ENTRE O ORATÓRIO E A PROFISSÃO: FORMAÇÃO DE … · Mesmo sido criada em um lar cristão, a vida...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
FERNANDA BATISTA DO PRADO
ENTRE O ORATÓRIO E A PROFISSÃO: FORMAÇÃO DE
PROFESSORAS NA ESCOLA NORMAL RURAL NOSSA
SENHORA AUXILIADORA EM PORTO VELHO/RO (1930-
1946)
CUIABÁ-MT
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
FERNANDA BATISTA DO PRADO
ENTRE O ORATÓRIO E A PROFISSÃO: FORMAÇÃO DE
PROFESSORAS NA ESCOLA NORMAL RURAL NOSSA
SENHORA AUXILIADORA EM PORTO VELHO/RO (1930-
1946)
CUIABÁ-MT
2017
FERNANDA BATISTA DO PRADO
ENTRE O ORATÓRIO E A PROFISSÃO: FORMAÇÃO DE
PROFESSORAS NA ESCOLA NORMAL RURAL NOSSA SENHORA
AUXILIADORA EM PORTO VELHO/RO (1930-1946)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal de
Mato Grosso como requisito para a obtenção do título
de Mestra em Educação na Área de Concentração
Educação, Linha de Pesquisa Educação, Cultura e
Sociedade, Grupo de Pesquisa e Estudos em História
da Educação, Instituições e Gênero.
Orientadora: Profa. Dra. Nilce Vieira Campos Ferreira
Cuiabá-MT
2017
Dedico esta experiência a todas nós. Mulheres!
Especialmente, à Ana Heloiza Farias.
Uma mulher que agora é luz!
*In memoriam*
AGRADECIMENTOS
Minha existência nesse mestrado foi a maior confirmação de que alguma força olhou
pelos meus passos durante todo o percurso. Mesmo sido criada em um lar cristão, a vida me
ensinou a optar por uma luz na qual confiei e que iluminou minhas ideias, tranquilizou meu
coração e permitiu-me ser grata a cada aprendizado vivenciado. Optei por olhar e confiar
nessa luz que me guiou, trazendo para mim outro sentido, outra abordagem sobre o mestrado
e a vida. Agradeço a um deus enquanto força vital, não institucionalizado, que é mãe e pai, ao
deus que há em cada pessoa que existiu nesse momento de minha vida e ao deus que há em
mim.
A realização do mestrado se deveu ao Programa Institucional de Bolsas
CAPES/CNPq. A bolsa tornou possível que eu pudesse residir em Cuiabá e ter a oportunidade
de aprofundar meus estudos na Pós-Graduação em História da Educação do Instituto de
Educação da Universidade Federal de Mato Grosso.
À minha família seria pouco dizer obrigada. Nossa “estrela de cinco pontas” foi
minha referência nos momentos de aprendizado. Somou forças para que eu não desistisse.
Acreditou em mim em cada segundo do início ao fim. Torceu para que este momento
chegasse. Luciana, Juliana, Paulo e Clara: falar apenas que os amo é pouco. O que eu sinto
ainda não tem nome.
“Lu” e “Ju”, minhas irmãs e melhores amigas. Obrigadas por serem tão atenciosas e
amáveis comigo e com tudo o que eu passei em Cuiabá. O que nos distanciou foi apenas a
distância física, geográfica, pois em nenhum momento vocês faltaram com a dedicação e
esforço que só os irmãos fazem por nós. Estiveram sempre presentes e sempre por dentro dos
acontecimentos. Sou muito grata por toda a ajuda que me ofereceram. Amo vocês!
Pai e mãe... Escrever esses agradecimentos deixou-me muito emocionada. Vocês são
os melhores pais desse mundo todo! Eu não tenho sequer qualquer reclamação para fazer.
Apenas agradecer. Confiaram uma vida a mim, a minha própria vida...e imagino como não
deve ser fácil para os pais um gesto como esse. Aproveito para pedir desculpas pela ausência,
pelas ligações não atendidas ou não retornadas, pelas mensagens não respondidas
imediatamente. Sei que não existem justificativas para isso, mas a correria dos dias me deixou
muito ocupada a ponto de procrastinar atenção para vocês. Só quero que saibam que eu
reconheço tudo o que fizeram por mim até aqui. Reconheço toda a atenção, todo o cuidado,
toda a dedicação de ambos. Vocês sempre foram e continuam sendo pais maravilhosos!
Levarei comigo esse amor tão bonito e puro aonde quer que eu exista.
Aos meus avós, às minhas tias e aos meus tios também gostaria de deixar uma
singela homenagem. Claudete, Inácio, Júlio, Benedita, Lúcia, “Tio Tim”, Dulce, Neila, Rage,
Solange, Luís, Marilda e Joaquim. Sou muito grata a vocês que estiveram sempre torcendo
por mim! Aos primos e às primas e aos meus cunhados, também gostaria de dizer obrigada
pela força e apoio! Eu nada seria sem todo o afeto de minhas primas Lucila, Ângela, Anna
Clara, Mariana, Amanda, Janaína, Clélia e a mais nova integrante da família a pequena Lúcia
Vitória. Meus primos Inácio Neto e Vanildo, e meus cunhados Eriberto Júnior e Oliver
Ferreira. Muito grata por tudo!
Realizar essa pesquisa não teria sido possível, é claro, sem as experiências
compartilhadas com minha orientadora Professora Dra. Nilce Vieira Campos Ferreira.
Investigar a História das Mulheres na História da Educação ao lado dela foi muito especial.
Mesmo nos momentos de adversidades, ela jamais deixou de resistir e lutar pela visibilidade
das mulheres dentro de sala de aula, nas pesquisas e na vida. No momento em que mais
precisei de alguém que acreditasse em mim, foi ela quem deu o primeiro passo. Professora
Nilce, conforme aprendi com você, agora sou eu quem deseja muita luz em seus caminhos!
Obrigada por permitir que eu fizesse parte de sua história. O mestrado é curto... E você é rara!
Gostaria de deixar meus agradecimentos, também, aos mestres da graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Rondônia. Uma admiração imensa por todos os
professores que enriqueceram o meu percurso durante a graduação com trocas valiosíssimas e
apoiaram a minha escolha pelo mestrado em Educação, e em especial, para as Professoras
Dras. Valéria Oliveira, Marli Tonatto, Vaderléia Dal Castel, Iracema Tada, ao Professor Dr.
José Carlos e ao Professor João Guilherme.
O mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto de Educação
da UFMT também me proporcionou uma bela amizade. Rillyenne Kathy de Souza, obrigada
por ter sido uma das bases de segurança, por também ter sido a personificação de carinho,
flores e amizade para mim em Cuiabá. Você ensinou-me a não desistir, a lutar por aquilo que
acredito e a ser firme em minhas decisões: a não perder minha essência. Levarei sua amizade
comigo para todo o lugar, sempre. Muito obrigada por tudo!
Outro agradecimento especial é para Cleicinéia Oliveira de Souza, uma mulher que
interveio em um momento que eu precisei de alguém de confiança. Você resgatou em mim a
minha vontade de continuar na vida acadêmica, com seus pedidos para que eu fosse paciente e
tolerante para persistir firme em busca daquilo que almejo ser. Muitíssimo obrigada! Jamais
me esquecerei de você! Conte comigo sempre, “Cleici”!
Muito obrigada, Yésica Paola Montes Geles. Você também fez a diferença nos meus
dias de estudo e nas conversas distraídas da rotina do mestrado. Especialmente grata por me
lembrar os prazos! Brincadeiras a parte, quero registrar que você é muito especial para mim.
Levarei comigo um carinho e amizade imensos pelos momentos compartilhados no Centro
Memória Viva e em outros momentos fora dele, “mana”!!
No meio do caminho deparamo-nos com um contratempo daqueles que nos tira um
pouco o ar... Que nos leva embora alguns dias de sol e nos deixa na companhia do luto. Ana
Heloiza foi uma das mulheres que participou de alguns dos meus dias de luta em 2015,
enquanto eu passava por uma situação delicada. Hoje, ela é luz e exemplo de luta e
resistência. Obrigada, Ana!
A todo o grupo do Centro Memória Viva também quero deixar meus sinceros
agradecimentos. Todas as mulheres que por lá passaram, compartilharam vidas e contribuíram
de alguma forma para todo o meu aprendizado no grupo, a todas minha gratidão e carinho!
Thaís Marques, Daniella Fialho, Vitória Hung, Natália Damascena, Letícias, Bruna, Rafaely
Alves, Thayla, Tatiane Dragoni, Gleici Elly, Viviane, Thaís Carlos, Carla Sereno, Sandras,
Keila e Marcela Gattas.
Dos amigos que compõe toda a organização do Programa de Pós-Graduação em
Educação do Instituto de Educação, essa pessoa merece um olhar especial também: Luísa. Ela
cuida das/dos alunas/alunos que ingressam no PPGE como quem cuida de suas/seus
filhas/filhos. Obrigada pela atenção e carinho!
Às Professoras Dras. Suely Dulce de Castilho, Sandra Cristina Fagundes e Maria das
Graças Martins da Silva, e Professor Dr. Josemir Almeida Barros, muito obrigada pelo aceite
em compor a Banca Examinadora, pelas contribuições ao texto e pela disposição em avaliar a
pesquisa.
Agradeço, agora, ao amor. Caminhar sozinhos nos ensina a caminhar mais fortes,
mas caminhar de mãos dadas com alguém nos ensina a ir além. O gosto de chegar até aqui
sempre na presença do seu amor, cuidado e atenção tem outro sabor. Luan Palla, obrigada por
me ensinar que não é preciso estar perto para estar junto. Todos foram essenciais nessa
trajetória, mas você também foi o diferencial.
Rita Clara, ou Ritinha (como gosta de ser chamada), também teve sua participação
neste trabalho. Como a brilhante historiadora que é, ajudou-me na construção da história de
Porto Velho com uma recepção acolhedora em sua casa. Obrigada por, desde os primeiros
anos de escola, continuar fazendo parte de minha vida, Ritinha! Kelvin Ribeiro foi outra
pessoa que aceitou fazer parte dessa experiência. Um bom amigo que nos auxiliou nas
elaborações de alguns mapas que compõem essa dissertação.
A partir daqui, deixo um caloroso abraço para aqueles quem escolhi (e quem me
escolheram) para caminhar lado-a-lado: minhas ótimas amigas e meus maravilhosos amigos.
Luciano Henrique, Pricila Fernandes, Maurício Castro, Raila Myrria, Caroline Costa e Ivan
Nascimento. Vocês, mesmo longe, sempre se fizeram presente em minha rotina. Ajudaram-
me a administrar a saudade, e nunca se esqueceram da história e trajetória de nossa amizade.
Sempre ponderando os momentos de dificuldades como tempo para mudar e de mudanças. Os
melhores amigos-terapeutas que alguém pode ter! Amo muito vocês, irmãos!
Herta Maria, Melissa Barbosa, Amanda Norbiatto, Eder Rodrigues, Aline Monteiro,
Isabela Mesquita, Ariadne Telles, às minhas gêmeas favoritas Luana e Tauana Souza, Lígia
Sasso, Amanda Gava, Caroline Spinet, Thalita Bancalari, Fernanda Carvalho, Marcel
Rodrigues, Lorran Rodrigues, Rafael Foro, Mychel Oliveira, William Manerich, Maria Luísa
Teodoro, Lusiane Gomes e Rachel Midori: vocês sempre pacientes, sempre me apoiaram com
palavras acolhedoras e, mais do que eu mesma, confiaram no dia de mais essa conquista.
Vocês também são raros, minhas queridas e meus queridos! Amo muito vocês!
Reservo esse momento para agradecer, especialmente, ao Fabrício Ricardo Lopes.
Não encontrei definição melhor para representá-lo do que “Guia de Luz”! Você foi quem deu
o ponta pé inicial para mais esse capítulo de minha existência. Por toda a fé que sempre teve
em meu potencial, muito obrigada, meu amigo! Desejo um dia dar de volta todo o calor que a
sua amizade envolveu meu coração durante todo esse tempo. Sou muito grata por você ter
permitido compartilhar a sua existência nessa vida comigo. Amo-te!
Aos que cuidaram de mim e me acolheram. Uns como amiga, outros, como um
integrante da família: Vanessa Tarouco, João Pedro, Geovana Portela, Fábio Queiroz, Denise
França, Bruno Justino, Everton Lopes, Aila Serpa, Flávio Alves, Felipe Matheus, Matheus
Bobrim, Alana Chico, Rafael, Thaís Priscilla, Tainara Dieckman, Laís Maia, Luana, Kellen
Silva, Lélica Elis, Juliane Queiroz e Márcia Isabella. Obrigada, amigas e amigos por não
medirem esforços para fazer com que eu me sentisse sempre em casa. Vocês foram (e são)
incríveis!
Uma mulher, em especial, merece um parágrafo de agradecimentos só para ela
também. Obrigada, Meire. Agradeço por ter me apresentado um mundo de amor. O amor de
nossa amizade me mudou. Mudou minhas vivências. Tenho comigo a certeza de que você foi
toda a base de solidariedade, amor, atenção e compaixão que algo ou alguém no mundo pode
ser. Pode dar. Ensinou-me a respeitar incondicionalmente, o que, conforme diz uma música de
Caetano, me faz afirmar que sua amizade foi “uma beleza que me aconteceu”. Do fundo do
meu coração, espero um dia retribuir tudo o que você representa para mim. Muito grata por
tudo! Pela espontaneidade, carinho, cuidado, verdade. Um abraço e muito carinho ao seu pai,
“seu Wandê”. Também um ótimo amigo durante todo esse tempo! “...mas ela ao mesmo
tempo diz que tudo vai mudar, porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar onde a
gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão, e a tigresa possa mais do que o leão.”
Às funcionárias e aos funcionários dos arquivos que pesquisamos. Inicio
agradecendo às queridas Maria do Socorro (Secretária), Maria Tomázia (Orientadora
Educacional), Carmem Meireles (Bibliotecária), Irmã Cláudia Soraya (Diretora Financeira),
Crislaine Fernandes (Supervisora), Walbertina Santos (Recepcionista) e ao querido Raimundo
Arruda (Coordenador de disciplina), pessoas que me receberam de braços abertos e não
mediram esforços para me ajudar no Instituto Maria Auxiliadora, nosso lócus de pesquisa.
Às funcionárias e aos funcionários do Palácio da Memória Rondoniense: Ednair
Nascimento, Damaris Ramos, Alyne Rufino, Victor Langman, Suzana dos Satos, Augusto
Gomes, Luiz Brito, Elias Alves, Priscila Medeiros, Sara Ramos e Marinete Ramos.
Agradeço imensamente, também, à funcionária e aos funcionários do INEP/Brasília:
Welinton Ferreiro Santos (Arquivo histórico INEP), Leonardo Ruas Correia (Arquivista –
Arquivo Histórico INEP), Luiza Maria Souza do Amaral (Bibliotecária – CIBEC – INEP),
Adenilson Felix (Bibliotecário – CIBEC – INEP) e Rafael Lima Meireles de Queiroz
(Referência – CIBEC – INEP). Já, no IBGE/Brasília: Fernandez Kenji Iazawa (Bibliotecário
IBGE/DF). No Conselho Nacional de Educação/Brasília: Josélia Alves Costa (SAT – Serviço
de Auxílio Técnico, Serviço de Editoração e documentação CED – Biblioteca do CNE) e
Vitória Dione Carvalho Pereira (CAC – Coordenação de apoio ao Colegiado). No Ministério
da Agricultura e Pecuária e Abastecimento/Brasília: Maria Olimpio das Neves Silva (Agente
administrativo da BINAGRI – Biblioteca Nacional da Agricultura).
Por fim, às fontes, aos livros apreciados. Ao mundo acadêmico que sempre me
recebeu com livros abertos!
O trabalho de construção simbólica não se reduz a uma operação
estritamente performativa de nominação que oriente e estruture as
representações, a começar pelas representações do corpo (o que ainda não é
nada); ele se completa e se realiza em uma transformação profunda e
duradoura dos corpos (e dos cérebros), isto é, em um trabalho e por um
trabalho de construção prática, que impõe uma definição diferencial dos usos
legítimos do corpo, sobretudo os sexuais, e tende a excluir do universo do
pensável e do factível tudo que caracteriza pertencer ao outro gênero – e em
particular todas as virtualidades biologicamente inscritas no “perverso
polimorfo” que, se dermos crédito a Freud, toda criança é – para produzir
este artefato social que é um homem viril ou uma mulher feminina. [...]
(BOURDIEU, 2012, p. 33).
RESUMO
Analisamos o percurso de criação e implantação da Escola Normal Rural Nossa Senhora
Auxiliadora – ENRA, que teve sua origem nos anos de 1930, como Escola Paroquial e a partir
de 1937 até 1946, passou a oferecer o curso de formação para professoras normalistas rurais,
com objetivo principal de investigar como a instituição educou as moças porto-velhenses. A
partir daí analisamos, portanto, os cursos de formação oferecidos pela ENRA em Porto Velho
focalizando o Curso Normal Rural, oferecido na instituição a partir de 1937 até 1946.
Procuramos compor um registro histórico da trajetória dessa instituição educativa
compreendendo como se dava a escolarização das alunas e a formação de professoras
primárias na ENRA. Temos como fontes livros de atas e matrículas, livros de promoções,
termos de visitas coletados no acervo da instituição escolar, imprensa e outros documentos
encontrados nos arquivos públicos de Mato Grosso e de Porto Velho. Metodologicamente,
fundamentamo-nos em Peter Burke (1992), Marc Bloch (2002), Michel De Certeau (1982),
Carlo Ginzburg (1989) entre outros autores que adotaram os pressupostos da História Nova,
segundo os quais a análise dos documentos deixou de representar fontes que por si só
pudessem ser consideradas verdadeiras ou que definiam o passado como um acontecimento
rígido, que não poderia ser alterado. Corroborando a concepção desses autores, Carlos
Bacellar (2008) contribuiu para o entendimento de que os documentos coletados devem ser
analisados em seus detalhes, pois a história não deve ser vista só a partir do todo, mas também
dos detalhes, dos acontecimentos e modo de ver de cada sujeito histórico. No que se refere ao
estudo da História das Mulheres e escolarização feminina, Guacira Lopes Louro (1997; 2010),
Jane Soares de Almeida (1998; 2007) e Michelle Perrot (2007) foram imprescindíveis para
compreendermos a educação e formação imposta e apreendida pelas mulheres. As obras de
Ester Buffa e Paolo Nosella (1996; 2009) e Justino Pereira de Magalhães (2004) trouxeram
contributos para compreendermos a história das instituições educativas e nos ajudaram a
definir as nossas categorias de análises. As categorias de análise das quais nos munimos
foram: os cursos, as professoras e as normas da escola, nas quais buscamos analisar a
concepção de educação adotada e praticada para a educação de mulheres normalistas rurais na
Instituição. Uma educação que apreendemos, durante muito tempo, foi negada às mulheres.
Quando finalmente elas adentraram as instituições educativas, a educação feminina marcou-se
pelo controle austero em nome de uma suposta moralidade religiosa e cristã. Os resultados
apontaram evidências de que a instituição era conduzida sob os dogmas da sólida identidade
confessional católica preconizada pelas normas impostas por Dom Bosco, marcadas pela
submissão e aceitação das crenças salesianas. As Filhas de Maria Auxiliadora uniram-se aos
dirigentes, que buscavam proporcionar educação formal e controlada para suas filhas, e à
população de Porto Velho, que queria educar filhas e filhos. A instituição alcançou seus
objetivos educando uma geração de mulheres sob os dogmas do catolicismo que por sua vez
influenciaram outras gerações, em um local distante, negligenciado pelos seus governantes.
Rapidamente a escola tornou-se o Instituto Maria Auxiliadora, ainda hoje ofertando dos
primeiros níveis de educação até os últimos anos do ensino médio para uma abastada classe
social porto-velhense.
Palavras-chave: Curso Normal Rural; História das Mulheres; Colégio Salesiano; Educação
Católica; Igreja e educação feminina.
ABSTRACT
We analyzed the course of creation and implantation of the Escola Normal Rural Nossa
Senhora Auxiliadora - ENRA, that originated in the years of 1930, like Escola Paroquial and
from 1937 until 1946, began to offer the training course for rural normal teachers, with main
objective of investigating how the institution educated the Porto Velho girls. From there, we
analyzed the training courses offered by ENRA in Porto Velho focusing on the Normal Rural
Course offered at the institution from 1937 to 1946. We tried to compose a historical record of
the trajectory of this educational institution, understanding how the schooling of the students
was given and the formation of primary teachers in the ENRA. We have as sources books of
ata and registrations, books of promotions, terms of visits collected in the collection of the
school institution, press and other documents found in the public archives of Mato Grosso and
Porto Velho. Methodologically, we are based on Peter Burke (1992), Marc Bloch (2002),
Michel De Certeau (1982), Carlo Ginzburg (1989) among other authors, who adopted the
New History assumptions, to represent sources that could by themselves be considered true or
that defined the past as a rigid event that couldn’t be changed. Corroborating the conception
of these authors, Carlos Bacellar (2008) contributed to the understanding that the documents
collected should be analyzed in detail, because the history shouldn’t be seen only from the
whole, but also from the details, events and way of view of each historical subject. As for the
study of Women's History and women's schooling, Guacira Lopes Louro (1997; 2010), Jane
Soares de Almeida (1998; 2007) and Michelle Perrot (2007) were essential to understand the
education and training imposed and apprehended by women. The studies of Ester Buffa and
Paolo Nosella (1996; 2009) and Justino Pereira de Magalhães (2004) brought contributions to
understand the history of educational institutions and helped us to define our categories of
analysis. The categories of analysis defined were: the courses, the teachers and the rules of the
school, in which we seek to analyze the conception of education adopted and practiced for the
education of normal rural women in the Institution. An education we have learned for a long
time has been denied to women. When they finally entered educational institutions, female
education was marked by austere control in the name of a supposed religious and christian
morality. The results showed evidence that the institution was conducted under the dogmas of
the solid catholic confessional identity advocated by the norms imposed by Don Bosco,
marked by the submission and acceptance of the Salesian beliefs. The Filhas de Maria
Auxiliadora joined the leaders, who to provide formal and controlled education for their
daughters, and the people of Porto Velho, who wanted to educate daughters and sons. The
institution achieved its goals by educating a generation of women from the dogmas of
catholicism that influenced other generations, in a distant place, neglected by its rulers. The
school quickly became the Instituto Maria Auxiliadora, still offering the first levels of
education until the last years of high school to a wealthy Porto Velho social class.
Keywords: Normal Rural Course; Women’s History; Salesian School; Catholic Education;
Church and women’s education.
LISTA DE ABREVIATURAS
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior
CMV Centro Memória Viva
CNPq Conselho Nacional de Pesquisa
D. Dom
ENR Escolas Normais Rurais
ENRA Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora
FMA Filhas de Maria Auxiliadora
FUNAI Fundação Nacional do Índio
GEM Grupo de Pesquisa Educação e Memória
IE Instituto de Educação
IMA Instituto Maria Auxiliadora
Ir. Irmã
LDB Lei de Diretrizes e Bases
Pe. Padre
PPGE Programa de Pós-Graduação em Educação
Revd. Reverendo
Revdmo. Reverendíssimo
RSE Rede Salesiana de Escolas
S. São (de Santo)
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Mapa da localização de aldeias indígenas Xavante e Bororo, 2010 35
Figura 2. Mapa do percurso de construção da Estrada de Ferro Madeira-
Mamoré, 1909
48
Figura 3. Planta da cidade de Porto Velho, 1912 50
Figura 4. Mapa dos estados do Amazonas, Acre, Mato Grosso e Pará, 1915 53
Figura 5. Planta de Porto Velho em 1925 56
Figura 6. Mapa do Brasil em 1943 59
Figura 7. Carta de Aforamento da Intendência Municipal, 1916 61
Figura 8. Termo de Transferência, 1934 63
Figura 9. Mapa das localidades sob jurisdição da Prelazia de Porto Velho 64
Figura 10. Fachada do Instituto Maria Auxiliadora, 1935 91
Figura 11. Área que dá acesso ao salão do Auditório/ Vista de frente e fundo
do Auditório
93
Figura 12. Formandas da primeira turma de professoras normalistas da
ENRA
119
Figura 13. Diploma de alunas da Escola Normal Rural Nossa Senhora
Auxiliadora, 1946
136
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Quadro demonstrativo do Pessoal Indígena por sexo 40
Quadro 2. Nomes da Instituição e Cursos 82
Quadro 3. Livro de Matrícula, 1932 100
Quadro 4. Matrículas no período de 1930 a 1935 dos Cursos Preliminar e
Elementar
103
Quadro 5. Disposição e denominações dos anos e séries dos Cursos
Preliminar e Elementar
104
Quadro 6. Concluintes no período de 1930 a 1935 dos Cursos Preliminar e
Elementar
104
Quadro 7. Situação de matrículas no período de 1937 a 1946 do Curso
Normal da ENRA
116
Quadro 8. Quadro de diretoras e professoras que trabalharam na Escola
Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora (1940-1945)
120
Quadro 9. Cursos da Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora (1937-
1946)
126
Quadro 10. Disciplinas do Curso Normal Rural (1937 – 1941) 128
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 18
CAPÍTULO I – AS FILHAS DE MARIA AUXILIADORA RUMO A
PORTO VELHO
28
1.1 O contexto sociopolítico de Porto Velho 45
1.2 A prelazia de Porto Velho 60
1.3 As Filhas de Maria Auxiliadora aportam em Porto Velho: revendo o percurso 68
CAPÍTULO II – SEMEANDO VALORES: A OBRA DAS FILHAS DE
MARIA AUXILIADORA EM PORTO VELHO
75
2.1 A instituição educativa: fundação e origens 78
2.2 Escola Paroquial (1930-1935) 97
CAPÍTULO III – ESCOLA NORMAL RURAL NOSSA SENHOR
AUXILIADORA EM PORTO VELHO: A ESCOLARIZAÇÃO FEMININA
NA ENRA
107
3.1 Professoras e alunas da Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora 115
3.2 As Orientações da Instituição: normas, disciplinas, regras 124
CONSIDERAÇÕES
140
REFERÊNCIAS 144
18
INTRODUÇÃO
A temática que abordamos compõe um percurso da educação feminina e
formação destinada à formação de professoras normalistas rurais na Escola Normal
Rural Nossa Senhora Auxiliadora, doravante denominada ENRA, no período de 1937 a
1946.
Rememorando o caminho percorrido na vida acadêmica, ao adentrar o
mestrado, o encontro com novas abordagens de estudo, a formação de novos laços
sociais e vivências no Programa de Pós-Graduação PPGE/UFMT-Cuiabá, em Mato
Grosso, um estado desconhecido até então, significou “sair da zona de conforto”
literalmente.
Devido à graduação em Psicologia, esse deslocar-se denotou uma cotidiana
transformação pessoal, uma busca incessante para ampliar conhecimentos. A graduação
em Psicologia abriu portas para análises que permitiram a compreensão da dominação
patriarcal que sobrevive em nossa sociedade. Proporcionou, ainda, a reflexão a respeito
de políticas públicas curriculares de formação de professores em exercício em salas de
aula frente a questões como gênero, raça, condições sexuais e sociais vivenciadas pelas
pessoas. Projetos e pesquisas dos quais partilhei voltavam-se para a militância a favor
das minorias, isto é, para pessoas com deficiência, brasileiros afrodescendentes,
mulheres e população LGBT, entre tantas outras que abordavam temáticas afins.
O ingresso no mestrado em Educação no PPGE/UFMT-Cuiabá foi com o
projeto “A representação social dos haitianos em Cuiabá/MT”. Entretanto, esse projeto
não se mostrou o melhor caminho. O conhecimento das pesquisas e projetos de
extensão desenvolvidos no âmbito Centro Memória Viva de Mato Grosso, o CMV, no
qual eram abordadas pesquisas relacionadas à Educação Feminina, mudou meu foco.
Mudando o objeto da pesquisa, minha orientadora e eu “nos sentimos em
casa”: encontramo-nos em um lugar composto por mulheres às quais levam em suas
histórias de vida momentos de sensibilização referentes às relações estabelecidas entre
os gêneros. Mulheres que lutaram e resistem lutando todos os dias para desconstruir a
intensa existência da dominação patriarcal que, infelizmente, domina e, muitas vezes,
adoece nossa cultura.
O aporte na literatura da área trouxe a percepção de que há inúmeras diferenças
na formação ofertada para as mulheres ao longo da história, o que alterou
historicamente o empoderamento social dos homens frente ao das mulheres.
19
A partir daí, enveredamos pelos caminhos da História da Educação Feminina,
questionando: Como a educação das moças se deu em Porto Velho, no âmbito de uma
instituição de ensino salesiana, no recorte de tempo de 1930 a 1946, em especial nos
anos de 1937 a 1946, tendo em vista que foi esse o período no qual a escola se voltou
para a formação de professoras normalistas rurais?
Na presente investigação, direcionamos nosso olhar para os estudos da História
Nova, apoiando-nos na concepção de Fernand Braudel (1978, p. 95), que assinalou que,
atualmente, estudar história “não é escolher entre rotas e pontos de vistas diferentes,
mas aceitar, adicionar essas definições sucessivas nas quais se tentou em vão, encerrá-
las”. Isto é, a história que ficou no passado, que já aconteceu, não pode se dar por
encerrada, haja vista que a “história é filha de seu tempo”, jamais cessou em suas
mudanças, uma vez que depende de condições sociais concretas (BRAUDEL, 1978, p.
17).
Tivemos como objetivo geral investigar como se deu a formação de
professoras na ENRA, em Porto Velho, nos anos de 1930 a 1946. Os objetivos
específicos foram: i) analisar a instituição educativa do ponto de vista histórico, no
sentido de examinar o processo de criação, organização e consolidação em Porto
Velho/Rondônia; ii) descrever e analisar, a partir das fontes documentais encontradas,
como se dava a escolarização das alunas na ENRA, considerando essa formação a partir
dos valores ideológicos, políticos e religiosos estabelecidos no ambiente educacional.
Com o questionamento em mente e a partir de nossos objetivos, foi possível
formular a seguinte hipótese: as Irmãs Salesianas de Dom Bosco Filhas de Maria
Auxiliadora tinham a função de coordenar as atividades pedagógicas da ENRA e ao
promover a formação das moças, tinham também o intuito de difundir os valores
católicos cristãos e a doutrina salesiana à comunidade na qual se inseriram em uma
região, pouco habitada no período, atraindo o olhar de famílias abastadas para
matricularem suas filhas. A partir da Proclamação da República, com o Estado
brasileiro declarando-se laico, a Igreja Católica viu-se obrigada a abrir novas frentes de
atuação. Com isso, a educação oferecida pelas Irmãs Salesianas de Dom Bosco, Filhas
de Maria Auxiliadora, para as jovens matriculadas na ENRA, visavam a formação da
professora rural, educadora missionária, a partir dos ensinamentos salesianos, a
população porto-velhense, doutrinando as filhas de famílias abastadas de Porto Velho e,
consequentemente, aumentando o prestígio da instituição salesiana.
20
Munidas de nossos questionamentos, nossos objetivos e hipótese, fomos em
busca de fontes que nos permitissem uma análise da educação que a ENRA
proporcionou a meninas e moças. Desse modo, buscamos documentos do acervo da
própria escola, como por exemplo, atas, livros de matrícula, anuários, fotografias,
jornais que circulavam na época pesquisada, legislações entre outros. Também
buscamos bibliografias pertinentes ao tema pesquisado, revistas, dissertações, teses,
relatórios, sites entre outros.
Na coleta de fontes documentais, em um primeiro momento, fomos em busca
de jornais que circulavam no período em estudo na cidade Cuiabá e de Porto Velho,
livros e fotos que pudessem ser coletados no acervo da instituição de ensino pesquisada.
Michel De Certeau (1982) ressaltou que é preciso compreender o cotidiano
para a construção do embasamento necessário a um trabalho historiográfico. Segundo
esse autor, explicar o passado não significa desconsiderar o que diferencia, o que existe
e o que está presente no material analisado, ou seja, nos documentos. Desse modo, a
história não é apenas como um acontecimento ou apenas um procedimento de análise de
um texto produzido, mas sim, que a história faz parte de uma realidade da qual tratamos
e que deve ser compreendida e analisada enquanto prática, enquanto atividade humana.
Com essas concepções em mente, fomos ao Arquivo Público de Cuiabá/MT em
busca de documentos que descrevessem as Missões Salesianas, as escolas por elas
organizadas, periódicos, leis, decretos e pareceres que vigoravam à época pesquisada.
Após as primeiras idas ao Arquivo Público de Cuiabá, dirigimo-nos ao arquivo
da ENRA, na cidade de Porto Velho. Nessa instituição, encontramos fontes que nos
levaram a reestruturar os referenciais teóricos e históricos para nos permitir responder
satisfatoriamente aos questionamentos e procedermos a uma organização e seleção de
fontes secundárias e primárias para a escrita da dissertação.
Nos arquivos da escola, encontramos atas de visitas, grade curricular dos
cursos disponíveis, livros de matrículas das alunas, histórico da instituição escrito pelas
Irmãs Salesianas responsáveis pela direção da escola, registro de diplomas, ata de
promoções das alunas e algumas fotos. Essa documentação importante coletada nos
acervos da ENRA, ainda hoje administrada pelas Irmãs Salesianas, foi essencial à nossa
análise.
Também buscamos consultar leis e decretos que vigoraram no país desde a
criação da escola, em 1930, para compreendermos o contexto de fundação da escola até
os anos de 1937, quando a escola passou a se denominar Escola Normal Rural Nossa
21
Senhora Auxiliadora. Delimitamos o período da pesquisa até o ano de 1946, quando a
escola mudou sua denominação e foco de ensino. Outros lugares aos quais fomos em
busca de fontes, principalmente leis, decretos e regimentos para funcionamento e
financiamento da educação no país no período em estudo, foram Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, Conselho Nacional de
Educação – CNE, ambos em Brasília, bem como ao IBGE/Distrito Federal.
Na medida em que procedíamos à seleção de documentos considerados
pertinentes para a pesquisa, fomos também selecionando obras que nos permitissem
avançar em nossas leituras e escrita.
Nesse percurso de coleta de fontes, apoiamo-nos nas obras de Peter Burke
(1992), Jacques Le Goff (1990) e Marc Bloch (2002) que adotaram os princípios da
Nova História, ou seja, da “história escrita como uma reação deliberada contra o
‘paradigma’ tradicional”, ou seja, investigamos uma história que foge da “visão do
senso comum da história” (BURKE, 1992, p. 10).
Burke (1992) assinalou que houve um aumento na última geração de
historiadores, o qual acabou desencadeando o surgimento da Nova História. Essa nova
forma de se fazer história voltou-se para a escrita da atividade humana. Considerando
nosso objeto de estudo e aproximando-nos do que foi dito por Burke, voltamo-nos para
os estudos da História das Mulheres que impactou a escrita da história, principalmente,
a partir da terceira geração dos Annales com estudos iniciados por Michelle Perrot, pois,
das três gerações da Escola dos Annales, esta geração foi a primeira que incluiu,
sobretudo, o estudo de mulheres.
Michele Perrot (2006) escreveu sobre a história do trabalho e a história da
mulher. A autora, em especial na obra Os Excluídos da História, tratou de evidenciar
atores que estiveram sempre alheios à historiografia e, dessa forma, ampliou os estudos
a respeito das mulheres, pois estas, durante muito tempo, estiveram à margem dos
relatos e acontecimentos. Assim, a autora buscou romper com o silêncio historiográfico
a respeito das mulheres.
No que concerne à análise dos documentos, Certeau (1982, p. 33) mencionou
que por mais que a “leitura do passado” ofereça um conhecimento limitado àquilo que
está escrito no documento, esse conhecimento, essa leitura sempre será dirigida pelo
presente, isto é, embora falemos do passado, nosso ponto de vista é marcado pelo nosso
presente, pelos nossos estudos, pelas nossas leituras.
22
No que se refere à abordagem do assunto, Maria Cecília de Souza Minayo
(2001) nos auxiliou ao caracterizar essa forma de análise como qualitativa, pois
“trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes” (MINAYO, 2001, pp. 21-22).
Segundo Minayo (2010), na análise de dados podemos nos utilizar da
triangulação de dados, abrangendo diferentes possibilidades de interpretação, dentre
elas, ponderamos aspectos externos, além dos internos, o que nos possibilita
“combinação e cruzamento de múltiplos pontos de vista”, a análise do “contexto, da
história, das relações, das representações [...], visão de vários informantes e o emprego
de uma variedade de técnicas de coleta de dados que acompanha o trabalho de
investigação” (MINAYO, 2010, pp. 28- 29).
Para narrar a história da instituição, objeto de nossa pesquisa, recorremos a
Ester Buffa e Paolo Nosella (2009) que destacaram questões fundamentais no estudo
das instituições escolares e seus processos de formação. Para esses autores, o estudo das
instituições pode possibilitar “melhor compreensão em educação brasileira e, assim,
talvez, contribuir para sua transformação” (BUFFA; NOSELLA, 2009, p. 23).
Décio Gatti Júnior (2000) salientou que a História das Instituições
Educacionais deve considerar os vários atores envolvidos no processo educativo, pois é
preciso investigar o que se passa no interior das escolas, o que nos permite gerar um
conhecimento mais aprofundado desses espaços sociais destinados aos processos de
ensino e de aprendizagem.
Justino Pereira de Magalhães (2004) afirmou que a escola enquanto objeto
historiográfico permite evidenciar a educação como uma construção histórica, o que nos
possibilita identificar e analisar um objeto de pesquisa em um marco teórico
interdisciplinar em uma hermenêutica cruzada entre memórias, arquivos e museus. Esse
autor assevera que ao pesquisar a história de uma instituição é preciso identificar a
“relação entre culturas gerais e locais, sua simbolização, instrucionalização,
normatização, transmissão; quadros, normas e atitudes no plano social, [...];
ação/práticas didático-pedagógicas, representação, apropriação” (MAGALHÃES, 2004,
p. 119). Investigar a história de uma instituição escolar, portanto, implica abrir-se para
um universo de possibilidades e limitações ou, como dito por Minayo (2010), para o
emprego em nossas análises de múltiplas técnicas de análise dos dados.
Na coleta dos documentos religiosos no acervo da ENRA, encontramos os
primeiros obstáculos. Carlos Bacellar (2008, p. 39) descreveu que, no Brasil, os
23
documentos de natureza religiosa apesar de serem em grande número, não são de fácil
acesso. São arquivos que estão reunidos nas cúrias diocesanas sob “cuidados precários”
e “desconfortável”. A instituição investigada também se trata de uma instituição
confessional particular, o que nos leva a aquiescer com o mesmo autor quando
mencionou que “no Brasil não há uma prática corriqueira de preservação documental
privada, e as notícias de destruição de importantes conjuntos documentais infelizmente
não são raras” (BACELLAR, 2008, p. 42).
Nas visitas aos arquivos públicos ou pessoais igualmente nos deparamos com
situações inquietantes. Dentre essas situações, deparamo-nos com o fato de que
instituições e pessoas que detinham importantes acervos para o avanço da pesquisa não
de dispuseram a colaborar ou disponibilizar esse acervo para que fosse possível uma
análise mais acurada. O acesso a essa documentação poderia propiciar outras
descobertas, pois, como mencionou Carlo Ginzburg (1989, p. 144), ao analisarmos uma
obra, “é necessário examinar os pormenores”, isto é, fazer uma análise detalhada,
minuciosa. Ainda assim, essa não foi das maiores limitações encontradas.
Outro problema emergiu quando constatamos o estado de conservação dos
documentos a que tivemos acesso no acervo da instituição em estudo. No pouco que nos
foi permitido ver, percebemos que a documentação carece de adequados cuidados
visando a sua preservação, fato que nos chamou atenção na obra organizada por Maria
do Pilar de Araújo Vieira et al. (1989), cujos autores abordaram a importância da
preservação desses registros. Segundo os autores, com o incremento de “novas
linguagens e, portanto, a novas formas de registro” (VIEIRA et. al., 1989, p. 28), passou
a ser possível pensar a forma de como preservar a documentação ainda existente nas
instituições.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas, coletamos relatórios, livros de
matrículas, atas e livros de arguições, publicações no Jornal Alto Madeira, fotografias e
mapas coletados em arquivos públicos de Cuiabá e Porto Velho.
Com as fontes em mãos, fomos compondo a memória da instituição, apoiando-
nos na concepção de Le Goff, na certeza de que “memória, onde cresce a história, que
por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro” (LE
GOFF, 1990, p. 477). Ou, como dito por Lucien Febvre (1989), que nos ajudou a pensar
sobre o sentido, caminho, marcos e representações de nosso estudo histórico,
ressaltando que é preciso estar disposto a aprofundar no movimento de nosso tempo
para adentrarmos na história.
24
Vera Teresa Valdemarin (2010), ao tratarem da construção contínua de um
objeto de pesquisa, destacaram que no delinear da construção desse objeto há a
emergência de sua permanente elaboração, pois, ao nos deparamos com as fontes
encontradas e com a abordagem que, de antemão, nos dispomos a utilizar, a
investigação tomou corpo, se constituindo, visto que o passado não é uma realidade fixa
e imutável; ele sofre influências do presente e contribui para o entendimento daquilo
que almejamos analisar e compreender no tempo presente.
Na análise dos documentos que tivemos acesso, fomos nos aproximando dos
objetivos propostos, entretanto, devido à dificuldade ou impossibilidade de acesso a
outras fontes como, por exemplo, os regimentos da instituição no período em estudo ou
os materiais didáticos utilizados, restringimos nossas pesquisas às seguintes categorias
de análise: os cursos, as professoras e o currículo da escola.
A respeito da história da educação das moças, ponderamos que, conforme os
estudos de Jane Soares de Almeida (2007), no Brasil, “a submissão pela doutrinação
religiosa era representada principalmente pela igreja que instalou o mito da mulher-
mãe-redentora, isenta de qualquer pecado”. A autora ressaltou que ideias disseminadas a
partir do positivismo e do higienismo reservaram à mulher o espaço doméstico e quando
elas fossem educadas deveriam adotar o papel de “redentora da família e da pátria”, isto
é, uma mulher recatada, contida segundo os padrões europeus, cabendo a elas as
funções domésticas (ALMEIDA, 2007, p. 109).
Nessa mesma concepção, Maria Lúcia de Arruda Aranha (1996, p. 139)
destacou que o positivismo exprimia a exaltação provocada no Século XIX pelo avanço
da ciência moderna, atribuindo à ciência o poder de revolucionar o mundo com uma
tecnologia cada vez mais eficaz. O positivismo do Século XIX, a partir de Augusto
Comte, declarava a confiança do homem no conhecimento científico.
Nicanor Palhares Sá (2012) assinalou que o positivismo surgiu como um
movimento intelectual de oposição a todo o idealismo anterior. Esse autor ressaltou que
surgia, assim, uma filosofia da ordem e uma ciência baseada na objetividade e na
neutralidade científica.
Outro autor, Afonso Soares de Oliveira Sobrinho (2013, p. 213), em seus
estudos acerca da origem das medidas higienistas-disciplinadoras dos espaços nos
primórdios da República em São Paulo – Séculos XIX e XX, descreveu que naqueles
anos prevalecia a ideia de ordem e disciplina das condições de vida e do próprio
trabalho por meio da higiene pública. O médico, principalmente o médico-sanitarista, e
25
o engenheiro apareceram como personagens que a elite demandava e que oferecia as
intervenções necessárias à consolidação da nova ordem higienista: ações sanitárias
foram desenvolvidas com vistas a combater epidemias, um ideal de limpeza e, ao
mesmo tempo, desejo utópico do progresso (SOBRINHO, 2013, p. 215).
Corroborando com o que Almeida (2007) relatou a respeito da educação das
moças, Maria Izilda Santos de Matos (1996) expôs que “desde muito cedo, as crianças
de famílias pobres, principalmente as meninas, eram introduzidas nos trabalhos
domésticos, cozinhando, lavando, passando e cuidando dos irmãos menores”, uma
necessidade que fazia com que, ainda na infância, as meninas fossem treinadas para o
ofício considerado tipicamente feminino (MATOS, 1996, pp. 139-140).
A partir daí, buscamos produções que tinham como objeto de estudo a temática
Escola Normal Rural, escolas confessionais femininas e seus desdobramentos. No que
concerne à temática que aborda as instituições educativas que se voltaram para a
formação de professoras normalistas rurais, algumas delas foram significativas para
nossa investigação.
Martha Maria Macêdo Bezerra (2013) defendeu sua dissertação de mestrado na
Universidade Estadual do Ceará, intitulada “De aluno a professor a formação docente de
egressos da escola normal rural de Juazeiro do Norte CE”, voltando seu olhar para a
Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte-CE, destacando a formação docente na
instituição. A dissertação buscou compreender como as práticas e formação de
professores egressos dessa escola e os processos de (re) construção identitária
vivenciados por esses docentes foram influenciados pelas mudanças ocorridas na
educação no final do Século XX. O percurso percorrido pela autora para realizar sua
investigação, consistiu em associar um conjunto de técnicas de análise, com abordagem
qualitativa a partir das narrativas dos docentes egressos da Escola Normal Rural de
Juazeiro do Norte. Levantamento bibliográfico e análise documental também foram
instrumentos cruciais para a preparação do homem do campo, objetivando desenvolvê-
lo e integrá-lo ao meio onde vivia.
Quitéria Lúcia Ferreira de Alencar Ribeiro (2015), em sua dissertação de
Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de
Educação da Universidade Federal do Ceará, recuperou a história do antigo Museu
Vilas Nova Portugal e, para isso, precisou voltar seus estudos para a criação da primeira
escola normal rural do Brasil, a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte. A autora
também tratou da criação e existência da Sala de Memória Amália Xavier de Oliveira,
26
inaugurada em 2008 e que, atualmente, encontra-se com suas atividades paralisadas
devido à falta de incentivo político para a sua preservação. Com essa pesquisa,
intitulada “Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte: do Museu Vilas Nova Portugal à
Sala de Memória Amália Xavier de Oliveira”, a autora buscou reconstruir a história dos
dois museus, interpretando e analisando as entrevistas realizadas e documentos
encontrados, voltando-se para a história de criação da escola, sua instalação e
manutenção.
Pascoal de Aguiar Gomes (2007), em sua dissertação de mestrado, mencionou
a existência da instituição de ensino da presente pesquisa, a ENRA. Nesse estudo,
Gomes (2007) defendeu sua dissertação na Universidade Federal de Mato Grosso, com
o título “A Educação Escolar no Território Federal do Guaporé (1943-1956)”. O
pesquisador analisou a implantação, organização e desenvolvimento da educação
escolar no atual estado de Rondônia e descreveu as escolas que oferecem ensino
secundário no recorte de tempo selecionado pelo autor. A investigação baseou-se na
análise de documentos coletados no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP),
de fotos, de dados estatísticos para compreender o processo de organização escolar.
Em Campo Grande, a dissertação de Fernanda Ros Ortiz (2014), defendida no
Programa de Pós-Graduação em Educação, no Centro de Ciências Humanas e Sociais,
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, destacou-se, apesar de não se tratar de
uma escola normal rural, essa instituição, bem como a ENRA, é uma instituição com
influência Salesiana de ensino e, também, fundada pelas Filhas de Maria Auxiliadora.
Ortiz investigou e analisou práticas escolares, culturais e sociais empreendidas pela
Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora, no período de 1946 a 1961, destacando a
divergência existente nas práticas educativas para as mulheres comparadas às práticas
educativas ofertadas para os homens. A autora analisou bancos de dados a partir de
palavras-chave que tratavam do tema, revisão de literatura e aprofundamento teórico,
documentos encontrados no acervo da instituição pesquisada e as legislações
concernentes ao período do estudo.
Dessa maneira, reiteramos a importância da temática de nossa investigação
voltar-se para o reconhecimento da história de uma instituição de ensino,
especificamente ao tratar da influência de instituições religiosas na formação de
professoras e para a educação brasileira como um todo.
Organizamos nossa narrativa em três capítulos. No primeiro capítulo, expomos
a trajetória histórica que os Salesianos de Dom Bosco e as Filhas de Maria Auxiliadora
27
realizaram até aportarem em Porto Velho e situamos o objeto de estudo abordando o
contexto sociopolítico da cidade de Porto Velho. Apresentamos as leis de constituição
da cidade e os movimentos que ocorreram no início do Século XX e que contribuíram
para a atração de um grande número de migrantes para Rondônia. Abordamos o
momento de constituição da Prelazia1 de Porto Velho, uma divisão com fins
eclesiásticos da Igreja Católica criada durante o pontificado do Papa Pio XI2.
Procuramos rever o percurso do contexto sociopolítico brasileiro no momento de
chegada das FMA em Porto Velho, expondo um breve relato das atividades das irmãs
salesianas na região.
No segundo capítulo, apresentamos o modelo de escolarização da ENRA desde
a sua fundação em 1930 até os anos de 1937, remetendo-nos ao contexto local, regional
e nacional, analisando as legislações e o aporte teórico pertinente referente à História da
Educação, em específico, da história da educação feminina, estabelecendo as relações
com o modelo salesiano de ensino adotado.
Por fim, no terceiro capítulo expomos saberes e currículos escolares adotados
pela ENRA e abordamos a formação normal rural, descrevendo o percurso da
instituição entre os anos de 1937 a 1946 quando ela se tornou Escola Normal Rural
Nossa Senhora Auxiliadora.
1Prelazia: S. f. 1 Cargo ou dignidade de prelado ou prelada 2 jurisdição do prelado ou prelada 3 tempo
durante o qual o prelado ou a prelada exerce o cargo 4 DIOCESE (‘divisão territorial’). (HOUAISS;
VILLAR, 2009, p. 1542)
Prelado: S. m. 1 título honorífico de alguns dignitários eclesiásticos (como, p.ex., bispos, abades,
provinciais etc). [...] 3 oficial da residência do papa, que está autorizado a vestir hábito roxo.
(HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 1542) 2Papa Pio XI (1857-1939) tornou-se papa em 2 de fevereiro de 1922 permanecendo no cargo até 1939,
ano de sua morte. O Papa Pio XI escolheu a paz como lema de seu pontificado, acreditando a Igreja
Católica, viver um momento de paz religiosa. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/pius-
xi/it/biography/documents/hf_p-xi_bio_20070330_biography.html> Acesso em: 1 de abril de 2017.
28
CAPÍTULO I
AS FILHAS DE MARIA AUXILIADORA RUMO A PORTO VELHO
A história não deve apenas confortar; deve
apresentar um desafio, e uma compreensão
que ajude no sentido de mudança.
(THOMPSON, 1992, p. 43).
Neste capítulo, buscamos enfatizar o percurso que as Filhas de Maria
Auxiliadora percorreram até aportarem em Porto Velho. Para isso, foi necessário
destacar as origens da Família Salesiana, a formação da Congregação Salesiana e o
início da Associação das Filhas de Imaculada, que se tornaram as Filhas de Maria
Auxiliadora, as FMA, de modo a analisar fundamentos, ideais e o público que
buscavam alcançar.
A epígrafe com a qual iniciamos o capítulo nos leva a pensar que nossa
pesquisa nos auxilia na compreensão da história da educação feminina brasileira. Ao
investigarmos a educação que foi oferecida às mulheres na ENRA, encontramos uma
afirmação de June Edith Haner (1981, p. 14), a qual destacou que na medida em que as
atividades dos homens se diferenciavam daquelas atribuídas às mulheres, as atividades
femininas foram consideradas “sem significação e até indignas de menção”.
Com essa concepção em mente, visualizando em nossas leituras os conflitos e
desigualdades internas ao próprio “sistema educacional brasileiro”, compreendemos que
isso acabou por articular uma produção e sustentação de desigualdades de formação e
escolarização oferecida a homens e mulheres.
A ENRA, na cidade de Porto Velho, em Rondônia, foi fundada pelas Filhas de
Maria Auxiliadora. Elas iniciaram seus trabalhos na cidade em 1930 (IMA, 2000). A
fundação da instituição decorreu com a ida de padres e sacerdotes Salesianos e Irmãs
Salesianas para a região Norte.
Nessa linha de raciocínio, cabe-nos compreender o percurso que os Salesianos
de Dom Bosco fizeram até chegarem a Porto Velho, sendo necessário retornarmos à
29
origem da Congregação Salesiana e da Associação das FMA, a fim de assinalar a
presença das FMA no Brasil, especialmente, em Porto Velho.
Foi em Turim, na Itália, que Dom Bosco iniciou os trabalhos salesianos, em
1859, com a fundação da Família Salesiana. D. Bosco, reunido com um grupo de
sacerdotes e irmãos, decidiu fundar uma congregação com regras definidas,
direcionadas às atividades paroquiais, apostolado, prática de caridade cristã e ensino,
inspirados na vida de São Francisco de Sales que vivera entre os anos de 1565 a 1622 de
quem se originaria o nome de salesianos e que inspiraria D. Bosco em seu humanismo
otimista e sua dedicação absoluta ao cuidado pastoral das almas. Os salesianos
acabariam por atuar em diversas obras educativas, inspirando a criação de várias outras
ramificações, contando com o apoio integral da igreja e de colaboradores leigos. Essa
visão se manteria ao longo dos anos e o Marco Referencial do Projeto Pedagógico da
Rede Salesiana de Educação de 2005 estabeleceu:
Construir um projeto de escola centrado nas relações entre pessoas
comprometidas com a transformação da realidade em que estão
inseridas, visando à contínua e indispensável formação de uma
comunidade educativa: é esse o desafio que o legado pedagógico de
Dom Bosco (1815-1888) e da Madre Mazzarello (1837-1881),
fundadores da Família Salesiana, coloca para a RSE. Desde sua
origem no Século XIX, o estilo salesiano de educar inspira-se nos
valores cristãos e pauta-se no paradigma de educar pelo amor, sob o
prisma da inclusão e da reciprocidade (DOCUMENTO DA RSE,
2005, p. 4).
Contudo, somente a partir de 1870, a Congregação foi aprovada pelo Papa Pio
XI. D. Bosco tinha a intenção de “se dedicar ao bem dos jovens necessitados”,
oferecendo valores como afeição e amor pela formação pregada nas instituições
salesianas como uma oportunidade de melhoria de suas vidas, como descrito por Afonso
de Castro (2014):
[...] Sempre se valeu de ações práticas para expressar o seu método
educativo e apresentar suas normas pedagógicas, valeu-se também da
convivência intensa com atitudes profundamente pedagógicas. De
forma clara, apareceu um conjunto de valores que sustentam a
finalidade de seu trabalho pedagógico: - o bem dos jovens com uma
finalidade sobrenatural de lutar para viver sempre na graça de Deus
(CASTRO, 2014, p. 92).
30
Em Mornese, também na Itália, uma jovem, Maria Domingas Mazzarello, foi
reconhecida pelo Padre Pestarino como uma mulher predestinada às obras do Senhor
devido ao que o Padre chamou de fervor religioso e disciplina (PENTEADO, 1996, p.
17).
Segundo Yara Penteado (1996, pp. 18-19), Angela Maccagno, outra jovem de
Mornese, visava à criação de uma irmandade ou associação leiga que tivesse como foco
as atividades da Igreja e as obras de Deus, e contava com o apoio do Pe. Pestarino e Pe.
Frassinetti, este de Gênova, para a criação dessa associação. No clima de movimentação
pela reunificação3, Angela juntamente com os padres Pestarino e Frassinetti criaram a
Associação das Filhas da Imaculada4, em 1855.
Todavia, a autora ressalta ainda que apenas em 1857 a Associação Filhas da
Imaculada tornou-se oficial, contando com Maria Mazzarello à frente da obra. Maria
Mazzarello começou a aprender bordado e costura com vistas a ensinar meninas e reuni-
las para esse trabalho e para a catequese.
Em 1862, as irmãs da Associação Filhas da Imaculada abriram uma pequena
sala de costura chamada “Alfaiates para Senhoras”, objetivando uma futura
congregação das irmãs, a qual primeiramente se chamou Filhas da Imaculada, passando
a denominarem-se Filhas de Maria Imaculada e, mais tarde, Filhas de Maria
Auxiliadora, como é conhecida atualmente. Enquanto as irmãs davam continuidade às
atividades de bordado, costura e catequese para as moças da região na Associação
Filhas de Maria Imaculada, o Padre Pestarino foi ao encontro de D. Bosco e entrou para
congregação dos Sacerdotes Salesianos, “eram os primeiros laços, que se apertaram
cada vez mais, pois o objetivo de todos era o mesmo: o trabalho com os jovens: as
meninas, pelas Filhas; os meninos, pelos Salesianos” (PENTEADO, 1996, p. 19). Dessa
maneira, incentivado por D. Bosco, Pe. Pestarino inicia, no terreno de sua propriedade,
em Borgoalto, na Itália, a construção de uma escola para os meninos de Mornese
(PENTEADO, 1996, p. 20).
3Sob forte influência da Igreja, pois possuía muitas terras, e devido à maneira como estava organizada a
Itália (como um conglomerado de reinos e educados), iniciou-se no país um movimento pela
reunificação. O primeiro alvo foi o poder da Igreja que sofreu limitações e dificuldades. O movimento
transformou-se em uma guerra civil em 1848 e o debate para definir o que seria uma lei que suprimisse
as comunidades religiosas e confisco dos bens da Igreja, tomou conta da movimentação. Um sentimento
anticlerical dominou o período sob a perspectiva de um estado nacional e de igualdades (PENTEADO,
1996, p. 19). 4Fizeram parte desta primeira fase da Associação cinco jovens: Angela Maccagno, Maria Mazzarello,
Maria Areco, Joana Ferrentino e Josina Mazzarello (PENTEADO, 1996, p. 19).
31
De acordo com Penteado (1996), em 1864, D. Bosco visitou Mornese para
conhecer as Filhas de Maria Imaculada e reconheceu “o sopro do Espírito Santo” em
Maria Mazzarello.
Dom Bosco, em 9 de julho de 1871, chama o Pe. Pestarino e
Valdocco, Turim, e lhe comunica que o Capítulo Superior dos
Salesianos havia concordado com a criação de uma congregação
feminina. [...] o Papa havia aprovado e homologado a ideia. [...] – o
futuro Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (PENTEADO, 1996,
p. 20).
Nesse contexto, Ivone Goulart Lopes (2010) narrou a história das FMA no
projeto de D. Bosco. De acordo com seus estudos, a origem do Instituto data de 5 de
agosto de 1872. Foi inaugurado com a presença do bispo D. Sciandra e do próprio D.
Bosco: “[...] acontecia a profissão religiosa de onze candidatas entre as quinze, que
nesse dia, receberam o hábito religioso” (LOPES, 2010, p. 33).
Para atender os apelos da Santa Sé, D. Bosco, seus discípulos e as Irmãs
Salesianas deslocaram-se para a América com o objetivo de evangelizar os povos
indígenas: “daí o termo ‘missionários’ adotado com relação aos que partiam da Itália,
tanto padres como freiras” (AZZI, 1999, p. 14). Muito embora a Congregação visou, na
América, à evangelização de povos indígenas, em Porto Velho, ela voltou-se para as
atividades nos âmbitos da saúde e educação.
Pensamos ser relevante contextualizar a trajetória de chegada das FMA ao
Brasil, abordando, primeiramente, a chegada dos sacerdotes Salesianos de Dom Bosco,
pois eles antecederam a vinda das Irmãs Salesianas.
Observando dentro da realidade geográfica, eclesial e congregacional do
período das missões salesianas, de acordo com os estudos de Lopes (2010), os cristãos
europeus sentiam-se interessados pelas populações não evangelizadas, principalmente,
após serem expulsos de suas terras pela Secularização5 disseminada pela Europa e pelo
5Secularização foi o nome dado ao processo de retirada de símbolos e práticas religiosas do âmbito
público. A secularização representou “a perda do caráter sagrado dos acontecimentos”, uma perda do
controle territorial e poder eclesiástico por parte da Igreja Cristã Católica (EMMERICK, 2010, p. 9). No
Brasil, o projeto de romanização da Igreja, influenciado pela Secularização, destacou-se ao final do
Século XIX e durante o período republicano, quando a Igreja Católica se organizou para recristinizar a
sociedade a partir de uma orientação política: “era uma forma de sistematizar os dogmas católicos,
centralizados em Roma, e atrair fiéis por meio de ações distintas”, como formação de padres, aumento
do número de dioceses, entre outros (ORTIZ, 2014, p. 54). Segundo Ortiz (2014), “se, por um lado, era
necessário modernizar para difundir o capitalismo, por outro não se viam com bons olhos a liberdade,
igualdade e profissionalização feminina” (ORTIZ, 2014, p. 55).
32
o estímulo da Igreja que os enviava para a colonização e exploração de outros lugares
para espalhar a sua fé.
Esse interesse pelas populações não evangelizadas partiu por um lado de
pretensões materiais e por outro ligado à esfera espiritual e, segundo Beleni Salete
Grando (2004), esses interesses advinham desde os anos de 1500, pois “por
determinação de D. João, tornava-se imperativo povoar as terras conquistadas em 1500
e converter os gentios à fé católica” (GRANDO, 2004, p. 74).
Nessa linha de raciocínio, nos anos finais do Século XIX, de acordo com Lopes
(2010), o mundo estava inserido no caminho ao laicismo. Para essa autora, após a
realização do Congresso de Viena (1815), depois das perseguições dos católicos e a
descristianização da sociedade, intensificada após a Revolução Francesa, provocaram
um novo anticlericalismo e uma ampla secularização da sociedade (LOPES, 2010, p.
29).
Impedidos de atuarem na saúde e na educação, consoante Riolando Azzi
(1999), no ano de 1875 a primeira embarcação de missionários salesianos aportou em
Buenos Aires, na Argentina e fundaram uma capela San Nicolás de los Arroyos.
Em 1875 D. Bosco enviava a primeira expedição missionária para a
América Latina, com destino de Buenos Aires, os salesianos fundaram
logo uma obra em San Nicolás de los Arroyos6. Os imigrantes
italianos tiveram de início, a preferência dos salesianos, segundo as
recomendações da Santa Sé (AZZI, 1999, p. 24).
Apesar de a primeira embarcação missionária ter seguido rumo a Buenos Aires,
na Argentina, encontramos nos estudos do Padre Luiz Marcigaglia (1955, p. 13),
registros de que a primeira terra americana em que os salesianos “pousaram o pé” foi o
Brasil, “isto aconteceu em 1875 com a chamada ‘1ª Expedição Missionária’”. O autor
retratou que no percurso da expedição enviada para a Argentina, o navio passou pelo
Rio de Janeiro, na época, capital do Império do Brasil.
Lopes (2010) assinalou que no ano seguinte, em 1876, o Padre Luigi Lasagna7
desembarcou no Uruguai e fundou o primeiro colégio salesiano. Porém, somente no ano
seguinte, partiu de Mornese a primeira expedição missionária das FMA para o mesmo
destino. O Instituto das FMA manteve a característica de seguir com as atividades
missionárias.
6Cidade argentina.
7Na época, Luigi Lasagna era Superior da Inspetoria uruguaio-brasileira (COSTA, 2009, p. 15).
33
1879 (1º de janeiro) – 2ª expedição; 1881 (20 de janeiro) – 3ª
expedição; 1883 (14 de novembro) – 4ª expedição; 1885 (3 de
fevereiro) – 5ª expedição; 1885 – as Constituições delineiam
claramente a dimensão missionária e confiam essa responsabilidade à
Vigária Geral. 1886 (4 de dezembro) – 6ª expedição (LOPES, 2010, p.
34, grifos da autora).
Analisando as obras de Azzi (1999), podemos observar que apesar de se
estabelecerem no Uruguai, inicialmente as FMA mantiveram suas atividades juntos ao
Colégio de Villa Colón. Após o decreto episcopal de 18758, Lasagna comprou um
terreno para um colégio de irmãs, o que resultou na abertura de uma escola primária, e
recebia semanalmente a visita de Lasagna.
No Brasil, Azzi (1999) descreveu que a chegada dos salesianos foi resultado de
dois projetos: de um lado, o desejo de D. Bosco e seus discípulos por iniciar atividades
educativas no Império Brasileiro, e de outro, a insistência dos bispos brasileiros para
obter a colaboração desses religiosos na implantação e consolidação do modelo
tridentino9 de fé católica.
Bispos do Pará e Amazonas, na região Norte Brasileira, começaram a enviar
cartas para Dom Bosco, na Itália, solicitando a presença Salesiana com a vinda de novas
ordens religiosas para a região. Atendendo às solicitações, D. Bosco recomendou ao
Padre Lasagna que, ao viajar pelo território brasileiro, fosse até a região Norte para
estudar a possibilidade de estabelecer uma fundação salesiana na diocese do Pará
(COSTA, 2009, p. 15).
O ano de 1881 datou a nomeação do Padre Lasagna como inspetor do Uruguai
e do Brasil, por Dom Bosco (AZZI, 1999, p. 29). Segundo o autor, essa nomeação foi
decisiva, pois ainda não havia nenhuma casa salesiana no Brasil.
Em 1882, o Inspetor Padre Lasagna, embarcou para a região de Belém
entusiasmado com os horizontes missionários. A diocese paraense foi a pioneira na
iniciativa missionária dos Salesianos na região Norte do país, porém, com insucesso
(COSTA, 2009, p. 16). Postergada por motivos diversos, a ida dos salesianos ao Pará
não pôde ser realizada, conduzindo o Padre Lasagna a ocupar e manter o controle dos
territórios mato-grossense e amazônico.
8Decreto episcopal de 3 de março de 1879 estabeleceu que os salesianos fossem encarregados da direção
da paróquia de Las Piedras (AZZI, 1999, p. 26). 9Modelo Tridentino de fé Católica referiu-se ao ritual tradicional dos cultos religiosos, padronizado a
partir do Concílio de Trento que unificou a prática litúrgica na Igreja Ocidental: uma igreja “una, santa,
católica e romana” (PACE, 2013).
34
Mauro Gomes da Costa (2009) fez considerações acerca da presença da Igreja
na região amazônica e, segundo o autor, não se tratava apenas de uma questão
evangelizadora, mas, também, de uma questão geopolítica. Precedidos por outras ordens
eclesiásticas, os Salesianos participaram da reabertura da Amazônia pelas missões
religiosas (COSTA, 2009, p. 13).
Assim, o estudo da geopolítica dos limites internacionais do Brasil
oferece elementos importantes para o entendimento da presença de
ordens religiosas na Amazônia. Com a proclamação da República
(1889), há um deslocamento do catolicismo da posição privilegiada
que até então tivera. O Estado republicano rompe com o regime do
padroado, proclama-se laico e obriga a Igreja a uma nova tomada de
posição (COSTA, 2009, p. 14).
Para esse autor, após a proclamação da República em 1889, o catolicismo viu-
se obrigado a abrir novas frentes. O Estado, ao se proclamar laico, levou a Igreja a
estabelecer-se em novas regiões. Com isso, a perspectiva de reestruturação e
evangelizadora no Brasil trouxe novas ordens religiosas para o país. Costa (2009)
afirmou que ao procurar novos caminhos e tomar novas decisões, a Igreja passou a
orientar as instituições escolares segundo normas do ensino religioso. Para isso, criou
instituições que formavam professores segundo preceitos do catolicismo, mas utilizando
métodos mais modernos para essa formação.
Ao final do Século XIX, o Inspetor Lasagna decidiu enviar as primeiras Filhas
de Maria Auxiliadora para o Brasil, deixando Montevidéu em 5 de março de 1892 e
chegando no porto do estado do Rio de Janeiro em 10 de março daquele mesmo ano.
Contudo, seria apenas em 1894 que os Padres Salesianos chegariam ao Mato Grosso.
Chegados no parque hontem, ao meio dia, acham-se nesta capital o
Exm. e Rvm. Sr. Dr. D. Luiz Lasagna, dignissimo Bispo titulas de
Tripoli e Superior das missões salesianas do Brasil, Uruguay e
Paraguay e os rvms. destinados às missões neste Estado. [...] e os
Rvds. missionarios, que, a pedido do Exm. Sr. Dr. presidente do
Estado e a instancias nossas, vêm encarregar-se da catechese e
civilisação de nossos indios (O APOSTOLO, 1894, p. 3).10
De acordo com os estudos de Lopes (2010, pp. 39-40), apenas em 1895 a
primeira expedição das Filhas de Maria Auxiliadora se estabeleceu em Cuiabá,
objetivando dar início à Missão da Colônia Teresa Cristina. Segundo a autora, D.
10
Transcrito conforme original.
35
Lasagna redigiu e leu uma carta na Abertura das Missões em Mato Grosso, a qual
objetivava arrecadar auxílios para a Colônia Teresa Cristina, uma colônia bororo que
recebeu esse nome em honra ao da esposa de Dom Pedro II. A colônia foi fundada por
Joaquim Galdino Pimentel, governador da Província de Mato Grosso em 1886 e
encontrava-se localizada em Mato Grosso, às margens do Rio São Lourenço entre os
estados de Minas Gerais e São Paulo (LOPES, 2010, p. 40).
A primeira expedição missionária das FMA para Mato Grosso foi organizada
pelo Inspetor Padre Lasagna acompanhado de quatro Irmãs da Visitadoria do Brasil e de
quatro Irmãs da Visitadoria do Uruguai. Muitos centros missionários foram instalados
em Mato Grosso, mas a expansão salesiana avançou para a região amazônica apenas em
1908. Em Mato Grosso, as FMA iniciaram suas ações atuando na evangelização dos
povos indígenas Xavante e Bororo. As regiões de Mato Grosso e regiões da Amazônia
eram espaços nos quais a presença de indígenas era marcante, e “por essa razão, os
salesianos decidiram iniciar suas atividades missionárias no Mato Grosso, atuando
numa segunda etapa também na Amazônia” (AZZI, 1999, p. 223).
Figura 1: Mapa da localização de aldeias indígenas Xavante e Bororo, 2010.11
Fonte: FUNAI.
12
11
Não conseguimos ter acesso a mapas elaborados próximos às datas de colonização e missões.
Elaboramos esse mapa com base nas informações contidas no site da FUNAI.
36
De acordo com Lopes (2010, p. 69), “a história contemporânea do povo
Xavante se iniciou em 1862, na região leste do atual estado de Mato Grosso, conhecida
como Serra do Roncador, em terras pertencentes à Amazônia Legal”.
Conforme pode ser observado na figura 1, o mapa apresenta, nos números de 1
a 6, territórios indígenas da etnia Bororo, e a leste de Cuiabá, na área destacada como
Serra do Roncador, estão as aldeias dos povos indígenas de etnia xavante. Segundo a
FUNAI, há 6 territórios indígenas bororo e 13 territórios indígenas xavante. Os
territórios indígenas Bororo são: Perigara, Tereza Cristina, Tadarimana, Jarudore,
Sangradouro e Merure; e os territórios indígenas xavante correspondem ao Areões,
Chão Preto, Xavante de Sangradouro13
, Etarairebere, Huuhi, Maraiwatsede, Marechal
Rondon, Norotsurã, Paraburure, Pimentel Barbosa, São Marcos, Ubawawe e Isoupá.
Consoante Costa (2009), os diversos interesses salesianos uniam-se aos
interesses do Estado brasileiro. Desse modo, a Santa Sé desejosa de expandir a fé
católica enviou ordens missionárias para fora da Europa e criaram dioceses que
prezavam a aliança com os setores econômicos, a política local. As ordens religiosas
buscavam novos territórios, aliavam-se aos governantes no intuito de pacificação e
docilização dos povos que ali viviam.
Padre Antonio Malan14
foi importante figura entre os irmãos salesianos. O ano
de 1912 datou o primeiro relatório enviado ao Presidente do estado de Mato Grosso, Sr.
Dr. Joaquim Augusto da Costa Marques, feito pelo Inspetor das Missões Salesianas,
Padre Antonio Malan. Nesse relatório, Padre Antonio Malan relatou suas observações
sobre o serviço catequético da Missão Salesiana com povos Bororo15
, em Mato Grosso.
Como V. Excia. não ignora, cheguei há pouco, de visitar, cumprindo
dever de ofício, as futurosas colônias indígenas “S. José” no rio
Sangradouro, “Sagrado Coração” no córrego dos Tachos, e
“Immaculada Conceição” no ribeirão Aracy, pertencentes as três a
esta mesma missão. Encontrei todas a funcionar regularmente, quer na
parte material, como na intelectual e moral (MATO GROSSO, 1913,
p. 2).
12
Encontramos as informações no site da FUNAI, entretanto, também é possível encontrar um mapa
representando os territórios indígenas na tese de Beleni Salete Grando (2004, p. 185). 13
Atualmente ainda há a Missão Salesiana de Sangradouro, agregando duas etnias: os Bororo e os
Xavantes, os quais chegaram à Missão vindos de Meruri devido aos conflitos com os Bororo, em 1957
(GRANDO, 2004, p. 154). 14
Inspetor da Missão Salesiana em Mato Grosso em 1912. 15
O relatório de 1912 descrito pelo Padre Antonio Malan apresentou apenas descrições sobre a Missão
Salesiana com povos Bororo. Nada consta sobre os povos Xavante.
37
O “Relatório16
sobre o serviço de catechese da Missão Salesiana em Matto-
Grosso durante o anno de 1912”, apresentado ao Presidente do estado de Mato Grosso
(MATO GROSSO, 1913, p. 2) narra a visita inspetorial do Pe. Antonio Malan, em
1912, apresentando, também, três colônias indígenas que se encontravam sob
supervisão da Missão Salesiana: Colônia São José, no rio Sangradouro; Sagrado
Coração no córrego dos Tachos, e Immaculada Conceição, no Ribeirão Aracy.
Nessas colônias, o trabalho realizado pelas missões salesianas além da
escolarização cabia ao padres “civilizarem” os povos indígenas e incluía ainda
estabelecer normas para casamentos, organização familiar, enfim, para as rotinas
daquelas sociedades indígenas que passaram a ser realizadas conforme princípios17
europeus cristãos pregados pelos salesianos. Cabia a “civilização dos gentios”.
Em toda parte, difundiu-se a crença no poder da escola como fator de
progresso, modernização e mudança social. A ideia de uma escola
nova para a formação do homem novo articulou-se com as exigências
do desenvolvimento industrial e o processo de urbanização. O
fenômeno de âmbito mundial foi alimentado pela circulação de ideias
e modelos gerados nos países ditos “civilizados” na época. (SOUZA,
2000, p. 11).
De acordo com esse relatório, em se tratando da divisão de tarefas em cada
colônia de povos indígenas, Antonio Malan relatou que um visitante oficial, Horacio
Souza, Inspetor de Meteorologia18
, que viera a Mato Grosso para remontar a estação do
morro “Santa Cruz”, descreveu que as mulheres aprendiam os afazeres domésticos e
havia pequenas academias nas colônias nas quais as FMA lecionavam Português.
Visitei a casa das Irmãs Salesianas, e foi com verdadeira emoção que
assisti a uma pequena academia feita pelas indígenas, dentre as quais
algumas falam já correntemente o português. Tive também então
oportunidade de ver as mulheres aprendendo os vários afazeres
domésticos (MATO GROSSO, 1913, p. 4).
16
O “Relatório sobre o serviço de catequese da Missão Salesiana em Mato Grosso durante o ano de 1912”
referiu-se ao ano de 1912, entretanto, foi produzido e apresentado ao Presidente do estado de Mato
Grosso apenas em 1913. 17
O Marco Doutrinal do Projeto de Pessoa e Sociedade de utilizado até hoje pela Congregação Salesiana
está voltado aos modelos, estilos e conteúdos educativos para a formação crítica, ética, social e política
da pessoa. Tem uma visão humanista cristã em sintonia com o carisma da educação salesiana, visando
formar integralmente a pessoa como “honesto cidadão e bom cristão”. (DOCUMENTOS DA RSE,
2005, p. 5). 18
A meteorologia estuda a atmosfera terrestre, focando nos estudos de previsão do tempo. No Brasil,
havia algumas instituições onde se realizavam observações meteorológicas. A partir da iniciativa da
Repartição Hidrográfica, instituição ligada ao Ministério da Marinha, criou-se um projeto, em 1886,
com o objetivo de criar uma rede de estações meteorológicas no Brasil. (BARBOZA, 2006, p. 2).
38
Mais à frente no relatório, Malan relatou que outro visitante oficial, José
Morbeck, funcionário federal, Diretor da Repartição de Terras e colonização, em visita
oficial, visitou a casa das Irmãs de Maria Auxiliadora e observou que as mulheres
indígenas, além de serem iniciadas nos afazeres domésticos, também aprendiam a
cardar19
, fiar e tecer algodão.
Foi-me franqueada também a casa das Irmãs de Maria Auxiliadora,
onde as índias, como nas outras colônias, são iniciadas nos trabalhos
domésticos nos serviços de cardar, fiar e tecer o algodão. Foram-me
apresentados vários tecidos, entre os quais uma bonita toalha de rosto
fabricada com algodão de duas cores, branco e pardo, digna de ser
vista (MATO GROSSO, 1913, p. 12).
As Irmãs Salesianas educavam e instruíam as crianças indígenas ao mesmo
tempo no qual assistiam as mulheres indígenas no trabalho com a tecelagem. Às
mulheres dos territórios indígenas cabia exercitarem-se nos trabalhos domésticos,
estarem preparadas para atender as exigências de administração dos seus lares, casando-
se com seu cônjuge obedecendo às leis cristãs e trabalhando com afazeres apropriados
ao seu sexo, iniciadas nos serviços de cardar, fiar e tecer o algodão (MATO GROSSO,
1913).
Podemos dizer que havia uma predominância cultural europeu frente à cultura
indígena. Remontamos aos primórdios da história que nos revela, como por exemplo, a
percepção negativa de um povo e cultura diante de outro povo e cultura. Tzvetan
Todorov (1993) tratou do tema ao analisar alguns pensadores que foram representativos
para a história do pensamento e para a reflexão sobre a história. No que se refere ao
etnocentrismo, encontramos apoio em seus estudos para compreender o julgamento de
costumes ditos “selvagens” por meio da analogia tirada do próprio costume daquele que
julga.
Por esses caminhos, intuímos que as religiosas de D. Bosco acreditavam que
povos indígenas eram seres “selvagens” e que precisavam ser “civilizados” pela
doutrina cristã e modo de vida europeu, e essa realidade só mudaria a partir da educação
e instrução oferecidas por eles para os povos colonizados. Essa ideia pode ser
considerada a partir do ponto de vista etnocêntrico, o qual privilegia alguma raça, etnia
19
Cardar: Cardo. Cardo: sm. Do lat. cardûus. Carda: sf. instrumento que serve para desembaraçar o
cânhamo, a lã etc. (CUNHA, 2010, pp. 127-128).
39
ou povo considerado como modelo em detrimento de outras culturas, ou seja, segundo
Todorov (1993), o etnocêntrico “segue a linha do menor esforço e procede de maneira
não crítica: crê que seus valores são os valores e isso lhe basta; nunca busca
verdadeiramente prová-lo” (TODOROV, 1993, p. 21).
No mesmo relatório de 1912 encontramos o número de pessoas que viviam
naquelas colônias. A Colônia Sagrado Coração contava com 105 homens e 106
mulheres, totalizando 211 pessoas. A Colônia Immaculada Conceição contava com 64
homens e 59 mulheres, totalizando o número de 123 pessoas. Já, a Colônia São José
com 49 homens e 42 mulheres, totalizava 91 pessoas. Nessas colônias havia, portanto,
425 indígenas que estavam sob tutela dos ensinamentos das FMA como podemos ver no
Quadro 1.
40
Quadro 1. Quadro demonstrativo do Pessoal Indígena por sexo
Quadro demonstrativo de atividades educativas
Sexo
Núcleos indígenas Homens Mulheres Total
Colônia Sagrado Coração 105 106 211
Colônia Immaculada 64 59 123
Colônia São José 49 42 91
Escola Agrícola S. Antônio (Coxipó da
Ponte) 15 - 15
Lyceu de Cuiabá 3 - 3
Total 236 207 443
Artes e Ofícios
Seção masculina
Colônia
Sagrado
Coração
Immaculada Conceição São José Coxipó Cuiabá Total
Carpinteiros 4 2 3 - - 9
Ferreiros 2 1 - - - 3
Pedreiros 4 2 3 - - 9
Curtidores 3 - 1 - - 4
Oleiros 8 6 7 - - 21
Agricultores * * *20
15 - 15
Vaqueiros 6 2 4 - - 12
Tropeiros 6 - 3 - - 9
20
Consta no relatório de 1912 que, além dos 15 jovens de etnia bororo matriculados no curso teórico-prático da Escola Agrícola do Coxipó da Ponte, todos os índios das
colônias, exceto as meninas, exercitam-se, de acordo com o horário conveniente, em vários e apropriados serviços de lavoura. Outra informação é que o arado de disco
reversível foi instalado na colônia “Immaculada”, que é a mais distante da capital, em comemoração à visita do Inspetor Agrícola Federal (MATO GROSSO, 1913, p. 16).
41
Fazedores de açúcar e rapadura 6 2 2 - - 10
Total 39 15 23 15 * 92
Seção feminina S. Coração Immaculada Conceição S. José Total
Tecedeiras 12 6 5 23
Costureiras 18 15 11 44
Fazedoras de farinha 6 6 4 16
Saboeiras 2 2 2 6
Lavadeiras 10 4 3 17
Cozinheiras 2 2 2 6
Total 50 35 27 112
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
42
No quadro 1, observamos a divisão de atividades educativas que eram
denominadas “Artes e Ofícios”. Essas atividades eram diferentes para homens e
mulheres. As mulheres aprendiam atividades relacionadas ao cuidado com o ambiente
doméstico, tais como as atividades de tecedeiras, costureiras, fazedoras de farinha,
saboeiras, lavadeiras e cozinheiras. Os homens aprendiam atividades que exigiam
esforço braçal, tais como os serviços de carpinteiros, ferreiros, pedreiros, curtidores,
oleiros, agricultores, vaqueiros, tropeiros e fazedores de açúcar e rapadura. A nosso ver,
essas foram as primeiras atividades educativas promovidas pelas Irmãs Salesianas na
região mato-grossense que mais tarde as levariam a avançar para Porto Velho e voltar
sua atenção para a educação das moças rondonienses.
Conforme apresentado no quadro 1, 236 totaliza a quantidade de homens e 207
corresponde ao número de mulheres, somadas as cinco missões: missão da Colônia
Sagrado Coração, Immaculada Conceição, São José, Escola Agrícola S. Antonio
(Coxipó da Ponte) e Lyceu de Cuiabá. Quando observamos a quantidade de homens e
de mulheres distribuídos e distribuídas nas variadas atividades de Artes e Ofícios,
percebemos que os números não batem perfeitamente com os correspondentes da
quantidade de pessoas das cinco colônias. A demonstração da quantidade de homens
das cinco colônias corresponde a 236, entretanto, a distribuição nas atividades
correspondeu apenas a 92, ou seja, o relatório não apresentou registro dos afazeres dos
outros 144 homens que não estão sendo representados no quadro. Podemos supor que
esses homens não frequentavam as atividades promovidas pelos salesianos.
Percebemos que o quadro 1 também apresentou outros dados, dos quais
destacamos: a atividade de oleiros totaliza o maior número de homens trabalhando; a
colônia que mais apresenta a quantidade de homens em atividade é a colônia
Immaculada Conceição, a atividade que continha maior número de mulheres
correspondia à atividade de costureira e a colônia com maior número de mulheres em
atividade era a Sagrado Coração; e a quantidade de mulheres que somam 207, porém,
apenas 112 exerciam alguma atividade, nesse caso, o relatório não apresentou o que as
outras 95 mulheres faziam ou onde estavam.
Podemos relacionar a diferença das atividades destinadas para os homens e as
destinadas para as mulheres. Conforme observado, o ensinamento no estilo europeu
também correspondeu a segregar as atividades relacionadas para ambos os sexos. Perrot
(2007) tratou desse tema e, segundo a autora, “o trabalho doméstico é fundamental na
vida das sociedades, ao proporcionar seu funcionamento e reprodução, e na vida das
43
mulheres” (PERROT, 2007, p. 114). Compartilhamos o pensamento de Perrot (2007)
quando notamos que as atividades exercidas pelas mulheres eram, em sua maioria,
voltadas para o âmbito doméstico. Diferentemente do homem, o caráter doméstico
marcou o trabalho feminino, “a mulher é sempre uma dona-de-casa” (PERROT, 2007,
p. 114).
Azzi (1999) relatou que a vida das Irmãs de Maria Auxiliadora foi vista como
uma vantagem para os missionários salesianos, pois o apoio e a dedicação delas
poupariam contatos inconvenientes e ofícios para os quais eles seriam pouco aptos. Isto
é, elas tomariam conta “das mulheres e das crianças, para ensinar-lhes os elementos da
religião e das letras, os princípios rudimentares do asseio, da higiene, dos trabalhos
próprios de seu sexo, e de tudo o que se refere à vida de família” (AZZI, 1999, p. 235).
No relatório de 1912, as autoridades que visitaram as colônias também se
referiram à contribuição que as Irmãs Salesianas deram ao ajudar os missionários
sacerdotes de Dom Bosco.
Neste sentido, fazem também jus aos mais calorosos encômios as
Irmãs Missionárias, Filhas de Maria Auxiliadora, sob cuja direção
materna e carinhosa, as índias vão-se exercitando em vários trabalhos
domésticos apropriados ao seu sexo (MATO GROSSO, 1913, p. 7).
Percebemos que, para os colonizadores religiosos, a educação dos povos
indígenas deveria pautar-se no ponto de vista do colonizador, o qual visava “civilizar”
esses povos, negligenciando os ensinamentos e aprendizados da própria cultura
autóctone, que eram transmitidos por gerações e fazem parte da história e cultura desses
povos. Entendemos que o intuito dos colonizadores religiosos era o de propagar a fé
católica e converter os nativos à fé cristã, estendendo esses ensinamentos aos saberes
básicos de letramento, estabelecendo atividades distribuídas de acordo com o sexo.
Notamos que as missões religiosas objetivavam educar esses povos por meio da
catequese: afirmavam as diferenças existentes entre as duas realidades, a etnocêntrica e
a dos nativos, objetivando combater um “atraso” por parte dos povos indígenas
acreditando que a maneira como civilizavam, com doutrinamento cristão católico, era
um ato piedoso e necessário e que, consequentemente, resultava na submissão e controle
do indígena pelo europeu.
Com as expedições em Mato Grosso logrando sucesso, a atenção dos
salesianos voltou-se para as dioceses do Amazonas.
44
A ação salesiana na Amazônia remonta à criação pela Santa Sé da
Prefeitura Apostólica do Rio Negro, em 1910, confiada à
Congregação Salesiana em 1914, mas o início efetivo se deu com a
fixação da comunidade salesiana e do prefeito apostólico em São
Gabriel da Cachoeira em 1916, precedida de uma visita de
reconhecimento em 1915 (COSTA, 2009, p. 7).
Para as missionárias salesianas, o objetivo de suas atividades era,
principalmente, educar a juventude carente e abandonada dos centros urbanos. Todavia,
parece-nos que a atividade missionária salesiana visava ainda mais à disseminação dos
valores da cultura europeia cristã entre os povos indígenas e a população dos estados
das regiões Centro-Oeste e Norte brasileiras. Havia interesses da Igreja em disseminar a
religião e, assim, controlar os povos indígenas e “civilizar” a população sob os dogmas
de suas crenças.
Essa ideia de civilizar ficou clara a partir do relatório da Missão Salesiana de
1912 (MATO GROSSO, 1913), quando constatamos a satisfação de inspetores e
autoridades locais quando visitavam as colônias e relatavam como estavam organizadas,
com a divisão de tarefas por sexo, um povo “pacificado”, “civilizado”, “controlado”.
Com essa intenção, a Missão Salesiana estendeu-se até o estado do Amazonas,
e contou com a fundação de quatro comunidades missionárias na Prelazia do Rio
Negro21
.
Desse modo, as Filhas de Maria Auxiliadora consolidaram sua presença no
Brasil no período que correspondeu aos anos de 1917 a 1942. Elas atuavam na
educação, na área hospitalar e assistencial e embarcavam nas missões salesianas
buscando novas localidades para semear os princípios morais e religiosos salesianos
para a população (PENTEADO, 1996).
As irmãs mantiveram o caráter de “irmãs de caridade” e começaram a firmar-se
no setor educacional, consolidando a imagem das escolas salesianas de Dom Bosco e
destacando-se como religiosas educadoras (AZZI, 2002, p. 14).
O pensamento da hierarquia eclesiástica da época envolvia dois pontos:
primeiro, a necessidade de maior presença na sociedade brasileira como maneira de
marcar de forma ostensiva a presença da Igreja na política, com vistas a incutir na
sociedade um respeito aos valores tradicionais do catolicismo. Um segundo ponto era
21
As comunidades missionárias fundadas na Prelazia do Rio Negro, no Amazonas, foram as de São
Gabriel das Cachoeiras, Taracuá, Jaureté e Barcelos. (AZZI, 2002, p. 341)
45
visto pelos salesianos como necessário à maior aproximação e colaboração entre Igreja
e Estado (AZZI, 2008).
Dessa maneira, as Irmãs Salesianas chegaram ao Amazonas, em 1923, nas
missões de São Gabriel da Cachoeira e Taracuá. No ano de 1925 foi criada a Prelazia de
Porto Velho22
, entretanto, as atividades das irmãs nos âmbitos hospitalar e educacional
só tiveram início em 1930.
Por esses caminhos, podemos estabelecer uma relação entre Estado, política e
Igreja, o qual nos leva a compreender que, na época, nascia uma sociedade brasileira
destinada à expansão do ensino. De acordo com Aranha (1996, p. 163), as propostas
educacionais apresentavam a necessidade de uma escola pública, leiga, gratuita e
obrigatória. Nos primeiros anos do Brasil República, “a Igreja Católica reagia de forma
negativa às novidades positivistas atribuídas ao governo republicano, que na
Constituição estabelecera a separação da Igreja e do Estado e a laicização do ensino nos
estabelecimentos públicos” (ARANHA, 2006, p. 299).
1.1 O contexto sociopolítico de Porto Velho
Magalhães (2004) contribuiu com seus estudos para a nossa pesquisa, pois, ao
investigar a história de uma instituição educativa, o autor afirmou que para compormos
uma narrativa historiográfica é preciso considerar o contexto histórico e geográfico bem
como as questões de representatividade e inovação que aquela instituição representou
para a localidade.
O Brasil, no início do Século XX, passava por grandes transformações e o
interesse dos poderes governamentais voltou-se para educar e instruir a sociedade.
Buscava-se a construção de uma identidade nacional, voltada para a modernização da
sociedade e o progresso da nação.
As transformações das cidades que se verificam nas últimas décadas
dos século XIX e início do século XX – crescimento urbano,
desenvolvimento do comércio, melhoramentos como saneamento
básico, água, iluminação, transportes públicos, ferrovias,
22
A Prelazia de Porto Velho foi criada pelo Papa Pio XI com a bula Christianae Religionis, de 1 de maio
de 1925. O território da Prelazia foi desmembrado das dioceses de Manaus e São Luís de Cáceres e
correspondia à localidade desde as Três Casas acima da cidade de Borba, seguindo até Porto Velho, a
sede (AZZI, 2002, p. 341).
46
ajardinamentos, teatros, jardins públicos – são denotativas deste
desenvolvimento (SOUZA, 1998, p. 91).
Para contextualizar o surgimento e implantação da ENRA pelas FMA na região
porto-velhense, julgamos necessário apresentar o cenário no qual Porto Velho estava
inserida. Para isso, voltamos ao final do Século XIX e início do Século XX: momento
em que se iniciam os planos para a construção de uma ferrovia que facilitasse a
circulação de mercadorias, já que o trecho encachoeirado do Rio Madeira dificultava a
comercialização de produtos via fluvial.
Nos anos de 1877 a 1920, de acordo com Walfredo Tadeu (2010), a
vulgarização do uso da borracha nas indústrias de bicicletas e vestuários fez com que a
atenção se voltasse para a região Amazônica, tornando-a prioritária para o capital
estrangeiro que desejava ampliar a produção do látex nos seringais nativos da região.
Muitas províncias optaram por escoar sua produção tantos pelos rios da Amazônia
Brasileira, como também, para os demais países e continentes fronteiriços ao Oceano
Atlântico. Buscando viabilizar o transporte de mercadorias, durante os anos de 1872 a
1882, houve tentativas23
de elaboração de um projeto para a construção de uma ferrovia
que ligasse as regiões de Santo Antônio e Guajará-Mirim.
Nos anos de 1920, a população brasileira era de 30.635.605 habitantes, dentre
os quais 24,45% tinham grau de instrução sabendo ler e escrever, logo, os outros
75,55% da população brasileira era analfabeta, segundo dados do Instituto Nacional de
Estatística de 1936 (RIO DE JANEIRO, 1936, p. 43). Na região Norte, com as
Unidades Políticas do Amazonas, Pará e Território do Acre, o índice de alfabetizados
era de 28,61%, já o de analfabetos era de 71,38% da população (RIO DE JANEIRO,
1936, p. 53). Portanto, constatamos que a maior parte da população brasileira e da
nortista não sabiam ler e escrever.
23
Os generais bolivianos Juan Palácios e Quentin Quevedo contrataram o Coronel norte-americano
George Earl Church que, em 1871, criou a Madeira Mamoré & Mamoré Railway Company, com
empréstimo inicial na Bolsa de Londres de 1 milhão de libras esterlinas. Church contratou a construtora
inglesa Public Works que mandou para Santo Antônio engenheiros para preparar laudos iniciais sobre a
obra. Em 1872, a Public Works chegou a Santo Antônio e percebeu que a região era inóspita, e após
várias mortes por doenças tropicais e outras enfermidades, a construtora abandonou a obra. Em 1873,
Church contratou nova construtora, Dorsay & Caldwell, que abandonou a empreitada. Em 1875, Church
contratou a Red e Brothers Company, que desistiu ao saber dos anteriores boatos sobre as tentativas de
construção e abandonou a obra antes da assinatura de contrato. Outra tentativa deu-se em 1877, quando
Church contratou a construtora P&T Collins, que iniciou os trabalhos em 1878, mas após acidente no
percurso da primeira locomotiva na Amazônia e a disposição às doenças, ataques de povos indígenas e
insalubridade, também abandonou a construção (TADEU, 2010, pp. 90-91).
47
As tentativas de construção de uma ferrovia tiveram insucesso devido aos
males que assolavam a região. Dada como uma região em condição inóspita, as
empreiteiras viram a proposta da construção de uma ferrovia como algo lucrativo. Os
construtores sofriam inúmeras enfermidades como malária, sarampo, tuberculose entre
outras; recebiam baixos salários; havia escassez de mão de obra e sofriam ataques de
povos indígenas que resistiam e lutavam por suas terras, o que levou a região a ser
considerada “um verdadeiro inferno verde, afugentando os primeiros trabalhadores que
chegaram ao lugar” (TADEU, 2010, pp. 98-99).
Passado os anos, um conflito armado colocou brasileiros e bolivianos uns
contra os outros, disputando a região do Acre devido à exploração da borracha. O
conflito surgiu, pois, a área era considerada território da Bolívia, contudo, ocupada por
migrantes brasileiros (FAUSTO, 1995, p. 248). De acordo com o autor, a solução
resultou em um acordo conhecido como Tratado de Petrópolis (1903), pelo qual a
Bolívia reconheceu a soberania brasileira no Acre e, como indenização, recebeu em
troca 2,5 milhões de libras esterlinas.
Em 1903, o Tratado de Petrópolis24
trouxe para o Brasil a obrigatoriedade de
construir uma ferrovia que ultrapassasse o trecho compreendido entre os rios Madeira e
Mamoré até a cidade de Guajará-Mirim. Todavia, a efetivação da obra férrea Madeira
Mamoré25
deu-se apenas em 1907, quando o empresário norte-americano Percival
Farqhuar conseguiu os direitos da construção e criou a Madeira-Mamoré Railway
Company. Essa empresa somou esforços juntamente com a empreitera May, Jeckill &
Randolph e realizaram estudos preliminares na obra, concluindo que seria inviável
instalar o ponto inicial em Santo Antônio.
Assim, orientaram a modificação do ponto inicial para sete quilômetros abaixo
da 1ª cachoeira do Rio Madeira, resultando no redescobrimento26
da região até então
conhecida como “Porto Velho dos Vapores” (GOMES, 2004, p. 57).
24
Tratado que determinou a renúncia da Bolívia ao Acre em troca de uma indenização de dois milhões de
libras esterlinas e concessões territoriais no estado do Mato Grosso; o trecho Delta do Rio Madeira,
formado pelos rios Beni e Mamoré, retomou ao território boliviano; foi celebrada a paz entre os dois
países e permitida a extraterritorialidade de passageiros e cargas no trecho ferroviário (TADEU, 2010, p.
97). 25
As referências utilizadas nesta pesquisa apresentam o nome Madeira Mamoré grafado de duas formas
distintas: com ou sem hífen. Dessa forma, o critério determinante para apresentação de uma ou de outra
forma dependeu do registro que consta nas referências. 26
“Porto Velho dos Vapores” era vista como uma localidade acessível, situada em terras pertencentes ao
estado do Amazonas, durante a Guerra do Paraguai (1864-1970). O exército brasileiro instalou
acampamento nessa região para fornecer lenha aos vapores que trafegavam o Rio Madeira. Seu
abandono deu-se devido à falta de interesse por parte do governo brasileiro em continuar mandando
48
De acordo com Júlio César de Carvalho (2009), May, Jekill & Randolph
instalou-se na cidade de Porto Velho em 1908 estruturando um canteiro de obras para
“dar início à construção da Estrada de Ferro, construindo oficinas, serraria, galpões,
alojamentos, sede administrativa e algumas residências”. Dois anos mais tarde, Porto
Velho já contava com o número de 800 habitantes (CARVALHO, 2009, p. 39).
Figura 2: Mapa do percurso de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, 1909
Fonte: site
27.
Carvalho (2009) ressaltou ainda que, embora poucas ruas já existissem em
1910, somente quando o Superintendente Fernando Guapindaia administrou a cidade
que as primeiras ruas e os primeiros lotes urbanos foram organizados.
recursos para promover o desenvolvimento da região, e também, devido ao Mato Grosso ter
reestabelecido a rota de ligação pela Bacia do Rio Prata (GOMES, 2004, p. 57). 27
Disponível em: <https://efmm100anos.wordpress.com/2011/12/27/mapa-da-efmm-novembro-de-
1909/>. Acesso em: 13 de dezembro de 2016.
49
O comércio que se desenvolvia ao longo das Avenidas Sete de
Setembro, Rua Natanael de Albuquerque – antiga Rua da Palha –
Barão do Rio Branco, Genrique Dias e Travessa Floriano Peixoto,
tinha um acabamento melhor nas fachadas, eram de alvenaria e alguns
proprietários moravam no próprio comércio. A ocupação da cidade vai
acontecendo com a criação da primeira praça – Praça Amazonas, atual
Jonathan Pedrosa, com arruamento do primeiro bairro criado, em
1917, chamado de Favella, e depois, com o prolongamento da Rua
Prudente de Moraes e a construção da ponte sobre o Igarapá Favella,
surge o Mocambo. (CARVALHO, 2009, p. 40).
A construção da Ferrovia foi finalizada em 1912, mas até os anos de 1914 a
região de Porto Velho sofreu negligência por parte dos governantes, atendendo apenas
ao escoamento da produção boliviana e vivendo um momento de letargia econômico-
administrativa (TADEU, 2010).
Porto Velho ficou dividida em duas partes: antes da avenida divisória (na
planta da figura abaixo, localizada acima da Avenida Matto Grosso), atualmente
denominada “Presidente Dutra” onde se encontravam os ex-trabalhadores da Ferrovia e
seringalistas imigrantes e, após a Avenida Farqhuar (na planta da figura abaixo,
denominada Boulevard Farqhuar), os engenheiros e algumas autoridades da região,
permanecendo assim até hoje.
50
Figura 3: Planta da cidade de Porto Velho, 1912
Fonte: Acervo do Palácio da Memória Rondoniense
28. Porto Velho/RO.
28
Encontramos esse mapa no acervo do Palácio da Memória Rondoniense, entretanto, o mapa também pode ser visto no livro de Carvalho (2009), arquiteto historiador que
publicou um livro sobre construções históricas de Porto Velho.
51
Conforme podemos observar, a planta da cidade de Porto Velho apresentada na
figura 3 mostrou-nos onde o comércio, ruas e avenidas estavam localizados: todos
próximos à Estrada de Ferro Madeira Mamoré, construída às margens do Rio Madeira.
Carvalho (2009) destacou que o desenvolvimento da cidade de Porto Velho se deu em
torno de um rio e após a construção de uma ferrovia, o que, de acordo com o autor, era
comum acontecer em um mundo entusiasmado com e pela Revolução Industrial.
Uma cidade nasce em determinado local por diversas razões: às
margens de um curso d’água, de um rio, por uma questão de
sobrevivência ou para o uso do curso d’água como via de locomoção;
em um ponto geográfico, para defesa de uma região, para convívio e
troca; ao longo de uma estrada ou de uma ferrovia, mas sempre por
uma razão predeterminada. [...] Com a Revolução Industrial e com o
domínio da tecnologia de construção de estradas de ferro pelos
Ingleses e Norte-Americanos, inúmeras cidades foram criadas ao
longo das ferrovias – inclusive em outros países – a partir de um
posto, entreposto ou vila. Nessa época, as locomotivas eram movidas
a vapor e necessitavam de um espaço curto para se reabastecerem de
água e lenha, o que levou ao surgimento de vilas e entrepostos. Porto
Velho é uma cidade que nasceu em consequência da Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré – nasceu como ponto inicial da ferrovia
(CARVALHO, 2009, p. 33).
A Lei nº 757, de 2 de outubro de 1914, no Artigo 1º, instituiu o município de
Porto Velho, à margem direita do Rio Madeira.
Art. 1º - Fica criado o município de Porto Velho, com sede na
povoação de mesmo nome, à margem direita do Rio Madeira tendo os
limites estabelecidos pelo Decreto nº 1.063 de 17 de março do
corrente ano para aquele Termo Judiciário (AMAZONAS, 1914, p. 1).
Essa mesma Lei instituiu que o governo poderia aproveitar as obras de
saneamento realizadas pela companhia Madeira Mamoré Railway Company e adquirir
as terras necessárias para a fundação do município.
Art. 2º - O Poder Executivo fica autorizado a entrar em acordo com o
Governo Federal, a Madeira Mamoré Railway Company e os
proprietários de terras para a fundação imediata da povoação,
aproveitando na medida do possível, as obras do saneamento feitas ali
por aquela companhia, e abrir créditos necessários à execução da
presente lei (AMAZONAS, 1914, p. 1).
52
Nesse período, a Congregação Salesiana já havia se instalado nas regiões
Sudeste, Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte do país. As duas primeiras décadas
corresponderam às realizações de missões29
salesianas em colônias indígenas de povos
da etnia Bororo em mato grosso, conforme mencionado anteriormente. Muito embora a
Congregação já houvesse estabelecido inspetorias e instituições educacionais em outras
regiões do país, as Irmãs iniciariam suas atividades em Porto Velho apenas 16 anos
mais tarde.
Figura 4: Mapa dos estados do Amazonas, Acre, Mato Grosso e Pará, 1915
Fonte: IBGE.
Utilizamo-nos do mapa da figura 4 para ilustrar a forma como o Brasil estava
configurado no início do Século XX. Conforme a figura nos apresenta, notamos que o
país ainda não havia constituído o estado de Roraima, Amapá, Rondônia e Mato Grosso
do Sul, além também, de contar com a localização do município de Porto Velho como
unidade do Amazonas, que em 1913 foi reconhecido como uma vila próspera do estado
do Amazonas. Em 1914, tornou-se município e apenas em 1919 foi elevado à categoria
de cidade, com a Lei nº 1.011 de 7 de julho de 1919. Uma publicação do Dr. José
29
Os anos de 1912, 1915, 1917 e 1919 dataram a realização de relatórios da Missão Salesiana feitos pelo
Pe. Antonio Malan, prelado, bispo e superior da referida missão. Descobrimos durante a pesquisa e ida
ao Arquivo Público de Cuiabá que também houve relatório em 1914, entretanto, esse relatório não se
encontrava na instituição.
53
Firmino da Paz, deputado estadual do Piauí e político em Porto Velho (ALTO
MADEIRA, 1917, p. 2) relatou o comércio existente na localidade:
Comercialmente, Porto Velho não pode deixar de ser uma vila de
grande movimento e muito futuro, porquanto é o ponto inicial da
navegação do Madeira e sede da Estrada de Ferro Madeira Mamoré
[...]. É, relativamente, extraordinário o comércio ali. [...]. A Madeira
Mamoré de muita vida a Porto Velho. [...] (PAZ, 1917, p. 2).
Embora Porto Velho se encontrasse em desenvolvimento e apresentando
progresso, vale ressaltar o número de indígenas que estavam sendo afastados da região.
Os constantes embates com construtoras, empreiteiras, seringalistas e seringueiros, a
disputa pelo espaço ocupado, foram justificativas usadas pelos povos não índios para a
eliminação de nações indígenas que ali habitavam. Segundo Gomes (2007, p. 47), o
espírito de aventura dos exploradores da imensidão verde do Guaporé “caracterizava a
conquista do daquele espaço geográfico e da mentalidade dominante do colonizador”,
mentalidade concentrada em explorar o potencial existente visando apenas ao súbito
lucro, desvalorizando e desconsiderando qualquer compromisso de integração com a
região e com os povos indígenas.
Gradativamente, no Primeiro Ciclo da Borracha Porto Velho foi sendo habitada
por seringueiros e por trabalhadores para a construção da Estrada de Ferro Madeira
Mamoré. A mão de obra utilizada na construção da Ferrovia foi contratada tanto no
Brasil como no exterior.
A questão de atração da mão de obra foi resolvida pelo aliciamento de
trabalhadores nas colônias inglesas da América Central, que já
possuíam experiência na construção de ferrovias e o Canal do
Panamá. [...] Esses trabalhadores chegaram de diversas colônias
centro-americanas, com destaque para Barbados, Trinidad, Jamaica,
Santa Lúcia, Martinica, São Vicente, Guianas, Granada e outras ilhas
Antilhanas e de modo geral são chamados de “Barbadianos30
”, que
apresentaram 60% da mão de obra no empreendimento (TADEU,
2010, p. 99).
30
Vindos das áreas de colonização inglesa, Barbados, o nome “Barbadianos” foi dado aos trabalhadores
negros vindos do Caribe no início do Século XX para trabalhar na construção de ferrovias (como por
exemplo, a Ferrovia Madeira Mamoré) ou nas selvas. Alguns se voltaram para a abertura de pequenos
comércios (TADEU, 2010).
54
Com o final da Primeira Grande Guerra (1918) e o enfraquecimento da
produção de borracha em seu primeiro ciclo (1920), Porto Velho voltou ao estado de
letargia31
econômico-administrativa.
Nos estudos de Gomes (2007, p. 48) encontramos algumas informações sobre a
implantação de escolas no Vale do Guaporé, região em que se encontrava Porto Velho.
Em 1913 foi criada, pelo Dr. Joaquim Augusto Tanajura, a primeira escola pública
municipal, na localidade de Santo Antônio do Alto Madeira, pertencente, na época, ao
Mato Grosso; a segunda escola foi a Escola Mista Municipal, em 1915, criada pelo
primeiro prefeito de Porto Velho, Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense. De
acordo com o autor,
Tanto no período da exploração e produção de ouro e de especiarias
vegetais (as drogas do sertão), como no período intensivo de produção
da borracha, a partir de 1850, e até mesmo quando o seringal perdeu o
sentido de aventura pela conquista da terra, dando lugar à ocupação
populacional, não havia qualquer preocupação com a oferta de
educação formal (GOMES, 2007, p. 47).
Dessa maneira, ao estabelecermos um diálogo entre a história de Porto Velho e
o ensino estabelecido pelas FMA, percebemos que as iniciativas direcionadas à
educação, em Porto Velho, estiveram durante muito tempo associadas à disposição de
religiosos, conforme afirma Gomes (2007), “quando padres, em suas missões,
ensinavam a escrita, a leitura e a matemática aos índios, elementos facilitadores do
ensinamento do catecismo” (GOMES, 2007, p. 47).
Ao aportarem em Porto Velho, as FMA dedicaram-se às atividades no Hospital
São José e, mais tarde, ampliaram sua atuação para a área da educação com a criação da
escola pesquisada. Porto Velho enfrentava as transformações que resultaram do
primeiro Ciclo da Borracha e da primeira Grande Guerra enquanto, no contexto
nacional, o país caracterizava-se com a entrada na modernidade.
Fátima Maria Leitão Araújo (2006) descreveu que até os anos de 1920 o país
buscava superar o sentimento de inferioridade em relação aos países mais desenvolvidos
e, após a proclamação da República, buscou instituir um plano político-institucional e
nacional de educação que aspirava despertar na sociedade um forte sentimento de
nacionalidade.
31
Devido à produção da borracha encontrar-se em declínio na Amazônia e aos prejuízos financeiros que a
Railway Company obteve (TADEU, 2010, p. 105).
55
Entre os anos 1920 e 1930, os pressupostos da Escola Nova começaram a
chamar a atenção da burguesia brasileira. O conjunto das principais características do
escolanovismo: uma educação integral, moral, física e intelectual, ativa, prática, com
obrigatoriedade dos trabalhos manuais, do exercício de autonomia, da vida no campo,
do internato, da coeducação e ensino individualizado parecia atender aos interesses
burgueses (ARANHA, 2006, p. 247).
Desse modo, ponderamos que a orientação de ensino e o pragmatismo para o
qual a educação se voltava possibilitaram a criação e a expansão da instituição das
Filhas de Maria Auxiliadora na cidade de Porto Velho. Parece-nos que a presença das
Irmãs Salesianas na cidade porto-velhense significou um reforço da identidade
nacionalista no local, pois ao mesmo tempo em que buscavam a expansão dos
princípios religiosos cristãos que professavam também suscitavam no âmbito político o
ideário redentor e regenerador que a educação religiosa se encarregava.
Embora a planta da figura 5, apresentada a seguir, tenha sido feita para mostrar
a rede de canalização de acordo com o contrato firmado com a Superintendência
Municipal, buscamos retratar a disposição das ruas e avenidas na cidade de Porto Velho
e o lote onde foi construída a escola das Irmãs Salesianas.
A planta da cidade de Porto Velho (figura 5) configura a disposição de ruas e
avenidas no ano de 1925 e, para representar a ENRA, desenhamos um capelo, local
onde até os dias de hoje a escola das FMA se encontra, entretanto, as ruas onde a escola
se localiza tiveram seus nomes alterados com o decorrer do tempo.
56
Figura 5: Planta de Porto Velho em 1925
Fonte: Acervo do Palácio da Memória Rondoniense
32. Porto Velho/RO.
32
Encontramos esse mapa no acervo do Palácio da Memória Rondoniense, mas o mapa também pode ser visto no livro de Carvalho (2009), arquiteto historiador que publicou
um livro sobre construções históricas de Porto Velho.
57
Os primeiros anos da década de 1940, no período conhecido como o Segundo
Ciclo da Borracha, ocorreu a assinatura do Tratado de Washington. A Amazônia havia
se tornado um reservatório natural de borracha para a produção da quantidade
necessária para atender às demandas norte-americanas. Todavia, não havia
trabalhadores suficientes para a produção em massa. O Tratado de Washington
determinou que o governo norte-americano investisse no financiamento do crescimento
da produção de borracha amazônica, em contrapartida, o governo brasileiro deveria
enviar um número significativo de trabalhadores para os seringais (TADEU, 2010, p.
116).
No discurso do Presidente Getúlio Vargas, proferido em 9 de outubro de 1940,
o presidente referiu-se às riquezas da Amazônia e às necessidades de povoamento da
região:
Até agora, o clima caluniado impediu que de outras regiões com
excesso demográfico viessem os contingentes humanos de que carece
a Amazônia. Vulgarizou-se a noção, hoje, desautorizada, de que as
terras equatoriais são impróprias à civilização. Os fatos e as
conquistas da técnica provam o contrário e mostram, com o nosso
próprio exemplo, como é possível, às margens do grande rio,
implantar uma civilização única e peculiar, rica de elementos vitais e
apta a crescer e prosperar. [...] A coragem empreendedora e a
resistência do homem brasileiro já se revelaram, admiravelmente, nas
“entradas e bandeiras do ouro negro e da castanha”, que consumiram
tantas vidas preciosas. Com elementos de tamanha valia, não mais
perdidos na floresta, mas concentrados metodicamente localizados,
será possível, por certo, retomar a cruzada desbravadora e vencer,
pouco a pouco, o grande inimigo do progresso amazonense, que é o
espaço imenso e despovoado. É tempo de cuidarmos, com sentido
permanente, do povoamento amazônico. Nos aspectos atuais, o seu
quadro ainda é o da dispersão (VARGAS, 1940, pp. 77-78).
Vargas (1940, pp. 77-78) ressaltou, nesse mesmo discurso, que era preciso
cuidar permanentemente do povoamento amazônico, pois naquele momento, o
povoamento vivia uma dispersão: os nordestinos embrenhavam-se pela floresta, abrindo
trilhas e talhando a seringueira silvestre para deslocar-se segundo as exigências da
própria atividade nômade. Isto é, o nomadismo prevalecia e era natural à margem dos
rios, com a atividade da população limitando-se à caça, à pesca e à lavoura de vazante,
para consumo doméstico. Getúlio Vargas, nesse mesmo ano, visitaria aquela região. A
visita foi noticiada pelo jornal Alto Madeira.
58
[...] A cidade de Porto Velho, que se orgulha de também ter sido
agraciada com a visita do Supremo dirigente do País, que de visu bem
ajuizará do seu progresso, atestado eloquente do esforço dinâmico e
eficiente do grande bandeirante Major ALUIZIO FERREIRA, e dos
olhares atentos e benéficos do Chefe da Nação [...]. Bendita seja a
visita presidencial à Amazônia (ALTO MADEIRA, 1940, p.1, grifo
nosso33
).
Sopesamos que Porto Velho era uma cidade em desenvolvimento. A maioria da
população encontrava-se nos trabalhos da Ferrovia Madeira Mamoré e em pequenos
comércios pelo centro da cidade. As FMA constataram que as moças, em sua maioria,
não eram instruídas. Iniciar atividades com foco para o público feminino poderia atrair o
olhar da sociedade para as iniciativas cristãs e aumentar o prestígio da instituição
salesiana no local. Essa preparação das moças voltava-se à “formação na prática das
virtudes, enobrecimento do espírito com o saber humano, educação pela doutrina
católica e ornamental cultural”, diretamente ligado ao lugar social que ocupava ou iriam
ocupar as alunas (ORTIZ, 2014, p. 61). Nesse contexto, a autora referiu-se ao momento
de transição para ingressar na vida urbana, burguesa e letrada e que, portanto, era
repleta de limites e regras.
Em 13 de setembro de 1943, com o Decreto-Lei nº 5.812, foi criado o
Território Federal do Guaporé, formado por terras desmembradas dos estados do
Amazonas (14%) e Mato Grosso (86%), composto por quatro municípios: Porto Velho
– a capital, Santo Antônio, Lábrea e Guajará-Mirim; e nomeação de governador e
Secretário-Geral34
(TADEU, 2010, p. 123).
Destacamos os artigos35
considerados relevantes para a compreensão da
criação do Território Federal do Guaporé.
Art. 1º São criados, com partes desmembradas dos Estados do Pará,
do Amazonas e de Mato Grosso, do Paraná e de Santa Catarina, os
Territórios Federais do Amapá, do Rio Branco, do Guaporé, de Ponta
Porã e do Iguassú. [...] § 3º O Território, do Guaporé terá os seguintes
limites: - a Noroeste, pelo rio Ituxí até à sua foz no rio Purús e por este
descendo até à foz do rio Mucuim; - a Nordeste, Leste e Sueste, o rio
Curuim da sua foz no rio Purús até o paralelo que passa pela nascente
do Igarapé Cuniã, descendo por este até sua confluência com o Rio
33
“De visu bem” foi uma expressão encontrada no excerto extraído do jornal Alto Madeira a qual não
encontramos definição. 34
O primeiro governador do Território foi o Major Aluizio Pinheiro, nomeado pelo presidente Getúlio
Vargas. O cargo de governador estava ligado diretamente à presidência da República, articulando as
orientações do Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores. Em alguns casos, o Secretário-Geral
podia substituir o governador do Território (TADEU, 2010, p. 123). 35
Transcrito conforme original.
59
Madeira, e por este abaixo até à foz do rio Gi-Paranã (ou Machado)
subindo até à foz do rio Comemoração ou Floriano prossegue por este
até à sua nascente, daí segue pelo divisor de águas do planalto de
Vilhena, contornando-o até À nascente do rio Cabixí e descendo pelo
mesmo até à foz no rio Guaporé; - ao Sul, Sudoeste e Oeste pelos
limites com a República da Bolívia, desde a confluência do rio Cabixí
no rio Guaporé, até o limite entre o Território do Acre e o Estado do
Amazonas, por cuja linha limítrofe continua até encontrar a margem
direita do rio Ituxí, ou Iquirí; [...] (BRASIL, 1943, p. 1).
A partir da segunda década do Século XX, a região começou a vivenciar um
período de crise econômica com o fim da exportação da borracha e o abandono da
Ferrovia por parte da Madeira Mamoré Railway Company do tráfego entre Porto Velho
e Guajará-Mirim. Getúlio Vargas decidiu, então, transformar o Vale do Guaporé em um
território único. Com o Decreto-Lei nº 5.812 de 13 de setembro de 1943, a configuração
do Brasil sofreu transformações, como podemos observar a mudança no mapa da figura
6. Para Getúlio Vargas, presidente do país no período, era necessário “integrar a região
ao cenário econômico do país” (TADEU, 2010, p. 122).
Figura 6: Mapa do Brasil em 1943
Fonte: IBGE.
60
O novo território consolidou-se após a visita do Presidente Getúlio Vargas a
Porto Velho em outubro de 1940. Em 1930, a cidade de Porto Velho ainda estava
sediada no estado do Amazonas e, em 1943, Vargas instituiu o Território Federal do
Guaporé, composto pelos municípios de Porto Velho, Santo Antônio, Lábrea e Guajará-
Mirim. Porto Velho, no período em estudo, de 1930 a 1946, pertencia primeiro ao
estado do Amazonas, depois ao Território Federal do Guaporé e, mais tarde, em 1956,
ao estado de Rondônia.
1.2 A Prelazia de Porto Velho
O início da trajetória das Filhas de Maria Auxiliadora em Porto Velho data do
ano de 1925, quando o Papa Pio XI criou a Prelazia de Porto Velho, a partir da Bula
Christianae Religionis36
(AZZI, 2002, p. 341). O jornal Alto Madeira registrou esse
fato.
Como já tivemos ocasião de noticiar, por Bula de 1º de maio do
corrente ano, do Santo Padre Pio XI, foi criada a Prelatura37
de Porto
Velho, com sede nesta cidade. Por informações prestadas ao nosso
diretor pelo Rvmo. Padre Dr. Raymundo Oliveira, digno Governador
do Bispado, sabemos que no dia 25 de Dezembro próximo aqui estará
o Rvmo. Padre Ghislandi, distinto sacerdote já conhecido pela nossa
população, que virá instalar a Prelatura em nome do Monsenhor Pedro
Massa, nomeado seu administrador apostólico. É um fato auspicioso
para a nossa população católica que, brevemente, irá gozar deste
grande benefício (ALTO MADEIRA, 1925, p. 1).
A citação mencionada acima faz referência à visita do Reverendíssimo Padre
Ghislandi, na época, sacerdote salesiano que veio para concluir a instalação da Prelatura
de Porto Velho, em nome do já Prelado e, agora, administrador apostólico, Monsenhor
Pedro Massa. O excerto nos leva a pensar sobre como a imprensa concebia a ida de
sacerdotes salesianos para a região porto-velhense. O editor parece entusiasmado com a
36
Não encontramos a descrição da Bula de criação da Prelazia de Porto Velho na íntegra, apenas
informações nas quais a Prelazia surgira a partir dela. Bula: s.f. 1 selo ou sinete, ger. de forma redonda,
que se prendia a um documento o u acompanhava uma carta, atestando-lhe a autenticidade 2 p.met.
decreto ou documento com tal selo ou sinete 3 ECLES escrito solene ou carta aberta provida de tal selo,
expedida em nome do papa, com ordens, concessão de enefícios etc. (HOUAISS; VILLAR, 2009, p.
336) 37
Prelatura é o mesmo que Prelazia, já explanada na Introdução.
61
presença dos religiosos na localidade e a ressalta como algo relevante e necessário para
a população. Menciona que os católicos que habitavam a vila de Porto Velho
aguardavam ansiosos o estabelecimento do pastorado para “gozarem de um grande
benefício”. Cabe aqui uma ressalva: parece-nos uma campanha estabelecida pela pelos
sacerdotes para divulgar a existência da Prelazia e uma maneira de convencimento da
população dos intuitos dos religiosos como um “benefício” para o povo.
Encontramos uma carta de aforamento38
de 1916 descrevendo a posse de um
terreno por José Maria da Costa entre os documentos fornecidos pela escola. A partir da
análise desse documento, identificamos que o terreno passou a pertencer à Prelazia, em
1934.
Figura 7: Carta de Aforamento da Intendência Municipal, 1916
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
38
Carta de Aforamento diz respeito ao documento que comprova o aforamento ou aforação. Aforar: v. 1
JUR dar ou tomar por aforamento ou enfiteuse <aforou a sede do clube> <costumam aforar terras aos
sertanejos>. 2 conceder (a alguém ou a si mesmo) certos direitos, privilégios ou honrarias. (HOUAISS;
VILLAR, 2009, p. 63). Enfiteuse: s.f. JUR direito real em contrato perpétuo, alienável e transmissível
para os herdeiros, pelo qual o proprietário atribui a outrem o domínio útil de imóvel, contra o pagamento
de uma pensão anual certa e invariável; aforamento. (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 757)
62
Abaixo, segue a transcrição da Carta de Aforamento da figura 7:
A Intendência Municipal de Porto Velho faz saber aos que a presente
Carta de Aforamento virem, que foi aforada ao Sr. José Maria da
Costa em 16 de Maio de 1916, o lote de terras urbano nº três, de
patrimônio desta Municipalidade, situada na quadra nº XXIII, tendo
uma área de seiscentos cinqüenta e um mts. e 87 centímetros
quadrados e os seguinte limites: ao norte com o lote número dois; ao
sul com o lote número quatro; a leste com a rua Duque de Caxias; e a
oeste com a avenida Osorio, medindo dezessete e meio metros de
frente por trinta e seis e vinte e cinco centímetros. O enfiteuta, por
termo de contrato lançado a fls 117 do livro respectivo, fica obrigado
ao cumprimento das cláusulas abaixo, estabelecidas pela Lei nº 13, de
27 de Novembro de 1915, que regula as concessões de terras deste
Município: 1ª) A pagar o foro de treze mil e quarenta reis
correspondente a seiscentos cinqüenta e um mts e 87 centímetros
quadrados da área ocupada pelo lote nº três da quadra vinte e três do
patrimônio Municipal, assim como o direito dominical em laudêmio
correspondente à percentagem que estiver determinada por Lei. 2ª) A
efetuar esse pagamento na Tesouraria Municipal, dentro de cada ano
financeiro. 3ª) A não fazer venda, doação, transação, permuta, cessão,
divisão, penhor, hipoteca, constituição de servidão, doação em
pagamento, cessão enfiteuta ou qualquer outra alienação sem prévia
audiência e expresso consentimento da Intendência Municipal, como
direta Senhoria, cabendo a esta o direito de opção, sob pena de
nulidade. 4ª) A tornar útil o terreno do lote aforado, cercando-o no
prazo de seis meses, da data da concessão, edificando-o, em todo ou
em parte como for conveniente, fazendo-lhe qualquer outra sorte de
benfeitorias, de modo a torná-lo proveitoso, o prazo de um ano, bem
como ceder para servidão pública, quando for necessário, sem
estrépito judicial, sem ônus ou qualquer embaraço, a quantidade de
terreno precisa, salvo a indenização de benfeitorias úteis. 5ª) A
destocar e aplainar a parte da rua fronteira ao lote nº três e plantar as
árvores que forem determinadas pelo engenheiro da Intendência
Municipal. 6ª) A sujeitar-se às penas de comisso e devolução à
Intendência Municipal do lote de terreno nº três aforado, na falta de
pagamento do foro por dois anos consecutivos e na do cumprimento
das cláusulas acima e aqui estabelecidas, incorrendo, por cada ano que
faltar ao pagamento dentro do prazo, na multa de 10% sobre o valor
do mesmo lote de terreno. E como tenha o mesmo enfiteuta pago
todas as despesas, de conformidades com a tabela vigente, passou-se-
lhe esta Carta de Aforamento, ficando por esta forma investido de
todos os direitos e regalias sobre o domínio útil do referido lote de
terreno, por lei conferidos. Intendência Municipal de Porto Velho, em
16 de Maio de 1916 (PORTO VELHO, 1916, p. 1).
O documento destacou que a Intendência Municipal de Porto Velho, com a
Carta de Aforamento de 1916, designava ao Sr. José Maria da Costa, em 16 de maio de
1916, o lote de terras urbano número três, do patrimônio da Municipalidade, situado na
63
quadra número XXIII, com uma área de seiscentos e cinquenta e um metros e oitenta e
sete centímetros quadrados e os seguintes limites: ao norte, com o lote número dois; ao
sul com o lote número quatro; a leste com a Rua Duque de Caxias, e a oeste com a
Avenida Osório, medindo dezessete e meio metros de frente por trinta e sete e vinte e
cinco centímetros (PORTO VELHO, 1916, p. 1), assinada pelo Superintendente
Municipal Major Guapindaia e pelo Secretário João Alfredo de Mendonça.
Constituía uma área significativa e estava bem localizada no ponto mais alto da
Rua Riachuello, bem ao centro da cidade de Porto Velho. Ali seria possível a instalação
de um belo edifício com salas de aula amplas, auditório e capela para dar continuidade
às atividades religiosas como missas, comunhão, Oratório Festivo, Sacramentos entre
outros.
Figura 8: Termo de Transferência, 1934
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
64
Esse mesmo terreno foi transferido à Prelazia Apostólica de Porto Velho em
1934. Consta no termo de transferência do terreno no ano de 1934 “Transferido nesta
data para a Prelazia Apostólica de Porto Velho. Registrado fls. 69 do Livro Termos de
Transferência nº 2 – Porto Velho, 19 de maio de 1934” (PORTO VELHO, 1934, p. 1).
De acordo com o jornal Alto Madeira, além da criação da Prelazia de Porto
Velho, em 1925, também ficou determinado o seu administrador, sendo nomeado
Monsenhor Pedro Massa, “cujos serviços no Rio Negro, prestados com a maior
abnegação e devotamento, são um penhor recomendável para o sucesso da feliz
organização de que está incumbido” (ALTO MADEIRA, 1925, p. 2).
Encontravam-se sob a jurisdição da Prelazia de Porto Velho as localidades de
Guajará-Mirim, Santo Antônio e Humaitá (ALTO MADEIRA, 1925, p. 2).
Figura 9: Mapa das localidades sob jurisdição da Prelazia de Porto Velho39
39
Adaptado pela pesquisadora. localização das cidades que se encontravam sob a jurisdição da Prelazia
de Porto Velho foi observada a partir da disposição dos mapas encontrados no site do IBGE. O mapa
que a autora utilizou como parâmetro encontra-se disponível em:
<ftp://geoftp.ibge.gov.br/cartas_e_mapas/mapas_do_brasil/politico/brasil_politico5000k_2004.pdf>.
Acesso em: 28 dez. 2016.
65
Em 1931, uma notícia procedente da Prefeitura Municipal de Porto Velho
comunicou sobre o auxílio oferecido para a Prelazia de Porto Velho para que fossem
iniciados os trabalhos na cidade.
O município, a título de subvenção (!) conferiu a essa Prelazia a
importância de seis contos de réis, como auxílio à instalação dos seus
trabalhos nesta cidade. Não podendo de vez ser paga dita importância,
deliberou a Prefeitura levar a sua conta o consumo mensal de água e
luz da Prelazia na importância de 70$000, em média. O ato nº 152 de
8 de janeiro findo, de V. Exc. sobre instruções aos prefeitos
municipais, proíbe as subvenções. Tendo em consideração, porém, as
indiscutíveis utilidades dessa Prelazia, já mantendo à pobreza no
hospital, com quinze leitos bem confortáveis, médico, farmácia e
enfermarias; já cogitando de instalações de engenhos para
beneficiamento de arroz; e sobretudo pela sementeira de moral cristã,
que realiza cotidianamente na alma em formação de criancinhas, na
maioria, carentes de melhor assistência paterna: eu peço a V. Ex.
continuar a Prefeitura com o insignificante auxílio de pagar por conta
da aludida subvenção (!) o consumo de água e luz (ALTO
MADEIRA, 1931, pp. 1-2).
Percebemos ao ler esse excerto que a prefeitura se coadunava com a vinda e
instalação dos Salesianos em Porto Velho. Podemos inferir ainda que a instalação da
Prelazia se inseria em um contexto que previa uma intenção educacional sobretudo pela
“sementeira de moral cristã”. Esse período em Porto Velho ocorreu paralelamente a um
momento no qual a Igreja Católica procurava fundar uma série de colégios por todo o
país na tentativa de formar uma elite nos moldes do catolicismo que deveria reproduzir
o discurso católico nas diversas instâncias públicas influenciando a elaboração das leis,
a administração burocrática de estados e municípios, ou seja, deveria introduzir os
dogmas da Igreja Católica sobre a sociedade, utilizando-se da elite política.
Podemos ponderar que a Igreja, após o advento da República brasileira,
movimentou-se no sentido de reaproximação com as elites brasileiras, principalmente
com aqueles que iriam dirigir o país, visando garantir sua independência e ao mesmo
tempo sua influência na administração de estados e municípios. Para isso, juntou-se aos
governantes para combater as ideias que ameaçavam o Estado, como o socialismo. Em
contrapartida, exigiu a aceitação do pensamento ideológico e religioso nas instituições
66
do Estado, conforme consta na lei do ensino de 193140
que a educação religiosa deveria
ser implantada no ensino público. Municípios e estados, por sua vez, incapazes de
atender às demandas educacionais, utilizavam-se dos estabelecimentos particulares de
ensino no país, como a instituição salesiana em estudo. Dessa maneira, podemos
ponderar que o Estado, de certa forma, transferia suas responsabilidades relacionadas à
educação.
A esse respeito Ivan Aparecido Manoel (1996), relatou que a figura do Padre
de pequenas vilas e cidades no interior brasileiro muitas vezes era o único ponto de
referência cultural e a doutrinação católica representava “uma das poucas, senão a
única, ação educativa que atingia o povo”. Desse modo, o projeto educacional dos
católicos agradava ao governo, e juntos movimentaram-se no sentido de educar as
moças e foi se consolidando uma educação conservadora difundida pela Igreja, em um
contexto educacional marcado pela falta de opções, em contrapartida à politica liberal
republicana e sua proposta de uma educação leiga a cargo do Estado (MANOEL, 1996,
p. 54-55).
Na Encíclica Divini Illius Magistri41
de 1929, notamos vestígios da tentativa da
Igreja em monopolizar a educação nos seus diversos níveis, apontando, essa atitude,
como uma necessidade para a manutenção e ordenamento pacífico da sociedade:
Temos, portanto, como já notamos, no nosso citado discurso, dois
fatos de altíssima importância: “a Igreja que põe à disposição das
famílias o seu ofício de mestra e educadora, e as famílias que ocorrem
a aproveitar-se dele, e dão à Igreja, a centenas e milhares, os seus
filhos, e estes dois fatos recordam e proclamam uma grande verdade,
importantíssima na ordem social e moral. Eles dizem que a missão de
educar pertence, antes, de tudo e acima de tudo, em primeiro lugar, à
Igreja e à família, pertence-lhes por direito natural e divino, e por isso
de um modo inderrogável, inatacável, insubstituível” (ROMA, 1929,
p. 8).
A Igreja investiu na “catequese escolar42
”, principalmente por meio da
formação de professores e catequistas com intenção de alcançar a hegemonia religiosa
40
Decreto nº 19.941, de 30 de abril de 1931. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19941-30-abril-1931-518529-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 22 jul. 2016. 41
Encíclica: s.f. 1 carta circular do papa abordando algum tema da doutrina católica (HOUAISS;
VILLAR, 2009, p. 749). 42
Para compreender o significado de catequese escolar é necessário entender que catequese “é um
conceito que diz respeito à ação eclesial, que conduz tanto os indivíduos quanto as comunidades à
maturidade da fé” e catequese escolar foi uma estratégia adotada pela Igreja a fim de transformar a
catequese em disciplina escolar e assegurar uma função formativa (ORLANDO, 2013, pp. 69; 73).
67
sobre o conjunto da sociedade. Portanto, durante o período investigado, a educação
serviria para que a Igreja Católica reunisse em seu interior uma camada de intelectuais
que a ajudaram, mais tarde, a exercer uma força hegemônica junto a todas as classes,
congregando as massas da sociedade nos apostolados, pastorais e escolas sob sua tutela.
Nesse viés, notamos que, em Porto Velho, o jornal Alto Madeira também relatou a
criação da Prelazia como sendo relevante para toda a população, o que coaduna a ideia
de que os habitantes seriam “favorecidos” pelos benefícios da Igreja.
[...] o Exmo. Sr. Dr. Superintendente Municipal recebeu do ilustre Sr.
Monsenhor Pedro Massa um telegrama comunicando a criação de uma
Prelatura Apostólica nesta cidade, acontecimento de significativa
importância que não pode passar despercebido ao apreço da nossa
população católica, que o terá com muita relevância para o seus
sentimentos religiosos. [...] Na sua última viagem à Roma, Monsenhor
Pedro Massa tratou com vivo interesse desse assunto, conseguindo
como se vê, a criação de uma Prelatura para esta cidade, prestando
assim um grande serviço à região do Madeira, cujos habitantes dentro
de pouco tempo fruirão os seus benefícios. É motivo pois, de grande
contentamento para todos nós, tão auspiciosa notícia; e, ao tempo em
que transmitimos parabéns à nossa população por este notável
acontecimento, felicitamos igualmente ao Rvmo. Padre Dr. Raymundo
Oliveira, digno pároco desta freguesia e ao ilustre Monsenhor Pedro
Massa, por verem realizada ideia que tão nobremente defenderam
(ALTO MADEIRA, 1925, p. 1).
Pensamos que o investimento que religiosos e autoridades locais estavam
destinando à criação da diocese apostólica em Porto Velho foi um instrumento eficaz
para empreender um projeto de cristianização no local, o que acabou contribuindo
diretamente para a propagação da fé católica na região. Um aspecto importante que deve
ser considerado é que a imprensa, como um meio de comunicação, acabava cumprindo
um papel de apoio à vinda dos religiosos ao local e discernindo o acontecimento como
uma benfeitoria, algo grandioso e auspicioso para a população.
Azzi (2002, p. 341) relatou que “foram enviados para Porto Velho alguns
missionários em repetidas visitas apostólicas, destacando-se os padres Antônio Carlos
Peixoto e Nicoletti; estes procuraram desde logo fundar os primeiros centros de missão
em Porto Velho e Guajará-Mirim”.
Em 1930, as FMA chegaram à região de Porto Velho. A vinda das Irmãs
Salesianas foi dirigida pelos padres Antônio Carlos Peixoto e João Nicoletti,
missionários que desde cedo procuraram fundar os primeiros centros de missão
salesiana em Porto Velho e Guajará-Mirim (AZZI, 2002, p. 341).
68
Ressaltamos que na cidade de Porto Velho ainda não havia escolas religiosas, e
intuímos que, tampouco, escolas bem estruturadas ou com frequência significativa de
alunos. A região ainda era pouco habitada, encontrava-se em desenvolvimento, havendo
apenas um pequeno comércio e poucas famílias que se dedicavam a enviar seus filhos
para as escolas.
Segundo Gomes (2007), o desenvolvimento tanto do município de Porto
Velho, quanto da Empresa Madeira-Mamoré “impulsionou melhorias na educação
formal da região, requisitando escolas para os filhos dos trabalhadores” (GOMES, 2007,
p. 49). O autor ressalta ainda que o Governo Estadual investiu na educação somente
anos mais tarde, enquanto isso, as primeiras escolas que iam surgindo na região eram
instituições particulares.
Com isso, as atividades decorrentes das missões salesianas no Brasil iniciaram-
se com a educação e evangelização de povos indígenas como descrito no relatório das
missões salesianas de 1912. O trabalho das FMA, aos poucos, voltou-se também para o
atendimento às atividades de saúde e educação da população desassistida das regiões
Centro-Oeste e Norte e que se encontrava reunida em centros urbanos como o que
existia no povoado de Porto Velho, à qual cabia “vigiar por toda a educação de seus
filhos, os fiéis, em qualquer instituição, quer pública, quer particular, não só no atinente
ao ensino religioso aí ministrado, mas em qualquer outra disciplina ou disposição,
enquanto estão relacionadas com a religião e a moral”, segundo o Código de Direito
Canônico, cânon 1381 e 1832, como descrito na Encíclica Divini Illius Magistri de 1929
(ROMA, 1929, p. 5).
1.3 As Filhas de Maria Auxiliadora aportam em Porto Velho: revendo o percurso
A instituição das Filhas de Maria Auxiliadora, a partir de 1937, dedicou-se a
formar professoras normalistas rurais. Lembramos que a Escola Normal no Brasil
surgiu da necessidade que o país tinha de formar professores para ensinar no ensino
primário. Para tanto, foram necessárias algumas transformações no ideário social,
político, econômico e cultural para que se consolidasse esse tipo de instituição
educativa.
Destacamos que, desde 1920, católicos e representantes do movimento
escolanovista entraram em contradição, o que originou uma reação dos conservadores
69
que se opuseram à política de laicização da escola pública, isto é, “os pensadores
católicos preconizam a reintrodução do ensino religioso nas escolas por considerar que a
verdadeira educação apenas pode ser aquela vinculada à visão moral cristã”. Para eles,
as escolas leigas “só instruem, não educam” (ARANHA, 1996, p. 199).
A “República Educadora” foi maior proposta do Governo Federal para a
democratização do país, a qual entendia a escolarização como alavanca para o
progresso, criando para a sociedade um novo projeto de vida (LEITE, 1999, p. 27).
O governo republicano não buscou desenvolver políticas de educação
destinada às áreas rurais, de modo que, para Sérgio Celani Leite (1999), a sociedade só
vai despertar para a educação rural durante o forte período migratório interno nos anos
de 1910 a 1920, quando um grande número de população rural deixou o campo visando
às áreas onde já havia um processo de industrialização maior (LEITE, 1999, p. 28).
Iraídes Marques de Freitas Barreiro (2010) elucidou sobre esse momento de
migração campo/cidade e de que forma a educação rural passou a ser vista como
possibilidade de valorização de vida no campo com vistas a diminuir grande imigração
nas cidades encaminhando a educação rural para os pressupostos do ruralismo
pedagógico – tendência educacional que confiou aos conhecimentos do homem rural
uma maneira de fixá-lo à terra – e, em 1935, iniciaram os rumores de criação das
escolas normal rural acompanhando os objetivos do ruralismo pedagógico
(BARREIRO, 2010, pp. 28-29).
Segundo Josemir Almeida Barros (2013), a proposta de ruralismo “estava
vinculada ao repensar das ações para o meio rural”, tornando a educação um dos
principais investimentos, entretanto, isso ficou apenas no discurso das autoridades da
época (BARROS, 2013, p. 101). Além disso, esse autor destacou que a reorganização
da forma e conteúdo do novo sistema político republicano fazia parte de proposta dos
setores das elites, havendo uma inversão, pois os princípios que regulamentavam a
República eram diferentes dessa forma estruturante de sistema.
Junto ao advento da transformação resultante dos movimentos da Escola Nova
estava a participação da Igreja nesse contexto. Segundo Dóris Bittencourt Almeida
(2005), os setores da Igreja participaram ativamente nesse momento:
[...] O natural é que fosse um ensino laico, sem interferência religiosa
alguma, e a isso a Igreja se opunha, da mesma forma que também
percebia tendências socialistas pelo fato de estende o acesso à
escolarização a todos. [...] Talvez isso explique os motivos pelos quais
70
a Igreja preservou seu lugar no desenvolvimento educacional e
interferiu diretamente nas iniciativas relacionadas ao ensino rural, com
a participação direta na estruturação das primeiras Escolas Normais
Rurais, além de demonstrar constante preocupação em criar escolas
rurais comunitárias, muito antes do Estado tomar qualquer atitude.
Provavelmente, junto com o incentivo à escolarização estava também
o interesse em manter vivos e presentes os ensinamentos da Religião
Católica nos currículos escolares (ALMEIDA, 2005, p. 285).
Com um intenso movimento em favor da educação, os anos de 1930 trouxeram
consigo novo governo, novo presidente, novos instrumentos legais para o âmbito
educacional e várias reformas educacionais tiveram início em diferentes unidades da
federação. Também foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, cujo foco das
ações da pasta seria as reformas do ensino superior e secundário (RIBEIRO, 1993),
considerado por Capanema que “a fundação do Ministério da Educação e Saúde, cuja
obra, em quinze anos de progressivo desenvolvimento, representa o ponto de partida,
realmente decisivo” para o desenvolvimento da educação brasileira. (CAPANEMA,
1946, p. 1).
A educação brasileira teve maior destaque a partir da década 1930, consoante
Aranha (2006, p. 295), devido aos movimentos dos educadores e iniciativas
governamentais, com a criação do Ministério da Educação e Saúde que foi relevante
para o planejamento das reformas em âmbito nacional e para a estruturação da
universidade. Gustavo Capanema (1946) destacou que o Ministério da Educação e
Saúde, quanto ao ensino, “passou a constituir um centro nacional de estudos e pesquisas
sobre o problema da educação nos seus diferentes ramos e graus” (CAPANEMA, 1946,
p. 1).
A esfera educacional do país, em 1930, “era de uma intensa agitação de ideias
e tendências diversas” (LOURENÇO FILHO, 2002, p. 24). A criação do Ministério da
Educação e Saúde Pública permitiu que fossem planejadas as reformas em âmbito
nacional e, pela primeira vez, empreendeu-se “uma ação planejada que visava à
organização nacional, já que as reformas anteriores tinham sido estaduais” (ARANHA,
2006, p. 305). Ruy Lourenço Filho e Carlos Monarcha (2002) destacou que a criação de
um ministério especializado corporificou novas tendências a serem salientadas, visando
a uma melhor articulação das instituições de educação e cultura em todo o País,
tendendo à organização de técnica e de objetivos nacionais.
71
A Reforma Francisco Campos43
configurou um conjunto de decretos que
representaram a retomada da centralização da política educacional pela União. Segundo
Lourenço Filho e Monarcha (2002), o ano de 1931 datou da reorganização do ensino
secundário, substituindo o regime de exames parcelados pelo regime de cursos seriados;
houve a admissão do ensino religioso facultativo44
nas escolas; remodelação do ensino
superior e firmação de um “convênio interestadual” para o levantamento das estatísticas
de educação (LOURENÇO FILHO, 2002, p. 26).
Foi nesse contexto de efervescência e busca pela prevalência dos valores
religiosos na educação que as FMA avançaram para a região do Amazonas e
estabeleceram-se na Prelazia de Porto Velho para auxiliar o Padre João Nicoletti frente
às atividades do Hospital São José45
. O trabalho das FMA voltou-se para o atendimento
às atividades da saúde e educação da população (AZZI, 2002, p. 341).
Assim que fundaram a escola, em 1930, as irmãs estabeleceram o Curso
Preliminar e Elementar na Escola Paroquial. Azzi (1999) destacou que durante o
período inicial das escolas das FMA no Brasil, a organização escolar deu-se com a
abertura apenas do curso primário, nos primeiros anos apenas as séries elementares,
sendo as aulas “ministradas exclusivamente pelas irmãs, não havendo então professoras
externas” (AZZI, 1999, p. 74). No que concerne às bancas examinadoras das provas do
final dos anos, os convidados eram sacerdotes salesianos e algumas figuras
representativas do governo, conforme ressaltou Aluízio Pinheiro Ferreira, na época,
fiscal do governo: “o estabelecimento tem sido franqueado a quantas autoridades se tem
dignado de visitá-lo. Os exames finais de cada ano têm sido presididos por diversas
delas” (FERREIRA, 1937, p. 18).
Nesse período, Porto Velho era uma cidade ainda ambientada em um país rural,
mas que estava prestes a passar por transformações significativas. De acordo com
Almeida (2001, p. 34), após as primeiras décadas do Século XX, houve uma “tendência
43
A Reforma Francisco Campos correspondeu aos Decretos nº 19.850, 19.851 e 19.852, de 11 de abril de
1931, e referiam-se à Criação do Conselho Nacional de Educação, à organização do ensino superior e à
organização da Universidade do Rio de Janeiro, respectivamente. Algumas medidas referentes ao ensino
secundário – Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931, ensino comercial e regulamentação da profissão
de contador – Decreto nº 20.158, de 30 de junho de 1931, também foram configuradas. 44
Decreto nº 19.941, de 30 de abril de 1931 que dispôs sobre a instrução do ensino religioso em cursos de
escolas primárias, secundárias e normais, em caráter facultativo e que impactava diretamente a
instituição em estudo. 45
O Hospital São José, pela sociedade da época, era visto como uma grandiosa e humanitária instituição
que prestava atendimentos gratuitos para os habitantes da região de “classe menos favorecida da
fortuna” que ali encontrava “o acolhimento generoso dado indistintamente a todos, quer pelo virtuoso
padre João Nicoletti, o incansável velho herói dessa cruzada bendita, como por parte das carinhosas
Irmãs da Caridade, encarregadas do tratamento dos enfermos.” (ALTO MADEIRA, 1931, p. 3).
72
irreversível” do aumento da população urbana e diminuição da população das áreas
rurais. A autora destacou que esse contexto era marcado por uma ideia de atraso do
meio rural em relação ao meio urbano.
Embora tenha voltado seus estudos para a região mineira, Barros (2013)
verificou que “a política educacional esteve mais preocupada com o desenvolvimento
de áreas urbanas por ser o rural sinônimo de atraso” (BARROS, 2013, p. 38).
Predominava o pensamento de que para formar a mão de obra que atendesse os
preceitos capitalistas significava incluir o ambiente rural, direcionando a ele toda a
responsabilidade pelo não desenvolvimento, resultando na isolação do meio rural
(BARROS, 2013, p. 77).
A educação rural passou a ser vista como um instrumento capaz de aproximar
o país da modernização, modelando cidadãos adaptados ao seu meio de origem, mas
disseminando conhecimentos assegurados pela cultura das cidades. A utilização do
termo “moderno” refere-se à articulação do discurso que opõe o antigo ao moderno, e
vice-versa, e à exaltação da importância dos feitos republicanos que, implicitamente,
acabou por considerar o tradicional/antigo como algo ruim, atrasado, e o
moderno/recente como algo bom. Desse modo, a modernidade pode ser vista como uma
reação à agressão promovida pelo avanço industrial como dito por Le Goff.
O par antigo/moderno está ligado à história do Ocidente, embora
possamos encontrar equivalentes para ele em outras civilizações e em
outras historiografias. Durante o período pré-industrial, do século X
ao XIX, marcou o ritmo de uma oposição cultural que, no fim da
Idade Média e durante as Luzes, irrompeu na ribalta da cena
intelectual. Na metade do século XIX transforma-se, com o
aparecimento do conceito de ‘modernidade’, que constitui uma reação
ambígua da cultura à agressão do mundo industrial. Na segunda
metade do século XX generaliza-se no Ocidente, ao mesmo tempo que
é introduzido em outros locais, principalmente no Terceiro Mundo,
privilegiando a ideia de ‘modernização’, nascida do contato com o
Ocidente (LE GOFF, 1990, p. 167).
Conforme dito por Barros (2013, p. 74) “o pensamento moderno criou normas
e convenções capazes de racionalizar a escola com objetivos de disciplinar seus alunos e
formar hábitos culturais”. Segundo o autor, nesse período, a educação passou a ser vista
como um empreendimento, de um lado ela significava superar o atraso e, por outro,
fazia parte de um amplo projeto de redenção, afinal cabia modernizar cidades, estado, o
país.
73
Durante o período de 1930 a 1935, na Escola Paroquial, observamos, como
reflexo da política nacional, ações educacionais iniciadas a partir de 1930 pelos
salesianos. Para Vargas, a nacionalização deveria atingir o país por inteiro, buscando
integrar as regiões periféricas. Esta integração se operaria por meio de políticas voltadas
à modernização e ao desenvolvimento do interior. Para tanto, criou campanhas como a
“Marcha para Oeste” e os territórios federais, como o Vale do Guaporé nas zonas de
fronteira. Vargas pregava que bastaria “cuidar dessas gerações, defendendo-as contra as
moléstias, preparando-as física e culturalmente, dando-lhes educação moral e cívica
para transformá-las em valiosos fatores do povoamento da região” (VARGAS, 1940, p.
404).
Nesse discurso, Vargas explicitou que a colonização teria uma orientação
técnica, tanto para a escolha das terras, como para a instalação dos colonos e seriam
fundados “núcleos agrícolas, servidos de escolas rurais e aprendizados”, nos quais os
filhos dos colonos recebam instrução e conhecimentos de lavoura.
Saneamento e colonização – Essas possibilidades são evidentes, e o
plano, já delineado de modo geral, compreende duas partes:
saneamento e colonização. O saneamento terá feito com uma
organização técnica de execução progressiva, até conseguirmos
extinguir o impaludismo, existente apenas em algumas zonas do
território amazonense. A propósito, convém observar que o clima da
Amazônia, ao contrário do que muitos pensam, é geralmente salubre e
possui condições favoráveis a uma vida saudável e ao trabalho
produtivo. Prova-o o fato de encontrarmos, a cada passo, famílias
numerosas e uma grande população infantil. O crescimento
demográfico é evidente. E bastará cuidar dessas gerações,
defendendo-as contra as moléstias, preparando-as física e
culturalmente, dando-lhes educação moral e cívica para transformá-las
em valiosos fatores do povoamento da região. É o que queremos fazer
sem perda de tempo. A política povoadora será iniciada com grupos
de nacionais que aqui se fixem e prosperem. Tal colonização também
terá uma orientação técnica, tanto para a escolha das terras, como para
a instalação dos colonos. Fundar-se-ão núcleos agrícolas, servidos de
escolas rurais e aprendizados onde os filhos dos colonos recebam
instrução e conhecimentos de lavoura (VARGAS, 1940, pp. 504-505).
Desse modo, ponderamos que levar a escola ao interior do país era uma das
políticas de modernização pretendidas por Vargas e, portanto, aliou-se aos salesianos,
como no caso em estudo, para conseguir atingir esse fim, logo favorecendo a instalação
da ENRA.
74
Ressaltamos a trajetória realizada pelas FMA até chegarem e se instalarem em
Porto Velho e retomamos a origem da Congregação Salesiana a qual criou a Associação
das Filhas de Imaculada que passou a se chamar Filhas de Maria Auxiliadora.
Destacamos que as atividades realizadas pelas religiosas só se tornaram possível após a
criação da Prelazia de Porto Velho pelo Papa Pio XI, em 1925.
De acordo com Louro (2013, p. 443), percebemos que a proclamação da
República se alimentou da necessidade de se construir uma imagem do país que
transformasse seu “caráter marcadamente colonial, atrasado, inculto e primitivo” para
uma concepção de país moderno.
Segundo Almeida (2007), “ao se consolidar, a República acomodou-se ao novo
regime político, reagindo contra a invasão protestante nos campos religioso, político e
educacional”, e começou a estabelecer trabalhos pastorais significativos (ALMEIDA,
2007, p. 40), lutando contra a secularização que fora instalada na América Latina com a
criação de dioceses, novas ordens religiosas, internatos para as filhas das oligarquias,
colégios católicos para meninos e desenvolvimento de obras de caridade. Para essa
autora, “os colégios internos femininos alcançavam somente um público restrito, e as
jovens das famílias abastadas continuaram recebendo uma educação que primava pelo
desenvolvimento das prendas domésticas” (ALMEIDA, 2007, p. 41).
A educação passou, assim, a fazer parte dos discursos dos governantes como
uma forma de civilizar, modernizar as mais distantes localidades. A diferença da
instrução ofertada para homens era explicitamente diferente daquela ofertada para
mulheres.
75
CAPÍTULO II
SEMEANDO VALORES: A OBRA DAS FILHAS DE MARIA AUXILIADORA
EM PORTO VELHO
A mulher deve se bater pela liberdade de
consciência e de agir, mas sempre no seu
papel de mãe e de educadora, em que as
suas faculdades e virtudes podem esplender
aos raios refulgentes de uma verdadeira
glorificação. [...] Compenetrem-se todas as
mulheres, que sua missão é nobilíssima. [...]
Legionária no lar, legionária na escola, em
suas mãos encerra o destino da Pátria.
(BARROS, 1931, p. 3)
Trouxemos na epígrafe um texto publicado no jornal Alto Madeira, no dia 4 de
outubro de 1931. Optamos em destacar esse excerto, pois nos parece que traduz o
espírito nacionalista que se espalhava pelo país e que preconizava a imagem e postura
que a mulher deveria exercer na sociedade da época, diante o julgamento do jornal.
Cabia à mulher não só o papel de educadora, como também o de mãe, esposa, uma
“legionária” das virtudes morais, uma missão “nobilíssima”, fosse no lar ou na escola.
Refletimos ser pertinente analisar a instituição em estudo partindo do ponto de
vista histórico. Desse modo, analisamos o processo de fundação e início das atividades
da instituição de ensino administrado pelas Filhas de Maria Auxiliadora, bem como o
desenvolvimento e o percurso da educação ofertada nessa instituição que se voltou para
a educação de moças. Escola Paroquial foi a primeira nomenclatura da escola no ano de
1930.
Quando abordamos a questão da educação das moças, não podemos esquecer a
significativa relação entre educação e a catequese desde os tempos do Brasil Colônia.
Dermeval Saviani (2008, p. 47) investigou a temática e destacou que ao se considerar a
educação como elemento para aculturação, temos na catequese sua “ideia-força”. Para
Saviani, o ato de difundir conceitos religiosos para evangelizar e civilizar um povo com
a intenção de contribuir para um conjunto de mudanças sociopolíticas de uma sociedade
76
tem na catequese a sua origem. Para ele, foi a partir da catequese e da instrução que “o
processo de aculturação da população colonial nas tradições e costumes do colonizador”
foi cumprido (SAVIANI, 2008, p. 47). Na instituição em estudo, a catequese também
foi um método utilizado para que as moças seguissem e defendessem a instrução
salesiana na região.
Sobre o catolicismo no Brasil, Thales de Azevedo (2002) realizou estudos que
apontaram o Brasil como a maior nação católica dos nossos tempos:
Poder-se-iam apontar outros de uma melhor integração do catolicismo
brasileiro no corpo da doutrina e da estrutura da Igreja universal.
Alguns dos desenvolvimentos assinalados pelos líderes do
pensamento e da ação religiosa são: 1º) a organização de uma ativa
elite de católicos piedosos e instruídos; 2º) a popularização do culto
eucarístico fomentado pelos grandes congressos eucarísticos nacionais
e diocesanos, os quais promovem o aumento da freqüência dos
sacramentos e uma integração religiosa mais completa de muitas
pessoas, especialmente nos centros urbanos; 3º) a substituição gradual
das antigas irmandades religiosas, [...]; 4º) a expansão do sistema
educacional católico no nível secundário e, no universitário, a criação
de universidades católicas (AZEVEDO, 2002, p. 34).
Esse mesmo autor fez uma ressalva: a partir da proclamação da República, a
Igreja interessou-se em reorganizar sua estrutura e restaurar as ordens religiosas cujas
comunidades haviam sido quase extintas devido ao fechamento dos seus noviciados nas
últimas décadas do Século XIX (AZEVEDO, 2002, p. 35). Podemos ponderar, portanto,
que os salesianos, em particular, as FMA, ao estabelecerem suas atividades educativas
em Porto Velho, intentaram expandir sua área de influência avançando para a região
Norte brasileira com a intenção de dar continuidade às ações salesianas. Dessa maneira,
cogitamos que as FMA encararam as meninas e moças porto-velhenses como aquelas
que deveriam ser instruídas para dar prosseguimento à obra salesiana na região.
Almeida (2007, p. 48) destacou que o catolicismo no Brasil ocupou uma
realidade a qual a religião produziu sentido e tomou um lugar significativo nas
manifestações culturais brasileiras. Não obstante, o Brasil incorporou uma sacralidade
original da “simbologia européia luso-cristã” que assumiu desmensurada proporção.
Em sua obra, Azzi (1999, p. 82) descreveu os princípios católicos que
estiveram diretamente ligados à educação das mulheres, a qual estava restrita ao espaço
doméstico, distante da vida social onde o “risco de perder os valores morais era
considerado mais frequente”. Esses princípios católicos foram escritos em Cartas
77
Pastorais pelo bispo Dom Macedo Costa, a partir de um resumo de catecismo de
conduta moral que delineava os valores que a Igreja desejava impor às mulheres.
Obrigações de uma jovem: 1º Ser muito modesta em todas as suas
ações; 2º Andar acautelada a cada passo; 3º Ser grave e sempre
decente nas falas e maneiras; 4º Gostar de estar em casa, e ajudar a sua
mãe; 5º Aplicar-se de contínuo ao trabalho; 6º Raras vezes sair, e só
por necessidade; 7º Aborrecer a vaidade nos vestidos e enfeites; 8º
Evitar conversações indiscretas com pessoas do sexo diferente; 9º
Detestar dissipações e profanos investimentos; 10º Amar os exercícios
de piedade; 11º Ser muito franca, leal e amorosa para com sua mãe, e
não ter segredos para ela; 12º Edificar com bom exemplo e doutrina
seus irmãozinhos menores. (AZZI, 1999, p. 83).
Essas eram as ideias transmitidas a partir de uma educação cristã para as alunas
em escolas administradas por Irmãs Salesianas. Ensinamentos que envolviam os
princípios da virtude da pureza para as jovens solteiras e da mulher casada para o lar e
para o amor de seu marido e filhos.
Parece-nos que as FMA perceberam que a região Norte era pouco cuidada ou
mesmo negligenciada pelos governantes brasileiros. Naquela região inexistiam escolas e
ali poderia ser um campo vasto para que as concepções salesianas prosperassem.
Consoante essa ideia, Ribeiro (1993) apontou que a maioria das mulheres no final do
Século XX eram analfabetas ou, quando muito, conheciam as primeiras letras.
Dado o grau de subordinação da mulher no período, a maioria dessa
faixa da população era analfabeta. Uma pequena parte era
tradicionalmente preparada na família pelos pais e preceptores,
limitando-se, entretanto, às primeiras letras e ao aprendizado das
prendas domésticas e de boas maneiras (RIBEIRO, 1993, pp. 67-68).
Sopesamos que Porto Velho era uma cidade em desenvolvimento. A maioria da
população encontrava-se nos trabalhos da Ferrovia Madeira Mamoré e em pequenos
comércios pelo centro da cidade. As FMA constataram que as moças, em sua maioria,
não eram instruídas. Iniciar atividades com foco para o público feminino poderia atrair o
olhar da sociedade para as iniciativas cristãs e aumentar o prestígio da instituição
salesiana no local. Essa preparação das moças voltava-se à “formação na prática das
virtudes, enobrecimento do espírito com o saber humano, educação pela doutrina
católica e ornamentação cultural”, diretamente ligado ao lugar social que ocupava ou
iriam ocupar as alunas (ORTIZ, 2014, p. 61). Nesse contexto, a autora referiu-se ao
78
momento de transição para ingressar na vida urbana, burguesa e letrada e que, portanto,
era repleta de limites e regras.
No que concernia às atividades educacionais, as religiosas FMA também
tinham bem definida a finalidade da educação feminina. Era necessário preparar as
jovens para se inserirem na sociedade urbana, de forma a seguir o padrão de
comportamento considerado aceitável pela igreja. Os governantes das cidades
perceberam que o processo de urbanização e modernização das cidades demandava que
sua população fosse instruída, com isso, passaram a contar com o auxílio das
instituições religiosas para educar as/os jovens. Em Porto Velho, essa educação voltou-
se para a formação das mulheres para que elas instruíssem as novas gerações no
conhecimento das virtudes cristãs, das boas maneiras no espaço doméstico e social
(AZZI, 2008, p. 91).
2.1 A instituição educativa, fundações e origens
Retomando o percurso histórico, em 1929, o Reverendo Padre Antônio
Peixoto46 viajou para Manaus para encontrar as Irmãs Salesianas que estavam para
chegar à prelazia porto-velhense. As primeiras religiosas designadas a constituir a
comunidade da Prelazia de Porto Velho vieram de São Paulo, acompanhadas das irmãs
destinadas às novas comunidades de Manaus e Jaureté (AZZI, 2002). Os padres e as
Irmãs Salesianas instalaram-se em Porto Velho em março de 1930 e tinham como
coordenador de suas atividades o Padre João Nicoletti.
O Revd. Padre Antonio Peixoto encontra-se em viagem, para Manaus,
onde foi ao encontro das Irmãs Salesianas, que deverão chegar em
breve a esta cidade e também se dedicarão a prestar seus valiosos
serviços no nosso Hospital e como, geralmente, são uns verdadeiros
modelos de virtude, muito farão também em benefício dos deserdados
da sorte que, ali, encontrarão grande lenitivo para as suas dores
(ALTO MADEIRA, 1930, p. 1).
Em 1930, as FMA perceberam que havia um vasto campo educacional a ser
explorado e fundaram o Instituto Maria Auxiliadora, doravante denominado IMA, com
46
Padre auxiliar da Prelazia de Porto Velho.
79
a intenção de educar e instruir mulheres na cidade de Porto Velho, ofertando uma
educação pautada nos valores salesianos.
Os valores cristãos eram uma referência para a comunidade de Porto Velho e
esses valores continuavam a prevalecer nas escolas, embora desde a proclamação da
República a educação devesse ser laica. Louro (2013) expressou muito bem esse ideário
de boa instrução destinada à mulher a partir de uma educação pautada nos valores
cristãos.
Para muitos, a educação feminina não poderia ser concebida sem uma
sólida formação cristã, que seria a chave principal de qualquer projeto
educativo. Deve-se notar que, embora a expressão cristã tenha um
caráter mais abrangente, a referência para a sociedade brasileira da
época era, sem dúvida, o catolicismo. Ainda que a República
formalizasse a separação da Igreja católica do Estado, permaneceria
como dominante a moral religiosa, que apontava para as mulheres a
dicotomia entre Eva e Maria (LOURO, 2013, p. 447).
A instalação do IMA, em 1930 na cidade de Porto Velho, contou com a
participação da Irmã Carolina Rena, diretora da Comunidade das FMA até 1931, e Irmã
Elizabetta Negri (IMA, 2000). Em 4 de maio do mesmo ano, chegou a Irmã Petrina
Pinheiro responsável por coordenar as atividades pedagógicas e o Oratório Festivo.
O Oratório Festivo, na obra de D. Bosco, para Carlos Nazareno Ferreira Borges
(2005), constituía-se como um ambiente físico de educação, mas era também uma
atividade pedagógica orientada por princípios que se articulavam ao Sistema Preventivo
de D. Bosco, para quem existiam dois sistemas de educar: um sistema repressivo que se
munia da punição, da ameaça, do autoritarismo e outro sistema: preventivo que se mune
da assistência, da persuasão e da afetividade para educar.
Cabe-nos esclarecer que o sistema de ensino salesiano é conhecido até os dias
de hoje como Método de Dom Bosco. O método educativo de D. Bosco tem como
objetivo colaborar no desenvolvimento de consciência crítica que há em cada pessoa,
quer adulto, quer criança, a partir do ensino de Português, as operações básicas da
Matemática, formando não só um aluno, mas um ser humano. O fundamento dessa
forma de ensino é denominado Sistema Preventivo de Dom Bosco, o qual corresponde
às atitudes humanas que podem ser modificadas para o bem a partir de exemplos da
experiência de Jesus com as pessoas, tendo como último recurso o castigo e jamais a
violência, com vistas à prevenção de possíveis erros ou pecados. Desse modo, o ensino
deve se dar a partir do diálogo, perdão e compaixão. Desde a fundação das primeiras
escolas, a Rede Salesiana de Escolas – RSE acompanhou as orientações das leis
80
vigentes no país, mas principalmente instituiu o diálogo entre carisma e missão
salesiana com as políticas públicas da educação. Esse método educativo é baseado na
religião e na “amorevolezza”, palavra sem tradução na língua portuguesa que alguns
identificam como bondade. Pode-se dizer que esse é “o evangelho em termos de
pedagogia”47
.
Desse modo, a Escola Paroquial, fundamentada nessa ideologia, na oferta de
ensino no estilo salesiano, Azzi (1999, p. 78) descreveu que “a formação cristã das
meninas era, sem dúvida, a razão principal da atividade educativa das irmãs”. Mais que
instruir os ideais de D. Bosco, tinham como principal meta um objetivo religioso que
era o de “oferecer à sociedade bons cristãos, exemplares na prática de seus deveres
religiosos” (AZZI, 1999, p. 78). Segundo o autor, a Missa e a Prática Sacramental eram
instrumentos indispensáveis para a formação religiosa dos educandos, como forma de
manter fidelidade aos princípios de D. Bosco, princípios estes praticados desde o século
passado na Itália como forma de reafirmação do catolicismo romano. A Prática
Sacramental, em especial, condizia à prática da fé girando em torno de um “eixo
devocional” (ibid.), ou seja, o louvor aos santos, às procissões, romarias, folias de Reis
e das bandeiras do Divino, promessas e benzedores.
As atividades educacionais salesianas, desde o início, foram bem aceitas pela
população de Porto Velho. Ressaltamos que, desde a fundação da escola das Irmãs, a
sociedade acolheu a vinda dos salesianos e a obra das FMA na qual o ensino era
balizado pelo catecismo ministrado diariamente aos filhos e filhas, “pelo infatigável e
bondoso padre João Nicoletti e respeitabilíssimas Irmãs de Caridade, vem formando a
futura geração regional sobre o mais sólido de todos os alicerces, – o pedestal da Moral
Cristã” (ALTO MADEIRA, 1931, p. 1).
Outro documento coletado, a Ata de Inauguração da Secretaria do Instituto
Nossa Senhora Auxiliadora, trouxe uma mensagem registrada e assinada pelo Inspetor
escolar Gonzaga Pinheiro, que destacou a obra que estava sendo feita pelas Irmãs
Salesianas.
Ao penetrar este ambiente edificante de educação, que só os
Salesianos sabem criar, senti-me como que reintegrado em mim
mesmo à sensação intensa da fresca mutação: lei fora, a desordem nas
47
O Sistema Preventivo pode ser identificado como o próprio espírito salesiano. Envolve ao mesmo
tempo, pedagogia, pastoral e espiritualidade. Todas as escolas salesianas seguem o mesmo princípio.
Uma descrição a respeito pode ser encontrada em
<http://www.domboscoitaquera.org.br/dbosco/sisprev.htm>. Acesso em 1 0 de outubro de 2016.
81
causas, a vida infrene e tumultuaria no desperdício de saúde
arruinando a moral; aqui, a harmonia da disciplina, o labor da virtude
assegurando a perfectibilidade humana na realização da mulher cívica-
católica, da mulher padrão, que se posta antes a Pátria, voltada para o
Bem, na direção de Deus (IMA, 1931).
O excerto nos parece coerente com a concepção de Georges Duby e Michelle
Perrot (1993, p. 80) quando descreveram que cada país tem suas referências históricas
ou literárias, às vezes religiosas, para se voltarem para as mulheres como as
“semeadoras de valor”, coadunando com a ideia de realização da mulher na moral
cívica-católica, o ideal para a difusão dos valores sociais prestigiados pela sociedade
burguesa e urbana do período em estudo.
Em 1929, os religiosos salesianos aportaram em Porto Velho e, em 1930, as
FMA fundaram o Instituto Maria Auxiliadora. As famílias porto-velhenses receberam
muito bem a vinda desses religiosos e mostravam-se a favor de que os salesianos
dessem continuidade em suas atividades educativas no local. Isso pode ser notado nas
publicações do jornal Alto Madeira e no relato dos visitantes da instituição conforme
consta nos livros de Termo de Visitas da Escola, tanto pais e mães, quanto autoridades
que destacavam as atividades das religiosas no trabalho de formação das moças, uma
educação conservadora e tradicional.
Desse modo, ao definirmos nosso objeto de estudo, buscamos estabelecer
conexões com as várias transformações que a sociedade veio sofrendo e que refletiram
no âmbito educacional, a história da escolarização feminina e as interfaces com a
educação das religiosas salesianas em Porto Velho.
Desde sua fundação, como podemos ver no quadro a seguir, a instituição
passou por inúmeras alterações e arrazoamos que o objetivo dessas transformações tem
sua razão fundamentada no aprimoramento de projetos educativos salesianos, tais como
o Oratório Festivo, Sacramento e Catecismo diário, em consonância com as políticas
públicas, as transformações da sociedade e com a própria instituição no sentido de
arrebanhar mais alunas e alunos no país.
82
Quadro 2. Nomes da Instituição e Cursos
Data Legislação Nome da instituição Curso
1930 a 1935
Processo nº 4.296/31
Escola Paroquial
Curso Preliminar com
1ª, 2ª e 3ª séries;
Curso Preparatório,
Curso Elementar - 1º,
2º e 3º ano e trabalhos
manuais.
1936
-
Escola Nossa
Senhora Auxiliadora
Curso Preliminar
séries 1ª, 2ª e 3ª;
Curso Elementar - 1º,
2º, 3º e 4º anos, Curso
Médio 1º e 2º anos,
Maternal ou Jardim da
Infância e trabalhos
manuais.
1937 a 1946
Art. 3º Portaria
ministerial nº 378 de
10/out/50
Escola Normal Rural
Nossa Senhora
Auxiliadora
Jardim da Infância (até
1937 e depois em
1941); Curso Normal
1ª, 2ª e 3ª séries (3ª a
partir de 1940);
Curso Preliminar 1ª e
2ª séries; Curso
Elementar 1º, 2º e 3º
anos; Curso
Preparatório e Curso
Definitivo 1º e 2º anos
(a partir de 1939) e
trabalhos manuais.
Portaria ministerial nº
521 de 31/ago/46
Ginásio Maria
Auxiliadora
Departamento
feminino do Ginásio
Dom Bosco
Curso médio.
1947 a 1950
Art. 4º Portaria nº 375
de 16/ago/49
Instituto Maria
Auxiliadora
Curso Primário,
Jardim da Infância,
Curso Elementar,
Escola doméstica,
Escola de pintura,
piano e aula de corte e
costura (trabalhos
manuais).
1951 a 1972 Portaria nº 390 de
17/ago/51
Ginásio Maria
Auxiliadora.
-
1972
Parecer nº 117 do
Conselho Estadual de
Educação de
Rondônia de
20/dez/89
Instituto Maria
Auxiliadora.
-
83
1973 a 1997
Parecer nº 117 do
Conselho Estadual de
Educação de
Rondônia de
20/dez/89
Em 1976 Pareceres
034/CTE de 1976 e
043/CTE de 1976*
Instituto Maria
Auxiliadora.
Ensino fundamental:
1º grau menor (1ª a 4ª
série, no Laura Vicuña
de 1973 a 1976); 1º
grau maior (5ª a 8ª
série, no IMA);
Ensino Médio, de
acordo com a Lei
5.692/71.
-
*1976 adicionou o 2º
grau profissionalizante
(Magistério –
professores de 1ª a 4ª
séries, de 1976 a
1983); e Curso de
Laboratorista de
Análises Clínicas (de
1976 a 1980)*.
1998 a 2000
Lei Nacional 9.394/96
Instituto Maria
Auxiliadora.
Ensino Fundamental,
de 5ª a 8ª séries
(matutino e
vespertino); Ensino
Médio, três anos do 1º
a 3º ano (matutino e
vespertino – neste, só
até o 2º ano).
A partir de agosto de
2000 ofereceu o Curso
Pré-Vestibular
(vespertino);
Alfabetização de
Adultos (noturno).
2001 a 2017
Processo 094/01,
Parecer 008/02 e
Resolução 007/02
Instituto Maria
Auxiliadora
Ensino Fundamental
de 1ª a 4ª série. A
partir de 2008, Ensino
Fundamental com
duração de 9 anos no
sistema gradativo;
Ensino Médio.
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
No quadro 2, observamos as denominações e cursos do Instituto Maria
Auxiliadora ao longo dos anos. Observe que no período pesquisado, de 1937 a 1946, a
escola denominou-se Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora com a Portaria
Ministerial nº 378 de 10 de outubro de 1950 e ofertou os cursos: Jardim da Infância, que
durou apenas o ano de 1937 e retornou em 1941; o Curso Normal de 1ª a 3ª séries,
84
surgindo a 3ª apenas em 1940; o Curso Preliminar de 1ª a 2ª séries; Curso Elementar do
1º ao 3º ano; Curso Preparatório, o qual tinha como foco capacitar as alunas para
adentrarem ao Curso Normal ou Ginasial; Curso Definitivo, do 1º ao 2º ano e trabalhos
manuais.
Segundo o Histórico do IMA, além das atividades na escola e no hospital, as
Irmãs também deram início ao Catecismo diário com 80 jovens e à Associação dos
Santos Anjos com 10 crianças. Azzi (1999, p. 79) descreveu que para promover a
formação religiosa das alunas era necessário adotar duas associações – neste caso, a dos
Santos Anjos e da “Pia União das Filhas da Imaculada” – as quais, no IMA, contou com
a participação de 24 jovens e a Irmã Carolina Rena como presidente da União.
Em 1931, um aspecto relevante compôs o cenário educacional brasileiro. O
Decreto nº 19.941, de 30 de abril de 1931, dispôs sobre a instrução do ensino religioso
em cursos de escolas primárias, secundárias e normais, ainda que em caráter facultativo.
Art. 1º Fica facultado, nos estabelecimentos de instrução primária,
secundária e normal, o ensino da religião. Art. 2º Da assistência às
aulas de religião haverá dispensa para os alunos cujos pais ou tutores,
no ato da matrícula, a requererem. Art. 3º Para que o ensino religioso
seja ministrado nos estabelecimentos oficiais de ensino é necessário
que um grupo de, pelo menos, vinte alunos se proponha a recebê-lo.
Art. 4º A organização dos programas do ensino religioso e a escolha
dos livros de texto ficam a cargo dos ministros do respectivo culto,
cujas comunicações, a este respeito, serão transmitidas às autoridades
escolares interessadas. Art. 5º A inspeção e vigilância do ensino
religioso pertencem ao Estado, no que respeita a disciplina escolar, e
às autoridades religiosas, no que se refere à doutrina e à moral dos
professores. Art. 6º Os professores de instrução religiosa serão
designados pelas autoridades do culto a que se referir o ensino
ministrado. Art. 7º Os horários escolares deverão ser organizados de
modo que permitam os alunos o cumprimento exato de seus deveres
religiosos. Art. 8º A instrução religiosa deverá ser ministrada de
maneira a não prejudicar o horário das aulas das demais matérias do
curso. Art. 9º Não é permitido aos professores de outras disciplinas
impugnar os ensinamentos religiosos ou, de qualquer outro modo,
ofender os direitos de consciência dos alunos que lhes são
confiados. Art. 10. Qualquer dúvida que possa surgir a respeito da
interpretação deste decreto deverá ser resolvida de comum acordo
entre as autoridades civis e religiosas, afim de dar à consciência da
família todas as garantias de autenticidade e segurança do ensino
religioso ministrado nas escolas oficiais. Art. 11. O Governo poderá,
por simples aviso do Ministério da Educação e Saúde Pública,
suspender o ensino religioso nos estabelecimentos oficiais de
instrução quando assim o exigirem os interesses da ordem pública e a
disciplina escolar (BRASIL, 1931, p. 1).
85
Conforme observado, a Igreja obteve vitória com a promulgação do Decreto nº
19.941, de 30 de abril de 1931, ao tornar facultativo o ensino religioso nas escolas
públicas. Percebemos que a criação desse decreto significou maior autonomia da Igreja
no setor educacional. Segundo Saviani (2008), essa, dentre a criação de outras medidas
do início do governo provisório, acabou resultando no tratamento da educação como
questão nacional convertendo-se em objeto de regulamentação nos seus diversos níveis
e modalidades.
O Decreto nº 19.941, introduzindo pela primeira vez na história da República o
ensino religioso nas escolas oficiais e, de acordo com Saviani (2008, p. 196), “o novo
ministro atendeu a uma insistente reivindicação da Igreja Católica”. Para o autor,
parecia contraditória a aliança do Estado com a Igreja, ao tentar explicar como um
adepto do escolanovismo, assumindo o posto de autoridade máxima dos assuntos
educacionais da República, tomou uma medida em benefício da Igreja Católica.
Por um lado, essa situação não se configurava tão estranha, uma vez
que estava respaldada por importantes precedentes históricos, como se
pode ver pelos processos de restauração na Europa em meados do
século XIX. O exemplo mais contundente desse fenômeno deu-se na
França, onde a burguesia, após ter atacado violentamente a Igreja
enquanto componente do “Antigo Regime”, a ela se aliou diante do
temor do avanço do movimento operário. E no Brasil das décadas de
1920-1930 também estava em causa esse temor num momento em que
se procurava converter a questão social de caso de política, como fora
tratada na República Velha, em questão política. E a Igreja aparecia,
aí, como um antídoto importante com sua doutrina social, formulada
na Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, em 1891, e reiterada por
Pio XI na Encíclica Quadragesimo Anno, promulgada exatamente em
1931 para comemorar os quarenta anos da Rerum Novarum
(SAVIANI, 2008, p. 196).
Apoiada no modus operandi de inspirar na sociedade o sentimento de caridade
e solidariedade social, a Igreja Católica beneficiou-se e obteve a hegemonia frente a
outras ordens religiosas do campo educacional no Brasil mobilizando-se ao lado do
governo e empenhando forças católicas para o controle da ordem social.
Naquele momento, o cenário educacional brasileiro encontrou-se atendendo
aos interesses da Igreja Católica no que se referiu aos assuntos no âmbito da política
educacional. Podemos considerar esse fato como o que Aranha (2006) destacou ser uma
força conservadora politicamente representada. Segundo a autora, os pensadores
católicos movimentavam-se contra a tendência laica instalada pela República e,
86
considerando que a verdadeira educação devia estar vinculada à orientação moral cristã,
apregoavam a reintrodução do ensino religioso nas escolas, e assumiam o receio de uma
escola de caráter comunista. Dessa maneira, parece-nos que esse fato acabou
fortalecendo a influência que a Igreja exercia socialmente e, principalmente, no que se
referiu à educação moral, cívica e religiosa.
Almeida (2007) também fez considerações acerca do decreto da instrução do
ensino religioso em cursos de escolas primárias, secundárias e normais. Para essa
autora, a Igreja procurou ocupar postos no governo e ampliou as atividades religiosas no
país.
Nos anos 30/40 do século 20, inaugurou-se uma era mais harmoniosa
entre igreja e Estado, com consequente retomada de poder católico, o
que se deu por meio da ação coordenada dos bispos, com a ocupação
de postos no governo por homens católicos, a atividade dos religiosos
leigos, a fundação e ampla divulgação de revistas eclesiásticas. [...]
Com isso iniciou-se uma nova colaboração entre igreja e Estado
(ALMEIDA, 2007, p. 96).
Ao tratar do pertencimento de um conhecimento histórico como componente
do presente, Certeau (1982, p. 143) apresentou as determinações que a história social
exerce e que a história religiosa acaba se tornando tanto vítima como beneficiária dessas
imposições. Nesse contexto, o autor abordou como o “setor definido como ‘religioso’”
ensina sobre uma sociedade. Para o autor, é necessário compreendermos que os
fenômenos religiosos são sempre algo além do que eles nos são apresentados.
Nesta perspectiva “compreender” os fenômenos religiosos é, sempre,
perguntar-lhes outra coisa do aquilo que eles quiseram dizer; é
interrogá-los a respeito do que nos podem ensinar a respeito de um
estatuto social através das formas co-letivas ou pessoais da vida
espiritual; é entender como representação da sociedade aquilo que, do
seu ponto de vista, fundou a sociedade (CERTEAU, 1982, p. 143).
Dessa maneira, buscamos entender o cenário que envolveu as atividades
pedagógicas da Congregação Salesiana na criação de uma escola para meninas na
capital de Rondônia. Compreendemos que método e pedagogia salesiana se referiam à
prevenção do mal, antecipando o bem. Isso significa colaborar para que tanto o adulto
quanto a criança tenham consciência de sua realidade, dando conta dos perigos e de suas
capacidades. Outra característica explorada era a tarefa de instruir pelo bem, isto é, os
conhecimentos técnicos eram ofertados aliados às virtudes que deveriam ser
87
exercitadas, tais como, a caridade e a obediência às normas católicas, ou seja, a moral
religiosa.
Delineamos caminhos para tentar explicar as conexões que se estabeleceram
entre a resistência de uma cultura pautada na doutrina católica e as aspirações, costumes
e vida social almejada para as mulheres aqui no Brasil, já que a influência da Igreja
Católica no âmbito educacional fica-nos evidente, principalmente, no que diz respeito à
escolarização feminina, como discutido por Louro (2013) e Almeida (2007).
Louro (2013) ressaltou que mesmo que a proclamação da República
representasse a separação da Igreja Católica do Estado, seria conservada como
dominante a moral religiosa, apontando para as mulheres a dicotomia entre Eva e Maria;
- Eva, a diabolização da mulher, símbolo do pecado e da tentação e Maria, a Virgem,
pura e inocente mulher - uma escolha que representava “uma não escolha, pois se
esperava que as meninas e jovens construíssem suas vidas pela imagem de pureza da
Virgem”, implicando em um ideal feminino voltado para o recato e pudor, “a busca
constante de uma perfeição moral, a aceitação de sacrifícios, a ação educadora dos
filhos e filhas” (LOURO, 2013, p. 447).
Para nos auxiliar na compreensão sobre a instrução e educação que era imposta
às mulheres, os estudos de Almeida (2007, p. 90) assinalaram que “das mulheres
esperava-se a permanência no espaço doméstico, o recato, a submissão, o acatamento da
maternidade” como o maior dos sonhos de consumo.
Na educação feminina permaneciam as tradições religiosas que
giravam em torno do destaque das prendas domésticas, como bordado,
falar francês, saber dançar, tocar piano, conversar, com recato,
conhecer as regras de etiqueta, enfim, o que se esperava que uma
mulher soubesse antes do casamento (ALMEIDA, 2007, p. 97).
Almeida (2007) assinalou ainda que a mulher era educada, principalmente,
para ser “o esteio moral da família”, as que preservariam a tradição e perpetuaria as
regras religiosas. Esses ensinamentos tinham efeito direto, principalmente, nos
momentos de comemorações de datas festivas e cívicas, ou a simples exposição das
alunas nesses momentos de celebração em que poderiam apresentar-se de forma
disciplinada, organizada e a instituição poderia apresentar para a sociedade todo o
trabalho que estava sendo desenvolvido com as alunas na escola.
Encontramos outra notícia publicada no jornal Alto Madeira, em 1932 que
confirma essa concepção de ensino. A abertura das aulas de bordado para as senhoritas
88
que estivessem interessadas foi publicitada: “Avisa-se aos Srs. Pais, que no dia 1 de
Maio, iniciam-se as aulas de bordado em branco, matizes e fantasia, para as senhoritas
que desejem aprender. Para a matrícula e mais informações à Diretora” (ALTO
MADEIRA, 1932, p. 2). A abertura da Escola de Trabalhos, com atividades de pintura,
bordados, corte e costura, flores e arte culinária reafirmam as expectativas sobre a
conduta feminina impostas pela Igreja Católica.
A escola também organizava as alunas para passeatas e procissões. Essas
comemorações incluíam celebrações do mês de Maria ou Mês Mariano, datas religiosas,
entre outras. Quando se tratava de missas aconteciam no próprio auditório do teatro da
escola.
Organizadas pelas Irmãs, as alunas ocupavam as ruas da cidade com desfiles,
passeatas e procissões. Encontramos no jornal Alto Madeira avisos para celebrar datas
comemorativas, entre elas, o Festival em benefício das Obras da Catedral.
Será levado a efeito no dia de São João, 24 do corrente, no teatrinho
do club Internacional, um festival lírico-musical, promovido pelas
Irmãs Salesianas em benefício das obras da nossa Catedral e como
singela homenagem às virtudes do digno Vigário de Paróquia, Pe.
João Nicoletti. O elenco é composto das alunas da Escola Paroquial e
de meninos de catecismo, os quais, admiravelmente ensaiados, irão
proporcionar honras de agradável humor e fina espiritualidade ao
público porto-velhense, que, de certo, comparecerá em peso para
aplaudir os gentis artistas e contribuir para as obras do grande
santuário de Cristo (ALTO MADEIRA, 1932, p. 1).
Podemos afiançar que era necessária uma formação das moças para os
princípios salesianas. As festas Paroquiais eram momentos nos quais havia a
participação de autoridades da região e a instituição mostrava à população a educação
que oferecia às mulheres, ou seja, momentos nos quais os pais deviam ser convencidos
de que suas moças recebiam uma boa educação.
Conforme estava anunciado, realizou-se na noite de sábado, dia 26 de
novembro, no Club International, a festa do encerramento das aulas
neste ano, da Escola Paroquial Feminina, da Prelazia Apostólica,
dirigida pelas Irmãs de Maria Auxiliadora. Os vastos salões do
Internacional encheram-se completamente tendo comparecido as
autoridades locais, sendo a festa presidida pelo Sr. Cap. Aluizio
Ferreira, sendo representadas pelas alunas da Escola algumas
pequenas comédias, recitativos, etc. terminando pela distribuição de
prêmios às alunas que fizeram exames. Foi uma festa que deixou uma
ótima impressão a todas pessoas que nela tomaram parte, pois assim
89
puderam verificar o adiantamento das alunas da Escola Paroquial.
Felicitamos a diretoria da Escola pelo êxito alcançado, e, ao mesmo
tempo, enviamos às meninas que tomaram parte no festival os nossos
parabéns (ALTO MADEIRA, 1932, pp. 1-2).
Quermesse48
também eram realizadas contando com a participação das
estudantes em benefício das obras da igreja e constituíam-se verdadeiros
acontecimentos festivos na cidade, um marco significativo na proposta educativa da
instituição em estudo, mas sempre mantendo a perspectiva de uma educação centrada na
Religião.
Por iniciativa da arquiconfraria Maria Auxiliadora, realizar-se-á na
tarde de hoje, na praça da Catedral, uma quermesse, em benefício das
obras da Igreja. Constituindo esta festividade a nota sensacional do
programa geral da comemoração do Mês Mariano, nesta cidade, é de
presumir que a afluência de visitantes na tarde de hoje à praça da
Catedral seja notável. O programa especial da Quermesse, que consta
de números surpreendentes e inéditos, deixa de ser publicado para
melhor efeito (ALTO MADEIRA, 1933, p. 4).
Percebemos que os eventos eram realizados com finalidade lucrativa e as
alunas eram “usadas” como “atração”. O excerto acima, uma publicação do jornal Alto
Madeira, reforça a concepção de que a Escola Paroquial exercia algumas atividades para
a arrecadação de recursos e, portanto, promovia eventos religiosos, como as quermesses
e outras festividades com o comparecimento das autoridades locais e regionais,
utilizando as alunas como atração.
Retomando o percurso histórico da ENRA, em meio às obras da Prelazia na
cidade, no ano de 1933, a Congregação Salesiana em Porto Velho deu início à
construção do novo edifício estilo internato para meninas órfãs, localizado na rua Duque
de Caxias. Outro prédio seria o que acolheria internas cujas famílias “residentes em
qualquer parte desta região” seriam educadas.
Causou-nos verdadeira surpresa o encontrarmos, dias passados, à rua
Duque de Caxias, uma turma de homens trabalhando no lançamento
dos alicerces de um edifício que, pela área que abrange, se nos
afigurou grandioso. Indagando dos obreiros, laconicamente nos
responderam ser para o Colégio de Meninas. [...] procuramos o
Revmo. Padre João Nicoletti, nosso incansável pároco, que nos
48
Quermesse: s.f. 1 designação dada, nos Países Baixos, às festas paroquiais e às feiras anuais celebradas
com grandes festejos 2 p.ext. qualquer feira paroquial 3 p.ana. feira pública com barracas ao ar livre,
com leilão de prendas e sorteios, ger. com fins beneficentes (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 1592).
90
recebeu benevolamente, como de costume, e que se prontificou a dar-
nos os esclarecimentos precisos que, a título de furo jornalístico,
transmitimos aos nossos amáveis leitores que, como nós, estavam na
ignorância dessa construção. [...] Para o custeio de tão avultada
despesa, conta o Revdmo. Prelado, além da dotação decretada pelo
Governo Provisório, como auxílio à Missão Salesiana no Amazonas,
com a cooperação eficiente do Povo e das Autoridades locais que,
reconhecendo os meritórios serviços de ordem moral e material que a
Prelazia vem difundindo nesta região, certamente a não deixarão lutar
a sós, contribuindo cada qual, conforme suas possibilidades
financeiras com o respectivo óbolo para a realização desse vasto
programa, que muito concorrerá para o progresso e embelezamento de
Porto Velho (ALTO MADEIRA, 1933, p. 1).
Yêdda Pinheiro Borzacov (2007) destacou que desde a chegada das FMA,
tanto os padres como as irmãs idealizavam a construção de um colégio grande, para
atender a população estudantil. No início, as aulas aconteciam em pequenas casas de
taipa49 cobertas de zinco, na quadra 23, terreno doado pela municipalidade, localizado
na Rua Riachuelo – hoje Rua Capelli, com a Av. 24 de Janeiro - atual Rua Paulo Leal,
local no qual a instituição permanece até hoje.
As obras foram iniciadas sob a responsabilidade dos Padres João
Nicoletti e Dr. Antônio Carlos Peixoto. Com três pavimentos, o prédio
se destacava, comparado aos demais da cidade de Porto Velho. [...] As
dependências internas do Instituto são amplas e claras. Após o
vestíbulo de entrada que conserva ainda os móveis originais, vê-se a
escadaria que conduz aos outros pavimentos cujas divisões são as
salas de aula. No grande pátio do andar térreo há um afresco, de
autoria da Irmã Helena Lima Verde, retratando o sonho de D. Bosco –
a congregação salesiana, e a aparição da Virgem Santíssima rodeada
de meninas, na rua Emanuelle, em Turim – Itália, momento em que
sorrindo para D. Bosco exclamou: ‘cuide delas, são também minhas
filhas! (BORZACOV, 2007, p. 131).
Em 1º de março de 1935, o IMA passou a ocupar o prédio próprio no local
onde a escola está localizada ainda hoje. O Fiscal Escolar, Aluízio Pinheiro Ferreira,
relatou ao Diretor do Departamento de Educação e Cultura do estado do Amazonas que
o prédio da escola era “um grande prédio, situado em um dos pontos mais altos e
pitorescos, [...] é sem favor o mais majestoso que existe nesta cidade” (IMA, 2000, p.
6).
49
Taipa: sf. tabique, estuque, pau a pique (CUNHA, 2010 p. 619)
91
Figura 10: Fachada do Instituto Maria Auxiliadora, 1935
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
As aulas passaram a funcionar no novo prédio e, conforme nos mostra a foto e
o relato do Fiscal Escolar Aluízio Pinheiro Ferreira (IMA, 2000), era um prédio
majestoso. A figura focaliza a fachada, de modo a chamar atenção para o específico do
prédio, como as árvores, a calçada para caminhar e sua monumentalidade.
A escolha de construção desse prédio, um edifício monumental para a época,
parece ter como objetivo destacar os investimentos realizados pelos salesianos em uma
edificação construída e planejada para servir ao ensino, mas buscando finalidades
próprias, isto é, ser reconhecido pela população como lugar de ensino, confortável,
asseado e agradável às crianças e aos jovens, uma instituição integrada à igreja e à vida
urbana.
A ENRA serviria como instrumento difusor do ideário de modernização e de
progresso. Rosa Fátima de Souza (1998) mencionou em sua obra “Templos de
civilização: a implantação da escola primária graduada no Estado de São Paulo (1890-
1910)”, na qual se referiu à implantação da escola primária graduada de São Paulo, que
os prédios têm uma função primária, ou seja, uma utilidade prática com funções
secundárias ou simbólicas, o que implica “considerar que os artefatos são indicadores de
relações sociais e como parte da cultura material atuam como direcionadores e
92
mediadores das atividades humanas, o que confere aos objetos um significado humano”
(SOUZA, 1998, p. 169).
Também como Souza (1998), podemos notar que o edifício escolar erigido
pelos salesianos em Porto Velho naquela época era “portador de uma identificação
arquitetônica que o diferenciava dos demais edifícios públicos e civis ao mesmo tempo
em que o identificava como um espaço próprio, lugar específico para as atividades de
ensino e do trabalho docente” (SOUZA, 1998, p. 123). Analisamos que naquele deífico
monumental, cuidado por padres e freiras, os porto-velhenses confiaram e permitiram
que suas filhas pudessem estudar.
Essa nossa análise encontra eco nos autores Buffa e Nosella (1996) quando
ressalvaram a importância da representação de uma arquitetura para com a sociedade e
contexto na qual está inserida.
É importante esclarecer que a arquitetura, enquanto expressão
humana, nunca é arbitrária, casual e sim, uma linguagem orgânica aos
valores e potencialidades de uma determinada sociedade. À primeira
vista, é possível não se perceber o significado dos elementos da
composição arquitetônica de um edifício, mas, na verdade, cada
elemento materializa concepções, opções, valores, preocupações
humanas (BUFFA; NOSELLA, 1996, p. 42).
Desse modo, observamos que a construção do novo edifício concretizou o
espírito que os salesianos propunham para a cidade. Uma instituição modelo que estava
disposta a se destacar na região. Um prédio que chamava e ainda chama atenção,
localizado no ponto mais alto do centro da cidade de Porto Velho.
93
Figura 11: Área que dá acesso ao salão do Auditório/ Vista de frente e fundo do Auditório
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
O grande espaço dos corredores, salas de aula, auditórios representavam a
suntuosidade dos prédios da Congregação Salesiana. Confirmamos com Buffa e Nosella
(1996) que a construção da escola se igualava à construção dos antigos mosteiros e
sinalizava sua a importância para a sociedade.
94
Assim como os antigos mosteiros que, pela imponência arquitetônica
externa, sinalizavam para a sociedade o prestígio da vida religiosa,
enquanto o claustro interno abrigava e escondia o cotidiano –
corredores, pátios, portas das salas de aula e dos laboratórios – as
atividades escolares cotidianas, enquanto evidencia à cidade, através
de suas grades externas, sacadas e janelas, escadaria, fachada, a
sacralidade, o prestígio, a autoridade do saber (BUFFA; NOSELLA,
1996, p. 46)
Em Porto Velho, o edifício do IMA representava para a população a disciplina,
organização e conforto que a vida religiosa desfrutava. Do lado de dentro encontrava-se
a “melhor” escola para formação intelectual, moral e espiritual que os pais poderiam
desejar para as jovens da região. Do lado de fora, um templo sacrossanto de moral, de
educação e religião. Percebemos isso a partir das impressões deixadas no Livro Ata de
Inauguração da Secretaria do IMA – Termo de Visita – 1947 (relato de uma senhora que
visitou a instituição):
Foi para mim fonte de mínima satisfação e honra encontrar nesta
cidade, um educandário – pode dizer o melhor – para a formação
intelectual, moral e espiritual da sociedade amazonense. Um
estabelecimento como este com fundadores e mantenedores e serviços
para a civilização. Somente admiração pela virtuosa, piedosas e
religiosas da Congregação Salesiana, me foi dado, com
desvanecimento a “alguma coisa” edificante deste templo sacrossanto
de moral, de educação e religião que é a Escola Nossa Senhora
Auxiliadora, para a população feminina de Porto Velho. Aplausos,
louvores, mestras de completa prosperidade para sua continuação,
merece de toda patriota, de todo cristão, de toda “alguma coisa” esta
obra formidável que forma a harmonia de um concerto sua força, uma
virtude exemplar, uma instrução aperfeiçoada de mulher, apta para
entrar com uma mentalidade nova, uma educação aprimorada, uma
instituição da família, onde é o auge tutelar. O nosso educandário [...]
é majestosa manifestação da boa vontade e do interesse que vem de
Deus, a Prelazia de Porto Velho vem distribuindo o bem,
aperfeiçoando a santidade, onde a doação são os santos ensinamentos
de Cristo. Como disse, é adorável consignar felicitações, pela higiene
moderna que estão fazendo introduzida nesse estabelecimento,
melhorando a pedagogia hoje em dia (AYREDA, 1936, p. 4).
Na descrição da visita, Ayreda (1936) reproduziu a satisfação por ter visitado
um estabelecimento tão imponente como o “educandário” das religiosas da
Congregação Salesiana. Os estudos de Louro (1997, p. 58) contribuíram para
compreendermos os sentidos e representações que a obra transparecia para a sociedade.
Segundo a autora, não só a escola, seus símbolos e códigos instituiu algo a alguém, mas
também “o prédio escolar informa a todos/as sua razão de existir. Suas marcas, seus
95
símbolos e arranjos arquitetônicos ‘fazem sentido’, instituem múltiplos sentidos,
constituem distintos sujeitos” (LOURO, 1997, p. 58).
Uma “mentalidade nova”, como dito por Ayreda (1936), parece-nos que se
refereao preparo as jovens para serem boas esposas, mães e professoras que
transmitissem a educação pautada nos valores e princípios cristãos para a infância.
Tratava-se de deixar de lado algo antigo, como por exemplo, o distanciamento que
havia das mulheres para a educação e a busca por algo novo, o acesso da mulher à
educação e como ela deveria ser instruída ao ter acesso ao letramento e instrução, a fim
de acompanhar as mudanças que estavam ocorrendo em um país que se queria
articulado ao mundo moderno, oferecendo, também para as mulheres, a instrução e
letramento, ambos embasados na ideologia cristã. A mentalidade nova pode ser
equiparada ao que Le Goff (1990, p. 191) se referiu à modernidade, ou seja, o impulso
para a criação, ruptura com o antigo, com aquilo que estava em vigor nos anos
anteriores à República.
Quanto às leis que vigoravam no país, nesse contexto, encontramos a
Constituição de 1934, expressando um momento de anseio pela mudança e assinalando
duas tendências ideológicas predominantes no campo educacional comandadas pelos
católicos e os liberais. O Artigo 153 da Constituição de 1934 assinalava que o ensino
religioso continuaria de frequência facultativa e ministrado de acordo com os princípios
da confissão religiosa do aluno manifestada pelos pais ou responsáveis, e constituiria
matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e
normais.
De acordo com o Decreto nº 19.941 de 30 de abril de 1931, conforme o artigo
1º era facultado nos estabelecimentos de instrução primária, secundária e normal, o
ensino da religião e segundo o artigo 2º poderia haver dispensa às aulas de religião para
os alunos cujos pais ou tutores, no ato da matrícula, a requeressem. (BRASIL, 1931).
O Artigo 154, da Constituição de 1934, previa que os estabelecimentos
particulares de educação, gratuita primária ou profissional, oficialmente considerados
idôneos, seriam isentos de qualquer tributo. O parágrafo único do Artigo 156 previa que
para realizar o ensino em zonas rurais, a União reservaria no mínimo, vinte por cento
das cotas destinadas à educação no respectivo orçamento anual (BRASIL, 1934).
Pensamos que esse possa ter sido um dos motivos que levaria a escola a se denominar
Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora, em 1937.
96
Segundo Otaíza de Oliveira Romanelli (1978), a questão do ensino religioso
poderia ser considerada uma questão de ordem secundária na evolução do sistema
educacional brasileiro se não tivesse havido lutas ideológica no país que envolveram o
período. A autora destacou que essas lutas tiveram o ponto culminante no início dos
anos de 1930 ao serem retomadas as questões das reformas educacionais que
começaram a serem implantadas em alguns estados e assumirem um perfil renovador de
educação que dava ênfase à necessidade de se laicizar o ensino.
Porto Velho ainda era unidade administrativa do estado do Amazonas e, em
sua maioria, seguia também, portanto, as decisões quanto às leis e decretos educacionais
e administrativos em vigor naquele estado. De acordo com a Constituição promulgada
de 1935 do Amazonas, assuntos referentes à Educação e Cultura seguiriam as diretrizes
traçadas pela União, visando combater o analfabetismo dentro do seu território,
organizando o ensino em todos os graus, incentivando o desenvolvimento das letras e
das artes, das ciências e da cultura em geral (AMAZONAS, 1935, p. 324).
[...] Art. 148 - O ensino primário integral dos menores, brasileiros ou
estrangeiros, será gratuito, cabendo à família e aos poderes públicos a
responsabilidade de proporcioná-los, de acordo com as normas gerais
traçadas pela União e com o sistema educativo organizado e mantido
pelo Estado. [...] Art. 149 – Nos estabelecimentos de ensino público
de qualquer categoria, tornar-se-ão obrigatórios os exercícios
ginásticos, devendo ser estimulada e fiscalizada a prática dos
desportos nas instituições particulares. [...] Art. 151 – O ensino
religioso será facultativo e administrado de harmonia com os
princípios da confissão dos alunos, manifestada por seus pais ou
responsáveis, e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas
primárias, secundárias, profissionais e normais, desde que um grupo
de vinte estudantes pelo menos, se proponha a recebê-lo. [...] Art. 154
– Fica instituído o Conselho de Educação, com funções similares às
do mesmo órgão nacional e atribuições definidas em lei. Art. 155 – De
suas receitas orçadas, o Estado e os municípios, respectivamente,
aplicarão nunca menos de 20 a 10% da renda dos impostos na
manutenção e no desenvolvimento do ensino (AMAZONAS, 1935,
pp. 324-325).
A Constituição de 1937, Artigo 133, prescreveu que o ensino religioso poderia
ser contemplado como matéria do curso ordinário das escolas primárias, normais e
secundárias, não podendo, porém, constituir objeto de obrigação dos mestres ou
professores, nem de frequência compulsória por parte dos alunos (BRASIL, 1937).
Romanelli (1978) também fez ressalvas acerca do ensino religioso nesse período:
97
Além da laicidade, o movimento renovador reivindicava a
institucionalização da escola pública e sua expansão, assim como a
igualdade de direitos dos dois sexos à educação. Estes três aspectos –
laicidade, obrigatoriedade do Estado de assumir a função educadora e
a coeducação – constituíram o pomo da discórdia entre os educadores
que, pela Associação Brasileira de Educação, acorriam às
Conferências Nacionais de Educação. Logo, dois grupos se definiram:
o dos que promoviam e lideravam as reformas e o movimento
renovador, e o dos que, em sua maioria católicos, combatiam
sobretudo os três aspectos acima citados. A Igreja Católica, que até
então praticamente monopolizava, no Brasil, o ensino médio, estava,
desde a proclamação da República, agastada com a laicidade do
ensino, instituída pela 1ª Constituição Republicana (ROMANELLI,
1978, p. 143).
Agastada com o avanço da laicidade, a Igreja Católica ameaçada de perder o
seu quase monopólio, tratou de abrir escolas para que pudesse conquistar fieis e
conseguir garantir a sua manutenção em solo brasileiro.
No que se refere às exigências do ensino religioso, por ser uma instituição
salesiana de ensino, esse ensino era obrigatório, além de outras atividades como o
catecismo, Sacramento diário e Oratório Festivo, todas essas atividades envolviam os
ensinamentos e educação pautados em valores cristãos.
2.2 Escola Paroquial (1930-1935)
Retomando a origem da história da Escola Normal Rural Nossa Senhora
Auxiliadora, a Escola Paroquial Nossa Senhora Auxiliadora foi seu início, cujos
princípios e objetivos sempre se mantiveram pautados nas crenças professadas pelos
salesianos, o que a diferenciava das escolas públicas republicanas brasileiras, cujos
princípios naquele período eram difundir os valores republicanos e comprometer-se com
a “construção e a consolidação do novo regime”, as escolas públicas eram
características “da República e para a República”, havia um vínculo entre educação
popular e novo regime que era exaltado por profissionais da educação (SOUZA, 1998,
pp. 27-28).
Ao estabelecerem-se em Porto Velho, consoante o Histórico da instituição, as
primeiras Irmãs a iniciarem as atividades desempenharam-nas “com muito empenho,
esforço e audácia apostólica em prol da juventude, numa escola paroquial com
aproximadamente 30 crianças” (IMA, 2000). A chegada das FMA na cidade de Porto
98
Velho e o início das atividades educacionais para com as jovens da região foi motivo de
orgulho para a população local. Outro visitante deixou suas impressões no livro Termo
de Visita, em 1933, confirmando como a escola era bem vista pela sociedade porto-
velhense.
É com desvanecido jubilo que assinalo nesta pagina a ótima impressão
colhida, a visita que hoje fiz, ás escolas Salesianas de Porto Velho.
Dia de exames, em que professores e alunos comungam da mesma
sensação de respeito e afeto mútuo, respira-se, nesse mesmo tumulto
de alegrias, o ar da disciplina, da ordem, de veneração recíproca por
todos cultivada. O aproveitamento do ano escolar, demonstrado por
todos os alunos arguidos, surge logo como índice da sábia organização
salesiana, no afã magnânimo de expandir bondade e educação por
onde quer que se lhe note a estadia. Efetivamente, é de elogiar-se sem
reservas tudo o que se vê neste ambiente cristalino, de pura moral
cristã, onde salienta-se a dedicação das eméritas educadoras que
dirigem o conceituado Colégio de N. S. Auxiliadora. Com os meus
mais acentuados aplausos á grandiosa obra de preparar os meus
pequeninos patrícios para os dias incertos de amanhã, - é – me
gratíssimo deixar aqui consignados os meus ardentes votos pela
crescente prosperidade de tão distinguidos templos da instrução
(RAMOSISIFAV, 1933, p. 2).
No primeiro ano da Escola Paroquial, além das aulas de catecismo e Oratório
Festivo, funcionavam as aulas de trabalhos manuais e pintura. Borzacov (2007)
assinalou que durante muitos anos, além da administração pedagógica e do hospital, as
Irmãs “abriram cursos de corte e costura, bordado, pintura, arte culinária e confecções
de flores” (BORZACOV, 2007, p. 130).
No período correspondente aos anos de 1930 a 1935, com o Processo de nº
4.296 de 1931, as FMA deram início às atividades a Escola Paroquial, ainda sob a
direção da Irmã Carolina Rena. A partir do ano de 1932 até o ano de 1937, o Instituto
Maria Auxiliadora esteve sob a direção da Irmã Caterine Capelli (IMA, 2000).
Encontramos em 1931 uma notícia do jornal Alto Madeira fazendo um
comunicado sobre o início das aulas em 1º de maio de 1931, sob a direção das Irmãs
Salesianas de D. Bosco.
A 1º de Maio abrir-se à as aulas da Escola Paroquial confiada às irmãs
salesianas de D. Bosco. O ensino abrange o curso preliminar e
elementar. Advertências: 1º Não se admitem alunas com ida de menor
de sete anos. 2º As alunas devem ser fornecidas de farda e apresentar-
se diariamente decentemente trajadas. 3º Os pais contribuirão com a
cota de 5$000 mensais. A diretora. (ALTO MADEIRA, 1931, p. 2).
99
Ressalvamos que, apesar de obterem um perfil de “irmãs de caridade”,
notamos que as FMA cobravam pela atividade oferecida à população. No trecho
destacado identificamos a advertência assinalada logo abaixo do aviso de abertura das
aulas, a qual constava que os pais deveriam contribuir com uma cota mensal de 5$000
réis, o que contradiz ao apresentado no histórico da instituição, o qual alegava que as
Irmãs estavam fundando uma escola sem fins lucrativos. A esse respeito, encontramos
nos estudos de Boris Fausto (1995, p. 339) o conhecimento de que era comum que as
escolas religiosas fossem subvencionadas pelo Estado. Isso é confirmado com o Decreto
nº 16.728ª de 13 de janeiro de 1925.
[...] à Seção do Ensino cabe o estudo de todos os assuntos peculiares
aos estabelecimentos federais de ensino superior e secundário e a estes
equiparados, às escolas e estabelecimentos de ensino científico,
literário, artístico e profissional, subordinados ao Ministério da Justiça
e Negócios Interiores, subvencionados, mantidos ou fiscalizados pela
União, e aos institutos de ensino primário por esta subvencionados,
assim como a fiscalização dos estabelecimentos de ensino particular,
como for regulada (Art. 8º). Art. 11. A Seção do Ensino organizará a
estatística do ensino, compreendendo o ensino primário
subvencionado, o profissional, o artístico, o secundário e o superior,
subordinados ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, assim
como os estabelecimentos particulares de ensino primário, secundário
e superior. [...] Capítulo III – Do ensino primário. Art. 24. O Governo
da União, com o intuito de animar e promover a difusão do ensino
primário nos Estados, entrará em acordo com estes para o
estabelecimento e manutenção de escolas do referido ensino nos
respectivos territórios. Art. 25. Os acordos obedecerão ás seguintes
bases: b) as escolas subvencionadas serão de natureza rural; [...]
(BRASIL, 1925, p. 2).
Em 1932, o comunicado que encontramos referiu-se ao Curso Preparatório e
Elementar abrangendo o 1º, 2º e 3º anos:
Avisa-se aos senhores pais que a Diretora das Irmãs Filhas de M.
Auxiliadora, aceita a matrícula de meninas, todos os dias úteis para
curso preparatório, e do Primeiro, Segundo e Terceiro elementar. As
aulas começarão a 15 de Fevereiro. A taxa escolar ficou reduzida para
4$000 mensais. A diretora. Nota – Não se admitem meninas trajando
os exageros da moda (ALTO MADEIRA, 1932, p. 2).
Constatamos, assim, que as matrículas eram efetuadas pela secretaria da
instituição e, ao depararmo-nos com os livros de matrículas encontrados na instituição,
confirmamos que as matrículas eram registradas em livros próprios, com dados como
100
nome, filiação, naturalidade, idade, local de residência, datas de matrículas anteriores e
atuais e observações, este último referia-se à série que a aluna estava cursando e a
escola e série que frequentou o ano anterior.
Os livros de matrículas nos apresentaram os vestígios necessários para
compreendermos a proximidade ou não das famílias para com a escola, descobrindo
assim a provável condição social em que as famílias das alunas se encontravam. Além
disso, o número de alunas matriculadas e de alunas que continuaram na escola nos anos
seguintes, as respectivas séries, possíveis repetências e promoções das alunas nas séries.
Além disso, o livro também informava a procedência das escolas das alunas e, dessa
forma, foi possível descobrir que ao mesmo tempo no qual as Irmãs atuavam na Escola
Paroquial, existiam outras escolas ativas em Porto Velho. O quadro 3 apresenta-nos as
informações contidas no livro Matrícula Geral – 1931 a 1932.
101
Quadro 50
3: Livro de Matrícula, 1932
50
Transcrito conforme original, entretanto, as linhas foram transpostas para as colunas para melhor enquadramento do quadro na página.
Nome
61 62 63 64 65
Marina Pereira dos
Santos Madalena Gomes Luzia Bento de Mélo
Raimunda Bento
de Mélo Oneida Sousa
Filiação
Benedito Pereira dos
Santos
Maria dos Santos
Candido Correia Gomes
Elisa Ferreira Gomes
Teofilo Bento de Mélo
Maria de Jesus
Teofilo Bento de
Mélo
Maria de Jesus
Antonio Souza
Isabel de Souza
Naturalidade Porto Velho Jaci-Paraná Porto Velho Porto Velho Porto Velho
Idade 10 ânos 9 ânos 9 ânos 15 ânos 6 ânos
Residência Avenida Osório Rua Julho de Castilho Rua Riachuelo Rua Riachuelo Alto da Favela
Data 1ª Matrícula 1 - 5 - 1931 1 - 3 - 1931 1 - 3 - 1931 1 - 5 - 1931 1 - 3 - 1931
Matrícula atual 16 - 2 - 1932 16 - 2 - 1932 16 - 2 - 1932 16 - 2 - 1932 17 - 2 - 1932
Observações
Anteriormente
frequentava a 1ª série do
Curso preliminar, este
ano frequenta a 2ª série
do mesmo curso.
Anteriormente
frequentava a escola
publica estadual, este âno
frequenta o Curso prel.
Anteriormente frequentava
a escola publica estadual,
este âno frequenta o Curso
prelim.
No âno passado
frequentou a 2ª
serie do 2º ano,
nesta escola, este
âno frequenta o 3º
ano.
Anteriormente
frequentava a escola
publica estadual; este âno
frequenta o Curso
Preliminar.
102
No período de 1931 a 1935, encontramos no acervo da escola o livro Matrícula
Geral – 1931 a 1932, o qual trazia as seguintes informações: número de matrícula,
nome, filiação, naturalidade, idade, residência, data da primeira matrícula, data
matrícula atual e observações, conforme observamos no quadro 3. No livro Matrícula
Geral – 1933 a 1935 não aparece, contudo, as informações sobre as séries que as alunas
estavam matriculadas, tampouco, se elas eram alunas que deram continuidade na escola
ou se procediam de outras instituições de ensino.
Analisando essas observações, sopesamos que data da primeira matrícula se
referia ao início da vida escolar da aluna e a data da matrícula atual referia-se à data de
matrícula no ano em que foi registrada.
A partir da análise do livro Matrícula Geral – 1931 a 1932 constatamos que,
em 1930, além das atividades de trabalhos manuais, catecismo e Oratório Festivo, as
Irmãs haviam iniciado também as atividades do Curso Preliminar com 1ª e 2ª séries,
bem como do Curso Elementar, com a 1ª classe. Utilizamo-nos dos registros que
constavam o espaço reservado para “observações” do livro de matrículas
correspondente ao ano de 1931 para compreender e abordar o ano de 1930, pois
apareciam informações referentes ao ano escolar anterior a ele, ou seja, a vida escolar
das alunas em 1930 (IMA, 1931-1932).
No primeiro ano de funcionamento da Escola Paroquial, a escola matriculou
alunas com idade entre 5 a 11 anos distribuídas entre o Curso Preliminar e Elementar,
havendo apenas uma aluna matriculada na 1ª classe do ensino Elementar. No ano de
1931, a escola atendeu a 80 alunas matriculadas, 38 no Curso Preliminar e 42 no Curso
Elementar.
Notamos que o maior número de matrículas no ano de 1931, aproximadamente
57%, ocorreu no primeiro dia de aula, enquanto que 21,6% das matrículas ocorreram no
mês de junho, exatamente um mês após o início das aulas. Esse fato pode decorrer de
que alguns pais esperaram para ver se a escola iria se manter, ao mesmo tempo
demonstra o interesse dos pais em matricularem suas filhas, pois o maior número de
matrículas foi feito no primeiro dia.
Aparentemente, em resposta aos chamamentos públicos, como por exemplo, a
notícia do jornal Alto Madeira, citada anteriormente. Ainda em 1931, notamos, também,
que a maioria das alunas eram naturais de Porto Velho. Apenas quatro alunas procediam
de outras localidades, como Santo Antônio, Abunã, Belém e Paraíba. Todas residiam
em casas próximas à escola.
103
Não foi possível identificar a profissão ou condição social que essas famílias se
encontravam nos anos de 1930 a 1935. No entanto, como já sabemos que a escola
cobrava mensalidade, consideramos que essas famílias deveriam ter boas condições
financeiras.
Com base no livro Matrícula Geral – 1933 a 1935, os anos de 1933, 1934 e
1935 continham as seguintes categorias: número de matrícula, nome, filiação,
naturalidade, idade, residência, data da matrícula atual e observações. Pudemos analisar
o número de alunas matriculadas e concluintes a partir do livro Matrícula Geral – 1933
a 1935 e livro Atas Finais Promoções – 1932 a 1944 (IMA, 1933-1935).
Quadro 4. Matrículas no período de 1930 a 1935 dos Cursos Preliminar e Elementar 51
Curso Preliminar Curso Elementar
Total
Ano
Mat.
1ª
série
Mat.
2ª
série
Mat.
3ª
série
Total
Mat.
1ª
classe
Mat. 2ª
classe
Mat.
3ª
classe
Total
1930 6 1 9 16 1 0 0 1 17
1931 16 6 16 38 20 18 4 42 80
1932 23 24 4 51 28 24 8 60 111
1933 - 19 6 25 12 16 6 34 140
1934 - - 15 15 6 12 11 29 175
1935 - - - - 13 7 11 30 170
Fonte: Livro de Matrícula Geral – 1931 a 1935. Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
Em consonância com os livros de Matrícula Geral dos anos de 1931 a 1935
fontes encontrados e coletados, pudemos identificar duas situações. Conforme
observado no quadro 3, no ano de 1933 encontramos alunas matriculadas que estudaram
em 1932 (e continuaram em 1933) e alunas novatas. Dessa forma, em 1933, a ENRA
contava 59 estudantes que haviam adentrado na escola em 1932 e continuaram seus
estudos e 81 alunas novatas. No ano de 1934, adentraram mais 87 alunas novatas e a
instituição passou a atender 175 alunas. O ano de 1935 totalizou 169 alunas
matriculadas. Dentre elas, 80 eram alunas novatas, como apresentado no quadro número
3.
51
Nos anos de 1930 prevaleciam organizações diversas do ensino primário brasileiro com leis dispersas.
Desse modo, inferimos com dados descritos nos livros de Matrículas que ensino preliminar equivaleria
hoje ao ensino primário e ensino elementar equivaleria ao ensino fundamental.
104
Quadro 5. Disposição e denominações dos anos e séries dos Cursos Preliminar e Elementar
Curso Preliminar Ano Curso Elementar
1ª, 2ª e 3ª séries 1930-1931 1ª, 2ª e 3ª classes
1ª e 2ª séries
1932
1º ano; 1ª e 2ª séries, 2º
ano; 1ª e 2ª séries e 3º ano;
1ª, 2ª e 3ª séries
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
Analisando o livro de matrículas, notamos que houve uma mudança com
relação à nomenclatura/classificação das séries e classes dos cursos Preliminar e
Elementar. De 1930 a 1931, as Irmãs referiam-se à distribuição em 1ª, 2ª e 3ª séries do
Curso Preliminar. Para o Curso Elementar, elas referiam-se às distribuições em 1ª, 2ª e
3ª classes. Já, em 1932, as Irmãs referiram-se às seguintes distribuições: 1ª e 2ª séries do
Preliminar. O ensino Elementar passou a ser distribuído em sete séries divididas em 3
classes, 1º, 2º e 3º ano do elementar, cada um com duas séries e este último com três
séries. Muito embora a maioria dos registros utilizassem os “novos” termos, ainda
haviam alguns registros escritos com grafia diferente utilizando os termos usados nos
anos anteriores.
Quadro 6. Concluintes no período de 1930 a 1935 dos Cursos Preliminar e Elementar
Curso Preliminar
Anos
Curso Elementar
Matrícula Concluintes Matrícula Concluintes
- 16 1930-1931 - 1
38 23 1931-1932 42 27
61 30 1932-1933 50 37
- 53 1933-1934 - 48
- 62 1934-1935 - 58
- 33 1935-1936 - 58
49 40 193652-1937 74 64
Fonte: Acervo do IMA, Porto Velho/RO
52
Em 1936 houve 11 matrículas sem registro de séries ou sobre as escolas das quais as alunas procederam.
42 no Maternal, 13 no Curso Médio e 16 registrada como “Pren” quais imaginamos que poderia ser
alunas matriculadas apenas nas atividades de Prendas Domésticas.
105
Percebemos a irregularidade no número de matrículas e conclusões dos cursos
nos distintos anos. O ingresso nos Cursos Preliminar e Elementar variava de maior e
menor procura com o passar dos anos, entretanto, o Curso Elementar sempre apresentou
maior número de alunas matriculadas. Parece-nos que isso se deu devido ao número de
alunas que deram continuidade a seus estudos na instituição.
A procura por vagas no Curso Elementar era, em sua maioria, de alunas que
permaneceram nos estudos desde os primeiros anos de atividade da escola. Grande parte
do número de evasões foi percebida por alunas com idade entre 14 e 18 anos, o que nos
permite intuir ter a ver com abandono e não com a reprovação, já que na época, no
Brasil era comum que muitas moças se casassem com essa idade.
Podemos ainda pensar em outros motivos para o grande número de evasão que
poderiam ser citados: impossibilidade dos pais cumprirem com as obrigações das taxas
mensais; o fracasso da proposta pedagógica em curso que não conseguiria atender as
necessidades das moças e suas famílias; descontentamento com os processos de ensino;
a mulher na condição de mãe, esposa e do lar pode ter contribuído para o afastamento
das moças da escola; o sistema de internato que levava alunas a sofrerem com a saudade
da família; uma rotina menos regrada que talvez as moças encontrassem fora da escola e
o modo de pensar da sociedade patriarcal, conservadora e machista da época que
também pode ter contribuído para o impedimento da conclusão do curso.
As fontes, livros de Matrículas confirmaram-nos que a evasão não se deu
devido à reprovação, pois tivemos acesso aos livros de Promoções que destinou um
espaço exclusivo para falar sobre as alunas reprovadas e, conforme observado nesses
livros, poucas eram as alunas reprovadas.
A nosso ver, o Curso Preliminar dizia respeito ao curso frequentado por alunas
nos anos iniciais da infância até início da adolescência. Dentre as disciplinas ofertadas
pelo curso, deveria haver uma sala apropriada para a disciplina de Trabalhos Manuais,
pois as alunas realizavam as atividades de bordado, corte e costura, produção de
artesanatos e pintura. Disciplinas básicas e iniciais como História do Brasil, Geografia,
leitura ou Português e noções de Matemática também são ministradas em cursos
equivalentes ao que atualmente conhecemos como ensino fundamental ou ginasial (1o
grau).
O Curso Elementar nos apresentou como sendo um curso frequentado por
alunas que se demonstrassem habilitadas nas matérias ensinadas no Curso Preliminar,
106
pois percebemos que as alunas matriculadas em determinado ano no Curso Preliminar
estavam matriculadas no ano seguinte no Curso Elementar. Esse curso apresentou-se
como sendo um curso composto por classes, no caso da ENRA, 1ª, 2ª e 3ª classes, o que
possivelmente equivaleria ao ensino secundário, correspondendo cada uma a um ano
escolar, destinado a ser equivalente ao colegial ou ensino médio. Entretanto, são apenas
suposições, pois não encontramos registros sobre a grade curricular ou regimentos desse
período, na escola.
No ano de 1936, a escola passou a ser denominada Escola Nossa Senhora
Auxiliadora, pelo que podemos observar no Livro Matrícula Geral – 1936 a 1949, e
ofertava Curso Preliminar séries 1ª, 2ª e 3ª; Curso Elementar - 1º, 2º, 3º e 4º anos; Curso
Médio 1º e 2º anos; Maternal ou Jardim da Infância e trabalhos manuais.
Conforme observado, o IMA continuou oferecendo o Curso Elementar,
Preliminar e passou a oferecer o Curso Médio. Ao final do ano, a escola realizou um
exame de admissão para as alunas que estivessem aptas para iniciarem o Curso Normal
Rural, que teve seu início na escola em 1937.
As FMA dedicavam-se a formar uma mulher feminina, dócil, religiosa, cuja
pureza e virtude eram exaltadas. Ofereciam cursos para preparação inicial das alunas
que, ainda muito pequenas, já adentravam a vida escolar na Escola Paroquial,
absorvendo os valores cristãos desde novas.
O edifício escolar era um monumento arquitetônico para as pessoas da cidade.
Uma grande obra construída e localizada no ponto mais alto e central da localidade. O
colégio chamava a atenção de todos que por ali passavam. Desse modo, a ENRA
prosperaria ao longo dos anos.
107
CAPÍTULO III
ESCOLA NORMAL RURAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA EM PORTO
VELHO: A ESCOLARIZAÇÃO FEMININA NA ENRA (1937 A 1946)
A educação é o elemento de defesa para o
homem e para a mulher, quando
conhecedores dos deveres para consigo
mesmo e para com os seus semelhantes. Só
assim poderão conhecer Deus e amá-lo. A
verdadeira educação transforma as almas,
tornando-as virtuosas, dando-lhes os
elementos de que carecem para serem feliz.
(ALTO MADEIRA, 1932, p. 2)
Destacamos na epígrafe acima um excerto do editorial do Jornal Madeira que
declaradamente era uma apologia aos princípios da educação religiosa como era aquela
oferecida pela ENRA.
Neste capítulo, portanto, analisamos o percurso do curso de formação de
professoras normalistas rurais na ENRA entre os anos de 1937 a 1946. Aqui analisamos
como ocorreu a educação na ENRA, como eram as aulas, perfil de professoras e alunas
que frequentavam a escola, normas, disciplinas e regras estabelecidas para a formação
das moças.
No período de 1937 a 1946, ainda vigoravam as tendências escolanovistas, e o
período também foi identificado como uma época de “otimismo pedagógico”, pois
predominava um sentimento “de esperança de democratizar e de transformar a
sociedade por meio da escola” (ARANHA, 1996, p. 198).
Para Jorge Nagle (2001), a consequência desse estado de espírito republicano
no movimento social e político, principalmente, na Primeira República evidencia
múltiplos aspectos de conflitos sociais, com a coexistência do “entusiasmo” e do
“otimismo” que colocam a educação no centro do debate social, com o surgimento de
amplas discussões e frequentes reformas da escolarização.
108
O que distingue a última década da Primeira República das que
a antecederam, foi justamente isso: a preocupação bastante
vigorosa em pensar e modificar os padrões de ensino e cultura
das instituições escolares, nas diferentes modalidades e nos
diferentes níveis. Com isso, aparecem novos esquemas de
enquadramento desse processo ou, pelo menos, velhos esquemas
são repensados e antigas aspirações são revigoradas, com o que
se procura criar as condições institucionais apropriadas para a
sua aplicação e realização (NAGLE, 2001, p. 134).
Segundo Barros (2013), após ser proclamada a República, muitos estados
brasileiros passaram por reformas de ensino. Por um lado, predominava a promoção do
acesso da população pobre à instrução e, por outro, a garantia do acesso ao novo tempo,
o tempo moderno. Nesse momento de transformações, mesmo com a obrigatoriedade do
ensino e sua gratuidade no que dizia respeito à instrução pública primária, a realidade da
educação no ambiente rural configurava-se marcada pelo caos e por fragilidades de
políticas públicas (BARROS, 2013, p. 169).
Utilizando-nos das palavras de Maria de Fátima Cavalcanti Machado Cruz
(2000), surgiram pressões sobre a necessidade de aumentar as oportunidades
educacionais. Profundamente influenciados pelas teorias positivistas, que consideravam
a mulher, naturalmente dotada da capacidade de cuidar das crianças”, os representantes
do governo republicano encaravam o magistério como profissão para mulheres (CRUZ,
2000, p. 90).
Nesse contexto, os princípios e fundamentos do movimento escolanovista do
Brasil República iriam fundamentar as reformas estaduais do ensino primário e normal e
fornecer elementos para uma revisão crítica dos padrões de escola normal existentes.
As críticas já antigas sobre o reduzido caráter profissional das escolas
normais e a predominância dos estudos de cultura geral em seu
currículo ganhavam maior ênfase, num momento em que a “nova”
orientação do ensino requeria conhecimentos sobre o desenvolvimento
e a natureza da criança, os métodos e técnicas de ensino a ela
adaptados e os amplos fins do processo educativo. Em tais condições,
consolida-se nesse período a ideia de desdobramento dos estudos
propedêuticos e profissionais, em dois cursos distintos, quando então
são dados dois importantes passos nesse sentido: a criação ou
ampliação dos estudos complementares, preparatórios ao normal, e,
em alguns estados, a divisão do curso normal em dois ciclos: um geral
ou propedêutico e outro especial ou profissional, ainda que nem
sempre completamente diferenciados (TANURI, 2000, p. 70).
109
A Igreja Católica passou a tratar a formação do professor como uma
necessidade e uma urgência, pois associava a escola pública ao comunismo53
ao mesmo
tempo em que intentava garantir espaço junto ao governo para manter suas atividades
educativas e religiosas na população brasileira. De acordo com Flávia Obino Corrêa
Werle (2012), o esforço de formação de um contingente de professores católicos para a
zona rural era no sentido de que os mesmos poderiam atuar como um antídoto contra o
comunismo vinculado à disseminação de escolas públicas estaduais (WERLE, 2012, pp.
37-38).
No período de 1937 a 1945, estava em vigor o Governo de Getúlio Vargas,
conhecido como Estado Novo. O Brasil vivenciava um amplo processo de
industrialização do país. Com relação à matrícula de estudantes, durante a seleção nas
escolas, persistia um aspecto discriminador e a continuidade de aplicação de exames e
provas que tornavam o ensino cada vez mais seletivo, bem como prosseguia a
recomendação explícita no Decreto-Lei Nº 4.244, de 9 de abril de 1942, a Lei orgânica
do ensino secundário, de encaminhar as mulheres para os “estabelecimentos de ensino
de exclusiva frequência feminina”. (BRASIL, 1942).
Nos anos de 1937 a 1946, a ENRA se dedicou a formar professoras normalistas
rurais na cidade de Porto Velho. Portanto, houve a criação da primeira escola normal
rural de Porto Velho, a Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora, nível médio,
no ano de 1937 (IMA, 2000). Parece-nos que a instalação do curso de magistério
atendia a uma necessidade de expansão da Igreja, do conhecimento que padres e irmãs
tinham da concepção da educação regional, da falta de instituições escolares e da
necessidade que as Irmãs encontraram de fundar escolas para conquistar mais
seguidores para suas causas.
Analisando o contexto sociopolítico da época, as FMA aderiram à mudança de
foco da educação que estava sendo ofertada para a população feminina. Almeida (2001)
mencionou essa articulação entre Estado e Igreja relacionado ao ensino rural que
determinava a importância do professor rural, cuja formação era marcada por um
discurso tradicionalista de moral e ética cristãs.
As ligações entre Estado e a Igreja no plano do ensino rural são
determinantes para a compreensão do significado e da importância
53
Aranha (1996, p. 199) destacou que a reação católica, contra os representantes da escola nova, surgiu a
partir de 1920 e foi retomada na década de 1950. Configurou-se uma reação dos conservadores que se
opunham à política de laicização da escola pública.
110
do/da professor/a rural e de seu trabalho junto às comunidades do
interior. A influência da Igreja e seus discursos possibilitou
difundirem-se concepções acerca do papel do/da professor/a, a própria
noção de vocação para o magistério, encarando-o menos como uma
profissão e mais como um sacerdócio. A valorização de parâmetros
culturais rurais sob a visão do catolicismo são exemplos das relações
que se estabelecem entre Igreja e educação rural. Enfim, pode-se dizer
que a construção das identidades dos/das professores/as também era
mediada pela Igreja e pelos discursos de uma moral e ética cristãs
(ALMEIDA, 2001, pp. 98-99).
Essa mesma autora ressaltou que as primeiras Escolas Normais Rurais
mantinham vínculo com a Igreja e, além disso, destacou a relação de proximidade entre
Igreja e as pequenas comunidades rurais. Assim como a figura do padre era uma
referência – representando autoridade moral, exemplo de conduta e de postura
adequadas –, o/a professor/a, de certa forma, também deveria assumir esse lugar junto
às comunidades (ALMEIDA, 2001).
A respeito da escola normal, Sud Menucci (1934) descreveu que a formação de
professores rurais, deveria ter pelo menos três diretrizes básicas: formar um profissional
entendido de agricultura, formar um professor que seja ao mesmo tempo um enfermeiro,
formar um mestre que entre para o campo com a convicção inabalável de que precisa
ser ali um incentivador de progresso, seja qual for o atraso, a desconfiança ou a
hostilidade do meio (MENNUCCI, 1934). Defensor da escola normal rural, mais tarde
sua voz encontraria eco na configuração das escolas normais rurais que surgiriam Brasil
afora, como a ENRA, marcadas e reconfiguradas, contudo, pela influência da Igreja e de
suas preleções o que possibilitou difundirem-se concepções acerca do papel do/da
professor/a menos como uma profissão e mais como um sacerdócio como dito por
Almeida (2001).
Com a intenção de formar professoras rurais, a ENRA escola mudou seu foco
de ensino após a visita do Governador do Amazonas, Dr. Álvaro Maia.
No dia 21 de julho de 1937, Dr. Álvaro Maia, governador do
Amazonas em visita a Porto Velho, a noite vindo ao colégio, para uma
simples, mas bem preparada e apresentada academia em sua
homenagem, comovido ao ver o progresso da escola, entre outras
recomendações disse: “vocês com o colégio que dispõem já tem o
privilégio de criar uma Escola Normal Rural” (IMA, 2000, p. 3).
No livro “Ata de Inauguração da Secretaria do IMA – Termo de Visita - 1947”,
encontramos o “Relatório de Inspeção” elaborado pelo Fiscal Escolar Aluízio Ferreira
111
para o Diretor do Departamento de Educação e Cultura do Estado do Amazonas, em 7
de outubro de 1937, possibilitando a compreensão sobre o funcionamento do Curso
Normal e outras especificidades da escola, relacionado à sua arquitetura, logística das
aulas, entre outros.
Segundo esse relatório, a escola funcionava “em um grande prédio54
,
ultimamente inaugurado”, situada à Rua Duque de Caxias, “em um dos pontos altos e
pitorescos”, com três andares, 40 metros de comprimento, “possuindo todos os
requisitos higiênicos modernos e de elegante arquitetura”. E continua, “possui, no 3º
andar, três vastos dormitórios para alunas internas, medindo cada um 108 metros
quadrados e uma cubagem de 440 metros”. O 2º andar encontrava-se dividido em seis
amplas salas para aulas, servidas por um largo corredor de comunicação e o primeiro e
último andar era ocupado por “um único e bem arejado salão”, medindo 32 metros de
comprimento por 9 de largura, destinado aos atos escolares, servido, também por um
aparelho cinematográfico moderno, e, simultaneamente, por um grande palco para
exibições teatrais e conferências escolares”, além disso, tinha o edifício vasta área
coberta, “com 250 metros quadrados, 2 amplos recreios arborizados, refeitórios
condignos, copa, cozinha, sanitários e o mais exigido para o preciso conforto e higiene
de uma casa educacional”, e possuía ainda, “número suficiente de carteiras escolares
modernas, abundante material didático para o ensino de desenho, geografia e ciências”
(IMA, 1937, p. 1).
Dessa maneira, podemos observar que os eventos publicados no jornal Alto
Madeira e realizados para arrecadar fundos, ou simplesmente expor as jovens à
sociedade, apresentando o trabalho realizado pelas irmãs, na escola, eram realizados no
“grande palco para exibições teatrais e conferências escolares”, conforme descrito no
Relatório de Inspeção. As noções de higiene e questões sanitárias também foram
destacadas no relatório, o que nos leva a pensar na rigidez das autoridades em
inspecionar as instituições escolares que promovessem noções de bem-estar e saúde; um
país ainda impregnado pelos ideais higienistas.
Louro (2013) destacou que, com o passar do tempo, aumentou a procura das
famílias pelas escolas normais. Nos dizeres da autora, “a princípio são algumas, depois
muitas; por fim os cursos normais tornam-se escolas de mulheres. Seus currículos, suas
normas, seus uniformes, o prédio, os corredores, os quadros, as mestras e mestres”,
54
A imagem do prédio pode ser vista na página 89, figura 10 (IMA, 1937).
112
todos os detalhes faziam desse um espaço com um único foco: “transformar
meninas/mulheres em professoras” (LOURO, 2013, p. 454).
A organização das Irmãs mostrava-se impecável. Além das mensagens do
jornal Alto Madeira que, embora apresentem um posicionamento do jornal a favor das
atividades das FMA, os visitantes que frequentavam a escola deixavam suas impressões
no livro Termo de Visita sempre com elogios e apontando os pontos positivos. A
educação oferecida pela escola era comparada a das escolas oficiais.
Tem a Escola Normal, perfeitamente organisados e em dia, os livros
de matricula, frequencia e visitas. O estabelecimento tem sido
franqueado a quantas autoridades se tem dignado de o visitar. Os
exames finaes de cada anno teem sido presididos por diversas dellas.
No cumprimento dos deveres civicos, a Escola festeja e commemora
sempre, com galhardia e pompa, as grandes datas da patria. É de
justiça que se coroe de exito a pretensão da Missão Salesiana de
equipàrar ao ensino official sua casa de educação, o que será um dos
mais relevantes serviços pelo Governo do Estado prestado á infancia
desta região, pois os Salesianos, é notorio e sabido, veem, aqui,
desenvolvendo, dentro dos moldes christãos, um verdadeiro programa
instructivo de que resultará incalculaveis beneficios para a Familia e
para a patria (IMA, 1937, p. 2).55
Aranha (1996) ressaltou o perfil tendencioso fascista do Estado Novo,
assinalando o impacto que a Constituição de 1937 atenuou. Essa Constituição não
declarava o poder dos estados referentes à organização de seus sistemas de ensino,
porém, passava para a União, a responsabilidade para com a educação nacional,
conforme apresentado no Art. 15, § 9: “IX - fixar as bases e determinar os quadros da
educação nacional, traçando as diretrizes a que deve obedecer a formação física,
intelectual e moral da infância e da juventude”. Deslocou-se a ênfase para a sugestão da
liberdade da iniciativa privada; “no período da ditadura, o movimento renovador entra
em recesso”, entretanto, há a ampliação da oferta de escolarização (ARANHA, 1996, p.
203).
Werle (2012) destacou “o caráter seletivo da ENR”, ficando explícito a partir
da forma de admissão dos candidatos. A autora se volta para uma prova de seleção que
era exigida aos interessados no curso normal rural.
Algumas escolas organizavam um cursinho preparatório para o
processo seletivo. Esse cursinho e o exame de admissão subsequente
55
Transcrito conforme original.
113
contribuíam para o reconhecimento da qualidade do ensino e
indicavam a seletividade de que o ingresso na ENR se revestia. Em
alguns casos, a escolha do estabelecimento de ensino era mais por
condicionamentos e contingências do que pelas possibilidades que o
curso traria e a formação profissional prometida. A relação espacial
entre a escola e a residência, assim como o conceito altamente
positivo que a instituição gozava na comunidade, entrava nas
justificativas de escolha da escola. Por serem escolas de
funcionamento integral (internato), o currículo era amplo, exigente
(WERLE, 2012, p. 35).
Em consonância com o posicionamento de Werle (2012), encontrava-se a
ENRA que, conforme observado nas partes extraídas do livro Atas Escolar Normal
Rural – 1937 a 1942 o registro de 13 de novembro de 1937, quando foram realizadas as
provas orais de Português, Matemática elementar, História Pátria, Geografia, Ciências
físicas e naturais, Desenho e Caligrafia (IMA, 1937) na presença de figuras de
autoridade. Além disso, todos os livros de matrículas e termos de visita comprovam a
existência de um curso preparatório para a promoção de alunas ao Curso Normal.
Por esses caminhos, apoiamo-nos nos estudos de Louro (2015) para tentar
compreender o que representava a formação que era dada às alunas da ENRA
relacionando história, sociedade e cultura, pois “é, então, no âmbito da cultura e da
história que se definem as identidades sociais. Essas múltiplas e distintas identidades
constituem os sujeitos, na medida em que esses são interpelados a partir de diferentes
situações, instituições ou agrupamentos sociais” (LOURO, 2015, p. 12).
Nilce Vieira Campos Ferreira (2014, p. 90), ao analisar um curso normal rural
assinalou que na instituição pesquisada vigorava uma tentativa de tornar a escola um
mecanismo que promovesse a transformação do indivíduo, atrelando a educação
feminina à formação para cidadania, o comportamento considerado adequado na
sociedade e o cuidado com a família.
Em um contexto de exigências pela educação, Cruz (2000) assinalou que a
educação passou a ser vista como possibilidade de ascensão social e passou a ser uma
exigência da classe média. Consoante isso e da falta de professores, pois muitos já
haviam desistido do magistério em busca de outras opções de trabalho, a mulher foi
“chamada” a completar o quadro de professores com vistas a preencher as escolas e
possibilitar a expansão da educação nas cidades que se desenvolviam (CRUZ, 2000, p.
90).
A educação voltada para as mulheres sempre a acolheu como uma educadora
por vocação. A mulher, além de ser uma pessoa que dispunha de todas as habilidades
114
para ensinar às crianças os fundamentos básicos da ação feminina em uma sociedade
conservadora, como a porto-velhense da época, deveria ser educada. Desde 1932, eram
publicadas notas que ressaltavam que a professora deveria pautar-se por um
comportamento moral impecável e a elas cabia atender de forma assídua as exigências
determinadas por um contexto sociopolítico, conforme o excerto do jornal Alto
Madeira.
A verdadeira educação transforma almas, tornando-as virtuosas,
dando-lhes os elementos de que carecem para serem feliz. A educação
é o elemento transformador da humanidade, fazendo desaparecer da
face da terra o egoísmo, a vaidade e o orgulho, víboras de cem
cabeças que corroem a felicidade na terra. Hoje conhecedor das
misérias humanas, venho-vos: educai vossos filhos, preparando assim
para o complemento das suas provações, para que quando chamados
possam ser dos escolhidos e passar à direita do Pai Celeste (ALTO
MADEIRA, 1932, p. 2).
Aliada a essas prerrogativas de educação feminina, os princípios religiosos
deviam ser seguidos. Para Almeida (2007), a educação feminina acontecia marcada por
questões culturais modeladas pela religiosidade. Desse modo, observamos que a
educação feminina foi moldada por rígidas normas sociais. Percebemos que na
instituição em estudo, a partir do trecho de um texto publicado no jornal Alto Madeira,
clara alusão que cabia à educação feminina o papel de tornar as mulheres almas
virtuosas.
Muito embora o excerto do jornal tenha se referido à educação como um todo,
notamos que o vocabulário usado esteve sempre envolto de termos os quais,
rapidamente, associamos às questões religiosas. De acordo com o texto, a educação
transforma a humanidade para afastá-la da vaidade, egoísmo e orgulho, um dos pecados
capitais que distanciam as pessoas da salvação, do reino do céu, do Pai Celeste.
Para Almeida (2007), durante muito tempo a educação para as mulheres foi
negada. Quando essa lhe foi possibilitada passou a estar vinculada à domesticidade,
portanto, à educação caberia docilizar as mulheres. Consoante o padrão de docilidade da
época, padrão que correspondia a se submeter à doutrinação religiosa que era
representada, principalmente, pela Igreja, a qual “instalou o mito da mulher isenta de
qualquer pecado, porque a ela caberia a reprodução da raça, derivando-se desse fato
biológico uma ideia de superioridade moral, que, no entanto, não seria suficiente para
proporcionar maiores direitos ao sexo feminino” (ALMEIDA, 2007, p. 109).
115
3.1 Professoras e alunas da Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora
Partindo da concepção de que professoras e alunas são sujeitos históricos,
ativos, produtos e produtoras de cultura, procuramos analisar os livros de matrículas,
termo de visitas, livros das médias de arguições e de promoções encontrados na ENRA.
Nesse ponto, trataremos das características que envolviam as alunas e professoras da
escola normal rural das religiosas salesianas em Porto Velho, constitutivas do processo
de formação profissional.
Werle (2012) relatou que a escola normal rural já se encontrava ativa em vários
estados brasileiros nos anos de 1930, 1940 e 1950 e tinha como propósito declarado
formar professores para a docência em escolas do interior, escolas em geral isoladas, de
uma sala de aula e um professor.
No caso da ENRA, o público a ser atendido seriam as filhas das famílias que
residiam na região de Porto Velho no período correspondente aos anos de 1937 a 1946.
Apesar de ser nomeado Matrícula Geral – 1936 a 1949, esse livro de matrículas contém
informações apenas até 1944, incluindo a profissão dos pais que matricularam suas
filhas na escola. Segundo essa fonte, as profissões dos pais, mães ou responsáveis eram
militar, agricultor, ferroviário, telegrafista, costureira, negociante, ferreiro, político,
carpinteiro, contador, viajante, comerciante, vaqueiro, escrivão, sapateiro, alfaiate e
pedreiro. Outras informações contidas no mesmo livro traziam informações como data
da matrícula, nome das alunas matriculadas, sexo, data de nascimento, naturalidade,
nome e ano do curso, residência, nome dos pais, profissão dos pais e observações.
No caso da ENRA, todas as estudantes eram mulheres e somados todos os
dados, nos anos de 1937 a 1946, a partir dos livros de matrículas encontrados na ENRA,
a instituição teve 136 matrículas e 160 concluintes. Nos anos de 1937 a 1938, não
encontramos os dados de matrícula e conclusão de onde podemos inferir que não houve
registro ou eles não foram nos disponibilizados por parte das Irmãs, como podemos ver
no quadro 7.
116
Quadro 7. Situação de matrículas no período de 1937 a 1946 do Curso Normal da ENRA
Anos
1ª Série do
Curso Normal
2ª Série do
Curso Normal
3ª Série do Curso
Normal
Mat. Concl. Mat. Concl. Mat. Concl.
1937-1938 - - - - - -
1938-1939 11 11 - - - -
1939-1940 7 7 8 8 - -
1940-1941 10 9 6 6 6 7
1941-1942 7 6 5 6 5 5
1942-1943 10 9 3 4 5 5
1943-1944 9 10 4 7 3 -
1944-1945 7 15 3 7 3 -
1945-1946 8 - 9 - 7 -
1946-1947 - 31 - - - 7
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
Conforme apresentado pelo quadro 7, a matrícula das alunas no Curso Normal
oscilou no decorrer dos anos em que a escola esteve funcionando com o referido curso.
Encontramos algumas dificuldades para poder explanar mais sobre o quadro, devido à
falta de informações. Embora conseguíssemos ter acesso às fontes do acervo da escola,
no momento de analisá-las, faltavam muitas informações. Os números de algumas
matrículas não batem com o número de alunas que chegaram a concluir o curso,
entretanto, podemos afirmar que no livro de matrícula há determinados nomes das
alunas, já, no livro de conclusão, há apenas alguns outros, por isso, a discrepância nos
números.
Não conseguimos obter as publicações do jornal Alto Madeira entre os anos de
1937 a 1939. Somente a partir de 1940 é que obtivemos mais detalhes das atividades da
ENRA em Porto Velho.
Outro documento o “Relatório de Inspeção” feito pelo Fiscal Escolar Aluízio
Ferreira para o Diretor do Departamento de Educação e Cultura do Estado do
Amazonas, em 7 de outubro de 1937, encontrado no livro “Ata de Inauguração da
Secretaria do IMA – Termo de Visita - 1947”, apresentou as impressões que o Fiscal
Aluízio Ferreira teve ao inspecionar o colégio.
117
De acordo com ele, o corpo docente da instituição era “idôneo e com seus
títulos devidamente registrados na Diretoria do Departamento de Educação e Cultura”.
De acordo com o relatório, e conforme já sabemos, a instituição pertencia à
Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora, “sobejamente conhecida, pelos seus
primores educativos, em todo o Brasil” (IMA, 1937, pp. 1-2).
São professoras do estabelecimento as Irmãs Salesianas: Elvira
Pedrelli, Maria Cecilia Galvão, Maria Letice Furtado, Catharina
Capelli e Antonia Alves, 4 das quaes são brasileiras natas. Todas ellas
teem attestado de vaccina contra variola e gosam sobeja saúde, de par
com longo tirocinio, assim reconhecida cultura e aptidão para o mistér
a que se votam (IMA, 1937, p. 2)56
.
Além da formatura da primeira turma de professoras normalistas da ENRA, o
ano de 1940 foi importante para Porto Velho, também, devido à visita do Presidente
Getúlio Vargas. Às vésperas da visita presidencial, encontramos a publicação da
divulgação e convite para pais e/ou responsáveis para um “modesto entretenimento”
organizado pelas alunas da ENRA. Nesse evento, haveria também uma palestra pelo
Rvdmo. Pe. Luiz de Vasconcellos, Diretor do Colégio Dom Bosco com o tema “A
grandeza da missão da mãe cristã no lar”.
As alunas mestras da Escola Normal N. S. Auxiliadora convidam aos
DD. Pais para um modesto entretenimento organizado pelas mesmas
amanhã, 31 do corrente às 19h. Nesta ocasião, terá lugar uma
conferência pelo Rvdmo. P. Luiz de Vasconcellos DD. Diretor do
Colégio Dom Bosco, com o tema: A grandeza da missão da mãe cristã
no lar. (ALTO MADEIRA, 1940, p. 1).
No início do mês de novembro, de 1940, o jornal publicou a matéria sobre o
fim do ano escolar na ENRA. Na publicação, podemos observar a exposição das alunas
para a sociedade configurando a representação da mulher na sociedade da época ao
apresentar as atividades realizadas pelas jovens na escola.
No dia 18, perante as bancas examinadoras, as alunas dos cursos
primários deste modelar Estabelecimento de Ensino, prestando seus
exames finais, cujo resultado será depois publicado neste jornal.
Comemorando a data da festa da bandeira, todas as alunas desfilarão
no dia 19 pelas ruas da cidade, depois de terem assistido às
festividades oficiais. No dia 23, às duas horas da tarde, no salão de
Atos haverá disputadíssimo torneio religioso, no qual será proclamada
56
Transcrito conforme original.
118
a mais aplicada aluna de catecismo. No dia 24, Missa de ação de
graças a Maria Auxiliadora. Às 7 horas, na Catedral, assistida por
todas as alunas. Dia 25 às 7,30 da noite, distribuição de prêmios e
encerramento do ano escolar do Curso Primário. Dias 27 e 28 e dia 1º
de Dezembro até às 11 horas. A exposição dos trabalhos escolares e
prendas domésticas estarão abertas ao público. 1º de Dezembro, Festa
da Colação de Grau da primeira turma de professoras formadas pela
Escola Normal. Paraninfará o ato o Sr. Major Aluízio Ferreira. Desta
solenidade, que irá se revestir de um brilho excepcional, publicaremos
mais tarde o programa (ALTO MADEIRA, 1940, p. 1).
No livro Termo de Visita, encontramos uma mensagem escrita por dois
visitantes que foram à ENRA conhecer as atividades realizadas pelas FMA.
Enchi-me de muita satisfação visitando hoje a “Escola Normal Rural
‘Maria Auxiliadora’”. Aqui, sob a proteção de Deus e com a
orientação bemfaseja de suas dedicadas mestras, a mocidade se
prepara para viver no lar e na sociedade, elevando-se para engrandecer
o Brasil (FILHO; DINIZ, 1940, p. 9).
Essa forma de realização das atividades pelas FMA ministrando uma educação
para que elas se fossem as formadoras das infância e se tornassem boas esposas, mães e
professoras leva-nos à reflexão de que quando a normalista optasse pela carreira
docente, “o trabalho deveria ser exercido de modo a não afastar da vida familiar, dos
deveres domésticos, da alegria da maternidade, da pureza do lar”, como dito por Louro
(2013, p. 453).
Em 1940, ocorreu a formatura da primeira turma de professoras normalistas da
ENRA. A notícia mereceu capa no jornal Alto Madeira:
A celebração que se efetuará hoje, às 20h, no Teatro do Colégio de
Maria Auxiliadora, colando grau de professoras as senhoritas Alzira
Moreira Lima, Aurelia Banfield, Christina Courinos, Iracema
Cavalcante, Maria de Nazareth Zeed, Maria da Silva Santos e
Maturina Cavalcante, é um acontecimento que honra grandemente a
nossa cidade. A Escola Normal “Maria Auxiliadora”, embora
oficializada como Escola Normal Rural, entrega hoje ao magistério
público as sete primícias do curso e tem a convicção de dar o diploma
de “professoras” a sete senhoritas perfeitamente habilitadas no
exercício da profissão de mestras. A seriedade com que são educadas
as alunas, o completo desenvolvimento do programa das Escolas
Normais, ampliado por aulas suplementares de prendas domésticas e
sobretudo a aprimorada formação religiosa ministrada pelas religiosas
Filhas de Maria Auxiliadora, são a melhor garantia do diploma ganho
pelas novéis professoras. É por isso que a população desta cidade, que
tanto se sente orgulhosa quando aplaude as alunas do Colégio Maria
Auxiliadora, quer nas paradas cívicas, quer nas festas de arte e
119
inteligência por elas levadas a efeito, hoje com maior orgulho aplaude
estas sete prendadas senhoritas primícias da Escola Normal “Maria
Auxiliadora”. O ato será solene e o paraninfo da turma é o Exmº Snr.
Major Aluizio Ferreira. Agradecemos o gentil convite que nos foi
enviado pela Diretoria d’aquele educandário, para assistirmos ao ato
que ali será levado a efeito, hoje, às 20 horas (ALTO MADEIRA,
1940, p. 1).
A figura 12 mostra a placa de formatura da turma das primeiras professoras
normalistas da ENRA.
Figura 12: Formandas da primeira turma de professoras normalistas da ENRA
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
120
Um elemento que aparece na Placa de Formatura acima é a presença de
militares. Cabe-nos lembrar que o período era marcado pela militarização comum ao
Estado Novo. Assim, cabia homenagens aos militares, que representeavam a ordem e o
progresso lemas do período. Outro momento de presença militar era nas arguições
avaliativas, nos eventos, entre outros. Esse é um elemento que, de certa forma, sinaliza a
educação alinhada aos ideários da ditadura que vigorava no período.
As Irmãs que participavam do grupo da Pia União das Filhas de Maria
encontravam-se mensalmente. Comprovamos esse fato com a publicação no jornal Alto
Madeira sobre a reunião mensal do grupo “o vigário e o Conselho convidam
encarecidamente para que todas compareçam na hora pontual” (ALTO MADEIRA,
1941, p. 2).
No documento Histórico do Instituto Maria Auxiliadora, encontramos uma lista
das irmãs que dirigiram e ministraram aulas na instituição, a partir de 1940, quando se
denominava Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora, até 1946, período ao
qual se limita nossa pesquisa.
Quadro 8. Quadro de diretoras e professoras que trabalharam na Escola Normal Rural Nossa
Senhora Auxiliadora (1940-1945)
Ano Irmãs Diretora Irmãs Professoras
1940
Elisa Ferreira da Silva
Ir. Cecília Galvão
Ir. Maria de Lourdes M.
Ir. Etelvina Cerqueira
Ir. Elvira Pedrelli
Ir. Luisa Ghinaudo
1941
Elisa Ferreira da Silva
Ir. Cecília Galvão
Ir. Maria de Lourdes M.
Ir. Etelvina Cerqueira
Ir. Elvira Pedrelli
Ir. Maria Rosa Meroni
1942
Elisa Ferreira da Silva
Ir. Maria de Lourdes M.
Ir. Etelvina Cerqueira
Ir. Maria Rosa Meroni
Ir. Joanita Furtado
Ir. Sílvia Moura
1943
Elisa Ferreira da Silva
Ir. Maria de Lourdes M.
Ir. Etelvina Cerqueira
Ir. Maria Rosa Meroni
Ir. Joanita Furtado
Ir. Antonieta Barbosa
121
1944
Elisa Ferreira da Silva
Ir. Etelvina Cerqueira
Ir. Maria Rosa Meroni
Ir. Silvia Moura
Ir. Joanita Furtado
Ir. Antonieta Barbosa
Ir. Djanira Araujo Lima
Ir. Luisa O. Guedes
Ir. Zelia Machado
1945
Elisa Ferreira da Silva
Ir. Etelvina Cerqueira
Ir. Silvia Moura
Ir. Joanita Furtado
Ir. Maria Antonieta Valente
Ir. Maria Antonieta
Cavalcante
Ir. Djanira Araujo Lima
Ir. Luisa O. Guedes
Ir. Luisa Ghinaudo
Ir. Luisinha Pasi
Ir. Maria de Lourdes
Garcia
1946
Elisa Ferreira da Silva
Ir. Anna Ferreira
Ir. Anete Marinho
Ir. Djanira Araujo Lima
Ir. Joanita Furtado
Ir. Luisinha Pasi
Ir. Etelvina Cerqueira
Ir. Luisa Ghinaudo
Ir. Maria Antonieta Valente
Ir. Maria Antonieta
Cavalcante
Ir. Maria de Lourdes
Garcia
Ir. Sílvia Moura
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
Conforme apresentado no quadro 8, as Irmãs administravam e dirigiam a
escola, bem como ministravam aulas. Percebemos que houve um aumento no corpo
pedagógico da instituição a partir do ano de 1941, e associamos esse fato ao aumento,
também, do número de alunas matriculadas na escola a partir daquele ano.
Ressaltamos que, de acordo como mostra o quadro 8, a partir de 1932, ano no
qual encontramos registro de matrículas, até ao ano 1946, comprovamos o progressivo
122
aumento57
no número de alunas matriculadas. Desse modo em 1930, 17 alunas foram
matriculadas, em 1931, 80 alunas. Em 1933, 140 alunas matriculadas. 175 foram os
registros de matrículas do ano de 1934. Em 1935, 170 matrículas. No ano de 1937, 254
matrículas. Em 1938 e 1939 houve uma diminuição no número de registros de
matrículas, se comparado ao ano anterior de 1937, pois apenas 153 e 175 alunas foram
registradas, respectivamente. Em 1940, voltou a aumentar a frequência de alunas na
escola, com o registro de 225 matrículas. Em 1941, 300 alunas foram matriculadas. Em
1942, o número voltou a diminuir, sendo apenas 248 alunas registradas no livro de
matrícula. Os anos de 1943, 1944 e 1945 o número permanece menor que o de 1941,
totalizando 244, 271 e 248 alunas matriculadas, respectivamente. Em 1946, mais alunas
voltaram a procurar a instituição e o número de matrículas aumentou para 370. Como
podemos notar, o número dos registros de matrículas oscilou durante os anos de 1930 a
1946 na instituição, mas progrediu significativamente.
Em 1941, também houve publicação sobre a colação de grau das alunas que
entraram em 1938 no mês de novembro. Formava-se, então, a segunda turma de
professoras normalistas da ENRA, totalizando o número de 5 alunas:
Perante uma numerosa e seleta assistência, realizou-se na noite de
Sábado do dia 22 do corrente no amplo salão de festa do Colégio N. S.
Auxiliadora a solenidade de colação de grau das alunas do curso
normal, que neste ano terminaram os estudos. Entre os diversos
números da festa, destacou-se pela sua originalidade, a “Homenagem
das Bonecas” desempenhados pelo Jardim da Infância, que muito
agradou e recebendo calorosos aplausos. Em nome das normalistas
falou a normalistanda Iracema Oliveira, tendo o Ver. Padre Adriano
Tourinho, como representando do paraninfo Dr. Álvaro Maia,
pronunciado um belo discurso. Nos intervalos foram executados pelas
alunas diversos trechos musicais, merecendo justos aplausos. Mais
uma vez enviamos as nossas felicitações as senhoritas Eladia Campos,
Iracema Oliveira, Julieta Mateus, Odaléa B. Costa e Sebastiana Brito
pela terminação do curso normal, ao mesmo tempo que nos
congratulamos com a diretoria do Colégio de N. S. Auxiliadora pelo
brilhantismo da festa (ALTO MADEIRA, 1941, p. 1).
Segundo Erinalva Lopes dos Santos (2010), a imprensa oferece ao pesquisador
uma amplitude de perspectivas, ao expor uma diversidade de personagens, de planos,
temáticas, entre outros. Segundo a autora, o uso da imprensa como fonte de pesquisa
caracteriza “uma perspectiva historiográfica disseminada pelos ventos da Nova História
57
Vide quadro 4, página 100.
123
Cultural”, tornando acessível novas fontes, novas abordagens, e “à entrada de
indivíduos outrora ignorados como sujeitos da historiografia” (SANTOS, 2010, p. 32).
Em 1942, a ENRA começou a divulgar as matrículas para alunas externas e
semi-internas.
Acham-se abertas, desde hoje, 1º de Fevereiro, as matrículas para
alunas externas, internas e seminternas deste Colégio. Afim de que as
alunas do ano passado possam ter direito ao mesmo número de
matrícula, pedimos aos senhores responsáveis que nos participem
quanto antes a volta das mesmas para o Colégio. As aulas começarão
no dia 2 de Março. A diretoria. (ALTO MADEIRA, 1942, p. 2).
Apresentar as alunas para a sociedade mostrando as tarefas desenvolvidas por
elas na ENRA, conforme observamos, era comum. Sempre com chamadas para eventos
convidando a sociedade. Constatamos que o jornal Alto Madeira era utilizado como
importante fonte para divulgação das atividades realizadas pela instituição e como
forma de divulgar a matrícula, favorecendo a entrada de mais alunas na ENRA.
De acordo com Louro (2013), muitos rituais, doutrinas e normas eram
mobilizados para a formação dessas mulheres professoras.
Na noite do dia 24 do corrente, no elegante salão do teatro Salesiano
do Colégio Maria Auxiliadora, realizou-se um festival dos
Congregados Marianos, tendo ocupado a tribuna o Exmo. Sr. Dr.
Araújo Lima, que pronunciou uma brilhante peça oratória alusiva à
festividade, havendo também uma representação teatral que muito
agradou à numerosa e seta assistência. Hoje, quinta-feira 28, às 20
horas, haverá no Salão do Colégio Maria Auxiliadora, um pequeno
festival que as alunas e ex alunas farão em benefício da futura Capela
de Maria Auxiliadora. Confiamos no apoio generoso dos amigos das
obras Salesianas. 1ªs cadeiras, 5$000; 2ªs cadeiras, 3$000. Vendem-se
entradas na Bilheteria do Colégio (ALTO MADEIRA, 1942, p. 3).
O ano de 1942 datou a colação de grau da terceira turma formada pela Escola
Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora.
No próximo Sábado, dia 21 do corrente, a nossa cidade vai assistir a
colação de grau da 3ª turma de normalistas da Escola Normal de N. S.
Auxiliadora. É mais uma etapa vencida, é mais um grupo de moças
distintas que venceram galhardamente a difícil tarefa e estão prontas
para exercer a nobre profissão de ensinar a instrução primária. No
próximo número daremos os nomes das moças que vão colar grau.
Sabemos que a exposição dos trabalhos escolares, será realizada nos
124
dias 19, 20, 21 e 22 do corrente, nos amplos salões do colégio (ALTO
MADEIRA, 1942, p. 2).
As alunas que formaram em 1942 foram Eléa Batalha da Costa, Inêz Guzmán,
Izaura Helena Menezes, Ruth Tancredi Rodrigues e Wanda Campos de Souza. A turma
teve como paraninfo a figura de autoridade Sr. Dr. Joaquim de Araujo Lima, diretor
interino da Madeira Mamoré (IMA, 2000).
Em 1943, outro visitante que foi à instituição conhecer a ENRA deixou suas
impressões no livro Termo de Visita:
Ficamos verdadeiramente impressionados com a notável organização
do Colégio N. S. Auxiliadora, sob a esclarecida direção da Irmã Elisa
Ferreira da Silva. Instalações sem luxo, revelando, entretanto,
extremos cuidados higiênicos deixariam certamente a melhor das
impressões. Mas, não são estes cuidados materiais que cativam os
visitantes, sim a evidente educação religiosa, carinhosamente
destinada a mais de uma centena de meninas patrícias, que ao
imperceptível comando da Irmã Diretora sabem se manifestar a ponto
de comover a assistência. Saímos certos de que esse estabelecimento
educacional esta concorrendo sabiamente, para o engrandecimento de
nosso querido Brasil (JORGE, 1943, p. 11).
Conforme podemos perceber com a mensagem escrita por Fernando Jorge ao
visitar a escola, em 1943, o fato crucial da boa educação das moças e funcionamento da
ENRA era o perfil religioso da escola.
Podemos observar, como dito por Perrot (2007), que sempre, e em toda parte,
existiu uma relação forte e direta entre religião e mulher. No que concerne à educação,
era preciso educar as meninas e instruí-las apenas o necessário para “torná-las
agradáveis e úteis: um saber social” (PERROT, 2007, p. 93).
3.2 As Orientações da Instituição: normas, disciplinas, regras
Compreender o processo pelo qual as alunas matriculadas na ENRA
consolidaram sua formação profissional no contexto de nossa sociedade tornou-se para
nós, uma necessidade de tentar desvelar essa trajetória. Impõe-se, assim, o cuidado de
buscar atentar para os diferentes fios que tecem este intricado processo que representa a
constituição do ideário feminino da formação das moças na ENRA.
125
O quadro 9 apresenta os cursos ofertados pela escola no período de 1937 a
1946. Esses cursos incluíam a oferta dos cursos: Jardim da Infância, a partir de 1937, e
depois, apenas em 1941, com a duração de um ano; Preliminar, Elementar I, II e III até
1943, a partir de 1944 contando, também, com Elementar IV e Elementar V, que
imaginamos ser equivalente ao Definitivo I; Definitivo I, entre os anos de 1937 a 1938 e
Definitivo II a partir de 1938 até 1943; Preparatório; I Série Normal Rural de 1937 a
1938, II Série Normal Rural de 1939 a 1945 e III Série Normal Rural em 1946.
Provavelmente, podemos afirmar que o Jardim da Infância era o curso que
atendia às crianças, ou seja, a educação da infância. O Curso Preliminar referia-se ao
ensino que atualmente conhecemos como 1ª e 2ª séries do ensino fundamental, o Curso
Elementar I e II ao que hoje conhecemos por 3ª e 4ª séries, Curso Elementar III à 5ª
série, Definitivo I, 6ª série, Definitivo II, 7ª série e Preparatório provavelmente um
curso que preparava as alunas para adentrarem no curso profissionalizante Normal
Rural.
O Curso Normal da ENRA atendia às exigências de ser um curso com duração
de três anos. A primeira formatura ocorreu no ano de 1940, o que leva a ponderar que
em 1937 teve início a primeira turma, muito embora não tenhamos encontrado os dados
de matrícula, e portanto, a primeira turma o concluiu o curso em 1939, mas as notícias
sobre a formatura foram publicadas em 1940.
126
Quadro 9. Cursos da Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora (1937-1946)
Quadros - Cursos
Ano 1937 1938 1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945 1946
Curso
Jardim da
Infância Preliminar Preliminar Preliminar
Jardim da
Infância Preliminar Preliminar Preliminar Preliminar Preliminar
Preliminar I Elementar I Elementar I
Elementar Preliminar I Elementar I Elementar I Elementar
I
Elementar
I
Elementar
I Elementar II Elementar II
Elementar
II
Elementar I Elementar
II
Elementar
II
Elementar
II
Elementar
II
Elementar
II
Elementar
II
Elementar
III
Elementar
III
Elementar
III
Elementar II Elementar
III
Elementar
III
Elementar
III
Elementar
III
Elementar
III
Elementar
III
Elementar Definitivo I Definitivo I Definitivo III Elementar I Definitivo I Definitivo
IV
Elementar
IV
Elementar
IV
Elementar
Definitivo Preparatório II
Definitivo
II
Definitivo I Definitivo II Definitivo II Definitivo V Elementar
I Série
Normal
Rural
I Série
Ginasial58
Preparatório
I Série
Normal
Rural
Preparatório I Série
normal II Definitivo Preparatório Preparatório Preparatório
II Série
Normal
Rural
III Série
Normal
Rural Normal
Rural
I Série
Normal
Rural II Série
Normal
Rural
Preparatório
I Série
Normal
Rural
I Série
Normal
Rural
I Série
Normal
Rural
II Série
Normal
Rural
I Série
Normal Rural II Série
Normal
Rural
II Série
Normal
Rural
II Série
Normal
Rural II Série
Normal Rural Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
58
Observamos que em 1946, no registro do livro, o curso IV Elementar passou para I Série Ginasial e não para II Série Normal Rural, apenas por associação do curso normal
rural ao curso ginasial. Provavelmente, nesse ano não teve o I Série Normal Rural e II Série Normal Rural, pois seria o último ano do referido curso na ENRA.
127
Analisando o quadro acima, é possível perceber que as FMA formavam as
professoras e provavelmente contavam com elas para a monitoria, auxílio ou mesmo
como um “sistema de estágio” para atuarem nas séries iniciais ou no Jardim da Infância.
Certamente, também perceberam que formar professoras rurais seria uma saída para
obterem recursos junto ao governo local, regional ou nacional, para manterem a
instituição em funcionamento, bem como para conquistarem mais alunas. Avaliamos
que, dessa forma, ao lado do ensino elementar, as Irmãs deram início ao curso normal
rural como descrito no histórico da instituição. Cabe lembrar que no período vivia-se o
movimento ruralista:
Trata-se do movimento ruralista – oriundo já do final da segunda
década –, com propostas e iniciativas no sentido de ajustar os
currículos da escola primária e normal às peculiaridades do meio.
Buscava-se utilizar a escola para reforçar os valores rurais da
civilização brasileira, para criar uma consciência agrícola e assim se
constituir num instrumento de fixação do homem ao campo. Com
vistas à preparação de professores especializados para o magistério na
zona rural, defendeu-se a criação de “escolas normais rurais”, cuja
denominação expressava não apenas a localização da escola em zonas
agrícolas e pastoris, mas sobretudo o objetivo de transmitir
conhecimentos de agronomia e higiene rural (TANURI, 2000, p. 75).
Tratava-se de um período59
em que a maior parte do território brasileiro se
encontrava denominado como rural, inclusive Porto Velho, que na época poderia ser
considerada assim.
As disciplinas ministradas para as alunas do curso normal rural da ENRA
podem ser visualizadas no quadro a seguir, cuja composição mostra a concepção de
educação e formação projetadas para as moças da ENRA no período analisado. Na
Constituição Federal de 1937 ficou estabelecido, em seu Artigo 131, que a disciplina de
educação física, o ensino cívico e o de trabalhos manuais seriam obrigatórios em todas
as escolas primárias, normais e secundárias, sem exceção, estabelecendo, assim, uma
orientação comum ao período, que praticamente configurava um treinamento militar, o
ideário preconizado pelo governo getulista que estava no poder na época: era preciso
alfabetizar, mas sem descuidar dos princípios de disciplina e civismo.
59
No período do movimento ruralista a primeira escola normal rural do país foi instalada, conforme
compreendido a partir dos estudos de Ribeiro (2015) que, ao investigar a história do Museu Vilas Novas
Portugal, voltou aos anos de criação da primeira escola normal rural do Brasil, Escola Normal Rural de
Juazeiro do Norte, em 1934. A respeito ver:
<http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/11771/1/2015_dis_qlfaribeiro.pdf>. Acesso em: out.
2015.
128
Quadro 10. Disciplinas do Curso Normal Rural (1937 – 1941)
Disciplinas ministradas/Ano
1938 1939 1940 e 1941
1ª série 1ª série 2ª série 1ª série 2ª série 3ª série
Português Português Português Português Português Português
Matemática Matemática Matemática Matemática Matemática Matemática
Trabalhos
Manuais
Trabalhos
Manuais
Trabalhos
Manuais
Trabalhos
Manuais
Trabalhos
Manuais
Trabalhos
Manuais
Música Metodologia
Música Música Música Desenho Desenho
Música Desenho Desenho Desenho Francês História da
Civilização
Desenho Francês Francês Francês Geografia Física e
Química
Francês Geografia Coreografia Geografia Educação
Física
Educação
Física
Geografia
Educação
Física
Educação
Física
Educação
Física Pedagogia Psicologia
Ginástica
(ou
Educação
Física)
Ciências Enfermagem Enfermagem
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
Podemos notar, também, que as alunas frequentavam diversas aulas. As
disciplinas incluíam: Matemática, Português, Música, Desenho, Francês, História da
Civilização, Física e Química, Geografia, Ciências e Ginástica ou Educação Física e
conhecimentos específicos como Trabalho Manuais, Pedagogia, Enfermagem e
Psicologia. Com isso, percebemos uma maneira pela qual a mulher deveria ser formada:
As escolas normais deveriam formar professoras para um desempenho
profissional calcado no humanismo, na competência e na moralidade.
Às mulheres, essa educação, em nível médio, deveria bastar,
mantendo-se o sexo feminino com um destino profetizado e ocupando
o segundo lugar na esfera social (ALMEIDA, 2007, p. 99).
Na ENRA, na disciplina Trabalhos Manuais era ensinado corte e costura,
pintura, bordados, aulas de culinária, artesanato entre outros (IMA, 2000).
Embora Almeida (2007) tenha tratado das escolas normais no geral,
observamos que o Curso Normal Rural da ENRA deveria formar professoras para
129
atuarem no meio rural, uma vez que as localidades onde iriam atuar estavam situadas
distantes dos centros urbanos. Mesmo as disciplinas de formação geral como Português,
Matemática, Geografia Nacional, História do Brasil e Geral, História Sagrada,
Catecismo, Pedagogia, Psicologia, Economia doméstica, Trabalhos Manuais, Higiene
Escolar, Sociologia entre outras, eram permeadas pelos valores religiosos na ENRA.
Cabe, ainda, uma ressalva: mesmo o curso sendo nomeado como Curso Normal Rural,
não identificamos nenhuma disciplina que estivesse voltada especificamente para essa
realidade.
Primeiramente, a escola buscou educar e instruir as jovens sob o ensino de
disciplinas destinadas a desenvolver o conhecimento, prescritas pelas políticas públicas
educacionais juntamente com a transmissão de valores católico-cristãos. Embora ainda
sob os princípios religiosos, estaria, agora, organizada e focada em formar professoras
normalistas rurais (AZZI, 2002).
O “Relatório de Inspeção” elaborado pelo Fiscal Escolar Aluízio Ferreira para
o Diretor do Departamento de Educação e Cultura do Estado do Amazonas, na data de 7
de outubro de 1937, permitiu saber alguns detalhes sobre o funcionamento do curso
normal na instituição. Segundo ele, “tem a Escola Normal, perfeitamente organizados e
em dia, os livros de matrícula, frequência e visitas”, bem como estaria prestes a ser
realizado o registro das matrículas referentes ao ano de 1937, a fim de ser enviado ao
Departamento de Inspetoria Escolar Regional o registro quando concluído, por
solicitação do Sr. Presidente da Inspetoria Escolar Regional. Isso significa que a escola
preparava o registro de matrículas das alunas ao final do ano letivo, e após finalizá-lo,
encaminhava para a Inspetoria Escolar Regional. Em 1937, tinha a Prelazia
encomendado, da capital da República, um laboratório de física e química (IMA, 1937,
p. 1).
Quanto ao funcionamento das aulas, elas aconteciam de forma regular, com as
cadeiras exigidas para o curso oficial do Estado (IMA, 1937, p. 1).
As aulas funccionam das 8 ás 11 e das 14,30 ás 17,30 horas, com
maximo de 40 alumnas em cada classe. No presente anno, a matricula
attingiu a 254 alumnas, assim distribuidas: Jardim da Infancia – 60;
Curso Infantil – 90; 1º anno – 34; 2º anno – 26; 3º anno – 24 e 4º anno
– 16; curso de preparatorio – 10. - As ferias escolares são de dois
meses e meio, começando em fim de Novembro e terminando a 15 de
Fevereiro.60
60
Transcrito conforme original.
130
Interessante notar que o cotidiano das moças era rigorosamente planejado e
controlado e os “movimentos e suas ações são distribuídos em espaços e tempos
regulados e reguladores. Elas devem estar sempre ocupadas, envolvidas em atividades
produtivas” (LOURO, 2013, p. 455).
Em 13 de novembro de 1937, foram realizadas as provas orais de Português,
Matemática elementar, História Pátria, Geografia, Ciências físicas e naturais, Desenho e
Caligrafia (IMA, 1937). Um dos documentos encontrado na escola, intitulado Livro
Atas Escolar Normal Rural – 1937 a 1942, aberto e encerrado por Joaquim Valente,
fiscal do Governo Estadual, descreveu o acontecimento no dia do exame oral, as
autoridades presentes e a sua satisfação em comprovar o trabalho realizado pelas Irmãs:
Ata 1ª. Aos treze de novembro de mil novecentos e trinta e sete, às
nove horas, no edifício da Escola Normal Rural “Nossa Senhora
Auxiliadora” desta cidade de Porto Velho Estado do Amazonas,
estando presentes o Senhor Joaquim Rodrigues Valente, d. Fiscal do
Governo Estadual junto à dita Escola e as Rvdas. Irmãs Catarina
Capelli e Elvira Pedrelli, respectivamente Diretora e Secretaria da
Escola, reuniu-se a comissão abaixo mencionada e assinada afim de se
proceder a uma prova oral parcial prestada pelas alunas do Curso
Preparatório desta Escola Normal e cujo resultado concorreria para a
formação da media mensal do corrente mês letivo de novembro. Tinha
a comissão como presidente o Rvmo. Pe. Antonio Carlos Peixoto, e
como examinadores o Dr. José Ferreira Sobrinho, d. Prefeito
Municipal o acadêmico Roosevelt Pereira de Melo e o Professor
Carlos Costa. À convite da Diretoria da Escola achava-se também
presente ao ato o Exmo. Sr. Dr. José, da Silva Castanheira, d. Juiz de
Direito da Comarca. Não podia ser mais satisfatório o resultado desta
prova em que as alunas revelaram conhecimento cabal das diferentes
matérias constitutivas do programa. Finalizado o ato o Exmo. Sr. Dr.
juiz de Direito tomou a palavra e em veemente improviso felicitou o
Corpo Docente da Escola na pessoa da sua Diretora, pelo brilhante
êxito da presente prova, enalteceu a atividade prodigiosa das R. Irmãs
Salesianas e fez notas para que a instrução tivesse em toda a parte
mestras tão dedicadas e sacrificadas. [...] (IMA, 1937, pp. 1-2).
De acordo com o registro citado acima, arguições de prova oral parcial para
obter a média do mês letivo aconteciam a cada dois meses e meio. Além disso, também
é possível analisar a partir desse excerto que as Irmãs tratavam de ser reconhecidas pela
sua capacidade de agir, dialeticamente, entre modernidade e tradição para conquistar a
população porto-velhense. O Fiscal do Governo Estadual, Joaquim Valente, demonstrou
o sentimento de enaltecimento das pessoas ao compartilharem momentos solenes na
131
escola das religiosas, enaltecendo a “atividade prodigiosa das R. Irmãs Salesianas”,
elogiando as professoras como mestras “dedicadas e sacrificadas” (IMA, 1937, 2).
Sopesamos que o labor educativo das Irmãs deveria ser descrito para a
sociedade e encontrar crescentes oportunidades para propagar sua missão específica,
interagindo com a comunidade, com o grupo de educadores que se manifestavam na
imprensa e jornais e que ressaltavam seu empenho no campo educativo. Ao agir dessa
forma, ponderamos que as Irmãs acreditavam que cada vez mais seus pais confiariam a
educação de suas filhas à ENRA.
Em 1938, o Curso Normal foi reconhecido pelo governo e começou a
funcionar regularmente na ENRA. No histórico da instituição consta que a escola foi
reconhecida pelo Art. 3º da Portaria Ministerial nº 378 de 10 de outubro de 195061
. O
livro Atas Escolar Normal Rural-1937 a 1942 e o livro Média das Arguições Curso
Preparatório-1938 a 1946 permitiram identificar as disciplinas ministradas no Curso
Normal Rural.
Gomes (2007) ressaltou que a ENRA estava inscrita na instrução pública do
estado do Amazonas, em 1938, mantendo os cursos Jardim da Infância, Elementar,
Médio ou Definitivo, preparatório e Normal, permanecendo ainda o Oratório Festivo e
cursos dominicais de catecismo, “nos quais poderiam comparecer pessoas estranhas à
casa, desde que sua conduta fosse isenta de costumes prejudiciais à boa ordem e à moral
do Instituto” (GOMES, 2007, p. 109).
No livro Ata de Inauguração da Secretaria do Instituto Nossa Senhora
Auxiliadora, de Porto Velho, Território Federal de Guaporé (IMA, 1938) percebemos a
concepção de educação que era preconizada na instituição.
É justo salientar que este Colégio que honra e enobrece esta terra, tem
como padrão: irrepreensível e moderna metodização de ensino a par
de impecável ordem e disciplina moral-religiosa, o que é comum a
todos os educandários salesianos, os quais, como nossos milenaicos ai
estão para atentar, os relevantes e inolvidáveis serviços prestados a
sacrossanta causa do combate ao analfabetismo, por esse abençoado
exército de servos e servas de Deus, moldados nos grandiosos e
glorificados exemplos do inesperado fundador de sua ordem: S. João
Bosco (IMA, 1938).
61
A ENRA no mesmo período ofertou outros cursos como Jardim da Infância (até 1937 e depois voltou
em 1941); Curso Preliminar 1ª e 2ª séries; Curso Elementar 1º, 2º e 3º anos; Curso Preparatório e Curso
Definitivo 1º e 2º ano. Porém, nesse estudo ateremos nossa análise ao Curso Normal Rural.
132
Como podemos notar no excerto acima, eram ressaltados o método de ensinar
de D. Bosco e as virtudes da ordem e da moral religiosa. O Fiscal da ENRA, Joaquim
Valente, em 1938 relatou essas impressões no livro de visitas da escola. Para Joaquim
Valente, as 11 alunas matriculadas no Curso Normal da ENSA transpareciam “o grau de
aproveitamento” da disciplina e ordem empreendidas pela escola, ressaltando a
grandiosidade da obra, como um “educandário modelar, reflexo moral da grandiosa
obra de São João Bosco em prol da educação da mocidade” (IMA, 1938).
[...] Aqui deixo consignado o meu voto de louvor a Reverenda
Diretora do Estabelecimento e ao corpo docente da Escola Normal
Rural, pelo acentuado progresso das jovens educandas, nas diversas
matérias do seu curso; e, em nome do Governo do Estado, que
represento, os meus agradecimentos, pelo muito que vem fazendo em
prol da difusão do ensino nesta afastada missão do Amazonas (IMA,
1938).
Conforme mencionado anteriormente, ingressaram 11 alunas na turma do
Curso Normal da ENRA, no ano de 1938, e 11 concluíram o curso. Na busca dos dados
de matrículas das alunas, encontramos informações que nos indicaram a provável
realidade social das alunas que frequentavam a ENRA, bem como de suas famílias,
sendo possível identificar um perfil socioeconômico das jovens educandas.
No livro Atas Escolar Normal Rural - 1937 a 1942 (IMA, 1937-1942)
encontramos as descrições de aprovações em provas e as respectivas médias das alunas
que realizaram as provas de cada disciplina.
No outro importante livro do qual encontramos informações relevantes, o livro
Ata de Inauguração da Secretaria do IMA – Termo de visita – 1947 (IMA, 1947)
contém informações e relatos dos visitantes da instituição. A exemplo, a impressão do
Coronel Inspetor de Fronteiras e sua esposa, Maria Alice Andrinsf da Cunha, em 1938:
Educando as crianças no amor a patria, o fazem atraves do amor a
Deus, porque esses elevados sentimentos a completam, dignificando a
creatura aos olhos do Creador. As de Barcelos S. Gabriel, Taracuá,
Jaureretê, nos Rios Negro e Waupés (hoje, Uaupés), assim procedem
com as nossas irmãs da selva, incorporando-as á nova civilização
cristã. Ainda mais, o ensino que ministram, por meio de suas escolas
profissionais, completam a obra a que se dedicam com amor e
renuncia. Desse modo, essas missionarias transformam as nossas
selvagens em elementos sociaes e economicos, fasendo deles boas
brasileiras em quem a Patria muito espera e já confia. Neste Colegio
de Porto Velho que tenho a satisfação de visitar, não se fas exceção:
essas meninas, educadas na atmosféra do espirito salesiano, serão, sem
133
duvida, as bôas esposas de amanhã, fatores incontestes da grandesa
moral da nossa Patria. Meus parabens, Exma. Diretora deste colegio,
parabens que peço tornar extensivo a todas as suas dedicadas
colaboradoras e as suas dignas alunas. Porto Velho, 4 de Junho de
1938 (CUNHA, 1938, p. 7).
Nos arquivos do Instituto Maria Auxiliadora, atual escola das FMA, no livro de
matrículas de 1939, identificamos que as Irmãs começaram a registrar a profissão dos
Pais, titulares ou responsáveis das alunas matriculadas. Para nós, foi interessante ter
conhecimento sobre os locais de residência das famílias das alunas e da profissão de
seus pais, para ser possível analisar sobre a ligação entre os grupos sociais das alunas da
escola e a localização de suas residências com os objetivos almejados pela instituição.
Buffa e Nosella (1996) escreveram sobre a Escola Normal de São Carlos e
destacaram que, algumas alunas eram filhas de pais fazendeiros, outras de negociantes,
médicos, advogados, entre outros. Ou seja, os autores abordaram da questão da
aceitação da escola normal para os pais ou responsáveis de filhas pertencentes a
variados segmentos da classe social.
Em Porto Velho não foi diferente. Conforme mencionado anteriormente,
apesar de ser uma escola “beneficente e sem fins lucrativos”, a ENRA cobrava não só
taxas mensais, mais ainda um valor extra para aqueles pais que gostariam que suas
filhas fizessem as disciplinas de Desenho, Música e Francês. Localizada no centro da
cidade, a escola era muito frequentada por filhas de famílias que tinham um poder
aquisitivo bom. Entretanto, após o início do Curso Normal Rural da ENRA, os
segmentos médios da cidade começaram a se interessar em matricular suas filhas na
escola.
O Livro Matrícula Geral - 1936 a 1949 (IMA, 1936-1949) continha
informações sobre as profissões dos pais das alunas matriculadas na ENRA. As
profissões variavam entre ferroviário, pedreiro, ferreiro, comerciante, militar,
carpinteiro, negociante, escrivão, telegrafista, alfaiate, viajante, agricultor, tabelião,
marceneiro, padeiro, seringueiro, soldado, barbeiro, guarda da Estrada de Ferro Madeira
Mamoré, entre outros.
Em 1941, o jornal Alto Madeira publicou outra notícia acerca do início das
aulas em março do referido ano:
Este educandário de ensino reabre suas aulas a 1º de Março próximo.
A Diretoria pede e espera dos Srs. Pais e demais interessados o mútuo
134
auxílio para a frequência assídua de seus filhos e protegidos afim de
obterem eles ótimas médias nos exames finais (ALTO MADEIRA,
1941, p. 1).
Com esse fragmento do jornal já foi possível observar a disciplina exigida pela
escola para com as futuras alunas. Também dessa forma era apresentado o regime
disciplinar:
Segundo os Estatutos do estabelecimento e para a regular disciplina
educacional das alunas a Diretoria pede a atenção e apoio dos Srs.
Pais e interessados para o que segue: 1º - Visitas às alunas –
Domingos e dias santificados – de manhã das 9 horas às 11 hs.; à
tarde: das 14 às 17 horas. N. B. – As alunas só serão visitadas pelos
Srs. Pais ou pessoas por eles apresentadas pessoalmente ou por
escrito. 2º - As saídas (que serão consideradas como prêmios) mais
resumidamente possível, ficando estas ao critério da Diretoria. As
alunas não poderão pernoitar fora do estabelecimento durante o
período letivo. 3º - Aos Srs. Pais pede-se a coadjuvação para a
máxima disciplina, escolar, aconselhando as filhas ao ótimo
comportamento, diligência nos estudos. Para maior estímulo das
educandas vai ser inaugurado neste mês, em honra de N. S.
Auxiliadora, o Livro de Ouro exposta na Sala de Visitas do Colégio.
Neste serão colocados os retratos e cartões das Distintas em
Procedimento, Estudo, Disciplina escolar. À Diretoria. (ALTO
MADEIRA, 1941, p. 1).
Essa postura é confirmada em Louro (2013) pelo perfil disciplinador
característico das instituições que ofereciam os cursos normais:
É importante notar que o tempo escolar se constituiu, em suas origens,
como um “tempo disciplinar”. Mestres e estudantes tiveram (e têm) de
aprender uma lógica e um ritmo próprios da escola. O tempo escolar,
como um fato cultural, precisa ser interiorizado e aprendido. A
formação das professoras, portanto, também se faz pela organização e
ocupação de seu tempo, pelo uso dos espaços, pelas permissões e
proibições para onde ir ou não ir (LOURO, 2013, p. 455).
Em seus estudos, Gomes (2007) investigou a educação escolar no Território
Federal do Guaporé. Em 1943, após ser criado o Território, houve consequências
positivas para o desenvolvimento da região. Segundo o autor, até 1943 o sistema
educacional local pautava-se nas leis estaduais do Amazonas e de Mato Grosso, e após a
135
criação do Território, o governador Aluízio Ferreira, criou o Departamento de
Educação, pelo Decreto Territorial nº1362
de 10 de abril de 1944.
Um documento expedido pelo primeiro Promotor Público e diretor de
Educação, Attila Sayol de Sá Peixoto, representou as referências que o Território
Federal do Guaporé seguia para efetivação da educação na região, que no caso, eram as
práticas utilizadas no Distrito Federal. Segundo a Portaria de nº 5, de 13 de março de
1944,
O Diretor de Educação, em obediência à recomendação do senhor
Governador, resolve adotar nas escolas primárias do Território, com
as alterações feitas por este departamento, os programas mínimos de
Linguagem, Matemática, Geografia, História, Educação Moral e
Cívica, Higiene, Ciências Naturais, Desenho e de Artes Aplicadas, em
uso nas escolas do Distrito Federal. Os programas serão distribuídos
às escolas e deverão ser executados no corrente ano letivo
(GUAPORÉ, 1944, p. 1).
Segundo Gomes (2007), os recursos financeiros, em sua grande maioria, eram
provenientes do Governo Federal a partir do Fundo Nacional de Ensino Primário, pelo
Decreto-Lei nº 4.958, de 14 de novembro de 1942, “era formado com renda proveniente
dos tributos federais” (GOMES, 2007, p. 79).
A partir de decretos-leis federais promulgados em 1942 a 1946, o contexto da
política educacional no país foi traduzido na tentativa de organizar o funcionamento de
todos os tipos de ensino existentes no Brasil, a partir das Leis Orgânicas de Ensino. A
Lei Orgânica do Ensino Normal, Decreto-Lei nº 8.530 de 2 de janeiro de 1946, previa o
funcionamento das aulas e cronograma das disciplinas:
CAPÍTULO IV - TÍTULO II - Da estrutura do ensino normal -
CAPÍTULO I - DO CURSO DE REGENTES DE ENSINO
PRIMÁRIO: Art. 7º O curso de regentes de ensino primário se fará em
quatro séries anuais, compreendendo, no mínimo, as seguintes
disciplinas: Primeira série: 1) Português. 2) Matemática. 3) Geografia
geral. 4) Ciências naturais. 5) Desenho e caligrafia. 6) Canto
orfeônico. 7) Trabalhos manuais e economia doméstica. 8} Educação
física. Segunda série : 1) Português. 2) Matemática. 3) Geografia do
Brasil. 4) Ciências naturais. 5) Desenho e caligrafia. 6) Canto
orfeônico. 7) Trabalhos manuais e atividades econômicas da região. 8)
Educação física. Terceira série: 1) Português. 2) Matemática. 3)
História geral. 4) Noções de anatomia e fisiologia humanas. 5)
Desenho. 6) Canto orfeônico. 7) Trabalhos manuais e atividades
62
As atividades desenvolvidas pelo Departamento seriam executadas pelo Diretor ou através das seguintes
instituições: I – Serviço de Ensino Primário e Normal; Centro de Ensino Grupos Escolares; Escolas
Primárias e Postos de Ensino; Escolas Normais II – Serviço de Ensino Profissionalizante; Escolas
Domésticas; Aprendizado Industrial (GOMES, 2007, p. 68)
136
econômicas da região. 8) Educação física, recreação e jogos.
Quarta série: 1) Português. 2) História do Brasil. 3) Noções de
Higiene. 4) Psicologia e pedagogia. 5. Didática e prática de ensino. 6)
Desenho. 7) Canto orfeônico. 8) Educação física, recreação e jogos. §
1º O ensino de trabalhos manuais e das atividades econômicas da
região obedecerá a programas específicos, que conduzam os alunos ao
conhecimento das técnicas regionais de produção e ao da organização
do trabalho na região (BRASIL, 1946, p. 2).
De acordo com o livro Registro de Diploma 1º Livro – 1940 a 1977, podemos
confirmar que a ENRA seguia o previsto pelo Decreto-Lei nº 8.530/46, exceto pelas
disciplinas de Jogos e Canto orfeônico, entretanto, encontravam-se acrescidas no
registro de diplomas das normalistas formadas as disciplinas de Música e Francês (IMA,
1946).
Figura 13: Diploma de alunas da Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora, 1946
Fonte: Acervo do IMA. Porto Velho/RO.
137
De acordo com o diploma da aluna Emília de Araújo Pinto, destacado acima, a
aluna do Curso Normal Rural formava-se como Professora Normalista Rural dando-lhe
o direito de exercer o magistério público primário nos termos das leis do Território. As
notas/médias das disciplinas também podem nos dizer algo. As disciplinas ministradas
correspondiam às disciplinas de Português, Matemática, Enfermagem, Ciências Físicas
e Naturais, Psicologia, Metodologia, Pedagogia, Música, Francês, História da
Civilização, Geografia e História do Brasil, Educação Física, Desenho Caligrafia e
Trabalhos Manuais e Aula Prática a qual não conseguimos descobrir como era
realizada.
Outra observação que fizemos foi a de que a aluna apresentou notas como 49
em Geografia e História do Brasil, 43 em Pedagogia e em Desenho Caligrafia e
Trabalhos Manuais, ou seja, embora a aluna não tivesse obtido nem 50% de
aproveitamento nessas matérias, a aluna formou-se como professora normalista rural.
Em 1946, a ENRA encerrou a oferta do Curso Normal Rural. Provavelmente,
isso se deveu as novas orientações expedidas pelas Leis Orgânicas do Ensino, de 1946,
que previa o funcionamento das aulas e cronograma das disciplinas que estabeleceu
nova forma de organização do Ensino Normal.
Gomes (2007) ressaltou que em meio a intensa movimentação legislativa, D.
Pedro Massa, até então o administrador apostólico da Prelazia de Porto Velho,
almejando ampliar o Curso Normal, solicitou do governador Joaquim de Araújo Lima
juntamente ao Ministério da Educação e Saúde, a autorização para funcionar o anexo ao
Departamento Feminino do Ginásio Dom Bosco: a Escola Normal a ser mantida pelas
FMA. Desse modo, a instituição não mais iria oferecer o Curso Normal Rural.
O requerimento foi prontamente atendido pelo Governador Joaquim
de Araújo Lima através do ofício n. 60 de 17 de abril de 1949,
argumentando de acordo com o que estabelecia o Artigo 170 da
Constituição Federal e o Artigo 44 da Lei Orgânica do Ensino
Normal, Decreto-lei 8.530/46, Portaria n. 585 de 9/de dezembro de
1947. Solicitava do Senhor Ministro da Educação e Saúde Clemente
Mariani que fosse concedida autorização para funcionamento, em
Porto Velho, capital do território Federal do Guaporé, de um
estabelecimento de ensino do tipo Escola Normal, sob os cuidados das
irmãs de Maria Auxiliadora, da Congregação Salesiana. Esclarecia o
Governador que essas religiosas já dirigiam o Departamento Feminino
do Ginásio Dom Bosco e o Instituto Maria Auxiliadora, que
compreendia curso Pré-Primário (Jardim da Infância) e curso
Primário, organizados segundo as exigências do Decreto-lei 8.529/46
(GOMES, 2007, p. 109).
138
Segundo o Histórico da escola (IMA, 2000), a ENRA estaria aguardando para
iniciar as atividades do Departamento Feminino do Ginásio Dom Bosco para satisfazer
as exigências pedagógicas do Decreto-Lei nº 8.530/46. A Portaria nº 390 de 17 de
agosto de 1951 estabeleceu os termos do § 2º da Portaria Ministerial 585 de 1947,
devendo o Curso Normal funcionar no mesmo prédio (GOMES, 2007, p. 110). O que
foi confirmado no Artigo 4º do Decreto-Lei nº 8.530/46.
CAPÍTULO III - DOS TIPOS DE ESTABELECIMENTOS DE
ENSINO NORMAL: Art. 4º Haverá três tipos de estabelecimentos de
ensino normal: o curso normal regional, a escola normal e o instituto
de educação. § 1º Curso normal regional será o estabelecimento
destinado a ministrar tão somente o primeiro ciclo de ensino normal. §
2º Escola normal será o estabelecimento destinado a dar o curso de
segundo ciclo desse ensino, e ciclo ginasial do ensino secundário. § 3º
Instituto de educação será o estabelecimento que, além dos cursos
próprios da escola normal, ministre ensino de especialização do
magistério e de habilitação para administradores escolares do grau
primário. § 4º Os estabelecimentos de ensino normal não poderão
adotar outra denominação senão as indicadas no artigo anterior, na
conformidade dos cursos que ministrarem. Parágrafo único. É vedado
a outros estabelecimentos de ensino o uso de tais denominações, bem
como o de nomes que incluam as expressões normal, pedagógico e de
educação (BRASIL, 1946, p. 2).
No período de 1937 a 1946, a ENRA alicerçou-se como uma instituição muito
procurada também pelos segmentos médios da sociedade, incumbida de formar as
futuras professoras que Porto Velho necessitava para o ensino primário. As cidades das
redondezas também visavam matricular suas filhas na instituição, onde também havia
alunas filhas de pais com alto poder aquisitivo, influentes da região. Gomes (2007)
destacou que a ENRA havia sido criado para preparar professoras para atuar na zona
rural.
O fim da ENRA deu-se após a criação do Curso Ginasial, médio, como
Departamento Feminino do Ginásio Dom Bosco, no colégio dos salesianos até cumprir
as exigências pedagógicas necessárias para manter o referido curso, sendo reconhecido
pelo Ministério da Educação e Saúde a partir da Portaria 521, em 31 de agosto de 1946.
Ao enveredarmos pelos caminhos da História das Mulheres investigamos uma
instituição de educação feminina em Porto Velho, atual capital de Rondônia, escolhendo
como objeto de pesquisa no Mestrado em Educação, o Instituto Maria Auxiliadora,
quando este iniciou suas atividades, em 1930, como Escola Paroquial. Mais tarde a
139
instituição passou a ser denominada Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora e
dedicou-se a formar professoras normalistas rurais em Porto Velho, nos anos de 1937 a
1946. É nesse período que nos detemos mais demoradamente em nossa análise.
Consideramos que a relevância dessa investigação se materializa na
possibilidade de enveredar pelas fontes, pelos documentos, pelos caminhos da história
da própria escola e da formação de professoras, buscando identificar o que os vestígios
deixados pelo tempo têm a nos dizer sobre a história da formação de mulheres em Porto
Velho, na ENRA no período em análise.
Percebemos que a educação das alunas na ENRA era, principalmente, voltada a
uma educação conservadora e preservadora das tradições religiosas e socialmente
construída. Quando professoras, deveriam difundir as regras religiosas transmitidas
durante sua formação para os futuros alunos. As moças, além das disciplinas de
conhecimentos gerais, aprendiam as prendas domésticas, como o bordado, o francês, a
música, regras de etiqueta. As professoras deveriam ser formadas com as características
consideradas femininas: paciente, afáveis, buscando na docência a extensão da
maternidade, ampliando seu universo, que antes estava restrito ao lar e à igreja, para
dentro das salas de aula.
140
CONSIDERAÇÕES
Na construção desta narrativa aproximamos dos pressupostos da História Nova
para investigar a história da educação feminina que foi ofertada na ENRA.
Ao enveredarmos pelos caminhos da História das Mulheres investigamos uma
instituição de educação feminina em Porto Velho, atual capital de Rondônia, escolhendo
como objeto de pesquisa no Mestrado em Educação, o Instituto Maria Auxiliadora,
quando este iniciou suas atividades, em 1930, como Escola Paroquial. Mais tarde a
instituição passou a ser denominada Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora e
dedicou-se a formar professoras normalistas rurais em Porto Velho, nos anos de 1937 a
1946. É nesse período que nos detemos mais demoradamente em nossa análise.
Consideramos que a relevância dessa investigação se materializa na
possibilidade de enveredar pelas fontes, pelos documentos, pelos caminhos da história
da própria escola e da formação de professoras, buscando identificar o que os vestígios
deixados pelo tempo têm a nos dizer sobre a história da formação de mulheres em Porto
Velho, na ENRA no período em análise.
Consumida pela curiosidade em desvendar a formação de professoras
normalistas pela Escola Normal Rural Nossa Senhora Auxiliadora, tivemos que buscar
fundamentos na História da Educação e na História das Mulheres.
Dessa maneira, nas leituras realizadas, tornou-se perceptível que muito embora
a carreira docente fosse a porta inicial para a mulher entrar no mundo do trabalho era
também o meio encontrado pelo catolicismo para a propagação dos valores católicos
cristãos, princípios e condutas sociais. Tanto religiosas, quanto religiosos e os governos
brasileiros encararam a mulher como aquela que seria responsável por instruir e educar
a infância, suas filhas e filhos de modo a formar um “novo homem” como a República
idealizava.
Percebemos, durante a busca por fontes que conseguissem responder nossas
indagações, a dificuldade em ter acesso a alguma delas. Em se tratando de documentos
religiosos, notamos o difícil acesso para entrar em contato com registros que continham
informações indispensáveis para a análise a qual nos propusemos.
Na escola, não conseguimos ter acesso a todas as fontes que almejávamos
encontrar, o que trouxe algumas dificuldades à nossa análise. Entretanto, conseguimos
ter acesso aos livros de matrícula, atas de visitas, livros de diplomas, fotografias, livros
141
de arguições, promoções e algumas informações que nos permitiram alguma
configuração de como estava estruturado o ensino ministrado pelas FMA.
Algumas publicações do jornal Alto Madeira mostraram como as FMA se
utilizaram da imprensa para publicitarem as atividades da ENRA, ao mesmo tempo,
tornou-nos perceptível a maneira como a imprensa local enxergava as ações educativas
que ali eram desenvolvidas.
A Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora, hoje Instituto Maria
Auxiliadora, faz parte da paisagem urbana, social e cultural da cidade de Porto Velho.
Criada pelas Irmãs Salesianas, Filhas de Maria Auxiliadora, a escola teve, no período
em estudo, o objetivo de formar professoras normalistas rurais, nível médio, para
trabalharem em escolas rurais da região.
Propondo-nos a responder à pergunta de como se deu a formação das
professoras normalistas rurais da ENRA, percebemos que o ensino das moças se
encontrava vinculado às próprias representações de uma mulher idealizada. Uma mulher
de conduta social ilibada, recatada e seguidora da fé cristã. Além disso, esperava-se
formar mulheres capazes de cuidar bem de seus lares e, se seguissem a carreira docente,
capazes de serem boas educadoras das crianças, ou seja, mulheres exemplares segundo
as normas salesianas.
As aulas ministradas na ENRA continham disciplinas gerais como Português,
Matemática, Ciências Naturais e Física. Entretanto, havia uma diferença para as
disciplinas ofertadas para a educação feminina que também aprendiam os trabalhos
manuais como corte e costura, bordado e produção de artesanatos. O bordado, a
confecção de artesanatos, as “prendas domésticas” sempre estiverem envolvendo o
contexto escolar das alunas. A escola era, depois da Igreja, o primeiro espaço público
que as moças porto-velhenses passaram a frequentar. O sistema de internato da ENRA
comprovou a preocupação que as FMA tinham em manter as alunas longes “do
pecado”, da desonra/depravação social. Ao mesmo tempo que as isolava do convívio
social, era mais fácil levar as meninas e moças a tornarem-se seguidoras de suas
crenças.
As FMA mantinham rígido controle sobre o cotidiano das alunas, tanto internas
quanto externas, sobrecarregando-as de atividades escolares. As alunas deveriam
cumprir a carga horária das disciplinas, frequentar o Catecismo Diário, catequese
escolar, o Oratório Festivo e participar de outros rituais cívicos e religiosos.
142
No contexto da instituição em estudo, cabe lembrar que as congregações
salesianas, como muitas outras, haviam sido proibidas de exercer suas atividades na
França. Em solo brasileiro era preciso conquistar as populações ribeirinhas e rurais,
avessas à religião. Dessa forma, encararam como um dever para com suas congregações
a educação das moças como uma forma de educar a infância e a juventude segundo seus
preceitos. As moças uma vez formadas ou “doutrinadas” dariam sequência aquilo que
haviam aprendido e difundiriam entre suas famílias e nas escolas nas quais fossem atuar
os princípios religiosos salesianos.
Os anos de 1930, no Século XX, marcaram a história da educação em Porto
Velho, proporcionando à população o encontro com educação salesiana. De certa forma,
a representatividade do papel da Igreja Católica e seu poder se espalhou para a região
que se encontrava “abandonada” pelo poder público que não conseguia atender
satisfatoriamente a população com escolas para suas filhas e filhos. Assim, a educação
salesiana encontrou espaço e configurou uma formação feminina, um modelo formativo
de mulher, inspirado na doutrina cristã.
No Brasil República, no período do Estado Novo, de 1937 a 1945, estava
disseminada uma aliança entre Igreja e Estado para uma oferta de educação feminina na
qual era preciso cuidar da disciplina e do civismo. Na ENRA, esse perfil de educação
feminina voltou-se para o cuidado do corpo feminino, cultivando valores como pureza,
docilidade, brandura, uma mulher que deveria espelhar-se na Virgem Maria.
O modelo de mulher, mãe, abnegada, afável e pura perpassou a
profissionalização feminina; o mesmo modelo seguiu a carreira docente: a professora
deveria ter, dentre outras características, aquelas que corroborassem com a mulher ideal
para educar as/os filhas/os, e a ENRA contribuiu para a difusão desse ideário de mulher:
uma professora virtuosa, modelo de filha, mãe, esposa.
Na ENRA, a educação destinada às mulheres dava ênfase às noções de
disciplina, ordem e autoridade, na medida em que eram ministradas a formação
religiosa, intelectual e moral de forma controladora e constante, objetivando a educação
católica. Dentre as atividades desenvolvidas pelas Irmãs, estava a prática sacramental,
confissão semanal e comunhão. O modelo considerado adequado era o de mulher
voltada para a maternidade e a vida no lar, mas a atuação como professora seria
aceitável. O arquétipo de mulher, mãe, bondosa e amável foi transmitido e sustentado
no ideário da professora, que passaria seu aprendizado para as/os alunas/os e filhas/os.
143
Desde muito cedo, as meninas já eram introduzidas ao trabalho doméstico, e
essa necessidade fez com que, ainda na infância, as mulheres já fossem preparadas e
instruídas para esse ofício, característica que reforçava a ideia do “ser mulher”.
Por último, cabe destacar que analisar a instituição educativa do ponto de vista
histórico, no sentido de examinar o processo de criação, organização e consolidação em
Porto Velho/Rondônia, possibilitou a percepção de que havia uma singularidade tanto
do cotidiano escolar de uma escola religiosa quando das jovens normalistas que, a partir
da análise das fontes e literatura pertinente à temática, conseguimos relacionar a
educação ofertada pela ENRA às moças como intrinsecamente voltadas às relações
sociais e de gênero, ou seja, cabia educar uma mulher para o cuidado com a educação da
infância, exercer o ofício de professora de crianças era aceitável e a profissão
podia ser comparada às aspirações maternais, qualidades que todas as mulheres,
futuras esposas e mães, seguidoras da Virgem maria, deveriam ter.
A partir de nosso questionamento a respeito de como foi a formação oferecida
às meninas e moças na ENRA, comprovamos que as FMA estabeleceram as atividades
pedagógicas da ENRA com o objetivo de formar professoras normais rurais que depois
de formadas também prosseguiriam difundindo os valores que haviam seguido na
instituição, ou seja, os valores tradicionais católicos cristãos, ampliando o alcance da
doutrina salesiana na comunidade à qual estavam inseridas.
144
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