Entre amores cruzados

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“No silêncio das palavras e no quente de nossos corpos unidos em um só. É assim que me sinto com ele, nós dois em um só...” Você seria capaz de equilibrar sua vida entre dois amores?

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ENTRE AMORES CRUZADOS

Vanessa de Cássia

S ã o P a u l o 2012

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Sumário

Prólogo .........................................................................................19Hoje .............................................................................................23Lembranças de infância ................................................................27Amigas para sempre ......................................................................30Garotos ........................................................................................36Dia a dia.......................................................................................41Encontros e desencontros .............................................................48Tristezas e tolices ..........................................................................53Tentações .....................................................................................58Os dias são apenas déjà-vu ............................................................74Alegrias, desejos e segredos ..........................................................83Algumas verdades .........................................................................89A loucura ...................................................................................103Análise .......................................................................................120Festa ...........................................................................................129Brilhando ...................................................................................147Misto-quente ..............................................................................159Noites frias .................................................................................188Confiante ...................................................................................205Provocações ................................................................................228De volta ao passado ....................................................................255Encantada ..................................................................................273Estrelando ..................................................................................292Só os loucos sabem .....................................................................323Onde tem bruxa, tem fada! .........................................................346Linda, louca e apimentada ..........................................................359Paramour ....................................................................................378Flores .........................................................................................400Mau tempo ................................................................................426Diário do tempo .........................................................................466Lembranças ................................................................................489

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Era mágico. Eu estava linda como aquele lugar, meus olhos bri-lhavam e eu estava com magia em meu corpo, tudo em mim era lindo. Estava com um deslumbrante vestido na cor de ouro, meus cabelos estavam maiores também, cor de ouro. Nunca havia deixado meu cabelo daquela cor. Me bateu um desespero. Cadê meu vermelho? Era o que eu me perguntava enquanto passava as mãos nele. Tudo bem, estava radiante com aquela cor. Eu me sentia livre, tão feliz, sorridente. Senti meu cheiro enquanto dançava girando em uma roda invisível. Era maravilhoso. Ficava no ar meu perfume: meu cheiro era exclusividade naquele lugar. O vento batia e espalhava meu cheiro, e eu estava contente em senti-lo. Com os braços abertos e cabeça inclinada para trás, pude perceber que tinha alguém me observando, parecia tirar fotos de mim. Fiquei inerte, com medo. Virei devagar e vi que tinha três homens lindos à minha frente, todos de branco, com camisas, calças, e estavam descalços. Pareciam anjos. Eles também estavam brilhando, assim como eu. Os cheiros deles se misturavam com o meu. Cada um com o seu. O primeiro se aproximou de mim, com um cheiro doce, mas não forte: gostoso e agradável, cheiro de rosa molhada. Não reconheci seu rosto, mas era familiar. Me pegou pela cintura, cheirou meu pescoço e deu um beijo quente e suave. Minha saliva desceu rasgando na garganta. Subiu com seu rosto em mim, não falou nada, mas ficou me encarando com um olhar de fogo. Suspirou. Sua respiração era quente. Tirou suas mãos leves de minha cintura e ficou do meu lado. O segundo veio também em minha direção, com um pouco mais de molejo. Só não entendi por que eu não os conhe-cia, mas eles vinham até mim com desejos no olhar. Fixei meus olhos nele, tentei me concentrar, mas nada, nada de reconhecimento. Olhei para o que estava ao meu lado, ele ficou feito estátua, parado, olhando

Prólogo

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para a frente. O grandão chegou e se postou na minha frente com um cheiro amadeirado, diria forte, mas igualmente delicioso como o outro. Fez meus sentidos saírem de sintonia, meu corpo enrijeceu, e soltei todo o ar que se acumulou em minha boca. Ele sorriu. Veio até mim, pegou meus braços, que estavam caídos, segurou-os com força – até uma força exagerada – e me puxou para a frente do seu corpo quente. Passou sua boca carnuda em meu rosto, só com o ar de sua respiração em meus lábios. Que tentação! Mas ele não a beijou, somente deixou seu hálito quente e amadeirado nela. Respirei fundo com os olhos fechados, esperando ainda que ele mudasse de ideia e me desse um bom beijo, mas somente me deixou na vontade. Foi bem no cantinho da boca, e ali ficou o resto do seu sabor. De ime-diato, passei a língua no canto da minha boca para sentir seu sabor: tinha gosto de veneno. Pensei que morreria – mas, sim, eu morreria de desejos por aquele beijo. Abri os olhos, ele já tinha soltado meus braços e estava bem atrás de mim. Nem tentei me virar, mas senti que estava também congelado. O último e terceiro estava a cerca de dez metros de mim: um brilho novo, jamais tinha visto. Era colorido, não como os outros. O primeiro cintilava um tom cinza-azulado; o segundo, vermelho-alaranjado. Mas este estava radiante, simples-mente colorido, em tons diferentes. Parecia estar sorrindo. Veio num estilo malicioso, ficou em minha frente como os outros, sorriu, se aproximou e deu uma volta completa ao meu redor. Eu também não o reconhecera: braços fortes e um sorriso enigmático, me hipnoti-zou, eu não conseguia me mover, sequer um dedinho. Fiquei sem respirar, mas eu queria sentir seu cheiro. Meus olhos o fitaram a cada passo. Então, ele se aproximou e sussurrou palavras, em outra língua, em meus ouvidos, e só então consegui sentir seu cheiro. Com um cheiro de flores e frutas, era uma mistura sensual e elegante para um homem, cheiros cítricos à sua volta. Quando tentei me aproximar para cheirá-lo, ele se afastou. De repente, estava atrás de mim, puxou meus cabelos de ouro para o lado esquerdo, deixando meu pescoço ao vento. Passou sua mão suave na nuca e a beijou carinhosamente, dei-xando seu cheiro ali. Me arrepiei, fechei os olhos e parei. Parei de me mexer, de respirar, de pensar, tudo de novo. Por uns bons segundos,

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minha alma saiu de mim e pude vê-la na minha frente, nós duas nos olhando; e, num transe, ela voltou rapidamente ao meu corpo. Abri os olhos e os três estavam ainda ali. Meu coração estava em minhas mãos, tremi da cabeça aos pés, as mãos tremiam tanto que quase o deixei cair, meu peito estava dormente – dor suave, mas permanente. Me virei, e os três me fitavam de cara feia. Eu não entendi, e me deu uma enorme vontade de chorar.

“E que minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra também...”

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Hoje

Ao abrir meus olhos, fechei-os imediatamente de volta, quase nem conseguia ver nada. Era a maldita dor de cabeça. Eu tenho enxa-queca terrível, insuportável. Fiquei na cama por alguns instantes, pensei bem. Depois de alguns minutos, levantei-me, fui até a minha cozinha e peguei um copo para beber um chá gelado, apesar do frio que está nesta manhã de domingo, um dia típico de inverno, muito frio, o céu cinzento e aquela garoa só para perturbar. Sentei-me na minha poltrona. Eu moro sozinha e, mesmo no frio, durmo de short e uma blusinha top. Não consigo dormir com muita roupa, me inco-moda. Peguei meu laptop para verificar meus e-mails, mas não havia nada, que tristeza! Então, tive uma ideia de escrever algo que estava acontecendo em minha vida. Isso seria difícil para mim, mas não impossível. Aconteceram tantas coisas e não queria esquecer, e que ninguém me esquecesse. Hoje tive muitos sonhos, aqueles que você já viveu e se recorda quando está mais triste... Hoje eu não estou me sen-tindo bem. Aliás, ultimamente. Então, vou relatar uma história para não ser esquecida, e quem ler isso um dia vai lembrar que tudo pode ser diferente, pois não podemos viver uma história que não é nossa, temos que fazer a nossa própria história. Digitarei belas palavras que ficarão apenas aqui, no fundo de um PC esquecido... e meus peque-nos dedos deslizando sobre as teclas em silêncio:

De vez em quando, é muito bom deitar na cama e lem-brar-se de todas as loucuras já cometidas em nossas vidas, das alegrias e das muitas tristezas que acabamos vivendo sem que-rer. Eu sou Verônica, sou uma pequena grande mulher, cabe-los vermelhos de farmácia, não lisos nem enrolados; costumo dizer bagunçados, e seu comprimento vai até o meio das cos-tas. Tenho várias tatuagens, uma magreza em pessoa – agora,

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pois já tive corpão. Sou muito chata, até hoje não sei como todo mundo me tolera, sou complicada demais. Nem eu me entendo, para se ter uma noção da gravidade. Tenho manias e, claro, uma tremenda enxaqueca que nunca melhora, mas isso vai acabar...

No momento, estou afastada dos meus empregos. Há quase dois anos, estou descansando de tudo e de todos. Há alguns dias, estou sem ver ninguém, sem sequer sair de casa. É um momento muito complicado para ver pessoas. Quanto menos tempo ficar perto delas, mais fácil será... não que eu não queira. É tão complicado, eu gostaria de poder entender, mas não compreendo. Estou perdida e confusa. Por que será que tem que ser assim? Eu mesma não gostaria de sentir essas coi-sas, mas não vou me entregar... não que eu não quisesse, mas tenho um pouco de amor-próprio, eu acho...

Eu sempre tive uma vida moderninha, pelo menos tento. Gosto da vida simples, mas é bom fazer agrados a você mesma. Sou muito consumista, adoro fazer compras, é minha mania preferida. O pior é que eu adoro comprar coisas que já tenho. Exemplo: tenho esmaltes e maquiagens de várias cores repetidas, pois simplesmente gosto! Compro várias, pois sem-pre acabam saindo de linha; então faço estoque mesmo. Será que sou louca por isso? Acho que não. Só sou vaidosa, sem-pre gostei muito de trabalhar. Sou muito comunicativa, amo conversar. Puxei isso da minha avó Benê, mãe da minha mãe, uma pessoa amável. Desde muito nova trabalhei, mas, nos últimos meses, ficou meio impossível conciliar certas coisas. Hoje tento ser feliz e sei que tudo que aconteceu foi por algo maior. Tenho muita fé em Deus e acredito que será vontade Dele e não nossa. Todos me ajudam hoje, fico feliz por isso, por ter amizades verdadeiras, elas jamais me abandonariam... não nesse momento... não hoje... eu nem consigo imaginar a minha vida sem essas pessoas. Minha mãe, a dona Isa, uma mulher forte, segura, meu alicerce, minha fortaleza, saiu de seu emprego para ficar comigo; e meu pai, que tem tantos afa-zeres, mas, sempre que pôde, esteve presente em minha vida,

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sempre carinhoso e amável, jamais me negou qualquer coisa. Deve ser por isso que sou tão mimada. Preciso descansar de meus pensamentos, assim como de tudo que me faça cansar e ficar triste o suficiente para me dopar...

Então, escrevi minhas primeiras e únicas palavras. Deitei na cama, fechei meus olhos e lembrei. Somente lembranças doces...