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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ANA LÚCIA LAGO NAKAMURA
ENVELHECIMENTO: UM OLHAR SOBRE A PERSPECTIVA DE SAÚDE ,
AUTONOMIA e PROMOÇÃO DA SAÚDE EM PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA.
São Paulo, 2007
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Nakamura, Ana Lúcia Lago
Envelhecimento: um olhar sobre a perspectiva de saúde, autonomia e Promoção da Saúde em programa de atividade física / Ana Lúcia Lago Nakamura. - São Paulo, 2007.
Aa119 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2007.
Orientador: Profª. Dra. Maria Luiza de Jesus Miranda.
1. Envelhecimento. 2. Saúde. 3. Autonomia 4. Promoção da Saúde 5. Educação
física para idosos. I. Título CDD- 796
Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878
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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ANA LÚCIA LAGO NAKAMURA
ENVELHECIMENTO: UM OLHAR SOBRE A PERSPECTIVA DE SAÚDE,
AUTONOMIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE EM PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA.
Dissertação apresentada à Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial para a obtenção de grau de mestre em Educação Física sob a orientação da Profª. Drª. Maria Luiza de Jesus Miranda.
São Paulo, 2007
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Banca Examinadora:
_____________________________ Profa. Dra. Sandra Matsudo
_____________________________ Profa. Dra. Marília Velardi
_____________________________ Profa. Dra. Maria L.J. Miranda
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Agradecimentos
Agradeço a todas as pessoas que colaboraram para o meu crescimento pessoal e profissional: meus pais, meus irmãos, meus tios, meu esposo e a minha orientadora.
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SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................... iii
ABSTRACT........................................................................................................... iv
APRESENTAÇÃO................................................................................................. v
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 01 2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Envelhecimento..................................................................................... 08
2.2 Promoção da Saúde e envelhecimento................................................ 13
2.3 Atividade Física e envelhecimento........................................................ 21
2.4 Envelhecimento e a Educação Física brasileira ................................... 24
2.5 Década de 1990 e a população idosa brasileira... ................................ 28 2.5.1 Economia, saúde, educação....................................................... 28
2.6 Programas de atividade física para idosos ......................................... 33
2.6.1 Descrição dos programas de atividade física voltados à população
idosa...................................................................................................... 40
3. MÉTODO....................................................................................................... 53
3.1 Categorização do estudo........................................................................ 53
3.2 Participantes da pesquisa....................................................................... 53
3.2 Instrumentos........................................................................................... 53
3.3 Procedimentos........................................................................................ 54
3.4 Fase de análise do discurso................................................................... 56
4. PROJETO FÊNIX: BASES TEÓRICAS........................................................ 58
4.1 Descrição.............................................................................................. 59
4.2 Análise documental............................................................................... 64 4.3 Coordenadoras do Projeto Fênix: análise dos discurso........................ 73
i
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4.3.1 Caracterização dos sujeitos........................................................ 73
4.3.2 Caracterização dos temas.......................................................... 73
4.4 Discussão Geral.................................................................................... 88
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 94
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 96
7. ANEXOS............................................................................................................. 105
ii
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Resumo
A natureza desse estudo é o resultado de questionamentos
elaborados durante o período em que a pesquisadora atuou como docente em um
programa de atividade física voltado à população idosa, o assim denominado
Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade desenvolvido nas Faculdades
Integradas de Guarulhos – São Paulo. O Projeto tinha por objetivo proporcionar
atividades e conhecimentos que possibilitassem a população idosa viver essa fase
da vida com maior qualidade, autonomia e satisfação, proporcionados pelo
sentimento de produtividade e efetiva inserção na sociedade como cidadãos ativos
e participativos. Nesse sentido, adotamos o direcionamento de suas atividades
coerentes com a perspectiva da Promoção da Saúde, bem como a utilização de
uma pedagogia crítica para a obtenção de seus objetivos. Mas, apesar de tal
perspectiva, notamos a presença de divergências entre o enunciado de sua
proposta (intenções e justificativas) com os objetivos descritos em relação a visão
de envelhecimento, conceito de saúde, autonomia e Promoção da Saúde entre os
anos de 2003 e 2004. Dessa forma, para entendermos o contexto teórico dessas
discordâncias e a implicação que possuem no direcionamento prático de suas
atividades, esse estudo tem por objetivo geral: averiguar, a partir da perspectiva
teórica da Promoção da Saúde, as divergências e convergências conceituais de
saúde, autonomia e Promoção da Saúde, no norteamento das práticas de
atividades físicas desenvolvidas pelo Projeto Fênix. Seguem-se ao objetivo geral
três objetivos específicos: (1) analisar a fundamentação teórica e as ações
empreendidas no Projeto para estabelecer qual a perspectiva filosófica de saúde,
autonomia e Promoção da Saúde, que lhe dá orientação; (2) compreender as
divergências e convergências conceituais que dão base às suas ações práticas;
(3) refletir sobre o quanto a análise e compreensão do Projeto Fênix podem indicar
o que ocorre no cenário mais geral de programas de atividades físicas para
adultos e idosos.
Palavras-chave: programa de atividade física; idosos e Promoção da Saúde
iii
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Abstract
The nature of this survey is result of questions elaborated during the period when
the researcher was working as a teacher in a physical activity program destined to
the elderly population, called Fênix Project – Third Age with Quality, developed in
Faculdades Integradas de Guarulhos – São Paulo. The Project had the purpose of
providing activities and knowledge in order to enable elderly people to live this
phase of life with a higher quality, empowerment and satisfaction caused by the
feeling of production and effective insertion into the society as an activity and
participating citizen. Therefore, we observed the direction of their activities
coherent to the perspective of Health Promotion, as well as the use of a critical
pedagogy for obtaining their purposes. However, despite such perspective, we
noticed the presence of divergences between the proposal statement (intentions
and explanations) and described purposes concerning the point of view of aging,
health concept, empowerment and Health Promotion between the years of 2003
and 2004. Therefore, in order to understand the theoretical context of such
divergences and the way they affect the practical direction of the activities, this
survey has the general purpose of: inspecting, from the theoretical perspective of
Health Promotion, the concept divergences and convergences of health,
empowerment, and Health Promotion concerning the practices of physical activities
developed by Fênix Project. Besides the general purpose, there are three specific
purposes: (1) analyzing the theoretical basis and the actions taken during the
Project in order to establish the philosophical perspective of health, empowerment
and Health Promotion which directed such Project; (2) understanding the concept
divergences and convergences which provide the basis for practical actions; (3)
pondering about how much the analysis and understanding of Fênix Project may
indicate what occurs in the most general scenery of physical activity programs for
adults and elderly people.
Key words: physical activity programs; elderly people; Health Promotion
iv
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Apresentação
O presente estudo, discorre sobre a análise da prática pedagógica de um
programa de atividade física voltado à população idosa – o Projeto Fênix Terceira
Idade com Qualidade, desenvolvido entre os anos de 1998 a 2004 na Faculdade
Integrada de Guarulhos. As constantes reflexões e questionamentos sobre
divergências e convergências conceituais sobre saúde, autonomia e Promoção da
Saúde, observadas pela pesquisadora no período em que atuou como docente no
referido Projeto, geraram a necessidade de desenvolver o estudo aqui proposto.
Na introdução, procuramos apontar toda a problemática que envolve o
processo de envelhecimento, e que poderiam vir a influenciar o direcionamento
prático e teórico de um programa de atividade física voltado à população idosa.
A partir da delimitação dos objetivos a que nos propomos responder, no
capítulo seguinte, discorremos sobre o processo de envelhecimento, abordando
os aspectos biológicos com suas modificações e adaptações fisiológicas, bem
como os aspectos sociais e históricos incidentes sobre essa população, como a
categorização social do envelhecimento, a construção da velhice como um
problema social e o interesse do envelhecimento como objeto de estudo.
Em seguida, passamos a discutir as ações que compõem uma perspectiva
de trabalho no âmbito da Promoção da Saúde e o incremento que a mesma
proporcionaria ao processo de envelhecimento e, para tanto, dividimos esse
capítulo em três períodos distintos, iniciados na valorização da Promoção da
Saúde pela Medicina Social do século XIX, passando pelo movimento moderno da
Promoção da Saúde em 1974 e, finalizando com a Primeira Conferência
Internacional sobre a Promoção da Saúde e divulgação da Carta de Ottawa em
1986.
Já em relação ao capítulo três, este aborda os benefícios proporcionados
pela prática regular de atividade física e a importância da associação do
direcionamento prático da Educação Física, com a perspectiva da Promoção da
Saúde que, diretamente, contribuiria para um crescimento integral dos indivíduos
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em relação ao discernimento da importância da adesão e da prática de exercícios
em si.
Dando continuidade a discussão sobre a atividade física e envelhecimento,
no quarto capítulo procuramos construir um panorama geral sobre a atuação da
Educação Física brasileira em relação ao processo de envelhecimento desde a
sua implantação no Brasil-República até os dias atuais.
Dentro desse panorama histórico, no quinto capítulo desse estudo,
realizamos uma reconstrução da realidade social-histórica brasileira da década de
1990, incidente sobre a população idosa, buscando a partir desse levantamento
histórico compreender as intenções, justificativas e objetivos descritos para a
implantação do Projeto Fênix na Faculdade Integrada de Guarulhos.
E, com o intuito de ampliar a compreensão sobre a década de 1990, em
relação ao direcionamento prático da Educação Física, o capítulo seis analisa
alguns programas de atividade física voltados à população idosa desenvolvidos
em universidades brasileiras do período em questão.
Para a execução dessa tarefa, o próximo capítulo discorre sobre a trajetória
metodológica utilizada neste estudo, além de revelar os motivos pelos quais
optamos pela pesquisa qualitativa e, apresentamos também os participantes deste
estudo, os instrumentos e os procedimentos utilizados para a coleta de dados.
A partir dessa descrição metodológica, iniciamos a descrição do Projeto
Fênix e a ampliação de suas bases teóricas. De posse dessas informações,
voltamos o nosso olhar aos responsáveis pela elaboração e coordenação do
Projeto, a principal finalidade desse enfoque seria, captar a essência dos objetivos
práticos e teóricos desenvolvidos entre os anos de 1998 e 2004 através da
percepção individual de suas coordenadoras sobre o processo de envelhecimento,
conceitos de saúde, autonomia, e a perspectiva de um trabalho pautado no âmbito
da Promoção da Saúde. A essência desses direcionamentos nos dá subsídios
para que possamos discorrer sobre a presença de convergências e/ou
divergências conceituais dentro do Projeto Fênix, entre o que fora proposto em
seu documento de implantação, com as ações que realmente foram empreendidas
no decorrer de suas atividades.
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Tal proposição nos leva a responder o último objetivo desse estudo, que
visa refletir sobre o quanto a análise e compreensão do Projeto Fênix contribuiria
para dar-nos indícios sobre o que ocorre no cenário geral de programas de
atividade física para adultos e idosos.
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1. Introdução
Atualmente podemos observar uma ampliação das discussões em torno do
processo de envelhecimento para além das questões relacionadas à saúde, essa
maior discussão observada tanto no âmbito científico, quanto na mídia em geral,
tornou-se realidade em decorrência da necessidade em se assistir uma
população que vêm crescendo ao longo das décadas, carregando consigo não
apenas os problemas relacionados à saúde, mas problemas de cunho social,
político e econômico (IBGE, 2000; MOREIRA, 2001).
Seguindo a tendência mundial, as questões relacionadas à Previdência
Social e à Saúde da população idosa, também se tornaram foco de atenção do
governo brasileiro (Czeresnia, 2003), devido aos elevados gastos decorrentes do
benefício das aposentadorias e pensões, e dos gastos oriundos da Saúde Pública
(períodos prolongados de internações, prescrição de medicamentos, morbidade
instalada, entre outras).
Assim, aqui, como em outros países, as ações preventivas e de Promoção
da Saúde, como por exemplo, políticas públicas sustentáveis, campanhas de
vacinação, programas educativos e até a prática de atividades físicas, foram
adotados, visando não só a redução de custos, mas também como um meio de
contribuir com a qualidade do processo de envelhecimento (CHAIMOVICZ, 1997).
Dentro desse contexto, encontramos a indicação da prática de atividades
físicas, como um meio “alternativo” de se preservar a saúde da população,
através da diminuição e/ou controle de vários fatores de risco como a obesidade,
doenças metabólicas, cárdio-respiratórias, ósteo-musculares, entre outras. Porém
o que podemos observar em nossa sociedade, atualmente, é a comercialização
das atividades físicas como provedora de saúde, como se a prática em si fosse a
solução dos problemas da população, delimitando-se a partir da prática ou não,
os grupos de riscos eminentes a determinadas doenças (BAGRICHEVISKY e
PALMA, 2005; CAPONI, 2003; CASTIEL, 2003).
Essa visão biomédica da relação da atividade física como provedora de
saúde, também é uma realidade dentro da área de Educação Física que, no
1
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Brasil, como em outros países, foi construída a partir de parâmetros sanitaristas
(CASTELLANI FILHO, 1988b; MARINHO, 1943).
No caso do Brasil, a predominância do paradigma biomédico, iniciou-se
logo na implantação da Educação Física no currículo escolar, em 1889 no Brasil-
República, devido a influência administrativa exercida pelas Forças Armadas, que
estenderam os padrões sanitaristas por eles utilizados às práticas físicas
escolares (MARINHO, 1943).
É importante ressaltar que a construção desses padrões sanitaristas,
dentro da Educação Física brasileira, acarretou na adoção de conceitos sobre a
saúde e a doença que, até então, atrelavam a condição de saudável à ausência
de doenças que foram construídos ao longo dos séculos com o desenvolvimento
das ciências médicas (ROSEN, 1994).
Esse desenvolvimento proporcionado pela adoção do pensamento
científico, das freqüências estatísticas, do método experimental, possibilitou à
Medicina o desvelar de várias doenças, mas por outro lado, a sua especialização
conforme (Ayres, 1995; Ministério da Saúde, 2002; Rosen, 1994), proporcionou o
reducionismo do ser humano, afastando todas as características ambientais e
sociais incidentes sobre os indivíduos, isto é, a subjetividade passa a ser
abandonada e o foco de atenção, torna-se exclusivo na doença concreta
instalada (SANTOS e WESTPHAL, 1999).
Para Czeresnia (2003), o abandono dessa subjetividade passa a
desconsiderar a distância existente entre o conceito de doença, adoecer e a
experiência de vida de um indivíduo, isso porque, a saúde e o adoecer se
manifestam através de experiências singulares e subjetivas, impossíveis de
serem reconhecidas sem a subjetividade que, por sua vez, foram bem
exemplificados pela autora neste trecho:
“...O doente se expressa pela palavra e o médico dá
significado as suas palavras, os relatos cheios de emoção, passam a ser
traduzidos para uma linguagem neutra e objetiva”. (CZERESNIA, 2003:
42)
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Além dessa tendência oriunda das ciências médicas, encontramos como
característica da Educação Física brasileira, o direcionamento de suas práticas
associadas às realidades políticas, sociais e econômicas do país, como por
exemplo: as práticas físicas em prol da eugenização1 da raça brasileira
(Castellani Filho, 1988b; Marinho, 1943); as influências européias no
direcionamento da pedagogia a ser utilizada, destacando-se o método francês
(Marinho, 1943); o “Esporte para Todos” na ditadura militar (Betti, 1991;
Coletânea de autores, 1992); e a tendência mundial pela busca de
conhecimentos sobre a infância (NERI, 1995; KOLYNIAK FILHO, 1996).
Dentro dessa construção histórica, sobre os direcionamentos pedagógicos
da Educação Física, não encontramos indicações sobre a inclusão da população
idosa em relação à prática de exercícios físicos até meados 1936. Nesse período
em questão até 1970, não existia uma preocupação direta com população idosa,
que se exercitava em conjunto de demais coortes etários e, em programas
desenvolvidos para a população em geral, que eram ofertados em praças
públicas, programas de rádio, clubes privados, entre outros (FARIA JÚNIOR et
al., 2005a; MARINHO, 1943).
Uma preocupação mais efetiva, porém discreta, frente ao processo de
envelhecimento, só veio ocorrer no Brasil a partir da década de 1970, fruto de
uma primeira mudança paradigmática, no campo do conhecimento das atividades
físicas e do envelhecimento. Essa transição, veio em decorrência do aumento
demográfico da população idosa, das influências teóricas mundiais sobre a
inclusão de idosos e adultos na prática de atividades físicas e também, das idéias
sobre a terceira idade adulta como a fase da crescente diminuição do rendimento
motor – demonstrando dessa forma, a necessidade de atenção e incremento nas
capacidades físicas dessa população (FARIA JÚNIOR, 2004).
1 Eugenia: movimento criado no ano de 1882, para fortalecer a raça brasileira através da oferta de
exercícios físicos às mulheres brasileiras para que os filhos por elas gerados fossem fortes. O intuito era de
que essas crianças “fortes” defendessem a pátria quando necessário para assim, sobrepujar os negros que
cresciam vertinosamente (CASTELLANI FILHO, 1988b; MARINHO, 1943).
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Essa mudança paradigmática, segundo o referido autor, trouxe à
população idosa uma gama de programas de atividade física, sem orientação
específica; sem delimitação de coorte etário; sem uma pedagogia diferenciada
que, na maior parte das vezes, era adaptada de outros modelos populacionais.
Sobre essas adaptações, encontramos em Neri e Cachione (2004), que as
mesmas, são corriqueiras e decorrentes da escassez de trabalhos específicos
que contribuam diretamente na construção de pedagogias voltadas ao processo
de envelhecimento.
Avançando em nossas pesquisas, observamos na Educação Física da
década de 1980, além de uma abordagem biológica sobre o processo de
envelhecimento, a ampliação de temas que até então, pouco se haviam tido
dentro da área, como as influências sociais incidentes sobre a população idosa, a
necessidade de uma pedagogia própria para atuar com essa população e o
direcionamento das ações encontradas no âmbito da Promoção da Saúde
(FARIA JÚNIOR et al., 2005b).
Sobre a Promoção da Saúde, gostaríamos de salientar que até então,
suas práticas eram organizadas a partir de um enfoque mais behaviorista da
década de 1970, oriundos das discussões promovidas pela divulgação do Informe
de Lalonde que colocou em pauta a necessidade de políticas públicas que
viessem contribuir com a qualidade da saúde da população (BUSS, 2003).
Tal reconhecimento, foi convertido em ações que promovessem a
modificação de “livre e espontânea vontade” do estilo de vida dos indivíduos. Ser
responsável pelos seus atos e ações em relação a saúde, seria crucial dentro
dessa perspectiva, que demonstrava claramente o direcionamento de suas ações
para o fenômeno da culpabilização da vítima2 (CARVALHO, 2004). Apesar
dessa característica, as discussões iniciadas no Informe de Lalonde, serviram de
alerta para a importância de inovações na área de Saúde em rumo a construção
2 Culpabilização da vítima: na área da Promoção da Saúde, a expressão é utilizada para fazer uma crítica ao modelo biomédico que, a partir do reducionismo nos estudos do processo saúde-doença, atribui única e exclusivamente ao sujeito a responsabilidade pela suas condições de saúde, desconsiderando que, muitas vezes, ele é submetido a relações sociais desiguais impostas pelo seu meio capaz de torná-lo mais vulnerável e sem poder de reação (GEREZ, 2006).
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de um novo paradigma em saúde que veio a ocorrer em 1986 com a divulgação
da Carta de Ottawa (BUSS, 2003).
A Carta em questão, se opunha ao enfoque behaviorista que a Promoção
da Saúde vinha adotando desde então, apontando a necessidade de revisão das
intervenções práticas da Promoção da Saúde, da importância da presença de
políticas públicas no direcionamento de suas ações, da necessidade de
fortalecimento da autonomia dos indivíduos e comunidades e, principalmente, na
importância de uma educação para a saúde pautada em uma pedagogia crítica
(OPAS, 2002a). Foi o conjunto dessas ações que contribuíram para o início do
movimento da “nova” Promoção da Saúde que viabilizava aos indivíduos agir com
base em suas escolhas.
O reconhecimento dessa ampliação conceitual em torno da saúde,
autonomia e Promoção da Saúde dentro da Educação Física, passa efetivamente
a conquistar um espaço dentro da área em meados da década de 1990.
Nesse período, pode-se observar, também, a ampliação de discussões em
torno dos deveres e responsabilidades políticas e sociais dos governos sobre
essa população como, por exemplo, a promulgação da Política Nacional do Idoso
(Brasil, 1994) e a Resolução 46/91 da Assembléia Geral das Nações Unidas de
16/12/1991 (ONU, 2000) que recomendava cinco princípios relevantes ao manejo
dessa população como, a independência, a participação, a assistência, a auto-
realização, a dignidade, entre outras.
A soma dessas discussões ocorridas dentro da Educação Física brasileira,
pode ser observada no direcionamento de suas práticas frente ao processo de
envelhecimento e na produção científica e literária produzida no período (FARIA
JÚNIOR et al., 2005b).
E, por esse motivo, acreditamos que exista certa dificuldade prática na
utilização das ações que envolvem a visão de saúde, autonomia e Promoção da
Saúde. Parece-nos que durante a trajetória de estruturação e implementação
desses programas, tais conceitos não foram incorporados em sua essência
apesar de estarem implícitos em suas propostas.
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Se essa característica for corrente, tanto na década de 1990 quanto nos
dias atuais, poderíamos afirmar, que haveria certa dificuldade no domínio
conceitual por parte dos idealizadores dos programas desenvolvidos? Ou seria
um problema de atualização conceitual da própria área de Educação Física?
Para nós, é compreensível que tais dificuldades conceituais possam vir a
ocorrer, quando conceitos tão complexos encontrados no âmbito da Promoção da
Saúde são ampliados. O que não é compreensível é que, apesar da evolução da
Educação Física, percebida através de mudanças paradigmáticas e de sua
ampliação nas dimensões sociais, culturais, políticas, econômicas, da área da
Saúde e Educação, conforme manifesto CONFEF (2002), tais dificuldades, ainda
se apresentem, pois desde a década de 1970, a Promoção da Saúde e seus
construtos vêm sendo ampliados e discutidos mundialmente.
E, por esta questão, acreditamos que a análise de um programa de
atividade física para adultos e idosos, planejado e desenvolvido na década de
1990, contribuiria diretamente para a compreensão da incorporação, ou não, dos
conceitos encontrados no âmbito da Promoção da Saúde em programas que se
propõem a essa relação.
Com esse intuito, selecionamos um programa de extensão comunitária,
denominado Projeto Fênix - Terceira Idade com Qualidade, das Faculdades
Integradas de Guarulhos - São Paulo, que entre os períodos de 1998 a 2004
desenvolveu um programa de atividade física voltado à população adulta e idosa,
que foi extinto no ano subseqüente a implantação da Faculdade para a Idade da
Razão3.
A intenção inicial do Projeto era, atender a população com idade superior a
cinqüenta anos, apesar de envolver indivíduos ainda ativos economicamente e
detentores de autonomia, pois havia a intenção de preparar esta fatia da
população para a fase de transição para o envelhecimento, através de atividades
que poderiam vir a tornar este momento menos agressivo e traumático. 3 Faculdade da Idade da Razão: curso desenvolvido na Faculdade de Guarulhos, voltado à educação de
adultos, oferecendo informações sobre aspectos biopsicossociais do envelhecimento bem como o acesso a
cultura, lazer, atividades físicas e educação continuada em disciplinas nos cursos regulares da instituição.
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Desse modo, a estrutura na qual o Projeto Fênix foi elaborado nos
possibilitaria visualizar o direcionamento de suas práticas dentro de um período
em que o envelhecimento torna-se foco de discussão mundial e a Promoção da
Saúde ganha espaço dentro da Educação Física brasileira.
Tendo como foco de análise o ideário da Promoção da Saúde e levando
em consideração a dificuldade prática de direcionamento de suas ações dentro
de programas de atividades físicas voltados à população idosa, perguntamos:
havendo falta de coerência no norteamento de ações baseadas na Promoção da
Saúde, esta seria resultado de dificuldade com a implementação de tais ações ou
seria um problema de ampliação e/ou atualização conceitual em torno das ações
que envolvem a Promoção da Saúde dentro da Educação Física brasileira?
Para desenvolver a pesquisa que responda a esse questionamento, o
objetivo geral deste estudo será averiguar, a partir da perspectiva teórica da
Promoção da Saúde, as divergências e convergências conceituais de saúde
autonomia e Promoção da Saúde no direcionamento das práticas de atividades
físicas desenvolvidas pelo Projeto Fênix. Seguem-se ao objetivo geral três
objetivos específicos: (1) analisar a fundamentação teórica e as ações
empreendidas no Projeto Fênix para estabelecer qual a perspectiva filosófica de
saúde, autonomia e Promoção da Saúde que o norteou, (2) compreender as
divergências e convergências conceituais que dão base às suas ações práticas;
(3) refletir sobre o quanto a análise e compreensão do Projeto Fênix podem dar
indícios o que ocorre no cenário mais geral de programas de atividade física para
adultos e idosos.
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2 - Revisão de Literatura 2.1 Envelhecimento
Conforme Debert (1999) a velhice não é uma categoria natural, mas uma
categoria socialmente construída que faz distinção, entre um fato natural (ciclo
biológico, do ser humano), e um fato universal (fatores sociais e históricos) que
proporcionam por sua vez, formas diferentes de se conceber e viver o
envelhecimento.
No ciclo biológico encontramos em Brach et al. (2004); Fried et al. (2000);
Hayflyck (1996); Nelson et al. (2004) descrições sobre as alterações orgânicas
que acompanham um indivíduo durante todo o seu processo de envelhecimento
como, por exemplo, a diminuição da força muscular, VO2 máximo, acuidade
visual, densidade mineral óssea; modificações hormonais; aumento de peso;
demências; entre outras.
Apesar da evidência dessas alterações, isso não significa que um
indivíduo idoso, irá se deteriorar da noite para o dia, perdendo toda sua
capacidade funcional, motora, cerebral, entre outras funções. Isso não ocorre
porque tanto para os mais jovens quanto para os mais velhos, existem
mecanismos compensatórios que procuram ajustar o indivíduo fisiologicamente a
sua nova realidade, fazendo com que, no caso dos idosos, a qualidade funcional,
seja preservada pelo maior espaço de tempo, limitando-se apenas às forças
inexoráveis do envelhecimento (HAYFLYCK, 1996).
Já em relação aos fatores sociais e históricos a sua visão, nos possibilita
compreender, pelo menos nas sociedades ocidentais, como é o caso do Brasil,
as questões que estão imbricadas dentro desse processo como, os estereótipos
negativos, os termos classificatórios, a imagem de fragilidade, dependência,
improdutividade, entre outras. Com base nessas informações podemos, a partir
daí, refletir sobre o grau de impacto que esses fatores, desencadeiam na
construção de um conceito individual e/ou coletivo sobre o envelhecimento, e o
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quanto esse conceito pode vir a interferir em ações voltadas a essa população,
principalmente na área de Educação Física.
O que chama a atenção, quando se discute o envelhecimento em nossa
sociedade é a segmentação das discussões que envolvem este processo, dando-
se a impressão de que os fatores biológicos ocorrem em separado às questões
sociais e históricas e vice e versa. Mas, encontramos na literatura que a recíproca
não é verdadeira, pois o processo de envelhecimento dá-se através da interação
de diversos fatores sejam eles, sociais, políticos, econômicos, históricos,
ambientais e biológicos (ALVES JÚNIOR, 2004; BRASIL, 2003; SILVA, 2004).
Sob o ponto de vista e estudo da antropologia segundo Debert, (1999)
esta segmentação, estaria relacionada a três problemas característicos: o
primeiro se dá por ser o envelhecimento uma categoria socialmente produzida,
que possui como referência os processos biológicos universais; o segundo diz
respeito as questões que, nas sociedades ocidentais contemporâneas, passaram
a ser problemas sociais e o último estaria relacionado aos temas em torno dos
quais o envelhecimento é transformado em objeto de estudo.
2.1.1 Categorização social do envelhecimento
A “categorização” pode ser observada através das grades específicas de
idades, construídas e desconstruídas ao longo dos séculos em nossa sociedade
(Debert, 1999; Motta, 2002; Neri, 1995) que, segundo a antropologia
(abandonando-se a visão da psicologia clássica sobre as fases do
desenvolvimento humano), seria um princípio constitutivo de grupos sociais, para
se impor deveres e obrigações, como o tempo, para se educar, entrar na
faculdade, casar, ter filhos, se aposentar e tornar-se velho. Essa tendência,
também se estendem às dimensões do mundo doméstico, do trabalho e do
consumo (MINAYO e COIMBRA JR., 2004; HECKHAUSEN e SHULTZ, 1997).
Um exemplo simples dessa categorização, são as idades estipuladas para
ingresso de idosos em programas de atividades físicas que variam, entre a idade
de 50 anos (pré-aposentadoria), geralmente com o intuito de preparar o indivíduo
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para o enfrentamento do envelhecimento e, acima de 60 anos (aposentadoria)
visando, na maior parte das vezes, amenizar a falta de lazer, convívio social e
capacidade funcional. Um exemplo clássico dessa categorização seria o termo
mais comumente utilizado em nossa sociedade a “terceira idade”.
2.1.2 A velhice como um problema social
A transformação da velhice como um “problema social”, segundo Debert,
(1999) não seria decorrente do aumento demográfico dessa população assim
como sugere os demógrafos e freqüentemente os cientistas sociais, mas sim,
viria como resultado, da própria construção social do envelhecimento que, em
nossa sociedade, assume um contexto de novas dimensões e definições, como o
termo mais comumente utilizado “terceira idade” (Minayo e Coimbra Jr., 2002).
Essa expressão, nascida na França da década de 1960 em pleno
desenvolvimento capitalista, tinha como função estabelecer o período que uma
pessoa deveria se aposentar. Essa estratégia criada para que os industriais da
época aumentassem os seus lucros, foi realizada a partir do vinculo da imagem
de trabalhadores experientes à incapacidade e à improdutividade.
Dessa forma, justificou-se a troca da mão de obra “velha” e onerosa por uma
mão de obra “jovem” e mais barata. Esse simples remanejamento empresarial
transformou o benefício da aposentadoria em um estereótipo para a população
idosa, em um problema sócio-econômico às empresas que posteriormente
atingiram o Estado (PEIXOTO,1998).
Além do termo “terceira idade”, observa-se, pelo menos nas sociedades
ocidentais, a existência de adjetivos com o propósito de substituir a visão
negativa atrelada à condição de velhice, dentre esses, destacamos: adulto
maduro, melhor idade, pessoa idosa, idade de ouro, idade da razão, idoso,
pessoa na meia idade, idade madura, maturidade, idade legal, entre outros
(CARLOS, 1999; PEIXOTO, 1998).
Entretanto, essa realidade conforme Debert (1999), pode vir a assumir
novos direcionamentos principalmente se um indivíduo possuir, destaque na
mídia, status social, político, econômico e intelectual. Nessa condição, os
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marcadores biológicos passam a ser ignorados, valorizando-se então, a produção
social desse indivíduo e não a sua condição de velho.
Segundo Motta (2002), nem o âmbito científico estaria livre das influências
sociais sobre o envelhecimento. Pois, a construção social dessa fase da vida bem
como a construção de outros conceitos, são adquiridos ao longo de nosso
desenvolvimento. Por esse motivo, torna-se importante, questionarmos o quanto
essa influência pode vir a interferir e/ou direcionar a produção de intervenções
voltadas à população idosa, não apenas no âmbito científico.
2.1.3 Envelhecimento como objeto de estudo
O último fator que contribuiria para a segmentação das discussões sobre o
processo de envelhecimento, estaria relacionado aos temas em torno dos quais a
velhice é transformada em objeto de estudo.
Essa transformação iniciou-se a partir do aumento demográfico da
população idosa, em decorrência do desenvolvimento da área da Saúde
(Canguilhem, 1978; Carstensen, 1995; Rosen, 1994), da urbanização das
cidades e da melhoria do cenário trabalhista, proporcionando a população um
progresso em sua qualidade de vida (NERI, 1995).
Dessa maior longevidade, surgiu-se então, a curiosidade científica pelo
processo de envelhecimento, pois, até meados do século XIX, a taxa de
mortalidade em adultos era elevada, impedindo que um indivíduo chegasse ao
longo dos séculos à velhice (ROSEN, 1994).
As exigências sociais em relação às demandas, necessárias à manutenção
dessa população, também tiveram um papel importante nessa transformação,
principalmente, por permitir a ampliação de discussões indo além do foco no
indivíduo como: apoio a familiares e cuidadores, custos previdenciários e da área
da Saúde, formação de recursos humanos, oportunidades educacionais e
ocupacionais para idosos e pessoas de meia-idade (PEIXOTO, 1998).
Se observarmos atentamente o processo de envelhecimento não se dá
apenas em uma vertente, vários fatores estão presentes dentro desse processo
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fazendo com que a sua investigação não se aplique apenas na área da Saúde,
nos estudos demográficos e nas políticas sociais e econômicas.
A abrangência desse processo faz com que cada área de conhecimento nos
forneça informações, com base no que lhe é pertinente a sua linha de pesquisa.
Se fizermos uma rápida analogia dessa característica com os estudos
anatômicos da Medicina, parece-nos que o envelhecimento vem sendo estudado
por partes, partes essas, que procuram constituir um todo a partir da visão de
cada área de saber científico.
Essa tendência à especialização nos leva a refletir sobre dois aspectos: o
primeiro seria em relação ao impacto que essas informações, produzem não só
na comunidade científica, mas na sociedade em geral que vê a ciência como uma
fonte de produção confiável; e a segunda, diz respeito a possibilidade de que a
ciência não se isente das influências sociais incidentes sobre o processo de
envelhecimento, não nos garantindo a imparcialidade de que a produção de
conhecimento não esteja baseada nas crenças sobre o comportamento humano,
retirados de representações coletivas, do mundo social dos próprios
pesquisadores (BALTES e SILVERBERG, 1995; CARSTENSEN, 1995
MOTA, 2002).
Questionando sobre essa possibilidade, como ficaria o direcionamento das
práticas da Educação Física em prol da população idosa, já que a mesma utiliza
a produção científica sobre essa fase da vida para o incremento de suas
atividades? Essa é uma questão que discutiremos no decorrer dessa dissertação.
Por enquanto, ateremos nossa atenção em torno das práticas encontradas no
âmbito da Promoção da Saúde, pois podemos observar a freqüência com que
sua indicação aparece na literatura produzida e nas propostas de atividades
físicas voltados à população idosa (FARIA JÚNIOR et al., 2005a,b,c).
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2.2 Promoção da Saúde e envelhecimento
Nesse capítulo, abordaremos as ações encontradas no âmbito da
Promoção da Saúde, por entender que a sua indicação também contribui para o
incremento da manutenção da qualidade do processo de envelhecimento, através
da educação para a saúde pautada em uma pedagogia crítica, assim como
sugere o Relatório final da XI Conferência Nacional de Saúde, no capítulo em que
se refere à Democratização das Informações:
“As políticas de Informação, Educação e Comunicação
devem [...] estar voltadas para a promoção da saúde, que abrange a
prevenção de doenças, a educação para saúde, a proteção da vida, a
assistência curativa e a reabilitação sob responsabilidade das três esferas
de governo, utilizando pedagogia crítica, que leve o usuário a ter
conhecimento também de seus direitos; dar visibilidade à oferta de
serviços e ações do SUS; motivar os cidadãos a exercer os seus direitos
e cobrar as responsabilidades dos gestores públicos e dos prestadores
de serviços de saúde”. (CNS, 2000: 165-166)
Levando em consideração a complexidade das ações que circunscreve o
âmbito da Promoção da Saúde, e visando facilitar uma linha de raciocínio em
nossas discussões, sobre ações que já são empreendidas frente ao processo de
envelhecimento, decidimos por dividir nossos discurso em três momentos
distintos: iniciados na valorização da Promoção da Saúde pela Medicina Social
do século XIX, passando pelo movimento moderno da Promoção da Saúde em
1974 e, finalizando com a Primeira Conferência Internacional sobre a Promoção
da Saúde e divulgação da Carta de Ottawa em 1986.
Para tanto, necessitamos abordar que a organização das práticas que
envolvem o movimento da Promoção da Saúde, se iniciaram a partir de conceitos
objetivos não da saúde, mas da doença, construídos ao longo da história da
Saúde Pública (CEZERESNIA, 2003).
Essa característica, por sua vez, veio em decorrência das doenças que
assolavam as sociedades ocidentais, fazendo com que muitos não chegassem a
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fase adulta, e poucos passassem pela velhice. Foi diante dessa realidade iniciada
no período medieval, que a doença e sua cura tornaram-se foco exclusivo de
atenção e a saúde passou a ser entendida como a ausência de doenças,
restringida inicialmente a termos mágicos-religiosos, organizada posteriormente
em termos científicos-concretos e percebida no século XIX em termos sócio-
econômicos (BAGRICHEWISKY e PALMA, 2005; ROSEN, 1994; SOUTO
MAIOR, 1976).
2.2.1 Valorização da Promoção da Saúde
A Promoção da Saúde como a conhecemos modernamente, começou a
ser construída na metade do século XIX em plena era bacteriológica. Foi nesse
ínterim que as políticas públicas financeiras, começaram a sofrer os impactos
proporcionados pela expectativa de vida, que vinha aumentando com decorrer
dos séculos, em associação dos fenômenos urbanos e dos desajustes sociais
(CANGUILHEM, 1978; PALMA et al., 2003; ROSEN, 1994).
Diante deste quadro, a Saúde Pública adota um novo discurso, valoriza a
Promoção da Saúde e reconhece a existência de uma relação entre o status
saúde e as condições de vida de um indivíduo que, até então, eram negadas
desde o período greco-romano (CZERESNIA, 2003; ROSEN, 1994).
Apesar dessa valorização, o campo de atuação da Promoção da Saúde,
continuou vinculado às ações do modelo preventivo, vindo a conquistar o seu
espaço e identidade apenas no século XX (Buss, 2003; Nunes, 1992; Teixeira,
2002a), com a ampliação do conceito de saúde oriundos, de mobilizações
voluntárias de países industrializados, que se preocupavam com o bem-estar de
sua população – principalmente em relação a classe operária (ROSEN, 1994).
Essas ações voluntárias, dirigidas em sua maior parte ao campo da saúde,
foram movidas apenas pelo senso de cidadania da população e, serviram como
modelo e estímulo para as ações oficiais empreendidas posteriormente pelos
governos. Foi através desses movimentos, que surgiram, serviços de saúde
pautados em novas concepções, sobre a saúde e a doença, que até então, eram
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inexistentes e apenas desenvolvidos em agências voluntárias de saúde4
(ROSEN, 1994).
Em meados dos anos 70, especialmente nos países como Canadá,
Estados Unidos e Europa Ocidental, encontramos o início de questionamentos
dentro da área da Saúde a respeito dessas novas concepções que envolviam o
processo saúde-enfermidade-cuidado. Tudo isso porque as ações empreendidas
não estavam direcionadas a uma determinada doença ou desordem, mas sim
focadas em aumentar a saúde e o bem-estar geral de um indivíduo, de uma
comunidade ou de uma população, transcendendo a idéia original de saúde como
ausência de doenças, dando origem ao movimento moderno da Promoção da
Saúde (BUSS, 2003).
2.2.3 Movimento Moderno da Promoção da Saúde
O movimento moderno da Promoção da Saúde surge no Canadá em 1974
em decorrência das discussões ocorridas com a divulgação do Informe de
Lalonde. Segundo Buss (2003), este documento foi o primeiro passo rumo a
definição de um novo paradigma em saúde, abrindo portas para o
reconhecimento político da necessidade de inovações na área e da importância
das inter-relações com a eqüidade social (PALMA et al., 2003).
Os fundamentos desse documento contemplavam a decomposição dos
chamados determinantes da saúde em quatro componentes: biologia humana
(genética), ambiente (natural e social), estilos de vida (comportamentos
individuais que afetariam a saúde) e a organização dos sistemas de saúde que
poderiam, desse modo, ser mais abrangentes em suas atuações (BUSS, 2003;
OPAS, 2002b).
Entretanto, as estratégias elaboradas no Informe de Lalonde, não estavam
focadas única e exclusivamente as questões relacionadas à Promoção da Saúde, 4 Agências voluntárias de saúde: A sua origem deu-se na luta contra a pobreza e a privação da população, principalmente nos Estados Unidos, procurando demonstrar o papel destrutivo da insalubridade e das doenças nas vidas dos pobres que necessitavam de ações mais vigorosas para combater as enfermidades e suas conseqüências. Atuavam também na representação do interesse público no terreno da saúde; procuravam mostrar meios para que os serviços de saúde melhorassem; ocupavam-se em fazer avançar as pesquisas e legislações referentes á saúde estimulando-as por meio da educação (ROSEN, 1994).
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a mesma foi utilizada para compor uma das cinco estratégias (regulação,
eficiência da assistência médica, pesquisa, fixação de objetivos e promoção da
saúde) elaboradas para abordar os assuntos relacionados à saúde, que por sua
vez, estavam focadas em intervir, influenciar e assistir comportamentos
individuais não-saudáveis da população (BUSS, 2003; CARVALHO, 2004).
O resultado dessas intervenções, segundo Carvalho (2004), no que se
refere a adoção de hábitos saudáveis, se deu em maior parte nas classes sociais
mais abastadas, em contrapartida aos grupos sociais marginalizados que, por via
de regra, deveriam compor a porcentagem dessa adesão.
Essa constatação, segundo o referido autor serviu de alerta na década de
1980, sobre a perspectiva behaviorista, que a Promoção da Saúde vinha
tomando desde então, principalmente, quando da sua utilização no suporte à
implantação de políticas socialmente restritivas, que responsabilizavam as
vítimas da iniqüidade social por suas ações. Isto é, cabia ao governo a oferta de
informações, sobre hábitos saudáveis e a melhora dos serviços de saúde, mas a
adoção e a procura por tais informações, seriam de responsabilidade dos
indivíduos.
2.2.2 Promoção da Saúde e a Carta de Ottawa
O grande marco da Promoção da Saúde ocorreu em Ottawa-Canadá, em
1986, com a Primeira Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde,
tendo como base de suas discussões, os progressos obtidos com a Declaração
de Alma-Ata para os Cuidados Primários em Saúde5 em 1978; o documento,
com bases estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde, sobre a Saúde
para Todos e o debate ocorrido na Assembléia Mundial da Saúde a respeito de
ações intersetoriais para o setor da Saúde (OPAS, 2002a; OPAS, 2002b).
5 Declaração de Alma-Ata: buscou chamar a atenção mundial sobre os pré-requisitos à saúde da
população que, estariam relacionados a eqüidade social as medidas sanitárias eficientes, ao acesso à educação, saúde, moradia, paz; ecossistema estável, sustentabilidade dos recursos naturais e tecnologias, que proporcionassem o desenvolvimento social e econômico global das comunidades dando o direito a uma vida social e economicamente produtiva, viabilizando a participação das comunidades e suas famílias no desenvolvimento e organização dos assuntos relacionados à saúde e ao auto-cuidado, (OPAS, 2002b).
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A proposta da Carta de Ottawa se opunha àquela visão behaviorista até
então utilizada, apontando a necessidade no campo específico da saúde, de uma
maior participação dos indivíduos e comunidades no controle desse processo
para que, dessa forma, os indivíduos possam vir a modificar o seu ambiente
favoravelmente, de modo a satisfazer as suas aspirações e necessidades
(BYDLOWSKI et al., 2004; CZERESNIA, 2003).
A saúde, nesse contexto, passa a ser vista como um conceito positivo,
sendo prioritário à saúde uma base sólida, composta por paz, habitação,
educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis,
justiça e eqüidade social. Demonstrando que as questões relacionadas à saúde,
não poderiam ser de responsabilidade exclusiva da área da saúde e sim, de uma
maior interação, com os governos e os demais setores públicos, privados, da
mídia, dos profissionais da saúde, das famílias e suas comunidades, do
voluntariado, entre outras ( BYDLOWSKI et al., 2004; OPAS, 2002a).
Dessa maneira, a Carta de Ottawa sublinha a importância dessa parceria
governamental com os demais setores da sociedade, pois seria através dessa
interação que as ações - visando a construção de políticas públicas saudáveis, a
reorientação dos serviços de saúde, a criação de ambientes favoráveis e
principalmente a possibilidade no desenvolvimento de habilidades individuais da
população - seriam alcançadas (OPAS, 2002a).
Apesar das propostas citadas acima, apresentarem-se bem definidas,
ainda hoje, após 20 anos de divulgação da Carta de Ottawa, percebemos que
existe uma certa dificuldade na compreensão das ações, que constituem as
práticas da Promoção da Saúde que, muitas vezes, passam a ser confundidas
e/ou relacionadas apenas as ações preventivas à saúde.
Essa dificuldade, talvez, possa ser explicada de duas formas: a primeira se
dá na origem das duas práticas, que possuem como base, os conceitos clássicos
que orientam a produção do conhecimento específico em saúde; e a segunda,
viria da resistência em se aceitar um novo paradigma em saúde devido a
credibilidade científica da Medicina construída ao longo dos séculos em nossa
sociedade (CZERESNIA, 2003; QUEIROZ, 2003).
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Agora, em relação ao processo de envelhecimento, entendemos que o
direcionamento das práticas encontradas no âmbito da Promoção da Saúde,
contribuiriam diretamente no incremento da qualidade dessa fase da vida, que
não pode ser entendida apenas como o período de perdas e estagnação, mas
como um período de ganhos vislumbrados pela singularidade do envelhecimento
de cada indivíduo.
A viabilidade desse incremento, ocorreria, por ser a autonomia um dos
construtos básicos da Promoção da Saúde, que utiliza para a promulgação de
suas ações a educação para saúde, pautada em uma pedagogia crítica, que leva
em consideração as experiências e impressões diversificadas sobre a vida de
cada indivíduo, que valoriza as potencialidades individuais, que facilita o diálogo e
a construção de conhecimentos independente do status de saúde, condição
social e econômica (AZANHA, 2006; OPAS, 2002a; PEREIRA, 2003).
Segundo a Carta de Ottawa, “as pessoas não podem realizar
completamente seu potencial de saúde se não forem capazes de controlar os
fatores determinantes de sua saúde” (OPAS, 2002a: 2). Nesse trecho podemos
observar a importância da capacidade em se “poder controlar” demonstrando,
que o exercício da autonomia de um indivíduo, pode fazer toda a diferença em
relação não só a sua saúde.
A falta do ato de decidir por si só Freire (1997), contribuiria para o
enfraquecimento da iniciativa e esforços individuais, que podem, por sua vez,
afetar a auto-estima, o respeito próprio, produzindo um sentimento de
incapacidade e até a submissão que, segundo Sen (2000), explicaria em parte a
falta de iniciativas individuais em prol da saúde e do bem-estar.
Apesar, da condição de fortalecimento da autonomia dos indivíduos
apresentar-se bem definida nas práticas da Promoção da Saúde, é possível
encontrar o conceito de autonomia atrelado ao desenvolvimento da condição
física e motora de um indivíduo e não associada ao poder de decidir.
Segundo Farinatti (2000), essa dificuldade em se distinguir a autonomia,
dependeria diretamente da visão de saúde que os indivíduos possuem, mas se
observarmos atentamente podemos acrescer a esse fato, toda a dificuldade de
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compreensão de um conceito complexo que, culturalmente, não é observado na
população brasileira e nem da América Latina (Galeno, 1987; Litvak, 1990 apud
Chaimowicz, 1997), por sermos fruto de um país cujo sistema sempre foi
assistencialista.
Como podemos cobrar que o fortalecimento da autonomia de indivíduos,
se circunscreva dentro de um ambiente crítico, se tanto para quem oferece
informações quanto para quem recebe, essa oportunidade culturalmente é pouco
desenvolvida? Como demonstrar que o “verdadeiro conhecimento” pode ser
produzido através do diálogo? Como demonstrar que a adoção de uma
pedagogia crítica possibilita para ambos os lados (profissionais e população) uma
participação mais ativa na construção de conhecimentos? (FREIRE, 1997;
AZANHA, 2006; PEREIRA, 2003; QUEIROZ, 2003)
Essa é uma questão digna de discussão entre as áreas que atuam
diretamente com a população idosa, pois podemos encontrar divergências
conceituais no que tange a utilização da autonomia na área da Saúde, atrelada a
significados como: dependência, invalidez, deficiência, incapacidade,
dependência social, aptidão e desempenho (FARINATTI, 2000).
Caberia a quem informar que a autonomia não se organiza apenas à
relação de capacidade ou funcionalidade motora? Por esse motivo seria crucial
aos profissionais que atuam com essa população, o questionamento sobre o tipo
de autonomia que estão desenvolvendo, para que dessa forma, divergências
conceituais deixem de ocorrer no direcionamento prático de ações em prol dessa
população.
Nesse contexto, entendemos que o ideário da Promoção da Saúde faz
uma ligação harmoniosa no que diz respeito a interação da educação com os
aspectos que norteiam a saúde, pois envolve os indivíduos e comunidades na
ação, dando poder de voz para que, os mesmos, escolham o melhor caminho a
ser trilhado dentro de seu próprio curso de vida.
Por esse motivo acreditamos que a extensão dessa possibilidade dentro
da Educação Física, no direcionamento de suas práticas, incrementaria os
trabalhos desenvolvidos agregando aos benefícios fisiológicos proporcionados
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pela prática de atividade física o fortalecimento de suas potencialidades em prol
de seu bem-estar e de sua saúde.
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2.3 Envelhecimento e atividade física
No capítulo anterior, discutimos as ações encontradas no âmbito da
Promoção da Saúde e o incremento que a sua utilização pode vir a proporcionar
a qualidade do processo de envelhecimento de um indivíduo. No caso da
Educação Física, essa perspectiva de ações, poderia ser desenvolvida em
conjunto da prática de atividade física, que diretamente estimularia um
crescimento integral dos indivíduos em relação ao discernimento da importância
da prática em si.
Isso significa que, atividade física, não seria adotada apenas pela
obtenção dos benefícios fisiológicos, mas sim, em relação ao significado que a
mesma possui para esses indivíduos, no qual os benefícios fisiológicos,
compõem um dos significados da adoção de uma modalidade esportiva, de uma
simples caminhada, entre tantas outras opções.
Em relação aos benefícios proporcionados à população idosa pela prática
regular de atividades físicas, observamos que atualmente a sua indicação é
realizada como uma forma de se obter algum benefício, seja ele relacionado à
saúde, estética, ou simplesmente pelo bem-estar oferecidos pela prática em si.
Não podemos afirmar que é de conhecimento dessa população a extensão
desses benefícios, mas podemos ressaltar, que devido a exploração que a mídia
faz em torno do tema “atividade física” como provedora de saúde, grande parte
de informações, relacionadas à saúde, estética, longevidade, entre outras,
acabam por ser divulgadas não só à população idosa (MIRA, 2003;
WAISSMANN, 2003).
No âmbito científico a produção e divulgação de tais benefícios pode ser
observada através de variáveis psicossociais, sócio-culturais e principalmente
nas questões biológicas, visando preservar, por maior espaço de tempo a
autonomia motora e a capacidade funcional dessa população (FARIA JÚNIOR et
al., 2005a; SANTOS, 2002).
Esse maior enfoque vêm em decorrência da observação na diminuição
gradativa das atividades físicas vigorosas, moderadas, e da vida diária
proporcionado pelo avanço cronológico dessa população, bem como da
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possibilidade de resguardo físico, com o propósito de manutenção da integridade
física (BRACH et al., 2004;),
Levando em consideração essa realidade, fica impossível não estabelecer
que a prática de atividade física mesmos que não propicie alterações fisiológicas,
contribui diretamente para a manutenção do status de saúde dessa população,
seja ela através da prática regular e/ou através de atividades pré-estabelecidas,
por um profissional da área de saúde (ACSM, 2003; CHAIMOWICZ, 1997).
O reflexo dessa contribuição, poderia ser observado principalmente na
diminuição do período de morbidade ou pré-morbidade instalada; no número de
internações por quedas e acidentes doméstico; na menor porcentagem de
doenças crônicas não-transmissíveis (cardíacas, pulmonares, articulares) e na
redução do agravo de quadros clínicos já instalados, entre outras (BRACH et al.,
2004; FRIED et al., 2000; MATSUDO, 2000).
A atividade física, nesse contexto, contribui para o incremento de uma
vida saudável, não apenas na relação oriunda de estímulos biológicos, mas
também pela viabilidade de benefícios em relação as variáveis sócio-culturais
como a construção e/ou manutenção de uma nova rede de amizades sociais,
culturais e inter-culturais (Chodzko-Zajko, 2002; Stella, 2002) e nas variáveis
psicossociais como a satisfação com a vida, auto-estima, auto-conceito, aumento
dos afetos positivos, diminuição dos afetos negativos, percepção de controle
sobre os eventos (MIRANDA, 2002).
O conjunto dos benefícios já descritos, contribuiriam para que cada
indivíduo desse continuidade em sua vida, integrado ao contexto social e
reconhecido com ser singular que o é (COSTA, 2001; OKUMA, 2003).
Apesar dos benefícios biológicos, psicossociais, e sócio-culturais se
apresentarem bem definidos e fundamentados na literatura científica, não
gostaríamos de apontar a atividade física como uma solução para a saúde da
população idosa, assim como, é observada na atual comercialização da prática
como provedora de saúde conforme aponta Bagrichevisky et al (2005), senão
como um caminho a ser trilhado em associação com políticas públicas que,
venham a contribuir não apenas com a oferta de programas de atividade física,
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mas com propostas educacionais que possibilitem o acesso a informações sobre
essa fase da vida e o entendimento da necessidade da prática em si que, por sua
vez, podem ser desenvolvidas dentro da Educação Física.
Entendemos que a área em questão, como já diz o próprio nome, é um
processo de “Educação” que, segundo Steinhilber (1996), seria um meio
privilegiado por abranger o ser humano em sua totalidade, não se
circunscrevendo apenas à relação de causa e efeito oriundos de estímulos
biológicos (atividades físicas), mas de acordo com Mira (2003 p.174),
representando um “fenômeno de múltiplas dimensões” associando questões
biológicas, psicológicas, sociais e culturais, nos quais os componentes da
Educação se fazem presentes.
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2.4 Envelhecimento e Educação Física Brasileira
Esse capítulo tem como intuito, mostrar um panorama geral de como o
tema envelhecimento vem sendo discutido no âmbito da Educação Física
brasileira, levando em consideração suas transições, mudanças paradigmáticas e
suas ampliações para as dimensões e realidades sociais, culturais, políticas e
econômicas desde a sua implantação.
Diante dessas transições, encontramos o direcionamento das práticas da
Educação Física frente ao processo de envelhecimento, focados em maior parte
às questões biológicas e ao desenvolvimento das capacidades motoras e
funcionais. Essa característica que não se aplica apenas à população idosa seria
decorrente da adoção do paradigma biomédico pela área (TOJAL, 1998; ROLIM
e FORTI, 2004).
Essa característica se inicia durante o período de implantação da
Educação Física brasileira no Brasil República (1889-1930). Foi devido a
ausência de um Ministério, que viesse assumir as responsabilidades da
implantação da Educação Física no território nacional, que as Forças Armadas
assumiram a primeira administração da área, fazendo com que os padrões
higienistas da Medicina por eles utilizados, se estendessem a prática física
escolar (MARINHO, 1943).
Esse modelo higienista-militar, baseado nos conceitos anátomo-
fisiológicos foi substituído na década de 1940, por um modelo mais abrangente
baseado nas questões biosócio-filosóficas (DARIDO, 2003). Segundo a autora,
essa mudança impulsionou a Educação Física a assumir um novo discurso, o
qual se auto-afirmava como um “meio” para se educar, pois a educação do
movimento por seu entendimento, seria a única forma capaz de promover a
chamada educação integral.
Entre as décadas de 1960 e 1970, observamos a pressão da ditadura
militar em transformar o Brasil em uma potência através do esporte (BETTI, 1991;
COLETÂNEA de AUTORES, 1992). Também houve o direcionamento de suas
práticas para o processo mecânico de gestos em busca da perfeição, ocorrendo a
super valorização das habilidades motoras e a discriminação dos menos
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habilidosos (CASTELLANI FILHO, 1993a; CASTELLANI FILHO, 1988b). É nesse
período que ocorre o surgimento do movimento “Esporte para Todos” e a frase
“Esporte é Saúde”, segundo indicou Darido, (2003), expressão bem atual em
decorrência da mercadorização da saúde e dos fatores de risco associados às
pessoas que não se exercitam (BAGRICHEVISY E PALMA, 2005; CAPONI,
2003; PALMA et al., 2003).
Dentro desses direcionamentos pedagógicos ao longo da construção da
Educação Física, não observamos indicações sobre a inclusão da população
idosa a prática de exercícios físicos até meados 1936. Nesse período em questão
até 1970, não existia uma preocupação direta com população idosa, existia sim,
uma preocupação com a “possibilidade” do envelhecer principalmente em torno
do sexo feminino. A população idosa nesse sentido se exercitava em conjunto de
demais coortes etários e, em programas desenvolvidos à população em geral que
eram ofertados, em praças públicas, programas de rádio, clubes privados, entre
outros (FARIA JÚNIOR et al., 2005a; MARINHO, 1943).
Uma preocupação mais efetiva, porém ainda discreta, frente ao processo
de envelhecimento só veio ocorrer no Brasil a partir da década de 1970, fruto de
uma primeira mudança paradigmática, no campo do conhecimento das atividades
físicas e do envelhecimento.
Essa mudança, conforme Faria Júnior (2004), deu-se em decorrência da
transição demográfica do envelhecimento associada a quatro influências teóricas:
o Esporte para Todos de Per Hauge-Moe; o estímulo e a inclusão de adultos e
idosos nos programas de atividades físicas de Kenneth H. Cooper; a
matroginástica (atividade entre mães e filhos de diferentes idades) de Helmt
Schultz e das idéias de Kurk Meinnel que caracterizava a terceira idade adulta
como a fase da crescente “diminuição do rendimento motor”.
Essa nova realidade paradigmática, fez com que a oferta de programas de
atividade física, voltados à população idosa, aumentasse demasiadamente, sem
uma fundamentação teórica adequada, sem uma delimitação de coorte etário,
sem qualidade e segurança nas sessões, que poderiam variar entre funções
profiláticas e reparadoras (FARIA JÚNIOR et al., 2005b).
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Na década de 1980, ainda observamos a predominância da Educação
Física voltada as questões biológicas e ao desenvolvimento das capacidades
motoras e funcionais da população idosa. Apesar desse enfoque mais biológico,
notamos nesse período que as questões de cunho social, pedagógico e da área
da Promoção da Saúde, passam a conquistar um pequeno espaço de discussão
dentro da área, sendo ampliados apenas na década de 1990 (FARIA JÚNIOR,
2004; 2005b).
Em conjunto dessa ampliação observamos, na sociedade da época,
mudanças de cunho social e político em relação ao envelhecimento citamos a
Resolução 46/91 da Assembléia Geral das Nações Unidas de 16/12/91 (ONU,
2000), que colocou em pauta as responsabilidades e deveres sociais, políticos e
econômicos em relação à qualidade do processo de envelhecimento; a Política
Nacional do Idoso, na criação e incentivo de programas de lazer, esporte,
atividade física, pesquisa, a inclusão da Gerontologia e Geriatria nas disciplinas
curriculares dos cursos de ensino superior, entre outros (BRASIL, 19994).
Um fato que chamou a atenção dentro dessa ampliação foi o
reconhecimento pelo Ministério da Educação e Turismo de que os idosos vinham
conquistando novos espaços na sociedade e que o ato de aprender se fazia
necessário. Nesse sentido, a Educação Física, teria por incumbência a busca por
estratégias de intervenção prática que viessem a contribuir com a vida dessa
população (FARIA JÚNIOR et al., 2005a).
A década de 1990 foi um período importante no direcionamento das
práticas da Educação Física frente ao processo de envelhecimento. Pois,
encontramos que a sua indicação deveria estar aliada aos processos de
prevenção e promoção da saúde, nos quais o componente educação, começam a
se destacar como item necessário para a promoção da qualidade do
envelhecimento. Tais ações eram preconizadas, porque já se vislumbrava para o
século XXI as demandas que seriam necessárias para a manutenção dessa
população (CHAIMOWICZ, 1997; RAMOS, 1987; RASSI, 1994).
Com a passagem do século XX para o século XXI, a Educação Física
brasileira manteve a mesma freqüência na busca de saberes voltados às
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questões biológicas e ao desenvolvimento das capacidades motoras e funcionais
do envelhecimento. Entretanto questões antes não discutidas passaram a vigorar
dentro da área, como políticas públicas; deficiência (visual, auditiva e física);
idosos presidiários; ações efetivas no âmbito da Promoção da Saúde; velhice
bem-sucedida; espiritualidade; auto-conhecimento; bem-estar, entre outras
(FARIA JÚNIOR et al., 2005b).
Com a apresentação deste panorama gostaríamos de mostrar que a
produção e a disseminação de conhecimentos na área desde 1930 até os dias
atuais, vêm mantendo uma constância na buscar e produção de conhecimentos
relacionados ao envelhecimento biológico.
Apesar dessa característica, a Educação física, a partir de meados da
década de 1990, ampliou suas práticas às questões pedagógicas, sociais e da
Promoção da Saúde dando um novo rumo ao direcionamento de suas
intervenções que foram impulsionadas, pelas demandas e os problemas sociais
que essa população já registrava no período em questão, e que se tornariam
maiores com a virada do século acarretando problemas de cunho social, político
e econômico.
Por ter sido a década de 1990 importante para a relação da Educação
Física brasileira com processo de envelhecimento, passaremos a discorrer no
capítulo seguinte sobre os fatores incidentes sobre essa população que
impulsionaram a modificação das práticas da Educação Física e chamaram a
atenção da sociedade e dos governos para a realidade do envelhecimento
populacional.
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2.5 Década de 1990 e a população idosa brasileira 2.5.1 Economia, saúde, educação: influências sobre o envelhecimento
A década de 1990 foi um período de mudanças na política econômica
brasileira, caracterizada por um processo de abertura comercial abrangente, que
se iniciou no governo Fernando Collor de Melo estendendo-se até o governo
Fernando Henrique Cardoso.
Os acontecimentos que mais se destacaram dentro desta década e que
causaram um impacto direto na vida dos brasileiros foram: os déficits na balança
comercial; a vulnerabilidade de segmentos industriais; as privatizações, o controle
de preços; as flutuações no câmbio; a inflação; os pacotes econômicos (Plano
Collor, confisco de poupanças e aplicações financeiras; Plano Real, inflação
chegando 1100% em 1992 e quase 6000% em1993); a desvalorização da moeda
brasileira; os cortes nos gastos em áreas cruciais de aprendizado econômico,
educação, pesquisa e desenvolvimento, entre outras (Averbug, 1999; DIEESE,
2003; SEADE, 1990; VILLASCHI, 2005; WIKIPÉDIA, 2006).
Esses acontecimentos segundo Serra e Serra (2006) especialmente nas
décadas de 80 e 90, atingiram, e ainda atingem, as camadas mais pobres da
sociedade brasileira. Segundo os autores, a sociedade é deixada de lado pelas
políticas governamentais, que davam maior ênfase aos planos de estabilização
econômica do que aos problemas sociais da população brasileira, que por via de
regra seriam decorrentes da estrutura no qual a nossa sociedade foi organizada.
A população idosa no Brasil conforme o Censo de 2000 era de 14.536.029
pessoas, contra 10.722.705 em 1991. No início da década de 1990 o peso dessa
população representava 7,3%, passando para 8,6% em 2000 representando
neste período um aumento de quase quatro milhões de idosos. As previsões da
década de 1990 também apontavam o aumento de quinze vezes da população
centenária ou mais que passaria da razão aproximada de 145 000 pessoas em
1999 para 2,2 milhões em 2050 (IBGE, 2001; BERQUÓ, 1999).
Neste período, a classificação da população idosa era realizada segundo
as orientações da Organização das Nações Unidas de 1985, que adotava como
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idosa a população com idade igual ou superior a 60 anos para os países
subdesenvolvidos e 65 anos para os países desenvolvidos (SEADE, 1990).
Sendo o envelhecimento um fenômeno mundial, podemos observar na
década de 1990 uma ampliação da preocupação com o bem-estar e com a
qualidade desse envelhecimento. A resolução 46/91 da Assembléia Geral das
Nações Unidas (ONU, 2000), demonstra claramente a preocupação com o
envelhecimento mundial, apontando através dessa resolução cinco princípios
relacionados: à independência, à participação, à assistência, à auto-realização
e dignidade dos idosos.
Esses cinco princípios tinham por objetivo informar e alertar que a
população idosa deveria ter acesso e continuidade ao convívio social na fase do
envelhecimento; autonomia preservada e estimulada através da participação
direta na formulação e implementação de políticas que viessem a afetar
diretamente o seu bem-estar; dignidade, através do acesso à educação, cultura,
lazer e principalmente a garantia de acesso à saúde, pois segundo a ONU (1991)
apud OPAS (2002a) a saúde seria uma forma para que essa população, pudesse manter ou adquirir um bem-estar físico, mental e emocional, prevenindo desta
forma a incidência de doenças.
Já no Brasil encontramos a promulgação da Lei no 8.842/94 (Brasil, 1994),
que dispõe sobre a Política Nacional para o Idoso (PNI). De acordo com o texto
da referida lei, teria por objetivo assegurar os direitos sociais dos idosos criando
condições para promover a sua autonomia, a sua integração e a sua participação
efetiva na sociedade, incentivando a criação de programas de esporte, lazer e
atividade física em prol da melhoria da qualidade de vida dos idosos; promoveria
também incentivos e apoio a estudos e pesquisas relativas ao envelhecimento,
no que se refere a adequação de currículos, metodologia, material didático, como
também a inclusão da Gerontologia e Geriatria nas disciplinas curriculares dos
cursos de ensino superior, que no ano de 2003 deixou de ser um item obrigatório
devido a Lei nº 10.741/03 (BRASIL, 2003).
A sociedade brasileira na década de 1990, esperava ansiosamente a
ampliação dos direitos dos trabalhadores através da reforma da previdência
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social, que só veio a se confirmar em Emenda Constitucional nº 20, de 15 de
dezembro de 1998. Até então, a população brasileira estava sujeita a realidade
política da época que se refletia no acesso a previdência social e a aposentadoria
(BELTRÃO et al., 2000; CAMARANO, 1988; 2002).
A previdência social sequer conseguia assegurar ao contribuinte a
proteção dos seus direitos adquiridos diante dos riscos de declínio social, nem
mesmo as aposentadorias por tempo de serviço e aposentadorias especiais
escapariam da tendência ao declínio do valor absoluto dos benefícios, que
poderiam vir a se tornar vulneráveis frente às crises econômicas, ao desemprego,
à informalização da economia, aos baixos salários e à concentração de renda;
(BELTRÃO et al., 2000; CAMARANO, 2002; Debert 1999).
O analfabetismo dentro da população idosa era elevado, representando
40% para os homens e 48% para as mulheres conforme PNAD de 1993 (IBGE,
1993). Dos idosos que freqüentaram as escolas, apenas 50% conseguiram
terminar o curso primário e este quadro educacional, segundo Berquó (1999),
declina com o coorte etário.
Mas, para que possamos considerar essas porcentagens, Berquó (1999)
salienta a necessidade de levarmos em consideração que esses indivíduos
remontam a períodos nos quais as chances de acesso à educação se davam de
forma bastante assimétrica, por classe social e gênero.
A população masculina se beneficiava com o maior acesso a educação,
pois o homem, socialmente, tinha o papel de “provedor” e a mulher de
“cuidadora” indicando assim a sua menor participação em processos educativos.
A realidade desse quadro educacional emerge no momento em que a falta de
escolaridade, influência diretamente nas tentativas de busca por condições de
existência e de sobrevivência, principalmente para as mulheres idosas.
Essa diferença entre homens e mulheres de 65 anos ou mais se torna
inverso quando observamos a taxa de mortalidade entre ambos. Em 1991 a
expectativa em anos para as mulheres idosas pulou de seis para sete anos a
mais de vida em relação aos homens. Esse quadro vem a confirmar segundo,
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Berquó (1999) a forte tendência à feminização do envelhecimento. O número de
mulheres com mais de 60 anos de idade passou de 3,8 milhões em 1980 para
oito milhões em 2000, ou seja, mais do que dobrou em 20 anos (CAMARANO,
2002; TELAROLLI JÚNIOR et al., 1996).
As mulheres também se destacaram na década de 1990 em relação a sua
inserção no mercado de trabalho entre 1989 e 2001, essa expansão pode ser
caracterizada pela ampliação de sua participação no desemprego, na conquista
de espaço ocupacional, no processo de precarização das relações de trabalho
(expansão da condição assalariada para a condição autônoma), na precariedade
social econômica, que afetou a família obrigando, tanto os homens quanto as
mulheres disputarem um espaço no mercado de trabalho para a manutenção de
suas necessidades (BERQUÓ, 1999).
Enfim, a década de 1990 apesar de ter sido empreendedora quanto a
abertura do mercado financeiro, que nos beneficia atualmente, foi um período em
que o brasileiro perdeu o seu poder de compra, passando por grandes
dificuldades financeiras em decorrência dos pacotes econômicos e da
desvalorização constante da moeda (WIKIPÉDIA, 2006). Este quadro social
afetou em sua maior parte a população com a situação financeira menos
privilegiada e os idosos que na maioria das vezes tinham nas aposentadorias e
pensões a sua principal fonte de renda.
A situação sócio-econômica segundo Lima Costa et al., (2003),
desempenha um papel central na determinação da saúde de indivíduos e
populações. Conforme a autora, vários estudos de base populacional confirmam
está tendência e apontam que a população idosa com melhor situação sócio-
econômica apresentam melhores condições de saúde. Está diferença acaba por
diminuir, ou até desaparecer, nas idades mais avançadas.
Em países industrializados a queda das taxas de mortalidade e
fecundidade iniciadas no século XX, acompanharam a ampliação da cobertura
dos sistemas de proteção social, de melhorias das condições de moradia,
saneamento básico, alimentação e trabalho. No Brasil, por outro lado, essa
menor taxa de mortalidade que deu início à transição demográfica da população,
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foi marcada mais pela ação médico-sanitarista do Estado que por políticas que
melhorassem o entorno da população brasileira, como o acesso à educação,
moradia, alimentação, dignidade para se viver, entre outras.
Apesar dessa atenção sanitarista os idosos, segundo Chaimowicz (1997),
não encontram na década de 1990 um amparo adequado no sistema público de
saúde e previdenciário. Conforme o referido autor, a falta dessa assistência
provocaria o acúmulo de doenças que gerariam seqüelas na população idosa,
aumentando as suas dependências, a perda de sua autonomia e de sua
qualidade de vida.
Em Inquérito Domiciliar realizado em 1989, no Município de São Paulo,
Chaimowicz (1997) observou quando se comparou o estado funcional em
Inquéritos Domiciliares de outros Estados, a freqüência de queixas relacionadas
às doenças crônico degenerativas e também a impressionante proporção de
transtornos afetivos que afetavam as famílias. Segundo o autor, esses
transtornos influenciavam diretamente a qualidade de vida dessa população
obrigando com que as famílias se ajustassem a essa nova realidade.
Resumindo, as questões relacionadas à saúde da população brasileira da
década de 1990, assim como dos países que compõem a América Latina,
conforme (LITVAK 1990 apud CHAIMOWICZ), são ditados pelas condições
sociais e econômicas do indivíduo. Segundo o autor, existe uma tendência maior
na área da saúde em evitar o processo de envelhecimento subvalorizando às
questões que realmente compõem essa fase da vida.
Esse quadro social brasileiro segundo Chaimowicz (1997) reforça a noção
de que o envelhecimento populacional da década de 1990 poderia passar a
representar mais um problema que uma conquista da sociedade, na medida em
que os anos de vida ganhos não sejam vividos em condições de independência e
saúde implicando geralmente em custos elevados para o sistema de saúde.
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2.6. Programas de atividade física para idosos no Brasil
Neste capítulo abordaremos as características de programas de atividade
física voltados à população idosa na década de 1990. A seleção desses
programas, foi realizada através da obra de Lamartine DaCosta intitulado “Atlas
Atividade Física no Brasil” do ano de 2005, no qual Faria Júnior e colaboradores,
discutem um mapeamento regional preliminar sobre programas de atividade física
voltados a essa população.
Nesse mapeamento, identificamos quatorze programas de universidades
brasileiras, eleitos por Faria Júnior e colaboradores (2005c), como programas de
“excelência nacional” voltados à população idosa. Destacam-se nessa
excelência, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ-RJ); Universidade
Federal Fluminense (UFF-RJ); Universidade de São Paulo (USP-SP);
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP de Rio Claro-SP); Universidade de
Campinas (UNICAMP-SP); Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS);
Universidade Federal de Viçosa (UFV, Uberlândia-MG); Universidade Federal de
Uberlândia (UFU-MG); Universidade Estadual de Londrina (UEL de Londrina-PR);
Universidade Federal do Paraná (UFPR, Curitiba-PR); Universidade de Brasília
(UNB-DF); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, Florianópolis-SC);
Universidade Estadual do Amazonas (UFA-AM) e Universidade Federal do Pará
(UFPA, Belém-PA).
Devido a relevância das ações contidas nesses programas, que reflete
todo momento histórico da década de 1990 incidentes sobre a população idosa e
que nos mostram o reflexo desse momento na construção de suas atividades ao
longo da década e na atualidade, adotamos por critério de inclusão apenas os
programas que atuaram com a população idosa, independentemente destes se
organizarem na oferta prática de atividades físicas e/ou na discussão teórica dos
benefícios obtidos.
Como critério de exclusão, optamos por não analisar as universidades
cujo trabalho não estava disponível na rede mundial de computadores e que não
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disponibilizavam, em suas respectivas páginas eletrônicas, informações
suficientes para compreensão da estrutura de suas propostas.
Com base nesses critérios, excluímos, Universidade Estadual de Londrina
(PR); Universidade Federal do Paraná (PR); Universidade Federal Fluminense
(RJ); Universidade Federal de Viçosa (MG); Universidade Federal do Amazonas
(AM), Universidade de Campinas (UNICAMP-SP), Universidade de Brasília (UnB-
DF); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, Florianópolis-SC) e
Universidade Federal do Pará (UFPA, Belém-PA), restando para nossa análise,
cinco universidades e seus respectivos programas.
A coleta dessas informações foi obtida através da rede mundial de
computadores, diretamente na página eletrônica de cada universidade. O
procedimento adotado para análise desses programas, foi realizado através da
comparação das intenções e justificativas descritas no enunciado de cada
programa com seus respectivos objetivos.
Após o processo de triagem dos documentos e transcrição das
informações, conforme procedimento descrito por Gil (1991); Lakatos (2001) e
Laville e Dione (1999), realizamos uma leitura minuciosa sobre os mesmos para
elaboração de significados.
Foi durante esse processo que percebemos, em alguns programas, uma
relativa divergência entre o enunciado de suas propostas e os objetivos descritos,
principalmente em relação a visão de envelhecimento e aos conceitos de saúde,
autonomia e Promoção da Saúde. Essa observação, por sua vez, nos fez refletir
sobre a possibilidade de que um programa de atividade física elaborado para a
população idosa poderia vir a sofrer influências no direcionamento de suas
práticas quando tais conceitos divergissem dentro de sua proposta.
A intenção nesse capítulo não é criticar ou julgar os programas de
atividade física selecionados, mas sim, buscar informações que ajudem
compreender e refletir como essas divergências conceituais estão evidenciadas
na estrutura desses programas, no que se refere ao direcionamento de atividade
física voltadas à população idosa. E, para tanto, tomamos o cuidado de pesquisar
todo o contexto social, político e econômico incidente sobre a população idosa
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brasileira da década de 1990, bem como as ampliações conceituais da área da
Saúde e das práticas de Educação Física frente a população idosa do período em
questão.
Mas, para que se possa compreender a relevância de nossas observações
e questionamentos, retornaremos a alguns pontos que entendemos serem
importantes para compreensão da visão de envelhecimento adotada pelos
organizador(es) dos respectivos programas, bem como os fatores que podem
diretamente contribuir para a falta de concordância conceitual em relação a
utilização dos termos saúde, autonomia e Promoção da Saúde.
Em relação a velhice, encontramos em Debert (1999) que essa fase da
vida não seria uma categoria natural, mas sim uma categoria socialmente
construída que faz distinção entre um fato natural (ciclo biológico, do ser humano)
e um fato universal (fatores sociais e históricos), fatos que proporcionam aos
idosos formas diferentes de se conceber e viver o envelhecimento e, aos
indivíduos, visões diferenciadas sobre essa fase da vida.
No ciclo biológico pode-se observar toda uma discussão, principalmente
na área da Saúde, que visa minimizar e/ou adiar as modificações fisiológicas
ocorridas durante a velhice (GOBBI et al., 2002; NELSON et al., 2004; STELLA,
2002). Isto somado às questões sociais e históricas incidentes sobre essa
população está acompanhado de estereótipos negativos, de termos
classificatórios, da vinculação da imagem do idoso à fragilidade e dependência,
contrapondo-se a uma visão mais positiva da velhice, com possibilidade de
desenvolvimento (PEIXOTO, 1998).
Sem querer generalizar, foi com base nessa realidade social incidente
sobre a população idosa, facilmente percebida pelas modificações biológicas e
pelo estigma de improdutividade, que nos questionamos sobre a possibilidade de
que essa representação social de envelhecimento construída ao longo do
desenvolvimento de um indivíduo possa ter influenciado ou possa vir a influenciar
o direcionamento das práticas de Educação Física frente a população idosa.
O que reforça esse nosso questionamento seria a possibilidade descrita
por Baltes e Silverberg, (1995) e Motta, (2003), de que nem a ciência se isentaria
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das influências sociais incidentes sobre o processo de envelhecimento, não nos
garantindo a imparcialidade de que a produção de conhecimento não esteja
baseada nas crenças sobre o comportamento humano, retirados de
representações coletivas, do mundo social dos próprios pesquisadores.
Essa possibilidade nos fez refletir sobre o quanto essa representação
individual de quem organiza uma intervenção voltada à população idosa
influenciaria o direcionamento das atividades e o posicionamento de outros
profissionais que lidam diretamente com esses idosos.
Por esse motivo, acreditamos que idosos que estejam engajados em
programas que atuem apenas com base nas representações individuais sobre o
envelhecimento de seus organizadores, sem um aprofundamento teórico que
possibilite vislumbrar esse processo em várias dimensões (política, econômica,
social, histórica, psicológica, biológica), deixam de ter a possibilidade de explorar
o seu envelhecimento como um todo.
Por outro lado, em relação ao conceito de saúde, a sua identificação
dentro de um programa de atividade física para a população idosa dá a
possibilidade de compreendermos o enfoque utilizado no desenvolvimento das
atividades, que pode estar voltado para a perspectiva biológica de prevenção, ou
para a perspectiva de Promoção da Saúde.
É importante frisar que a diferenciação dessas duas vertentes da Saúde
Pública se dá através da identificação do conceito de autonomia, dos processos
educativos utilizados e do conjunto de ações empreendidas, que possuem como
base o conhecimento científico e os conceitos clássicos que organizam a
produção de conhecimentos em saúde, que até o final do século XIX,
vislumbravam a saúde como a ausência de doenças, e que, lentamente,
passaram a ser discutidas e questionadas dentro da área de Saúde
(CANGUILHEM 1978; CZERESNIA, 2003; ROSEN, 1994).
Desses questionamentos, o conceito de saúde foi ampliado com o
reconhecimento de que a saúde não poderia se organizar apenas na ausência de
doenças, mas da interação de vários fatores incidentes sobre um indivíduo como
a iniqüidade social, por exemplo. A partir desse momento identificamos a
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influência das idéias encontradas no âmbito da Promoção da Saúde contribuindo
para a construção de um novo paradigma em saúde que não se focava apenas
nas questões preventivas, mas entendia que o status de saúde poderia ser
influenciado pelas questões sociais, políticas, econômicas incidentes sobre os
indivíduos e que a saúde não se encerraria na doença (BYDLOVISKY et al.,
2004).
Para tanto, a ampliação conceitual de saúde ocorrida dentro da
perspectiva da Promoção da Saúde, ocorreu em três fases distintas: (1) o
reconhecimento que as questões sociais poderiam estar vinculadas ao status de
saúde dos indivíduos, mas ainda atrelada às ações preventivas de saúde; (2)
uma perspectiva mais behaviorista – voltada a intervir, influenciar e assistir
comportamentos individuais não-saudáveis da população (Buss, 2003 e
Carvalho, 2004) e (3) a “nova” Promoção da Saúde, que tenta através de suas
ações promover uma maior participação dos indivíduos e comunidades não na
oferta de informações, mas na construção de conhecimentos desenvolvidos
através de uma pedagogia crítica que valorize as potencialidades dos indivíduos
para que estes possam atuar com base em suas escolhas (BYDLOWSKI et al.,
2004; CARVALHO, 2004; CZERESNIA, 2003; OPAS, 2002a).
Apesar de toda essa ampliação conceitual estar muito bem documentada
na literatura, ainda existem dificuldades na diferenciação das duas linhas de
trabalho da Saúde Pública que, no caso da Promoção da Saúde, mesmo após a
sua grande divulgação realizada pela conferência de Ottawa-Canadá, ainda pode
ser entendida apenas como uma ação preventiva de saúde. Essa dificuldade,
segundo Queiroz (2003), poderia ser oriunda da resistência em aceitar um novo
paradigma em saúde que coloca em discussão a hegemonia da Medicina,
construída a partir da doença e não na perspectiva de saúde.
A possibilidade descrita, pelo referido autor, nos faz refletir sobre o fato de
que a falta de coerência no posicionamento sobre a adoção de um conceito de
saúde de um programa de atividade física talvez possa ocorrer em virtude da
dificuldade em se aceitar um novo paradigma em saúde, ou em se compreender
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um conceito tão complexo quanto a Promoção da Saúde, ou ainda por falta de
discussões dentro da área de Educação Física.
Outro fator que contribui para que ocorram divergências entre o enunciado
de uma proposta de atividade física e a descrição de seus objetivos estaria na
utilização do termo autonomia. Segundo Farinatti (2000), a atribuição do status de
autonomia como valor, ao lado da saúde, representou um grande avanço teórico
para a área da saúde, pois a autonomia de um indivíduo poderia vir a influenciar
diretamente o status de saúde de outrem.
Entretanto, essa condição vislumbrada a partir do entendimento de que o
poder de agir com base em suas escolhas seria a base desse conceito e, por
esse motivo, nossas escolhas poderiam realmente interferir no status de saúde
de outrem, precisamos entender que, ao longo da construção desse conceito tão
complexo, noções como justiça, liberdade e independência foram atribuídos ao
termo autonomia, produzindo uma gama de significados que na área da Saúde,
conforme aponta (Farinatti, 2000), foram associados à dependência motora e
social, invalidez, deficiência, incapacidade, aptidão e desempenho.
Talvez por esse motivo e pela complexidade de discussões em torno da
autonomia de um indivíduo, seja comum encontrarmos o termo autonomia na
área da Saúde e também na Educação Física, vinculado à independência motora
que, dentro de uma intervenção prática de ambas as áreas, estaria voltada a
repelir a condição de dependência.
Por esse motivo, entender o enfoque utilizado em torno do conceito de
autonomia, nesses programas nos daria subsídios para identificarmos ações que
realmente são empreendidas em prol da população idosa, que estariam
coerentes com a perspectiva da Promoção da Saúde ou não.
Enfim, estamos tentando explicar que existe a possibilidade de que a
percepção sobre o processo de envelhecimento estaria relacionada à visão de
saúde e autonomia adotada, ou vice-versa, tanto por parte de quem organiza,
quanto de quem atua diretamente com idosos dentro um programa de atividade
física.
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Essa possibilidade nos levaria a diferentes formas de desenvolver um
trabalho com essa população. Partido do princípio de que o envelhecimento é um
período de modificações não apenas de ordem biológica, um programa de
atividade física poderia ser desenvolvido apenas na perspectiva preventiva, com
intuito de reverter tais modificações, Mas, por outro lado, poderia ser construído
de acordo com a perspectiva da Promoção da Saúde, que engloba as ações
preventivas atividades que possibilitem o desenvolvimento das habilidades
individuais dessa população, para que os mesmos passem a atuar com base em
suas escolhas.
Dentro dessas duas vertentes, nas quais as intenções de trabalho estão
bem definidas, é que podemos observar o aparecimento de divergências no
enunciado de uma proposta de atividade física em relação ao direcionamento
prático das atividades (objetivos) que são acompanhados pela falta de
alinhamento conceitual sobre saúde, autonomia e Promoção da Saúde. Citamos
como exemplo, um programa de atividade física de enfoque coerente com a
perspectiva da Promoção da Saúde, com abordagem apenas preventiva nas
ações que empreende.
Levando em consideração as demandas necessárias para a população
idosa em nossa sociedade, não importa como os programas de atividade física
estão organizados desde que suas intenções e justificativas para uma
intervenção direta com essa população apresentem-se coerentes com o
direcionamento de suas atividades (objetivos), principalmente quando
observamos as propostas dos projetos para viabilizar, através de suas atividades,
um maior engajamento social dos idosos em prol da qualidade de seu processo
de envelhecimento.
Por esse motivo, a divergência conceitual, ao nosso ver, resultaria em
ações que impossibilitariam a população idosa de se beneficiar das intenções
realmente elaboradas por um programa de atividade física que, em um primeiro
momento pode estar coerente com uma perspectiva positiva sobre essa fase da
vida, passível de realizações e desenvolvimento, mas que se encerram no
direcionamento de práticas focadas apenas nas modificações biológicas do
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envelhecimento, como se a prática motora em si fosse a solução de todos os
problemas dessa população. Acreditamos que a atividade física, simplesmente
ofertada, não tenha o poder de abranger o envelhecimento como um todo sem
que exista por trás um suporte técnico multidisciplinar.
Após essa discussão, acreditamos que a análise dos programas de
atividade física de universidades brasileiras por nós selecionadas, poderá
contribuir diretamente para uma maior reflexão e discussão na área de Educação
Física em relação à construção de propostas de atividades físicas voltadas à
população idosa.
2.6.1 Descrição dos programas de atividade física voltados à população idosa
Universidade Federal de Uberlândia (UFU-MG)6
O Projeto Vida Ativa - AFRID (Atividades Físicas e Recreativas para a
Terceira Idade), é desenvolvido pela Faculdade de Educação Física da
Universidade Federal de Uberlândia, e vêm desenvolvendo, desde 1989, um
conjunto de atividades teóricas e práticas para indivíduos com idade superior a 50
anos, com a finalidade de estimular a participação ativa e dinâmica da
comunidade idosa, buscando minimizar o estigma a que sempre estão
submetidos, valorizando suas potencialidades.
O projeto AFRID é organizado a partir de uma equipe interdisciplinar
composta por médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, psicólogos e educadores
físicos que procuram contribuir, “cada um em sua especialidade para o
enriquecimento e valorização dessa iniciativa”.
Em relação à atuação da Educação Física, seu(s) idealizador(es) deixa(m)
claro o enfoque nas atividades corporais e nos movimentos expressivos, incluindo
em suas atividades aulas de natação e hidroginástica e assistência a indivíduos
institucionalizados. Além desse enfoque, o projeto AFRID visava colaborar no
sentido de “reeducar esses indivíduos para valorização de suas potencialidades”
6 Universidade Federal de Uberlândia, disponível em: www.afrid.faefi.ufu.br/
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nos segmentos, físicos, psíquicos, sociais e econômicos, utilizando como
estratégia atividades estimulantes, desafiadoras, que propiciem momentos de
descontração, liberdade, cooperação, interação e criatividade.
Durante a análise desse documento, observamos a preocupação de seu(s)
idealizador(es) em descrever(em) a evolução de seu trabalho durante a década
de 1990, colocando em pauta as questões, sociais, políticas e econômicas
referentes ao envelhecimento, bem como o redirecionamento das demandas
necessárias a essa população, citamos como exemplo dessa observação o
seguinte trecho: “...diferentes são as necessidades desse seguimento
populacional [...] que até então consistia em uma minoria e era preterida em
função de outras faixas etárias [...] passando a ser alvo de atenção dos governos,
estudiosos e pesquisadores [...] nesse sentido, as diferentes concepções que
orientam esse novo contexto, juntamente com a implantação de novas linhas de
ação estão redimensionando o olhar sobre o processo e, criticamente, ampliam o
campo de estudos sobre a velhice”.
Nesse sentido, além da ampliação da visão de uma velhice excluída da
década de 1990, para uma velhice socialmente mais ativa nos dias atuais,
encontramos a ampliação do conceito de saúde como um “bem-estar, físico,
mental e social e não apenas com a ausência de doenças”. Seguindo essa
ampliação conceitual sobre saúde, procuramos na descrição desse projeto,
indicações sobre a utilização de processos educativos e a utilização do termo
autonomia.
Sobre a educação, seu(s) idealizador(es) aponta(m) que a população
idosa "demanda por educação”, que foi classificada dentro do projeto como:
“qualquer atividade que possa vir a enriquecer ou promover a qualidade de vida
dessa população” e, talvez por esse motivo, não encontramos especificações em
relação a processos pedagógicos utilizados.
Já em relação ao termo autonomia, não encontramos a sua citação literal
no referido documento, e nem o termo atrelado à condição de independência
motora, mas observamos citações condizentes com a perspectiva de uma
autonomia vislumbrada no fortalecimento das potencialidades individuais quando
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se propõe a “levar os indivíduos a conhecerem melhor a sua própria condição,
tanto nos aspectos da saúde física e mental, quanto na situação sócio-econômica
e cultural” assim como “lhes abrir perspectivas de ação política”. Encontramos
também uma breve citação dentro da perspectiva de um envelhecimento bem-
sucedido, que não é explorada em sua descrição.
Tendo como base essas informações, notamos que o suporte para
construção do projeto AFRID deu-se a partir da relevância de vários fatores
incidentes sobre a população idosa decorrentes da realidade social, política e
econômica da década de 1990 como os estereótipos negativos, perda de papéis
sociais, falta de ações efetivas em prol da saúde, educação, previdência, entre
outras.
Apesar dessa referência social negativa, observa-se no projeto AFRID a
preocupação de seu(s) idealizador(es) em situar(em) suas atividades dentro das
evoluções conceituais pertinentes às áreas de Educação Física e Saúde como
considerar as necessidades e desejos dessa população, buscar atividades que
promovam e estimulem as potencialidades dos mesmos, utilização da perspectiva
de um envelhecimento bem-sucedido, importância dos benefícios fisiológicos e
do incremento de processos educativos que colaborem para o incremento da
qualidade do processo de envelhecimento.
Parece-nos que as ações que compõem o projeto AFRID estejam
coerentes com a perspectiva da “nova” Promoção da Saúde, mas por não
encontrarmos indicações sobre os processos pedagógicos adotados, que dentro
dessa perspectiva vislumbraria uma pedagogia crítica, não podemos confirmar tal
possibilidade, apesar do projeto apresentar coerência entre a visão de
envelhecimento, conceito de saúde e autonomia, conceitos que foram ampliados
de acordo com as transições conceituais de cada período.
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS)7
7Universidade Federal de Santa Maria disponível em: http://www.coperves.ufsm.br/prograd/downloads/File/Grupodeatividades.pdf
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O Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade (NIEATI), é
realizado no Centro de Educação Física e Desportos, da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM-RS) e vêm desenvolvendo desde 1984, um conjunto de
atividades físicas de caráter extensionista, com a comunidade idosa e adulta
acima de cinqüenta e cinco anos de Santa Maria e região. O projeto tem por
intenção valorizar a pessoa idosa a partir do “reconhecimento de seu potencial
individual”, incentivando-o para um maior engajamento responsável e
participativo dentro da sociedade, para que dessa forma, possam “interagir no
equacionamento e na transformação das questões sociais incidentes sobre essa
fase da vida”
O NIEATI é um programa de atividade física integrado aos demais cursos
oferecidos na UFSM. O intuito dessa interação entre áreas tem, por objetivo
principal, oferecer “novos conhecimentos e intercâmbio de experiências” através
da possibilidade de atualização cultural, política e do convívio social entre
gerações a partir do acesso livre aos cursos de pós-graduação e graduação da
universidade.
Em relação à atuação da Educação Física, seu(s) idealizador(es) deixa(m)
claro o direcionamento de suas atividades voltadas aos estímulos biológicos
compatíveis ao status de saúde e realidade funcional de cada indivíduo, visando
a melhoria da “autonomia de movimento” e servindo de laboratório para os
futuros profissionais de Educação Física que atuavam tanto no campus da
universidade quanto nos próprios grupos de convivência existentes na
comunidade de Santa Maria.
Apesar do enfoque exclusivo da área de Educação Física nos benefícios
biológicos, seu(s) idealizador(es) entendia(m) que a prática de atividade física
não era suficiente para atender o desejo de tornar essa população mais engajada
nas questões sociais, políticas e econômicas refletem-se sobre o processo de
envelhecimento. E, talvez por esse motivo, não encontramos referências sobre
ações pedagógicas dentro da Educação Física, fato que parece ter sido delegado
às demais áreas de saberes científicos da UFSM.
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Durante a análise desse documento, não fica clara a transição das
atividades desenvolvidas pelo NIEATI da década de 1990 para os dias atuais,
entretanto observamos toda a influência da década de 1980 e 1990 incidentes
sobre a população idosa no direcionamento de suas justificativas e intenções que
podem ser observadas por entre a da descrição, da necessidade de socializar os
idosos através de uma maior interação entre gerações, do acesso a educação e
cultura, bem como a melhoria da “autonomia de movimento”.
Nesse sentido, podemos observar a visão de envelhecimento relacionada
às perdas sociais, motoras, culturais, em que o direcionamento das atividades
visa amenizar ou reverter essa realidade, adotando-se um posicionamento mais
biológico e preventivo. Porém, como seu(s) idealizador(es) entende(m) que a
atividade física não seria suficiente para dar conta dos objetivos propostos para
essa população “um maior engajamento social”, observamos a associação da
oferta de atualização cultural e educacional dentro do NIEATI, por intermédio da
interação dos demais cursos da UFSM. Isto é, notamos a ampliação da visão
biológica sobre o envelhecimento, para uma velhice passível de “ação social”,
sem que o projeto perdesse o enfoque biológico de suas atividades.
Durante a análise desse projeto, não encontramos menção da ampliação
do conceito de saúde dentro da perspectiva de Promoção da Saúde. Contudo,
observamos referências sobre a ampliação do direcionamento das práticas da
Educação Física frente a população idosa, quando seu(s) idealizador(es)
aponta(m) que a atuação da área não pode estar organizada apenas na oferta
de estímulos biológicos e, por esse motivo, viabiliza o acesso a educação e
cultura.
Com base nessa oferta educacional, procuramos referências sobre
processos pedagógicos e não encontramos indicações quanto à utilização de
uma pedagogia específica elaborada para a população idosa. Mas, acreditamos
que na intenção de seu(s) idealizador(es) em proporcionar(am) uma maior
interação com as demais faixas etárias da universidade, essa perspectiva
pedagógica tenha sido pouco explorada e, por esse motivo, não aparece descrita
em seu enunciado.
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Já em relação à utilização do termo autonomia, encontramos a sua citação
dentro da área de Educação Física atrelada à condição de independência motora,
mas observamos citações condizentes com a perspectiva de uma autonomia
vislumbrada no fortalecimento das potencialidades individuais na parte que cerne
os processos educativos como: “incentivar o seu engajamento responsável e
participativo na sociedade [...] interagir no equacionamento e na transformação
das questões sociais incidentes sobre os idosos”.
Acreditamos, dessa forma, que as ações que compõem o NIEATI estejam
coerentes com uma perspectiva mais preventiva e biológica do processo de
envelhecimento, que vislumbra a importância de processos educativos para o
incremento na qualidade de vida desses indivíduos, demonstrando uma
coerência entre a utilização da visão de envelhecimento, conceito de saúde e
autonomia em relação aos objetivos traçados.
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) Rio Claro8
O Programa de Atividade Física para a Terceira Idade (PROFIT), foi
elaborado a partir de uma interface entre ensino, pesquisa e extensão em 1989,
vindo a se consolidar em 1991, nas instalações do Departamento de Educação
Física - UNESP - Campus de Rio Claro.
Seu(s) idealizador(es) deixa(m) claro que o foco de atenção do projeto
AFRID seria o atendimento da comunidade idosa, dos portadores de doença de
Parkinson e demência de Alzheimer, bem como idosos institucionalizados, e a
sua produção de conhecimentos estariam direcionados apenas aos benefícios
proporcionados para a saúde (física e mental) e para a capacidade funcional da
população idosa.
No início, as atividades estavam voltadas apenas a atender as demandas
e as carências sociais da população idosa. Porém em decorrência da ampliação
do conceito de velhice, passando de um “...desengajamento para uma efetiva
participação social contextualizada com suas limitações e ganhos referentes a
8Universidade Estadual de São Paulo – Rio Claro, disponível em: www.rc.unesp.br/ib/efisica/fef2002/projetos/profit.doc
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essa fase da vida”, o projeto passou a ser organizado não apenas na aplicação
prática de movimentos corporais, mas no processo de motivação para a
conscientização da prática regular de atividade física na perspectiva de
transformar a realidade dessa população quanto a manutenção da independência
motora, prevenção de doenças não-transmissíveis e reabilitação de problemas de
saúde.
Dessa forma, o objetivo central de suas atividades estaria voltado ao
desejo de valorizar os interesses e necessidades dos idosos através da
adaptação de suas atividades, voltadas para um envelhecimento mais
participativo nas questões relacionadas ao auto-cuidado e à saúde que seriam
obtidas a partir da “conscientização” e não da simples “aplicação” de atividades
corporais.
Nesse sentido, também observamos a valorização da atividade física como
uma “vivência humana” que não poderia estar “encerrada nela mesma”.
Justificando, dessa forma, a criação de uma “Diretoria dos Idosos” cuja função
seria atender os demais interesses e necessidades de seus alunos (fora do
âmbito da prática de atividades físicas), que funcionaria também como um
complemento de informações para o planejamento das atividades e implantação
de novas modalidades físicas.
Desse modo, acreditamos que suas ações estejam coerentes com a
perspectiva da “nova” Promoção da Saúde que, além do enfoque preventivo, visa
instrumentalizar essa população para que possam atuar em prol de um auto-
cuidado em saúde. Com base nessa perspectiva, procuramos indicações sobre
processos educativos e a utilização do termo de autonomia na descrição desse
projeto.
Sobre a educação, não fica claro qual foi a pedagogia utilizada para o
desenvolvimento do processo de conscientização para a prática de atividades
físicas, entretanto durante a descrição de suas atividades observamos indicativos
quanto a utilização de uma pedagogia crítica em que os conhecimentos são
construídos a partir da valorização da experiência de cada indivíduo.
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Já em relação ao termo autonomia, não encontramos a sua citação literal
no referido documento, e nem o termo atrelado à condição de independência
motora, no entanto observamos citações condizentes com a perspectiva de uma
autonomia vislumbrada nas potencialidades individuais quando seu(s)
idealizador(es) organiza(m) o direcionamento de suas práticas no do desejo de
“conscientizar e não aplicar” apenas conteúdos práticos.
Em suma, observamos na descrição das atividades do PROFIT toda uma
preocupação de seu(s) idealizador(es) em situar(em) suas atividades dentro das
evoluções conceituais pertinentes às áreas de Educação Física e Saúde. E, por
esse motivo, não apresenta divergências entre a visão de envelhecimento,
conceito de saúde e autonomia adotados na elaboração de sua proposta e de
seus objetivos, que parecem estar coerentes com a perspectiva da “nova”
Promoção da Saúde.
Universidade de São Paulo – PAAF (USP)9
O Programa Autonomia em Atividade Física (PAAF), da Universidade de
São Paulo (USP), iniciou suas atividades no ano de 1994. Estruturado como um
programa educacional tinha como intuito instrumentalizar a população idosa com
conhecimentos teóricos e práticos, sobre a prática de atividade física, visando a
autonomia para a auto-gestão de exercícios físicos e/ou seleção de programas
supervisionados.
Por ser uma fonte de pesquisa, o projeto buscava avaliar, durante o
período de doze meses, a evolução dos seguimentos físicos, motores,
psicológicos e de aprendizagem desses idosos para que, dessa forma, sua
proposta de atividade física fosse adequada quanto as possibilidades de ativação
dos domínios físico, motor, cognitivo e psicossocial, redundando, segundo sua
idealizadora, em conhecimentos sobre as condições favoráveis em que tal
ativação ocorreria, e em conhecimentos aplicados para a atuação profissional à
área de Educação Física.
9 Universidade de São Paulo, disponível em: http://www.usp.br/eef/efp/lapem/grepefi/
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Neste contexto, seus objetivos visavam o direcionamento de suas práticas
ao “saber o que fazer”, “como fazer” e “quando fazer” atividades motoras em
relação aos diferentes sistemas corporais; visavam a mudança de
comportamentos individuais para uma prática sistemática de atividades físicas, a
promoção de experiências motoras prazerosas e com sucesso, e a manutenção
e/ou melhoria das capacidades físicas, motoras e funcionais.
Dentro desse intuito, apesar de não existir uma citação literal sobre a
utilização das ações que envolvem a “nova” Promoção da Saúde, acreditamos
que a proposta elaborada pelo PAAF, esteja coerente com tal perspectiva com a
intenção de “instrumentalizar idosos” através de processo pedagógico que vise a
construção de “conhecimentos para o auto-cuidado, ensinando-os a saber o que
fazer, como fazer e quando fazer atividades físicas”.
Quanto a utilização do termo autonomia, também não encontramos a sua
citação literal no referido documento, e nem o termo atrelado à condição de
independência motora, mas observamos a organização de suas práticas a partir
de uma pedagogia crítica, com intuito de construir conhecimentos relacionados
ao poder de gerir e escolher uma atividade física coerente ao seu desejo e sua
realidade funcional.
Nesse sentido, suas atividades pedagógicas trabalhavam em sincronia
com o conteúdo teórico desenvolvido (informações elementares de anatomia e
fisiologia) com o conteúdo prático (atividades motoras) que eram divididos, em
seis partes relacionadas ao estímulo dos diferentes sistemas corporais
(cardiovascular, respiratório, neurológico, músculo-esquelético e articular).
A análise desse projeto vêm demonstrar a utilização de uma ação
pedagógica dentro de um programa de atividade física que dá oportunidade para
que seus alunos incorporem informações e as transformem em ações em prol de
seus benefícios demonstrando que um programa de atividade física pode vir a ser
incrementado com processos educativos.
Dentro desse contexto, não observamos no PAAF divergências entre a
visão de envelhecimento, conceito de saúde e autonomia adotados na
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elaboração de sua proposta e construção de seus objetivos que, parecem estar
coerentes com a perspectiva da “nova” Promoção da Saúde.
Apesar de encontrarmos coerência entre intenções, justificativas e
objetivos descritos nos referidos programas de atividade física no que refere a
visão de envelhecimento, conceitos de saúde, autonomia e Promoção da Saúde,
gostaríamos de discutir alguns pontos que nos chamaram atenção na
composição desses programas, em relação ao termo “educação”,com a adoção
de processos pedagógicos e a perspectiva de trabalho no âmbito da Promoção
da Saúde.
Nos programas por nós analisados encontramos o termo “educação”
relacionado com “qualquer atividade que possa vir a enriquecer ou promover a
qualidade de vida dessa população” AFRID (UFU-MG); como um meio de
proporcionar “um maior engajamento social” NIEATI (UFSM-RS) e visando
instrumentalizar os idosos na prática de atividade física PROFIT (UNESP-Rio
Claro) e PAAF (USP-SP).
De tal modo, podemos observar vários significados atribuídos a Educação
como um componente necessário para incrementar a qualidade do processo de
envelhecimento incluindo, além da atividade física, o acesso à educação, cultura
e o fortalecimento das capacidades individuais dessa população. Mas apesar
dessa indicação, não encontramos referências específicas no enunciado dessas
propostas sobre os processo pedagógicos utilizados para obtenção de seus
objetivos, nos deixando apenas indícios e possibilidades de estratégias utilizadas,
e, por esse motivo, não pudemos discorrer em profundidade sobre esse processo
tão importante na elaboração de uma intervenção para a população idosa.
Por esse motivo não podemos afirmar que a questão educacional e a
adoção de um processo pedagógico elaborado para assistir a população idosa
não tenha sido considerada, porém podemos refletir sobre a atribuição dada à
educação nos respectivos programas, no sentido de contribuir para uma maior
discussão em torno dos fatores que podem vir a influenciar a indicação e/ou
elaboração de processos educativos voltados a essa população.
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Pois, conforme Neri e Cachione, (2004), existe uma escassez de
pedagogias voltadas à população idosa que poderiam estar relacionadas a
imagem do idoso associada com a dependência, improdutividade e às regras
sociais que, por sua vez, acabam por determinar os comportamentos individuais
e coletivos. Só que, no caso da população idosa, essas regras fazem com que
nós, sociedade, esperemos a todo o momento que estes idosos comportem-se de
maneira dependente, mesmo que não haja necessidade para tal (BALTES E
SILVERBERG, 1995).
Essa consideração nos leva a refletir sobre a possibilidade de que uma
proposta educativa relacionada ao envelhecimento seja atribuída de acordo com
a visão que se possui sobre o que é ser velho. Isto é, o grau de relevância da
necessidade de uma intervenção pedagógica elaborada especificamente para
essa população, dependeria desse posicionamento e da finalidade que se atribui
à educação. Isso, segundo Martins de Sá (2004), poderia ser algo permanente e
co-existente à própria vida, se voltada a um processo de humanização e de
transformação social dos indivíduos.
Por esse motivo, o acesso à educação pode nos proporcionar
conhecimentos, experiências e impressões diversificadas sobre a vida, mas não
acreditamos que a sua oferta seja suficiente para dar conta da expectativa de que
a população idosa possa, através desta, tornar-se apta para decidir, recusar,
escolher, discernir o que é pertinente à sua vida principalmente em relação a sua
maior participação social em ações em prol de seu envelhecimento.
Para tanto, o componente pedagógico crítico se faz necessário para a
obtenção de um objetivo tão amplo que envolve procedimentos que transcendem
a simples transmissão de conhecimentos – isso porque quem nunca na vida pode
decidir por si só alguma coisa não poderia apenas com acesso a educação e
cultura ter o “poder” de se auto-governar, pois conforme Freire (1997), o “poder”
para se auto-governar vai se constituindo ao longo da vida das pessoas, dentro
de um processo contínuo de decisões.
Dessa maneira, intervenções que tenham como propósito o fortalecimento
das potencialidades individuais em prol da auto-gestão de atividades físicas ou do
50
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maior engajamento dos idosos nas questões que estão imbricadas nesse
processo devem levar em consideração certos aspectos: (1) o perfil da população
a ser atendida, com intuito de conhecer quais são realmente as suas
necessidades, desejos, vontades e carências para compor os objetivos a serem
traçados; (2) com base no perfil traçado, adotar uma linha pedagógica que não
seja copiada de outros modelos e populações para que não se corra o risco de
subestimar as capacidades e produtividade dessa população; (3) adotar uma
pedagogia crítica para valorizar as experiências individuais e do cotidiano do
educando, propiciando uma linguagem de fácil compreensão no qual educador e
educando interagem para a aquisição de conhecimentos valorizando o diálogo,
incentivando a criticidade e, por tanto, criando um ambiente favorável ao
fortalecimento da autonomia desses indivíduos (AZANHA, 2006; FREIRE, 1997;
PEREIRA, 2003).
A relevância desses três fatores contribuiria para que uma proposta de
atividade física não se limitasse à participação da população idosa aquém de seu
desenvolvimento e necessidades e, sim, valorizando-a. Entretanto, se o intuito de
uma intervenção for apenas fornecer conhecimentos diversos, não podemos
desmerecer nenhuma dessas iniciativas, pois novos conhecimentos nos levam a
novas experiências ou, pelo menos, a refletir - mesmo que por um instante -
sobre essas novas descobertas.
Sobre a perspectiva de um trabalho elaborado no âmbito da Promoção da
Saúde preconizada após a Carta de Ottawa, não encontramos a sua citação
literal nos programas de atividade física por nós analisados (AFRID, PAAF e
PROFIT), mas observamos indícios de que essa perspectiva de trabalho tenha
sido utilizada para compor o direcionamento de suas atividades.
Não podemos afirmar que tal menção não tenha sido realizada por falta de
conhecimentos a respeito das ações que organizam a Promoção da Saúde, afinal
encontramos indícios de ampliações conceituais no enunciado desses
programas.
Contudo, podemos aproveitar tal observação para refletirmos sobre a
possibilidade de que, atualmente as ações que compõe o âmbito da Promoção da
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Saúde como o processo de capacitação de indivíduos e comunidade para que
possam atuar com base em suas escolhas; utilização de uma educação pautada
em uma pedagogia crítica; conceito de saúde amplo constituído por um conjunto
de valores (saúde, educação, equidade social, entre outras) não sejam
amplamente discutidos no âmbito da formação Profissional de Educação Física,
isso porque quando procuramos programas atuais dentro de universidades
brasileiras que trabalhem dentro dessa perspectiva, não encontramos a indicação
literal de uma proposta pautada no âmbito da Promoção da Saúde, contudo
encontramos assim como nas quatro universidades por nós analisadas da
década de 1990, indícios e possibilidades condizentes como essa perspectiva de
trabalho.
Dentro disso, poderíamos vislumbrar a possibilidade de que discussões
mais profundas sobre ações que envolvam a Promoção da Saúde seriam
necessárias para que não ocorram divergências quanto a sua utilização e para
que indícios e possibilidades se transformem em posicionamento reais sobre
essa perspectiva.
52
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3. Método 3.1 Caracterização do estudo
Para que possamos refletir sobre o quanto a análise e compreensão do
Projeto Fênix poderia vir indicar o que ocorre no cenário geral de programas de
atividade física para adultos e idosos, adotamos a metodologia da pesquisa
qualitativa por entender que outro método não nos possibilitaria compreender um
fenômeno em toda sua essência. Para tanto, realizamos um estudo de caso, que
nos possibilitou uma análise esclarecedora do Projeto Fênix e de toda a sua
organização e significado social em relação a população idosa assistida (DEMO,
2001; GIL, 1999; THOMAS e NELSON, 2002).
3.2 Participantes
Fizeram parte desse estudo os profissionais que organizaram e
coordenaram o Projeto Fênix, entre os anos de 1998 a 2004. Escolhemos
analisar apenas os coordenadores porque esse estudo pretende averiguar a
partir da perspectiva teórica da Promoção da Saúde, as divergências e
convergências conceituais de saúde, autonomia e Promoção da Saúde no
direcionamento das práticas de atividade física desenvolvidas pelo Projeto Fênix.
Isso significa que posicionamentos e perspectivas individuais desses profissionais
estariam imbricados na elaboração e direcionamento de suas atividades.
Os participantes foram informados dos objetivos e procedimentos do estudo e
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo I), segundo as
normas do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu.
3.3 Instrumentos
Para a obtenção de todas as informações necessárias a respeito do
projeto a ser analisado, vários instrumentos foram utilizados e, serão descritos a
seguir:
53
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1. Documentos do Projeto Fênix: Projeto pedagógico e proposta de
implantação do programa para realizar a descrição de suas bases
teóricas; Planejamentos das aulas, contendo objetivos e conteúdos
propostos; relatórios semanais e semestrais de atividades
desenvolvidas e trabalhos científicos, para compreender as bases
teóricas do Projeto Fênix, que nos dará subsídios para compreendê-lo
em sua profundidade em relação ao direcionamentos prático de suas
atividades.
2. Entrevista semi-estruturada, realizada com as coordenadoras, para
compreender o significado de sua atuação no direcionamento teórico-
prático das atividades realizadas no Projeto Fênix.
3.4 Procedimento para coleta de dados
Para a realização desse estudo, primeiramente, enviamos uma carta à
reitoria das Faculdades Integradas de Guarulhos, demonstrando o nosso
interesse e solicitando autorização para utilizarmos, como objeto de pesquisa, os
dados referentes ao extinto programa de extensão comunitária denominado
Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade (ANEXO II). Com o deferimento
dessa solicitação iniciamos a coleta de dados na instituição.
Documentos do Projeto
Como pesquisadora e participante no referido Projeto, obtive livre acesso a
todos os documentos sem prazos e datas de entrega, que possibilitou, através do
agrupamento cronológico do projeto de implantação; do projeto pedagógico; das
descrições dos planos de aula; dos relatórios semestrais, das anamneses e
trabalhos científicos, compreender o início da trajetória do Projeto Fênix, bem
como a construção de seus objetivos e o direcionamento de suas atividades em
relação à população idosa.
Entrevista com as coordenadoras
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As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas individualmente,
seguindo os procedimentos indicados pela estrutura da entrevista narrativa, que
têm por objetivo estimular o entrevistado a contar uma história sobre um
acontecimento importante. Esse procedimento foi adotado para captar as
impressões pessoais das coordenadoras sobre a atividade física em relação a
população idosa, a construção e a utilização de conceitos como saúde,
autonomia, Promoção da Saúde e envelhecimento, no direcionamento das
atividades realizadas.
A escolha pela estrutura da entrevista narrativa deu-se pelo fato de
considerá-la a mais adequada ao objetivo em questão, pois segundo Bosi (2003), os procedimentos tradicionais da pesquisa empírica não seriam capazes de
entender o mundo amolecido pela opinião, isto é, a percepção alheia à
experiência. A autora coloca que a entrevista narrativa propicia um ambiente
favorável para que o entrevistado se expresse e estabeleça uma ordenação
pessoal aos fatos obedecendo uma lógica afetiva cujo os motivos nós ignoramos.
Sendo assim, o resgate da memória oral, faz intervir pontos de vista
contraditórios, distintos entre eles e ricos em conteúdo. Pela memória, segundo a
autora: “o passado não só vêm à tona das águas presentes,
misturando com percepções imediatas, como também empurra ‘descola’
estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência. A memória
aparece como força subjetiva ao mesmo tempo profunda e ativa, latente e
penetrante, oculta e invasora”. (BOSI, 2003:36)
É a partir dessa subjetividade que podemos colher uma gama de
informações factuais, onde o pesquisador deve fazer emergir desse conteúdo
uma visão de mundo. Isto é, interpretar as pausas, a rememoração, o
esquecimento, a decomposição dos pensamentos, idéias, episódios vividos e as
“curvas melódicas da fala” (Bosi, 2003:46).
Para a realização das entrevistas, elaboramos um roteiro de temas que
não permitissem passar pontos fundamentais e essenciais para a análise desse
programa de atividade física como: a visão sobre envelhecimento, aspectos que
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![Page 68: ENVELHECIMENTO: UM OLHAR SOBRE A PERSPECTIVA DE … · implantação do Projeto Fênix na Faculdade Integrada de Guarulhos. E, com o intuito de ampliar a compreensão sobre a década](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022052922/5c10289209d3f2126b8c167a/html5/thumbnails/68.jpg)
influenciaram a elaboração da estrutura e dos objetivos, dos propósitos, como era
estabelecido a relação professor-aluno, o que era importante ensinar, como os
estagiários eram orientados, como era o direcionamento prático das atividades.
E, para tanto Iniciamos nossa entrevista com uma questão geradora: no período em que você esteve a frente do Projeto Fênix como coordenadora, como foi a sua gestão durante esse período?
A introdução de cada tema, foi realizado com base no discurso dos
entrevistados, portanto, a ordem dos questionamentos não foi realizada em sua
seqüência original, mas respeitando o discurso do entrevistado. Dessa maneira,
acreditamos que um ambiente natural contribua diretamente na fluidez das
respostas, contribuindo para que fatos relevantes sejam relembrados e
discursados. Para a realização dessas entrevistas, utilizamos um gravador portátil
e fitas cassetes.
3.5 Análise
Para que se possa responder os objetivos traçados nesse trabalho,
iniciamos a nossa análise a partir de uma descrição do Projeto Fênix – Terceira
Idade com Qualidade, assim como o mesmo é descrito em seu documento de
implantação. Posteriormente, para ampliar nosso entendimento em relação a
estrutura e a construção das atividades, iniciamos uma análise documental
conforme as orientações Flick (2004); Gil (1991); Lakatos (2001); Laville e Dione
(1999), realizando: (1) processo de triagem para julgamento dos documentos; (2)
transcrição de conteúdo; (3) elaboração de unidades de significado para
categorização dos documentos e conteúdos e (4) interpretação.
Após essa ampliação sobre a trajetória e o direcionamento das atividades
realizadas no Projeto Fênix, passamos a nos focar nos atores (coordenadoras)
que possibilitaram o andamento desse Projeto. Pois a partir da análise de suas
entrevistas teremos a possibilidade de responder os nossos objetivos e refletir
sobre o quanto a análise e compreensão do Projeto Fênix podem indicar o que
ocorre no cenário amplo de programas de atividade física para adultos e idosos.
56
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Para tanto, seguindo as orientações para elaboração de uma análise
documental, realizamos primeiramente a transcrição literal dos discursos, a
elaboração de unidades de significado, agrupamento por temas e categorias para
facilitar a identificação dos depoimentos; síntese e integração para que se possa
buscar convergências ou divergências atribuindo a eles significado. E, para a
interpretação das respostas utilizamos a fundamentação teórica que dá suporte a
essa pesquisa.
57
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4. Projeto Fênix: bases teóricas
Antes de iniciarmos esse capítulo que tem por intuito discutir
profundamente o Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade, gostaria de
assumir um discurso em primeira pessoa que abre espaço à pesquisadora, no
momento, compartilhar suas experiências e observações como docente dentro do
referido projeto entre os anos de 2003 e 2004. Acredito que dessa forma o
conteúdo da análise pode vir a ser enriquecido.
E, para discutir em profundidade o Projeto Fênix e a fundamentação
teórica que deu base às ações empreendidas em seu programa de atividade
física, iniciei essa análise a partir do conteúdo descrito no documento original de
implantação do projeto e de sua posterior reformulação; em sua proposta
pedagógica; nos relatórios semanais e semestrais de atividades desenvolvidas,
bem como na utilização de trabalhos científicos que diretamente contribuam para
a descrição prática de suas atividades.
Através disso, decidi dividir essa análise em três momentos distintos,
iniciando pela descrição do Projeto Fênix tal como aparece em seu documento
original de implantação e de sua posterior reformulação no ano de 200410,
passando para um segundo momento em que me utilizo dos princípios da análise
documental descritos por Flick (2004); Gil (1991); Lakatos (2001); Laville e Dione
(1999), para discorrer sobre a fundamentação teórica que dava suporte ao
Projeto Fênix em relação a concepção de velhice e as perspectivas de saúde,
autonomia e Promoção da Saúde que o norteava e, que deram base ao
direcionamento prático de suas ações.
De posse das informações teóricas que davam suporte ao Projeto, iniciei a
última fase dessa análise, que envolveu o discurso das experiências vivenciadas
pelas coordenadoras que organizaram o Projeto Fênix, dando subsídios para
discorrer sobre o direcionamento prático das atividades desenvolvidas sobre a
presença de divergências e convergências entre o enunciado de sua proposta
10 Documento de implantação: no ano de 2003 a coordenação do Projeto Fênix foi alterada e junto a essa mudança, valores foram agregados ao trabalho até então desenvolvido que por sua vez, passaram a constar em seu documento original de implantação.
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(intenções e justificativas) e os objetivos descritos, bem como as ações que de
fato foram empreendidas nesse programa de atividade física.
De tal modo, o confronto desse conteúdo teórico com as experiências
práticas narradas por suas coordenadoras, possibilita uma visão concreta das
atividades e posicionamentos adotados para o desenvolvimento do Projeto Fênix.
4.1 Descrição
Por ser o Projeto Fênix, um programa de atividade física oriundo da
década de 1990, inicio essa descrição procurando situar o leitor sobre a realidade
social brasileira incidente sobre a população idosa que, por sua vez, dá base às
justificativas de implantação desse Projeto, bem como ao direcionamento de suas
intenções de trabalho.
Nesse período a população idosa era classificada segundo os padrões
estabelecidos pela Organização das Nações Unidas de 1985 (ONU, 2000), que
considerava uma pessoa idosa aquela que possuísse idade igual ou superior a
sessenta anos para os países subdesenvolvidos e sessenta e cinco anos para
países desenvolvidos.
Assim como em outros períodos, os adjetivos negativos atrelados a
condição de velhice como dependência, incapacidade e improdutividade, também
se faziam presentes na década de 1990 (PEIXOTO, 1998). No caso do Brasil,
esses estereótipos eram reforçados pela crise econômica e a falta de
investimentos na Previdência Social, que comprometia o valor do benefício das
aposentadorias fazendo com que a população idosa, principalmente a menos
afortunada, que tinha nesse benefício sua única fonte de rendimento, sofresse
com a diminuição do poder de compra, perda de papéis sociais, restrição de
atividades de lazer e cultura, comprometendo a sua sobrevivência sócio-
econômica sem a dependência de outrem (BELTRÃO et al., 2000; BERQUÓ,
1999; SEADE, 2006;).
A carência de ações tão básicas à sobrevivência dessa população foi um
reflexo da falta de investimentos do período ditatorial que veio se acumulando ao
longo das décadas e se agravando na década de 1990 com a crise econômica
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que, segundo (Serra e Serra, 2006), fez com que as ações de cunho social, mais
uma vez, ficassem em segundo plano de atenção, pois o enfoque governamental
até então, era controlar o caos econômico brasileiro. Com base nesses
acontecimentos político-econômicos, encontramos no trecho do livro “O Tempo
Vivo da Memória” que: “quando um acontecimento político mexe com a
cabeça de um determinado grupo social, a memória de cada um de
seus membros é afetada pela interpretação que a ideologia
dominante dá desse acontecimento. Portanto, uma das faces da
memória pública tende a permear as consciências individuais”.
(BOSI, 2003:21)
Nesse sentido, venho colaborar com minha consciência individual sobre a
década de 1990, pois durante os pacotes econômicos e a transição da moeda
brasileira, pude observar atividades como lazer e cultura se tornarem supérfluas e
alimentos, antes indispensáveis na mesa dos brasileiros, transformarem-se em
artigo de luxo.
Por esse motivo, acredito que a consciência individual da organizadora do
Projeto Fênix se fez presente na elaboração de tal proposta de atividade física,
quando descreve no enunciado do Projeto que a “população brasileira além de
apresentar problemas comumente relacionados à velhice possuía o estigma de
ter vivido a sua juventude e sua fase adulta em condições desfavoráveis que
tenderiam a se deteriorar ainda mais na velhice e que seriam influenciadas para
mais ou para menos de acordo com o acesso ao sistema de saúde e as
condições satisfatórias de vida que, por sua vez, determinariam o grau de saúde
e de autonomia destes indivíduos”.
Com base neste panorama, o programa de extensão comunitário de
atividade física voltado à população idosa, o assim denominado Projeto Fênix –
Terceira idade com Qualidade, foi implementado nas Faculdades Integradas de
Guarulhos (atual Unimesp), no ano de 1998 sendo encerrado no ano de 2005
quando da criação da Faculdade da Idade da Razão na Instituição.
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Com efeito, o Projeto foi elaborado com a preocupação de que este
segmento populacional que vinha aumentando ao longo das décadas segundo
Fundação SEADE (1990), necessitaria de maiores investimentos na área da
saúde, educação, cultura, condições favoráveis de vida, trabalho, políticas
públicas preventivas, estudos e pesquisas para assim, poder suprir as futuras
demandas sociais em relação ao envelhecimento populacional.
Conforme a sua idealizadora, a explosão demográfica prevista para a
virada do século XX traria como conseqüência uma pressão crescente sobre a
sociedade quanto as demandas específicas que esta população apresentaria,
ocasionando uma concorrência direta com os demais segmentos etários que, por
sua vez, também eram carentes de demandas e que estariam longe de ser
solucionadas.
Em sua proposta de implantação, consta que o Projeto Fênix foi elaborado
para atender as três vertentes de trabalho: o ensino, pesquisa e extensão. Sobre
o ensino, a presença de idosos dentro da Faculdade contribuía para o incremento
da formação profissional dos graduandos em Educação Física em um laboratório
prático de atividades, visando a percepção do processo de envelhecimento como
um todo e não apenas na aplicação prática de atividade física.
No que concerne à pesquisa, o documento original de implantação não dá
indícios sobre a organização de um grupo de estudos e uma linha de pesquisa
adotada, unicamente faz menção sobre a contribuição de suas atividades para a
construção de conhecimentos em Gerontologia relacionados à Educação Física,
no sentido de poder contribuir para as futuras demandas sociais11 em relação ao
processo de envelhecimento.
A adoção de um grupo de estudos voltados à produção científica só passa
a vigorar e a constar como um objetivo efetivo no Projeto a partir do ano de 2004.
Participavam desses encontros semanais a coordenação, monitores, estagiários
e voluntários que atuavam diretamente com a população idosa no intuito de
11 “futura demanda social”: estaria relacionada a falta de conhecimentos da população sobre o processo de envelhecimento que, com a explosão demográfica prevista para a virada do século XX estaria despreparada para lidar e compreender as necessidades reais dessa população.
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discutir e compreender o processo de envelhecimento em busca de uma maior
qualificação profissional.
Quanto à atividade de extensão, o Projeto Fênix fazia parte de um projeto
maior voltado ao bem-estar da população guarulhense, relacionado
especialmente aos segmentos menos privilegiados, atendendo num primeiro
momento às crianças carentes, aos deficientes físicos e, por último, aos idosos.
Neste segmento, a população a ser atendida inicialmente teria a idade
superior a 50 anos (apesar de ainda serem ativos economicamente e deterem
autonomia), pois havia a intenção de preparar esta fatia da população para a fase
de transição para o envelhecimento, através de atividades que poderiam vir a
tornar este momento menos agressivo e traumático.
Além do requisito idade, os idosos selecionados, após apresentarem
atestado médico, anamnese (recordatório sobre o status de saúde) e
preencherem um termo de responsabilidade, eram submetidos a avaliações
motoras, afetivas e sócio-demográficas, inicialmente com intuito de acompanhar a
evolução do trabalho desenvolvido e, posteriormente, no ano de 2004, visando
nortear a elaboração de pesquisas científicas e traçar novas estratégias de
trabalho.
A base do Projeto era formada pela oferta de atividade física terrestre e
aquática divididas inicialmente em três sessões semanais (segundas, quintas e
sábados), passando, no ano de 2004, para duas vezes por semana (segundas e
quintas-feiras), uma hora por sessão. Os idosos estavam divididos em três
turmas (13:50, 15:00 e 16:00 horas), que eram compostas em média por trinta e
cinco alunos. As demais atividades, como palestras, aulas teóricas, projeção de
filmes, passeios, entre outras, eram concentradas dentro da grade de atividades
oferecidas para que os alunos pudessem se engajar em outras atividades dentro
e fora da Instituição.
Devido a baixa rotatividade das turmas e uma grande lista de espera, a
capacidade anual de atendimento variava entre cento e três e cento e quinze
idosos, fazendo com que a idade mínima para ingresso passasse de cinqüenta
anos em 1998 para sessenta anos no ano de 2004.
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O espaço físico para o desenvolvimento das atividades compreendia sala
de aula - para reuniões e aulas teóricas; sala de ginástica – para as atividades
semanais; quadra coberta e externa – para caminhadas e jogos coletivos; piscina
- para hidroginástica; pista de atletismo – para caminhadas; laboratório de
avaliação física; anfiteatro - para palestras e projeção de filmes.
Apesar desta estrutura, havia o desejo de fornecer transporte; assistência
social; exame médico e a interação com os outros cursos oferecidos na
Instituição. Desejos que, infelizmente, não foram concretizados.
Utilizando como base de seu referencial teórico, os dados fornecidos pela
Fundação SEADE do ano de 1990 e da Organização das Nações Unidas do ano
de 1985 sobre a perspectiva do envelhecimento da população idosa brasileira no
âmbito demográfico, político, econômico e social e, levando em consideração a
diminuição do tempo livre das pessoas mais jovens para com os idosos (devido a
sua intensa atividade econômica), os objetivos traçados para o programa
visavam:
1. Qualificar os futuros profissionais de Educação Física para que possam
atuar junto a esta população;
2. Proporcionar aos participantes atividades e conhecimentos que
possibilitassem viver esta fase da vida com maior qualidade, maior
autonomia e satisfação, produzidos através do sentimento de
produtividade e a efetiva inserção na sociedade como cidadão ativo e
participativo que levaria a uma melhor perspectiva para a sociedade futura;
3. Desenvolver atividades físicas, sociais e culturais para buscar preencher,
de forma produtiva, as carências destas pessoas, visando preservar por
maior espaço de tempo a autonomia, saúde, integração social,
produtividade e participação política e social;
4. Instrumentalizar adultos e idosos com conhecimentos referentes ao
processo de envelhecimento através da troca de experiências, discussões,
convívio com indivíduos de mesma faixas etárias para tornar essa fase de
transição menos agressiva e traumática, diminuindo a sensação de
solidão, abandono e inutilidade que acometia essa faixa etária.
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5. Favorecer a manutenção e/ou melhoria das capacidades funcionais e
motoras.
Com essa descrição, procurei apresentar a estrutura do Projeto Fênix
levantando algumas possibilidades que parecem ter norteado as suas ações,
além da preocupação sócio-econômica incidente sobre a população idosa, como
a perspectiva de saúde, autonomia e Promoção da Saúde implícito nessa
proposta de atividade física.
Portanto, pretendo prosseguir com essa análise a partir do que ficou
explícito e, também, implícito no procedimento de descrever o Projeto. Por
exemplo, questiono qual teria sido a perspectiva filosófica de saúde, autonomia e
Promoção da Saúde que o norteou? Como as divergências e convergências
conceituais sobre essas perspectivas influenciaram o direcionamento de suas
práticas? Sobre esse contexto, acredito que o fato de ter vivenciado o Projeto
Fênix como docente, participante do grupo de estudos e ter contribuído para a
construção das atividades elaboradas, possuo ferramentas suficientes para uma
análise mais profunda na tentativa de colaborar com a reflexão sobre as
implicações que o desacordo entre proposições e ações têm sobre os mais
interessados, os participantes idosos.
4.2 Análise documental
Para discorrer sobre a fundamentação teórica que dava suporte ao Projeto
Fênix, em relação a visão de velhice e as perspectivas de saúde, autonomia e
Promoção da Saúde, se faz necessário compreender como tais perspectivas
aparecem no contexto teórico desse Projeto que, por sua vez, encontra-se
dividido em dois períodos: implantação e primeira coordenação (1998 a 2003) e
fase de transição de gestão e, segunda coordenação (2003 a 2005). E, para
tanto, analisei os documentos de implantação; planos de aula (relatórios
semanais); relatório semestral das atividades realizadas; proposta pedagógica;
trabalhos científicos; avaliações sócio-demográficas e anamneses.
Quanto a visão de velhice no contexto do Projeto Fênix, a análise
documental, possibilitou visualizar em parte a construção de certos
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posicionamentos teóricos sobre o processo de envelhecimento tanto no âmbito
biológico quanto no social.
Segundo Debert (1999), a velhice seria uma categoria socialmente
construída que faz distinção entre os fatores biológicos do ser humano e os
fatores sociais e históricos que norteiam essa fase da vida – pode-se considerar
que o envelhecer, nesse sentido, tanto para quem envelhece quanto para quem o
assiste, possuiria formas diferenciadas de percepção e vivência.
Tendo como base esse contexto, pude notar a clareza de tal distinção no
conteúdo teórico da proposta de implantação do Projeto Fênix. Só que ao
contrário de outras propostas de atividade física analisados para compor esse
estudo e ampliar conhecimentos, a questão biológica prima em maior parte com
justificativa de implantação de uma intervenção, embora no caso do Projeto Fênix
a necessidade de uma intervenção biológica é construída através da percepção
de que os fatores sociais e históricos incidentes sobre essa população
influenciam diretamente o status de saúde e a qualidade de vida da população
idosa brasileira.
Tal indicação de cunho social e histórico, pode ser observado quando sua
organizadora descreve que “o brasileiro, na sua grande maioria, além dos
problemas comuns do processo de envelhecimento [...] viveu a sua juventude e a
sua fase adulta em condições desfavoráveis, que tendem a deteriorar-se ainda
mais na velhice” ou quando refere-se a permanência do período de saúde e
autonomia de um indivíduo que, “... poderá ser maior ou menor, dependendo do
acesso que este tenha, ou não ao sistema de saúde, às condições mais
satisfatórias de vida e de trabalho”.
Graças a essa observação, o direcionamento de políticas públicas como
metas “preventivas” que visassem investimentos em educação, cultura, melhores
condições de vida e trabalho seriam cruciais para evitar em um futuro próximo,
um colapso social, principalmente em relação ao aumento demográfico previsto
para a população idosa que, com a virada do século XX, representaria um
contingente de quatro milhões de idosos a mais no Brasil, isto é 8,6% a mais em
relação ao ano de 1991 (BERQUÓ,1999; IBGE, 2001).
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Até aqui é possível visualizar parte dos argumentos utilizados para a
construção de uma visão sobre a velhice que estaria relacionada à realidade
social brasileira. Mas, dentro desse contexto, sua organizadora faz menção sobre
“algumas situações típicas” atreladas à condição de velhice como: a
categorização de idade utilizada para estabelecer o período em que um indivíduo
se torna velho que, no caso do Brasil - país classificado como subdesenvolvido
na década de 1990, compreendia a idade de sessenta anos, em contrapartida
aos países desenvolvidos, com idade superior a sessenta e cinco anos.
Nesse sentido, a categorização da idade também serviria como um
marcador social do período em que se encerra a atividade econômica dessa
população, como a fase de perda de autonomia em função da saúde física e
mental e como o período em que a dependência de terceiros para realização de
atividades rotineiras surgem.
Conseqüentemente, os “estereótipos” atrelados à condição de velhice
passam a ser considerados, no enunciado da proposta de implantação do Projeto
Fênix, como pode-se observar no trecho extraído de seu documento: “serão
atendidos adultos a partir de cinqüenta anos e mais, pois acreditamos que essa
camada da população, apesar de ainda ser economicamente ativa e ter
autonomia, deve ser preparada para a terceira idade, instrumentalizando-se para
que essa transição seja menos agressiva e traumática”.
Tal indicação também pode ser encontrada na literatura da época como
nos trabalhos de Brink, (1990) e Santos (1990), que apontam a necessidade de
intervir na fase pré-aposentadoria para amenizar o sentimento de perda oriundos
da velhice e aposentadoria.
Outros exemplos, que indicam a preocupação com os estereótipos que
acometem essa população, podem ser visualizados no contexto desse
documento como: a formação de grupos sociais para, a “diminuição da sensação
de solidão, de abandono e de inutilidade que acomete essa faixa etária”
demonstrando a realidade da década de 1990; nos temas de cunho social,
escolhidos para as palestras e projeção de filmes; nos relatórios semanais de
aula com a descrição de atividades visando socialização dos alunos.
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Só a partir da descrição da problemática social, incidente sobre a
população idosa brasileira e de sua influência sobre o status de saúde e
autonomia de um indivíduo, que encontrei uma breve menção sobre a
perspectiva biológica de trabalho a ser desenvolvido entre os anos de 1998 a
2002 no sentido de ser um dos componentes a ser desenvolvido dentro dos
objetivos traçados.
Mas, na adenda12 desse documento do ano de 2003, o enfoque biológico
e seus benefícios passam a constar e a primar como objetivos dessa proposta,
visando: “a manutenção ou melhoria das capacidades funcionais,
cardiovasculares, respiratórias, articulares e de coordenação motora. Essa
indicação pode ser verificada no direcionamento prático de suas atividades na
descrição dos planos de aula (relatório semanal) que, confirmam um enfoque
mais biológico do Projeto em contrapartida ao seu período de implantação e
primeira coordenação.
Em síntese, a visão de envelhecimento no contexto teórico do Projeto
Fênix, entre 1998 a 2002, vislumbra essa fase da vida como passível de
produção e aprendizagem e, por esse motivo, havia o desejo de instrumentalizá-
los com conhecimentos e troca de experiências sobre essa fase da vida, no qual
os benefícios proporcionados pela prática de atividade física seriam coadjuvantes
de um desejo maior de torná-los mais ativos e participativos socialmente.
Entretanto, apesar da manutenção desse posicionamento quanto a uma
visão sobre o processo de envelhecimento, essa concepção assume outro
contexto no ano de 2003 quando a nova coordenação acrescenta uma adenda ao
documento de implantação do Projeto que, discorre sobre as novas metas e
objetivos a serem realizados. Nesse sentido, os objetivos traçados divergem do
posicionamento descrito sobre o envelhecimento em que, a prática de atividade
física deixa de ser um “componente” e passa a ser “foco principal” de atenção.
Essa transição pode ser observada nos objetivos descritos nos planos de
aula focados em sua maior parte ao desenvolvimento da capacidade funcional,
12 “Adenda”: do latin addenda; substantivo feminino : o que se ajunta a uma obra para completá-la, o que acrescenta para complementar, suplemento, apêndice (PRIBERAM -DICIONÁRIO ON-LINE) disponível em: http://www.prieberam.pt/dlpo/dlpo.aspx).
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motora e no desejo de socializá-los. Apesar das reuniões do grupo de estudo e
atividades educacionais e culturais permearem outras vertentes do processo de
envelhecimento não apenas o biológico, essa vertente biológica primava em
nossas aulas.
Essa constatação me fez refletir sobre a diferença que existe em afirmar
que o processo de envelhecimento é passível de realizações e reverter essa
afirmação em ações condizentes a esse desejo. Se o grupo de profissionais que
atuava no Projeto Fênix entre os anos de 2003 e 2004, não vislumbravam o
envelhecimento como uma etapa da vida constituída por perdas, incapacidades e
dependência, por que o direcionamento prático de nossas atividades mostrava o
contrário?
Será que apesar de todas as nossas discussões sobre a abrangência do
processo de envelhecimento, atuávamos com base no que acreditávamos ser o
melhor para essa população? Nesse sentido, teria a concepção individual de
cada profissional sobre a velhice, imperado durante a elaboração das atividades?
Que implicação essa divergência trazia ao Projeto Fênix? Estes são
questionamentos que gostaria de responder ao longo desse capítulo.
Dando continuidade a essa análise, passarei a discorrer sobre a
perspectiva de saúde e a indicação de ações que compõe o âmbito da Promoção
da Saúde adotada no contexto teórico do Projeto Fênix.
Em relação à saúde, sua organizadora, tendo por base os dados obtidos
pela Fundação SEADE de 1990, deixa claro que o status de saúde de um
indivíduo, estaria relacionado a vários fatores e, cita como exemplo desse
posicionamento: “as condições de uma vida inteira de trabalho e existência
desfavoráveis que, em um futuro próximo, viriam a influenciar na qualidade do
processo de envelhecimento de um indivíduo, bem como na sua condição física e
mental”.
De tal modo o status de saúde e a autonomia de um indivíduo, estariam
relacionados as condições de vida, trabalho, bem como ao acesso à educação e
à saúde, sendo necessário para tanto “políticas públicas” que permitissem suprir
tais demandas para que, em um futuro próximo essa população tivesse a
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manutenção e/ou um incremento na qualidade de seu processo de
envelhecimento. Um conceito de saúde nesse sentindo ultrapassaria a atenção
na doença, vislumbrando a saúde como um conjunto de valores como paz,
saúde, educação, eqüidade, entre outras, assim como podemos observar na
Carta de Ottawa (OPAS, 2002a).
Nesse sentido, uma perspectiva coerente com as ações que compõem a
Promoção da Saúde, cabem a descrição do Projeto Fênix que, apresenta
coerência entre o enunciados de sua proposta (intenções e justificativas) como os
objetivos propostos.
E, para ilustrar essa indicação citamos como exemplo, o objetivo principal
do Projeto, que visava proporcionar aos seus participantes atividades e
conhecimentos que possibilitassem viver esta fase da vida com maior qualidade,
maior autonomia e satisfação. Pois, conforme sua organizadora “o sentimento de
produtividade e a efetiva inserção na sociedade como cidadão ativo e
participativo” faria a diferença, por levar essa população a uma melhor
perspectiva de vida para uma sociedade futura no qual a população idosa seria
numericamente representativa.
Isto é, para quem envelhece, uma intervenção voltada ao processo de
fortalecimento de suas potencialidades proporcionaria além de uma perspectiva
melhor de vida no decorrer de seu processo de envelhecimento, diminuiria seu
grau de dependência em relação a população mais jovem, que segundo a
organizadora do Projeto, cada vez mais em decorrência de sua atividade
econômica, vinha diminuindo o seu tempo livre para lidar com essa população.
Outra referência estaria na proposta de instrumentalizar adultos e idosos
com conhecimentos referentes ao processo de envelhecimento através da troca
de experiências, discussões, convívio com indivíduos de mesma faixa etária para
tornar essa fase de transição menos agressiva e traumática, diminuindo a
sensação de solidão, abandono e inutilidade que acometia essa faixa etária na
década de 1990.
Assim sendo, parece que o direcionamento pedagógico do Projeto Fênix
estaria pautado dentro de uma pedagogia crítica, pois pode-se observar tanto no
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enunciado de sua proposta quanto nos objetivos descritos, o desejo de discutir e
trocar conhecimentos e experiências sobre o processo de envelhecimento com
base na realidade vivida por essas pessoas na década de 1990. Entretanto, como
o enunciado dessa proposta não apresenta uma descrição direta de tal
proposição e sim, indicações condizentes com uma pedagogia crítica, esse
direcionamento pedagógico, só poderá ser confirmado através da análise de
discurso da entrevista realizada com suas coordenadoras.
Seguido essa seqüência procurei referências quanto a utilização do termo
autonomia, encontrando três referências, a primeira vêm descrevendo a realidade
social brasileira e a falta das condições favoráveis de vida que acabam por
influenciar o futuro de quem irá envelhecer, no qual um indivíduo poderá se
“manter sadio e autônomo, dependendo do acesso que este tenha, ou não, ao
sistema de saúde e à condições mais satisfatórias de vida” como o acesso à
educação e cultura. Desse modo, a autonomia estaria relacionada ao poder que
um indivíduo tem em gerir a sua vida.
A segunda referência “proporcionar atividades e conhecimentos que
possibilitem viver essa fase da vida com maior qualidade, maior autonomia e
satisfação”, da forma com que é colocada, poderia indicar tanto a dependência
motora quanto o fortalecimento da autonomia, porém o complemento desse
objetivo que visa “produzir o sentimento de produtividade e efetiva inserção na
sociedade”, volta a utilização desse termo ao fortalecimento da autonomia dos
indivíduos.
Em relação a terceira referência, que aparece na indicação de “atividades
físicas, sociais e culturais que busquem preencher as carências (demandas)
dessa população, visando preservar por maior espaço de tempo a autonomia,
saúde, integração social, produtividade e participação política e social” - o termo
autonomia nesse contexto, também faz menção ao fortalecimento das
potencialidades individuais porque, durante descrição do Projeto Fênix, sua
organizadora deixa claro a diferença da dependência motora e do exercício da
autonomia de um indivíduo.
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Já em relação a adenda introduzida no documento original de implantação
do Projeto Fênix no ano de 2003, não encontrei referências sobre o termo
autonomia e o mesmo se repetiu na análise dos planos de aula (relatórios
semanais) e nos três trabalhos produzidos sobre o Projeto.
Em suma, a fundamentação teórica que dava suporte ao Projeto Fênix em
relação a visão de velhice e as perspectivas de saúde, autonomia e Promoção da
Saúde, necessárias para compreender como tais perspectivas apresentavam-se
no direcionamento prático de suas atividades encontra-se dividido entre as duas
gestões ocorridas ao longo do Projeto de 1998 a 2004.
Apesar de ambas as gestões utilizar a mesma base teórica, observei que
entre os anos de 2003 e 2004, essa base teórica, passou a divergir em relação a
adenda que descreve novas metas e acrescenta novos objetivos. Isto é, as ações
que estariam coerentes com a perspectiva da Promoção da Saúde no período
anterior são substituídas por uma perspectiva mais preventiva.
Apesar da amplitude das discussões realizadas no grupo de estudo e do
direcionamento das atividades educacionais e culturais que visavam contribuir
para um maior entendimento sobre o processo de envelhecimento, essa
divergência pode ser observada na descrição dos planos de aula, em que a
atividade física e seus benefícios fisiológicos passam a primar na descrição de
suas atividades.
Um exemplo claro dessa predominância, ocorre no segundo semestre do
ano de 2004. Tendo por base as discussões realizadas com os alunos na reunião
semestral de avaliação das atividades, identificou-se a falta de motivação do
grupo para as atividades até então realizadas. Em virtude disso, surgiu o
entendimento de que o Projeto Fênix deveria passar por uma reestruturação tanto
de seu conteúdo prático quanto teórico.
E, para tanto, as atividades foram divididas em três modalidades distintas
(esporte coletivo com bola, atividades recreativas e expressão corporal) como
intuito proporcionar novas experiência e motivar os alunos através de atividades
pouco desenvolvidas – essa foi uma medida paliativa para atender de imediato o
desejo dos alunos, pois para reestruturarmos o Projeto como um todo
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demandaria tempo e amplas discussões, que não foram concluídas devido ao
encerramento do Projeto Fênix na Faculdade.
Enquanto sua primeira gestão visava instrumentalizar os idosos através de
discussões e troca de experiências para o fortalecimento de sua autonomia que
nos dá a possibilidade de que um pedagogia crítica tenha sido utilizada para
tanto, a segunda gestão possuía a mesma intenção, mas valendo de minhas
observações como docente e após analisar todas as descrições das atividades
desenvolvidas, e os planejamentos semestrais, observava-se muito mais a oferta
de informações diversificadas sobre o processo de envelhecimento, do que ações
que visassem o fortalecimento da autonomia desses idosos.
Contudo, em alguns momentos, essa característica se invertia como nas
reuniões semestrais realizadas para discutir o planejamento até então realizado,
que geravam um grande debate sobre a prática de atividade física, sobre os
problemas sociais e, com efeito, o grupo se organizava partilhando suas
informações e experiências na busca de soluções aos problemas expostos.
Outro momento de destaque em relação ao fortalecimento das
potencialidades individuais era proporcionado por uma das monitoras que
trabalhava no intuito de instrumentalizar a sua turma para a prática consciente de
atividade física. Os demais monitores, como eu, ofertávamos informações sobre o
conteúdo das atividades, mas essa monitora, além das informações, trabalhava
um conteúdo teórico e prático diferenciado, construindo conceitos e não apenas
transmitindo-os.
Como o Projeto Fênix no ano de 2003, estava iniciando o seu grupo de
estudos sobre o envelhecimento, posso afirmar que tal posicionamento veio em
decorrência de discussões anteriores realizadas no grupo de estudos sobre
envelhecimento da Universidade de São Paulo – USP no qual essa monitora
participava a um ano.
Essas observações só foram possíveis porque no ano de 2004 eu estava
engajada em outro grupo de estudos que me fez refletir sobre outras vertentes de
trabalho em relação a população idosa e, nesse sentido, conceitos como saúde,
autonomia e Promoção da Saúde foram ampliados e me deram subsídios para,
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elaborar posteriormente esse estudo e tentar responder porque tais conceitos
deixam de ser ampliados ou divergem dentro do enunciado de uma proposta de
atividade física.
E, com intuito de complementar as informações colhidas nessa análise
documental passaremos a discorrer sobre a análise de discurso dos atores que
deram vida ao Projeto Fênix.
4.3 Coordenadoras do Projeto Fênix: análise dos discurso 4.3.1 Caracterização dos sujeitos
Sujeito A (SA)
Mulher, profissional de Educação Física, formada em 1974, com mestrado
em Educação, organizou em 1997 o documento que daria início, no ano
subseqüente as atividades do Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade.
Atuou à frente desse Projeto como coordenadora, entre os anos de 1998 a
2002.
Sujeito B (SB)
Mulher, profissional de Educação Física, formada em 1995, com mestrado
em Educação, participou como observadora das atividades realizadas no Projeto
Fênix, no segundo semestre de 2002 (período de transição de gestão), atuou à
frente desse Projeto como coordenadora, entre os anos de 2003 à 2004. 4.3.2 Caracterização dos temas
A abordagem dos temas, será realizada a partir de seis enfoques: (1)
Origem do Projeto Fênix – discorre sobre a idéia inicial e aprovação das
atividades; (2) Interesse em trabalhar com a população idosa – visão de
envelhecimento: que trará a idéia de como uma concepção de velhice era
trabalhada dentro do Projeto Fênix; (3) Perspectiva de saúde – aborda a
percepção individual do que seria saúde para as entrevistadas; (4) Ações que
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compõem uma perspectiva de trabalho pautado no âmbito da Promoção da
Saúde – discute a coerência e/ou a falta desta no direcionamento das atividades
sobre as ações que compõem o âmbito da Promoção da Saúde, bem como
identificar o conceito de autonomia a partir da percepção das entrevistadas e (5) Ensino - quais eram as prioridades em relação a orientação pedagógica de
monitores, estagiários e voluntários sobre o processo de envelhecimento e no
direcionamento prático das atividades.
Origem do Projeto Fênix:
Em relação a origem do Projeto Fênix, apenas SA discorreu sobre o
processo de criação e aprovação do Projeto, que surgiu do desejo do
coordenador do curso de Educação Física das Faculdades Integradas de
Guarulhos, em desenvolver um trabalho voltado à terceira idade, que atendesse a
comunidade local. SA coloca que a partir de uma conversa informal, ela se
ofereceu para montar a matriz do Projeto elaborado em 1997 e deferida no ano
posterior.
Interesse em trabalhar com a população idosa: visão de envelhecimento
Sobre esse tema, observei que o desejo da coordenadora, em participar
da elaboração do Projeto, vinha de sua experiência pessoal no trato com seus
familiares – pais idosos e uma avó com quase cem anos de idade. Dessa
realidade cotidiana, o questionamento sobre a perspectiva de vida de seus pais e
de sua avó eram freqüentes, e nesse contexto o que mais lhe chamava atenção
era o isolamento proporcionado pelo avanço da idade:
“....eu percebia que as pessoas se sentiam muito sozinhas
e tinham apenas o vínculo familiar, que muitas vezes se acabavam”. (SA)
A partir dessa percepção, SA passa a discutir outros fatores que justificam
um olhar crítico sobre o processo de envelhecimento, como a construção social
da velhice e a sua influência sobre a população mais jovem:
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“...na verdade, o jovem não conhece a velhice, existe uma
imagem do idoso sempre associada a uma visão frágil, incapaz, como
uma pessoa que não progride e que não avança, essa é a concepção que
o jovem tem do idoso, isso é culturalmente e socialmente colocado, e eu
sempre via essa dificuldade de aceitação do idoso inclusive em nossas
práticas [...] essa era uma colocação que eu discutia muito com os
estagiários do Projeto - o que de fato acontece com o idoso nesse
contexto social?”. (SA)
No caso do sujeito B, o seu interesse em desenvolver um trabalho voltado
ao processo de envelhecimento, veio do convite realizado pelo sujeito A. Até
então, SB nunca havia desenvolvido um trabalhado direto com a população
idosa. Com intuito de ampliar seus conhecimentos, SB se propôs a participar
como observadora do Projeto, durante o período de seis meses, (fase de
transição de gestão) antes de coordenar o Projeto Fênix. Segundo SB, a
experiência como observadora a fez desmistificar gradualmente alguns conceitos
sobre o processo de envelhecimento:
“Antes, eu não tinha noção de como era o trabalhar com a
população idosa, então para mim, o trabalho era uma coisa muito distante
da população mais jovem. Achei que teria muita dificuldade”. (SB)
“Mas, com a proposta do Fênix, eu comecei a ter uma
nova visão, no sentido da grandeza que seria uma população idosa
trabalhar com a atividade física, que embora tenham limitações, essas
limitações são superadas a partir do momento que tais atividades
comecem, ou seja, que o corpo comece a se exercitar”. (SB)
Dessa forma, o sujeito B complementa que o trabalho desenvolvido, com a
população idosa, a fez perceber o quanto seria importante pensar no
envelhecimento futuro, isto é: “O que eu posso fazer para que eu me torne uma idosa
com mais habilidade e com condições melhores de movimentação? O
quanto essa preocupação seria importante para o futuro de quem ainda
vai envelhecer?”. (SB)
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Em relação ao sujeito A, a percepção das questões sociais incidentes
sobre a população idosa, como a diminuição da perspectiva de vida, o isolamento
social e as relações inter-pessoais quase que restritas à família, foram focos
motivadores para o seu engajamento em uma proposta de atividade física voltada
à população idosa. Pois o grande desafio para o sujeito A, seria a estratégia
utilizada dentro do Projeto para estimular a manutenção dessas relações inter-
pessoais, já que grande parte dos alunos viviam “escravizados” por suas famílias,
tanto pelo lado financeiro, quanto o pelo lado emocional.
De fato, estudos como de Carstensen (1995), mostram que a redução das
interações sociais na velhice, são uma realidade que não provém apenas da
passagem do tempo, mas provavelmente de uma complexa rede de interações
representando as percepções passadas, presentes e futuras, bem como, as
oportunidades disponíveis no ambiente que satisfaçam as necessidades
humanas básicas, no qual o indivíduo deve contribuir para a manutenção de suas
relações inter-pessoais.
Já em relação ao sujeito B, o interesse em desenvolver um trabalho
voltado ao processo de envelhecimento, foi decorrente da desmistificação do que
era realmente trabalhar com a população idosa. Isto é, a quebra da visão de
fragilidade e impotência atribuída à condição de velhice. Essa fase de
desmistificação, que impulsionou SB para a realidade do trabalho a ser
desenvolvido com os idosos, é apontada por SA como primordial em relação a
oferta de atividade física, pois a visão que os jovens e a sociedade possuem dos
idosos, é estereotipada, e essa concepção negativa deveria ser modificada.
Na literatura, os estereótipos atrelados à condição da velhice, são
correntes a essa população desde a história antiga, como podemos observar em
um trecho da obra “República”, de Platão (428/7-348/7 a.C.) apud Zacharewizc
(2003) sobre o tema velhice: “...a maior parte de nós lamenta-se com saudades dos
prazeres da juventude, ou recordando os gozos do amor, da bebida, da
comida e outros da mesma espécie [...] alguns lamentam-se ainda pelos
insultos que um ancião sofre de seus parentes, e em cima disto entoam
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uma litania de quantos males a velhice lhes causa (ZACHAREWIZC,
2003:82)”.
Assim sendo, a visão de velhice construída ao longo dos séculos, pelo
menos nas culturas ocidentais, acaba por limitar um posicionamento realmente
positivo sobre essa fase da vida, encontrada na perspectiva da velhice bem-
sucedida, que diferentemente de outros modelos antigos e deficitários focalizados
nos deficits inerentes ao processo de envelhecimento, não exclui a possibilidade
de um envelhecimento positivo (CARSTENSEN,1995).
Nesse contexto, SB também aponta que a velhice não estaria apenas
relacionada ao status da saúde física, mas:
“...estaria relacionada com a saúde mental, então a partir
do momento que a atividade física me proporcione alegria e bem-estar,
esse bem-estar, refletiria no lado físico”. (SB)
Uma visão sobre o envelhecimento, dentro da composição do Projeto
Fênix, estaria para o sujeito A, relacionado à realidade social, incidente sobre
essa população estereotipada, mas passível de realizações. E para o sujeito B,
estaria no adiamento da dependência motora. Porém, ambas as coordenadoras,
apontam os estereótipos como uma problemática a ser vencida dentro da área de
Educação Física, que para SB, foi desconstruido ao longo de sua gestão frente
ao Projeto Fênix, e para SA, no decorrer de sua convivência com seus familiares.
Essa percepção individual tanto de SA quanto de SB eram repassados aos
monitores, estagiários e voluntários que atuavam diretamente com essa
população.
Perspectiva de saúde
Para o sujeito A, a perspectiva de saúde estava atrelada à realidade social,
incidente sobre a população idosa brasileira, como o isolamento social, a
dependência familiar, cerceio da liberdade de ir e vir, estereótipos atrelados à
condição de velhice e a perda dos papeis sociais e econômicos. Por esse motivo,
um programa de atividade física deveria ter:
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“...um lado de Saúde Pública, visando melhorar a qualidade
de vida dos indivíduos como um todo, mas o que seria qualidade de vida
dentro do contexto da Educação Física? Será que só o exercício físico
seria responsável por essa qualidade?”. (SA)
Para ela, o exercício físico era um componente importante, entretanto não
teria todo esse poder, isso porque: “...se as pessoas não possuírem no mínimo, condições de
resgatar a sua vida social [...] eu acho que as pessoas não sentiriam força
nem para buscar a atividade física para melhorar a sua condição de
saúde”. (SA)
Segundo Minayo et al. (2000), o patamar mínimo e universal para se falar
em qualidade de vida, diz respeito a satisfação das necessidades mais
elementares do ser humano, como alimentação, água potável, educação, saúde,
elementos matérias que gerem conforto, lazer, bem-estar, realização individual e
coletiva. No entanto, em sociedades ocidentais o fator desemprego, exclusão
social e a violência, de acordo com a autora, são reconhecidos como a negação
da qualidade de vida de um indivíduo.
Dessa forma, o sujeito A discorre que preocupar-se apenas com a oferta
de exercícios para melhorar a condição física dos idosos não bastaria, seria
necessário, para quando fosse o caso, “o resgate da auto-estima e do prazer de
viver”. A intenção de SA, era fazer com que os idosos incorporassem uma nova
perspectiva de vida, pautada em um envelhecimento positivo, independente de
seu status de saúde. Ela costumava dizer aos idosos que:
“...não importa quanto tempo eu vou viver, eu posso viver
só um dia, mas eu posso viver muitos anos e, o que eu posso fazer com
esses anos de vida que eu tenho pela frente?”. (SA)
Agora, em relação ao discurso do sujeito B, não obtive um posicionamento
claro sobre um conceito de saúde, apenas uma percepção a partir de sua
atuação frente ao Projeto Fênix, desde seu estágio de observação, que a fez
refletir sobre a condição real da velhice:
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“...eu passei a valorizar mais o momento em que eu estava
vivendo, enxergando aquilo que eu poderia fazer para que eu me torne
uma idosa com mais habilidade e com condições melhores de
movimentação. A saúde não é só física, ela estaria relacionada com a
saúde mental, então a partir do momento que a atividade física me
proporcione alegria e bem-estar, esse bem-estar, refletiria no lado físico”.
(SB)
Segundo SB, o trabalho desenvolvido, no projeto, teria por intuito fazer
com que os idosos percebessem que a velhice não era uma limitação e sim,
aquilo que a pessoa espera, pensa e percebe enquanto visão de mundo.
Em suma, a percepção de saúde para o sujeito B, encontra-se dentro de
uma perspectiva biológica-preventiva, na qual a condição motora e os aspectos
psicológicos, contribuem para aumentar o bem-estar e o sentimento de felicidade
desses indivíduos.
Para o sujeito A, o conceito de saúde estaria relacionado à reunião de
vários fatores como: a qualidade de vida antes e durante o processo de
envelhecimento que envolvem dignidade; bem-estar; o acesso a educação;
políticas públicas condizentes; entre outras. A atividade física nesse contexto,
seria um componente integrante dessa qualidade que, não poderia ser ofertada
apenas pela prática exclusiva de exercícios vislumbrado pelo status de saúde dos
indivíduos.
Do ponto de vista geral, esse conceito mais biológico adotado pelo sujeito
B, estaria relacionado a visão de saúde, a partir da perspectiva de doença
construída ao longo do desenvolvimento da Saúde Pública. E, vencer um
paradigma com essa magnitude, não seria uma tarefa fácil, pois aceitar que a
saúde pode se circunscrever a partir da doença e que a falta de trabalho, a
exclusão social, o acesso a educação, entre outras, são determinantes para o
status de saúde de um indivíduo, requereria, conforme Capra (1999) apud
Moreira (2001), uma expansão não apenas de nossas percepções, mas também
de nossos valores.
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Ações que compõem a perspectiva de um trabalho pautado no âmbito da Promoção da Saúde
As ações que compõem a Promoção da Saúde após divulgação da Carta
de Ottawa, apresentam algumas características específicas como: um conceito
de saúde vislumbrado a partir de um conjunto de valores; a necessidade de
interação com vários segmentos da sociedade (governo, mídia, profissionais
diversos, setores privados, entre outros); uma educação para a saúde pautada
em uma pedagogia crítica e, a autonomia vislumbrada no poder que um indivíduo
possui em agir com base em suas escolhas (OPAS, 2002a).
Em relação a um conceito de saúde vislumbrado a partir de um conjunto
de valores, o sujeito A, discorre sobre essa necessidade:
“A responsabilidade social de instituições, seja ela de
ensino ou empresas, como é o caso da Faculdade, engajada em
programas de extensão comunitária, passa a cumprir o seu papel quando
esse trabalho [...] realmente faz uma diferença na vida de uma
comunidade, [...] se houvesse a sensibilidade do ponto de vista das
instituições e dos órgãos públicos e, se a gente pudesse transferir essa
responsabilidade social para a formação das pessoas, principalmente em
relação ao envelhecimento, poderíamos proporcionar um maior
envolvimento de outros profissionais não só na área de Educação Física”.
(SA)
Agora, em relação a utilização de uma pedagogia crítica, o direcionamento
das atividades desenvolvidas no Projeto Fênix durante a gestão do sujeito A,
indicam a utilização dessa perspectiva pedagógica, iniciada em um primeiro
momento a partir da oferta de um ambiente em que os alunos se sentissem
acolhidos: “...não adianta nada entrar com o processo de malhação,
se as pessoas não estabelecerem vínculos. Se eu imagino que a
atividade física trás benefícios - que já foram comprovados por pesquisas
[...] para que os benefícios possam ocorrer eu preciso de regularidade na
participação dos alunos que, não seja apenas pela pressão de perder a
vaga”. (SA)
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Inserido nesse contexto, os monitores e estagiários eram orientados para
respeitar a realidade de seus alunos, com seus pontos fracos e fortes. Segundo
SA, “esse foi o embrião do Projeto”, pois “abraçar, ouvir, conversar, respeitar e
discutir” era fundamental. E a base das atividades desenvolvidas, eram
construídas através do que ela entendia ser importante ensinar e também, sobre
os relatos das experiências vivenciadas por seus alunos.
Já sobre um conceito de saúde vislumbrado a partir de um conjunto de
valores, o sujeito B, não discorre sobre essa perspectiva, apontando a saúde sob
um ponto de vista mais biológico, no qual corpo e mente devem ser trabalhados
para um mesmo propósito. Sobre a interação com os demais segmentos da
sociedade, tanto públicas quanto privadas, ela também não discorre sobre essa
vertente. Em relação a adoção de uma pedagogia crítica, não encontrei
indicações suficientes para afirmar a adoção de tal perspectiva, mas encontrei o
relato da importância na relação de tratamento entre professor e aluno, que
deveria primar no acolhimento, no toque, na correção e orientação, para que os
alunos tivessem prazer em retornar à próxima aula.
Tanto para SA quanto SB existia uma preocupação em criar vínculos para
a manutenção da adesão de seus alunos. Conforme Baltes e Silverberg, (1995) e
Teixeira (2002a), um ambiente acolhedor e seguro facilitaria à população idosa a
exploração do ambiente, o desenvolvimento da uma maior independência e a
criação de laços afetivos entre outras atribuições.
Embora, acolher e criar vínculos, não significa estar trabalhando dentro do
contexto de uma pedagogia crítica, características como: a valorização das
experiências individuais e do cotidiano do indivíduo; a interação entre profissional
e educando no mesmo nível de igualdade e a construção de conhecimentos
através do diálogo crítico, são essenciais nessa perspectiva (FREIRE, 1997 e
PEREIRA, 2003). Por esse motivo, as ações narradas pelo sujeito A,
assemelham- se a essa perspectiva pedagógica.
Portanto, para a conclusão dessa perspectiva de trabalho pautada no
âmbito da Promoção da Saúde, falta identificar como o conceito de autonomia era
utilizada pelas coordenadoras.
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Conforme Freire (1997); Pinheiro (2003) e Pereira (2003), o fortalecimento
da autonomia de um indivíduo, ocorre a partir do desenvolvimento das
habilidades individuais construídas através de uma pedagogia crítica, que não
ocorre da memorização ou da imposição, mas do nível crítico de conhecimento
obtido pelo processo de compreender, refletir e criticar.
Tendo isso em vista, observei que a pauta das discussões realizadas pelo
sujeito A, durante as atividades no Projeto, eram construídas primeiro com base
no que ela percebia ser importante discutir dentro do cenário social e em segundo
lugar, a partir do que os idosos relatavam de seu cotidiano, como por exemplo:
“...meu filho não admite que eu erre, a minha filha e meu
filho não admitem que eu não consiga mais fazer as coisas [...] meu filho
briga comigo se eu não fico cuidando do meu neto [...] meus filhos que
decidem se eu posso ou não namorar ”. (SA)
Segundo SA, essa estratégia pedagógica, gerava questionamentos dentro
do grupo sobre a competência individual de cada aluno orientando, para o ato de
“experienciar” antes que se afirmassem incompetentes para uma ação. O retorno
de que essas discussões surtiam o efeito desejado, vinham dos depoimentos dos
idosos e de seus familiares. Para SA, o ato de experienciar, causava ciúmes
principalmente das famílias, cujos idosos eram mais dependentes como podemos
observar nesse trecho da entrevista:
“...eles começaram a formar grupos de amigos [...] na
verdade eles pouco tinham amigos fora do elo familiar e, quando eles
começaram a estabelecer outros elos e a realizar outras atividades como
ir ao cinema, freqüentar a casa do amigo, coisas que eles não faziam, o
ciúmes aparecia. Algumas famílias, começaram a ter atitudes um pouco
mais ativas no sentido de se oporem as imposições dos filhos e maridos,
e os maridos diziam para nós, que éramos culpadas por conta dessa
rebeldia”. (SA)
O intuito de criar vínculos afetivos era utilizado como um meio para que os
idosos pudessem se expressar sem medo de uma recriminação, mas muitos,
segundo SA, não conseguiam fazê-lo e a estratégia era continuar estimulando-os.
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Um fato que se tornou foco de discussão e que SA frisava
constantemente, era a questão da dependência que eles criavam para a
realização de várias coisas, como por exemplo: o desejo em constantemente
passear, que conforme SA, tal constância era inviável dentro do Projeto,
conseqüentemente, o posicionamento adotado e narrado pela orientadora era:
“...Vocês não precisam só da gente para fazer as coisas
[...] sobre os passeios e excursões, vocês já sabem como fazê-lo, se
organizem. E foi o que eles fizeram [...] descobriram que eles não
precisavam pagar a passagem de ônibus [...] descobriram que existe
vários passeios culturais que não custam nada ou quase nada”. (SA)
Fazê-los experienciar contribuiu para que os alunos se organizassem em
outras atividades. Era visível o prazer que os alunos tinham em mostrar aos seus
familiares sua produção e o grande responsável por essa maior autonomia,
argumenta SA, foi o sentimento de produtividade desses alunos.
Indubitavelmente, o desejo de SA era fazer com que os idosos
acordassem para a vida, que se questionassem sobre o cerceio de sua liberdade
imposta por seus familiares e que pelo menos pensassem a respeito do quão
produtiva poderia ser a vida, independente de sua idade e de seu status de
saúde.
Já em relação ao sujeito B, a autonomia seria um componente
fundamental para o andamento das atividades desenvolvidas no Projeto Fênix,
que tinha por objetivo dentro desse contexto:
“...fazer com que os idosos desenvolvessem sua autonomia
a partir das atividades desenvolvidas no Projeto [...] a autonomia seria
fundamental para que eles pudessem evoluir, pois não adianta que os
idosos fiquem esperando que os outros façam alguma coisa por eles”.
(SB)
Tanto para os idosos quanto para os monitores, o sujeito B enfatizava a
liberdade de expressão: “...eu dava essa liberdade e priorizava que tudo fosse
discutido em grupo, eu queria que fosse uma troca de aprendizagem
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valorizando a experiência de cada componente do grupo [...] essa
liberdade, era importante para que ninguém ficasse chateado quando
discutíamos algum problema, idéias, sugestões e até nas correções dos
monitores no direcionamento das atividades”. (SB)
O sujeito B relata que quanto mais “se abria espaço para a autonomia”
mais retorno positivo ela obtinha dos idosos. Isto é, manifestações individuais
e/ou coletivas dos alunos quanto ao direcionamento das atividades, das
propostas de passeios, atividades culturais e até na modificação de exercícios.
Quanto a utilização de uma pedagogia crítica, durante as atividades que
proporcionassem o fortalecimento da autonomia desses alunos, o sujeito B não
discorre sobre essa possibilidade pedagógica, porém comenta sobre a falta de
“autonomia” de parte do grupo:
“Todo grupo tem as pessoas que conseguem expor mais
as suas idéias. Para alguns foi fácil, mas para outros, nem tanto. O que a
gente poderia ter feito para estimular isso? Talvez se a gente tivesse um
pouco mais de conhecimento para tal proposição”. (SB)
Discutir autonomia ou o poder de se auto-governar não seria uma tarefa
fácil, porque ao longo da construção desse conceito, noções diversificadas foram
atribuídas ao termo como: justiça; liberdade e independência (FARINATTI, 2000).
E essa atribuição pode ser observada no discurso de SB, que atribui a noção de
liberdade ao conceito de saúde.
Possuir liberdade, nesse sentido, não seria um indicativo para que um
indivíduo realmente se auto-governe, pois a liberdade não seria apenas a
ausência de obstáculos externos para fazermos o que queremos, ou seja, a
liberdade dependeria de circunstâncias pessoais, sociais, e ambientais.
(SCHENEEWIND, 2001).
Ensino: trabalho desenvolvido com os monitores
Em relação ao ensino, o direcionamento pedagógico desenvolvido no
estágio de monitoria segundo o sujeito A, deveria abranger três vertentes: (1)
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visão de envelhecimento (quebra de estereótipos); (2) interação professor-aluno
(valorização das experiências individuais) e (3) incentivo ao ato de experenciar.
Todo trabalho era iniciado pela revisão dos estereótipos atrelados à
condição da velhice, pois os monitores e estagiários chegavam ao Projeto com
uma percepção negativa sobre o processo de envelhecimento, baseado na
comparação das capacidades motoras entre jovens e velhos, acrescenta SA.
A estratégia utilizada para tanto era de situá-los na perspectiva real sobre
o que seria a velhice e posteriormente discorrer sobre as atribuições da
Educação Física em prol dessa população, cito como exemplo desse
direcionamento pedagógico, o trecho a seguir:
“...Quando se trabalha com crianças você sempre vê a
evolução, eles melhoram, eles crescem, ficam mais fortes. O idoso você
trabalha, trabalha e vê melhorias. Fazendo uma analogia, eu diria que o
idoso é como se colocar água sobre a mão, e por mais que você feche
seus dedos, a água vai escorrendo, isto é, eles vão perdendo. Existe uma
perspectiva de avanço, mas as perdas são inevitáveis. Então, qual é o
trabalho que nós profissionais de Educação física fazemos? Lutamos para
que esse processo de perda seja mais lento, mas ele é inevitável”. (SA)
O sujeito A, deixa claro que o processo de envelhecimento transita na
perspectiva de avanço e de perdas, nesse sentido, o profissional de Educação
Física deveria ultrapassar essa visão estereotipada de incapacidade, para que o
direcionamento prático de suas atividades não visasse apenas a independência
motora.
Já em relação a interação professor-aluno, a orientação era para que os
monitores e estagiários acolhessem os idosos com intuito de criar um ambiente
agradável e acolhedor, para que os mesmos tivessem prazer em retornar na
próxima aula. Isso garantiria a adesão dos idosos, contribuindo diretamente para:
“...melhorias de suas condições físicas [...] nós fazíamos
todo o trabalho de desenvolvimento das capacidades motoras e
funcionais como: desenvolvimento da capacidade cardiovascular;
musculação; coordenação; alongamentos; entre outras, mas a atividade
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física não bastava, por isso nós oferecíamos palestras regulares [...]
tentando dar aos idosos e monitores informações e conhecimentos sobre
temas variados”. (SA)
O sujeito A também ressalta que a obrigatoriedade de acolher os idosos,
com toque e com palavras afáveis, tinha como intuito não apenas criar vínculos,
mas reverter a aversão à pessoa idosa, pois em relato colhido por SA, alguns dos
monitores e estagiários se sentiam desconfortáveis ao tocar, abraçar e criar
vínculos com seus alunos, que aos poucos foi se modificando:
“...a visão dos monitores [...] foi se modificando ao longo do
tempo [..] o olhar para o idoso, como uma pessoa frágil, de vidro, que a
gente não pode fazer nada, foi substituída, bem como o receio de tocá-
los”.
O terceiro foco, visava orientar os monitores e estagiários para que
estimulassem os idosos a experienciar, aproveitar e investir em coisas novas
para que pudessem, quando fosse o caso, recuperar o seus sentimentos de
produtividade, pois para SA em relatos colhidos nas anamneses, os idosos
apresentavam baixa perspectiva de vida. E, por esse motivo, a estratégia
utilizada era de questioná-los para que ao menos pensassem a respeito de:
“Você já parou para pensar o que representa vinte anos na
vida de qualquer pessoa? O que você pode fazer com vinte anos a mais?”
Já em relação as reuniões pedagógicas, essas eram realizadas antes e/
ou após ao final das atividades. As pautas das discussões, giravam em torno do
que acontecia durante as atividade e sobre temas pertinentes ao processo de
envelhecimento. Quanto ao grupo de estudos, o sujeito A comenta que as
reuniões eram regulares, mas devido a indisponibilidade de tempo dos monitores
e estagiários, para além das seis horas semanais de atividades já realizadas, o
grupo de estudos ficou estagnado:
“... eu acho que o grupo de estudo tornou-se mais efetivo
quando o sujeito B assumiu [...] nós, na minha gestão discutíamos as
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atividades, as reações dos grupo, novas propostas, nós fazíamos leituras
para subsidiar o trabalho, mas como a gente queria estruturar primeiro o
Projeto, demoramos um pouco para dar o ritmo ao grupo de estudos”.
(SA)
Agora, em relação a gestão do sujeito B, sobre a perspectiva de ensino e
formação profissional, ela primava que seus monitores, estagiários e voluntários
investissem na interação professor-aluno, pois segundo suas observações, parte
dos idosos apresentavam uma carência afetiva e, nesse sentido, seria primordial:
“...ter um tratamento mais próximo e mais carinhoso com
os idosos, para que eles se sentissem acolhidos e ficassem bem com
eles mesmos [...] o retorno desse acolhimento era muito positivo,
mantínhamos a adesão e proporcionávamos um sentimento de bem-
estar”. (SB)
Dessa maneira, o sujeito B discorre que o fundamental não era apenas
transmitir as atividades, contudo a forma como elas eram trabalhadas seria
fundamental, afinal deveriam levar em consideração o “lado pessoal dos
indivíduos”. Seria importante acrescer a esse acolhimento outros complementos
que: “...dessem aos idosos um retorno do trabalho desenvolvido,
como: porque desse exercício; a importância de certos procedimentos; o
porque de avaliação física e nutricional [...] o partilhar dessas informações
contribuía [...] para que eles se sentissem queridos e tranqüilos em
relação ao trabalho desenvolvido ”. (SB)
Outro fator que era indispensável para o sujeito B, era a participação no
grupo de estudos e nas reuniões pedagógicas. Seria fundamental que o Projeto
tivesse uma aprofundamento teórico para basear o seu trabalho, pois conforme
SB: “...de nada adiantaria reproduzir o que cada um achava
interessante ensinar sem ter uma fundamentação teórica, pois nossa
proposta de trabalho seria superficial”.
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A idéia era buscar no grupo de estudos, procedimentos e metodologias
diferenciadas, que se revertessem em benefícios à população idosa assistida. Já
o objetivo das reuniões pedagógicas, segundo o sujeito B, além de discutir o
cotidiano das aulas e organizar o direcionamento teórico e prático das atividades,
visava atribuir responsabilidade aos monitores no planejamento semanal de suas
atividades no desenvolvimento e na busca de novas estratégias.
O sujeito B acrescenta que o planejamento das atividades em geral eram
bem democráticas, afinal levava em consideração todas as observações
realizadas pelos alunos nas reuniões semestrais de avaliação e por conta dessa
relevância, SB percebeu que existia a necessidade de reestruturar o Projeto
Fênix, mas a reestruturação que seria realizada no ano de 2005, não foi
concretizada devido o encerramento do Projeto e a implantação da Faculdade da
Idade da Razão na Faculdades Integrada de Guarulhos.
4.4 Discussão Geral
Com base na análise e interpretação proposta nesse estudo observei que
o Projeto Fênix durante a sua existência, independentemente de quem o geriu, foi
um programa de referência para a comunidade dos bairros próximos a
Faculdade Integrada de Guarulhos.
Cada coordenadora, dentro de suas possibilidades, com empenho e
criatividade, ofereceram em conjunto aos monitores, estagiários e voluntários,
atividades que visaram além da manutenção e/ou melhoria da capacidade
funcional e motora, a ampliação de conhecimentos sobre o processo de
envelhecimento, atividades de lazer e cultura, bem como o estímulo das
potencialidades individuais de seus alunos e, para tanto, utilizaram estratégias
semelhantes para a adesão de suas turmas, porém distintas no direcionamento
prático de suas atividades.
A partir dessa aparente semelhança entre os objetivos descritos em seu
documento de implantação e as ações que de fato foram empreendidas durante
as duas gestões existentes no Projeto Fênix, que observei a presença de
divergências quanto a percepção de velhice, conceito de saúde, autonomia e
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Promoção da Saúde na segunda gestão do Projeto, pois até então, sua estrutura
de trabalho apresentava-se coerente com a perspectiva da Promoção da Saúde
pós Carta de Ottawa.
Foi com base na observação de que a fundamentação teórica utilizada
pelas duas gestões do Projeto foi a mesma que passei a me questionar sobre o
quanto um posicionamento individual, poderia vir a influenciar o direcionamento
de atividades propostas à população idosa, como foi o caso do Projeto Fênix.
Pois, o grande problema desses posicionamentos estaria relacionado aos
valores e conceitos construídos ao longo do desenvolvimento de cada indivíduo,
que só podem ser modificados através da quebra desses valores e quebrá-los,
nesse sentido, não seria uma tarefa fácil. Porquanto valores e conceitos são
tecidos através da interação de vários fatores, que devem ser revistos em sua
totalidade antes que sejam ampliados ou modificados CAPRA (1999) apud
MOREIRA, (2001).
No caso de uma intervenção voltada à população idosa, o primeiro valor a
ser revisto seriam os estereótipos de incapacidade e dependência atrelados à
condição de velhice, construídos pela sociedade que, além de ditar regras e
comportamentos individuais e coletivos como o tempo para se casar; entrar na
faculdade; envelhecer e até se aposentar, espera a todo momento que a
população idosa se comporte como dependente, mesmo que não haja
necessidade para tal (BALTES e SILVERBERG, 1995),
Nesse sentido, o caminho para a quebra desses estereótipos no contexto
teórico do Projeto Fênix, estaria relacionado a quatro fatores: (1) reconhecimento
do público a ser assistido e quais eram suas necessidades e desejos; (2)
ampliação do enfoque biológico da Educação Física; (3) reconhecimento de que
os aspectos sociais, políticos e econômicos estariam diretamente relacionados ao
status de saúde dos indivíduos, (4) que os profissionais fossem capacitados para
trabalhar dentro de uma perspectiva de avanço, mas cientes que as perdas
seriam inevitáveis.
Dentro desse contexto, percebi que existe uma grande distância em
acreditar que o processo de envelhecimento é passível de desenvolvimento e,
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atuar com base nessa perspectiva, pois essa distância pôde ser observada no
Projeto Fênix entre os anos de 2003 e 2004. Isto é, o grupo de profissionais
possuíam uma visão positiva sobre o processo de envelhecimento, porém o
direcionamento prático de suas atividades focava-se nas questões biológicas e
na independência motora, por quê?
Talvez a resposta para tal indagação estivesse relacionada a falta de
aprofundamento das discussões em torno do processo de envelhecimento, ou no
posicionamento individual adotado de cada profissional sobre o que seria
importante a ele ensinar, ou ainda na característica mais biológica da área de
Educação Física.
Seguindo essa linha de raciocínio, procurei referências sobre o porquê
desse enfoque biológico dentro da Educação Física em relação à população
idosa e observei que a raiz dessa vertente, remonta ao período do Brasil-
República, que adotou as práticas sanitaristas da Medicina Social da época e
características como o abandono da subjetividade e o enfoque na doença
instalada, passaram a primar na Educação Física.
Tal característica, por sua vez, pode ser observada na produção literária
da área, nos trabalhos científicos produzidos e até nas propostas de atividade
física que em relação à população idosa, apenas em meados da década de 1990
passa ampliar esse enfoque mais biológico. (CASTELLANI FILHO, 1988b; FARIA
JÚNIOR et al., 2005a,b,c; MARINHO, 1943; SANTOS e WESTPHAL, 1999).
É importante ressaltar que dentro desse contexto, a área de Educação
Física não se circunscreve apenas na razão dos benefícios oriundos de estímulos
biológicos, mas representa um fenômeno complexo de dimensões múltiplas,
biológicas, sociais, psicológicas e culturais, nos quais o componente Educação se
faz presente (Mira, 2003),
Entretanto, apesar dessa abrangência, a sociedade e a mídia acabam por
estereotipar a área, simplificando-a na razão de causa e efeito, ou seja, a
Educação Física seria muito mais vislumbrada como provedora de saúde através
da atividade física, do que como uma área de produção de conhecimento e
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formação profissional (BAGRICHEVISKY E PALMA, 2005; LEFÈVRE, 1999;
MIRA, 2003; MOREIRA, 2001; WAISSMANN, 2003).
Dentro desse argumento, qual seria o objeto de estudo da Educação
Física? Seria prover saúde através do exercício? Quantos profissionais
influenciados por esse estereótipo acreditam que são provedores de saúde e
relevam que a área não se circunscreve apenas na vertente biológica?
Por esse motivo discutir, ampliar e rever conceitos individuais e universais
como o conceito de saúde e autonomia, deveriam constar na construção de uma
intervenção voltada à população idosa, para que a perspectiva de um trabalho
pautado no envelhecimento bem-sucedido não se encerre no enfoque biológico
como se o status de saúde e a independência motora fossem os únicos a
circunscrever a vida de quem envelhece.
Para a ampliação dessa discussão, busquei além do Projeto Fênix,
referências sobre programas de atividade física de universidades brasileiras,
tanto da década de 1990, período de implantação do referido Projeto, quanto da
atualidade, com intuito de verificar a ocorrência de tais divergências.
E notei que, nos programas baseados na perspectiva de um
envelhecimento bem-sucedido, a dificuldade de diferenciação das ações que
compõem uma atenção preventiva das que constituem o âmbito da Promoção da
Saúde, bem como o termo autonomia vinculado a independência motora.
Não posso afirmar que o conceito de saúde e autonomia não foram
discutidos e ampliados dentro desses programas e nem que não eram de
conhecimento de seus profissionais, mas posso afirmar que, dos vinte e um
programas de atividade física utilizados para compor essa discussão, apenas
dois programas discorrem sobre essa delimitação e quatro incluindo o Fênix,
deixam implícito tais perspectivas.
Segundo Czeresnia (2003), a dificuldade em se diferenciar a prevenção de
promoção da saúde, não deveria existir, pois a diferença entre ambas são
radicais e implicam em formas diferenciadas de operar as práticas em saúde.
Mas, apesar dessa radicalidade, essas duas vertentes seriam próximas por
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possuírem como base de suas ações, os mesmos conhecimentos e conceitos
clássicos em saúde.
Em síntese, conhecer a percepção sobre um conceito de saúde, dos
profissionais que atuam diretamente com essa população, seria um ponto de
partida para que tais divergências não ocorressem dentro de uma proposta de
atividade física.
Por esse motivo, entre os anos de 2003 e 2004 o direcionamento prático
das atividades desenvolvidas no Projeto Fênix deixou de atuar dentro da
perspectiva da Promoção da Saúde, não apenas pelo fato de divergir quanto a
perspectiva de saúde, mas por atrelar o conceito de autonomia a noção de
liberdade e independência motora.
É importante frisar que não basta ter liberdade para que um indivíduo
exerça o seu poder de auto-gestão, isso porque os alunos do Projeto Fênix
tinham liberdade para manifestar seus desejos e expressar suas opiniões, mas
aqueles que não articulavam bem, palavras e pensamentos, segundo depoimento
de uma das coordenadoras, não o faziam, por quê?. Porque não basta ter
liberdade se um individuo não pode controlar os eventos que a possibilitam –
dessa forma, a falta do poder de decidir, escolher e discernir, seriam
fundamentais para o exercício da autonomia desses indivíduos, que deveriam ser
estimulados para tal proposição através de uma pedagogia crítica.
Contudo, como garantir que um trabalho venha a se circunscrever dentro
de um ambiente crítico se no Brasil assim como em toda América Latina, essa
oportunidade culturalmente é pouco desenvolvida? (GALENO, 1987; LITVAK,
1990 apud CHAIMOWICZ, 1997).
Sobre essa vertente pedagógica, observei que apenas dois programas no
enunciado de suas propostas discorrem sobre a importância de uma pedagógica
crítica, pois os demais programas assim como o Fênix deixam implícito a
utilização dessa estratégia ou não fazem menção a ela.
A grande questão das divergências apontadas nesse estudo seria o
porquê de sua ocorrência nos dias atuais, já que os eventos históricos apontam
que, desde meados da década de 1990, as demandas necessárias à manutenção
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dessa população passam a ser valorizadas e discutidas em nossa sociedade; a
Educação Física brasileira amplia seu enfoque biológico no processo de
envelhecimento para as questões pedagógicas e da Promoção da Saúde; no
Brasil a Política Nacional do Idoso passa a incentivar a pesquisa, ensino e a
inclusão Gerontologia nas grades curriculares dos cursos de Educação Física,
entre outras (BRASIL, 1994; FARIA JÚNIOR et al., 2005a,b; ONU, 2000).
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5. Considerações Finais
Com esse estudo pude concluir que a elaboração de um programa de
atividade física voltado à população idosa, apresenta como característica os
valores e os conceitos individuais de quem o organiza e de quem o executa. Isto
é, o conteúdo das atividades desenvolvidas, poderia ser influenciado tanto pela
percepção de velhice que os profissionais possuem quanto pela fundamentação
teórica que estabelece suas diretrizes.
Já sobre o processo de envelhecimento estereotipado e as divergências
quanto ao conceito de saúde, autonomia e Promoção da Saúde, observei tanto
na análise Projeto Fênix quanto nos demais programas de atividade física
utilizados para compor esse estudo, que tais divergências, poderiam estar
relacionadas com falta de ampliação desses conceitos e/ou pela forma com que
estes, foram culturalmente construídos em nossa sociedade.
Dentro desse contexto, não poderíamos exigir que tais conceitos sejam
ampliados por todos indivíduos em sua essência, pois essa ampliação, requereria
a revisão de valores construídos por esses indivíduos ao longo de suas vidas e,
para tanto, o poder de discernir seria um item crucial para que essa ampliação
ocorresse. Isto é, vencer uma “consciência mágica” não seria para todos.
Mas, no âmbito científico essa parcimônia deveria ser aceita? Talvez, se
partirmos do princípio que nem no âmbito científico, exista a garantia de que a
produção de conhecimentos não esteja baseada nas representações coletivas do
mundo social dos próprios pesquisadores. Mas, acredito que essa brecha de
aceitação, não deveria ocorrer nas áreas que estão diretamente envolvidas com o
processo de envelhecimento como é o Caso da Educação Física.
Com esse estudo, também pude observar que existe um consenso dentro
da Educação Física sobre a ampliação do conceito de saúde e das ações que
compõem o ideário da Promoção da Saúde, pois foi possível encontrar essa
indicação implícita ou explícita nos programas utilizados para compor esses
estudo, porém parece-me que tais conceitos em alguns programas, apesar de
sua indicação, não foram incorporados em sua essência.
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Em suma, apesar de toda ampliação que área de Educação Física teve na
década de 1990 sobre as outras vertentes que concerne o processo de
envelhecimento, ainda hoje, pode-se observar a predominância do enfoque
biológico tanto no direcionamento prático área quanto na produção e divulgação
de conhecimentos. E, foi dentro deste contexto que notei a freqüência de
utilização do termo autonomia atrelado à condição de independência motora.
Portanto, para que divergências quanto a percepção de velhice, conceitos
de saúde, autonomia e Promoção da Saúde não ocorram dentro de uma proposta
de atividade física voltado à população idosa, seria necessário que a área de
Educação física, ampliasse as discussões em torno dessas perspectivas para
que dessa forma, possamos melhorar e/ou aumentar a qualidade das propostas
de atividade física, proporcionando um incremento na qualidade do processo de
envelhecimento da população.
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Anexo - I
AMC - Serviços Educacionais Ltda Rua Taquari, 546 - Mooca - São Paulo -SP CEP 03166-000 PABX: 6099-1999 - FAX: 6099-1692
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Autonomia e Saúde de Idosos Participantes de um Programa de Atividade Física
Eu,___________________________________________,idade (anos)____,sob
RG:______________,residente no endereço:___________________________
__________________________________________________________,tel( )
__________e-mail:___________________________, abaixo assinado, dou meu
consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário do projeto de
pesquisa supracitado, sob responsabilidade dos pesquisadores Maria Luiza de
Jesus Miranda e Ana Lúcia Lago Nakamura membros do curso de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Educação Física.
Assinando este Termo de Consentimento, estarei ciente de que: 1 – O objetivo deste estudo será averiguar, a partir da perspectiva teórica da Promoção da Saúde, as divergências e convergências conceituais de saúde autonomia e Promoção da Saúde no direcionamento das práticas de atividades físicas desenvolvidas pelo Projeto Fênix – Terceira Idade com Qualidade entre os anos de 2003 e 2004. 2 – Durante o estudo será aplicado entrevistas individuais semi-estruturadas com as organizadoras do Projeto Fênix. 3 – Obtive todas informações necessárias para assim, poder decidir conscientemente sobre a minha participação na referida pesquisa, bem como da possibilidade reduzida de riscos em minha participação.
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4 – Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa. 5 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo, as entrevistas gravadas em fita serão apagadas depois da transcrição. Os resultados gerais obtidos através da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos da pesquisa expostos acima, incluindo sua publicação na literatura científica especializada. 6 – Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do telefone (11) 6099-1665. 7 – Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Profª. Drª. Maria Luiza de Jesus Miranda, sempre que julgar necessário pelo telefone (11) ________. 8 – Este Termo de Consentimento possui duas vias, permanecendo uma via em meu poder e outra com o pesquisador responsável.
São Paulo, ____ de ________________ de ____________
_______________________________________________
Nome do voluntário _______________________________________________ Assinatura do voluntário
________________________________________________ Nome e assinatura do pesquisador responsável pelo estudo
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Anexo - II
Guarulhos, 06 de maio de 2005
Prezados Senhores,
Gostaria de solicitar a Direção Geral das Faculdades Integradas de
Guarulhos, autorização para utilizar o Projeto Fênix como referência para
elaboração de minha dissertação de mestrado que está sendo realizada na
Universidade São Judas Tadeu, sendo orientada pela Drª Maria Luiza de Jesus
Miranda.
Atenciosamente,
Ana Lúcia Lago Nakamura
Universidade São Judas Tadeu
prontuário: 200480642
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