Entrevista com Ricardo Parreira

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O novo agregador das comunicações 6 Junho de 2011 www.fibra.pt ENTREVISTa Filipe Santa Bárbara jornalista “Nós gostamos de estar sempre à frente, de ser os primeiros a encontrar as soluções. Somos uma empresa que dá prioridade total à inovação” afirma Ricardo Parreira, 44 anos, presidente do conselho de administração da PHC Software, a empresa que fundou há 20 anos, em parceria com colegas de faculdade, e que tem os seus produtos em mais de 25 mil empresas “Gostamos de estar à frente” Ricardo Parreira, presidente da PHC Software Fibra | A PHC é um projecto de colegas de faculdade. Porque é que se focaram no software de gestão? Ricardo Parreira | Na altura gos- távamos de computadores e sen- timos que podíamos fazer uma grande diferença no software. Era um negócio, mas podíamos criar. Começámos por fazer software à medida do que nos pediam e era um prazer incrível porque, na altura, éramos todos estudantes diurnos e trabalhávamos durante a noite. Correu muito bem! Claro que depois sentimos que ven- der software “um para um” não era rentável, o melhor era ter um software que desse para vender a vários. Começámos então a fa- zer módulos standard e módulos genéricos que se adaptassem às empresas todas. Foi assim que começou a PHC. Ramon de Melo

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O novo agregador das comunicações6 Junho de 2011

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Filipe Santa bárbarajornalista

“Nós gostamos de estar sempre à frente, de ser os primeiros a encontrar as soluções. Somos uma empresa que dá prioridade total à inovação” afirma Ricardo Parreira, 44 anos, presidente do conselho de administração da PHC Software, a empresa que fundou há 20 anos, em parceria com colegas de faculdade, e que tem os seus produtos em mais de 25 mil empresas

“Gostamos de estar à frente”Ricardo Parreira, presidente da PHC Software

Fibra | A PHC é um projecto de colegas de faculdade. Porque é que se focaram no software de gestão?Ricardo Parreira | Na altura gos-távamos de computadores e sen-timos que podíamos fazer uma grande diferença no software. Era

um negócio, mas podíamos criar. Começámos por fazer software à medida do que nos pediam e era um prazer incrível porque, na altura, éramos todos estudantes diurnos e trabalhávamos durante a noite. Correu muito bem! Claro que depois sentimos que ven-

der software “um para um” não era rentável, o melhor era ter um software que desse para vender a vários. Começámos então a fa-zer módulos standard e módulos genéricos que se adaptassem às empresas todas. Foi assim que começou a PHC.

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“Gostamos de estar à frente”

Fibra | Como foi a entrada no mercado?RP | Foi difícil, éramos muito miúdos na altura. Éramos entusias-tas e isso ajudou-nos bastante. A partir do momento em que come-çámos a dar provas, passámos a ter uma série de clientes satisfeitos e esse é o melhor cartão-de-visita que existe. Conseguimos que os nossos primeiros clientes ficassem satisfeitos ao ponto de já termos referências quando começámos a fazer software standard.

Fibra | em que áreas actua a PHC?RP | Somos especialistas na ges-tão das empresas. Na gestão, seja de que empresa for, e dentro da empresa, seja em que área for. Sejam produtos a que chama-mos mais genéricos — como de facturação, contabilidade, gestão de vencimentos e de pessoas –, sejam produtos mais específicos para mercados verticais. Temos também um software para nano e microempresas, que, em vez de ser vendido, é alojado e vendido na cloud. Começámos a desenvol-ver esse software há quatro anos, quando ainda não havia cloud! Mas já sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, a cloud ia ser vital, portanto, fizemos este produto para as microempresas. Temos produtos mais simples mas com funcionalidades muito avançadas para as microempresas e, depois, temos produtos completos e so-fisticadíssimos para as empresas maiores.

Fibra | tendo em conta essa gama de produtos, qual é a área mais frutífera?RP | Nós acreditamos que o clien-te quer, cada vez mais, um “fato à medida” mas pagando o preço de “um fato standard”. O cliente quer um software que tenha sido fei-to para a sua área, mas não quer pagar por alguém que o faça por-que isso é caríssimo. Nós temos estes produtos a que chamamos verticais: por exemplo, um produ-to para gestão de cadeias de lojas — quando uma pessoa compra esse produto também precisa da

contabilidade, da facturação, en-tre outros. O que acaba por vender mais são estes produtos genéricos. Mas temos uma coisa que faz a di-ferença: construímos frameworks que permitem aos nossos parcei-ros adaptarem os produtos ao que o cliente precisa. Ou seja, o nosso parceiro, que é quem vende, pode alterar o software todo de modo a adaptá-lo, ainda mais ao detalhe, ao que o cliente precisa.

Fibra | Como descreve a actua-ção da PHC no mercado?RP | É uma pergunta complicada. Nós gostamos de estar sempre à frente, de ser os primeiros a lançar os produtos e os primeiros a en-contrar as soluções para os proble-mas dos clientes. Acima de tudo, promovemos imenso a inovação. Eu vejo a PHC como uma empresa que dá prioridade total à inovação. Muitas vezes, lançamos produtos muito antes do seu tempo. Em 2000, já tínhamos o software todo para a web. Em 1994, já tínhamos o software todo para Windows. Ba-sicamente, o que tentamos fazer constantemente é: esta tecnologia resolve algum problema do clien-te? Se resolver, adoptamos antes de todos! Até mesmo a nível inter-nacional. Já recebemos prémios da Microsoft.

Fibra | A concorrência é forte? RP | É muito forte. Como estamos em vários mercados, temos vários concorrentes. A concorrência mais forte é a estrangeira como a SAP e a Microsoft. A Microsoft, além de nossa parceira, é também nos-sa concorrente. E a SAP é a líder em software de gestão, portanto é muito forte. Depois, temos em Portugal, conforme as regiões e os produtos, centenas de concor-rentes. É um mercado altamente competitivo, onde a única solução é tratar os clientes como se fossem o único e ter um produto altamente inovador que lhes resolva os pro-blemas.

Fibra | onde é que estão a focar as energias?RP | No desenvolvimento de soft- ware. Entenda-se desenvolvimento

“Temos também um software para nano e microempresas que, em vez de ser

vendido, é alojado e vendido na cloud. Começámos a desenvolvê-lo há quatro

anos, quando ainda não havia cloud”

“estamos num mercado altamente competitivo. temos de tratar os clientes como se fossem o

único e ter um produto altamente inovador

que lhes resolva os problemas”

“Sempre fomos muito orgulhosos do país

e, nestas nossas saídas internacionais,

chegámos à conclusão de que temos muita tecnologia muito à

frente do que se faz lá fora. Só às vezes, quando temos estes

choques, é que vemos isto”

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Com 44 anos e natural da freguesia lisboeta de S. Domingos de Benfica, Ricardo Parreira fez o seu percurso académico na Universidade Católi-ca: primeiro a licenciatura em Gestão, depois um MBA em Marketing. Envolvido na PHC desde o início, ainda tem tempo para três hobbies. O que lhe consome mais tempo são os filhos – quatro. Ler e jogar golfe são os outros. Nas leituras, elege três grandes temas: tecnologia, marketing e de-senvolvimento pessoal e, por isso, confessa que lê “alguns 80 ou 90 blogues”. Mas não escreve: “Já senti essa tentação, mas não. Escrevo muito,

mas são conteúdos PHC”. Não resiste a gadgets e tem “quase tudo o que há!”. Sem ser o telemóvel Android que tem lá dentro o software PHC, o que mais utiliza é o iPad porque descobriu que “é uma ferramenta fantástica para ler e seguir os blogues”. Tem também um iPhone no qual os filhos jogam até porque “já sentem brutalmente o bicho da tec-nologia”. Um dos filhos, com cinco anos, joga no iPad e nem sequer sabe ler: “Ele consegue lá che-gar, anda para trás e para a frente. Eu nem faço muita força para eles ficarem viciados na tecnolo-gia, mas é natural. Aquilo nasce com eles!”

Adepto da blogosfera… mas não escreve!PeRFil

“Tantos advogados, não são precisos! Tantos formados em Sociologia, não são precisos! Tantos formados em Psicologia, não são precisos! Mas, formados em Informática de Gestão, formados em Tecnologia são precisos”

como inventá-lo e depois criar con-dições para que seja bem usado. Nos últimos anos temos tido um crescendo de investimento na ca-pacidade dos parceiros. Hoje em dia, grande parte da PHC produz conteúdos para os parceiros para que eles estejam sempre em cima do acontecimento. Para terem for-mação e-learning, presencial, via web… Temos uma fortíssima pre-ocupação com a capacidade dos parceiros, porque, para a satisfa-ção do cliente, faz toda a diferença quem lá está com eles. Esse tem sido o grande investimento. Criá-mos recentemente uma equipa de consultores para, in loco, ajudar os parceiros quando eles precisam. Temos feito este duplo investimen-to: em software nestas frentes to-das e na capacidade dos nossos parceiros. É o que é crítico!

Fibra | Quais são os pilares da vossa estratégia de internacio-nalização?RP | Há 11 anos que iniciámos a internacionalização, com um escri-tório em Moçambique, que já está totalmente consolidado, e alguns anos depois abrimos outro em An-gola. Neste momento, estamos a entrar em Espanha e optámos por entrar, não pelo país inteiro, mas por regiões. Começámos pela Ga-liza que é a região mais próxima de Portugal, até em termos de língua

e tudo. No ano passado, fizemos a nossa entrada na Andaluzia. Este ano estamos a consolidar estas áreas e vamos para outras regiões que ainda estamos a estudar.

Fibra | tem sido difícil?RP | Nada é fácil neste mercado, mas tem sido um prazer porque, de facto, os portugueses deitam mui-to abaixo o país e nós não! Sempre fomos muito orgulhosos do país e, nestas nossas saídas internacio-nais, chegámos à conclusão de que temos muita tecnologia muito à frente do que se faz lá fora. Só às vezes, quando temos estes choques, é que vemos isto. Vemos que a modernização do Estado em Portugal está muito à frente do espanhol… Em determinadas áreas, as próprias empresas, e a sua forma de gestão em Portugal, estão à frente de Espanha. Tem sido com prazer que, tecnologi-camente, sentimos que estamos completamente à vontade. Claro que a Espanha está a passar uma crise tão grave como a nossa e, em épocas de crise, o investimento é mais conservador. É mais difícil, por causa disso, do que pelo pro-duto em si.

Fibra | Que investimentos estão a fazer?RP | No ano passado tivemos um grande crescimento de estrutura.

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“As crises acabam. Quando esta acabar,

as empresas vão estar em duas posições:

ou investiram e estão na crista da onda para aproveitar o

crescimento, ou não investiram e vão ter de recuperar”

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“Felizmente há empresas com visão em quantidade suficiente para fazer com que o mercado do software se

mantenha à tona de água”

“A nossa missão passa muito por aumentar

a rentabilidade do cliente. Se

conseguirmos que o software faça mais coisas que eram as

pessoas a fazer, já estamos a aumentar

a rentabilidade”

“Chegamos a ter anúncios durante seis meses sem conseguir

recrutar pessoas. é muito difícil encontrar

um programador, é muito difícil encontrar

um técnico de controlo de qualidade.

Há claramente um problema de desemprego em Portugal mas,

em determinadas funções, é muito difícil

encontrar pessoas”

Contratámos muita gente, ape-sar da crise, aumentámos em 20 o número de colaboradores. O nosso maior investimento está em duas frentes. Está acima de tudo na internacionalização, a par do investimento em software. Temos contratado imensas pessoas para o controlo de qualidade e para o desenvolvimento para conseguir-mos pôr em prática todas as ideias que temos.

Fibra | Faz sentido essa expan-são na actual conjuntura econó-mica?RP | É a altura em que faz mais sentido, porque as crises acabam e, quando esta acabar, as empre-sas vão estar em duas posições: ou investiram e estão na crista da onda para aproveitar o crescimento, ou não investiram e vão ter de re-cuperar. Nós investimos e estamos convencidos de que, quando a crise acabar, estaremos na melhor posi-ção para aproveitar o crescimento.

Fibra | Qual é o possível impacto que esta crise tem no sector do software?RP | O sector do software depende muito da propensão ao investimen-to. Ou seja, se as empresas estão confiantes no futuro investem para crescer e crescem. Quando não estão confiantes no futuro, não in-vestem. Excepto as que têm uma visão como a nossa. Felizmente há empresas com visão em quantida-de suficiente para fazer com que o mercado do software se mantenha à tona de água. Achamos que vai ser difícil porque, mesmo assim, há muito investimento em stand by, mas também acreditamos que há muitas empresas que têm visão e nós estamos cá para as servir.

Fibra | o futuro da PHC passa por… RP |…Continuar na linha da ino-vação. Todos os anos ter software novo que resolva problemas no-vos, ter software que, de uma for-ma melhor, resolva problemas que já existem. A nossa missão passa muito por aumentar a rentabilidade do cliente. Se conseguirmos que o software faça mais coisas que

eram as pessoas a fazer, já estamos a aumentar a rentabilidade. Se conseguirmos que o software dê melhor informação para que elas consigam decidir mais depressa, já estamos a melhorar a rentabilidade.

Fibra | Quantas empresas usam o vosso software?RP | O número do ano passado é cerca de 25 mil empresas. São cen-to e poucos mil utilizadores diários.

Fibra | Quantos colaboradores têm?RP | Actualmente, a PHC tem 131 colaboradores, a crescer. Com o investimento na área internacional e, com estes produtos novos com outras tecnologias, precisamos de mais pessoas e queremos contra-tá-las cá, e não fora de Portugal.

Fibra | e conseguem?RP | É difícil, chegámos a ter anún-cios durante seis meses sem con-seguir recrutar pessoas. É muito difícil encontrar um programador, é muito difícil encontrar um técnico de controlo de qualidade. Há claramente um problema de desemprego em Portugal mas, em determinadas funções, é muito difícil encontrar pessoas.

Fibra | o que está a falhar?RP | Está a falhar, de certeza, a orien-tação que dão aos miúdos para escolherem o curso, porque, se eu puser um anúncio para administrati-vo ou comercial, recebo centenas de respostas com pessoas de cursos que não arranjaram emprego. Mas se puser um anúncio para controlo de qualidade, como temos agora dois, há dois meses, vamos recebendo currículos, mas muito poucos. Há um problema de comunicação e de pre-paração de juventude para escolher um curso que vá ter emprego. Tantos advogados, não são precisos! Tantos formados em Sociologia, não são precisos! Tantos formados em Psico-logia, não são precisos! Mas, forma-dos em Informática de Gestão, for-mados em Tecnologia são precisos.

Fibra | A aposta devia ser onde?RP | No choque tecnológico que começou mas não acabou.