Entrevistado do mês Pai Carlinhos de Oxum p.8 e...

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Guerreira do Povo de Axé p.10 Egbomi Alexandra de Oxum Soltando a voz no Axé p.3 Quem é de Axé diz que é! Poemas de Axé p.4 Voz da Saúde p.5 Dependência Química Entrevistado do mês Pai Carlinhos de Oxum p.8 e 9 Voz da Comunidade p.11 Cultura e Calendário Afro p.13 Culinária Afro-brasileira Voz da Memória p.14 Homenagem à Mãe Tereza Matukevi Voz da Umbanda p.15 Entrevista Mãe Ilma de Iemanjá Baluartes do Axé p.7 Pai Waldir de Bessen Vozes do Axé em Foco p.6 Niterói, maio de 2010 - Ano 1 - Edição 4

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Guerreira do Povo de Axé p.10Egbomi Alexandra de Oxum

Soltando a voz no Axé p.3Quem é de Axé diz que é!

Poemas de Axé p.4Voz da Saúde p.5Dependência Química

Entrevistado do mês Pai Carlinhos de Oxum p.8 e 9

Voz da Comunidade p.11

Cultura e Calendário Afro p.13 Culinária Afro-brasileira

Voz da Memória p.14Homenagem à Mãe Tereza Matukevi

Voz da Umbanda p.15Entrevista Mãe Ilma de Iemanjá

Baluartes do Axé p.7Pai Waldir de Bessen

Vozes do Axé em Foco p.6

Niterói, maio de 2010 - Ano 1 - Edição 4

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As tragédias que abalaram o Es-tado do Rio de Janeiro, durante e após as chu-vas do dia 5 de abril de 2010, só os governantes não viam. Elas eram e continuam sendo pré-anunciadas. Consequente da falta de investimento no setor imobiliário para as massas carentes, e, da absurda omissão dos governos estadual e municipais, vivemos no passado recente o des-calabro de mais de 200 mortes. Mortes que po-deriam ter sido evitadas, desde que, aqueles que detêm o poder político de nossas cidades, ao contrário de praticarem políticas de com-pensação e falsas urbanizações, fizessem o que deveria ter sido feito, ou seja, adoção de polí-tica de habitação voltada para as camadas mais pobres de nosso povo. Vejam o caso do morro do Bumba em Niterói, o desastre ocorreu no dia 7 de abril de 2010, pós chuva no período noturno, mas per-gunta-se: Poderia ter sido evitado? É claro que sim, pois aquela área é e sempre será impró-pria para assentamento e habitação, pois não se trata de um terreno formado e consolida-do pela natureza ao longo de milhares de anos como boa parte dos morros de nosso estado. Com efeito, mesmo nestes morros formados pe-las naturezas as encostas desabam. No Bumba, ao contrário, a espécie de aterramento artifi-cial ali realizado (montanhas de lixos), jamais poderia ter sido ocupado com o peso de casas e seus residentes. Mas o foi e tão somente porque a ceguei-ra dos políticos dirigentes na época e também seus sucessores, não intervieram impedindo que lá se estabelecessem as famílias de pessoas que não tinham condições financeiras para em outro lugar construir. É indiscutível que ao governante é dada, além de outras atribuições, a de orde-nar a ocupação dos solos de qualquer cidade, das terras devolutas nos morros e nas planícies, muito embora, na maioria das vezes só o or-denamento da ocupação das planícies, também das comunidade que se formam nas montanhas ou morros, é de exclusiva competência do po-der constituído.

Um olhar sobre a conjuntura

Assim, se há – e não tem como negar que haja ocupações irregulares, desordenadas, na beira de abismos, nos despenhadeiros, etc – é porque está definitivamente materializada a OMISSÃO GOVERNAMENTAL. Quanto ao morro do Bumba, o que se viu lá foi um lamentável cenário, que mais parecia um cenário de guerra: eram ruas interditadas, diversas casas destruídas, diversas casas con-denadas, montanhas de lama e lixo, chorume descendo rua abaixo, bombeiros lutando para resgatar, no início, pessoas com vida, e depois, os corpos daqueles que foram vítimas de uma tra-gédia já anunciada e que poderia ser evitada. Agregado a este cenário de destruição e do incansável trabalho do corpo de bombeiros se agregou um cenário de tristeza e desespe-ro daqueles que perderam suas casas e entes queridos, e, em alguns casos, havia apenas um único sobrevivente familiar da tragédia. A contagem dos corpos choca, mais de 200 pessoas vitimadas em todo o estado, e mais de 170 só em Niterói, gera um trauma que pos-sivelmente não será esquecido tão cedo, nem por quem só tomou conhecimento dos fatos e, sobretudo, por quem, teve parentes ceifados pela tragédia, teve seus lares destruídos pelas enchentes, pelos desmoronamentos e soterra-mentos, originados pelas chuvas, estas somadas às indiscutíveis omissões governamentais. O que se espera após tais acontecimen-tos é que as autoridades (no momento incompe-tentes) se tornem atentas e competentes, para darem solução aos problemas evidenciados com as mortes ocorridas face às águas caídas. Da parte do povo que vota e elege es-ses políticos, há que se levantar em ebulição social e exigir de seus eleitos o cumprimento dos compromissos assumidos antes das eleições e trabalharem para elegerem pessoas que te-nham identificação com a comunidade. Que viva dentro dela e saiba suas necessidades, suas virtudes, que conheça o seu dia a dia. Só assim poderemos esperar que outras tragédias como as ocorridas não mais ocorram.

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Águas de março, que em abril caíram, nós choramos...

Diretoria Geral: Ivone SuppoDiretores Executivos: Ivone Suppo, Guaraci Soares Assessor de Relações Públicas: Vilde DorianDiretoria de Finanças: Luiz Suppo, Domingos SávioConselho Jurídico: José Ricardo de Oliveira, Creir José da Silva, Luana de SousaColaboradores: Luiz Augusto, André ArrudaRevisão e Diagramação: Karina Moura (Mtb 2375/ES) Edição: Sindsprev/RJRua Maestro Felício Toledo, 488, sala 101 Centro, Niterói | 2719-3871 [email protected] Tiragem: 6 mil Impressão: Folha Dirigida

Expediente

José Ricardo de Oliveira LessaAdvogado – Assessor Jurídico do Jornal Vozes do Axé

Diretores do Vozes do AxéVilde Dorian de Oya, Ogã Luiz de Osagi-yan, Ivone de Ogun e Guaraci de Ogum.

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Soltando a Voz no Axé3

Irmãos, Estamos mais uma vez aqui para lem-brá-los que vai começar o Censo Demográfico do IBGE 2010 e não podemos deixar de informar quando formos procurados em nossas casas, pe-los representantes do IBGE, qual é a nossa ver-dadeira religião. Devemos encher o peito de ar e dizer “Sou Candomblecista e pertenço às matrizes africanas”. Só assim poderemos combater a intole-rância religiosa criada em torno da nossa reli-gião. Devemos nos orgulhar das nossas origens, não podemos deixar que nossa herança religiosa seja desrespeitada, discriminada ou até mesmo pré-julgada.

Lembrando que, se a África é o berço da humanidade, pois é um dos continentes mais antigos, todos temos em nossa árvore genealó-gica um pouco desta África. Pensem bem, como é divino termos si-dos escolhidos por nossos Orixás!!!! Temos obrigação de brigarmos pelos nossos direitos, pois somos todos iguais e que-rendo ou não, somos todos irmãos!!!! Faça sua parte! Não seja Candomble-cista ou Umbandista apenas dentro das casas de axé, valorize a si mesmo e a sua religião, respondendo ao censo: Sou de Matrizes Africa-nas!!!!!!!

Ivone D’Ogum

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4Poemas de Axé Pai as chagas consomem o meu corpo,

e caminho não enxergando a luz, estouperdido neste labirinto de sentimentose meus pés doem, calejado, pelo tempo.

Pai esconde meu corpo, já sem forma sobresuas palhas e acalenta minhas lágrimas,tira do meu coração a amargura, que nosfaz mais rebeldes, nos dias solitários.

Tu és o dominador das epidemias, dasdoenças e da peste. Devolve a saúdepara o meu corpo, para mente e parameu espírito, deite seu olhar sobre mim.

Omolu(Sávio Assad)

Senhor da terra, espalhe a vida peloscaminhos e com seu xaxará, onde carrega

o segredo deste bálsamo, umedece meus lábiose me cura as feridas, que já estão sangrando.

Pai a ti dedico minha vida, minha caminhada,minha fé e minha esperança em dias melhores.

A ti peço, sempre, reforço e vigor, para enfrentartodos os males e infortúnios do dia-a-dia.

E agradeço, Senhor da terra a sua compreençãopara os problemas que passo e para os caminhos

que percorro, sempre com o pensamentono Senhor, sempre olhando em sua direção.

Asè

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5Voz da Saúde

Dependência Química

Estado de dependente. Sujeição, su-bordinação. É assim que alguns dicionários da língua portuguesa dão como significado a esta palavra. Que vem corroendo a sociedade. A dependência de drogas tem um rotei-ro infeliz, trazendo dor para quem está depen-dente, e para quem os ama. O problema + uso + abuso + continuida-de = dependência. Esta é a equação que leva a esta doença incurável, progressiva-fatal-multi-facetada. A dependência de drogas é uma doença complexa, com causas e consequências de or-dem bio/psico/social. As drogas ilegais, assim como alguns re-médios vendidos com prescrição médica, álcool e nicotina. Entre as drogas que causam depen-dência estão:Estimulantes: - Anfetaminas e meta-anfetami-nas, cocaína, nicotina, maconha, crack.

Sedativos e hipnóticos: - Álcool, barbitúricos, benzodiazepinas, metaqualona. Opiatos e analgésicos opiódes: - Morfina e co-deína, opiatos semi-sintéticos como heroína, opiatos sintéticos como fentanil. Como estas, existem outras substâncias que podem causar dependência que atualmen-te consideram-se possuam valor médico e só podem ser usadas com orientação médica. A família tem papel fundamental para compreensão ou formação e recuperação do de-pendente de droga. Devemos estar mais aten-tos para nós e para nossas dinâmicas familiares, profissional e social. Buscar ajuda profissional e espiritual sempre que percebermos em nós e em algum membro da família dificuldade para elaboração de uma frustração ou a dificuldade de solucionar um problema. São importantes ferramentas para evitar a busca momentânea pelo alívio imediato do problema, da sensação

de prazer, euforia e plenitude que a droga traz. Momentaneamente, porque logo esta sensação dá lugar ao desespero, à depressão, à culpa e às severas mudanças de comportamento. Percebo que os seguimentos religiosos têm como responsabilidade construir estraté-gias para desconstrução do quadro de sofrimen-to em que se encontram mergulhados o depen-dente e seus familiares. Cobrando do Estado, cumprir seu papel na prevenção e recuperação dos dependentes de droga, e o acolhimento dos seus familiares. Mas acredito que possamos, enquanto segmento espiritual, formar grupos instrumen-talizados, para acolher, orientar, conscientizar os dependentes de drogas e sua família, na ten-tativa de formar cidadãos, mas também formar indivíduos com formação e consciência espiri-tual.

Valéria Tereza - Psicóloga/Lato Censo, Saúde do Tra-balhador/Departamento de Saúde do Trabalhador do SINDSPREV/RJ

Fonte de Pesquisa: www.adroga.casadia.orgwww.copacabanarunners.net

No cantinho de um terreiro, sentado num banquinho fumando o seu cachimbo, um triste Preto Velho chorava. De olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e, não sei porquê contei-as... foram sete. Na incontida vontade de saber, aproxi-mei-me e interroguei-o: Fala, meu Preto Velho, diz ao seu filho o porquê externas assim uma tão visível dor? E ele, suavemente, respondeu:-”Estás vendo esta multidão de pessoas que en-tra e sai? As lágrimas contadas são distribuídas a cada uma delas... A Primeira eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saí-rem ironizando aquilo que suas mentes ofusca-das não conseguem conceber. A segunda a estes eternos duvidosos que acreditam desacreditando, na expectativa de um milagre que os faça alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam. A terceira distribui aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda em busca de vingança desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.

Visão Religiosa

A quarta aos frios e calculistas que sa-bem que existe uma força espiritual e procu-ram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão. A quinta chega suave, tem o riso e elo-gio da flor dos lábios, mas se olharem bem o seu semblante verão escrito: creio na Umbanda, nos teus Caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso ou me curarem disto ou daquilo. A sexta eu dei aos fúteis que vão de centro em centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e teus olhos revelam um interesse diferente. A sétima, filho, notas como foi grande e como deslizou pesada, foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás, fiz doação desta aos médiuns vaidosos que só apa-recem no centro, em dia de festa e faltam às doutrinas, esquecem que existem tantos irmãos precisando de caridade e tantas criancinhas precisando de amparo material e espiritual. E assim meu filho, para estes todos é que viste minhas lágrimas caírem uma a uma.

Homenagem aos Pretos VelhosAutor desconhecido

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Águas de Oxala no Ile Ase Nila Ode

Como já é tradicional, Pai Ícaro iniciou as festividades de 2010 de seu axé com Águas de Oxalá, Ebô e Pilão, nos dias 7, 8 e 9 de maio. Mais um grande momento de fé e louvor ao grande Orixá Oxalá.

Mãe Márcia de Osagiyan festeja Ogum e tira seus primeiros yawos

Em grande estilo Mãe Márcia festejou Ogun no dia 17 de abril de 2010 e tirou seus primeiros yawos. Estiveram presentes, além de seu Babalorixá Pai Ícaro de Oxosse, Pai Paulo de Ogun, Pai Miltinho de Omolu, Pai Gina do Ogun, Ebgomi Fátima de Iemojá e vários irmãos do seu axé.

Vozes do Axé em Foco

Ogun de Pai Paulo

Oxum da Yawo

Oxalá de Mãe Olissassi

Oxla do Egbomi Roberto

Oxalá da Egbomi Janete

Osagiyan de Egbomi Tarcisio, André e Fábio

Marco Aurélio de Oxosse, Oxosse da Yawo e Ekedji Tania.

Mãe Marcia de Osagiyan, sua filha carnal Mayara e o Elemoso Luiz.

Mãe Eli e Ogã Luiz - Elemoso do Ile Ase Nila Ode

Elemoso do Ile Ase Nila Ode Luiz de Osagyian e Ogă Sergio

Pai Icaro e seus filhos

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Vozes do Axé – Pai Waldir, gostaria que o senhor falasse sobre sua vida.Pai Waldir de Bessen - Eu nasci em Salvador, na Rua Dr. Jose Joaquim Seabra, nas Sete Portas, no dia 29 de agosto de 1933. E morei e estu-dei no Pelourinho, na Escola Azevedo Fernan-des. Também morei na Rua do Carmo, número 3, onde conheci Procópio de Ogum, um pouco mais acima da minha casa, onde ele vendia uns negocio ali. Tivemos muita conversa porque ele tinha uma quitanda no Beco dos Cravos em Sal-vador, ali eu conheci aquele pessoal todo gran-dão do candomblé, Oba Ladê, Tatá Ciríaco, e muita gente. Lá eu conheci Irineu, que era a casa onde fui abia e de onde fui levado para a casa de Enoque para fazer Bessen. Já que na casa onde eu era abian a nação era nagô/vo-dun.

Vozes do Axé – E quando aconteceu sua inicia-ção. Pai Waldir de Bessen - Não me lembro o dia que fiz santo, mas tenho uma foto já feito que tirei escondido de Enoque. Meu pai pequeno foi Severiano, que tinha um candomblé em Salva-dor, na Plataforma. Fiquei recolhido 7

meses, e levei 1 ano e 6 meses de kelê em Cachoeira. Quan-do tirei o kelê, entrou um ra-paz de Oxossi e tive que ficar na roça. Era Arnô o último Yao da casa de Enoque. Meu

barco era Bessen, Sogbo, Iansã, Oxum, sei que eram

sete pessoas, até por-que não podia fazer

Bessen sozinho em casa de Jeje senão a pessoa morria.

Vozes do Axé - Quem o senhor conheceu de antigo no candomblé?Pai Waldir de Bessen - Conheci tia Massi, do Engenho Velho. Nem era feito ainda. Morava perto do Rio vermelho, e ia para lá com o pes-soal do Engelho Velho, ajudando as mulheres de lá com as bolsas, como empregado delas. Era uma senhora de Oxossi, Ode Tola, que me levava. E lá conheci tia Massi de Osagiyan. Meu Deus que santo maravilhoso. Eu nunca vi santo igual aquele, e nem roda de Iansã igual aquela do Engenho Velho.

Vozes do Axé - Qual a diferença do Candomblé daquela época para o Candomblé de hoje?Pai Waldir de Bessen - Muita diferença. Hoje o Candomblé tem mais luxo. Santo até exige luxo. Era uma humildade que não existe mais. E era tudo mais pobre também. Como em Ca-choeira de São Félix, eu acho tudo mais pobre, em Salvador tudo é mais rico.

Vozes do Axé – Pai Waldir de Bessen para o Jor-nal Vozes do Axé foi uma honra ter feito essa entrevista com o senhor, que representa a es-sência da nossa religião. Deixe-nos uma men-sagem. Pai Waldir de Bessen – Ape-sar de não gostar de dar entrevista, só fiz porque foi um pe-dido do meu filho pequeno Ícaro de Oxosse, por quem tenho grande apreço. Que vocês te-nham caminho e sucesso.

Baluartes do Axé

Pai Waldir de Bessen

Pai Waldir de Bessen sob o Iroko de sua casa

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Vozes do Axé – Pai Carlinhos gostaria que o senhor falasse sobre sua vida antes de fazer santo. Pai Carlinhos – Eu só me lembro da minha vida depois da espiritualidade. Porque desde criança que frequento Umbanda no terreiro onde minha mãe frequentava, e era mãe pequena. Nasci quase dentro desse terreiro. Sempre vivi dentro da espiritualidade, pois minha mãe carnal sempre nos

levou para esse lado. Fui batizado por Ogum Beira-Mar na Umbanda.

Vozes do Axé – Quando começou sua vida dentro do candomblé?Pai Carlinhos - Fui iniciado em 17 junho de 1972, aos quatorze anos de idade. Fui o sexto barco da roça de Pai Walter da Costa, Oya Coby, que era filho de santo de meu avô Bahiano, que era o pai de santo de minha mãe carnal e de meu pai de santo Ícaro de Oxossi, que era meu irmão e passou a ser meu pai, desde que eu tinha um ano de santo. Tomando todas as minhas obrigações com Pai Ícaro, e se Deus quiser ele terá vida e saúde para fazer os 40 anos de Oxum. Quando tomei um ano, eu ainda tava no

boassú na casa de Pai Walter, ele que cantou, participou e fez tudo, ele acompanha desde que fiz santo. Então mais do que justo que minha cabeça fosse entregue

a ele. E foi o que aconteceu na falta do meu pai de santo, entreguei minha cabeça, meu corpo, minha alma e meu coração ao meu Babalorixá Sebastião

Ícaro de Oxossi. Meu barco era um barco de sete. Eram: Ogun, dois Oxossi, Ossain, Eu (de Osun), Alexandra (minha irmã carnal de Osun, que tinha 1 ano e 18 dias quando se iniciou) e tinha Oxalufã no barco.

Vozes do Axé – Pai Carlinhos diante das novidades que têm surgido nos últimos tempos na nossa religião, principalmente o culto a Ifá e o nú-mero de pessoas auto afirmando-se babalawo, qual seu posicionamento sobre esta questão.

Pai Carlinhos – Na época que eu fui iniciado no candomblé, Odu era um tabu, ninguém falava, ninguém comentava. Tinham as pessoas espe-cíficas que cuidavam de Odu, tinha a Mãe Regina de Banboxe e um outro senhor, que não me recordo o nome, que inclusive meu irmão carnal que era Ogã da Iansã de minha mãe carnal confirmado por Pai

Bahiano ajudava muito nessa casa. Então para mim essas novidades continuam sendo novidade, porque pra mim eu não coloco isso na

minha casa, apesar de que se você não souber nada de Odu diz que você não sabe candomblé. Eu aprendi Odu não foi em cursi-nho, e sim porque sou uma pessoa antiga dentro do candomblé,

e tenho amizades com pessoas antigas. Eu entendo um pouquinho, até porque não uso muito, ainda mais porque meu jogo é de Orixá. Eu fui iniciado para Orixá, eu sou Babalorixa, não sou Babalowo. Meu

candomblé continua sendo o candomblé de quando eu fiz santo. Não sou melhor, nem pior, sou diferente. Eu fui feito na nação de Efon e é nela que vou morrer. É como diz no meu site, enquanto existe Oxum,

Logun Edé, Osagiyan e Oloroke a nação de Efon não morre.

Vozes do Axé – Pai Carlinhos a questão hoje desses cursos de Ifá, na sua visão é tudo modismo?Pai Carlinhos – Sim, é tudo modismo. Odu não é brincadei-ra, Odu quer dizer destino. Com o destino das pessoas não se brinca. Não que o jogo de búzios de Orixá seja brinca-deira, não estou dizendo isso. Tudo agora é ebó de Odu,

Entrevista Pai Carlinhos de Oxum

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brigas judi-ciais. Eu já tenho her-deira defi-nida que é minha filha Brenda de Osagiyan.

Vozes do Axé – Pai Carlinhos esse ano é um ano eleitoral. O senhor apoiaria algum candidato?Pai Carlinhos – Sou filiado a um partido políti-co, mas independente disso para o bem da mi-nha religião apoiaria um candidato que fosse representar verdadeiramente todo nosso povo de matriz africana. Independente do partido. Deixando assim de votar na minha legenda para votar nesse candidato, pois nesse momento te-nho que colocar minha religião acima de tudo.

Vozes do Axé – O que nós, povo de santo, pode-mos fazer para a preservação da natureza?Pai Carlinhos – O candomblé defende a natu-reza, desde sempre. Quando vou à cachoeira costumo levar vassoura, pá e saco de lixo para recolher o lixo deixado por outras pessoas. Isso deve ser feito por todos para não poluirmos. Ainda mais que é em prol de nossa religião mes-mo. Temos que nos conscientizar que nossa re-ligião é da mãe natureza.

Vozes do Axé – Pai Carlinhos deixe uma mensa-gem para os nossos leitores.Pai Carlinhos - Que nossa religião se una cada vez mais em prol dos Orixás.

Pai Carlinhos - Quem fez com que o candomblé se tornasse conhecido da forma que é hoje, e com a beleza que tem hoje, com os Orixás bem vestidos na sala, candomblé bonito, foi o senhor João Alves Torres – Pai Joãozinho da Goméia. Ele que botou essa beleza que tem hoje no can-domblé, e que foi se aprimorando. Ele fez isso e muito mais. Inclusive ajudou Pai Bahiano a fundar o Parque Fluminense. Eles eram amigos. E depois do Sr João, o homem que mais fez pelo candomblé em beleza, e que mais sabia no can-domblé, chamava-se Waldomiro da Costa Pinto, meu pai Bahiano de Sango.

Então a religião foi feita para cada um. Cada um tem o seu direito e o livre arbítrio para es-colher a fé que quer seguir. Se a pessoa é feita de santo, iniciada no candomblé, tem que dizer que é. Porque desde a Constituição de 88, no artigo 5º, que o direito a toda religião, inclusive o Candomblé, é inviolável.

Vozes do Axé – Ao participar de uma caminha-da nacional contra a intolerância religiosa em Salvador, verificamos um número pequeno de casas de axé da Bahia. Por que será que os baia-nos não compareceram em massa, por tratar-se de ser a Bahia o berço das matrizes africanas?Pai Carlinhos – Lá na Bahia tem as grandes ca-sas, que são as matrizes africanas, como Gan-tois, Engelho Velho e Opô Afonjá, só que eles não botam a cara, só botam a cara para faze-rem candomblé para turista. Quando é para o

próprio povo baiano não tem. As casas con-tinuam, suas raízes continuam, suas funções continuam, enfim, tudo deles continuam, mas botar a cara à frente eles não vão fazer. Lá é raiz sim de matriz africana, mas alguns dos mais velhos de lá, inclusive, vieram para o Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje em dia o candomblé é no Rio de Janeiro, onde temos mais beleza, e cultuar candomblé como aqui, não tem em nenhum lugar do Brasil. Eu corro o Brasil inteiro, pois não faço candomblé só aqui, faço em outros lugares, e vocês sabem disso. Quando você vai fazer um candomblé em outro estado, ao saber que você é do Rio de Janeiro, saiba que aquela festa vai encher. Sabe por quê? O povo do Rio de Janeiro leva o candomblé com respeito e com amor pelo orixá. E que na Bahia só tem naquele povo das casas matrizes, é restrito a eles. Eles não botam a cara para nada. Só quando tem gran-des festividades que eles abrem as portas de suas casas, ou quando vão falar alguma coisa da casa de candomblé deles. Aqui no Rio de Janeiro a união em torno da religião é maior.

Vozes do Axé – Pai Carlinhos, o senhor con-corda que os babalorixás e iyalorixás devam escolher seus herdeiros ainda em vida?Pai Carlinhos – Sim, concordando também que eles sejam herdeiros legais para evitar

é Odu cobrando. Positividade cada um tem a sua, e negatividade também. Todo ser humano traz consigo a positividade e a negatividade. Às vezes, o próprio ebó da pessoa é ela mesma. A própria pessoa atrai a negatividade para si, falando demais e até mesmo sem saber o que diz. Peca por falar.

Vozes do Axé – Pai Carlinhos esse ano aconte-cerá o Censo 2010, em que o IBGE baterá em nossas portas verificando o quantitativo da po-pulação brasileira, religião, saúde. Quando o Censo 2010 bater a porta é dever do povo de religião de matriz africana afirmar sua religio-sidade ou continuar se escondendo atrás das outras religiões?Pai Carlinhos – Quem é de axé diz que é, fala e assumi, porque a intolerância religiosa hoje ou qualquer outro tipo de intolerância é crime.

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Vozes do Axé – Egbomi Alexandra quando a se-nhora foi iniciada no candomblé? Egbomi Alexandra – Eu fui iniciada em 17/06/1972, e tomei todas as minhas obriga-ções com meu Babalorixá Ícaro de Oxossi, no Ilê Axé Nila Ode. Tenho posto de Iya Kekerê dado pelo meu Babalorixá, na casa do meu irmão carnal Carlinhos de Oxum. Tenho duas filhas, ambas iniciadas. Beatriz de Ogum, de 21 anos, iniciada há 18 anos, e a Brenda de Osagiyan, de 16 anos e 14 de iniciada.

Guerreira do Povo de Axé

Entrevistada Egbomi Alexandra de Oxum

Vozes do Axé – Nesse período de caos ocasiona-dos pelas enchentes acompanhamos seu ativis-mo na comunidade. Fale sobre seu trabalho no entorno dessa comunidade.Egbomi Alexandra – Temos a intenção de tra-balhar a comunidade, no sentido de ajudar na conscientização de seus direitos, como saúde, educação, moradia, saneamento. Pois temos pessoas bem carentes e com pouquíssima ins-trução. Estou tentando levar esse trabalho, até porque as enchentes que sofremos foi algo muito difícil, inclusive a minha própria casa e a casa do santo do meu irmão também foi afe-tada. Fomos até a Prefeitura de São Gonçalo, em forma de manifestação, querendo conver-sar com os responsáveis e juntos encontrarmos saídas para o caos.

Vozes do Axé – Nesse ano teremos o censo de-mográfico. Devemos nos identificar como sendo das religiões de matriz africana?Egbomi Alexandra – Bem, eu sempre fiz isso. Eu digo que sou candomblecista e não tenho vergonha da minha religião. Eu acho que todo mundo que é do candomblé deve dizer que é. E quando o censo bater na sua porta diga, Eu sou do candomblé! Eu sempre ensinei minhas filhas

a não terem vergonha e sim orgulho.

Vozes do Axé – O candomblé é uma re-ligião ecologicamente correta. O que

podemos fazer para manter a pre-servação da natureza que é a essên-cia da nossa religião?

Egbomi Alexandra – Nossa religião tem como princípios básicos a natureza. Usamos as folhas, a cachoeira, enfim

não usamos garrafas, pratos ou ti-gelas, nada disso. Não colocamos despachos no meio da rua, até porque Exu nem mora em en-

cruzilhada que é asfaltada. Vamos nos conscientizar que um papel jo-

gado na rua irá a longo prazo entupir bueiros causando enchentes. Vamos fa-zer a seleção no nosso lixo domiciliar e utilizar materiais recicláveis.

Vozes do Axé – Esse ano terá eleições para pre-sidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Qual o candidato ideal para o povo de axé?Egbomi Alexandra – O candidato ideal tem que ser de axé, porque assim acabaríamos com esse massacre assistido ao candomblé em meios de comunicação como a televisão pelas Igrejas Eletrônicas. Temos aqui em São Gonçalo, um exemplo forte que é a prefeita evangélica. Ela é osso duro de roer, mas nós somos mais. Fomos lá e provamos para ela do que somos capazes. Precisamos colocar bancadas de matriz africa-na, porque as outras religiões têm forte repre-sentatividade.

Vozes de Axé – No período eleitoral, nossas ca-sas são visitadas por politiqueiros que chegam oferecendo tijolos, pedra, areia, e até carro, enfim sendo o pior de tudo que são levadas por pessoas de axé. O que a senhora acha disso?Egbomi Alexandra – É uma hipocrisia muito grande. Eu não me vendo. E acho que as pessoas não deveriam se vender, os politiqueiros de axé que levam esses candidatos sem escrúpulos em nossas casas, representam o pior tipo de pessoa que deve existir no mundo. Porque nossa dig-nidade não tem preço. E sabemos que nada fa-rão e aquele irmão ou irmã de axé que levou o candidato não passará de um mercenário, sem dignidade e sem respeito. Sou totalmente con-tra. Uma pessoa para fazer política tem que ser totalmente correta e ficha limpa, não só ficha de polícia, mas também de caráter.

Vozes do Axé – Deixe uma mensagem para nos-sos leitores. Egbomi Alexandra – Que os irmãos conscienti-zassem e lutasse por seus direitos, porque nin-guém nos presta favores, tudo que temos é por-que temos direitos, nós pagamos e contribuímos para isso. Eu li uma mensagem em uma camisa do Sindsprev RJ na época da enchente e hoje visto a camisa: Antes senzala, hoje favela.

Vamos à luta irmãos! Axé!

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O caos em São Gonçalo e Niterói é visí-vel em todo o mundo, como também a ausência total do poder público. Até porque a imprensa sensacionalista e papa defunto, fez questão de mostrar ao mundo. Só não apontou culpado. Desnecessário, porque todos aqueles que sofre-ram nas suas vidas, perdendo tudo que tinham e até parte de si, ao verem entes queridos em-baixo de lixo, sabem muito bem quem são os culpados. Não adianta o governo federal, esta-dual e municipal se esquivar, se omitir e criar de emergência saída para aquilo que tinha data e hora marcada para acontecer. Tudo porque nosso país, estado e município atravessam uma triste tradição de sucessivas administrações que apresentam irregularidades. Quantos governa-dores do Rio de Janeiro já fizeram obras que acabariam com as enchentes em São Gonçalo? No Jardim Catarina, os ex-governadores Marce-lo Alencar e Anthony Garotinho fizeram obras para acabar com as enchentes, mas o problema continua. Lugares como Bumba e Jardim Alcântara jamais ouvido antes por tratar-se de subúrbio, nunca tinham sido ouvido antes, agora é comum nos jornais do Grande Rio. Vários comentários surgiram nos fóruns e grupos de internet, al-

guns conseguem fazer rimas: “O morro do Bum-ba & os Filhos deste Solo/Afinal, lugar de lixo é no lixo...” e outros cantam: “Morando em São Gonçalo você sabe como é/Hoje à tarde a pon-te engarrafou e eu fiquei a pé/O orelhão da mi-nha rua estava escangalhado/Meu cartão tava zerado”. Prefiro o grito dos excluídos na mani-festação do Morro do Estado que dizia: “Jorge Roberto cara de pau. A culpa é sua, do Lula e do Cabral”. E ainda em frente à Prefeitura Muni-cipal de São Gonçalo, as vítimas das enchentes gritavam incessante para que a (Des)aparecida Panisset viesse conversar. E é pensando nisso tudo, que o povo desses dois municípios devem se unir contra essa politicagem imunda e cruel, onde cada vez mais o rico fica mais rico e o pobre mais pobre, e agora sem casa também. Chega de termos os nossos direitos vilipendiados pelo próprio poder público, por aqueles que nós elegemos. Vamos tirar o poder dado a eles, reeleição nem pensar. Ausência de escrúpulos e dignidade por parte dos agentes públicos é um mal repugnante, e deve ser exterminado. Como a consciência do povo foi aberta, depois das tragédias, esses políticos terão que trabalhar de verdade, porque chega de ter seus

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direitos ultrajados. Reeleição para corruptos, nunca mais. O pobre para ter emprego, tem sua vida financeira invadida por empresas inescru-pulosas para admitir um candidato a uma vaga. O novo eleitor fará o mesmo, candidato de fi-cha suja, está fora! É nessa vulnerabilidade que se encontram todos os pré-candidatos para as eleições de 2010. Nunca mais teremos nossos espaços re-ligiosos invadidos e transformados em projetos sociais. O terreiro é o cenário perfeito para as aventuras eleitoreiras, chegam de mansinho para implantar projetos sociais para ali conse-guir arregimentar adeptos com falsas promessas eleitoreiras. Nossos terreiros são sagrados, não devemos vender o espaço que não nos pertence e sim ao Orixá, Inkince e Vodun. Nas andanças realizadas entre os dois municípios, o que foi visto foi o povo revoltado, desacreditado e repugnando os gestores muni-cipais. A consciência ética não pode se calar diante deste tipo de postura e muito menos admitir que a última verdade seja assim tão acintosa. Então, para o político com ficha suja, desonesto, usurpador, saiba que o povo amadu-receu e a partir de agora será assim: o risco que corre o pau, corre o machado!

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Voz da Comunidade Cobrando do Governo

Vilde Dorian de Oya

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Cultura Afro

Calendário Afro

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Africanos enriqueceram a cozinha brasileira Heidi Strecker*

Não há nada mais gostoso que a comida do Brasil! Pode parecer exagero, mas a alimentação brasileira tem uma riqueza incrível, pois sua origem é uma mistura das tradições indígenas, européias e africanas. Os índios se alimentavam da mandioca, das frutas, dos peixes e das carnes de caça. Com a chegada dos colonizadores portugueses, o pão, o queijo, o arroz, os doces e os vinhos foram se incorporando à nossa alimentação. Mas uma das contribuições mais importantes aos nossos hábitos alimentares, durante todo o período de colonização, foi aquela que veio da África, trazida pelos escravos. Se os comerciantes de escravos tra-ziam os ingredientes (especiarias), os escravos traziam na memória os usos e os gostos de sua terra. Era aí que estava o segredo. Os escravos não tinham uma alimentação farta. Comiam os restos que os seus senhores lhes destinavam. Os ingredientes nobres, o preparo requin-tado e as maneiras européias à mesa aconteciam na casa grande. Enquanto isso, a cozinha negra se desenvolvia na senzala, em tachos de ferro.

Azeite de dendê Alguns escravos conseguiam criar algum animal ou cultivar uma pequena horta. Talvez por isso o tempero e o uso de uma grande varie-dade de pimentas deu um sabor especial aos seus pratos. O azeite de dendê também foi um dos ingredientes mais importantes da culinária negra. O dendezeiro é uma palmeira de origem africana, e de sua polpa se extrai o azeite que dá a cor, o sabor e o aroma de tantas receitas de-liciosas como o caruru, o vatapá e o acarajé.

O uso de pimentas, que já era antigo nas terras da América, se espalhou pelo Brasil no século 18. Uma outra tradição, a de vender comida nas

ruas, em grandes tabuleiros, se estabeleceu na mesma época na cidade de Salvador, na Bahia. Esses tabuleiros traziam de tudo. Um cronis-

ta daquele tempo relatou ter visto, num mesmo tabuleiro, mais de vinte quali-dades diferentes de comidas salgadas e doces. Entre essas iguarias estava, além do acarajé, do vatapá e do abará, angu, mingau, pamonha e canjica.

01 - Dia Mundial do Trabalhador03 - Nascimento do geógrafo Milton Santos, que revolucionou a Geografia, dando-lhe um enfoque humanista13 - Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo13 - Nascimento do escritor pré-modernista Lima Barreto / 188113 - Dia dos Pretos Velhos13 - Abolição da escravatura no Brasil / 1888

O acarajé se tornou tão importante que foi transformado em pa-trimônio nacional. É uma referência tão importante para nossa cultura, que é reconhecido e protegido pelo patrimônio histórico. Ele é espe-cialmente típico da cidade de Salvador, na Bahia, que é considerada a capital da cozinha afro-brasileira.

O fator religioso Um outro fator que ajudou a difundir a comida de origem negra foi a religião africana - o candomblé. O candomblé tem uma relação muito especial com a comida. Os devotos servem para os santos comida que pertencem à tradição africana. Como as comunidades negras se es-palharam pelo Brasil, a culinária que veio da África se espalhou por todo o país. Hoje em dia, os pratos e os temperos da cozinha negra fazem parte da nossa alimentação. São saboreados no dia-a-dia e também nas festas populares. Os caldos, extraídos dos alimentos assados, misturados com farinha de mandioca (o pirão) ou com farinha de milho (o angu), são uma herança dos africanos. Podemos lembrar que da África também vieram ingredientes tão importantes como o coco e o café.

Feijoada Para terminar, não se pode deixar de mencionar um dos pratos favoritos do país: a feijoada, que também se originou nas senzalas. En-quanto as melhores carnes iam para a mesa dos senhores, os escravos ficavam com as sobras: pés e orelhas de porco, lingüiça, carne-seca etc., eram misturados com feijão preto ou mulatinho e cozidos num grande caldeirão. Segundo registra o folclorista Câmara Cas-cudo, as receitas são incontáveis e, com elas, variam tanto as carnes quanto as verduras usa-das. A feijoada chegou a servir de inspiração para escritores como Pedro Nava, em um de seus livros de memórias, e para o composi-tor Chico Buarque de Holanda, que tem uma música onde dá a receita de uma “Feijoada Completa”. * Heidi Strecker é filósofa e educadora.

Culinária Afro-brasileira

18 - Criação do Conselho Nacional de Mulheres Negras, no Rio de Janeiro / 195023 - Nascimento do poeta Carlos de Assumpção, autor do célebre poema Protesto25 - Criação da Organização da Unidade Africana - OUA / 196325 - Dia da Libertação da África, promovido pela ONU / 1972

Fonte: http://www.quilombhoje.com.br/calendario/calendario.htm

Maio

Fonte: http://educacao.uol.com.br/cul-tura-brasileira/ult1687u21.jhtm

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14Voz da Memória

Ekedji Vera de Xangô fala de Mãe Tereza

Jornal Vozes do Axé – Ekedji Vera, a senhora se recorda a data da feitura de mãe Tereza?Ekedji Vera de Xangô – O ano em que ela fez o santo foi em 1955, e o barco dela foi sozinha. Ela foi levar uma costura na casa de seo João-zinho da Goméia, e ele começou a conversar com ela. Ela se sentiu mal, durante a conversa. E seu João a levou para o barracão com o Ogã Valentim e assim aconteceu a sua iniciação. Só acordando no dia de ir à missa. Foi filha peque-na do Ogã Valentim e a mãe pequena foi Ilecy da Oxum, que era o braço direito de seo João da Goméia. O orunkó dela era Ajunsu Jibenã.

Jornal Vozes do Axé – Onde mãe Tereza termi-nou as obrigações dela?Ekedji Vera de Xangô – Terminou suas obriga-ções com o finado Seo Caboclo.

Jornal Vozes do Axé – Quando Mãe Tereza veio residir em São Gonçalo?Ekedji Vera de Xangô – Veio morar em São Gonçalo em 1975, no bairro Arsenal. Onde se tornou a mais famosa mãe de santo do Axé Go-méia. Era a mãe-pequena de vários baluartes do candomblé, inclusive do meu Pai Ícaro de Oxossi.

Jornal Vozes do Axé – Qual era a profissão de Mãe Tereza?Ekedji Vera de Xangô – Vendeu doce na Aveni-da Rio Branco por muitos anos, chegando a se aposentar como vendedora de doces e quitutes baianos. Jornal Vozes do Axé – Em várias entrevista do Jornal, tivemos declarações que ela era a baia-na mais bem vestida do candomblé. A senhora confirma?Ekediji Vera de Xangô – Sim. Ela foi uma das mais famosas baianas do Rio de Janeiro, e a mais bem vestidas do Brasil. Abrilhantou várias festas de candomblé com suas roupas maravi-lhosas e inesquecíveis.

Jornal Vozes do Axé – Qual a ligação de Mãe Tereza com o saudadoso Pai Baiano?Ekedji Vera de Xangô – Ela era Iyaloe Mawo (Posto de Grande Confinça) do Parque Flumi-nense, posto dado pelo próprio Pai Baiano. Por merecimento, pois ajudou a fundar o Asé Baru

Lepê. Sendo inclusive mãe-pequena de vários Yao de Pai Waldomiro.

Jornal Vozes do Axé – Qual foi a data do fale-cimento de Mãe Tereza?Ekedji Vera de Xangô – A nossa querida Matuka, como também gostava de ser chamada, faleceu em 20 de janeiro de 2005.

Jornal Vozes do Axé – Onde estão os santos de Mãe Tereza?Ekedji Vera de Xangô – Após o seu falecimento, todos os seus assentamentos foram para o Alto de Oxosse, pois foram dados ainda em vida para que meu Babalorixá Ícaro de Oxosse, para que zelasse por eles. Com isso todo primeiro sábado do mês de agosto é feito a festa do Obaluwaye dela. Onde também foram realizados os Asese de um e três anos.

Jornal Vozes do Axé – O que significa a falta de Mãe Tereza Matukevi?Ekedji Vera de Xangô – Uma lacuna jamais a ser preenchida. Ela era um dos baluartes do candomblé, pois fazia de tudo em uma casa de santo. Nunca se viu até hoje um Obaluaiyê tão lindo quanto o dela.

Homenagem à Mãe Tereza Matukevi -Tereza Maria do Bonfim

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Voz da Umbanda15

Vozes do Axé - Mãe Ilma fale um pouco da sua vida e quando a senhora começou a caminhar na Umbanda? Mãe Ilma - Eu nasci e fui criada em Campos, pela minha avó, minha mãe teve dezesseis fi-lhos, todos tidos em casa, pois naquela época os partos eram feitos por parteiras. Na verdade eu comecei minha vida no axé por volta dos sete anos, praticando a quimbanda e roda de Jongo, ainda em Campos. Na roça não existia médico, tudo era resolvido na quimban-da, se você sentia uma dor de dente, você era rezando e tomava garrafadas feitas na quim-banda. Uma Vez por mês havia a doutrina dos orixás, isso era feito como num centro de mesa, tinha uma mesa cumprida e os médios sentavam todos à mesa com as mãos esticadas e o chefe ficava na sacristia, minha avó me colocava para sentar também na mesa, mas eu já estava sentada por conta da minha curiosidade de querer saber de tudo e queria ver, minha avó como nada sabia, ainda não entendia, deu este consentimento, e a minha mãe que morava aqui no Rio e tra-balhava com uma velha vó Cambina, e calhou dela ir fazer uma visita a gente lá em Campos, e este dia foi dia de ter a (a coisa) doutrina aos orixás, daí o velho chegou e pediu consentimento à minha mãe. Vó Cambi-na pegou minha mãe e deu este consentimen-to, porque eu só tinha sete anos e eu não ia agüentar, porque os ori-xás do meu pai que já havia morrido me ra-diavam, uma vez ao mês a gente tinha uma roda de Jongo. Roda de Jongo era no terreiro, a q u i ,

hoje em dia, terreiro é o centro de macumba; na roça, terreiro era o quintal, a gente usava roupas claras e entrava para o terreiro e can-tava, tinha uma toada, e a gente ia cantando e dançando, esta roda de Jongo tinha que ter padrinho e madrinha. Na minha toada eu can-tava e jogava para você, mas a roda de Jongo é a coisa mais forte da quimbanda, porque se na roda de Jongo eu cantar uma toada para você e se você não sair da minha toada você mor-re ali mesmo, daí tem que ter o padrinho ou a madrinha para vir com a toalha e tirar você da minha toada, daí a gente ficava com o pezinho russo de tanto rodar e pisar no chão, porque o maior axé a maior força está no chão, a gente ver hoje em dia as pessoas irem rodar para os orixás de sapato, de salto, mas a maior força vem do chão.

Vozes do Axé – Então o Caminhar na Quimban-da é herança de família?Mãe Ilma - É sim de família, meu pai era de Santo, minha mãe, minha tia também era e esta é minha raiz eu vim de família, trazendo um bocadinho de cada pessoa.

Vozes do Axé - Mãe Ilma até quando a senhora morou em Campos?

Mãe Ilma – Eu morei em Campos até meus dezessete anos, depois vim para o Rio passar férias com minha mãe, que morava no Morro dos Ma-cacos, porém resolvi ficar.

Vozes do Axé - Mãe Ilma então quando a senhora veio morar com sua mãe aqui no Rio, a senhora pa-rou de freqüentar a quimbanda?Mãe Ilma – Sim, pois, como resolvi ficar aqui no Rio e minha mãe não

teve condições de ficar comi-go, ela me internou num

colégio de freiras, Colégio Imaculada de Maria, lá no bairro de Santa Tereza. E lá eu tinha que se-guir o amor, o carinho e a

Entrevista com Mãe Ilma de Iemanjá

doutrina do colégio de freiras, eu entrei nes-te colégio aos 19 anos, depois eu saí, porque eu queria trabalhar, sempre gostei de ter meu dinheiro, como até hoje, daí então eu fui tra-balhar em Copacabana, porque lá era um bair-ro que se ganhava um pouco mais de dinheiro, aos vinte e dois anos eu perdi minha mãe, e fiquei solta, mas solta no modo de dizer, por-que sempre tive juízo, graças a Deus, não é o mundo que vira a cabeça e nem ninguém vira a cabeça de ninguém, sempre trabalhei, sempre tive meu dinheiro, saía muito, namorei muito e nesse namora dali e namora daqui, construí minha primeira família, onde eu tive meu filho, o Ricardo, eu morei no Centro de Niterói por dois anos.

Vozes do Axé - Mãe Ilma quando a senhora vol-tou a praticar a religião?Mãe Ilma – Foi quando eu fui morar em São Gonçalo e foi em São Gonçalo que voltei a me acertar dentro da religião, por quê? Porque eu dormia na minha cama dentro do meu quarto e quando acordava, estava do lado de fora da casa, foi quando percebi que estava sendo co-brada pelos meus guias.

Vozes do Axé - Mãe Ilma depois desta longa tra-jetória, a senhora hoje tem casa de Umbanda aberta?Mãe Ilma – Não, não tenho casa aberta, mas não deixo de dar continuidade ao Dom que re-cebi, por isso, não me nego a atender a quem me procura para rezar vento virado, espinhela caída, quebranto, mau olhado, seja lá o que for, pois para fazer o bem eu estou pronta a servir seja a hora que for.

Vozes do Axé - Mãe Ilma nós sabemos que a senhora mora atualmente no Morro do Estado, qual é o trabalho que a senhora faz dentro da comunidade?Mãe Ilma - Eu faço parte da Direção colegiada da Associação de Moradores, luto no meu dia a dia para trazer melhoramento para dentro da minha comunidade, o que não é muito fá-cil. Faço isto mesmo que não veja o resultado agora, mais tenho a certeza que os meus netos, bisnetos, todos que eu ajudei a nascer vão ter uma esperança para um futuro melhor.

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