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Revista semanal Brasileira

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6 I ÉPOCA I 17 de agosto de 2015

Edição 897 I 17 de agosto de 2015

PRIMEIRO PLANODA REDAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

PERSONAGEM DA SEMANA . . . . . . . . . . 13

Os cidadãos de Jacarezinho, no Paraná,obrigam os vereadores a cortar gastos

A SEMANA EM NOTAS . . . . . . . . . . . . . . . . 16

A SEMANA EM FRASES . . . . . . . . . . . . . . . 18

EXPRESSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Investigadores da Lava Jato suspeitam queo ex-diretor Paulo Roberto Costa escondeinformações sobre Renan Calheiros

EUGÊNIO BUCCI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Omovimento que quer derrubar Dilma Rousseff

SUA OPINIÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

NOSSA OPINIÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

TEMPOTEATRO DA POLÍTICAO casamento de conveniênciaentre o governo e o PMDB . . . . . . . . . . . . . . . 28

Como Renan Calheirosse tornou fiador do governo . . . . . . . . . . . . . . 30

Dilma desarma as bombas contra ela . . . . . 34

ENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Marcus Vinicius Coêlho, presidente da OAB

INVESTIGAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

A conta secreta na Suíça da agênciade marketing do PT

DILEMAS DA ECONOMIA . . . . . . . . . . . . . 42

A China busca poder ao desvalorizarsua moeda

IDEIASDEBATES E PROVOCAÇÕESPor que reprimir o usoda maconha não funciona . . . . . . . . . . . . . . . 46

A experiência do Uruguai com aliberação completa da maconha . . . . . . . . . 50

A experiência dos Estados Unidoscom um novo mercado para as drogas . . . . 54

Dois artigos respondem:o consumo de drogas deveser descriminalizado? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

ENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Régis Debray, filósofo francês

HELIO GUROVITZ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Amatemática real de O poderdo pensamento matemático,aplicada ao Enem e às ciclovias

VIDAOLIMPÍADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Amenos de um ano dosJogos, o Parque Olímpicocomeça a tomar forma

ÉPOCA EM AÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

Cresce o número demulheres nas empresas bem avaliadas peloGPTW

BRUNO ASTUTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

Vanessa Giácomo de volta comoa protagonista de A regra do jogo

WALCYR CARRASCO . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

O homem periguete

MENTE ABERTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

A ligação entre amúsica sertanejae os poderosos de plantão

Marcos Caruso, dublador danova animação de O Pequeno Príncipe,conta como o livro o influenciou . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

JAIRO BOUER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

Carboidratos absolvidos

12 HORAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

RUTH DE AQUINO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

A violência no Rio antes da Olimpíada44

DIRETOR GERAL Frederic Zoghaib KacharDIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Alexandre Barsotti

DIRETOR DE MERCADO LEITOR Luciano Touguinha de Castro

Diretor de Redação: João Gabriel de Lima [email protected]: Diego EscosteguyDiretor de Arte Multiplataforma: Alexandre LucasEditores Executivos: Alexandre Mansur, Guilherme Evelin, Marcos CoronatoEditores-Colunistas: Bruno Astuto, Murilo RamosEditores: Aline Ribeiro, Bruno Ferrari, Danilo Venticinque, Flávia Yuri Oshima,João Luiz Vieira, Marcela Buscato, Marcelo Moura, Rodrigo TurrerRepórteres Especiais: Cristiane Segatto, José FucsColunistas: Eugênio Bucci, Guilherme Fiuza, Gustavo Cerbasi, Helio Gurovitz,Ivan Martins, Jairo Bouer, Marcio Atalla, Ruth de Aquino, Walcyr CarrascoRepórteres: Flávia Tavares, Graziele Oliveira, Marcelo Sperandio, Nathalia Bianco,Nina Finco, Pedro Marcondes de Moura, Ruan de Sousa Gabriel,Teresa Perosa, Thais Lazzeri, Vinicius GorczeskiEstagiários: Ana Helena Rodrigues, André Fagundes, Ariane Teresa de Freitas,Cristina Kashima, Gabriel Lellis, Harumi Visconti, Igor Utsumi, Patricia PeresSUCURSAIS l RIO DE JANEIRO: [email protected]ça Floriano, 19 – 8o andar – Centro – CEP 20031-050Diretora: Cristina Grillo; Repórteres: Acyr Méra Júnior, Daniela Barbi,Marcelo Bortoloti, Nonato Viegas, Sergio Garcia;Repórteres Especiais: Hudson Corrêa, Raphael Gomide; Samantha LimaEstagiária: Lívia Cunto Salles l BRASÍLIA: [email protected] 701 – Centro Empresarial Assis Chateaubriand – Bloco 2 – Salas 701/716 – Asa SulDiretor: Luiz Alberto Weber; Editor: Leandro Loyola;Repórteres: Filipe Coutinho, Thiago BronzattoFOTOGRAFIA l Editor: André Sarmento; Assistente: Sidinei LopesDESIGN E INFOGRAFIA l Editor: Daniel Pastori; Editora Assistente: Aline ChicaDesigners: Alyne Tanin, Daniel Graf, Renato Tanigawa;Editor de Infografia: Marco Vergotti; Infografista: Luiz C.D. SalomãoSECRETARIA EDITORIAL l Coordenador: Marco Antonio RangelREVISÃO l Coordenadora: Araci dos Reis Galvão de França; Revisores: Alice Rejaili Augusto,Elizabeth Tasiro, Silvana Marli de Souza Fernandes, Verginia Helena Costa RodriguesÉPOCA ONLINE l [email protected]: Liuca Yonaha; Editora Assistente: Isabela Kiesel;Repórteres: Bruno Calixto, Marina Ribeiro, Rafael Ciscati; Rodrigo Capelo;Vídeo: Pedro Schimidt; Web Designer: Giovana Tarakdjian; Estagiária: Gabriela VarellaCARTAS À REDAÇÃO: [email protected];Assistente Executiva: Jaqueline Damasceno; Assistentes: Nathália Machado Garcia,Victória Miwa; Pesquisa: CEDOC/Globopress;INOVAÇÃO DIGITAL: Diretor de Inovação Digital: Alexandre Maron;Gerente de Estratégia de Conteúdo Digital: Silvia Balieiro;Gerente de Tecnologia Digital: Carlos Eduardo Cruz; Gerente de InterfacesDigitais: Valter Bicudo; Designers: Janaina Torres, Sheyla Amaral; Esley Henrique eMarcella Maia (estagiários) Desenvolvedores: Bruno Agutoli, Everton Ribeiro, JefersonMendonça, Leonardo Turbiani, Marcio Esposito, Tcha-Tcho, Victor Hugo Oliveira da Silva

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MERCADO LEITOR: Diretor de Marketing: Cristiano Augusto Soares Santos;Ger. de Vendas de Assinaturas: Reginaldo Moreira da Silva; Ger. de Operações e Planejamentode Assinaturas: Ednei Zampese; Consultora de Marketing: Cássia Christe

ÉPOCA é uma publicação semanal da EDITORA GLOBO S.A. – Av. Jaguaré,1.485,São Paulo (SP),CEP 05346-902. Distribuidor exclusivo para todo o Brasil: Dinap – Distribuidora Nacional dePublicações GRÁFICAS: Log & Print Gráfica e Logística S.A. – Rua Joana Foresto Storani,676 – Distrito Industrial – Vinhedo, São Paulo, SP – CEP 13280-000.

Atendimento ao assinante

Disponível de segunda a sexta-feira, das 8 às 21 horas, e sábado, das 8 às 15 horas. Internet: www.editoraglobo.com.br/atendimento São Paulo: 11 3362-2000Demais localidades: 4003-9393* Fax: 11 3766-3755 (notificações da Justiça devem ser enviadas para 11 3767-7292)*Custo de ligação local. Serviço não-disponível em todo o Brasil.Para saber da disponibilidade do serviço em sua cidade, consulte sua operadora localPara anunciar ligue: SP: 11 3767-7700/3767-7489RJ: 21 3380-5923, e-mail: [email protected] se corresponder com a Redação: Endereçar cartas ao Diretor de Redação, Época. Caixa Postal66260, CEP 05315-999 – São Paulo, SP. Fax: 11 3767-7003 – e-mail: [email protected] cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente. Épocareserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação. Só podem ser incluídas naedição da mesma semana as cartas que chegarem à Redação até as 12 horas da quarta-feira.Edições anteriores: O pedido será atendido através do jornaleiro ao preço da edição atual, desdeque haja disponibilidade de estoque. Faça seu pedido na banca mais próxima.

O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Verifica-ção, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa - Ano 2012,da Editora Globo S.A., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dosdados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em conformi-dade com a NBR ISO 14064-1:2007 e Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.

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urante muito tempo os brasileiros tiveram uma preo-cupação: saber, afinal, o que significava ser brasileiro.

Criou-se todo um gênero literário a partir disso, com pelomenos duas obras-primas: Casa-grande & senzala, de Gil-berto Freyre, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Ho-landa. Numa entrevista, o historiador Evaldo Cabral deMello fez piada com o fato. Segundo ele, essa obsessão pelaoriginalidade era coisa de país em crise existencial. Afinal,não existem na Inglaterra livros sobreo que significa ser inglês. Nem os fran-ceses perdem tempo lendo sobre o quefazem melhor que ninguém: compor-tar-se como franceses.

Na área das artes, originalidade é es-sencial. Os brasileiros se orgulham dafusão entre samba, jazz e música eruditaque caracteriza a obra de Tom Jobim etambém das curvas desenhadas em con-creto de Oscar Niemeyer. Já na políticae na economia nem sempre é bom seroriginal. Um exemplo. Existe um con-senso no mundo todo em torno do temada responsabilidade fiscal. Esse consensoindepende de esquerda e direita. A direi-ta defende uma sociedade com impostosmais baixos, em que a inclusão social sedá com o aumento de oportunidadespara todos. A esquerda aposta nos im-postos altos, que possam financiar benefícios sociais. Os doismodelos são válidos, desde que no final a conta feche.

Em alguns momentos de sua história – o mais recenteagora, no primeiro governo de Dilma Rousseff –, o Brasilachou que poderia ser criativo em sua contabilidade. Comose tivéssemos inventado um estilo original de administrar,brasileiro e cheio de ginga como o samba, em que não énecessário fechar a conta no final. Deu errado, claro. E,como sempre, quem paga a conta da originalidade é o ci-dadão, principalmente o mais pobre. É ele quem gasta maisdinheiro para comprar os mesmos legumes na feira. Issoquando tem emprego – e salário para gastar na feira.

Algumas das boas ideias em vigor no Brasil de hoje seinspiram em experiências internacionais. Uma delas é aOperação Lava Jato. Os policiais e procuradores da força-

D

ESTUDOUma plantação demaconhano Uruguai. Um caso a seracompanhado emdetalhe

JoãoGabriel de LimaDiretor de Redação

Quando ser original– e quandonão ser

tarefa se basearam na Operação Mãos Limpas, que revo-lucionou o combate à corrupção na Itália nos anos 1990.Um novo Brasil pode emergir da Lava Jato. Que só é pos-sível porque importamos, há 30 anos, uma ideia nadaoriginal: a democracia, em que a separação de poderespermite que um fiscalize o outro. A democracia onde,graças à independência das instituições, a polícia podeinvestigar tudo, incluindo o governo a que responde.

Um tema que mobiliza o mundo,nos dias de hoje, é como combater otráfico de drogas. O novo consensomanda encarar a questão como de saú-de pública, e não de polícia, e eventual-mente liberar a venda de substânciasmais leves. Alguns países, como Uru-guai, Estados Unidos e Portugal, cria-ram leis e práticas inovadoras nessadireção. São experiências recentes,ainda é cedo para saber quanto sãoeficazes. Mas é importante estar aten-to a elas. Nesta semana, o SupremoTribunal Federal inicia um julgamen-to histórico no Brasil, no qual deverádeclarar inconstitucional punir umcidadão que carrega drogas para con-sumo próprio. Pode ser o fim de umaera em que usuários apanhados emflagrantes banais contribuem para lo-

tar nossas cadeias. Os anos mostraram que, no combateàs drogas, os excessos repressivos não funcionam. Olharpara os exemplos estrangeiros – como faz a reportagemque começa na página 44, de autoria de Marcelo Moura– pode ser um jeito de encontrar um caminho melhor.Que não precisa ser original.

Foto: Matilde Campodonico/ÉPOCA/AP

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PRIMEIROPLANO

Numa época em que governos precisam cortargastos, moradores de Jacarezinho, Paraná, pressionam

os vereadores a baixar seus próprios salários

Osgatosque rugem

CIDADÃOS DE JACAREZINHO

17 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 13

AJUSTEFISCALOnzedos 17

coordenadoresdomovimentoTodoPoder

EmanadoPovo. Ainiciativa deles veminspirando váriasoutras pelo país

Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA

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barulho de miados noturnos, vez ou ou-tra, atrapalha o sono de quem tem gatos navizinhança. Na segunda-feira, dia 10, emJacarezinho, interior do Paraná, o ruídomarcou um movimento de cidadania com

conteúdo raro no país. A cultura brasileira é marcada pelacriação contínua de despesas por parte do Poder Público.Isso vale para todas as instâncias, incluindo as cidades. Deacordo com essa cultura, os vereadores do município deJacarezinho decidiram criar mais quatro vagas na Câma-ra Municipal. Não conseguiram – e, pressionados, aindaaprovaram uma proposta que reduzirá os próprios salá-rios. Os vereadores se moveram sob a pressão dos miados– ironia com um representante do povo que chamou oscidadãos que protestavam de “gatos-pingados”.

A agitação felina que desembocou na votação histó-rica da semana passada começou em 13 de julho e tevea marca dos protestos modernos – que são convocadosusando ferramentas como WhatsApp e Facebook. No fimdaquela tarde, apareceu nas redes sociais a informação deque os vereadores votariam, nas horas seguintes, a criaçãode quatro novos postos. A mudança seria legal, uma vezque a Constituição permite até 13 cadeiras nas Câmarasde cidades com até 50 mil habitantes, caso de Jacarezinho.Além disso, o município tivera saldo positivo nas contasno ano passado e o mantém neste ano.“A saúde financeirada cidade vai bem”, afirma Sérgio Luiz de Faria, secretáriode Finanças. Nem todos os cidadãos concordavam, no en-tanto, que a boa situação nas contas era justificativa paracriar novas despesas. Diante da perspectiva de aumentode gastos na Câmara Municipal, 14 cidadãos saíram desuas casas e foram acompanhar a votação.

Às 8 da noite do dia 13, os vereadores rezaram o pai-nos-so, como de hábito, antes de iniciar a sessão. Em respostaaos questionamentos da plateia, um parlamentar tentoujustificar o aumento do número de cadeiras com uma falano mínimo cínica: “Com 13 vereadores, fica mais difícil deo prefeito comprar gente na Câmara”, disse Fabiano Saad(PSB). Ao que Valdir Maldonado (PDT), presidente da Câ-mara, interrompeu: “Não tem de dar satisfação para essesaí, não”. O comentário desdenhoso foi seguido de outro,do vice-presidente, José Izaias Gomes (PT). “Meia dúziade gatos-pingados achando que conseguem botar pressãoem alguém”, disse. Gomes, pelo jeito, nunca havia sofridocom gatos ruidosos sobre seu telhado durante a madrugada.

Sem experiência política, movidos só pela indignaçãocompartilhada, os 14 gatos-pingados saíram e se reu-niram na frente da Câmara. Só se conheciam de vista.Um sugeriu que organizassem um movimento. Outroemendou que o movimento só funcionaria se fosse apar-tidário. Trocaram nomes e telefones e criaram um gru-po no WhatsApp. No dia seguinte, fizeram uma páginano Facebook. Deram nome ao movimento: Todo PoderEmana do Povo, frase do primeiro artigo da Constituição.Mas ficou o apelido, Gatos-Pingados.

Em seu primeiro mês de existência, o grupo criou umaminuta de Projeto de Lei (PL) para pressionar o Legisla-tivo a baixar o salário dos vereadores. Conseguiu maisde 4 mil assinaturas. A estratégia de mobilização incluiudesde o convencimento porta em porta até entrevistaspara rádios locais. A justificativa para a redução é que ocargo de parlamentar não é uma profissão. “Acreditamosque, no médio prazo, só os comprometidos de verdadecom nossa cidade vão se candidatar se o subsídio for maisbaixo”, afirma Felipe Ambrósio, advogado e integrante doTodo Poder Emana do Povo. A reivindicação inicial é queo salário do parlamentar eleito na próxima legislatura sejao mínimo, de R$ 788. “Nos baseamos no exemplo de ou-tros países, Suécia, Inglaterra, Uruguai... queremos acabarcom os políticos de carreira.” Se o mínimo for adotado,diz, Jacarezinho economizará quase R$ 1 milhão ao ano.

A votação que decidiu tudo, na segunda-feira, dia 10,ocorreu sob os miados de 2 mil dos 40 mil habitantes dacidade, perfilados em frente à Câmara dos Vereadores.Ela tratou das duas propostas. A primeira, a reduçãoem 30% dos salários dos representantes da Casa, de R$6.200 para R$ 4.340, reajuste que entraria em vigor nopróximo mandato. A segunda, o recuo no aumento denove para 13 no número de cadeiras na Câmara. Diantedos miados enfurecidos do lado de fora, os vereadoresaprovaram ambas. No próximo mandato, o salário dosparlamentares será menor e o número de representantescontinuará o mesmo. Houve algum tumulto. Ao sair, opresidente da Câmara, Valdir Maldonado, mesmo escol-

OAlineRibeiro, de Jacarezinho

PERSONAGENS DA SEMANA

Foto: Jivago França/Futura Press/Estadão Conteúdo

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tado pela Polícia Militar, levou de um manifestanteuma “capacetada” no ombro. Descontou sua fúriaem outro, com um soco (ao longo da semana, osagressores foram às vítimas para se desculpar). Foio único episódio de violência registrado.

A coordenação do movimento Todo Poder Emanado Povo tem hoje 17 integrantes. Há homens e mulhe-res, simpatizantes da esquerda e da direita, empresá-rios, professores, empregadas domésticas, advogadose estudantes. As idades vão de 21 a 62 anos. No anopassado, durante a eleição presidencial, dois dos parti-cipantes haviam tido uma desavença virtual. O petistanão suportou as provocações de um amigo tucano nasredes sociais. “Ele até me deletou do Facebook”, diz,rindo, o empresário Alberto Bonardi Júnior.

Os gatos se multiplicam e continuam a incomodaros vereadores.Vez ou outra,o celular de um parlamentarapita com uma mensagem dos manifestantes. “Mia-aaaau”, diz a gravação de voz, enviada pelo WhatsApp.Ou então pula na tela a foto de um felino fofo. Maldo-nado, às vezes, encara com bom humor. “Virou umagataiada, não é?”, diz, rindo. A descontração passa.Policial reformado e pastor da Assembleia de Deus,o vereador, em seu primeiro mandato, diz que a car-reira política está longe do que sonhou. Depois doepisódio, Maldonado diz que vai abandoná-la. Emdois anos e meio de legislatura, não propôs nenhumprojeto de lei. Juntos, os parlamentares da Casa apre-sentaram, do ano passado até agora, 14 PLs – 12 delespara alterar nomes de rua. “Só votamos os projetosque o prefeito mandou. Tudo o que gera custo parao município, como projeto de asfalto, casa popular, éo prefeito que tem de apresentar. A função do verea-dor é fiscalizar”, diz. Engana-se. É também função devereador elaborar leis da competência do município.Em vez de criar gastos, novas leis podem simplificare dar racionalidade a serviços públicos, ao sistematributário, às isenções e anistias fiscais.

A multiplicação de felinos em Jacarezinho teminspirado outras cidades. Os moradores de Guaraci,Bandeirantes e Cambará, todas no Paraná, coletamassinaturas para baixar o salário dos vereadores.Pelo Facebook e por telefone, moradores do Norte eNordeste do Brasil têm pedido dicas ao movimentopara criar iniciativas semelhantes. A intenção dogrupo de Jacarezinho é criar um “observatório”para fiscalizar também o Executivo e expandir asreivindicações. “A gente começou pequeno, aquiembaixo. Quem sabe daqui a pouco isso não se es-tende para os deputados estaduais e federais? Podeaté chegar ao presidente”, diz o advogado RafaelBonito, do Todo Poder Emana do Povo.

Para os gatos de Jacarezinho, a noite mal começou. u

Com Marina Ribeiro

Cidadãos de Jacarezinho

“Quemsabeissoseestendeparadeputados

estaduaisefederais?Podeatéchegaraopresidente”

GATOS-PINGADOS

Cidadãos emfrente àCâmaraMunicipal. Elesmiaram até osvereadoresacordarem

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Umanova era para oGoogleUma das empresas mais bem-sucedidas domundoresolveu mudar de nome. O conjunto de companhiasantes chamado Google foi rebatizado como Alphabet.O grupo Alphabet inclui empresas em diversos negócios,como biotecnologia e drones. A maior dessas empresasé o Google, que passa a se concentrar só em internete fica sob o comando do engenheiro indiano SundarPichai. Larry Page, um dos fundadores do Google (eagora diretor presidente da Alphabet), diz que a ideiaé separar as empresas para gerenciá-las melhor. Aomesmo tempo, o grupo mantém as iniciativas em áreasinovadoras com resultado financeiro ainda incerto.

Direitos dosprofissionaisdo sexoA Anistia Internacionalpropôs na terça-feira, dia 11,a total descriminalização daatividade. As atrizes MerylStreep, Kate Winslet e AnneHathaway posicionaram-se contra, por receio de adescriminalização alcançarcafetões e donos de bordéis.Em vídeo, a Anistia negoutal possibilidade.

Homenssemhumor“Toda mulher é uma diva, e todohomem é ‘diva-gar’ (devagar).”Algunshomens ficaram ofendidos por serchamados de preguiçosos, algumasmulheres consideram o comercialda Bombril machista e o caso foiparar no Conselho Nacional deAutorregulamentação Publicitária. Ocaso deverá ser julgado em setembro.

Melhores empresaspara o consumidorComeça na segunda-feira, dia 17,e vai até o dia 25 de setembro avotação popular para escolher osvencedores do Prêmio ÉPOCAReclameAqui – As MelhoresEmpresas para os Consumidores.Para votar, acesse epoca.com.br.

Pixuleco 2Na quinta-feira, dia 13, a PolíciaFederal deflagrou a 18a fase daOperação Lava Jato, a Pixuleco 2.O objetivo é apurar negóciosenvolvendo propinas deR$ 50 milhões no Ministério doPlanejamento. Na sexta-feira, foi avez da Operação FairPlay, que apurasuperfaturamento de R$ 42,8 milhõesna construção da Arena Pernambucopara a Copa do Mundo de 2014.

AGOSTO I 2015

Seg Ter Qua Qui Sex Sáb Dom10 11 12 13 14 15 16

COMÉRCIOABAIXODEZEROO comérciovarejista teve

seu pior primeirosemestre em12 anos. Caiu

emcomparaçãocomomesmoperíododoanopassado.

QUE RESUMEM A SEMANA

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17 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 17

REFUGIADOSAOMAR Umbarco lotado de refugiados sírios ficou à deriva noMar Egeu,entre a Turquia e a Grécia, no dia 11. A Agência de Refugiados das Nações Unidas considerou um “caos total”a situação humanitária em ilhas doMediterrâneo, rota de emigrantes da Ásia e da África para a Europa.

Culpa nacrise hídricaO Tribunal de Contas do Estadode São Paulo afirmou que a faltade planejamento do governode Geraldo Alckmin (PSDB)agravou a crise hídrica. Segundoo relatório, o governo poderia teradotado medidas como combaterperdas de água na distribuição.O governo refutou a tese.

Fotos: Manu Fernandez/AP, reprodução, Yannis Behrakis/Reuters, Luis Moura/WPP/Folhapress, Getty Images/Top Photo Group RF(4), Getty Images/iStockphoto(5), Getty Images/Zoonar RF, Cleiby Trevisan/Editora Globo

Anoitemais violenta doano naGrandeSão PauloOnze ataques em duas horas deixaram 18 mortose sete feridos na noite de quinta para sexta-feira.

ASEQUÊNCIADEATAQUESEMOSASCOEBARUERI

Fonte: Secretaria de Segurança Pública de São Paulo

2 km

OSASCO

BARUERI

1morto

1morto

1morto

1morto1morto

1morto

2mortos

Oúltimoregistro dos

homicídios foi naRua Irene, emBarueri, com2mortos

O início dosataques ocorreunaRuaAntônioBenedito Ferreira,

emOsasco,onde 8pessoasforammortas

EmOsascoEmBarueri

SÃOPAULOOSASCO

15mortes3mortes

Mapa: Google Maps

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QUE RESUMEM A SEMANA

“Jogue noGoogle,não estou meescondendo”Kristen Stewart,atriz, ao responder se “já saiu do armário”.Ela define sua sexualidade como “fluida”

e

Fotos: Pascal Le Segretain/Getttty Images,Scott Barbour/Getty Images, reeeprodução,Givaldo Barbosa - Agência OOOGlobo (2)

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“Nosmaus temposda lida eu envergo,mas não quebro”Dilma Rousseff, presidenteda República e fã do cantor Lenine

“Ou ela mudaa rota ou mepergunto se vaiaguentar o baquepsicológico detrês anos e meio”Frei Betto, sobre a presidente Dilma

“Quando via proposta,achei que estavadelirando, voltandoaos tempos daditaduramilitar”JoséGomes Temporão, ex-ministro daSaúde, sobre a proposta de cobrançados procedimentos feitos pelo SistemaÚnico de Saúde (SUS), apresentada pelopresidente do Senado, Renan Calheiros

“Nós estaremos pondo fogono Brasil. Não é isso quea sociedade quer de nós”RenanCalheiros (PMDB-AL),presidente do Senado. Para ele, apreciar ascontas de Dilma – caminho para um possívelimpeachment – não é prioridade para o país

“Desde quando cumprirnossa obrigação é tacarfogo em alguma coisa?”Eduardo Cunha (PMDB-RJ),presidente da Câmara dos Deputados

“Kokkinakis f...sua namorada”

Nick Kyrgios,tenista australiano, citandooutro tenista para provocar

seu adversário, StanWawrinka.Ele terá de pagar umamultade até US$ 10mil – e aindaperdeu o jogo válido peloMasters 1.000 deMontreal

“Vêm sendomantidos comoos cubanos

mantêm os carrosamericanosfuncionando:no improviso

e semperspectivademelhora”

Peter Hakim,analista político, sobre os

partidos políticos brasileiros

DEDO NA CARA

TOMATE DA SEMANA

“Para quea gente toma umestimulante sexual?”AndersonSilva, lutador do UFC. A declaraçãoirônica foi feita naaudiência queo suspendeupor umano dos ringues, pelo uso de substâncias proibidas

“Eu não parei,estou parando”MaurrenMaggi, saltadora e campeãolímpica. Ela renovou a bolsa-atleta atéa Olimpíada de 2016, mesmo depois deanunciar que se aposentaria neste ano

“Hoje vejo pouca gentepensando no Brasil,e mais em Brasília”Paulo GuilhermeAguiar Cunha, presidente doConselho de Administração do Grupo Ultra. Eleafirma que “faltam lideranças políticas” ao país

“Não, medo não, todopaís tembandido”GregoryDelarus, imigrante haitiano,ao responder se tinhamedodemoraremSãoPaulo. Ele foi umdos seis haitianosatingidospor tirosdechumbinhoenquantocaminhavamna rua

O ILUMINADO

estimulante sexual?””

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[email protected] Ramos

Está rindodequê?s procuradores da Lava Jato esmiúçam seis fatos capazes deembasar a denúncia – ou denúncias – contra o presidente

do Senado, Renan Calheiros, e ainda estão em busca de mais. Atéagora, o que mais agrada aos investigadores são as informaçõesvindas do empreiteiro da UTC Ricardo Pessôa. A denúnciacontra Renan pode até ficar para depois da recondução doprocurador-geral da República, Rodrigo Janot, em setembro. Atélá, contudo, Renan e sua turma terão surpresas desagradáveis.

O

Sorriso amarelo

Gogó secoCom o avançodas investigações,os procuradoresperceberam que odiretor da PetrobraPaulo Roberto Cofoi deveras econômnas informaçõessobre Renan. Estásendo pressionadocolaborar de verdaSe não ajudar, corro risco de perder obenefícios da delaç

o

ex-asostamico

o aade.reosção.

Obrilho delleO senador Fernando Collor,atolado na Lava Jato, passouuma hora no movimentadohotel Maksoud Plaza, na capitalpaulista, na quinta-feira. Estavalá para agradecer o apoio dosecretário-geral do PTB, CamposMachado, neste momentodifícil. Collor não foi vaiado.

DDDesceu do trono 2DDDepois de Renan Calheiros terreeesolvido sua vida no Senado,a presidente Dilma prometefoooco na Câmara. Acredite sequuuiser: ela até receberá relesviiice-líderes de partidos dogoooverno para pedir empenhona defesa do Planalto.

PixulecagensEx-gerente de RecursosHumanos da Petrobras eex-chefe de gabinete de JoséEduardo Dutra, o sindicalistaDiego Hernandes está comas barbas de molho. É que aLava Jato se aproxima dele.

Sem tiltA Lava Jato tem tantas fases (18,mas quem está contando?) quenem os procuradores entendemmais o vendaval de dados. Vãocomprar um software paracruzar nomes com pixulecos.

Desceu do tronoO ex-presidente Lula elogiouooo esforço que a presidenteDDDilma Rousseff tem feito paraseee aproximar de políticos.AAAntes, Lula se queixava deqqque sua sucessora ficava“eeencastelada” no Planalto.

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ComNonato Viegas e Ricardo Della Coletta, e reportagem deAlana Rizzo e Leandro Loyola

O lobby religiosoRepresentante da Confederaçãodo Conselho de Pastores, o BispoRodovalho esteve com cinco ministrosdo STF para defender a manutençãoda criminalização do porte de drogas.Para ele, descriminalizar não resolveo problema da superpopulaçãocarcerária (leia a reportagem a partirda página 46). Nem com muita oraçãoo ponto de vista de Rodovalho vaiprevalecer no julgamento que a Cortefará nesta semana sobre o assunto.

Pisca-piscaA redução da tarifa na faixa mais carade consumo de energia – anunciadapelo governo como um ato degenerosidade – tem menos a ver como aumento da capacidade de geraçãoe mais com o desaquecimento doPIB. Como diria um ex-assessor deBill Clinton: é a economia, estúpido.

Não decolouFoi pelos ares a pretensão dosCorreios de comprar metade daRio Linhas Aéreas. O objetivoera que, turbinada, a empresa detransporte de cargas assumissea rede postal noturna, mas oTCU determinou que o governoanule o processo de compra.

Leia a coluna Expresso em epoca.co

OimponderávJader voltouO senador paraense JadeBarbalho tem indicado aamigos o livro Antifrágil:coisas que se beneficiam dcaos, do matemático libanNassim Nicholas Taleb. Nobra, ele defende que asincertezas são necessáriae que é preciso construircoisas resistentes aoimponderável. Na crise, odiscreto Jader tem sido cvez mais ouvido no PMD

Feitiçocontra feiticeiroPara minar Eduardo Cunha,o Planalto prometeu aosdeputados que pagará umaemenda de bancada por Estado.A execução obrigatória dasemendas coletivas foi uma daspromessas de campanha deCunha à presidência da Câmara.

O jogodo inimigo

UnanimidadeSabe as reclamações do PMDB sobrea demora de AloizioMercadanteem liberar cargos no governo? Poisé. Elas existem no PT também.Oministro das Comunicações,Ricardo Berzoini, se queixou nosúltimos dias a colegas de que a CasaCivil demora “um tempão” paraliberar duas nomeações na Anatel.

Ela querLula foi convidado mais de umavez para assumir um ministério nogoverno de Dilma. Já se falou emDefesa e Itamaraty. Todas as vezes,refugou. Apesar das negativas,outros convites serão feitos aoex-presidente. A insistência deve-seao fato de Dilma ver com simpatiaa ideia de ter Lula em sua equipe.

CPI de brinquedoO lobista da CBF no Congresso,Vanderberg Machado, diz nãohaver preocupação da entidadecom a CPI do Futebol: “Tantoo presidente (Romário) como orelator (Romero Jucá) já disseramque a comissão será propositiva”.

Consistede propinaA empresa Consist, suspeita dereceber dinheiro desviado doMinistério do Planejamento emserviços de crédito consignado,também ganhou muito dinheiroem contratos com a Caixa e aEletrosul, controladas pelo PT.

ConexãoUcrâniaA um ano da Olimpíada,brasileiros que se juntaram aogrupo separatista da Ucrânia estãosendo observados por órgãos desegurança. É que alguns delesparticiparam do movimentoBlack Block em 2013 e podemtumultuar os Jogos de 2016.

a u e o p ocesso de co p a.

om.br

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oadaDB.

Fotos: Beto Barata/Folhapress, Marcelo Ferreira/CB/D.A Press, Sergio Lima/Folhapress, Ladeira/Folhapress

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EUGÊNIO BUCCI

Eugênio Bucci é jornalista e professor da ECA-USP

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Omovimento que querderrubar Dilma Rousseff

xiste um forte movimento para derrubar DilmaRousseff. O movimento labial. Dela própria. Os

índices de desaprovação da presidente batem todos osrecordes e, para piorar, os insatisfeitos vão às ruas cau-dalosamente para protestar contra a governante. Esta, deseu lado, não se ajuda. Suas falas de improviso – impre-visíveis e imprevidentes – conspiram contra ela própriaa todo momento. Os improvisos de Dilma constituemum fator sério de embaraço para o governo dela. Talvezsejam o fator mais grave, muito embora hilariante, dedesestabilização política.

Quando Dilma solta o verbo e principia a dizer o quepensa (ou o que parece pensar que pensa), dá-se o desastreinstitucional em forma de comédia. Seus enunciados gerampiadas prontas de repercussão imediata e retumbante. Éimpossível não rir do ridículo autoimpos-to. Convertidas em musiquinhas ritmadasnas redes sociais, sua tirada sobre a “mu-lher sapiens” e sua louvação apologéticada mandioca já figuram entre os clássicosdo cancioneiro galhofeiro (nesse caso, agalhofa se volta contra a própria compo-sitora). Suas incursões à corrente filosó-fica da “negação da negação” revelam-seigualmente impagáveis. Aquela históriada meta que não é meta nenhuma (iguala zero, portanto) e que será dobrada tãologo seja atingida, convenhamos, deixa nochinelo tanto a dialética de Karl Marx como a estética deGroucho Marx (além da matemática, por certo). Não dápara não rir, mesmo chorando ao mesmo tempo.

Estamos submetidos a um discurso paradoxal, elípticoe disruptivo. Num país que, como já se disse, a cada 15anos esquece o que se passou nos últimos 15 anos, a presi-dente se afirma como um prodígio imbatível. A cada finalde frase, ela se esquece completamente do que pretendiadizer no início daquela mesmíssima frase. Consideran-do que suas orações costumam ser curtas, o negócio damemória que não tem memória (como a meta que não émeta nenhuma) transparece ainda mais. A incredulidadenervosa se apossa do público.

Quando Dilma fala, um sentimento de aflito suspen-se consome a parcela ultraminoritária da sociedade queainda insiste em apoiá-la. Quanto aos demais, que são aimensa maioria do povo, para eles é diversão garantida.Quando Dilma fala, o céu certamente não se ilumina –

nem se conjumina. Quando Dilma fala, só o que aconteceé que, desgraçadamente, o Brasil se dobra de rir. E ri tanto,com tanto gosto, que vai deixando de levá-la a sério. Seexiste hoje um movimento que tudo faz para derrubarDilma Rousseff, é o movimento labial dela própria. Acada palavra que a chefe de Estado pronuncia, lá se vaimais um decimal de seus escassos pontos de aprovação. Jáhá quem considere que, para o bem de todos e felicidadegeral da nação, o Congresso deveria aprovar em regimede urgência uma emenda constitucional suprimindo todae qualquer manifestação de improviso presidencial. Háquem argumente que esse não seria um caso de censuraprévia, mas postura preventiva.

Falando sério (se é que isso ainda é possível), se DilmaRousseff falasse menos, talvez a gente compreendesse mais.

As coisas não sairiam tanto do lugar. E nãoexistiria no horizonte do Brasil a sombrada corrosão máxima da autoridade na fi-gura da máxima autoridade da República.Mais um pouco e nem mesmo o moto-rista vai querer obedecer a ela. Falandosério, Dilma ganharia mais se aprumassemais sua mensagem ao país que governa,com sobriedade, frases serenas, pensadas(antes, de preferência) e sobretudo claras.Falando sério, estamos numa situação emque a desorientação dos improvisos denotauma desorientação política – o que é ainda

mais angustiante – e isso precisa ser revertido quanto antes.Ainda é tempo – e isso não é uma piada.

Até aqui, o desgoverno verbal de Dilma Rousseff sólhe prestou desserviços. Entre outros efeitos colaterais,fez com que Michel Temer parecesse o maior estadista dahistória do Brasil. Em contraste com o estilo randômicoda titular, o vice encarna agora o juízo imperturbável.Enquanto Dilma tece loas à mandioca, o vice não inclina asobrancelha nem quando comenta os arroubos de EduardoCunha. Com seus pronunciamentos estrábicos, que apon-tam para sentidos opostos sem ter sentido nenhum, Dilmatransferiu para Temer o lastro da governabilidade de seumandato. Se cair, a culpa terá sido principalmente de seumovimento labial. Se não cair, e será melhor que não caia,o mérito será da continência – a continência verbal – queela deve aprender já. u

E

A CADA PALAVRA QUEDILMA PRONUNCIA,SUA APROVAÇÃO CAI.SEUS IMPROVISOS

CONSPIRAM CONTRAELA A TODO MOMENTO

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vestigação. Espero apenas que seja algorígido, e que não varram apenas a sujeirapara debaixo dos panos. Ainda há muitoo que descobrir, mas é impressionantesaber que eles não sairão impunes. Pelomenos alguma justiça está sendo feita.

Juliana Luz,São Paulo, SP

E o Zé Dirceu? Enganou e roubou atéos companheiros de toda uma vida

de utopia. Teria de ser estudado por psi­quiatras, e o resultado dos estudos publi­cado em livro, pois é patológico. Somentesua vaidade pessoal teria levado a esse pon­to. Uma vez bandido, sempre bandido.

Luiz Thadeu Nunes e Silva,São Luís, MA

UMOLHAR ECONÔMICONA EDUCAÇÃOEm entrevista, o economistaRicardo Paes de Barros (“A criseda educação é mais grave do quea da pobreza”, 896/2015) criticouo Plano Nacional de Educação

Se tivéssemos bons representantespara nosso Brasil, com certeza ha­

veria mais educação e menos pobreza.Mas diante dos últimos acontecimentosa pobreza maior é a de espírito. E a igno­rância vem de nossos representantes po­líticos, porque se fossem inteligentes nãoestaríamos enfrentando essa crise quevivemos hoje. O que adianta gastar emCopa do Mundo e Olimpíadas? E agoranós, humildes, temos de tampar o rom­bo, tirando o pouco que o brasileiro tem.

Fernanda Luz,via Facebook

Será que a pobreza não é a consequên­cia da crise da educação? Comparar

não é o caminho, tem é de atacar essacrise da educação.

Tião Bento,via Twitter

Escreva para:[email protected]

UM PASSADOQUE CONDENAEm “Três vícios de origem”(896/2015), ÉPOCA explicoupor que a crise atual é umaconsequência de erros do passado

A prisão de corruptos, como JoséDirceu, reacende no cidadão de bem

a maravilhosa sensação de que ser ho­nesto compensa.

Abel Pires Rodrigues,Rio de Janeiro, RJ

As políticas populistas somadas auma gestão que gasta sem controles

nos trouxeram a essa crise que parecenão ter fim.

Bárbara Dourado,via Facebook

Quem diria que Zé Dirceu, a essaaltura da vida, viraria capa de revis­

ta e iria para a cadeia ao mesmo tempo.José Alfredo de Carvalho,

via Facebook

Estava claro que uma hora ou outravoltaríamos as atenções para a turma

de Dirceu e companhia. É bom ver queessas ações estão passando por uma in­

COMENTÁRIO DA SEMANA

Não tem por que enterrarmosnossa própria história. Escondendoa ditadura, quemarcoumuitasfamílias, ou casos de corrupçãoque não ficarão impunes”Priscila Garcia,São Paulo, SP

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MAIS COMENTADAS MAIS LIDAS MAIS COMPARTILHADAS

INSTAGRAM DO LEITOR

@paolaluzzatiotero venceu o tema“Mudanças”. Confira mais fotose o tema da próxima edição no sitede ÉPOCA: glo.bo/bombou

HISTÓRIAPESSOALEm“Odiaemquepapainãovoltou”(896/2015),oescritorMarceloRubensPaivaeduasdesuas irmãsrelataramodesaparecimentodeseupaiduranteaditaduramilitar

A reportagem com a família do ex­deputado Rubens Paiva, um dos de­

saparecidos durante a ditadura militar, foicolocada num momento muito sugestivo.Enquanto milhões de pais receberam ho­menagens e carinhos de seus filhos nessedia, a família Paiva não teve o que come­morar. Queremos respeito aos direitoshumanos, em todos os sentidos.

Uriel VillasBoas,Santos, SP

O relato de Marcelo Rubens Paiva ede suas irmãs é emocionante. Fica

claro como foi viver em tempos de dita­dura. Aqueles que tiveram uma boa vidaforam os que lucraram com os militaresno poder. O resto do povo vivenciou outrarealidade: censura e opressão.

Maria LuizaCepedo,SãoPaulo, SP

OPARADOXODEDILMAEm “A quem interessa a quedade Dilma” (896/2015), a colunistaRuth de Aquino faz uma análisedo cenário político

Penso que existe um outro aspecto aser abordado: na hipótese da perma­

nência da atual presidente até o fim do man­dato, a julgar pelos atos passados, a tendên­cia, penso eu, seria de que a situação do paísse agravasse ainda mais. Haja vista que acapacidade dela de reconhecer os próprioserros é muito pequena, além de não aceitarmudanças de rumo que não sejam aquelasque ela entende que seriam as corretas.

JeronimoB.Amaral,BeloHorizonte, MG

Não acho que Lula seja tão espertoquanto diz a reportagem. Ele só tem

imagem, os gênios estão nos bastidores.E dão medo.

HiramPascoal,via Twitter

Ricardo Paes de Barros:“A crise da educação é maisgrave do que a da pobreza”

Entenda como a ArenaCorinthians definiu a...Coluna ÉPOCA Esporte Clube

Filho de Lulaabre empresaColuna Expresso

Quem substitui a Nike?Com novo modelo, Santos...Coluna ÉPOCA Esporte Clube

A quem interessaa queda de DilmaColuna de Ruth de Aquino

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Mariana Munhão: “Não éfácil acordar e saber quesua filha virou filho”

Há dois anos nos EstadosUnidos, Fernanda Pontes...Coluna de Bruno Astuto

Sexo com sentimentosColuna de Ivan Martins

Flávia Alessandra radicalizae vira loura platinadaColuna de Bruno Astuto

Quem substitui a Nike?Com novo modelo, Santos...Coluna ÉPOCA Esporte Clube

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Mariana Munhão: “Nãoé fácil acordar e saberque sua filha virou filho”

Sexo com sentimentosColuna de Ivan Martins

A era dagrosseria on-line

A crise atual é consequênciado modo petista defazer política

Ricardo Paes de Barros:“A crise da educação é maisgrave do que a da pobreza”

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AMARCADADITADURAOescritor

Marcelo RubensPaiva em seuapartamentoemSão Paulo.

Livroautobiográficosobre episódios

da infância

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m dos principais problemas do Brasil éque o governo está em profunda crise,mas a oposição, além de gritar, tem

pouco a dizer. O Brasil está com carência delideranças – e nem o governo nem a oposiçãooferecem uma perspectiva de futuro para opaís. O presidente do Congresso, senadorRenan Calheiros (PMDB-AL), percebeu essevácuo e pavimentou sua reaproximação com ogoverno Dilma Rousseff com a apresentação deum elenco de propostas de mudanças legislati-vas, batizado de Agenda Brasil. Elas foram con-cebidas com o objetivo proclamado de tirar opaís da crise e foram estruturadas em três eixos:melhoria do ambiente de negócios, equilíbriofiscal e proteção social.

A Agenda tinha inicialmente 29 propostas.Em sua última versão, estava com 43 itens. Porsugestão do governo, que a abraçou, apesar derelutância inicial da presidente Dilma, houvealguns acréscimos e pontos foram retirados.Uma das propostas suprimidas foi a ideia dacobrança de pagamento por serviços do SistemaÚnico de Saúde (SUS), inviável por inconstitu-

U

Sem o ajuste fiscal, a curtíssimoprazo, os planos de longo prazo tendema ficar muito mais complicados

Aagendaqueprecedeasdemais

cional. Outras propostas fazem todo o sentido,como a redução do número de ministérios ecargos comissionados na máquina pública fe-deral, o estabelecimento de uma idade mínimapara a aposentadoria e a reforma do ICMS (Im-posto sobre a Circulação de Mercadorias e Ser-viços). Como a crise brasileira não se resolverácom factoides, sua implementação exigirá mui-to mais que esforços de marketing, tornadosevidentes na forma como a Agenda foi rapida-mente costurada e apresentada.

A Agenda, em que pese seu caráter publicitá-rio, pelo menos é um gesto na direção correta.Com seus méritos e defeitos, ela procura saciara falta de projetos, cada vez mais percebida pelapopulação. Segundo pesquisa do instituto DataPopular, publicada pelo jornal O Globo, a pre-sidente Dilma Rousseff pode ser impopular –mas 71% dos eleitores dizem que os partidosque fazem oposição a ela agem por “interessepróprio”, não “pelo bem do país”. “O brasileironão está vendo luz no fim do túnel”, diz RenatoMeirelles, sócio diretor do Data Popular. Porisso, as propostas que apontam para a solução

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Irritado com o governo Dilma e na mira daProcuradoria-Geral da República por conta dasinvestigações da Operação Lava Jato, Renanlogo golpeou o plano de ajuste de Levy ao de-volver a Medida Provisória enviada ao Congres-so que mudava a política de desoneração dasfolhas de pagamento. A proposta de mudançapassou a tramitar na forma de Projeto de Lei.Outro golpe foi a aprovação pelo Senado, emjunho, de forma unânime, de reajuste salarialpara servidores do Poder Judiciário, com índi-ces variáveis entre 53% e 78,5% de acordo como cargo. Vetada pela presidente Dilma, a medi-da implicaria gastos públicos adicionais deR$ 25 bilhões nos próximos quatro anos.

É preciso que os líderes do Congresso Nacionalentendam o recado das pesquisas de opinião pú-blica.A população está cansada das querelas bra-silienses e anseia por propostas consistentes queapontem para uma luz no fim do túnel na atualcrise do país. Mas elas só serão viáveis se o planode ajuste das contas públicas nacionais prosse-guir. Sem esse ajuste a curto prazo, as soluções, alongo prazo, vão se tornar ainda mais difíceis. u

ALÉMDOSIMBOLISMO

Osministros doPlanejamento,

Nelson Barbosa,e da Fazenda,Joaquim Levy,discutem como presidente do

Congresso, RenanCalheiros (ostrês ao fundo),e senadorespropostas

anticrises. Éprecisomaisdo que gestos

de problemas estruturais do país, como a for-mulada pelos economistas tucanos Samuel Pes-soa e Mansueto Almeida, junto com MarcosLisboa, que trabalhou no governo Lula, sãobem-vindas. O mesmo pode ser dito sobre aproposta do Senado.

Para além dos gestos simbólicos, os senado-res precisam agora mostrar também decisõesconcretas na construção de uma agenda igual-mente urgente e de curtíssimo prazo: a apro-vação das medidas do plano de ajuste fiscal doministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a rejei-ção de novas leis que resultem em aumentosdos gastos públicos, no momento em que oEstado brasileiro precisa conter gastos. Apesarde seu discurso recente a favor do equilíbriofiscal, o senador Renan Calheiros é um relati-vo cristão-novo nesse credo. No seu estilo,mais silencioso que o do presidente da Câma-ra, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ),Renan semeou também bombas que ajudarama transformar o Congresso em campo minadopara o plano de ajuste do ministro JoaquimLevy (leia a partir da página 30).

Foto: Renato Costa/Frame/Agência OGlobo

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TEMPOTEATRO

DA POLÍT ICA

Às vésperas das manifestações, RenanCalheiros e o PMDB do Senado fazem acordocom a presidente Dilma Rousseff. Jogam pelaprópria sobrevivência – mas, ainda assim,podem ajudar o Brasil a atravessar a crise

unca o PMDB foi tãoPMDB. O espírito deconciliação e união dopartido, forjado na tenta-tiva de transição suave da

ditadura para a democracia, há 30 anos,assomou com força na semana passa-da, provando, como se fosse necessário,que, no sistema político brasileiro, aindanão há estabilidade institucional sem oPMDB. Até então, o PMDB exibia, nacrise que acomete o Brasil, apenas o ladoruim – um lado de propinas, conchavose agendas pessoais e financeiras, comodemonstram diuturnamente as investi-gações da Lava Jato. Coube ao presidente

N do Senado, Renan Calheiros, anunciarao país a agenda esquecida do partido.A “Agenda Brasil”, como foi batizado oconjunto de propostas formulado pelosenador Romero Jucá, é um mero gesto.Muito – ou quase tudo – do que se ex-põe ali não vingará. Mas o Brasil precisa,antes de tudo, de gestos desse jaez. Mes-mo que a razão do gesto esteja em ou-tra agenda: salvar mandatos ameaçadosseriamente pela Lava Jato (leia a partirda página 30).A presidente Dilma Rous-seff, genuflexa no altar da crise, não teveopção.Acolheu com entusiasmo o gesto.E finalmente saiu a campo, em discursose atos políticos destinados a salvar-lhe a

Presidência (leia a partir da página 34).O alinhamento do Planalto e do

Senado, do PT de Lula e do PMDB deRenan, é frágil e, quem sabe, momen-tâneo. Depende do equilíbrio de forçasque nenhum ator político controla – asforças que estão em Curitiba e em Bra-sília, à frente da Lava Jato, e as forças dasruas, que estão em todo o país. Mesmoassim, o gesto de união constitui umaréstia de esperança de que os políticosde Brasília agirão, neste grave momento,com a responsabilidade que o país exigee precisa, a começar pelo ajuste fiscalainda em tramitação no Congresso.Essa é a agenda do Brasil.

Montagem sobre fotos Joedson Alves/AP e Pedro Ladeira/Folhapress

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Renan, seus aliados no PMDB e Lulapõem emmarcha a estratégia para todosse salvarem da matança da Lava Jato:acenar como guardiões da estabilidade

TEATRO DA POLÍT ICA

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esde o início de junho, a trincaque comanda o PMDB no Se-nado, formada pelo presidente,

Renan Calheiros, e seus colegas mais pró-ximos, Eunício Oliveira e Romero Jucá –Renan e Jucá encrencados na Lava Jato –,estabeleceu o mais astuto curso de açãopara sobreviver à matança política dopetrolão. Trata-se da solução Sarney:aparecer como grupo político altivo e se-reno, empenhado em acalmar os espíri-tos carbonários que mantêm a Repúblicaem permanente estado de instabilidade.

Como ensina a solução Sarney, essetipo de poder se estabelece passivamen-te, e aos poucos. Num primeiro momen-to, a turma do PMDB passou a tramaro enfraquecimento da presidente Dil-ma Rousseff. Nisso, a atuação do presi-dente da Câmara, Eduardo Cunha, mos-trou-se fundamental. Enquanto Dilmae Cunha duelavam em público, Renane o PMDB do Senado envenenavam osouvidos de ambos. O terremoto da LavaJato fazia o chão de Brasília tremer sobtodos. Mas Renan e sua turma haviamtransformado o Senado num lugar me-nos perigoso para se abrigar.

A trinca do PMDB do Senado pas-sou a fazer reuniões diárias. Além dearticular, juntavam propostas cuja di-vulgação, se feita no momento certo eapós os acordos necessários, selaria a so-lução Sarney. Como em tudo nessa arti-culação, o gesto, e a percepção do gesto,seria mais importante do que dar vidaàs ideias discutidas. De fora do grupo,apenas o senador Jader Barbalho sabiada iniciativa e dava palpites. O minis-tro da Fazenda, Joaquim Levy, foi cha-mado para alguns dos encontros. Cienteou não, Levy deu legitimidade ao grupo.Gostava das propostas – algumas coin-cidem com o que sua equipe no Minis-tério da Fazenda estuda para o médioprazo –, mas resistia a apoiar a iniciati-va. “Pode desviar a atenção da serieda-de necessária para o ajuste fiscal”, diziaLevy. Mas Levy foi convencido aos pou-cos. Assim, no início da semana passada,no mais dramático momento desde ocomeço da crise, e após os acordos cer-tos, a presidente Dilma Rousseff rece-beu o resultado: a “Agenda Brasil”, umalista de 28 propostas genéricas para re-

DLeandro Loyola

TAMO JUNTOChefes do PMDB eLula se encontram

emBrasília, nasemana passada.

Acordo parasuperar a crise

animar a economia. “Muito bom. Gos-tei”, foi só o que disse Dilma quandorecebeu as propostas das mãos do vice,Michel Temer – que, ao não se opor aotrabalho da turma, dizia, sem dizer, quepoderiam ir em frente.

No dia seguinte, Renan apresentou odocumento na Tribuna do Senado. Po-sou como alguém que estende a mãopara ajudar um governo em inanição.Foi uma surpresa vinda de um algozquase implacável de Dilma este ano. Re-nan e seus aliados haviam botado Dil-ma no bolso. Ao menos até que a LavaJato, a variável que controla a crise po-lítica, embora nenhum político a con-trole, desça novas pancadas no Senado eno Planalto. As pancadas são certas. Masé o tamanho e a natureza delas que po-dem desmontar essa frágil aliança mo-mentânea entre Dilma, a presidente quepeleja para salvar o mandato, e a turmado PMDB do Senado.

Em sua essência, a “Agenda Brasil”é um conjunto de propostas, váriasem andamento, entre elas ideias mui-to boas (leia Nossa Opinião, na página26), mas nenhuma de fácil aprovação oucapaz de reduzir rapidamente os efei-tos da crise econômica. Trata-se de umdocumento bem-vindo num momentoem que há carência de propostas. Ecoatambém um pedido de Lula para que secriem fatos políticos positivos. A solu-ção Sarney foi aprovada por Lula. Nãoà toa, o petista posou para fotos, na se-mana passada, em café da manhã comTemer e os demais chefes do PMDB (aolado). A sobrevivência de Lula, na LavaJato, também depende deles.

Renan Calheiros ainda deixou claroque, apesar de dar uma força, não vaise misturar ao governo. “Não estamosestendendo a mão a um governo que éefêmero e falível”, disse Renan.“Discu-tir o impeachment todos os dias nãoresolve a crise econômica. O que acha-mos inadiável é separar as crises. O go-verno Dilma não é o Brasil. O governoDilma tem data para acabar e o Brasilvai continuar existindo.” Falou o quemuitos queriam – e precisavam deses-peradamente – ouvir.

A intenção de Renan não é expulsarde vez do horizonte a chance de um s

Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo

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TEATRO DA POLÍT ICA

fim prematuro do governo; é apenasretardar o ritmo da deterioração e ga-nhar tempo para analisar a evoluçãoda economia brasileira. Ao contrárioda oposição, a fatia do PMDB que do-mina o Senado não gostaria de assu-mir o governo nas atuais condições. Ovice-presidente, Michel Temer, já dissea amigos que não se sentiria à vonta-de para governar em caso de uma que-da abrupta de Dilma. O que o PMDBteme é tornar-se vítima da crise eco-nômica. Em suas conversas, os sena-dores estão convencidos de que a raivaproduzida pela exposição da corrupçãopela Operação Lava Jato só é tão gran-de porque há uma crise. A melhor saí-da é procurar agradar sem ter o ônusde levar as pancadas, um papel destina-do a Dilma e a sua equipe do PT – que,com a gestão temerária no primeiromandato, são os principais responsá-veis pelo mau momento que vivemos.

A solução Sarney criou um sério atri-to entre Renan e Eduardo Cunha. Desdeque ambos viraram alvos da Lava Jato,os dois trabalham para desgastar Dilmae o procurador-geral da República, Ro-drigo Janot, como forma de sobrevivên-cia. Até a crise deste ano, Cunha e Renaneram adversários dentro do PMDB. O

para o PMDB do Senado. Collor, queaté xingou Janot da tribuna, se expõesem pudores; os demais senadores não.O desgaste a Dilma seria feito nos traba-lhos legislativos e no palavrório.

Assim se fez até recentemente. Amanobra de Renan e sua turma dei-xou Cunha sozinho entre os chefes doPMDB. E é nisso, além da Lava Jato, quereside a fragilidade da solução Sarney.Cunha sabe muito sobre Renan e podedestruir o abrigo que o PMDB do Sena-do construiu para o terremoto do pe-trolão. Cunha, ademais, pode atrapa-lhar, na Câmara, os trâmites da “AgendaBrasil”. Com exceção de propostas tidascomo essenciais para o ajuste fiscal.

Os movimentos em Brasília, nestelongo mês de agosto, são, ao contráriodo que sugerem as aparências, simplesmanobras de sobrevivência para as pró-ximas batalhas da guerra da Lava Jato. OPMDB, seja no Senado, seja na Câma-ra, seja na Vice-Presidência, assim comoDilma, prepara-se para os avanços deJanot e dos procuradores de Curitiba.Denúncias contra Cunha e Renan virãoem breve e atingirão outros políticos eseus respectivos partidos. Quem estivermais bem posicionado tem mais chancesde sobreviver. Essa é a agenda deles. u

TRAIÇÃORenan era aliadode Eduardo Cunha(acima) na lutacontra Janote Dilma. A novamanobra deRenan enfureceuCunha, quepode retaliá-lo

Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

derretimento de Dilma e os destinos en-trelaçados no petrolão levaram os doisa firmar, como bons chefes do PMDB,um acordo de interesses. Ambos ataca-riam Janot – e ambos trabalhariam paraaleijar o governo Dilma. Cunha ataca-ria Janot direta e publicamente, além deusar a CPI da Petrobras na Câmara paraconstranger a equipe do procurador-ge-ral. Renan atacaria Janot por intermédiodo senador Fernando Collor, tambémencrencado no petrolão e artilharia útil

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unca antes neste país – oumelhor, nunca antes em seugoverno – Dilma Rousseff fez

tanta política. Na semana passada, pro-moveu um jantar com cinco ministrosdo Supremo Tribunal Federal, inclusi-ve o presidente, Ricardo Lewandowski.Recebeu também os presidentes do Su-perior Tribunal de Justiça, do TribunalSuperior do Trabalho e do SuperiorTribunal Militar, o procurador-geralda República, Rodrigo Janot, e caci-ques de vários partidos. Conversoumuito, o que não faz parte de seu estilopolítico. Cair nos braços do povo tam-bém não é de seu feitio – mas Dilma,na semana passada, abriu várias exce-ções. Em parte por causa da mudançade estilo, Dilma terminou a semanamelhor do que começou. No inícioda semana, ela era uma presidentepressionada pelo Tribunal de Contasda União (TCU), que ameaça rejeitarsuas contas, e pelo Tribunal SuperiorEleitoral, que examina denúncias sobrea campanha que a elegeu. No final dasemana, as pressões nas duas instânciasestavam bem menores.

A maior vitória de Dilma se deu noâmbito do TCU – e se deve, em parte,à mais frutífera conversa que Dilmamanteve na semana passada, com opresidente do Senado, Renan Calhei-ros (PMDB) (leia mais a partir da pá-gina 30). Com a anuência de Renan,a senadora Rose de Freitas (PMDB),presidente da Comissão Mista do Or-çamento, recorreu ao Supremo Tri-bunal Federal para anular o trabalhode Eduardo Cunha com as contas dosgovernos Itamar Franco, FernandoHenrique e Lula. O ministro Luís Ro-berto Barroso, do Supremo, decidiuque, daqui para a frente, as votaçõessobre contas deverão ocorrer sempreem sessões do Congresso Nacional,

NLeandro Loyola

TEATRO DA POLÍT ICA

...Dilma Rousseff fez tanta política. E term in

quando a Câmara e o Senado se uneme quem preside e decide tudo é Renan.Ou seja, não será possível a Câmararejeitar as contas sozinha, sob a pre-sidência de Cunha, e encaminhar aoSenado. Aliada de Renan, Rose podecolocar em pauta a questão das contasquando quiser, pois não há um prazo.Depois, é preciso que seja elaboradoum projeto de decreto legislativo so-bre a decisão tomada na comissão. Oprojeto é encaminhado ao presidentedo Congresso – no caso, Renan –, que

“talvez, um dia”, como diz um aliado,coloque o tema em votação.

Ainda na semana passada, com aanuência do PMDB, o senador baia-no Otto Alencar, do aliado PSD, apre-sentou um requerimento para queo TCU desse mais prazo ao governopara explicar as pedaladas fiscais. Re-nan conversou com os ministros Vitaldo Rego, Raimundo Carreiro e BrunoDantas, ligados a ele. Assim, o julga-mento decisivo das contas de Dilma,que deveria acontecer neste mês, foi

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ESTRATÉGIADilma Roussefffaz entregasdoMinha CasaMinha VidanoMaranhão.Uma agendaimprovável

m inou a semana melhor do que começou

na Marcha das Margaridas. O eventoacontece todos os anos e, como sem-pre, só fica de pé com dinheiro público.Neste ano, as margaridas foram rega-das com R$ 400 mil da Caixa, outrosR$ 400 mil do Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social(BNDES) e R$ 55 mil da Itaipu Bina-cional a título de “patrocínio”. Dilmavestiu chapéu de camponesa e faloucom vista para faixas de “Fica, Dilma”por todos os lados e sob gritos contra opresidente da Câmara, Eduardo Cunha(PDMB), seu malvado favorito.

Como nem só de povo se vive, Dil-ma – ainda no âmbito da “agenda JoãoSantana” – dedicou um dia a anunciarmais um grande programa de investi-mentos em energia, ainda que o Orça-mento esteja debilitado pelos gastos deanos anteriores. Ao lado do ministrodas Minas e Energia, Eduardo Braga(PMDB), Dilma anunciou investimen-tos de R$ 186 bilhões em programas degeração e transmissão de energia até2018. Não há garantia de que o governotenha recursos para isso. O gesto seguea cartilha de Lula, mentor de Dilma,para quem é importante gerar fatospositivos para recuperar o ânimo dapopulação e do meio econômico.

Dilma também recebeu movimentossociais que pediram a cabeça do minis-tro da Fazenda, Joaquim Levy. Animadopela rara chance de aparecer ao ladode Dilma, Vágner Freitas, presidente daCUT – a central sindical vinculada aoPT –, se empolgou e passou do pon-to, ao pedir a seus pares que pegassem“em armas” para defender Dilma. Nafoto, a presidente aparece com cara depaisagem. Ela sabe que não pode abrirmão de Levy, fiador da estabilidade eco-nômica do país – e que as conversas debastidores com Renan são mais impor-tantes que a retórica de palanque dosradicais de seu partido. u

para setembro, com possibilidade deocorrer só em outubro.

Dilma também conseguiu um atra-so no Tribunal Superior Eleitoral, oTSE. Na semana passada, um pedidode vistas do ministro Luiz Fux adiou ojulgamento de um pedido de investiga-ção das contas de campanha de Dilma,suspeitas de estarem contaminadas pordinheiro desviado da Petrobras. Se ainvestigação passar, em última instân-cia o TSE poderá cassar a chapa forma-da por Dilma e pelo vice-presidente,

Michel Temer. Neste caso, o Tribunalteria de convocar novas eleições. Como resultado da semana passada, esseprocesso também foi estancado poralgum tempo.

Enquanto Renan operava nos bas-tidores, Dilma seguia uma improvávelagenda popular ao feitio de seu mar-queteiro, João Santana. Foi ao estádioMané Garrincha, em Brasília, paradiscursar sob os aplausos de cerca de30 mil mulheres ligadas a um sindica-to de trabalhadores rurais e reunidas

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

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o início de julho, o presidente da OAB (Ordem dosAdvogados do Brasil), Marcus Vinicius Coêlho,virou alvo do presidente da Câmara dos Deputa-

dos, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Coêlho entrou na mirade Cunha ao divulgar uma pesquisa apontando que 74%dos brasileiros são contra o financiamento empresarial decampanhas. Cunha reagiu com a agressividade que vemmarcando suas ações recentes. Afirmou que a OAB, querepresenta 850 mil advogados, “não tem credibilidade” e éum “cartel”. No fim de julho, Coêlho defendeu a perma-nência de Cunha na presidência da Câmara, enquanto opolítico for apenas um investigado da Operação Lava Jato– opondo-se, assim, aos que defendem seu afastamento nomomento em que for denunciado. Advogado que obteveduas cassações de governadores – Mão Santa (que estavano PMDB), do Piauí, em 2001 e Jackson Lago (PDT), doMaranhão, em 2009 –, o presidente da OAB não acha quea Operação Lava Jato, até agora, tenha criado condições deabertura de processo de impeachment contra a presidenteDilma Rousseff. “Até o momento, a OAB não tomou co-nhecimento da prática de ato criminoso por parte da pre-sidente”, diz. Coêlho chegou a ser cotado para o SupremoTribunal Federal. Não entrou. Afirma que o cargo no STFseria “absolutamente honroso, mas não é projeto de vida”.

ÉPOCA –A crise é política ou institucional?Marcus Vinicius Coêlho – O país passa por um momentode sérias denúncias de corrupção. Tenho convicção de queas instituições democráticas serão mais fortes que qual-quer crise e qualquer tentativa de restabelecer um regime

ditatorial. Devem ser asseguradas a investigação profundados fatos, a denúncia fundamentada, defesa responsável ejulgamento imparcial e justo, respeitando o processo legal.A corrupção é um câncer que drena as relações públicaspara aumentar o patrimônio de poucos. Que se punam osculpados e se absolvam os inocentes. As pessoas devem serresponsabilizadas, como uma medida pedagógica, profiláti-ca. Mas, sem combater a corrupção eleitoral, não se comba-terá a corrupção administrativa. A corrupção eleitoral nãoé a única responsável, mas é um dos germes principais dacorrupção e vem da forma como são financiadas as campa-nhas, com suas relações impróprias. O caixa dois repercuteno mandato: o político é obrigado a prestar contas a quemo financiou. É preciso punir os responsáveis e mudar asestruturas, para impedir que, a cada eleição, mudem só osnomes, em escândalos de mesmo perfil.

ÉPOCA–Tendoobtido, comoadvogado, duascassaçõesdegovernadores, o senhor achaqueháelementosparaoprocesso de impeachment da presidente Dilma?Coêlho – Até o momento, a OAB não tomou conhecimentoda prática de ato criminoso por parte da presidente da Re-pública. Até que sobrevenha um fato criminoso imputado àpresidente, ela é titular do mandato e não se pode falar em im-peachment. É a posição da OAB.Vale para ela e para qualquerbrasileiro, inclusive o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

ÉPOCA–Advogados de investigados naOperação LavaJato têm criticado a condução do processo. Qual é suaavaliação? s

Raphael Gomide

O presidente da OAB diz não ver, até agora, motivo paraquestionar o mandato de Dilma. E é também contrário aoafastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara

ENTREV ISTA

“Até agora não há práticade ato criminoso”

N

MARCUS VINICIUS COÊLHO

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BONSMODOSMarcus ViniciusCoêlho em eventonoMinistérioda Justiça. Elediz que EduardoCunha é adversárioda OrdemdosAdvogados doBrasil em ideias –mas não é inimigo

Foto: Charles Sholl/Futura Press

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Coêlho–Não comento processo judicial. Só os advogadoscom conhecimento do caso podem falar com segurança.Nunca abri os autos, seria leviano. A OAB se manifestouquanto ao sigilo das conversas entre advogados e clientes,que deve ser respeitado. Buscas e apreensões em escritóriosde advogados só podem ocorrer se o advogado for investi-gado como criminoso.

ÉPOCA– Issovale tambémparadepartamentos jurídicosde empresas investigadas?Coêlho–Vale para qualquer local de trabalho de advogado,segundo a lei (Estatuto do Advogado): seja um escritório,a mesa ou o departamento jurídico. Se a defesa não temacesso aos computadores do Ministério Público, por que oMinistério Público vai ter acesso às estratégias de defesa?Advogados não podem ser obrigados a divulgar na CPI da-dos de que têm conhecimento pela relação cliente-advogado.

ÉPOCA – A CPI da Petrobras convocou a advogadaBeatrizCattaPretaparaexplicar aorigemdoshonoráriospagospor clientes suspeitosdecorrupção.Aorigemdu-vidosa de dinheiro para honorários sus-cita um dilema ético?Coêlho–O médico, quando opera alguém,emite nota fiscal e não pergunta de ondevem o dinheiro. O advogado não tem aobrigação legal de delatar o cliente. Doponto de vista ético, o advogado se trans-formaria em delator do cliente. É uma re-lação de confiança, goza de confidencia-lidade, que tem de existir para preservaro direito de defesa.

ÉPOCA–Duasbandeiras daOAB foramderrotadas na Câmara dos Deputados:o fim do financiamento empresarial de campanhas e amanutençãodamaioridadepenal aos 18 anos.AagendadaOAB está perdendo na Câmara?Coêlho –Tivemos vitórias maiúsculas na Câmara, como ainclusão dos advogados no regime Supersimples de tributa-ção e a aprovação do projeto da OAB que inclui o advogadono inquérito policial. Temos bandeiras históricas, comoa defesa da não redução da maioridade penal e o fim definanciamento de campanhas por empresas, tema sobre oqual temos uma Ação Direta de Inconstitucionalidade noSTF. No caso da redução da maioridade, está em discussãose a Câmara reeditou duas medidas e se a aprovação pode-ria ser feita ou não em segunda votação. A OAB mantém oponto de vista de que fere uma cláusula pétrea, a garantiade ser responsabilizado só a partir de 18 anos.

ÉPOCA – Por que a OAB é contra o financiamento em-presarial de campanhas?Coêlho – Só não vê quem não quer. As empresas são im-portantes para gerar empregos, divisas e têm benefíciosfiscais. Mas como uma sociedade anônima justifica aos

acionistas o apoio financeiro ao candidato A ou B? Ascampanhas de TV não podem continuar a ser hollywoo-dianas. Haverá diminuição de gastos em campanhas como financiamento democrático, que deve usar o fundo par-tidário. Por que o marqueteiro recebe milhões de reaispor três meses de campanha? Tudo é inflado. É precisocriminalizar o caixa dois de campanha. Na hora em queas campanhas forem barateadas, quando se encontrar umacampanha hollywoodiana, ficará patente a olho nu o cai-xa dois. Sugiro a perda de mandato e crime de reclusãocom pena de dois a seis anos. O eleitor deve financiar acampanha barata.

ÉPOCA–OpresidentedaCâmara, EduardoCunha, disseque a OAB “não tem credibilidade há muito tempo” e achamou de “cartel” e “pouco transparente”.Coêlho–As ideias devem brigar, não as pessoas ou institui-ções. A divergência faz parte da democracia. Mas agressõese ofensas não desfazem os números da opinião pública.A pesquisa do Datafolha revela que a OAB é a entidadesocial com maior credibilidade junto à população, com

70%, atrás só das Forças Armadas, entre14 instituições. Na outra ponta, infeliz-mente, aparece o Congresso Nacional,na penúltima posição. Não gosto de umíndice tão baixo. Quero contribuir paraque o Congresso tenha mais credibilida-de. A OAB e o presidente da Câmara têmposições diferentes. Mas, como advogadoe presidente da OAB, jurei cumprir e fa-zer cumprir a Constituição, que diz quese presume inocente qualquer pessoa atésentença penal transitada em julgado.Deve ser assegurado o devido processolegal e a ampla defesa. Compete ao acu-

sador o ônus de provar o fato. O fato de Cunha ser o pre-sidente da Câmara não pode ser motivo para ser protegidoou perseguido. A regra do estado democrático de direitoé a preservação dos mandatos dos eleitos. Para cassá-los,é preciso haver prova cabal de fato criminoso. Isso nãosignifica a defesa de Cunha, mas da Constituição.

ÉPOCA – Eduardo Cunha é um adversário da OAB?Coêlho – Em termos de ideias públicas, você mesmo faloude duas bandeiras dos advogados às quais ele é contrário.Mas é adversário, não inimigo.

ÉPOCA – O senhor apareceu em panfletos eleitorais dodeputado federal AlessandroMolon (PT-RJ). Não é umamanifestação imprópria para o presidente daOAB?Coêlho – Já advoguei para todos os partidos políticos.Atuei para PSDB, PMDB, PT. A OAB teria duas formasde ser independente de partidos: uma seria se distanciarde todos e a outra se aproximar de todos. Temos excelentesrelações com todos os partidos políticos. A OAB é igual àLua: é de todos e não é de ninguém. u

ENTREV ISTA Marcus Vinicius Coêlho

Campanhaeleitoralnãopodeserhollywoodiana.

Oeleitordevefinanciar a

campanhabarata”

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agência de comunicação Pepper Interativa cresceu na esteira das duas campanhas da presidente

Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto. Notória por realizar ataques virtuais contra grupos críticos ao PT, a Pepper, da publicitária Danielle Fonteles, caiu nas graças de próceres do partido, como o ex-tesoureiro João Vaccari Neto e o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. Graças à proximidade com eles, a Pepper mantém contrato com o PT. É o maior cliente da agência – quase 70% do faturamento dela vem do parti-do. ÉPOCA descobriu que, em 2012, a Pepper montou uma operação intrinca-da no exterior para receber valores da construtora Queiroz Galvão. Meses an-tes, a empreiteira recebera do BNDES para financiar serviços na África. A Pepper criou, em nome de laranjas, a Gilos, uma offshore no Panamá. Criou também uma conta secreta na Suíça para movimentar a dinheirama de um con-trato de fachada com a filial da Queiroz Galvão em Angola. A conta, cuja identi-ficação é CH3008679000005163446, foi aberta por Danielle Fonteles no banco Morgan Stanley. Na ocasião, não foi de-clarada à Receita ou ao Banco Central.

ÉPOCA obteve cópia do contrato en-tre a offshore Gilos Serviços e a emprei-teira, devidamente assinado por Daniel-

A le. Foi formalizado em setembro de 2012. A Gilos recebeu US$ 237 mil (R$ 830 mil, ao câmbio de hoje) da Queiroz Gal-vão para fazer marketing digital em An-gola. O contrato, que elenca seis serviços, parece uma peça de ficção. Não há uma linha sequer sobre qual obra ou projeto da Queiroz Galvão deveria ser divulgado na internet pela Pepper. Naquele país, a Queiroz Galvão operou graças a finan-ciamentos do BNDES. Em março de 2012, a empreiteira recebera US$ 55 milhões do banco. Naqueles tempos, Pimentel era ministro do Desenvolvi-mento e presidente do Conselho de Administração do BNDES.

Danielle e a Pepper estão sendo inves-tigados nas operações Lava Jato e, espe-cialmente, Acrônimo. Nesta, que mira Pimentel e operações de lavagem de di-nheiro do PT, a PF chegou a fazer buscas na sede da Pepper, num shopping de Brasília. Segundo a Polícia Federal, há evidências de que a Pepper foi usada para intermediar dinheiro do BNDES a Pi-mentel. Durante o primeiro mandato de Dilma, Pimentel era, na prática, o chefe do BNDES. A mulher de Pimentel, Ca-rolina Oliveira, é apontada como uma espécie de sócia oculta da Pepper. Fun-cionou assim: entre 2013 e 2014, a Pepper recebeu R$ 520 mil do BNDES por ser-viços de publicidade e repassou R$ 236

A agência Pepper, ligada ao PT, tinha conta secreta na Suíça para receber por serviços-fantasmas pagos pela empreiteira Queiroz Galvão

Pimentinha por fora

Filipe Coutinho

I N V E S T I G A Ç Ã O

CASO DE PROCON 1. Contrato entre a Gilos, offshore da Pepper, e a Queiroz Galvão 2. A publicitária Danielle Fonteles é amiga de próceres do PT 3. Relação de despesas de cartão de Carolina Pimentel 4. A Polícia Federal faz busca na Pepper durante a Operação Acrônimo

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mil a Carolina Oliveira.A Polícia Federaldescobriu indícios de que Carolina Oli-veira era mais que uma simples parcei-ra da agência. A mulher de Pimenteldistribuía cartões no mercado como sefosse representante da Pepper.

Na casa de Carolina Oliveira e Pimen-tel, em Brasília, a PF apreendeu uma ta-bela com valores. De um lado, aparece onome Dani – o mesmo apelido da pro-prietária da Pepper. Os valores de“Dani”somam R$ 242.400. Do outro, há valoresde Carol: R$ 143.982,95. Duas anotaçõeschamam a atenção: R$ 11.100 e R$ 20 mil,registrados como “cartões” (ao lado). Natabela, a diferença dos valores, incluindoas vírgulas, entre “Dani” e Carolina écontabilizada como “crédito Carol”: R$98.417,05. Ou seja, é como se fosse umcontrole de caixa,de“Dani”para“Carol”,em que despesas de cartões de crédito deCarolina eram pagas pela Pepper e con-tabilizadas. A Pepper admite ter pago aomenos duas faturas do cartão de crédito

da mulher de Pimentel, em razão da“amizade” entre Dani e Carol. A mulherde Pimentel, suspeita a PF, era funcioná-ria do BNDES nesse período.

Após ÉPOCA procurar Danielle, aconta na Suíça foi declarada à Receita.“Carolina nunca recebeu qualquer re-passe da Pepper quanto a operações rea-lizadas junto ao BNDES”, diz a Pepper,em nota. A empresa diz que desconhecea tabela apreendida na casa da mulherde Pimentel. Sobre a criação da Gilos em2012, no Panamá e em nome de laranjas,com conta na Suíça, Danielle afirma queseguiu orientações de advogados. “APepper foi orientada a constituir empre-sa no exterior e abrir uma conta em ins-tituição bancária idônea. A existênciadessa conta, assim como os valores rece-bidos, são de conhecimento da ReceitaFederal do Brasil. Todos os impostosoriundos das transações havidas no ex-terior foram recolhidos.” Danielle nãoexplicou por que declarou a conta so-mente após ser procurada por ÉPOCA.A Pepper afirma que não há relação en-tre os serviços prestados à Queiroz Gal-vão e financiamentos do BNDES. Oadvogado de Carolina Oliveira, Igor Ta-masauskas, disse que a defesa não pode-ria se manifestar porque não teve acessoà integra do processo, mas ressaltou que“toda a relação comercial entre nossacliente e a referida empresa foi legítima”.A Queiroz Galvão afirma, ainda, que ocontrato era para promover a empresano exterior.“Todos os pagamentos foramefetuados de maneira absolutamentelegal e transparente, seguindo os termosprevistos em cada contrato. Esses traba-lhos nunca estiveram vinculados a qual-quer pagamento por parte do BNDES”.A reportagem pediu à Pepper e à Quei-roz Galvão provas de que os serviçosda agência de comunicação foram exe-cutados. Nenhuma delas respondeu aopedido da revista. u

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Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press e reprodução

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ssim que a China anunciou,no dia 11, que permitira umaqueda de 1,9% no valor de sua

moeda, o yuan, Bolsas e moedas deoutros países desabaram. Foi a maiordesvalorização cambial na Chinadesde 1994. Ao baratear sua moedae, como consequência, seus salários eseus produtos, os chineses impulsio-nam suas exportações. Mas dificultama vida da concorrência e a recuperaçãoeconômica em outros países. Entre es-ses sofredores está o Brasil.

O Brasil já vinha sentindo um ba-que duplo: a China em desaceleraçãoconsome menos de nossa soja e denosso minério de ferro, e os preçosdesses produtos no mercado interna-cional estão em baixa. O Brasil nor-malmente vende para a China maisdo que compra. Nos 12 meses termi-nados em julho, a China virou o sinaldessa parceria e o saldo ficou negati-vo para o Brasil em US$ 568 milhões(leia no gráfico). O saldo negativo nãoseria um problema se decorresse de oBrasil ter iniciado um reajuste de suaeconomia ou ter começado a impor-tar bens capazes de melhorar a produ-ção nacional futura, como máquinasindustriais sofisticadas. Nada disso.Apenas estamos com dificuldade parafaturar do mesmo jeito que faturáva-mos antes. A desvalorização do yuan émais um peso a desequilibrar essa ba-lança a favor do lado chinês. O mundotenta entender, agora, o motivo e aextensão da nova política monetáriana potência asiática.

Ma Jun, economista-chefe do ban-co central da China, afirmou que adesvalorização nos últimos dias foium ajuste, um momento excepcional.Especialistas, como os analistas de

A

DILEMAS DA ECONOMIA

ESTRATÉGIAFábrica emChongqing.

A China tentamanter o ritmona economia

Ao desvalorizar sua moeda,a China sinaliza que quervender, e não comprar. Piorpara quem exporta para aChina, como o Brasil

Oyuancai –nanossacabeça

Vinicius Gorczeski eMarcos Coronato

INVERSÃODESINALOBrasil vendemenos paraa China e compramais de lá

NOVERMELHOSaldo da balança comercial do BrasilEmR$ bilhões

Comomundo Com aChina

2011

30

25

20

15

10

5

-5

0

2012 2013 2014 2015(1)

29,7

11,5

2,0

-0,6

IMPORTAÇÃOvinda da China

EXPORTAÇÃOpara a China

EmR$ bilhões

2011(2) 2015(1) 2011(2) 2015(1)

30,135,7 38,4 35,1

(1) 12 meses encerrados em julho 2015(2) 12 meses encerrados em julho de 2011

Fonte: MDIC

câmbio do banco americano MorganStanley, duvidam. Acreditam que aestratégia mais prudente para outrospaíses, agora, é esperar novas desva-lorizações do yuan.

Há dois motivos para isso. Um émais evidente. A economia da Chinacrescerá, em 2015, no menor ritmo dosúltimos 25 anos – cerca de 7%. O go-verno chinês vem tentando controlaro ritmo dessa redução. Entre julho de2014 e julho de 2015, as exportaçõeschinesas recuaram mais de 8%. A que-da foi superior à esperada. Para o bancosuíço Credit Suisse, o resultado foi de-cisivo para o governo chinês baratearsua moeda e tentar fazer a economiadesacelerar mais suavemente.

O segundo motivo é mais sutil, etende a ter mais consequências nolongo prazo. Ao dar mais liberdadede f lutuação para o yuan (no mo-mento em que considerou estraté-gico), a China indicou maior dis-posição em se integrar ao mercadofinanceiro global. A mudança au-menta as chances de o yuan se tornar,no futuro, uma moeda de reservas etransações internacionais, ao lado dedólar, euro, iene e libra. Isso daria àpotência asiática maior estabilidade– e ainda mais poder. u

Foto: Shi Tou/Reuters

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MarceloMoura, deMontevidéu, comHarumi Visconti e Igor Utsumi

IDEIASDEBATES E

PROVOCAÇÕES

m julho de 2009, o mecânico ce-arense Francisco Benedito deSouza estava recolhido, com mais32 detentos, em uma cela do Cen-tro de Detenção Provisória deDiadema, na região metropolita-na de São Paulo. Acusado de cri-mes como roubos, contrabando

e porte ilegal de armas, Francisco, de 53anos, fora condenado a mais de dez anosde prisão. Numa inspeção de rotina,agentes penitenciários encontraram 3gramas de maconha dentro de um mar-mitex – e Francisco foi acusado de ser oportador da droga. Levado a juízo, Fran-

cisco negou a posse da maconha, mas foicondenado a mais uma pena: dois mesesde serviço comunitário. Responsávelpela defesa de Francisco, o defensor pú-blico Leandro Castro Gomes não aceitouo veredicto da Justiça nas instâncias in-feriores e apresentou recurso ao Supre-mo Tribunal Federal (STF). Seu argu-mento: a condenação de alguém peloporte de drogas para consumo próprioé inconstitucional, porque ninguémpode ser punido por uma decisão pes-soal que não interfere em direitos alheios.

Francisco foi solto pela Justiça no dia23 de janeiro deste ano,após cumprimen-

to de pena, e não se sabe hoje seu para-deiro.Mas aqueles 3 gramas encontradosna cela de Diadema, há seis anos, estãoagora no centro de um julgamento histó-rico que começará nesta quarta-feira, dia19, no STF. Se o Supremo acatar o recur-so do defensor Leandro Castro Gomes, adecisão significará a descriminalização doporte de drogas para consumo própriono Brasil – uma medida que poderá terprofundo impacto na forma como a so-ciedade brasileira lida com essa questão,sempre incandescente, e também nolotado sistema penitenciário do país.

Desde 2002, a legislação brasileira es-

Um julgamento no Supremo TribunalFederal pode legalizar o porte para

consumo próprio. O Brasil deve examinaras experiências internacionais

para atualizar sua política antidrogas

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tabelece que o usuário de drogas não émais punido com pena de cadeia – ape-nas com sanções alternativas, como pres-tação de serviços à comunidade ou aparticipação em cursos educativos. Issoé a tese. Na prática, pela falta de critériosobjetivos na distinção entre usuário etraficante, que fica a cargo da polícia edos promotores, grande parcela da po-pulação carcerária brasileira, enquadradacomo traficante, é, na realidade, formadapor consumidores de drogas ou micro-traficantes, geralmente mais pobres.

Uma pesquisa coordenada pelo Insti-tuto Sou da Paz na cidade de São Paulo

– capital do Estado com a maior popu-lação carcerária do país – afirma que 80%das pessoas presas por tráfico de drogasno município podem ser consideradascomo microtraficantes, das quais 59%são negros e pardos e 80% tinham até oensino fundamental de escolaridade.Além disso, 57% não tinham anteceden-tes criminais e 97% estavam desarmados.Segundo o Ministério da Justiça, 27% dos607.731 presos brasileiros cumprem pe-nas por tráfico de drogas.

O relator da questão no STF, minis-tro Gilmar Mendes, já deu indicações deque aceitará o recurso e votará a favor

da descriminalização do usuário. Elepoderá ser seguido pela maioria dos mi-nistros do Supremo. O histórico recenteda mais alta Corte de Justiça mostra queela tem adotado em questões polêmicas,como a legalização do casamento entrepessoas do mesmo sexo ou do aborto defetos anencéfalos, posturas avançadas, àfrente dos responsáveis pela elaboraçãodas leis. Uma declaração da inconstitu-cionalidade da criminalização dos usuá-rios de drogas, embora histórica, signi-ficará, no entanto, apenas um primeiropasso para a atualização da políticabrasileira de combate às drogas. s

17 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 47Ilustração: Alexandre Lucas

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48 I ÉPOCA I 17 de agosto de 2015

O Brasil está atrasado em relação aoutros países (leia o quadro ao lado) nocaminho de reconhecer que a guerra àsdrogas, com o foco na repressão, fracas-sou – e que é preciso revê-la.A proibiçãodo consumo foi o espírito da ConvençãoÚnica sobre Entorpecentes adotado pelaONU em 1961. Essa bandeira foi depoisabraçada pelo governo dos Estados Uni-dos, na gestão do então presidente Ri-chard Nixon (1969-1974). Mas, comonos últimos 50 anos, apesar da repressão,o consumo só aumentou, entidades as-sociadas à ONU, como a OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS) e o Escritóriodas Nações Unidas sobre Drogas e Crime(UNODC), passaram a sugerir que os“países devem trabalhar juntos para des-criminalizar o uso de drogas e reduzir oencarceramento”. Baluarte da guerra àsdrogas no passado, os Estados Unidosainda não mudaram sua legislação fede-ral, mas 27 dos 50 Estados americanos,por meio de suas leis locais, já descrimi-nalizaram o porte de drogas para usorecreativo ou medicinal – e quatro deleslegalizaram a comercialização com essesfins. Mesmo os países mais autoritáriosdo mundo, como a China, estudam arevisão de suas políticas.“Nos últimos 30anos, a China estabeleceu até a pena demorte para quem trafica drogas. Crioucentros de tratamento compulsório queinternaram usuários reincidentes por atétrês anos. Determinou que portar meros50 gramas de droga é suficiente para ca-racterizar alguém como traficante. Infil-trou informantes nas quadrilhas. Aindaassim, o consumo cresceu, a violência

DEBATES E PROVOCAÇÕES

DEACORDOCOMACULTURA, os paísesprecisamdemais oumenosregulação para separarusuários de traficantes. Emlugares como aHolanda e aFrança não são necessáriasleis específicas para definirquem é ou não consumidor

Países que, como o Brasil, têm em lei a diferençade penas para consumo e tráfico, mas não têmparâmetros claros para cada caso

Consumir droga é ilegal, mas não é omesmo quetraficar. O país tem regras claras para definir cadacaso. Para usuários, as penas são brandas

Descriminalizam o uso de drogas e possuemregras claras para definir o que deve ser julgadocomo consumidor e como fornecedor

Consumir drogas é ilegal e não há regrasobjetivas para separar consumo de tráfico

COLÔMBIADesde 2012, definiuos limites para o

consumo de drogas:1 g para cocaína, 20gparamaconha esintéticas liberadas

ARGENTINADesde 2009, a

SupremaCorte definiucomo inconstitucionaispunições criminais para

porte e para usode drogas

ESTADOSUNIDOSSó vale paramaconha.

É liberada emquatro Estados e emWashington. O porte demaconha, entre 10 g e

100 g, é descriminalizadoem 15 Estados

BRASILNa teoria, o usuário

deveria ser penalizado deforma distinta do traficante.Na prática, isso não ocorre.Só na cidade de São Paulo,quase 80% dos presos portráfico foram detidos compequenas quantidades

de droga

OBRASIL EMDESCOMPASSONa prática, o país aindanão disti guede dro de trafi ante

1 O que estará em pauta?A descriminalização do porte

de drogas de qualquer tipo paraconsumo próprio. O processoquestiona a constitucionalidadede penalizar pessoas que

ADESCRIMINALIZAÇÃODASDROGASOque o julgamentorepresenta para o país,o que devemudar eo que falta definir

decidem consumir substânciasque fazemmal à própria saúde.O ato transgrediria as liberdadesindividuais de decidir o que fazercom o próprio corpo. O relatoré o ministro Gilmar Mendes.

2 Por que esse é umjulgamento histórico

O julgamento que se inicia podemudar a política brasileira decombate às drogas. A lei como éhoje já diferencia porte de drogapara consumo e para a venda. No

primeiro caso, prevê advertência,prestação de serviços àcomunidade ou participação emcursos educativos – sançõesmais brandas do que asaplicadas aos traficantes. Oproblema é que, na prática, alei raramente é aplicada dessaforma. A ausência de definiçãodo que caracteriza porte paratráfico e porte para consumofaz com que a avaliação fiquea cargo da interpretaçãosubjetiva do policial e do juiz.

3 Se o STFdescriminalizaro consumo, quais

serão os critérios paradiferenciar consumidorde traficante?Ainda é incerto. O SupremoTribunal Federal podeimediatamente indicar asquantidades permitidas paracada tipo de droga ou deixara decisão a cargo dos juízes.O segundo cenário seria umobstáculo para o avanço dapolítica de drogas no Brasil, pois

VENEZUELADesde 1993,

substituiu puniçõescriminais pormedidassociais para quem forpego comaté 20 g

de cocaína

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aumentou, o mercado negro ganhou for-ça. Então por que persistir nessa políti-ca?”, disse a ÉPOCA Liling Yue, professo-ra de Direito Penal da Universidade deCiência Política e Direito da China, en-quanto participava, na semana passada,de um seminário em Montevidéu.

Algumas dessas experiências interna-cionais têm êxitos quantificados em nú-meros. Portugal mudou sua política em2001. Legalizou todas as drogas paraconsumo próprio, adotou parâmetrosclaros para distinguir usuário de trafican-te e deu ênfase ao tratamento de saúdedos dependentes. Desde então, obteveredução do número de mortes por usode drogas. Eram 80 casos, em 2001. Caí-ram para 16, em 2012. O Uruguai adotoua política mais ousada do mundo. Lega-lizou não só o consumo, mas também ocultivo caseiro da maconha, e estuda ainstalação de uma rede de farmácias paraa comercialização da droga.A experiênciaanda nos passos lentos da burocracia es-tatal uruguaia (leia mais na página 50) elevará ainda alguns anos para ser avalia-da com acurácia. Nos Estados Unidos,mais abertos ao empreendedorismo, alegalização da comercialização da maco-nha em alguns Estados permite o flores-cimento de uma nova indústria. Lá, ou-tros problemas surgem, como a falta deuma regulamentação adequada paracoibir abusos de propaganda que podemlevar ao aumento do consumo e a danosà saúde (leia mais na página 54). O Brasildeve examinar todas essas experiênciascom lupa, sem preconceitos,para escolhero melhor caminho a seguir. u

CHIPREÉ definido como

porte para consumo,com penalidade

branda, até 30 g demaconha, 10 g de ópioe 10 g de cocaína

HOLANDAA venda e o consumodemaconha sãoliberados em locaisespecíficos. A posseé proibida, mas nãohá sanções para

usuários

URUGUAIDesde dezembrode 2013, o consumodemaconha foi

liberado e há clubesdemaconha paracultivo coletivo

PORTUGALOporte de até 25 g de

maconha, 2 g de cocaína,1 g de heroína e 10

comprimidos de ecstasyé descriminalizado. Ousuário émultado eencaminhado para o

psiquiatra

REINOUNIDODiferencia o portepor uso e o porte portráfico de acordo comuma análise sobre o tipode droga, a quantidadee a circunstância

do uso

ESPANHADesde 1992, o consumo édescriminalizado nos limitesde 200 g demaconha, 25 g dehaxixe, 3 g de heroína, 7,5 g decocaína e 2,4 g de ecstasy. Paraquem é pego com a quantidadepermitida hámulta, serviçocomunitário ou suspensão da

carteira demotorista

a distinção entre traficantes eusuários continuaria a cargoda interpretação de cadamagistrado aos limites sugeridos.

4 O que ocorre comquem for flagrado

com uma quantidadede droga dentro dolimite permitido?A droga será apreendida, pois setrata de uma substância ilegalno país. Ainda não há definiçãosobre as consequências para

o usuário. As possibilidadesvariam entre nenhuma sançãoaté penalidades leves, comomultas e encaminhamentopsiquiátrico, como ocorreem países como Portugal.

5 O cultivo doméstico demaconha será liberado?

Sim. Mas não será possívelcompartilhar a maconha ouqualquer outra droga comamigos. Isso continuará sendocrime, com penalidade que pode

variar entre seis meses e um anode prisão e pagamento de multa.

6 Quem já está nacadeia por porte de

pequena quantidade dedroga será liberado?Por enquanto, a lei não seráretroativa. Na teoria, todosos presos foram condenadospor tráfico de drogas.

7Qual será o impacto nosistema presidiário?

No longo prazo, a medida podeajudar a aliviar as prisões. Oscondenados por tráfico dedrogas correspondem a 27% detodos os presos do país, maisde 160 mil pessoas. Cada umdeles custa R$ 1.350 por mês aogoverno. O Instituto Sou da Pazapurou que 80% dos presos emflagrante por porte de drogasna cidade de São Paulo sãomicrotraficantes – pessoasque com a nova lei seriamenquadradas como usuárias.

FRANÇATanto uso quantotráfico são crimes,mas as punições sãodiferentes. Os usuários

pagammulta deatée 3.750 e umano de prisão

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DEBATES E PROVOCAÇÕES

AINDANÃOGERMINOUDiegoGarcía,jardineiro do ClubeCanábico El Piso,primeiro legalizadono Uruguai.A experiênciade legalizaçãonão estámadura

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A experiência doUruguai com a

liberação completadamaconha caminha

na cadência lentados apreciadores

da erva e daburocracia estatal

MarceloMoura, deMontevidéu

Planeta Ganja é uma loja temáti-ca de roupas e acessórios, comoaquelas dedicadas ao surfe, skateou rock. Mas o objeto de culto nosobrado de fachada grafitada éoutro: maconha. A marca na eti-

queta de uma camisa à venda resumeas apresentações: “Mujicannabis” – tro-cadilho de cannabis, gênero de plantascom que se produz a maconha, e JoséMujica, presidente que tornou o Uru-guai o primeiro país a oficializar a pro-dução e o consumo de maconha parauso recreativo, em 2014. “A liberaçãocompleta é um passo novo”, disse aÉPOCA o professor de Direito Hans-Joerg Albrecht, diretor do InstitutoMax Planck, da Alemanha, dedicado àquestão das drogas. Outros lugares queliberaram a droga, como Holanda, Por-tugal e parte dos Estados Unidos, vivemuma inconsistência lógica – ou hipo-crisia: permitem consumir, mas proí-bem cultivar. De onde vem a erva, nin-guém sabe, ninguém viu. A hesitaçãodesses países, ricos e organizados, dá amedida da dificuldade de terminar aguerra às drogas. Por cinco décadas, omundo construiu leis, burocracias es-tatais e costumes em torno da proibi-ção. O Uruguai – país modesto com 3,3milhões de habitantes, equivalentes àmetade da população da cidade do Riode Janeiro ou a um sexto da região me-tropolitana de São Paulo – tenta des-bravar o caminho da liberação. É umatradição dos uruguaios, pioneiros tam-bém na legalização do divórcio e naliberação do álcool.

O caminho da liberação não é fácilnem curto – e a experiência uruguaiaestá apenas no começo. “Estamos emuma trilha de experiência.Vamos ver secresce o número de consumidores, se opeso do narcotráfico aumenta ou dimi-nui, o que ocorre nas prisões”, disse s

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I ÉP I de 2015

DEBATES E PROVOCAÇÕES

Mujica em 2014, ao decretar a regula-mentação. Para o sociólogo MarcosBaudean, autor de um estudo sobre osimpactos da liberação da maconha, ain-da é cedo para declarar o sucesso oufracasso da iniciativa. “Precisamos es-perar de dois a cinco anos para fazeruma avaliação preliminar. Uma avalia-ção razoável não oorrerá em menos dedez anos.” Das três formas legais deobter maconha anunciadas há doisanos, a principal (e mais complicada)não entrou em vigor: a venda em far-mácias, com produção em larga escalaconcedida a empresas privadas, queinicialmente começaria em seis meses.O presidente Tabaré Vázquez, que su-cedeu a Mujica em março, considera aideia “insólita” e adiou sua implemen-tação por prazo indeterminado. “Nãotemos pressa. Queremos fazer bem fei-to”, disse Milton Romani, secretário daJunta Nacional de Drogas. Por enquan-to, só estão liberados o cultivo caseiro,limitado a seis pés de maconha porpessoa registrada, e a produção coletivade até 99 pés, por clubes com até 45sócios maiores de idade.

Essa janela aberta pelo Estado, po-rém, já faz florescer um pequeno mer-cado capaz de investir, pagar impostos,gerar empregos e de fornecer ao gover-no, universidades e ONGs dados maisconfiáveis sobre o consumo. Um sobra-do na Rua Maldonado, na capital Mon-tevidéu, virou um monumento à maco-nha e lugar de trabalho de dez pessoas.No térreo, está a loja Planeta Ganja. Nosubsolo, há um centro de estudos. Noterceiro e quatro pavimentos fica a pro-dução do Clube Canábico Sativa. Emestufas com lâmpadas que reproduzemo sol da primavera e do verão, dia e noi-te, crescem as plantas dos 32 sócios quepagam cerca de US$ 80 por mês pelodireito de levar para casa, a cada 30 dias,um carregamento de 40 gramas de erva.Os sócios mais ansiosos podem acom-panhar o crescimento das plantas dentroda estufa através de uma janela, comose fosse uma maternidade. “Evitamosentrar na estufa, para não correr o riscode contaminar a produção”, diz JoaquínFonseca, presidente do clube. “Quandoé inevitável, vestimos macacões de labo-ratório.” Após passar 15 anos no depar-

tamento de marketing da fábrica de ci-garros Phillip Morris, Fonseca viu nodecreto de Mujica a oportunidade depassar de empregado a concorrente.“Minha vida mudou muito”, diz, atrásdo balcão da loja.“Conheço muita gen-te nova, converso mais, tenho mais tem-po livre para ficar com meus dois filhos.”Na sala ao lado, o filho de 3 anos vê natelevisão a um desenho do Mickey Mou-se, ainda com o uniforme da escola, à

espera da hora de voltarem para casa.“Ele conta aos amiguinhos que o paicultiva plantinhas e ajuda outras pes-soas a cultivar”, diz. “Vai crescer sem ofantasma que por tantos anos cons-truímos em torno da maconha.”

Para Juan Vaz, sócio de Fonseca, a ile-galidade da maconha representou maisque um fantasma. Em 2007, Vaz foi presopor cultivar a planta. Casado, pai de trêsfilhos, aos 40 anos ele passou 11 meses

Foto: Matilde Campodonico/ÉPOCA/AP52 I ÉPOCA I 17 de agosto de 2015

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17 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 53

isolado da família. Ficou com dez presosnuma cela, feita para três, do Comple-xo Carcerário Santiago Vázquez. “Nãogostava que fossem me visitar. Era umlugar lúgubre, com cheiro de putrefaçãopermanente, sobretudo no verão.” Com anova lei, o ex-inimigo público tornou-seconsultor do governo e abriu a empre-sa. “Agora tenho um escritório e possotrabalhar com o que gosto”, diz. “Estouvivendo um sonho.” Ou, poderia dizer,vivendo outros tipos de pesadelo.

Recém-chegada ao mundo da legali-dade, a nascente indústria da maconhauruguaia está sendo apresentada à buro-cracia local. Dos cerca de 40 clubes caná-bicos em atividade no Uruguai, 25 pedi-ram alvará de funcionamento – e, apósdois anos da lei em vigor, apenas doisconseguiram. “Está vendo esse papel? Émeu comprovante do seguro social. Ago-ra sou oficialmentejardineiro de umaempresa, ganho salá-rio e recolho aposen-tadoria”, diz DiegoGarcía, responsávelpelo pioneiro ClubeCanábico El Piso.“Trabalho por seishoras de segunda asexta-feira, às vezestambém aos domin-gos. As ervas não cres-cem só nos dias úteis.”

Ex-cozinheiro,García assumiu a jardi-nagem quando o clube ainda era proibi-do.“Alugamos essa casa sem fiação elétri-ca, com tudo quebrado. Já investimosentre US$ 15 mil e US$ 20 mil”, diz.Quando a lei foi publicada,o grupo pediuregistro no Ministério de Educação e Cul-tura.“Um funcionário do ministério dis-se ‘oh, não sabemos o que fazer, voltemem 15 dias’”, diz.“Quando voltamos pelaterceira vez, exigimos: aceitem ou recu-sem.” Depois de mais um mês, o minis-tério aceitou.“Um mês e meio depois deaceitarem, recebemos os primeiros pedi-dos de revisão no estatuto do clube”, diz.Após quatro meses, o ministério autori-zou a associação civil – mas ainda sempermissão para cultivar maconha.O gru-po buscou o Instituto de Regulação eControle do Canabis (Irca), criado paracontrolar a nova atividade. “Eles demo-

raram um mês e meio até fazer a primei-ra inspeção”,diz García.Vinte dias depois,mandaram um e-mail com exigênciascomo a instalação de alarme anti-incên-dio e a etiquetagem das plantas comnome e data de cultivo. Após um anodesde o primeiro pedido de registro, oclube conseguiu autorização para o plan-tio.“Quando saiu o documento, pergun-tei quando seria a próxima inspeção”,diz.“‘Acho que nunca’, me respondeu umafuncionária.”O Irca não tem pessoal pró-prio. “Aqueles fiscais eram emprestados,ninguém queria estar ali.”

De produto clandestino com quali-dade incerta, traficado de países comoParaguai e Bolívia, a maconha uruguaiasegue agora o caminho já trilhado porcarnes, queijos e vinhos do país: a gour-metização. “Quando abrimos uma loji-nha de 10 metros quadrados, dois anos

atrás, não havia nin-guém”, diz Juan An-dres Palese, um dostrês sócios da Uru-grow, loja de artigosde jardinagem “pre-mium”. “Agora esta-mos nesta casa maior,com sofá na entrada.Temos 30 concorren-tes no país, metadeem Montevidéu.” AUrugrow recebe por

dia pelo menos 40 visitantes. Muitos sãoturistas interessados em comprar ma-conha – tantos que motivaram os sóciosa colar um aviso por escrito. A venda demaconha está proibida, mas a venda deapetrechos não. As estantes exibem de-zenas de estimulantes de crescimentoem potes de plástico – o cenário lembraas lojas que no Brasil vendem produtospara fisiculturistas. Uma diferença estáno rótulo dos produtos. Há preciosida-des que parecem saídas do laboratóriode uma bruxa de conto de fadas, comoadubo de fezes de morcego (o pote com1 litro custa R$ 68). “Como os nutrien-tes variam conforme a dieta do morce-go, o fabricante combina fezes de ani-mais da Tailândia, da Jamaica,Indonésia... É o melhor fertilizante quehá”, diz Palese. Outra diferença é a vozmais tranquila daqueles que cultivamplantas, em vez de músculos. u

MERCADOPequenos negóciosfloresceramcoma

legalização. Acima, oex-presidiário JuanVazobserva o crescimento

das plantas emseuclubedemaconha.Por lei, os clubes

devemetiquetar suasmudas. Fertilizantese camisetas coma

etiquetaMujicannabispodemser vendidos,mas amaconha não

A CRIAÇÃO DE UMAREDE DE FARMÁCIAS

PARA A VENDADE MACONHA FOIADIADA POR TEMPOINDETERMINADO

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54 I ÉPOCA I 17 de agosto de 2015

ão faz sentido mandar usuáriosde maconha para a cadeia. Mastão estúpido quanto encarcerarquem fuma a erva é facilitar a ex-pansão da emergente indústria damaconha, sem antes criar meca-

nismos capazes de reduzir os danos àsaúde pública que ela pode causar.Antesde dar o passo seguinte (o da legalizaçãoda droga), o Brasil precisa fazer uma re-flexão desapaixonada sobre as conse-quências dessa medida.

Não sejamos ingênuos. Estamosdiante de uma nova e vigorosa indústria.Se legalizada, a maconha deixará de seruma das fontes de renda dos traficantes(quebrar pernas e braços do tráfico édesejável) para ser promovida livremen-te por capitalistas profissionais. Essefenômeno ocorre nos Estados Unidos,onde marcas associadas aos nomes dehippies lendários como Willie Nelson eBob Marley atraem investidores robus-tos do Vale do Silício. Em entrevista àrevista The Economist, um dos executi-vos da ArcView, uma rede de investido-

res do mercado da maconha, estimouvendas de US$ 3,5 bilhões até o finaldeste ano e de US$ 4,4 bilhões em 2016.

Os defensores da legalização argumen-tam que ela é benéfica, entre outras ra-zões, porque faz o dinheiro mudar demãos. Ele deixa de financiar o submundopara premiar empresas que geram em-pregos, riqueza e impostos. É um bomargumento, mas não se deve perder devista o fato de que os empreendedoresnão se contentarão com o mercado jádesbravado pelo tráfico.Eles não medirãoesforços para fidelizar novos clientes, aexemplo do que fazem as exitosas indús-trias do tabaco e do álcool. Esses doisprodutos respondem pela maior carga dedoenças provocadas por drogas.Os malescardiovasculares e o câncer (as duas prin-cipais causas de morte por enfermidadeno Brasil) são apenas os dois principaisitens da extensa lista de danos à saúde.Apenas com o tratamento de doençasrelacionadas ao cigarro, o Sistema Únicode Saúde (SUS) gastou R$ 1,4 bilhão em2013. O status de droga legal, qualquer

Tão estúpido quanto encarcerar quem fuma a ervaé facilitar a expansão da indústria legal da drogasem criar mecanismos para proteger a saúde. Essaé a lição a ser aprendida dos Estados Unidos

Cristiane Segatto

DEBATES E PROVOCAÇÕES

PARATODOSOSGOSTOSUma consumidoranuma loja demaconhano Estado deWashington, um dosprimeiros a legalizara venda da drogapara uso recreativo.No detalhe, itenscomestíveis parausomedicinal numaloja emDenver, noEstado do Colorado

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ria.“A quantidade de tetra-hidrocanabi-nol (substância que causa dependência)em alguns desses doces supera em quatrovezes o limite do que pode ser conside-rado seguro”, escreveu o psicólogo socialRobert J. MacCoun, num editorial publi-cado recentemente no The New EnglandJournal of Medicine. “Esse problema éagravado por diferenças nos efeitos me-tabólicos da maconha quando é ingeridaem vez de ser fumada”, afirma. O efeitoda droga pode variar dependendo doconteúdo do estômago.“Esses produtos,que imitam marcas alimentícias conhe-cidas, atraem as crianças, mesmo que elas

não sejam o público-alvo da indústria”,diz. MacCoun defende uma regulaçãomais enérgica para a maconha comestí-vel. Outros especialistas questionam ospossíveis benefícios da legalização.“Essaé uma solução simplista para um proble-ma complicado”, afirma o sociólogo Ke-vin Sabet, professor assistente do Depar-tamento de Psiquiatria da Universidadeda Flórida. Ele liderou um trabalho queavaliou o impacto da legalização da dro-ga no Colorado em 2009 (para uso me-dicinal) e em 2012 (para uso recreativo).

Na capital, Denver, 74% dos adoles-centes em tratamento contra dependên-cia química afirmaram ter consumido amaconha medicinal de outra pessoa.Fizeram isso, em média, 50 vezes. Aquantidade de suspensões ou expulsõesda escola aumentou 32% na comparaçãoentre os anos letivos de 2008 e 2012. Amaioria dos casos envolveu o consumode maconha. O número de mortes emacidentes de trânsito envolvendo moto-ristas que haviam fumado maconhaaumentou 100% entre 2007 e 2012. Adroga está longe de ser uma fonte ino-fensiva de prazer. Cerca de 9% daquelesque a experimentam se tornam depen-dentes. Entre os que fumam maconhatodos os dias, a taxa de dependenteschega a 50%. A droga aumenta o riscode ansiedade e depressão. E também deesquizofrenia, em especial em pessoasque já têm predisposição genética à do-ença. Antes dos 21 anos, o cérebro é al-tamente vulnerável a agressões ambien-tais, como a exposição ao THC. Asubstância pode provocar falhas de me-mória que dificultam o aprendizado e acapacidade de reter informações.

No cenário atual, o Brasil não dáconta de atender à pesada demanda porcuidados de saúde mental. Será capazde oferecer tratamento adequado aosnovos viciados quando os produtos fo-rem mais atraentes e disponíveis? Deonde sairá o dinheiro? Dos impostosrecolhidos pela indústria? Em que me-dida? Tudo isso precisa ficar claro antesda legalização. A liberdade de consu-mir maconha é individual, mas o ônusde arcar com os custos dos tratamentos,das ações de prevenção e do acolhi-mento às famílias que sofrem com adependência sempre será coletivo. u

que seja ela, aumenta a exposição da po-pulação ao produto. É um fenômenoprevisível, mas a criatividade da novaindústria da maconha pegou de surpresaos médicos e as autoridades sanitáriasamericanas. Se alguém imagina que essasempresas se contentarão em oferecer noBrasil pacotinhos de erva fedorenta ou decigarros quase artesanais, precisa conhe-cer a variedade de produtos americanos.

Em quatro Estados (Colorado,Washington, Alasca e Oregon), adultosacima de 21 anos podem comprar ma-conha comestível para uso recreativo. Sãopirulitos, barras de chocolate, balas,cookies. Há opções sem açúcar e semglúten. As embalagens atraentes ficamexpostas ao alcance da mão. Outros Es-tados permitem o consumo de maconhacomestível para uso medicinal. De formaclandestina, os mesmos produtos alcan-çam os Estados onde a maconha conti-nua ilegal. Não demoraram a surgir casosde adolescentes que abusaram dos docese sofreram ataques de ansiedade, sinto-mas psicóticos e insuficiência respirató-

OS NOVOS INVESTIDORESDO MERCADO DA

DROGA PREVEEM VENDASDE US$3,5 BILHÕES NOSESTADOS UNIDOS ATÉ

O FINAL DO ANO

Fotos: Ted S. Warren/AP e Randall Benton/Zuma Press/Corbis

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escriminalizar as drogas é muito arris-cado. O Brasil não está pronto.” Esse é oargumento mais ouvido para barrar qual-quer inovação na política de drogas noBrasil. Mesmo sabendo que a nossa atuallei de drogas é injusta, cruel e ineficiente,

a pressão para insistir no fracasso é enorme.Nossa lei é cruel porque, ao definir o usuário

como criminoso, impede tratamento adequadode quem apresenta um uso problemático e neces-sita de acesso à saúde. A experiência internacionalmostra que é muito mais difícil cuidar de usuáriosproblemáticos em um contexto no qual eles sãodefinidos como criminosos do que nos países ondeeles podem ser tratados na perspectiva da saúde.Portugal descriminalizou o consumo há 15 anos epraticamente zerou o número de overdoses.

Nossa lei é injusta porque, apesar de definiraltas penas de prisão para traficantes e sançõesleves para usuários, não estabelece nenhumcritério objetivo para diferenciar um do outro.Os critérios aplicados, na prática, são a rendae a raça das pessoas. O negro pobre com umapequena quantidade de drogas é consideradotraficante e recebe penas altíssimas, enquanto obranco de classe média com quantidades idên-ticas não recebe pena alguma. Cerca de 60%dos presos por tráfico são réus primários, semligação com o crime organizado e com pequenasquantidades. Muitos usuários acabam presoscomo traficantes. Para corrigir essa injustiça,também podemos olhar para o que foi feito emoutros países. Dezenas de países estabelecemcritérios quantitativos para separar o traficantedo usuário com bastante êxito.

Nossa lei também é ineficiente. Em todos oslugares do mundo onde a política de drogas foi

baseada na repressão, na prisão e na violência,os resultados foram trágicos. O consumo apenascresceu. A explosão no número das prisões portráfico no Brasil não diminuiu o tráfico ou con-sumo de drogas. Ao prender tantas pessoas quenão tinham ligação com o crime organizado emprisões que são controladas por organizações cri-minosas, alimentamos uma perversa engrenagemdo crime que só gera mais insegurança.

É comum ouvir o argumento de que des-criminalizar as drogas pode gerar aumento doconsumo. É um argumento intuitivo, por isso étão repetido. Mas o problema das drogas é sériodemais para ser tratado com intuições. O Brasilé um dos últimos países, ao lado da Guiana, amanter o consumidor de drogas como crimino-so na América do Sul. O estudo Uma revoluçãosilenciosa: políticas de descriminalização de drogaspelo mundo mostra que em nenhum país emque o consumidor foi descriminalizado houveaumento do consumo de drogas.

Devemos ir além? É necessário regular o mer-cado de drogas da mesma maneira que se faz como tabaco? A redução de consumo do tabaco a par-tir de campanhas preventivas foi maior do que ade qualquer droga ilícita como os trilhões gastosna repressão. Vários países têm avançado na di-reção da regulação responsável do mercado dealgumas drogas. Devemos olhar essas experiênciascom lupa e ver se há algo para aprender com elas.

Foram décadas de esforços monumentais napolítica da repressão. Centenas de milhares demortos, trilhões de dólares gastos, milhões depessoas presas. E o resultado é injusto, cruel eineficiente. Não querer mudar a política é umairresponsabilidade. Deixar as coisas como estãoé o maior risco que podemos correr.

Omais arriscadoé manter a políticade drogas atual

DEBATES E PROVOCAÇÕES

PedroAbramovayé diretor paraa América Latinada Open SocietyFoundations.Foi secretárionacional de Justiça

Pedro Abramovay

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á nítida diferença entre o consumidor e otraficante de drogas. O primeiro inicia-se no vício atraído por novas emoçõesou por não querer, quando muito jo-vem, ser discriminado no grupo a quepertence, ou, ainda, acreditando que

poderá abandonar o deletério hábito quandoquiser. O segundo, não. Vive do narcotráfico,quase sempre vinculado a quadrilhas de crimi-nosos, que se enriquecem em todo o mundo,à custa dos viciados que geram. Alargar a listade dependentes significa aumentar o lucro dosórdido negócio. Às vezes, é tanto o dinheiro ar-recadado pelos traficantes que eles conseguem,por meio do mercado de ações, lavar os recur-sos para investimentos sérios. Hoje, isso se tor-nou mais difícil por causa da luta empreendidapelos governos contra tais expedientes. As leiscontra a corrupção e dinheiro resultante de ter-rorismo e drogas, habilitando as polícias paracombater essas atividades, à luz da globalizaçãoe da quebra de sigilo bancário mundial, estãocriando, felizmente, reais obstáculos para asações de tais delinquentes. Cada vez é maiscomplicado operar, no mercado de capitais eno sistema financeiro, com recursos escusos.

Creio que a descriminalização das drogasseria um passo equivocado. A título de des-montar a máquina do crime, ela estaria alimen-tando o consumo ilimitado. Isso, efetivamente,ocorreu na Holanda, onde há movimentos parao retorno à criminalização do uso. Há necessi-dade, pois, de punir o narcotraficante e coibiro uso, para que seu consumo não se torne umhábito “não salutar”.

Parece-me, todavia, que, para o consumidorque se vicia, a pena não deveria ser detenção

em estabelecimento penal, onde vai conviver,pela falência de nosso sistema carcerário, comfacínoras experimentados. Hoje, o regime pe-nitenciário brasileiro é uma escola do crime – edefendo que esse regime só melhorará quandoo Estado for responsabilizado financeiramen-te. A detenção do dependente deveria ser emclínica de recuperação. Assim, a pena represen-taria, de rigor, uma solução consideravelmentemelhor para a pessoa e para o país.

A liberação das drogas implicaria, quasecertamente, a expansão do consumo de entor-pecentes. Isso terminaria por gerar um númeromaior de dependentes, com custos públicoscrescentes para o sistema de saúde. Sou contra,portanto, a liberação geral, sendo favorável àpunição do criminoso e ao recolhimento deusuário, que se viciou em estabelecimentosclínicos de recuperação.

Por outro lado, a posse de pequena quanti-dade de entorpecente, em limites razoáveis (5gramas de maconha ou 0,5 grama de cocaína),não deveria ser punida. Não se poderia, toda-via, jamais chegar à solução espanhola, de 20gramas de maconha e 7,5 gramas de cocaína,como teto impunível. A maioria dos países nãocriminaliza a guarda por um usuário de peque-nas quantidades de alucinógenos.

Sou, portanto, favorável à aplicação da Lei11.343/06, em seu Artigo 28, com tais tem-peros, pelo Judiciário, levando-se em consi-deração, também, a habitualidade, o passadodo usuário em outros crimes e sua influênciano meio em que atua, para se saber se é vítimaou mercador.

Descriminalização nunca, ponderação naaplicação da pena, sim!

Devemos buscarponderação naaplicação da pena

IvesGandraMartinsé jurista e professoremérito das universidadesMackenzie, Unip,Unifieo, UNIFMU, daEscola daMagistraturado Tribunal RegionalFederal – 1a Região

Ives GandraMartins

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primeira vez que o parisiense Régis Debray veio aoRio de Janeiro foi em 1964, após o golpe militar, paratentar contatar Carlos Marighella. Tinha 24 anos. Era

só uma passagem para Cuba,onde ficou amigo de Fidel Castro.Debray se lançou à guerrilha armada ao lado de Che Guevara.Foi preso na Bolívia e condenado à pena máxima de 30 anos deprisão. Ficou atrás das grades de abril de 1967 a dezembro de1970, quase quatro anos, e foi libertado devido a uma campa-nha internacional de intelectuais liderada por Jean-Paul Sartre.De lá para cá,mudou muito.De revolucionário, tornou-se um“reformista radical”.“Porque continuei a viver nestes últimos 50anos”, diz, em frente à Praia de Copacabana. Escritor, filósofo,pensador de esquerda, assessor do presidente François Mitter-rand de 1981 a 1985, Debray é proibido de entrar nos EstadosUnidos.Até quando os americanos considerarão perigoso essesenhor elegante de quase 75 anos, com olhos azuis sagazes?Debray pede “dois cafezinhos” e escolhe as palavras para nãoparecer arrogante.O culto obsessivo do corpo e não do espíritoé o que mais o intriga no Rio de Janeiro,onde esteve na semanapassada para dar uma conferência sobre globalização e religiãoa convite do professor Candido Mendes.Ele se pergunta: comoinocular o valor da palavra, da leitura e das ideias num lugarbanhado por tanta beleza natural, onde “todos são bonitose musculosos e jogam futebol o dia inteiro”? “Engajado mascético”,Debray recusa apaixonadamente o rótulo de intelectual– “são todos uns farsantes”. Eis alguns trechos da conversa nasegunda-feira passada, num inverno carioca de sol e céu azul.

ÉPOCA – O que o senhor acha do populismo em voga naAmérica Latina?

RégisDebray–Não tenho mais a informação da experiênciana América Latina. Um brasileiro que desembarca na Fran-ça e diz que (o presidente François) Hollande “é um idiota”pode até não estar enganado, mas erra ao declarar. Estoufora daqui há meio século. Em tese, posso dizer que o cau-dilhismo sempre me despertou certa reserva. O caudilhismoestá inscrito na cultura da América Latina, é simpático aopovo, mas impede a construção de um Estado que crie umapermanência e consolide as instituições. O Estado pode seranimado por uma pessoa, mas não pode se confundir comuma pessoa. Os regimes personalistas costumam terminarjunto com a pessoa que assumiu o poder. Conheci (Hugo)Chávez, porque ele ia a Paris. Eu simpatizava com o homemChávez, mas nunca aceitei seus convites para ir à Venezuela,porque não queria participar de nenhuma propaganda.

ÉPOCA–Oquedizer aeleitoresdeesquerdaquevotaramemLulaeDilmaatraídospelabandeiradaética, nacrençade que seriam governos incorruptíveis?Debray – Depende do tipo de corrupção: do dinheiro ou daspromessas? A corrupção moral na política não é só comum,é indispensável (sorrisos). Numa democracia, a única maneirade chegar ao poder é fazendo promessas. Todas as campanhaseleitorais são mentirosas.Prometer é enganar.Políticos queremseduzir a qualquer preço. O oportunismo é a base desse exer-cício. Envolver-se com a política é o mesmo que se prepararpara uma desilusão.A política, por definição, é uma decepção.

ÉPOCA–Nãohápolíticos quenão sedeixemcorromper?Debray – O incorruptível, na França, era o apelido de s

Ruth deAquino

O filósofo francês, companheiro de guerrilhade Che Guevara, elogia o “revoltado” papa Francisco e dizque o islamismo é a única oposição séria ao capitalismo

ENTREV ISTA

“A esquerdaestá semvoz”

A

RÉGIS DEBRAY

Foto: Daryan Dornelles/ÉPOCA

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CÉTICOOfilósofoRégis Debray,na semanapassada, no Riode Janeiro. Paraele, “a política,por definição, éuma decepção”

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Robespierre (1758-1794). E ele era o terror. Mas não só.Defendeu a abolição da escravidão nas colônias francesas, porexemplo. Mas ao mesmo tempo mandou matar na guilhotinamilhares de pessoas (entre elas companheiros revolucionárioscomo Danton). E se intitulava “o incorruptível”. A realidadeé a corrupção. Somos todos corrompidos, de uma maneiraou de outra. A única forma de se manter incorruptível épermanecer dentro de seu quarto. Se você sai à rua e aindapor cima assume o poder, já faz concessões, assume com-promissos. Para transformar o mundo, é preciso entrar nele.

ÉPOCA–Comodefiniria o exercício da política real?Debray–O poder político consiste em administrar as ilusões.Quando um político se dirige à esquerda, ele promete justiça eigualdade.Quando se dirige à direita,promete eficiência, lucroe sucesso. Normalmente, as promessas não são cumpridas.

ÉPOCA–Ovoto popular ainda é transformador?Debray–O que acaba de acontecer na Grécia revelou algo terrí-vel: pode haver democracia sem povo.Vota-se,mas as decisõesfinais ocorrem em outro nível,mais alto e não nacional,de umaburocracia financeira europeia. Os referen-dos perderam toda a importância. O povotornou-se impotente. Já não tem ascendênciasobre seu destino.A elite tecnocrata no podernão está nem aí para o voto popular, porquedecide o que mais lhe convém.

ÉPOCA–Aesquerda estámorta?Debray – Sim, na Europa pelo menos. Lá,a esquerda interfere apenas nos assuntosmarginais da sociedade, como a legalizaçãoda maconha ou do casamento homosse-xual. Temas com repercussão na mídia, masde menor profundidade.A social-democra-cia foi engolida pelo sistema financeiro. E a extrema-esquerdaé fraca e sem voz. O que não pode morrer é a necessidade dese manter à esquerda. O homem não pode deixar de sonhar.Não pode sucumbir à dominação do dinheiro e da força.

ÉPOCA – Qual é a oposição mais forte aos partidosconservadores?Debray–Na falta da esquerda, o sistema capitalista só enfren-ta uma oposição forte, medieval e teocrática: o islamismo.Infelizmente. Hoje, os jovens europeus não partem maispara a Bolívia, eles partem para a Síria e o Iraque. A únicacontestação séria ao domínio do capitalismo americano vemde Bin Laden e do Estado Islâmico.

ÉPOCA – Vivemos a era do pós-capitalismo, com auto-crítica e a participação das redes sociais?Debray – Não. Vivemos um capitalismo degenerado, queidolatra o sistema financeiro e não busca produzir o bem-estar interior ou coletivo, mas sim o lucro e a mais-valia.Um mundo submisso à lei da rentabilidade do dinheiro. Éperverso. A política sucumbiu à economia, que não é uma

ciência, mas uma técnica, falha como tantas. Na França, osjovens brilhantes não entram mais na política, vão para asfinanças, para os bancos e o mercado. A carreira política éhoje para os imbecis. Ou para quem quer saciar uma vaidade,o desejo de ser amado. É mais um arrivismo social que umaambição política de verdade. Não é um sentimento nobre.

ÉPOCA – Há quem diga que o senhor passou de revolu-cionário a reacionário.Debray – Fui revolucionário há 50 anos, em outro cenário.Quando se está num país onde não há partidos políticos nemsindicatos, onde se tortura e o regime é ditatorial, entende-se que você abrace a luta armada e caia na clandestinidade.Depois disso, eu voltei à França, um país com partidos, sindi-catos, leis. E vivi. Minha opinião de meio século atrás ganhounuances e exigências. Eu me tornei um reformista radical naFrança. Continuo um anti-imperialista e um patriota, quenão quer ver ninguém de fora se metendo nas leis de seupaís. Não um nacionalista, que se acha superior aos outros.

ÉPOCA – Há espaço na América Latina para revolucio-nários no estilo do Che?Debray – Você se refere a alguém que façado messianismo uma questão secular?Acho que sim, mas não sob a forma de umaguerrilha rural, algo hoje tecnologicamenteobsoleto. Todos têm celulares no bolso. NaAmérica Latina, é verdade que encontra-mos um certo frescor ou radicalismo e issofica claro nas manifestações de rua.

ÉPOCA–Aque sedeveopoder das igre-jas evangélicas empaíses comooBrasil?Debray–Quando os valores de nação deixamde existir, os homens buscam outra fé. Na

falta de poder cívico,saem em busca de valores seguros,sempreos mais tradicionais. Houve um tempo em que a política erauma religião. Podia exigir sacrifícios e condenar sacrilégios.Quando existe uma dessacralização de poderes políticos,chega-se a uma politização dos valores sagrados.É um fenômeno quetestemunhamos em todo o mundo.A Rússia se torna ortodoxa,dessacraliza Lênin e sacraliza São Sérgio (São Sérgio de Rádo-nezh, um dos santos mais venerados pelos russos ortodoxos).Os arcaísmos religiosos hoje liquidam os progressistas.

ÉPOCA–Comovê o papa Francisco?Debray – O papa Francisco é uma boa surpresa. É dignode todos os elogios. Ele compreendeu que a força da IgrejaCatólica não são os ricos, mas os pobres. E por isso volta àfonte, às origens. Nós felicitamos a América Latina por noster dado um papa revoltado. Também é preciso felicitar opapa por enfrentar o mundo protestante. O Ocidente estavasucumbindo à hegemonia protestante, o catolicismo estavaem queda.Além de restituir a autonomia da Igreja Católica, opapa reinterpreta a Teologia da Libertação – de maneira maismoderna e globalizada, e sobretudo menos irritante (risos). u

ENTREV ISTA Régis Debray

Apolíticasucumbiuàeconomia.A carreira

política éhojeparaos imbecis”

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De 1875 para cá,o Brasil viu nasceremo choro, o samba,a bossa novae o funk.Mas, afinal decontas, que músicaque a banda toca?

O BRASIL PRECISA SABER. LEIA O ESTADÃO.

De 1875 para cá, o Estadão esteve presente em todasas grandes mudanças do País. E vai continuar ao seulado. Sempre. Porque, neste tempo todo, só uma coisanão mudou: o seu direito de querer saber.

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HELIO GUROVITZ

Helio Gurovitz é jornalista [email protected] (e-mail)@gurovitz (Twitter) http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/ (web)

62 I ÉPOCA I 17 de agosto de 2015

O Enem, as cicloviase amatemática

odo ano acontece a mesma coisa. Saem os resultados doExame Nacional do Ensino Médio (Enem), e pais, alunos

e jornalistas saem correndo atrás do segredo das melhoresescolas do país. Pululam teses sociológicas sobre a desigual-dade social, a predominância do Sudeste e a qualificação dosprofessores. Os analistas de ocasião também costumam cha-mar a atenção para o tamanho das escolas. Nos resultadosdivulgados no início do mês, apenas três das 20 melhoresescolas têm mais alunos que a média nacional das 15.640. As20 melhores têm 67 alunos por escola, ante uma média geralde 88. É razoável, portanto, supor que ter menoslhora a qualidade do ensino, certo? Errado. Setomarmos as 20 piores da lista, a média de alunosé de 38, bem inferior aos 67 das melhores. Querdizer então que ter menos alunos significa ter umensino pior? Óbvio que não. Em qualquer rankingque classifica uma série de conjuntos (as escolas)por média de valores (as notas nas provas) atri-buídos a seus elementos (os alunos), as pontas dalista – as maiores e menores notas médias – sem-pre serão ocupadas por conjuntos com menoselementos (escolas com menos alunos que a mé-dia). Trata-se de uma verdade matemática for-mulada no início do século XIX por um dos paisda estatística, o francês Siméon-Denis Poisson,chamada Lei dos Grandes Números. Ela estipu-la que, quanto mais elementos tem um conjun-to, mais seus valores se aproximam da média. Apresença de escolas com poucos alunos nas pon-tas distantes da média nada tem a ver, portanto,com a qualidade do ensino. É uma questão meramente es-tatística, infelizmente até hoje pouco compreendida porpais, alunos, escolas, pela imprensa e, naturalmente, porquem divulga esse tipo de ranking.

Esse é apenas um dos temas de que trata Jordan Ellenbergem O poder do pensamento matemático, lançado neste ano noBrasil. Ellenberg é uma estrela entre os matemáticos de suageração não apenas pelo talento científico, mas por conseguirtraduzir em linguagem corrente problemas abstratos e asquestões que inquietam os matemáticos contemporâneos.Seu livro é um verdadeiro libelo em defesa do ensino da ma-temática como uma forma de entender a realidade e de saberagir melhor.A matemática de Ellenberg não é o arremedo debitolas, cálculos e fórmulas decoradas que grassam no Eneme nos vestibulares. Ele descreve e defende a matemática real,uma atividade baseada no raciocínio criativo, na disciplina,no trabalho duro, na resistência à frustração e na humildade

diante do que permanece sem resposta.“Precisamos de maisestudantes de matemática que não se tornem matemáticos.Mais estudantes de matemática que acabem virando médi-cos, ou professores do ensino médio, ou presidentes de em-presas, ou senadores”, escreve. “Mas não chegaremos láenquanto não jogarmos fora o estereótipo de que a mate-mática só vale a pena para os pequenos gênios.” Sua defesaé recheada de exemplos da realidade. Com erudição e umestilo bem-humorado, Ellenberg vai dos erros nas pesqui-sas médicas aos estudantes que criaram um método para

antagem na loteria; do corte de impostos à reconta-gem dos votos na Flórida; dos testes com peixesmortos à imbecilidade aparente daqueles que pa-recem mais belos; da couraça nos aviões da Segun-da Guerra Mundial à existência de Deus.

Seu livro traz lições preciosas para combater umdos maiores males que afligem nossos políticos enossa imprensa, o analfabetismo em matemática,sobre o qual já escrevi nesta coluna. Num momen-to em que o país volta às ruas para protestar contrao governo da presidente Dilma Rousseff, será im-portante não incorrer novamente no erro crasso deavaliar em 1 milhão de pessoas a multidão na Ave-nida Paulista, onde cabem, com a maior boa vonta-de, pouco mais de 600 mil. Num momento de ajus-te fiscal e alta de juros, é importante saber fazer aconta correta sobre a situação das finanças públicas.Num momento em que o criador do Enem e hojeprefeito de São Paulo, Fernando Haddad, promoveum escarcéu na cidade com novas faixas exclusivas

de ônibus, ciclovias e a redução da velocidade nas vias ex-pressas, é importante desarmar as falácias embutidas nodiscurso de combate ao carro. De que adianta dizer que au-mentou em 68% a velocidade dos coletivos, se o tempo mé-dio de deslocamento na cidade continua a subir? Ou que 80mil pessoas passaram a andar de bicicleta, se, no mesmoperíodo, 1,5 milhão passaram a usar carro diariamente? Porque, em vez de reduzir a velocidade máxima nas marginais,não restringir a circulação de motocicletas, já que metadedas mortes registradas nelas no ano passado foi de moto-queiros – e, desde 2005, houve uma redução pela metade nosíndices relativos de morte no trânsito? A leitura que ummatemático faz de todos esses fatos é decerto mais difícil deembalar em slogans. Mas chega mais perto da verdade. u

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Opoderdo pensamentomatemático

Jordan Ellenberg

Zahar536 páginasR$ 60

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OnovocoraçãodoesporteO Parque Olímpico toma forma amenos deum ano para o começo dos Jogos. Agora, o desafioé torná-lo habitável depois da Olimpíada

VIDAMOMENTOESPORTIVO

Foto: Matthew Stockman/Getty Images

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17 de agosto de 2015 I ÉPOCA I 65

Sérgio Garcia

menos de um ano da ce-rimônia de abertura daOlimpíada, o vaivém decaminhões e a intensa mo-

vimentação de operários no ParqueOlímpico ratificam que a cidade está en-trando na reta final para acolher a com-petição mais importante de sua história.A prefeitura do Rio de Janeiro estima que87% das obras do que será o coração dosJogos estão prontas. Situado à margemda Lagoa de Jacarepaguá, onde ficava oautódromo carioca, na Zona Oeste domunicípio, o Parque Olímpico abrigará16 das 42 modalidades que serão dispu-tadas na Olimpíada. Ali serão realizadasdisputas de grande apelo de público,como a natação, a ginástica artística e obasquete.Cerca de 100 mil pessoas circu-larão diariamente numa minicidade quese tornará a capital mundial do esporteem agosto do ano que vem.

Um dos grandes desafios foi montaro quebra-cabeça para que vários cen-tros esportivos coubessem no espaçorestrito na superpovoada cidade do Riode Janeiro. O terreno carioca é mesmoacanhado quando comparado com otamanho da área que hospedou o Par-que Olímpico nos Jogos de Londres, em2012. No Rio, é 1,2 milhão de metrosquadrados, apenas a metade da área to-tal do parque olímpico inglês. “O Par-que Olímpico lembra o mecanismo deum relógio suíço, com as engrenagenstrabalhando e se encaixando dentro deum espaço reduzido”, diz o arquitetoDiogo Taddei, da Aecom, a empresaamericana responsável pelo desenhodo complexo carioca e do londrino.

O Parque Olímpico abriga nove cen-tros esportivos, como o velódromo, ondeacontecem as provas de ciclismo, o está-dio aquático, local dos duelos da nata-ção, e o centro de tênis. Só arenas serãocinco. Nelas, acontecerão as competiçõesde handebol e basquete, as disputas s

A

FUTUROOParque

Olímpico emconstrução, emJacarepaguá, noRio de Janeiro.Após os Jogos,haverá prédiosresidenciaise comerciais

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Foto: divulgação

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de judô, as lutas livre e greco-romana e aesgrima. Na Arena Olímpica, construídapara o Pan de 2007 e que passa por re-formas, acontecem as apresentações daginástica artística. No Centro AquáticoMaria Lenk, também em reforma apóso Pan, serão disputados os saltos orna-mentais e o nado sincronizado. Alémdos equipamentos esportivos, o ParqueOlímpico abrigará um hotel e os centrosde mídia e de transmissão.

Tecnologias foram usadas para tornaros custos de funcionamento e de ma-nutenção dessas novas estruturas maiseconômicos. “Fizemos algumas insta-lações como se fossem um Lego, paraevitar que se tornem elefantes-brancos.Basta desaparafusar as peças e remontá-las em outro ponto da cidade”, diz oprefeito Eduardo Paes. Parte delas seráreaproveitada após o fim da Olimpíadacomo centro de treinamento e escolas. Éo caso da arena de handebol e do estádiode natação, que serão desmontados e re-colocados em outros pontos do Rio. Para

economizar energia, o estádio aquáticoconta com um sistema de ventilação na-tural. A partir de um estudo do regimedos ventos e da temperatura média naregião durante o mês de agosto, os arqui-tetos chegaram à conclusão de que eranecessário instalar mais de 10 mil orifí-cios na estrutura da arquibancada paraa passagem do ar (leia o quadro). Com osistema, o termômetro no interior do gi-násio oscilará entre 24 e 28 graus célsius.Os atletas contarão com um sistema dear condicionado, voltado apenas para oredor da piscina. Também para pouparenergia, algumas das arenas ganharamclaraboias no teto. Curiosamente, a pedi-do da equipe de TV, elas ficarão cobertasdurante o torneio, para evitar que ocorravariação de luz dentro da arena.

Se durante a Olimpíada a ocupação daárea está garantida, a questão é como do-tá-la de vida própria depois que a tochase apagar. No lugar dos equipamentosprovisórios, subirão imóveis residenciaise comerciais, configurando um peque-

no bairro. As arenas virarão centros detreinamento, mantendo a característicaesportiva da região. O mesmo vale parao centro de tênis. No exterior existemalguns bons exemplos de como os Jogossão capazes de alavancar determinadaárea e torná-la atraente mesmo após ofim do espetáculo esportivo. Em Muni-que, cidade alemã que recebeu a compe-tição em 1972, o Olympiapark tornou-seum ponto movimentado. Além das dis-putas esportivas em seu gramado, o es-tádio principal oferece atividades comotirolesa, rapel e escalada até a cobertura.Para os menos radicais, há visitas guia-das pelo complexo, que dispõe de umsimpático trenzinho. Em Londres, oparque olímpico Queen Elizabeth temuma programação variada para cativaro visitante. Ganhou recentemente uma“praia”, onde é possível aboletar-se naareia e relaxar. A experiência sugere queo coração da Olimpíada ganha nova vidaquando os Jogos acabam. Que ela sejalonga e próspera no Rio. u

MOMENTO ESPORTIVO

2 das 9 instalaçõesesportivas do parquesão provisórias: oestádio aquático

e a arena dehandebol

Ventilação naturalPara economizar energia, o estádioaquático tem 10mil orifícios nosdegraus das arquibancadas, para aentrada do ar externo. A temperaturafificcaarráá eennttrree 2244 ee 2288 ggrraauuss ccééllssiiuuss

2

Luminosidade controladaNas arenas 1, 2 e 3 e no velódromo, háclaraboias. Elas têmuma lente queespalha a luminosidade. Até o finaldos Jogos, ficarão cobertas parannããoo hhaavveerr vvaarriiaaççããoo ddee iilluummiinnaaççããoo

3

Visão privilegiadaNumaexigência doComitêOlímpicoInternacional, as arquibancadassão construídas emparábola, parafacilitar a visão. A capacidade dosggiinnáássiiooss sseerráá rreedduuzziiddaa aappóóss ooss JJooggooss

1

Avenida para pedestreAViaOlímpica deverá receber100mil pessoas por dia em seu 1quilômetro de extensão. Emcertostrechos, há elevações para quevveeííccuullooss ddee sseerrvviiççoo ppaasssseemmeemmbbaaiixxoo

4

Fonte: EmpresaMunicipal Olímpica

OPARQUEOLÍMPICOEMDETALHESComo funcionarão os centrosque abrigarão as competições

Comárea total de quase1, 2milhão demetrosquadrados, o parque doRio é ametade do espaçousado emLondres, em2012

modalidades olímpicas enove paralímpicas estarãoem disputa no complexo

Foram instalados6,6 quilômetros derede sanitária, 11de água e mais de13 de iluminaçãoHOTEL

CENTROSDEMÍÍDIAETRANSMISSÃO

CENTRODETÊÊNIS

VELÓÓDROMO

ARENA 1

ARENADEHANDEBOL

ESTÁÁDIOAQUÁÁTICO

ARENA 2

ARENA3

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o ano pppassado, rendeu um pe-queno susto o perfil do uni-verso ddde funcionários das 130

melhores emprrresas para trabalhar noBrasil. Depois ddde um período de ascen-são, a participaaação feminina no totalde cargos e nosss cargos de chefia haviavoltado a recuaaar. Neste ano, os dois in-dicadores voltaaaram a subir. No longoprazo, a escaladdda é bonita de ver. Entre2005 e 2015, a fffaaatia feminina no total defuncionários paaassou de 34% para 50%,e nos cargos de chefia de 20% para 41%.O balanço entreee gêneros é medido todoano pelo Great Place to Work (GPTW),consultoria muuultinacional especialistaem qualidade ddde ambientes de traba-lho. GPTW e ÉPOCA, em parceria,premiarão as mmmelhores empresas paratrabalhar, em 17 de agosto.

Na edição deeeste ano, o GPTW avaliou1.454 organizaaações. Elas compõem s

NNathalia Bianco eMauro Silveira

ÉPOCA EMMM AÇÃO

Mulheres sssão metade dosfuncionários das melhoresempresas pppara trabalhar,afirma o GGGPTW. Agora, faltaelas chegarrrem a metadedos cargosss de chefia

Batendonotetodevidro

ANNACAROLINAFAZÃO

Gerente de RHBristol-Meyer

Squibb

Anna driblou aoposição entrecarreira e família.Durante a gravidez,pôde trabalhar

de casa

GIOVANAMUELLER

Diretora deInformação – Dell

Fez carreira emtecnologia. Foibem recebidapela Dell, uma

forte defensora dadiversidade no setor

LÍVIAMAIASIMÕES

Engenheira deproduto –MAN

Começou comoúnicamulher numprojeto com20engenheiros. Hoje,partilha experiênciacomas colegas

Foto:RogérioCassimiro/ÉPO

CA,divulgação,EduardoGuedes

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ÉPOCA EM AÇÃO

um grupo seleto no universo empresa-rial brasileiro, pelo simples empenhoem avaliar e melhorar seus ambientesde trabalho. Dessas, o GPTW destacou135, pelo alto grau de confiança queinspiram no funcionário e pela com-binação do que oferecem – oportunida-des de crescimento profissional, culturade trabalho com que o funcionário seidentifica, boa qualidade de vida, remu-neração e benefícios adequados.

Mesmo nesse grupo de elite, em quea discriminação descarada é combati-da, repete-se o fenômeno apelidadocomo “teto de vidro” – barreiras in-visíveis que impedem a ascensão dasmulheres. Quanto mais se sobe na es-cada corporativa, menos mulheres seveem. Elas são 41% dos chefes, 24%dos executivos de alto escalão e ape-nas 9% dos presidentes, nas empresaspremiadas pelo GPTW. O efeito se tor-

na mais severo em áreas como enge-nharia e indústria. Parte do problemaocorre pela simples falta de mulheresprofissionais nessas áreas. As meninassão pouco incentivadas, em casa e naescola, a gostar de matemática, diz asocióloga Bárbara de Castro, da Uni-camp, que estuda o tema.

Para mudar o quadro, as empresas seempenham de formas variadas. Uma éorientação profissional mais cuidadosapara as mulheres. A montadora MAN,com 7% dos postos de chefia a cargo demulheres, criou o Programa Woman,em que executivas de diversas áreas sereúnem uma vez por mês para com-partilhar experiências com outras fun-cionárias. A engenheira Lívia Simões éuma das que gostam de participar. Nafarmacêutica Bristol-Meyers Squibb(53% das chefias a cargo de mulheres),o que fez diferença para a gerente de

RH Anna Carolina Fazão foi poder tra-balhar de casa durante a gravidez. Nafabricante de computadores Dell (33%das chefias a cargo de mulheres), há umesforço para contratar e promover maismulheres – sabe-se que a diversidadetorna a organização mais inteligente.Uma das executivas a fazer essa diferen-ça, num setor com forte predominânciamasculina, é a diretora de Informaçãoda Dell, Giovana Mueller.

O desequilíbrio não se resolverá rá-pida nem facilmente. A consultora deRH Mara Turolla, da Career Center,criou um programa de mentoria emgrandes empresas para mostrar solu-ções que conciliem trabalho e família.“Há uma parcela ainda grande de mu-lheres entre 25 e 36 anos que desistemde suas carreiras”, conta. Reduzir esseproblema beneficiará não apenas asmulheres, mas a sociedade inteira. u

AASCENSÃOFEMININA –ATÉCERTOPONTONas empresas premiadas pelo GPTW, o equilíbrio melhorou. Mas precisa avançar

EMCARGOSDECHEFIANos cargos de coordenação, o avanço foi notável. Mas parou antes que elas chegassem aos 50%

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Em%

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3664

3664

3565

3763

3367 41

594060

4159

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Em%

ENTRE FUNCIONÁRIOS EMGERALNesta década, elas chegaram ametade dos postos de trabalho nasmelhores empresas para trabalhar

3466 42

584258

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4555

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Mulheres Homens

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Antes daAppleUma das obras mais significativas de videoinstalação da história, Cinedreams, do americano Stan VanDerBeek (1927-1984), será exibidapela primeira vez na América Latina durante a ArtRio, a feira de artedo Rio de Janeiro, em setembro. Produzidos entre 1966 e 1972, os 41filmes serão projetados simultaneamente na cúpula do Planetário. Elessimulam uma noite de sono, incluindo pesadelos e imagens abstratas.VanDerBeek escalou o físico Ken Knowlton para desenvolver – 40 anosatrás – um programa que tornasse isso possível. “Ele é considerado opioneiro no uso de computadores para criar obras de arte, uma revoluçãona época”, afirma Danniel Rangel, um dos curadores da mostra.

[email protected]

De volta ao horário nobre depois doestrondoso sucesso da vilã Aline em Amorà vida, e uma rápida participação na novelaImpério, Vanessa Giácomo dá expedientea partir do dia 31 como a promoter Tóia,uma das protagonistas de A regra do jogo,nova trama de João Emanuel Carneiro. “Elatemmuita dignidade, vive com a mãe, queé professora, prioriza a família, tem sensode humor e é muito conhecida na favela doMorro da Macaca, onde ela nasceu e ondese passa parte da novela”, conta Vanessa.Não espere uma mocinha convencional.Logo no primeiro capítulo, Tóia roubaráo cofre da boate onde trabalha comopromoter para pagar uma cirurgia para amãe. Depois, vai se entregar à polícia e pararna prisão. “Não penso na Tóia como umamocinha: ela é uma sobrevivente mesmo.Umamulher contemporânea, que batalhapelo que acredita, tem seus ideais de vida,seus erros e acertos.” Mãe de três filhos –Raul, de 7 anos, e Moisés, de 4, da uniãocom o ator Daniel de Oliveira, e de Maria,de apenas 6 meses, de seu atual casamento,com o empresário Giuseppe Dioguardi–, Vanessa tem cortado um dobrado paraconciliar as gravações com a família. “Minhafamília é prioridade, mas o que me fazuma mulher feliz e completa é tambémtrabalhar. Tenho sorte por ter ummaridoincrível que cuida deles como ninguém.”

Aantimmmocinha

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Umababáquase perfeitaBabá linda e loura que destrói ocasamento dos patrões é enredo batidoemHollywood. Mas dois casamentosde uma tacada só? Os tabloidesamericanos afirmam ser o caso dacaliforniana Christine Ouzounian,de 28 anos, babá dos filhos dosatores Ben Affleck e Jennifer Garner.Depois de férias nas Bahamas com afamília, a nanny pegou uma carona nojatinho do patrão para descer em LosAngeles. Mas resolveu esticar com elena animada Las Vegas. O problemaé que vazou uma foto de Christineno avião, ostentando os quatroanéis que simbolizam as vitórias dojogador de futebol americano TomBrady no SuperBowl – e o mundointeiro ficou sabendo que o maridode Gisele Bündchen estava no jatinhoda alegria. Resultado: (1) Jenniferanunciou a separação de Ben, quenegou o affaire; (2) a revistaOK,publicação nada confiável, afirmouque Gisele tambémmandou Tompassear. Em defesa de Brady, pesao fato de que outros funcionáriosde Affleck também posaram comos anéis. O trabalho de Christinenão parece mau: ela passeia por LosAngeles em seu carro conversívelde R$ 150 mil e adora bolsas degrife. Ah, e tem uma irmã gêmea,Caty, governanta. Patroas, tremei.

Jane&XororóSegunda colocada noThevoice Brasil, a paraibana LucyAlves foi a escolhida paraser a protagonista do musicalNuvem de lágrimas, que estrearáem outubro, em São Paulo.Livre adaptação deOrgulhoe preconceito, da inglesa JaneAusten, a versão é transportadapara o interior do Brasil e étoda composta de músicas deChitãozinho & Xororó. “É oprimeiro musical que se dedicaintegralmente ao regional e àmúsica sertaneja de raiz”, dizLucy. Ela toca mais de dezinstrumentos e encantou o paíscom sua sanfona no programada TV Globo. “Minha famíliaé de músicos. Aos 7 anos, játocava violino na OrquestraInfantil da Paraíba.”

ComAcyrMéra Júnior eDani Barbi

Agata daaberturaOs nus de Rodrigo Lombardi eGrazi Massafera fazem sucessoem Verdades secretas, noveladas 23 horas da Globo. Maspelo menos uma modelo quenão pertence à agência FannyModels vem chamando aatenção dos telespectadores datrama. Hanne Linhares aparecerapidamente na abertura dofolhetim, mas foi o bastantepara a new face mato-grossensede Barra do Garças, cidadecom 60 mil habitantes, serreconhecida nas ruas. Elacomeçou a carreira aos 15 anose, dois anos de pois, recebeuuma proposta para ir a NovaYork trabalhar para marcascomo John Richmond e Versace.“Muitas pessoas vêm até mimme cumprimentar. Gostode saber que meu trabalho évisto, mas, ao mesmo tempo,fico envergonhada”, diz ela.

Fotos: Pino Gomes, Felix Wong,NoamGalai/WireImage, reprodução e divulgação (2)

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ENERGIAOator CarloMossy. “Uso Viagrasó para dar uma sofisticação erétil”

A irmãdeBeyoncéPouco mais de um ano depoisde ter agredido o cunhado,Jay-Z, durante uma briga emum elevador – as imagensrodaram omundo –, SolangeKnowles segue lutando por umlugar ao sol longe da sombra dairmã famosa, Beyoncé. Ela estágravando um novo álbum porseu selo, Saint Records. “Paramim, toda fonte de inspiraçãocomeça com uma pergunta aque eu quero responder e umconceito com o qual me sintaconectada naquele momento”,diz. Para manter segredo sobre oCD, Solange conta que colocouseguranças na porta do estúdio.Ela é homenageada pela marcaKiehl’s, em Nova York, dentrodo projeto Pionners by Nature.“Comecei a compor aos 15anos, na mesma época que aminha irmã”, afirma. “Quandoestava na 4a série, entrei numconcurso para escrever músicaspara o novo jingle de umaONG importante. Fiquei emsegundo lugar entre 100 milinscritos. Eu era uma criançae não tinha recursos, mas jácriava melodias e letras.”

cone da pornochanchada na déca-da de 1970,CarloMossy se orgulha

de ter protagonizado mais de 30 co-médias eróticas, ao contrário de mui-tos que torcem o nariz para essa fasedo cinema nacional. Com uma carreiraque inclui títulos tão divertidos quantobem-sucedidos, como Lua de mel eamendoim,Oh, que delícia de patrão eComoéboaanossaempregada, ele foiconvidado para ser um dos jurados dasegunda edição do Prêmio Sexy Hot2015, uma espécie de Oscar do pornônacional, no dia 18, em São Paulo.

ÉPOCA – A pornochanchada foi in-justiçada?Carlo Mossy –Muito. Nunca foi pornô,isso foi uma tachação dos cineastasintelectuais da época. Eles defendiamo cinema “culturalista”, eram contra opopular e hoje eles tentam se descul-par. A pornochanchada hoje é cult. Por-nográficas são as filas dos hospitais, acorrupção, a política. Hoje em dia todomundo está muito careta, as pessoasestão mais tristes por causa de tantaresponsabilidade cívica. O dinheiro fi-coumais importante que o sexo.

ÉPOCA – Com quais atrizes gostoumais de contracenar?Mossy – Vera Fischer, Marta Moyano,Adele Fátima. Eram lindas, sem seiospostiços e sem plásticas. Mas apren-di realmente como transar com umamulher com Odete Lara, meu par ro-mântico em Copacabana me engana,de 1968. Foi ela quemme ensinou a tercalma e caprichar nas preliminares.Depois disso, aprendi que homens inte-ligentes priorizamo orgasmo feminino.

ÉPOCA – Como virou Rei da Porno-chanchada?

Mossy –Foi oCarlos Imperial quem in-ventou isso. Ele passou a dizer que eunamorei 95% das protagonistas, an-tagonistas e coadjuvantes com quemtrabalhei. Mas ele se confundiu, foram90%. Eu era lindo, com grana, safadotoda a vida. As mulheres caíam emcima e diziam ser impossível não seapaixonar por mim.

ÉPOCA – Perto dos 70, o vigor conti-nua omesmo?Mossy – Eu era quilometrossexual,passei a ser metrossexual e hoje soumilimetrossexual. Minha energia se-xual baixou um pouco, não sou tãoativo quanto antes, talvez por pregui-ça. Mas minha mulher, Isis, é 30 anosmais nova e estamos há mais de 20anos juntos. Uso Viagra raramente, sópara dar uma sofisticação erétil.

Í

BRUNO ASTUTO

ENTREV ISTA

“Eu eraquilometrossexual”

Carlo Mossyator

Leia a coluna diária de BrunoAstuto em epoca.com.br

Fotos: divulgação/TVGlobo e NoamGalai/WireImage

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WALCYR CARRASCO

Walcyr Carrasco é jornalista, autor de livros,peças teatrais e novelas de televisão

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O homemperiguete

la é bonita, já passou dos 40 e foi casada com um milio-nário. Sempre trabalhou, com sucesso, em marketing.

Nos últimos tempos, namorou um jovem ator muito maisjovem. Como ator, iniciante. Foram uns dois anos de idas evindas. Ela até inventou novos projetos de vida, em funçãodo garotão, que envolviam programas de televisão. Que elamesma tratou de vender, implantar e produzir. Finalmente,depois da enésima separação, ela desabafou:

– Queria tanto namorar alguém da minha idade!Não estava falando objetivamente em idade, mas em

tipo psicológico. Hoje em dia são frequentes os casais emque ele é mais novo. Até porque as mulheres aprenderama envelhecer bonitas. Mas surgiu um novo tipo de homem,vaidoso, que se dedica a ter um belo físico e sonha em ca-sar para ter vida boa. Não que nunca tenha existido. Pelocontrário, encontramos esse tipo nos romances, até nosclássicos. Mas é diferente. Trata-se de umnovo perfil, antes só associado a mulheres.A periguete atrás de um bom casamentosempre existiu. Passa horas no salão de be-leza, empresta roupas de grifes para usar efaz tudo para conquistar um milionário.Ou pelo menos alguém bem de vida. Fre-quentemente, com a ajuda da mãe, que vêno casamento da filha um negócio. Ou,se for para ser romântico, um sonho deCinderela. A beleza, desde os contos defada, foi sempre uma mercadoria.

Esse novo perfil masculino em tudo seassemelha à periguete. É o tipo que frequenta a academiacomo uma religião. Modela o corpo. Usa cremes, é claro,mas homem vaidoso tem de todo tipo. O segredo de belezadesses homens são as bombas. Ou seja, substâncias quí-micas para aumentar a musculatura. Até de suplementospara cavalos ouvi falar! O mais desejado, porém, é o GH.Ou seja, o hormônio do crescimento. Muita gente tomaGH hoje em dia em quantidades mínimas, como umaespécie de reposição hormonal. É uma técnica discutível,mas usada por endocrinologistas. Mas o GH estimula ocrescimento de forma ampla. Já me afirmaram: se a pes-soa tiver um câncer no início, cresce também. É precisoacompanhamento médico intenso. Quando começou aser usado, o GH fez crescer a ponta do nariz e dos dedosde muita gente, por erro de dosagem.

Tomado em altas doses, associado a regimes e mui-ta musculação, o GH cria aquela barriga de tanquinho.Músculos definidos.

– O corpo fica rasgado! – afirmou um conhecido meu.É o sonho de todo homem periguete. Quem sabe, o

passaporte para uma boa situação, com mulher ou homem.Na verdade, todos são “héteros”. Mas topam uma relaçãogay em condições generosas. A ideia de generoso varia.Um apartamento de três quartos alugado pode ser muitomelhor do que a vaga na república. E assim por diante.O homem periguete tem os sonhos de seu equivalentefeminino. Quer roupas boas, viajar e não tem um projetode vida. Até diz que vai ser ator ou modelo, ou estudar, depreferência numa faculdade pela internet. Na real, empurraa parceira para criar oportunidades nas quais tudo o queele tem a fazer é sentar-se no trono. A grande novidade,porém, é que há sempre uma mãe por trás, como antes sóhavia entre mulheres. A mãe do homem periguete é loucapela beleza do filho e acha que tem de render. Um rapaz

vivia havia dois anos com um senhor. Co-nheceu outro, até mais rico. Falou com amãe, que aconselhou:

– Fique com o primeiro, é mais seguro.Exatamente, um negócio.Assim como a periguete tradicional,

ele fala com voz suave, parece a melhorcriatura do mundo. E não é má pessoade fato, só quer viver na tranquilidade.Mas faz biquinho, fica bravo e ofendidoquando pede e não ganha. O homem pe-riguete é mimado pela vida, porque temum corpo belo, é desejado e acha sempre

que está oferecendo mais do que recebe. O que, na maiorparte dos casos, não é verdade.

Tenho um amigo dono de uma agência de modelos quevai acabar careca. Muitos rapazes faltam aos castings e atéaos trabalhos. Soube de um modelo-ator que não compa-receu ao teste para uma novela (não era minha, não). Odono da agência corre atrás de desculpas. Quem acredita,coitado? Vive entre os belos, mas sua vida é uma tortura.

– De uns tempos para cá, a piranhagem virou tendênciamasculina.

Se o casal é feliz, não critico. Não há regras para convi-vência. Mas não assim. Minha amiga achava que tinha umarelação, quase casamento. Está quebrada emocionalmente.

Saber que a relação é uma troca, tudo bem. O problemaé confundir com amor. u

E

O PERIGUETETEM OS SONHOS DESEU EQUIVALENTEFEMININO: ROUPASBOAS, VIAJAR, SERATOR OU MODELO

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aubói, no sentido mais puro dapalavra originária do inglês, éaquele que conduz o gado pelas

pastagens. É o vaqueiro que indica adireção em que os animais devem se-guir, impede dispersões, conduz o re-banho. Talvez esse seja o motivo peloqual o historiador Gustavo Alonso es-colheu o termo como título para seunovo livro, Cowboys do asfalto (Civili-zação Brasileira, 560 páginas, R$ 65).Ao destrinchar a música caipira desdeseus primórdios, na década de 1920, atéo contemporâneo sertanejo universitá-rio, a obra de Alonso remete a umaconclusão surpreendente: em quasetodos os momentos da história recentedo Brasil, os sertanejos de maior suces-so apoiaram quem estava no poder.

De Tonico & Tinoco, que gravarammúsicas exaltando o país, como “Per-correndo meu Brasil”, no fim da dita-dura de Getúlio Vargas, em 1945, aZezé Di Camargo & Luciano, que em-prestaram o sucesso “Meu país” – etodo o seu apoio – à campanha de Lulaà Presidência em 2002 (leia o quadro aolado). Até na era Collor, entre 1990 e1992, que culminou com o impeach-ment do presidente Fernando Collorde Mello, os sertanejos cederam seucarisma ao governo. Em agosto de1992, Collor comemorou seu aniversá-

CSérgio Garcia

MENTE ABERTA

rio na Casa da Dinda, em Brasília, aolado das duplas Chitãozinho & Xororóe Leandro & Leonardo, com direito abolo no formato da bandeira do Brasil.O apoio sertanejo ao poder só mudoude lado na última campanha à Presi-dência, quando os mesmos Chitãozi-nho & Xororó e Leonardo, ao lado deoutros representantes do gênero, anun-ciaram o voto no candidato da oposi-ção, Aécio Neves, derrotado nas urnas.Apostaram no cavalo errado.

O apoio a causas políticas não é umaexclusividade do gênero. Artistas daMPB e do samba também já associaramsua imagem à de políticos – e chegaram,inclusive, a apoiar a ditadura. Mas cha-ma a atenção o tino do pessoal, que umdia já foi chapeludo e hoje abusa do ca-belo espetadinho, para a cantoria queagrada a quem está na situação. No pe-ríodo da ditadura militar, num exercíciode ufanismo, a turma do interior cantoua polícia, o Exército e a Transamazônica.Em “Operário brasileiro”, de 1974, LeoCanhoto & Robertinho destacavam queo militar é um soldado da Justiça/E você,meu operário, é um soldado do progresso.Não causa surpresa a dupla ter sido re-cebida pelo presidente Ernesto Geisel noPalácio do Planalto. Tonico & Tinoco,Tião Carreiro & Pardinho e Dom & Ra-vel também conceberam odes ao regime.

Ao recontar a história da música sertaneja – do caipiraao sertanejo universitário –, historiador encontrauma relação estreita entre os cantores e os governos

Aviolaeospoderosos

CANTORIAPOPULAREPOP ULAlguns dos sertanejos que se colocarama o la

GETÚLIOVARGAS

JánosestertoresdoEstadoNovo, Tonico&Tinoco lançaramseuprimeiro trabalho.PegaramcaronanonacionalismovigentenaaeraVargasemcançõescomo “PercorrendomeuBrasil”, queexaltaosEstadosdopaís

EMÍLIOMÉDICI

Dom&Ravel ficarammarcadoscomoosautoresde “Eu teamo,meuBrasil”,músicadocomeçodadécadade1970quevirouumhinodoregimemilitar. Teixeirinha,por suavez, compôs“PresidenteMédici”,umaodeaoditador

ERNESTOGEISEL

Comseuestilo caubóidoVelhoOeste, aduplaLéoCanhoto&Robertinhoafagouosmilitares emseustemas. Foi recebidanoPaláciodoPlanaltopelopresidenteGeisele agraciadacomobrasãodaRepública

COLLOR

OpresidenteCollorerabombardeadopelaaopiniãopública e jásofria oprocessodeimpeachmentquandoLeandro&LeonardoeChitãozinho&XororóóovisitaramnaCasadaDinda, emBrasília,ondeelemorava

LULA

Em2002, Lulaa teveoapoiodedoiss caboseleitorais depeeso. ZezéDiCamargo&Lucianosubiramaopalanquepetista e fizeraamshowmícios naavitoriosacampanha.Nooanopassado, porémm,ZezéapoiouAAécioNeves

AÉCIONEVES

Comopaís eaaclasseartística rachaados,o cantor Leonaardoescolheu seu laado: virougaroto-propaggandadeAécio.AduplaCésarMenotti &Fabianofez amesmaoopçãoegravouumvídeeoparaocandidatodooPSDB

PATRIOTADA

RECOMPENSA

É O AMOR

VIRA-CASACA

TUCANOS

UFANISMO

Fotos: Getty Images (2), Arquivo Cb/D.a Press, Arquivo CB/D.A Press (3), Estadão Conteúdo (4), reprodução (2),Arquivo /Agência OGlobo, divulgação,Arquivo Editora Globo

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Em“Herói da pátria”(1973), Biá & DinoFranco entoam que o caboclo merece res-peito.../Se preciso maneja o fuzil/Estásempre disposto e vigilante/Pela paz socialdo Brasil.Ainda mais apologista é Teixei-rinha, que compôs “Presidente Médici”,que fez um novo Brasil/E não perseguiuninguém. Incrível.

Ao contrário do rock, que tem em seugene a rebeldia, o sertanejo tende à aco-modação e ao adesismo. Os motivosparecem menos relacionados a agradaraos políticos e mais a conquistar o pú-blico. A necessidade de identificaçãocom os brasileiros é algo que está na raizda música sertaneja. Por muitas décadas,ela refletiu um estrato social do paísmuitas vezes esquecido, mas não menor,o Brasil profundo, do interior.“Ao cantartanto a ditadura quanto a redemocrati-zação, os sertanejos ficaram do lado degrande parte da população que teve essamesma trajetória”, diz Alonso. Afinar odiscurso com o governo é uma forma decaptar o espírito do tempo – e do povo– que o conduziu ao poder na era demo-crática e, de certa maneira, ajudou namanutenção da ditadura. “Analisar amúsica sertaneja nos anos ditatoriaisajuda a perceber que a sociedade nãoestava simplesmente dominada pelo go-verno autoritário, mas em uma relaçãoíntima com ele”, afirma Alonso.

O engajamento em causas da oposi-ção é exceção, mas também pareceacompanhar o rebanho quando esteameaça mudar de lado. Foi o que ocor-reu nos anos 1980, quando alguns dosartistas se bandearam para o mutirãoque cobrava a redemocratização do país.Surgiu o sertanejo de protesto. Em 1987,Chico Rey & Paraná gravaram “A gran-de esperança”, uma prece por mudançasradicais em plena Constituinte: A classeroceira e a classe operária/Ansiosas espe-ram a reforma agrária... Diante da rea-ção negativa dos grandes fazendeiros,que contratavam a dupla para se apre-sentar em exposições de gado, eles tira-vam a música do repertório nessas oca-siões. Como o episódio – ou melhor, ocauso – e a história da música sertanejasugerem, o instinto para captar o menorsinal de mudança no rebanho é tão – oumais – apurado nos caubóis do campoquanto do asfalto. u

OP ULISTAma o lado de políticos na história recente do país. Eles tambémpodemmudar de lado

o,

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uando era criança, na décadade 1960, frequentava muito aBiblioteca Monteiro Lobato,

na Rua General Jardim, na Vila Buar-que, em São Paulo. Um dia, esbarrein’O Pequeno Príncipe. O livro, comilustrações lindas, contava a históriade um principezinho que morava numasteroide longínquo, o B612. Ele sai emuma viagem pelo universo e chega a umdeserto aqui na Terra, onde conheceum piloto cujo avião está encalhadona areia. O Aviador escuta as históriasque o pequeno viajante tem para con-tar e relembra com ele grandes liçõesde vida, apagadas pelas asperezas dosanos. Eles se tornam grandes compa-nheiros. Lembro-me de querer ter umamigo como o Aviador. Minha mãemorreu quando nasci e não tive irmãos.Era muito magro e alto, sofria com asbrincadeiras das outras crianças. Era umgaroto introvertido. Fiquei muito felizde ter sido convidado para dar voz aoAviador, meu personagem favorito, nonovo filme animado O Pequeno Príncipe,que chega aos cinemas nesta semana.

A animação, dirigida pelo americanoMark Osborne, traz uma nova narrativapara esse clássico da literatura infantoju-venil. Desta vez, é uma garotinha que ficaamiga do Aviador – agora um velhinhoque mora na casa ao lado da dela. Elaprecisa estudar muito durante as fériaspara entrar na escola que a mãe quer.Mas o Aviador está em busca de um ami-go e conta para ela todas as histórias queouviu do Pequeno Príncipe.Aos poucos,a garotinha percebe que a vida não podeser tão séria quanto sua mãe prega. E quehá algo de precioso na infância – a fa-cilidade de se encantar com a essênciadas pessoas – que se deve carregar parasempre.“O problema não é crescer”, dizo Aviador. “É esquecer.”

Q

LAÇOSNas cenas danova animação,o PequenoPríncipe e aRaposa (acima),a garotinhae oAviador (aolado). O filme eo livro ensinam ovalor da amizade

MENTE ABERTA

O ator Marcos Caruso, que dubla o Aviador no filme sobre o clássico deSaint-Exupéry, conta como a história influenciou seu jeito de enxergar a vida

AsliçõesatemporaisdeOPequenoPríncipe

Marcos Caruso*

Fotos: divulgação

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A obra que inspirou a animação foipublicada originalmente em 1943 pelofrancês Antoine de Saint-Exupéry. Elepróprio era piloto, assim como o per-sonagem de seu livro. Exupéry morreuapenas um ano depois de lançar o li-vro, numa missão francesa durante aSegunda Guerra Mundial. Nem sonha-va com o sucesso que sua obra faria.Ela emociona pessoas há 70 anos – émais tempo do que eu mesmo estouvivo. Nesse período, o livro foi tradu-zido para mais de 250 línguas e dia-letos. Está na lista dos mais vendidosanualmente. No Brasil, vende 300 milexemplares por ano.

O Pequeno Príncipe é uma obra atem-poral. Quando li o livro, aos 13 anos, en-tendi que havia uma mensagem além danarrativa simples. Mas só com o passardos anos suas várias nuances se fizerammais claras para mim. O que ficou foia lição de que temos de conjugar maiso verbo “ser” do que o “ter”. Somospessoas melhores quando nutrimosrelações baseadas no carinho, quandoencaramos a vida de maneira lúdica.Não podemos criar crianças sem fan-tasia, sem amigos. Elas precisarão dessainfância amorosa e imaginativa para serbons adultos. Foi a educação que eu deipara meus filhos e a que eles dão a meusnetos, Clarice, de 5 anos, e Breno, de 2.Fiquei muito emocionado depois queacabei a dublagem e vi o resultado. Ofilme reflete minha relação de amizadecom meus netos. Eu os vejo pelo menostrês vezes por semana e tento propor-cionar a eles uma vida livre e criativa.Nesse sentido, sou um pouco como oAviador. Meus netos têm um amigolúdico que crê numa vida com menosobrigações e menos tarefas.

Temos de nos preocupar com o queas crianças são hoje, e não com o queelas terão amanhã. Com a rapidez davida moderna e os avanços tecnológi-cos, não olhamos mais para o outro,não nos vemos como irmãos. Estamossempre focados em objetivos profissio-nais, financeiros e mercadológicos e nosesquecemos de que a vida também é feitade imaginação e criatividade. O PequenoPríncipe não nos deixa esquecer. u

*Em depoimento a Nina Finco

JAIRO BOUER

Jairo Bouer émédico formado pelaUSP, com residência em psiquiatria.Trabalha com comunicação e saúde.E-mail: [email protected]

m algum ponto da história daevolução de nossa espécie “ga-

nhamos” cérebros maiores, capazesde executar atividades cada vez maiscomplexas, que foram decisivas paranos separar de nossos parentes maispróximos, os grandes primatas afri-canos, como chimpanzés, gorilas ebonobos. Cérebros maiores e maiscomplexos são custosos do ponto devista energético e exigiram que nossosantepassados se desdobrassem paraencontrar mais alimentos. Duran-te décadas, defendeu-se que ingerircarne (proteína animal) e aprender acozinhar, graças ao domínio do fogo,foram os grandes responsáveis poresse salto quantitativo e qualitativoem nossa busca por mais e melhores“combustíveis”para nosso organismo.Mas outros animais também semprecomeram carne e nem por isso con-seguiram chegar, do ponto de vistasocial e cognitivo, aonde chegamos.

Agora,um novo trabalho publicadona revista científica Quarterly Reviewof Biology e noticiado na última sema-na pelo jornal inglês Daily Mail apon-ta mais um responsável pelo sustentode nossa alta complexidade cerebral.Alguém arrisca um palpite? Acertouquem apostou nos carboidratos, naforma de amido, presentes em tubér-culos como nossa boa e velha batata.

O trabalho, realizado por pesqui-sadores da Universidade Autônomade Barcelona, na Espanha, traz algunsdados que reforçam a hipótese de oscarboidratos terem sido centrais naevolução do cérebro humano. O ór-gão consome cerca de 25% de nossasfontes diárias de energia e 60% daglicose, molécula produzida a partirda digestão dos carboidratos.

A nova teoria sugere que cozinharvegetais e carnes facilitou nossa evo-lução, ao permitir que os nutrien-tes dos alimentos se tornassem maisassimiláveis e palatáveis e, também,ao possibilitar a ingestão de maiorquantidade em intervalos maiscurtos. Sobrava, assim, mais tempopara interações sociais. A existênciade seis genes relacionados à diges-tão do carboidrato é outro indíciode que contamos com adaptaçõespara aproveitar, da melhor maneirapossível, os carboidratos. Esses genesproduzem uma substância que aju-da a quebrar em moléculas menoreso amido, chamada amilase. Outrosprimatas têm apenas dois deles.Esses genes adicionais parecem tersurgido no último milhão de anos,tempo que bate com o de nossocrescimento cerebral, que ocorreude 800 mil anos para cá.

Em resumo, disponibilidade deamido na forma de tubérculos, maiorexpressão dos genes da amilase e ha-bilidade para cozinhar tubérculosparecem ter sido fatores que se com-binaram para garantir mais glicosepara o cérebro. Isso tudo possibilitouenergia extra para o desenvolvimentofetal, para a lactação e para a sobrevi-vência da prole, fazendo com que essaadaptação fosse transmitida de gera-ção em geração. Curioso pensar que omesmo carboidrato que possibilitounossa evolução hoje é consideradoum dos grandes vilões da obesidade,um problema de saúde pública. u

Carboidratosabsolvidos

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A turma deVince virou filmeVincent Chase (Adrian Grenier) estáonde sempre quis – na telona – na versãocinematográfica da série Entourage, sucessoentre 2004 e 2011 na HBO. O filme continuaa acompanhar a trupe de Vince, ator queconquistou a fama em Hollywood. Vindos deNova York, seus amigos de infância servem comoequipe de apoio para o famoso (e, muitas vezes,mais atrapalham do que ajudam). Na transiçãopara o cinema, o mote de Entourage: fama eamizade perdeu um pouco da graça, mas podefuncionar para órfãs. Estreia no dia 20/8.

Qual o futurodo país?Emseu novo livroHistória do futuro: ohorizonte doBrasilno séculoXXI, ajornalistaMíriamLeitão, vencedorado Prêmio Jabuti denão ficção em2012,traça perspectivaspara oBrasil. Apesarda crise políticae econômica, elaexorta sociedadee governo a nãoperderemde vistao desenvolvimentono longo prazo.Depois de quatroanos de pesquisas,Míriamdetalha asresponsabilidadesglobais e o potencialdo Brasil na produçãoagrícola e no cuidadoambiental – edestaca que o paísdeve tentar zeraro desmatamento.Ela se aprofundaemeducação,urbanismo e saúde.Intrínseca, 496páginas, R$ 34,90.

Elemorre no finalOdesfecho do documentárioCobain –Montage of heck não é surpresa: em 1994,aos 27 anos,Kurt Cobain, vocalista doNirvana, se suicida. Mais que revelar as raízesda banda que revolucionou o rock dos anos1990 com o grunge, a produção esclarece osmotivos do fim trágico. Estão lá os problemasfamiliares na infância, o consumo de drogas,a relação conturbada comCourtney Love.Os vídeos da família dão a sensação deacompanhar em tempo real a decadênciade um ídolo.Universal, R$ 29,99.

Cinema2 horas

CD1 hora

Para reviver Nina SimoneO lançamento doCDNina revisited... Atribute toNinaSimone (1933-2003) éuma oportunidade para apresentar a divaamericana do jazz à nova geração. O trabalhocabe a outra diva damúsica, a contemporâneaLaurynHill, que reina no soul e no hip-hop.Lauryn produziu o álbume interpretoucinco das 16 canções. Ela reuniu artistasque ora engrandecema obra deNina (casodeAlice Smith em “I put spell on you”), oraa diminuem (a própria Lauryn em “I’ve gotlife” e a cantora australianaGrace em “Loveme or leaveme”). SonyMusic R$ 24,90.

TEMPO LIVRE? ESQUEÇA. EIS O QUE VOCÊ PRECISA FAZER NESTA SEMANA

Livro1 hora

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DVD2 horas

Fotos: divulgação

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Rio surrealistaO fotógrafo francês Jean François Rauzier mostra o Rio de Janeiro de umamaneira inédita em sua exposiçãoHiperfoto-Rio. Ele usa ummétodocriado por ele, chamado hiperfotografia. Rauzier capturamilhares deimagens e as sobrepõe em uma colagem no computador. O resultado beira osurrealismo e causa surpresa. Rauzier empregou sua técnica em 31 imagens,que retratam desde cartões-postais do Rio de Janeiro, como o CristoRedentor, até a arquitetura da cidade. Amostra faz parte da celebração dos450 anos do Rio.Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, até 20/9.

Humor juvenilOcatarinenseChristianFigueiredo deCaldas trouxepara as páginas do livroEufico loko as piadas quefaz na internet. Osmaisjovens se identificarãocomo estilo deCaldas.

LIVROS

MAISVENDIDOS

Circo no parqueAOrquestra Jazz Sinfônica,sob a regência domaestroJoãoMaurício Galindo,apresenta a trilha sonoraOgrande circomístico,sucesso dos anos 1980. Atrilha sonora, assinada porChico Buarque e Edu Lobo,conta a história de amorentre um aristrocrata e umaacrobata. Artistas circensesparticipam do espetáculo.Auditório Ibirapuera,São Paulo, 21 e 22/8.

PorMarcelaBuscato,[email protected],comArianeFreitas, [email protected]

Repertório brasileiroUm evento que reúnemúsica,tecnologia e poemas deMário deAndrade. Assim será a sexta ediçãodoCircuito BNDESMusica Brasilis.O ator Pascoal da Conceição,que já viveuMário de Andrade emminisséries para a TV, dará vida aostextos do poeta. Além do Rio deJaneiro, o Circuito ainda passarápor mais sete cidades. Sala CecíliaMeireles, Rio de Janeiro, 20/8.

Exposição2 horas

Concerto2 horas

Espetáculo2 horas

Onúmero à esquerda indica há quantas semanas o livrofigura na lista; à direita, sua posição na semana anterior.Consulte listas completas e fontes de pesquisa em epoca.com.br

OPequeno Príncipe lAntoine de Saint-Exupéry lAgir 482/1

Minha vida fora de série l Paula Pimenta lGutenberg 7/2

Aherdeira l Kiera Cass l Seguinte 14/3

Eu fico loko lChristian Figueiredo de Caldas lNovas Páginas 26/4

Diário de umbanana, V. 9 l Jeff Kinney lVergara & Riba 19/5

A rainha vermelha lVictoria Aveyard l Seguinte 3/7

A seleção l Kiera Cass l Seguinte 51/6

Guerra civil l Stuart Moore lNovo Século 7/8

Diário de umbanana, V. 1 l Jeff Kinney lVergara & Riba 61/*

Meu livrão de historinhas l Jenny Tyler; Lesley Sims lUsborne 1/*

INFANTOJUVENIL

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Número zero lUmberto Eco l Record 7/2

Cidades de papel l John Green l Intrínseca 91/1

Toda luz que não podemos ver lAnthony Doerr l Intrínseca 16/3

Se eu ficar lGayle Forman lNovo conceito 51/4

As espiãs do dia D l Ken Follett lArqueiro 10/6

AGuerra dos Tronos – Vol. 1 lGeorge R.R. Martin l Leya Brasil 107/5

Simplesmente acontece lCecelia Ahern lNovo Conceito 27/7

Como eu era antes de você l Jojo Moyes l Intrínseca 22/10

Quemé você, Alasca? l John Green lWMFMartins Fontes 61/8

Atraçãomagnética lMeredithWild lAgir 2/9

FICÇÃO

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Abilio lCristiane Correa l Primeira Pessoa 3/3

Só por hoje e para sempre l Renato Russo lCompanhia das letras 5/1

Correr lDrauzio Varella lCompanhia das Letras 11/2

Sonho grande lCristiane Correa l Sextante / GMT 114/9

Odiário de Anne Frank lAnne Frank l Record 56/4

Brasil –Umabiografia lL.M. Schwarcz; H. Starling lCompanhia das Letras 13/7

Destrua este diário l Keri Smith l Intrínseca 85/6

Encantadores de vidas l EduardoMoreira l Record 17/*

O capital no século XXI l Thomas Piketty l Intrínseca 34/*

Depois de Auschwitz l Eva Schloss lUniverso dos Livros 1/*

NÃOFICÇÃO

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Grey l E. L. James l Intrínseca 9/1

As espiãs do dia D l Ken Follett lArqueiro 1/*

Pulsação lGail Mchugh lArqueiro 6/2

Dieta dometabolismo rápido lHaylie Pomroy lAgir 8/3

Osegredodasmulheres apaixonantes lEduardoNunes lNovoSéculo 2/*

E-BOOKS

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RUTH DE AQUINO

Ruth deAquino é colunista de ÉPOCA [email protected]

82 I ÉPOCA I 17 de agosto de 2015

A guerra aosfuzis do tráfico

cidade olímpica, o Rio de Janeiro, não conseguirá des-poluir a Baía de Guanabara tão cedo (vexame!), mas

tem condições de reduzir os tiroteios de fuzis, os roubosespetaculares de carga, as explosões de caixas de banco e asinvasões de conjuntos do Minha Casa Minha Vida por qua-drilhas de traficantes de drogas. Esses bandidos voltarama tocar o terror numa ousadia sem limites, expondo-se emredes sociais, em praças, piscinas e em vídeos de seus crimes.

O Rio só conseguirá um ambiente de relativa paz urbanase garantir, primeiro a curto prazo, algumas condições. Umadelas é a integração real e eficiente das três polícias, Federal,Civil e Militar. Também precisa ser punida duramente – enão só com a expulsão da corporação ou o afastamento parafunções administrativas – a promiscuidade entre policiaise bandidos, acabando com o “arrego”, a propina paga portraficantes a policiais corruptos. E as leis e a Justiça precisamser muito mais rigorosas com o crime or-ganizado. Nossas leis hoje protegem ban-didos – sem e com farda. Nossa Justiça ossolta, muito antes de eles prestarem contasà sociedade por seus crimes.

Dois dos seis chefões do tráfico presospelo Bope na semana passada, o Claudi-nho e o Fu da Mineira, numa operaçãoexemplar sem um tiro disparado, já ti-nham sido presos antes. Estavam em PortoVelho, Rondônia, pela alta periculosida-de. Fu tinha sido condenado a 90 anos deprisão, mas, após cinco meses atrás dasgrades, ganhou sete dias de liberdade para“visitar a família”. Nunca voltou. Por bomcomportamento, os traficantes desfrutam de regime semia-berto e aproveitam para se tornar foragidos. Voltam a sercaçados. A polícia volta a oferecer recompensas de até R$ 50mil, como era o caso de Playboy, morto em ação coordenadapela Polícia Federal no sábado. Isso não dá, não faz sentido!Em todo o país, vemos quadrilhas de assaltantes presos natelevisão, vários deles usando tornozeleiras eletrônicas! Éuma desmoralização total.

Outra medida urgente é endurecer o Estatuto do De-sarmamento, que muitos querem “flexibilizar”, como sedistribuir armas fosse garantia de menos homicídios. Umainversão total de valores. O Estatuto tem de ser muito maisrígido quando alguém portar arma de uso restrito das For-ças Armadas. Fuzis que podem derrubar helicópteros ecausar estrago a uma distância de 4 ou 5 quilômetros estãoespalhados e escondidos em arsenais nas favelas do Rio. Pela

primeira vez, além dos carregadores e das 800 munições,foi apreendido em território brasileiro um fuzil calibre .50,do Exército americano.

Não estamos nem falando aqui de tráfico de drogas –mas de assaltos à mão armada, homicídios, balas perdidas,explosões e incêndios. Numa palavra, terror. Como nãovíamos no Rio havia muito tempo prisões e mortes de ban-didos com essa reputação e poder de comando, pergunteiao secretário estadual de Segurança Pública, José MarianoBeltrame, se algo mudou na orientação de combate ao trá-fico. A semana terminou com a morte de Jean Piloto, umdos prováveis sucessores de Playboy, com um tiro de fuzildisparado pela polícia.

“Poderíamos ter pegado todos antes”, diz Beltrame.“Masnão se pode prender uma quadrilha fortemente armadanuma rua movimentada, sexta-feira à noite. O que determi-

nou a caçada a esses bandidos foi saber queestavam criando um novo Complexo doAlemão em outra área, o Chapadão. Iaminvadir a Maré. Tinham trazido de Mi-nas Gerais dinamite para estourar caixaseletrônicos. Não me importam os nomesdos bandidos. Pode ser Bem-Te-Vi ou Pe-riquito, Beira-Mar ou Beira-Rio, Playboyou sei lá o quê. Tem mais uma penca delespara prender e surgirão outros. O que meimporta é diminuir índices de criminali-dade, de roubo, de homicídios, melhorara sensação de segurança da população”, dizBeltrame ao telefone a ÉPOCA.

Sobre o assédio dos traficantes a mo-radores do Minha Casa Minha Vida, Beltrame afirma: “Osprojetos são feitos, mas não somos consultados. Se os em-preendimentos fossem combinados com a Secretaria deSegurança, eu mudaria os planos de ocupação policial. Hámais de 100 empreendimentos em discussão, que eu saiba,mas precisamos de união para escolher os lugares certos”.

Segurança funciona assim, diz Beltrame e assino embai-xo. Primeiro, a fronteira. Segundo, as políticas sociais para ajuventude, a família, a mãe. Depois, o legislador e a polícia.O Ministério Público. A Justiça. O sistema penitenciário.O Estado. A falta de integração, de compromisso e de umpacto federal contra a violência é nosso inimigo públiconúmero um. E faz das prisões espetaculares uma conquistapassageira e ilusória. u

A

OS BANDIDOSVOLTARAM A TOCARO TERROR. PRISÕESESPETACULARESNÃO PODEM

SER CONQUISTAPASSAGEIRA

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