Ensaio Pesquisa-Ação 2015

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Miguel, Rafael... Felipe: Um por todos e todos por (em) um! (Ensaio pesquisa-ação, PIÁ 2015) Felipe Gregório O texto que segue relata um pouco algumas impressões das experiências vivenciadas no ano de 2015 dentro do programa PIÁ no CEU Jaçanã em São Paulo. Inicialmente, importante falar sobre um aspecto qualitativo do programa que é em priorizar para além das estatísticas e indicadores, os indivíduos. Em medir os resultados pautados nas ações culturais e não apenas em números. Ou seja, neste caso: “Um é pouco, dois é bom... e três, foi tudo que precisávamos! Eram três. Mas pareciam trezentos às vezes! Estes três aí mencionados acima foram uma turma que tivemos que deu ‘pano pra manga’, literalmente. Os anjinhos do CEU que vos diga! Bem; a matéria prima aqui é a humana. Não poderia ser outra. E foi com esta intenção que se pôde observar de forma quase analítica as qualidades e os desafios em buscar atender, ‘assistir’, ‘conduzir’, ‘propor’; enfim... experienciar. De modo que ainda estamos processandotudo o que se passou neste ano. Mas nem por isso, se deixará de apresentar algo que possa ser compartilhado. Daí... ... Há algum tempo que venho acreditando e podendo observar em minha trajetória como educador a riqueza que é poder perceber, investigar, atuar mesmo sobre as nuances do imaginário infantil através de um olhar e um cuidado que se constrói a partir da observação. Esta observação, não é aquela distanciada como faz a psicologia comportamental em alguns casos. Não, é uma observação que lida nas fronteiras do agir ‘com’. Agir junto (‘estados compartilhados). A comparação acima é apenas um dado que trago para tentar situar o que quero dizer sobre a metodologia artístico-pedagógica do PIÁ e alguns conceitos construídos dentro do programa e que, neste ano, em particular, pude avançar um pouco mais em sua compreensão. Agir junto, compartilhar junto, num ato sinérgico, simultâneo, é compreender que as inspirações e conspirações obtidas antes, durante e

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Relato dos processos obtidos no ano de 2015 no programa PIÁ SP- CEU Jaçanã

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Page 1: Ensaio Pesquisa-Ação 2015

“Miguel, Rafael... Felipe: Um por todos e todos por (em) um!

(Ensaio pesquisa-ação, PIÁ 2015)

Felipe Gregório

O texto que segue relata um pouco algumas impressões das

experiências vivenciadas no ano de 2015 dentro do programa PIÁ no CEU

Jaçanã em São Paulo.

Inicialmente, importante falar sobre um aspecto qualitativo do programa

que é em priorizar para além das estatísticas e indicadores, os indivíduos. Em

medir os resultados pautados nas ações culturais e não apenas em números.

Ou seja, neste caso: “Um é pouco, dois é bom... e três, foi tudo que

precisávamos”!

Eram três. Mas pareciam trezentos às vezes!

Estes três aí mencionados acima foram uma turma que tivemos que deu

‘pano pra manga’, literalmente. Os anjinhos do CEU que vos diga!

Bem; a matéria prima aqui é a humana. Não poderia ser outra.

E foi com esta intenção que se pôde observar de forma quase analítica

as qualidades e os desafios em buscar ‘atender’, ‘assistir’, ‘conduzir’, ‘propor’;

enfim... experienciar. De modo que ainda estamos ‘processando’ tudo o que se

passou neste ano. Mas nem por isso, se deixará de apresentar algo que possa

ser compartilhado. Daí...

... Há algum tempo que venho acreditando e podendo observar em

minha trajetória como educador a riqueza que é poder perceber, investigar,

atuar mesmo sobre as nuances do imaginário infantil através de um olhar e um

cuidado que se constrói a partir da observação.

Esta observação, não é aquela distanciada como faz a psicologia

comportamental em alguns casos. Não, é uma observação que lida nas

fronteiras do agir ‘com’. Agir junto (‘estados compartilhados’).

A comparação acima é apenas um dado que trago para tentar situar o

que quero dizer sobre a metodologia artístico-pedagógica do PIÁ e alguns

conceitos construídos dentro do programa e que, neste ano, em particular,

pude avançar um pouco mais em sua compreensão.

Agir junto, compartilhar junto, num ato sinérgico, simultâneo, é

compreender que as inspirações e conspirações obtidas antes, durante e

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depois dos encontros são potenciais que não podem existir apenas em um

sentido, ou em uma direção.

Dito isto, percebe-se que é apenas num determinado espaço de tempo

que surge nas relações de troca que um dado, uma informação, pode ser

processada em conhecimento, apropriação.

O espaço de tempo que aqui me refiro, imagino que seja em identificar o

potencial humano, da criança, em sua plenitude, quando esta se manifesta

livremente em situações inesperadas, quase que mágicas!

De outro modo, é quando o educador se permite deixar envolver numa

lógica que é própria daquele tempo, daquele ‘lugar’ que têm importância e

significado.

Por isso mesmo é que são pérolas. Cada pequenino (a), cada criança,

esbanja energia e criatividade!

Um fato interessante que se percebeu por termos poucos alunos, foi que

as atividades se esgotavam rápidas e tínhamos que estar sempre conectados,

eu e Suelen Ribeiro, arte educadora parceira neste ano, para que o andamento

e aquilo que de certa forma esperávamos não se perdesse por completo.

Nas relações de troca e de alteridade com um número maior de

participante isto tende a ser mais demorado, pois uma mesma atividade se

desdobra em várias acepções dialéticas e dialógicas. Já com um grupo menor

de participantes, viu-se que as proposições eram ‘devoradas’ rapidamente.

Talvez por isto mesmo que produzimos tanto com as turmas.

Logicamente que nunca sabemos o que realmente fica daquilo que se

vivencia, pois são várias as dimensões, experiências e processos que nos

move.

E foi isto. As várias poéticas desenvolvidas com nossos três alunos

inicialmente se esgotaram rapidamente até que se viu que isto não era um

problema.

O fato de ter apenas três alunos foi exatamente o que precisávamos

para pôr em prática, algumas inquietações e inspirações...

Caminhamos por uma linha tênue, mas bem precisa a partir de um

repertório e referências como Manuel de Barros, Winnicott e André Neves que

se estendeu por todo o ano.

Foram desenvolvidas várias modalidades e técnicas dentro das

linguagens artísticas de modo a explorar o ambiente interno e externo, bem

como a apropriação de espaços e intervenções sobre a realidade local a partir

de um tema.

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Isto foi incrível, formidável! Acreditamos que correspondemos ao

esperado em possibilitar as crianças as mais variadas experiências artísticas, a

estimular suas capacidades cognitivas e estéticas, ao contato com o outro, o

mundo.

Estas experiências podem ser vistas um pouco neste link

https://www.flickr.com/photos/piaprograma/albums/72157656271461646

Na tentativa de sistematizar um pouco os possíveis resultados destes

processos, abaixo segue em tópicos algumas observações a partir da pesquisa

“Invencionário para crianças-pássaro”; tema que orientou basicamente todo o

processo com as turmas.

Onde:

Elementos?Propostas (alfabeto, mapa; ou as cartas na manga dos

educadores)

-Ovo, Ninho, pássaro, voo, rio

‘Estados’ Compartilhados (aquilo que está entre uma pesquisa proposta e

aquilo que se espera desta proposta)

-Ovo= Aguçamento da capacidade de imaginação- afeto/cuidado

-Ninho= Co-criação de desejos poéticos: cenas, histórias

-Pássaro= Imersão, leitura de mundo, apropriação

- Voo= Arte, ousadia, ressignificação

-Rio= Senso crítico, ação cultural

Poéticas compartilhadas (aquilo que é por si, o símbolo; e aquilo que se

transformou dentro do jogo/prática artística)

-Ovo= Nascimento, batizado/nome, ninho domiciliar. Instalação na natureza

buscando pontos de ligação entre as histórias

- Ninho= Corporalidades baseadas na relação envolvente com objeto/banner.

- Pássaro= apropriação de elementos diversos- confecção de roupa/pássaro

- Voo= rito de passagem-sonho-deslocamento- ambiências

-Rio= Performances; diálogos urbanos; narrativas locais; memórias de rio.

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Conceitos (aquilo que apresenta uma perspectiva sobre o

tema/planejamento)

- Narrativas= Um olhar sobre as histórias e um ato expressivo que se

desenvolve a partir da apreensão dos vários universos existentes;

- contexto= Os vários universos imaginários e existentes que se iniciam em um

ponto comum;

- transfiguração= Desdobramentos de universos imaginários que constroem

narrativas.

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De certa forma, acreditamos que ao seguir uma ‘temática’ que

inicialmente instaurada a partir de uma expectativa (nossa) se desenvolve para

uma apreensão de seu significado (crianças) onde as mais variadas situações

e encontros inesperados surgiram ao dialogarmos com este mesmo tema de

maneira espontânea, linear, mas não ‘reta’ e acima de tudo com muita

ludicidade e gosto!

Continua...