Episódio do Adamastor

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 Episódio “O Adamastor” Os Lusíadas Luís Vaz de Camões

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Episódio “O Adamastor”

Os LusíadasLuís Vaz de Camões

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Estância 37Passados cinco dias de

navegação com ventos

favoráveis, numa noite,viram formar-se sobre as

suas cabeças uma nuvem

que escurecia os céus.

Estância 38 A nuvem era tão escura que

inspirava um grande medo.

Ouvia-se ao longe o

estrondo das vagas contra

os rochedos. Gamaquestiona-se sobre que

ameaça ou segredo poderia

parecer pior que um

temporal.

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Estância 39Entre os marinheiros ergue-se

um vulto gigantesco, de rosto

sombrio, barba desgrenhada,olhos encovados, expressão

medonha e má, cabelos cheios

de terra, boca negra e dentes

amarelos.

Estância 40Era tão grande que Vasco da

Gama o designa como um

segundo colosso de Rodes

(uma das sete maravilhas domundo). Tinha uma voz

cavernosa, que parecia vir do

fundo do mar. Arrepiavam-se

as carnes e os cabelos só de o

ouvir e ver.

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Estância 41O Gigante dirige-se aos

portugueses, revelando a sua

indignação por serem tãoousados ao ponto de

ultrapassarem os limites e

navegarem em mares por ele

guardados e nos quais nunca

ninguém navegara.

Estância 42Continua o seu discurso,

mencionando que os

portugueses vêm desvendar os

segredos da natureza e do mar 

que nunca nenhum mortal

conheceu. Pretende castigá-los

pelo atrevimento quer no mar,

quer na terra que virá a dominar.

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Estância 43Continua as suas profecias,

anunciando que osportugueses passarão por 

tempestades terríveis. A

primeira armada que ousar 

passar por ali, terá um

castigo inesperado edestruidor.

Estância 44Há de vingar-se do primeiro

que o descobriu. E todos osanos verão naufrágios,

perdições e o menos

doloroso dos castigos será

ainda a morte.

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Estância 45Do primeiro fidalgo que teve o

título de Vice-rei, será eternasepultura, deixando ali os

troféus das suas vitórias

sobre os turcos. Ali se

vingarão dele as cidades de

Quíloa e Mombaça.

Estância 46Outro homem ilustre, que ali

passará na companhia da

pessoa amada, escapará donaufrágio para encontrar em

terra a morte com mais

sofrimento.

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Estância 47Depois de caminharem muito

tempo pela areia ardente,verão morrer os filhos de

fome, verão os negros roubar 

à esposa o vestido que a

cobria, até a deixarem

exposta ao calor, ao frio, ao

vento, inteiramente nua.

Estância 48

 E, os que escaparem, verão

os pobres amados morrer abraçados na mesma

sepultura, depois de lágrimas

e lamentos que comoveriam

as próprias pedras.

 

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Estância 49Perante estas ameaças,

Vasco da Gama resolve

interpelá-lo, questionando a

sua identidade, e o Adamastor 

retorce os olhos, dá um

espantoso brado como se a

pergunta lhe tivesse doído.

Estância 50Ele responde dizendo que é

aquele oculto e grande cabo

que se estende em direção ao

Pólo Sul, onde termina a costaafricana. Os geógrafos da

antiguidade desconhecem-no

e ele sente-se ofendido com a

ousadia dos portugueses.

 

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Estância 51 Acrescenta que foi um filho da

Terra, do mesmo modo que o

foram os Gigantes revoltados. Dizchamar-se Adamastor e ter 

estado na guerra contra Júpiter,

andando no mar em guerra

contra Neptuno.

Estância 52Foram os amores da ninfa Tétis

que o fizeram levar a cabo

tamanha empresa. Desprezara

outras deusas para amar apenasa princesa das águas que vira,

uma vez, sair nua das águas, na

companhia das Nereidas. Nesse

momento, sentira uma atração

que ainda permanece.

 

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Estância 53Como não conseguiu que ela se

interessasse por ele, por ser tãofeio, resolveu conquistá-la

expondo o assunto a Dóris, para

que esta lhe falasse por ele. Dóris

questiona a capacidade de uma

ninfa amar um gigante.

Estância 54Dóris traz-lhe a notícia de que,

para evitar a guerra do Oceano,

procuraria uma forma de evitar prejuízos. O Adamastor não

compreendeu que a deusa o

enganava, tão grande era o seu

amor, o desejo e as esperanças.

 

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Estância 55Já sem saber o que fazia, numa

noite prometida por Dóris, viu,

ao longe, o vulto de Tétis e

correu para ela como louco,

abraçando-a e beijando-lhe os

olhos, as faces e os cabelos.

Estância 56Diz ter vergonha de contar que,

quando julgava ter nos braços a

sua amada, dera por si

abraçado a um rochedo. Elepróprio se sentiu de pedra: era

um penedo junto a outro

penedo.

 

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Estância 57Invoca a ninfa, dizendo-lhe que,

se a sua presença não lhe

agradava, poderia, ao menos,

mantê-lo na ilusão. Dali fugiu,

quase louco, do desgosto e da

vergonha ali sofridos, a procurar 

outro mundo onde ninguém se

risse da sua dor.

Estância 58Entretanto, os seus irmãos já

tinham sido vencidos na guerra

contra os deuses, estandoalguns sepultados sob vários

montes. E, como contra o céu

não há defesa, começou a sentir 

o castigo dos seus atrevimentos.

 

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Estância 59 A sua carne transformou-se em

terra dura, os ossos em penedos.Os membros estenderam-se pelo

mar, transformando-se naquele

cabo. E, para ainda mais o

magoar, Tétis continuava a cercá-

lo naquelas águas.

Estância 60 Ao proferir estas palavras,

 Adamastor desapareceu com um

medonho choro, ante o olhar de

espanto dos portugueses. Desfez-

se a nuvem negra e o mar soouaté longe. Vasco da Gama pediu

então a Deus que removesse as

trágicas profecias do Adamastor.

 

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Momentos fundamentais do

episódio1- Preparação do ambiente para o aparecimento doGigante (37-38);

2 - Visão do Gigante: retrato físico e traços morais (39-

40);3 - Discurso do Gigante – referência à ousadia dosportugueses e profecias (41-48);

4 - Interpelação do Gama – “Quem és tu?” (49);

5 - Confissão, pelo Gigante, sobre o seu passadoamoroso e a sua metamorfose (50-59);

6 - Desaparecimento do Gigante e do cenário que oenquadra e pedido de Vasco da Gama a Deus paraque as profecias não se concretizem (60).

 

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Simbologia deste episódio

O Gigante Adamastor aponta para um

espaço geográfico – o Cabo das Tormentas.

Simboliza a oposição da Natureza, astempestades, os naufrágios, os terrores e as

lendas do mar. Trata-se de uma figura

mitológica, criada por Camões, para significar 

todos os perigos que os Portugueses terãode enfrentar e transpor nas suas viagens.