo da baronesa, fazendo partedo vestido e da elegncia? Quem que vaidanar com ministros e diplomatas, en-quanto voc volta para a caixinha da costu-reira, antes de ir para o balaio das muca-mas? Vamos, diga l.

    Parece que a agulha no disse nada;mas um alfinete, de cabea grande e nomenor experincia murmurou pobreagulha: Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrircaminho para ela e ela que vai gozar davida, enquanto a ficas na caixinha de cos-tura. Faze como eu, que no abro caminhopara ningum. Onde me espetam, fico.

    Contei esta histria a um professor demelancolia, que me disse, abanando a cabea: Tambm eu tenho servido de agulha amuita linha ordinria!

    Extrado do livro Vrias histrias 1896, Volume 9, Contos Editora tica, So Paulo, 1984

    Ilust

    ra

    o:Al

    cy

    11CA03TXT23P4.qxd 12.12.06 18:24 Page 29

  • ALTIMA CARROA

    Trabalho informalTEXTO 12

    Emprego e Trabalho30

    Anotcia dizia: A circulao de ani-mais e veculos de trao animalest com os dias contados na capi-

    tal. A Cmara aprovou na tera-feira (14de maro de 2006) projeto do vereadorRoberto Tripoli que probe a prtica e com-plementa uma lei de 1995 (do ento vere-ador Brasil Vita), ainda no regulamenta-da. Se sancionada e virar lei, a propostavai impedir o trabalho de carroceiros (...).

    Na cidade so cerca de 2.500 carroascirculando entre 6 milhes de carros em16.000 quilmetros de vias asfaltadas,uma realidade que, para o vereador Tri-poli, no comporta veculos de traoanimal. Maus-tratos aos animais so aoutra alegao dessa lei que atingir aprofisso independente dos que recolhemlixo reciclvel usando veculos de traoanimal, os carroceiros, que diferem doscarrinheiros ou catadores, homens que

    puxam sua prpria carroa. Em comumeles tm a ausncia de lei regulamentan-do a atividade, que lhes garante o mni-mo sustento.

    Em So Paulo, a idia acabar com oscarroceiros, mas h cidades pensando ooposto. So Jos dos Campos, SP, porexemplo, promove programas de educa-o para os carroceiros, dando-lhes treina-mento com noes de trnsito, higiene ecuidados com os animais. O Rio de Janeirotambm regularizou a atividade em 2002,as carroas so registradas e os animaistrabalham com horrio determinado enunca aos domingos. Em So Carlos, SP, oprojeto Carroceiros do Futuro oferece gra-tuitamente registro, assistncia veterin-ria, medicamentos e ferraduras. J so80% de carroas vistoriadas e emplacadas.Para a vereadora so-carlense Lade dasGraas Simes (PMDB), o custo do pro-

    Projeto de vereador paulistano probe o trfego urbano de animais e veculos de trao animal

    12CA03TXT25P4.qxd 12.12.06 18:29 Page 30

  • grama vivel para qualquer administra-o pblica. Tanto que Araraquara, tam-bm no interior de So Paulo, segue osmesmos passos de So Carlos, adotandoum projeto similar.

    O vereador paulistano Tripoli, na justi-ficativa Cmara, escreveu: O fim dessetransporte fundamental, tanto do pontode vista da fruio (sic) do trnsito, comoda proteo aos transeuntes e motoristas,mas tambm do ponto de vista tico abarbrie a que so submetidos cavalos,burros, mulas, bois no condiz com o graude civilidade atingido por So Paulo empleno sculo XXI.

    Sancionada pelo prefeito GilbertoKassab em 11 de abril ltimo, a lei 14.146j pode ser aplicada. Congratulou-seKassab: A louvvel iniciativa do nobre

    vereador vem somar com todas que obje-tivam a melhoria das condies de vidada comunidade paulistana, constituindomais um fator de preveno de riscode acidentes no trnsito e de eventuaismaus-tratos a animais.

    Sete horas da manh, avenida Marqusde So Vicente, zona oeste de So Paulo,bairro da gua Branca. Csar, 26 anos,negro, olhos desconfiados, cavanhaque ebigode bem recortados, chinelo, bermudae fala tranqila, explica que estamos naVila Charlote, uma rea de vrzea do rioTiet onde fazem vizinhana barracos demadeira e um dos clebres conjuntos habi-tacionais chamados de Cingapura. Apscaminhar por um trecho de terra, cruzarum campo de futebol, chegamos ao bloco5 do conjunto Cingapura II.

    Emprego e Trabalho 31

    A justificativa do projeto de que a lentido das carroas j no cabe nas ruas paulistanas.

    Foto

    :Mon

    ica Z

    arat

    tini /

    AE

    12CA03TXT25P4.qxd 12.12.06 18:29 Page 31

  • Csar nos apresenta sua sogra, AnaMaria, 48 anos, casada com o tambm car-roceiro Clvis Csar Toledo, de 47 anos,que chega em seguida. Prximo dali,numa estreita rua de terra, ficam as duascocheiras improvisadas onde hospedamos cavalos. Csar apresenta Lulu, um cas-tanho de 10 anos, com uma mancha bran-ca na cara, o xod da sogra Ana Maria.Ana diz que Lulu rpido, falam que erade corrida, mas eu no sei, no. Ela tempresso alta, leva uma vida difcil. Preo-cupada, pergunta se a Caros Amigos temcomo ajud-la a vender os cavalos, poistem medo de perd-los com a nova lei.

    Csar e Clvis ajeitam as carroas, per-gunto a Clvis como a coisa funciona.Tiro a carroa da cocheira, arreio o cava-lo, engato na carroa, escovo, arrumo,pego a sacaria pra recolher o material epronto, podemos ir. Vamos em duas car-roas, cada uma deve carregar no mxi-mo 150 quilos de material recolhido. Voucom Clvis, enquanto o fotgrafo Cazupega carona com Csar e o cavalo Baio,outro castanho, de 8 anos.

    Ao primeiro tranco, a impresso quevou despencar, mas Clvis hbil com asrdeas e tem uma tranqilidade impres-sionante. Logo pegamos a primeira rua dotrajeto. O simptico Clvis moreno ebaixinho, do tipo falante e atencioso, pau-lista, pai de seis filhos. Estudou at a 2a

    srie e comeou a trabalhar com 7 anos,

    numa olaria onde fez tijolos at os 15,quando ento se empregou numa grfica.Depois foi servente de pedreiro, vigia deprdio e, sem maiores chances, virou car-roceiro, profisso que exerce h dez anosna informalidade. Confessa: No queriaser muita coisa, s que desse pra viverhonestamente, um bom ordenado, comovejo certas pessoas por a. O que faz um carroceiro? Vrias coisas: cata papel, ferro velho,plstico, mas tambm limpa um jardim seprecisar, tudo uma forma de ganhar umdinheiro pra quem trabalha com carroa. E vamos pra onde? O itinerrio a gua Branca, Lapa deBaixo, e a regio da Santa Marina. Quanto tempo leva o percurso? Ah, se tiver material, umas duas horas.Se no tiver, em uma hora voltamos. O cavalo agenta? Agenta, vamos devagar e ele est fer-rado e alimentado. O animal trabalha nomximo quatro horas por dia, duas horasde manh e duas de tarde.

    O cavalo mencionado o Fasca, umtordilho robusto, o jovem da turma, 7anos, e que custou 500 reais. No gosta-ria de vender. Peguei amor no Fasca, gostodele. comum os carroceiros trocarem oscavalos entre si ou comprarem em feirasdo rolo, hoje extintas na capital. Como voc faz nesse trnsito pra guiara carroa?

    Texto 12 / Trabalho informal

    Emprego e Trabalho32

    12CA03TXT25P4.qxd 12.12.06 18:29 Page 32

  • 33

    Com carroa, a seta a mo e o freio a rdea. E essa histria de que atrapalha o trn-sito? Acho errado. Muitos carros por a vodevagar pela direita, tipo caminho car-regado, a mesma coisa da carroa.

    Aquele que contrariar a lei ser remo-vido (carroa, mercadoria ou animal) epara isso poder ser utilizada fora poli-cial. Os animais apreendidos so exami-nados e registrados e o dono ter cincodias para resgatar o seu, porm deverapresentar carteira de vacinao do ani-mal (contra raiva e outras doenas) epagar entre resgate, remoo, microchipe dirias no Centro de Controle deZoonoses aproximadamente 800 reais.Ainda ter que comprovar que o donodo bicho com documentao ou duas tes-temunhas, arrumar transporte adequa-do e exibir cpia do imposto territorialrural (ITR) da propriedade rural ondeficar o animal.

    Nenhuma estranheza entre os motoris-tas e transeuntes, ao contrrio, por ondepassamos os porteiros e vendedores derua nos sadam. Paramos no sinal fecha-do e pergunto a um motorista o que achada lei: diferente ver cavalo e carroaandando com os carros, mas acho que noatrapalha. Primeira parada, para reco-lher um engradado de plstico. Desojunto, com medo de o Fasca disparar

    comigo (seria assim nas oito paradasseguintes). Outra parada e dessa vezFasca tenta adubar o asfalto. Clvislimpa, para manter a boa vizinhana.Quase no pegamos trnsito e Fascasegue firme no caminho que faz h cincoanos. ltima parada, carroa abastecida eClvis recebe uma sacola ao bater nosfundos de um supermercado. po pro caf. Quando a carroachega l de volta todos vm atrs. E qual tua opinio sobre a proibio decarroas na cidade? Essa lei errada, porque dependodisso, no se consegue mais trabalho pelaidade, sem estudo difcil. Se roubar, vaipreso. S sei ser carroceiro. Quanto voc ganha como carroceiro? Tem ms que d pra tirar uns 500, vaida sorte de encontrar material.

    A renda mensal de um carroceiro oucatador, segundo pesquisa da SecretariaMunicipal do Trabalho, de um a trssalrios mnimos. Os materiais maisrecolhidos so plstico (mais de cem anospara decompor), metal (no se decompe)e papel (de trs a seis meses). Cada habi-tante da capital produz, em mdia, 1,2quilo de lixo por dia, a cidade inteira380.000 toneladas por ms. SegundoSabetai Calderoni, autor do livro Osbilhes perdidos no lixo, toda a mo-de-obra que se dedica atividade de recicla-gem movimenta, em mdia, 326 milhes

    Emprego e Trabalho

    12CA03TXT25P4.qxd 12.12.06 18:29 Page 33

  • de reais por ano. E o Brasil perde, anual-mente, 4,6 bilhes de reais por no reci-clar adequadamente o lixo residencial. Seo pas reciclasse tudo o que pos-svel, ganharia 10 bilhes de reais porano, diz Calderoni. E quanto custa a carroa? Vai do estado. Uma carroa quebradapaga 300. A minha foi 1.200, porque s opar de pneus e o eixo paguei 350, deum Chevrolet 57. O que voc pretende fazer? Pra no ficar sem nada, vender tudoe ver outro meio de sobreviver.

    So quase 9 da manh, fim de expedien-te. De volta Vila Charlote, como disseClvis: o pessoal vem atrs do po, umasdez pessoas. Mas sobrou at para o cachor-ro de Clvis, um vira-lata assustado quetambm ganhou sua poro. Csar e Cazuchegaram antes e Baio j estava pastando.

    Antes de me despedir, o convite para ocaf no apartamento do Cingapura. Adoena volta baila. A gente sente quan-do o animal no est bem. que nem agente, quando no se sente bem, nemlevanta da cama. Animal a mesmacoisa, diz Ana. Clvis fala que o animalprecisa ter espao prprio e limpo a cadatrs dias: A gente d milho, capim, fare-lo, gua, banho uma vez por semana commangueira, injeo contra ttano, raiva,ferra o cavalo. Vai 200 reais por ms comos trs cavalos. O caf preparado por

    Ana bom, mais um gole e marcamosnova visita.

    O trajeto ser o mesmo dali a dois dias,s mudam as fbricas que disponibilizamo material reciclvel. Paramos para ven-der um plstico mole, 20 quilos mostra abalana e Csar garante 14 reais. As para-das dessa vez so cinco em quase duashoras. Como da primeira vez, nenhumtranstorno pelas ruas em que circulamos.Voltamos para a Vila Charlote e Csarquer me mostrar seu barraco: Voc j entrou num barraco? Apenas uma vez respondo, constrangi-do.

    A ponte de madeira que liga a rua deterra aos quase 150 barracos do outro ladodo crrego amedronta. Tem-se a impressode que vai desabar. Os barracos, um ao ladodo outro, esto amparados por toras demadeira fixadas na beirada do crrego, asquais vm cedendo h alguns meses. O bar-raco de Csar tem 4 metros de largura por4 de comprimento e ele mesmo ergueu.Cozinha, banheiro improvisado e o quarti-nho com a cama de casal. Tambm impro-visadas so a luz, a gua e as telhas quedurante a noite se transformam em passa-rela das ratazanas que infestam a regio.Uma televiso, geladeira, fogo de quatrobocas e fotos dos filhos ao lado de um ps-ter do time do Santos completam o cenrio.

    Segundo a Secretaria de Habitao eDesenvolvimento Urbano, existem 2.018

    Texto 12 / Trabalho informal

    Emprego e Trabalho34

    12CA03TXT25P4.qxd 12.12.06 18:29 Page 34

  • favelas no municpio, com 1,2 milho dehabitantes, 11% da populao total.

    Dois discos de vinil dos Racionais MCs,alguns CDs piratas de black-music, melodia do dia-a-dia, diz Csar, que teveo sonho de ser jogador de futebol. Hoje,gostaria de ser bombeiro, mas no sabecomo. Estudou at a 5a srie, participavado coral da igreja, tocando algumas notasao violo, e teve poucos empregos, foiajudante de obra e carregador de mate-riais de construo, 1.500 quilos por dia,no brao. Nessa poca, na rua esperan-do o chefe busc-lo para o trabalho a pou-cos metros dali, a polcia o abordou. Noperguntaram nada, gritaram comigo, mederrubaram e bateram. Meu chefe chegoue disse: Ele trabalha pra mim, parem. Apararam, mas pediram desculpas pro meuchefe, no pra mim. Chorei de raiva.

    Sua mulher se chama Leda e tm doisfilhos, Jlio, de 11 meses, e Talita, de 5anos. Em maio de 2005, grvida de Jlio,Leda entrou em trabalho de parto emmeio a uma enchente na Vila Charlote.Tentei lev-la no carro de um amigo, masele encheu. S samos pro hospital nobarco com os bombeiros. Foi um dia quefiquei desesperado.

    Csar tambm foi catador e tinha ver-gonha de separar lixo, mas se acostumoupor fora da necessidade: A gente no temmuita instruo. Eu tava contente com os500 reais, comprava as coisas pro barraco,

    pras crianas, pra Leda. E agora? Me oferece um suco. Tira do armrio

    fotos de famlia. Pergunta sobre uma cole-o de selos que achou no lixo: Sabequem compra isso? E deixa entrever que um otimista: Falei com a Leda, precisome arranjar de alguma maneira, n?Irritado com o fim das carroas, tentaentender a nova lei: Minha esposa quaseperdeu o nenm na enchente e nunca nin-gum veio falar nada. Os barracos estodesbarrancando pra dentro do rio, ratopra caramba. No s animal e carroa,a gente merece tambm ter um pouqui-nho de considerao.

    Nenhum carroceiro participou da ela-borao do projeto ou foi representado.O projeto previa que o poder pblico cria-ria programas de requalificao profissio-nal para os carroceiros, mas o artigo 21,que tratava do assunto, foi vetado peloprefeito. Perguntada sobre o veto, a pre-feitura respondeu por escrito que: Nocabe criar programa de capacitao pro-fissional especfico para os atingidos pelanova lei, porque os programas j existen-tes so universais, sem distino por cate-goria profissional, e podem perfeitamen-te atender tambm aos carroceiros.

    Emprego e Trabalho 35

    Texto de Thiago Domenici, publicado na revista Caros Amigos,

    no 111, de julho de 2006.

    12CA03TXT25P4.qxd 12.12.06 18:29 Page 35

  • Acigarra, sem pensar em guardar,

    a cantar passou o vero.

    Eis que chega o inverno, e ento,

    sem proviso na despensa,

    como sada, ela pensa

    em recorrer a uma amiga:

    sua vizinha, a formiga,

    pedindo a ela, emprestado,

    algum gro, qualquer bocado,

    at o bom tempo voltar.

    Antes de agosto chegar,

    pode estar certa a senhora:

    pago com juros, sem mora.

    Obsequiosa, certamente,

    a formiga no seria.

    Que fizeste at outro dia?,

    perguntou imprevidente.

    Eu cantava, sim, senhora,

    noite e dia, sem tristeza.

    Tu cantavas? Que beleza!

    Muito bem: pois dana agora...

    Extrado do livro Fbulas de La Fontaine, de Marc Chagall Editora Estao Liberdade.Fonte P www.saudeanimal.com.br

    Tipos de t rabalhoTEXTO 13

    Emprego e Trabalho36

    A CIGARRA E A FORMIGALa Fontaine

    Ilust

    ra

    o:Al

    cy

    13CA03TXT28P4.qxd 12/15/06 10:21 PM Page 36

  • Houve uma jovem cigarra que tinhao costume de chiar ao p do formi-gueiro. S parava quando cansa-

    dinha; e seu divertimento era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.

    Mas o bom tempo afinal passou e vie-ram as chuvas. Os animais todos, arrepia-dos, passavam o dia cochilando nas tocas.

    A pobre cigarra, sem abrigo em seugalhinho seco e metida em grandes apuros,deliberou socorrer-se de algum.

    Manquitolando, com uma asa a arras-tar, l se dirigiu para o formigueiro. Bateu tique, tique, tique...

    Aparece uma formiga friorenta, em-brulhada num xalinho de paina.

    Que quer? perguntou, examinan-do a triste mendiga suja de lama e a tossir.

    Venho em busca de agasalho. O mautempo no cessa e eu...

    A formiga olhou-a de alto a baixo. E que fez durante o bom tempo que

    no construiu a sua casa?

    A pobre cigarra, toda tremendo, res-pondeu depois dum acesso de tosse.

    Eu cantava, bem sabe... Ah!... exclamou a formiga recordan-

    do-se. Era voc ento que cantava nessarvore enquanto ns labutvamos para en-cher as tulhas?

    Isso mesmo, era eu...Pois entre, amiguinha! Nunca pode-

    remos esquecer as boas horas que suacantoria nos proporcionou. Aquele chia-do nos distraa e aliviava o trabalho. Di-zamos sempre: que felicidade ter comovizinha to gentil cantora! Entre, amiga,que aqui ter cama e mesa durante todoo mau tempo.

    A cigarra entrou, sarou da tosse e vol-tou a ser a alegre cantora dos dias de sol.

    Extrado do livro Fbulas, de Monteiro Lobato.

    Emprego e Trabalho 37

    A CIGARRA E A FORMIGA(A FORMIGA BOA)Monteiro Lobato

    13CA03TXT28P4.qxd 12/15/06 10:21 PM Page 37

  • Omeu amigo Augusto Machado, de quem acabo de publicar umapequena brochura aliteratada Vida e Morte de M. J. Gonzagade S mandou-me algumas notas herdadas por ele desse seuamigo, que, como se sabe, foi oficial da Secretaria dos Cultos.Coordenadas por mim, sem nada pr de meu, eu as dou aqui, para ameditao dos leitores:

    ESTAS MINHAS memrias que h dias tento comear so deve-ras difceis de executar, pois se imaginarem que a minha secretaria de pequeno pessoal e pouco nela se passa de notvel, bem avaliaroem que apuros me encontro para dar volume s minhas recordaesde velho funcionrio. Entretanto, sem recorrer dificuldade, mas lade-ando-a, irei sem preocupar-me com datas nem tampouco me incomo-dando com a ordem das cousas e fatos, narrando o que me acudir deimportante, proporo de escrev-las. Ponho-me obra.

    Logo no primeiro dia em que funcionei na secretaria, senti bemque todos ns nascemos para empregado pblico. Foi a reflexo quefiz, ao me julgar to em mim, quando, aps a posse e o compromissoou juramento, sentei-me perfeitamente vontade na mesa que medeterminaram. Nada houve que fosse surpresa, nem tive o mnimoacanhamento. Eu tinha vinte e um para vinte e dois anos; e nela meabanquei como se de h muito j o fizesse. To depressa foi a minhaadaptao que me julguei nascido para ofcio de auxiliar o Estado,com a minha reduzida gramtica e o meu pssimo cursivo, na suamisso de regular a marcha e a atividade da nao.

    Com familiaridade e convico, manuseava os livros grandes mon-tes de papel espesso e capas de couro, que estavam destinados a durartanto quanto as pirmides do Egito. Eu sentia muito menos aquele registrode decretos e portarias e eles pareciam olhar-me respeitosamente e pedir-me sempre a carcia das minhas mos e a doce violncia da minha escrita.

    Al ienao do t rabalhoTEXTO 14

    Emprego e Trabalho38

    TRS GNIOS DE SECRETARIA

    Lima Barreto

    Quando o importante q.i.

    14CA03TXT03P4.qxd 12.12.06 18:36 Page 38

  • Puseram-me tambm a copiar ofcios e a minha letra to m eo meu desleixo to meu, muito papel fizeram-me gastar, sem queisso redundasse em grande perturbao no desenrolar das cousasgovernamentais.

    Mas, como dizia, todos ns nascemos para funcionrio pblico.Aquela placidez do ofcio, sem atritos, nem desconjuntamentos vio-lentos; aquele deslizar macio durante cinco horas por dia; aquelamediania de posio e fortuna, garantindo inabalavelmente uma vidamedocre tudo isso vai muito bem com as nossas vistas e os nossostemperamentos. Os dias no emprego do Estado nada tm de impre-visto, no pedem qualquer espcie de esforo a mais, para viver o diaseguinte. Tudo corre calma e suavemente, sem colises, nem sobres-saltos, escrevendo-se os mesmos papis e avisos, os mesmos decretose portarias, da mesma maneira, durante todo o ano, exceto os diasferiados, santificados e os de ponto facultativo, inveno das melho-res da nossa Repblica.

    De resto, tudo nele sossego e quietude. O corpo fica em cmodojeito; o esprito aquieta-se, no tem efervescncia nem angstias; aspraxes esto fixas e as frmulas j sabidas. Pensei at em casar, no s

    Emprego e Trabalho 39

    Ilust

    ra

    o:Al

    cy

    14CA03TXT03P4.qxd 12.12.06 18:36 Page 39

  • para ter uns bate-bocas com a mulher, mas, tambm, para ficar maisburro, ter preocupaes de pistoles, para ser promovido. No o fiz;e agora, j que no digo a ente humano, mas ao discreto papel, possoconfessar por que. Casar-me, no meu nvel social, seria abusar-mecom a mulher, pela sua falta de instruo e cultura intelectual; casar-me acima, seria fazer-me lacaio dos figures, para darem-me cargos,propinas, gratificaes, que satisfizessem s exigncias da esposa. Noqueria uma nem outra cousa. Houve uma ocasio em que tentei sol-ver a dificuldade, casando-me ou cousa que o valha, abaixo da minhasituao. a tal histria da criada... A foram a minha dignidade pes-soal e o meu cavalheirismo que me impediram.

    No podia, nem devia ocultar a ningum e de nenhuma forma, amulher com quem eu dormia e era me dos meus filhos. Eu ia citar SantoAgostinho, mas deixo de faz-lo para continuar a minha narrao...

    Quando, de manh, novo ou velho no emprego, a gente se sentana sua mesa oficial, no h novidade de espcie alguma e, j dapena, escreve devagarinho: Tenho a honra, etc., etc.; ou, republi-canamente, Declaro-vos para os fins convenientes etc... etc. Se hmudana, pequena e o comeo j bem sabido: Tenho em vis-tas... ou Na forma do disposto...

    s vezes o papel oficial fica semelhante a um estranho mosaicode frmulas e chapas; e so os mais difceis, nos quais o doutor XistoRodrigues brilhava como mestre inigualvel.

    O doutor Xisto j conhecido dos senhores, mas no dos outrosgnios da Secretaria dos Cultos. Xisto estilo antigo. Entrou honesta-mente, fazendo um concurso decente e sem padrinhos. Apesar da suapulhice bacharelesca e a sua limitao intelectual, merece respeitopela honestidade que pe em todos os atos de sua vida, mesmo comofuncionrio. Sai hora regulamentar e entra hora regulamentar.No bajula. Nem recebe gratificaes.

    Os dois outros, porm, so mais modernizados. Um charadis-ta, o homem que o diretor consulta, que d as informaes confiden-ciais, para o presidente e o ministro promoverem os amanuenses. Esteningum sabe como entrou para a secretaria; mas logo ganhou a con-fiana de todos, de todos se fez amigo e, em pouco, subiu trs passos

    Texto 14 / A l ienao do t rabalho

    Emprego e Trabalho40

    14CA03TXT03P4.qxd 12.12.06 18:36 Page 40

  • na hierarquia e arranjou quatro gratificaes mensais ou extraordin-rias. No m pessoa, ningum se pode aborrecer com ele: uma cria-o do ofcio que s amofina os outros, assim mesmo sem nada estessaberem ao certo, quando se trata de promoes. H casos muito inte-ressantes; mas deixo as proezas dessa inferncia burocrtica, em queo seu amor primitivo a charadas, ao logogrifo e aos enigmas pitores-cos ps-lhe sempre na alma uma caligem de mistrio e uma necessi-dade de impor aos outros adivinhao sobre ele mesmo. Deixo-a,dizia, para tratar do auxiliar de gabinete. este a figura mais curio-sa do funcionalismo moderno. sempre doutor em qualquer cousa;pode ser mesmo engenheiro hidrulico ou eletricista. Veio de qual-quer parte do Brasil, da Bahia ou de Santa Catarina, estudou no Rioqualquer cousa; mas no veio estudar, veio arranjar um emprego segu-ro que o levasse maciamente para o fundo da terra, donde deveria tersado em planta, em animal e, se fosse possvel, em mineral qualquer. intil, vadio, mau e pedante, ou antes, pernstico.

    Instalado no Rio, com fumaas de estudante, sonhou logo ar-ranjar um casamento, no para conseguir uma mulher, mas, pa-ra arranjar um sogro influente, que o empregasse em qualquer cousa,solidamente. Quem como ele faz de sua vida, to-somente, caminhopara o cemitrio, no quer muito: um lugar em uma secretaria qual-quer serve. H os que vem mais alto e se servem do mesmo meio;mas so a quintessncia da espcie.

    Na Secretaria dos Cultos, o seu tpico e clebre auxiliar de gabi-nete, arranjou o sogro dos seus sonhos, num antigo professor doseminrio, pessoa muito relacionada com padres, frades, sacristes,irms de caridade, doutores em cnones, definidores, fabriqueiros,fornecedores e mais pessoal eclesistico.

    O sogro ideal, o antigo professor, ensinava no seminrio uma fsi-ca muito prpria aos fins do estabelecimento, mas que havia de horri-pilar o mais medocre aluno de qualquer estabelecimento leigo.

    Tinha ele uma filha a casar e o auxiliar de gabinete logo viu noseu casamento com ela o mais fcil caminho para arranjar uma barri-gazinha estufadinha e uma bengala com casto de ouro.

    Houve exame na Secretaria dos Cultos, e o sogro, sem escr-

    Emprego e Trabalho 41

    14CA03TXT03P4.qxd 12.12.06 18:36 Page 41

  • pulo algum, fez-se nomear examinador do concurso para o provimen-to do lugar e meter nele o noivo.

    Que se havia de fazer? O rapaz precisava.O rapaz foi posto em primeiro lugar, nomeado e o velho sogro (j

    o era de fato) arranjou-lhe o lugar de auxiliar de gabinete do minis-tro. Nunca mais saiu dele e, certa vez, quando foi, pr-frmula se des-pedir do novo ministro, chegou a levantar o reposteiro para sair; mas,nisto, o ministro bateu na testa e gritou:

    Quem a o doutor Mata-Borro?O homenzinho voltou-se e respondeu, com algum tremor na voz e

    esperana nos olhos: Sou eu, excelncia. O senhor fica. O seu sogro j me disse que o senhor precisa muito. ele assim, no gabinete, entre os poderosos; mas, quando fala a

    seus iguais, de uma prospia de Napoleo, de quem se no conhe-cesse a Josefina.

    A todos em que ele v um concorrente, traioeiramente desacredi-ta: bbedo, joga, abandona a mulher, no sabe escrever comisso,etc. Adquiriu ttulos literrios, publicando a Relao dos Padroeirosdas Principais Cidades do Brasil; e sua mulher quando fala nele, nose esquece de dizer: Como Rui Barbosa, o Chico... ou ComoMachado de Assis, meu marido s bebe gua.

    Gnio domstico e burocrtico, Mata-Borro no chegar, apesarda sua maledicncia interesseira, a entrar nem no inferno. A vida no unicamente um caminho para o cemitrio; mais alguma cousa equem a enche assim, nem Belzebu o aceita. Seria desmoralizar o seuimprio; mas a burocracia quer desses amorfos, pois ela das cria-es sociais aquela que mais atrozmente tende a anular a alma, a inte-ligncia, e os influxos naturais e fsicos ao indivduo. um expressivodocumento de seleo inversa que caracteriza toda a nossa sociedadeburguesa, permitindo no seu campo especial, com a anulao dosmelhores da inteligncia, de saber, de carter e criao, o triunfo inex-plicvel de um Mata-Borro por a.

    Pela cpia, conforme.

    Emprego e Trabalho42

    Extrado do livro O homem que sabia javans e outros contos.

    Texto 14 / A l ienao do t rabalho

    14CA03TXT03P4.qxd 12.12.06 18:37 Page 42

  • Para que t rabalharTEXTO 15

    Emprego e Trabalho 43

    Um fazendeiro sentiu a morte prxi-ma e chamou os filhos para contarum segredo.

    Meus filhos, eu vou morrer. Querodizer que no nosso terreno h um tesou-ro escondido. Se vocs cavarem, vo en-contrar.

    Logo que o pai morreu, os filhos pe-garam ps e ancinhos e reviraram o ter-reno de todo jeito, procurando o tesouro.No acharam nada, mas a terra trabalha-da produziu uma colheita nunca vista.

    Parbola de domnio pblico.

    O FAZENDEIRO E OS FILHOS

    15CA03TXT27P4.qxd 12.12.06 18:38 Page 43

  • O QUE A LEI GARANTEAO TRABALHADOROs 34 incisos do artigo 7o do captulo II da Constituiolistam todos os direitos de quem tem um emprego

    Dire i tos do t rabalhadorTEXTO 16

    Emprego e Trabalho44

    Constituio BrasileiraTtulo II

    Dos Direitos e Garantias Fundamentais

    Captulo IIDos Direitos Sociais

    Art. 7o SSo direitos dos trabalhadoresurbanos e rurais, alm de outros quevisem melhoria de sua condio social:

    I. relao de emprego protegida contradespedida arbitrria ou sem justa causa,nos termos de lei complementar, que pre-ver indenizao compensatria, dentreoutros direitos;

    II. seguro-desemprego, em caso de de-semprego involuntrio;

    III. fundo de garantia do tempo de servio;

    Foto

    :Seb

    asti

    o M

    orei

    ra /

    AE

    16CA03TXT34P4.qxd 12.12.06 18:39 Page 44

  • Emprego e Trabalho 45

    IV. salrio mnimo, fixado em lei, nacio-nalmente unificado, capaz de atender ssuas necessidades vitais bsicas e s desua famlia com moradia, alimentao,educao, sade, lazer, vesturio, higie-ne, transporte e previdncia social, comreajustes peridicos que lhe preservem opoder aquisitivo, sendo vedada sua vin-culao para qualquer fim;

    V. piso salarial proporcional extenso e complexidade do trabalho;

    VI. irredutibilidade do salrio, salvo o dis-posto em conveno ou acordo coletivo;

    VII. garantia de salrio, nunca inferiorao mnimo, para os que percebem remu-nerao varivel;

    VIII. dcimo terceiro salrio com base naremunerao integral ou no valor da apo-sentadoria;

    IX. remunerao do trabalho noturnosuperior do diurno;

    X. proteo do salrio na forma da lei,constituindo crime sua reteno dolosa;

    XI. participao nos lucros, ou resultados,desvinculada da remunerao, e, excepcio-nalmente, participao na gesto daempresa, conforme definido em lei;

    XII. salrio-famlia para os seus depen-dentes;

    XIII. durao do trabalho normal no

    superior a oito horas dirias e quarenta equatro semanais, facultada a compensa-o de horrios e a reduo da jornada,mediante acordo ou conveno coletivade trabalho;

    XIV. jornada de seis horas para o traba-lho realizado em turnos ininterruptos derevezamento, salvo negociao coletiva;

    XV. repouso semanal remunerado, prefe-rencialmente aos domingos;

    XVI. remunerao do servio extraordi-nrio superior, no mnimo, em cinqentapor cento do normal;

    XVII. gozo de frias anuais remuneradascom, pelo menos, um tero a mais do queo salrio normal;

    XVIII. licena gestante, sem prejuzodo emprego e do salrio, com a duraode cento e vinte dias;

    XIX. licena-paternidade, nos termosfixados em lei;

    XX. proteo do mercado de trabalho damulher, mediante incentivos especficos,nos termos da lei;

    XXI. aviso prvio proporcional ao tempode servio, sendo no mnimo de trintadias, nos termos da lei;

    XXII. reduo dos riscos inerentes ao tra-balho, por meio de normas de sade, higie-ne e segurana;

    16CA03TXT34P4.qxd 12.12.06 18:39 Page 45

  • Texto 16 / D i re i tos do t rabalhador

    Emprego e Trabalho46

    XXIII. adicional de remunerao para asatividades penosas, insalubres ou perigo-sas, na forma da lei;

    XXIV. aposentadoria;

    XXV. assistncia gratuita aos filhos edependentes desde o nascimento at seisanos de idade em creches e pr-escolas;

    XXVI. reconhecimento das convenes eacordos coletivos de trabalho;

    XXVII. proteo em face da automao,na forma da lei;

    XXVIII. seguro contra acidentes de traba-lho, a cargo do empregador, sem excluir aindenizao a que este est obrigado, quan-do incorrer em dolo ou culpa;

    XXIX. ao, quanto a crditos resultan-tes das relaes de trabalho, com prazoprescricional de:

    a) cinco anos para o trabalhador urbano,at o limite de dois anos aps a extinodo contrato;

    b) at dois anos aps a extino do con-trato, para o trabalhador rural;

    XXX. proibio de diferena de salrios,de exerccio de funes e de critrio deadmisso por motivo de sexo, idade, corou estado civil;

    XXXI. proibio de qualquer discrimina-o no tocante a salrio e critrios deadmisso do trabalhador portador dedeficincia;

    XXXII. proibio de distino entre tra-balho manual, tcnico e intelectual ouentre os profissionais respectivos;

    XXXIII. proibio de trabalho noturno,perigoso ou insalubre aos menores dedezoito e de qualquer trabalho a meno-res de quatorze anos, salvo na condiode aprendiz;

    XXXIV. igualdade de direitos entre o tra-balhador com vnculo empregatcio per-manente e o trabalhador avulso.

    Pargrafo nico So assegurados categoria dos trabalhadores domsticos osdireitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV,XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como asua integrao previdncia social.

    16CA03TXT34P4.qxd 12.12.06 18:39 Page 46

  • BRASIL DIVIDIDOMais da metade dos trabalhadores brasileiros vive na informalidade

    Eles habitam um mundo de tons cinzen-tos. Procuram sobreviver no improvi-so, escapar das armadilhas da burocra-

    cia e do pagamento de impostos. Socamels, barraqueiros, donos de fbricas defundo de quintal. Alguns resvalam para ailegalidade, vendem cigarros e remdios fal-sificados, CDs piratas ou badulaques. Sotambm pessoas diplomadas que doconsultoria ou atuam como personal trai-ners. Tem de tudo no mundo da informali-dade. O Brasil um dos campees nesse ter-

    ritrio. Nada menos do que 52,6% dos bra-sileiros que praticam alguma atividaderemunerada gravitam em ambientes infor-mais. Em 2002 eram 36,3 milhes de pes-soas, entre 69,1 milhes de trabalhadoresque recebiam algum tipo de pagamento. Osdados so do Instituto de Pesquisa Eco-nmica Aplicada (Ipea) com base em infor-maes do Instituto Brasileiro de Geografiae Estatstica (IBGE). O problema crescen-te, especialmente nas regies metropolita-nas e, dentro delas, no setor de servios.

    Trabalho informalTEXTO 17

    Emprego e trabalho 47

    Foto

    :A+

    Empreendedores informais, como os das bancas do Largo da Batata emSo Paulo, no tm benefcios trabalhistas e no recolhem impostos.

    17CA03TXT13P4.qxd 12.12.06 18:41 Page 47

  • Texto 17 / Trabalho informal

    Emprego e Trabalho48

    De acordo com os especialistas do Ipea,o crescimento da informalidade no Brasilresulta de uma reacomodao da econo-mia, que ocorreu porque a indstria deuum salto de produtividade e passou a pro-duzir mais com menos gente. Ao mesmotempo, terceirizou atividades, muitas paraempresas de servios de limpeza, seguran-a ou alimentao.

    Os dados indicam que o setor industri-al no apenas est empregando menos,tambm nele que se registra o maior cres-cimento da informalidade.

    Um estudo da consultoria McKinseyrevela que o maior grau de informalidadeest no setor agropecurio. Ali, 90% damo-de-obra no tm vnculo empregat-cio. O menor nvel de informalidade o dosetor de veculos automotores, que ostentaum ndice de apenas 9%.

    Um problema nacional

    A informalidade um problema para opas por vrias razes. Primeiro porquequem trabalha sem registro vive sem qual-quer rede de proteo. No tem direito afrias, 13o salrio nem Fundo de Garantiapor Tempo de Servio. Depois, porque umaempresa no investe na capacitao de umtrabalhador que no tem vnculo com seunegcio o que, numa perspectiva mais lar-ga, prejudica a competitividade da econo-mia do pas como um todo. Em terceirolugar, porque empresas e pessoas que vivemna informalidade no pagam impostos o

    que prejudica as contas pblicas e dificultainvestimentos necessrios para o bem co-mum. E tambm porque, embora no con-tribuam, os trabalhadores informais tmdireito assistncia mdica e aposentado-ria uma despesa que est sendo cobertapor um nmero cada vez menor de traba-lhadores e empresas formais.

    De acordo com o relatrio da McKinsey,a opo pela informalidade est relaciona-da ao alto custo do cumprimento das leis,que estimula as empresas menos produti-vas a permanecer nessas condies. cadavez mais comum a opo pela informalida-de para no cumprir exigncias trabalhis-tas, previdencirias ou relacionadas segu-rana do trabalho. O pequeno empresriono paga os encargos trabalhistas porqueeles pesam relativamente mais em seu fatu-ramento do que no de uma grande empre-sa, diz Ricardo Tortorella, economista econsultor do Sebrae Nacional. O custo rela-tivo da assistncia sade e da seguranano trabalho tambm muito mais pesadopara as pequenas empresas. O trabalhadorinformal, por seu lado, tem acesso ao Sis-tema nico de Sade. Deixa de ter direitoao seguro desemprego, ao seguro acidentede trabalho e ao seguro maternidade, masno precisa abrir mo de uma parte de suareceita em favor da Previdncia Social.

    Extrado do texto de Ottoni Fernandes Jr. publicado na revistaDesafios do Desenvolvimento, ano1, n.o 4, novembro de 2004.

    17CA03TXT13P4.qxd 12.12.06 18:41 Page 48

  • Odesemprego e a fartura de lixo nasgrandes cidades fizeram surgir umacategoria de trabalhadores que nopra de crescer: a dos moradores de ruaque sobrevivem catando lixo reciclvelcom a ajuda de uma carroa. Quase sem-pre assim: quando conseguem se estru-turar um pouco, pagam 40 reais por umeixo de automvel no ferro-velho, mon-tam uma carroa e passam a viver do queconseguem apurar na venda do material.

    Na cidade de So Paulo, a populaode rua mais que dobrou em dez anos: em1993, de acordo com a Secretaria de As-sistncia Social, era de 4.549 pessoas eem 2003 pulou para 10.300, sendo que3.200 delas viviam de catar lixo. Grandeparte trabalha com carroas. A coordena-doria do Programa de Coleta ColetivaSolidria de So Paulo calcula que exis-tam de 6.000 a 9.000 catadores nas reasque englobam as 31 subprefeituras dacidade. Conflitos familiares, alcoolismo edesemprego so as principais causas des-se aumento.

    Concorrncia acirrada

    Para os catadores, comprar uma carro-a o primeiro passo para reorganizar avida e recuperar dignidade. Alm disso,esse trabalho gera benefcios para a cida-de. Nossa atividade deveria ser reconheci-da como profisso. Evitamos a destruioda natureza com a reciclagem de materiaise ajudamos a prefeitura a economizar re-cursos com aterros sanitrios, porque des-viamos parte dos materiais que iriam paral, diz Nelson da Silva, morador de rua hseis anos.

    Eustquio fatura de 300 a 400 reaispor ms e se considera privilegiado: Quemcorre atrs de material na rua acha cadavez menos, diz. No faz muito tempodava para tirar 200 reais por semana.Todo mundo est tirando material darua, reclama. Todo mundo, no caso, so:os prdios que passaram a separar o pr-prio lixo para a reciclagem e o entregampara a prefeitura; os carroceiros cada vezem maior nmero; os caminhes dos dep-sitos e os de coleta regular.

    Emprego e Trabalho 49

    Relaes de t rabalhoTEXTO 18

    ELES TRABALHAM FEITOCAVALOS

    18CA03AT08xP4.qxd 12.12.06 18:43 Page 49

  • A concorrncia forte. Um saco delixo na rua mexido por muita gente, dizFbio. Primeiro vm os andarilhos queno tm carroa porque no podem com-prar ou porque no tm fora para puxaruma. Catam com sacos, buscam principal-mente latinhas de alumnio e ganham de3 a 4 reais por dia. D para viver? No, ds para comprar o gor, diz Eustquio.Depois vm os carroceiros. Em seguida, oscaminhes. Segredo do negcio: correr pa-ra pegar o lixo fresquinho.

    Entretanto, para catadores associadosa cooperativas, o programa municipal um meio de incluso social. O material recolhido pelos caminhes e processadopor cooperativas, em centrais criadas eequipadas pela prefeitura.

    Nesses centros trabalham, diretamente,os catadores cooperados; e, indiretamente, os

    outros que vendem ali seusmateriais. A incluso

    social apenas umdos objetivos doprojeto, alm da

    educao ambiental dos cidados, da pre-servao de recursos naturais e da redu-o da quantidade de lixo encaminhadaaos aterros sanitrios.

    Uma das vantagens de fazer parte dacooperativa receber um valor maiorpelo material, pois ele vendido direta-mente indstria recicladora sem passarpelos depsitos. Em contrapartida, umadas exigncias da prefeitura para entre-gar a gesto da central s cooperativas que elas estabeleam horrios de traba-lho para os catadores. Nem todos queremsaber disso.

    Os catadores que no se organizaremvo continuar como Eustquio e Fbio:disputando material com os caminhes erecebendo o que os depsitos pagam pelacoleta do dia. No caso do papelo, os dep-sitos pagam em torno de 13 centavos o quilo,enquanto que, se venderem diretamente indstria, eles recebem 30 centavos.

    Fragmentos do artigo de Patrcia Cornils, publicado na internet em 18/6/2004 no site www.nominimo.com.br

    50 Emprego e Trabalho

    Texto 18 / Trabalho precr io

    Foto

    :Cle

    ber B

    onat

    o / A

    E

    Em 2006, o nmero de catadores na cidade de So Paulo passou a ser de 20.000 pes-soas, sendo que 2.500 delas utilizam cavalos ou jumentos para puxar a carroa. Umalei sancionada em abril de 2006 pela prefeitura de So Paulo agora probe a utiliza-o de animais para esse fim, o que dificulta ainda mais a vida dessa classe trabalha-dora: os animais sero recolhidos, o dinheiro investido estar perdido e as pessoastero de encontrar outra forma de sobrevivncia.

    O garoto Tiago Marques (16 anos),que trabalha como catador de papel.

    18CA03AT08xP4.qxd 21.01.07 13:20 Page 50

  • TRABALHO INFANTIL

    Lutas dos t rabalhadoresTEXTO 19

    Uma realidade que precisa ser mudada

    Emprego e Trabalho 51

    Abrindo o fumo

    Quebrando pedra

    Operando a mquina

    Foto: Dida Sampaio / AE Foto: Lewis Hine

    Foto: Epitcio Pessoa / AE

    19CA03TXT02P4.qxd 12.12.06 18:52 Page 51

  • Numa manh, ao despertar de sonhosinquietantes, Gregrio Samsa deupor si na cama transformado num

    gigantesco inseto. Estava deitado sobre odorso, to duro que parecia revestido demetal, e, ao levantar um pouco a cabea,divisou o arredondado ventre castanho divi-dido em duros segmentos arqueados, sobreo qual a colcha dificilmente mantinha aposio e estava a ponto de escorregar.

    Comparadas com o resto do corpo, asinmeras pernas, que eram miseravel-mente finas, agitavam-se desesperada-mente diante de seus olhos.

    Que me aconteceu? pensou. Noera nenhum sonho. O quarto, um vulgarquarto humano, apenas bastante acanha-do, ali estava, como de costume, entre asquatro paredes que lhe eram familiares.Por cima da mesa, onde estava deitado,desembrulhada e em completa desordem,uma srie de amostras de roupas; Samsaera caixeiro-viajante, estava pendurada afotografia que recentemente recortara de

    Franz Kafka

    Al ienao do t rabalhoTEXTO 20

    Emprego e Trabalho52

    Ilust

    ra

    o:Al

    cy

    20CA03TXT09P4.qxd 12.12.06 18:53 Page 52

  • uma revista ilustrada e colocara numabonita moldura dourada. Mostrava umasenhora, de chapu e estola de peles, rigi-damente sentada, a estender ao especta-dor um enorme regalo de peles, onde oantebrao sumia!

    Gregrio desviou ento a vista para ajanela e deu com o cu nublado ouviam-se os pingos de chuva a baterem na calhada janela e isso o fez sentir-se bastantemelanclico. No seria melhor dormir umpouco e esquecer todo este delrio? cogi-tou. Mas era impossvel, estava habituado adormir para o lado direito e, na presentesituao, no podia virar-se. Por mais quese esforasse por inclinar o corpo para adireita, tornava sempre a rebolar, ficandode costas. Tentou, pelo menos, cem vezes,fechando os olhos, para evitar ver as pernasa debaterem-se, e s desistiu quando come-ou a sentir no flanco uma ligeira dor entor-pecida que nunca antes experimentara.

    Oh, meu Deus, pensou, que trabalhoto cansativo escolhi! Viajar, dia sim, diano. um trabalho muito mais irritante doque o trabalho do escritrio propriamentedito, e ainda por cima h tambm o des-conforto de andar sempre a viajar, preocu-pado com as ligaes dos trens, com a camae com as refeies irregulares, com conhe-cimentos casuais, que so sempre novos enunca se tornam amigos ntimos.

    Diabos levem tudo isto! Sentiu umaleve comicho na barriga; arrastou-se len-tamente sobre as costas, mais para cimana cama, de modo a conseguir mexermais facilmente a cabea, identificou olocal da comicho, que estava rodeado deuma srie de pequenas manchas brancascuja natureza no compreendeu no mo-mento, e fez meno de tocar l com umaperna, mas imediatamente a retirou, pois,ao seu contato, sentiu-se percorrido porum arrepio gelado.

    Voltou a deixar-se escorregar para aposio inicial. Isto de levantar cedo, pen-sou, deixa a pessoa estpida. Um homemnecessita de sono. H outros comercian-tes que vivem como mulheres de harm.Por exemplo, quando volto para o hotel,de manh, para tomar nota das encomen-das que tenho, esses se limitam a sentar-se mesa para o caf da manh. Eu quetentasse sequer fazer isso com o meupatro: seria logo despedido. De qualquermaneira, era capaz de ser bom para mim quem sabe? Se no tivesse de meagentar, por causa dos meus pais, hmuito tempo que me teria despedido; iriater com o patro e lhe falar exatamente oque penso dele. Havia de deitar-me emcima da mesa do escritrio! Tambm umhbito esquisito, esse de se sentar mesaem plano elevado e falar para baixo para

    Emprego e Trabalho 53

    20CA03TXT09P4.qxd 12.12.06 18:53 Page 53

  • os empregados, tanto mais que eles tmde aproximar-se bastante, porque o patro ruim de ouvido. Bem, ainda h umaesperana; depois de ter economizado osuficiente para pagar o que os meus paislhe devem o que deve levar outroscinco ou seis anos , fao-o, com certe-za. Nessa altura, vou me libertar comple-tamente. Mas, para agora, o melhor melevantar, porque o meu trem parte s 5.

    Olhou para o despertador, que faziatique-taque na cmoda. Pai do Cu! pen-sou. Eram 6 e meia e os ponteiros mo-viam-se em silncio, at passava da meiahora, era quase um quarto para as 7. Odespertador no teria tocado? Da cama,via-se que estava corretamente reguladopara as 4; claro que devia ter tocado. Sim,mas seria possvel dormir sossegadamen-te no meio daquele barulho que trespas-sava os ouvidos? Bem, ele no tinha dor-mido sossegadamente; no entanto, apa-rentemente, se assim era, ainda devia tersentido mais o barulho. Mas que fariaagora? O prximo trem saa s 7; para oapanhar tinha de correr como um doido,as amostras ainda no estavam embrulha-das e ele prprio no se sentia particular-mente fresco e ativo. E, mesmo que apa-nhasse o trem, no conseguiria evitar umareprimenda do chefe, visto que o porteiroda firma havia de ter esperado o trem das

    5 e h muito teria comunicado a suaausncia. O porteiro era um instrumentodo patro, invertebrado e idiota. Bem,suponhamos que dizia que estava doen-te? Mas isso seria muito desagradvel epareceria suspeito, porque, durante cincoanos de emprego, nunca tinha estadodoente. O prprio patro certamente irial casa com o mdico da Previdncia,repreenderia os pais pela preguia do filhoe poria de parte todas as desculpas, recor-rendo ao mdico da Previdncia, que,evidentemente, considerava toda a huma-nidade um bando de falsos doentes perfei-tamente saudveis. E enganaria assimtanto desta vez? Efetivamente, Gregriosentia-se bastante bem, parte uma sono-lncia que era perfeitamente suprfluadepois de um to longo sono, e sentia-semesmo esfomeado.

    (...)

    Texto 20 / A l ienao do t rabalho

    Emprego e Trabalho54

    O escritor Franz Kafka, de nacionalidade alem, nasceu na Tcheco-Eslovquia em 1883. A metamorfose sua obra mais conhecida,com a ao do personagem desenrolando-se em clima fantstico eangustiante, a ponto de o nome do autor ter sofrido declinaes,como a expresso kafkiano, para qualificar situaes obscuras e desofrimento monumental. Kafka morreu na Alemanha em 1924.

    Trecho de A metamorfose, de Franz Kafka.

    20CA03TXT09P4.qxd 12.12.06 18:53 Page 54

  • Randy GlasbergenTHE IDEAL EMPLOYEE

    DesempregoTEXTO 21

    Emprego e Trabalho 55

    Loyalty and enthusiasm are the two things I value most in an employee. Youre hired!

    21CA03TXT05P4.qxd 13.12.06 20:41 Page 55

  • Emprego e Trabalho56

    Rot ina do t rabalhadorTEXTO 22

    da calada pro transporteDo transporte pro trabalho

    Do trabalho para a morteA vida do operrio

    (...)

    da verdade pra mentiraDa palavra, conformao

    Da notcia pro realPro rdio, pra televiso

    do morro para a ponteDo rio para o oceanoCorre o dia no Recife

    Cidade dos meus enganos

    (...)

    DE DAR DComposio de

    dj Dolores

    Ilust

    ra

    o:Al

    cy

    22CA03TXT10P4.qxd 12/15/06 10:26 PM Page 56

  • Acorda, Joo,J passa das cinco.O relgio no pra, a vida no pra. hora de ir para a vinte e cinco,Vender as mercadoriasQue, com os nicos centavos e tantos esforos, acabou de comprar.No corre-corre, no grita-grita: Trs por um real!Joo nem se d contaQue, s suas costas,O policial durante a rondaLeva as mercadorias.Joo, e