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ENSINO DE CIÊNCIAS: DENSIDADE, UMA ABORDAGEM EXPERIMENTAL
Jaqueline Evelin Aparecida Martins Quincas1 Valentim da Silva2
RESUMO: Este trabalho propõe apresentar práticas desenvolvidas sobre densidade, propriedade específica de material ou substância. Pois faz necessário que, os estudantes conheçam, compreendam e integrem com as diversas áreas do ensino de ciências, principalmente com física e a química. Deste modo, este artigo buscou identificar e aplicar, utilizando atividades que relacionem teorias e práticas experimentais, que promovam o ensino de ciências de forma critica e contextualizada, os conceitos de densidade. Ainda demonstrar encaminhamentos metodológicos e estratégias de ensino que auxiliam no despertar do interesse dos estudantes proporcionando situações de investigação contextualizada. Dentro do exposto, o presente trabalho objetiva apresentar estudos sobre as variações da propriedade densidade, em diferentes tipos de materiais e substâncias. Ainda ampliar as possibilidades do educando de correlacionar com suas vivências e as diferentes compreensões e conceitos de ciências do segundo ciclo do ensino fundamental, principalmente para o 9º ano, do Colégio Estadual Gottlieb Mueller.
Palavras-chave: Ciências – Densidade – Experimentação
1. INTRODUÇÃO
De acordo com as diretrizes curriculares da educação básica de Ciências –
DCE: Ciências, do Paraná (Paraná, 2008), sugere-se que, ao possibilitar o ensino de
ciências, o professor reflita sobre as relações entre os conteúdos científicos, os
recursos disponíveis e, sobretudo, as estratégias, levando à integração de conceitos.
Dessa maneira “ensinar ciências considerando as opiniões, discussões, debates,
confrontando ideias, pesquisa bibliográfica, as práticas, e condições de vida do
aluno, mudam a visão conceitual dos conteúdos de ciências” (Cunha & Cicillini,
1995).
Sendo assim, a alfabetização científica se constitui em uma meta a ser
atingida no ensino de ciências, pois de acordo com MILLER, 1983, apud
LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001, essa deve ser compreendida como
propriedade de ler, compreender e expressar opinião sobre assuntos de caráter
científico, logo, o tema abordado neste artigo, densidade, poderá proporcionar
1 Professora PDE: Especialista em Magistério de 1º e 2º Graus, graduada em Biologia. Professora da Rede Estadual de Ensino – SEED – PR - Colégio Estadual Gottieb Mueller. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Química pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Professor Adjunto, docente do Curso de Licenciatura em Ciências da UFPR Setor Litoral. E-mail: [email protected]
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abordagens que auxiliem na compreensão de conceitos. Pois a construção de
conhecimentos é essencial, em relação aos conceitos sobre a densidade,
propriedade específica de materiais e substâncias, para estudantes do ensino de
ciências do 9º ano.
Desta forma, através de atividades práticas pedagógicas, os experimentos,
leituras, que auxiliam a compreensão e expressão de opiniões no que diz respeito à
densidade de diferentes tipos da matéria, fazem-se necessários para uma efetiva
aprendizagem.
Tão importante quanto selecionar conteúdos específicos para o ensino de
ciências, é a escolha de estratégias pedagógicas adequadas à mediação do
professor, pois são elas que contribuirão para que o estudante se aproprie de
conceitos científicos de forma significativa, possibilitando mecanismos capazes de
estabelecer critérios para a elaboração de instrumentos de avaliação qualitativa.
Segundo Delizoicov & Angoti (1994) na aprendizagem de ciências, as
atividades experimentais devem ser garantidas de maneiras a evitar que a relação
entre teoria e prática seja transformada numa dicotomia, tornando o trabalho árduo e
sem perspectiva de aprendizagem.
Lorenzetti & Delizoicov (2001) destacam a importância das estratégias no
ensino de ciências, ressaltando a importância das escolas, através de seu corpo
docente, elaborarem estratégias para que os estudantes possam entender e aplicar
os conceitos científicos básicos nas situações diárias, desenvolvendo hábitos que
estabeleceram relações entre os conceitos abordados na escola com as vivências
no cotidiano. Desta forma, reafirmando a ideia de Vasconcelos & Souto (2003), que
sugere que o ensino de ciências deve propiciar ao aluno uma compreensão
científica, filosófica e estética de sua realidade, oferecendo suporte no processo de
formação aos indivíduos.
Dentre as estratégias sugeridas nas DCE: Ciências do Paraná (2008), a
leitura científica proporciona um maior aprofundamento de conceitos. Ao entrar em
contato com materiais de divulgação científica, como revistas, jornais,
documentários, artigos entre outros, o processo a alfabetização científica no ensino
de ciências começa a acontecer, já que esses instrumentos funcionam como
condutor e instigador de interesse, levando o indivíduo à compreensão de termos
para, então, chegar ao viés das questões experimentais de densidade,
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contextualizando teoria, prática com os saberes trazidos, oriundos da sociedade de
cada aprendiz.
Dessa maneira, o ensino de ciências deve levar em consideração a realidade
social, cultural e econômica dos estudantes, e, a partir dessa realidade, desenvolver
metodologias que usem a investigação, a capacidade de problematizar a realidade,
formular hipóteses, planejar e executar ações, além de estabelecer críticas e
elaborar conclusões, tornando-se assim, estudantes capazes de entender a
importância das questões científicas, em como tomar decisões de interesses
individuais e coletivos, levando em consideração o papel da humanidade no
contexto histórico.
Nesse sentido, o professor deve atuar como um facilitador da aprendizagem e
gerador de pontes cognitivas que possam interagir, relacionando o novo
conhecimento com o pré-existente dos alunos, através de encaminhamentos
metodológicos, que produzem uma aprendizagem duradora e significativa. Arruda &
Laburú (2007) compartilharam dessa ideia quando afirmam a necessidade de ajustar
a teoria com a realidade, sendo a ciência uma troca, experimento e teoria, já que a
esta serve para organizar os fatos e os experimentos, adaptando-a a realidade.
2. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO E MATERIAIS
Os experimentos sobre o estudo de propriedade densidade foram realizados
em uma turma de 9º ano do ensino fundamental noturno, com 18 alunos (idade entre
14 e 21 anos), do Colégio Estadual Gottlieb Mueller – EFM, localizado no Bairro
Boqueirão do município de Curitiba-PR.
2.1. Orientações metodológicas.
Para a sistematização desse trabalho houve a formação de grupos de
trabalho entre os estudantes da turma, se auto-organizaram, objetivando a revisão
de literatura sobre o tema.
Na sequência, selecionados os experimentos, aqueles considerados mais
práticos e menos complexos que abordem o tema densidade, seguido da aplicação
de questionário, elaborado pelo docente aplicador do experimento, voltado para as
percepções, reações identificadas por eles a fim de verificar o grau de fragilidade no
ensino e aprendizado, com referência no conhecimento sobre o tema.
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Logo, foram apresentados vídeos, disponíveis no site “dia a dia educação”
(http://www.diaadia.pr.gov.br/), elaborados em projetos desenvolvidos por
professores da rede Estadual de Ensino. Estes buscaram exemplificar o tema, bem
como realização de experimentos, selecionados pelos discentes, visando integrar o
conceito de densidade à prática em sala de aula. Ainda, o resultado foi comprovado
na elaboração de um relatório de relato de experiências vivenciadas pelos discentes,
destacando o resultado de cada atividade prática.
2.2. Atividades Experimentais
Foram desenvolvidas atividades experimentais relacionando diferentes áreas
da ciência, cujo objetivo foi desenvolver os experimentos contidos em uma unidade
didática elaborada como parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE
(Quincas, 2012).
Foram selecionados alguns experimentos para estimular a curiosidade e
possibilitar a construção de conceitos relacionados ao tema densidade para o ensino
de ciências.
A atividade experimental utilizada no que se refere à densidade e corrente de
convecção, adaptado de Reis (2001), simulou e observou o grau de salinidade em
relação da densidade da água em lagos e mares com temperaturas baixas (~0 ºC).
Utilizaram-se copos de plástico, adicionados dois gotas de corantes alimentícios,
com coloração intensa, logo, levados ao congelador até a solidificação. Em dois
recipientes transparentes de 2 litros foi adicionado um litro de água em cada
recipiente. Num destes adicionaram sal de cozinha, mexendo até a saturação, para
verificar o excesso de sal no fundo do recipiente, com isso obteve a solução
saturada, a fim de simular água de oceano. Após esse procedimento foi adicionado
o gelo colorido em cada recipiente e observou-se o que ocorre nos dois sistemas.
O experimento, adaptado de Hess (1997), visa identificar a densidade dos
diferentes tipos de materiais simples e a relação com as diferentes áreas de
ciências. Essa atividade experimental trabalha-se a composição e constituição da
matéria, ainda podendo ser comparativamente relacionada aos dados apresentados
na tabela periódica. Para a realização utilizou-se de: Chumbo 52,9 g (A); Ferro 37,6
g (B); Alumínio 12,8g (C); e Grafite 7,8g (D). Todos em forma de barra de diâmetro
9,6 e comprimento de 65,5 milímetros, ilustrados abaixo na figura 1.
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Figura 1. Barras de igual volume de chumbo (A), ferro (B), alumínio (C), grafite (D).
Para verificar a densidade em líquidos, construiu-se um densímetro de acordo
com as orientações extraídas do site: http://www.marquecomx.com.br/. Essa
atividade visa estimular a observação sobre diferentes propriedades de constituição
da matéria no estado líquido, relacionando o volume e a massa, ainda, verificando a
pureza das substâncias. Para a realização do experimento foi utilizado os seguintes
materiais: Canudinho; alicate; água; régua; palitos; cola colorida, frascos de vidro;
etiquetas e sal de cozinha. Para montar o aparato foi necessário: aquecer as
extremidades do canudinho e com alicate pressionando para vedá-las; com a régua,
graduar de 0,5 em 0,5 cm os canudinho; com auxílio de um palito molhado com cola
colorida fazer a marcação de graduação; após a secagem, e com uso de frascos de
vidro de mesma medida, identificar com etiquetas cada frasco, para que pudessem
receber as diferentes soluções (água/solução de NaCl e álcool); acrescentar sal no
canudinho para que manter a estabilidade quando imersos no líquido.
Ainda, nas experimentações sobre densidade de líquidos, foi necessário
adicionar 200 ml de água em um copo e mexer com uma colher até a mistura ficar
homogênea. Após, foi adicionado em uma garrafa pet 200 ml de óleo de cozinha.
Vagarosamente, em posição vertical, foram adicionados 200 ml de álcool de
cozinha. Aguardou-se o acomodo dessas substâncias e observou-se o
comportamento resultante desses líquidos.
Com o experimento com uva-passa, foi possível verificar a densidade de
alguns materiais, quando imersos em substâncias líquidas e sua relação com as
diferentes áreas de ciências. As uvas-passas foram cortadas em tamanhos
A B D C
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pequenos com auxílio de tesoura e colocadas em dois frascos transparentes, com
volume de 100 ml de água e adicionado média de cinco uvas-passas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Grupo de Trabalho em Rede (GTR), composto por professores
colaboradores da rede pública estadual, que de forma virtual, deu sua contribuição,
concretizou-se como um momento muito importante justamente pela possibilidade
de troca de experiências e sugestões. Estes professores também trabalham com
atividades práticas experimentais sugeridas nesse trabalho, com o intuito de tornar
as aulas sobre o tema contextualizadas, possibilitando ao educando ampliar a
compreensão de conceitos de densidade no ensino de ciências e a troca de
vivências.
Através das interações com o GTR, foi possível ampliar a área de
conhecimento, possibilitando a construção de reflexões pertinentes à elaboração de
aulas didáticas, ressaltando as abordagens práticas, levando os alunos a vivenciar e
compartilhar suas experiências baseadas no processamento de seu aprendizado.
As atividades relacionadas à densidade e corrente de convecção,
possibilitaram aos alunos a visualizar o fenômeno, sem ser como mera resolução de
cálculo. Ainda essas reflexões, adentraram no conteúdo relativo às chuvas,
mencionando as mudanças que sofrem as corentes marítimas, no período chuvoso.
As abordagens sobre a densidade nos diferentes tipos de materiais
proporcionou os alunos a observar a “peso” de cada material. Ainda, verificando com
todas as barras, embora tenham as mesmas medidas, possibilitou perceber a
relação entre massa e volume.
A construção do densímetro permitiu verificar o funcionamento do mesmo,
além da verificação da densidade dos diferentes líquidos utilizados. Ao verificar a
densidade de líquidos, o podemos constatar como mais instigante e desafiador, pois
nesse experimento os alunos passaram a ser o instrumento de verificação. Essa
atividade gerou questionamentos a partir da formação das fases nas substâncias
líquidas, envolvendo sempre as diferentes áreas de ciências: relacionando com as
propriedades da matéria. Assim, foi possível obervar que cada substância se
posiciona no frasco de acordo com sua densidade.
Experimento com uva-passa: os alunos tiveram que observar o ocorrido
concomitantemente, para que pudessem perceber a diferença entre a densidade da
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uva-passa quando o gás carbônico se fixa nela alterando sua densidade, que é
levada a flutuação, pois a densidade da uva com o CO2 é menor que da água.
4. CONCLUSÃO
O trabalho foi capaz de demonstrar que as atividades práticas e
experimentais são instrumentos eficazes no que se refere a estimular o interesse
dos alunos, com aulas mais dinâmicas e motivadoras, promovendo situações de
investigação, compreensão, interpretação e discussão de conceitos científicos,
levando-os às reflexões que possibilitam a construção do conhecimento científico.
Essa proposta demonstrou a importância de atividades contextualizadas,
valorizando o conhecimento prévio dos sujeitos envolvidos no processo, ou seja, é
preciso que o professor saiba trazer mecanismos de façam parte da realidade do
aluno para que haja um aprendizado significativo.
Sendo assim, sugere-se que a construção de conceitos e saberes pode ser
complementada via metodologias que contemplem atividades experimentais.
Ressalta-se, porém, que a necessidade desse tipo de trabalho resulta das
inquietudes adquiridas durante o trabalho com os alunos da escola.
5. REFERÊNCIAS
CUNHA, A. M. O. & CICILLINI, G. A. Considerações sobre o ensino de ciências para a escola fundamental. In: VEIGA, I. P. A.; CARDOSO, M. H. F. (Orgs.) Escola fundamental: currículo e ensino. 2ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 1995.
DELIZOICOV, D. & ANGOTTI, J.A.P. Metodologia do Ensino de Ciências. São Paulo: Cortez, 1994.
LABURÚ, C.E.; ARRUDA, S.M, NARDI, R. Pluralismo metodológico no ensino de ciências. Ciência & Educação, 9:247-260, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v9n2/07.pdf. Acesso em: 25 de agosto de 2013.
LORENZETTI, L.; DELIZOICOV, D. Alfabetização Científica no Contexto das Séries Iniciais. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências. Belo Horizonte, 3:1-17, 2001.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares de Ciências para o ensino fundamental. Paraná, 2007.
QUINCAS, J.E.A.M. Produção didático-pedagógica: Experimentos com solos para surdos. Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Secretaria de educação do estado do Paraná – SEED: Curitiba, 2012.
REIS, M.; Coleção Química: Meio ambiente, Cidadania, Tecnologia. Vol. 1. São Paulo: FTD, 2001.