Época de Ouro 1

48
Época de Ouro 1929-1945

description

A época de ouro é o período que assiste a maturação da música popular brasileira gerando a sua consolidação como uma das manifestações culturais mais representativas do planeta...

Transcript of Época de Ouro 1

poca de Ouro

poca de Ouro1929-19451A poca de ouro o perodo que assiste a maturao da msica popular brasileira gerando a sua consolidao como uma das manifestaes culturais mais representativas do planeta.Trs fatores principais contriburam para isso:Renovao musical do perodo anterior, com a criao e/ou consolidao dos principais gneros musicais do perodo, em especial o samba e a marchinha .A chegada ao Brasil de trs grandes inovaes tecnolgicas: o rdio (1922), a gravao eletromagntica (1927) e o cinema falado (1929)O surgimento de uma gerao privilegiada de compositores, cantores e instrumentistas.

21- RENOVAO/CONSOLIDAO DE GNEROS

Samba O samba um gnero musical originado de danas afro-brasileiras que aconteciam desde o sculo XVI. No entanto, o samba como gnero musical s toma forma em fins da dcada de 10 no sculo XX, mais precisamente com a gravao de Pelo Telefone, em 1917. O samba dessa poca, ainda com forte influncia do maxixe, se modifica graas principalmente s inovaes impostas pelos bambas do Estcio, Ismael Silva, Bide e Nilton Bastos, ocorridas no final dos anos 20. Esse grupo de msicos responsvel tambm pela criao da primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1928.

3MarchinhaMarchinha A marchinha um gnero binrio tipicamente carnavalesco e de classe mdia (ao contrrio do samba) que se popularizou nos anos 20. Atingiu seu perodo ureo de 1932-1939, tendo como principais compositores Lamartine Babo e Joo de Barro (Braguinha), que compunha em parceria com Alberto Ribeiro.

42- INOVAES TECNOLGICAS

Foi fundada no Rio de Janeiro em 1922 a Rdio Sociedade, a primeira rdio brasileira. Na sequncia viriam a Rdio Clube do Brasil (1924), a Mayrink Veiga (1926), a Educadora (1927) e a Philips (1927). A rdio tinha uma importncia fundamental em um perodo onde no existia a televiso e poucas pessoas tinham acesso a discos.

O sistema eltrico de gravao foi inventado em 1925. At ento utilizava-se o primitivo sistema mecnico. O novo sistema chegou ao Brasil em 1927, trazido pela Odeon, gravadora responsvel por mais da metade das gravaes do perodo. Logo em seguida vieram a Parlophon, a Columbia e a Victor.

O primeiro filme falado no cinema o hoje clssico O Cantor de Jazz, com o cantor Al Jolson, lanado em 1927. No Brasil a estreia do nova tecnologia deu-se com o filme Alta Traio, em 1929.

5

3 PRINCIPAIS NOMESNoel Rosa (1910-1937)

O Poeta da Vila foi m dos principais compositores e letristas da msica brasileira. Em menos de 7 anos comps mais de 200 msicas. Noel fazia parte do famoso Bando dos Tangars, ao lado de Braguinha e Almirante. Na msica trocou o samba amaxixado por um menos danante e mais meldico, como os dos compositores do Estcio. Na letra tambm revolucionou com seus versos irnicos e sofisticados, associados por alguns Semana de Arte Moderna de 1922.

6Na Pavuna (Almirante e Henrique Dorneles)Gravada em 1929, a cano foi a primeira do Bando de Tangars e foi tambm um grande sucesso. A cano teve grande importncia por ter sido a primeira a incluir um grande nmero de instrumentos de percusso, tal qual se utilizava em blocos carnavalescos.Na Pavuna (Almirante e Henrique Dorneles)Na PavunaNa PavunaTem um sambaQue s d gente reinaO malandro que s canta com harmonia,Quando est metido em samba de arrelia,Faz batuque assimNo seu tamborimCom o seu time, enfezando o batedor.E grita a negrada:Vem pra batucadaQue de samba, na Pavuna, tem doutorNa Pavuna...Na Pavuna, tem escola para o sambaQuem no passa pela escola, no bamba.Na Pavuna, temCanjer tambmTem macumba, tem mandinga e candombl.Gente da PavunaS nasce turuna por isso que l no nasce "mulh".

Com Que Roupa? (Noel Rosa) Gravao de 1929. Sucesso em 1931. Primeiro sucesso de Noel Rosa. A expresso um eufemismo para com que dinheiro

9Agora vou mudar minha condutaEu vou pra luta pois eu quero me aprumarVou tratar voc com a fora brutaPra poder me reabilitarPois esta vida no est sopa E eu pergunto: com que roupa?Com que roupa que eu vouPro samba que voc me convidou?Com que roupa que eu vouPro samba que voc me convidou?Agora eu no ando mais fagueiroPois o dinheiro no fcil de ganharMesmo eu sendo um cabra trapaceiroNo consigo ter nem pra gastar

Eu j corri de vento em popaMas agora com que roupa?Com que roupa que eu vouPro samba que voc me convidou?Com que roupa que eu vouPro samba que voc me convidou?Eu hoje estou pulando como sapoPra ver se escapo desta praga de urubuJ estou coberto de farrapoEu vou acabar ficando nuMeu terno j virou estopaE eu nem sei mais com que roupaCom que roupa que eu vouPro samba que voc me convidou?Com que roupa que eu vouPro samba que voc me convidou?

10So Coisas Nossas (Noel Rosa) Noel Rosa e grupo 1932Nesse samba Noel j demonstra toda sua ironia filosofa sobre hbitos tipicamente brasileiros

11Queria ser pandeiroPra sentir o dia inteiroA tua mo na minha pele a batucarSaudade do violo e da palhoaCoisa nossa, coisa nossaO samba, a prontidoE outras bossas,So nossas coisas,So coisas nossas!Malandro que no bebe,Que no come,Que no abandona o sambaPois o samba mata a fome,Morena bem bonita l da roa,Coisa nossa, coisa nossaO samba, a prontidoE outras bossas,So nossas coisas,So coisas nossas!

Baleiro, jornaleiroMotorneiro, condutor e passageiro,Prestamista e o vigaristaE o bonde que parece uma carroa,Coisa nossa, muito nossaO samba, a prontidoE outras bossas,So nossas coisas,So coisas nossas!Menina que namoraNa esquina e no portoRapaz casado com dez filhos, sem tosto,Se o pai descobre o truque d uma coaCoisa nossa, muito nossaO samba, a prontidoE outras bossas,So nossas coisas,So coisas nossas!

12Fita Amarela (Noel Rosa) Francisco Alves, Mrio Reis e Orquestra Odeon - 1933Acusado de plgio por Donga (que comps Quando voc morrer usando mesmo motivo que Noel usara, extrado de uma batucada de rua de Mano Edgar, um bamba do Estcio), Fita Amarela foi, no entanto, um dos grandes sucessos do carnaval de 1933.

13Quando eu morrer, no quero choro nem velaQuero uma fita amarela gravada com o nome delaSe existe alma, se h outra encarnaoEu queria que a mulata sapateasse no meu caixoNo quero flores nem coroa com espinhoS quero choro de flauta, violo e cavaquinhoEstou contente, consolado por saberQue as morenas to formosas a terra um dia vai comer.No tenho herdeiros, no possuo um s vintmEu vivi devendo a todos mas no paguei a ningumMeus inimigos que hoje falam mal de mimVo dizer que nunca viram uma pessoa to boa assim.14Feitio de Orao (Noel Rosa/Vadico) Francisco Alves, Castro Barbosa e Orquestra Copacabana - 1933Primeira composio de Noel em parceria com Vadico. Ateno aos famosos versos Batuque um privilgio/ Ningum aprende samba no colgio.

15Quem acha vive se perdendoPor isso agora eu vou me defendendoDa dor to cruel desta saudadeQue, por infelicidade,Meu pobre peito invadeBatuque um privilgioNingum aprende samba no colgioSambar chorar de alegria sorrir de nostalgiaDentro da melodiaPor isso agora l na PenhaVou mandar minha morenaPra cantar com satisfaoE com harmoniaEsta triste melodiaQue meu samba em feito de oraoO samba na realidade no vem do morroNem l da cidadeE quem suportar uma paixoSentir que o samba entoNasce do corao.

16Conversa de Botequim (Noel Rosa/Vadico)Noel Rosa e Conjunto Regional 1935Mais uma parceria com Vadico, este talvez seja o samba mais famoso de Noel. A cano narra o tpico malandro em ao. A interpretao vocal de Noel reflete bem esse esprito da malandragem.

17Seu garom, faa o favor de me trazer depressaUma boa mdia que no seja requentada,Um po bem quente com manteiga bea,Um guardanapo e um copo d'gua bem gelada.Feche a porta da direita com muito cuidadoQue eu no estou disposto a ficar exposto ao sol.V perguntar ao seu fregus do ladoQual foi o resultado do futebol.

Se voc ficar limpando a mesaNo me levanto nem pago a despesa.V pedir ao seu patroUma caneta, um tinteiro,Um envelope e um carto.No se esquea de me dar palitosE um cigarro pra espantar mosquitos.V dizer ao charuteiroQue me empreste umas revistas,Um isqueiro e um cinzeiro.

(Refro)Seu garom faa o favor de me trazer depressa...Telefone ao menos uma vezPara trs quatro, quatro, trs, trs, trsE ordene ao seu OsrioQue me mande um guarda-chuvaAqui pro nosso escritrio.Seu garom me empresta algum dinheiro,Que eu deixei o meu com o bicheiro.V dizer ao seu gerenteQue pendure esta despesaNo cabide ali em frente.(Refro)

18Palpite Infeliz (Noel Rosa)Aracy de Almeida e Conjunto Regional 1935Sucesso no carnaval de 1936, esse samba uma resposta de Noel a Wilson Batista que provocara Noel com o samba Conversa Fiada, com os versos conversa fiada/dizerem que os sambas/ na Vila tem feitio. A polmica havia sido iniciada em 1933 com Leno no Pescoo, contestado por Noel em Rapaz Folgado. Noel debocha com a apologia malandragem que Wilson Batista fazia em seus sambas.19Quem voc que no sabe o que diz?Meu Deus do Cu, que palpite infeliz!Salve Estcio, Salgueiro, Mangueira,Oswaldo Cruz e MatrizQue sempre souberam muito bemQue a Vila No quer abafar ningum,S quer mostrar que faz samba tambmFazer poema l na Vila um brinquedoAo som do samba dana at o arvoredoEu j chamei voc pra verVoc no viu porque no quisQuem voc que no sabe o que diz?

A Vila uma cidade independenteQue tira samba mas no quer tirar patentePra que ligar a quem no sabeAonde tem o seu nariz?Quem voc que no sabe o que diz?

20ARY BARROSO (1903-1964)

O mineiro Ary Barroso um dos grandes compositores brasileiros e o criador do samba-exaltao. Sua primeira composio gravada foi Vou Penha, por Mrio Reis em 1928, um samba ainda amaxixado, influenciado por Sinh. Seu primeiro sucesso foi a marchinha D Nela, de 1930. Seu estilo foi se consolidando no decorrer do tempo, culminando nas obras-primas Na Baixa do Sapateiro e Aquarela do Brasil.

21No Rancho Fundo (Ari Barroso Lamartine Babo)Elisa Coelho 1931 Ari Barroso ao piano e dois violes (Rogrio Guimares; ?)Foi originalmente lanado com outra letra (Esse Mulato vai ser meu, J. Carlos) por Araci Cortes em 1930. Lamartine Babo escreveu um nova letra e a cano foi lanada por Elisa Coelho no ano seguinte, com o prprio Ari ao piano.

22No rancho fundo, bem pra l do fim do mundoOnde a dor e a saudade contam coisas da cidadeNo rancho fundo, de olhar triste e profundoUm moreno conta as mgoas tendo os olhos rasos d'gua

Pobre moreno, que de tarde no serenoEspera a lua no terreiro tendo o cigarro por companheiroSem um aceno ele pega da violaE a lua por esmola vem pro quintal deste moreno

No rancho fundo, bem pra l do fim do mundoNunca mais houve alegria nem de noite nem de diaOs arvoredos j no contam mais segredosE a ltima palmeira j morreu na cordilheira

Os passarinhos internaram-se nos ninhosDe to triste esta tristeza enche de trevas a naturezaTudo por qu? S por causa do morenoQue era grande, hoje pequeno para uma casa de sap

23No Tabuleiro da Baiana (Ari Barroso)Carmem Miranda e Luiz Barbosa 1936O grande sucesso dessa msica pegou de surpresa Ari Barroso, que chegou a vender a composio por achar que no tinha qualidade. A gravao inclui algumas das caractersticas de sambas futuros de Ari, como a introduo instrumental e a parte ad libitum no meio da pea.

24No tabuleiro da baiana tem:Vatap, oi, carur, mugunz, tem umbPra Ioi

Se eu pedir voc me d o seu coraoSeu amor de Iai?

No corao da baiana tem :Seduo, canger, iluso, candomblPr vocJuro por Deus, pelo Senhor do BonfimQuero voc, baianinha, inteirinha pra mim

E depois, o que ser de ns doisSeu amor to fugaz, enganadorTudo j fiz, fui at num cangerPra ser felizMeus trapinhos juntar com vocE depois vai ser mais uma ilusoNo amor quem governa o corao

25Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso)Carmem Miranda 1938Essa cano mais uma das canes de Ary Barroso exaltando os encantos da Bahia, que ele conhecera em 1929. a segunda cano mais gravada de Ari, sendo conhecida no exterior pelo nome Bahia. O ttulo se refere uma rua de Salvador (Baixa dos Sapateiros).26Ai, o am, ai, aiAm, bobagem que a gente no explica, ai, aiProva um bocadinho i, fica envenenado, iE p'ro resto da vida um t de sofrer, olar, oleri, Bahia, ai, aiBahia que no me sai do pensamento, ai, aiFao o meu lamento i, na desesperana, ide encontr p'resse mundo o am que eu perdina Bahia, v cont:Na Baixa do Sapateiro encontrei um diao moreno mais frajola da BahiaPediu-me um beijo, no deiUm abrao, sorriPediu-me a mo, no quis dar... e fugiBahia, terra da felicidadeMoreno, eu ando louca de saudadeMeu Sinh do Bonfimarranje outro moreno igualzinho p'r mim

27Aquarela do Brasil (Ary Barroso)

Francisco Alves e Radams Gnatalli e Orquestra 1939

A principal cano de Ari Barroso o mais perfeito exemplo do chamado samba-exaltao, uma forma de samba exuberante e eloquente narrando as belezas do Brasil. Isso acabou servindo aos interesses da ditadura getulista do perodo, que acabou incentivando composies do mesmo gnero. A primeira verso foi lanada por Araci Cortes em 1939 mas no foi muito bem recebida. A verso de Franciso Alves com o grandiloquente arranjo de Radams tornou-se sua verso definitiva, sendo seguida por inmeras outras gravaes.

28Brasil, meu Brasil Brasileiro,Meu mulato inzoneiro,Vou cantar-te nos meus versos:O Brasil, samba que dBamboleio, que faz gingar;O Brasil do meu amor,Terra de Nosso Senhor.Brasil!... Brasil!... Pr mim!... Pr mim!...

, abre a cortina do passado;Tira a me preta do cerrado;Bota o rei congo no congado.Deixa cantar de novo o trovador merencria luz da luaToda cano do meu amor.

Quero ver essa Dona caminhandoPelos sales, arrastandoO seu vestido rendado.Brasil!... Brasil! Pr mim ... Pr mim!...

Brasil, terra boa e gostosaDa moreninha sestrosaDe olhar indiferente.O Brasil, verde que dPara o mundo admirar.O Brasil do meu amor,Terra de Nosso Senhor.Brasil!... Brasil! Pr mim ... Pr mim!...

Esse coqueiro que d coco,Onde eu amarro a minha redeNas noites claras de luar.

! Estas fontes murmurantesOnde eu mato a minha sedeE onde a lua vem brincar.! Esse Brasil lindo e trigueiro o meu Brasil Brasileiro,Terra de samba e pandeiro.Brasil!... Brasil!

29Lamartine Babo (1904-1964) e Braguinha (1907 2006)Lamartine Babo comeou a compor em meados dos anos 20, compondo principalmente para os teatros de revista. Seu primeiro sucesso viria em 1930 com No Rancho Fundo, em parceria com Ary Barroso.Braguinha considerado juntamente com Lamartine Babo o consolidador da marchinha. As primeiras composies de Braguinha foram gravadas quando ainda fazia parte do Bando dos Tangars. Como Lamartine, Braguinha no se restringiu somente s marchinhas e comps entre outras obra-primas a letra de Carinhoso (Pixinguinha) e com o parceiro Alberto Ribeiro, o clssico Copacabana.Em 1932, com Seu Cabelo No Nega (na verdade uma adaptao de uma msica j existente), Lamartine Babo inaugura a fase de ouro das marchinhas (que se extende at 1939).

30Teu Cabelo No Nega (Lamartine Babo Irmos Valena)Almirante 1932

O teu cabelo no nega, mulata,Porque s mulata na cor,Mas como a cor no pega, mulata,Mulata eu quero o teu amor.Tens um sabor bem do Brasil;Tens a alma cor de anil;Mulata, mulatinha, meu amor,Fui nomeado teu tenente interventor.

Quem te inventou, meu pancadoTeve uma consagrao.A lua te invejando faz careta,Porque, mulata tu no s deste planeta.Quando, meu bem, vieste Terra,Portugal declarou guerra.A concorrncia ento foi colossal:Vasco da Gama contra o batalho naval.

31A.E.I.O.U (Lamartine Babo/Noel Rosa)Marcha carnavalesca, sucesso em 1932. Com Lamartine Babo e Grupo do Canhoto.

Uma, duas, andorinhaCinco delas so tolinhaCiranda, cirandinha, vamos todos cirandar

A... E... I... O... U... Dabli, dabli Na cartilha da Juju, Juju

A Juju j sabe ler, a Juju sabe escreverH dez anos na carti...lhaA Juju j sabe ler, a Juju sabe escreverEscreve sal com c-cedilha!Sabe conta de somar, sabe at multiplicarMas, na diviso se enras...caOutro dia fez um feioPois partindo um queijo ao meioQuis me dar somente a casca!Sabe Histria Natural, sabe Histria UniversalMas no sabe Geografi...aPois com um cabo se atracandoNa bacia navegando, foi pra sia e teve azia

32Uma Andorinha No Faz Vero (Joo de Barro/Lamartine Babo)

Mrio Reis 1934 Parceria entre os dois maiores compositores de marchinhas. Lamartine comps uma segunda parte para a composio j existente de Joo de Barro e fez sucesso no carnaval de 1934

Vem moreninha / vem tentaoNo andes assim to sozinhaQue uma andorinha no faz vero

Dizem morena / que teu olharTem correntes de luz que faz cegarO povo anda dizendo / que essa luz do teu olharA light vai mandar cortar

Vem meu amor/ deixa de medoO amor uma espcie de brinquedoSe acaso terminar o nosso sonho luz do diaEu rasgo a minha fantasia

33Serra da Boa Esperana (Lamartine Babo)Francisco Alves 1937Msica de forma AB com melodia desenvolvida com motivo de trs notas. Lamartine escreveu a cano para uma mulher de Dores da Boa Esperana com quem se correspondia. Por fim descobriu que a mulher era uma criana e que o autor das cartas era o pai da menina!

34Serra da Boa Esperana, esperana que encerraNo corao do Brasil um punhado de terraNo corao de quem vai, no corao de quem vemSerra da Boa Esperana meu ltimo bem

Parto levando saudades, saudades deixandoMurchas cadas na serra l perto de DeusOh minha serra eis a hora do adeus vou me emboraDeixo a luz do olhar no teu luarAdeus

Levo na minha cantiga a imagem da serraSei que Jesus no castiga o poeta que erraNs os poetas erramos, porque rimamos tambmOs nossos olhos nos olhos de algum que no vem

Serra da Boa Esperana no tenhas receioHei de guardar tua imagem com a graa de DeusOh minha serra eis a hora do adeus vou me emboraDeixo a luz do olhar no teu luarAdeus35Yes, Ns Temos Banana (Joo de Barro/ Alberto Ribeiro)Sucesso no carnaval de 1938, a msica uma resposta irnica a msica Yes, we have no bananas e maneira caricata que ramos tratado pelos Estados Unidos, que chamavam os pases latino-americanos de babana republics.

36Yes, ns temos bananasBananas pra dar e venderBanana menina tem vitaminaBanana engorda e faz crescerVai para a Frana o caf, pois Para o Japo o algodo, pois noPro mundo inteiro, homem ou mulherBananas para quem quiserMate para o Paraguai Ouro do bolso da gente no saiSomos da crise, se ela vierBananas para quem quiser

37Copacabana (Joo de Barro/ Alberto Ribeiro)Dick Farney 1946 - O maior de sucesso de Braguinha este samba-cano feito s pressas sob encomenda para identificar um night-club de Nova York chamado Copacabana. A cano fez famoso Dick Farney, na poca intrprete de msica americana. Dick chegou a dizer Mas eu no sei cantar samba, Braguinha!. O arranjo de Radams foi considerado um marco na msica brasileira e desagradou os ouvintes mais conservadores. Essa msica tambm marca um perodo de modernizao na musica brasileira que culminaria na bossa-nova.

38Existem praias to lindas,cheias de luzNenhuma tem o encanto que tu possuisTuas areiasTeu cu to lindoTuas sereiasSempre sorrindo.

Copacabana, princesinha do marPelas manhs tu s a vida a cantarE a tardinha, o sol poenteDeixa sempre uma saudadeNa gente.

Copacabana, o mar eterno cantorAo te beijar ficou perdido de amorE hoje vivo a murmurarS a ti CopacabanaEu hei de amar.

39Malandragem por Jos Miguel Wisnik

A malandragem um trao cultural associado ao samba, e que consiste numa espcie de disponibilidade bomia, da parte do sambista, que o coloca num lugar entre o mundo do trabalho, do cio e da pequena transgresso, sem que ele possa ser identificado plenamente com nenhum desses lugares sociais. O "malandro" no tem emprego regular, embora trabalhe ocasionalmente e orbite em torno do mundo do trabalho, ao qual resiste. Contrape-se ao "otrio", vtima ingnua das suas artimanhas. Como sujeito-personagem principal dos sambas das dcadas de 20 e 30, constitui-se numa espcie de "cidado irrisrio" irnico e auto-irnico, parodiando s vezes a ordem social superior qual simula pertencer, embora atado a condies precrias de subsistncia.

Antonio Cndido identificou o princpio da malandragem no romance Memrias de um Sargento de Milcias (1853), de Manuel Antonio de Almeida, como modo de descrever formas da sociabilidade brasileira, marcada por uma espcie de permeabilidade entre a "ordem" e a "desordem" - o universo da famlia, do trabalho regular, da religio e do cabedal, por um lado, e o universo das mancebias e unies irregulares, dos "bicos", da vadiagem e da festa popular, por outro. A "dialtica da malandragem" consistiria no modo pelo qual esses "hemisfrios", aparente ou formalmente opostos, acabam por se integrar todo o tempo, na prtica. O romance prefigura, podemos dizer, com dcadas de antecedncia, muito do clima da msica popular urbana dominada pelo samba, entre os anos 20 e 50 do sculo XX.

40Show Samba Pede Passagem - Aracy de Almeida e Ismael Silva -1966

Polmica Wilson Batista vs Noel Rosa

Leno no pescoo (Wilson Batista) canta MPB-4Deixa de arrastar (Noel Rosa) canta Aracy de AlmeidaMocinho da Vila (Wilson Batista) canta MPB-4Palpite infeliz (Noel Rosa) canta Aracy de AlmeidaFrankstein da Vila (Wilson Batista) canta MPB-4Feitio da Vila (Noel Rosa - Vadico) canta Aracy de Almeida

Leno no PescooWilson BatistaMeu chapu do ladoTamanco arrastandoLeno no pescooNavalha no bolsoEu passo gingandoProvoco e desafioEu tenho orgulhoEm ser to vadio

Sei que eles falamDeste meu procederEu vejo quem trabalhaAndar no miserEu sou vadioPorque tive inclinaoEu me lembro, era crianaTirava samba-canoComigo noEu quero ver quem tem razoE eles tocamE voc cantaE eu no dou

42

Rapaz FolgadoNoel Rosa

Deixa de arrastar o teu tamancoPois tamanco nunca foi sandliaE tira do pescoo o leno brancoCompra sapato e gravataJoga fora esta navalha que te atrapalhaCom chapu do lado deste rataDa polcia quero que escapesFazendo um samba-canoJ te dei papel e lpisArranja um amor e um violoMalandro palavra derrotistaQue s serve pra tirarTodo o valor do sambistaProponho ao povo civilizadoNo te chamar de malandroE sim de rapaz folgado

Mocinho da VilaWilson Batista

Voc que mocinho da VilaFala muito em violo, barraco e outros fricotes maisSe no quiser perderCuide do seu microfone e deixeQuem malandro em pazInjusto seu comentrioFalar de malandro quem otrioMas malandro no se fazEu de leno no pescoo desacato e tambm tenho o meu cartaz

Palpite InfelizNoel Rosa

Quem voc que no sabe o que diz?Meu Deus do Cu, que palpite infeliz!Salve Estcio, Salgueiro, Mangueira,Oswaldo Cruz e MatrizQue sempre souberam muito bemQue a Vila No quer abafar ningum,S quer mostrar que faz samba tambmFazer poema l na Vila um brinquedoAo som do samba dana at o arvoredoEu j chamei voc pra verVoc no viu porque no quisQuem voc que no sabe o que diz?A Vila uma cidade independenteQue tira samba mas no quer tirar patentePra que ligar a quem no sabeAonde tem o seu nariz?Quem voc que no sabe o que diz?

Frankenstein da VilaWilson Batista

Boa impresso nunca se temQuando se encontra um certo algumQue at parece um FrankensteinMas como diz o rifo: por uma cara feia perde-se um bom coraoEntre os feios s o primeiro da filaTodos reconhecem l na VilaEssa indireta contigoE depois no v dizerQue eu no sei o que digoSou teu amigo

Feitio da VilaNoel Rosa/Vadico

Quem nasce l na VilaNem sequer vacilaAo abraar o sambaQue faz danar os galhos,Do arvoredo e faz a lua,Nascer mais cedo.L, em Vila Isabel,Quem bacharelNo tem medo de bamba.So Paulo d caf,Minas d leite,E a Vila Isabel d samba.A vila tem um feitio sem farofaSem vela e sem vintmQue nos faz bemTendo nome de princesaTransformou o sambaNum feitio descenteQue prende a genteO sol da Vila tristeSamba no assistePorque a gente implora:"Sol, pelo amor de Deus,no vem agoraque as morenasvo logo emboraEu sei tudo o que faosei por onde passopaixao nao me aniquilaMas, tenho que dizer,modstia parte,meus senhores,Eu sou da Vila!

Brasil PandeiroAssis Valente

Chegou a hora dessa gente bronzeadaMostrar seu valorEu fui penha fui pedir padroeira paraMe ajudarSalve o morro do vintm, pindura-saia,Eu quero verEu quero ver o tio sam tocar pandeiroPrara o mundo sambarO tio Sam est querendo conhecerAnossa batucadaAnda dizendo que o molho da baianaMelhorou seu pratoVai entrar no cuscuz, acarj e abarNa casa branca j danou a batucadaDe ioi i iai

Brasil, esquentai vossos pandeiros iluminai os terreirosQue ns queremos sambarH quem sambe diferenteNoustras terras, outra genteUm batuque de matarBatucada, reuni vossos valoresPastorinhas e cantoresExpressoes que no tem parOh! Meu BrasilBrasil, esquentai vossos pandeiros...

48Boas FestasAssis ValenteAnoiteceu, o sino gemeuE a gente ficou feliz a rezarPapai Noel, v se voc temA felicidade pra voc me darEu pensei que todo mundoFosse filho de Papai NoelE assim felicidadeEu pensei que fosse umaBrincadeira de papelJ faz tempo que eu pediMas o meu Papai Noel no vemCom certeza j morreuOu ento felicidade brinquedo que no tem

49