Entrando (No Campo)

10
 Entrando 1  RUTH HOROWITZ  No início de 1970 Ruth Horowitz realizou uma extensa pesquisa de campo com os moradores do bairro Chicano da 32nd Street, em Chicago. No curso de sua pesquisa, ela  ficou fascinada com as contradições observada s por ela em seu comportamento.  Ela viu moradores r ealizando grandes esforços para ajudar uns aos outros, tanto  financeiramente quanto socialmente. Ao mesmo tempo, jovens foram baleados em esquinas ao discutir formas de realizar a paz entre gangues rivais. Moradores demonstravam melhores oportunidades educacionais, mas as escolas eram lugares desencorajados e perigosos. "A vida cultural desta comunidade de Chicago", Horowitz escreveu, "é organizada em torno de vários temas cruciais: a violência e convenções, vida pública e identidade privada, a honra e o sonho americano ..."  Para entender melhor este amplo padrão cultural, Horowitz, focou em adolescentes e como eles interagiam e desenvolviam identidades em vários contextos sociais. Ela também examinou o processo através do qual os jovens faziam a transição do adolescente  para o mais antigo membro da comunidade. Sua pesquisa destacou a tensão contínua entre a ética individualista de sucesso, como ensinado e esperado nas escolas e no trabalho, e da solidariedade coletiva do grupo entre os pares. Os jovens desta comunidade foram moldados por vários estilos de vida distintos.  Alguns jovens foram imersos no mundo social de ga ngues de luta; ou tros permaneceram na periferia, às vezes se envolvendo em brigas, mas geralmente só respondendo ao que eles percebiam como insultos ao invés de inst igar os incidentes (um modo de melhorar a reputação de um membro da gangue). Outros jovens rigorosamente evitavam o mundo das ruas e se concentravam em obter uma educação ou manter um emprego. Mas, enquanto as suas orientações para o mundo da rua eram distintas, todos os jovens interagiam uns com os outros.  As mulheres jovens se moviam em mundos sociais que eram em grande parte  separados dos homens. A maioria delas experimentaram tensão no campo da sexualidade e da maternidade. Apenas algumas orientaram suas vidas em direção a uma carreira  profissional. Os outras desenvolveram várias estr atégias para resolver o dilema entre a importância de permanecer virgem e a necessidade de ceder às exigências sexuais de um namorado. Os objetivos de pesquisa de Horowitz exigiram que ela passasse uma grande parte do tempo com os moradores adolescentes de 32nd Street, be m como com as famílias que 1  Esta selecção é adaptada de Ruth Horowitz. Honra e do sonho americano: Cultura e Identidade em um Comunidade Chicano, copyright © 1983 por Rutgers, The State University. Re-impressas com permissão da Rutgers University Press. Também a partir de Ruth Horowitz, per manecendo um Outsider: Associação  para Investiga ção Rapport ", Journal of Contemporary Ethnography 14, não. 4, pp 413-423, copyright 1986  por Ruth Horowitz. Reproduzido com permissão da Sage Publications , Inc.

description

Tradução do texto Getting in, da socióloga Ruth Horowitz, relatando a experiência de sua pesquisa de campo ao estudar os jovens de um bairro Chicano na 32nd Street em Chicago entre os anos de 1971 e 1974.

Transcript of Entrando (No Campo)

  • Entrando1

    RUTH HOROWITZ

    No incio de 1970 Ruth Horowitz realizou uma extensa pesquisa de campo com os

    moradores do bairro Chicano da 32nd Street, em Chicago. No curso de sua pesquisa, ela

    ficou fascinada com as contradies observadas por ela em seu comportamento.

    Ela viu moradores realizando grandes esforos para ajudar uns aos outros, tanto

    financeiramente quanto socialmente. Ao mesmo tempo, jovens foram baleados em

    esquinas ao discutir formas de realizar a paz entre gangues rivais. Moradores

    demonstravam melhores oportunidades educacionais, mas as escolas eram lugares

    desencorajados e perigosos. "A vida cultural desta comunidade de Chicago", Horowitz

    escreveu, " organizada em torno de vrios temas cruciais: a violncia e convenes,

    vida pblica e identidade privada, a honra e o sonho americano ..."

    Para entender melhor este amplo padro cultural, Horowitz, focou em adolescentes

    e como eles interagiam e desenvolviam identidades em vrios contextos sociais. Ela

    tambm examinou o processo atravs do qual os jovens faziam a transio do adolescente

    para o mais antigo membro da comunidade. Sua pesquisa destacou a tenso contnua

    entre a tica individualista de sucesso, como ensinado e esperado nas escolas e no

    trabalho, e da solidariedade coletiva do grupo entre os pares.

    Os jovens desta comunidade foram moldados por vrios estilos de vida distintos.

    Alguns jovens foram imersos no mundo social de gangues de luta; outros permaneceram

    na periferia, s vezes se envolvendo em brigas, mas geralmente s respondendo ao que

    eles percebiam como insultos ao invs de instigar os incidentes (um modo de melhorar a

    reputao de um membro da gangue). Outros jovens rigorosamente evitavam o mundo

    das ruas e se concentravam em obter uma educao ou manter um emprego. Mas,

    enquanto as suas orientaes para o mundo da rua eram distintas, todos os jovens

    interagiam uns com os outros.

    As mulheres jovens se moviam em mundos sociais que eram em grande parte

    separados dos homens. A maioria delas experimentaram tenso no campo da sexualidade

    e da maternidade. Apenas algumas orientaram suas vidas em direo a uma carreira

    profissional. Os outras desenvolveram vrias estratgias para resolver o dilema entre a

    importncia de permanecer virgem e a necessidade de ceder s exigncias sexuais de um

    namorado.

    Os objetivos de pesquisa de Horowitz exigiram que ela passasse uma grande parte

    do tempo com os moradores adolescentes de 32nd Street, bem como com as famlias que

    1 Esta seleco adaptada de Ruth Horowitz. Honra e do sonho americano: Cultura e Identidade em um

    Comunidade Chicano, copyright 1983 por Rutgers, The State University. Re-impressas com permisso

    da Rutgers University Press. Tambm a partir de Ruth Horowitz, permanecendo um Outsider: Associao

    para Investigao Rapport ", Journal of Contemporary Ethnography 14, no. 4, pp 413-423, copyright 1986

    por Ruth Horowitz. Reproduzido com permisso da Sage Publications, Inc.

  • viviam na comunidade. Ela tambm observou os moradores nas escolas, em reunies

    polticas, em bailes e festas, e nas ruas. Durante grande parte do tempo, ela saa com os

    membros das gangues de luta nas esquinas, nos parques, e s vezes em suas casas. Ela

    no se tornou um membro da gangue; em vez disso, ela foi aceita como uma espcie de

    reprter; alguns dos adolescentes a apelidaram de Lois Lane. Mas enquanto sua

    entrada na comunidade e as vidas de seus moradores foi relativamente fcil, depois de

    um ano ela descobriu que os moradores cada vez mais a definiam em termos de

    expectativas da comunidade local, criando problemas para ela como uma sociloga

    neutro.

    s vezes tendo a romantizar a minha experincia de campo. Essa tendncia ajudou

    a me sustentar de 1971 a 1974 e me trouxe de volta 32nd Street em 1977 para descobrir

    o que havia acontecido com os jovens que conheci pela primeira vez em 1971. Frequentar

    danas locais, festas, casamentos, e cotillions2 foi emocionante, e sentar em um banco de

    jardim ou caminhar ao redor da vizinhana conversando e observando era uma aventura.

    Muitas famlias me fizeram se sentir em casa, convidando-me para funes da famlia e

    deixando-me saber que eu era sempre bem-vinda. Eles celebraram o meu aniversrio e

    passavam longas horas fazendo tamales3, que eles sabiam estar entre minhas comidas

    favoritas. A imagem de uma aventura romntica me ajudou a superar meus medos e

    suportar o tdio de notas ditadas s duas ou trs da manh, muitas vezes seis noites por

    semana.

    A aventura foi muitas vezes ofuscada pelos medos e trabalho penoso de fazer

    trabalho de campo sozinha. Alguns dos problemas que encontrei foram tpicos de todos

    os trabalhos de campo, outros resultaram da natureza da comunidade que eu tinha

    escolhido. Entrar em um cenrio desconhecido sem nenhum status ou identidade,

    apresentando-me a muitas pessoas, e lembrar seus nomes e apelidos usados em minhas

    notas no foi fcil. No comeo eu considerava todos os moradores como fundamentais

    para minha pesquisa e pensei que ofender qualquer um deles iria me obrigar a sair do

    campo.

    Embora eu fosse fluente em espanhol, a vida na Espanha, Mxico e norte da

    Filadlfia no tinha me preparado para fazer a pesquisa. Aps me mudar para a 32Street

    em 1972, eu rapidamente aprendi a distinguir entre os sons de tiros e foguetes e para

    bloquear o barulho e a msica que emanava do salo da associao abaixo do meu

    apartamento. No entanto, descobri o mundo das ruas, por vezes, um lugar assustador.

    Vendo armas sendo passadas atravs de janelas de banheiro de mulheres jovens em bailes

    pblicos me atingiu, principalmente quando voltamos do banheiro para o escuro, pista de

    dana barulhenta, onde um espectador poderia facilmente ter sido baleado

    intencionalmente como vtima.

    Os leitores podem se perguntar como uma mulher poderia ter passado algum tempo

    com membros de gangues como eles vagando nas esquinas e em bancos de parque, e

    2 Um tipo de dana. 3 Doces mexicanos feitos de milho, como pamonhas.

  • desenvolveu relacionamentos que lhe permitiram reunir dados suficientes e confiveis.

    Eu nunca tentei me tornar um membro da comunidade. O papel desenvolvido na pesquisa

    atravs da interao com os jovens variou de um grupo para outro e foi significativamente

    influenciado por algumas das minhas caractersticas pessoais: Eu sou judia, educada,

    pequena, um pouco sombria, uma mulher, visto-me um pouco descuidada, mas no muito

    descuidada, e apenas alguns anos mais velha do que a maioria daqueles que eu observei.

    Esses atributos fizeram a diferena na forma como as pessoas avaliadas avaliaram a mim

    e minhas aes, e nas atividades e pensamentos os quais eu estava ocultando. A

    observao cuidadosa de que tipo de informao estava disponvel para mim e como os

    diferentes grupos me percebiam e avaliavam, permitiu-me ver no s que categorias

    foram importantes para cada um dos grupos locais, mas o que algum neste papel poderia

    ver, fazer e ouvir, mas tambm como eu deveria tentar negociar a minha identidade no

    campo.

    Eu tinha pouca escolha alm de reconhecer publicamente as razes da minha

    presena na 32nd Street; no s eu diferia do contexto dos moradores 32nd Street, mas

    um tive que violar muitas expectativas locais para coletar os dados que eu precisava.

    Enquanto minha aparncia me permitiu misturar-se uma multido jovem, eu soava e

    parecia suficientemente diferente para que a maioria das pessoas percebessem

    imediatamente que eu no era do bairro. Grande parte do tempo era vantajoso ser um

    estranho e deve ser assim considerado. Por exemplo, as mulheres no passavam tempo

    sozinhas com gangues masculinas como eu fiz, especialmente sem estar associada a um

    dos membros da gangue. Alm disso, como uma estranha que eu poderia fazer um monte

    de perguntas estpidas -"Quem so os caras nas blusas pretas e vermelhas?" Ou "Por

    que voc luta?" Como qualquer coisa, mas como uma estranha reconhecida eu teria tido

    um momento difcil perguntando-lhes.

    Enquanto eu passei algum tempo com adultos - professores em vrias escolas, as

    famlias em suas casas, e ativistas polticos em diversas organizaes comunitrias

    passei a maior parte do meu tempo com uma variedade de grupos de jovens nas ruas e em

    seus outros habitats. Alguns dos jovens eram membros de gangues que tinham e usavam

    armas; outros eram mulheres jovens que frequentemente saam com esses jovens; outros

    eram muito menos envolvido na vida de rua; e ainda outros estavam para entrar na

    faculdade.

    Conhecer os jovens no foi to difcil como se poderia esperar, dada a natureza

    pblica de grande parte da sua vida social, em particular a atividade de gangues. Nas

    primeiras semanas do projeto eu escolhi para sentar em um banco em um parque onde eu

    vi muitos jovens (com idade entre 15 a 19) reunidos do meio da tarde at tarde da noite.

    Depois de vrias tardes de sentado em um banco nas proximidades, um jovem do sexo

    masculino veio como se eu tivesse deixado cair uma bola de softball que tinha rolado para

    mim e disse, "Voc no pode pegar" (o que eu reconhecia) e "Voc no da rea, ?

    Estas foram as declaraes, e no questes, feitas por Gilberto, presidente dos Lions. Eu

    lhe disse que queria escrever um livro sobre a juventude Chicana. Ele disse que eu deveria

    conhecer os caras e me levou para apertar as mos de vrios dos membros da gangue

  • Lions. O parque se tornou meu lugar frequentado todos os dias depois disso, mas foram

    vrios meses, vrias garrafas de Boones Farm Strawberry Wine, e uma srie de rumores

    sobre eu ser um agente da narcticos antes de muitos dos membros da gangue me darem

    informaes ntimas sobre suas namoradas, famlias e sentimentos sobre si mesmos e

    sobre o futuro. Alguns nunca o fizeram.

    A facilidade com que entrei na comunidade e o relacionamento bastante confortvel

    com os Lees foi um alvio para a minha cabea, e eu quase levei minha aceitao longe

    demais por no exercer um grau razovel de cautela. Durante meu segundo ms no

    campo, ouvi sobre um reunio de paz entre as gangues que aconteceria no domingo

    tarde no parque. Todas as gangues da rea tinham sido convidadas a participar. Uma

    situao perfeita, eu pensei, uma excelente pea de dados. No domingo caa uma garoa,

    mas desci para a 32nd Street. Por volta de 01:30 cerca de 120 membros de gangues se

    reuniram sob o prtico do ginsio do parque. Embora eu tenha notado que todas as

    mulheres jovens tinham desaparecido do parque, eu no pensei nada a respeito disso.

    A reunio comeou. Um homem na casa dos vinte anos comeou a falar. Eu no

    poderia identific-lo porque ele no estava usando suas "cores." Ele falou por quase dez

    minutos sobre como as gangues Chicanas deveriam parar de lutar uns com os outros e,

    em vez disso, se reunirem para fins polticos. Todo mundo ouviu atenciosamente. Embora

    eu tenha visto que vrios deles tinham armas, isso no foi registrado por mim no

    momento.

    De repente, o orador parou e se virou para mim, assim como todos os outros. Meu

    corao comeou a fazer tempo triplo. Ele exigiu, "Quem voc?" Eu consegui dizer:

    "Oi! Eu sou Ruth e eu estou escrevendo um livro sobre como as gangues esto realmente

    juntas por aqui." Gilberto agarrou meu brao, puxou-me atrs dele, e disse: "Ela est legal,

    ela est com a gente." Outro membro dos Lions sussurrou-me para sair.

    O membro de gangue que me desafiou na conferncia de paz era um Senior Greek.

    Aps a reunio, voltei para a rea onde todas as gangues estavam em p ao redor. O

    palestrante veio em minha direo e me convidou para se juntar a ele e alguns outros

    Senior Greeks no bar da esquina. Eles j tinham bebido muito. Assustada, mas pensando

    apenas na oportunidade de pesquisa, eu os segui para o bar. L eles me contaram uma

    histria que soou como a cano "Officer Krupke" de West Side Story: Eles estavam

    "doentes" e derrotados, o sistema era corrupto, e seus pais tiveram muitos problemas. Ao

    longo dos prximos anos eu comecei a conhec-los muito melhor, tanto como cruis e

    perigosos e como educados e atenciosos poderiam ser.

    Meu relacionamento com os membros da gangue do sexo masculino evoluiu

    lentamente e nunca foi fcil. Os elementos-chave de identidade que negociamos foram

    meu gnero e o fato de ser uma estranha. Ser uma mulher tanto limitava quanto expandia

    o que eu podia ver e fazer com os membros da gangue. Permanecer como uma outsider

    era essencial. Como mulher, eu no fui convidada para participar de brigas ou para sair

    procura de outras gangues, mas fui levada junto para comprar armas e ouvi mais tarde

    sobre as lutas, informaes que eu poderia ento verificar individualmente com membros

  • de gangues e observadores externos. Eu poderia falar com eles sobre alguns aspectos de

    suas vidas privadas, que eles raramente discutiam com outros homens. Minha falta de

    cuidado com a aparncia, que os homens e as mulheres continuamente comentavam,

    permitiu-me jogar para segundo plano a minha identidade sexual. No entanto, tomava

    muito cuidado para no passar muito tempo sozinha com algum do sexo masculino e

    para no danar com eles nas muitas festas e danas que participei.

    As gangues do sexo masculino tiveram dificuldade de desenvolver uma identidade

    para mim que lhes permiisse estar confortavelmente com uma mulher, porque as mulheres

    no ficavam ao redor dos homens. No entanto, como uma mulher eu poderia causar algum

    dano enquanto eles avaliaram a situao; mulheres poderiam ser prejudiciais apenas

    quando eram vistas como controladoras da situao. Membros de gangues eram os nicos

    que poderiam decidir se queriam ou no que eu ficasse; Eu tinha feito essa opo

    explcita. Um homem em uma situao semelhante poderia ter tido mais dificuldade, pois

    suas perguntas poderiam ser vistas como um desafio. Mais tarde descobri que vrias

    semanas antes de eu chegar um fotgrafo de um jornal teve sua cmera retirada dele e foi

    posto para fora.

    A primeira dimenso da minha identidade que eu descobri que eles estavam

    construindo era como "uma Lady", que me colocou em uma posio respeitada, mas um

    pouco distante deles. A "Lady" implicava que uma mulher era sexualmente inacessvel.

    Um dia, quando fui convidada a acompanhar um dos membros (de 15 anos) para uma

    mercearia de esquina, vimos uma jovem se aproximando e ele disse: "A vem a minha

    garota." Eu no tinha conhecido ela e perguntei-lhe se eu deveria explicar para ela o que

    um estava fazendo. Ele respondeu que estava tudo bem, porque ela podia ver que eu era

    uma "Lady". (Sua garota no era). Eles comearam a me tratar de maneira diferente das

    mulheres jovens que se sentaram no parque. Eles no iam falar de sexo com uma

    "senhora", mas o faziam em relao s jovens que passavam algum tempo no parque. Um

    homem que passava pela calada com uma "Lady", ajudou-a a encontrar uma cadeira, e

    tomou-lhe o brao para ajud-la atravs de uma rua gelada; no entanto, eles no faziam

    essas coisas com a maioria das meninas no parque. Em vrias ocasies, um membro da

    gangue levou meu brao enquanto atravessvamos uma rua gelada, e quando eu estava

    vestida para uma festa fantasia, um deles correu ao redor para encontrar uma cadeira

    confortvel para mim. Os jovens frequentemente referiam-se s suas prprias mes como

    "Ladies." Aqui eu estava sendo capaz de comear a descobrir o significado de uma

    categoria importante para eles e o que eles faziam em situaes em que "Ladies" esto

    presentes.

    No entanto, "Ladies" no se sentaam no parque e no esto interessados em vidas

    membros de gangues. As assistentes sociais podem ser "Ladies" que faziam perguntas,

    mas no havia assistentes sociais outsiders na comunidade, e os Lions me descartaram

    dessa categoria porque eu estava no parque noite e aos fins de semana e no tentava

    obrig-los a fazer nada de forma diferente. Os assistentes sociais trabalhavam das nove

    s cinco e diziam s pessoas o que fazer, eles alegaram. Finalmente, cerca de quatro

    semanas depois que eu cheguei, e aps examinar o pequeno caderno que eu carregava

  • comigo, um dos membros da gangue declarou que eu era como Lois Lane, a reprter

    (namorada do Superman). Foi uma identidade que quase transcendeu gnero. Isto deu-

    lhes a identidade necessria com a qual eu poderia perguntar sobre suas atividades e eles

    poderiam facilmente responder. Muitas vezes, eles iriam me procurar para retransmitir

    novas histrias de atividades de gangues e, quando algum queria uma histria recontada,

    para dizer: "Pergunte a Ruth, ela est escrevendo tudo."

    Apesar de os Lions comearem a me tratar como uma Lady reprter, eles ainda

    tinham dvidas quanto ao que eu estava fazendo. Por que qualquer pessoa de fora,

    especialmente uma mulher, gastaria tanto tempo com eles? Tanto o investigador quanto

    as pessoas que esto sendo observadas certificam-se se os "dados" so realistas,

    comparando-os com suas prprias ideias e experincias; a confiabilidade dos dados

    verificada comparando o que dito com o que observado e com outros relatos dos

    mesmos eventos.

    No mundo daqueles a quem eu estava observando, a polcia fez perguntas muitas

    vezes. Meu comportamento de fazer perguntas permanece no fundo caber no apenas a

    funo de um reprter, mas tambm a de um "Narc". Um boato de que o esquadro de

    narcticos estava enviando uma agente feminina deu origem suspeita de meu papel.

    Depois que eu bebia com eles (vinhos de frutas e cerveja) e assisti-los fumar maconha e

    tomar cido sem uma priso, essa suspeita desapareceu. Ento eles comearam a me

    mostrar as suas armas. Um dos Lions me mostrou o seu rdio, em que ele tinha colocado

    uma arma de pequeno calibre. Ele explicou-me que ele tinha visto armas colocadas dentro

    de dicionrios na televiso, mas ele sabia que a polcia suspeitaria se o visse carregando

    um livro. Quando um dos Lions foi preso, no s eu dei uma pequena contribuio para

    sua fiana, mas, como a nica pessoa com mais de 21 anos, assinei por ele. Mais tarde fui

    convidada e comecei a contribuir com pequenas somas com os fundos do grupo para a

    cerveja e o vinho, o que significava que eles tinham decidido que eu estava indo para ser

    em torno de forma contnua. Eu tinha comeado a notar que somente aqueles que eram

    membros do grupo e sempre estavam ao redor que contribua para a maconha coletiva.

    A identidade do outsider e a posio um pouco marginal de "Lady reprter"

    permitiu alguma proximidade, sem ser ameaadora uma mulher que passava tanto tempo

    com eles perguntando o que eles muitas vezes achavam que eram perguntas idiotas. Esta

    identidade no me relegou a espreitar ao longe, mas permitiu-me participar em muitas das

    atividades em curso e foi um indicativo dos limites de sua interao com os adultos na

    sociedade em geral, suas habilidades sociais, suas categorias de mulheres, e smbolos que

    utilizam para expressar a continuidade esperada de presena.

    Minha identidade como Lady reprter e a marginalidade que isso implicava tinha

    vantagens e desvantagens. Sendo uma reprter me permitiu fazer perguntas publicamente

    sobre eventos emocionantes, mas no sobre a famlia e experincia pessoal. Como uma

    confivel e, de certa forma, distante "Lady", eu tinha o seu respeito. Eles poderiam falar

    sobre suas famlias em privado; no entanto, havia outras coisas que no iria discutir com

    ou dizer na frente de uma "Lady".

  • Como reprter eu chequei histrias de lutas e pude discuti-las individualmente com

    os membros, o grupo, e os moradores mais velhos que haviam trabalhado com gangues

    ou tinham sido membros. Desde o incio, os membros da gangue falavam sobre suas lutas

    e desafios por outras gangues. A coleta de dados sobre as lutas e reputaes foi

    relativamente fcil, como foi visto que um reprter estaria interessado em suas aventuras.

    Ocasionalmente os temas da escola e do trabalho que surgem naturalmente nas

    conversas do Lions; no entanto, como uma reprter e educada fora eu poderia investigar

    estes temas e, provavelmente, estend-los para alm do seu comprimento natural em

    discusses pblicas. Escola surgiu naturalmente como um tema de conversa quando um

    determinado evento, como ocorreu uma briga, graduao, ou suspenso. O trabalho era

    um tpico bastante comum, como muitos dos Lions tinha trabalhado, pelo menos a tempo

    parcial, desde a idade de 16 anos. Em outras ocasies, gostaria de fazer perguntas sobre

    a escola ou trabalho e, a maior parte do tempo, uma discusso viria a seguir. Como uma

    pessoa reconhecidamente educada (reprter), fizeram-me perguntas sobre a escola eo

    emprego.

    Nem minha identidade como reprter, nem como uma Lady me permitiu obter

    informaes pessoais sobre esperanas, relacionamentos com as mulheres e as famlias

    dos jovens de rua. Eu era capaz de descobrir atravs de conversas com ex-membros de

    gangues que estes no eram temas discutidos em pblico, e raramente em particular.

    Usando o papel de reprter foi um fracasso; Eu tentei entrevistar um dos membros de

    gangues com um pequeno gravador porttil. Ele estava to preocupado sobre como ele

    disse coisas e "fazer uma boa histria" que grande parte do material era to exagerado e

    empolado que era inutilizvel. Apenas como uma pessoa de fora respeitada e confivel

    foi possvel para mim me envolver em tal discusso.

    Os membros de gangue no compreendiam o que o uso da informao pessoal

    poderia ser para mim. No entanto, eles tentaram e no conseguiram iniciar fofocas atravs

    de mim. Dessa forma, eles ganharam confiana que eu no iria expressar suas esperanas

    e medos para os outros. Eles comearam a falar comigo individualmente sobre si mesmos

    e os problemas que tinham com suas famlias e namoradas.

    A maioria das minhas discusses de famlia, namoradas, e o futuro ocorreu quando

    eu encontrava com um dos meninos na rua e ele pedia meu conselho sobre namoradas,

    trabalho ou escola. s vezes, estar um pouco "alto" incentivava os membros de gangues

    a conversar, mas todas as perguntas tinham de ser indiretas. Em uma ocasio eu estava

    conversando com um Lion cuja namorada tinha acabado de lhe dizer que estava grvida,

    quando o meu papel de reprter obteve o melhor de mim e eu cometi o erro de perguntar

    por que ele no tinha usado controle da natalidade, em um tom que ele tomou como uma

    acusao de seu comportamento. Com esse comentrio, o que teria sido uma conversa

    fascinante sobre sua vida ntima, seus medos do casamento e da paternidade, se

    transformou em uma discusso sobre esportes e lutas. Eu tive conversas privadas

    semelhantes com muitos dos Lions e outros homens de rua, mas alguns nunca me sentiram

    perto o suficiente ou confiavam em mim o suficiente para se engajar em tais conversas.

  • Em algumas ocasies a sua avaliao sobre mim como uma "Lady" provou ser uma

    vantagem. Isso me permitiu ficar de fora. Sendo uma "dama" eram limitadas as

    oportunidades para assistir brigas de gangues; quando vrios membros da gangue iam

    decolar em um carro para atirar em alguns "inimigos" eu raramente fui convidada. A

    minha recusa em ir mesmo quando solicitado foi prontamente honrada. Alm disso,

    quando me pediam para esconder uma arma, sendo "uma senhora", no uma reprter, me

    dava a desculpa necessria para recusar. Exceto as brigas de gangues, eles raramente me

    contavam sobre atividades ilegais antes que elas ocorressem, embora eles geralmente me

    informassem depois. Na sua opinio, os reprteres no sabem das histrias at que

    aconteam, e eles estavam todos conscientes de que a sociedade em geral, da qual eu era

    membro, no aprovava muito o seu comportamento ilegal.

    Minha identidade como uma "lady" queria dizer que palavres e discusses

    pblicas de proezas sexuais eram limitadas. Observando como eles reagiram a mim como

    uma "senhora", no entanto, fez-me dizer algo sobre como eles perceberam essa classe de

    mulheres. Por exemplo, um membro foi terrivelmente envergonhado quando eu peguei

    um livro que estava lendo e descobri que ele era um relato grfico de faanhas sexuais de

    algum. "Ruth, voc no deve ver esse tipo de coisa", disse ele quando ele pegou o livro

    de volta. Atravs de outras medidas, eu era capaz de descobrir que eles muitas vezes

    discutiam sexo. Quando um amigo que estava pesquisando "garotos ricos" (que eles

    acharam engraado) se juntou a mim no parque, disseram-lhe que nunca falaram sobre

    sexo na minha frente. No houve identidade que eu poderia negociar que me permitisse

    estar a par de discusses sobre sexo. Eu era incapaz de explorar a forma como eles usaram

    discusses pblicas sobre as relaes sexuais e, portanto, no fui capaz de explorar a o

    significado de tais discusses para o status e as relaes de grupo.

    * * *

    Identidades no so fixas, mas so afirmadas ou mudadas continuamente. Foi uma

    vantagem ser avaliada como uma Lady e uma reprter, como essa identidade me permitiu

    manter um grau de distncia e legitimidade como uma mulher entre os homens. No

    entanto, quanto mais tempo eu permaneci com o grupo, mais eu percebi que alguns dos

    jovens estavam tentando redefinir a minha identidade como uma namorada em potencial,

    tornando a minha identidade sexual relevante. Depois de mais de um ano de uso da

    "reprter Lady" como uma identidade chave, alguns membros comearam a flertar srio

    e tentaram me convidar para sair. Eles alegaram que a minha idade (seis a oito anos mais

    velha) no constitua uma barreira para comear um relacionamento. Eles estavam

    tentando substituir a minha identidade como reprter senhora com uma identidade que

    englobava o meu potencial como parceira sexual, independentemente de meus esforos

    para depreciar minha aparncia e enfatizar a nossa diferena de idade e meu status de

    outsider.

    Minha falha em me vestir bem, inicialmente, atuou como um impedimento para

    que me avaliassem em termos de minha identidade sexual. Em contraste com os meus

    amarrotados (mas limpos se sem remendos) jeans, t-shirts ou gola alta e sapatos com

    solado de borracha planas ou sandlias, e minha falta de maquiagem ou um penteado

  • sofisticado, a maioria das jovens na 32nd Street eram muito mais preocupadas com a

    aparncia e vestiam com mais bom gosto e elegncia as ltimas calas jeans ou calas de

    estilo (sempre bem passadas), blusas bonitas e maquiagem. Minha falta do que eles

    consideravam roupa decente e minha incapacidade de fazer qualquer coisa com meu

    cabelo eram frequentemente uma fonte de comentrio. Um dos membros de gangues

    brincou comigo por dois dias, quando percebeu (imediatamente) que eu tinha comprado

    um par de sapatos novos para substituir os com buracos, e vrias das jovens mulheres se

    ofereceram para me emprestar equipamentos quando discutimos uma prxima dana. As

    mulheres jovens frequentemente se preocupavam com a minha capacidade de "pegar um

    homem." Enquanto eu me vestia dentro do intervalo aceitvel, as observaes relativas

    minha incapacidade de me vestir permitiu ver como aparncia era importante para

    homens e mulheres. Isso tambm tambm serviu, em em primeiro lugar, para minimizar

    o meu papel como um objeto sexual.

    Vrias das minhas aes podem ter incentivado as tentativas dos membros da

    gangue para renegociar minha identidade como uma insider e objeto sexual. Minha

    mudana para um pequeno apartamento na comunidade foi interpretada como uma

    possvel indicao de membros da comunidade. Alm disso, um amigo de fora da cidade

    veio me visitar, tornando o Lions ciente de que eu poderia ser atrada por alguns homens,

    para que eles pudessem comear a perguntar: "Por que no ns?" Eu tinha lhes fornecido

    novas informaes que poderiam interpretar como indicando a necessidade de mudar a

    minha identidade.

    Enquanto eu estava continuamente no ponto de perder minha identidade Lady

    reprter, eu no era desafiada o tempo todo. Eu permaneci cautelosa, certificando-me de

    que outras mulheres eram includas nas viagens com os Lions e no danava em festas.

    No entanto, as tentativas de renegociar minha identidade comeou a limitar a minha

    mobilidade e discusses com o grupo e para enfatizar a importncia do grande fosso entre

    papis masculinos e femininos aceitveis e "senhoras" e "galinhas" que eu tinha

    observado.

    Como Lady reprter marginal comunidade, eu no tinha que ser tratada como um

    objeto sexual e estava livre para passar o tempo com homens e fazer perguntas. No

    entanto, como uma pessoa independente, eu no parecia ser subordinada, que estava

    ameaando seus pontos de vista de si mesmos como homens que dominaram as mulheres.

    No s eu fui e vim como eu queria, mas eu sabia muito sobre eles. De sua perspectiva,

    que me deu o controle. Aps 15 meses, a sua provocao sexual aumentou

    significativamente; eles comentaram sobre o quo bem eu estava, perguntou se eu iria

    sair com eles, e vrios afirmaram que eu sabia muito sobre eles.

    Eu no sabia muito mais do que muitos moradores da comunidade sobre a sua luta,

    nmero de armas, ou outras atividades ilegais. Isso no era o que eles estavam

    preocupados. Em vez disso, eu sabia muito sobre eles como pessoas - seus problemas,

    fraquezas, esperanas e medos. Eles precisavam um do outro e eles sabiam que eu sabia

    disso. Eu os conhecia muito bem e estava ciente de que eles no eram tudo o que eles

    alegavam publicamente ser difceis (guerreiros). Eles mascaravam sua intimidade e

  • precisavam uns dos outros, a fim de serem percebidos publicamente como difceis. Assim

    que eles comearam a me ver como uma potencial parceira sexual, a minha independncia

    e possvel controle sobre eles atravs do conhecimento ntimo tornou-se problemtico

    para eles. Como mulher, eu deveria ter sido subordinada, mas eu era dominante atravs

    da minha independncia e tinha poder potencial sobre eles com base no meu

    conhecimento ntimo sobre eles.

    A identidade sexual teria impedido grandemente o processo de investigao. Esta

    cultura cria parmetros fortes dentro dos quais uma pesquisadora do sexo feminino seria

    muito restrita como um membro da comunidade. Como as presses aumentaram a

    assumir um papel de membro definido localmente, fui incapaz de negociar uma

    identidade de gnero que me permitisse continuar como pesquisadora. Depois de 18

    meses eu tive que parar de gastar tanto tempo com as gangues e voltei o estudo para

    outros grupos de jovens na comunidade, vendo os membros de gangues ocasionalmente.