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Gestão de uma Rede de Ar Comprimido Joana Rocha Tasso de Figueiredo Dissertação para obtenção do grau de mestre em Engenharia Química Orientadores: Professora Maria Teresa Angelino Reis Doutor Renato Henriques de Carvalho Júri Presidente: Professor Sebastião Manuel Tavares da Silva Alves Orientador: Doutor Renato Henriques de Carvalho Vogal: Professora Maria Joana Castelo Branco de Assis Teixeira Neiva Correia Junho, 2016

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Gestão de uma Rede de Ar Comprimido

Joana Rocha Tasso de Figueiredo

Dissertação para obtenção do grau de mestre em

Engenharia Química

Orientadores: Professora Maria Teresa Angelino Reis

Doutor Renato Henriques de Carvalho

Júri

Presidente: Professor Sebastião Manuel Tavares da Silva Alves

Orientador: Doutor Renato Henriques de Carvalho

Vogal: Professora Maria Joana Castelo Branco de Assis Teixeira Neiva

Correia

Junho, 2016

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Aos meus pais e à minha irmã que me apoiaram nesta

caminhada.

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer a algumas pessoas que me apoiaram neste percurso e a alcançar esta

etapa tão desejada.

Em primeiro lugar, quero agradecer à minha orientadora Maria Teresa Reis pelo seu incansável

apoio e ajuda, em todos os momentos no decorrer da elaboração da tese, sem ela este percurso teria

sido bastante mais difícil de terminar.

Em segundo lugar, e não menos importante, gostaria de agradecer ao meu orientador Renato

Carvalho pelos seus conselhos, orientação e apoio, tanto a nível científico como pela sua

disponibilidade e paciência em ajudar na execução da tese.

A todos os trabalhadores da Iberol S.A., pela incansável disponibilidade para me ajudar e

responder a todas as minhas dúvidas e me ajudaram para que o meu trabalho fosse conseguido da

melhor maneira.

Aos meus colegas de estágio, Miguel Poeira e Mónica Duarte, e ao David Faria pela ajuda e

apoio que me deram e todos os momentos de brainstorming que me proporcionaram.

Ao Francisco Patrocínio, que me acompanhou no início do estágio incansavelmente

explicando-me todo o seu trabalho e que sem ele, o meu trabalho de campo seria bastante mais

moroso.

Aos meus amigos, que me ajudaram e apoiaram durante todo o meu percurso académico e

que muitas vezes me transmitiram a energia positiva que eu precisava.

Às minhas avós, que sempre me apoiaram nesta caminhada e se preocuparam sempre com o

meu sucesso.

À minha irmã, que me acompanha há 23 anos e que sem ela toda a minha vida não tinha

qualquer significado. Aos momentos em que pude descarregar todas as minhas ansiedades e medos

sem nunca me julgar e sem me deixar desamparada.

Aos meus pais, que me tornaram no que sou hoje, dando-me a melhor educação,

proporcionando uma vida fenomenal sem nunca pedir nada em troca. Graças aos meus pais eu

consegui enfrentar os meus medos, ultrapassar os meus obstáculos e alcançar os meus sucessos. Aos

meus pais agradeço todo o apoio, dedicação, colaboração e carinho em 23 anos de vida.

O meu muito obrigada!

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Este documento encontra-se redigido ao abrigo do novo Acordo

Ortográfico da Língua Portuguesa.

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Resumo

O trabalho apresentado tem como objetivo essencial a gestão e otimização da rede de ar

comprimido, aplicando ao caso prático existente na Iberol S.A., para a redução dos custos excessivos

associados à produção de ar comprimido. Para atingir o objetivo proposto procedeu-se ao levantamento

da rede existente, ao levantamento dos pontos críticos da rede e à criação de metodologias de

manutenção preventiva da rede de ar comprimido.

Para o desenvolvimento do trabalho foram criadas ferramentas em software Excel® (2013) para

o apoio à execução das metodologias criadas e de modo a avaliar os resultados obtidos para futuras

melhorias.

Com a execução do trabalho seguidamente demonstrado foi possível conhecer todas as

valências da rede de ar comprimido existente e quais os pontos a otimizar. Também foi possível

implementar algumas medidas de otimização e avaliar a importância da monitorização da rede de ar

comprimido existente.

Palavras-chave: Ar Comprimido, Otimização, Rede de Ar Comprimido, Utilidades.

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Abstract

The presented work has an essential objective, the management and optimization of

compressed air network, applying it to existing practical case study in Iberol S.A., to reduce the

excessive costs associated with the consumption of compressed air. To achieve the proposed objective,

a survey of the existing network and a survey of critical points in the network were proceeded and it was

created preventive maintenance methodologies of the compressed air network.

For the development of the work, were created in Excel® software tools to support the implementation

of established methodologies and to evaluate the results obtained for future improvements.

With the execution of the work subsequently demonstrated, it was possible to know all the valences of

the existing compressed air network and which points to optimize. It was also possible to implement

some optimization and evaluate the importance of monitoring the existing compressed air network.

Keywords: Compressed Air, optimization, Compressed Air Network, Utilities.

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Índice

1. Introdução .................................................................................................................................. 10

1.1. A Iberol S.A. ....................................................................................................................... 10

1.1.1. Produção de Farinha de Soja e Farinha de Colza ............................................ 10

1.1.2. Produção de Biodiesel ............................................................................................ 13

1.1.3. Produção de Full-fat ................................................................................................ 13

1.2. Objetivo e âmbito do trabalho a desenvolver ............................................................... 14

2. O Ar Comprimido ...................................................................................................................... 15

2.1. Composição do Ar Atmosférico ................................................................................... 15

2.2. Rede de Ar Comprimido ................................................................................................. 15

2.2.1. Produção de Ar Comprimido ................................................................................. 16

2.2.2. Distribuição de Ar Comprimido ............................................................................ 25

2.3. O Consumo de Ar Comprimido .................................................................................... 32

2.3.1. Medidas Para Otimizar Redes de Ar Comprimido ........................................... 34

3. Análise de Caso Prático – Iberol S.A. ................................................................................. 39

3.1. Rede de Ar Comprimido Existente .............................................................................. 39

3.1.1. Sala de Produção de Ar Comprimido .................................................................. 39

3.1.2. Distribuição de Ar Comprimido ............................................................................ 42

3.1.3. Consumo de Ar Comprido ..................................................................................... 43

3.2. Otimização da Rede de Ar Comprimido Existente .................................................. 57

3.2.1. Redução de Fugas ................................................................................................... 58

3.2.2. Eliminação de Pontos Obsoletos ......................................................................... 64

3.2.3. Ajuste da Qualidade do Ar Comprimido ............................................................ 67

3.2.4. Recuperação de calor para aquecimento de água industrial ....................... 69

4. Conclusão e Propostas Futuras ........................................................................................... 72

5. Bibliografia ................................................................................................................................. 74

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Índice de Figuras

Figura 1 - Processo de produção de farinha de soja e farinha de colza. ............................................... 11

Figura 2 - Comparação das dimensões da semente de colza e do grão de soja. .................................. 12

Figura 3 - Processo de produção de Biodiesel. ..................................................................................... 13

Figura 4 - Processo de produção de Full-fat.......................................................................................... 14

Figura 5 - Exemplo de rede de ar comprimido típica. (Carbon Trust, 2005) ......................................... 16

Figura 6 - Efeito da temperatura na energia fornecida ao compressor. (Electrobrás, 1985) ............... 19

Figura 7 - Permutador para arrefecimento do ar de admissão ao compressor. (eCompressedAir) ..... 19

Figura 8 - Variação da pressão através da variação do volume da camara de compressão. (Atlas

Copco, 2015).......................................................................................................................................... 21

Figura 9 - Esquema de compressores alternativos. a) Compressor de diafragma; b) compressor pistão.

(PIP - Process Industry Practices Machinery, 2007); (Fialho, 2003) ...................................................... 22

Figura 10 - Esquema de compressores rotativos. a) Compressor de lóbulos; b) Compressor de

parafuso; c) Compressor de palhetas. (Fialho, 2003) ............................................................................ 22

Figura 11 - Tipos de configuração para redes de distribuição de ar comprimido. a) Circuito aberto; b)

Circuito fechado. (TopRing) ................................................................................................................... 25

Figura 12 - Exemplo de ramificação correta de uma tubagem. (IEFP) .................................................. 27

Figura 13 - Exemplo de cotovelo de uma rede de ar comprimido. (Legris - Transair, 2005) ................ 28

Figura 14 - Válvula globo a) Totalmente aberta; b) e c) Semiaberta; d) Totalmente fechada. (The Flow

Control Valves, 2016) ............................................................................................................................ 29

Figura 15 - Válvula de esfera. (Volk Flow Controls Inc., 2003) .............................................................. 29

Figura 16 - Válvula de cunha. (The Free Dictionary, 2003) ................................................................... 30

Figura 17 - Filtro-Regulador-Lubrificador. (Draper Tools, 2016) ........................................................... 30

Figura 18 - Purgador de válvula solenoide. (Jefferson) ......................................................................... 31

Figura 19 - Purgador de válvula flutuador. (Kaeser Compressors, 2015) ............................................. 32

Figura 20 - Distribuição de custos em compressores durante 10 anos. (Carbon Trust, 2005) ............. 33

Figura 21 - Distribuição da energia fornecida para o processo de compressão. (Compressed air

systems' waste heat improves plant economics, 2011) ........................................................................ 33

Figura 22 - Distribuição de utilização e potenciais pontos de melhoria de redes de ar comprimido.

(Sustainability Victoria, 2009), (Atlas Copco, 2012) .............................................................................. 34

Figura 23 - Equipamento de deteção de fugas. (Sonotec, 2016) .......................................................... 35

Figura 24 - Passos para a implementação de rotinas de inspeção. (Kaizen Institute, 2016) ................ 35

Figura 25 - Exemplos de utilização do calor reaproveitado na produção de ar comprimido. (Voltimum,

2009)...................................................................................................................................................... 37

Figura 26 - Medidor de temperatura e humidade do ar. (Amprobe) ................................................... 41

Figura 27 - Esquema de distribuição da rede de ar comprimido na unidade fabril. ............................. 43

Figura 28 - Esquema de estratégia de testes de consumo energético, onde t1 é o intervalo de tempo

de teste e t2 é o intervalo de tempo entre testes. ................................................................................ 44

Figura 29 - Histórico de consumos energéticos diários, os valores do eixo das ordenadas encontram-

se omitidos por questões de confidencialidade. ................................................................................... 46

Figura 30 - Representação de pontos diários não incluídos no modelo, os valores do eixo das

ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade. .............................................. 47

Figura 31 - Consumos e produções diárias dos diferentes processos, GS – Grão de Soja; SC – Semente

de Colza, os valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de

confidencialidade. ................................................................................................................................. 48

Figura 32 - Modelo de Boxplot. (Silva, 2011) ........................................................................................ 49

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Figura 33 - Gráficos Boxplot para os diferentes consumos e produções diários, os valores do eixo das

ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade. .............................................. 49

Figura 34 - Gráficos Boxplot para o consumo de energia elétrica diários, os valores do eixo das

ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade. .............................................. 50

Figura 35 - Gráficos Boxplot para os diferentes consumos e produções diárias removendo os outliers,

os valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade. ......... 50

Figura 36 - Gráficos Boxplot para o consumo de energia elétrica diários removendo os outliers, os

valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade. .............. 51

Figura 37 - Distribuição de consumos de ar comprimido pelos diversos processos. ........................... 54

Figura 38 - Distribuição de consumo de ar comprimido nos dias utilizados para testar o modelo. ..... 55

Figura 39 - Distribuição de consumos de ar comprimido pelos processos principais. ......................... 57

Figura 40 - Distribuição de quantidade de fugas por secção. ............................................................... 58

Figura 41 - Ferramenta de gestão de Manutenção Autónoma. ........................................................... 60

Figura 42 - Gestão que permite a ferramentas Excel............................................................................ 60

Figura 43 - Gráficos de análise da performance da manutenção autónoma........................................ 61

Figura 44 - Quadro criado para a Manutenção Autónoma. .................................................................. 62

Figura 45 - Comparação do número de anomalias reparadas pelos operadores das diversas secções e

pela equipa de manutenção. ................................................................................................................. 63

Figura 46 - Comparação do número de anomalias requeridas à equipa de manutenção por

manutenção autónoma e fora do âmbito de manutenção autónoma. ................................................ 64

Figura 47 - Pontos obsoletos a eliminar nos Silos Mistos. .................................................................... 65

Figura 48 - Pontos obsoletos a eliminar na preparação-extração. ....................................................... 66

Figura 49 - Pontos obsoletos a eliminados na Sala de Produção de ar comprimido. ........................... 66

Figura 50 - Pontos obsoletos a eliminar na Central de Vapor. ............................................................. 66

Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de referência de acordo

com a ISO 8573-1, os valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de

confidencialidade. ................................................................................................................................. 68

Figura 52 - Sistema de recuperação de calor, Atlas Copco®. ................................................................ 69

Figura 53 - Funcionamento do equipamento de recuperação de calor. 1) Agua fria; 2) Ar Comprimido;

3) Energia elétrica; 4) Ar; 5) Circuito de óleo; 6) Energia recuperada; 7) Agua aquecida. (Atlas Copco)

............................................................................................................................................................... 70

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Índice de Tabelas

Tabela 1 - Qualidade requerida por tipo de aplicação. (SEI- Sustainable Energy Ireland, 2007) .......... 17

Tabela 2 - Especificações de classes do ar comprimido. (ISO, 2010) .................................................... 18

Tabela 3 - Especificações dos compressores existentes. (Atlas Copco) ................................................ 40

Tabela 4 - Especificações do secador de ar comprimido existente. (Atlas Copco) ............................... 40

Tabela 5 - Especificações filtro de ar comprimido existente. (Atlas Copco) ......................................... 40

Tabela 6 - Qualidade do ar comprimido obtida. (Atlas Copco) ............................................................. 41

Tabela 7 - Resumo de dados recolhidos para o ar atmosférico. ........................................................... 42

Tabela 8 - Resumo de dados recolhidos para o ar comprimido. .......................................................... 42

Tabela 9 - Parâmetros obtido para o modelo. ...................................................................................... 53

Tabela 10 – Análise de sensibilidade aos parâmetros em estudos. ...................................................... 56

Tabela 11 - Cálculo do payback nos diferentes cenários. (Atlas Copco), (Entidade Reguladora dos

Serviços Energético, 2016) .................................................................................................................... 71

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1. Introdução

1.1. A Iberol S.A.

A Iberol foi fundada em 1967, com a sua instalação fabril situada em Alhandra, Vila Franca de

Xira. Em 1998, a empresa foi integrada no grupo NUTASA, passando a pertencer ao líder de mercado.

Atualmente, a Iberol é gerida por um Fundo de Recuperação de Empresas, a ECS Capital.

Em 1967, quando foi implementada, o objetivo era o aproveitamento industrial de sementes

oleaginosas para produção de farinhas para rações animais e comercialização dos seus subprodutos.

Em 2006, de forma a acompanhar as evoluções tecnológicas, a empresa alargou o seu objetivo

tendo implementado uma Unidade de Produção de Biodiesel (UPB). Esta alteração foi pioneira em

Portugal, sendo a primeira empresa a produzir biodiesel em território nacional. Com esta alteração, o

objetivo principal da empresa alterou-se, tornando-se a comercialização de biodiesel o seu foco e as

farinhas tornaram-se um subproduto, também fortemente comercializado.

Com esta alteração, a Iberol torna-se líder do mercado de biodiesel em território nacional,

mantendo uma forte influência no mercado de farinhas.

Assim, a Iberol tem quatro produtos principais comercializados. Estes são biodiesel, farinha de

soja, farinha de colza, farinha de soja integral (Full-Fat), óleo de soja e óleo de colza. Os processos

para obtenção destes produtos são descritos de seguida. (Iberol, S.A., 2011)

1.1.1. Produção de Farinha de Soja e Farinha de Colza

A produção de farinha de soja e farinha de colza é bastante semelhante, Figura 1, tendo ligeiras

diferenças ao longo do processo que irão ser referidas. Estes dois produtos são obtidos a partir de grão

de soja e semente de colza, respetivamente, os quais são recebidos na Iberol por meio marítimo,

rodoviário ou ferroviário.

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As matérias-primas são armazenadas em 38 silos e são alimentadas ao processo a partir do

silo 37.

Ambas as matérias-primas são sujeitas a um processo de limpeza onde são removidas grande

parte das impurezas. Para isso, o grão de soja (ou a semente de colza) passam por um peneiro,

seguindo para um separador gravimétrico e por fim para um separador magnético. Após esta limpeza

é iniciado o processo de preparação da semente.

Na preparação, o grão de soja é alimentado a trituradores, seguindo para condicionadores. Nos

condicionadores, o grão partido é aquecido entre 85-95C, com o objetivo de tornar a semente mais

plástica e de desnaturar os inibidores da tripsina, enzimas que afetam negativamente a digestão animal.

(Andrade, et al., 2010)

O grão partido aquecido é alimentado a laminadores que, devido à força mecânica, vão laminar

o grão, colocando-o na forma ideal de flocos para a extração química. Por fim, os flocos passam por

um expander, onde aumenta a área específica e diminui a densidade do sólido, mas ao serem

compactados aumenta a densidade da corrente. Esta fase do processo também promove a rotura das

paredes das células onde é armazenado o óleo. Com isto, o expandido está preparado para a extração

química.

Impurezas (Paus, Cascas, Vagens,

Ferros e Pedras)

Preparação Transporte Grão de soja

ou

Semente de colza

Armazenamento Limpeza

Extração Farinha de Soja

ou

Farinha de Colza

Óleo de Soja Bruto

ou

Óleo de Colza Bruto

Figura 1 - Processo de produção de farinha de soja e farinha de colza.

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No caso da semente de colza, o processo de

preparação da semente é ligeiramente diferente. A semente de

colza é pré-aquecido a 40ºC e entra de seguida nos

laminadores, não sendo necessário triturar devido ao tamanho

da semente ser inferior, o seu tamanho varia entre 0,224 e 1,8

mm, Figura 2. A semente de colza, após a laminagem segue

para os condicionadores e por fim para o expander. (Influence

of particle size on the pyrolysis of rapeseed (Brassica napus L.): fuel properties of bio-oil, 2000)

No processo de expansão, quando utilizada a semente de colza, obtém-se óleo extratado

fisicamente, enquanto que com o grão de soja o mesmo não se verifica.

Depois da preparação concluída, o expandido de soja (ou expandido de colza) segue para o

processo de extração química. A partir deste ponto o processo é idêntico com ambas as matérias-

primas, assim doravante a matéria-prima será denominada de expandido.

Na extração, o expandido alimenta o extrator rotativo que circula em contracorrente com uma

miscela de óleo e hexano, com baixa concentração de óleo. Desta forma, o bagaço que sai do extrator

entra em contacto com a miscela mais concentrada em hexano, garantindo assim a maior extração de

óleo possível. No final deste processo obtém-se duas correntes, a miscela e o bagaço.

O bagaço é alimentado a um Dessolventizador-Tostador-Secador (DTS), onde é adicionado

vapor a diferentes temperaturas ao longo dos andares do DTS. Esta ação tem como objetivo a remoção

do hexano, no dessolventizador; o aperfeiçoamento nutricional, no tostador; e a remoção de humidade,

no secador. O hexano presente no bagaço é arrastado pelo vapor, do qual é removido, a jusante, pela

adição de água quente.

A miscela é alimentada para torres de destilação, onde é removido o hexano, obtendo-se o

óleo. O óleo é sujeito a um processo de desgomagem física com adição de água por centrifugação, de

forma a eliminar os fosfatídeos hidratáveis, as lecitinas. Esta remoção é feita com o objetivo de reduzir

a concentração de fósforo no óleo, ajustando a composição de óleo aos valores pretendidos. O óleo é

sujeito ao aquecimento e posterior secagem a vácuo, obtendo-se o óleo bruto.

As lecitinas são adicionadas ao bagaço, tornando o bagaço mais nutritivo. As impurezas

removidas no processo de limpeza que contêm fontes de fibra, tais como paus, cascas e vagens, são

também adicionadas ao bagaço após tratamento das mesmas.

O bagaço é armazenado em armazéns até seguir para expedição. O óleo bruto é armazenado

em tanques intermédios para ser alimentado à produção de biodiesel. O óleo bruto é também

comercializado diretamente.

A capacidade instalada na Iberol para este processo é de 170 000 ton de farinha de colza/ano

e 450 000 ton de farinha de soja/ano. (Faria, 2015)

Figura 2 - Comparação das dimensões da

semente de colza e do grão de soja.

Colza Soja

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1.1.2. Produção de Biodiesel

Para a produção de biodiesel é necessária a neutralização do óleo bruto. Esta fase é

indispensável devido à presença de ácidos gordos livres e dos fosfatídeos não hidratáveis. Para isso

adiciona-se ácido fosfórico para converter os fosfatídeos não hidratáveis em fosfatídeos hidratáveis.

De seguida é adicionada soda cáustica que irá neutralizar os ácidos gordos, formando uma mistura de

sabões, denominada de Soapstock. Assim, é obtido o óleo neutro que segue para transesterificação.

O óleo neutro pode também ser comercializado para biodiesel ou outros fins.

A transesterificação ocorre pela adição de metanol e de um catalisador, o metilato de sódio,

Figura 3. O biodiesel, depois de lavado e centrifugado, é armazenado em tanques para seguir para

expedição.

A glicerina, um subproduto obtido na reação de transesterificação, é sujeita a um processo de

purificação para remoção de sabões, metanol e evaporação de água para depois ser comercializada.

A Iberol, com este processo, tem capacidade para produzir até 110 000 ton de biodiesel/ano.

(Faria, 2015)

1.1.3. Produção de Full-fat

O Full-fat é um produto bastante comercializado devido à sua elevada composição proteica,

cerca de 38% de proteína bruta, Figura 4. (Borg, et al., 1988)

A matéria-prima, o grão de soja, é alimentada ao processo por um transportador proveniente

do silo 1.

O grão de soja passa por moinhos de martelos onde é triturado e extrusoras onde é cozido e

conferido textura ao produto. De seguida passa num secador para remover a humidade, arrefecendo e

sendo posteriormente armazenado. Com o isto, o material está pronto para expedição.

Metanol

Metilato de sódio

Glicerina

Transesterificação

Óleo bruto Armazenamento Neutralização

Soapstock

Biodiesel

Ácido fosfórico

Soda caustica

Óleo neutro

Figura 3 - Processo de produção de Biodiesel.

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A capacidade instalada para a produção de Full-fat é de 70 000 ton/ano.

1.2. Objetivo e âmbito do trabalho a desenvolver

A rede de ar comprimido existente na Iberol S.A. à data de início do projeto de investigação

proposto, não era totalmente conhecida. Os percursos realizados pela rede de ar comprimido não eram

conhecidos e nem os seus equipamentos de uso final.

Os consumos de ar comprimido nos diferentes processos realizados na Iberol S.A. não eram

conhecidos. Consequentemente, o consumo energético para a produção de ar comprimido para cada

secção era também desconhecido, conhecendo-se apenas o consumo global de eletricidade na central

de ar comprimido.

Assim este trabalho teve como principais objetivos o mapeamento da rede de ar comprimido e

a análise dos equipamentos que necessitam de ar comprimido para o seu funcionamento.

Para a análise dos consumos de ar comprimido é também fundamental a análise de quais os

pontos problemáticos da rede de ar comprimido em que os consumos de ar comprimido podem ser

evitados, tais como fugas de ar comprimido, e alguns pontos em que o ar comprimido poderá ser

substituído por metodologias mais rentáveis.

Com a realização deste estudo, é também relevante sensibilizar todos os utilizadores de ar

comprimido dos seus custos e da importância da correta gestão da rede de ar comprimido. Esta

sensibilização é fundamental tanto para a rentabilidade dos processos de produção e distribuição de ar

comprimido, mas também a segurança e higiene de todos os seus utilizadores.

Impurezas (Ferros e Pedras)

Trituração Transporte Grão de soja Armazenamento Limpeza

Full-fat

Figura 4 - Processo de produção de Full-fat.

Extrusão

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2. O Ar Comprimido

O ar comprimido é uma utilidade comummente requerida na indústria. Este é produzido pela

conversão do ar atmosférico, pressurizando-o. Esta transformação ocorre devido à ação mecânica a

que é sujeito. Os equipamentos utilizados para esta ação denominam-se de compressores.

Este gás é considerado um transportador de energia e frequentemente substitui a energia

elétrica. Recorre-se a este tipo de energia em fábricas que tem limitações devido à sua atmosfera

explosiva. (BOSCH, 2008)

Assim, na indústria o ar comprimido é uma utilidade prioritária e com custos de produção

relativamente acessíveis.

Para uma correta utilização do ar comprimido nos diversos equipamentos é importante ter em

conta a qualidade do ar comprimido requerida. Para essa definição, deve ter-se em conta a norma

europeia ISO 8573-1, referida seguidamente. Nesta norma encontram-se descriminados os valores de

humidade, partículas e óleo.

A descriminação da qualidade do ar comprimido é essencial para determinar o tratamento que

se deve conferir ao ar atmosférico antes da compressão e ao ar comprimido antes da distribuição. Este

tratamento deve ser melhor avaliado em áreas urbanas, pois é nestas que o ar se encontra com uma

concentração de contaminantes elevada. Esta concentração, após uma compressão de 10 bar,

aumenta cerca de 11 vezes. (Atlas Copco, 2015) (BOSCH, 2008)

2.1. Composição do Ar Atmosférico

O ar atmosférico tem, na sua composição química, essencialmente azoto (78%) e oxigénio

(21%), para além de conter também outros constituintes (1%), tais como Árgon, Hidrogénio, entre

outros. (Novais, 2014)

O ar atmosférico numa cidade movimentada, ou seja com bastantes automóveis, tem uma

quantidade de partículas muito superior ao de uma zona menos povoada. A pressão do ar atmosférico

também varia com a altitude a que se encontra, isto é, o ar atmosférico no topo de uma montanha tem,

obviamente, uma pressão inferior à pressão numa zona ao nível do mar.

2.2. Rede de Ar Comprimido

Para a produção e fornecimento de ar comprimido é necessária uma rede com alguma

complexidade. Uma rede de ar comprimido pode ser dividida em duas secções. A secção de produção

de ar comprimido, onde se encontram compressores, arrefecedores, filtros, secadores e depósitos

primários, e a secção de distribuição de ar comprimido, que inclui tubagens, Purgadores, depósitos

secundários e os equipamentos finais. (Hydro One, 2007)

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16

A Figura 5 demonstra como deve ser composta uma rede de ar comprimido e todos os pontos

essenciais para o seu bom funcionamento.

2.2.1. Produção de Ar Comprimido

Para uma correta produção de ar comprimido é essencial a definição de algumas propriedades

do ar comprimido, tais como a pressão requerida, a qualidade e a quantidade de ar necessária.

A pressão normal utilizada na indústria é 7 bar (100 psig), sendo esta definida tendo em conta

o equipamento que requer a pressão mais elevada. (Atlas Copco, 2015)

A qualidade, como referido anteriormente, é definida de acordo com a ISO 8573-1. Esta norma,

com base em informações de fornecedores de equipamentos que utilizam ar comprimido, define

classes de qualidade desejada. Na Tabela 1 encontram-se as classes recomendadas para cada tipo de

equipamento, garantindo assim o maior tempo de vida do equipamento. A classe selecionada deve ser

a do equipamento que possui mais restrições, garantindo que a qualidade estará de acordo com todos

os equipamentos da rede. É importante ter em conta as impurezas que se podem acumular durante o

percurso do ar até ao equipamento de uso final. A Tabela 2 resume as especificações recomendadas

para cada classe.

Figura 5 - Exemplo de rede de ar comprimido típica. (Carbon Trust, 2005)

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Tabela 1 - Qualidade requerida por tipo de aplicação. (SEI- Sustainable Energy Ireland, 2007)

Tipos de aplicação

Classe de qualidade a aplicar

Partículas Humidade Óleo

Agitação com ar 5 3 3

Motores de ar 4-1 5 4

Máquinas para tijolo e vidro 4 5 4

Limpeza de partes de máquina 4 4 4

Construção 5 5 4

Transportadores de produtos granulares 4 3 3

Transportadores de produtos em pó 3 2 2

Circuitos elétricos 4 4 4

Sensores 2-1 2 2

Máquinas de fundições 4 5 4

Alimentos e bebidas 3 1 2

Ferramentas manuais a ar 5-4 5-4 4

Exploração mineira 5 5 4

Manufatura microeletrónicas 1 1 1

Máquinas de embalamento e têxtil 3 3 4

Produção de filmes e fotografia 1 1 1

Cilindro pneumático 3 5 3

Ferramentas pneumáticas 4 4 4

Instrumentos de controlo de processos 2 3 2

Pulverização de tinta 3 3 3

Jato de areia 3 3 -

Máquinas de solda 4 5 4

Uso geral em oficina 4 5 4

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Tabela 2 - Especificações de classes do ar comprimido. (ISO, 2010)

Classe

Partículas

(Nº de partículas/m3) Humidade

(Ponto de orvalho ºC)

Óleo

(Concentração

mg/m3) 0,1 md≤0,5 m 0,5 md≤1,0 m 1,0 md≤5,0 m

0 - - - - -

1 ≤20 000 ≤400 ≤10 ≤-70 ≤0,01

2 ≤400 000 ≤6 000 ≤100 ≤-40 ≤0,1

3 - ≤90 000 ≤1 000 ≤-20 ≤1

4 - ≤10 000 ≤3 ≤5

5 - ≤100 000 ≤7 >5

A quantidade de ar necessária numa rede de ar comprimido é calculada pela soma das

necessidades de ar de todos os equipamentos que irão constituir a rede de ar comprimido. Após esta

soma, deve-se adicionar um fator para fugas de ar e também para perdas de carga ao longo do percurso

do ar comprimido até aos equipamentos. Quanto mais acessórios e pontos de fuga o percurso tiver,

mais relevante terá de ser esse fator. (Atlas Copco, 2015)

O passo seguinte será dimensionar os equipamentos que irão constituir a secção de produção.

2.2.1.1. Arrefecedor Primário

O ar atmosférico que irá ser alimentado ao compressor deve ter uma temperatura o mais baixa

possível. Como tal, quando instalada uma rede de ar comprimido, é necessário ter em conta a

temperatura da sala onde se irá colocar a central de ar comprimido e avaliar a necessidade de um

arrefecedor primário.

A temperatura de referência de entrada de ar de um compressor é 15 C. Cada redução de 4

C na temperatura de admissão do ar proporciona uma redução do consumo elétrico do compressor

em 1%, Figura 6. (Electrical Energy Equipment: Compressors and Compressed Air Systems, 2006)

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O efeito demonstrado na Figura 6 ocorre devido à densidade do ar. Quanto menor a

temperatura do ar, maior será a quantidade de moléculas por unidade de volume e maior será a

quantidade de ar comprimido por unidade de tempo. (Hydro One, 2007)

Para o arrefecimento do ar atmosférico são normalmente utilizados permutadores de calor, a

água, Figura 7, que consiste num permutador de tubos. O ar circula nos tubos e é arrefecido ao longo

do tubo com água em contracorrente.

Este arrefecimento só é benéfico quando a temperatura do ar de admissão é muito elevada,

pois a quantidade de água despendida para o arrefecimento torna-o pouco rentável para pequenas

variações de temperatura.

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

0 10 20 30 40 50 60

Red

uçã

o o

u a

um

ento

da

ener

gia

forn

ecid

a (%

)

Temperatura de admissão de ar (C)

Figura 6 - Efeito da temperatura na energia fornecida ao compressor. (Electrobrás, 1985)

Figura 7 - Permutador para arrefecimento do ar de admissão ao compressor.

(eCompressedAir)

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2.2.1.2. Compressor

O compressor é o equipamento principal para a produção de ar comprimido. É nele que ocorre

a elevação de pressão do ar atmosférico. Por este motivo, a seleção correta do compressor é um passo

relevante na construção da rede de ar comprimido. Assim, é necessário conhecer os diversos tipos de

compressores e quais as suas aplicações.

Os compressores podem ser dinâmicos ou de deslocamento positivo. Os primeiros comprimem

através da utilização de velocidade rotacional, enquanto os segundos contam também com a

compressão devido à diminuição do volume da camara de compressão. Os compressores dinâmicos

podem ser centrífugos ou axiais e os compressores de deslocamento positivo podem ser de parafuso,

de palhetas ou alternados. (BOSCH, 2008)

Compressores Dinâmicos

Os compressores dinâmicos, também chamados de turbocompressores, trabalham de forma

contínua, sem variações de volume da câmara de compressão e a pressão constante. Os

compressores deste tipo, através da rotação de um veio, o rotor, é impelido para as paredes da câmara

de compressão e assim é elevada a sua pressão. A compressão ocorre pela transformação da energia

cinética, provocada pela rotação, em pressão estática. (Atlas Copco, 2015)

Estes compressores, devido ao volume da câmara não ser variável, a capacidade é

expressivamente variável com a temperatura do ar de entrada.

Os compressores dinâmicos mais comummente utilizados são os compressores axiais e os

compressores centrífugos.

A principal diferença entre os dois tipos de compressores dinâmicos é a direção do fluxo de ar

dentro do compressor. No caso dos compressores axiais, como o nome indica, o ar circula na direção

do eixo de rotação. Nos compressores centrífugos, o ar entra com direção axial e abandona o

compressor com direção radial. (Gupta, et al., 2013)

A utilização deste tipo de compressores torna-se vantajosa quando é necessário utilizar um

caudal de ar elevado (140 – 340 000 m3/h). Os compressores dinâmicos também são vantajosos,

devido à pouca manutenção necessária e aos elevados valores de eficiência obtidos.

Por outro lado, este tipo de compressores comportam um elevado investimento inicial, e por

vezes, precisam de água de arrefecimento.

Com isto, os compressores dinâmicos são maioritariamente utilizados na indústria de refinação

de petróleo. (PIP - Process Industry Practices Machinery, 2007)

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Compressores de Deslocamento Positivo

Os compressores de deslocamento positivo, também chamados de compressores

volumétricos, ao contrário dos anteriormente descritos, elevam a pressão do ar através da redução de

volume da câmara de compressão. Por este motivo, o funcionamento destes ocorre de forma

descontínua. (Figura 8)

No caso dos compressores de deslocamento positivo existe a possibilidade destes serem

lubrificados com óleo. Este tipo de compressores podem ser de pistão, diafragma, parafuso, entre

outros. (Atlas Copco, 2015)

Os compressores de pistão ou diafragma têm um funcionamento semelhante, e como tal

denominam-se de compressores de deslocamento positivo alternativos (Figura 9). (PIP - Process

Industry Practices Machinery, 2007)

Os compressores de pistão são os compressores mais utilizados na indústria, também por

serem dos compressores mais antigos.

Nos compressores alternativos, o volume da câmara diminui com o movimento de um disco

giratório que obriga o pistão (ou diafragma) a diminuir e aumentar o volume da câmara. Assim, quando

o volume diminui, o ar é comprimido até atingir a pressão desejada, abrindo-se uma válvula para que

o ar comprimido abandone a câmara de compressão. Quando o pistão atinge o topo da câmara, a

Figura 8 - Variação da pressão através da variação do volume da camara de compressão. (Atlas Copco, 2015)

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válvula de saída é fechada e abre-se a válvula de entrada obrigando o ar a entrar, devido ao aumento

do espaço na câmara. (Fialho, 2003)

Os compressores rotativos são também compressores de deslocamento positivo. Estes podem

ser de palhetas, de parafuso ou de lóbulos (vulgarmente denominados de roots) (Figura 10).

Nos compressores de lóbulos, a ar entra na câmara e com a rotação dos lóbulos o volume da

câmara vai diminuindo, comprimindo o ar. No caso dos compressores de parafuso, o ar ocupa as

cavidades do rotor e com a rotação o volume das cavidades vai diminuindo. Por fim, nos rotores de

palhetas o ar ocupa os espaços entre as palhetas que estão em rotação, com a rotação o volume do

espaço entre palhetas diminui.

Devido ao seu funcionamento, os compressores de deslocamento positivo podem abranger

uma larga gama de pressões com uma elevada eficiência. Estes compressores são benéficos também

por terem um baixo valor de investimento inicial e um design simples. Apesar destes pontos, estes

b) a) c)

Figura 10 - Esquema de compressores rotativos. a) Compressor de lóbulos; b) Compressor de parafuso; c) Compressor de

palhetas. (Fialho, 2003)

a) b)

Figura 9 - Esquema de compressores alternativos. a) Compressor de diafragma; b) compressor pistão. (PIP -

Process Industry Practices Machinery, 2007); (Fialho, 2003)

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compressores podem, por vezes, não ser utilizados por produzirem um elevado ruído e precisarem de

alguma manutenção regular. (PIP - Process Industry Practices Machinery, 2007)

2.2.1.3. Arrefecedor Posterior

Frequentemente o arrefecimento do ar após a compressão é feito no interior do compressor.

(Atlas Copco, 2015)

Quando o arrefecimento é feito posteriormente, o arrefecedor irá remover o calor produzido na

ação de compressão. Esta fase é de extrema importância, devido à remoção de humidade. Ao diminuir

a temperatura do ar comprimido, a humidade presente irá condensar, tornando-se mais fácil a sua

remoção. (Hydro One, 2007)

Para este arrefecimento pode ser utilizado o ar atmosférico que se encontra na sala. O ar

comprimido flui em tubos e o ar atmosférico é forçado a passar pelo exterior dos tubos, por uma

ventoinha, e arrefece o ar comprimido. É aconselhável que o ar de arrefecimento depois de abandonar

o arrefecedor seja conduzido ao exterior da sala, para que não seja admitido ao compressor.

2.2.1.4. Filtro

Como referido, para que seja alimentado a alguns equipamentos, o ar comprimido tem de

corresponder a determinadas especificações. Por este motivo, a escolha adequada de um filtro é

fundamental para o bom funcionamento de uma rede de ar comprimido.

A escolha do ponto onde deve ser colocado o filtro também é fundamental para garantir a

máxima eficiência possível do filtro selecionado. O filtro deve ser colocado imediatamente a seguir ao

arrefecedor para filtrar a água que condensou no arrefecedor devido à diminuição da temperatura

provocada. (Talbott, 1993)

Para a escolha de um meio filtrante adequado é importante ter em conta a especificação exigida

pelo equipamento mais restritivo. Essa escolha, como referido, é feita com o auxílio da Tabela 1 e da

Tabela 2. Outro ponto essencial a ter em conta para a escolha do meio filtrante a utilizar é a qualidade

do ar atmosférico à entrada.

Assim, os tipos de filtros mais comuns para redes de ar comprimido são os filtros tipo ciclone,

os preliminares, os de alto desempenho e os de carvão ativado.

Nos filtros tipo ciclone, o tratamento é feito devido à força de inércia que é imposta ao ar

comprimido, impelindo as partículas para as paredes do filtro. Este tipo de filtro é de elevada eficiência

para a remoção de partículas de água, enquanto a eficiência na remoção de partículas varia com a

velocidade que o ar comprimido atinge, sendo mais eficiente para partículas pesadas.

Os filtros preliminares, em que o seu funcionamento se baseia no princípio de peneiração, a

humidade e o óleo não são significativamente removidos. Neste tipo de filtros é importante ter em

atenção o tamanho médio de partículas para a seleção correta do peneiro.

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Os filtros de alto desempenho são utilizados quando existe a necessidade de operar com ar

comprimido de alta qualidade. Com este tipo de filtros são obtidos valores de concentração de óleo na

ordem de 0,01 mg/m3 e a remoção de partículas sólidas tem uma eficiência de 99,9999%. A filtração

neste tipo de equipamentos ocorre pela passagem do ar comprimido por fibras de textura porosa. Para

a utilização deste tipo de filtros é importante ter em atenção a temperatura do ar comprimido alimentado,

pois a eficiência do filtro varia fortemente com a temperatura de trabalho.

Por fim, os filtros de carvão ativado são aconselhados quando a concentração de partículas

sólidas não é fundamental. É também necessário, a remoção de humidade, pois esta reduz

significativamente o efeito do filtro. Estes filtros removem os hidrocarbonetos, atingindo concentrações

em óleo de cerca de 0,005 mg/m3. Os filtros de carvão ativado, quando atingem o seu nível de

saturação, não podem ser reutilizados. (BOSCH, 2008)

Com isto, a escolha do filtro adequado tem de ser ponderada. O excessivo tratamento do ar

comprimido não é aconselhado, pois irá provocar perda de carga e gastos desnecessários em

tratamento. O deficiente tratamento pode também comprometer o bom funcionamento dos

equipamentos a que o ar comprimido irá ser alimentado.

2.2.1.5. Reservatório pulmão de Armazenamento

O ar comprimido, depois do secador, deve ser armazenado num reservatório pulmão

corretamente dimensionado. O correto dimensionamento do reservatório pulmão garantirá menores

flutuações de pressão nos equipamentos de uso final.

A existência de reservatório pulmão irá permitir que o compressor, quando o uso de ar

comprimido não é significativo, possa ficar em stand-by proporcionando uma redução do consumo de

energia elétrica.

Geralmente, o volume do reservatório pulmão é definido de acordo com as especificações do

fabricante do compressor utilizado, tendo sempre em consideração a necessidade dos consumidores

finais.

2.2.1.6. Secador

Uma alternativa ao arrefecedor posterior, anteriormente referido, é a utilização de um secador.

Neste equipamento é removida a humidade do ar e reduzida a temperatura em simultâneo. (Metalplan

- Airpower, 2010)

Os tipos de secadores mais utilizados são os secadores por refrigeração e por adsorção.

Os secadores por refrigeração baseiam o seu funcionamento no arrefecimento do ar. O ar é

arrefecido até 0 C, para garantir a máxima condensação de água e óleo, evitando o congelamento dos

mesmos, e depois são removidos os condensados. Para o ar ser alimentado à rede de ar comprimido

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25

é aquecido até à temperatura ideal de circulação na rede (cerca de 15 C). Para este aquecimento é

utilizada a energia recuperada no processo de arrefecimento.

Os secadores por adsorção operam diminuindo o ponto de orvalho para valores muito baixos

e provocando a adsorção, fenómeno de atração de moléculas de gases e líquidos para uma superfície

sólida, das moléculas de água no sólido adsorvente. Este tipo de secadores são compostos por dois

leitos iguais, para que enquanto é feita a regeneração de um leito, remoção de água e óleo que foi

adsorvida pelo sólido adsorvente, a outra possa continuar a operar garantindo o correto tratamento do

ar comprimido e a continuidade do fluxo. (Fargon)

Quando se opta pela utilização de secadores é aconselhável a colocação de um filtro prévio

para a remoção de partículas sólidas que possam contaminar o leito e outro filtro à saída do secador

para asseverar o tratamento ideal do ar comprimido no sistema.

2.2.2. Distribuição de Ar Comprimido

Para que uma rede de ar comprimido seja eficaz é fundamental que a sua distribuição seja feita

da melhor forma possível. Assim, é importante garantir que todos os constituintes sejam corretamente

selecionados e dimensionados.

Considera-se uma rede de distribuição eficaz quando a perda de carga desde o ponto de

produção até ao ponto de uso final não é significativa, até a 0,2 bar, e que as perdas de ar comprimido

por fugas equivalem a menos de 5% do uso total de ar comprimido. (Carbon Trust, 2005)

O primeiro ponto a ter em consideração é a escolha entre um circuito aberto ou um circuito

fechado, Figura 11. É importante ter um planeamento correto dos pontos onde irá ser necessário ar

comprimido.

Figura 11 - Tipos de configuração para redes de distribuição de ar comprimido. a) Circuito aberto; b) Circuito fechado.

(TopRing)

a) b)

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26

O circuito aberto, Figura 11 a), é vulgarmente utilizado em instalações simples e que o ponto

de uso final se encontra relativamente perto do ponto de produção. É também utilizado em pontos

distantes da restante rede de ar comprimido. Este tipo de circuitos devem ser evitados devido à maior

probabilidade de ocorrência de fugas, pois este tipo de circuitos carecem de mais acessórios que

dificultam o isolamento das tubagens e facilitam a perda de ar pelas uniões. São também evitados

devido à acumulação de água por condensação ao longo da rede e acumulação no final da linha.

(Carbon Trust, 2005)

O circuito fechado, Figura 11 b), também denominado circuito em anel, é mais recorrente em

instalações fabris. Neste tipo de circuitos a distribuição para consumos intermitentes, por exemplo

válvulas pneumáticas, é uniforme e a velocidade do ar é menor. Assim, a variação de pressão ao longo

da rede é mais facilmente mantida. Por outro lado, em circuito fechado como o ar circula nos dois

sentidos, a remoção de condensados torna-se mais difícil. (Parker Hannifin Corporation, 2006)

2.2.2.1. Tubagem

Os parâmetros essenciais para o dimensionamento correto da tubagem são o material de

construção, a inclinação e o diâmetro.

O material de construção da tubagem deve ser o menos rugoso possível, para minimizar o

atrito à passagem de ar, pouco oxidável, para que não se crie ferrugem que seja arrastada pelo ar até

aos equipamentos de uso final, e resistentes à longa exposição solar e ao calor. Os tipos de materiais

mais utilizados são o aço galvanizado, o aço carbono, o ferro preto, o cobre, o alumínio, o aço inoxidável

e o PVC.

O PVC deve ser utilizado em distâncias muito curtas e protegidas, pois a exposição à atmosfera

ou a temperaturas elevadas deteriora o PVC e, por isso, este tipo de material implica uma manutenção

regular. Por outro lado, a utilização deste material é vantajosa devido à sua maleabilidade e facilidade

em ajustar-se a várias configurações.

O ferro preto e o aço galvanizado são materiais de baixo custo e com flexibilidade para juntas

roscadas e uniões. Contudo, este tipo de material é bastante suscetível a ferrugem e descamação da

tubagem, que irá libertar partículas que irão contaminar o ar que será alimentado aos equipamentos de

uso final.

O cobre não é aconselhável devido à dificuldade de adaptações prévias. O cobre é de difícil

manuseamento, pois implica soldaduras, e portanto todas as alterações posteriores terão de ser

planeadas aquando da instalação inicial da rede. Por outro lado, este material tem um baixo coeficiente

de atrito e nível de corrosão. (Parker Hannifin Corporation, 2000)

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O aço carbono também é bastante utilizado, apesar da sua resistência à corrosão ser limitada.

O seu preço é acessível e é fácil de moldar, contudo não se prescinde da necessidade de efetuar

soldaduras.

O aço inoxidável, apesar do seu elevado custo, é uma boa opção. Este material é resistente à

oxidação e promove uma boa qualidade do ar.

O alumínio é o material menos suscetível à corrosão, com baixo coeficiente de atrito e leve, o

que facilita o manuseamento. É também o material mais versátil e com uma longa duração. (Ingersoll

Rand, 2016)

A inclinação da tubagem é um fator a ter em conta para evitar acumulações de água e resíduos

no interior da tubagem. Assim é aconselhável uma inclinação entre 0,5 e 2%. (Parker Hannifin

Corporation, 2006)

Por fim, o diâmetro é selecionado para que a velocidade no interior da tubagem seja inferior a

6 m/s. Para este cálculo é utilizada a Equação 1, onde é calculado o diâmetro da tubagem, D, sabendo

o caudal de ar comprimido, Q, e a velocidade pretendida, v. (Geankoplis, 1993)

𝑄 = 𝑣 ×𝜋𝐷2

4 Equação 1

Em circuitos fechados recomenda-se que o diâmetro da tubagem de alimentação ao circuito

seja duas vezes superior ao diâmetro das tubagens do anel.

Para evitar a corrosão das tubagens aconselha-se a pintura das mesmas com uma tinta

protetora. A cor aconselhada para tubagens de ar comprimido, de acordo com a norma português NP-

182, é o azul claro. (Instituto Português da Qualidade, 1966)

2.2.2.2. Ramificações da Tubagem

As ramificações, Figura 12, nas tubagens principais devem ser sempre feitas pela parte

superior, pois desta forma é possível minimizar o arrastamento de condensados da tubagem principal

para as ramificações. Assim, é possível aumentar a longevidade dos equipamentos que utilizam ar

comprimido.

Figura 12 - Exemplo de ramificação correta de uma tubagem.

(IEFP)

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2.2.2.3. Acessórios

Ao longo das tubagens são utilizados acessórios para reduzir diâmetros de tubagens, cotovelos

para efetuar curvas, tês para dividir correntes, ou válvulas de corte, entre outros. Este tipo de acessórios

devem ser minimizados, pois todos eles implicam perda de carga do ar comprimido.

A união dos acessórios nas tubagens deve ser feita da melhor forma possível, para que não se

torne um ponto de fuga. Estas uniões podem ser feitas por flanges, roscas ou soldadas.

Quando utilizadas uniões por rosca é fundamental serem isoladas por fita adesiva (PTFE),

vulgarmente denominada Teflon.

As uniões soldadas são as mais aconselhadas devido à fiabilidade do isolamento e não

necessitam de manutenção. Por vezes não podem ser utilizadas, devido à natureza do material utilizado

ou devido ao carácter definitivo, pois não é possível desmontar a tubagem.

As ligações flangeadas são uma opção dispendiosa e, por vezes, a vedação não é a mais

eficaz. Normalmente são utilizadas em tubagens de diâmetro superior a 2 polegadas. (Novais, 2014)

Cotovelos

Os cotovelos, Figura 13, são acessórios para efetuar as curvas do percurso da rede de ar

comprimido. A seleção do ângulo de curva do cotovelo deve ser feita de modo a que a perda de

turbulência seja mínima. Deste modo, o raio da curva deve ser equivalente ao dobro do valor do

diâmetro externo da tubagem. (Parker Hannifin Corporation, 2006)

Válvulas

As válvulas são utilizadas para o corte de um troço da rede ou para controlo do fluxo que passa

num determinado ponto. Estes acessórios devem ser corretamente dimensionados ao local onde serão

colocados e devem ser estudados de forma a evitar perdas de carga desnecessárias. Existem

diferentes tipos de válvulas para os diferentes pontos onde estas serão colocadas.

Figura 13 - Exemplo de cotovelo de uma rede de ar comprimido.

(Legris - Transair, 2005)

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Válvulas de Globo

São utilizadas para regulação do fluxo e, como tal, devem ser minimizadas devido às perdas

de cargas que provocam na corrente, Figura 14.

Válvulas de Esfera

Este tipo de válvulas, Figura 15, é o mais aconselhado para as redes de ar comprimido. As

válvulas de esfera são válvulas de corte e, como tal, apenas têm duas posições, ou totalmente abertas

ou totalmente fechadas. Este tipo de válvulas tem uma perda de carga muito inferior às anteriormente

mencionadas.

a) b) c) d)

Figura 14 - Válvula globo a) Totalmente aberta; b) e c) Semiaberta; d) Totalmente fechada. (The Flow Control Valves,

2016)

Figura 15 - Válvula de esfera. (Volk Flow

Controls Inc., 2003)

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30

Válvulas de Cunha

As válvulas de cunha, Figura 16, são muito semelhantes às válvulas de globo, pois o seu

funcionamento resume-se a duas posições, totalmente abertas ou totalmente fechadas. No entanto, a

válvula de globo possui uma maior durabilidade e necessita de menos intervenções.

2.2.2.4. Filtro-Regulador-Lubrificador (FRL)

Para garantir a qualidade do ar à entrada dos equipamentos de uso final são utilizados FRL,

Figura 17. Como o nome indica, este equipamento filtra, regula e lubrifica o ar comprimido antes de

entrar nos equipamentos.

A filtração serve para remover as partículas que foram arrastadas pelo ar ao longo do percurso

desde a produção e também retém a condensação que se formou. A regulação serve para atenuar as

variações de pressão que existam na rede e garantir que a pressão que é alimentada ao equipamento

é constante. A lubrificação serve para colocar no ar comprimido uma percentagem de óleo que irá

diminuir o atrito e lubrificar os equipamentos por onde o ar passa, aumentando-lhes o tempo de vida.

(PneumaticTips, 2012)

Figura 16 - Válvula de cunha. (The

Free Dictionary, 2003)

Figura 17 - Filtro-Regulador-Lubrificador.

(Draper Tools, 2016)

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31

2.2.2.5. Purgadores

Os Purgadores são utilizadas para reter a condensação ao longo da tubagem de ar comprimido.

Estas devem ser colocadas nos pontos mais baixos da rede para aproveitar a ação gravítica para a

recolha de condensados. Devem também ser colocadas com distâncias entre elas de cerca de 20-30

metros. (Parker Hannifin Corporation, 2006)

A seleção do tipo de purgador é essencial para a remoção correta de condensados. O

dimensionamento deficitário ou uma manutenção descuidada podem comprometer as mais-valias

concedidas por um purgador.

Válvulas Solenoides Elétrico

Estas válvulas, Figura 18, estão programadas para abrir durante um determinado período de

tempo, removendo todos os condensados existentes. Estas válvulas são vantajosas devido à reduzida

manutenção que acarretam. Contudo, só devem ser utilizadas em redes muito bem dimensionadas,

pois se a válvula estiver aberta tempo a mais, será desperdiçado ar desnecessário e, se pelo contrário,

estiver aberta tempo a menos, os condensados não serão removidos na totalidade e existirá uma

acumulação de condensados na rede.

Figura 18 - Purgador de válvula solenoide.

(Jefferson)

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32

Válvulas Flutuador Mecânico

Os condensados são enviados para um reservatório pulmão e quando atingido um nível, o

flutuador sobe, eliminando os condensados. Este tipo de purgador, Figura 19, requer uma grande

manutenção, pois um pequeno desajuste no flutuador irá originar uma grande perda de ar comprimido.

Purgador de Válvula Manual

Estos Purgadores são as que contêm a configuração mais simples, e como tal são também as

mais económicas. Consistem num depósito colocado na rede de ar comprimido que tem uma válvula

manual na sua base. Para este tipo de Purgadores é necessário a execução de rotinas de forma a

garantir que a remoção de condensados é feita de forma periódica.

2.3. O Consumo de Ar Comprimido

O ar comprimido é a forma de transformação da energia elétrica em energia mecânica. Esta

transformação é bastante benéfica para a indústria, pois permite a sua utilização em situações em que

nenhuma outra pode ser utilizada. O ar comprimido é utilizado na pneumática, ou por outras palavras,

na “transmissão de potência através de atuadores”. (Novais, 2014)

A pneumática é bastante vantajosa por ser mais simples e por ter maior rendimento. Pode

também considerar-se uma vantagem o baixo custo de utilização, quando bem mantida, o que nem

sempre se verifica. (Fialho, 2003)

Com o ar comprimido, por ser proveniente do ar atmosférico, não há risco de poluição

ambiental. Como tal, nas indústrias farmacêutica e alimentar, em que as restrições são elevadas, o ar

comprimido é uma fonte de energia bastante requerida.

Em indústrias que têm atmosferas explosivas, vulgarmente denominadas de zonas ATEX, o

perigo de explosão é elevado, devido à natureza dos materiais que se trabalham. Assim, neste tipo de

indústrias, o ar comprimido é uma das energias utilizadas, pois minimiza o risco de explosão por não

Figura 19 - Purgador de válvula flutuador. (Kaeser

Compressors, 2015)

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33

ser fonte de ignição e permite a utilização de ferramentas pneumáticas que facilitam o trabalho dos

operadores fabris. (IndusMelec, 2013 )

O ar comprimido está entre as quatro utilidades mais requeridas na indústria. Como uma das

suas principais matérias-primas é o ar atmosférico, logo abundante, a sua produção não é posta em

causa. É também uma utilidade requisitada devido à sua facilidade de transporte e armazenamento.

Contudo, o ar comprimido é uma das utilidades em que mais se desperdiça energia. Ao longo

de dez anos de trabalho de um compressor, cerca de 70% do custo total refere-se à energia elétrica

consumida (Figura 20).

Da energia elétrica consumida por um compressor, apenas 15% é utilizada diretamente para a

produção de ar comprimido. A restante energia é perdida na forma de calor, fricção, má utilização e

ruído (Figura 21). (Electrical Energy Equipment: Compressors and Compressed Air Systems, 2006)

Para minimizar os desperdícios nos sistemas de ar comprimido é importante uma gestão

correta da rede de ar comprimido, estando sempre atualizado e adaptando o sistema às melhorias

existentes.

Figura 20 - Distribuição de custos em compressores durante 10 anos.

(Carbon Trust, 2005)

Figura 21 - Distribuição da energia fornecida para o processo de compressão.

(Compressed air systems' waste heat improves plant economics, 2011)

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Tendo em conta que 90% das indústrias instaladas utilizam ar comprimido como utilidade

direta ou indiretamente, e que 3% da energia elétrica consumida nas indústrias europeias é destinada

à produção de ar comprimido, a sua otimização é fundamental. (Silvent, 2013)

A produção de ar comprimido, apesar de não ser dos custos mais significativos nas indústrias,

é aquele que contém uma margem de otimização maior e, por este motivo, é uma de oportunidades de

aumentar a margem de lucro empresarial. (Radgen, et al., 2001)

2.3.1. Medidas Para Otimizar Redes de Ar Comprimido

Para a otimização de uma rede de ar comprimido primeiramente é necessário conhecer a rede

existente e as capacidades dos equipamentos que nela estão inseridos. Para isso é importante recorrer

às especificações dos equipamentos de produção e tratamento de ar comprimido e verificar se todas

as potencialidades estão a ser utilizadas. É fundamental também analisar os constituintes da rede de

distribuição e as condições em que ela opera.

Depois de analisada a rede que se está a otimizar é necessário avaliar os pontos que são

possíveis de melhorar. Estes pontos encontram-se referidos em inúmeras bibliografias e estão

resumidos na Figura 22.

2.3.1.1. Pontos de Fuga

A redução dos pontos de fuga é das medidas mais rápidas de executar. As fugas em redes de

ar comprimido excelentemente mantidas não ultrapassa os 5% e em redes com baixa manutenção

pode atingir os 20% da produção total de ar comprimido. (Atlas Copco, 2015)

A eliminação de fugas é conseguida a partir de uma inspeção cuidada de toda a rede de ar

comprimido e reparação ou substituição dos materiais obsoletos. A inspeção de fugas nem sempre é

fácil, pois em zonas industriais ruidosas, ou quando as fugas são de pequenas dimensões, a deteção

não é possível. Por este motivo, inúmeros fabricantes comercializam equipamentos de deteção de

fugas por ultrassons (Figura 23).

Figura 22 - Distribuição de utilização e potenciais pontos de melhoria de redes de ar comprimido.

(Sustainability Victoria, 2009), (Atlas Copco, 2012)

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35

A aquisição deste tipo de equipamentos é rentável pois podem ser utilizado posteriormente

para manutenção da rede e rotinas de inspeção.

Rotinas de Inspeção

As rotinas de inspeção são uma das estratégias utilizadas na metodologia Kaizen® para

implementação da Manutenção Autónoma. A Manutenção Autónoma consiste em criar ferramentas

para que quem trabalha diariamente com os equipamentos esteja capacitado a realizar algum tipo de

manutenção preventiva, de forma a minimizar os problemas e proporcionar reparações rápidas e de

menor dimensão e custo. (Kaizen Institute, 2016)

Para uma correta implementação de Manutenção Autónoma existem vários passos a seguir,

como está esquematizado na Figura 24.

Inicialmente é importante “restaurar a condição inicial do equipamento”. No caso da rede de ar

comprimido consiste em verificar toda a rede, desde os equipamentos de produção até diversos pontos

de uso final. Neste ponto, não se considera a substituição de equipamento, mas sim a tentativa de

colocar a rede nas melhores condições possíveis para a empresa.

Figura 23 - Equipamento de deteção de fugas.

(Sonotec, 2016)

Figura 24 - Passos para a implementação de rotinas de inspeção.

(Kaizen Institute, 2016)

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36

De seguida é feita uma análise de pontos que possam afetar o funcionamento da rede e eliminá-

los.

Por fim são construídas as rotinas de inspeção. Esta ação consiste em criar circuitos que

cobrem determinadas zonas da rede de ar comprimido e na programação da realização das inspeções.

Nestes circuitos, é verificado o estado da rede e assinaladas todas as reparações ou substituições

necessárias.

No caso das redes de ar comprimido industriais, existe algum material específico que deve ser

utilizado, como por exemplo, uma lanterna e um detetor de fugas, como o referido anteriormente.

Depois de construídas e planeadas as rotinas de inspeção é necessário dar formação aos

operadores. Esta formação deve incidir em pontos técnicos, tais como a manutenção dos equipamentos

e a utilização de ferramentas técnicas, não esquecendo que é importante explicitar a pertinência da

Manutenção Autónoma e como deve ser feita, para que sejam obtidos resultados.

Na implementação destas rotinas deve-se analisar quais os pontos da rede mais deficitários

em manutenção e optar por iniciar as rotinas por estes pontos. Assim os resultados obtidos serão

visíveis mais rapidamente e a motivação para a execução de Manutenção Autónoma torna-se mais

simples.

Esta ação pode gerar economias de energia entre os 15 a 50%. (Voltimum, 2009)

2.3.1.2. Eliminação de pontos obsoletos

Em ambientes industriais, é natural existirem diversas melhorias aos processos principais, ou

seja, existem equipamentos que se tornam inutilizados e o aparecimento de novos. Assim, as redes de

utilidades, como é o caso do ar comprimido, têm de se adaptar a estas alterações.

Estas alterações conduzem à existência de zonas da rede de ar comprimido que se tornam

obsoletas, isto é, zonas que já não são utilizadas e que por este motivo não são necessárias. Assim, a

eliminação destes pontos reduz a dimensão da rede de ar comprimido, diminuindo os pontos com

probabilidade de fuga e os pontos com necessidade de manutenção.

Esta ação não irá gerar economias visíveis e quantificáveis, mas irá evitar investimentos

desnecessários a longo prazo.

2.3.1.3. Correção da Pressão de Trabalho

A pressão de trabalho de um sistema de ar comprimido é definida pelos equipamentos de uso

final. O equipamento que requer maior pressão de trabalho será o que irá definir o valor da pressão de

trabalho. O valor da pressão requerida nos equipamentos é definido pelos fornecedores dos mesmos.

A redução de 1 bar na pressão de trabalho poderá originar até 8% de economia de energia.

(Voltimum, 2009)

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37

2.3.1.4. Recuperação de Calor

Como esquematizado na Figura 21, existe uma grande oportunidade de reaproveitar o calor

gerado na produção de ar comprimido. O calor pode ser recuperado instalando permutadores de calor

para o aquecimento de ar ambiente ou para o aquecimento de fluídos necessários para os processos

industriais (Figura 25).

Esta ação pode gerar economia de cerca de 60% da energia produzida. (Voltimum, 2009)

2.3.1.5. Diminuição da Temperatura de Admissão

A temperatura do ar de admissão é a temperatura ambiente da sala onde se encontram os

compressores. A temperatura do ar influencia a quantidade de ar que é admitida ao compressor. Por

este motivo, quanto menor for a temperatura de admissão, maior será a quantidade de ar alimentado

por unidade de tempo o que irá produzir maior quantidade de ar comprimido por unidade de tempo.

Assim, por cada 4 C reduzidos à temperatura de admissão irá reduzir-se 1 % na energia

consumida. (Electrical Energy Equipment: Compressors and Compressed Air Systems, 2006)

2.3.1.6. Ajuste da Humidade e de Impurezas

A humidade e as impurezas que se encontram no ar de admissão têm de ser removidas de

acordo com as necessidades dos equipamentos de uso final. Contudo, um tratamento excessivo do ar

comprimido torna-se um gasto desnecessário e perdas de carga elevadas. Assim, é importante verificar

qual o equipamento com a especificação mais restrita e adequar o tratamento.

Esta ação pode economizar até 5% de energia. (Voltimum, 2009)

2.3.1.7. Colocação de Reservatórios pulmão de Ar Comprimido

Figura 25 - Exemplos de utilização do calor reaproveitado na produção de ar comprimido.

(Voltimum, 2009)

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38

Existem equipamentos que, devido à sua utilização, a sua necessidade é bastante variável.

Para evitar arranques desnecessários dos compressores aconselha-se a colocação de reservatórios

pulmão para colmatar as necessidades destes equipamentos.

Esta ação não desencadeia economias diretamente mensuráveis, mas evita o arranque

repetido dos compressores, reduzindo a energia desperdiçada nos arranques desnecessários.

(Voltimum, 2009)

2.3.1.8. Criação de Alternativas ara Aspiração

O ar comprimido é bastante solicitado como acessório de limpeza, pois, devido à força com

que o ar circula, é bastante utilizado para eliminação de poeiras. Este tipo de utilização não é a mais

aconselhada, pois o ar comprimido apenas levanta as partículas e é uma fonte de patologias

respiratórias para o utilizador.

Assim, neste tipo de utilização aconselha-se o uso de aspiradores elétricos, que além do

benefício para as condições de trabalho dos operadores, contribui com cerca de 40% para a economia

energética. (Voltimum, 2009)

2.3.1.9. Manutenção de Filtros e Purgadores

Filtros e purgadores são pontos com elevada perda de carga, como tal exigem uma

manutenção elevada. A acumulação de impurezas nos filtros é um ponto de perdas de carga.

Assim, é importante uma manutenção periódica neste tipo de equipamentos, de forma a

diminuir as perdas de carga e economizar cerca de 2% de energia.

Com estas medidas é possível reduzir e rentabilizar a energia consumida na produção de ar

comprimido, otimizando o sistema e melhorando a qualidade do ar que nele circula.

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3. Análise de Caso Prático – Iberol S.A.

A Iberol S.A. usufrui de uma rede de ar comprimido bastante vasta e com bastante importância

para o funcionamento dos processos. A rede de ar comprimido permite a utilização de raseiras

oscilantes nos silos mistos, a utilização de electroválvulas para controlo processual, entre outros pontos

essenciais.

Estima-se que a empresa gaste cerca de 35 000 € por ano em produção de ar comprimido e

cerca de 10 000 € por ano em manutenção de compressores. Por este motivo é de todo o interesse

analisar a rede de ar comprimido existente e os pontos de melhoria possíveis.

3.1. Rede de Ar Comprimido Existente

Como referido, a rede de ar comprimido na empresa é vasta. Como tal é fundamental saber

todos os caminhos percorridos pelas tubagens e quais as origens e destinos das mesmas.

Anteriormente a Julho de 2015 o conhecimento em registo sobre a rede de ar comprimido da

Iberol era quase inexistente. Os pontos conhecidos da rede cingiam-se à sala de produção de ar

comprimido e ao funcionamento dos compressores.

Com isto, e de forma a atenuar esta situação, foi iniciado o estudo da rede de ar comprimido.

Para isso recorreu-se à colaboração de um estagiário de curta duração para que fosse possível mapear

toda a rede de ar comprimido.

Assim, no decorrer dos meses de Julho e Agosto, foi possível mapear grande parte da rede de

ar comprimido.

No início do mês de Setembro, com a integração no trabalho a desenvolver, foi terminado o

mapeamento e verificaram-se todos os pontos de forma a garantir que todos os percursos estavam

corretamente representados, Anexo II. Para uma correta análise posterior da rede de ar comprimido,

foram identificados os diâmetros das tubagens e os materiais.

3.1.1. Sala de Produção de Ar Comprimido

A sala de produção de ar comprimido situa-se no extremo norte da unidade fabril, Anexo I –

21, contígua com a central de vapor e o armazém de manutenção.

Para a produção de ar comprimido estão disponíveis cinco compressores rotativos, onde um

deles contem um variador de velocidade que permite a adaptação da quantidade de ar comprimido

produzida às necessidades existentes em cada momento (Tabela 3).

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40

Tabela 3 - Especificações dos compressores existentes. (Atlas Copco)

Compressor Marca Potência

(kW)

Caudal volumétrico

(m3/min)

Pressão de trabalho

(bar)

GA 18 FF Atlas Copco 18 2,37 – 3,39 7,3 – 12,8

GA 37 Atlas Copco 37 5,1 – 7,3 7,5 – 13

GA 37 VSD Atlas Copco 37 1,6 – 7,4 4 – 13

GA 30 Atlas Copco 30 4,3 – 5,9 7,5 – 13

GA 15 Atlas Copco 15 1,94 – 2,74 7,5 – 13

A gestão da utilização dos compressores é feita consoante as necessidades de ar comprimido.

O compressor principal é o compressor GA 37 VSD, por ser um compressor com variador de

velocidade. O variador de velocidade permite o ajuste do caudal às necessidades do sistema e que

exista uma economia de energia associada a esse ajuste. Quando o caudal máximo atingido pelo

compressor GA 37 VSD não é suficiente para as necessidades dos processos, o compressor GA 37 é

ligado ao caudal máximo e o caudal do GA 37 VSD é ajustado ao valor em défice.

Assim o ar atmosférico é alimentado aos compressores. O ar comprimido produzido a 7 bar

segue para os reservatórios pulmão. O ar comprimido antes de seguir para o consumidor final é

alimentado a um secador, Tabela 4, para retirar a humidade existente, e por filtros coalescedores,

Tabela 5, para remoção de partículas.

Tabela 4 - Especificações do secador de ar comprimido existente. (Atlas Copco)

Marca Modelo

Caudal volumétrico

máximo à saída

(m3/min)

Perda de

carga

(bar)

Pressão de

trabalho máxima

(bar)

Consumo de

energia

(kW)

Atlas

Copco FD 280 16,8 0,24 13

3,7

Tabela 5 - Especificações filtro de ar comprimido existente. (Atlas Copco)

Marca Modelo Caudal volumétrico

(m3/min)

Atlas Copco DD 280 16,8 – 21

Atlas Copco PD 280 16,8 – 21

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Teoricamente, obtém-se ar comprimido a alimentar os equipamentos de uso final com as

especificações indicadas na Tabela 6.

Tabela 6 - Qualidade do ar comprimido obtida. (Atlas Copco)

Componente Classe qualidade obtida

Água 4

Partículas 1

Óleo 1

3.1.1.1. Caracterização do Ar Atmosférico Alimentado e do Ar Comprimido

Produzido

Com o objetivo de avaliar as condições de trabalho, foram medidos alguns parâmetros do ar

atmosférico à entrada dos compressores e do ar comprimido à saída do filtro. Para isso, recorreu-se a

um equipamento disponível em armazém, Figura 26, e foi possível medir a temperatura, o ponto de

orvalho e a humidade relativa.

Após a recolha dos dados que se encontram nos Anexos III e IV, foi possível verificar os valores

máximos e mínimos atingidos e o valor médio para cada parâmetro nos dois pontos. Estes valores

encontram-se na Tabela 7 e Tabela 8.

Figura 26 - Medidor de temperatura e

humidade do ar. (Amprobe)

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Tabela 7 - Resumo de dados recolhidos para o ar atmosférico.

Ar atmosférico

Pressão atmosférica

(bar)

Temperatura

(C) %Hrelativa

Ponto de orvalho

(C)

Máximo 1,03 24,60 77,10 17,60

Mínimo 1,02 17,80 32,80 4,20

Valor médio 1,03 21,14 53,70 11,03

Tabela 8 - Resumo de dados recolhidos para o ar comprimido.

Ar comprimido

Pressão do compressor

(bar)

Temperatura

(C) %Hrelativa

Ponto de orvalho

(C)

Máximo 7,90 21,50 28,80 1,70

Mínimo 7,70 12,40 9,40 -15,70

Valor médio 7,83 16,86 16,66 -8,84

3.1.2. Distribuição de Ar Comprimido

A distribuição de ar comprimido na unidade fabril é feita por tubagens de aço carbono e por

tubagens flexíveis.

A rede é composta por válvulas de corte de globo, cunha e esfera, dois reservatórios pulmão,

filtros-reguladores-lubrificadores, Purgadores e indicadores de pressão, como representados nos

diagramas do Anexo II.

Como referido anteriormente, a rede de ar comprimido é alimentada aos diversos equipamentos

da unidade, Figura 27.

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43

3.1.3. Consumo de Ar Comprido

O consumo de ar comprimido na Iberol S.A. não é diretamente mensurável. Existe uma forma

indireta de estimativa de consumo a partir do consumo de energia da sala de produção de ar

comprimido. No consumo de energia da sala de produção de ar comprimido é conseguido através da

leitura do contador de energia.

O contador de energia referido engloba o consumo energético dos equipamentos relativos à

produção de água osmotizada. Por este motivo, a forma de obter um consumo de energia para a

produção de ar comprimido mais aproximado do valor real será retirando o consumo energético relativo

à produção de água osmotizada.

A estimativa do consumo energético referente a cada secção é um ponto fundamental para

definir a estratégia a ter na otimização da rede de ar comprimido.

3.1.3.1. Testes Práticos ao Consumo de Ar Comprimido

Uma forma de estimar os consumos de ar comprimido será pela realização de testes com

diferentes cenários de consumo, fazendo leituras consecutivas dos contadores energéticos.

Como referido anteriormente, ao longo da rede existem dois depósitos de ar comprimido que

permitem o isolamento de determinadas zonas da rede. Com estes depósitos, é possível cortar a

alimentação de ar comprimido aos silos mistos, à preparação e à extração.

Assim foi criado um esquema da estratégia a tomar, Figura 28.

Sala de produção de ar

comprimido

Manutenção

Central de Vapor

Parque de Tanques

UPB

Extracção Preparação

Silos Armazéns

Figura 27 - Esquema de distribuição da rede de ar comprimido na unidade fabril.

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A estratégia a tomar consiste em isolar os diferentes consumidores fazendo contagens em

intervalos de tempo controlados, t1. Como só é possível isolar dois dos consumidores, a Preparação-

Extração (P/E) e os silos Mistos e Armazéns (SM/A), existe um grupo de consumidores que não será

possível determinar, a UPB, Central de Vapor, Parque de Tanques e Manutenção (UPB+CV

+PT+Manut).

A Ação 1 consiste em determinar o consumo energético do grupo maior, isto é,

UPB+CV+PT+Manut, fechando ambos os reservatórios pulmão e assim toda a energia consumida será

direcionada para abastecer estas duas secções, Equação 2.

𝐸𝑈𝑃𝐵+𝐶𝑉 = 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 2 − 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 1 Equação 2

Contagem 4

- Fazer leitura

de contadores

de energia

Ação 3

- Fechar o reservatório pulmão

de ar comprimido da

Preparação – Extração;

- Abrir o reservatório pulmão de

ar comprimido dos Silos Mistos

e Armazéns.

Contagem 5

- Fazer leitura

de contadores

de energia

t1

Contagem 6

- Fazer leitura

de contadores

de energia

t2

Ação 4

- Abrir o reservatório pulmão

de ar comprimido da

Preparação – Extração;

- Abrir o reservatório pulmão de

ar comprimido dos Silos Mistos

e Armazéns.

t2

Contagem 7

- Fazer leitura

de contadores

de energia

Contagem 8

- Fazer leitura

de contadores

de energia

t1

Ação 1

- Fechar o reservatório pulmão

de ar comprimido da

Preparação – Extração;

- Fechar o reservatório pulmão

de ar comprimido dos Silos

Mistos e Armazéns.

Contagem 1

- Fazer leitura

de contadores

de energia

t1

Contagem 2

- Fazer leitura

de contadores

de energia

Ação 2

- Abrir o reservatório pulmão

de ar comprimido da

Preparação – Extração;

- Fechar o reservatório pulmão

de ar comprimido dos Silos

Mistos e Armazéns.

t2

Contagem 3

- Fazer leitura

de contadores

de energia

t1

Figura 28 - Esquema de estratégia de testes de consumo energético, onde t1 é o intervalo de tempo de teste e t2 é o intervalo de tempo entre

testes.

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45

Com o valor obtido anteriormente, é possível determinar os consumos dos outros

consumidores. Para isso, primeiramente abre-se o reservatório pulmão que alimenta a P/E, Ação 2.

Para a leitura inicial, Contagem 5, é necessário deixar o sistema estabilizar, t2, para que sejam repostas

as condições iniciais do sistema. Desta forma é possível determinar o consumo de P/E de acordo com

a Equação 3.

𝐸𝑃/𝐸 = (𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 4 − 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 3) − 𝐸𝑈𝑃𝐵+𝐶𝑉 Equação 3

Para o consumo energético para a produção de ar comprimido para o consumidor SM/A, Ação

3, o procedimento é semelhante ao procedimento executado para o consumidor P/E, mas utilizando a

Equação 4.

𝐸𝑆𝑀/𝐴 = (𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 6 − 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 5) − 𝐸𝑈𝑃𝐵+𝐶𝑉 Equação 4

De forma a verificar todos os valores anteriormente calculados recorre-se à Ação 4. A

confirmação destes valores é feita se a igualdade representada na Equação 5 for cumprida.

𝐸𝑆𝑀/𝐴 + 𝐸𝑈𝑃𝐵+𝐶𝑉 + 𝐸𝑃/𝐸 = (𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 8 − 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 7) Equação 5

Para a seleção dos tempos corretos para se obter resultados coerentes, é necessário avaliar a

sensibilidade da evolução dos contadores energéticos.

A sensibilidade dos contadores pode ser avaliada retirando valores dos contadores de dias

semelhantes e verificando a variação que ocorre. Com esta variação pode-se calcular o tempo

necessário para realizar os testes.

Para a avaliação dos contadores energéticos recorreu-se ao histórico das leituras dos

contadores. Os dias selecionados para a avaliação foram dias em que as produções das várias secções

são similares às produções previstas para os dias de testes.

Assim, foram selecionados 12 dias, num histórico de quatro anos, Anexo V. É importante referir

que os algarismos visíveis nos contadores são os seis primeiros, os restantes referem-se a acertos de

unidades. Em seguida, foi analisada a sua evolução horária, de modo a determinar qual o número de

horas necessárias. Para que a evolução do contador seja visível é necessária a evolução do sexto

algarismo. Verificou-se que o tempo ideal de teste seria de cerca de dez horas de análise, isto é, t1 =

10 horas.

A determinação do valor de t2 é um pouco mais subjetiva. Assim, é importante garantir que a

evolução do contador é de um dígito, para que não haja erros devido aos valores de perdas. Assim, o

valor mínimo de t2 será de três horas, isto é, t2 = 3 horas.

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46

Após esta análise, verificou-se que, para que o teste seja feito com as mesmas condições de

trabalho em todas as etapas, é necessário que a unidade fabril mantenha as mesmas condições

durante 49 horas consecutivas, ou seja dois dias. Como é necessário uma repetição dos testes para

confirmação dos valores obtidos no primeiro, o tempo necessário do ensaio é de 98 horas, ou seja

quatro dias.

As condições necessárias para o teste incluem a paragem dos processos de preparação e

extração e também a paragem de todas as cargas e descargas de materiais, pois os cortes de ar

comprimido implicam a inutilização dos equipamentos.

Como não foi possível obter as condições ideais para o teste durante as 78 horas necessárias,

optou-se por efetuar um teste com tempos inferiores. Para este teste, utilizaram-se intervalos entre

contagens de duas horas, t1 = 2 horas, e tempos de intervalos entre testes de quinze minutos, t2 = 0,25

horas.

No entanto, os valores obtidos não foram concordantes e não permitiram obter consumos de

ar comprimido. Contudo, ficou verificado que os tempos iniciais são os mais adequados para a

execução de ensaios futuros.

3.1.3.2. Modelo de Estimativa de Consumos de Ar Comprimido

Um outro método de determinação de consumos de ar comprimido é com base no histórico de

consumos.

Neste modelo, o objetivo é atribuir consumos de ar comprimido de acordo com os consumos e

produções de matérias-primas e produtos. Para isso, foi possível reunir consumos de matérias-primas,

produções e consumos energéticos associados. Foi possível construir um histórico desde setembro de

2013 (Figura 29).

0

500

1000

1500

2000

2500

09/2

013

12/2

013

04/2

014

07/2

014

10/2

014

01/2

015

05/2

015

08/2

015

11/2

015

kWh

Figura 29 - Histórico de consumos energéticos diários, os valores do eixo das ordenadas

encontram-se omitidos por questões de confidencialidade.

Page 48: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

47

Como se verifica no gráfico da Figura 29, existe uma queda no consumo energético de ar

comprimido no final de 2013 que se mantém até à atualidade. A elevação do consumo durante o período

de 2013 pode dever-se a utilização de ferramentas pneumáticas para execução de obras de unidade

fabril ou por outro motivo que levou ao consumo excessivo de ar comprimido. Por este motivo, optou-

se por não incluir os dados relativos ao período em questão.

Assim, os valores considerados para a construção do modelo foram de 6 de Fevereiro de 2014

a 30 de Dezembro de 2015. Optou-se por utilizar os consumos a partir de 31 de Dezembro de 2015

para testar o modelo obtido.

0

500

1000

1500

2000

2500

09/2

013

12/2

013

04/2

014

07/2

014

10/2

014

01/2

015

05/2

015

08/2

015

11/2

015

kWh

Figura 30 - Representação de pontos diários não incluídos no modelo, os valores do eixo das

ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade.

Page 49: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

48

Para a criação do modelo, os dias correspondentes a arranques e paragens também devem

ser desprezados pois são dias de consumos elevados de ar comprimido e que não correspondem ao

consumo real corrente. Para avaliar o consumo ou produção normal de cada processo, calcularam-se

quais os outliers de cada distribuição normal.

Os outliers são os pontos que se encontram desviados da distribuição normal dos pontos

experimentais. Para o cálculo destes pontos utilizou-se o método do desvios-quartil. Assim, calculou-

se, para cada conjunto de dados, a mediana, o quartil inferior e o quartil superior. Estes cálculos podem

ser representados por gráficos Boxplot (Figura 32; Figura 33).

0

200

400

600

800

100 0

120 0

140 0

160 0

180 0

02

/20

14

05

/20

14

08

/20

14

12

/20

14

03

/20

15

06

/20

15

10

/20

15

ton

/h

Produção óleo neutro Produção Biodiesel GS consumido Farinha

GS consumido fullfat SC consumida

Figura 31 - Consumos e produções diárias dos diferentes processos, GS – Grão de Soja; SC – Semente de Colza, os valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de

confidencialidade.

Page 50: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

49

A avaliação dos pontos seguiu alguns critérios, os quais são, seguidamente, reportados.

Considerou-se a produção do óleo neutro como um todo, em vez de os especificar por tipo de

óleo, pois estes são produzidos com base numa determinada composição definida de acordo com o

cliente a que se destinam.

Figura 32 - Modelo de Boxplot. (Silva, 2011)

02

/20

14

05

/20

14

08

/20

14

12

/20

14

03

/20

15

06

/20

15

10

/20

15

01

/20

16

0

200

400

600

800

100 0

120 0

140 0

160 0

180 0

ProduçãoBiodiesel

GS consumidoFarinha

GS consumidofullfat

SC consumida Produção óleoneutro

ton

/h

Produção óleo neutro Produção Biodiesel GS consumido Farinha

GS consumido fullfat SC consumida

Figura 33 - Gráficos Boxplot para os diferentes consumos e produções diários, os valores do eixo

das ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade.

Page 51: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

50

Quanto à semente de colza e ao grão de soja, por não ser fácil e rigorosa a medição da

produção do processo, optou-se por se basear na semente consumida em cada um dos casos.

Assim, depois de retirar os outliers a cada processo, obteve-se o gráfico da Figura 35.

Após esta análise, é importante também ter em conta os dias de uso extraordinário de ar

comprimido devido a obras ou para trabalhos inesperados. A forma de analisar esses pontos é fazendo

02

/20

14

05

/20

14

08

/20

14

12

/20

14

03

/20

15

06

/20

15

10

/20

15

01

/20

16

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

650

700

750

800

850

900

950

100 0

105 0

110 0

115 0

120 0

125 0

130 0

135 0

140 0

145 0

150 0

155 0

160 0

165 0

170 0

175 0

180 0

ProduçãoBiodiesel

GS consumidoFarinha

GS consumidofullfat

SC consumida Produção óleoneutro

ton

/h

Produção óleo neutro Produção Biodiesel GS consumido Farinha

GS consumido fullfat SC consumida

Figura 35 - Gráficos Boxplot para os diferentes consumos e produções diárias removendo os

outliers, os valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de

confidencialidade.

02

/20

14

05

/20

14

08

/20

14

12

/20

14

03

/20

15

06

/20

15

10

/20

15

0

200

400

600

800

100 0

120 0

140 0

160 0

180 0

200 0

kWh

Figura 34 - Gráficos Boxplot para o consumo de energia elétrica diários, os valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade.

Page 52: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

51

uma avaliação aos outliers semelhante à executada anteriormente, mas para a energia elétrica

consumida na sala de produção de ar comprimido (Figura 34).

Na Figura 36, encontram-se os pontos que foram considerados para o modelo, removendo os

outliers anteriormente mencionados.

O modelo a construir tem como objetivo o cálculo dos consumos de ar comprimido específicos

para cada processo e também a estimativa de energia desperdiçada em fugas de ar comprimido. Para

isso, foram assumidos alguns pressupostos:

O valor correspondente ao desperdício energético em fugas de ar comprimido é

constante, isto é, é independente dos processos a operar, pois a pressão nas tubagens

e a dimensão dos orifícios são constantes;

A eficiência dos compressores é um valor percentual constante.

Para a construção do modelo, visto que o contador de energia elétrica não é apenas dos

compressores e engloba também o secador de ar comprimido, é necessário ter em conta alguns outros

parâmetros. Assim, o modelo irá englobar os parâmetros descritos na Equação 6.

𝐸𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎 = 𝐸𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠𝑜𝑟𝑒𝑠 + 𝐸𝑠𝑒𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟 [𝑘𝑊ℎ] Equação 6

A energia gasta pelos compressores tem em conta tanto a energia transferida para o ar

comprimido na compressão mas também a energia desperdiçada devido à ação de compressão.

Estima-se que cerca de 70% da energia gasta por um compressor é desperdiçada de inúmeras formas.

02

/20

14

05

/20

14

08

/20

14

12

/20

14

03

/20

15

06

/20

15

10

/20

15

0

200

400

600

800

100 0

120 0

kWh

Figura 36 - Gráficos Boxplot para o consumo de energia elétrica diários removendo os outliers, os valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade.

Page 53: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

52

A energia gasta para o ar comprimido é também desperdiçada em fugas e perdas de ar comprimido ao

longo da rede. (Carbon Trust, 2005)

Assim, a energia dos compressores engloba a energia gasta por cada processo, a energia

desperdiçada na ação de compressão e a energia desperdiça para a produção de ar comprimido para

alimentar fugas. Na Equação 7, representa-se 𝑚𝑖 como o consumo de energia específico de cada

processo e Qi como o consumo ou produção do processo correspondente.

𝐸𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠𝑜𝑟𝑒𝑠 = ∑(𝑚𝑖 × 𝑄𝑖) + 𝐸𝑓𝑢𝑔𝑎𝑠 [𝑘𝑊ℎ] Equação 7

A energia despendida pelo secador não é possível estimar. Contudo pode-se estimar o seu

valor de acordo com a especificação do fabricante para a sua potência. A potência definida pelo

fabricante, como referido na Tabela 4, é de 3,7 kW. Com este valor, é possível estimar o consumo

sabendo o tempo de trabalho do equipamento.

Todo o ar comprimido alimentado aos equipamentos da unidade fabril é alimentado ao secador

que se encontra na sala de produção de ar comprimido. O ar comprimido para alimentação da unidade

fabril está armazenado nos reservatórios pulmão também localizados na sala de produção de ar

comprimido.

Assim, pode-se admitir que o secador está em funcionamento 24 horas por dia, pois todas as

oscilações de pressão na rede implicam a passagem de ar comprimido no secador.

O tempo de trabalho não pode ser similar ao tempo de trabalho dos compressores, pois os

compressores só trabalham quando a pressão nos depósitos de ar comprimido baixa até ao valor de

Set-Point definido nos compressores. Outro ponto que diferencia o tempo de trabalho dos

compressores como do secador é a potência de trabalho. Enquanto que o secador tem uma potência

constante, os compressores têm uma potência variável, isto é, se apenas estiver o compressor GA 37

VSD a trabalhar, a potência varia entre 0 e 37 kW, se estiver o compressor GA37 e o compressor GA

37 VSD em funcionamentos, a potência de trabalho varia entre 37 e 74 kW.

𝐸𝑆𝑒𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟 = 𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 × 𝑡𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜 [𝑘𝑊ℎ] Equação 8

Assim, sabe-se que a energia consumida no secador é um valor constante de 88,8 kWh.

Por fim, o último parâmetro a considerar no modelo a construir é a eficiência dos compressores.

Sabe-se que a eficiência no processo de compressão é significativamente baixa. Como referido

anteriormente, grande parte da energia consumida num compressor é dissipada na forma de calor.

Com isto, é importante no modelo colocar o parâmetro de eficiência no modelo pois representa grande

parte do consumo energético.

𝐸 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑖𝑝𝑎𝑑𝑎𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠𝑜𝑟𝑒𝑠

= (∑(𝑚𝑖 × 𝑄𝑖)) × (1 − 𝜂)[𝑘𝑊ℎ] Equação 9

Assim, o modelo a construir será representado segundo a Equação 10.

Page 54: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

53

𝐸𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎 = ∑(𝑚𝑖 × 𝑄𝑖) + 𝐸𝑓𝑢𝑔𝑎𝑠 + 88,8 + (∑(𝑚𝑖 × 𝑄𝑖)) × (1 − 𝜂) [𝑘𝑊ℎ] Equação 10

Para a determinação das variáveis do modelo foi utilizado o Método dos Mínimos Quadrados.

O Método dos Mínimos Quadrados consiste no ajuste de um conjunto de pontos de modo a

que a soma do quadrado da diferença entre o valor experimental e o valor real seja o menor valor

possível, fazendo variar os parâmetros a estimar. (Helene, 2013)

𝑎 = ∑ (𝐸𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎𝑐𝑎𝑙𝑐𝑢𝑙𝑎𝑑𝑎

− 𝐸𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎𝑟𝑒𝑎𝑙

)𝑧

2

Equação 11

Para isso, utilizou-se o suplemento Solver do Excel® para estimar os parâmetros desejados de

modo a que o valor de 𝑎 (Equação 11) fosse o mínimo possível.

Assim, para os pontos utilizados, isto é, tendo em conta os pontos removidos anteriormente,

foi aplicado o Método dos Mínimos Quadrados e de seguida aplicado o Solver. Os valores dos

parâmetros estimados encontram-se na Tabela 9.

Tabela 9 - Parâmetros obtido para o modelo.

Parâmetro Valor Unidade

𝑚𝑁𝑒𝑢𝑡𝑟𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎çã𝑜 0,169 𝑘𝑊ℎ 𝑇𝑜𝑛𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎⁄

𝑚𝐵𝑖𝑜𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 0,067 𝑘𝑊ℎ 𝑇𝑜𝑛𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎⁄

𝑚𝐶𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑉𝑎𝑝𝑜𝑟 0,205 𝑘𝑊ℎ 𝑇𝑜𝑛𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎⁄

𝑚𝑆𝑖𝑙𝑜𝑠 0,020 𝑘𝑊ℎ 𝑇𝑜𝑛𝑀𝑜𝑣𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑑𝑎⁄

𝑚𝐴𝑟𝑚𝑎𝑧é𝑛𝑠 0,086 𝑘𝑊ℎ 𝑇𝑜𝑛𝑀𝑜𝑣𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑑𝑎⁄

𝑚𝐹𝑎𝑟𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑗𝑎 0,011 𝑘𝑊ℎ 𝑇𝑜𝑛𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎⁄

𝑚𝐹𝑢𝑙𝑙−𝑓𝑎𝑡 0,657 𝑘𝑊ℎ 𝑇𝑜𝑛𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎⁄

𝑚𝐹𝑎𝑟𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑑𝑒 𝐶𝑜𝑙𝑧𝑎 0,007 𝑘𝑊ℎ 𝑇𝑜𝑛𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎⁄

𝐸𝐹𝑢𝑔𝑎𝑠 400,0 𝑘𝑊ℎ

𝜂 22,4 %

Page 55: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

54

Fazendo uma breve análise aos parâmetros obtidos, é possível retirar algumas condições

prévias à verificação do modelo:

A eficiência obtida através do modelo é baixa, tendo em conta os valores vulgarmente

obtidos para este tipo de compressores, entre os 65 e os 75% (Campbell, et al., 1984);

O específico para o consumo de energia para a produção de Full-fat é elevado, pois as

quantidades produzidas são baixas;

O específico para o processo de produção de farinha e óleo de soja deve ser um pouco

mais elevado que o processo de produção de farinha e óleo de colza, pois contempla

uma fase que no processo de colza não existe, como tal tem um aumento de utilização

de ar comprimido em automação e raseiras;

O valor obtido para o consumo energético desperdiçado em fugas de ar comprimido ao

longo da rede corresponde a, em média, cerca de 48% do consumo de ar comprimido.

Em sistemas de ar comprimido este valor pode variar entre 15 a 50%, dependendo do

tipo e frequência de manutenção que é aplicada.

Para verificar se o modelo se ajusta à realidade da unidade fabril, foram utilizados os dados

relativos ao ano de 2016. Assim, a partir de 1 de Janeiro de 2016 foram utilizados os parâmetros da

Tabela 9 para calcular a energia consumida e foi comparado esse valor com os valores obtidos nos

contadores energéticos. Foi também calculado o erro experimental associado a cada dia, Figura 38.

Com isto obteve-se um erro médio de 14% e uma distribuição de produções representadas no

gráfico da Figura 37.

47,33%

4,88%

2,02%

8,38%

4,25%

6,05%

1,13%

5,25%0,60%

32,56%

Perdas Neutralização Transterificação Central de Vapor Silos Armazéns Soja Full-Fat Colza

Figura 37 - Distribuição de consumos de ar comprimido pelos diversos processos.

Page 56: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

55

0,0 0%

10, 00%

20, 00%

30, 00%

40, 00%

50, 00%

60, 00%

70, 00%

80, 00%

90, 00%

100 ,00%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

31

/12

/15

2/1

/16

4/1

/16

6/1

/16

8/1

/16

10

/1/1

6

12

/1/1

6

14

/1/1

6

16

/1/1

6

18

/1/1

6

20

/1/1

6

22

/1/1

6

24

/1/1

6

26

/1/1

6

28

/1/1

6

30

/1/1

6

1/2

/16

3/2

/16

5/2

/16

7/2

/16

9/2

/16

11

/2/1

6

13

/2/1

6

15

/2/1

6

17

/2/1

6

19

/2/1

6

21

/2/1

6

23

/2/1

6

25

/2/1

6

27

/2/1

6

29

/2/1

6

2/3

/16

4/3

/16

6/3

/16

8/3

/16

10

/3/1

6

12

/3/1

6

14

/3/1

6

16

/3/1

6

18

/3/1

6

20

/3/1

6

22

/3/1

6

24

/3/1

6

26

/3/1

6

28

/3/1

6

30

/3/1

6

1/4

/16

3/4

/16

5/4

/16

7/4

/16

9/4

/16

11

/4/1

6

13

/4/1

6

15

/4/1

6

17

/4/1

6

19

/4/1

6

21

/4/1

6

23

/4/1

6

% d

e c

on

su

mo

de

ar

co

mp

rim

ido

Dia

Neutralização Transterificação Central de Vapor Silos Armazéns Soja Full-Fat Colza Perdas |Erro|

Figura 38 - Distribuição de consumo de ar comprimido nos dias utilizados para testar o modelo.

Page 57: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

56

Seguidamente, foi executada uma análise de sensibilidade para verificar quais são os

parâmetros que mais afetam o modelo. Para esta análise de sensibilidade, fez-se variar os parâmetros

com o valor do erro médio obtido e verificou-se qual o seu efeito no erro médio.

Tabela 10 – Análise de sensibilidade aos parâmetros em estudos.

Parâmetro Δ

𝑚𝑁𝑒𝑢𝑡𝑟𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎çã𝑜 0,08%

𝑚𝐵𝑖𝑜𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 0,03%

𝑚𝐶𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑉𝑎𝑝𝑜𝑟 0,20%

𝑚𝑆𝑖𝑙𝑜𝑠 0,09%

𝑚𝐴𝑟𝑚𝑎𝑧é𝑛𝑠 0,42%

𝑚𝐹𝑎𝑟𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑗𝑎 0,01%

𝑚𝐹𝑢𝑙𝑙−𝐹𝑎𝑡 0,19%

𝑚𝐹𝑎𝑟𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑑𝑒 𝐶𝑜𝑙𝑧𝑎 0,02%

𝐸𝐹𝑢𝑔𝑎𝑠 0,61%

𝜂 0,11%

Apesar de, com este modelo, não ser possível retirar os consumos reais de ar comprimido é

possível concluir alguns acontecimentos:

Verifica-se que, devido à inexistente manutenção e preocupação com a rede de ar

comprimido da Iberol S.A. nos últimos anos, a perda energética em fugas representa

uma grande parte do consumo global em fugas;

Verifica-se que a ineficiência dos compressores é um ponto a melhorar, pois mesmo

aplicando o desvio do modelo obtido, o valor da ineficiência é bastante baixo e existem

metodologias para melhorar este valor;

Verifica-se que os específicos que tem maior influência no modelo são os relativos à

produção de vapor e Full-fat e à movimentação de produto em armazéns.

Para melhoramento do modelo de estimativa de consumos seria necessário a existirem

contadores de ar comprimido ao longo da rede, para que se pudesse ser criterioso quanto à distribuição

de custos com ar comprimido nos vários processos.

Atualmente esta distribuição é feita na proporção 50/50, isto é, os processos da secção da

UPB, neutralização e transterificação, acarretam 50% dos custos e a secção de Preparação-Extração,

produção de soja ou colza e Full-fat, acarretam o restante.

Page 58: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

57

Como se verifica na Figura 39, a distribuição atualmente feita pelos diversos consumidores,

não está totalmente errada, sendo que, segundo o modelo, a UPB deveria acarretar cerca de 49,7% e

o restante seria alocado à Preparação-Extração. Contudo, admitindo que o modelo não se ajusta, pode

considerar-se dois cenários: o primeiro é que o erro irá aproximar-se ao ajuste que é feito atualmente

de 50/50; ou então o erro irá provocar um maior desvio do consumo e, nesse caso, a UPB está a ser

prejudicada acarretando com parte do consumo que não lhe pertence.

Assim, o passo seguinte de gestão da rede de ar comprimido será a otimização do processo

de produção de ar comprimido.

3.2. Otimização da Rede de Ar Comprimido Existente

De forma a otimizar a rede de ar comprimido da Iberol S.A., optou-se por primeiramente,

executar as ações que não implicam grande investimento, e, numa segunda fase, se necessário,

investir na rede de ar comprimido.

4,88%

2,02%1,13%

5,25%

0,60%

Neutralização Transterificação Soja Full-Fat Colza

Figura 39 - Distribuição de consumos de ar comprimido pelos processos principais.

Page 59: Engenharia Química - Técnico Lisboa - Autenticação · Gestão de uma Rede de Ar Comprimido ... Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de

58

3.2.1. Redução de Fugas

Para a redução de fugas foi executado um plano de implementação de Manutenção Autónoma

(Figura 24).

Para iniciar o plano, foi necessário executar um levantamento dos pontos da rede em que

existiam fugas e verificar quais as zonas críticas. Com o auxílio dos diagramas referidos em 3.1.2,

indicaram-se onde se localizavam as fugas para posterior reparação, Anexo VII.

Com esta avaliação do estado da rede de ar comprimido pode-se verificar quais os pontos onde

existe maior número de fugas e onde é necessário atuar com maior brevidade. Verificando o gráfico da

Figura 40 pode-se concluir que a secção dos Silos Mistos é a mais problemática, seguida do Parque

de Tanques e Preparação-Extração.

Assim, decidiu-se iniciar a manutenção autónoma na secção dos silos mistos.

O ponto inicial foi repor as condições iniciais. Não é fácil disponibilizar uma equipa de

manutenção para este trabalho, pois são necessárias noutros pontos da unidade fabril. Assim, de forma

Armazéns

Central de Vapor

UPB

Preparação

Posto de carga

Extracção

Parque de Tanques

Silos

Figura 40 - Distribuição de quantidade de fugas por secção.

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59

a ser possível iniciar a Manutenção Autónoma, selecionaram-se quais as reparações que seriam

possíveis de fazer pelos operadores da secção de modo a acelerar o processo.

Para que a Manutenção Autónoma seja mais simples de executar foram criadas rotas de

Manutenção Autónoma.

Estas rotas consistem na representação dos locais onde as tubagens de ar comprimido na

planta dos variados pisos da secção e a manutenção que é necessária fazer, Anexo VIII.

De seguida, foi necessário fazer formação a todos os colaboradores da secção de modo a

executarem a Manutenção Autónoma da melhor forma e que esta desenvolva resultados o mais rápido

possível.

Por fim, foi iniciada, em Novembro de 2015, a Manutenção Autónoma nos Silos Mistos. Para

isso, os operadores da secção foram acompanhados durante os primeiros dois meses para garantir

que não existiam dúvidas sobre os diagramas e as situações a reparar.

Para auxiliar a organização da calendarização das rotas e que para, futuramente, seja possível

organizar as rotas de ar comprimido e integrar com a Manutenção Autónoma aos equipamentos

processuais das diversas secções foi desenvolvida uma ferramenta em Excel®.

Esta ferramenta funciona em ligação com as mascaras de processo de cada secção, ou seja

as ferramentas de gestão e registo dos dados processuais, para que os operadores que realizam a

manutenção autónoma possam registar todas as rotas que fazem e quais as anomalias detetadas que

podem ser reparadas pela operação, não recorrendo à equipa de manutenção deixando-a disponível

para atividades mais especializadas.

Assim, no início de cada mês, é gerada em cada secção uma calendarização de realização de

rotas onde os operadores consultam os dias em que é necessário realizar as rotas.

Em paralelo existe uma ferramenta em Excel® que serve para gestão de Manutenção

Autónoma de todas as secções. Nesta ferramenta é possível adicionar e remover rotas de Manutenção

Autónoma, alterar a sua periodicidade e os dias da semana em que ocorrem, Figura 41. Estas

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60

alterações são atualizadas nas diversas secções no início de cada mês, antes de ser gerada a

calendarização.

No fim de cada mês, para avaliação da performance da Manutenção Autónoma é feita uma

atualização da ferramenta de gestão da Manutenção Autónoma onde são atualizados os gráficos e são

comparadas as performances de cada secção e também o tipo de anomalias, entre outras análises de

interesse para a ferramenta.

Ao longo do mês, para garantir que não há questões a apontar pelos operadores e para garantir

que a Manutenção Autónoma é feita com a máxima qualidade, é possível a realização de auditorias às

diversas secções. Para isso, a ferramenta de gestão da Manutenção Autónoma tem a possibilidade de

o auditor selecionar os dias e as secções que pretende auditar. Depois desta seleção, a ferramenta

devolve uma ficha que deve acompanhar o auditor ao local onde são registadas as avaliações, à

Figura 41 - Ferramenta de gestão de Manutenção Autónoma.

Figura 42 - Gestão que permite a ferramentas Excel.

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61

qualidade de execução da rota e algumas observações que possam se necessárias. No fim da

auditoria, o auditor, a partir da ferramenta em Excel®, pode realizar um relatório de auditoria que será

enviado aos chefes de secção correspondentes, de modo a que estes fiquem a par das melhorias a

fazer e das observações do auditor. Este auditor no caso da Iberol S.A., é o responsável da secção

mecânica que é especializado em todas as tarefas de manutenção e que está capacitado para auxiliar

os operadores com todas as dúvidas e questões que possam surgir durante a execução das rotas de

Manutenção Autónoma.

O desenvolvimento desta ferramenta teve o apoio de uma estagiária que estava a desenvolver

a sua tese de mestrado no âmbito da metodologia Kaizen e, como tal, apoio na estruturação da

Manutenção Autónoma de acordo com a metodologia.

Paralelamente, e de modo a melhorar a organização da Manutenção Autónoma nas secções,

foi criado em cada secção um quadro de Manutenção Autónoma. Este quadro resume todas as rotas

relativas ao mês atual e algumas informações úteis que sejam necessárias. Este quadro é uma mais-

valia, pois por trabalharem por turnos, por vezes os operadores têm dificuldade em saber se a rota já

Figura 43 - Gráficos de análise da performance da manutenção autónoma.

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62

foi efetuada ou se não houve oportunidade no turno anterior e, assim estando afixado a sua consulta é

mais fácil e a comunicação é garantida.

Outra metodologia Kaizen aplicada à Manutenção Autónoma foi o cartão de Kamishibai. Este

cartão permite que o auditor coloque no quadro de Manutenção Autónoma um cartão verde, no caso

Figura 44 - Quadro criado para a Manutenção Autónoma.

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63

de a Manutenção Autónoma estar a decorrer consoante o previsto, e vermelho, caso existam pontos a

melhorar na execução da Manutenção Autónoma.

Esta metodologia foi implementada com bastante aceitação por parte dos operadores das

diversas secções, o que permitiu que se expandisse a manutenção autónoma aos equipamentos dos

diferentes processos.

Como se verifica na Figura 45, conseguiu-se descentralizar as manutenções mais simples da

equipa de manutenção. Principalmente nas secções dos Silos e Preparação-Extração, onde a

manutenção autónoma está implementada há mais tempo, os operadores começaram a reparar muitos

dos problemas e os que não conseguem reparar na totalidade são enviados para a equipa de

0

50

100

150

200

250

Operadores Manutenção

de

An

om

alia

s re

par

adas

UPB

Parque de Tanques

Armazéns

Preparção-Extracção

Silos

Figura 45 - Comparação do número de anomalias reparadas pelos operadores das diversas secções e pela equipa de manutenção.

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64

manutenção com mais antecedência, permitindo um maior planeamento e distribuição de trabalho por

parte da equipa de manutenção.

Na Figura 46, é possível comparar o número de anomalias que foram reportadas à equipa

manutenção por via de execução de procedimentos de manutenção autónoma e as reparações que

não foi possível identificar previamente e que apenas se reportaram à equipa de manutenção quando

o problema se torna urgente.

Esta comparação permite avaliar que o número de anomalias identificadas por manutenção

autónoma é superior sendo os problemas avaliados atempadamente. Este indicador também

demonstra que os procedimentos de manutenção autónoma estão a ser executados com rigor.

3.2.2. Eliminação de Pontos Obsoletos

O próximo passo para otimizar a rede de ar comprimido existente é a eliminação dos pontos

obsoletos, isto é, todos os pontos da rede que outrora já foram utilizados, mas que atualmente já não

0

50

100

150

200

250

300

Manutenção Autónoma Reparações não detectadas

de

An

om

alia

s re

par

adas

UPB

Parque de Tanques

Armazéns

Preparção-Extracção

Silos

Figura 46 - Comparação do número de anomalias requeridas à equipa de manutenção por manutenção autónoma e fora do âmbito de manutenção autónoma.

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são necessário e, por este motivo, são pontos com probabilidade de fugas que podem ser eliminados

ou seccionados.

Para isso foi analisada toda a rede de ar comprimido e foram identificados inúmeros pontos.

Silos Mistos

Nos Silos mistos foram identificados os pontos da Figura 47.

A alimentação a raseiras oscilantes que, devido às propriedades da matéria-prima

armazenada, não são necessárias e, como tal, as ligações de ar comprimido, em tubagem flexível,

podem ser eliminadas.

Também existem tubagens que estão ligadas a equipamentos que se destinavam a um circuito

que atualmente foi descontinuado e, por este motivo, pode ser desconectado da rede de ar comprimido.

Estes melhoramentos ainda não foram conseguidos, pois implicam a intervenção da equipa de

manutenção.

Figura 47 - Pontos obsoletos a eliminar nos Silos Mistos.

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Preparação-Extração

Nesta secção, o único ponto a melhorar é a ligação de ar comprimido que alimentava um

decantador. Este decantador também já está descontinuado, pois destinava-se a uma purificação que

atualmente não é executada e que, caso seja retomada, será necessária a aquisição de novas técnicas.

Sala de Produção de Ar Comprimido

Na sala de produção de ar comprimido existem dois pontos que podem ser eliminados.

Estes pontos são as ligações a um secador e a um compressor descontinuados. Estes

melhoramentos já foram executados e atualmente não fazem parte da rede de ar comprimido.

Central de Vapor

Na central de vapor, tal como nos pontos anteriores, existem pontos que se destinavam a

equipamentos que neste momento estão descontinuados, que podem ser eliminados.

Estes melhoramentos estão atualmente concluídos.

Figura 48 - Pontos obsoletos a eliminar na preparação-extração.

Figura 49 - Pontos obsoletos a eliminados na Sala de Produção de ar comprimido.

Figura 50 - Pontos obsoletos a eliminar na Central de Vapor.

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67

3.2.3. Ajuste da Qualidade do Ar Comprimido

A qualidade do ar comprimido na Iberol S.A. recomendada, analisando os critérios da Tabela

1, é do tipo (2,3,2).

Esta classe atribuída deve-se à existência de bastante instrumentação ao longo da rede de ar

comprimido e são estes os equipamentos que exigem uma qualidade do ar comprimido mais restrita.

Assim, analisando a rede de ar comprimido existente, verifica-se que os filtros e secadores que

se encontram na Sala de Produção de Ar Comprimido não atingem os valores pretendidos.

A secagem do ar comprimido não é suficiente e, por isso, está a comprometer o funcionamento

e longevidade dos equipamentos de instrumentação existentes.

Para avaliar a consequência da secagem insuficiente de ar comprimido foram realizadas

medições durante um intervalo de tempo, para verificar a qualidade do ar comprimido à saída do

secador.

Na Figura 51 encontram-se os dados recolhidos para avaliar a humidade do ar comprimido que

segue para os equipamentos de uso final. A linha horizontal inferior representa o valor objetivo para o

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ponto de orvalho para cumprir os requisitos da qualidade do ar comprimido. Assim, conclui-se que o ar

comprimido abandona a sala de produção de ar comprimido com um excesso de humidade.

Por este motivo é fundamental intensificar a manutenção do Secador para garantir que a

remoção de humidade é máxima e que o ar comprimido abandona o secador com o mínimo de

humidade possível.

Outra forma de minimizar a quantidade de água presente no ar comprimido é a remoção de

toda a água que é condensada ao longo da tubagem. Para isso utilizam-se Purgadores. Os Purgadores

existentes na Iberol S.A. encontram-se representadas nos diagramas no Anexo II. Estos Purgadores

são do tipo manual, e, como tal, a manutenção destes Purgadores está incluída nas rotas de

Manutenção Autónoma realizadas pelos operadores.

Contudo, os Purgadores existentes não são suficientes. De acordo com a bibliografia analisada,

os Purgadores devem ser distanciadas entre si por 20 a 30 metros. Como se verifica pelos diagramas

(Anexo II), ao longo de toda a rede de ar comprimido que alimenta a instrumentação de ar comprimido

-25,00

-20,00

-15,00

-10,00

-5,00

0,0 0

5,0 0

Po

nto

de

Orv

alh

o (C

)

Figura 51 - Ponto de orvalho do ar comprimido à saída do secador e o valor de referência de acordo com a ISO 8573-1, os valores do eixo das ordenadas encontram-se omitidos por questões de confidencialidade.

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na UPB não existem Purgadores. Esta é uma zona sensível à humidade de ar comprimido e a colocação

de Purgadores nos vários pisos da UPB é fundamental.

Esta ação não foi realizada, pois implica a paragem da produção de Biodiesel. Esta ação

apenas pode ser realizada durante uma paragem programada, pois implica a desgaseificação dos

equipamentos para garantir todas as condições de segurança.

Outro ponto na unidade fabril em que será fundamental a colocação de Purgadores será nos

pisos dos Silos Mistos, em que se encontram as raseiras oscilantes. Nestes pisos existe muita

instrumentação e, como tal, é fundamental que seja removida toda a humidade possível.

Na Preparação-Extração os Purgadores existentes são suficientes, apenas é imperativo ser-

lhes retirada a água acumulada periodicamente, e, de acordo com o especificado nas rotas de

Manutenção Autónoma.

3.2.4. Recuperação de calor para aquecimento de água industrial

Para que a energia dissipada no processo de compressão seja reaproveitada, é importante

avaliar a oportunidade de reaproveitar o calor desperdiçado no processo de compressão.

Para isso, a Atlas Copco®, fabricante dos compressores existentes na unidade fabril, possui

um sistema de recuperação de calor, Figura 52, que permite um reaproveitamento de cerca de 70% do

calor.

O reaproveitamento do calor é possível adquirindo-se um equipamento adicional. Este

equipamento utiliza o calor dissipado no processo de compressão para o aquecimento de água. O

Figura 52 - Sistema de recuperação de calor, Atlas Copco®.

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70

funcionamento do equipamento é semelhante ao funcionamento de um permutador de calor

convencional, Figura 53.

A água aquecida neste tipo de sistemas com compressores de 37 kW, como é o caso do

compressor principal da Iberol S.A., consegue atingir entre os 50 e os 99C, dependendo do caudal e

velocidade de passagem no equipamento. (Atlas Copco, 2015)

Esta medida poderá ser rentável no sistema da Iberol S.A., pois, devido à proximidade, o calor

reaproveitado pode ser utilizado no aquecimento da água alimentada ao processo de produção de

vapor.

Para a análise da rentabilidade da implementação de recuperação de calor para o processo de

produção de vapor, considerou-se como valor pessimista os 70% da potência do compressor (25,9

kW), no entanto, segundo o fabricante dos compressores e que fornece este equipamento para

reaproveitamento de calor, Atlas Copco, a potência máxima recuperável é 32,5 kW, valor considerado

otimista. (Atlas Copco), O payback é possível calcular-se de acordo com a Equação 12.

𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘

= 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜𝑒𝑞𝑢𝑖𝑝𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 (€)

𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑟𝑒𝑐𝑢𝑝𝑒𝑟á𝑣𝑒𝑙(𝑘𝑊) × 𝑁ºℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜(ℎ 𝑎𝑛𝑜⁄ ) × 𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 (€ 𝑘𝑊ℎ)⁄

Equação 12

Figura 53 - Funcionamento do equipamento de recuperação de calor. 1) Agua fria; 2) Ar Comprimido; 3) Energia elétrica; 4) Ar; 5) Circuito de óleo; 6) Energia recuperada; 7) Agua aquecida. (Atlas Copco)

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71

O valor do custo do equipamento pode variar entre os 3500 e os 5000€, segundo valores

fornecidos pelo fabricante. (Atlas Copco)

Tabela 11 - Cálculo do payback nos diferentes cenários. (Atlas Copco), (Entidade Reguladora dos Serviços Energético, 2016)

Cenário Muito pessimista Pessimista Otimista Muito otimista

Custo do equipamento

(€) 5 000 5 000 3 500 3 500

Potência recuperada

(kW) 25,9 32,5 25,9 32,5

Tempo de laboração

do compressor (h/ano) 7 200 7 200 7 200 7 200

Preço Energia (Gás

Natural) (€/kWh) 0,032 0,032 0,032 0,032

Payback

(anos) 0,84 0,67 0,59 0,47

Na Tabela 11 encontram-se os valores de payback obtidos para os diferentes cenários. Verifica-

se que o payback para este investimento será cerca de um ano.

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4. Conclusão e Propostas Futuras

De forma a gerir e otimizar a rede de ar comprimido existente na Iberol S.A realizaram-se várias

tarefas distintas.

Inicialmente, com o desenho de diagramas da rede de ar comprimido foi possível determinar

quais os clientes que necessitam de ar comprimido e quais os percursos que as tubagens percorrem e

as suas derivações.

Paralelamente com este desenho foram identificados os pontos da rede que se encontravam

com fugas e a necessitar de intervenção. Estes pontos foram reduzidos em cerca de 60%.

A redução dos pontos de fuga foi conseguida devido à colaboração dos operadores das

diversas secções que, com a realização das rotas de Manutenção Autónoma definidas, repararam

grande parte das fugas existentes. Deste modo, as fugas existentes na unidade fabril atualmente são,

na sua maiorias, fugas de pequenas dimensões, não audíveis pelo ouvido humano, ou fugas que

exigem a paragem do processo.

Futuramente, para que as fugas sejam reparadas no momento em que aparecem e de modo a

impedir que o orifício das fugas aumente o seu tamanho, seria importante a obtenção de um

equipamento de deteção de fugas. Este equipamento atualmente seria útil, pois os operadores já detêm

a rotina de realização das rotas e seria uma mais-valia para a elevação da performance da Manutenção

Autónoma.

Outra iniciativa tomada no âmbito deste trabalho foi a realização de testes para a estimativa do

consumo de ar comprimido. Estes testes não conduziram a conclusões relevantes, pois o tempo de

teste disponível não permitiu uma evolução suficiente dos contadores. Por este motivo, fez-se uma

pesquisa pelo histórico de consumo de ar comprimido durante os últimos três anos na unidade fabril,

com vista a estimar, por modelo matemático, o consumo de ar comprimido em cada processo. Este

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73

estudo permitiu verificar que o consumo desperdiçado em fugas é elevado e que a eficiência dos

compressores também é significativamente baixa.

Com vista à melhoria da eficiência dos compressores é importante o estudo da diminuição da

temperatura da Sala de Compressores. Por benchmark, estima-se que por cada 4C reduzidos à

temperatura de admissão, irá reduzir-se 1% no consumo de energia.

Para a determinação dos consumidores mais significativos e para uma distribuição dos gastos

energéticos referentes ao consumo de ar comprimido, será fundamental a realização de testes de

estimativa do consumo quando existir uma paragem programada da unidade fabril.

Por fim, foi possível fazer-se uma breve análise dos benefícios do aproveitamento de calor que

é recuperável no processo de compressão para o aquecimento de águas industriais. Por uma questão

de proximidade, optou-se por estudar o reaproveitamento de calor para o aquecimento das águas de

alimentação das caldeiras. Conclui-se que o investimento terá o payback de cerca de um ano, como

tal, deveria ser estudado mais aprofundadamente pois poderá ser uma das formas de rentabilizar o

processo de produção de ar comprimido.

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