Epístola Aos Romanos Por Martinho Lutero

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Epstola aos Romanos Por Martinho Lutero.

PREFCIO DA EPSTOLA AOS ROMANOS.

Martinho Lutero.Esta epstola a parte principal do Novo Testamento e o Evangelho mais puro. digna que todo Cristo, no s tenha de memria palavra por palavra, como tambm se ocupe nela como o po cotidiano da alma. Pois nunca pode chegar a ser lida e poderada o suficiente; e quanto mais estudada, tanto mais preciosa e apetecvel se torna. Porque at agora tem sido obscurecida de forma lamentvel com comentrios, e toda classe de charlatanismo, se bem que em si mesma uma luz brilhante, quase suficiente para iluminar toda a Escritura.
EXPLICAO DOS TERMOS USADOS NESSA EPSTOLAAntes de tudo, devemos conhecer sua linguagem, de maneira que saibamos o que So Paulo quer dizer com palavras como: LEI, PECADO, GRAA, F, JUSTIA, CARNE, ESPRITO e outras semelhantes; pois do contrrio a leitura no ter nenhum proveito.A LEIA palavra lei no deve ser entendida aqui no sentido humano, quer dizer, como ensino das obras que se tm de fazer, e as que se tm de evitar, o que prprio de leis humanas, que se cumprem com obras, ainda que o corao no participe. Deus julga o ntimo do corao. Por isso sua lei exige o mais ntimo do corao e no se satisfaz com obras; pelo contrrio, censura as que no procedem de um corao sincero, como hipocrisias e mentiras. Por isso chama de mentirosos todos os homens no Salmo 116:11, precisamente porque ningum guarda ou pode guardar a lei de todo corao. Pois qualquer um encontra em si mesmo desprazer para realizar o bem, e prazer para realizar o mal. Quando no existe o livre prazer de fazer o bem, tampouco existe esta ntima harmonia do corao com alei de Deus; ento certamente tambm h pecado e ira merecida de Deus, ainda que exteriormente apaream muitas boas obras e uma vida honrada.Por isso, conclui So Paulo, no segundo captulo, que todos os judeus so pecadores, e afirma que somente os que praticam a lei esto justificados ante Deus. Quer dizer com isso, que ningum se considere cumpridor da lei s pelo fato de realizar as obras da lei, seno que lhes diz: "Tu ensinas que no se deve cometer adultrio, mas tu adulteras. Da mesma maneira que julgas a outro, te condenas a ti mesmo, porque o que julgas o fazes tu mesmo". Como se dissesse: Tu vives muito bem exteriormente nas obras da lei, e condenas aos que no vivem assim e sabes ensinar a qualquer um; vs o cisco no olho alheio, mas no vs a viga que tem no teu olho.Porque ainda que exteriormente guardas a lei com obras por temor ao castigo, ou por amor ao prmio, sem dvida tudo o que fazes, fazes sem amor espontneo da lei, seno com desprazer e por obrigao; e com gosto atuarias de outra forma, se a lei no existisse. Disso se deduz que tu s inimigo da lei no ntimo do teu coro. Que significa que ensinas a outro a no furtar, quando tu mesmo no ntimo do teu corao s um ladro, e o serias exteriormente se pudesses? Claro que amide tambm a obra exterior no se faz esperar por longo tempo em tais hipcritas. Portanto ensinas a outros, mas no a ti mesmo. Tu mesmo no sabes o que ensinas e nunca entendestes a lei corretamente. Com efeito, a lei aumenta mais o pecado, como disse o apstolo no captulo 5, posto que o homem se faz mais inimigo da lei quanto mais ela exige o que ele no pode fazer.Por isso diz no captulo stimo: "A lei espiritual". Que quer dizer isto? Se a lei fosse corporal ento as obras bastariam. Mas como ela espiritual, no bastam as obras, salvo que tudo o que faas se faa verdadeiramente de corao. Mas ningum d um corao semelhante, seno o Esprito de Deus, que faz o homem concordar com a lei, de maneira tal que sente agrado por ela de todo corao, e da por diante faz tudo, no por temor, nem obrigao, seno por livre vontade, de corao. De tal forma a lei espiritual que quer ser amada e cumprida por coraes espirituais e exige um esprito tal. Se no se encontra este esprito no corao do homem, ento permanece o pecado, o desprazer, a inimizade contra a lei que , no obstante, boa, justa e santa.Acostuma-te, pois, a esta forma de falar: uma coisa realizar as obras da lei e outra coisa muito distinta, cumprir a lei. As obras da lei tudo o que o homem faz e pode fazer em conformidade com a lei por sua livre vontade e por suas prprias foras. Mas dado que sob e junto a essas obras permanecem no corao o desprazer e a obrigao para com a lei, por esse motivo todas essas obras so perdidas e sem nenhuma utilidade. Isto quer expressar So Paulo no terceiro captulo quando diz: "Nenhum homem ser justificado diante de Deus mediante as obras da lei". Por isso, podes ver agora que os disputadores escolsticos e sofistas so sedutores quando ensinam preparar-se com obras para a graa. Como se pode preparar com obras para o bem aquele que ao executar qualquer obra o faz com desprazer e contra a vontade em seu corao? Como poder agradar a Deus o que provm de um corao desprazeroso, e mal disposto?Mas cumprir a lei fazer suas obras com prazer e amor, viver de uma maneira piedosa e boa sem sua imposio, como se a lei e o castigo no existissem. Mas tal prazer de amor espontneo produzido no corao pelo Esprito Santo, como declara no captulo quinto. Mas o Esprito no dado seno somente em, com, ou pela f em Jesus Cristo como disse na introduo. E a f no vem seno somente pela palavra de Deus e o evangelho que prega a Cristo, que filho de Deus e homem, morto e ressucitado por ns, como afirma nos captulos terceiro, quarto e dcimo.Da resulta que somente a f justifique e cumpra a lei, pois obtm o Esprito pelo merecimento de Cristo, esprito que faz o corao alegre e livre, como o exige a lei: deste modo as boas obras provm da f mesma. Isto o que indica no captulo 3, depois de haver rechaado as obras da lei, dando a impresso de que quisesse suprimi-la mediante a f. No, diz, ns estabelecemos a lei mediante a f, isto , a cumprimos mediante a f.

PecadoA Escritura Sagrada chama pecado, no somente a obra exterior do corpo, seno a todas as atividades que impelem, ou movem para ela, como seja, o ntimo do corao com todas as suas foras. Por conseguinte a palavrinha fazer significa que o homem se entrega completamente ao pecado. Pois no se produz nenhuma obra exterior do pecado a menos que o homem se empenhe nela com corpo e alma. A Escritura enfoca especialmente ao corao e raiz e fonte principal de todo pecado que a incredualidade no ntimo do corao. Assim como somente a f justifica, trazendo consigo o Esprito e o prazer para as boas obras exteriores, da mesma maneira tambm somente a incredulidade peca e incita a carne e a faz sentir prazer pelas ms obras exteriores, como ocorreu com Ado e Eva no Paraso, Gen. 3:26.Por isso Cristo chama pecado somente a incredulidade, quando diz em Joo 16:8, 9: "O Esprito castigar o mundo, por causa do pecado, porque no crem em mim". Por isso tambm, antes de ocorrer boas ou ms obras, como sucede nos bons e maus frutos, deve existir primeiro no corao a f ou a incredulidade, como raiz, como seiva, e fora principal de todos os pecados, que chamado nas Escrituras a cabea da serpente, e do velho drago que seria espisoteada pela descendncia da mulher, por Cristo, como foi prometido a Ado.

GraaA diferena entre graa e ddiva que graa significa propriamente benevolncia ou favor de Deus que ele abriga consigo mesmo para conosco e que inclina a dar-nos a Cristo, ao Esprito com seus dons. Assim o evidencia no captulo quinto (Rom. 5:15) quando diz: "A graa e o dom em Cristo, etc. . ." Ainda que os dons e o Esprito cresam diariamente em ns no chegando nunca a ser perfeitos, de maneira que ainda permanecem em ns maus desejos e pecado, que lutam contra o esprito, como afirma mais adiante em Romanos 7:5, 14 e 23 e Glatas 5:17 e como se promete em Gnesis 3:15, a luta entre a estirpe da mulher e da serpentea graa faz tanto que nos podemos considerar completamente justificados diante de Deus; ela no se divide nem se fracciona, como ocorre com os dons, seno que nos incorpora totalmente em sua benevolncia, por causa de Cristo, nosso intercessor e mediador, e por haver comeado os dons em ns.Desta forma entendes, pois, o captulo stimo em que So Paulo se chama ainda pecador, e contudo afirma, no oitavo, que no h nada de condenvel naqueles que esto em Cristo por causa dos imperfeitos dons e do esprito. Somos ainda pecadores por causa da carne que ainda no morreu, mas porque cremos em Cristo e temos o princpio do Esprito. Deus to favorvel e misericordioso para conosco, que no considera tais pecados nem quer julg-los, seno que proceder conosco segundo nossa f em Cristo at que o pecado seja suprimido.3. FA f no a iluso humana ou o sonho que alguns consideram como tal e quando vem que no segue um melhoramento da vida nem boas obras, ainda que todavia possam ouvir e falar muito sobre ela, ento caem no erro e afirmam que a f no suficiente, de maneira que teriam de fazer obras para ser bom e salvo.Isto sucede quando escutam o evangelho e vm depois e formam por conta prpria um pensamento no corao que lhes diz: eu creio; depois consideram isso uma f correta; mas como uma inveno humana e um pensamento que nunca se experimenta no ntimo do corao, ento no chega a produzir nada e no se segue nenhuma melhora.Mas a f uma obra divina em ns, que nos transforma e nos faz nascer de novo, de Deus, S. Joo 1:13, mata o velho Ado e nos faz ser um homem distinto de corao, de nimo, de sentido e de todas as foras, trazendo o Esprito Santo consigo. A f uma coisa viva, laboriosa, ativa, poderosa de maneira que impossvel que no produza o bem sem cessar. Tampouco indaga se tem que fazer boas obras, seno, antes de perguntar j as fez e est sempre fazendo. Mas quem no faz tais obras um homem incrdulo, anda s tontas. Busca a f e as obras boas e no sabe o que F ou boas obras, e fala, e conversa muito sobre ambas.A f uma viva e inamovvel segurana na graa de Deus, to certa que um homem morreria mil vezes por ela. E tal segurana e conhecimento da graa divina faz o homem alegre, valente e contente ante Deus e todas as criaturas, pois o que realiza o Esprito Santo na f. Por isso se est disposto e contente sem nenhuma imposio para fazer o bem e servir a qualquer um, para sofrer tudo por amor e louvor a Deus, que lhe tem mostrado tal graa. Por conseguinte, impossvel separar a obra da f, to impossvel como separar o arder e o resplandecer do fogo. Por isso deves ter muito cuidado ante teus prprios falsos pensamentos, e ante inteis charlates que querem ser inteligentes para julgar sobre as boas obras e so os mais torpes.Roga a Deus para que produza a f em ti, do contrrio ficars eternamente privado dela, ainda que inventes ou faas o que quiserdes ou possas.

JustiaAgora bem, a justia tal f e se chama justia de Deus, ou que vale diante de Deus, pelo fato de que um dom de Deus e faz com que o homem d a cada um o que lhe deve. Pois pela f chega a ser o homem livre de pecado e a cumprir com agrado os mandamentos de Deus; com isso d a Deus a honra que lhe corresponde e lhe paga o que lhe deve. Mas o homem lhe serve voluntariamente com o que pode e paga tambm com isso a qualquer um. Tal justia no pode ser realizada pela natureza, pela livre vontade e por nossas foras. Pois assim como ningum pode dar f a si mesmo, tampouco ningum pode tirar a incredulidade. Como se quer, pois, remover um s pecado, ainda que fosse o menor deles? Por isso falsidade, hipocrisia e pecado o que ocorre fora da f ou na incredulidade (Rom. 14:23) por mais que seja em aparncia.

Carne e espritoA carne e o esprito no deves compreender aqui como se a primeira fosse somente o que concerne a impureza, e o segundo ao interior do corao. Paulo chama carne, igualmente que Cristo (So Joo 3:6), a todo o nascido de carne, todo o homem com corpo e alma, com a razo e todos os sentidos. Precisamente porque tudo no homem tende para a carne, de modo que tambm podes chamar carnal quele que sem a graa inventa muito sobre elevadas questes espirituais, ensina e fala muito. Podes aprender muito bem das obras da carne, segundo Glatas (5:19 em diante) onde o apstolo chama obra da carne tambm heresia e ao dio. Em Romanos 8:3 diz que, mediante a carne, a lei se debilita, o que no se afirma com respeito impureza, mas a todos os pecados e principalmente no que respeita incredulidade que o mais espiritual dos vcios.Por outra parte, tambm tens que chamar espiritual quele que realiza as obras mais externas, como Cristo ao lavar os ps dos discpulos, e Pedro ao conduzir a barca e pescar. Por conseguinte a carne um homem que vive e realiza interna e externamente o que est ao servio da carne e da vida temporal. O esprito o homem que vive e realiza interna e externamente o que est a servio do esprito e da vida eterna. Sem esta compreenso dessas palavras nunca entenders esta epstola de So Paulo nem nenhum livro da Sagrada Escritura. Por isso deves precaver-te de todos os mestres que utilizam estas palavras em outro sentido, seja quem for, Jernimo, Agostinho, Ambrsio, Orgenes, semelhantes a eles ou ainda superiores. Agora vamos considerar a Epstola.


Cap. 1Os pecados graves dos homensE dever de um pregador evanglico que em primeiro lugar, mediante a revelao da lei e dos pecados, castigue tudo e declare como pecado tudo o que no vivido como procedente do esprito e da f em Cristo, de modo que os homens sejam conduzidos para o conhecimento de si mesmos e de sua misria, para que se faam humildes e desejosos de ajuda. Da mesma forma o faz So Paulo e comea no primeiro captulo a castigar os pecados graves e a incredulidade que so visveis luz do dia, como os pecados que se deram e ainda se do nos pagos que vivem sem a graa de Deus, e afirma que mediante o evangelho a clera de Deus se revelar desde o cu sobre todos os homens por causa de seu atesmo e de sua injustia. Porque se bem sabem e vem diariamente que h um Deus, a natureza em si todavia, fora da graa, to perversa que nem lhe agradece nem lhe honra; pelo contrrio, se faz cega a si mesma e cai sem cessar em aes piores, at que depois da idolatria tambm produz os mais vergonhosos pecados e os vcios sem pudor, e alm disso permite que outros o faam de forma impune.
Cap. 2Hipocrisia e justia prpriaNo captulo seguinte estende tal castigo mesmo queles que to bons parecem exteriormente ou os que pecam em segredo, como ocorria com os judeus, e como sucede atualmente com todos os hipcritas que de m vontade vivem corretamente e no fundo do corao so inimigos da lei de Deus, mas que, contudo, acham um prazer em julgar a outras pessoas o que prprio de todos os impostores que se consideram a si mesmos puros, mas que esto cheios de avareza, de dio, de orgulho, e de toda imundcia, Mateus 23:27 em diante. Precisamente so aqueles que desprezam a bondade de Deus e que por sua dureza acumulam a clera de Deus sobre eles. Desta maneira So Paulo, como um autntico intrprete da lei, a ningum deixa sem pecado, seno que anuncia a clera de Deus a todos os que querem viver corretamente por sua prpria natureza ou por livre vontade, e no os faz aparecer melhores do que os pecadores comuns: com efeito afirma que so duros de corao e impenitentes.Cap. 3Todos os homens so pecadores; salvao por fNo captulo terceiro coloca a todos em um mesmo grupo e diz que um como o outro, todos pecadores ante Deus, exceto que os judeus tinham a palavra de Deus, ainda que muitos no creram nela; mas com isso no perde validade a f e a verdade de Deus, e acrescenta uma afirmao do Salmo 50:6 que Deus permanece justo em sua palavra. Depois insiste de novo e demonstra tambm mediante a Escritura que todos so pecadores e que pelas obras da lei ningum justificado, mas que a lei foi dada somente para reconhecer os pecados.Depois comea e mostra o reto caminho para chegar a ser bom e salvo, e afirma: Todos so pecadores e sem a glria de Deus, devem ser justificados sem merecimento algum pela f em Jesus Cristo quem nos tem feito merecidos por seu sangue, tendo chegado a ser um instrumento de propiciao por parte de Deus que perdoa nossos pacados anteriores para provar com isso que sua justia que ele entrega na f, a nica que nos ajuda. Naquele tempo foi revelada mediante o Evangelho, e antes testificada pela lei e os profetas. Assim a lei se estabelece mediante a f, ainda que com isso caem as obras da lei com toda sua glria.
Cap, 4 As boas obras como sinais exteriores da fNo captulo quarto j que nos primeiros trs captulos se puseram de manifesto os pecados, e se ensinou o caminho da f para a justia comea a defrontar algumas objees e protestos ; no primeiro termo considera aquela que em geral levantam os que ouvem que a f torna justo sem as obras e dizem no haver que se fazer agora boas obras: Ele mesmo cita o caso de Abrao e diz: Que fez pois Abrao com suas obras? Foi tudo em vo? No tinham suas obras nenhuma utilidade? E conclui que Abrao, sem obra alguma, somente pela f foi justificado, de tal maneira, que antes da obra de sua circunciso foi considerado como justo pela Escritura somente por causa de sua f, Genesis 15:6. Mas se a obra da circunciso no fez nada com respeito a sua justia, que sem embargo Deus lhe mandou e que era uma boa obra de obedincia, ento certamente no haver nenhuma outra obra que faa algo com respeito justia. Mas como a circunciso de Abrao era um sinal exterior para que provasse sua justia na f, ento todas as boas obras so somente sinais exteriores que resultam da f e mostram, como os bons frutos, que o homem j est justificado interiormente diante de Deus. Desta maneira confirma agora S. Paulo com um excelente exemplo da Escritura a doutrina pela f exposta no terceiro captulo e acrescenta ainda uma testemunha, Davi, no Salmo 32:1 e 2 que tambm sustenta que o homem justificado, sem obras, ainda que no deixar de fazer obras quando est justificado. Depois estende o exemplo a todas as obras da lei e conclui que os judeus no podem ser herana de Abrao somente por causa do sangue, muito menos ainda por causa das obras da lei, mas devem herdar a f de Abrao se querem ser herdeiros autnticos, porque Abrao antes da lei ambas, tanto a de Moiss como a da circunciso foi justificado pela f e chamado o pai de todos os crentes. Ademais, a lei produz mais ira que graa, porque ningum a cumpre com amor e gosto de modo que a lei produz mais no-graa do que graa. Por isso somente a f pode alcanar a graa prometida a Abrao, porque tambm esses exemplos foram escritos para ns, com o objetivo de que tambm crssemos.Cap. 5Os frutos da fNo quinto captulo refere-se aos frutos e obras da f: paz, alegria, amor a Deus e ao prximo; e mais segurana, intrepi- dez, resoluo, valor e esperana na tristeza e no sofrimento. Pois tudo isto o que se segue quando a f correta por causa do bem superabundante que Deus nos mostra em Cristo, a quem deixou morrer por ns, antes que o pedssemos, mas mesmo quando ainda ramos inimigos. Por conseguinte, evidente que a f sem obra alguma justifica, do que no se deduz, porm, que por isso no se deva fazer nenhuma obra boa, pelo contrrio, as obras verdadeiras no devem ficar fora; delas nada sabem os falsos devotos que inventam obras prprias nas quais no h nem paz, nem alegria, nem segurana, nem amor, nem esperana, nem intrepidez, nem nenhuma classe de verdadeira obra e f crist.Depois faz uma agradvel digresso e rodeio e relata de onde provm ambas, o pecado, e a justia, a morte e a vida, confrontando finalmente a ambos: Ado e Cristo. Quer dizer: por isso teve que vir Cristo, outro Ado, que nos deixasse a herana de sua justia, mediante um novo e espiritual nascimento na f, assim como aquele Ado nos deixou como herana o pecado mediante o original nascimento carnal. Mas manifesta e confirma com isso que ningum pode com as obras livrar-se, a si mesmo do pecado e chegar justia, assim como, to pouco pode evitar nascer corporalmente. Com isso se demonstra tambm que a lei divinaque por lgica deveria ajudarse que pode ajudar algo para a justia, no somente no tem ajudado, seno que tambm tem aumentado os pecados, pelo fato de que a m natureza se faz tanto mais inimiga da lei, e quer satisfazer seus apetites tanto mais quanto proibida pela lei. Desta maneira a lei torna ainda mais necessrio a Cristo e exige mais graa que ajude natureza.Epstola aos Romanos por Martinho Lutero (parte 4) Vale a Pena Ler!

Cap. 6A luta diria contra o pecadoNo captulo sexto considera a obra especial da f, a luta do esprito com a carne, dirigida a matar completamente os pecados e prazeres restantes que ficam depois da justificao, e nos ensina que ns no estamos livres pela f, de maneira que possamos estar ociosos, frouxos, e seguros, como se j no existisse nenhum pecado. O pecado continua existindo mas no conduz condenao por causa da f que luta contra ele. Por isso durante toda nossa vida temos bastante que fazer com ns mesmos, para subjugar nosso corpo, matar seus apetites, e dobrar seus membros, de maneira que sejam obedientes ao esprito e no aos prazeres, a fim de que sejamos iguais a Cristo, em sua morte e ressurreio e realizemos nosso batismo que significa tambm a morte dos pecados e uma nova vida na graa at que, totalmente puros dos pecados, ressuscitemos na forma corporal com Cristo e vivamos eternamente.E isto o podemos fazer porque, afirma ele, estamos na graa e no na lei. Isto o interpreta de maneira tal que no estar na lei no deve significar no ter nenhuma lei, de modo que se possa fazer o que cada um quer, seno que estar debaixo da lei significa ocupar-se em suas obras sem a graa. Ento dominar certamente o pecado pela lei, porque ningum sente uma inclinao natural por ela: mas isso mesmo um grande pecado. A graa, pelo contrrio, nos faz amveis lei, de modo que o pecado j no existe e a lei no est mais em oposio, seno de acordo conosco.Esta a verdadeira liberdade^ do pecado e da lei, do qual fala at o final deste captulo. E uma liberdade para fazer s e gozosamente o bem, e para viver de uma maneira piedosa sem a imposio da lei. Por tal motivo, tal liberdade uma liberdade espiritual, que no dispensa a lei, antes oferece o que exigido por ela, quer dizer, o prazer e o amor para que a lei seja silenciada, e no tenha mais que exercer ou exigir. E o mesmo que se tivesse alguma dvida com um senhor feudal e no fosse paga. Poderias desfazer-te dele de duas maneiras: ou bem no tomasse nada de ti e rompesse teu registro de dvidas, ou algum homem bondoso pagasse em teu lugar e te desse o suficiente para que sasses da dvida. Desta maneira Cristo nos libertou da lei. Por isso no uma liberdade desordenada e corporal que no tenha que fazer nada, seno uma liberdade que faz muitas e muitas obras, mas est livre da exigncia e da dvida da lei.Cap. 7Morto para a lei e o conflito dentro do crenteNo captulo stimo confirma o anterior mediante uma comparao com a vida matrimonial Quando um homem morre, ento sua mulher volta a estar solteira, e um est separado do outro definitivamente; mas no de tal maneira que a mulher no possa, ou que no lhe seja permitido tomar a outro homem por esposo, seno est mais ainda em completa liberdade para faz-lo, o que no podia fazer antes que morresse seu esposo. Assim nossa conscincia est atada a este homem velho e pecador; quando este perece mediante o esprito, ento est a conscincia livre e separada da lei, no no sentido de que a conscincia no tenha que fazer nada, seno que deve primeiro e realmente unir-se a Cristo, o outro esposo, e produzir frutos na vida.Depois expe a natureza do pecado e da lei, a saber como mediante a lei, se excita tanto mais, e se faz poderoso o pecado. Porque o homem velho se faz sempre mais inimigo da lei, porque no pode pagar o que exigido por ela.Pois o pecar sua natureza e no pode por si mesmo fazer outra coisa; por isso a lei sua morte e seu martrio. No que a lei seja m, seno que a m natureza no pode suportar o bem, ou seja, que a lei exija dele algo bom. Do mesmo modo que um enfermo no pode suportar que se exija que corra, e salte e faa outras obras prprias de uma pessoa s.Por isso conclui S. Paulo que onde se compreende bem a lei e captada da melhor maneira, ali no faz mais que recordar-nos de nossos pecados e nos mata mediante os mesmos e nos faz merecedores da ira eterna, o que se aprende e se experimenta to bem na conscincia quando tocada seriamente pela lei. Por conseguinte tem-se que ter algo distinto e superior lei para tornar o homem bom e salvo. Os que no entendem corretamente a lei so cegos; portam-se com temeridade e pensam satisfazer lei com obras, pois no sabem quanto exige um corao livre, de boa vontade, alegre. Por isso no podem olhar a Moiss face a face; pois est coberta e tapada para eles por um vu.Depois mostra como o esprito e a carne lutam entre si em um homem e se coloca ele mesmo como exemplo, para que aprendamos a obra de matar os pecados em ns. Mas ele chama a ambos, ao esprito e carne, uma lei, porque assim como prprio da lei divina que impulsione e exiga, assim tambm a carne impulsiona, exige e se rebela contra o esprito, e quer ver cumprido o seu desejo. Esta luta permanece em ns enquanto vivemos, em alguns mais, em outros menos, segundo que o esprito ou a carne chegue a ser mais forte; contudo o homem mesmo em sua totalidade ambas as coisas, esprito e carne; este homem luta consigo mesmo at que chegue a ser completamente espiritual.Cap. 8As aflies como ajuda contra a carneNo captulo oitavo consola a tais lutadores com que tal carne no condena, e mostra alm disso a natureza da carne e do esprito e como o esprito vem de Cristo que nos tem dado seu Esprito Santo que nos faz espirituais e modera a carne e nos assegura que no obstante somos filhos de Deus, ainda que o pecado desencadeia em ns o seu furor, sempre que siga- mos ao esprito e nos opomos ao pecado para mat-lo. Como nada melhor existe para suprimir a carne do que a cruz e o sofrimento, consola-nos no sofrimento mediante a assistncia do esprito, do amor e de todas as criaturas, quer dizer, ambas as coisas: o esprito suspira em ns e a criatura anela em ns que sejamos livrados ou libertados da carne e do pecado. Assim podemos ver que estes trs captulos se dirigem mesma obra de f, isto , matar o velho Ado e submeter a carne.