Era A Guerra de Trincheiras

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Tardi. Era A Guerra de Trincheiras (1914-1918) da Editora Nemo, Traduzido em Português

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  • 9 1 4 ERA 1 9 1 8

    A GUERRA TRINCHEIRAS

    TARDI

  • Copyright 1993 Casterman, Bruxelles Copyright 2011 Editora Nemo

    Ttulo original C'tait la guerre des tranches

    Editor Wellington Srbek

    Diretor Executivo Arnaud Vin

    Traduo Ana Ban

    Reviso Lira Crdova

    Revisado conforme o Novo Acordo Ortogrfico.

    Todos os direitos reservados Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida, seja por meios mecnicos, eletrnicos, seja via cpia xerogrfica, sem a autorizao prvia da Editora.

    EDITORA NEMO Av. Jose Maria de Faria, 470, Mezanino - Trreo - Lapa de Baixo 05038-190-So Paulo - SP

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Tardi, Jacques Era a Guerra de trincheiras : 1914-1918 /Tardi ; traduo

    Ana Ban. - Belo Horizonte : Nemo, 2011.

    Ttulo original: C'tait Ia guerre des tranches : 1914-1918.

    ISBN 978-85-64823-07-5

    1. Guerra Mundial, 1914-1918 2. Histria em quadrinhos I. Ttulo.

    11-11651 CDD-741.5

    ndices para catlogo sistemtico: 1. Primeira Guerra Mundial, 1914-1918 : Histrias

    em quadrinhos 741.5

  • 1914 ERA A GUERRA TRINCHEIRAS

    1918

    A meu av.

    Traduo Ana Ban

    nem i

  • ERA A GUERRA DE TRINCHEIRAS no um traba-lho "de historiador"... No se trata da historia da Primeira Guerra Mundial narrada em quadrinhos, mas sim de uma sucesso de situaes no cronolgi-cas, vividas por homens manipulados e enlameados, obvia-mente nada satisfeitos por estarem onde esto, com a expecta-tiva de vida de apenas mais uma hora, desejando mais do que tudo voltar para casa... em uma palavra, que a guerra acabasse! No h "heri", no h "personagem principal" nesta "aventu-ra" coletiva lamentvel que a guerra. No h nada alm de um grito gigantesco de agonia.

    Eu me coloquei voluntariamente do lado francs por razes evidentes. Qual teria sido a reao exata dos ingleses? Que nimo teriam os italianos? J bem difcil imaginar a mentali-dade de um rapaz de 1914... Claro que a maior parte das naes que participaram do conflito mencionada, a aluso aos alemes, os "boches" (eu empreguei o termo sem pudores, j que era usado na poca), permanente... Espero ter sido claro o suficiente para que ningum fale em esprito de revan-chismo, ou at nacionalista, e eu quis fazer aluso aos coitados das nossas "colnias" que foram alegremente convidados a participar da "festa". O que prende a minha ateno o homem, independentemente de sua cor ou nacionalidade, o homem que usamos, o homem cuja vida no vale nada nas mos de seus senhores... essa constatao banal continua sendo verdade hoje.

    Eu com freqncia me comovi ao ver as fotos fornecidas pelo meu documentalista precioso, Jean-Pierre Verney... imagens de pobres coitados, alemes ou franceses com o olhar perdido em quem, apesar da pose, a angstia e o medo permanecem vis-veis. Com freqncia eu me coloquei as seguintes perguntas: Como era possvel permanecer l, sob o fogo cerrado? Como era possvel dormir? Como se fazia para acordar? De onde dava para tirar um pouco de esperana para ter qualquer tipo de energia? A chuva, a lama, a saudade, o frio, as ogivas... Eu com-preendo as mutilaes voluntrias, os motins, a desero... Eu

    no contei "tudo", porque seria uma empreitada desumana. Desde que ouvi os relatos do meu av, a vontade de tentar registrar esse perodo de incio do sculo sempre me atraiu. Eu fiz pesquisa em livros cuja lista est no fim do volume e que com freqncia me inspiraram ou serviram de ponto de parti-da para um episdio "romanceado" pelo meu ponto de vista. Meu objetivo no foi apresentar um catlogo de armamentos ou de uniformes - mas claro que eu me baseei em docu-mentao -, menos ainda apresentar compatibilidade: o nmero de ogivas por metro quadrado, ou o nmero de homens envolvidos nesta ou naquela ofensiva. Evitei todos os fatos "histricos" que h muito tempo j foram consignados e analisados pelos historiadores, ou melhor, relatados por teste-munhas - eu busquei, por iniciativa prpria, certas informa-es junto a essas testemunhas. Afinal, necessrio observar que os "nmeros oficiais" so todos diferentes de uma obra a outra. Como eu no estive l, precisei me basear em relatos, contestveis ou no, alguns duvidosos ou contraditrios: mais uma vez, o "especialista" certamente ter uma opinio a dar... Eu s me interesso pelo homem e por seus sofrimentos, e a minha indignao grande... Trata-se da nossa histria, a da Europa, e em Sarajevo que o sculo XX comea, o sculo da industrializao da morte. A "Primeira Guerra Mundial", uma descoberta que parece ter agradado: os gases abriram hori-zontes, deram idias; era tudo muito "moderno"... Todas essas noes j estavam bem ancoradas desde o homem de Cro-Magnon: o homem carrega a brutalidade em si. A diferena que os meios de extermnio ganharam sofisticao e, nesse registro, precisamos mesmo tirar o chapu para a guerra de 14-18! A Europa... 1917, a revoluo russa e a chegada dos norte-americanos... ns vivemos muito tempo sob essas "aqui-sies". De l para c, a situao mudou, eu ia dizer "evoluiu"... No dia 11 de novembro, damos medalhas a um "velhinho" (quantos ainda restam?). Ele tinha 20 anos em 1915, e sua

    juventude e seu futuro lhe foram arrancados. Por isso, no faa piada... TARDI

  • - para um soldado que est sendo julgado em uma sala de aula... ele est com as mos amarradas? - Ah no! Ele ainda no foi julgado. Ele est em posio de sentido, ladeado por dois soldados armados... Pode desenh-lo com a cabea descoberta ou com uma boina, ou, ainda, com o capacete embaixo do brao ou na cabea... - Ele usa sobretudo ? - ...Ou casaco... com o cinturo, mas sem as cartucheiras. -Diga uma coisa, este casaco tem botes atrs? Alguma correia? - No, no tem nada; sete botes na frente, abotoados no meio, e gola alta. - Bom, o tribunal... - Ento... voc pode colocar um coronel, um comandante, um capito, dois tenentes. Os tenentes podem vir da frente, pode desenhar com sobretudo, com o quepe na mesa. Os outros, pode colocar em trajes de gala, com todas as conde-coraes. Todos devem estar atrs de uma mesa grande. - No momento em que fuzilado, o soldado est preso a um poste com os olhos vendados ?

    - No obrigatrio. S para os que querem. s vezes, colo-cava-se um alvo de cartolina branca no lugar do corao... no h balas de festim em pelotes de execuo. -Doze soldados? - Ou oito, depende. Pode haver um oficial que se dirige aos soldados e diz: "No atirem por cima da cabea dele, ou vamos ter de comear tudo de novo!". -Ah, no, no tem lugar... Que pena, vou explorar a questo, vou desenvolver mais tarde... Isso foi pelo telefone... eu converso com Jean-Pierre Verney, ele sabe tudo sobre 14-18, os mnimos detalhes. Eu recorri aos servios dele quase todos os dias. Cada ima-gem deste lbum exigiu uma ou vrias longas conversas telefnicas. Nem d para contar os mltiplos documentos e objetos que ele colocou minha disposio... Eu agra-deo por sua competncia, sua gentileza e sua pacincia em me ajudar.

    TARDI

    As pginas 9 a 28 foram publicadas em 1983, com o ttulo Le trou d'obus [O buraco da ogiva] (Imagerie Pellerin, pinal)

  • Outubro de 1917..

    WSSmwm

    Os trs sinais foram dados... como no tatro... mas o primeiro por uma ogiva e 7 kg, o segundo por um canho de IOS mm qu cuspia um projtil de 16 kg e o terceiro, de 40mm. Peso da ogiva: 900 kg.'

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  • ...e respcmde-ee com peas fabricadas na frana, pela Scbrielder, as indstrias Ve Creusot, 5t. ftienne, St. Chamond e outras grandes famlias...

    Tcnicas maravilhosas, os calibres soam cada vez maiores e os projteis, cada vez mais potentes. Os canhes enormes monta-dos sobre trilhos semeiam a morte a at 16 km de distncia.'

    Criatividade permanente... a escalada de um lado e de outro, em busca de potncia de fo

  • ...o mais impressionante que ainda H vestgio de vida no fundo dos buracos, apesar de tantas ogivas serem lanadas todos os dias sobre to pouco terreno.

    ...as coisas poderiam ser simplificadas de um modo mais barato, poupando milhares de vidas - porque h menos chefes do que escravos -, mas nada muda porque o homem no passa e um cordeiro, e o abatedouro o lugar onde mandaram que permanecesse...

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  • O ponto de contato entre os dois exrcitos inimigos se estabilizou, o front. Zntre as linhas, h uma zona chamada "no man's land". porque tambm h ingleses nesta guerra.

    Com freqncia excessiva, os soldados so obrigados a sair das trincheiras e combates corpo a corpo apavorantes so travados na no man's land. O jogo consiste, para os france-ses, em tentar tomar a 1" linha alem e, para os alemes, em tentar tomar a Ia linha francesa...

    um lugar muito freqentado durante a noite. Homens so enviados para ver o que est acontecendo do outro lado, para reparar a rede de arame farpado, para ludibriar o oponente e fazer prisioneiros, para resgatar feridos ou enterrar os mor-tos muito vistosos e desmoralizantes, como o cadver de um companheiro preso ao arame farpado, apodrecendo.

    Na no man's land, encontram-se arame farpado colocado para impedir ataques-surpresa, mortos das ofensivas da vspera, feridos agonizantes e dejetos de todo tipo, alm de buracos de ogivas que a chuva enche de gua.

    Nesta imagem, em 1o plano, um soldado de 2a classe morto: BINT.

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  • BINT estava no parapeito quando o capito - que quase nunca colocava os ps na linha de frente - deu a ordem a 75AUCH&4X para que fosse fazer um reconhecimento no buraco da ogiva ao lado das runas onde ns tnhamos um posto avanado que no mandava notcias j fazia um tempo.

    O capito tambm deu montes de instrues a FAUCHZUX, que saiu ao meio-dia com seu bornal cheio de granadas. An tes de subir pela lateral da trincheira, ele entregou a 8INT um caderninho coberto com papel azul, igual ao que as crianas de escola usam para proteger os livros.

    8INT passou muito tempo observando RAUCHUX, que avana-va pela no man's tand, at deixar de enxerg-lo. Ser que ele tinha chegado so e salvo s runas do local prximo ao bura-co da ogiva? tarde, escutou-se a exploso de uma granada. Depois, mais nada...

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  • BINT passou o resto do dia e a noite toda na vigia, para ver se FAUCHUX voltava. Mesmo depois que seu turno terminou, ele no conseguiu parar de observar, ansioso, o terreno devastado. le no se recolheu para dormir. Um dia sinistro nascia sobre a guerra e a lama. RUCHfUX parecia ter sido absorvido pela noite que no o devolvia.

    O dia se passou sem incidentes especiais. No chegou nenhuma not-cia de FAUCH&UX. Quando a noite caiu, o batalho foi liberado.

    Os soldados foram caminhando pela lama do fundo das trincheiras at a ltima linha, quando finalmente ficaram fora da vista dos alemes e puderam caminhar a cu aberto.

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  • i t a v e * ? * f

    Ao amanhecer, depois de 6 km de marcha, chegaram ao vilarejo de retaguarda, onde deviam passar alguns dias descansando, fies tinnam certeza de ter deixado a zona de combate, porque todo mundo enxergou bem os dois guardas.

    -sf. * * -

    as, 7i' l^ S: :, ;;:

    Contavam-se muitas histrias a respeito dos guardas, sempre ator-mentando os soldados - eles que no faziam nada. Na ocasio de uma reti-rada, eles at tinham abatido os retardatarios. Dizem que os soldados enforcaram os guardas depois de uma discusso. BIN5T no era contra o enforcamento deles... era at a favor/

    Exaustos, eles foram para as granjas e as dependncias rurais que lhes eram destinadas Ae casas de residncia que ainda estivessem em p eram reservadas aos of icias, que j estavam na cama...

    Com dinheiro, alguns conseguiam se acomodar com mais conforto, mas, em sua maior parte, eles dormiam mesmo em cima da palha.

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  • ra a folga. Alguns as na retaguarda, neste vilarejo, em seguran-a relativa na comparao com as trincheiras e tambm a possibi-lidade de se isolar um pouco, de fugir da promiscuidade que pesava tanto sobre 8INT. Enquanto isso, a granja a que eles tinham aca-bado de chegar era igual ao dormitrio da caserna. Os "amigos", as piadas obscenas, os corpos amontoados, o peso das almas e, sobretudo... os odores.

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    Havia sujeitos corajosos - sempre querendo o bem de todos, os espertinhos, os bundes, os puxa-sacos, os idiotas cheios de burrice, os cheios de boa vonta-de, os cretinos at no poder mais...

    Como em todo lugar, havia o chato insuportvel, aquele que sabe tudo: o parisiense e, talvez o pior de todos, o professor de escola que d aula, que acha que no saiu da classe, o pedagogo superior aos outros.

    ...Havia ainda os silenciosos, o gnero preferido de BINT. Pe vez em quando, ele mal conseguia suportar aquilo tudo, e BINIT detestava a todos em bloco... ele no tinha esprito de equipe.

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  • No havia diferenciao... todos eram enviados para a morte. ssa a \GUAlVAV. A UBRVAV& seria poder voltar para casa... 8IN&T pensava em sua casa.

    le morava sozinho no 4o andar, na pequena janela do A de VUFAYtl.

    mbaxo ficava o aougue FLOCARO, e ele no conhecia nada pior do que a fofoca dos pequenos comerciantes...

    No Io andar, os BRI6NON empesteavam a escada o ano todo, por causa do repolho e dos pedos causados pelo consumo da verdura.

    No 2o, os AMNIN com seus cabees insolentes.

    No 3, a viva SARCLL, sempre bisbilhotando todos os outros, uma Ingua afiada... o tipo que d incio a guerras.

    No 5o, a srta. BROZILL, uma soltero-na que acordava cedo. Andando de um lado para o outro o dia inteiro no apar-tamento de dois cmodos, parecia que calava sapatos de escanfadrista... nenhuma possibilidade de dilogo, a srta. 8ROZILL era sozinha no mundo... BINT a teria matado com prazer.

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    Nos quartos das criadas, havia uma humanidade dilacerada, suja e pobre.

    BINT tambm detestava os morado-res de seu prdio... 5le achava que as cidades eram constitudas de imveis parecidos, que a FRANGA era formada de cidades; claro que havia a populao do campo, e ele tinha muita coisa a dizer dessa gente/ ra essa a Ptria. ra por ISSO que obrigavam BINT a lutar... por essa gente/.'.' fie poderia muito bem estar nas trincheiras do outro lado, se estivesse um pouco mais a leste... era uma questo de acaso ele pertencer a esta nao.

    Realmente, no havia nenhuma razo para morrer por qualquer ptria que fosse/... ra assim que BINET pensava.

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  • ... tudo isso era discutido em torno da cozinha e campanha... e era uma idiotice... e era nosso pas/

    Claro que as pessoas no eram melho-res de um lado do que do outro, mas com a vontade frentica de deturpar o vizinho... era normal que aquilo logo se transformasse em guerra. seu bornal, ele encontrou o caderninho de FAUCH&UX. Tinha endereos, ano-taes, uma fotografia. FACHX devia estar morto, e seu caderninho era um peso para BINfT.

    A calma... estava entre os mortos. No que dizia respeito ao terreno que tinha de ser defendido, BINfT tinha aprendido, desde o recreio da escola, o que era a verdadeira maldade... a FRATRNIRAP era isso.

    V

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  • 19

  • J no havia mais nada para ver na estrada, ento 8IN5T e o menino voltaram para o vilarejo. Estvamos melhor embaixo, entretanto Deus sabia como a gente se sentia pesado com os dois ps na lama.

    Coisas estranhas aconteciam nas escolas do front. Os professores eram estranhos: eles no ensinavam a histria da Frana, mas sim a faziam. No era possvel dizer nada contra eles... eram nossos superiores.

    LUCIANI era corso, no fala-va francs. No tinha entendido a ordem que recebera durante uma ofen-siva. No a tinha executa-do. Tinha "desobedecido".

    Foi julgado em um piscar de olhos. ABANDONO D POSTO PRANT O INIMIO.' No entendeu nada da sentena. Foi fuzilado. Mandavam os novatos no front cumprirem isso.

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  • Na retaguarda, no ra s descanso que os soldados tinham, eles tambm tinham de fazer simulaes e exerccios para voltar ainda mais motivados para a linha de frente, e foi isso que aconteceu com o regimento depois de 15 dias

    (A runas prximas ao buraco da ogiva continuavam l, s os destroos de um aviao alemo modificavam um pouco a paisagem. BINT achava que talvez fosse o avio que ele tinha visto desaparecer em chamas na reta-

    rda, com o menino. No tinham mais recebido notcias de RAUCHUX.

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  • 22

  • comeou a correr, com o corpo curvado, pela no man's /and!'.t\

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  • BINT correa na direo do buraco da ogiva, onde RAUCHUX deveria estar escondi-do... Um barulho tinha tomado conta do posto avanado das ruinas, bem no meio, entre as duas linhas... s vezes ocupado por uns, outras vezes pelos outros... na verdade, tinham parado de disput-lo... assim era mais fcil para todos.

    V T m y w

    Tinham falado em confraternizao... Lingias seriam trocadas por tabaco enquanto esperavam que tudo acabasse... sem essa histria de ganhar... ficar um pouco fora da guerra.

    FAUCHZUX devia ter montado uma lojinha logo na entrada. O capito que o tinha enviado para l tambm devia estar no jogo. Estava claro, eles tinham combinado uma troca de informaes supersecreta com os boches.

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    ...FAUCHUX tinha se ferido ao retornar linha pouco antes... Pegavam cocana dos hospitais, que era consumida de colherzinha na linha de frente... os boches no deviam cuspir... eles tambm no.' Todas essas coisas iam rodando em desordem na cabea de 8INT.

    ...mas ele no estava nem a.' fra principalmente a curiosidade que tinha feito com que ele sasse de seu buraco... fAUCH&UX devia estar escondido... a no ser que estivesse morto, que algum no tivesse participado do jogo... algum sujeito que no sabia da combinao e botou tudo a perder. Talvez BINT tambm tivesse ficado louco... simples assim.

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  • F A U c H E l

    A metralhadora estava escondida perto das runas... a rajada foi breve. BIN5T levou cinco projteis na barriga. As balas penetraram em sua pele sem d, perfurando os intestinos e o pulmo esquerdo, causando danos irremediveis, fie se sentiu como se tivesse sido rasgado, uma dor difcil de descrever, as palavras eram fracas demais. Seu sofri-mento ia alm do sofrimento, e por isso ele duase no sentia dor... mas sabia que seu fim tinha chegado.

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  • le viu seu pr\o...

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    s 4h2S, ele caiu de joelhos, as pernas j no o agentavam. O sangue que inundava seu sobretudo se esvaa... sensao desagradvel. Seu sangue era quente e gelava na hora com o fro ambiente... um vento terrvel soprava sobre o campo de batalha, e 8IN5T no pde deixar de pensar no dia que estava por vir. Ser que eis sobreviveria madrugada? Ser que ele veria o dia nascer? ...ser que valia a pena ver teso?... e ser que valia a pena viver isso? fie se perguntava, depois pensava que estava na hora de no se perguntar mais nada.

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    fie viu a viva SARCtllt, os BRISNON, os FIOCARV, os MA6NI com seus cabees, BROZILL... estavam todos l... pareciam bem contentes.

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    5u observei bem, como tinham me dito para fazer... e eu vi: as ru-nas, o alemo com sua metralha-dora, o buraco da ogiva com RAU-CHUX no fundo, o Fokker abatido e BINT, que chegava a seu fim... eu estava nas primeiras cadeiras, como no teatro. Havia gs tambm... nto eu voltei.

    8INET viu um soldado de manh-zinha... ele reparou na mscara antigases, e tambm no fato de que j no chovia... fie ficou intri-gado com a mscara... no sentia o cheiro do gs... j estava morto.

    J de retorno, fiz meu relatrio sobre o que tinha visto, exatamente como o capito tinha me ordenado... O capito disse: "Bom...", com ar aborrecido, e foi embora.

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  • Alguns dias depois...

    Meu Veas!... um menino/ matei um menino vestido

    de soldado... mas como ele conseguiu chegar at aqui,

    passeando por a com um fuzil?

    le carregava este caderno... Pertencia a um soldado francs

    chamado FAUCHUX... o garoto deve ter

    roubado junto com o uniforme.

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  • O soldado patina com passos pesados na lama... Est carregado: na ponta dos braos, duas "marmitas" cheias - a sopa ainda est quente -, os alforjes de vinho, o po na bolsa a tiracolo e os bornais cheios de carne em conserva. Ele procura a entrada da passa-gem estreita que leva at a trincheira, onde os outros esperam o rango. Est praticamente sem proteo e s pensa nisso. Algumas balas perdidas terminam sua trajetria na altura de suas polainas; elas se enfiam, todavia mortais, na imundcie amarela. As botas do soldado so sugadas pela lama. Ainda est escuro. S h o luar no horizonte, com uma espcie de claro ou luzes mais fortes e um desenrolar surdo, um zuido sempre presente que bate no estmago quando se escuta. Est aconte-cendo mais ao longe, aqui o setor est calmo, como se diz. De vez em quando, um tiro de rotina desferido, e os nossos arti-lheiros respondem sem energia. O boche aborrecido, com azar nas cartas, praticamente o mais perigoso... 0 soldado tem isso em mente, e tem pressa de encontrar a pas-sagem para ficar protegido... E a sopa est esfriando! Ele tam-bm pensa no frio, em seus ps encharcados, na gola to spe-ra de seu sobretudo...

    A cada passo, o capacete mal-ajustado pega na orelha direita, gelada, prestes a se quebrar como vidro. Porra de equipamen-to! Realmente, no existe respeito pelo contribuinte que luta pela Ptria! Seus devaneios param por a. Acabaram de atirar um foguete iluminador que cai tranquilo na ponta de seu paraquedas, na vertical do soldado, iluminando tudo, absolu-tamente tudo... como se no bastasse estar perdido, ainda fazia papel de alvo. No demora muito, tudo comea a crepitar! Um tiro de metralhadora... Ento ele se joga no cho e se estatela

    de barriga. A coronha de seu Lebel acerta seus rins com tudo. A sopa se derrama toda no cho, ele sente a quentura do caldo na coxa. Ele tenta empunhar o fuzil e se enrosca todo nas alas do bornal, com os dedos cheios de lama. E uma confuso, uma baguna, o pnico; em primeiro lugar, necessrio no se mover! Os tiros so certeiros e no esto distantes! Ele teve dois minutos de calmaria; agora, no h comparao. Balas so desferidas a poucos centmetros de seu corpo. E certo que uma vai atingi-lo, ali, feito um idiota estirado na lama... estira-do na merda, sim... que fedor!... Tem pelo menos um boche apodrecendo ali perto! Ningum mais presta ateno aos cadveres, so tantos, em camadas, franceses, alemes, todos passam por cima, j nem se do mais ao trabalho de reco-lh-los... Convive-se com eles e so at teis para pendurar um balde em um p que atravessa a parede da trincheira... mas aquele l evita os mortos com muita seriedade! Menos mal... Enquanto isso, as balas voam, e melhor ele no se mexer, mas, no entanto, seria necessrio... Ele fica l durante pelo menos uma hora. E difcil avaliar o tempo que passa nos momentos em que o corpo fica paralisado pelo medo. S h movimento ao longo de suas costas, contra a pele... um verda-deiro campo de piolhos. Esses insetos tambm j se tornaram hbito, junto com os ratos e os excrementos. O canho de 75 entra em ao, agora no haver mais descanso a noite toda, quem sabe o dia todo tambm. Uma ogiva cai bem perto, e ouvem-se os estalos em repique, os torres de terra que ela vai buscar l no fundo, e a lama. O soldado, com as duas mos apertadas em cima do capacete, tenta proteger a nuca. O gesto risvel, com toda a tranqueira, os pedaos de ferro que se enfiam nas profundezas do solo e que s desejam penetrar em

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  • sua carne to frgil... nem seu capacete ser capaz de det-los. 0 fogo se intensifica. preciso sair dali. Mas onde est a porra da entrada, a trincheira, o abrigo? O dia nasceu. O ardor guerrilheiro arrefeceu um pouco e depois tudo ficou em silncio. Agora d para enxergar, e o sol-dado se d conta de que passou a noite deitado em cima de um morto, com as mos enfiadas na barriga dele. O que ele achava que era lama: carne podre, infecta. E difcil endurecer tanto assim, acostumar-se com o pavor, ficar indiferente peran-te as tripas quentes despejadas pelos corpos dilacerados, no uma descoberta nada agradvel... E as doenas? E se ele tives-se um corte nas mos? ...ttano, gangrena e mais sabe-se l o qu... Sua primeira idia: encontrar gua... lavar as mos em uma poa nojenta. Curvado, ele encontra a passagem de comunicao. Quando chega l, fazem cara feia para ele por causa da sopa perdida e do po cheio de lama, mas comem do mesmo jeito. O soldado passa a manh toda procurando gua e no encontra... ele se limpou bem com as pontas do sobretudo. Isso aconteceu em Verdun. Foi a minha av que me contou essa histria, que a de meu av. Eu tinha 5 anos, meu vov apanhou durante toda a guerra, saiu de l um pouco tonto. Na ocasio, ele estava tirando uma soneca com um livro aberto em cima da toalha impermevel da mesa da cozinha. Ser que ele tinha esqueci-do? Ele nunca falava sobre o assunto... Mas eu entrava no hor-ror dele durante a noite. O morto todo podre, e meu av com as duas mos enfiadas em sua barriga... Quando ele morreu, expulsou o padre que veio lhe dar a extrema uno. Ele disse

    que, se Deus existisse, no haveria guerras... que tudo aquilo era uma bobagem. Aquilo o tinha marcado... certamente. Um ano depois dele, minha av se foi tambm. Quando eu li meu primeiro livro de verdade com caracteres tipogrficos e algumas ilustraes, ele narrava a histria edifi-cante de um cachorro que seguia seu dono na trincheira, par-ticipava da guerra com ele, mordia os alemes, salvava seu dono ferido... um capito, um heri que reencontrava sua linda noiva no fim (depois de ter vencido a guerra sozinho). Eu esqueci o ttulo e o nome do autor, mas algumas passagens me vm memria neste momento. Foi meu primeiro livro, lido "por acaso". De l para c, j li outros sobre o assunto... de todos os tipos, com diferentes opinies... de Fea aux Croix de bois [Fogo nas cruzes de madeira], passando por Nada de novo no front e Tempestades de ao, s para citar os melhores. Mas o meu preferido continua sendo La Peur [O medo], de Gabriel Chevallier, e os primeiros captulos de Voyage au bout de la nuit [Viagem ao fim da noite]. E sempre vi meu vov com suas mar-mitas e seu po deitado em cima do morto. As pessoas me diziam: "Voc continua com essa histria de 'poilus'? Quando vai sair da trincheira?", em aluso aos antigos combatentes, pantufas, boinas, condecoraes, bandeiras com o Arco do Triunfo, o dia 11 de novembro... Temo que ainda estejamos nas trincheiras... Leste, oeste... mais exatamente na no man's land, em campo... entre as linhas... ali onde se d o enfrenta-mento! De fato, tudo isso tem menos a ver com a guerra de 14-18 do que com A GUERRA... Canhes e ogivas... o que me preocupa a prxima. TARDI

  • "stava na hora de comear uma guerra para ressuscitar, na Frana, a noo de ideal e de divino." general ReBllOT, Libre Parole, 13 de dezembro de 19145

    As ogivas caam e desenterravam os mortos, que s vezes iam se dependurar em rvores desfolhadas, desdenhando dos vivos e pre-vendo seu destino.

  • Meu nome frnst WOHl&fMUT. u sou o nico de vigia neste posto avanado. Ontem, quando a noite caiu, um francs veio se arrastando na minha direo, fu enxergava muito bem. Tive todo o tempo para

    observa-lo. Tinha decidido no atirar se ele se afastasse, mas ele avanou, fie vinha direto para

    cima do meu abrigo. Fiquei esperando mudar de trajeto. Mas ele se aproximou e eu atirei, fie s

    estava a alguns metros. fu o matei sem alegria no corao, mas s porque estamos em guerra e as

    coisas so assim.

    Meu nome Paul CARPfNTIfR. Ouvi CUfOUR gritar a noite inteira. Ns dois estvamos de guarda no posto de escuta com ordens de no

    nos mexermos at os soldados do turno seguinte chegarem. VUFOUR escutou um

    barulho vindo da frente, fie saiu se arrastando para ver o que os boches estavam fazendo,

    apenas a 10 ou 15 metros de ns. fu vi quando foi atingido na barriga, fie pediu que eu fosse busc-lo e o trouxesse de volta. fu no tive coragem de me mexer, eu fiquei com medo, e tinha ordens de permanecer aqui. fie berrou a

    noite toda. fie me insultou, insultou o exrcito, insultou a me dele. fu s desejava uma coisa:

    ser morto por minha vez.

  • fnto os canhes grandes de reta-guarda comearam a atirar para todo mundo saber que a guerra continuava e que ainda no era o momento de ter esperana, porque ainda no esta-vam satisfeitos com a quantidade de tripas mornas, as que saem da barri-ga de um homem ao ser destripado. A guerra s estava em seu terceiro ano...

    mm,

    O cabo ItCt&F foi enviado entre as linhas para inspecionar a rede de arame farpado...

    33

  • 34

  • W1|' !|l|l

    5ra um dia pesado & quente. Boatos alarmantes circulavam, boatos de guerra, talvez, l na regio leste... Foi a histria do atentado: o arquiduque em Sarajevo, assassinado um ms antes. Parecia que tudo ia continuar como sempre, mas era o dia 2 de agosto de 1914... um domingo.

    m uma rua, as pessoas se aglomeravam embaixo de um muro. Estavam todos animados demais e conversavam entre si. No muro, um cartaz colado de data recente. Faziam-se gestos, perguntas, comentrios sobre o cartaz...

    li

    : i-;* - t iVs t V*

    Pe repente, o mundo desmoronou a meu redor.

  • O cartaz falava do maior flagelo criado pelo ser humano para seu prprio uso: A 6URRA. Longe de ficar aflita, a multido, composta por gente que normalmente se odeia, estava de comum acordo na alegria de odiar. O dio ao alemo, o dio ao boche do qual faramos picadinho.

    18

    . R

    O > ~ I A L

    SJACH PARIS.'... PARA BfRIM... O mal estava feito e, em poucos dias, uma boa parte dos habitantes da furopa se precipitou para o meio da tormenta. Saram da fbrica ou do escritrio, abandonaram suas atividades pacficas, animados com a idea de ma festa campestre promissora, porque teramos o direito de matar com impunidade total e de trazer de volta as tropas gloriosas. No demoraria muito e, alm do mais, o tempo estava timo. Por causa do calor, beba-se lcool de menta com acar durante a marcha.

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    36

  • Uma orquestra de caf toca A terselhesa. Os freqentadores, em um mesmo arroubo de patriotismo, levantam-se e entoam o hino nacional. Apenas um senhor no se digna a se levantar. For qu? Por acaso no compartilhava o entusiasmo do momento? Ser que era o nico indivduo lcido presente naquele lugar? Ser

    2ue ele se lembrava das errotas do passado?

    37

  • LAFONT estava l, perdido em suas reflexes, em um canto isolado da trincheira. Depois de dois anos do incio da guerra, ele tinha participa-do de todo tipo de batalha. Seu regimento, quase todo reconstitu-do, de tantas perdas que havia sofrido, tinha muito poucos homens que estavam l desde o incio, fie fazia parte desse grupo, h muito tempo havia se acostumado com a lama, o medo e a morte...

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    Uma ogiva caiu prxima do lugar em que ele estava perdido em seus pensamentos.

    O soldado LAFONT morreu no dia 25 de novembro de 1916.

    38

  • aro de 1917. z r H pessoas que a gente fica feliz de saber que morreram... mas posso dizer que me entristeo com a morte deste que est

    sendo carregado todo em desordem na maca.'

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    fie se chamava "6ASPARP"... fie caava ratos pela recompensa: cinco tostes por rabo. fie vendia aguardente vagabunda para ns e traficava tudo que era possvel.

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    -Am*' *

    fm uma noite em que a gua tinha inundado o abrigo, um pobre coitado morreu afogado. Mas gASPARP conseguiu sair... 39

  • 40

  • Meu nome Jean D5S80IS. 5u perteno 3a Companhia que vai empreender o ataque quando a artilharia cessar.

    Ns vamos sair pela borda da trincheira e estaremos descobertos, expostos s balas das metralhadoras alems. Ontem e anteontem, foi impossvel avanar, tivemos que retomar nossa posio e esperar. Ns

    achvamos que seramos enviados para descansar alguns dias na retaguarda. No podemos fazer nada, os oficiais que decidem e, apesar das perdas, vamos atacar mais uma vez. Tenho medo de ser morto. Ontem, quase fui atingido, tive sorte at agora, mas tenho a impresso

    de que hoje vou morrer...

    42

  • 43

  • 44

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    ^ I f f f i l f i l

    45

  • w / a

    Ir "V, pequeno soldado! O cansao, os ferimentos, a sua angstia de exilado, mesmo a sua morte, tudo isso custa caro. Ns o agradaremos, ns o amaremos, se Deus quiser, ns choraremos por voc... ns diremos, pedindo que o cu assine e transponha: Morte no Campo de honra/" CAbbe SRTILLAN0S, Madeleine, 27 de setembro de 1914.5

    CANALHAS, CANALHAS. NOJENTOS D M&RVA! ABUTRES! O XRCITO QU S FODA/ A FRANA QU V

    MRDA/ w

  • Os homens se curvam na direo de sua trincheira de partida.

    *

    Exaustos, os sobreviventes da 3a Companhia se deixam cair na trincheira. Pela terceira vez em 48 horas, o ataque foi frustrado. Desmoralizados, enlouquecidos e revoltados, depois de perder toda a combatividade, eles procuram abrigo. De 120 homens, apenas 63 retornaram s linhas francesas.

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    >

    ai tinham voltado, os viram sob fogo intenso,

    soldados se

    49

  • 50

  • Os soldados no saram. s 18h, a artilharia cessou. O general BRTHIR decidiu mandar fuzilar a companhia toda. Um coronel tentou salvar os homens, dizendo como estavam exaustos.

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    [ A 3 Companhia foi conduzida a um vilarejo de retaguarda.

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    ; )

    O general BRTHIR no final se contentou com trs Homens. A escolha foi feita ao acaso pelos chefes de seo. les passaram por Conselho de Guerra e foram condenados ao peloto de execuo. ntre eles estava o soldado Jean DSBOIS...

    / ]

  • Ajoelhados contra a parede de uma garagem, sem poste e com os olhos vendados, os condenados foram fuzilados por jovens soldados que estavam no f ront havia pouco tempo.

    m m

    A guerra prosseguia.

    52

  • OUFFIOT tinha pensado muito. Fazia trs meses que tinham lhe contado o truque... foi um soldado que no tinha experimentado, mas lhe disse que funcionava toda vez. No tinha o prprio soldado recebido as instrues de um sujeito que conhecia um fulano que tinha conseguido praticar com sucesso?

    I i .

    iilllliilllllll

    M H

    Assim, SOUFFIOT tinha refletido e tomara sua deciso, estava determinado. Tirou do bornal agulha e linha, arregaou a manga esquerda e depois passou a linha por entre os dentes para tirar os restos de comida presos nos intervalos.

    tm} Com a agulha, enfiou embaixo da pele do brao esquerdo a linha cheia de restos de comida. A dor era aguda, mas ele estava determinado.

  • c | SOUFFIOT voltou a baixar a manga & retomou seu posto de vigia no tanque. No dia seguinte, seu brao estava inchado, fie disse que tinha se machucado no arame farpado. Pois dias depois, foi evacuado. Foi amputado com muita rapidez. Antes de ser dispensado, realizou pequenos servios no hospital

    SOUFFLOT ainda no sabia da morte de fUMZAU quando procurava trabalho em Paris, fie no podia mais exercer sua antiga profisso. O que poderia fazer? No conseguiria se virar com sua penso de invlido, fie pediu um Amer-Picon... fnquanto isso, a guerra prosseguia.

    S W v -

    54

  • A ,

    "Para mim, em primeiro lugar, a respeito do campo, preciso dizer logo que nunca fui capaz de senti-lo, sempre o achei triste, com seus lamaais que nunca terminam, suas casas onde nunca h ningum e seus caminhos que no vo a lugar nenhum. Mas quando a ele se adiciona a guerra, ainda por cima, insuportvel." CL-F CLIN. VOVA6 M BUT P LA NUIT.5

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    12 de outubro de 1916..

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    Sozinho na vigia, devorado pela febre das trincheiras, o soldado HUT se lembrava de um dia de vero.

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  • 56

  • Ns marchvamos, castigados pelo calor e com os ps doloridos por causa dos sapatos novos.

    I Civis que fugiam dos locais de combate para os quais nos dirigamos cruzavam conosco.

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    Eu gostaria muito de poder tomar a mesma direo que aquela gente, mas ns seguamos exatamente no sentido oposto.

  • Durante o descanso, um peloto drages nos ultrapassou, fies tambm se dirigiam para alm das atribulaes.

    Nossos drages fiis que passaram por ali..

    58

  • -MM ..MM Ns encontramos dois batedores a cavalo, enviados para fazer o reconhecimento do terreno. Os alemes no estavam longe, somente a alguns quilmetros... ^ ' i t f f / ^ '

    Foi dada a ordem de nos deslocarmos com as armas em riste pelo campo, de ambos os lados da estrada.

    59

  • No -tivemos tempo de encerrar o "incidente", porque outros belgas em desvio surgiram...

    fies nos disseram que os alemes tinham chegado pela estrada, que eles a abandonaram depois de incendiar o vilarejo que vamos chamas alm do campo.

    60

  • Mandaram que ficssemos em posio nas valetas que ladeavam a estrada.

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    u estava l com aqueles homens que no conhecia, agachado no capim, pronto com o fuzil na mo, e tinha medo. u preferia voltar para casa e tambm tinha vergonha de me preparar para atirar, u tinha vergonha por mim e pelos outros...

    Mas os alemes nos reservavam uma surpresa de mau gosto.

    61

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    v *m>a Ns compreendemos imediatamente por que os belgas tinham recuado. Os alemes avanavam tendo frente

    mulheres e crianas do vilarejo.

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    62

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    HUfT se lembrava multo bem daquele dia de vero e do que tinha acontecido na estrada, da carnificina que se seguiu. As mulheres se jogavam no cho, os alemaes atiravam, fie estava na valeta com os outros, no se lembrava do desfecho do combate. A nica coisa que ele sabia era que tinha usado seu fuzil. Tinha visto a moa cair, aquela que estava de mos dadas com duas crianas.

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    Havia dois anos, na trincheira ou nos abrigos, ele as revia sem cessar, ela e as duas crianas, ele a via caindo por terra.

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    fm alguns momentos, ele duvidava que a tinha abatido, de to confusa que tinha sido a troca de tiros, mas, em outros instantes, ele tinha certeza de ter cometido aquele assassinato.

    63

  • Suas duvidas acentuavam sua angustia, e ele ia se afundando lentamente na loucura, como naquela noite de outubro sob a chuva, sozinho na trincheira, devorado pela febre, com a mulher e os dois pirralhos que o observavam.

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    HUfT no agentava mais, era difcil demais suportar, fie subiu at a borda da trincheira.

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  • 65

  • 66

  • 67

  • Sargento... mande tirar dali o corpo do soldado HUfT... fnvie um

    homem. Que seja enterrado no local. A viso desse cadver no

    boa coisa para o moral da companhia, fxecute/

  • .Sim, como o chamamos, meu capito. Bem aqui na frente, do Iado dos boches, h

    um garoto que sabe usar muito bem seu equipamento, esse boche um perigo, fie

    tem o tiro certeiro. Ns colocamos um sapato na ponta de um basto na frente dele, e ele faz os pregos saltarem um por

    um. Apesar de estar a pelo menos 200 metros/ f HUfT est bem nesse lugar, fu

    no me surpreenderia se tivesse sido Helmut que acabou com aquele maluco, meu

    capito, f sair bem no meio do dia, na frente de Helmut, ir direto para a morte, to certo quanto dois e dois so quatro,

    meu capito.

    t '

    O sargento designa AKfRA/WNN e lhe fornece um tesouro...

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    69

  • AKRA/MNN no tinha a menor chance em pleno dia frente a Helmut. le sabia, e o capito tambm sabia.

  • Naquela manh mesmo, o capito tinha recebido uma licena de 48 horas concedida ao soldado AK5RA/WNN, o que no o tinha impedido de dizer ao sargento: "Pegue aquele judeuzinho/"

    71

  • Va batalha, MAZURf nao tinha visto muita coisa... Os alemes to prximos no campo e nada mais. fie tinha sentido uma dor nos f lanos e cado de quatro no meio do capim... Tambm tinha ouvido barulho e tiros de canhao; quase tinha cado em cima da sujeira de burricos grandes.

    MAZURf tinha perdido seu Lebel e se livrado de sua mochila para se esconder no pequeno bosque que tinha notado logo antes de os boches se abaterem sobre eles.

    72

  • Parecia que a batalha estava se acalmando um pouco. O outro, que no terminava de morrer, comeou a berrar. Mazure hesitou, mas, para no fazer barulho, pegou o sabre do alemo e enfiou-lhe na barriga.

    73

  • fie quena ir embora, mas nao sabia que direo tomar. Ser que os franceses tinham avanado? Naqueles ltimos tempos, eram mais os alemes que ganhavam terreno. Pe onde MAZURf tinha vindo? No escuro, era impossvel saber... fie estava intratvel, idiota, dolorido, todo suado de medo.

    fie saiu do bosque arrastando-se de joelhos.

    74

  • yF / s *

    Pepois, torcendo os ps nos sulcos e evitan do os mortos, MAZURf atravessou o campo de batalha que tinha tanta pressa em deixar para trs. Os feridos urravam.

    fie tinha mijado na cala de medo.

    75

  • 9 L

    ofdjeiiA oe nobvup d\a snb b^o ep uiy o\ad

  • 77

  • 78

  • I f

    ...ele gesticulava com a enorme pistola que ele, AMZURf, tinha roubado do oficial no bosque. O alemo devia ter achado dentro do alforje dele. O que aquele teuto gordo estava fazendo ali? Claro que estava se divertindo bastante com a Mauser, era certo que ia us-la...

    1 P

    79

  • Francesinho, voc meu prisioneiro/

    1

    ft

    Assim de cara e\e o tinha julgado mal, mas aquele alemo no era um sujeito ruim. Fazia quatro dias

    que ele estava escondido no poro, fie comia ovos e galinhas e qualquer coisa que encontrasse nas

    casas, fie tinha perdido seu regimento e no sabia mais para que lado ir... Werner tinha contado tudo

    a IMZURf, ele falava bem francs, por ter sido camareiro em um hotel de Nice.

    80

  • Os dois cavaleiros tinham chegado naquela manh. Na igreja, surpreenderam Werner, que os matou. fie tinha escondido os cavalos e, quando voltou para retirar os corpos, se deparou com MAZURf. fie tinha feito com que desmaiasse e o arrastara para o poro. No o havia matado... ele tinha alguma coisa em mente.

    ( = D

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    A idia de Werner era que eles estavam perdidos, tanto um quanto o outro, que, em resumo, eram irmos de misria. Se fossem os alemes a chegar primeiro, A/WZURf seria tomado como prisioneiro. Se fosse o contrrio, Werner seria o prisioneiro de MAZURf. fie props uma espcie de arranjo, uma combinao que seria boa para ambas as partes. S era preciso esperar, isso evitaria que eles se matassem.

    81

  • 38

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  • noite, a pequena rea sofreu ataques durante uma hora. O vilarejo meio destrudo tinha sido ocupado pelos alemes. Houve um combate, e ele foi abandonado. Quem estava atirando? fra a pergunta que se faziam AWZURf e o alemo, enfiados no buraco.

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