ENVELHECIMENTO: UM OLHAR SOBRE A PERSPECTIVA DE … · implantação do Projeto Fênix na Faculdade...

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ANA LÚCIA LAGO NAKAMURA ENVELHECIMENTO: UM OLHAR SOBRE A PERSPECTIVA DE SAÚDE , AUTONOMIA e PROMOÇÃO DA SAÚDE EM PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA. São Paulo, 2007

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ANA LÚCIA LAGO NAKAMURA

ENVELHECIMENTO: UM OLHAR SOBRE A PERSPECTIVA DE SAÚDE ,

AUTONOMIA e PROMOÇÃO DA SAÚDE EM PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA.

São Paulo, 2007

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Nakamura, Ana Lúcia Lago

Envelhecimento: um olhar sobre a perspectiva de saúde, autonomia e Promoção da Saúde em programa de atividade física / Ana Lúcia Lago Nakamura. - São Paulo, 2007.

Aa119 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2007.

Orientador: Profª. Dra. Maria Luiza de Jesus Miranda.

1. Envelhecimento. 2. Saúde. 3. Autonomia 4. Promoção da Saúde 5. Educação

física para idosos. I. Título CDD- 796

Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ANA LÚCIA LAGO NAKAMURA

ENVELHECIMENTO: UM OLHAR SOBRE A PERSPECTIVA DE SAÚDE,

AUTONOMIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE EM PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA.

Dissertação apresentada à Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial para a obtenção de grau de mestre em Educação Física sob a orientação da Profª. Drª. Maria Luiza de Jesus Miranda.

São Paulo, 2007

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Banca Examinadora:

_____________________________ Profa. Dra. Sandra Matsudo

_____________________________ Profa. Dra. Marília Velardi

_____________________________ Profa. Dra. Maria L.J. Miranda

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Agradecimentos

Agradeço a todas as pessoas que colaboraram para o meu crescimento pessoal e profissional: meus pais, meus irmãos, meus tios, meu esposo e a minha orientadora.

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................... iii

ABSTRACT........................................................................................................... iv

APRESENTAÇÃO................................................................................................. v

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 01 2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Envelhecimento..................................................................................... 08

2.2 Promoção da Saúde e envelhecimento................................................ 13

2.3 Atividade Física e envelhecimento........................................................ 21

2.4 Envelhecimento e a Educação Física brasileira ................................... 24

2.5 Década de 1990 e a população idosa brasileira... ................................ 28 2.5.1 Economia, saúde, educação....................................................... 28

2.6 Programas de atividade física para idosos ......................................... 33

2.6.1 Descrição dos programas de atividade física voltados à população

idosa...................................................................................................... 40

3. MÉTODO....................................................................................................... 53

3.1 Categorização do estudo........................................................................ 53

3.2 Participantes da pesquisa....................................................................... 53

3.2 Instrumentos........................................................................................... 53

3.3 Procedimentos........................................................................................ 54

3.4 Fase de análise do discurso................................................................... 56

4. PROJETO FÊNIX: BASES TEÓRICAS........................................................ 58

4.1 Descrição.............................................................................................. 59

4.2 Análise documental............................................................................... 64 4.3 Coordenadoras do Projeto Fênix: análise dos discurso........................ 73

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4.3.1 Caracterização dos sujeitos........................................................ 73

4.3.2 Caracterização dos temas.......................................................... 73

4.4 Discussão Geral.................................................................................... 88

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 94

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 96

7. ANEXOS............................................................................................................. 105

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Resumo

A natureza desse estudo é o resultado de questionamentos

elaborados durante o período em que a pesquisadora atuou como docente em um

programa de atividade física voltado à população idosa, o assim denominado

Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade desenvolvido nas Faculdades

Integradas de Guarulhos – São Paulo. O Projeto tinha por objetivo proporcionar

atividades e conhecimentos que possibilitassem a população idosa viver essa fase

da vida com maior qualidade, autonomia e satisfação, proporcionados pelo

sentimento de produtividade e efetiva inserção na sociedade como cidadãos ativos

e participativos. Nesse sentido, adotamos o direcionamento de suas atividades

coerentes com a perspectiva da Promoção da Saúde, bem como a utilização de

uma pedagogia crítica para a obtenção de seus objetivos. Mas, apesar de tal

perspectiva, notamos a presença de divergências entre o enunciado de sua

proposta (intenções e justificativas) com os objetivos descritos em relação a visão

de envelhecimento, conceito de saúde, autonomia e Promoção da Saúde entre os

anos de 2003 e 2004. Dessa forma, para entendermos o contexto teórico dessas

discordâncias e a implicação que possuem no direcionamento prático de suas

atividades, esse estudo tem por objetivo geral: averiguar, a partir da perspectiva

teórica da Promoção da Saúde, as divergências e convergências conceituais de

saúde, autonomia e Promoção da Saúde, no norteamento das práticas de

atividades físicas desenvolvidas pelo Projeto Fênix. Seguem-se ao objetivo geral

três objetivos específicos: (1) analisar a fundamentação teórica e as ações

empreendidas no Projeto para estabelecer qual a perspectiva filosófica de saúde,

autonomia e Promoção da Saúde, que lhe dá orientação; (2) compreender as

divergências e convergências conceituais que dão base às suas ações práticas;

(3) refletir sobre o quanto a análise e compreensão do Projeto Fênix podem indicar

o que ocorre no cenário mais geral de programas de atividades físicas para

adultos e idosos.

Palavras-chave: programa de atividade física; idosos e Promoção da Saúde

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Abstract

The nature of this survey is result of questions elaborated during the period when

the researcher was working as a teacher in a physical activity program destined to

the elderly population, called Fênix Project – Third Age with Quality, developed in

Faculdades Integradas de Guarulhos – São Paulo. The Project had the purpose of

providing activities and knowledge in order to enable elderly people to live this

phase of life with a higher quality, empowerment and satisfaction caused by the

feeling of production and effective insertion into the society as an activity and

participating citizen. Therefore, we observed the direction of their activities

coherent to the perspective of Health Promotion, as well as the use of a critical

pedagogy for obtaining their purposes. However, despite such perspective, we

noticed the presence of divergences between the proposal statement (intentions

and explanations) and described purposes concerning the point of view of aging,

health concept, empowerment and Health Promotion between the years of 2003

and 2004. Therefore, in order to understand the theoretical context of such

divergences and the way they affect the practical direction of the activities, this

survey has the general purpose of: inspecting, from the theoretical perspective of

Health Promotion, the concept divergences and convergences of health,

empowerment, and Health Promotion concerning the practices of physical activities

developed by Fênix Project. Besides the general purpose, there are three specific

purposes: (1) analyzing the theoretical basis and the actions taken during the

Project in order to establish the philosophical perspective of health, empowerment

and Health Promotion which directed such Project; (2) understanding the concept

divergences and convergences which provide the basis for practical actions; (3)

pondering about how much the analysis and understanding of Fênix Project may

indicate what occurs in the most general scenery of physical activity programs for

adults and elderly people.

Key words: physical activity programs; elderly people; Health Promotion

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Apresentação

O presente estudo, discorre sobre a análise da prática pedagógica de um

programa de atividade física voltado à população idosa – o Projeto Fênix Terceira

Idade com Qualidade, desenvolvido entre os anos de 1998 a 2004 na Faculdade

Integrada de Guarulhos. As constantes reflexões e questionamentos sobre

divergências e convergências conceituais sobre saúde, autonomia e Promoção da

Saúde, observadas pela pesquisadora no período em que atuou como docente no

referido Projeto, geraram a necessidade de desenvolver o estudo aqui proposto.

Na introdução, procuramos apontar toda a problemática que envolve o

processo de envelhecimento, e que poderiam vir a influenciar o direcionamento

prático e teórico de um programa de atividade física voltado à população idosa.

A partir da delimitação dos objetivos a que nos propomos responder, no

capítulo seguinte, discorremos sobre o processo de envelhecimento, abordando

os aspectos biológicos com suas modificações e adaptações fisiológicas, bem

como os aspectos sociais e históricos incidentes sobre essa população, como a

categorização social do envelhecimento, a construção da velhice como um

problema social e o interesse do envelhecimento como objeto de estudo.

Em seguida, passamos a discutir as ações que compõem uma perspectiva

de trabalho no âmbito da Promoção da Saúde e o incremento que a mesma

proporcionaria ao processo de envelhecimento e, para tanto, dividimos esse

capítulo em três períodos distintos, iniciados na valorização da Promoção da

Saúde pela Medicina Social do século XIX, passando pelo movimento moderno da

Promoção da Saúde em 1974 e, finalizando com a Primeira Conferência

Internacional sobre a Promoção da Saúde e divulgação da Carta de Ottawa em

1986.

Já em relação ao capítulo três, este aborda os benefícios proporcionados

pela prática regular de atividade física e a importância da associação do

direcionamento prático da Educação Física, com a perspectiva da Promoção da

Saúde que, diretamente, contribuiria para um crescimento integral dos indivíduos

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em relação ao discernimento da importância da adesão e da prática de exercícios

em si.

Dando continuidade a discussão sobre a atividade física e envelhecimento,

no quarto capítulo procuramos construir um panorama geral sobre a atuação da

Educação Física brasileira em relação ao processo de envelhecimento desde a

sua implantação no Brasil-República até os dias atuais.

Dentro desse panorama histórico, no quinto capítulo desse estudo,

realizamos uma reconstrução da realidade social-histórica brasileira da década de

1990, incidente sobre a população idosa, buscando a partir desse levantamento

histórico compreender as intenções, justificativas e objetivos descritos para a

implantação do Projeto Fênix na Faculdade Integrada de Guarulhos.

E, com o intuito de ampliar a compreensão sobre a década de 1990, em

relação ao direcionamento prático da Educação Física, o capítulo seis analisa

alguns programas de atividade física voltados à população idosa desenvolvidos

em universidades brasileiras do período em questão.

Para a execução dessa tarefa, o próximo capítulo discorre sobre a trajetória

metodológica utilizada neste estudo, além de revelar os motivos pelos quais

optamos pela pesquisa qualitativa e, apresentamos também os participantes deste

estudo, os instrumentos e os procedimentos utilizados para a coleta de dados.

A partir dessa descrição metodológica, iniciamos a descrição do Projeto

Fênix e a ampliação de suas bases teóricas. De posse dessas informações,

voltamos o nosso olhar aos responsáveis pela elaboração e coordenação do

Projeto, a principal finalidade desse enfoque seria, captar a essência dos objetivos

práticos e teóricos desenvolvidos entre os anos de 1998 e 2004 através da

percepção individual de suas coordenadoras sobre o processo de envelhecimento,

conceitos de saúde, autonomia, e a perspectiva de um trabalho pautado no âmbito

da Promoção da Saúde. A essência desses direcionamentos nos dá subsídios

para que possamos discorrer sobre a presença de convergências e/ou

divergências conceituais dentro do Projeto Fênix, entre o que fora proposto em

seu documento de implantação, com as ações que realmente foram empreendidas

no decorrer de suas atividades.

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Tal proposição nos leva a responder o último objetivo desse estudo, que

visa refletir sobre o quanto a análise e compreensão do Projeto Fênix contribuiria

para dar-nos indícios sobre o que ocorre no cenário geral de programas de

atividade física para adultos e idosos.

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1. Introdução

Atualmente podemos observar uma ampliação das discussões em torno do

processo de envelhecimento para além das questões relacionadas à saúde, essa

maior discussão observada tanto no âmbito científico, quanto na mídia em geral,

tornou-se realidade em decorrência da necessidade em se assistir uma

população que vêm crescendo ao longo das décadas, carregando consigo não

apenas os problemas relacionados à saúde, mas problemas de cunho social,

político e econômico (IBGE, 2000; MOREIRA, 2001).

Seguindo a tendência mundial, as questões relacionadas à Previdência

Social e à Saúde da população idosa, também se tornaram foco de atenção do

governo brasileiro (Czeresnia, 2003), devido aos elevados gastos decorrentes do

benefício das aposentadorias e pensões, e dos gastos oriundos da Saúde Pública

(períodos prolongados de internações, prescrição de medicamentos, morbidade

instalada, entre outras).

Assim, aqui, como em outros países, as ações preventivas e de Promoção

da Saúde, como por exemplo, políticas públicas sustentáveis, campanhas de

vacinação, programas educativos e até a prática de atividades físicas, foram

adotados, visando não só a redução de custos, mas também como um meio de

contribuir com a qualidade do processo de envelhecimento (CHAIMOVICZ, 1997).

Dentro desse contexto, encontramos a indicação da prática de atividades

físicas, como um meio “alternativo” de se preservar a saúde da população,

através da diminuição e/ou controle de vários fatores de risco como a obesidade,

doenças metabólicas, cárdio-respiratórias, ósteo-musculares, entre outras. Porém

o que podemos observar em nossa sociedade, atualmente, é a comercialização

das atividades físicas como provedora de saúde, como se a prática em si fosse a

solução dos problemas da população, delimitando-se a partir da prática ou não,

os grupos de riscos eminentes a determinadas doenças (BAGRICHEVISKY e

PALMA, 2005; CAPONI, 2003; CASTIEL, 2003).

Essa visão biomédica da relação da atividade física como provedora de

saúde, também é uma realidade dentro da área de Educação Física que, no

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Brasil, como em outros países, foi construída a partir de parâmetros sanitaristas

(CASTELLANI FILHO, 1988b; MARINHO, 1943).

No caso do Brasil, a predominância do paradigma biomédico, iniciou-se

logo na implantação da Educação Física no currículo escolar, em 1889 no Brasil-

República, devido a influência administrativa exercida pelas Forças Armadas, que

estenderam os padrões sanitaristas por eles utilizados às práticas físicas

escolares (MARINHO, 1943).

É importante ressaltar que a construção desses padrões sanitaristas,

dentro da Educação Física brasileira, acarretou na adoção de conceitos sobre a

saúde e a doença que, até então, atrelavam a condição de saudável à ausência

de doenças que foram construídos ao longo dos séculos com o desenvolvimento

das ciências médicas (ROSEN, 1994).

Esse desenvolvimento proporcionado pela adoção do pensamento

científico, das freqüências estatísticas, do método experimental, possibilitou à

Medicina o desvelar de várias doenças, mas por outro lado, a sua especialização

conforme (Ayres, 1995; Ministério da Saúde, 2002; Rosen, 1994), proporcionou o

reducionismo do ser humano, afastando todas as características ambientais e

sociais incidentes sobre os indivíduos, isto é, a subjetividade passa a ser

abandonada e o foco de atenção, torna-se exclusivo na doença concreta

instalada (SANTOS e WESTPHAL, 1999).

Para Czeresnia (2003), o abandono dessa subjetividade passa a

desconsiderar a distância existente entre o conceito de doença, adoecer e a

experiência de vida de um indivíduo, isso porque, a saúde e o adoecer se

manifestam através de experiências singulares e subjetivas, impossíveis de

serem reconhecidas sem a subjetividade que, por sua vez, foram bem

exemplificados pela autora neste trecho:

“...O doente se expressa pela palavra e o médico dá

significado as suas palavras, os relatos cheios de emoção, passam a ser

traduzidos para uma linguagem neutra e objetiva”. (CZERESNIA, 2003:

42)

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Além dessa tendência oriunda das ciências médicas, encontramos como

característica da Educação Física brasileira, o direcionamento de suas práticas

associadas às realidades políticas, sociais e econômicas do país, como por

exemplo: as práticas físicas em prol da eugenização1 da raça brasileira

(Castellani Filho, 1988b; Marinho, 1943); as influências européias no

direcionamento da pedagogia a ser utilizada, destacando-se o método francês

(Marinho, 1943); o “Esporte para Todos” na ditadura militar (Betti, 1991;

Coletânea de autores, 1992); e a tendência mundial pela busca de

conhecimentos sobre a infância (NERI, 1995; KOLYNIAK FILHO, 1996).

Dentro dessa construção histórica, sobre os direcionamentos pedagógicos

da Educação Física, não encontramos indicações sobre a inclusão da população

idosa em relação à prática de exercícios físicos até meados 1936. Nesse período

em questão até 1970, não existia uma preocupação direta com população idosa,

que se exercitava em conjunto de demais coortes etários e, em programas

desenvolvidos para a população em geral, que eram ofertados em praças

públicas, programas de rádio, clubes privados, entre outros (FARIA JÚNIOR et

al., 2005a; MARINHO, 1943).

Uma preocupação mais efetiva, porém discreta, frente ao processo de

envelhecimento, só veio ocorrer no Brasil a partir da década de 1970, fruto de

uma primeira mudança paradigmática, no campo do conhecimento das atividades

físicas e do envelhecimento. Essa transição, veio em decorrência do aumento

demográfico da população idosa, das influências teóricas mundiais sobre a

inclusão de idosos e adultos na prática de atividades físicas e também, das idéias

sobre a terceira idade adulta como a fase da crescente diminuição do rendimento

motor – demonstrando dessa forma, a necessidade de atenção e incremento nas

capacidades físicas dessa população (FARIA JÚNIOR, 2004).

1 Eugenia: movimento criado no ano de 1882, para fortalecer a raça brasileira através da oferta de

exercícios físicos às mulheres brasileiras para que os filhos por elas gerados fossem fortes. O intuito era de

que essas crianças “fortes” defendessem a pátria quando necessário para assim, sobrepujar os negros que

cresciam vertinosamente (CASTELLANI FILHO, 1988b; MARINHO, 1943).

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Essa mudança paradigmática, segundo o referido autor, trouxe à

população idosa uma gama de programas de atividade física, sem orientação

específica; sem delimitação de coorte etário; sem uma pedagogia diferenciada

que, na maior parte das vezes, era adaptada de outros modelos populacionais.

Sobre essas adaptações, encontramos em Neri e Cachione (2004), que as

mesmas, são corriqueiras e decorrentes da escassez de trabalhos específicos

que contribuam diretamente na construção de pedagogias voltadas ao processo

de envelhecimento.

Avançando em nossas pesquisas, observamos na Educação Física da

década de 1980, além de uma abordagem biológica sobre o processo de

envelhecimento, a ampliação de temas que até então, pouco se haviam tido

dentro da área, como as influências sociais incidentes sobre a população idosa, a

necessidade de uma pedagogia própria para atuar com essa população e o

direcionamento das ações encontradas no âmbito da Promoção da Saúde

(FARIA JÚNIOR et al., 2005b).

Sobre a Promoção da Saúde, gostaríamos de salientar que até então,

suas práticas eram organizadas a partir de um enfoque mais behaviorista da

década de 1970, oriundos das discussões promovidas pela divulgação do Informe

de Lalonde que colocou em pauta a necessidade de políticas públicas que

viessem contribuir com a qualidade da saúde da população (BUSS, 2003).

Tal reconhecimento, foi convertido em ações que promovessem a

modificação de “livre e espontânea vontade” do estilo de vida dos indivíduos. Ser

responsável pelos seus atos e ações em relação a saúde, seria crucial dentro

dessa perspectiva, que demonstrava claramente o direcionamento de suas ações

para o fenômeno da culpabilização da vítima2 (CARVALHO, 2004). Apesar

dessa característica, as discussões iniciadas no Informe de Lalonde, serviram de

alerta para a importância de inovações na área de Saúde em rumo a construção

2 Culpabilização da vítima: na área da Promoção da Saúde, a expressão é utilizada para fazer uma crítica ao modelo biomédico que, a partir do reducionismo nos estudos do processo saúde-doença, atribui única e exclusivamente ao sujeito a responsabilidade pela suas condições de saúde, desconsiderando que, muitas vezes, ele é submetido a relações sociais desiguais impostas pelo seu meio capaz de torná-lo mais vulnerável e sem poder de reação (GEREZ, 2006).

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de um novo paradigma em saúde que veio a ocorrer em 1986 com a divulgação

da Carta de Ottawa (BUSS, 2003).

A Carta em questão, se opunha ao enfoque behaviorista que a Promoção

da Saúde vinha adotando desde então, apontando a necessidade de revisão das

intervenções práticas da Promoção da Saúde, da importância da presença de

políticas públicas no direcionamento de suas ações, da necessidade de

fortalecimento da autonomia dos indivíduos e comunidades e, principalmente, na

importância de uma educação para a saúde pautada em uma pedagogia crítica

(OPAS, 2002a). Foi o conjunto dessas ações que contribuíram para o início do

movimento da “nova” Promoção da Saúde que viabilizava aos indivíduos agir com

base em suas escolhas.

O reconhecimento dessa ampliação conceitual em torno da saúde,

autonomia e Promoção da Saúde dentro da Educação Física, passa efetivamente

a conquistar um espaço dentro da área em meados da década de 1990.

Nesse período, pode-se observar, também, a ampliação de discussões em

torno dos deveres e responsabilidades políticas e sociais dos governos sobre

essa população como, por exemplo, a promulgação da Política Nacional do Idoso

(Brasil, 1994) e a Resolução 46/91 da Assembléia Geral das Nações Unidas de

16/12/1991 (ONU, 2000) que recomendava cinco princípios relevantes ao manejo

dessa população como, a independência, a participação, a assistência, a auto-

realização, a dignidade, entre outras.

A soma dessas discussões ocorridas dentro da Educação Física brasileira,

pode ser observada no direcionamento de suas práticas frente ao processo de

envelhecimento e na produção científica e literária produzida no período (FARIA

JÚNIOR et al., 2005b).

E, por esse motivo, acreditamos que exista certa dificuldade prática na

utilização das ações que envolvem a visão de saúde, autonomia e Promoção da

Saúde. Parece-nos que durante a trajetória de estruturação e implementação

desses programas, tais conceitos não foram incorporados em sua essência

apesar de estarem implícitos em suas propostas.

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Se essa característica for corrente, tanto na década de 1990 quanto nos

dias atuais, poderíamos afirmar, que haveria certa dificuldade no domínio

conceitual por parte dos idealizadores dos programas desenvolvidos? Ou seria

um problema de atualização conceitual da própria área de Educação Física?

Para nós, é compreensível que tais dificuldades conceituais possam vir a

ocorrer, quando conceitos tão complexos encontrados no âmbito da Promoção da

Saúde são ampliados. O que não é compreensível é que, apesar da evolução da

Educação Física, percebida através de mudanças paradigmáticas e de sua

ampliação nas dimensões sociais, culturais, políticas, econômicas, da área da

Saúde e Educação, conforme manifesto CONFEF (2002), tais dificuldades, ainda

se apresentem, pois desde a década de 1970, a Promoção da Saúde e seus

construtos vêm sendo ampliados e discutidos mundialmente.

E, por esta questão, acreditamos que a análise de um programa de

atividade física para adultos e idosos, planejado e desenvolvido na década de

1990, contribuiria diretamente para a compreensão da incorporação, ou não, dos

conceitos encontrados no âmbito da Promoção da Saúde em programas que se

propõem a essa relação.

Com esse intuito, selecionamos um programa de extensão comunitária,

denominado Projeto Fênix - Terceira Idade com Qualidade, das Faculdades

Integradas de Guarulhos - São Paulo, que entre os períodos de 1998 a 2004

desenvolveu um programa de atividade física voltado à população adulta e idosa,

que foi extinto no ano subseqüente a implantação da Faculdade para a Idade da

Razão3.

A intenção inicial do Projeto era, atender a população com idade superior a

cinqüenta anos, apesar de envolver indivíduos ainda ativos economicamente e

detentores de autonomia, pois havia a intenção de preparar esta fatia da

população para a fase de transição para o envelhecimento, através de atividades

que poderiam vir a tornar este momento menos agressivo e traumático. 3 Faculdade da Idade da Razão: curso desenvolvido na Faculdade de Guarulhos, voltado à educação de

adultos, oferecendo informações sobre aspectos biopsicossociais do envelhecimento bem como o acesso a

cultura, lazer, atividades físicas e educação continuada em disciplinas nos cursos regulares da instituição.

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Desse modo, a estrutura na qual o Projeto Fênix foi elaborado nos

possibilitaria visualizar o direcionamento de suas práticas dentro de um período

em que o envelhecimento torna-se foco de discussão mundial e a Promoção da

Saúde ganha espaço dentro da Educação Física brasileira.

Tendo como foco de análise o ideário da Promoção da Saúde e levando

em consideração a dificuldade prática de direcionamento de suas ações dentro

de programas de atividades físicas voltados à população idosa, perguntamos:

havendo falta de coerência no norteamento de ações baseadas na Promoção da

Saúde, esta seria resultado de dificuldade com a implementação de tais ações ou

seria um problema de ampliação e/ou atualização conceitual em torno das ações

que envolvem a Promoção da Saúde dentro da Educação Física brasileira?

Para desenvolver a pesquisa que responda a esse questionamento, o

objetivo geral deste estudo será averiguar, a partir da perspectiva teórica da

Promoção da Saúde, as divergências e convergências conceituais de saúde

autonomia e Promoção da Saúde no direcionamento das práticas de atividades

físicas desenvolvidas pelo Projeto Fênix. Seguem-se ao objetivo geral três

objetivos específicos: (1) analisar a fundamentação teórica e as ações

empreendidas no Projeto Fênix para estabelecer qual a perspectiva filosófica de

saúde, autonomia e Promoção da Saúde que o norteou, (2) compreender as

divergências e convergências conceituais que dão base às suas ações práticas;

(3) refletir sobre o quanto a análise e compreensão do Projeto Fênix podem dar

indícios o que ocorre no cenário mais geral de programas de atividade física para

adultos e idosos.

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2 - Revisão de Literatura 2.1 Envelhecimento

Conforme Debert (1999) a velhice não é uma categoria natural, mas uma

categoria socialmente construída que faz distinção, entre um fato natural (ciclo

biológico, do ser humano), e um fato universal (fatores sociais e históricos) que

proporcionam por sua vez, formas diferentes de se conceber e viver o

envelhecimento.

No ciclo biológico encontramos em Brach et al. (2004); Fried et al. (2000);

Hayflyck (1996); Nelson et al. (2004) descrições sobre as alterações orgânicas

que acompanham um indivíduo durante todo o seu processo de envelhecimento

como, por exemplo, a diminuição da força muscular, VO2 máximo, acuidade

visual, densidade mineral óssea; modificações hormonais; aumento de peso;

demências; entre outras.

Apesar da evidência dessas alterações, isso não significa que um

indivíduo idoso, irá se deteriorar da noite para o dia, perdendo toda sua

capacidade funcional, motora, cerebral, entre outras funções. Isso não ocorre

porque tanto para os mais jovens quanto para os mais velhos, existem

mecanismos compensatórios que procuram ajustar o indivíduo fisiologicamente a

sua nova realidade, fazendo com que, no caso dos idosos, a qualidade funcional,

seja preservada pelo maior espaço de tempo, limitando-se apenas às forças

inexoráveis do envelhecimento (HAYFLYCK, 1996).

Já em relação aos fatores sociais e históricos a sua visão, nos possibilita

compreender, pelo menos nas sociedades ocidentais, como é o caso do Brasil,

as questões que estão imbricadas dentro desse processo como, os estereótipos

negativos, os termos classificatórios, a imagem de fragilidade, dependência,

improdutividade, entre outras. Com base nessas informações podemos, a partir

daí, refletir sobre o grau de impacto que esses fatores, desencadeiam na

construção de um conceito individual e/ou coletivo sobre o envelhecimento, e o

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quanto esse conceito pode vir a interferir em ações voltadas a essa população,

principalmente na área de Educação Física.

O que chama a atenção, quando se discute o envelhecimento em nossa

sociedade é a segmentação das discussões que envolvem este processo, dando-

se a impressão de que os fatores biológicos ocorrem em separado às questões

sociais e históricas e vice e versa. Mas, encontramos na literatura que a recíproca

não é verdadeira, pois o processo de envelhecimento dá-se através da interação

de diversos fatores sejam eles, sociais, políticos, econômicos, históricos,

ambientais e biológicos (ALVES JÚNIOR, 2004; BRASIL, 2003; SILVA, 2004).

Sob o ponto de vista e estudo da antropologia segundo Debert, (1999)

esta segmentação, estaria relacionada a três problemas característicos: o

primeiro se dá por ser o envelhecimento uma categoria socialmente produzida,

que possui como referência os processos biológicos universais; o segundo diz

respeito as questões que, nas sociedades ocidentais contemporâneas, passaram

a ser problemas sociais e o último estaria relacionado aos temas em torno dos

quais o envelhecimento é transformado em objeto de estudo.

2.1.1 Categorização social do envelhecimento

A “categorização” pode ser observada através das grades específicas de

idades, construídas e desconstruídas ao longo dos séculos em nossa sociedade

(Debert, 1999; Motta, 2002; Neri, 1995) que, segundo a antropologia

(abandonando-se a visão da psicologia clássica sobre as fases do

desenvolvimento humano), seria um princípio constitutivo de grupos sociais, para

se impor deveres e obrigações, como o tempo, para se educar, entrar na

faculdade, casar, ter filhos, se aposentar e tornar-se velho. Essa tendência,

também se estendem às dimensões do mundo doméstico, do trabalho e do

consumo (MINAYO e COIMBRA JR., 2004; HECKHAUSEN e SHULTZ, 1997).

Um exemplo simples dessa categorização, são as idades estipuladas para

ingresso de idosos em programas de atividades físicas que variam, entre a idade

de 50 anos (pré-aposentadoria), geralmente com o intuito de preparar o indivíduo

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para o enfrentamento do envelhecimento e, acima de 60 anos (aposentadoria)

visando, na maior parte das vezes, amenizar a falta de lazer, convívio social e

capacidade funcional. Um exemplo clássico dessa categorização seria o termo

mais comumente utilizado em nossa sociedade a “terceira idade”.

2.1.2 A velhice como um problema social

A transformação da velhice como um “problema social”, segundo Debert,

(1999) não seria decorrente do aumento demográfico dessa população assim

como sugere os demógrafos e freqüentemente os cientistas sociais, mas sim,

viria como resultado, da própria construção social do envelhecimento que, em

nossa sociedade, assume um contexto de novas dimensões e definições, como o

termo mais comumente utilizado “terceira idade” (Minayo e Coimbra Jr., 2002).

Essa expressão, nascida na França da década de 1960 em pleno

desenvolvimento capitalista, tinha como função estabelecer o período que uma

pessoa deveria se aposentar. Essa estratégia criada para que os industriais da

época aumentassem os seus lucros, foi realizada a partir do vinculo da imagem

de trabalhadores experientes à incapacidade e à improdutividade.

Dessa forma, justificou-se a troca da mão de obra “velha” e onerosa por uma

mão de obra “jovem” e mais barata. Esse simples remanejamento empresarial

transformou o benefício da aposentadoria em um estereótipo para a população

idosa, em um problema sócio-econômico às empresas que posteriormente

atingiram o Estado (PEIXOTO,1998).

Além do termo “terceira idade”, observa-se, pelo menos nas sociedades

ocidentais, a existência de adjetivos com o propósito de substituir a visão

negativa atrelada à condição de velhice, dentre esses, destacamos: adulto

maduro, melhor idade, pessoa idosa, idade de ouro, idade da razão, idoso,

pessoa na meia idade, idade madura, maturidade, idade legal, entre outros

(CARLOS, 1999; PEIXOTO, 1998).

Entretanto, essa realidade conforme Debert (1999), pode vir a assumir

novos direcionamentos principalmente se um indivíduo possuir, destaque na

mídia, status social, político, econômico e intelectual. Nessa condição, os

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marcadores biológicos passam a ser ignorados, valorizando-se então, a produção

social desse indivíduo e não a sua condição de velho.

Segundo Motta (2002), nem o âmbito científico estaria livre das influências

sociais sobre o envelhecimento. Pois, a construção social dessa fase da vida bem

como a construção de outros conceitos, são adquiridos ao longo de nosso

desenvolvimento. Por esse motivo, torna-se importante, questionarmos o quanto

essa influência pode vir a interferir e/ou direcionar a produção de intervenções

voltadas à população idosa, não apenas no âmbito científico.

2.1.3 Envelhecimento como objeto de estudo

O último fator que contribuiria para a segmentação das discussões sobre o

processo de envelhecimento, estaria relacionado aos temas em torno dos quais a

velhice é transformada em objeto de estudo.

Essa transformação iniciou-se a partir do aumento demográfico da

população idosa, em decorrência do desenvolvimento da área da Saúde

(Canguilhem, 1978; Carstensen, 1995; Rosen, 1994), da urbanização das

cidades e da melhoria do cenário trabalhista, proporcionando a população um

progresso em sua qualidade de vida (NERI, 1995).

Dessa maior longevidade, surgiu-se então, a curiosidade científica pelo

processo de envelhecimento, pois, até meados do século XIX, a taxa de

mortalidade em adultos era elevada, impedindo que um indivíduo chegasse ao

longo dos séculos à velhice (ROSEN, 1994).

As exigências sociais em relação às demandas, necessárias à manutenção

dessa população, também tiveram um papel importante nessa transformação,

principalmente, por permitir a ampliação de discussões indo além do foco no

indivíduo como: apoio a familiares e cuidadores, custos previdenciários e da área

da Saúde, formação de recursos humanos, oportunidades educacionais e

ocupacionais para idosos e pessoas de meia-idade (PEIXOTO, 1998).

Se observarmos atentamente o processo de envelhecimento não se dá

apenas em uma vertente, vários fatores estão presentes dentro desse processo

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fazendo com que a sua investigação não se aplique apenas na área da Saúde,

nos estudos demográficos e nas políticas sociais e econômicas.

A abrangência desse processo faz com que cada área de conhecimento nos

forneça informações, com base no que lhe é pertinente a sua linha de pesquisa.

Se fizermos uma rápida analogia dessa característica com os estudos

anatômicos da Medicina, parece-nos que o envelhecimento vem sendo estudado

por partes, partes essas, que procuram constituir um todo a partir da visão de

cada área de saber científico.

Essa tendência à especialização nos leva a refletir sobre dois aspectos: o

primeiro seria em relação ao impacto que essas informações, produzem não só

na comunidade científica, mas na sociedade em geral que vê a ciência como uma

fonte de produção confiável; e a segunda, diz respeito a possibilidade de que a

ciência não se isente das influências sociais incidentes sobre o processo de

envelhecimento, não nos garantindo a imparcialidade de que a produção de

conhecimento não esteja baseada nas crenças sobre o comportamento humano,

retirados de representações coletivas, do mundo social dos próprios

pesquisadores (BALTES e SILVERBERG, 1995; CARSTENSEN, 1995

MOTA, 2002).

Questionando sobre essa possibilidade, como ficaria o direcionamento das

práticas da Educação Física em prol da população idosa, já que a mesma utiliza

a produção científica sobre essa fase da vida para o incremento de suas

atividades? Essa é uma questão que discutiremos no decorrer dessa dissertação.

Por enquanto, ateremos nossa atenção em torno das práticas encontradas no

âmbito da Promoção da Saúde, pois podemos observar a freqüência com que

sua indicação aparece na literatura produzida e nas propostas de atividades

físicas voltados à população idosa (FARIA JÚNIOR et al., 2005a,b,c).

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2.2 Promoção da Saúde e envelhecimento

Nesse capítulo, abordaremos as ações encontradas no âmbito da

Promoção da Saúde, por entender que a sua indicação também contribui para o

incremento da manutenção da qualidade do processo de envelhecimento, através

da educação para a saúde pautada em uma pedagogia crítica, assim como

sugere o Relatório final da XI Conferência Nacional de Saúde, no capítulo em que

se refere à Democratização das Informações:

“As políticas de Informação, Educação e Comunicação

devem [...] estar voltadas para a promoção da saúde, que abrange a

prevenção de doenças, a educação para saúde, a proteção da vida, a

assistência curativa e a reabilitação sob responsabilidade das três esferas

de governo, utilizando pedagogia crítica, que leve o usuário a ter

conhecimento também de seus direitos; dar visibilidade à oferta de

serviços e ações do SUS; motivar os cidadãos a exercer os seus direitos

e cobrar as responsabilidades dos gestores públicos e dos prestadores

de serviços de saúde”. (CNS, 2000: 165-166)

Levando em consideração a complexidade das ações que circunscreve o

âmbito da Promoção da Saúde, e visando facilitar uma linha de raciocínio em

nossas discussões, sobre ações que já são empreendidas frente ao processo de

envelhecimento, decidimos por dividir nossos discurso em três momentos

distintos: iniciados na valorização da Promoção da Saúde pela Medicina Social

do século XIX, passando pelo movimento moderno da Promoção da Saúde em

1974 e, finalizando com a Primeira Conferência Internacional sobre a Promoção

da Saúde e divulgação da Carta de Ottawa em 1986.

Para tanto, necessitamos abordar que a organização das práticas que

envolvem o movimento da Promoção da Saúde, se iniciaram a partir de conceitos

objetivos não da saúde, mas da doença, construídos ao longo da história da

Saúde Pública (CEZERESNIA, 2003).

Essa característica, por sua vez, veio em decorrência das doenças que

assolavam as sociedades ocidentais, fazendo com que muitos não chegassem a

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fase adulta, e poucos passassem pela velhice. Foi diante dessa realidade iniciada

no período medieval, que a doença e sua cura tornaram-se foco exclusivo de

atenção e a saúde passou a ser entendida como a ausência de doenças,

restringida inicialmente a termos mágicos-religiosos, organizada posteriormente

em termos científicos-concretos e percebida no século XIX em termos sócio-

econômicos (BAGRICHEWISKY e PALMA, 2005; ROSEN, 1994; SOUTO

MAIOR, 1976).

2.2.1 Valorização da Promoção da Saúde

A Promoção da Saúde como a conhecemos modernamente, começou a

ser construída na metade do século XIX em plena era bacteriológica. Foi nesse

ínterim que as políticas públicas financeiras, começaram a sofrer os impactos

proporcionados pela expectativa de vida, que vinha aumentando com decorrer

dos séculos, em associação dos fenômenos urbanos e dos desajustes sociais

(CANGUILHEM, 1978; PALMA et al., 2003; ROSEN, 1994).

Diante deste quadro, a Saúde Pública adota um novo discurso, valoriza a

Promoção da Saúde e reconhece a existência de uma relação entre o status

saúde e as condições de vida de um indivíduo que, até então, eram negadas

desde o período greco-romano (CZERESNIA, 2003; ROSEN, 1994).

Apesar dessa valorização, o campo de atuação da Promoção da Saúde,

continuou vinculado às ações do modelo preventivo, vindo a conquistar o seu

espaço e identidade apenas no século XX (Buss, 2003; Nunes, 1992; Teixeira,

2002a), com a ampliação do conceito de saúde oriundos, de mobilizações

voluntárias de países industrializados, que se preocupavam com o bem-estar de

sua população – principalmente em relação a classe operária (ROSEN, 1994).

Essas ações voluntárias, dirigidas em sua maior parte ao campo da saúde,

foram movidas apenas pelo senso de cidadania da população e, serviram como

modelo e estímulo para as ações oficiais empreendidas posteriormente pelos

governos. Foi através desses movimentos, que surgiram, serviços de saúde

pautados em novas concepções, sobre a saúde e a doença, que até então, eram

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inexistentes e apenas desenvolvidos em agências voluntárias de saúde4

(ROSEN, 1994).

Em meados dos anos 70, especialmente nos países como Canadá,

Estados Unidos e Europa Ocidental, encontramos o início de questionamentos

dentro da área da Saúde a respeito dessas novas concepções que envolviam o

processo saúde-enfermidade-cuidado. Tudo isso porque as ações empreendidas

não estavam direcionadas a uma determinada doença ou desordem, mas sim

focadas em aumentar a saúde e o bem-estar geral de um indivíduo, de uma

comunidade ou de uma população, transcendendo a idéia original de saúde como

ausência de doenças, dando origem ao movimento moderno da Promoção da

Saúde (BUSS, 2003).

2.2.3 Movimento Moderno da Promoção da Saúde

O movimento moderno da Promoção da Saúde surge no Canadá em 1974

em decorrência das discussões ocorridas com a divulgação do Informe de

Lalonde. Segundo Buss (2003), este documento foi o primeiro passo rumo a

definição de um novo paradigma em saúde, abrindo portas para o

reconhecimento político da necessidade de inovações na área e da importância

das inter-relações com a eqüidade social (PALMA et al., 2003).

Os fundamentos desse documento contemplavam a decomposição dos

chamados determinantes da saúde em quatro componentes: biologia humana

(genética), ambiente (natural e social), estilos de vida (comportamentos

individuais que afetariam a saúde) e a organização dos sistemas de saúde que

poderiam, desse modo, ser mais abrangentes em suas atuações (BUSS, 2003;

OPAS, 2002b).

Entretanto, as estratégias elaboradas no Informe de Lalonde, não estavam

focadas única e exclusivamente as questões relacionadas à Promoção da Saúde, 4 Agências voluntárias de saúde: A sua origem deu-se na luta contra a pobreza e a privação da população, principalmente nos Estados Unidos, procurando demonstrar o papel destrutivo da insalubridade e das doenças nas vidas dos pobres que necessitavam de ações mais vigorosas para combater as enfermidades e suas conseqüências. Atuavam também na representação do interesse público no terreno da saúde; procuravam mostrar meios para que os serviços de saúde melhorassem; ocupavam-se em fazer avançar as pesquisas e legislações referentes á saúde estimulando-as por meio da educação (ROSEN, 1994).

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a mesma foi utilizada para compor uma das cinco estratégias (regulação,

eficiência da assistência médica, pesquisa, fixação de objetivos e promoção da

saúde) elaboradas para abordar os assuntos relacionados à saúde, que por sua

vez, estavam focadas em intervir, influenciar e assistir comportamentos

individuais não-saudáveis da população (BUSS, 2003; CARVALHO, 2004).

O resultado dessas intervenções, segundo Carvalho (2004), no que se

refere a adoção de hábitos saudáveis, se deu em maior parte nas classes sociais

mais abastadas, em contrapartida aos grupos sociais marginalizados que, por via

de regra, deveriam compor a porcentagem dessa adesão.

Essa constatação, segundo o referido autor serviu de alerta na década de

1980, sobre a perspectiva behaviorista, que a Promoção da Saúde vinha

tomando desde então, principalmente, quando da sua utilização no suporte à

implantação de políticas socialmente restritivas, que responsabilizavam as

vítimas da iniqüidade social por suas ações. Isto é, cabia ao governo a oferta de

informações, sobre hábitos saudáveis e a melhora dos serviços de saúde, mas a

adoção e a procura por tais informações, seriam de responsabilidade dos

indivíduos.

2.2.2 Promoção da Saúde e a Carta de Ottawa

O grande marco da Promoção da Saúde ocorreu em Ottawa-Canadá, em

1986, com a Primeira Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde,

tendo como base de suas discussões, os progressos obtidos com a Declaração

de Alma-Ata para os Cuidados Primários em Saúde5 em 1978; o documento,

com bases estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde, sobre a Saúde

para Todos e o debate ocorrido na Assembléia Mundial da Saúde a respeito de

ações intersetoriais para o setor da Saúde (OPAS, 2002a; OPAS, 2002b).

5 Declaração de Alma-Ata: buscou chamar a atenção mundial sobre os pré-requisitos à saúde da

população que, estariam relacionados a eqüidade social as medidas sanitárias eficientes, ao acesso à educação, saúde, moradia, paz; ecossistema estável, sustentabilidade dos recursos naturais e tecnologias, que proporcionassem o desenvolvimento social e econômico global das comunidades dando o direito a uma vida social e economicamente produtiva, viabilizando a participação das comunidades e suas famílias no desenvolvimento e organização dos assuntos relacionados à saúde e ao auto-cuidado, (OPAS, 2002b).

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A proposta da Carta de Ottawa se opunha àquela visão behaviorista até

então utilizada, apontando a necessidade no campo específico da saúde, de uma

maior participação dos indivíduos e comunidades no controle desse processo

para que, dessa forma, os indivíduos possam vir a modificar o seu ambiente

favoravelmente, de modo a satisfazer as suas aspirações e necessidades

(BYDLOWSKI et al., 2004; CZERESNIA, 2003).

A saúde, nesse contexto, passa a ser vista como um conceito positivo,

sendo prioritário à saúde uma base sólida, composta por paz, habitação,

educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis,

justiça e eqüidade social. Demonstrando que as questões relacionadas à saúde,

não poderiam ser de responsabilidade exclusiva da área da saúde e sim, de uma

maior interação, com os governos e os demais setores públicos, privados, da

mídia, dos profissionais da saúde, das famílias e suas comunidades, do

voluntariado, entre outras ( BYDLOWSKI et al., 2004; OPAS, 2002a).

Dessa maneira, a Carta de Ottawa sublinha a importância dessa parceria

governamental com os demais setores da sociedade, pois seria através dessa

interação que as ações - visando a construção de políticas públicas saudáveis, a

reorientação dos serviços de saúde, a criação de ambientes favoráveis e

principalmente a possibilidade no desenvolvimento de habilidades individuais da

população - seriam alcançadas (OPAS, 2002a).

Apesar das propostas citadas acima, apresentarem-se bem definidas,

ainda hoje, após 20 anos de divulgação da Carta de Ottawa, percebemos que

existe uma certa dificuldade na compreensão das ações, que constituem as

práticas da Promoção da Saúde que, muitas vezes, passam a ser confundidas

e/ou relacionadas apenas as ações preventivas à saúde.

Essa dificuldade, talvez, possa ser explicada de duas formas: a primeira se

dá na origem das duas práticas, que possuem como base, os conceitos clássicos

que orientam a produção do conhecimento específico em saúde; e a segunda,

viria da resistência em se aceitar um novo paradigma em saúde devido a

credibilidade científica da Medicina construída ao longo dos séculos em nossa

sociedade (CZERESNIA, 2003; QUEIROZ, 2003).

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Agora, em relação ao processo de envelhecimento, entendemos que o

direcionamento das práticas encontradas no âmbito da Promoção da Saúde,

contribuiriam diretamente no incremento da qualidade dessa fase da vida, que

não pode ser entendida apenas como o período de perdas e estagnação, mas

como um período de ganhos vislumbrados pela singularidade do envelhecimento

de cada indivíduo.

A viabilidade desse incremento, ocorreria, por ser a autonomia um dos

construtos básicos da Promoção da Saúde, que utiliza para a promulgação de

suas ações a educação para saúde, pautada em uma pedagogia crítica, que leva

em consideração as experiências e impressões diversificadas sobre a vida de

cada indivíduo, que valoriza as potencialidades individuais, que facilita o diálogo e

a construção de conhecimentos independente do status de saúde, condição

social e econômica (AZANHA, 2006; OPAS, 2002a; PEREIRA, 2003).

Segundo a Carta de Ottawa, “as pessoas não podem realizar

completamente seu potencial de saúde se não forem capazes de controlar os

fatores determinantes de sua saúde” (OPAS, 2002a: 2). Nesse trecho podemos

observar a importância da capacidade em se “poder controlar” demonstrando,

que o exercício da autonomia de um indivíduo, pode fazer toda a diferença em

relação não só a sua saúde.

A falta do ato de decidir por si só Freire (1997), contribuiria para o

enfraquecimento da iniciativa e esforços individuais, que podem, por sua vez,

afetar a auto-estima, o respeito próprio, produzindo um sentimento de

incapacidade e até a submissão que, segundo Sen (2000), explicaria em parte a

falta de iniciativas individuais em prol da saúde e do bem-estar.

Apesar, da condição de fortalecimento da autonomia dos indivíduos

apresentar-se bem definida nas práticas da Promoção da Saúde, é possível

encontrar o conceito de autonomia atrelado ao desenvolvimento da condição

física e motora de um indivíduo e não associada ao poder de decidir.

Segundo Farinatti (2000), essa dificuldade em se distinguir a autonomia,

dependeria diretamente da visão de saúde que os indivíduos possuem, mas se

observarmos atentamente podemos acrescer a esse fato, toda a dificuldade de

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compreensão de um conceito complexo que, culturalmente, não é observado na

população brasileira e nem da América Latina (Galeno, 1987; Litvak, 1990 apud

Chaimowicz, 1997), por sermos fruto de um país cujo sistema sempre foi

assistencialista.

Como podemos cobrar que o fortalecimento da autonomia de indivíduos,

se circunscreva dentro de um ambiente crítico, se tanto para quem oferece

informações quanto para quem recebe, essa oportunidade culturalmente é pouco

desenvolvida? Como demonstrar que o “verdadeiro conhecimento” pode ser

produzido através do diálogo? Como demonstrar que a adoção de uma

pedagogia crítica possibilita para ambos os lados (profissionais e população) uma

participação mais ativa na construção de conhecimentos? (FREIRE, 1997;

AZANHA, 2006; PEREIRA, 2003; QUEIROZ, 2003)

Essa é uma questão digna de discussão entre as áreas que atuam

diretamente com a população idosa, pois podemos encontrar divergências

conceituais no que tange a utilização da autonomia na área da Saúde, atrelada a

significados como: dependência, invalidez, deficiência, incapacidade,

dependência social, aptidão e desempenho (FARINATTI, 2000).

Caberia a quem informar que a autonomia não se organiza apenas à

relação de capacidade ou funcionalidade motora? Por esse motivo seria crucial

aos profissionais que atuam com essa população, o questionamento sobre o tipo

de autonomia que estão desenvolvendo, para que dessa forma, divergências

conceituais deixem de ocorrer no direcionamento prático de ações em prol dessa

população.

Nesse contexto, entendemos que o ideário da Promoção da Saúde faz

uma ligação harmoniosa no que diz respeito a interação da educação com os

aspectos que norteiam a saúde, pois envolve os indivíduos e comunidades na

ação, dando poder de voz para que, os mesmos, escolham o melhor caminho a

ser trilhado dentro de seu próprio curso de vida.

Por esse motivo acreditamos que a extensão dessa possibilidade dentro

da Educação Física, no direcionamento de suas práticas, incrementaria os

trabalhos desenvolvidos agregando aos benefícios fisiológicos proporcionados

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pela prática de atividade física o fortalecimento de suas potencialidades em prol

de seu bem-estar e de sua saúde.

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2.3 Envelhecimento e atividade física

No capítulo anterior, discutimos as ações encontradas no âmbito da

Promoção da Saúde e o incremento que a sua utilização pode vir a proporcionar

a qualidade do processo de envelhecimento de um indivíduo. No caso da

Educação Física, essa perspectiva de ações, poderia ser desenvolvida em

conjunto da prática de atividade física, que diretamente estimularia um

crescimento integral dos indivíduos em relação ao discernimento da importância

da prática em si.

Isso significa que, atividade física, não seria adotada apenas pela

obtenção dos benefícios fisiológicos, mas sim, em relação ao significado que a

mesma possui para esses indivíduos, no qual os benefícios fisiológicos,

compõem um dos significados da adoção de uma modalidade esportiva, de uma

simples caminhada, entre tantas outras opções.

Em relação aos benefícios proporcionados à população idosa pela prática

regular de atividades físicas, observamos que atualmente a sua indicação é

realizada como uma forma de se obter algum benefício, seja ele relacionado à

saúde, estética, ou simplesmente pelo bem-estar oferecidos pela prática em si.

Não podemos afirmar que é de conhecimento dessa população a extensão

desses benefícios, mas podemos ressaltar, que devido a exploração que a mídia

faz em torno do tema “atividade física” como provedora de saúde, grande parte

de informações, relacionadas à saúde, estética, longevidade, entre outras,

acabam por ser divulgadas não só à população idosa (MIRA, 2003;

WAISSMANN, 2003).

No âmbito científico a produção e divulgação de tais benefícios pode ser

observada através de variáveis psicossociais, sócio-culturais e principalmente

nas questões biológicas, visando preservar, por maior espaço de tempo a

autonomia motora e a capacidade funcional dessa população (FARIA JÚNIOR et

al., 2005a; SANTOS, 2002).

Esse maior enfoque vêm em decorrência da observação na diminuição

gradativa das atividades físicas vigorosas, moderadas, e da vida diária

proporcionado pelo avanço cronológico dessa população, bem como da

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possibilidade de resguardo físico, com o propósito de manutenção da integridade

física (BRACH et al., 2004;),

Levando em consideração essa realidade, fica impossível não estabelecer

que a prática de atividade física mesmos que não propicie alterações fisiológicas,

contribui diretamente para a manutenção do status de saúde dessa população,

seja ela através da prática regular e/ou através de atividades pré-estabelecidas,

por um profissional da área de saúde (ACSM, 2003; CHAIMOWICZ, 1997).

O reflexo dessa contribuição, poderia ser observado principalmente na

diminuição do período de morbidade ou pré-morbidade instalada; no número de

internações por quedas e acidentes doméstico; na menor porcentagem de

doenças crônicas não-transmissíveis (cardíacas, pulmonares, articulares) e na

redução do agravo de quadros clínicos já instalados, entre outras (BRACH et al.,

2004; FRIED et al., 2000; MATSUDO, 2000).

A atividade física, nesse contexto, contribui para o incremento de uma

vida saudável, não apenas na relação oriunda de estímulos biológicos, mas

também pela viabilidade de benefícios em relação as variáveis sócio-culturais

como a construção e/ou manutenção de uma nova rede de amizades sociais,

culturais e inter-culturais (Chodzko-Zajko, 2002; Stella, 2002) e nas variáveis

psicossociais como a satisfação com a vida, auto-estima, auto-conceito, aumento

dos afetos positivos, diminuição dos afetos negativos, percepção de controle

sobre os eventos (MIRANDA, 2002).

O conjunto dos benefícios já descritos, contribuiriam para que cada

indivíduo desse continuidade em sua vida, integrado ao contexto social e

reconhecido com ser singular que o é (COSTA, 2001; OKUMA, 2003).

Apesar dos benefícios biológicos, psicossociais, e sócio-culturais se

apresentarem bem definidos e fundamentados na literatura científica, não

gostaríamos de apontar a atividade física como uma solução para a saúde da

população idosa, assim como, é observada na atual comercialização da prática

como provedora de saúde conforme aponta Bagrichevisky et al (2005), senão

como um caminho a ser trilhado em associação com políticas públicas que,

venham a contribuir não apenas com a oferta de programas de atividade física,

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mas com propostas educacionais que possibilitem o acesso a informações sobre

essa fase da vida e o entendimento da necessidade da prática em si que, por sua

vez, podem ser desenvolvidas dentro da Educação Física.

Entendemos que a área em questão, como já diz o próprio nome, é um

processo de “Educação” que, segundo Steinhilber (1996), seria um meio

privilegiado por abranger o ser humano em sua totalidade, não se

circunscrevendo apenas à relação de causa e efeito oriundos de estímulos

biológicos (atividades físicas), mas de acordo com Mira (2003 p.174),

representando um “fenômeno de múltiplas dimensões” associando questões

biológicas, psicológicas, sociais e culturais, nos quais os componentes da

Educação se fazem presentes.

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2.4 Envelhecimento e Educação Física Brasileira

Esse capítulo tem como intuito, mostrar um panorama geral de como o

tema envelhecimento vem sendo discutido no âmbito da Educação Física

brasileira, levando em consideração suas transições, mudanças paradigmáticas e

suas ampliações para as dimensões e realidades sociais, culturais, políticas e

econômicas desde a sua implantação.

Diante dessas transições, encontramos o direcionamento das práticas da

Educação Física frente ao processo de envelhecimento, focados em maior parte

às questões biológicas e ao desenvolvimento das capacidades motoras e

funcionais. Essa característica que não se aplica apenas à população idosa seria

decorrente da adoção do paradigma biomédico pela área (TOJAL, 1998; ROLIM

e FORTI, 2004).

Essa característica se inicia durante o período de implantação da

Educação Física brasileira no Brasil República (1889-1930). Foi devido a

ausência de um Ministério, que viesse assumir as responsabilidades da

implantação da Educação Física no território nacional, que as Forças Armadas

assumiram a primeira administração da área, fazendo com que os padrões

higienistas da Medicina por eles utilizados, se estendessem a prática física

escolar (MARINHO, 1943).

Esse modelo higienista-militar, baseado nos conceitos anátomo-

fisiológicos foi substituído na década de 1940, por um modelo mais abrangente

baseado nas questões biosócio-filosóficas (DARIDO, 2003). Segundo a autora,

essa mudança impulsionou a Educação Física a assumir um novo discurso, o

qual se auto-afirmava como um “meio” para se educar, pois a educação do

movimento por seu entendimento, seria a única forma capaz de promover a

chamada educação integral.

Entre as décadas de 1960 e 1970, observamos a pressão da ditadura

militar em transformar o Brasil em uma potência através do esporte (BETTI, 1991;

COLETÂNEA de AUTORES, 1992). Também houve o direcionamento de suas

práticas para o processo mecânico de gestos em busca da perfeição, ocorrendo a

super valorização das habilidades motoras e a discriminação dos menos

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habilidosos (CASTELLANI FILHO, 1993a; CASTELLANI FILHO, 1988b). É nesse

período que ocorre o surgimento do movimento “Esporte para Todos” e a frase

“Esporte é Saúde”, segundo indicou Darido, (2003), expressão bem atual em

decorrência da mercadorização da saúde e dos fatores de risco associados às

pessoas que não se exercitam (BAGRICHEVISY E PALMA, 2005; CAPONI,

2003; PALMA et al., 2003).

Dentro desses direcionamentos pedagógicos ao longo da construção da

Educação Física, não observamos indicações sobre a inclusão da população

idosa a prática de exercícios físicos até meados 1936. Nesse período em questão

até 1970, não existia uma preocupação direta com população idosa, existia sim,

uma preocupação com a “possibilidade” do envelhecer principalmente em torno

do sexo feminino. A população idosa nesse sentido se exercitava em conjunto de

demais coortes etários e, em programas desenvolvidos à população em geral que

eram ofertados, em praças públicas, programas de rádio, clubes privados, entre

outros (FARIA JÚNIOR et al., 2005a; MARINHO, 1943).

Uma preocupação mais efetiva, porém ainda discreta, frente ao processo

de envelhecimento só veio ocorrer no Brasil a partir da década de 1970, fruto de

uma primeira mudança paradigmática, no campo do conhecimento das atividades

físicas e do envelhecimento.

Essa mudança, conforme Faria Júnior (2004), deu-se em decorrência da

transição demográfica do envelhecimento associada a quatro influências teóricas:

o Esporte para Todos de Per Hauge-Moe; o estímulo e a inclusão de adultos e

idosos nos programas de atividades físicas de Kenneth H. Cooper; a

matroginástica (atividade entre mães e filhos de diferentes idades) de Helmt

Schultz e das idéias de Kurk Meinnel que caracterizava a terceira idade adulta

como a fase da crescente “diminuição do rendimento motor”.

Essa nova realidade paradigmática, fez com que a oferta de programas de

atividade física, voltados à população idosa, aumentasse demasiadamente, sem

uma fundamentação teórica adequada, sem uma delimitação de coorte etário,

sem qualidade e segurança nas sessões, que poderiam variar entre funções

profiláticas e reparadoras (FARIA JÚNIOR et al., 2005b).

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Na década de 1980, ainda observamos a predominância da Educação

Física voltada as questões biológicas e ao desenvolvimento das capacidades

motoras e funcionais da população idosa. Apesar desse enfoque mais biológico,

notamos nesse período que as questões de cunho social, pedagógico e da área

da Promoção da Saúde, passam a conquistar um pequeno espaço de discussão

dentro da área, sendo ampliados apenas na década de 1990 (FARIA JÚNIOR,

2004; 2005b).

Em conjunto dessa ampliação observamos, na sociedade da época,

mudanças de cunho social e político em relação ao envelhecimento citamos a

Resolução 46/91 da Assembléia Geral das Nações Unidas de 16/12/91 (ONU,

2000), que colocou em pauta as responsabilidades e deveres sociais, políticos e

econômicos em relação à qualidade do processo de envelhecimento; a Política

Nacional do Idoso, na criação e incentivo de programas de lazer, esporte,

atividade física, pesquisa, a inclusão da Gerontologia e Geriatria nas disciplinas

curriculares dos cursos de ensino superior, entre outros (BRASIL, 19994).

Um fato que chamou a atenção dentro dessa ampliação foi o

reconhecimento pelo Ministério da Educação e Turismo de que os idosos vinham

conquistando novos espaços na sociedade e que o ato de aprender se fazia

necessário. Nesse sentido, a Educação Física, teria por incumbência a busca por

estratégias de intervenção prática que viessem a contribuir com a vida dessa

população (FARIA JÚNIOR et al., 2005a).

A década de 1990 foi um período importante no direcionamento das

práticas da Educação Física frente ao processo de envelhecimento. Pois,

encontramos que a sua indicação deveria estar aliada aos processos de

prevenção e promoção da saúde, nos quais o componente educação, começam a

se destacar como item necessário para a promoção da qualidade do

envelhecimento. Tais ações eram preconizadas, porque já se vislumbrava para o

século XXI as demandas que seriam necessárias para a manutenção dessa

população (CHAIMOWICZ, 1997; RAMOS, 1987; RASSI, 1994).

Com a passagem do século XX para o século XXI, a Educação Física

brasileira manteve a mesma freqüência na busca de saberes voltados às

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questões biológicas e ao desenvolvimento das capacidades motoras e funcionais

do envelhecimento. Entretanto questões antes não discutidas passaram a vigorar

dentro da área, como políticas públicas; deficiência (visual, auditiva e física);

idosos presidiários; ações efetivas no âmbito da Promoção da Saúde; velhice

bem-sucedida; espiritualidade; auto-conhecimento; bem-estar, entre outras

(FARIA JÚNIOR et al., 2005b).

Com a apresentação deste panorama gostaríamos de mostrar que a

produção e a disseminação de conhecimentos na área desde 1930 até os dias

atuais, vêm mantendo uma constância na buscar e produção de conhecimentos

relacionados ao envelhecimento biológico.

Apesar dessa característica, a Educação física, a partir de meados da

década de 1990, ampliou suas práticas às questões pedagógicas, sociais e da

Promoção da Saúde dando um novo rumo ao direcionamento de suas

intervenções que foram impulsionadas, pelas demandas e os problemas sociais

que essa população já registrava no período em questão, e que se tornariam

maiores com a virada do século acarretando problemas de cunho social, político

e econômico.

Por ter sido a década de 1990 importante para a relação da Educação

Física brasileira com processo de envelhecimento, passaremos a discorrer no

capítulo seguinte sobre os fatores incidentes sobre essa população que

impulsionaram a modificação das práticas da Educação Física e chamaram a

atenção da sociedade e dos governos para a realidade do envelhecimento

populacional.

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2.5 Década de 1990 e a população idosa brasileira 2.5.1 Economia, saúde, educação: influências sobre o envelhecimento

A década de 1990 foi um período de mudanças na política econômica

brasileira, caracterizada por um processo de abertura comercial abrangente, que

se iniciou no governo Fernando Collor de Melo estendendo-se até o governo

Fernando Henrique Cardoso.

Os acontecimentos que mais se destacaram dentro desta década e que

causaram um impacto direto na vida dos brasileiros foram: os déficits na balança

comercial; a vulnerabilidade de segmentos industriais; as privatizações, o controle

de preços; as flutuações no câmbio; a inflação; os pacotes econômicos (Plano

Collor, confisco de poupanças e aplicações financeiras; Plano Real, inflação

chegando 1100% em 1992 e quase 6000% em1993); a desvalorização da moeda

brasileira; os cortes nos gastos em áreas cruciais de aprendizado econômico,

educação, pesquisa e desenvolvimento, entre outras (Averbug, 1999; DIEESE,

2003; SEADE, 1990; VILLASCHI, 2005; WIKIPÉDIA, 2006).

Esses acontecimentos segundo Serra e Serra (2006) especialmente nas

décadas de 80 e 90, atingiram, e ainda atingem, as camadas mais pobres da

sociedade brasileira. Segundo os autores, a sociedade é deixada de lado pelas

políticas governamentais, que davam maior ênfase aos planos de estabilização

econômica do que aos problemas sociais da população brasileira, que por via de

regra seriam decorrentes da estrutura no qual a nossa sociedade foi organizada.

A população idosa no Brasil conforme o Censo de 2000 era de 14.536.029

pessoas, contra 10.722.705 em 1991. No início da década de 1990 o peso dessa

população representava 7,3%, passando para 8,6% em 2000 representando

neste período um aumento de quase quatro milhões de idosos. As previsões da

década de 1990 também apontavam o aumento de quinze vezes da população

centenária ou mais que passaria da razão aproximada de 145 000 pessoas em

1999 para 2,2 milhões em 2050 (IBGE, 2001; BERQUÓ, 1999).

Neste período, a classificação da população idosa era realizada segundo

as orientações da Organização das Nações Unidas de 1985, que adotava como

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idosa a população com idade igual ou superior a 60 anos para os países

subdesenvolvidos e 65 anos para os países desenvolvidos (SEADE, 1990).

Sendo o envelhecimento um fenômeno mundial, podemos observar na

década de 1990 uma ampliação da preocupação com o bem-estar e com a

qualidade desse envelhecimento. A resolução 46/91 da Assembléia Geral das

Nações Unidas (ONU, 2000), demonstra claramente a preocupação com o

envelhecimento mundial, apontando através dessa resolução cinco princípios

relacionados: à independência, à participação, à assistência, à auto-realização

e dignidade dos idosos.

Esses cinco princípios tinham por objetivo informar e alertar que a

população idosa deveria ter acesso e continuidade ao convívio social na fase do

envelhecimento; autonomia preservada e estimulada através da participação

direta na formulação e implementação de políticas que viessem a afetar

diretamente o seu bem-estar; dignidade, através do acesso à educação, cultura,

lazer e principalmente a garantia de acesso à saúde, pois segundo a ONU (1991)

apud OPAS (2002a) a saúde seria uma forma para que essa população, pudesse manter ou adquirir um bem-estar físico, mental e emocional, prevenindo desta

forma a incidência de doenças.

Já no Brasil encontramos a promulgação da Lei no 8.842/94 (Brasil, 1994),

que dispõe sobre a Política Nacional para o Idoso (PNI). De acordo com o texto

da referida lei, teria por objetivo assegurar os direitos sociais dos idosos criando

condições para promover a sua autonomia, a sua integração e a sua participação

efetiva na sociedade, incentivando a criação de programas de esporte, lazer e

atividade física em prol da melhoria da qualidade de vida dos idosos; promoveria

também incentivos e apoio a estudos e pesquisas relativas ao envelhecimento,

no que se refere a adequação de currículos, metodologia, material didático, como

também a inclusão da Gerontologia e Geriatria nas disciplinas curriculares dos

cursos de ensino superior, que no ano de 2003 deixou de ser um item obrigatório

devido a Lei nº 10.741/03 (BRASIL, 2003).

A sociedade brasileira na década de 1990, esperava ansiosamente a

ampliação dos direitos dos trabalhadores através da reforma da previdência

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social, que só veio a se confirmar em Emenda Constitucional nº 20, de 15 de

dezembro de 1998. Até então, a população brasileira estava sujeita a realidade

política da época que se refletia no acesso a previdência social e a aposentadoria

(BELTRÃO et al., 2000; CAMARANO, 1988; 2002).

A previdência social sequer conseguia assegurar ao contribuinte a

proteção dos seus direitos adquiridos diante dos riscos de declínio social, nem

mesmo as aposentadorias por tempo de serviço e aposentadorias especiais

escapariam da tendência ao declínio do valor absoluto dos benefícios, que

poderiam vir a se tornar vulneráveis frente às crises econômicas, ao desemprego,

à informalização da economia, aos baixos salários e à concentração de renda;

(BELTRÃO et al., 2000; CAMARANO, 2002; Debert 1999).

O analfabetismo dentro da população idosa era elevado, representando

40% para os homens e 48% para as mulheres conforme PNAD de 1993 (IBGE,

1993). Dos idosos que freqüentaram as escolas, apenas 50% conseguiram

terminar o curso primário e este quadro educacional, segundo Berquó (1999),

declina com o coorte etário.

Mas, para que possamos considerar essas porcentagens, Berquó (1999)

salienta a necessidade de levarmos em consideração que esses indivíduos

remontam a períodos nos quais as chances de acesso à educação se davam de

forma bastante assimétrica, por classe social e gênero.

A população masculina se beneficiava com o maior acesso a educação,

pois o homem, socialmente, tinha o papel de “provedor” e a mulher de

“cuidadora” indicando assim a sua menor participação em processos educativos.

A realidade desse quadro educacional emerge no momento em que a falta de

escolaridade, influência diretamente nas tentativas de busca por condições de

existência e de sobrevivência, principalmente para as mulheres idosas.

Essa diferença entre homens e mulheres de 65 anos ou mais se torna

inverso quando observamos a taxa de mortalidade entre ambos. Em 1991 a

expectativa em anos para as mulheres idosas pulou de seis para sete anos a

mais de vida em relação aos homens. Esse quadro vem a confirmar segundo,

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Berquó (1999) a forte tendência à feminização do envelhecimento. O número de

mulheres com mais de 60 anos de idade passou de 3,8 milhões em 1980 para

oito milhões em 2000, ou seja, mais do que dobrou em 20 anos (CAMARANO,

2002; TELAROLLI JÚNIOR et al., 1996).

As mulheres também se destacaram na década de 1990 em relação a sua

inserção no mercado de trabalho entre 1989 e 2001, essa expansão pode ser

caracterizada pela ampliação de sua participação no desemprego, na conquista

de espaço ocupacional, no processo de precarização das relações de trabalho

(expansão da condição assalariada para a condição autônoma), na precariedade

social econômica, que afetou a família obrigando, tanto os homens quanto as

mulheres disputarem um espaço no mercado de trabalho para a manutenção de

suas necessidades (BERQUÓ, 1999).

Enfim, a década de 1990 apesar de ter sido empreendedora quanto a

abertura do mercado financeiro, que nos beneficia atualmente, foi um período em

que o brasileiro perdeu o seu poder de compra, passando por grandes

dificuldades financeiras em decorrência dos pacotes econômicos e da

desvalorização constante da moeda (WIKIPÉDIA, 2006). Este quadro social

afetou em sua maior parte a população com a situação financeira menos

privilegiada e os idosos que na maioria das vezes tinham nas aposentadorias e

pensões a sua principal fonte de renda.

A situação sócio-econômica segundo Lima Costa et al., (2003),

desempenha um papel central na determinação da saúde de indivíduos e

populações. Conforme a autora, vários estudos de base populacional confirmam

está tendência e apontam que a população idosa com melhor situação sócio-

econômica apresentam melhores condições de saúde. Está diferença acaba por

diminuir, ou até desaparecer, nas idades mais avançadas.

Em países industrializados a queda das taxas de mortalidade e

fecundidade iniciadas no século XX, acompanharam a ampliação da cobertura

dos sistemas de proteção social, de melhorias das condições de moradia,

saneamento básico, alimentação e trabalho. No Brasil, por outro lado, essa

menor taxa de mortalidade que deu início à transição demográfica da população,

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foi marcada mais pela ação médico-sanitarista do Estado que por políticas que

melhorassem o entorno da população brasileira, como o acesso à educação,

moradia, alimentação, dignidade para se viver, entre outras.

Apesar dessa atenção sanitarista os idosos, segundo Chaimowicz (1997),

não encontram na década de 1990 um amparo adequado no sistema público de

saúde e previdenciário. Conforme o referido autor, a falta dessa assistência

provocaria o acúmulo de doenças que gerariam seqüelas na população idosa,

aumentando as suas dependências, a perda de sua autonomia e de sua

qualidade de vida.

Em Inquérito Domiciliar realizado em 1989, no Município de São Paulo,

Chaimowicz (1997) observou quando se comparou o estado funcional em

Inquéritos Domiciliares de outros Estados, a freqüência de queixas relacionadas

às doenças crônico degenerativas e também a impressionante proporção de

transtornos afetivos que afetavam as famílias. Segundo o autor, esses

transtornos influenciavam diretamente a qualidade de vida dessa população

obrigando com que as famílias se ajustassem a essa nova realidade.

Resumindo, as questões relacionadas à saúde da população brasileira da

década de 1990, assim como dos países que compõem a América Latina,

conforme (LITVAK 1990 apud CHAIMOWICZ), são ditados pelas condições

sociais e econômicas do indivíduo. Segundo o autor, existe uma tendência maior

na área da saúde em evitar o processo de envelhecimento subvalorizando às

questões que realmente compõem essa fase da vida.

Esse quadro social brasileiro segundo Chaimowicz (1997) reforça a noção

de que o envelhecimento populacional da década de 1990 poderia passar a

representar mais um problema que uma conquista da sociedade, na medida em

que os anos de vida ganhos não sejam vividos em condições de independência e

saúde implicando geralmente em custos elevados para o sistema de saúde.

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2.6. Programas de atividade física para idosos no Brasil

Neste capítulo abordaremos as características de programas de atividade

física voltados à população idosa na década de 1990. A seleção desses

programas, foi realizada através da obra de Lamartine DaCosta intitulado “Atlas

Atividade Física no Brasil” do ano de 2005, no qual Faria Júnior e colaboradores,

discutem um mapeamento regional preliminar sobre programas de atividade física

voltados a essa população.

Nesse mapeamento, identificamos quatorze programas de universidades

brasileiras, eleitos por Faria Júnior e colaboradores (2005c), como programas de

“excelência nacional” voltados à população idosa. Destacam-se nessa

excelência, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ-RJ); Universidade

Federal Fluminense (UFF-RJ); Universidade de São Paulo (USP-SP);

Universidade Estadual de São Paulo (UNESP de Rio Claro-SP); Universidade de

Campinas (UNICAMP-SP); Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS);

Universidade Federal de Viçosa (UFV, Uberlândia-MG); Universidade Federal de

Uberlândia (UFU-MG); Universidade Estadual de Londrina (UEL de Londrina-PR);

Universidade Federal do Paraná (UFPR, Curitiba-PR); Universidade de Brasília

(UNB-DF); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, Florianópolis-SC);

Universidade Estadual do Amazonas (UFA-AM) e Universidade Federal do Pará

(UFPA, Belém-PA).

Devido a relevância das ações contidas nesses programas, que reflete

todo momento histórico da década de 1990 incidentes sobre a população idosa e

que nos mostram o reflexo desse momento na construção de suas atividades ao

longo da década e na atualidade, adotamos por critério de inclusão apenas os

programas que atuaram com a população idosa, independentemente destes se

organizarem na oferta prática de atividades físicas e/ou na discussão teórica dos

benefícios obtidos.

Como critério de exclusão, optamos por não analisar as universidades

cujo trabalho não estava disponível na rede mundial de computadores e que não

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disponibilizavam, em suas respectivas páginas eletrônicas, informações

suficientes para compreensão da estrutura de suas propostas.

Com base nesses critérios, excluímos, Universidade Estadual de Londrina

(PR); Universidade Federal do Paraná (PR); Universidade Federal Fluminense

(RJ); Universidade Federal de Viçosa (MG); Universidade Federal do Amazonas

(AM), Universidade de Campinas (UNICAMP-SP), Universidade de Brasília (UnB-

DF); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, Florianópolis-SC) e

Universidade Federal do Pará (UFPA, Belém-PA), restando para nossa análise,

cinco universidades e seus respectivos programas.

A coleta dessas informações foi obtida através da rede mundial de

computadores, diretamente na página eletrônica de cada universidade. O

procedimento adotado para análise desses programas, foi realizado através da

comparação das intenções e justificativas descritas no enunciado de cada

programa com seus respectivos objetivos.

Após o processo de triagem dos documentos e transcrição das

informações, conforme procedimento descrito por Gil (1991); Lakatos (2001) e

Laville e Dione (1999), realizamos uma leitura minuciosa sobre os mesmos para

elaboração de significados.

Foi durante esse processo que percebemos, em alguns programas, uma

relativa divergência entre o enunciado de suas propostas e os objetivos descritos,

principalmente em relação a visão de envelhecimento e aos conceitos de saúde,

autonomia e Promoção da Saúde. Essa observação, por sua vez, nos fez refletir

sobre a possibilidade de que um programa de atividade física elaborado para a

população idosa poderia vir a sofrer influências no direcionamento de suas

práticas quando tais conceitos divergissem dentro de sua proposta.

A intenção nesse capítulo não é criticar ou julgar os programas de

atividade física selecionados, mas sim, buscar informações que ajudem

compreender e refletir como essas divergências conceituais estão evidenciadas

na estrutura desses programas, no que se refere ao direcionamento de atividade

física voltadas à população idosa. E, para tanto, tomamos o cuidado de pesquisar

todo o contexto social, político e econômico incidente sobre a população idosa

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brasileira da década de 1990, bem como as ampliações conceituais da área da

Saúde e das práticas de Educação Física frente a população idosa do período em

questão.

Mas, para que se possa compreender a relevância de nossas observações

e questionamentos, retornaremos a alguns pontos que entendemos serem

importantes para compreensão da visão de envelhecimento adotada pelos

organizador(es) dos respectivos programas, bem como os fatores que podem

diretamente contribuir para a falta de concordância conceitual em relação a

utilização dos termos saúde, autonomia e Promoção da Saúde.

Em relação a velhice, encontramos em Debert (1999) que essa fase da

vida não seria uma categoria natural, mas sim uma categoria socialmente

construída que faz distinção entre um fato natural (ciclo biológico, do ser humano)

e um fato universal (fatores sociais e históricos), fatos que proporcionam aos

idosos formas diferentes de se conceber e viver o envelhecimento e, aos

indivíduos, visões diferenciadas sobre essa fase da vida.

No ciclo biológico pode-se observar toda uma discussão, principalmente

na área da Saúde, que visa minimizar e/ou adiar as modificações fisiológicas

ocorridas durante a velhice (GOBBI et al., 2002; NELSON et al., 2004; STELLA,

2002). Isto somado às questões sociais e históricas incidentes sobre essa

população está acompanhado de estereótipos negativos, de termos

classificatórios, da vinculação da imagem do idoso à fragilidade e dependência,

contrapondo-se a uma visão mais positiva da velhice, com possibilidade de

desenvolvimento (PEIXOTO, 1998).

Sem querer generalizar, foi com base nessa realidade social incidente

sobre a população idosa, facilmente percebida pelas modificações biológicas e

pelo estigma de improdutividade, que nos questionamos sobre a possibilidade de

que essa representação social de envelhecimento construída ao longo do

desenvolvimento de um indivíduo possa ter influenciado ou possa vir a influenciar

o direcionamento das práticas de Educação Física frente a população idosa.

O que reforça esse nosso questionamento seria a possibilidade descrita

por Baltes e Silverberg, (1995) e Motta, (2003), de que nem a ciência se isentaria

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das influências sociais incidentes sobre o processo de envelhecimento, não nos

garantindo a imparcialidade de que a produção de conhecimento não esteja

baseada nas crenças sobre o comportamento humano, retirados de

representações coletivas, do mundo social dos próprios pesquisadores.

Essa possibilidade nos fez refletir sobre o quanto essa representação

individual de quem organiza uma intervenção voltada à população idosa

influenciaria o direcionamento das atividades e o posicionamento de outros

profissionais que lidam diretamente com esses idosos.

Por esse motivo, acreditamos que idosos que estejam engajados em

programas que atuem apenas com base nas representações individuais sobre o

envelhecimento de seus organizadores, sem um aprofundamento teórico que

possibilite vislumbrar esse processo em várias dimensões (política, econômica,

social, histórica, psicológica, biológica), deixam de ter a possibilidade de explorar

o seu envelhecimento como um todo.

Por outro lado, em relação ao conceito de saúde, a sua identificação

dentro de um programa de atividade física para a população idosa dá a

possibilidade de compreendermos o enfoque utilizado no desenvolvimento das

atividades, que pode estar voltado para a perspectiva biológica de prevenção, ou

para a perspectiva de Promoção da Saúde.

É importante frisar que a diferenciação dessas duas vertentes da Saúde

Pública se dá através da identificação do conceito de autonomia, dos processos

educativos utilizados e do conjunto de ações empreendidas, que possuem como

base o conhecimento científico e os conceitos clássicos que organizam a

produção de conhecimentos em saúde, que até o final do século XIX,

vislumbravam a saúde como a ausência de doenças, e que, lentamente,

passaram a ser discutidas e questionadas dentro da área de Saúde

(CANGUILHEM 1978; CZERESNIA, 2003; ROSEN, 1994).

Desses questionamentos, o conceito de saúde foi ampliado com o

reconhecimento de que a saúde não poderia se organizar apenas na ausência de

doenças, mas da interação de vários fatores incidentes sobre um indivíduo como

a iniqüidade social, por exemplo. A partir desse momento identificamos a

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influência das idéias encontradas no âmbito da Promoção da Saúde contribuindo

para a construção de um novo paradigma em saúde que não se focava apenas

nas questões preventivas, mas entendia que o status de saúde poderia ser

influenciado pelas questões sociais, políticas, econômicas incidentes sobre os

indivíduos e que a saúde não se encerraria na doença (BYDLOVISKY et al.,

2004).

Para tanto, a ampliação conceitual de saúde ocorrida dentro da

perspectiva da Promoção da Saúde, ocorreu em três fases distintas: (1) o

reconhecimento que as questões sociais poderiam estar vinculadas ao status de

saúde dos indivíduos, mas ainda atrelada às ações preventivas de saúde; (2)

uma perspectiva mais behaviorista – voltada a intervir, influenciar e assistir

comportamentos individuais não-saudáveis da população (Buss, 2003 e

Carvalho, 2004) e (3) a “nova” Promoção da Saúde, que tenta através de suas

ações promover uma maior participação dos indivíduos e comunidades não na

oferta de informações, mas na construção de conhecimentos desenvolvidos

através de uma pedagogia crítica que valorize as potencialidades dos indivíduos

para que estes possam atuar com base em suas escolhas (BYDLOWSKI et al.,

2004; CARVALHO, 2004; CZERESNIA, 2003; OPAS, 2002a).

Apesar de toda essa ampliação conceitual estar muito bem documentada

na literatura, ainda existem dificuldades na diferenciação das duas linhas de

trabalho da Saúde Pública que, no caso da Promoção da Saúde, mesmo após a

sua grande divulgação realizada pela conferência de Ottawa-Canadá, ainda pode

ser entendida apenas como uma ação preventiva de saúde. Essa dificuldade,

segundo Queiroz (2003), poderia ser oriunda da resistência em aceitar um novo

paradigma em saúde que coloca em discussão a hegemonia da Medicina,

construída a partir da doença e não na perspectiva de saúde.

A possibilidade descrita, pelo referido autor, nos faz refletir sobre o fato de

que a falta de coerência no posicionamento sobre a adoção de um conceito de

saúde de um programa de atividade física talvez possa ocorrer em virtude da

dificuldade em se aceitar um novo paradigma em saúde, ou em se compreender

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um conceito tão complexo quanto a Promoção da Saúde, ou ainda por falta de

discussões dentro da área de Educação Física.

Outro fator que contribui para que ocorram divergências entre o enunciado

de uma proposta de atividade física e a descrição de seus objetivos estaria na

utilização do termo autonomia. Segundo Farinatti (2000), a atribuição do status de

autonomia como valor, ao lado da saúde, representou um grande avanço teórico

para a área da saúde, pois a autonomia de um indivíduo poderia vir a influenciar

diretamente o status de saúde de outrem.

Entretanto, essa condição vislumbrada a partir do entendimento de que o

poder de agir com base em suas escolhas seria a base desse conceito e, por

esse motivo, nossas escolhas poderiam realmente interferir no status de saúde

de outrem, precisamos entender que, ao longo da construção desse conceito tão

complexo, noções como justiça, liberdade e independência foram atribuídos ao

termo autonomia, produzindo uma gama de significados que na área da Saúde,

conforme aponta (Farinatti, 2000), foram associados à dependência motora e

social, invalidez, deficiência, incapacidade, aptidão e desempenho.

Talvez por esse motivo e pela complexidade de discussões em torno da

autonomia de um indivíduo, seja comum encontrarmos o termo autonomia na

área da Saúde e também na Educação Física, vinculado à independência motora

que, dentro de uma intervenção prática de ambas as áreas, estaria voltada a

repelir a condição de dependência.

Por esse motivo, entender o enfoque utilizado em torno do conceito de

autonomia, nesses programas nos daria subsídios para identificarmos ações que

realmente são empreendidas em prol da população idosa, que estariam

coerentes com a perspectiva da Promoção da Saúde ou não.

Enfim, estamos tentando explicar que existe a possibilidade de que a

percepção sobre o processo de envelhecimento estaria relacionada à visão de

saúde e autonomia adotada, ou vice-versa, tanto por parte de quem organiza,

quanto de quem atua diretamente com idosos dentro um programa de atividade

física.

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Essa possibilidade nos levaria a diferentes formas de desenvolver um

trabalho com essa população. Partido do princípio de que o envelhecimento é um

período de modificações não apenas de ordem biológica, um programa de

atividade física poderia ser desenvolvido apenas na perspectiva preventiva, com

intuito de reverter tais modificações, Mas, por outro lado, poderia ser construído

de acordo com a perspectiva da Promoção da Saúde, que engloba as ações

preventivas atividades que possibilitem o desenvolvimento das habilidades

individuais dessa população, para que os mesmos passem a atuar com base em

suas escolhas.

Dentro dessas duas vertentes, nas quais as intenções de trabalho estão

bem definidas, é que podemos observar o aparecimento de divergências no

enunciado de uma proposta de atividade física em relação ao direcionamento

prático das atividades (objetivos) que são acompanhados pela falta de

alinhamento conceitual sobre saúde, autonomia e Promoção da Saúde. Citamos

como exemplo, um programa de atividade física de enfoque coerente com a

perspectiva da Promoção da Saúde, com abordagem apenas preventiva nas

ações que empreende.

Levando em consideração as demandas necessárias para a população

idosa em nossa sociedade, não importa como os programas de atividade física

estão organizados desde que suas intenções e justificativas para uma

intervenção direta com essa população apresentem-se coerentes com o

direcionamento de suas atividades (objetivos), principalmente quando

observamos as propostas dos projetos para viabilizar, através de suas atividades,

um maior engajamento social dos idosos em prol da qualidade de seu processo

de envelhecimento.

Por esse motivo, a divergência conceitual, ao nosso ver, resultaria em

ações que impossibilitariam a população idosa de se beneficiar das intenções

realmente elaboradas por um programa de atividade física que, em um primeiro

momento pode estar coerente com uma perspectiva positiva sobre essa fase da

vida, passível de realizações e desenvolvimento, mas que se encerram no

direcionamento de práticas focadas apenas nas modificações biológicas do

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envelhecimento, como se a prática motora em si fosse a solução de todos os

problemas dessa população. Acreditamos que a atividade física, simplesmente

ofertada, não tenha o poder de abranger o envelhecimento como um todo sem

que exista por trás um suporte técnico multidisciplinar.

Após essa discussão, acreditamos que a análise dos programas de

atividade física de universidades brasileiras por nós selecionadas, poderá

contribuir diretamente para uma maior reflexão e discussão na área de Educação

Física em relação à construção de propostas de atividades físicas voltadas à

população idosa.

2.6.1 Descrição dos programas de atividade física voltados à população idosa

Universidade Federal de Uberlândia (UFU-MG)6

O Projeto Vida Ativa - AFRID (Atividades Físicas e Recreativas para a

Terceira Idade), é desenvolvido pela Faculdade de Educação Física da

Universidade Federal de Uberlândia, e vêm desenvolvendo, desde 1989, um

conjunto de atividades teóricas e práticas para indivíduos com idade superior a 50

anos, com a finalidade de estimular a participação ativa e dinâmica da

comunidade idosa, buscando minimizar o estigma a que sempre estão

submetidos, valorizando suas potencialidades.

O projeto AFRID é organizado a partir de uma equipe interdisciplinar

composta por médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, psicólogos e educadores

físicos que procuram contribuir, “cada um em sua especialidade para o

enriquecimento e valorização dessa iniciativa”.

Em relação à atuação da Educação Física, seu(s) idealizador(es) deixa(m)

claro o enfoque nas atividades corporais e nos movimentos expressivos, incluindo

em suas atividades aulas de natação e hidroginástica e assistência a indivíduos

institucionalizados. Além desse enfoque, o projeto AFRID visava colaborar no

sentido de “reeducar esses indivíduos para valorização de suas potencialidades”

6 Universidade Federal de Uberlândia, disponível em: www.afrid.faefi.ufu.br/

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nos segmentos, físicos, psíquicos, sociais e econômicos, utilizando como

estratégia atividades estimulantes, desafiadoras, que propiciem momentos de

descontração, liberdade, cooperação, interação e criatividade.

Durante a análise desse documento, observamos a preocupação de seu(s)

idealizador(es) em descrever(em) a evolução de seu trabalho durante a década

de 1990, colocando em pauta as questões, sociais, políticas e econômicas

referentes ao envelhecimento, bem como o redirecionamento das demandas

necessárias a essa população, citamos como exemplo dessa observação o

seguinte trecho: “...diferentes são as necessidades desse seguimento

populacional [...] que até então consistia em uma minoria e era preterida em

função de outras faixas etárias [...] passando a ser alvo de atenção dos governos,

estudiosos e pesquisadores [...] nesse sentido, as diferentes concepções que

orientam esse novo contexto, juntamente com a implantação de novas linhas de

ação estão redimensionando o olhar sobre o processo e, criticamente, ampliam o

campo de estudos sobre a velhice”.

Nesse sentido, além da ampliação da visão de uma velhice excluída da

década de 1990, para uma velhice socialmente mais ativa nos dias atuais,

encontramos a ampliação do conceito de saúde como um “bem-estar, físico,

mental e social e não apenas com a ausência de doenças”. Seguindo essa

ampliação conceitual sobre saúde, procuramos na descrição desse projeto,

indicações sobre a utilização de processos educativos e a utilização do termo

autonomia.

Sobre a educação, seu(s) idealizador(es) aponta(m) que a população

idosa "demanda por educação”, que foi classificada dentro do projeto como:

“qualquer atividade que possa vir a enriquecer ou promover a qualidade de vida

dessa população” e, talvez por esse motivo, não encontramos especificações em

relação a processos pedagógicos utilizados.

Já em relação ao termo autonomia, não encontramos a sua citação literal

no referido documento, e nem o termo atrelado à condição de independência

motora, mas observamos citações condizentes com a perspectiva de uma

autonomia vislumbrada no fortalecimento das potencialidades individuais quando

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se propõe a “levar os indivíduos a conhecerem melhor a sua própria condição,

tanto nos aspectos da saúde física e mental, quanto na situação sócio-econômica

e cultural” assim como “lhes abrir perspectivas de ação política”. Encontramos

também uma breve citação dentro da perspectiva de um envelhecimento bem-

sucedido, que não é explorada em sua descrição.

Tendo como base essas informações, notamos que o suporte para

construção do projeto AFRID deu-se a partir da relevância de vários fatores

incidentes sobre a população idosa decorrentes da realidade social, política e

econômica da década de 1990 como os estereótipos negativos, perda de papéis

sociais, falta de ações efetivas em prol da saúde, educação, previdência, entre

outras.

Apesar dessa referência social negativa, observa-se no projeto AFRID a

preocupação de seu(s) idealizador(es) em situar(em) suas atividades dentro das

evoluções conceituais pertinentes às áreas de Educação Física e Saúde como

considerar as necessidades e desejos dessa população, buscar atividades que

promovam e estimulem as potencialidades dos mesmos, utilização da perspectiva

de um envelhecimento bem-sucedido, importância dos benefícios fisiológicos e

do incremento de processos educativos que colaborem para o incremento da

qualidade do processo de envelhecimento.

Parece-nos que as ações que compõem o projeto AFRID estejam

coerentes com a perspectiva da “nova” Promoção da Saúde, mas por não

encontrarmos indicações sobre os processos pedagógicos adotados, que dentro

dessa perspectiva vislumbraria uma pedagogia crítica, não podemos confirmar tal

possibilidade, apesar do projeto apresentar coerência entre a visão de

envelhecimento, conceito de saúde e autonomia, conceitos que foram ampliados

de acordo com as transições conceituais de cada período.

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS)7

7Universidade Federal de Santa Maria disponível em: http://www.coperves.ufsm.br/prograd/downloads/File/Grupodeatividades.pdf

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O Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade (NIEATI), é

realizado no Centro de Educação Física e Desportos, da Universidade Federal de

Santa Maria (UFSM-RS) e vêm desenvolvendo desde 1984, um conjunto de

atividades físicas de caráter extensionista, com a comunidade idosa e adulta

acima de cinqüenta e cinco anos de Santa Maria e região. O projeto tem por

intenção valorizar a pessoa idosa a partir do “reconhecimento de seu potencial

individual”, incentivando-o para um maior engajamento responsável e

participativo dentro da sociedade, para que dessa forma, possam “interagir no

equacionamento e na transformação das questões sociais incidentes sobre essa

fase da vida”

O NIEATI é um programa de atividade física integrado aos demais cursos

oferecidos na UFSM. O intuito dessa interação entre áreas tem, por objetivo

principal, oferecer “novos conhecimentos e intercâmbio de experiências” através

da possibilidade de atualização cultural, política e do convívio social entre

gerações a partir do acesso livre aos cursos de pós-graduação e graduação da

universidade.

Em relação à atuação da Educação Física, seu(s) idealizador(es) deixa(m)

claro o direcionamento de suas atividades voltadas aos estímulos biológicos

compatíveis ao status de saúde e realidade funcional de cada indivíduo, visando

a melhoria da “autonomia de movimento” e servindo de laboratório para os

futuros profissionais de Educação Física que atuavam tanto no campus da

universidade quanto nos próprios grupos de convivência existentes na

comunidade de Santa Maria.

Apesar do enfoque exclusivo da área de Educação Física nos benefícios

biológicos, seu(s) idealizador(es) entendia(m) que a prática de atividade física

não era suficiente para atender o desejo de tornar essa população mais engajada

nas questões sociais, políticas e econômicas refletem-se sobre o processo de

envelhecimento. E, talvez por esse motivo, não encontramos referências sobre

ações pedagógicas dentro da Educação Física, fato que parece ter sido delegado

às demais áreas de saberes científicos da UFSM.

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Durante a análise desse documento, não fica clara a transição das

atividades desenvolvidas pelo NIEATI da década de 1990 para os dias atuais,

entretanto observamos toda a influência da década de 1980 e 1990 incidentes

sobre a população idosa no direcionamento de suas justificativas e intenções que

podem ser observadas por entre a da descrição, da necessidade de socializar os

idosos através de uma maior interação entre gerações, do acesso a educação e

cultura, bem como a melhoria da “autonomia de movimento”.

Nesse sentido, podemos observar a visão de envelhecimento relacionada

às perdas sociais, motoras, culturais, em que o direcionamento das atividades

visa amenizar ou reverter essa realidade, adotando-se um posicionamento mais

biológico e preventivo. Porém, como seu(s) idealizador(es) entende(m) que a

atividade física não seria suficiente para dar conta dos objetivos propostos para

essa população “um maior engajamento social”, observamos a associação da

oferta de atualização cultural e educacional dentro do NIEATI, por intermédio da

interação dos demais cursos da UFSM. Isto é, notamos a ampliação da visão

biológica sobre o envelhecimento, para uma velhice passível de “ação social”,

sem que o projeto perdesse o enfoque biológico de suas atividades.

Durante a análise desse projeto, não encontramos menção da ampliação

do conceito de saúde dentro da perspectiva de Promoção da Saúde. Contudo,

observamos referências sobre a ampliação do direcionamento das práticas da

Educação Física frente a população idosa, quando seu(s) idealizador(es)

aponta(m) que a atuação da área não pode estar organizada apenas na oferta

de estímulos biológicos e, por esse motivo, viabiliza o acesso a educação e

cultura.

Com base nessa oferta educacional, procuramos referências sobre

processos pedagógicos e não encontramos indicações quanto à utilização de

uma pedagogia específica elaborada para a população idosa. Mas, acreditamos

que na intenção de seu(s) idealizador(es) em proporcionar(am) uma maior

interação com as demais faixas etárias da universidade, essa perspectiva

pedagógica tenha sido pouco explorada e, por esse motivo, não aparece descrita

em seu enunciado.

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Já em relação à utilização do termo autonomia, encontramos a sua citação

dentro da área de Educação Física atrelada à condição de independência motora,

mas observamos citações condizentes com a perspectiva de uma autonomia

vislumbrada no fortalecimento das potencialidades individuais na parte que cerne

os processos educativos como: “incentivar o seu engajamento responsável e

participativo na sociedade [...] interagir no equacionamento e na transformação

das questões sociais incidentes sobre os idosos”.

Acreditamos, dessa forma, que as ações que compõem o NIEATI estejam

coerentes com uma perspectiva mais preventiva e biológica do processo de

envelhecimento, que vislumbra a importância de processos educativos para o

incremento na qualidade de vida desses indivíduos, demonstrando uma

coerência entre a utilização da visão de envelhecimento, conceito de saúde e

autonomia em relação aos objetivos traçados.

Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) Rio Claro8

O Programa de Atividade Física para a Terceira Idade (PROFIT), foi

elaborado a partir de uma interface entre ensino, pesquisa e extensão em 1989,

vindo a se consolidar em 1991, nas instalações do Departamento de Educação

Física - UNESP - Campus de Rio Claro.

Seu(s) idealizador(es) deixa(m) claro que o foco de atenção do projeto

AFRID seria o atendimento da comunidade idosa, dos portadores de doença de

Parkinson e demência de Alzheimer, bem como idosos institucionalizados, e a

sua produção de conhecimentos estariam direcionados apenas aos benefícios

proporcionados para a saúde (física e mental) e para a capacidade funcional da

população idosa.

No início, as atividades estavam voltadas apenas a atender as demandas

e as carências sociais da população idosa. Porém em decorrência da ampliação

do conceito de velhice, passando de um “...desengajamento para uma efetiva

participação social contextualizada com suas limitações e ganhos referentes a

8Universidade Estadual de São Paulo – Rio Claro, disponível em: www.rc.unesp.br/ib/efisica/fef2002/projetos/profit.doc

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essa fase da vida”, o projeto passou a ser organizado não apenas na aplicação

prática de movimentos corporais, mas no processo de motivação para a

conscientização da prática regular de atividade física na perspectiva de

transformar a realidade dessa população quanto a manutenção da independência

motora, prevenção de doenças não-transmissíveis e reabilitação de problemas de

saúde.

Dessa forma, o objetivo central de suas atividades estaria voltado ao

desejo de valorizar os interesses e necessidades dos idosos através da

adaptação de suas atividades, voltadas para um envelhecimento mais

participativo nas questões relacionadas ao auto-cuidado e à saúde que seriam

obtidas a partir da “conscientização” e não da simples “aplicação” de atividades

corporais.

Nesse sentido, também observamos a valorização da atividade física como

uma “vivência humana” que não poderia estar “encerrada nela mesma”.

Justificando, dessa forma, a criação de uma “Diretoria dos Idosos” cuja função

seria atender os demais interesses e necessidades de seus alunos (fora do

âmbito da prática de atividades físicas), que funcionaria também como um

complemento de informações para o planejamento das atividades e implantação

de novas modalidades físicas.

Desse modo, acreditamos que suas ações estejam coerentes com a

perspectiva da “nova” Promoção da Saúde que, além do enfoque preventivo, visa

instrumentalizar essa população para que possam atuar em prol de um auto-

cuidado em saúde. Com base nessa perspectiva, procuramos indicações sobre

processos educativos e a utilização do termo de autonomia na descrição desse

projeto.

Sobre a educação, não fica claro qual foi a pedagogia utilizada para o

desenvolvimento do processo de conscientização para a prática de atividades

físicas, entretanto durante a descrição de suas atividades observamos indicativos

quanto a utilização de uma pedagogia crítica em que os conhecimentos são

construídos a partir da valorização da experiência de cada indivíduo.

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Já em relação ao termo autonomia, não encontramos a sua citação literal

no referido documento, e nem o termo atrelado à condição de independência

motora, no entanto observamos citações condizentes com a perspectiva de uma

autonomia vislumbrada nas potencialidades individuais quando seu(s)

idealizador(es) organiza(m) o direcionamento de suas práticas no do desejo de

“conscientizar e não aplicar” apenas conteúdos práticos.

Em suma, observamos na descrição das atividades do PROFIT toda uma

preocupação de seu(s) idealizador(es) em situar(em) suas atividades dentro das

evoluções conceituais pertinentes às áreas de Educação Física e Saúde. E, por

esse motivo, não apresenta divergências entre a visão de envelhecimento,

conceito de saúde e autonomia adotados na elaboração de sua proposta e de

seus objetivos, que parecem estar coerentes com a perspectiva da “nova”

Promoção da Saúde.

Universidade de São Paulo – PAAF (USP)9

O Programa Autonomia em Atividade Física (PAAF), da Universidade de

São Paulo (USP), iniciou suas atividades no ano de 1994. Estruturado como um

programa educacional tinha como intuito instrumentalizar a população idosa com

conhecimentos teóricos e práticos, sobre a prática de atividade física, visando a

autonomia para a auto-gestão de exercícios físicos e/ou seleção de programas

supervisionados.

Por ser uma fonte de pesquisa, o projeto buscava avaliar, durante o

período de doze meses, a evolução dos seguimentos físicos, motores,

psicológicos e de aprendizagem desses idosos para que, dessa forma, sua

proposta de atividade física fosse adequada quanto as possibilidades de ativação

dos domínios físico, motor, cognitivo e psicossocial, redundando, segundo sua

idealizadora, em conhecimentos sobre as condições favoráveis em que tal

ativação ocorreria, e em conhecimentos aplicados para a atuação profissional à

área de Educação Física.

9 Universidade de São Paulo, disponível em: http://www.usp.br/eef/efp/lapem/grepefi/

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Neste contexto, seus objetivos visavam o direcionamento de suas práticas

ao “saber o que fazer”, “como fazer” e “quando fazer” atividades motoras em

relação aos diferentes sistemas corporais; visavam a mudança de

comportamentos individuais para uma prática sistemática de atividades físicas, a

promoção de experiências motoras prazerosas e com sucesso, e a manutenção

e/ou melhoria das capacidades físicas, motoras e funcionais.

Dentro desse intuito, apesar de não existir uma citação literal sobre a

utilização das ações que envolvem a “nova” Promoção da Saúde, acreditamos

que a proposta elaborada pelo PAAF, esteja coerente com tal perspectiva com a

intenção de “instrumentalizar idosos” através de processo pedagógico que vise a

construção de “conhecimentos para o auto-cuidado, ensinando-os a saber o que

fazer, como fazer e quando fazer atividades físicas”.

Quanto a utilização do termo autonomia, também não encontramos a sua

citação literal no referido documento, e nem o termo atrelado à condição de

independência motora, mas observamos a organização de suas práticas a partir

de uma pedagogia crítica, com intuito de construir conhecimentos relacionados

ao poder de gerir e escolher uma atividade física coerente ao seu desejo e sua

realidade funcional.

Nesse sentido, suas atividades pedagógicas trabalhavam em sincronia

com o conteúdo teórico desenvolvido (informações elementares de anatomia e

fisiologia) com o conteúdo prático (atividades motoras) que eram divididos, em

seis partes relacionadas ao estímulo dos diferentes sistemas corporais

(cardiovascular, respiratório, neurológico, músculo-esquelético e articular).

A análise desse projeto vêm demonstrar a utilização de uma ação

pedagógica dentro de um programa de atividade física que dá oportunidade para

que seus alunos incorporem informações e as transformem em ações em prol de

seus benefícios demonstrando que um programa de atividade física pode vir a ser

incrementado com processos educativos.

Dentro desse contexto, não observamos no PAAF divergências entre a

visão de envelhecimento, conceito de saúde e autonomia adotados na

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elaboração de sua proposta e construção de seus objetivos que, parecem estar

coerentes com a perspectiva da “nova” Promoção da Saúde.

Apesar de encontrarmos coerência entre intenções, justificativas e

objetivos descritos nos referidos programas de atividade física no que refere a

visão de envelhecimento, conceitos de saúde, autonomia e Promoção da Saúde,

gostaríamos de discutir alguns pontos que nos chamaram atenção na

composição desses programas, em relação ao termo “educação”,com a adoção

de processos pedagógicos e a perspectiva de trabalho no âmbito da Promoção

da Saúde.

Nos programas por nós analisados encontramos o termo “educação”

relacionado com “qualquer atividade que possa vir a enriquecer ou promover a

qualidade de vida dessa população” AFRID (UFU-MG); como um meio de

proporcionar “um maior engajamento social” NIEATI (UFSM-RS) e visando

instrumentalizar os idosos na prática de atividade física PROFIT (UNESP-Rio

Claro) e PAAF (USP-SP).

De tal modo, podemos observar vários significados atribuídos a Educação

como um componente necessário para incrementar a qualidade do processo de

envelhecimento incluindo, além da atividade física, o acesso à educação, cultura

e o fortalecimento das capacidades individuais dessa população. Mas apesar

dessa indicação, não encontramos referências específicas no enunciado dessas

propostas sobre os processo pedagógicos utilizados para obtenção de seus

objetivos, nos deixando apenas indícios e possibilidades de estratégias utilizadas,

e, por esse motivo, não pudemos discorrer em profundidade sobre esse processo

tão importante na elaboração de uma intervenção para a população idosa.

Por esse motivo não podemos afirmar que a questão educacional e a

adoção de um processo pedagógico elaborado para assistir a população idosa

não tenha sido considerada, porém podemos refletir sobre a atribuição dada à

educação nos respectivos programas, no sentido de contribuir para uma maior

discussão em torno dos fatores que podem vir a influenciar a indicação e/ou

elaboração de processos educativos voltados a essa população.

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Pois, conforme Neri e Cachione, (2004), existe uma escassez de

pedagogias voltadas à população idosa que poderiam estar relacionadas a

imagem do idoso associada com a dependência, improdutividade e às regras

sociais que, por sua vez, acabam por determinar os comportamentos individuais

e coletivos. Só que, no caso da população idosa, essas regras fazem com que

nós, sociedade, esperemos a todo o momento que estes idosos comportem-se de

maneira dependente, mesmo que não haja necessidade para tal (BALTES E

SILVERBERG, 1995).

Essa consideração nos leva a refletir sobre a possibilidade de que uma

proposta educativa relacionada ao envelhecimento seja atribuída de acordo com

a visão que se possui sobre o que é ser velho. Isto é, o grau de relevância da

necessidade de uma intervenção pedagógica elaborada especificamente para

essa população, dependeria desse posicionamento e da finalidade que se atribui

à educação. Isso, segundo Martins de Sá (2004), poderia ser algo permanente e

co-existente à própria vida, se voltada a um processo de humanização e de

transformação social dos indivíduos.

Por esse motivo, o acesso à educação pode nos proporcionar

conhecimentos, experiências e impressões diversificadas sobre a vida, mas não

acreditamos que a sua oferta seja suficiente para dar conta da expectativa de que

a população idosa possa, através desta, tornar-se apta para decidir, recusar,

escolher, discernir o que é pertinente à sua vida principalmente em relação a sua

maior participação social em ações em prol de seu envelhecimento.

Para tanto, o componente pedagógico crítico se faz necessário para a

obtenção de um objetivo tão amplo que envolve procedimentos que transcendem

a simples transmissão de conhecimentos – isso porque quem nunca na vida pode

decidir por si só alguma coisa não poderia apenas com acesso a educação e

cultura ter o “poder” de se auto-governar, pois conforme Freire (1997), o “poder”

para se auto-governar vai se constituindo ao longo da vida das pessoas, dentro

de um processo contínuo de decisões.

Dessa maneira, intervenções que tenham como propósito o fortalecimento

das potencialidades individuais em prol da auto-gestão de atividades físicas ou do

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maior engajamento dos idosos nas questões que estão imbricadas nesse

processo devem levar em consideração certos aspectos: (1) o perfil da população

a ser atendida, com intuito de conhecer quais são realmente as suas

necessidades, desejos, vontades e carências para compor os objetivos a serem

traçados; (2) com base no perfil traçado, adotar uma linha pedagógica que não

seja copiada de outros modelos e populações para que não se corra o risco de

subestimar as capacidades e produtividade dessa população; (3) adotar uma

pedagogia crítica para valorizar as experiências individuais e do cotidiano do

educando, propiciando uma linguagem de fácil compreensão no qual educador e

educando interagem para a aquisição de conhecimentos valorizando o diálogo,

incentivando a criticidade e, por tanto, criando um ambiente favorável ao

fortalecimento da autonomia desses indivíduos (AZANHA, 2006; FREIRE, 1997;

PEREIRA, 2003).

A relevância desses três fatores contribuiria para que uma proposta de

atividade física não se limitasse à participação da população idosa aquém de seu

desenvolvimento e necessidades e, sim, valorizando-a. Entretanto, se o intuito de

uma intervenção for apenas fornecer conhecimentos diversos, não podemos

desmerecer nenhuma dessas iniciativas, pois novos conhecimentos nos levam a

novas experiências ou, pelo menos, a refletir - mesmo que por um instante -

sobre essas novas descobertas.

Sobre a perspectiva de um trabalho elaborado no âmbito da Promoção da

Saúde preconizada após a Carta de Ottawa, não encontramos a sua citação

literal nos programas de atividade física por nós analisados (AFRID, PAAF e

PROFIT), mas observamos indícios de que essa perspectiva de trabalho tenha

sido utilizada para compor o direcionamento de suas atividades.

Não podemos afirmar que tal menção não tenha sido realizada por falta de

conhecimentos a respeito das ações que organizam a Promoção da Saúde, afinal

encontramos indícios de ampliações conceituais no enunciado desses

programas.

Contudo, podemos aproveitar tal observação para refletirmos sobre a

possibilidade de que, atualmente as ações que compõe o âmbito da Promoção da

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Saúde como o processo de capacitação de indivíduos e comunidade para que

possam atuar com base em suas escolhas; utilização de uma educação pautada

em uma pedagogia crítica; conceito de saúde amplo constituído por um conjunto

de valores (saúde, educação, equidade social, entre outras) não sejam

amplamente discutidos no âmbito da formação Profissional de Educação Física,

isso porque quando procuramos programas atuais dentro de universidades

brasileiras que trabalhem dentro dessa perspectiva, não encontramos a indicação

literal de uma proposta pautada no âmbito da Promoção da Saúde, contudo

encontramos assim como nas quatro universidades por nós analisadas da

década de 1990, indícios e possibilidades condizentes como essa perspectiva de

trabalho.

Dentro disso, poderíamos vislumbrar a possibilidade de que discussões

mais profundas sobre ações que envolvam a Promoção da Saúde seriam

necessárias para que não ocorram divergências quanto a sua utilização e para

que indícios e possibilidades se transformem em posicionamento reais sobre

essa perspectiva.

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3. Método 3.1 Caracterização do estudo

Para que possamos refletir sobre o quanto a análise e compreensão do

Projeto Fênix poderia vir indicar o que ocorre no cenário geral de programas de

atividade física para adultos e idosos, adotamos a metodologia da pesquisa

qualitativa por entender que outro método não nos possibilitaria compreender um

fenômeno em toda sua essência. Para tanto, realizamos um estudo de caso, que

nos possibilitou uma análise esclarecedora do Projeto Fênix e de toda a sua

organização e significado social em relação a população idosa assistida (DEMO,

2001; GIL, 1999; THOMAS e NELSON, 2002).

3.2 Participantes

Fizeram parte desse estudo os profissionais que organizaram e

coordenaram o Projeto Fênix, entre os anos de 1998 a 2004. Escolhemos

analisar apenas os coordenadores porque esse estudo pretende averiguar a

partir da perspectiva teórica da Promoção da Saúde, as divergências e

convergências conceituais de saúde, autonomia e Promoção da Saúde no

direcionamento das práticas de atividade física desenvolvidas pelo Projeto Fênix.

Isso significa que posicionamentos e perspectivas individuais desses profissionais

estariam imbricados na elaboração e direcionamento de suas atividades.

Os participantes foram informados dos objetivos e procedimentos do estudo e

assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo I), segundo as

normas do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu.

3.3 Instrumentos

Para a obtenção de todas as informações necessárias a respeito do

projeto a ser analisado, vários instrumentos foram utilizados e, serão descritos a

seguir:

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1. Documentos do Projeto Fênix: Projeto pedagógico e proposta de

implantação do programa para realizar a descrição de suas bases

teóricas; Planejamentos das aulas, contendo objetivos e conteúdos

propostos; relatórios semanais e semestrais de atividades

desenvolvidas e trabalhos científicos, para compreender as bases

teóricas do Projeto Fênix, que nos dará subsídios para compreendê-lo

em sua profundidade em relação ao direcionamentos prático de suas

atividades.

2. Entrevista semi-estruturada, realizada com as coordenadoras, para

compreender o significado de sua atuação no direcionamento teórico-

prático das atividades realizadas no Projeto Fênix.

3.4 Procedimento para coleta de dados

Para a realização desse estudo, primeiramente, enviamos uma carta à

reitoria das Faculdades Integradas de Guarulhos, demonstrando o nosso

interesse e solicitando autorização para utilizarmos, como objeto de pesquisa, os

dados referentes ao extinto programa de extensão comunitária denominado

Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade (ANEXO II). Com o deferimento

dessa solicitação iniciamos a coleta de dados na instituição.

Documentos do Projeto

Como pesquisadora e participante no referido Projeto, obtive livre acesso a

todos os documentos sem prazos e datas de entrega, que possibilitou, através do

agrupamento cronológico do projeto de implantação; do projeto pedagógico; das

descrições dos planos de aula; dos relatórios semestrais, das anamneses e

trabalhos científicos, compreender o início da trajetória do Projeto Fênix, bem

como a construção de seus objetivos e o direcionamento de suas atividades em

relação à população idosa.

Entrevista com as coordenadoras

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As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas individualmente,

seguindo os procedimentos indicados pela estrutura da entrevista narrativa, que

têm por objetivo estimular o entrevistado a contar uma história sobre um

acontecimento importante. Esse procedimento foi adotado para captar as

impressões pessoais das coordenadoras sobre a atividade física em relação a

população idosa, a construção e a utilização de conceitos como saúde,

autonomia, Promoção da Saúde e envelhecimento, no direcionamento das

atividades realizadas.

A escolha pela estrutura da entrevista narrativa deu-se pelo fato de

considerá-la a mais adequada ao objetivo em questão, pois segundo Bosi (2003), os procedimentos tradicionais da pesquisa empírica não seriam capazes de

entender o mundo amolecido pela opinião, isto é, a percepção alheia à

experiência. A autora coloca que a entrevista narrativa propicia um ambiente

favorável para que o entrevistado se expresse e estabeleça uma ordenação

pessoal aos fatos obedecendo uma lógica afetiva cujo os motivos nós ignoramos.

Sendo assim, o resgate da memória oral, faz intervir pontos de vista

contraditórios, distintos entre eles e ricos em conteúdo. Pela memória, segundo a

autora: “o passado não só vêm à tona das águas presentes,

misturando com percepções imediatas, como também empurra ‘descola’

estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência. A memória

aparece como força subjetiva ao mesmo tempo profunda e ativa, latente e

penetrante, oculta e invasora”. (BOSI, 2003:36)

É a partir dessa subjetividade que podemos colher uma gama de

informações factuais, onde o pesquisador deve fazer emergir desse conteúdo

uma visão de mundo. Isto é, interpretar as pausas, a rememoração, o

esquecimento, a decomposição dos pensamentos, idéias, episódios vividos e as

“curvas melódicas da fala” (Bosi, 2003:46).

Para a realização das entrevistas, elaboramos um roteiro de temas que

não permitissem passar pontos fundamentais e essenciais para a análise desse

programa de atividade física como: a visão sobre envelhecimento, aspectos que

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influenciaram a elaboração da estrutura e dos objetivos, dos propósitos, como era

estabelecido a relação professor-aluno, o que era importante ensinar, como os

estagiários eram orientados, como era o direcionamento prático das atividades.

E, para tanto Iniciamos nossa entrevista com uma questão geradora: no período em que você esteve a frente do Projeto Fênix como coordenadora, como foi a sua gestão durante esse período?

A introdução de cada tema, foi realizado com base no discurso dos

entrevistados, portanto, a ordem dos questionamentos não foi realizada em sua

seqüência original, mas respeitando o discurso do entrevistado. Dessa maneira,

acreditamos que um ambiente natural contribua diretamente na fluidez das

respostas, contribuindo para que fatos relevantes sejam relembrados e

discursados. Para a realização dessas entrevistas, utilizamos um gravador portátil

e fitas cassetes.

3.5 Análise

Para que se possa responder os objetivos traçados nesse trabalho,

iniciamos a nossa análise a partir de uma descrição do Projeto Fênix – Terceira

Idade com Qualidade, assim como o mesmo é descrito em seu documento de

implantação. Posteriormente, para ampliar nosso entendimento em relação a

estrutura e a construção das atividades, iniciamos uma análise documental

conforme as orientações Flick (2004); Gil (1991); Lakatos (2001); Laville e Dione

(1999), realizando: (1) processo de triagem para julgamento dos documentos; (2)

transcrição de conteúdo; (3) elaboração de unidades de significado para

categorização dos documentos e conteúdos e (4) interpretação.

Após essa ampliação sobre a trajetória e o direcionamento das atividades

realizadas no Projeto Fênix, passamos a nos focar nos atores (coordenadoras)

que possibilitaram o andamento desse Projeto. Pois a partir da análise de suas

entrevistas teremos a possibilidade de responder os nossos objetivos e refletir

sobre o quanto a análise e compreensão do Projeto Fênix podem indicar o que

ocorre no cenário amplo de programas de atividade física para adultos e idosos.

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Para tanto, seguindo as orientações para elaboração de uma análise

documental, realizamos primeiramente a transcrição literal dos discursos, a

elaboração de unidades de significado, agrupamento por temas e categorias para

facilitar a identificação dos depoimentos; síntese e integração para que se possa

buscar convergências ou divergências atribuindo a eles significado. E, para a

interpretação das respostas utilizamos a fundamentação teórica que dá suporte a

essa pesquisa.

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4. Projeto Fênix: bases teóricas

Antes de iniciarmos esse capítulo que tem por intuito discutir

profundamente o Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade, gostaria de

assumir um discurso em primeira pessoa que abre espaço à pesquisadora, no

momento, compartilhar suas experiências e observações como docente dentro do

referido projeto entre os anos de 2003 e 2004. Acredito que dessa forma o

conteúdo da análise pode vir a ser enriquecido.

E, para discutir em profundidade o Projeto Fênix e a fundamentação

teórica que deu base às ações empreendidas em seu programa de atividade

física, iniciei essa análise a partir do conteúdo descrito no documento original de

implantação do projeto e de sua posterior reformulação; em sua proposta

pedagógica; nos relatórios semanais e semestrais de atividades desenvolvidas,

bem como na utilização de trabalhos científicos que diretamente contribuam para

a descrição prática de suas atividades.

Através disso, decidi dividir essa análise em três momentos distintos,

iniciando pela descrição do Projeto Fênix tal como aparece em seu documento

original de implantação e de sua posterior reformulação no ano de 200410,

passando para um segundo momento em que me utilizo dos princípios da análise

documental descritos por Flick (2004); Gil (1991); Lakatos (2001); Laville e Dione

(1999), para discorrer sobre a fundamentação teórica que dava suporte ao

Projeto Fênix em relação a concepção de velhice e as perspectivas de saúde,

autonomia e Promoção da Saúde que o norteava e, que deram base ao

direcionamento prático de suas ações.

De posse das informações teóricas que davam suporte ao Projeto, iniciei a

última fase dessa análise, que envolveu o discurso das experiências vivenciadas

pelas coordenadoras que organizaram o Projeto Fênix, dando subsídios para

discorrer sobre o direcionamento prático das atividades desenvolvidas sobre a

presença de divergências e convergências entre o enunciado de sua proposta

10 Documento de implantação: no ano de 2003 a coordenação do Projeto Fênix foi alterada e junto a essa mudança, valores foram agregados ao trabalho até então desenvolvido que por sua vez, passaram a constar em seu documento original de implantação.

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(intenções e justificativas) e os objetivos descritos, bem como as ações que de

fato foram empreendidas nesse programa de atividade física.

De tal modo, o confronto desse conteúdo teórico com as experiências

práticas narradas por suas coordenadoras, possibilita uma visão concreta das

atividades e posicionamentos adotados para o desenvolvimento do Projeto Fênix.

4.1 Descrição

Por ser o Projeto Fênix, um programa de atividade física oriundo da

década de 1990, inicio essa descrição procurando situar o leitor sobre a realidade

social brasileira incidente sobre a população idosa que, por sua vez, dá base às

justificativas de implantação desse Projeto, bem como ao direcionamento de suas

intenções de trabalho.

Nesse período a população idosa era classificada segundo os padrões

estabelecidos pela Organização das Nações Unidas de 1985 (ONU, 2000), que

considerava uma pessoa idosa aquela que possuísse idade igual ou superior a

sessenta anos para os países subdesenvolvidos e sessenta e cinco anos para

países desenvolvidos.

Assim como em outros períodos, os adjetivos negativos atrelados a

condição de velhice como dependência, incapacidade e improdutividade, também

se faziam presentes na década de 1990 (PEIXOTO, 1998). No caso do Brasil,

esses estereótipos eram reforçados pela crise econômica e a falta de

investimentos na Previdência Social, que comprometia o valor do benefício das

aposentadorias fazendo com que a população idosa, principalmente a menos

afortunada, que tinha nesse benefício sua única fonte de rendimento, sofresse

com a diminuição do poder de compra, perda de papéis sociais, restrição de

atividades de lazer e cultura, comprometendo a sua sobrevivência sócio-

econômica sem a dependência de outrem (BELTRÃO et al., 2000; BERQUÓ,

1999; SEADE, 2006;).

A carência de ações tão básicas à sobrevivência dessa população foi um

reflexo da falta de investimentos do período ditatorial que veio se acumulando ao

longo das décadas e se agravando na década de 1990 com a crise econômica

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que, segundo (Serra e Serra, 2006), fez com que as ações de cunho social, mais

uma vez, ficassem em segundo plano de atenção, pois o enfoque governamental

até então, era controlar o caos econômico brasileiro. Com base nesses

acontecimentos político-econômicos, encontramos no trecho do livro “O Tempo

Vivo da Memória” que: “quando um acontecimento político mexe com a

cabeça de um determinado grupo social, a memória de cada um de

seus membros é afetada pela interpretação que a ideologia

dominante dá desse acontecimento. Portanto, uma das faces da

memória pública tende a permear as consciências individuais”.

(BOSI, 2003:21)

Nesse sentido, venho colaborar com minha consciência individual sobre a

década de 1990, pois durante os pacotes econômicos e a transição da moeda

brasileira, pude observar atividades como lazer e cultura se tornarem supérfluas e

alimentos, antes indispensáveis na mesa dos brasileiros, transformarem-se em

artigo de luxo.

Por esse motivo, acredito que a consciência individual da organizadora do

Projeto Fênix se fez presente na elaboração de tal proposta de atividade física,

quando descreve no enunciado do Projeto que a “população brasileira além de

apresentar problemas comumente relacionados à velhice possuía o estigma de

ter vivido a sua juventude e sua fase adulta em condições desfavoráveis que

tenderiam a se deteriorar ainda mais na velhice e que seriam influenciadas para

mais ou para menos de acordo com o acesso ao sistema de saúde e as

condições satisfatórias de vida que, por sua vez, determinariam o grau de saúde

e de autonomia destes indivíduos”.

Com base neste panorama, o programa de extensão comunitário de

atividade física voltado à população idosa, o assim denominado Projeto Fênix –

Terceira idade com Qualidade, foi implementado nas Faculdades Integradas de

Guarulhos (atual Unimesp), no ano de 1998 sendo encerrado no ano de 2005

quando da criação da Faculdade da Idade da Razão na Instituição.

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Com efeito, o Projeto foi elaborado com a preocupação de que este

segmento populacional que vinha aumentando ao longo das décadas segundo

Fundação SEADE (1990), necessitaria de maiores investimentos na área da

saúde, educação, cultura, condições favoráveis de vida, trabalho, políticas

públicas preventivas, estudos e pesquisas para assim, poder suprir as futuras

demandas sociais em relação ao envelhecimento populacional.

Conforme a sua idealizadora, a explosão demográfica prevista para a

virada do século XX traria como conseqüência uma pressão crescente sobre a

sociedade quanto as demandas específicas que esta população apresentaria,

ocasionando uma concorrência direta com os demais segmentos etários que, por

sua vez, também eram carentes de demandas e que estariam longe de ser

solucionadas.

Em sua proposta de implantação, consta que o Projeto Fênix foi elaborado

para atender as três vertentes de trabalho: o ensino, pesquisa e extensão. Sobre

o ensino, a presença de idosos dentro da Faculdade contribuía para o incremento

da formação profissional dos graduandos em Educação Física em um laboratório

prático de atividades, visando a percepção do processo de envelhecimento como

um todo e não apenas na aplicação prática de atividade física.

No que concerne à pesquisa, o documento original de implantação não dá

indícios sobre a organização de um grupo de estudos e uma linha de pesquisa

adotada, unicamente faz menção sobre a contribuição de suas atividades para a

construção de conhecimentos em Gerontologia relacionados à Educação Física,

no sentido de poder contribuir para as futuras demandas sociais11 em relação ao

processo de envelhecimento.

A adoção de um grupo de estudos voltados à produção científica só passa

a vigorar e a constar como um objetivo efetivo no Projeto a partir do ano de 2004.

Participavam desses encontros semanais a coordenação, monitores, estagiários

e voluntários que atuavam diretamente com a população idosa no intuito de

11 “futura demanda social”: estaria relacionada a falta de conhecimentos da população sobre o processo de envelhecimento que, com a explosão demográfica prevista para a virada do século XX estaria despreparada para lidar e compreender as necessidades reais dessa população.

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discutir e compreender o processo de envelhecimento em busca de uma maior

qualificação profissional.

Quanto à atividade de extensão, o Projeto Fênix fazia parte de um projeto

maior voltado ao bem-estar da população guarulhense, relacionado

especialmente aos segmentos menos privilegiados, atendendo num primeiro

momento às crianças carentes, aos deficientes físicos e, por último, aos idosos.

Neste segmento, a população a ser atendida inicialmente teria a idade

superior a 50 anos (apesar de ainda serem ativos economicamente e deterem

autonomia), pois havia a intenção de preparar esta fatia da população para a fase

de transição para o envelhecimento, através de atividades que poderiam vir a

tornar este momento menos agressivo e traumático.

Além do requisito idade, os idosos selecionados, após apresentarem

atestado médico, anamnese (recordatório sobre o status de saúde) e

preencherem um termo de responsabilidade, eram submetidos a avaliações

motoras, afetivas e sócio-demográficas, inicialmente com intuito de acompanhar a

evolução do trabalho desenvolvido e, posteriormente, no ano de 2004, visando

nortear a elaboração de pesquisas científicas e traçar novas estratégias de

trabalho.

A base do Projeto era formada pela oferta de atividade física terrestre e

aquática divididas inicialmente em três sessões semanais (segundas, quintas e

sábados), passando, no ano de 2004, para duas vezes por semana (segundas e

quintas-feiras), uma hora por sessão. Os idosos estavam divididos em três

turmas (13:50, 15:00 e 16:00 horas), que eram compostas em média por trinta e

cinco alunos. As demais atividades, como palestras, aulas teóricas, projeção de

filmes, passeios, entre outras, eram concentradas dentro da grade de atividades

oferecidas para que os alunos pudessem se engajar em outras atividades dentro

e fora da Instituição.

Devido a baixa rotatividade das turmas e uma grande lista de espera, a

capacidade anual de atendimento variava entre cento e três e cento e quinze

idosos, fazendo com que a idade mínima para ingresso passasse de cinqüenta

anos em 1998 para sessenta anos no ano de 2004.

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O espaço físico para o desenvolvimento das atividades compreendia sala

de aula - para reuniões e aulas teóricas; sala de ginástica – para as atividades

semanais; quadra coberta e externa – para caminhadas e jogos coletivos; piscina

- para hidroginástica; pista de atletismo – para caminhadas; laboratório de

avaliação física; anfiteatro - para palestras e projeção de filmes.

Apesar desta estrutura, havia o desejo de fornecer transporte; assistência

social; exame médico e a interação com os outros cursos oferecidos na

Instituição. Desejos que, infelizmente, não foram concretizados.

Utilizando como base de seu referencial teórico, os dados fornecidos pela

Fundação SEADE do ano de 1990 e da Organização das Nações Unidas do ano

de 1985 sobre a perspectiva do envelhecimento da população idosa brasileira no

âmbito demográfico, político, econômico e social e, levando em consideração a

diminuição do tempo livre das pessoas mais jovens para com os idosos (devido a

sua intensa atividade econômica), os objetivos traçados para o programa

visavam:

1. Qualificar os futuros profissionais de Educação Física para que possam

atuar junto a esta população;

2. Proporcionar aos participantes atividades e conhecimentos que

possibilitassem viver esta fase da vida com maior qualidade, maior

autonomia e satisfação, produzidos através do sentimento de

produtividade e a efetiva inserção na sociedade como cidadão ativo e

participativo que levaria a uma melhor perspectiva para a sociedade futura;

3. Desenvolver atividades físicas, sociais e culturais para buscar preencher,

de forma produtiva, as carências destas pessoas, visando preservar por

maior espaço de tempo a autonomia, saúde, integração social,

produtividade e participação política e social;

4. Instrumentalizar adultos e idosos com conhecimentos referentes ao

processo de envelhecimento através da troca de experiências, discussões,

convívio com indivíduos de mesma faixas etárias para tornar essa fase de

transição menos agressiva e traumática, diminuindo a sensação de

solidão, abandono e inutilidade que acometia essa faixa etária.

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5. Favorecer a manutenção e/ou melhoria das capacidades funcionais e

motoras.

Com essa descrição, procurei apresentar a estrutura do Projeto Fênix

levantando algumas possibilidades que parecem ter norteado as suas ações,

além da preocupação sócio-econômica incidente sobre a população idosa, como

a perspectiva de saúde, autonomia e Promoção da Saúde implícito nessa

proposta de atividade física.

Portanto, pretendo prosseguir com essa análise a partir do que ficou

explícito e, também, implícito no procedimento de descrever o Projeto. Por

exemplo, questiono qual teria sido a perspectiva filosófica de saúde, autonomia e

Promoção da Saúde que o norteou? Como as divergências e convergências

conceituais sobre essas perspectivas influenciaram o direcionamento de suas

práticas? Sobre esse contexto, acredito que o fato de ter vivenciado o Projeto

Fênix como docente, participante do grupo de estudos e ter contribuído para a

construção das atividades elaboradas, possuo ferramentas suficientes para uma

análise mais profunda na tentativa de colaborar com a reflexão sobre as

implicações que o desacordo entre proposições e ações têm sobre os mais

interessados, os participantes idosos.

4.2 Análise documental

Para discorrer sobre a fundamentação teórica que dava suporte ao Projeto

Fênix, em relação a visão de velhice e as perspectivas de saúde, autonomia e

Promoção da Saúde, se faz necessário compreender como tais perspectivas

aparecem no contexto teórico desse Projeto que, por sua vez, encontra-se

dividido em dois períodos: implantação e primeira coordenação (1998 a 2003) e

fase de transição de gestão e, segunda coordenação (2003 a 2005). E, para

tanto, analisei os documentos de implantação; planos de aula (relatórios

semanais); relatório semestral das atividades realizadas; proposta pedagógica;

trabalhos científicos; avaliações sócio-demográficas e anamneses.

Quanto a visão de velhice no contexto do Projeto Fênix, a análise

documental, possibilitou visualizar em parte a construção de certos

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posicionamentos teóricos sobre o processo de envelhecimento tanto no âmbito

biológico quanto no social.

Segundo Debert (1999), a velhice seria uma categoria socialmente

construída que faz distinção entre os fatores biológicos do ser humano e os

fatores sociais e históricos que norteiam essa fase da vida – pode-se considerar

que o envelhecer, nesse sentido, tanto para quem envelhece quanto para quem o

assiste, possuiria formas diferenciadas de percepção e vivência.

Tendo como base esse contexto, pude notar a clareza de tal distinção no

conteúdo teórico da proposta de implantação do Projeto Fênix. Só que ao

contrário de outras propostas de atividade física analisados para compor esse

estudo e ampliar conhecimentos, a questão biológica prima em maior parte com

justificativa de implantação de uma intervenção, embora no caso do Projeto Fênix

a necessidade de uma intervenção biológica é construída através da percepção

de que os fatores sociais e históricos incidentes sobre essa população

influenciam diretamente o status de saúde e a qualidade de vida da população

idosa brasileira.

Tal indicação de cunho social e histórico, pode ser observado quando sua

organizadora descreve que “o brasileiro, na sua grande maioria, além dos

problemas comuns do processo de envelhecimento [...] viveu a sua juventude e a

sua fase adulta em condições desfavoráveis, que tendem a deteriorar-se ainda

mais na velhice” ou quando refere-se a permanência do período de saúde e

autonomia de um indivíduo que, “... poderá ser maior ou menor, dependendo do

acesso que este tenha, ou não ao sistema de saúde, às condições mais

satisfatórias de vida e de trabalho”.

Graças a essa observação, o direcionamento de políticas públicas como

metas “preventivas” que visassem investimentos em educação, cultura, melhores

condições de vida e trabalho seriam cruciais para evitar em um futuro próximo,

um colapso social, principalmente em relação ao aumento demográfico previsto

para a população idosa que, com a virada do século XX, representaria um

contingente de quatro milhões de idosos a mais no Brasil, isto é 8,6% a mais em

relação ao ano de 1991 (BERQUÓ,1999; IBGE, 2001).

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Até aqui é possível visualizar parte dos argumentos utilizados para a

construção de uma visão sobre a velhice que estaria relacionada à realidade

social brasileira. Mas, dentro desse contexto, sua organizadora faz menção sobre

“algumas situações típicas” atreladas à condição de velhice como: a

categorização de idade utilizada para estabelecer o período em que um indivíduo

se torna velho que, no caso do Brasil - país classificado como subdesenvolvido

na década de 1990, compreendia a idade de sessenta anos, em contrapartida

aos países desenvolvidos, com idade superior a sessenta e cinco anos.

Nesse sentido, a categorização da idade também serviria como um

marcador social do período em que se encerra a atividade econômica dessa

população, como a fase de perda de autonomia em função da saúde física e

mental e como o período em que a dependência de terceiros para realização de

atividades rotineiras surgem.

Conseqüentemente, os “estereótipos” atrelados à condição de velhice

passam a ser considerados, no enunciado da proposta de implantação do Projeto

Fênix, como pode-se observar no trecho extraído de seu documento: “serão

atendidos adultos a partir de cinqüenta anos e mais, pois acreditamos que essa

camada da população, apesar de ainda ser economicamente ativa e ter

autonomia, deve ser preparada para a terceira idade, instrumentalizando-se para

que essa transição seja menos agressiva e traumática”.

Tal indicação também pode ser encontrada na literatura da época como

nos trabalhos de Brink, (1990) e Santos (1990), que apontam a necessidade de

intervir na fase pré-aposentadoria para amenizar o sentimento de perda oriundos

da velhice e aposentadoria.

Outros exemplos, que indicam a preocupação com os estereótipos que

acometem essa população, podem ser visualizados no contexto desse

documento como: a formação de grupos sociais para, a “diminuição da sensação

de solidão, de abandono e de inutilidade que acomete essa faixa etária”

demonstrando a realidade da década de 1990; nos temas de cunho social,

escolhidos para as palestras e projeção de filmes; nos relatórios semanais de

aula com a descrição de atividades visando socialização dos alunos.

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Só a partir da descrição da problemática social, incidente sobre a

população idosa brasileira e de sua influência sobre o status de saúde e

autonomia de um indivíduo, que encontrei uma breve menção sobre a

perspectiva biológica de trabalho a ser desenvolvido entre os anos de 1998 a

2002 no sentido de ser um dos componentes a ser desenvolvido dentro dos

objetivos traçados.

Mas, na adenda12 desse documento do ano de 2003, o enfoque biológico

e seus benefícios passam a constar e a primar como objetivos dessa proposta,

visando: “a manutenção ou melhoria das capacidades funcionais,

cardiovasculares, respiratórias, articulares e de coordenação motora. Essa

indicação pode ser verificada no direcionamento prático de suas atividades na

descrição dos planos de aula (relatório semanal) que, confirmam um enfoque

mais biológico do Projeto em contrapartida ao seu período de implantação e

primeira coordenação.

Em síntese, a visão de envelhecimento no contexto teórico do Projeto

Fênix, entre 1998 a 2002, vislumbra essa fase da vida como passível de

produção e aprendizagem e, por esse motivo, havia o desejo de instrumentalizá-

los com conhecimentos e troca de experiências sobre essa fase da vida, no qual

os benefícios proporcionados pela prática de atividade física seriam coadjuvantes

de um desejo maior de torná-los mais ativos e participativos socialmente.

Entretanto, apesar da manutenção desse posicionamento quanto a uma

visão sobre o processo de envelhecimento, essa concepção assume outro

contexto no ano de 2003 quando a nova coordenação acrescenta uma adenda ao

documento de implantação do Projeto que, discorre sobre as novas metas e

objetivos a serem realizados. Nesse sentido, os objetivos traçados divergem do

posicionamento descrito sobre o envelhecimento em que, a prática de atividade

física deixa de ser um “componente” e passa a ser “foco principal” de atenção.

Essa transição pode ser observada nos objetivos descritos nos planos de

aula focados em sua maior parte ao desenvolvimento da capacidade funcional,

12 “Adenda”: do latin addenda; substantivo feminino : o que se ajunta a uma obra para completá-la, o que acrescenta para complementar, suplemento, apêndice (PRIBERAM -DICIONÁRIO ON-LINE) disponível em: http://www.prieberam.pt/dlpo/dlpo.aspx).

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motora e no desejo de socializá-los. Apesar das reuniões do grupo de estudo e

atividades educacionais e culturais permearem outras vertentes do processo de

envelhecimento não apenas o biológico, essa vertente biológica primava em

nossas aulas.

Essa constatação me fez refletir sobre a diferença que existe em afirmar

que o processo de envelhecimento é passível de realizações e reverter essa

afirmação em ações condizentes a esse desejo. Se o grupo de profissionais que

atuava no Projeto Fênix entre os anos de 2003 e 2004, não vislumbravam o

envelhecimento como uma etapa da vida constituída por perdas, incapacidades e

dependência, por que o direcionamento prático de nossas atividades mostrava o

contrário?

Será que apesar de todas as nossas discussões sobre a abrangência do

processo de envelhecimento, atuávamos com base no que acreditávamos ser o

melhor para essa população? Nesse sentido, teria a concepção individual de

cada profissional sobre a velhice, imperado durante a elaboração das atividades?

Que implicação essa divergência trazia ao Projeto Fênix? Estes são

questionamentos que gostaria de responder ao longo desse capítulo.

Dando continuidade a essa análise, passarei a discorrer sobre a

perspectiva de saúde e a indicação de ações que compõe o âmbito da Promoção

da Saúde adotada no contexto teórico do Projeto Fênix.

Em relação à saúde, sua organizadora, tendo por base os dados obtidos

pela Fundação SEADE de 1990, deixa claro que o status de saúde de um

indivíduo, estaria relacionado a vários fatores e, cita como exemplo desse

posicionamento: “as condições de uma vida inteira de trabalho e existência

desfavoráveis que, em um futuro próximo, viriam a influenciar na qualidade do

processo de envelhecimento de um indivíduo, bem como na sua condição física e

mental”.

De tal modo o status de saúde e a autonomia de um indivíduo, estariam

relacionados as condições de vida, trabalho, bem como ao acesso à educação e

à saúde, sendo necessário para tanto “políticas públicas” que permitissem suprir

tais demandas para que, em um futuro próximo essa população tivesse a

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manutenção e/ou um incremento na qualidade de seu processo de

envelhecimento. Um conceito de saúde nesse sentindo ultrapassaria a atenção

na doença, vislumbrando a saúde como um conjunto de valores como paz,

saúde, educação, eqüidade, entre outras, assim como podemos observar na

Carta de Ottawa (OPAS, 2002a).

Nesse sentido, uma perspectiva coerente com as ações que compõem a

Promoção da Saúde, cabem a descrição do Projeto Fênix que, apresenta

coerência entre o enunciados de sua proposta (intenções e justificativas) como os

objetivos propostos.

E, para ilustrar essa indicação citamos como exemplo, o objetivo principal

do Projeto, que visava proporcionar aos seus participantes atividades e

conhecimentos que possibilitassem viver esta fase da vida com maior qualidade,

maior autonomia e satisfação. Pois, conforme sua organizadora “o sentimento de

produtividade e a efetiva inserção na sociedade como cidadão ativo e

participativo” faria a diferença, por levar essa população a uma melhor

perspectiva de vida para uma sociedade futura no qual a população idosa seria

numericamente representativa.

Isto é, para quem envelhece, uma intervenção voltada ao processo de

fortalecimento de suas potencialidades proporcionaria além de uma perspectiva

melhor de vida no decorrer de seu processo de envelhecimento, diminuiria seu

grau de dependência em relação a população mais jovem, que segundo a

organizadora do Projeto, cada vez mais em decorrência de sua atividade

econômica, vinha diminuindo o seu tempo livre para lidar com essa população.

Outra referência estaria na proposta de instrumentalizar adultos e idosos

com conhecimentos referentes ao processo de envelhecimento através da troca

de experiências, discussões, convívio com indivíduos de mesma faixa etária para

tornar essa fase de transição menos agressiva e traumática, diminuindo a

sensação de solidão, abandono e inutilidade que acometia essa faixa etária na

década de 1990.

Assim sendo, parece que o direcionamento pedagógico do Projeto Fênix

estaria pautado dentro de uma pedagogia crítica, pois pode-se observar tanto no

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enunciado de sua proposta quanto nos objetivos descritos, o desejo de discutir e

trocar conhecimentos e experiências sobre o processo de envelhecimento com

base na realidade vivida por essas pessoas na década de 1990. Entretanto, como

o enunciado dessa proposta não apresenta uma descrição direta de tal

proposição e sim, indicações condizentes com uma pedagogia crítica, esse

direcionamento pedagógico, só poderá ser confirmado através da análise de

discurso da entrevista realizada com suas coordenadoras.

Seguido essa seqüência procurei referências quanto a utilização do termo

autonomia, encontrando três referências, a primeira vêm descrevendo a realidade

social brasileira e a falta das condições favoráveis de vida que acabam por

influenciar o futuro de quem irá envelhecer, no qual um indivíduo poderá se

“manter sadio e autônomo, dependendo do acesso que este tenha, ou não, ao

sistema de saúde e à condições mais satisfatórias de vida” como o acesso à

educação e cultura. Desse modo, a autonomia estaria relacionada ao poder que

um indivíduo tem em gerir a sua vida.

A segunda referência “proporcionar atividades e conhecimentos que

possibilitem viver essa fase da vida com maior qualidade, maior autonomia e

satisfação”, da forma com que é colocada, poderia indicar tanto a dependência

motora quanto o fortalecimento da autonomia, porém o complemento desse

objetivo que visa “produzir o sentimento de produtividade e efetiva inserção na

sociedade”, volta a utilização desse termo ao fortalecimento da autonomia dos

indivíduos.

Em relação a terceira referência, que aparece na indicação de “atividades

físicas, sociais e culturais que busquem preencher as carências (demandas)

dessa população, visando preservar por maior espaço de tempo a autonomia,

saúde, integração social, produtividade e participação política e social” - o termo

autonomia nesse contexto, também faz menção ao fortalecimento das

potencialidades individuais porque, durante descrição do Projeto Fênix, sua

organizadora deixa claro a diferença da dependência motora e do exercício da

autonomia de um indivíduo.

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Já em relação a adenda introduzida no documento original de implantação

do Projeto Fênix no ano de 2003, não encontrei referências sobre o termo

autonomia e o mesmo se repetiu na análise dos planos de aula (relatórios

semanais) e nos três trabalhos produzidos sobre o Projeto.

Em suma, a fundamentação teórica que dava suporte ao Projeto Fênix em

relação a visão de velhice e as perspectivas de saúde, autonomia e Promoção da

Saúde, necessárias para compreender como tais perspectivas apresentavam-se

no direcionamento prático de suas atividades encontra-se dividido entre as duas

gestões ocorridas ao longo do Projeto de 1998 a 2004.

Apesar de ambas as gestões utilizar a mesma base teórica, observei que

entre os anos de 2003 e 2004, essa base teórica, passou a divergir em relação a

adenda que descreve novas metas e acrescenta novos objetivos. Isto é, as ações

que estariam coerentes com a perspectiva da Promoção da Saúde no período

anterior são substituídas por uma perspectiva mais preventiva.

Apesar da amplitude das discussões realizadas no grupo de estudo e do

direcionamento das atividades educacionais e culturais que visavam contribuir

para um maior entendimento sobre o processo de envelhecimento, essa

divergência pode ser observada na descrição dos planos de aula, em que a

atividade física e seus benefícios fisiológicos passam a primar na descrição de

suas atividades.

Um exemplo claro dessa predominância, ocorre no segundo semestre do

ano de 2004. Tendo por base as discussões realizadas com os alunos na reunião

semestral de avaliação das atividades, identificou-se a falta de motivação do

grupo para as atividades até então realizadas. Em virtude disso, surgiu o

entendimento de que o Projeto Fênix deveria passar por uma reestruturação tanto

de seu conteúdo prático quanto teórico.

E, para tanto, as atividades foram divididas em três modalidades distintas

(esporte coletivo com bola, atividades recreativas e expressão corporal) como

intuito proporcionar novas experiência e motivar os alunos através de atividades

pouco desenvolvidas – essa foi uma medida paliativa para atender de imediato o

desejo dos alunos, pois para reestruturarmos o Projeto como um todo

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demandaria tempo e amplas discussões, que não foram concluídas devido ao

encerramento do Projeto Fênix na Faculdade.

Enquanto sua primeira gestão visava instrumentalizar os idosos através de

discussões e troca de experiências para o fortalecimento de sua autonomia que

nos dá a possibilidade de que um pedagogia crítica tenha sido utilizada para

tanto, a segunda gestão possuía a mesma intenção, mas valendo de minhas

observações como docente e após analisar todas as descrições das atividades

desenvolvidas, e os planejamentos semestrais, observava-se muito mais a oferta

de informações diversificadas sobre o processo de envelhecimento, do que ações

que visassem o fortalecimento da autonomia desses idosos.

Contudo, em alguns momentos, essa característica se invertia como nas

reuniões semestrais realizadas para discutir o planejamento até então realizado,

que geravam um grande debate sobre a prática de atividade física, sobre os

problemas sociais e, com efeito, o grupo se organizava partilhando suas

informações e experiências na busca de soluções aos problemas expostos.

Outro momento de destaque em relação ao fortalecimento das

potencialidades individuais era proporcionado por uma das monitoras que

trabalhava no intuito de instrumentalizar a sua turma para a prática consciente de

atividade física. Os demais monitores, como eu, ofertávamos informações sobre o

conteúdo das atividades, mas essa monitora, além das informações, trabalhava

um conteúdo teórico e prático diferenciado, construindo conceitos e não apenas

transmitindo-os.

Como o Projeto Fênix no ano de 2003, estava iniciando o seu grupo de

estudos sobre o envelhecimento, posso afirmar que tal posicionamento veio em

decorrência de discussões anteriores realizadas no grupo de estudos sobre

envelhecimento da Universidade de São Paulo – USP no qual essa monitora

participava a um ano.

Essas observações só foram possíveis porque no ano de 2004 eu estava

engajada em outro grupo de estudos que me fez refletir sobre outras vertentes de

trabalho em relação a população idosa e, nesse sentido, conceitos como saúde,

autonomia e Promoção da Saúde foram ampliados e me deram subsídios para,

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elaborar posteriormente esse estudo e tentar responder porque tais conceitos

deixam de ser ampliados ou divergem dentro do enunciado de uma proposta de

atividade física.

E, com intuito de complementar as informações colhidas nessa análise

documental passaremos a discorrer sobre a análise de discurso dos atores que

deram vida ao Projeto Fênix.

4.3 Coordenadoras do Projeto Fênix: análise dos discurso 4.3.1 Caracterização dos sujeitos

Sujeito A (SA)

Mulher, profissional de Educação Física, formada em 1974, com mestrado

em Educação, organizou em 1997 o documento que daria início, no ano

subseqüente as atividades do Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade.

Atuou à frente desse Projeto como coordenadora, entre os anos de 1998 a

2002.

Sujeito B (SB)

Mulher, profissional de Educação Física, formada em 1995, com mestrado

em Educação, participou como observadora das atividades realizadas no Projeto

Fênix, no segundo semestre de 2002 (período de transição de gestão), atuou à

frente desse Projeto como coordenadora, entre os anos de 2003 à 2004. 4.3.2 Caracterização dos temas

A abordagem dos temas, será realizada a partir de seis enfoques: (1)

Origem do Projeto Fênix – discorre sobre a idéia inicial e aprovação das

atividades; (2) Interesse em trabalhar com a população idosa – visão de

envelhecimento: que trará a idéia de como uma concepção de velhice era

trabalhada dentro do Projeto Fênix; (3) Perspectiva de saúde – aborda a

percepção individual do que seria saúde para as entrevistadas; (4) Ações que

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compõem uma perspectiva de trabalho pautado no âmbito da Promoção da

Saúde – discute a coerência e/ou a falta desta no direcionamento das atividades

sobre as ações que compõem o âmbito da Promoção da Saúde, bem como

identificar o conceito de autonomia a partir da percepção das entrevistadas e (5) Ensino - quais eram as prioridades em relação a orientação pedagógica de

monitores, estagiários e voluntários sobre o processo de envelhecimento e no

direcionamento prático das atividades.

Origem do Projeto Fênix:

Em relação a origem do Projeto Fênix, apenas SA discorreu sobre o

processo de criação e aprovação do Projeto, que surgiu do desejo do

coordenador do curso de Educação Física das Faculdades Integradas de

Guarulhos, em desenvolver um trabalho voltado à terceira idade, que atendesse a

comunidade local. SA coloca que a partir de uma conversa informal, ela se

ofereceu para montar a matriz do Projeto elaborado em 1997 e deferida no ano

posterior.

Interesse em trabalhar com a população idosa: visão de envelhecimento

Sobre esse tema, observei que o desejo da coordenadora, em participar

da elaboração do Projeto, vinha de sua experiência pessoal no trato com seus

familiares – pais idosos e uma avó com quase cem anos de idade. Dessa

realidade cotidiana, o questionamento sobre a perspectiva de vida de seus pais e

de sua avó eram freqüentes, e nesse contexto o que mais lhe chamava atenção

era o isolamento proporcionado pelo avanço da idade:

“....eu percebia que as pessoas se sentiam muito sozinhas

e tinham apenas o vínculo familiar, que muitas vezes se acabavam”. (SA)

A partir dessa percepção, SA passa a discutir outros fatores que justificam

um olhar crítico sobre o processo de envelhecimento, como a construção social

da velhice e a sua influência sobre a população mais jovem:

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“...na verdade, o jovem não conhece a velhice, existe uma

imagem do idoso sempre associada a uma visão frágil, incapaz, como

uma pessoa que não progride e que não avança, essa é a concepção que

o jovem tem do idoso, isso é culturalmente e socialmente colocado, e eu

sempre via essa dificuldade de aceitação do idoso inclusive em nossas

práticas [...] essa era uma colocação que eu discutia muito com os

estagiários do Projeto - o que de fato acontece com o idoso nesse

contexto social?”. (SA)

No caso do sujeito B, o seu interesse em desenvolver um trabalho voltado

ao processo de envelhecimento, veio do convite realizado pelo sujeito A. Até

então, SB nunca havia desenvolvido um trabalhado direto com a população

idosa. Com intuito de ampliar seus conhecimentos, SB se propôs a participar

como observadora do Projeto, durante o período de seis meses, (fase de

transição de gestão) antes de coordenar o Projeto Fênix. Segundo SB, a

experiência como observadora a fez desmistificar gradualmente alguns conceitos

sobre o processo de envelhecimento:

“Antes, eu não tinha noção de como era o trabalhar com a

população idosa, então para mim, o trabalho era uma coisa muito distante

da população mais jovem. Achei que teria muita dificuldade”. (SB)

“Mas, com a proposta do Fênix, eu comecei a ter uma

nova visão, no sentido da grandeza que seria uma população idosa

trabalhar com a atividade física, que embora tenham limitações, essas

limitações são superadas a partir do momento que tais atividades

comecem, ou seja, que o corpo comece a se exercitar”. (SB)

Dessa forma, o sujeito B complementa que o trabalho desenvolvido, com a

população idosa, a fez perceber o quanto seria importante pensar no

envelhecimento futuro, isto é: “O que eu posso fazer para que eu me torne uma idosa

com mais habilidade e com condições melhores de movimentação? O

quanto essa preocupação seria importante para o futuro de quem ainda

vai envelhecer?”. (SB)

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Em relação ao sujeito A, a percepção das questões sociais incidentes

sobre a população idosa, como a diminuição da perspectiva de vida, o isolamento

social e as relações inter-pessoais quase que restritas à família, foram focos

motivadores para o seu engajamento em uma proposta de atividade física voltada

à população idosa. Pois o grande desafio para o sujeito A, seria a estratégia

utilizada dentro do Projeto para estimular a manutenção dessas relações inter-

pessoais, já que grande parte dos alunos viviam “escravizados” por suas famílias,

tanto pelo lado financeiro, quanto o pelo lado emocional.

De fato, estudos como de Carstensen (1995), mostram que a redução das

interações sociais na velhice, são uma realidade que não provém apenas da

passagem do tempo, mas provavelmente de uma complexa rede de interações

representando as percepções passadas, presentes e futuras, bem como, as

oportunidades disponíveis no ambiente que satisfaçam as necessidades

humanas básicas, no qual o indivíduo deve contribuir para a manutenção de suas

relações inter-pessoais.

Já em relação ao sujeito B, o interesse em desenvolver um trabalho

voltado ao processo de envelhecimento, foi decorrente da desmistificação do que

era realmente trabalhar com a população idosa. Isto é, a quebra da visão de

fragilidade e impotência atribuída à condição de velhice. Essa fase de

desmistificação, que impulsionou SB para a realidade do trabalho a ser

desenvolvido com os idosos, é apontada por SA como primordial em relação a

oferta de atividade física, pois a visão que os jovens e a sociedade possuem dos

idosos, é estereotipada, e essa concepção negativa deveria ser modificada.

Na literatura, os estereótipos atrelados à condição da velhice, são

correntes a essa população desde a história antiga, como podemos observar em

um trecho da obra “República”, de Platão (428/7-348/7 a.C.) apud Zacharewizc

(2003) sobre o tema velhice: “...a maior parte de nós lamenta-se com saudades dos

prazeres da juventude, ou recordando os gozos do amor, da bebida, da

comida e outros da mesma espécie [...] alguns lamentam-se ainda pelos

insultos que um ancião sofre de seus parentes, e em cima disto entoam

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uma litania de quantos males a velhice lhes causa (ZACHAREWIZC,

2003:82)”.

Assim sendo, a visão de velhice construída ao longo dos séculos, pelo

menos nas culturas ocidentais, acaba por limitar um posicionamento realmente

positivo sobre essa fase da vida, encontrada na perspectiva da velhice bem-

sucedida, que diferentemente de outros modelos antigos e deficitários focalizados

nos deficits inerentes ao processo de envelhecimento, não exclui a possibilidade

de um envelhecimento positivo (CARSTENSEN,1995).

Nesse contexto, SB também aponta que a velhice não estaria apenas

relacionada ao status da saúde física, mas:

“...estaria relacionada com a saúde mental, então a partir

do momento que a atividade física me proporcione alegria e bem-estar,

esse bem-estar, refletiria no lado físico”. (SB)

Uma visão sobre o envelhecimento, dentro da composição do Projeto

Fênix, estaria para o sujeito A, relacionado à realidade social, incidente sobre

essa população estereotipada, mas passível de realizações. E para o sujeito B,

estaria no adiamento da dependência motora. Porém, ambas as coordenadoras,

apontam os estereótipos como uma problemática a ser vencida dentro da área de

Educação Física, que para SB, foi desconstruido ao longo de sua gestão frente

ao Projeto Fênix, e para SA, no decorrer de sua convivência com seus familiares.

Essa percepção individual tanto de SA quanto de SB eram repassados aos

monitores, estagiários e voluntários que atuavam diretamente com essa

população.

Perspectiva de saúde

Para o sujeito A, a perspectiva de saúde estava atrelada à realidade social,

incidente sobre a população idosa brasileira, como o isolamento social, a

dependência familiar, cerceio da liberdade de ir e vir, estereótipos atrelados à

condição de velhice e a perda dos papeis sociais e econômicos. Por esse motivo,

um programa de atividade física deveria ter:

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“...um lado de Saúde Pública, visando melhorar a qualidade

de vida dos indivíduos como um todo, mas o que seria qualidade de vida

dentro do contexto da Educação Física? Será que só o exercício físico

seria responsável por essa qualidade?”. (SA)

Para ela, o exercício físico era um componente importante, entretanto não

teria todo esse poder, isso porque: “...se as pessoas não possuírem no mínimo, condições de

resgatar a sua vida social [...] eu acho que as pessoas não sentiriam força

nem para buscar a atividade física para melhorar a sua condição de

saúde”. (SA)

Segundo Minayo et al. (2000), o patamar mínimo e universal para se falar

em qualidade de vida, diz respeito a satisfação das necessidades mais

elementares do ser humano, como alimentação, água potável, educação, saúde,

elementos matérias que gerem conforto, lazer, bem-estar, realização individual e

coletiva. No entanto, em sociedades ocidentais o fator desemprego, exclusão

social e a violência, de acordo com a autora, são reconhecidos como a negação

da qualidade de vida de um indivíduo.

Dessa forma, o sujeito A discorre que preocupar-se apenas com a oferta

de exercícios para melhorar a condição física dos idosos não bastaria, seria

necessário, para quando fosse o caso, “o resgate da auto-estima e do prazer de

viver”. A intenção de SA, era fazer com que os idosos incorporassem uma nova

perspectiva de vida, pautada em um envelhecimento positivo, independente de

seu status de saúde. Ela costumava dizer aos idosos que:

“...não importa quanto tempo eu vou viver, eu posso viver

só um dia, mas eu posso viver muitos anos e, o que eu posso fazer com

esses anos de vida que eu tenho pela frente?”. (SA)

Agora, em relação ao discurso do sujeito B, não obtive um posicionamento

claro sobre um conceito de saúde, apenas uma percepção a partir de sua

atuação frente ao Projeto Fênix, desde seu estágio de observação, que a fez

refletir sobre a condição real da velhice:

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“...eu passei a valorizar mais o momento em que eu estava

vivendo, enxergando aquilo que eu poderia fazer para que eu me torne

uma idosa com mais habilidade e com condições melhores de

movimentação. A saúde não é só física, ela estaria relacionada com a

saúde mental, então a partir do momento que a atividade física me

proporcione alegria e bem-estar, esse bem-estar, refletiria no lado físico”.

(SB)

Segundo SB, o trabalho desenvolvido, no projeto, teria por intuito fazer

com que os idosos percebessem que a velhice não era uma limitação e sim,

aquilo que a pessoa espera, pensa e percebe enquanto visão de mundo.

Em suma, a percepção de saúde para o sujeito B, encontra-se dentro de

uma perspectiva biológica-preventiva, na qual a condição motora e os aspectos

psicológicos, contribuem para aumentar o bem-estar e o sentimento de felicidade

desses indivíduos.

Para o sujeito A, o conceito de saúde estaria relacionado à reunião de

vários fatores como: a qualidade de vida antes e durante o processo de

envelhecimento que envolvem dignidade; bem-estar; o acesso a educação;

políticas públicas condizentes; entre outras. A atividade física nesse contexto,

seria um componente integrante dessa qualidade que, não poderia ser ofertada

apenas pela prática exclusiva de exercícios vislumbrado pelo status de saúde dos

indivíduos.

Do ponto de vista geral, esse conceito mais biológico adotado pelo sujeito

B, estaria relacionado a visão de saúde, a partir da perspectiva de doença

construída ao longo do desenvolvimento da Saúde Pública. E, vencer um

paradigma com essa magnitude, não seria uma tarefa fácil, pois aceitar que a

saúde pode se circunscrever a partir da doença e que a falta de trabalho, a

exclusão social, o acesso a educação, entre outras, são determinantes para o

status de saúde de um indivíduo, requereria, conforme Capra (1999) apud

Moreira (2001), uma expansão não apenas de nossas percepções, mas também

de nossos valores.

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Ações que compõem a perspectiva de um trabalho pautado no âmbito da Promoção da Saúde

As ações que compõem a Promoção da Saúde após divulgação da Carta

de Ottawa, apresentam algumas características específicas como: um conceito

de saúde vislumbrado a partir de um conjunto de valores; a necessidade de

interação com vários segmentos da sociedade (governo, mídia, profissionais

diversos, setores privados, entre outros); uma educação para a saúde pautada

em uma pedagogia crítica e, a autonomia vislumbrada no poder que um indivíduo

possui em agir com base em suas escolhas (OPAS, 2002a).

Em relação a um conceito de saúde vislumbrado a partir de um conjunto

de valores, o sujeito A, discorre sobre essa necessidade:

“A responsabilidade social de instituições, seja ela de

ensino ou empresas, como é o caso da Faculdade, engajada em

programas de extensão comunitária, passa a cumprir o seu papel quando

esse trabalho [...] realmente faz uma diferença na vida de uma

comunidade, [...] se houvesse a sensibilidade do ponto de vista das

instituições e dos órgãos públicos e, se a gente pudesse transferir essa

responsabilidade social para a formação das pessoas, principalmente em

relação ao envelhecimento, poderíamos proporcionar um maior

envolvimento de outros profissionais não só na área de Educação Física”.

(SA)

Agora, em relação a utilização de uma pedagogia crítica, o direcionamento

das atividades desenvolvidas no Projeto Fênix durante a gestão do sujeito A,

indicam a utilização dessa perspectiva pedagógica, iniciada em um primeiro

momento a partir da oferta de um ambiente em que os alunos se sentissem

acolhidos: “...não adianta nada entrar com o processo de malhação,

se as pessoas não estabelecerem vínculos. Se eu imagino que a

atividade física trás benefícios - que já foram comprovados por pesquisas

[...] para que os benefícios possam ocorrer eu preciso de regularidade na

participação dos alunos que, não seja apenas pela pressão de perder a

vaga”. (SA)

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Inserido nesse contexto, os monitores e estagiários eram orientados para

respeitar a realidade de seus alunos, com seus pontos fracos e fortes. Segundo

SA, “esse foi o embrião do Projeto”, pois “abraçar, ouvir, conversar, respeitar e

discutir” era fundamental. E a base das atividades desenvolvidas, eram

construídas através do que ela entendia ser importante ensinar e também, sobre

os relatos das experiências vivenciadas por seus alunos.

Já sobre um conceito de saúde vislumbrado a partir de um conjunto de

valores, o sujeito B, não discorre sobre essa perspectiva, apontando a saúde sob

um ponto de vista mais biológico, no qual corpo e mente devem ser trabalhados

para um mesmo propósito. Sobre a interação com os demais segmentos da

sociedade, tanto públicas quanto privadas, ela também não discorre sobre essa

vertente. Em relação a adoção de uma pedagogia crítica, não encontrei

indicações suficientes para afirmar a adoção de tal perspectiva, mas encontrei o

relato da importância na relação de tratamento entre professor e aluno, que

deveria primar no acolhimento, no toque, na correção e orientação, para que os

alunos tivessem prazer em retornar à próxima aula.

Tanto para SA quanto SB existia uma preocupação em criar vínculos para

a manutenção da adesão de seus alunos. Conforme Baltes e Silverberg, (1995) e

Teixeira (2002a), um ambiente acolhedor e seguro facilitaria à população idosa a

exploração do ambiente, o desenvolvimento da uma maior independência e a

criação de laços afetivos entre outras atribuições.

Embora, acolher e criar vínculos, não significa estar trabalhando dentro do

contexto de uma pedagogia crítica, características como: a valorização das

experiências individuais e do cotidiano do indivíduo; a interação entre profissional

e educando no mesmo nível de igualdade e a construção de conhecimentos

através do diálogo crítico, são essenciais nessa perspectiva (FREIRE, 1997 e

PEREIRA, 2003). Por esse motivo, as ações narradas pelo sujeito A,

assemelham- se a essa perspectiva pedagógica.

Portanto, para a conclusão dessa perspectiva de trabalho pautada no

âmbito da Promoção da Saúde, falta identificar como o conceito de autonomia era

utilizada pelas coordenadoras.

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Conforme Freire (1997); Pinheiro (2003) e Pereira (2003), o fortalecimento

da autonomia de um indivíduo, ocorre a partir do desenvolvimento das

habilidades individuais construídas através de uma pedagogia crítica, que não

ocorre da memorização ou da imposição, mas do nível crítico de conhecimento

obtido pelo processo de compreender, refletir e criticar.

Tendo isso em vista, observei que a pauta das discussões realizadas pelo

sujeito A, durante as atividades no Projeto, eram construídas primeiro com base

no que ela percebia ser importante discutir dentro do cenário social e em segundo

lugar, a partir do que os idosos relatavam de seu cotidiano, como por exemplo:

“...meu filho não admite que eu erre, a minha filha e meu

filho não admitem que eu não consiga mais fazer as coisas [...] meu filho

briga comigo se eu não fico cuidando do meu neto [...] meus filhos que

decidem se eu posso ou não namorar ”. (SA)

Segundo SA, essa estratégia pedagógica, gerava questionamentos dentro

do grupo sobre a competência individual de cada aluno orientando, para o ato de

“experienciar” antes que se afirmassem incompetentes para uma ação. O retorno

de que essas discussões surtiam o efeito desejado, vinham dos depoimentos dos

idosos e de seus familiares. Para SA, o ato de experienciar, causava ciúmes

principalmente das famílias, cujos idosos eram mais dependentes como podemos

observar nesse trecho da entrevista:

“...eles começaram a formar grupos de amigos [...] na

verdade eles pouco tinham amigos fora do elo familiar e, quando eles

começaram a estabelecer outros elos e a realizar outras atividades como

ir ao cinema, freqüentar a casa do amigo, coisas que eles não faziam, o

ciúmes aparecia. Algumas famílias, começaram a ter atitudes um pouco

mais ativas no sentido de se oporem as imposições dos filhos e maridos,

e os maridos diziam para nós, que éramos culpadas por conta dessa

rebeldia”. (SA)

O intuito de criar vínculos afetivos era utilizado como um meio para que os

idosos pudessem se expressar sem medo de uma recriminação, mas muitos,

segundo SA, não conseguiam fazê-lo e a estratégia era continuar estimulando-os.

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Um fato que se tornou foco de discussão e que SA frisava

constantemente, era a questão da dependência que eles criavam para a

realização de várias coisas, como por exemplo: o desejo em constantemente

passear, que conforme SA, tal constância era inviável dentro do Projeto,

conseqüentemente, o posicionamento adotado e narrado pela orientadora era:

“...Vocês não precisam só da gente para fazer as coisas

[...] sobre os passeios e excursões, vocês já sabem como fazê-lo, se

organizem. E foi o que eles fizeram [...] descobriram que eles não

precisavam pagar a passagem de ônibus [...] descobriram que existe

vários passeios culturais que não custam nada ou quase nada”. (SA)

Fazê-los experienciar contribuiu para que os alunos se organizassem em

outras atividades. Era visível o prazer que os alunos tinham em mostrar aos seus

familiares sua produção e o grande responsável por essa maior autonomia,

argumenta SA, foi o sentimento de produtividade desses alunos.

Indubitavelmente, o desejo de SA era fazer com que os idosos

acordassem para a vida, que se questionassem sobre o cerceio de sua liberdade

imposta por seus familiares e que pelo menos pensassem a respeito do quão

produtiva poderia ser a vida, independente de sua idade e de seu status de

saúde.

Já em relação ao sujeito B, a autonomia seria um componente

fundamental para o andamento das atividades desenvolvidas no Projeto Fênix,

que tinha por objetivo dentro desse contexto:

“...fazer com que os idosos desenvolvessem sua autonomia

a partir das atividades desenvolvidas no Projeto [...] a autonomia seria

fundamental para que eles pudessem evoluir, pois não adianta que os

idosos fiquem esperando que os outros façam alguma coisa por eles”.

(SB)

Tanto para os idosos quanto para os monitores, o sujeito B enfatizava a

liberdade de expressão: “...eu dava essa liberdade e priorizava que tudo fosse

discutido em grupo, eu queria que fosse uma troca de aprendizagem

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valorizando a experiência de cada componente do grupo [...] essa

liberdade, era importante para que ninguém ficasse chateado quando

discutíamos algum problema, idéias, sugestões e até nas correções dos

monitores no direcionamento das atividades”. (SB)

O sujeito B relata que quanto mais “se abria espaço para a autonomia”

mais retorno positivo ela obtinha dos idosos. Isto é, manifestações individuais

e/ou coletivas dos alunos quanto ao direcionamento das atividades, das

propostas de passeios, atividades culturais e até na modificação de exercícios.

Quanto a utilização de uma pedagogia crítica, durante as atividades que

proporcionassem o fortalecimento da autonomia desses alunos, o sujeito B não

discorre sobre essa possibilidade pedagógica, porém comenta sobre a falta de

“autonomia” de parte do grupo:

“Todo grupo tem as pessoas que conseguem expor mais

as suas idéias. Para alguns foi fácil, mas para outros, nem tanto. O que a

gente poderia ter feito para estimular isso? Talvez se a gente tivesse um

pouco mais de conhecimento para tal proposição”. (SB)

Discutir autonomia ou o poder de se auto-governar não seria uma tarefa

fácil, porque ao longo da construção desse conceito, noções diversificadas foram

atribuídas ao termo como: justiça; liberdade e independência (FARINATTI, 2000).

E essa atribuição pode ser observada no discurso de SB, que atribui a noção de

liberdade ao conceito de saúde.

Possuir liberdade, nesse sentido, não seria um indicativo para que um

indivíduo realmente se auto-governe, pois a liberdade não seria apenas a

ausência de obstáculos externos para fazermos o que queremos, ou seja, a

liberdade dependeria de circunstâncias pessoais, sociais, e ambientais.

(SCHENEEWIND, 2001).

Ensino: trabalho desenvolvido com os monitores

Em relação ao ensino, o direcionamento pedagógico desenvolvido no

estágio de monitoria segundo o sujeito A, deveria abranger três vertentes: (1)

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visão de envelhecimento (quebra de estereótipos); (2) interação professor-aluno

(valorização das experiências individuais) e (3) incentivo ao ato de experenciar.

Todo trabalho era iniciado pela revisão dos estereótipos atrelados à

condição da velhice, pois os monitores e estagiários chegavam ao Projeto com

uma percepção negativa sobre o processo de envelhecimento, baseado na

comparação das capacidades motoras entre jovens e velhos, acrescenta SA.

A estratégia utilizada para tanto era de situá-los na perspectiva real sobre

o que seria a velhice e posteriormente discorrer sobre as atribuições da

Educação Física em prol dessa população, cito como exemplo desse

direcionamento pedagógico, o trecho a seguir:

“...Quando se trabalha com crianças você sempre vê a

evolução, eles melhoram, eles crescem, ficam mais fortes. O idoso você

trabalha, trabalha e vê melhorias. Fazendo uma analogia, eu diria que o

idoso é como se colocar água sobre a mão, e por mais que você feche

seus dedos, a água vai escorrendo, isto é, eles vão perdendo. Existe uma

perspectiva de avanço, mas as perdas são inevitáveis. Então, qual é o

trabalho que nós profissionais de Educação física fazemos? Lutamos para

que esse processo de perda seja mais lento, mas ele é inevitável”. (SA)

O sujeito A, deixa claro que o processo de envelhecimento transita na

perspectiva de avanço e de perdas, nesse sentido, o profissional de Educação

Física deveria ultrapassar essa visão estereotipada de incapacidade, para que o

direcionamento prático de suas atividades não visasse apenas a independência

motora.

Já em relação a interação professor-aluno, a orientação era para que os

monitores e estagiários acolhessem os idosos com intuito de criar um ambiente

agradável e acolhedor, para que os mesmos tivessem prazer em retornar na

próxima aula. Isso garantiria a adesão dos idosos, contribuindo diretamente para:

“...melhorias de suas condições físicas [...] nós fazíamos

todo o trabalho de desenvolvimento das capacidades motoras e

funcionais como: desenvolvimento da capacidade cardiovascular;

musculação; coordenação; alongamentos; entre outras, mas a atividade

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física não bastava, por isso nós oferecíamos palestras regulares [...]

tentando dar aos idosos e monitores informações e conhecimentos sobre

temas variados”. (SA)

O sujeito A também ressalta que a obrigatoriedade de acolher os idosos,

com toque e com palavras afáveis, tinha como intuito não apenas criar vínculos,

mas reverter a aversão à pessoa idosa, pois em relato colhido por SA, alguns dos

monitores e estagiários se sentiam desconfortáveis ao tocar, abraçar e criar

vínculos com seus alunos, que aos poucos foi se modificando:

“...a visão dos monitores [...] foi se modificando ao longo do

tempo [..] o olhar para o idoso, como uma pessoa frágil, de vidro, que a

gente não pode fazer nada, foi substituída, bem como o receio de tocá-

los”.

O terceiro foco, visava orientar os monitores e estagiários para que

estimulassem os idosos a experienciar, aproveitar e investir em coisas novas

para que pudessem, quando fosse o caso, recuperar o seus sentimentos de

produtividade, pois para SA em relatos colhidos nas anamneses, os idosos

apresentavam baixa perspectiva de vida. E, por esse motivo, a estratégia

utilizada era de questioná-los para que ao menos pensassem a respeito de:

“Você já parou para pensar o que representa vinte anos na

vida de qualquer pessoa? O que você pode fazer com vinte anos a mais?”

Já em relação as reuniões pedagógicas, essas eram realizadas antes e/

ou após ao final das atividades. As pautas das discussões, giravam em torno do

que acontecia durante as atividade e sobre temas pertinentes ao processo de

envelhecimento. Quanto ao grupo de estudos, o sujeito A comenta que as

reuniões eram regulares, mas devido a indisponibilidade de tempo dos monitores

e estagiários, para além das seis horas semanais de atividades já realizadas, o

grupo de estudos ficou estagnado:

“... eu acho que o grupo de estudo tornou-se mais efetivo

quando o sujeito B assumiu [...] nós, na minha gestão discutíamos as

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atividades, as reações dos grupo, novas propostas, nós fazíamos leituras

para subsidiar o trabalho, mas como a gente queria estruturar primeiro o

Projeto, demoramos um pouco para dar o ritmo ao grupo de estudos”.

(SA)

Agora, em relação a gestão do sujeito B, sobre a perspectiva de ensino e

formação profissional, ela primava que seus monitores, estagiários e voluntários

investissem na interação professor-aluno, pois segundo suas observações, parte

dos idosos apresentavam uma carência afetiva e, nesse sentido, seria primordial:

“...ter um tratamento mais próximo e mais carinhoso com

os idosos, para que eles se sentissem acolhidos e ficassem bem com

eles mesmos [...] o retorno desse acolhimento era muito positivo,

mantínhamos a adesão e proporcionávamos um sentimento de bem-

estar”. (SB)

Dessa maneira, o sujeito B discorre que o fundamental não era apenas

transmitir as atividades, contudo a forma como elas eram trabalhadas seria

fundamental, afinal deveriam levar em consideração o “lado pessoal dos

indivíduos”. Seria importante acrescer a esse acolhimento outros complementos

que: “...dessem aos idosos um retorno do trabalho desenvolvido,

como: porque desse exercício; a importância de certos procedimentos; o

porque de avaliação física e nutricional [...] o partilhar dessas informações

contribuía [...] para que eles se sentissem queridos e tranqüilos em

relação ao trabalho desenvolvido ”. (SB)

Outro fator que era indispensável para o sujeito B, era a participação no

grupo de estudos e nas reuniões pedagógicas. Seria fundamental que o Projeto

tivesse uma aprofundamento teórico para basear o seu trabalho, pois conforme

SB: “...de nada adiantaria reproduzir o que cada um achava

interessante ensinar sem ter uma fundamentação teórica, pois nossa

proposta de trabalho seria superficial”.

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A idéia era buscar no grupo de estudos, procedimentos e metodologias

diferenciadas, que se revertessem em benefícios à população idosa assistida. Já

o objetivo das reuniões pedagógicas, segundo o sujeito B, além de discutir o

cotidiano das aulas e organizar o direcionamento teórico e prático das atividades,

visava atribuir responsabilidade aos monitores no planejamento semanal de suas

atividades no desenvolvimento e na busca de novas estratégias.

O sujeito B acrescenta que o planejamento das atividades em geral eram

bem democráticas, afinal levava em consideração todas as observações

realizadas pelos alunos nas reuniões semestrais de avaliação e por conta dessa

relevância, SB percebeu que existia a necessidade de reestruturar o Projeto

Fênix, mas a reestruturação que seria realizada no ano de 2005, não foi

concretizada devido o encerramento do Projeto e a implantação da Faculdade da

Idade da Razão na Faculdades Integrada de Guarulhos.

4.4 Discussão Geral

Com base na análise e interpretação proposta nesse estudo observei que

o Projeto Fênix durante a sua existência, independentemente de quem o geriu, foi

um programa de referência para a comunidade dos bairros próximos a

Faculdade Integrada de Guarulhos.

Cada coordenadora, dentro de suas possibilidades, com empenho e

criatividade, ofereceram em conjunto aos monitores, estagiários e voluntários,

atividades que visaram além da manutenção e/ou melhoria da capacidade

funcional e motora, a ampliação de conhecimentos sobre o processo de

envelhecimento, atividades de lazer e cultura, bem como o estímulo das

potencialidades individuais de seus alunos e, para tanto, utilizaram estratégias

semelhantes para a adesão de suas turmas, porém distintas no direcionamento

prático de suas atividades.

A partir dessa aparente semelhança entre os objetivos descritos em seu

documento de implantação e as ações que de fato foram empreendidas durante

as duas gestões existentes no Projeto Fênix, que observei a presença de

divergências quanto a percepção de velhice, conceito de saúde, autonomia e

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Promoção da Saúde na segunda gestão do Projeto, pois até então, sua estrutura

de trabalho apresentava-se coerente com a perspectiva da Promoção da Saúde

pós Carta de Ottawa.

Foi com base na observação de que a fundamentação teórica utilizada

pelas duas gestões do Projeto foi a mesma que passei a me questionar sobre o

quanto um posicionamento individual, poderia vir a influenciar o direcionamento

de atividades propostas à população idosa, como foi o caso do Projeto Fênix.

Pois, o grande problema desses posicionamentos estaria relacionado aos

valores e conceitos construídos ao longo do desenvolvimento de cada indivíduo,

que só podem ser modificados através da quebra desses valores e quebrá-los,

nesse sentido, não seria uma tarefa fácil. Porquanto valores e conceitos são

tecidos através da interação de vários fatores, que devem ser revistos em sua

totalidade antes que sejam ampliados ou modificados CAPRA (1999) apud

MOREIRA, (2001).

No caso de uma intervenção voltada à população idosa, o primeiro valor a

ser revisto seriam os estereótipos de incapacidade e dependência atrelados à

condição de velhice, construídos pela sociedade que, além de ditar regras e

comportamentos individuais e coletivos como o tempo para se casar; entrar na

faculdade; envelhecer e até se aposentar, espera a todo momento que a

população idosa se comporte como dependente, mesmo que não haja

necessidade para tal (BALTES e SILVERBERG, 1995),

Nesse sentido, o caminho para a quebra desses estereótipos no contexto

teórico do Projeto Fênix, estaria relacionado a quatro fatores: (1) reconhecimento

do público a ser assistido e quais eram suas necessidades e desejos; (2)

ampliação do enfoque biológico da Educação Física; (3) reconhecimento de que

os aspectos sociais, políticos e econômicos estariam diretamente relacionados ao

status de saúde dos indivíduos, (4) que os profissionais fossem capacitados para

trabalhar dentro de uma perspectiva de avanço, mas cientes que as perdas

seriam inevitáveis.

Dentro desse contexto, percebi que existe uma grande distância em

acreditar que o processo de envelhecimento é passível de desenvolvimento e,

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atuar com base nessa perspectiva, pois essa distância pôde ser observada no

Projeto Fênix entre os anos de 2003 e 2004. Isto é, o grupo de profissionais

possuíam uma visão positiva sobre o processo de envelhecimento, porém o

direcionamento prático de suas atividades focava-se nas questões biológicas e

na independência motora, por quê?

Talvez a resposta para tal indagação estivesse relacionada a falta de

aprofundamento das discussões em torno do processo de envelhecimento, ou no

posicionamento individual adotado de cada profissional sobre o que seria

importante a ele ensinar, ou ainda na característica mais biológica da área de

Educação Física.

Seguindo essa linha de raciocínio, procurei referências sobre o porquê

desse enfoque biológico dentro da Educação Física em relação à população

idosa e observei que a raiz dessa vertente, remonta ao período do Brasil-

República, que adotou as práticas sanitaristas da Medicina Social da época e

características como o abandono da subjetividade e o enfoque na doença

instalada, passaram a primar na Educação Física.

Tal característica, por sua vez, pode ser observada na produção literária

da área, nos trabalhos científicos produzidos e até nas propostas de atividade

física que em relação à população idosa, apenas em meados da década de 1990

passa ampliar esse enfoque mais biológico. (CASTELLANI FILHO, 1988b; FARIA

JÚNIOR et al., 2005a,b,c; MARINHO, 1943; SANTOS e WESTPHAL, 1999).

É importante ressaltar que dentro desse contexto, a área de Educação

Física não se circunscreve apenas na razão dos benefícios oriundos de estímulos

biológicos, mas representa um fenômeno complexo de dimensões múltiplas,

biológicas, sociais, psicológicas e culturais, nos quais o componente Educação se

faz presente (Mira, 2003),

Entretanto, apesar dessa abrangência, a sociedade e a mídia acabam por

estereotipar a área, simplificando-a na razão de causa e efeito, ou seja, a

Educação Física seria muito mais vislumbrada como provedora de saúde através

da atividade física, do que como uma área de produção de conhecimento e

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formação profissional (BAGRICHEVISKY E PALMA, 2005; LEFÈVRE, 1999;

MIRA, 2003; MOREIRA, 2001; WAISSMANN, 2003).

Dentro desse argumento, qual seria o objeto de estudo da Educação

Física? Seria prover saúde através do exercício? Quantos profissionais

influenciados por esse estereótipo acreditam que são provedores de saúde e

relevam que a área não se circunscreve apenas na vertente biológica?

Por esse motivo discutir, ampliar e rever conceitos individuais e universais

como o conceito de saúde e autonomia, deveriam constar na construção de uma

intervenção voltada à população idosa, para que a perspectiva de um trabalho

pautado no envelhecimento bem-sucedido não se encerre no enfoque biológico

como se o status de saúde e a independência motora fossem os únicos a

circunscrever a vida de quem envelhece.

Para a ampliação dessa discussão, busquei além do Projeto Fênix,

referências sobre programas de atividade física de universidades brasileiras,

tanto da década de 1990, período de implantação do referido Projeto, quanto da

atualidade, com intuito de verificar a ocorrência de tais divergências.

E notei que, nos programas baseados na perspectiva de um

envelhecimento bem-sucedido, a dificuldade de diferenciação das ações que

compõem uma atenção preventiva das que constituem o âmbito da Promoção da

Saúde, bem como o termo autonomia vinculado a independência motora.

Não posso afirmar que o conceito de saúde e autonomia não foram

discutidos e ampliados dentro desses programas e nem que não eram de

conhecimento de seus profissionais, mas posso afirmar que, dos vinte e um

programas de atividade física utilizados para compor essa discussão, apenas

dois programas discorrem sobre essa delimitação e quatro incluindo o Fênix,

deixam implícito tais perspectivas.

Segundo Czeresnia (2003), a dificuldade em se diferenciar a prevenção de

promoção da saúde, não deveria existir, pois a diferença entre ambas são

radicais e implicam em formas diferenciadas de operar as práticas em saúde.

Mas, apesar dessa radicalidade, essas duas vertentes seriam próximas por

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possuírem como base de suas ações, os mesmos conhecimentos e conceitos

clássicos em saúde.

Em síntese, conhecer a percepção sobre um conceito de saúde, dos

profissionais que atuam diretamente com essa população, seria um ponto de

partida para que tais divergências não ocorressem dentro de uma proposta de

atividade física.

Por esse motivo, entre os anos de 2003 e 2004 o direcionamento prático

das atividades desenvolvidas no Projeto Fênix deixou de atuar dentro da

perspectiva da Promoção da Saúde, não apenas pelo fato de divergir quanto a

perspectiva de saúde, mas por atrelar o conceito de autonomia a noção de

liberdade e independência motora.

É importante frisar que não basta ter liberdade para que um indivíduo

exerça o seu poder de auto-gestão, isso porque os alunos do Projeto Fênix

tinham liberdade para manifestar seus desejos e expressar suas opiniões, mas

aqueles que não articulavam bem, palavras e pensamentos, segundo depoimento

de uma das coordenadoras, não o faziam, por quê?. Porque não basta ter

liberdade se um individuo não pode controlar os eventos que a possibilitam –

dessa forma, a falta do poder de decidir, escolher e discernir, seriam

fundamentais para o exercício da autonomia desses indivíduos, que deveriam ser

estimulados para tal proposição através de uma pedagogia crítica.

Contudo, como garantir que um trabalho venha a se circunscrever dentro

de um ambiente crítico se no Brasil assim como em toda América Latina, essa

oportunidade culturalmente é pouco desenvolvida? (GALENO, 1987; LITVAK,

1990 apud CHAIMOWICZ, 1997).

Sobre essa vertente pedagógica, observei que apenas dois programas no

enunciado de suas propostas discorrem sobre a importância de uma pedagógica

crítica, pois os demais programas assim como o Fênix deixam implícito a

utilização dessa estratégia ou não fazem menção a ela.

A grande questão das divergências apontadas nesse estudo seria o

porquê de sua ocorrência nos dias atuais, já que os eventos históricos apontam

que, desde meados da década de 1990, as demandas necessárias à manutenção

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dessa população passam a ser valorizadas e discutidas em nossa sociedade; a

Educação Física brasileira amplia seu enfoque biológico no processo de

envelhecimento para as questões pedagógicas e da Promoção da Saúde; no

Brasil a Política Nacional do Idoso passa a incentivar a pesquisa, ensino e a

inclusão Gerontologia nas grades curriculares dos cursos de Educação Física,

entre outras (BRASIL, 1994; FARIA JÚNIOR et al., 2005a,b; ONU, 2000).

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5. Considerações Finais

Com esse estudo pude concluir que a elaboração de um programa de

atividade física voltado à população idosa, apresenta como característica os

valores e os conceitos individuais de quem o organiza e de quem o executa. Isto

é, o conteúdo das atividades desenvolvidas, poderia ser influenciado tanto pela

percepção de velhice que os profissionais possuem quanto pela fundamentação

teórica que estabelece suas diretrizes.

Já sobre o processo de envelhecimento estereotipado e as divergências

quanto ao conceito de saúde, autonomia e Promoção da Saúde, observei tanto

na análise Projeto Fênix quanto nos demais programas de atividade física

utilizados para compor esse estudo, que tais divergências, poderiam estar

relacionadas com falta de ampliação desses conceitos e/ou pela forma com que

estes, foram culturalmente construídos em nossa sociedade.

Dentro desse contexto, não poderíamos exigir que tais conceitos sejam

ampliados por todos indivíduos em sua essência, pois essa ampliação, requereria

a revisão de valores construídos por esses indivíduos ao longo de suas vidas e,

para tanto, o poder de discernir seria um item crucial para que essa ampliação

ocorresse. Isto é, vencer uma “consciência mágica” não seria para todos.

Mas, no âmbito científico essa parcimônia deveria ser aceita? Talvez, se

partirmos do princípio que nem no âmbito científico, exista a garantia de que a

produção de conhecimentos não esteja baseada nas representações coletivas do

mundo social dos próprios pesquisadores. Mas, acredito que essa brecha de

aceitação, não deveria ocorrer nas áreas que estão diretamente envolvidas com o

processo de envelhecimento como é o Caso da Educação Física.

Com esse estudo, também pude observar que existe um consenso dentro

da Educação Física sobre a ampliação do conceito de saúde e das ações que

compõem o ideário da Promoção da Saúde, pois foi possível encontrar essa

indicação implícita ou explícita nos programas utilizados para compor esses

estudo, porém parece-me que tais conceitos em alguns programas, apesar de

sua indicação, não foram incorporados em sua essência.

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Em suma, apesar de toda ampliação que área de Educação Física teve na

década de 1990 sobre as outras vertentes que concerne o processo de

envelhecimento, ainda hoje, pode-se observar a predominância do enfoque

biológico tanto no direcionamento prático área quanto na produção e divulgação

de conhecimentos. E, foi dentro deste contexto que notei a freqüência de

utilização do termo autonomia atrelado à condição de independência motora.

Portanto, para que divergências quanto a percepção de velhice, conceitos

de saúde, autonomia e Promoção da Saúde não ocorram dentro de uma proposta

de atividade física voltado à população idosa, seria necessário que a área de

Educação física, ampliasse as discussões em torno dessas perspectivas para

que dessa forma, possamos melhorar e/ou aumentar a qualidade das propostas

de atividade física, proporcionando um incremento na qualidade do processo de

envelhecimento da população.

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Anexo - I

AMC - Serviços Educacionais Ltda Rua Taquari, 546 - Mooca - São Paulo -SP CEP 03166-000 PABX: 6099-1999 - FAX: 6099-1692

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Autonomia e Saúde de Idosos Participantes de um Programa de Atividade Física

Eu,___________________________________________,idade (anos)____,sob

RG:______________,residente no endereço:___________________________

__________________________________________________________,tel( )

__________e-mail:___________________________, abaixo assinado, dou meu

consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário do projeto de

pesquisa supracitado, sob responsabilidade dos pesquisadores Maria Luiza de

Jesus Miranda e Ana Lúcia Lago Nakamura membros do curso de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Educação Física.

Assinando este Termo de Consentimento, estarei ciente de que: 1 – O objetivo deste estudo será averiguar, a partir da perspectiva teórica da Promoção da Saúde, as divergências e convergências conceituais de saúde autonomia e Promoção da Saúde no direcionamento das práticas de atividades físicas desenvolvidas pelo Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade entre os anos de 2003 e 2004. 2 – Durante o estudo será aplicado entrevistas individuais semi-estruturadas com as organizadoras do Projeto Fênix. 3 – Obtive todas informações necessárias para assim, poder decidir conscientemente sobre a minha participação na referida pesquisa, bem como da possibilidade reduzida de riscos em minha participação.

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4 – Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa. 5 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo, as entrevistas gravadas em fita serão apagadas depois da transcrição. Os resultados gerais obtidos através da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos da pesquisa expostos acima, incluindo sua publicação na literatura científica especializada. 6 – Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do telefone (11) 6099-1665. 7 – Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Profª. Drª. Maria Luiza de Jesus Miranda, sempre que julgar necessário pelo telefone (11) ________. 8 – Este Termo de Consentimento possui duas vias, permanecendo uma via em meu poder e outra com o pesquisador responsável.

São Paulo, ____ de ________________ de ____________

_______________________________________________

Nome do voluntário _______________________________________________ Assinatura do voluntário

________________________________________________ Nome e assinatura do pesquisador responsável pelo estudo

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Anexo - II

Guarulhos, 06 de maio de 2005

Prezados Senhores,

Gostaria de solicitar a Direção Geral das Faculdades Integradas de

Guarulhos, autorização para utilizar o Projeto Fênix como referência para

elaboração de minha dissertação de mestrado que está sendo realizada na

Universidade São Judas Tadeu, sendo orientada pela Drª Maria Luiza de Jesus

Miranda.

Atenciosamente,

Ana Lúcia Lago Nakamura

Universidade São Judas Tadeu

prontuário: 200480642

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