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Pierluigi Piazzi (Prof. Pier) Ensi na ndo Inteligênc ia 1ª reimpressão ALEPH 2 a Reimpressão

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Pierluigi Piazzi (Prof. Pier)

EnsinandoInteligência

1ª reimpressão

A L E P H

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Coleção Neuropedagogia Volume 1 Aprendendo Inteligência Volume 2 Estimulando Inteligência Volume 3 Ensinando Inteligência

Copyright © Pierluigi Piazzi, 2009Copyright © Editora Aleph, 2009

ILUSTRAÇÕES DE CAPA E MIOLO: Durvaly Odilon Nicoletti www.nicoilustracao.com.br CAPA: Luiza Franco REVISÃO: Luciane H. Gomide Hebe Ester Lucas PROJETO GRÁFICO: Delfi n EDITOR: Adriano Fromer Piazzi

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.

EDITORA ALEPH LTDA.Rua Dr. Luiz Migliano, 1110 – Cj. 30105711-900 – São Paulo – SP – Brasil

Tel.: [55 11] 3743 3202Fax: [55 11] 3743 3263

www.editoraaleph.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Piazzi, Pierluigi

Ensinando inteligência / Pierluigi Piazzi. --

1. ed. -- São Paulo : Aleph, 2009. --

(Coleção neuropedagogia ; v. 3)

Bibliografi a.

ISBN 978-85-7657-077-6

1. Educação 2. Ensino 3. Inteligência

4. Neurologia 5. Pedagogia I. Título. II. Série.

09-06161 CDD-370.152

Índices para catálogo sistemático:1. Inteligência : Aprimoramento : Psicologia educacional 370.152

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Introdução 7

Parte 1: Mudando as regras do jogoChopin, Schubert e o construtivismo 12

Parte 2: Mudando comportamentosO processo 26Quem ensina… não examina! 33Avaliação x verifi cação 38A tapeçaria de Penélope 43

Parte 3: Alunos têm cérebroOnde está o pinguim? 52Em busca da inteligência 58Redes neurais 67Ritmo efi ciente 88Ritmo equivocado 96Esculpindo a águia 107Césio-137 116O vitral e a vidraça 132

Parte 4: O novo professorMelhorando as condições 146O papel do Estado 157Administrando o rombo no casco 170

Sumário

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Parte 5: EncerrandoLeituras aconselhadas 188Agradecimentos 196Críticas e sugestões 198

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Este livro não é uma tese, sequer um trabalho de pesquisa.

Consequentemente, não procure uma bibliografi a comple-

ta no fi nal2 nem fundamentações acadêmicas.

Trata-se, isso sim, do depoimento de um velho e muito

experiente professor, de alguém que dedicou praticamente

toda a sua vida ao ensino.

Já lecionei desde a Educação Infantil até a pós-gradua-

ção. Já tive alunos de todos os tipos e níveis.

Minha mais longa vivência, porém, foi como professor

de um curso pré-vestibular, o famigerado “cursinho”. Nele,

preparei mais de 100 mil alunos para os mais importantes

vestibulares deste país.

A experiência que acumulei nessa tarefa é bastante inu-

sitada e foge, completamente, dos parâmetros da pedago-

gia ortodoxa. Foi no cursinho que eu aprendi o que é uma

escola de verdade.

2 A não ser os livros que acho importantes para você ler.

Um intelectual é alguém que recebeuum nível de instrução muito acima

de seu nível de inteligência.Arthur Charles Clarke (1917-2008)

INTRODUÇÃOPequeno discurso sobre o método (ou a falta de)

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Este livro, portanto, é uma espécie de testamento e

um gigantesco “EU ACHO”, expressão tão abominada pelas

pessoas que não têm inteligência sufi ciente para “achar” o

que quer que seja!

Olhando para trás e vendo um longo percurso percorrido

com muitos erros e uma série surpreendente de involuntá-

rios acertos, senti-me no dever de compartilhar essa expe-

riência acumulada ao longo de uma vida com os professores

e as pedagogas que estão começando agora sua própria

caminhada. Espero torná-la menos árdua.

Aconselho, antes, a leitura dos dois volumes que prece-

dem este, o do aluno e o dos pais, para poder entender por

que este é um livro escrito com certa revolta.

Revolta por ver o fantástico potencial intelectual da ju-

ventude brasileira ser jogado na lata do lixo por um bando

de incompetentes politiqueiros que se autodefi nem os do-

nos da verdade no mundo da educação.

Não procure aqui, portanto, metodologia e rigor. Esque-

ça seus preconceitos e tente acompanhar meu raciocínio.

Este é um livro que foi escrito pensando em ter, como

alvo, professores e pedagogas inteligentes e dispostos a

melhorar o nosso sistema educacional.

Se você for professor, talvez sinta alguma difi culdade,

pois terá de se libertar de algumas ideias que até agora

você teve na conta de verdades absolutas.

Se você for uma pedagoga3 inteligente, perceberá, ao

longo deste volume, o grande equívoco da pedagogia bra-

sileira que faz com que nosso sistema educacional seja um

3 Escrevo “pedagoga” no feminino pois não sou machista e, em caso de gêneros

mistos, escolho o da maioria, e não, como se faz automaticamente, o mascu-

lino.

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dos piores do mundo.4 E como você é inteligente, perceberá

o quão fácil pode ser mudar esse estado de coisas… basta

começar a olhar para o outro lado. Talvez seja de grande

ajuda, insisto, primeiro ler o Volume 1 (Aprendendo Inteli-

gência), que escrevi pensando em ter o aluno como leitor,

e o Volume 2 (Estimulando Inteligência), cujo público-alvo

é a família.

Agora, se você for uma dessas pseudopedagogas “inte-

lec tualoides” (talvez até com doutorado e tudo mais a que

tenha direito), que acham que o domínio de um jargão es-

pecializado (e na última moda) seja sufi ciente para adquirir

o status de “dona da verdade”; se você for uma dessas que,

ao exibirem seu domínio de um vocabulário pseudotécnico,

deslumbram-se tanto com sua própria “pedagorreia”5 que não

se dão conta do desastre no qual estão mergulhando nosso

sistema educacional… feche este livro imediatamente!

4 Essa não é uma opinião minha. É um fato mais do que comprovado por sérios

exames internacionais envolvendo jovens de dezenas de países. Ignorar isso é

querer tampar o Sol com a peneira!

5 A expressão “pedagorreia”, neologismo talvez originário de verborreia, não foi

inventada por mim. É um termo utilizado por muitíssimas pedagogas inteligen-

tes que se sentem desconfortáveis quando vítimas de uma dessas arrogantes

donas da verdade.

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Parte 1

MUDANDOAS REGRAS DO JOGO

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Quis custodietipsos custodes?1

Decimus Iunius Iuvenalis (início do II século d.C.)

CHOPIN, SCHUBERT E OCONSTRUTIVISMO

Certa vez, estava proferindo uma palestra para professores

de uma faculdade de Pedagogia de São Paulo, quando fui

interrompido por uma das pedagogas presentes:

– Professor, devo então entender que o senhor é contrário

ao construtivismo?

– Nem contra nem a favor – respondi calmamente. –

Aliás, você está ouvindo um construtivista avant lettre, já

que há mais de 40 anos minhas aulas eram criticadas por

colegas justamente por terem uma característica que hoje

em dia poderia ser rotulada como “construtivista”.3

Na realidade o que penso é que qualquer discussão a res-

peito do construtivismo ou de outros temas fashion – tão

em voga no fechado mundo da pseudopedagogia brasileira

– é inoportuna, dada a situação atual de nosso sistema

2 “Quem fi scaliza os fi scais?” (Versão atualizada para o Brasil do século XXI).

3 Eu tentava “construir” na cabeça de meus alunos a necessidade das três leis da

dinâmica, em vez de enunciá-las como “postulados”.

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educacional. O paciente está com câncer terminal e discuti-

-se que tipo de rímel fi ca melhor em sua maquiagem!

Imagine, por exemplo, uma cena sendo fi lmada. Dois

pianistas, ao lado de um magnífi co piano Steinway,

discutem se devem tocar Schubert ou Chopin.

Agora, afaste um pouco a câmera de seu “cinema mental”.

Dá para ver que os dois estão em um salão de festas lotado

de beautiful people de vestidos longos e black tie.

Afastando ainda mais a câmera, você percebe que o

salão de festas está em um transatlântico de luxo.

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Abrindo mais ainda o campo de visão, vemos o navio

inteiro; e um zoom na proa permite ver seu nome… É claro

que você já adivinhou: é o Titanic, que, a essa altura do

fi lme, já abalroou o iceberg.

O casco já foi rasgado abaixo da linha d’água, os

porões estão sendo inundados em um ritmo alucinante, o

afundamento é iminente…

E OS PIANISTAS ESTÃO DISCUTINDO SCHUBERT E

CHOPIN!

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Ora, eu não tenho nada contra Schubert e Chopin,4 aliás,

gosto muito dos dois, principalmente de Chopin, mas com

certeza a discussão dos dois pianistas é absolutamente

inoportuna!

Pois é, as pseudopedagogas, preocupadas com a última

moda, estão discutindo “construtivismo”, “inclusão”, “estudo

do meio”, “atitudes proativas” e outras “novidades” similares,

e, enquanto isso, a Educação brasileira está afundando.

Elas não percebem que “o buraco é muito, mas muito mais

embaixo”, literalmente!

O que produz esse rombo abaixo da linha d’água?

A escola brasileira atual tem dois defeitos estruturais na

raiz: um deles é a deriva pela qual a pedagogia brasileira se

deixou arrastar. Essa falta de rumo ocorre porque o Estado

deixou de fazer auditorias externas nas escolas. Ou seja,

não existe mais um controle de qualidade!5

A fi gura do “inspetor”, que ao visitar uma escola

promovia “provas-surpresa” e “chamadas orais” para

detectar eventuais falhas na formação dos alunos, SUMIU!

Até pouco tempo atrás, a “inspeção” resumia-se a uma

obtusa verifi cação burocrática de instalações, titulação de

professores, correto preenchimento de papelada (incluindo

o quase sempre mentiroso Diário de Classe).

Ou seja, a escola brasileira está ao deus-dará, cada um

faz o que bem entende.

Cada escola particular se atribui “o melhor método,

a melhor proposta pedagógica” e empurra com a barriga

4 Se você olhar as partituras das músicas de Chopin, verá verdadeiras obras de arte

plástica, mesmo antes de tocar a melodia!

5 Se alguém acha que os Ideb, Enem e Enad são controles de qualidade válidos, é

bom que reveja os conceitos de “controle do processo” e “controle do produto”.

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a formação de seus alunos, aparentando uma pseudo-

-organização pedagógica ao realizar “ciclo de provas”,

“projetos”, “festas sazonais” e outras futilidades.

As escolas públicas, pior ainda, estão nas mãos da mais

abjeta politicagem, muito mais preocupada em falsear

índices apresentando uma efi ciência de fachada do que em

realmente tentar formar futuros eleitores ALFABETIZADOS

e CONSCIENTES.

Concordo plenamente com os que criticam o modelo

tradicional por ser excessivamente conteudista. O que

me deixa estarrecido é perceber que, em vez de cortar os

excessos, CORTAM-SE OS CONTEÚDOS!

Se alguém fi zer uma leitura reducionista dos tais PCNs,

os famosos Parâmetros Curriculares Nacionais, perceberá

que a mensagem fi nal é “FAÇA O QUE BEM ENTENDER”.

Eliminando a pedagorreia que permeia esses textos,

o que sobra é justamente isto: não existe mais um

PROGRAMA.

Não há mais um currículo MÍNIMO a ser cumprido em

cada série. Alunos transferidos vivem o pesadelo de se

defrontar com universos escolares totalmente diferentes,

ao mudar de escola mesmo dentro de sua própria cidade.

Qual é o resultado? Não há mais um padrão, portanto

NÃO HÁ MAIS COBRANÇA!

O então ministro da Educação Paulo Renato concebeu

a ideia do chamado “provão” para concluintes do Ensino

Superior e o Enem para os do Ciclo Básico.6

Ideias excelentes, já que promoviam algum tipo de

6 Mais adiante comento um artigo que escrevi na revista Nova Escola, em que já

havia sugerido algo parecido.

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auditoria externa nas escolas, até então realizada apenas

de forma indireta pelos vestibulares e pelo próprio mercado

de trabalho.

Infelizmente, essas boas ideias foram muito mal

executadas pelo Ministério da Educação.

Basta ver a estrutura dos exames propostos: nenhum

deles cobra algum tipo de conteúdo.

Viramos tanto a roda do leme para fugir do iceberg do

conteudismo que acabamos esbarrando, do outro lado, no

iceberg do “nadismo”!7

Felizmente, o MEC teve a coragem (ou a inconsciência!)

de se fi liar ao exame mundial Pisa (Programme for

International Students Assessment), exame este que testa

alguns milhares de alunos de 15 anos de cada país fi liado

à OECD (Organization for Economic Co-operation and

Development) ou convidado. O exame de 2003 mostrou

7 Até a publicação desta edição o Enem é o exemplo mais fulgurante do “nadismo”!

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que o Brasil, entre dezenas de países, tem um dos piores

sistemas educacionais do mundo!

E os resultados brasileiros, nos exames posteriores,

continuaram sendo catastrófi cos!

Vamos agora, por favor, fi xar o conceito:

O BRASIL TEM UM DOS PIORES SISTEMAS

EDUCACIONAIS DO MUNDO!

Talvez você não tenha entendido direito, portanto, vou

reforçar:

O BRASIL TEM UM DOS PIORES SISTEMAS

EDUCACIONAIS DO MUNDO!

Se não partirmos desse ponto básico, tudo o que formos

discutir daqui para a frente perderá o sentido.

E não adianta vir com desculpas como subnutrição, poucas

verbas, despreparo dos professores e outros pretextos tão

empregados pelos que querem justifi car nosso vergonhoso

desempenho.

Também não é justo jogar toda a culpa em cima da má

qualidade do ensino público: entre os alunos selecionados

para o Pisa, havia uma considerável amostragem de alunos

oriundos de “boas escolas particulares”.

Isso signifi ca que, quando se fez uma verdadeira auditoria

externa, comparando nosso sistema educacional com o de

dezenas de outros países, se evidenciou a falência das

perfumarias pseudopedagógicas.8 O navio está afundando!

8 Os vários Inad, Ideb, Enem cobram “competências e habilidades” para satisfazer

a “pedagorreia” e não medem adequadamente nem inteligência nem conhe-

cimento, que são as verdadeiras metas de qualquer sistema escolar que tenha

um mínimo de decência!

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Mas o grande rombo no casco não é devido a essa falta

de controle. Ela apenas levou nossa nau sem rumo ao

encontro do iceberg.

O grande rombo, que poucos veem justamente por estar

abaixo da linha d’água, consiste em um fato muito simples.

Este é apenas um dos dois defeitos estruturais que citei no

começo.

O outro é muitíssimo mais grave.

A esmagadora maioria dos alunos brasileiros, de qualquer

idade e curso, não estuda para aprender… fi nge que estuda,

mas é para “tirar nota”! Esse é o câncer de nossa escola

e é esse um dos pontos nos quais vou martelar muito nos

próximos capítulos.

Quando, em alguma escola, ouço dizer que o aluno não

está mais vindo às aulas porque “já fechou”, eu penso que

o que deveria “fechar” é a escola, já que está sendo gerida

por incompetentes!

Temos um sistema escolar com milhões de alunos e

quase nenhum estudante!

Ou seja, o Sistema Escolar Brasileiro não passa de uma

gigantesca FARSA. Da Educação Infantil ao Doutorado.

Agora eu pergunto: “De quem é a culpa?”.

Vamos raciocinar um pouco antes de cometer

injustiças.

Quem redige as leis que regem as normas educacionais

no Brasil?

As pedagogas!

Quem implanta a execução dessas normas nas escolas

brasileiras?

As pedagogas!

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Quem fi scaliza a aplicação dessas normas nas escolas

brasileiras?

As pedagogas!

Agora, se o Sistema Escolar Brasileiro é, sem sombra

de dúvida, catastrofi camente ruim… de quem será a

responsabilidade?

Se você respondeu “das pedagogas!”, sinto muito, mas

acho que errou!

Existe uma quantidade enorme (talvez a maioria) de

pedagogas competentes, inteligentes, voluntariosas e

altamente bem-intencionadas.

O que está errado não são as pedagogas… é a pedagogia!

Ou, pelo menos, a pedagogia praticada no Brasil.

Aqui, as faculdades de Pedagogia ensinam uma pedagogia

toda recheada de termos técnicos sofi sticados, aparentando

um status de ciência, quando, na realidade, se trata de

um amontoado de afi rmações, muitas delas sem a menor

comprovação experimental.9

O que você já deve ter percebido, se já leu os outros

dois volumes, é que o ciclo da aprendizagem inicia-se,

processa-se e encerra-se em 24 horas. É DIÁRIO!

Se nesse período acontecerem três coisas, o ciclo

completa-se de forma efi ciente:

1 – Aula assistida com atenção

2 – Tarefa estudada no mesmo dia

3 – Uma boa noite de sono

Se qualquer uma das três não ocorrer, as 24 horas foram

9 Na hora de fazer o “teste de campo” do modismo chamado “construtivismo”,

vimos no que deu: um monte de escolas particulares falindo! Nos países eu-

ropeus está se dando uma emergencial marcha à ré para se tentar salvar o

salvável depois do desastre do construtivismo.

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jogadas, do ponto de vista da aprendizagem, na lata do

lixo!

Na “valsa” da aprendizagem efi ciente, o 1, 2, 3 repete-

-se dia após dia.

O que é estarrecedor é perceber que na Pedagogia ignoram-

-se o 2 e o 3, achando que o ciclo se completa apenas com

o 1!

Epistemologicamente, há uma grande diferença entre um

corpo de conhecimentos ser CONSISTENTE e ser COERENTE.

Um corpo de conhecimentos é CONSISTENTE quando

não tem contradições internas. É COERENTE quando não

entra em contradição com a realidade externa.10 Um bom

exemplo de pseudociência absolutamente consistente,

porém incoerente, é a Astrologia.

A Astrologia é consistente, pois você pode elaborar

um mapa astral e toda sua interpretação por meio de um

software. A Astrologia não tem contradições internas. Quem

nasce com a Lua em Capricórnio sempre terá, segundo a

Astrologia, o mesmo tipo de problema.

Agora, achar que a posição dos astros possa infl uir nas

características de um indivíduo ou em seu destino é um

tipo de raciocínio não científi co, ou seja, que não atende

às leis da ciência tal qual a conhecemos hoje.

A Astrologia é incoerente com a realidade do mundo

atual.

Pois bem, em minha modesta opinião, opinião esta

que formei após 60 anos de estudo, milhares de livros

lidos e mais de 100 mil alunos instruídos, tenho a

10 Alguns fi lósofos defi nem CONSISTENTE como CONSISTENTE INTERNO, e COEREN-

TE como CONSISTENTE EXTERNO.

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sensação de que talvez existam muitos outros ramos do

conhecimento que se enquadram nesse modelo.

É fácil perceber que a pedagogia ortodoxa é altamente

consistente, mas mostra-se incoerente quando defrontada

com a realidade de alunos em carne e osso.

Com os atuais conhecimentos neurocientífi cos a respeito

do cérebro humano, percebemos que a pedagogia, até

hoje, criou “software” sem se preocupar em checar se era

compatível com o “hardware” disponível.

Depois de tantas importantes descobertas na área de

neurociência, será que é tão impossível nos desfazermos

do que a Pedagogia tem de incoerente11 transformando-a

em Neuropedagogia?

11 Mantendo, obviamente, as muitas coisas boas que ela já tem.

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Será tão impossível que a Pedagogia ofi cial, essa

pseudopedagogia, possa fi nalmente entender que os alunos

têm cérebro?

Será tão difícil entender que assistir à aula e estudar

são eventos mutuamente exclusivos?

Será tão difícil perceber que entender e aprender

são duas fases distintas no processo de aquisição do

conhecimento?

Será tão difícil entender que calendário de provas é

um absurdo?

Creio que não será tão difícil assim. As pessoas que

militam na área de educação e já leram os dois volumes

que precedem este concordam que é fácil voltar a enxergar

o óbvio.

E a boa notícia é que, não só não é difícil, como também

é possível reformularmos completamente o nosso sistema

educacional em curtíssimo prazo.

Durante alguns anos, nas aulas de Teoria Geral dos

Sistemas que eu ministrava na pós-graduação da PUC-

Cogeae de São Paulo, sempre alertei meus alunos:

“SE VOCÊ ESTIVER PERDENDO O JOGO, NÃO MUDE OS

JOGADORES… MUDE AS REGRAS DO JOGO!”.

E mudar as regras do jogo é rápido quando, como é nosso

caso, os jogadores são competentes.12

Mas… mudar o quê?

É só parar de procurar, desvairadamente, novas maneiras

de ensinar e utilizar efi cientes maneiras de aprender.

12 Minha experiência pessoal, viajando e fazendo palestras em escolas por todo o

Brasil, mostrou-me que quase todos os profi ssionais que militam nessa área são

inteligentes e competentes. As regras (principalmente as que “vêm de cima”) é

que estão equivocadas.

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Em poucos anos, teremos, talvez, condições de ocupar

até o topo do próximo Pisa.

A Finlândia, atual primeiro lugar, que se cuide!

Basta mudar as regras do jogo!

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