Encarte Inverno no CCB 2015

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INVERNO NO CCB © FG+SG ESPETÁCULOS EXPOSIÇÕES SERVIÇOS EDUCATIVOS CICLOS LITERÁRIOS SALA DE LEITURA VISITAS GUIADAS EVENTOS GALERIA COMERCIAL MUSEU COLEÇÃO BERARDO RESTAURAÇÃO JARDINS

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Encarte no DN - Inverno no CCB 2015

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inverno no ccb

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e s p e t á c u l o s

e x p o s i ç õ e s

s e r v i ç o s e d u c a t i v o s

c i c l o s l i t e r á r i o s

s a l a d e l e i t u r a

v i s i t a s g u i a d a s

e v e n t o s

g a l e r i a c o m e r c i a l

m u s e u c o l e ç ã o b e r a r d o

r e s t a u r a ç ã o

j a r d i n s

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a sensação que se tem ao entrar no gabinete é de espaço. sobretudo pela transparência das paredes de vidro, que convida o olhar a espraiar-se pela praça do império, pelos jerónimos, enfim pela zona monumental de belém. o gabine-te é o da presidência do ccb e é nele que tem lugar a conversa com antó- nio lamas, o recentemente empossado presidente do conselho de administra-ção.

António Lamas inicia a conversa manifes-tando entusiasmo pela consagração como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO do cante alentejano: «O Cante Alentejano mobiliza uma região inteira e o próprio país, com grande abertura à so-ciedade e uma forte vertente popular, o que corresponde aos critérios da própria UNESCO ao apreciar candidaturas a Patri-mónio Imaterial da Humanidade. A candi-datura, liderada por Serpa, foi muito bem organizada, discreta e conseguiu mobilizar o Alentejo todo: onde já existem mais de 150 grupos de cante. E existe gente nova que vai entrando. Eu sou um fã do cante alentejano e de Serpa.»

Por estar no cargo há pouco tempo, reco-nhece não possuir «ainda saber na área da programação» para nela intervir de modo estruturado. Sabe também que um espe-táculo de consagração deste acontecimen-to maior da cultura portuguesa «sai da ro-tina do CCB», mas insiste em que «tem de se fazer». E vai-se fazer, já no próximo dia 25 de janeiro.

Esta primeira incursão do novo presidente na programação contém em si um sinal: o de que é preciso capacidade de resposta, em cima do acontecimento, a factos rele-vantes da vida cultural e artística nacional.

Um outro sinal foi dado com a aprovação pelo conselho de administração da sua su-

CONvErSA COm ANtóNIO LAmAS, NOvO PrESIdENtE dO CONSELHO dE AdmINIStrAçãO dO CCB

«GoSTAvA QUe o ccb FoSSe ProTAGoniSTA De mAiS PArceriAS.»

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gestão para que o CCB, de futuro, per-maneça em atividade em agosto. des-de que «haja imaginação», a indisponi-bilidade dos auditórios, por questões de manutenção, não é impeditiva da con-tinuação do funcionamento, sobretudo tendo em atenção ser essa a época do ano em que o turismo é mais intenso em Belém.

Partindo do conhecimento privilegia-do que tem das condições técnicas do Grande Auditório, já que esteve envol-vido no processo da sua construção, António Lamas manifesta o desejo am-bicioso de «fazer todo o possível para incluir a ópera na programação.» Con-ta então que o projeto inicial da sala «considerava apenas música sinfónica, mas (…) procurou-se incluir uma valên-cia de ópera. tal foi muito difícil, mas conseguiram-se o dinheiro e a solução arquitetónica.» É por isso que carre-go essa memória da ópera.» As condi-ções técnicas – além da acústica, «um palco feito para ópera e com equipa-mentos que permitem nova cenografia, mudanças rápidas de cenários, cenários com maior animação e dimensão, etc., tecnologias de palco únicas em Lisboa» – existem e estão prontas a funcionar, pois tem havido cuidado na sua manu-tenção. «A máquina está bem oleada», só é preciso pô-la a trabalhar…

À objeção de que o espetáculo de ópe-ra é muito caro, Lamas responde que procurará promovê-lo «não de uma for-ma isolada, mas em parceria com a Gul-benkian e com o S. Carlos, para se po-der criar aqui uma pequena época ope-rática. óperas em parceria, em copro-dução e com apoios financeiros espe- ciais, até de fundos europeus. Estou interessado em que estas três institui-ções se juntem para tirar partido do nos-so palco de ópera moderno, o único em Portugal reunindo estas características.»

A ideia de que as instituições se jun-tem é peça fulcral do seu discurso: «eu gostava que o CCB fosse protagonis-ta de mais parcerias e que o que pro-duz possa circular no país.» Intenção que, em termos locais, envolve as enti-dades atuantes em toda a zona de Be-lém. “Escrevi uma vez um artigo sobre esta ideia, o qual foi discutido e esteve na base das conversas que tive aquan-do do convite que me foi feito para o CCB. Interessava-me muito presidir ao CCB, não só porque era quase uma coi-sa “astral”, pois tendo estado na sua origem, entrar 20 anos depois no Cen-tro acabado foi um convite irresistível. No entanto achei que não podia acei-tar sem pensar um pouco no futuro do CCB e desta zona, porque 20 e tal anos depois ela está quase na mesma.»

Explica então que a ideia «não é mudar os desígnios e as funções de cada insti-tuição, mas potenciar o recurso que são os muitos visitantes de Belém, para que haja mais receitas e haja valorização des-tas instituições e da zona». Em termos económicos não é só o aumento de re-ceita – através da sinalização, da divul-gação, da bilhética conjunta, etc. – mas também a partilha de serviços que to-das estas instituições requerem – de pes-soal, financeiros, de limpeza, de segu- rança, de manutenção, de conservação de infraestruturas, etc. –, num espaço li-mitado, num território bem estruturado”.

tomando como exemplo o caso da bilhé- tica, pergunta-se António Lamas:

«Como é que estas instituições nun-ca se sentaram para articular a venda de bilhetes? Porque não se vendem bi-lhetes para mais do que um dos luga-res, com desconto?». E evoca o exem-plo de Sintra, em que a estratégia «fez aumentar muito a receita global». tem o cuidado de referir estar «a falar de re-

ceitas do turismo porque estas são um fator fundamental: este património difi- cilmente sobreviverá sem atenção a esse parâmetro e o turismo urbano tem cres-cido mais do que o das praias. A ques-tão é conseguir que haja articulação en-tre as entidades que operam na zona».

Ora, «o CCB tem valências, tem compe- tências, tem um manancial de capaci-dades que pode oferecer à dinamização deste projeto e da zona. E isso motiva--me imenso. Até porque a experiência da Parques de Sintra, que eu gostaria de poder partilhar, indica que a gestão integrada de uma série de valores patri-moniais com interesse turístico é poten-ciadora de receitas: a Parques de Sin-tra passou de um passivo de 9 milhões de euros e 2 milhões de receitas, para um orçamento de 19 milhões de recei-tas e sem recorrer a qualquer subsídio do Orçamento de Estado; isto com me-nos de dois milhões de visitantes, en-quanto aqui são quase cinco milhões!»

O olhar final é “para dentro” e as pala- vras-chave são “revigorar” e “mobili- zar”: «se eu pudesse agora dar uma mensagem à casa diria que é preciso mobilizar todos para revigorar a inter- venção pública na zona, nos media e nos acontecimentos que aqui se passam, porque é isso que torna o CCB atrativo e gera receita.» É desse “círculo virtuo-so”, como lhe chama, que resulta «que o CCB se inscreva na lista das entidades [potenciais clientes] que se perguntam: onde é que eu vou fazer o meu con-gresso, o meu encontro? E escolhem o CCB.»

António Lamas é um homem determi-nado, tem um programa e gosta desta sua nova missão.•

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para a programação do ccb contribuem as produções próprias, as coproduções entre o ccb e entidades exteriores e as produções externas. o encontro anual da Fundação Francisco manuel dos santos (FFms) é das produções externas que mais se compagina com a vocação do ccb, desde logo por se tratar de um acontecimento culturalmente relevante.

Sendo esta a segunda vez que o evento teve lugar no CCB, interessava sentar à conver-sa os responsáveis do CCB (dalila rodrigues (dr), administradora) e da empresa contra-tada pela FFmS para a produção executiva do evento, a multilem (Pedro Castro (PC), administrador).

A par de uma insuspeitada capacidade ca-maleónica do edifício, ressalta da conversa a conclusão de que é possível um círculo virtuoso, no qual a geração de receitas con-vive e é alimento de eventos culturais, tudo contribuindo para a notoriedade pública do CCB e simultaneamente para o estabeleci-mento do hábito de o frequentar.

dalila rodrigues Gostava de ouvir o Pedro relativamente à capacidade de acolhimento do CCB e também àquilo que é menos bom, eventualmente com sugestões de melhoria.

pedro castro Um dos principais requisi-tos dos eventos é que devem ser persona-lizados: as pessoas devem sentir um am-biente particular. À partida a utilização do CCB seria de grande dificuldade, porque é de pedra e é um edifício especial. veio no entanto a revelar-se precisamente o contrá-rio: molda-se completamente e consegui-mos vestir a camisola do Presente no Futuro [título genérico dos encontros], porque nes-ses dias, por qualquer sítio que se ande sen-te-se o evento; é essa a principal vantagem do CCB. Poderá não ser fácil, poderá não ser barato, transformar o CCB...

dr Posso adiantar que, no ranking de pre-ços, o CCB está muito bem posicionado…

pc Sim, mas refiro-me ao investimento fei-to na decoração, nos cenários para trans-formar e personalizar o espaço. Porque o CCB é uma construção de imensa qualida-de, não se pode estar a furar aqui e acolá, fazer da maneira mais barata. O que é cer-to é que conseguimos transformar comple-tamente o CCB.

dr O CCB nunca perde a sua identida-de e a sua dignidade, que são dois aspetos fundamentais enquanto palco para a reali-zação dos eventos. No entanto existe essa imagem de que o CCB é caro, de o asso-ciar a uma certa arrogância, que torna difí- cil chegar cá; e não: é extremamente sim-ples e facilitador.

pc Eu acho que sim. Connosco o que aconteceu foi que, quando o CCB perce-beu que vínhamos acomodar-nos aqui e fa-zer um evento muito especial, preocupan-do-nos com a nobreza do edifício, tudo se tornou simples. Fizemos transformações profundas na parte da tenda [equipamen-to efémero, montado no espaço vazio para onde estão previstos os módulos quatro e cinco]. E também quanto a isso o CCB foi absolutamente extraordinário, porque nos deu o tempo de que precisávamos para fa-zer uma intervenção de fundo, e isso para nós é decisivo. Não tenho nada a dizer de mal do CCB, muitas vezes existe alguma rigidez na pedra…

dr São notas menos positivas…

pc temos conseguido ultrapassar todas es-sas situações. O resultado final é notável. tem uma equipa também bastante flexível.

dr A verdade é que a equipa é muito de-dicada…

pc Sente-se uma presença permanente. Lembro-me de algumas situações… uma vez, numa transmissão para a tvI em que

cada um dos participantes exprimia a sua perspetiva da vida em liberdade, um dos oradores, o maestro rui massena, disse que preferia exprimir-se a tocar piano. Isto cerca de meia hora antes de começar a transmis-são… mas resolveu-se tudo, o piano apa-receu, e isso foi um mérito da equipa do CCB. Eu não devia estar a dizer isto, mas noutro local diriam «ah, agora já não dá, devia ter pedido antes». E acho que por ser um sítio de cultura, o CCB consegue per-ceber que há coisas que nós não consegui-mos prever…

dr A programação e a produção do CCB são muito diversificadas, o que dá à equipa uma competência técnica muito rara.

pc mas também quanto à apropriação do espaço, este encontro tem uma característi-ca especial: não são palestras a que as pes-soas vêm e depois se vão embora. Há mui-ta gente que não vai assistir à palestra: fica à conversa, sentado. Por isso criámos zonas de estar; não esqueçamos que se trata de um “encontro”.

dr Existem muitos ambientes… Por exem-plo, na última edição, a Sala Luís de Freitas Branco foi transformada num jardim…

pc … com um coreto, e todo forrado a rel-va e…

dr … e tinha o conforto de um espaço interior, com uma vista fantástica, mas era um jardim, com bancos e tudo.

pc O tema era a procura da liberdade; que melhor sítio para se falar sobre isso do que num banco de jardim… E temos variadíssi-mos modelos de reunião que se adaptam às diferentes salas: o CCB tem tantas salas e com características tão diferentes que é possível criar quer ambientes mais intimis-tas quer mais formais.

dr Nós, CCB, temos a ambição de fixar os grandes acontecimentos nacionais, como é o caso, que de algum modo reforçam a

o cÍrcULo virTUoSo Do ccb

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nossa própria programação, mas tam-bém outras tipologias, como congressos internacionais de psicologia, a APdC, etc. São eventos da maior relevância na vida do CCB, não só como geradores de receita mas também, e fundamental-mente, como mobilizadores de milha-res de pessoas, que assim estabelecem um contacto connosco. O nosso interes-se ultrapassa largamente a imediata fun-ção de gerar receita, porque os eventos nos permitem conquistar, alargar e fide-lizar público.

pc No caso dos encontros Presente no Futuro, as ligações em direto daqui, de quarto em quarto de hora, acabam tam-bém por dar notoriedade. Os debates ainda continuam a ir para o ar. O acon-tecimento foi acompanhado por um mi-lhão e meio de pessoas.

dr Obtemos notoriedade, público e re-ceita.

pc A vossa receita é sempre um aspe-to negativo para o nosso cliente… [risos]

dr Bom, mas repare: quando fui cum-primentar o representante da FFmS, o cliente final, tive ocasião de lhe lembrar que o pagamento feito vai depois ser traduzido em oferta cultural [risos] •

O lugar certo para todos os acontecimentos da sua empresa

dEPArtAmENtO dE [email protected]+351 213 612 697

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a conversa com madalena Wallens-tein, coordenadora do projeto Fábrica das artes (Fa), justifica-se por 2015 se anunciar como um ano síntese progra-mática, traduzida pelo título “Best of Fábrica das artes”. o inglês tornou-se uma língua de tal modo universal que já todos sabemos que best of é a sele-ção do que de melhor se fez – na Fábri-ca das artes, neste caso.

Com seis anos acabados de fazer, o pro-jeto FA entrou na “idade escolar”, abrin-do o ano letivo com o ciclo de transver-salidades “raízes da Curiosidade – tempo de Ciência e Arte”, uma parceria do CCB com a Fundação Champalimaud. deste ci-clo, diz-nos Wallenstein, «estão neste mo-mento a decorrer oficinas, que se desmul-tiplicaram numa série de vias, mas que têm uma instalação comum. Fizemos um espe-táculo, criado por colaboração entre ar-tistas e neurocientistas, em três sessões, sempre esgotadas, na sala de ensaios do nosso espaço.» O acontecimento foi pre-texto para um documentário da realizado-ra Cláudia varejão, que fará a abertura da conferência final, na Fundação Champali-maud. «todo este processo dará origem a um catálogo, com textos de todos os par-ticipantes», à semelhança do que foi fei-to em 2013 para o projeto “Se não havia nada, como é que surgiu alguma coisa?”.

Assumido como «uma plataforma de cria-ção, ou um laboratório de experimentação que lança desafios aos artistas, manten-do públicos escolares, durante a semana, e familiares, durante o fim de semana», o projeto FA reveste também «uma vertente formativa para adultos que estejam inte- ressados no território que cruza arte e edu-cação».

É neste projeto que se encaixa o “Best of Fábrica das Artes”, nascido «de uma recon-sideração crítica da experiência de criação e de programação artística para a infância destes seis anos e da perplexidade que daí decorre quanto ao que esta é, ou deve ser,

para esse público. Queremos suspender, em 2015, a criação e ter a oportunidade para revisitar estes objetos artísticos, para, com todos os que fazem acontecer a nos-sa programação, questionar e refletir sobre as evidências e as consensualidades implíci-tas e silenciosas, quanto às potencialidades educativas da arte, que, no turbilhão da ati-vidade, nos “esquecemos” de confrontar».

Esta reflexão – «a desenvolver com os ar-tistas, com públicos e com a nossa própria equipa» – terá como “mote” as perguntas: «o que é afinal um objeto artístico para a infância? Será que há arte para a infância?» Na reflexão com os artistas, «constituire-mos mesas de trabalho, projeto a projeto, em que nos vamos sentar para fazer per-guntas»; no trabalho com os públicos «va-mos poder isolar e seguir – antes de virem, enquanto vêm e depois de virem – alguns públicos (escolar, adolescentes, alguns fa-miliares que são recorrentes aqui) que a tal se prestem. E vamos naturalmente aprovei-tar para trabalhar com a nossa equipa, que faz uma ação de mediação entre o universo artístico e os públicos.»

Para memória futura, «produziremos um documentário deste processo durante o ano, para depois o podermos partilhar, fa-zendo uma conferência em que possamos devolver respostas ou pelo menos abrir re-flexão.»

É neste contexto que a programação da Fábrica das Artes propõe a revisitação a al-gumas das criações de maior impacto en-comendadas a criadores portugueses, «es-colhendo do mapa destes seis anos de pro-dução os projetos de maior impacto e que levassem a uma identificação mais clara daquilo de que andámos à procura neste período.» Façamos uma enumeração:

Em Isaac, o teatro Praga interroga-se sobre como fazer um espetáculo sobre os direi-tos dos animais, sem cair no paternalismo, sem aborrecer. Conta com três ajudas pre-ciosas – a de cada espetador, no papel de Isaac, a de Pedro Penim, no papel de pai, e

a da cadela rita, intérprete inesperada, no papel do cordeiro – para «estabelecer uma relação afetiva entre a rita e o público.»

O espetáculo de música Às Cavalitas do Vento «é um projeto com crianças-músi-cos que fala das quatro estações, com um universo plástico lindíssimo, que cria um efeito de espelho entre miúdos do palco, escolhidos nas escolas de música de Lis-boa, e miúdos da plateia.»

Tropeçar é um espetáculo que fala «do ponto de vista das crianças sobre a infân-cia propriamente dita. É uma experiência artística para “todas as infâncias”, que brinca justamente com o que é infância e com o que é um objeto artístico para a in-fância.»

O espetáculo de teatro Cruzada das Crian-ças «nasce de um pequeno ciclo feito em 2013 em homenagem ao 25 de Abril, e debruça-se sobre o papel social que a in-fância pode assumir. Por trás corre uma teoria de que há um desaparecimento da infância desde que surgiram os grandes media, que retiraram à criança um deter-minado tempo de proteção e que a trans-formaram em ator social. O que este espe-táculo faz é dar voz a crianças, que tam-bém têm um papel social, que também querem ser ouvidas.»

respondendo à «enorme procura de obje-tos artísticos para a primeira infância pelas famílias» o espetáculo de música Canções Nómadas insere-se numa procura «de for-matos possíveis, que sejam menos didáti-cos, que sejam mais experiência artística do que uma coisa explicativa.» •

Best of FábricA DAS ArTeS

oS meLHoreS eSPeTácULoS PArA «ToDAS AS inFÂnciAS»

22 – 25 jan M/12

Isaac teatro Praga Espetáculo de teatropequeno auditÓrioQUINtA-SEXtA 11H SáBAdO 15H30 dOmINGO 11H30

30 – 31 jan M/16

Raízes da curiosidade tempo de Ciência e Arte ConferênciaFundação cHampalimaud

30 – 31 jan M/4

Diáspora:agora vou de fugida Sete Lágrimas Concertopequeno auditÓrioSEXtA 11H SáBAdO 15H30 dOmINGO 11H30

Música pra Ti miniconcertos M/6

31 jan

José Galissa COrá

28 FEV

Edu miranda BANdOLIm, CAvAQUINHO, vIOLA

Carlos Lopes ACOrdEãO

14 MaR

rodrigo viterbo dIdGErIdOO

sala eugénio de andrade18H

26 FEV – 1 MaR M/6

Às Cavalitas do Tempo Étienne Lamaison Sylvain Peker Espetáculo de música

sala de ensaioQUINtA-SEXtA 11H SáBAdO-dOmINGO 11H30

OFicinas

CONSULtE A PrOGrAmAçãO dE OFICINAS dA FáBrICA dAS ArtES PArA várIOS PúBLICOS Emwww.ccb.pt

12 – 15 MaR M/8

Tropeçar teatro do vestido Espetáculo de teatrosala de ensaioQUINtA-SEXtA 11H SáBAdO-dOmINGO 11H30

7 – 10 Mai M/6

Cruzada das crianças Gato que Ladra Espetáculo de teatrosala de ensaioQUINtA-SEXtA 11H SáBAdO 15H30 dOmINGO 11H30

30 Mai – 1 jun M/5

Projeto SecretoEpisódio 1 radar 360º Espetáculo de teatro físicopraça ccbSáBAdO-dOmINGO 11H30 SEGUNdA 11H30 e 14H30

4 – 7 jun M/3

Canções Nómadas Carla Galvão, Fernando mota rui rebelo Espetáculo de músicasala de ensaioQUINtA-SEXtA 11H SáBAdO 15H30 dOmINGO 11H30

12 – 15 nOV M/8

Sopa Nuvem Companhia Caótica Thriller gastronómicosala de ensaioQUINtA-SEXtA 11H SáBAdO 15H30 dOmINGO 11H30

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a arquitetura foi desde o início da ati-vidade do ccb uma área de programa-ção importante. numa primeira fase, no seu centro de exposições, até 2006, o ccb realizou sucessivas exposições sobre arquitetura em que estiveram re-presentados vários dos mais eminen-tes arquitetos contemporâneos portu-gueses (entre outros, Fernando távora, eduardo souto de moura, álvaro siza, nuno teotónio pereira, aires mateus) e alguns estrangeiros cuja arquitetura foi legitimada pela história (alvar aal-to, Frank lloyd Wright, mies van der rohe), além do contemporâneo santia-go calatrava. as exposições e as con-ferências, os debates e as edições que suscitaram, em muito contribuíram para valorizar e divulgar a arquitetura.

A partir de 2006, com a afetação do Cen-tro de Exposições do CCB ao museu Co-leção Berardo, a realização de exposições de arquitetura no CCB ficou menorizada na programação. No final de 2012, porém, o CCB abriu ao público uma galeria de ex-posições dedicada em exclusivo à apresen-tação de conteúdos deste universo discipli-nar, a Garagem Sul, um espaço até então subaproveitado.

Nos primeiros dois anos desta nova fase, realizaram-se as seguintes exposições: “O Ser Urbano nos Caminhos de Nuno Por-tas”, em 2012 (também apresentada pelo CCB no IAB do rio de Janeiro, de junho a agosto de 2013); “Lisbon Ground”, “ArX arquivo ⁄ archive” e “Sou Fujimoto: Futu-rospective Architecture” e “áfrica – visões do Gabinete de Urbanização Colonial”, em 2013.

Lê-se no Programa de Atividades do CCB para 2014 que «o enorme sucesso públi-co das atividades realizadas na Garagem Sul (…) confirma o acerto da decisão de re-conversão do parque de estacionamento em galeria de exposições, na área da Ar-quitetura, assim como a continuidade e o desenvolvimento dos critérios da sua pro-gramação.»

Foi com estes pressupostos que tiveram lu-gar, em 2014, as exposições “tanto mar – Portugueses fora de Portugal” e “ra-fael moneo. Uma reflexão teórica a partir da profissão – materiais de arquivo (1961--2013)” e que se inauguraram no passa-do dia 9 as exposições “Guido Guidi / Car-lo Scarpa – túmulo Brion” e “Homeland – News from Portugal”. É destas duas últimas exposições, visitáveis até dia 28 de feverei-ro, que importa aqui brevemente falar.

“Guido Guidi / Carlo Scarpa – túmulo Brion” tem a curadoria de Joaquim moreno e Pau-la Pinto e baseia-se na constatação de que, sendo «o tempo eterno da modernidade o tempo das imagens, a imagem fotográfi-ca é o centro imóvel do vórtice do novo, o mesmo novo que dessacralizou a vida eter-na e engendrou a materialização física de lugares do nada para sempre, os cemité-rios modernos. (…) Guido Guidi fotogra-fou obsessivamente um destes campos de imagens eternas, o que Carlo Scarpa dese-nhou para a família Brion. realizadas em di-ferentes estações, em diversas horas do dia, de diversos ângulos, logo com contrastes de luz também muito variados, com mui-tas das fotos anotadas com reflexões, regis-to de ângulos e de enquadramentos feitos pelo autor, «as várias campanhas fotográ-ficas que Guido Guidi tem conduzido des-de 1996 no cemitério Brion desvendam a temporalidade cíclica deste campo sagra-do, levando a pensar numa inversão de ve-tores, hipotizando que o projeto aprendeu das imagens.» O visitante constatará que «nesta exposição, as imagens de Guidi são o modo de expor, de colocar em diálogo a arquitetura de Scarpa.»

O túmulo Brion foi projetado e construí-do por Carlo Scarpa entre 1969 e 1978. Foi objeto de uma muito numerosa quantida-de de desenhos, uns ilustrativos do projeto, muitos outros desenhados em obra, sobre cópias, na intenção de explicar pormeno-res construtivos aos encarregados da obra e para ilustrar a colaboração pedida aos vá-rios artesãos. São um manancial de apren-dizagem para quem se interessa por arqui-tetura.

É precisamente o diálogo entre formas ar-tísticas, fotografia e arquitetura neste caso, que confere riqueza e originalidade à expo-sição.

muito diferente da exposição com a qual partilha o espaço, “Homeland | News from Portugal” pretende resumir os exercícios de reflexão e de trabalho prático desenvolvi-dos ao longo dos seis meses da Bienal de veneza, terminada em novembro de 2014.

Pedro Campos Costa, curador de “Home-land”, dizia, no editorial da 1.ª edição do jornal, que «o projeto não é só uma refle-xão crítica, para ser impressa numa exposi-ção como um catálogo – pretende ser mui-to mais do que isso»: criar algo de concre-to, construtivo e crítico em Portugal. “Ho-meland” conjuga assim duas dinâmicas complementares: retrospetiva crítica e tra-balho projetual, teoria e prática.

Partindo das temáticas de “Homeland”, seis equipas de arquitetos trabalharam so-bre o território nacional e desenvolveram propostas de intervenção em seis cidades do país, em estreita colaboração com as au-tarquias locais e com os moradores. Os pro-jetos abordam seis tipologias habitacionais (coletiva, unifamiliar, informal, reabilitação, rural, temporária) através de seis processos urbanísticos.

A exposição dá a conhecer estes projetos, atualmente em curso em diferentes está-dios e com potencial de continuidade nas cidades de matosinhos, Porto, Lisboa, Setú- bal e Évora •

GArAGem SUL

vALoriZAr e DivULGAr A ArQUiTeTUrA

até 28 FEV10H – 18H tErçA A dOmINGO

Carlo Scarpa – Túmulo BrionGuido GuidiJoaquim moreno e Paula Pinto CUrAdOr

até 28 FEV10H – 18H tErçA A dOmINGO

Homeland | News from PortugalPedro Campos Costa CUrAdOr

sERViçO EducatiVO

visita guiadavisita-jogoOficinasINFOrmAçõES ⁄ mArCAçõ[email protected] 612 614 ⁄ 5

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cumprindo a sua missão de serviço pú-blico, o ccb tem vindo a responder ao evidente florescimento das atividades criativa e cultural portuguesas, nas últi-mas décadas. não espanta por isso que, até agora, a escolha de artistas associa-dos de temporada tenha recaído sobre portugueses (maria joão pires, artur pizarro, rui Horta, teatro praga, para cit ar alguns).

Porém, como grande centro cultural euro-peu que é, o CCB não pode perder de vis-ta a natureza cosmopolita que faz parte do seu “AdN”. É nessa perspetiva que se situa o convite dirigido a Paul van Nevel, criador (nos idos de 1971, tinha ele 25 anos), di-retor musical e alma mater do Huelgas En-semble (HE).

Entre os fatores que justificam a escolha está, desde logo, a especial atenção que a música antiga sempre mereceu por par-te do CCB; o HE é um dos mais notáveis agrupamentos europeus na interpretação da música polifónica da Idade média e do renascimento, interpretação essa que re-pousa sobre um conhecimento aprofunda-do da estética do discurso musical e sobre a prática específica do canto dessas épocas. O grupo surpreende sempre e com a apre-sentação de programas originais de obras inéditas ou pouco conhecidas, que o “dete-tive musical” Paul van Nevel descobre atra-vés das múltiplas pesquisas que faz regular-mente nas bibliotecas musicais da Europa. tendo estudado a teoria da retórica, anali-sado a teoria dos temperamentos e lido as grandes obras literárias em voga na época de vida dos compositores do seu repertó-rio, Nevel situa a música no modo de pen-sar que estruturava o saber na época em que foi escrita.

Na mencionada pesquisa entronca outra ra-zão da escolha: é que Nevel investigou tam-bém a música portuguesa antiga e tem sido um dos grandes divulgadores dos compo-sitores portugueses dessas épocas, inte-grando no repertório do HE várias das suas obras; é assim que entre as cerca de ses-senta gravações do grupo encontramos em

Cd, designadamente, Canções, Vilancicos e Motetes Portugueses, dos séculos XvI e XvII.

Algumas gravações do HE foram mesmo feitas em Portugal, sendo conhecida a pai-xão de Nevel por Lisboa e por Portugal, ele que passa no nosso país grandes tempo-radas. desengane-se quem do perfil tra-çado deduza que Nevel é um erudito dis-tante das coisas e dos interesses da gente comum; pelo contrário, esta figura tão ex-traordinária quanto eivada de simplicidade, é um amante das coisas boas da vida e, pas-me-se, do fado. mas talvez esse amor não seja motivo de espanto, se pensarmos que advém sobretudo da forma como o fado é cantado, o que tem nomeadamente a ver com o recurso a melismas (entoação de vá-rias notas numa mesma sílaba), também ca-racterístico da música polifónica.

O HE participará em três grandes concer-tos: um, de programa ainda não estabele-cido, nos dias da música em Belém; o Con-certo de reis; e a ópera Ruggiero, de Fran-cesca Caccini.

Já a 9 de janeiro, teremos o Concerto de reis, intitulado «mirabile mysterium», com composições que vão do período medieval até ao século XIX. trata-se de um progra-ma muito variado, com vozes e instrumen-tos, num concerto que se divide em quatro partes: “O Nascimento em Belém”, “O Cri-me de Herodes”, “A viagem dos três reis, Belchior, Gaspar e Baltazar” e “Epílogo”. Poderá estranhar-se que o programa do concerto inclua música de épocas em que o HE não é especializado, interpretando neste concerto obras que vão até ao século XIX. É que Nevel, homem com uma personalida-de muito característica e interessante, gos-ta fundamentalmente de música, o que in-clui a contemporânea (por exemplo gosta da música de Emmanuel Nunes, tendo-se deslocado a Lisboa, em 2013, para assistir a um concerto em que a Orquestra metropo-litana de Lisboa tocou uma obra desse com-positor contemporâneo português). Sendo a par de musicólogo também um historia-dor de arte, gosta de montar os programas do HE de forma temática: aqui há alguns

anos, nuns dias da música em Belém, Nevel compôs um programa à volta do charuto (ele é um apreciador de “puros”); tem tam-bém um programa à volta da matemática. No fundo ele consegue estruturar o tema que quer ilustrar recorrendo a músicas de diferentes épocas.

Por fim, a 13 de setembro, terá lugar a apresentação de Ruggiero, ou A Liberta-ção de Ruggiero da Ilha da Feiticeira Alcina, obra que tem um lugar indiscutível na His-tória da música, por ter sido a primeira ópe-ra escrita por uma mulher. A compositora é Francesca Caccini (1587-1641), também cantora, alaudista e poetisa, filha do gran-de Giulio Caccini, talvez uma das mulhe-res mais importantes e influentes na histó-ria da música, entre Hildegard von Bingen, no século XII, e Clara Schumann, no sécu-lo XIX. Com libreto de Ferdinando Saracine-lli, a partir de Orlando Furioso, de Ludovico Ariosto, Ruggiero é uma ópera cómica, que foi apresentada pela primeira vez a 3 de fe-vereiro de 1625 no villa di Poggio Imperia-le, em Florença. Foi composta para come-morar a visita do príncipe Wladislaw da Po-lónia, durante o Carnaval de 1625. O prín-cipe gostou de tal maneira do que viu que faria apresentar três anos depois a obra em varsóvia, o que a fez ser por muito tempo considerada a primeira ópera italiana apre-sentada com sucesso fora da Itália.

Este projeto é pretexto para pôr Paul van Nevel a trabalhar com músicos portugue-ses, tendo o CCB convidado dois importan-tes agrupamentos portugueses para se jun-tarem ao Huelgas Ensemble: o grupo vocal Officium (com direção de Pedro teixeira) e o Ludovice Ensemble (com direção de Fer-nando miguel Jalôto). A presença de Paul van Nevel e do Huelgas Ensemble torna--se, deste modo, uma ocasião de ouro para o intercâmbio artístico e para a aprendiza-gem por parte dos músicos portugueses com uma figura de nível mundial.

Promovendo oferta cultural e artística de qualidade, o CCB contribui decisivamente para fazer de Lisboa uma cidade cada vez mais cosmopolita •

PAUL vAn neveLArTiSTA ASSociADo DA TemPorADA 2015

PAUL vAn neveL e A nATUreZA coSmoPoLiTA Do ccb

9 jan21H pequeno auditÓrio m/6

Concerto de Reis:Mirabile MisteriumPaul van Nevel dIrEçãO mUSICAL

PrOGrAmA

The BirTh in BeThlehem (A NAtIvIdAdE)Balaam de quo vaticinans (à 3) anonymusMyrabile Mysterium (à 5) jacobus gallusEste niño que es sol del Aurora (à 2, 4 & 8) jerónimo lucaCarol for Christmas-Eve (à 4) (from: christmas carols

The crime of herodes (O CrImE dE HErOdES)Hostis Herodes Impie (à 4) anonymusInterrogabat Magos Herodes (à 4) jean moutonVox in Rama (à 5) giaches de WertA voice from Ramah was there sent (à 4) b. luard selby

The Travel of The Three Kings melchior, gaspar and BalThazar(A vIAGEm dOS trêS rEIS mAGOS: GASPAr, BALtAzAr E BELCHIOr)Vincti Presepio (à 3) anonymusReges Terrae (à 6) pierre de manchicourtAb Oriente (à 5) jan pieterszoon sweelinckDrei Könige (à 5) peter cornelius

epilogue (EP ÍLOGO)Quae stella sole pulchrior (à 1 & 4) breviary of parisDexen que Llore mi Niño (à 1, 4 & 8) antónio marques lésbio