Enfoque Quilombos 1

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Página 3 Página 3 Contracapa Acesso ao ensino público é problema em área nobre Verba para o cercamento do quilombo foi aprovada O toque feminino na batalha pelo sustento dos Silva MARCAS DA RESISTÊNCIA NO PRIMEIRO QUILOMBO URBANO DO PAÍS, DESCENDENTES DE ESCRAVOS LUTAM PARA GARANTIR ESPAÇO NO BAIRRO MAIS CARO DE PORTO ALEGRE PÁGINA 2 QUILOMBOS ENFOQUE EDIÇÃO PORTO ALEGRE / RS 1 SETEMBRO DE 2014 XXXXXXXXXXX DÉBORA VASZELEWSKI

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Enfoque Quilombos (edição 1). Produção dos alunos das disciplinas de Jornalismo Cidadão e Fotojornalismo do Curso de Jornalismo da Unisinos (Porto Alegre).

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Page 1: Enfoque Quilombos 1

Página 3 Página 3 Contracapa

Acesso ao ensino público é problema

em área nobre

Verba para o cercamento do

quilombo foi aprovada

O toque feminino na batalha pelo

sustento dos Silva

MARCAS DA RESISTÊNCIA

NO PRIMEIRO QUILOMBO URBANO DO PAÍS, DESCENDENTES DE ESCRAVOS LUTAM PARA GARANTIR ESPAÇO NO BAIRRO MAIS CARO DE PORTO ALEGRE

PÁGINA 2

QUILOMBOSENFOQUE

EDIÇÃOPORTO ALEGRE / RS 1SETEMBRO DE 2014

XXXXXXXXXXX

DÉBORA VASZELEWSKI

Page 2: Enfoque Quilombos 1

2. MEMÓRIA

RECADO DAREDAÇÃO

DADOS E DATAS SOBRE O QUILOMBO DA FAMÍLIA SILVA

Em um sábado pela manhã, caminhando com cadernos nas mãos e câmeras fotográficas no pescoço, a turma de es-tudantes de Jornalismo se depara com os primeiros buracos no asfalto. Repentinamente as mansões saem de cena para dar espaço a um “condomínio”, cujas casas rodeiam uma velha (e enorme) seringueira. No lugar das mansões, casas extremamente simples, feitas de madeira e restos de cons-trução. Em vez de guaritas enormes, vigiando imponentes muros, aqui temos uma cerca de arame farpado e meia dúzia de cães. Estamos no Três Figueiras, um dos bairros mais valorizados do país, que cresceu ao redor desse condomínio cujos moradores já habitam há mais de 70 anos. O condo-mínio na verdade é chamado de quilombo. O Quilombo da Família Silva.

Com uma intensa história de resistência e luta pela sua terra, os quilombolas viram brotar na vizinhança enormes prédios comerciais, mansões dignas de filmes hollywoodianos e a cobiça do mercado imobiliário. As histórias que ouvi-mos têm a ver com enormes batalhas sociais, com o direito de permanecerem em suas terras, de serem reconhecidos e respeitados. Paulo Sérgio da Silva, estudioso do movimento negro no Estado, diz que “a Família Silva tem um papel es-tratégico nas ações dos movimentos sociais em Porto Alegre por tudo o que representa e é um importante referencial das lutas sociais contra o racismo no Brasil”.

O Enfoque Quilombos nasce com a responsabilidade de re-tratar o primeiro quilombo urbano do país. Os Silva, assim como todos os quilombolas, deixaram de lutar contra a escravidão com a assinatura da Lei Áurea e passaram, desde então, a travar uma luta diária contra o preconceito e pelos seus direitos. As vitórias dos Silva hoje servem de exemplo aos outros quilombolas, como sempre ensina sua líder, Dona Lígia: “Nunca desistam de lutar pelos seus direitos, porque eles demoram, mas vêm. A gente bate em porta aqui, bate em porta ali, mas uma hora ela vai abrir, como se abriu pra nós”.

EDITOR-CHEFEVINICIUS FERRARI-

Silva, sinônimo de persistirDepois de mais de cinco

ordens de despejo, a família Silva resiste e continua em seu território, hoje considerado área federal

Quando Naura Bor-ges da Silva e Alí-pio Marques dos Santos chegaram em Porto Alegre

por volta de 1940, vindos de São Francisco de Paula e Cachoeira do Sul, o bairro Três Figueiras ainda não tinha esse nome, era um espaço rural e pouco ha-bitado da capital gaúcha. Ali se instalaram e nasceu Euclides José da Silva, que se casou com Anna Maria da Silva. Foram sucedidos por 11 filhos, entre os quais sete vivem ou viveram no terri-tório inicialmente ocupado pela família Silva.

O bairro, que ainda tinha a sua maior parte rural, con-tava com a grande estrutura do Colégio Anchieta, uma das escolas particulares mais caras de Porto Alegre na atualidade. Ali, os mais velhos da família Silva e outras crianças pobres da região puderam estudar, quando em 1968 teve início o funcionamento da Escola Assistencial Vespertina, que

funcionou até 1984. Em 1983, com a abertura do Shopping Iguatemi, próximo ao Colégio Anchieta, a área começou a ganhar valorização imobiliária e as pessoas de comunidades pobres não eram mais bem-vindas no bairro.

De acordo com o Laudo Antropológico e Histórico realizado em 2004, a família Silva possui descendência de escravos, por isso, o território habitado pelos membros da família é considerado uma área remanescente de quilombo. Conforme o estudo realizado pela arquiteta e mestre em Pla-nejamento Urbano e Regional Michelle Farias Sommer, “o processo de territorialização teve início quando os ante-passados ocuparam o local projetando no espaço físico as práticas de resistência e de autonomia da cidade envol-vente em busca de terra fértil para criar raízes”.

Lígia Maria da Silva, uma das quilombolas mais antigas do local, lembra que a família já sofreu mais de cinco amea-ças de despejo. Em uma das primeiras, os moradores fo-ram encaminhados ao bairro Lomba do Pinheiro, onde havia um terreno disponível, mas os Silva não aceitaram, primeiro, porque já haviam criado raízes, e segundo, por-que a escola onde as crianças estudavam ficaria muito longe

para eles. A última tentativa de despejo, que aconteceu em 2005, Lígia lembra que foi a mais complicada de todas: “A tropa da Brigada Militar fica-va com as armas apontadas para nós”. Com a resistência, a família Silva continuou no quilombo, que a cada dia es-tava mais cercado pelos con-domínios luxuosos do bairro Três Figueiras, que hoje tem

o metro quadrado mais caro de Porto Alegre.

O quilombo da Família Silva se organiza de forma tra-dicional quilombola. Em um território com mais de 6.500 m², as casas se encontram no contorno dos limites do terri-tório, com um grande espaço no centro, parecendo ser um “quintal de todos”. A maioria dos membros da família Sil-

va trabalha na região, como empregadas domésticas, jar-dineiros e motoristas dos con-domínios luxuosos que cercam o quilombo. Para resolver as burocracias e organizar a vida em comunidade, há um presi-dente, que geralmente é um dos mais velhos do quilombo. As correspondências são deixadas do lado de fora da comunidade e distribuídas a todos por um

morador responsável.Hoje, os Silva respiram

mais aliviados, pois em 2009 o Quilombo da Família Silva recebeu do Incra o título de Território da Comunidade Remanescente de Quilombo, sendo o primeiro quilombo urbano do Brasil a receber a titulação.

à

CAROLINE GARSKE-

Presidente do quilombo, Lígia lembra dos momentos de tensão até a conquista da titulação, em 2009

à

O quilombo da Família Silva tem uma área total de 6.510,78 m²,

um pouco menor do que um campo oficial de futebol

A área do quilombo foi determinada por decreto presidencial

no dia 26 de outubro de

2006

Apenas ¼ da área já está titulada, desde o dia 21

de setembro de 2009. O restante ainda está sendo

discutido na Justiça, pois seus donos pedem um

valor maior de indenização

O quilombo fica no final da Rua

João Caetano, entre as avenidas

Carlos Gomes e Nilo

Peçanha, no bairro Três Figueiras, Zona Norte de Porto

Alegre

Entre 60 e 70 pessoas moram

na área

Atualmente, 18 famílias vivem

no quilombo

Os quilombolas chegaram no local na década de

1940

LEONARDO STÜRMER

GUILHERME MOSCOVICH-

Page 3: Enfoque Quilombos 1

DIREITOS .3

Luta para ir à escolaPoucas vagas e distância de

colégios públicos não desanimam os quilombolas

Dentro de um dos bairros mais no-bres do Estado, o Quilombo da Fa-

mília Silva abriga 18 famí-lias que lutam por igualda-de e espaço dentro do Três Figueiras. Um dos reflexos dessa localização privile-giada é a dificuldade dos quilombolas para encontrar educação pública, principal-mente creches, sendo que na área a maioria das escolas é particular e com preços bem acima do que as famílias podem pagar.

A líder da comunidade, Dona Lígia Maria da Silva, relata que ela e alguns ir-mãos, antigamente, tinham bolsa de estudos dentro do Colégio Anchieta, que fica ao lado de sua residência, po-rém com o tempo o benefício passou a ser mais difícil de se conseguir, pois o processo seletivo tornou-se diferente. A Assistência Social do co-légio alegou nunca ter sido procurada pelos quilombo-las a respeito de concessão de bolsas, mas destaca que o edital para o benefício é aberto para toda comunidade de Porto Alegre.

O maior problema, atual-mente, é a falta de creches. Lígia conta que recentemen-te lutou junto ao Ministério Público por cinco vagas em uma escola particular próxi-

ma. A demanda foi atendida em partes. Eles passaram a pagar uma mensalidade abai-xo do preço normal, e não gratuita, como queriam. As famílias estão pagando R$ 150 mensais, o que se torna pesado para elas. Porém, é a única opção no momento, caso contrário terão de ficar em casa.

Já as crianças do ensino fundamental estudam em escolas públicas de bairros próximos e vão andando para a aula todo dia. “A Laura tem dois anos e vai para a cre-che faz sete meses. O preço é menor que o normal, mas ainda é caro. Já meus outros dois filhos vão a pé para a escola. A Camile tem nove anos e o Vitor, seis. Aqui não passa ônibus até o colégio e a ‘Kombi’ cobra R$ 350 por criança, não tenho condições de pagar. Pelo menos, para eles não é longe”, diz Fátima da Silva, que tem três filhos em idade escolar.

Na Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, ninguém soube falar ao certo o motivo da falta de creche no bairro Três Figueiras. Não souberam informar se as crianças tinham direito a, pelo menos, transporte gratuito até a escola mais próxima. Uma funcionária se comprometeu a pesquisar sobre o assunto e dar um re-torno, porém, mesmo sendo cobrada durante cinco dias pelo Enfoque Quilombos, a resposta não veio.

Apesar das dificuldades, nenhuma família deixa de lado a educação, e a grande

maioria termina pelo menos o ensino fundamental. Fa-bricio tem 18 anos, está no 3º ano do ensino médio na escola Rio Branco. Ele vai de ônibus para a aula e faz estágio no Fórum, o que pra ele é um incentivo a conti-nuar os estudos ao final do ano. Maurício, de 14 anos, fala com muito orgulho do irmão que trabalha fora e que, segundo ele, está “quase na faculdade”.

Dentro do espaço de confraternização da família Silva, existe um quadro-ne-gro, que serve para reforço

escolar, onde as crianças refazem o que aprenderam na aula e ajudam umas às outras. Jéssica, de nove anos, é a que mais usa o quadro e diz que adora escrever na lousa todo dia.

A educação não é o único serviço público em que os quilombolas encontram difi-culdade de acesso. A saúde, por exemplo, também não está disponível perto da lo-calidade. Os postos de saúde da Vila Jardim e do IAPI são os mais procurados em casos simples. Em situações mais graves, a saída é o Hospital

Conceição. Ambos não ficam perto do quilombo, sendo as-sim é preciso ir de ônibus.

Outros serviços, como água e luz, são custeados pe-las empresas que os forne-cem. Todo sistema de esgoto já foi adaptado com verba disponibilizada pelo gover-no. Para os quilombolas, a maior reivindicação continua sendo uma creche pública ou, pelo menos, que o direito à educação seja garantido com vagas pagas pela prefeitura em escolas particulares.

à

Dinheiro já tem, só falta cercarApós cinco anos da

titulação que reconhece pouco mais de um quarto de suas terras como área quilombola, a família Silva finalmente conseguiu verba para cercá-la. A obra, orçada em R$ 80 mil, será custeada através Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimen-to de Pequenos Estabele-cimentos Rurais (Feaper).

O que pode parecer sem importância para quem vê de fora fará muita diferença para os moradores. A cerca será um verdadeiro alívio, principalmente para as mães que saem para trabalhar e deixam seus filhos sozinhos em casa, no turno em que não têm aula. O problema é que passam muitas pessoas desconhecidas por dentro do pátio do quilombo, a maioria querendo encurtar caminho, mas já houve relatos de cri-minosos que usaram a pas-sagem como rota de fuga, oferecendo perigo a todos.

A situação deixa a família com medo de sair à noite – no próprio pátio – e ainda prejudica o sossego, pois, segundo a moradora Daiane da Silva Muniz, de 24 anos, “o trânsito de pessoas que não fazem parte da família já começa de manhã cedo”.

Além disso, como se não fosse o suficiente, é necessário se proteger da invasão das construtoras, pois o quilombo está loca-lizado num bairro nobre de Porto Alegre, cujo metro quadrado está entre os mais caros do país. Dona Lígia Maria da Silva, presidente do quilombo, relata o quan-to o condomínio vizinho, Píccola Cittá, da TGD Ar-quitetura e Engenharia, se expandiu sobre as terras do quilombo, espaço que já foi devolvido. “Eles derruba-ram as árvores que tinha aqui e só não derrubaram a figueira porque meu irmão Lorico deitou debaixo dela e

não deixou. A gente cresceu com essa figueira aqui, su-bindo nela e comendo figo”, complementa. A gerente co-mercial da empresa TGD, Nara Deste, reconhece que realmente houve um erro quanto às medidas do ter-reno e por isso o projeto, que inicialmente era de 27 casas, acabou sendo de 21.

Segundo o Incra, o res-tante das terras do quilombo não corre o risco de não ser titulado, e aguarda apenas a decisão do Superior Tri-bunal de Justiça sobre o preço a ser pago aos três proprietários que faltam. Essa, sem dúvida, é uma notícia que muito tranquili-za os Silva, que já passaram por inúmeras tentativas de despejo, momentos em que acreditavam que não teriam pra onde ir e se viram cada vez mais esmagados entre casas de luxo.

LAÍSE FEIJÓ -

VANESSA VARGAS-

Dificuldades não impedem

os primos Jéssica e Maurício de levar um pouco da escola para dentro do quilombo

à

DÉBORA VASZELEWSKI

Dona Lígia ao lado da única demarcação do quilombo, a placa do Incra

à

JOSI BAROLI

Page 4: Enfoque Quilombos 1

GENTE

Aos 54 anos, Lorivaldino da

Silva recorda suas lutas para manter em pé o sonho de seus antepassados

A parede da sala de Lorivaldino guarda diversos certificados dos

encontros de comunidades quilombolas que participou por todo o Brasil. Um dos moradores mais antigos do Quilombo da Família Silva, Lorivaldino da Silva, ou Seu Lorico, como é conhecido, conta a história desse territó-rio ocupado desde a década de 1940 e que apenas em 2009 recebeu o título de Co-munidade Quilombola pelo Incra, instituto responsável por implementar a política de reforma agrária no Brasil.

Seu Lorico foi o presi-dente do quilombo até 2013, ou seja, aquele que toma de-cisões que envolvem desde resolver burocracias até as

coisas mais simples, como retirar o lixo. Há cerca de dois anos sofreu um Aciden-te Vascular Cerebral (AVC), que lhe deixou dois meses em cima de uma cadeira de rodas. Abriu mão de ser o presidente do quilombo porque, de acordo com ele, “dá muita incomodação”.

Como faz parte do grupo dos 11 irmãos mais velhos da comunidade, Seu Lorico, hoje com 54 anos, viveu as diversas ordens de despejo, a última e a mais violenta em 2005, quando uma tropa da Brigada Militar entrou no terreno e apontou armas para os quilombolas. Resis-tiram e conseguiram, em 2006, o decreto presidencial que aponta o terreno do qui-lombo como área federal. Mas a história de Seu Lori-co vai além dos limites das terras quilombolas.

Surgido em Portugal, o sobrenome Da Silva, ou simplesmente Silva, chegou ao Brasil com a vinda dos escravos, pois os padres

eram responsáveis por ba-tizá-los com sobrenomes portugueses. Hoje, esse sobrenome domina o terri-tório brasileiro, sendo um dos mais comuns e, assim, representando a brasilida-de. Na sala de Seu Lorico, discos de variados cantores

brasileiros estão na estante, entre eles Reginaldo Rossi e Zeca Pagodinho. O brasi-leiro Da Silva deseja que o quilombo não desapareça. Quer que seus filhos e netos sigam com os ensinamentos que aprendeu de seus pais, como o de cultivar plantas

medicinais para curar do-enças. Lorivaldino da Silva quer que os mais jovens não se esqueçam de toda a luta da família Silva e pede: “Eu desejo que o quilombo seja cultivado”.

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Vamos trabalhar!De segunda a sexta-feira as mães da

família Silva estão no trabalho, na maioria das vezes fazendo faxina ou cuidando dos filhos de outras mulheres. Morando bem no meio do bairro Três Figueiras, as moradoras do quilombo vão a pé para o trabalho, pois ali mesmo encontram casas e empresas que precisam de seus serviços.

Ana Claudia Silva, de 27 anos, tem duas filhas. É auxiliar de limpeza em uma escola de dança e geralmente não trabalha no sábado. É dia de descansar, cuidar das gurias. Mas quando tem alguma aula especial, ela levanta mais cedo e vai à luta para garantir a renda do mês. Ana ganha um salário mínimo e tem sua car-teira assinada mesmo antes da lei exigir. Quem a recomendou para esse serviço foi Dona Ângela, mãe dela e de mais cinco filhos, que trabalha há muitos anos com os donos da escola.

Mãe de três filhos, com 29 anos, Fáti-ma da Silva trabalha na limpeza de uma academia, no bairro Passo D’Areia, e vai a pé para o serviço. “Todo mundo aqui tra-balha no bairro ou bem pertinho. Eu posso até ir de ônibus, mas assim a gente já faz um exercício”, conta Fátima. O emprego de carteira assinada foi indicação da sua comadre que também trabalha lá.

A representante atual da família Silva, Dona Lígia da Silva, tem jornada dupla. Além de defender os interesses do quilombo junto aos órgãos públicos e receber os inte-ressados em ouvir as histórias do local, ela é doméstica em uma casa de família. É uma

das mulheres da família Silva que trabalham mais longe do quilombo. Pega ônibus todos os dias para o bairro Agronomia.

Já sua irmã Marina faz o caminho con-trário. Não mora mais no quilombo. Mas identificou uma boa oportunidade de negócio. O bairro Três Figueiras continua crescendo. E assim, muitas construções e obras cercam o quilombo. Os operários precisam comer e nem sempre a melhor opção é trazer a marmita de casa. Foi aí que Marina resolveu abrir um estabelecimento na Rua Ana Maltz Knijnik, junto do terreno do quilombo, para vender bebidas e lanches, atendendo o pessoal que trabalha na região. O destaque é o cacetinho com salsichão. “Ela vem todos os dias da Lomba do Pinheiro e trabalha até o final do horário de almoço do pessoal, por volta das três da tarde”, explica Dona Lígia.

As mães da família Silva também recor-rem aos recursos distribuídos pelo governo quando necessário. Dona Lígia conta que algumas recebem o auxílio do Bolsa Fa-mília, mas muitas têm renda superior ao limite estabelecido e não conseguem direito a esse extra mensal. Com os altos preços nos mercados que atendem a região, todo o valor a mais no mês é bem-vindo.

CAROLINE GARSKE-

LUIS FELIPE MATOS-

Ele é SilvaLAÍS ALBUQUERQUE

THALLES CAMPOS

O serviço não para. Nos dias de folga, as mulheres

da família Silva aproveitam para colocar o quilombo em ordem

à

O Enfoque Quilombos é um jornal experimental dirigido às comunidades quilombolas de Porto Alegre (RS). Com tiragem de mil exemplares, é distribuído gratuitamente. A produção jornalística é realizada por alunos do Curso de Jornalismo da Unisinos Porto Alegre.

(51) 3591 1122, ramal 3727

[email protected]

REDAÇÃO – Jornalismo Cidadão – Orientação: Felipe Boff. Edição: Vinicius Nunes Ferrari (texto) e Luis Felipe de Souza Matos (foto). Reportagem: Caroline Garske Rosa, Graziela de Souza Busatta, Guilherme Lemchen Moscovich, Luís Felipe de Souza Matos, Vanessa Vargas dos Santos e Laíse Feijó. FOTOGRAFIA – Fotojornalismo – Orientação: Flávio Dutra. Fotos: Cintia Fernandes, Débora Vaszelewski, Josi Baroli, Laís Albuquerque, Leonardo Stürmer, Rebecca Rosa e Thalles Campos. ARTE – Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) – Projeto gráfico, diagramação e finalização: Marcelo Garcia. IMPRESSÃO – Grupo RBS. Tiragem: 1.000 exemplares.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Av. Luiz Manoel Gonzaga, 744 – Bairro Três Figueiras – Porto Alegre/RS. Telefone: (51) 3591 1122. E-mail: unisinos@

unisinos.br. Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino. Vice-reitor: José Ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Gustavo Fischer. Coordenadora do Curso de Jornalismo: Thais Furtado.REPÓRTER- FOTÓGRAFO

Seu Lorico preserva os registros do

trabalho pela causa quilombola e carrega no sobrenome a identidade brasileira

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ENFOQUE QUILOMBOS EDIÇÃOPORTO ALEGRE / RS 1SETEMBRO DE 2014

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