Entrevista editada final

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1) Você mistura ação, aventura, mitologia, ficção científica, romance e filosofia em Jogos vorazes. O que influenciou a criação da obra? SC: Uma influência significativa foi o mito grego de Teseu e o Minotauro. O mito conta como, em punição por ações passadas, Atenas tinha que enviar periodicamente sete rapazes e moças a Creta, onde eles eram jogados no Labirinto e devorados pelo monstruoso Minotauro. Mesmo criança, eu podia enxergar o quão desumana era aquela história. Teseu, que era o filho do rei, se candidatou a ir. Acho que, à sua própria maneira, Katniss é um Teseu futurista. Ao manter as raízes clássicas, também presto uma homenagem em versão atualizada aos jogos de gladiadores romanos. O mundo de Panem, e particularmente da Capital, é cheio de referências romanas. A própria palavra Panem vem da expressão latina “Panem et Circenses”, que se traduz por “Pão e Circo”. Eu estava “zapeando” entre programas de reality show e de cobertura real de guerra, quando a história de Katniss me veio à mente. Certa noite, estava eu lá sentada trocando de canais e numa emissora havia um grupo de jovens competindo por... não sei bem o quê, talvez dinheiro. E, noutra, havia jovens lutando numa guerra real. Eu estava cansada, e as fronteiras entre um programa e outro começaram a se diluir de uma forma bastante inquietante, e eu pensei nesta história. 2) Jogos Vorazes é um evento anual televisionado em que um menino e uma menina de cada um dos 12 distritos são forçados a participar em uma luta até a morte ao vivo. Qual é o atrativo dos reality shows para crianças e adultos? SC: Bem, eles são frequentemente montados como jogos, como eventos esportivos, e existe o interesse em ver quem sairá vencedor. Os competidores são normalmente desconhecidos, o que cria uma associação natural com os telespectadores. Algumas vezes, eles têm muito talento encenando. Além disso, há uma excitação voyeurística – assistir a pessoas serem humilhadas, ou derramando lágrimas, ou sofrendo fisicamente – o que eu acho muito perturbador. Existe ainda o potencial para dessensibilizar os telespectadores, de forma que, quando eles veem a tragédia real ocorrendo, digamos, no noticiário, ela não cause o impacto que deveria. 3) A ideia central da trilogia é muito brutal, e ainda assim ela é manuseada com muito bom gosto. Foi difícil atingir esse ponto de equilíbrio? SC: Sim, as cenas de morte são sempre difíceis de escrever. É difícil pôr crianças em situações violentas. Não é divertido escrever, mas eu acho que, se você não estiver disposta a realmente se entregar à ideia, é melhor trabalhar em outro tipo de história. 4) Jogos vorazes foi desde o princípio planejado como uma trilogia? SC: Não. Mas, depois que eu pensei em toda a trama até o final do primeiro livro, eu me dei conta de que não teria como aquela história estar concluída. Katniss faz algo que não iria nunca passar impune no mundo dela. Definitivamente haveria repercussões. A partir daí, a dúvida de se a história teria ou não continuidade como uma série foi respondida para mim.

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5) Quais foram as suas obras prediletas quando você era adolescente? SC: O coração é um caçador solitário, de Carson McCullers; 1984, de George Orwell; Anna Karenina, de Liev Tolstói; Matadouro cinco, de Kurt Vonnegut; Uma dobra no tempo, de Madeleine L’Engle; O senhor das moscas, de William Golding; Germinal, de Émile Zola; e O vinho da alegria, de Ray Bradbury, entre outros.