ENARGITA – Cu AsS - UFRGS

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ENARGITA – Cu3AsS4 A enargita é um sulfeto de Cu mais raro, típico de alguns jazimentos com características muito específicas. É um minério importante de Cu quando ocorre em grandes volumes. Cristais são raros, tabulares espessos, mais raramente prismáticos estriados, com até 15 cm de comprimento. Maclas segundo (320) são comuns. Pode formar maclas de interpenetração pseudohexagonais (“trillings”). Contém, como impurezas, Pb, Zn, Ag, Sb, Fe e Ge. Possui duas variedades (Ag, Sn). A enargita está relacionada à wurtzita (ZnS). Na enargita, 75% do zinco é substituído por cobre e 25% do zinco é substituído por arsênio. A semelhança fica mais evidente se escrevermos a fórmula da wurtzita como Zn4S4. A enargita (ortorrômbica) é trimorfa com a luzonita (tetragonal) e com a lazarevicita (cúbica). Na Mineralogia de Minérios houve grandes problemas no reconhecimento e na diferenciação de enargita (Cu3AsS4 – ortorrômbico), luzonita (Cu3AsS4 – tetragonal) e famatinita (Cu3SbS4 - tetragonal). Adicionalmente se acreditava que existia um quarto mineral, a stibioluzonita, que na realidade era famatinita. Os 3 minerais hoje reconhecidos quase sempre ocorrem juntos, transicionam de forma paramorfa de um para outro e em certos casos formam misturas isomórficas. Luzonita e famatinita formam uma série isomórfica. 1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem Ortorrômbico piramidal. Cinza-do-aço, cinza- preto a preto-violeta e preto. Com o tempo, desenvolve embaçamento. Geralmente maciça. Granular, colunar, radial, friável. Cristais raros. (ver acima) {110} perfeita, {100} e {010} distintas, {001} indistinta. Estrias paralelas a {001}. Tenacidade Quebradiço. Maclas Fratura Dureza Mohs Partição Ver acima. Irregular. 3 não. Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm 3 ) Preto a acinzentado. Metálico a submetálico. Opaca. 4,4 – 4,5 2. Geologia e depósitos: Enargita forma-se em veios hidrotermais de Cu-As, pobres em Fe, de temperaturas baixas a moderadas. Em grandes quantidades ocorre apenas neste tipo de depósito. Em outros tipos de depósitos ocorre com frequência, mas em quantidades muito subordinadas. Também se forma como estágio tardio e em depósitos de baixa temperatura, como em depósitos do tipo VMS (= “volcanogenic massive sulphides”) e depósitos de cobre pórfiro (“porphyry copper”). 3. Associações Minerais: Associa-se a minerais de ganga comuns como quartzo e barita. Também com sulfetos comuns como pirita, marcassita, esfalerita, arsenopirita, galena e molibdenita. Naturalmente ocorre com uma série de minerais de Cu, com ou sem Pb, como cobre nativo, calcopirita, bornita, tetraedrita-tennantita, calcocita, covellita, digenita, estannita, luzonita, mawsonita, meneghinita, seligmannita e lautita. Também ocorre com jamesonita, millerita, ouropigmento, realgar, ouro, prata, electrum, pirargirita, minerais com Bi, telurídeos, selenetos e coffinita. 4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA: não se aplica, pois a enargita é completamente opaca.

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ENARGITA – Cu3AsS4 A enargita é um sulfeto de Cu mais raro, típico de alguns jazimentos com características muito específicas. É um minério importante de Cu quando ocorre em grandes volumes.

Cristais são raros, tabulares espessos, mais raramente prismáticos estriados, com até 15 cm de comprimento. Maclas segundo (320) são comuns. Pode formar maclas de interpenetração pseudohexagonais (“trillings”). Contém, como impurezas, Pb, Zn, Ag, Sb, Fe e Ge. Possui duas variedades (Ag, Sn).

A enargita está relacionada à wurtzita (ZnS). Na enargita, 75% do zinco é substituído por cobre e 25% do zinco é substituído por arsênio. A semelhança fica mais evidente se escrevermos a fórmula da wurtzita como Zn4S4. A enargita (ortorrômbica) é trimorfa com a luzonita (tetragonal) e com a lazarevicita (cúbica).

Na Mineralogia de Minérios houve grandes problemas no reconhecimento e na diferenciação de enargita (Cu3AsS4 – ortorrômbico), luzonita (Cu3AsS4 – tetragonal) e famatinita (Cu3SbS4 - tetragonal). Adicionalmente se acreditava que existia um quarto mineral, a stibioluzonita, que na realidade era famatinita. Os 3 minerais hoje reconhecidos quase sempre ocorrem juntos, transicionam de forma paramorfa de um para outro e em certos casos formam misturas isomórficas. Luzonita e famatinita formam uma série isomórfica.

1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem

Ortorrômbico piramidal.

Cinza-do-aço, cinza-preto a preto-violeta e preto. Com o tempo,

desenvolve embaçamento.

Geralmente maciça. Granular, colunar, radial,

friável. Cristais raros.

(ver acima)

{110} perfeita, {100} e {010} distintas,

{001} indistinta.

Estrias paralelas a {001}.

Tenacidade

Quebradiço.

Maclas Fratura Dureza Mohs Partição

Ver acima. Irregular. 3 não.

Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)

Preto a acinzentado. Metálico a submetálico. Opaca. 4,4 – 4,5

2. Geologia e depósitos:

Enargita forma-se em veios hidrotermais de Cu-As, pobres em Fe, de temperaturas baixas a moderadas. Em grandes quantidades ocorre apenas neste tipo de depósito. Em outros tipos de depósitos ocorre com frequência, mas em quantidades muito subordinadas.

Também se forma como estágio tardio e em depósitos de baixa temperatura, como em depósitos do tipo VMS (= “volcanogenic massive sulphides”) e depósitos de cobre pórfiro (“porphyry copper”).

3. Associações Minerais: Associa-se a minerais de ganga comuns como quartzo e barita. Também com sulfetos comuns como pirita, marcassita, esfalerita, arsenopirita, galena e molibdenita. Naturalmente ocorre com uma série de minerais de Cu, com ou sem Pb, como cobre nativo, calcopirita, bornita, tetraedrita-tennantita, calcocita, covellita, digenita, estannita, luzonita, mawsonita, meneghinita, seligmannita e lautita. Também ocorre com jamesonita, millerita, ouropigmento, realgar, ouro, prata, electrum, pirargirita, minerais com Bi, telurídeos, selenetos e coffinita. 4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA: não se aplica, pois a enargita é completamente opaca.

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5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:

Preparação da amostra: a enargita adquire um bom polimento. Em agregados de grãos grosseiros ou em massas derivadas de famatinita as fraturas e poros são difíceis de eliminar. Sua dureza ao polimento é média, mais alta que bornita, calcocita, calcopirita e galena, equivalente ou maior que aquelas da luzonita e da tennantita e um pouco mais baixa que a dureza da esfalerita.

ND Cor de reflexão:

Cinza-rosada a marrom claro levemente rosado, pode ser cinza rosado. A impressão de cor depende muito das cores dos minerais vizinhos.

Comparada com a cor da bornita, a cor da enargita é mais branca, branca rosada.

Comparada com a cor da galena, a cor da enargita é marrom acinzentada.

Comparada com a cor da luzonita, a cor da enargita é mais escura, menos marrom e menos amarela.

Comparada com a cor da famatinita, a cor da enargita é cinza-azul, muito parecida e algo mais escura.

Comparada com a cor da tennantita, a cor da enargita é um rosa mais escuro.

Comparada com a cor da calcopirita, a cor da enargita é branca.

Comparada com a cor da krennerita, a cor da enargita é muito semelhante, mas a refletividade é muito mais baixa.

Pleocroísmo: Fraco, de violeta ou cinza rosado a cinza-azulado ou violeta acinzentado.

Deve ser observado nos contatos intergranulares.

Pode mudar entre enargitas de ocorrências diferentes.

Refletividade: 25,48 – 26,78%. Birreflectância: Leve.

NC Isotropia / Anisotropia: Anisotropia forte e colorida sob luz intensa, de cinza-esverdeado a laranja-acastanho ou azul escuro a marrom, com tons violetas e verdes.

A anisotropia parece ser diferente entre enargitas de ocorrências diferentes.

A extinção é reta, mas na maioria das seções uma extinção completa é difícil de obter.

Reflexões internas: Raras, em tons vermelhos profundos.

Essas reflexões podem ser frequentes em cristais bem formados.

Pode ser confundida com: vários minerais comuns e com alguns mais raros, como lautita, que são, entretanto, mais macios.

Bornita tem uma cor mais profunda e é bem menos anisótropa.

Germanita é mais macia, tem cor mais profunda, é mais clara e é isótropa.

Luzonita e famatinita tem muitas maclas lamelares e são mais laranjas.

Forma dos grãos: em agregados monominerálicos, os grãos de enargita são arredondados, irregulares, cheios de cantos (dentados), frequentemente intercrescidos (“interfingered”), mas ainda com sinais de desenvolvimento prismático. Os grãos podem ser grandes, alcançam 6 cm de lado. Em agregados poliminerálicos a enargita forma grãos prismáticos curtos.

Clivagem paralela a {110} frequentemente pode ser observada, em agregados de grãos grosseiros praticamente sempre. Sob ataque químico desenvolve-se muito bem.

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Maclas observa-se raramente, às vezes ocorrem lamelas de macla ou maclas tríplices (“trillings”) paralelas a (320). Estas maclas são raras em enargita típica. Às vezes ocorrem lamelas de macla de pressão. Minerais com muitas lamelas de maclas normalmente não são enargita, mas luzonita e famatinita.

Zonação não é visível sem ataque químico. Com ataque, frequentemente zonação se desenvolve muito bem.

Cataclase é mostrada com certa frequência pela enargita, um mineral de formação inicial.

Transformações de enargita em uma substância verde, isótropa, pode ser observada em todos os estágios. Este material foi denominado de “grüner Enargit” (= ”enargita verde”) por Hans Schneiderhöhn e de “mottled enargite” (= “enargita manchada”) por Graton & Murdoch. Trata-se de um mineral de Cu-As do Grupo dos “fahlores” (= Fahlerze) (tennantita-tetraedrita) com ou sem restos de enargita. Frequentemente a enargita se formou a partir da luzonita. Esta paramorfisação segue as direções cristalográficas: a clivagem (110) da enargita coincide com os planos de macla de luzonita. Raramente ocorre o contrário, a transformação de enargita em luzonita, gerando enargitas com lamelas mais claras e mais amarelas, muito semelhantes às maclas da luzonita.

Substituições 1: substituições são muito comuns, pois a enargita é um mineral de formação inicial (com exceção de cristais em cavidades). A enargita pode ser substituída por bornita, calcocita, pirita, galena e covellita, mais raramente por calcopirita e alguns outros minérios. As texturas de substituição frequentemente são excelentes.

Substituições 2: a enargita pode substituir pirita, calcopirita, esfalerita, tennantita, esfalerita, pechblenda e quartzo.

Mirmequitos não são conhecidos.

Intercrescimentos ocorrem com klockmannita, jordanita, esfalerita, wurtzita, esfalerita e luzonita.

Sobrecrescimentos orientados de enargita por esfalerita foram observados, coincidindo o eixo pseudohexagonal da enargita com o eixo trigonal de esfalerita.

A ND, pirita (no topo, amarela, relevo alto, polimento ruim), ganga (cinza escuro) e enargita (marrom rosa, um cristal tendendo a prismático.

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Versão de novembro de 2021

Esquerda: a ND, enargita (cinza-rosa), covellita (azul), minerais da ganga (cinza escuros a pretos) e outros. A ND o reconhecimento da enargita é difícil, mas a presença de covellita sugere minerais de cobre. Direita: a NC, a enargita apresenta suas cores de anisotropia marcantes (azul, marrom, etc.). Covellita mostra anisotropia em laranja e ganga mostra reflexões internas em branco.

Nas duas imagens, a ND+2º, as cores extremamente características da enargita. Há alguns grãos de pirita (amarelo e relevo alto). Para a observação das cores é muito útil descruzar os nicóis em dois graus ou mais. Também pode ser retirado o filtro azul, sempre lembrando que neste caso as cores tornam-se mais amarelas que o correto.