Episódio do polvo pdf
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Episódio do Polvo«Sermão de S. António aos Peixes»
Pe. António Vieira
Prof. Carla CovasTurma 102
28 de abril de 20091
Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea
Disciplina de Português
«Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo […]» (ls. 1‐2)
2
«[…] contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio.» (ls. 2‐3)
S. BasílioBasílio nasceu em Capadócia, no ano 330. Homem de
grande cultura e virtude, começou por viver vida
eremítica, mas no ano 370 foi eleito bispo da sua cidade
natal. Escreveu excelentes obras e, sobretudo, regras
monásticas, pelas quais ainda hoje se regem muitos
mosteiros do Oriente. Foi grande benfeitor dos pobres.
Morreu em 379, no dia I de Janeiro.
Santo AmbrósioNascido em Tréveris, cerca do ano 340, fez os seus estudos
em Roma e iniciou em Sírmio a carreira pública. Em 374,
vivendo em Milão, foi inesperadamente eleito para bispo
da cidade e recebeu a ordenação. Distinguiu‐se sobretudo
na caridade para com todos, como verdadeiro pastor e
mestre dos fiéis. Defendeu corajosamente os direitos da
Igreja com os seus escritos. Morreu a 4 de Abril de 397.
3
«O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;» (ls. 3‐4)
4
«[…] com aqueles seus raios
estendidos, parece uma
estrela […]» (l.4)
5
«[…] com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, amesma mansidão.» (ls. 4‐6)
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«E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa,testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega,que o dito polvo é o maior traidor do mar.» (ls. 6‐8)
«Consiste esta traição do polvo primeiramente emse vestir ou pintar das mesmas cores de todasaquelas cores a que está pegado.» (ls. 8‐10)
8
«As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia;» (ls. 10‐11)
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«[…] as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício.»(ls. 11‐12)
10
«Se está nos limos, faz‐se verde; se está na areia, faz‐se branco; se está nolodo, faz‐se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamentecostuma estar, faz‐se da cor da mesma pedra.» (ls. 12‐14)
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«E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vaipassando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentrodo seu próprio engano, lança‐lhe os braços de repente, e fá‐loprisioneiro.»
(ls. 15‐17)
12
«Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, masoutros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braçosfez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas.» (ls. 17‐20)
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«Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante;traçou a traição às escuras, mas executou‐a muito às claras. Opolvo, escurecendo‐se a si, tira a vista aos outros, e a primeiratraição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga ascores.» (ls. 20‐23)
14
«Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tuacomparação já é menos traidor!» (ls. 23‐25)
15
«Oh que excesso tão afrontoso e tão indigno de um elemento tão puro, tão claro e tão cristalino como o da água, espelho natural não só da terra senão do mesmo céu!» (ls. 26‐28)
16
«Lá disse o profeta por encarecimento, que “nas nuvens do ar até a água é escura”. E disse nomeadamente nas nuvens do ar, para atribuir a escuridade ao outro elemento, e não à água […]» (ls. 28‐31)
17
«[…] a qual em seu próprio elemento é sempre clara, diáfana e transparente, em que nada se pode ocultar, encobrir nem dissimular.» (ls. 31‐32)
18
«E que neste elemento se crie, se conserve e se exercite comtanto dano do bem público um monstro tão dissimulado, tãofingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamentetraidor!» (ls. 33‐35)
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1. Relacione semanticamente as palavras assinaladas nas expressões transcritas:
‐ «com aquele seu capelo na cabeça parece um monge»;‐ «com aqueles seus raios estendidos parece uma estrela»;‐ «com aquele não ter osso nem espinha parece a mesma brandura».
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Salienta‐se o uso da comparação, presente em cada
uma das citações. E é a relação de semelhança que está na base
destas comparações.
2. «E debaixo desta aparência tão modesta ou desta hipocrisia tão santa…»
2.1. Explicite a equivalência de sentido que o orador estabeleceu entre as duas expressões em destaque.
Salienta‐se a relação aparência/hipocrisia, isto é, a relação entre o
que se vê e o que se esconde, entre a verdade e o engano.
Atente‐se também na relação modesta/santa, ou seja, a aparência
que dissimula a hipocrisia, o engano.
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Destaca‐se a relação aparência/hipocrisia, isto é, a relação
entre o que se vê e o que se esconde, entre a verdade e o engano.
Atente‐se também na relação modesta/santa, ou seja, a
aparência que dissimula a hipocrisia, o engano.
2.2. O polvo é a alegoria de quê?
O polvo é a alegoria da dissimulação, do disfarce, da hipocrisia, datraição.
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A Alegoria é a personificação sob formafísica, em geral humana, de atributoscaracterísticos de uma virtude, dum vício, de umatendência, de um ser ou conceito abstracto,colectivo, de uma noção moral ou de uma ideia.
A Alegoria é a maneira de dizer uma coisapor outra, através duma metáfora. Representa‐seuma ideia abstracta através duma imagem que estádiante dos sentidos.
3. Releve no texto as expressões que reenviam para:
‐ enfoque sobre as atitudes traiçoeiras do polvo;‐ valor afectivo do léxico.
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«[…] se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a queestá pegado.» (ls. 9‐10);
«[…] e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprioengano […]» (ls. 15‐16);«[…] o polvo é o que abraça e mais o que prende.» (ls. 18‐19);«[…] e o polvo dos próprios braços faz as cordas.» (ls. 19‐20);«O polvo, escurecendo‐se a si, tira a vista aos outros, e a primeira
traição e roubo que faz, é à luz, para que não distinga as cores.»(ls. 22‐23).
4. Comente a escolha do caso de Judas como a última ampliação dosargumentos.
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O caso de Judas é não só conhecido do auditório, como tem o valor deexemplo recolhido nos textos sagrados, valendo, por isso, como argumento deautoridade.
A amplificação da traição do polvo reside no facto de este serapresentado como mais traidor do que Judas, o símbolo da traição por excelênciapara os cristãos. Trata‐se de um remate que surpreende e deleita pelo arrojo daargumentação.
5. Atente na referência à «água».
5.1. Compare as características da água com as do polvo.
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A água é pura, clara, cristalina, espelho natural da terra e do céu,diáfana, transparente, em que nada se pode ocultar, encobrir ou dissimular.
O polvo é apresentado como um monstro dissimulado, fingido, astuto,enganoso e, claro, traidor.
5.2. Que propósito serve a referência à água?
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A referência à água acentua o contraste com o polvo e põe em evidência
os seus defeitos.
FIM