Epicuro

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Concepções de Filosofia Moral HEDONISMO Profª Marina Santos Ying-Chen (Julia) Lin Golden Bug Hot Spring, Idaho

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Epicuro e o Hedonismo

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Concepções de

Filosofia Moral

HEDONISMO

Profª

Marina

Santos

Ying-Chen (Julia) Lin

Golden Bug Hot Spring, Idaho

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Onde reside a moralidade de um acto ?

• Na intenção de

quem o realiza

Éticas Deontológicas

- éticas formais:

Éticas do dever

• Nas consequênciasque resultam do

próprio acto

Éticas teleológicas

- éticas materiais:

Utilitarismo; Hedonismo.

KANT EPICURO

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Um dilema moral

É bom manter uma pessoa drogada para não sofrer?

É bom o uso de um suporte artificial de vida?

É legítimo prolongar a vida quando a doença é incurável?

Será preferível deixar a doença seguir o seu rumo?

Não seria melhor ajudar a pessoa a morrer?

É legítimo praticar a eutanásia se o doente a desejar?

Como agir? Qual é a decisão correcta?

Uma pessoa querida, com uma doença terminal, está viva apenas porque

o seu corpo está ligado a máquinas que lhe permitem sobreviver. As suas

dores são insuportáveis, pelo que tem de estar constantemente drogada.

Inconsciente, geme no sofrimento. Os médicos não podem curá-la.

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A pensar...

As coisas são boas porque nós as desejamos?

OU

Nós desejamo-las porque elas são boas ?

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Tipos de utilitarismo

Utilitarismo Clássico Utilitarismo de Preferências

CONSEQUENCIALISMO

HEDONISMO *

- Princípio da maior felicidade

- Regra da utilidade esperada

Hedonismo Quantitativo de Bentham

Hedonismo Qualitativo de Mill

Hedonismo de EPICURO *

ÉTICAS TELEOLÓGICAS

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Utilitarismo clássico

HEDONISMO = as coisas são boas porque nos

dão prazer, fazem-nos sentir bem.

UTILITARISMO: a felicidade é o bem último, o

fim que justifica os meios empregues para a

alcançar.

«A doutrina utilitarista consiste nisto: a felicidade é

desejável, e a única coisa desejável, enquanto

finalidade; todas as outras coisas são desejáveis como

meios para esse fim.» (John Stuart Mill, Utilitarismo , 1861)

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Utilitarismo clássico: teses

1. As acções são moralmente certas ou erradas somente em função das suas consequências.

(nada mais importa: “De boas intenções está o inferno cheio”)

2. Ao avaliar as suas consequências, só importa a quantidade de felicidade/prazer ou infelicidade/dor criada.

(tudo o mais é irrelevante: caridade, honra, amor...)

3. A felicidade de cada pessoa conta da mesma maneira.

=> as boas acções são as que maximizam a felicidade dosagentes ou produzem o maior equilíbrio possível entrefelicidade e infelicidade, sendo a felicidade de cada pessoacontabilizada como igualmente importante.

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O Utilitarismo clássico como hedonismo

Em que consiste o bem-estar ou felicidade de uma pessoa?

• Hedonismo: O bem-estar consiste unicamente no prazer e naausência de dor. As experiências aprazíveis são boas apenaspelo facto de proporcionarem prazer.

• Hedonismo quantitativo de Bentham: Cada um dos diversosprazeres e dores da vida das pessoas tem um certo valor que,em última análise, é determinado apenas pela sua duração eintensidade => cálculo da felicidade.

• Hedonismo qualitativo de Mill: Alguns tipos de prazeres são,em virtude da sua natureza, intrinsecamente superiores aoutros. Para vivermos melhor, deveremos dar uma fortepreferência aos prazeres superiores (prazeres que resultam doexercício das nossas capacidades intelectuais), recusando-nos atrocá-los por uma quantidade idêntica ou mesmo maior deprazeres inferiores (corporais).

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A ética de Epicuro• ÉTICA EPICURISTA

• Finalidade: viver segundo o princípio do prazer,para alcançar a felicidade.

=> a felicidade (eudaimonia) resulta da ausência dedor e uma mente imperturbável (ataraxia).

• Meios: remoção das fontes de medo e deperturbação, da angústia provocada pelaignorância; a ataraxia é alcançada pelacompreensão da verdadeira natureza das coisas.

• Incitou ao afastamento da vida pública e ao ingressonuma comunidade fechada de indivíduos cominteresses semelhantes =>criou o “Jardim” em Atenas.

• Devotou a sua vida à defesa da liberdade individual,baseada numa compreensão materialista da natureza.

• O seu Humanismo racionalista influenciou filósofosromanos, foi redescoberto no séc. XVII e mantém asua actualidade.

EPICURO

(341-271 a.C.)

Saber mais:

www.epicurus.info

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O contexto histórico de Epicuro:

Período Helenístico (c. 323-30 a.C.)•Declínio de Atenas (c. 404 a.C.)

•Ascenção da Macedónia:

•Filipe (m. 336) & Alexandre Magno

•Morte de Alexandre (323)

• [Aristóteles morre em 322]

•Helenismo*

•Alexandria como centro da cultura

•Fusão de povos

•Etoicismo & Epicurismo

•Religiões místicas

• Ascenção de Roma

•República romana (509-133)

•Colapso da República (133-30)

• Império Romano (30 a.C.- 180 d.C. )

* Período helenístico: Cosmopolitanismo-Instabilidade política, regimes monárquicos, expansão cultural;

-Valorização do indivíduo em detrimento dos ideais de cidadania;

- Reflexão em torno da alienação, fatalismo e virtude.

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• Tese: o verdadeiro bem consiste na procura do prazer.

=> a vida boa consiste na vida feliz para o indivíduo.

• É uma ética do prazer = Hedonismo (moderado)

• É uma ética do interesse próprio = Egoismo ético

(só o prazer ou dor do indivíduo conta, não as consequências para os demais).

• É uma ética material = Teleológica

(a moralidade dos actos reside numa finalidade exterior a alcançar: as coisas são boas ou más conforme proporcionem ou não prazer).

• Quanto menos desejarmos, mais facilmente ficamos satisfeitos.

• Só deveremos procurar obter um determinado prazer se nos for doloroso não o possuirmos («prazer em movimento»).

• O ideal de vida deve consistir em procurar os prazeres mais prolongados, subtis e espirituais.

• O objectivo é a ataraxia => paz absoluta e perfeito equilíbrio.

A ética de Epicuro

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Nesta obra, são tratados os 4 tópicos principais do

estoicismo: a morte; os deuses; o prazer; e a prudência.

Cada assunto é abordado com um misto de psicologia epragmatismo, reflectindo sobre aspectos relevantes para aactualidade, como por exemplo: a libertação do medo damorte, da ansiedade ou do desejo.

Epicuro distingue 3 tipos de desejos:

1. Desejos naturais e necessários (ex. comer, beber, dormir)

2. Desejos naturais mas não-necessários (ex. sexo)

3. Desejos «vãos e vazios» (ex. roupas sumptuosas, jóias). Uma vez que não há um limite natural para este tipo de desejos, podem tornar-se obsessivos e conducentes a resultados desastrosos/dolorosos. São fonte de inquietação.

Epicuro, Carta a Meneceu

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Duas máximas de Epicuro

«A morte não é nada para nós»

Influenciado pelo atomismo de Demócrito, crêsermos formados por um conjunto de átomos quese unem e, por fim, se dissipam: Assim, desde queexistamos, a morte não existe; e, quando a morteexiste, já não existimos nós.

=>Libertarmo-nos do medo da morte

A vida boa é uma vida de prazer.Uma vez que estamos condenados à não

existência, deveríamos tirar o melhor partido danossa única vida.

Afastarmo-nos da violência e incertezas da vidapública e recolhermo-nos em comunidadesprivadas com outros que pensem como nós: cria o“Jardim”.

Mas... desfrutar os prazeres com moderação, abem da nossa saúde.

O “Jardim” de Epicuro

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A prudência como virtude

• Prudência = desejo lúcido e racional, virtude essencial à vida boa.

• condição para escolher (pela comparação dos prós e dos contras) quaisos desejos que convém satisfazer e por que meios, é «mais preciosa atédo que a filosofia» e dela «provêm todas as outras virtudes».

• Que importa a verdade, se não sabemos viver? Que importa a justiça, sesomos incapazes de agir justamente?

• A prudência é um “saber-fazer” real e prático, uma arte do prazer:recusamos por vezes inúmeros prazeres quando podem acarretar uminconveniente maior; ou buscamos uma dor, se permitir evitar outraspiores ou causar um prazer mais vivo e duradouro.

• A prudência é mais do que o evitamento dos perigos, é uma “virtude dorisco e da decisão”, que tem em conta a fidelidade ao futuro:«deveremos usar a prudência para calcular o que é do interessepróprio a longo termo e abstermo-nos doa prazeres imediatos».

• Uma moral sem prudência é uma moral vã ou perigosa: «CAUTE»!

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A temperança como virtude• Temperança = moderação nos desejos sensuais; prudência aplicada aos prazeres.

• O imoderado é um escravo: do seu próprio corpo, dos seus hábitos e dosseus desejos. A temperança, como gosto refreado e cultivado, é o garantede um prazer mais puro e mais plenamente vivido.

• Como seremos felizes, se estamos sempre insatisfeitos? E comopoderemos estar satisfeitos, se os nossos desejos são ilimitados, vorazes?

• Epicuro preferia falar de independência (autarkeia): «Vemos aindependência como um grande bem, não para que vivamos com pouco,mas a fim de que, se não tivermos muito, nos contentemos com pouco,convictos de que os que menos precisam da abundância são os que melhorusufruem dela; e de que tudo o que é natural, é fácil de obter, mas o que évão, difícil.»

• A temperança consiste em saber contentar-se com pouco: «Vive contentecom pouco, pois deste pouco não há escassez» (Lucrécio). « O hábito deregimes simples e não dispendiosos é bom para a saúde» (Epicuro).

• Que prazer estarmos vivos! Que prazer não termos falta de nada! Queprazer em dominar os nossos prazeres!

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Críticas ao Epicurismo

1. Promove uma ética egoísta: só conta o interesse do indivíduo.

a) Desencoraja as virtudes familiares e cívicas;

b) Não resolve conflitos de interesses (dilemas morais);

c) Não permite um “ponto de vista moral” imparcial e racional.

2. Subordina a virtude ao prazer: a única razão para agir bem é por ser um meio para um fim – alcançar o prazer e evitar a dor.

3. Alguns críticos acusam os epicuristas de considerarem que “os sereshumanos não são capazes de prazeres para além daqueles de quetambém os porcos são capazes.”

Contudo, John Stuart Mill defende-o, afirmando que para Epicuro osupremo prazer é intelectual, alcançável mediante o domínio das paixõespela razão e a ataraxia. Contudo, Mill reconhece que muitos utilitaristasnão apoiam a tese da «superioridade dos prazeres mentais sobre oscorporais». Daí considerar que «é melhor ser um humano insatisfeito doque um porco satisfeito».

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Crítica actual ao Hedonismo:

o argumento da máquina de experiências

Robert NOZICK reinventou o exemplo da máquina de experiências:

é um dispositivo de realidade virtual que proporciona uma vida insuperavelmente

aprazível. O seu utilizador fica imerso num tanque, completamente isolado do mundo

real, com o cérebro ligado a um super-computador, o qual vai enviando continuamente

estímulos que produzem as mais diversas experiências, perfeitamente realistas.

• CRÍTICA: Se o hedonismo é verdadeiro (o nosso bem-estar é determinado

apenas pelas experiências que vivemos), então seria melhor ligarmo-nos para

sempre à máquina (a nossa vida seria muito mais rica em prazeres). Contudo, é

melhor não nos ligarmos (pois essa vida seria uma farsa) e continuarmos a ter

uma vida real. Logo, o hedonismo é falso.

•« O que é importante para nós para além das nossas experiências?

1º Queremos fazer certas coisas e não apenas ter a experiência disso;

2º Queremos ser alguém com certas características, ser uma pessoa;

3º Queremos um contacto efectivo com qualquer realidade mais profunda.» (Nozick)

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1. O que torna as nossas acções certas ou erradas?

• HEDONISMO: Apenas as consequências das nossas acções as tornam

certas ou erradas. Estas são boas apenas em virtude de promoverem o

bem-estar ou prazer.

• DEONTOLOGIA: Muitas acções são intrinsecamente erradas,, indepen-

dentemente das suas consequências. Assim, todos devemos respeitar

certos deveres que proíbem a realização de determinados actos.

2. Quando é que as acções estão certas ou erradas?

• HEDONISMO: Uma acção é boa apenas quando maximiza o bem-estar,

promovendo tanto quanto possível a felicidade. Qualquer acção que não

maximize o prazer/bem-estar é errada.

• DEONTOLOGIA: Uma acção é errada quando com ela infringimos

intencionalmente os nossos deveres.

Síntese das 2 principais concepções da moralidade:

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Espaço de discussão

Relembre o dilema moral inicial:

Uma pessoa querida, com uma doença terminal, está viva

apenas porque o seu corpo está ligado a máquinas que lhe

permitem sobreviver. As suas dores são insuportáveis, pelo que

tem de estar constantemente drogada. Inconsciente, geme no

sofrimento. Os médicos não podem curá-la.

O que deveria você fazer?

• Avalie a situação, raciocinando como um epicurista.

• Concorda com o raciocínio dos hedonistas? Porquê?

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Ética: uma reflexão sobre a vida e o

nosso viver ou a arte de viver bem

“Não temos de nos preocupar em viver longos

anos, mas em vivê-los satisfatoriamente; porque

viver longo tempo depende do destino, viver

satisfatoriamente depende da tua alma. A vida é

longa quando é plena; e faz-se plena quando a

alma recuperou a posse do seu próprio bem e

transferiu para si o domínio de si mesma.”

SÉNECA, Cartas a Lucílio