Episódio O epigrama na Antiguidade

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Guia do Professor /Frases Célebres / Isabella Tardin Cardoso 1 Guia do Professor Atividade O epigrama na Grécia antiga Episódio O epigrama na Antiguidade Programa Frases célebres Caro Professor, Apresentar previamente um resumo do tema do Texto 2 (“O epigrama na Grécia antiga”) pode tornar a leitura dos alunos mais produtiva: trata-se de uma visão geral sobre as características da poesia epigramática nas diferentes fases da história da Grécia antiga, desde o período arcaico até a fase helenística. Esse processo influenciará de modo especial o epigrama na antiga Roma (assunto das próximas Atividades deste Episódio). É importante dizer aos alunos que várias das informações apresentadas serão, mais adiante, úteis para a apreciação de inscrições epigramáticas em si, que, nos exercícios, serão apresentadas em tradução inédita do grego para o português, junto com uma ilustração dos monumentos em que foram encontradas. Além de dar a conhecer obras de um período pouco trabalhado nas disciplinas do currículo do Ensino Médio, os exercícios desta Atividade têm o objetivo de aplicar questões atuais pertinentes à análise de textos antigos, propiciando ainda uma reflexão sobre aspectos Cara, eu faço grafite (uma arte que cresceu no espaço público) e fiquei “encucado” com esta história de poesia como inscrição! Quando surgiu isso? E quando os epigramas deixaram de ser inscritos?

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Guia do Professor

Atividade O epigrama na Grécia antiga

Episódio O epigrama na Antiguidade

Programa Frases célebres

Caro Professor,

Apresentar previamente um resumo do tema do Texto 2 (“O epigrama na Grécia antiga”)

pode tornar a leitura dos alunos mais produtiva: trata-se de uma visão geral sobre as

características da poesia epigramática nas diferentes fases da história da Grécia antiga,

desde o período arcaico até a fase helenística. Esse processo influenciará de modo especial

o epigrama na antiga Roma (assunto das próximas Atividades deste Episódio). É importante

dizer aos alunos que várias das informações apresentadas serão, mais adiante, úteis para a

apreciação de inscrições epigramáticas em si, que, nos exercícios, serão apresentadas em

tradução inédita do grego para o português, junto com uma ilustração dos monumentos em

que foram encontradas.

Além de dar a conhecer obras de um período pouco trabalhado nas disciplinas do currículo

do Ensino Médio, os exercícios desta Atividade têm o objetivo de aplicar questões atuais

pertinentes à análise de textos antigos, propiciando ainda uma reflexão sobre aspectos

Cara, eu faço grafite (uma arte que

cresceu no espaço público) e fiquei

“encucado” com esta história de

poesia como inscrição! Quando

surgiu isso? E quando os epigramas

deixaram de ser inscritos?

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como: a presença da mitologia greco-romana no léxico da língua portuguesa; a história da

literatura; a influência da tradução na interpretação de um texto. Alguns deles se

apresentam no texto da Atividade, outros no software “Epigramas da Grécia antiga”.

O epigrama na Grécia Antiga

Na Grécia antiga, o termo “epigrama” tendia a designar, inicialmente, um certo tipo de

inscrição: breve e em verso. Esse tipo de texto inscrito está entre os primeiros documentos do

alfabeto grego antigo, datando do Período Arcaico da Grécia (séc. VIII-VI a.C.). Inscritos em

material sólido (em pedra, metais, barro), encontram-se epigramas em vasos, taças, em

oferendas aos deuses, lápides funerárias e outros monumentos.

A maioria dos epigramas que resta do Período Arcaico provém dos séculos VII e VI a.C. e tem

apenas um ou dois versos. Tais inscrições tinham em geral a função de celebrar a memória de

alguém, ou de dedicar objetos, quer a deuses e personalidades públicas, quer, num caráter

mais particular, a entes familiares. Fazem, com isso, referência a acontecimentos da vida

pública ou privada da sociedade da época.

Mas é curioso que, dentre os mais antigos epigramas, há exemplos de alguns com caráter

distinto e, digamos, bem menos prático! É o caso da divertida “Taça de Nestor” (século VIII

a.C.!), que brinca com mitologia e talvez parodie um poema de Homero.

Refletindo a difusão da escrita no mundo grego antigo, aumenta o número de inscrições com

epigramas, cujos tipos se foram diversificando. Dentre os fúnebres, por exemplo, além do

“monumento falante” (desde o Período arcaico), surge, a partir do Período Clássico (séc. V e IV

a.C.), o epigrama que dá a voz ao defunto. Este é muitas vezes idealizado como um herói que

oferece sua lição de vida aos mortais.

Com o passar do tempo, os epigramas passam a ter também temas mais variados, e ficam mais

elaborados. Nota-se neles a influência da poesia e da retórica. Há notícias de que seriam

encomendados a poetas líricos e dramáticos. Mas o primeiro autor de quem se têm epigramas

inscritos e assinados é o poeta Íon de Samos (séc. IV a.C).

Além de as inscrições se aproximarem da poesia que era escrita para ser recitada, a poesia também

passa a se aproximar da escrita das inscrições. É no Período Helenístico (a partir da morte de

Alexandre o Grande, em 323 a.C., indo até o final do séc. I a.C.) que ocorre o coroamento desse

processo: muitos epigramas eram compostos como que para serem inscritos, mas muitas vezes eram

somente declamados, ou, mais tarde, divulgados de forma manuscrita (em papiro ou pergaminho).

“Epigrama” passa a ser definitivamente sinônimo de um tipo de poesia.

Livre do “suporte material”, o número e tipo de versos dos epigramas se amplificam ainda mais

e sua forma torna-se mais elaborada. Livre da necessidade de satisfazer a uma situação

específica (que uma inscrição demandaria), os temas, fictícios ou não, se diversificam: amor

regado a vinho, descrições de obras de arte, anedotas, adivinhas, sátiras de tipos sociais e a

própria poesia passam a ser matéria da poesia epigramática.

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Autores:

Autores: Isabella Tardin Cardoso (Coordenadora)

Robson Tadeu Cesila Lilian Nunes da Costa

Carol Martins da Rocha Mariana Musa de Paula e Silva

Exercício 1 No texto desta aula, comentamos que os poemas epigramáticos vão se diversificando

cada vez mais na História da Grécia Antiga. Aqui daremos exemplos de como isso ocorre

nas inscrições sepulcrais. Veremos a seguir: um monumento falante; um epigrama que dá

voz ao defunto; e um epigrama a uma esposa.

A – Epigrama do Monumento Falante

“Plange, em pé, junto ao túmulo de Creso morto, Que outrora na vanguarda Ares veemente aniquilou.”

(Peek GV 1124 (72). Tradução de Flávio Ribeiro de Oliveira)

Glossário Plange: lastima-te, chora. Vanguarda: posição dianteira numa tropa em combate.

Ilustração 1: Monumento Fúnebre em mármore (séc. VI a.C.). Museu Nacional de Atenas (Grécia).

O epigrama acima homenageia um certo Creso. Segundo seu texto:

a) O que teria acontecido com ele? A partir desse epigrama, pode-se deduzir que o

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homenageado teria certas qualidades. Quais seriam elas?

Resposta: Creso teria morrido durante uma guerra (aludida na referência à divindade Ares), em

que ele atuaria em posição de combate. O epigrama é bem sucinto, mas dá a entender que

Creso foi valente (atuava na vanguarda), um herói de guerra.

b) A quem se dirige o imperativo “plange” no epigrama?

Resposta: Ao passante que observasse o monumento ao herói de guerra.

B – Epigrama que dá voz ao morto

Muitos jogos doces com colegas coevos joguei,

Mas eu, que germinei da terra, de novo virei

terra:

Sou Arístocles, do Pireu, filho de Meno.

(Peek GV 1702, GG 100. Tradução de Flávio Ribeiro de

Oliveira)

Glossário

Coevos: contemporâneos, da mesma geração.

Pireu: cidade portuária vizinha a Atenas, na

Grécia.

Ilustração 2: Monumento fúnebre a um filho (após 400 a.C.). British Museum, Londres (Reino Unido).

a) Quem é o homenageado nesse epigrama?

Resposta: Um certo Arístocles, do Pireu, filho de Meno.

b) Como o anterior, este epigrama constitui uma homenagem fúnebre, mas teria

caráter público ou privado? Explique sua resposta

Resposta: O homenageado é apresentado como um filho de alguém, não como um herói: ele é

caracterizado não por suas ações públicas, mas por suas brincadeiras com colegas, enquanto

garoto.

c) Tendo em conta a história dos epigramas na Grécia antiga (Texto 1), explique

por que este epigrama não poderia ser datado da época arcaica.

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Resposta: Porque é um epigrama do tipo que dá voz ao morto, de que só temos registro na época

clássica.

C – Um epigrama que fala do amor

Em vida, ela não admirou nem peplos nem ouro: Ao contrário, amava o próprio esposo e a sensatez. Mas em vez de tua juventude, Dionísia, e de teu vigor, É esta tumba que teu esposo Antífilo adorna.

(Peek GV 1810, GG 92. Tradução de Flávio Ribeiro de

Oliveira)

Glossário

peplo: “variedade de túnica feminina de tecido fino, sem mangas e presa ao ombro, usada na antiga Grécia”. (Dicionário Houaiss)

Ilustração 3: Homenagem fúnebre a uma esposa (c. 350 a.C.). Museu Nacional de Atenas (Grécia).

a) Quem esse epigrama homenageia?

Resposta: Uma certa Dionísia, esposa de Antífilo.

b) Que qualidades o epigrama atribui à pessoa homenageada?

Resposta: O epigrama elogia tanto o desapego de Dionísia em relação a bens materiais, quanto

sua sensatez e o amor pelo marido. Infere-se que tais qualidades a distinguiriam como boa

esposa. Além disso, menciona-se sua juventude e vigor, indicando que provavelmente ela

falecera ainda jovem.

c) Compare o modo como as qualidades são atribuídas aos homenageados, de um

lado, no epigrama de caráter público, de outro nos epigramas de caráter mais

privado. Que semelhanças e diferenças formais entre o primeiro e os dois

últimos você destacaria?

Resposta: Todos os epigramas trazem imagens: do herói lutando na vanguarda, do menino

brincando com colegas, do marido que adorna o túmulo da esposa. Chama a atenção o fato de

que o primeiro epigrama visto, da época arcaica e de caráter público, não usa expressamente de

adjetivos que caracterizem o homenageado, mas se atém ao fato, é mais sucinto. Os outros dois,

de caráter mais privado, fazem mais uso de efeitos poéticos mais expressivos, como por exemplo

jogos de palavras com efeitos de contraste (“germinei da terra, de novo virei terra”; “Mas em

vez de tua juventude, Dionísia, e de teu vigor,/É esta tumba que teu esposo Antífilo adorna.”)

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Exercício 2 Mito e poesia: o enigma da “Taça de Nestor”

Leia o texto abaixo e responda às questões que se seguem.

Caro Professor,

Para despertar o interesse dos alunos, você pode lembrá-los de que vão se deparar com

um dos documentos escritos mais antigos da Grécia antiga, a chamada Taça de Nestor

(séc. VIII a.C.). Como aquecimento, você também pode perguntar se sabem o que é uma

“paródia”. Isso porque, no exercício, eles serão estimulados a cotejar o texto do

epigrama com uma passagem do poema épico Ilíada de Homero e refletir sobre um

possível caráter parodístico daquele.

O exemplo do epigrama da Taça de Nestor pode contribuir ainda para se questionar a

ideia (em que já se acreditou) de que o epigrama era, a princípio, algo apenas

informativo e só muito depois, mais artístico. Assim, evita-se que o aluno tenha a

impressão de que a história da poesia siga uma “evolução” absolutamente regular.

O enigma da “Taça de Nestor”

Uma das inscrições epigramáticas mais interessantes está na “Taça de Nestor”, que foi

descoberta em Ísquia, ilha situada no Golfo de Nápoles, ao Sul da atual Itália. A vasilha é

modelada em barro, como se pode ver na foto abaixo:

Ilustração 4: Taça de Nestor (c. 740 – 735 a.C.). Museu di Villa Arbusto, Lacco Ameno (Itália).

Nela se lê a seguinte inscrição (CEG 454):

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Ilustração 5: Fotografia da inscrição como foi transmitida (parte superior) e após restauração (parte inferior)

Uma vez decifrado, nota-se que o texto é escrito em um grego bastante arcaico, em versos

que podem ser traduzidos, numa versão literal, da seguinte forma:

Sou a Taça de Nestor, boa para beber.

Quem desta taça beber e a esvaziar,

Logo o desejo de Afrodite de bela coroa o tomará. (Tradução de Flávio Ribeiro de Oliveira)

Ou numa versão mais poética:

Sou taça de Nestor, bom copo para poto.

Quem bebe deste copo e esgota todo o poto

Capta apetite de Afrodite calistéfana. (Tradução de Flávio Ribeiro de Oliveira)

Glossário

Poto: bebida

Calistéfana: “a que tem bela coroa”

Para entender melhor o poema, seria preciso saber quem seriam Afrodite e Nestor.

Afrodite (na Grécia) ou Vênus (como é chamada em Roma) é a mãe do deus Eros (em

Roma, o “Amor”). Ela é a deusa do amor em várias de suas facetas, inclusive a do desejo

sexual, e aparece em diversas obras artísticas representada como coroada de flores.

Sabendo-se disso, os versos podem ser entendidos assim: quem beber da taça terá o apetite

sexual estimulado. A vasilha de barro promete um efeito, literalmente, afrodisíaco.

Mas quem é o tal Nestor?

Discute-se muito quem seria o Nestor apontado na taça. Seria ele um habitante da ilha de

Ísquia? Já se cogitou isso. Mas certos estudiosos pensam que se trata de um determinado

herói, o rei de Pilos. Esse herói é retratado como personagem bastante idoso em dois dos

mais importantes poemas épicos da humanidade: a Odisséia e a Ilíada, ambos de Homero.

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Ocorre que na Ilíada é descrita com precisão a taça do rei Nestor. Seria então, como alguns

afirmam, a inscrição da Taça de Ísquia uma referência ao poema homérico? Se sim, trata-se

da primeira alusão literária da Grécia antiga! Uma das dificuldades de se afirmar com

certeza isso é quanto à data. Vimos que a taça provém do século VIII a.C.; mas não se sabe

quando a Ilíada foi composta, se naquela época ou mais próximo do século VII a.C. (sendo

posterior, portanto, à datação da taça).

Porém, caso o epigrama na humilde vasilha estiver mesmo comparando-a à rica e pesada

taça do rei descrita na Ilíada, então seus versos ficam bem engraçados!

a) Revendo os versos abaixo, responda: o que, no epigrama, a taça de Nestor promete

fazer com quem beber nela?

“quem beber dela será tomado

pelo desejo de Afrodite,

que tem bela coroa!”

Resposta: Quem beber da taça terá o apetite sexual estimulado; a taça promete um efeito,

literalmente, afrodisíaco.

b) Comentamos no texto que o epigrama da Taça de Nestor pode ser uma alusão (isto é,

uma referência não explícita, que depende de que o público reconheça o que é

referido) à Ilíada. Mas, o que essa referência quer dizer? Para responder a esta

questão é preciso ir até a obra referida. A taça do herói Nestor é descrita na seguinte

passagem, em que uma moça serve o rei:

Patrícia Reis Braga recita a Ilíada em Semana de Letras da UFPR (Curitiba) – Foto de Gilsom Camargo

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Ilíada, canto XI, versos 628-641

(Tradução de Fernando C. de Araújo Gomes, em prosa)

Ela primeiro colocou diante deles uma bela mesa, muito bem polida, com pés azul-escuros,

e sobre a mesa, colocou um cesto de bronze, com uma cebola como condimento da bebida.

Também colocou o amarelo mel e a sagrada farinha de cevada, e uma bela taça que o

velho trouxera de sua terra, ornada de tachões de ouro. Tinha quatro asas e duas pombas

de ouro de cada lado e duas bases por baixo. Outro homem dificilmente poderia erguê-la

cheia da mesa, mas o velho Nestor levantou-a sem dificuldade. Nela, a mulher semelhante

às deusas misturou vinho praniano e água, e ralou queijo de leite de cabra em cima, com

um ralo de bronze, e espargiu cevada branca por cima, e fê-los beber depois de haver

preparado a bebida.

Segundo esses versos, como era Nestor? E como era sua taça? Você conseguiria desenhá-

la?

Resposta: Nestor parece ter sido um homem rico (pois tem serviçais e taça de ouro) e,

mesmo na idade avançada, forte (pois levantava sozinho uma copa pesada, sem

dificuldade).

Professor, caso sua escola conte com um professor de Educação Artística, este exercício

pode gerar uma produtiva atividade interdisciplinar: caso se queira, ela pode ser

ampliada para o estudo e desenho de ilustrações também de outros mitos greco-romanos

(vide exercício 3 desta Atividade).

c) Que diferenças você vê entre as descrições apresentada na Ilíada e na Taça de Ísquia?

Resposta: Na Ilíada se descreve uma taça suntuosa, com enfeites de outro, e muito

pesada. A Taça de Ísquia (que é de barro) fala das suas qualidades afrodisíacas.

d) Qual a graça em a Taça de Ísquia se apresentar como a de Nestor (se considerarmos

esse Nestor o da passagem da Ilíada)?

Resposta esperada: A graça está precisamente no contraste, não apenas em termos de

riqueza (taça de barro versus de ouro), mas também na brincadeira com o vigor de

Nestor, característica essa relacionada, na Ilíada, à ideia de força física, e, na taça de

Ísquia, à ideia de vigor sexual. O professor pode acrescentar: esse contraste pode ser

visto como uma paródia entre os gêneros poéticos (no caso entre a épica e o epigrama),

o que é por sua vez recurso humorístico em diversas épocas.

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Exercício 3

Software e poesia: “Epigramas da Grécia antiga”

Caro aluno,

Agora, no software, você pode testar e ampliar os conhecimentos que apreendeu até

agora nesta Atividade.

Caro professor,

O software “Epigramas da Grécia antiga” apresenta exercícios que relacionam língua

portuguesa e mitologia greco-romana, bem como revê (com perguntas mais simples)

alguns epigramas vistos nesta Atividade. De forma um pouco mais complexa, o material

será tratado também no jogo final, que envolve todas as Atividades. Para facilitar sua

apreciação do material, transcrevemos os exercícios do software no Guia do Professor

respectivo.

Exercício 4 A tradução como leitura

Caro Professor,

Ao se adotar este exercício, a sugestão é torná-lo o mais dinâmico possível. Por

exemplo, você pode distribuir as diferentes traduções entre grupos, e pedir que em cada

grupo alunos façam uma leitura dramática em sala de aula.

A resposta a este exercício é evidentemente bastante livre. Isso porque o objetivo aqui é

colocar os alunos em contato com o universo das traduções poéticas de textos clássicos.

Sobretudo por seu vocabulário pouco usual, a tarefa exige um pouco mais de atenção por

parte dos alunos.

Embora os textos e o léxico possam parecer muito distantes do cotidiano dos alunos, a

experiência com textos clássicos tem trazido excelentes resultados em diversas escolas

do país, como os sites sobre leituras dramáticas da poesia antiga o podem ilustrar.

Verter um texto de uma língua para outra envolve muito mais que o conhecimento do

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idioma propriamente dito. Dessa forma, cada tradução corresponde a uma

interpretação, que modifica a forma e a matéria do original. Por isso se diz que toda

tradução é uma interpretação.

Para dar um exemplo disso, apresentamos abaixo outras versões da passagem referente

ao mesmo trecho da Ilíada de Homero traduzido acima; só que estas traduções não são

em prosa, e sim em forma de poema. Será preciso prestar atenção, pois os textos usam

termos e construções não tão comuns no dia-a-dia.

Quer saber como o significado do texto pode ficar mais claro? Interprete-o você mesmo,

por meio de uma leitura dramática, seguindo estes passos:

1 - Faça uma leitura silenciosa de cada um dos textos (ou do texto que seu

professor distribuir para você)

2 - Durante a leitura, observe o significado dos termos na legenda do texto

respectivo.

3 - Nos casos das traduções abaixo, o que você percebe que muda entre elas?

4- De que tradução você gosta mais? Treine sua leitura em voz alta.

Ilíada, canto XI, versos 628-641

(Tradução poética de Carlos Alberto Nunes)

Primeiramente, na frente lhe pôs uma mesa bonita,

toda lavrada, com pés de aço azul; uma cesta de bronze

em cima desta coloca, e cebolas, que ao vinho convidam;

mel, também, pálido, e flor ali pôs de sagrada farinha,

e uma belíssima copa que o velho de casa trouxera,

com cravos de ouro adornada, munida, outrossim, de quatro alças,

com duas pombas ao lado de cada uma delas, perfeitas,

de ouro, a bicar; dois suportes por baixo da copa se viam.

Cheia, ninguém, sem trabalho, podia da mesa movê-la;

Mas levantava-a, sem custo, Nestor, o ancião de Gerena.

Nela mistura a mulher, semelhante na forma a uma deusa,

vinho de Prâmnia, no qual raspou queijo de leite de cabra

num ralo aêneo, ajuntando farinha, por fim, muito branca.

Pronta a mistura agradável, convida-os a dela provarem.

Glossário

- lavrada: enfeitada com figuras entalhadas, insculpidas.

- flor de sagrada farinha: farinha de trigo da melhor qualidade.

- copa: taça grande.

- com cravos de ouro: cravejada de ouro, ornada com pequenas peças de ouro.

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- o velho: Nestor.

- outrossim: do mesmo modo, também, igualmente.

- alças: as asas da taça.

- Gerena: antiga cidade da Messênia, na península do Peloponeso (sul da Grécia), onde também ficava

Pilos, da qual Nestor era rei.

- Prâmnia: vinho proveniente de Esmirna, cidade que ficava no oeste da Ásia Menor.

- aêneo: feito de bronze ou cobre.

- mulher semelhante na forma a uma deusa: a jovem, por sua beleza, se parecia com uma deusa.

Ilíada, canto XI, versos 628-641

(Tradução poética de Haroldo de Campos)

(...) Primeiro, diante de ambos pôs

uma preciosa mesa, polida, de pés

azul-cobalto; sobre ela dispôs, lavor

de bronze, um açafate, e neste, o estimulante

do bom beber: cebolas; também flor de trigo

sacro e mel; junto, a pílea copa do Gerênio,

ouro com crivos de ouro, quatro alças e duas

pombas, ladeando cada alça, como a bicar,

áureas; o fundo, duplo; um outro com esforço

a movera da mesa, quando cheia; erguia-a

fácil Nestor deiforme. A ancila nela verte

vinho de Prâmnio e raspas de queijo caprino

ralado de bronze, e branca farinha; a provar

da infusão os convida e aplaca a sede de ambos, (...)

Glossário

- azul-cobalto: azul-escuro.

- lavor: objeto artisticamente trabalhado.

- açafate: pequeno cesto de vime, sem arco nem asas.

- flor de trigo: farinha de trigo da melhor qualidade.

- pílea copa: taça de Pilos (Pilos era a cidade da qual Nestor era rei).

- Gerênio: Nestor, rei de Pilos, perto da qual ficava Gerena.

- crivos de ouro: pequenas peças de ouro enfeitando a taça.

- ladeando: estando ao lado de. Havia duas pombas incrustadas ao lado de cada uma das quatro alças da taça.

- áureas: feitas de ouro.

- deiforme: semelhante a um deus.

- ancila: escrava, serva.

- Prâmnio: vinho proveniente de Esmirna, cidade que ficava no oeste da Ásia Menor.

- infusão: a bebida preparada pela jovem escrava.

Ilíada, canto XI, versos 628-641

(Tradução poética de Odorico Mendes)

Põe de azulados pés à lisa mesa

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Flor de sacra farinha em disco aêneo,

Recente mel e um pico de cebola;

Põe copa linda, que trouxera o velho,

De cravos de ouro, e de ouro um par de pombos

Em torno a cada uma de asas quatro,

Com dois no fundo, ali se apascentavam:

Movê-la outrem sem custo não pudera,

E cheia o velho facilmente a erguia.

A divinal donzela Prânio vinho

Dentro mescla, e raspado em êneo ralo

Queijo caprino e uns pós de branco trigo;

E os conforta com isto e os dessedenta.

Glossário

- flor de sacra farinha: farinha de trigo da melhor qualidade.

- disco âeneo: uma cesta redonda de vime, de cor semelhante à do bronze.

- um pico de cebola: pequena quantidade de cebola.

- copa: taça grande.

- cravos de ouro: pequenas peças de ouro enfeitando a taça.

- outrem: outra pessoa que não Nestor.

- o velho: Nestor.

- divinal donzela: a jovem serviçal, bela como uma deusa.

- Prânio: vinho proveniente de Esmirna, cidade que ficava no oeste da Ásia Menor.

- êneo: feito de bronze ou cobre.

- pós: depois.

- dessedenta: mata a sede.

PARA SABER MAIS

Hoje em dia, aumenta cada vez mais o interesse

por conhecer e ouvir leituras dramáticas de poesia

clássica, em escolas, museus, lugares públicos...

Para ver fotos e saber mais sobre grupos de atores

envolvidos, visite os seguintes sites:

http://iliadahomero.wordpress.com

www.patriciareisbraga.wordpress.com

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Guia do Professor / Frases Célebres / Isabella Tardin Cardoso

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• Sobre epigramas gregos e helenísticos, visite a revista eletrônica Graecia Antica,

organizada por Wilson A. Ribeiro, no seguinte site:

http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0115

• Sobre o grande poeta e tradutor maranhense Odorico Mendes, visite o site:

http://www.unicamp.br/iel/projetos/OdoricoMendes/

• Sobre epigramas helenísticos, leia também os poemas abaixo:

Da Antologia Grega ou Palatina

Apresentamos abaixo uma seleção de epigramas leves e elegantes da coleção de um

importante autor do período helenístico, Meleagro de Gadara (séc. I a. C.), reunidos na

Antologia Grega, também chamada de Antologia Palatina. Todos foram traduzidos

diretamente do grego por Flávia Vasconcellos Amaral (USP):

Epigrama votivo

XI (A.P. 6.162)

Como uma flor, Meleagro dedicou para ti, Cípris querida,

sua lamparina companheira, iniciada em teus festivais notívagos.

Epigramas amorosos:

XLIV (A.P. 5. 141)

Por Eros, prefiro a voz de Heliodora junto aos ouvidos

ouvir à cítara do filho de Leto.

XLV (A.P. 5. 143)

A guirlanda fenece cingida na cabeça de Heliodora,

e ela própria esplandece, guirlanda de sua guirlanda.

XLVI (A. P. 5.147)

Enredarei violeta branca, enredarei com mirtos

delicado narciso, enredarei lírios risonhos,

enredarei doce açafrão, enlearei jacinto

purpúreo, enredarei também rosas amantes do amor,

para que nas têmporas de Heliodora de cabelo oloroso

a guirlanda inunde de flores seu lindo cabelo trançado.

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A tradutora Flávia Ferreira Vasconcellos (Mestre em Letras Clássicas pela USP). Foto de arquivo pessoal.

BIBLIOGRAFIA

ALBRECHT, M. von. A History of Roman Literature. Vol. I. Leiden/New York/Köln: Brill,

1997.

AMARAL, F. V. de. A guirlanda de sua Guirlanda. Epigramas de Meleagro de Gadara;

tradução e estudo. Dissertação de Mestrado inédita. São Paulo, USP, 2009.

(Disponível via Internet: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/)

CAMPOS, H. de. A Ilíada de Homero. Vol. 1(organização e introdução de Trajano Vieira).

São Paulo: Mandarim, 2001; 2a.ed., São Paulo: Arx, 2002; 3a. ed., 2002; 4a. ed., 2003;

5a. ed., 2004.

__________. Ilíada de Homero. Vol. 2 (organização de Trajano Vieira). São Paulo: Arx,

2002; 2a. ed., 2003; 3a.ed., 2004.

CIST´AKOVA, N. “La plus ancienne épigramme grecque (The inscription of Nestor from

Pithekoussai)”. VDI 1975 N° 134, p. 28-40.

CLAIRMONT, C. W. Gravestone and Epigram. Mainz am Rhine: Phillip von Zabern, 1970.

BING, P.; STEFFEN BRUSS, J. (ed.). Brill's Companion to Hellenistic Epigram Down to

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Anexo Jogo (Perguntas e comentários referentes a esta Atividade)

Caro Professor,

No jogo final, as perguntas e respostas a seguir estão relacionadas ao ícone do

personagem do Grafiteiro. Enfatiza-se aqui o significado e história do epigrama na Grécia

antiga (durante os períodos arcaico, clássico, helenístico), assunto do Texto 2, o qual é,

em algumas questões, aplicado a textos de epigramas gregos.

1 - Na Grécia antiga, o epigrama, enquanto “breve inscrição em verso”:

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a) Tem seus primeiros registros no Período Arcaico, o que se pode comprovar hoje em

vasos, taças, em oferendas aos deuses, lápides funerárias, ou outros monumentos

que restaram daquela época.

b) Tem seus primeiros registros no Período Helenístico, após a morte de Alexandre, o

Grande. Notícias desses epigramas são, no entanto, restritas a relatos de

historiadores.

c) Tem seus primeiros registros no Período Clássico, o que se pode comprovar hoje

apenas por meio indireto: os textos de poetas trágicos.

d) Era o único tipo de inscrição sepulcral no Período Arcaico, pois a lei da época

obrigava que todos os epitáfios fossem escritos em verso.

e) Desapareceu no Período Clássico da literatura grega antiga, que privilegiou tipos

mais elevados de poesia.

Resposta

a) Parabéns! De fato, objetos como os mencionados, datados do Período Arcaico,

servem de prova de que os primeiros epigramas (enquanto breves inscrições em

verso) existiam desde esta época na Grécia antiga.

b) Tente de novo! O epigrama (enquanto breve inscrição em verso) existia já antes do

Período Helenístico. Isso é comprovado pelas inscrições em verso em objetos e

monumentos que nos chegaram.

c) Tente novamente! O epigrama, com o sentido de breve inscrição em verso, tem seus

primeiros registros antes do Período Clássico, como comprovam, diretamente, as

inscrições em verso em objetos e monumentos que nos chegaram.

d) Tente mais uma vez! Nem todos os epitáfios eram em verso no Período Arcaico da

Grécia. A inscrição breve em verso (i.e. o epigrama, conforme define o enunciado)

era um tipo especial dentre as inscrições usadas nos sepulcros por toda a história da

Grécia antiga.

e) Tente outra vez! As inscrições epigramáticas continuam a existir em toda a história

da poesia grega: com o tempo, sob influência dos demais tipos de poesia, aparecem

de modo mais variado e elaborado.

2 - Sobre o epigrama na Grécia antiga, pode-se dizer que:

a) Na Antiguidade greco-romana, o epigrama, enquanto inscrição, não era poesia. Isso

porque ele tinha sempre o caráter prático (por exemplo, de celebrar a memória de

alguém, ou de dedicar objetos).

b) Apenas as inscrições epigramáticas mais antigas tinham um tom sério e caráter

puramente prático. Veja-se uma delas, a “Taça de Nestor” (ou “Taça de Ísquia”),

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que, comprovadamente, informa sobre um personagem histórico, o famoso rei de

Ísquia.

c) As descobertas arqueológicas comprovam que a função das inscrições evoluiu com o

tempo: de uma necessidade apenas poética, na época arcaica, até chegar à época

helenística, em que surgem os primeiros epigramas, que tinham apenas funções mais

práticas.

d) Como exemplo de epigramas menos pragmáticos e mais poéticos já na Grécia

arcaica, tem-se a “Taça de Nestor”. Quer se refiram ao dono da taça, quer ao

personagem da poesia de Homero, é inegável que seus versos fazem mais que

informar quando brincam com a figura mitológica de Vênus, a deusa do amor.

e) Descobertas arqueológicas como a do texto de título “Taça de Nestor” comprovam

que, desde a época arcaica, já havia na Grécia epigramas poéticos que não eram

inscrições.

Resposta

a) Tente de novo! Independente de seu caráter mais prático, já havia epigrama

poético, enquanto inscrição em versos, desde a Grécia arcaica.

b) b) Tente novamente! A afirmação está repleta de equívocos. Inscrições

epigramáticas de tom “sério” existem ao longo da história. Mas na “Taça de Nestor”

(ou de Ísquia) esse caráter não é evidente. É apenas possível que ela faça menção ao

personagem Nestor, rei de Pilos (e não de Ísquia, onde o objeto foi descoberto).

c) Tente outra vez! Segundo as descobertas arqueológicas, há mais epigramas de

caráter informativo e celebrativo, ligados a uma situação real, na época arcaica e

mais epigramas desvinculados de uma situação real, menos práticos, na época

helenística.

d) Parabéns! Pelo seu caráter poético e divertido, a inscrição da “Taça de Nestor”,

uma das mais antigas inscrições epigramáticas da história da Grécia, vai além da

mera informação.

e) Tente mais uma vez! O epigrama inscrito na “Taça de Nestor”, do século VIII a. C., é

tanto um texto poético quanto é inscrição. É num período posterior ao Arcaico que

existem epigramas compostos com o objetivo de serem declamados, não

necessariamente inscritos num objeto.

3 - Assinale a alternativa incorreta:

a) Na época arcaica há epigramas muito estranhos: tanto o “monumento falante”,

quanto, mais primitivo ainda, o epigrama que dá a voz ao defunto.

b) No Período Clássico, os epigramas, ainda enquanto inscrição, passam a ter temas

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mais variados e formas elaboradas.

c) O primeiro autor de que se tem epigramas inscritos e assinados é o poeta Íon de

Samos.

d) No epigrama grego que dá a voz ao defunto, o morto era muitas vezes idealizado

como um herói, que ofereceria, por meio do monumento sepulcral, uma lição de

vida aos mortais.

e) A partir do Período Clássico, nota-se a influência do desenvolvimento da poesia e da

retórica nas inscrições epigramáticas. Restam vários epigramas (não assinados)

atribuídos a poetas e filósofos da época.

Resposta

a) Parabéns! De fato, na Grécia arcaica há epigramas do tipo “monumento falante”.

Mas, segundo as descobertas arqueológicas e paleográficas, epigramas em que se lê

a palavra final do defunto só existem a partir da época clássica da civilização grega.

b) Tente de novo! De fato, em geral as inscrições epigramáticas na época clássica

tiveram, sim, seu tema e forma incrementados.

c) Tente novamente! A assinatura de Íon de Samos (em versos inscritos sob estátuas) é

de fato a mais antiga que sobreviveu dentre os monumentos com epigramas que

vieram da Grécia antiga.

d) Tente mais uma vez! No epigrama que dá voz ao defunto pode-se ler um tom heróico

e didático, como uma última palavra do morto aos mortais...

e) Tente outra vez! De fato, a elaboração de epigramas inscritos datados do Período

Clássico denota o contato com a poesia e a retórica. Vários epigramas (não

assinados) são atribuídos a poetas como Eurípides (século V a.C.) e mesmo a

filósofos como Platão (século IV a.C.).

4 - Sobre o epigrama enquanto forma poética na época helenística, assinale a alternativa

correta:

a) Não era composto para ser necessariamente inscrito na superfície de um objeto, por

isso o número e tipo de verso dos epigramas puderam ficar mais variados.

b) Não tinha sempre a necessidade de satisfazer a uma situação específica (o que uma

inscrição demandaria), por isso os temas dos epigramas se diversificam, mas era

ainda proibido o tema do amor em poemas desse tipo.

c) O epigrama deixa de ser predominantemente literário, isto é, passa a ser composto

apenas para ser inscrito.

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d) Os epigramas deixam de ser recitados, sendo apenas divulgados de forma

manuscrita.

e) Os epigramas deixaram de tratar de temas como a sátira de tipos sociais, presente

nas inscrições do Período Arcaico, a qual passa a ser considerada de mau gosto.

Resposta

a) Parabéns! De fato, sem ter de se preocupar com a parte material da inscrição

(escultores, tamanho do objeto em que seria inscrito o epigrama), os poetas

passaram a ter mais liberdade de compor os versos epigramáticos em metros e

extensão variados.

b) Tente de novo! Ao contrário do que se diz no enunciado, o tema do amor, não de

todo ausente das inscrições do Período Clássico, aflorou efetivamente na poesia

epigramática da época helenística.

c) Tente novamente! Ocorreu precisamente o contrário: apesar de também haver

epigramas inscritos, a forma literária se desenvolveu de modo autônomo na época

helenística.

d) Tente mais uma vez! Muitos dos epigramas da fase helenística visavam de fato à

recitação, o que não impediu sua divulgação de forma manuscrita.

e) Tente outra vez! Ao contrário do que afirma o enunciado, a sátira de tipos sociais é

vista como uma das inovações do epigrama da fase helenística.

5 - Clique no link abaixo para ler o texto. No original ele consta de versos, inscritos na

parte de baixo do seguinte monumento (ver ilustração):

“Plange, em pé, junto ao túmulo de Creso morto,

Que outrora na vanguarda Ares veemente aniquilou.” (Trad. Flávio Ribeiro de Oliveira)

Considerando o teor de seus versos, pode-se dizer que:

a) É um epigrama funerário da época clássica, quando surgiu o epigrama em que o

monumento “fala”.

b) É um epigrama funerário da época helenística, quando surgiu o epigrama em que o

monumento “fala”.

c) Não é um epigrama funerário da época helenística, época em que desapareceu o

epigrama em que o monumento dá voz ao morto.

d) Não pode ser um epigrama da época arcaica, pois naquela época não existiam

epigramas do tipo monumento falante.

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e) É do tipo monumento falante, que existe desde a época arcaica grega.

Resposta

a) Tente de novo! O epigrama do tipo do “monumento falante” existe desde a época

arcaica.

b) Tente novamente! O epigrama do tipo do “monumento falante” existe desde a

época arcaica; e o que dá voz ao morto surge depois desse, no Período Clássico.

c) Tente mais uma vez! O epigrama do tipo do “monumento falante” existe desde a

época arcaica, persistindo também na época helenística.

d) Tente outra vez! Já desde a época arcaica existiam epigramas do tipo “monumento

falante”.

e) Parabéns! Sendo encontrado também em períodos posteriores, o “monumento

falante” existe desde a época arcaica grega.