Entrevista Com Beatriz Bracher

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  • 7/21/2019 Entrevista Com Beatriz Bracher

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    Edio 143

    Redescoberta do clich

    A escritora Beatriz Bracher aposta na banalidade surpreendente do clich para areinveno da linguagem e da literatura

    Moacir AmncioUma das ciclistas que passam de manh pela Pedroso de Morais, regio do Alto dePinheiros - o Paulo !P", # a escritora $eatri% $racher rumo ao escrit&rio ondetra'alha, nas imedia(es) *+, conce'e suas hist&rias, l a./a, $ec/ett, 0unoamos, 2oet%ee, u'ens igueiredo, oo 5il'erto 0oll, lanner6 782onnor,aul/ner, 5raciliano amos !o grande, entre os 'rasileiros") 9epois de ter sidoeditora !.oi uma das .undadoras da 'em-sucedida Editora 34, com um cat+logo emque .iguram, por e:emplo, cnones da literatura russa em no;as tradu(es", ela

    tem ministrado cursos di;ersos e .eito palestras, sem nunca perder de ;ista aati;idade liter+ria) 0isso, # uma pro.issional, capa% de manter uma esp#cie deconta'ilidade criati;a, anotando em uma caderneta os proar%) E tam'#m prmios que a colocam no time que se .irma como um no;ocap=tulo da literatura 'rasileira, ao lado de *ui% u..ato, Marcia ?i'uri, @ilson$ueno) uest(es #ticas, implica(es pol=ticas, preocupao est#tica ee:perimentao .ormal so caracter=sticas destacadas em seus li;rosBAzul e Dura,romance, CDDC !*etras"F No Falei, CDD4FAntonio, CDDF e Meu Amor, CDDG !essestrs pela Editora 34", mais o conto HooH, numa edio limitada, de CDDI) 2om

    Antonio, .icou com o 3J lugar no Prmio a'uti e o CJ no Portugal ?elecom) MeuAmor le;ou o Prmio 2larice *ispector, da undao $i'lioteca 0acional, como omelhor li;ro de contos em CDDG) eu roteiro, escrito com o cineasta #rgio $ianchi,rece'eu o prmio de Melhor oteiro do esti;al de 2inema do io, tam'#m no anopassado) 7 .ilme tem estreia pre;ista para este ms)Paulistana, ;i;eu no io, mas ;oltou K capital paulista, onde ;i;e) 0esta entre;ista,conta como se tornou escritora e .ala so're o Lltimo li;ro e a criao liter+ria, alinguagem em con.ronto com a m=dia das teleno;elas, o cotidiano e o m=tico, acr=tica e a ati;idade liter+ria no $rasil) 0o momento, escre;e um romance so're umapai:onado leitor de Paraso Perdido, de ohn Milton, que luta para concluir umtra'alho acadmico so're aquele poema)

    Alessandra Perrechil

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    A escritora $eatri% $racher rece'eu elogios de cr=ticos liter+rios de peso,tais como Alcir Pecora e o'erto ch>ar%

    CULT - Podemos dizer que o cotidiano o grande motor do romance, doconto. Nada mais banal, mais cotidiano, do que uma expresso como meuamor, t!tulo de seu "ltimo li#ro. Como #oc$ detona o lugar-comum, ou orecria, ou o redescobre de certo modo%&eatriz &rac'er - Escolhi esse t=tulo porque acho que as duas principais coisas doli;ro so o clich e a linguagem) 7 lugar-comum # o qu N um carim'o, podeser;ir para di.erentes tipos de situao) eria como tornar carne e osso a pala;ra, ae:presso Hmeu amorH, mas sa'endo que tal;e% se

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    &eatriz -N ;erdade) 0a no;ela, a .rase pode ser clich, mas o ator tem um olhar,tem a ;o%, e nisso a= no h+ clich que derru'e um corpo humano) Agora, se o ator.or ruim, ;oc pode pr o melhor te:to que o clich # ele, # o corpo dele)CULT - 7alei em no#ela porque tambm pode ser um modo muito presente dediscutir o cotidiano e a linguagem. Meu Amor muito isso...

    &eatriz - Pois #, tem um aspecto de Meu Amorque # o clich, isso que eu .alei, etam'#m o derramamento, que pode ser um pouco 'rega, Ks ;e%es um poucoe:cessi;o) Q+ um outro aspecto que # quase o oposto - e que me dei conta que osmeus contos possuem -B amor tem a ;er com intensidade) A ideia de ;iolncia, dese sentir a'andonado, ou de se sentir muito apai:onado, tudo isso est+ relacionadocom amor) Amor no sentido de tudoB er&tico, amor ao pr&:imo, como se tudo de'om e de ruim que unisse dois seres humanos se pudesse chamar de amor)

    Alessandra Perrechil

    $racherB HA pessoa pode usar o clich de maneira quere;ele algo original e no escamoteie um senso comum,

    uma ausncia de sentimento sinceroH

    CULT - No conto em que descre#e assassinatos de crian2as, Cloc, Clac,#oc$ monta uma narrati#a que utiliza o tom radio*8nico, para ser mais exato

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    um tom que ' anos *icou muito con'ecido como o estilo pr9prio do ilomes, com aquela tcnica en*tica: 6 o assassino esta#a l, e o assassinoesta#a ; espreita, e o assassino esta#a preparado para matar e o assassinomatou, matou e matou..., dramaticidade destinada a expressar a alta tensodas 'ist9rias e cenas.&eatriz -7 5il 5omes eu ou;ia todo dia de manh quando a gente ia para o

    col#gio, e at# no meu li;roAzul e Dura eu menciono isso, o personagem ou;e)9a;a medo) E, por outro lado, tinha essa coisa apa%iguadora, porque ;oc sa'iaque ia aca'ar 'em) uer di%er, ia aca'ar 'em no sentido de que tinha um .inal, o'andido esta;a preso ou morto)CULT - (oc$ e o 4ilson &ueno so dois escritores que incorporam, no emtodos os textos, claro, o que se poderia c'amar de esp!rito da cr8nica. (oc$,quando acompan'a aqueles crimes contra crian2as e em outros momentostambm, no esconde que a cena *oi ou est sendo obser#ada.&eatriz -im, dependendo do conto, # tratado de uma maneira) 0esse dascrianas, o H2loc, 2lacH, h+ uma s#rie de narradores di.erentes e, assim, estrat#giasnarrati;as di.erentes) Eu na ;erdade tenho muito medo da crnica, porque acho queela aca'a sendo um tema, quer di%er, a realidade # to .orte que, quando ;oc a

    tra% para dentro do conto, ela pode tomar conta de tudo e da= parece que ;oc est+.alando so're e no criando algo no;o) Acho que a literatura # di.erente da crnica)CULT - 1er poss!#el *ugir de algo que se imp