ERA PRA TOMBAR? - direitounesp.com fileAquela senhora nunca vai ... fazer um jogral na própria aula...

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Franca, 10 de Setembro de 2015 Volume II, edição 10 Menina você tem um rosto tão bonito, só precisa perder uns quilinhos né! Gosto de literatura, ninguém nunca me perguntou se eu gosto de ler, mas se eu faço dieta, essa musica já ouvi muitas vezes. Temos agora que nos adaptar a ter apenas um rostinho bonito. Depois de tanto tempo com meu corpo comecei a achar ele bem bonito. Aquela senhora nunca vai entender a beleza dessas curvas. Amor próprio. Minas, aquelas minas, ainda que tenham mentes progressistas, Nunca desistem da dieta, ou daquela frase “Menina eu não posso engordar”. Nasci com 4kg, eu era um grande bebê, ou um bebê grande. Eu sempre fui assim. Bonita. Linda. Preta. Grande. E quanto tempo levou pra eu saber, que é Gorda e não gordinha, e até quem não aceita Agora vai engolir, porque eu digo NÃO. Não sou gorda baleia, saco de areia. Não sou desleixada, não sou doente. Não como tudo que vejo pela frente. Não se ache no direto. Esse corpo é meu. - Daiara Gabriel - 3° ano, História *Meu corpo não é da sua conta ERA PRA TOMBAR? Todos os dias sentimos na pele a apropriação pelo capitalismo, sistema econômico vigente de TODAS as opres- sões estruturais desse mundão: o machismo, o racismo e a opressão socioeconômica. Temos um recadinho para vocês queridinhos: TEJEM AVISADOS QUE A REVOLUÇÃO CO- MEÇOU e que não vai sobrar pedra sobre pedra dessa pa- lhaçada. Mas explica isso direito miga: Como? Onde? Por que? Onde eu assino pra sambar junto? O II Seminário de Sexualidade, Gênero e Direito: Voz à mar- gem e feminismo à vista, realizado pelo Centro Acadêmico de Direito, "Prof. André Franco Montoro" - Gestão MANDA- CARU, acontecerá entre os dias 14/09 e 17/09 no anfiteatro II da UNESP Franca, a partir das 19h30min. As inscrições vão ser feitas em plantões na semana anterior e antes do evento. Os temas: • 14/09 (SEG) - Meu Corpo, Minhas Regras • 15/09 (TER) - AFROntando o Feminismo • 16/09 (QUA) - TRANSformando o Feminismo • 17/09 (QUI) - Lugar de Mulher É Onde Ela Quiser E ainda, agenda cultural das minas!!! Mais informações, caça o evento no fayci, miga! Rolês práticos: - Certificado de 30 horas/aula - Inscrição: Bolsa BAAE e Moradia: R$20,00 Outros: R$25,00 Vai ter só mina na mesa? VAI SIM! Vai ter samba na cara do patriarcado? VAI SIM! Vai ter empo- deramento? VAI SIM! Vai ter arte das minas? VAI SIM! Vai ter mina de todos os cantos ocupando o espaço da Universidade Pública? VAI SIM ! VAI TER FECHAMENTO, VAI TER LACRAÇÃO, VAI TER CLOSE! TOMBEI.

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Franca, 10 de Setembro de 2015 Volume II, edição 10

Menina você tem um rosto tão bonito, só precisa perder uns quilinhos né!

Gosto de literatura, ninguém nunca me perguntou se eu gosto de ler,

mas se eu faço dieta, essa musica já ouvi muitas vezes.

Temos agora que nos adaptar a ter apenas um rostinho bonito.

Depois de tanto tempo com meu corpo comecei a achar ele bem bonito.

Aquela senhora nunca vai entender a beleza dessas curvas.

Amor próprio.

Minas, aquelas minas, ainda que tenham mentes progressistas,

Nunca desistem da dieta,

ou daquela frase “Menina eu não posso engordar”.

Nasci com 4kg, eu era um grande bebê, ou um bebê grande.

Eu sempre fui assim.

Bonita. Linda. Preta. Grande.

E quanto tempo levou pra eu saber,

que é

Gorda e não gordinha, e

até quem não aceita

Agora vai engolir, porque

eu digo NÃO.

Não sou gorda baleia,

saco de areia.

Não sou desleixada,

não sou doente.

Não como tudo que

vejo pela frente.

Não se ache no

direto.

Esse corpo é meu.

- Daiara Gabriel - 3° ano, História

*Meu corpo não

é da sua conta

ERA PRA TOMBAR?

Todos os dias sentimos na pele a apropriação pelo

capitalismo, sistema econômico vigente de TODAS as opres-

sões estruturais desse mundão: o machismo, o racismo e a

opressão socioeconômica. Temos um recadinho para vocês

queridinhos: TEJEM AVISADOS QUE A REVOLUÇÃO CO-

MEÇOU e que não vai sobrar pedra sobre pedra dessa pa-

lhaçada.

Mas explica isso direito miga: Como? Onde? Por que? Onde

eu assino pra sambar junto?

O II Seminário de Sexualidade, Gênero e Direito: Voz à mar-

gem e feminismo à vista, realizado pelo Centro Acadêmico

de Direito, "Prof. André Franco Montoro" - Gestão MANDA-

CARU, acontecerá entre os dias 14/09 e 17/09 no anfiteatro

II da UNESP Franca, a partir das 19h30min. As inscrições

vão ser feitas em plantões na semana anterior e antes do

evento.

Os temas:

• 14/09 (SEG) - Meu Corpo, Minhas Regras

• 15/09 (TER) - AFROntando o Feminismo

• 16/09 (QUA) - TRANSformando o Feminismo

• 17/09 (QUI) - Lugar de Mulher É Onde Ela Quiser

E ainda, agenda cultural das minas!!! Mais informações,

caça o evento no fayci, miga!

Rolês práticos:

- Certificado de 30 horas/aula

- Inscrição:

Bolsa BAAE e Moradia: R$20,00

Outros: R$25,00

Vai ter só mina na mesa? VAI SIM! Vai ter samba

na cara do patriarcado? VAI SIM! Vai ter empo-

deramento? VAI SIM! Vai ter arte das minas?

VAI SIM! Vai ter mina de todos os cantos

ocupando o espaço da Universidade

Pública? VAI SIM !

VAI TER FECHAMENTO, VAI TER

LACRAÇÃO, VAI TER CLOSE!

TOMBEI.

N a Quinta-feira do dia 28 do mês de maio o mestrando da casa, na área de Direito, ministrando aula sem a devida orientação para estágio docência, proferiu, em sala, as seguintes palavras - “O povo brasileiro não dá certo porque nós herdamos a subversidade do negro, a preguiça do indígena e a malandragem do Português. A UNESP FRANCA, hoje, está cheia de boiolagem! Mas

não nesse sentido; no sentido de frescura mesmo”.

Diante de tal atitude racista, homofóbica e xenófoba, os alunos da Faculdade de Ciências Hu-manas e Sociais, em conjunto com o Coletivo Nagô, se posicionaram acerca da questão. Na semana se-guinte, os alunos do 2º ano de Direito e o Coletivo Nagô, junto com alunas e alunos dos demais cursos

da Unesp Franca, se propuseram a fazer um jogral na própria aula do mestrando, com o objetivo de criar um debate propício para a tecelagem de uma visão crítica de vivência e universidade. O mes-trando, já ciente da intervenção, tentou se explicar usando de to-ken e outras falácias igualmente preconceituosas.

Diante da inviabilidade da discussão em sala de aula, o debate se-guiu-se na várzea. Racismo é a não aceitação de pessoa pertencen-te à outra raça que não a sua. No racismo, uma pessoa é julgada como diferente, estranha, inferior e incapaz, devido ao local onde nasceu, raça/etnia a qual pertence, sua aparência (cor da pele, formato dos olhos, por exemplo), pela língua que fala ou pelos seus usos e costumes (formas de agir, comidas, vestuário, gestos e atitu-des). A forma mais perigosa pela qual a opressão racial se manifes-ta é aquela de que cuja existência não nos damos conta; que se es-

tabelece nos atos mais comuns e automáticos de nossa vida cotidiana. Atualmente, o racismo age de forma institucional e estrutural, tendo uma configuração histórica que acaba por “Legitimar” o posicio-namento de tal professor.

É natural que alguns alunos tenham permanecido em sala de aula demonstrando concordância com o ódio proposto, tendo em vista que eventos criados por alunos da própria universidade que visam inserir reflexões sobre a negritude acabam não tendo a adesão da maioria dos alunos, perpetuando, assim, a lógica excludente que silencia negras e negros todos os dias, ocultando suas opressões. Além do exposto, deve-se ressaltar que a fala do mestrando destaca, em sua forma, como as opressões ope-ram de modo sistemático, aliando-se para abranger o máximo de subjetividade possível, padronizando, assim, os corpos de maneira mais eficiente.

Além do racismo, verfica-se, também, a manifestação, em plena aula, da LGBTfobia, concreti-zada na forma da aversão ao comportamento desviante, ca- racteristicamente afeminado, chamado pelo mestrando, negati- vamente (numa tentati-va de inferiorzar o termo já marginalizado), de “Boiolagem”.

A persistência dessas noções no ambi-ente acadêmico representam a violência da coerção da sociedade aos corpos desviantes, destacando a intensa necessidade de democratizar-se a universidade, não só num senti-do objetivo, mas, também, ide-ológico, que propicie a des-construção de diferentes pa-radigmas e a consequente transformação social.

- Coletivo Nagô

V A N G U A R D A

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— Mais terra — disse o

homem. — Mais terra.

O corpo lutava, agonizava, queria viver. Suas

mãos cravaram na terra já enrijecida. Seus músculos cla-

mavam por movimento. Sim, ele tentava. Ele tentava. Ele

tentava. Lutar contra a terra, contra a terra, contra a Terra.

Uma larva indigna, uma larva efêmera. Um ser. Lágrimas jorra-

vam de seus olhos. Adubo. E a terra se firmava, se unia contra

ele. Pobre ser humano enterrado por seus sonhos, morto por sua

semente que germinaria em outro ser, nascido ao seu lado, enterra-

do. Mas que brotaria e o vento a levaria para a liberdade de não exis-

tir, não corporificar. Brisa que vive, que agoniza entre nós, sufoca-

dos. Pobres seres humanos.

- Marcela Helena Petroni Pinca (Kiss) – 3° ano, Direito.

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V A N G U A R D A

A cada 28 horas uma pessoa LGBT morre assassinada no país, somando 44% de todos os homo-transhomicídios do planeta. Somos o país que mais mata travestis no mundo – um índice quatro vezes maior que o segundo colocado. De acordo com o Escritório das Nações Unidas de Direitos Humanos, esses crimes (por homotransfobia) são normalmente brutais e caracterizados por ní-

veis de crueldade superior à de outros crimes de ódio. Numa pesquisa da ONU sobre Juventude e Sexua-lidade no Brasil, 60% dos alunos entrevistados prefeririam não estudar com pessoas LGBT. De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, jovens LGBT estão três vezes mais propensos a ten-tar suicídio que jovens não dissidentes, e até 30% de todos os suicídios que ocorrem na adolescência podem estar relacionados com questões de identidade sexual e de gênero. Em pesquisa recente, meta-de das empresas do Estado de São Paulo disseram que recusariam contratar uma pessoa capacitada se ela fosse declaradamente LGBT – imagine quantas empresas não admitiram isso, mas também agem des-sa forma. Direitos como casamento, adoção, direitos sucessórios e previdenciários não são garantidos à população LGBT. O acesso à justiça e à saúde ficam comprometidos porque o Direito e o Estado só reco-nhecem identidades que seguem a norma. Nome e sexo nos registros são impostos ao nascimento e só podem ser modificados com autorização judicial – que qualquer pesquisa rápida de jurisprudência mos-tra que raramente é concedida. Na grande mídia, pessoas LGBT aparecem como piada, não são persona-gens de histórias reais – são retratadas como caricaturas exóticas. São motivo de riso, nunca de compai-xão. Travestis, que se identificam como mulheres, são sempre tratadas no masculino.

Estado e cultura marginalizam socialmente pessoas que fogem às normas de gênero e responsabili-zam essas pessoas por serem “anormais”. Chamam de doença. Propõem uma “cura”. Proíbem suas ex-pressões e suas liberdades. Pior, restringem seus direitos, diminuindo assim sua humanidade. É nesse contexto de exclusão e criminalização de pessoas LGBT que surge a necessidade de organização política para demandar mudanças. O movimento LGBT não é homogêneo, como a maioria dos movimentos soci-ais contemporâneos. Existem divergências teóricas, políticas, instrumentais (como concretizar objeti-vos). Existe manipulação midiática de tudo que é feito pelo movimento – a construção da imagem das pessoas LGBT é sempre como “radicais”, “imorais”, “promíscuos”. Não são pessoas oprimidas buscando emancipação, são “baderneiros querendo atenção e privilégios”. Mas existir com dignidade não é privi-légio. É direito. E por isso o movimento estudantil também deve pautar as demandas das minorias. Mu-lheres, negros e negras, LGBTs, pessoas portadoras de deficiência são grupos invisibilizados. Sua organi-zação política não é escolha – é sobrevivência. Resistimos todos os dias à violência, ao descaso instituci-onal, ao escárnio social. Recusam-nos emprego, escolaridade, liberdade sobre o corpo e sobre o ir-e-vir, para depois culpar-nos pelo medo, pela violência, pela marginalização.

O Coletivo Glitterize – TRANScendendo o CIStema é uma organização estudantil que se organiza no microcosmos universitário para combater a homotransfobia nas Universidades de Franca. Professores destilam ódio e exclusão no ensino jurídico. Estudantes fazem piada, marcam seu asco pelo diferente nas paredes de banheiros, jogam bebidas e até agridem du-rante festas, silenciam denúncias. As instituições de ensino se omitem por consi-derar “casos de polícia”, enquanto sabem que a polícia e todo o sistema penal é seletivo, racista, elitista, machista, homotransfóbico e capacitista.

Diariamente nós LGBTs somos violentados, culpados pelas violências e silen-ciados. Quando reagimos, somos considerados agressivos. A “normalidade” estéril quer que deixemos de existir. Mas nós existimos. Resistimos. E ocuparemos a Uni-versidade, a ciência, o mercado de trabalho, as ruas. Nossa voz será ouvida, nem que seja nos pequenos coletivos políticos.

Nossa última iniciativa foi um ensaio fotográfico que questio-na os padrões estéticos de gênero. A fluidez construída entre mas-culino e feminino desafia as identidades fixas impostas socialmen-te. Acessórios, trejeitos e práticas sexual-afetivas não nos defi-nem. E enquanto tentarem nos moldar, tolhendo a liberdade que todos e todas devem ter sobre seus próprios corpos, continuare-mos gritando.

- Coletivo Gliterize – TRANSformando do CIStema

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V A N G U A R D A

Somos todos terroristas

(Parte final)

E para essa questão de dois pesos e duas medi-das, reflito: não somos todos terroristas? A França não fez parte da divisão da África no qual tribos e nações rivais foram alocadas den-tro de um mesmo Estado? A França não partici-pou da divisão territorial do Oriente Médio agrupando facções e etnias historicamente ini-migas compactadas dentro de países artificiais. A França não forçou, indiretamente, a emigra-ção maciça de algerianos para a Europa durante a dura repressão frente às guerras de indepen-dências?

A resposta todos sabemos, sem hipocrisia. E assim que concordemos com Sartre: estamos todos condenados à liberdade. Condenados as consequências de nossos atos, de nossas pala-vras, de nossas charges. A minha piada é a sua ofensa, minha alegria pode ser sua angústia, minha crítica, sua chaga, sua ferida. A minha liberdade termina onde começa a do outro, de-finida sempre por uma barreira imperceptível variável de acordo com tempo, espaço e con-texto. Censura? Jamais. Deve ela existir na consciência de uma mente esclarecida que aceita uma reação para toda e qualquer ação.

Se toda palavra ou imagem é uma arma, se a linguagem um exército, não nos iludamos: na guerra constante da pós-modernidade onde buscamos ocupar espaços, reais ou não, cada vez mais escassos e concorridos, não há moci-nhos e bandidos, apenas baixas. A diferença reside, simplesmente, no peso da condenação: enquanto os bárbaros esquizofrênicos do Estado islâmicos serão torturados e encarcerados por longo tempo, enquanto os cartunistas da Char-lie Hebdo pagam com a vida, os verdadeiros muçulmanos europeus, seus filhos e netos são condenados à pena eterna, condenados ao ter-rorismo moral, psicológico, religioso e físico pelos restos de nossas vidas. Condenados ape-sar dessa liberdade que nos é relativa, já que somos franceses quando ganhamos uma Copa do Mundo, e estrangeiros se algum de nós, en-tre 6 milhões, escolhe pegar um rifle e massa-crar outros franceses.

E assim, me lembro quando fui interroga-do se era a favor dos massacres perpetrados pelos jihadistas. Eu, então, disse friamente: só vi um massacre na vida, aquele que Zidane fez com o Brasil em 98.

i Igor Val (Macaca) - 4° ano, Direito

O feminismo possibilitou que mulheres, por meio de muita luta, conquistassem direitos que lhes eram negados e espaços que antes eram apenas ocupados por homens. Entre-

tanto, engana-se quem acredita que a luta acabou. Muitos paradigmas criados pelo patriarcalismo ainda precisam ser quebrados. Um deles é a falácia da li-berdade sexual feminina.

Muitas vezes somos levadas a acreditar que somos livres sexualmente, porque talvez tenhamos mais relações sexuais sem compromisso que nossas mães ou avós tinham. Ou talvez, porque hoje a vir-gindade esteja mais desmitificada que em alguns anos atrás. Mas será que isso significa que atingimos a liberdade sexual?!

Infelizmente não. Ser livre sexualmente é dife-rente de ter muitas relações sexuais ou de ter mui-tos parceiros. A liberdade sexual feminina que acre-ditamos existir é na verdade uma falácia, pois ela só é “aceita” quando beneficia o homem.

Isso pode ser exemplificado a partir da vivên-cia que muitas de nós temos durante a faculdade. Somos encorajadas a quebrar o tabu do sexo casual, mas quando negamos, nos é dito: “mas você transa com todo mundo, por que comigo não?!”. Ou então, por insegurança de perder aquele “parceiro”, aca-bamos cedendo para não parecermos “chatas”. Sem contar que muitas vezes o sexo acaba quando o cara goza e o prazer da mulher é deixado de lado. Essa “ressalva” à liberdade sexual feminina também atin-ge aquelas meninas que se relacionam com outras meninas. Toda festa tem algum casal que escuta: “posso participar?”. Ou seja, muito legal que seja-mos livres, a menos que essa liberdade favoreça os homens.

Não tem nada de errado em transar com todo cara que você ficar, assim como não está errado não querer transar com alguém, ou não querer transar com ninguém, a menos que esta seja uma decisão exclusivamente sua. Entretanto, sabemos que isso é muito difícil de acontecer. Ainda somos levadas pe-los comentários alheios e muitas de nós ainda se preocupam com a “aceitação masculina”. Mas, não era para ser assim. Nenhuma mulher deveria ter re-ceio de que sua vida sexual influencie a forma como as pessoas a enxergam.

Dessa maneira, cabe a cada uma de nós o co-nhecimento de nossos limites e nossas vontades. E, a partir daí, a conscientização de que nossa vida se-xual só diz respeito a nós mesmas e a mais ninguém. Também é importante que cada uma seja o apoio e o suporte que a outra precisa. Só juntas conseguire-mos ser realmente livres, em todos os aspectos. A luta sempre continua.

- Ana Carolina Parreira (Pata) – Formada em Direito

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V A N G U A R D A

E NO FRIGIR DOS OVOS

(Parte final)

F oi assim que, de mesma forma inesperada como um dia começara, a greve chegou, enfim, ao seu término. No fim, viu-se que o cansaço era geral e se a princípio a era grande a adesão das gali-nhas e galos, agora, apenas uns poucos insanos mantinham-se fiéis e dispostos a resistir. Os habi-tantes do galinheiro se reuniram para decidir o que fazer na seqüência. O medo e o cansaço impe-

ravam na granja. O garnisé ainda ensaiou algumas palavras, o pavão emudeceu, mas, sua cauda ainda brilhava. As pobres penosas voltaram, assim, aos seus cestos apertados onde aprenderam uma triste e cruel lição, a de que os ovos perdidos sempre serão cobrados de alguém, no caso, das galinhas, pois no fim, não importa o que os galos e pavões façam ou digam, serão sempre as galinhas as donas e responsá-veis pelos seus ovos (ou será o granjeiro?). Outra lição aprendida, embora essa tenha mais o tom de ver-dade universal é a de que granjeiro algum jamais tolerará prejuízos.

Os pintinhos, já abatidos, finalmente puseram fim à sua desproposita greve que, afinal, rendeu-lhes apenas fome. Saíram de sua aventura famintos e fracos e durante muito tempo terão de se conten-tar com as migalhas desprezadas pelas aves de rapina e pelos parasitas do galinheiro. Alimentando-se de restos, não tardará para que comecem a disputar miséria, afinal, a partilha e a solidariedade quase sem-pre adoecem com a fome. Alguns, mais fortes, com isso talvez se recuperem, mas, haverá muitos que terminarão anêmicos, raquíticos e franzinos, outros talvez, nunca mais crescerão, tornar-se-ão os futu-ros garnisés do galinheiro, e há ainda as que sequer chegarão a botar ovos... Mas, não se preocupem com o galinheiro, tampouco com o granjeiro, pois, de um modo ou de outro, ele sempre achará uma uti-lidade para os frangos e um jeito de manter seu ganha-pão, gostem eles ou não.

Assim, no frigir dos ovos, a paz enfim voltou a reinar nesse estranho mundo onde pavões se exibem entre galinhas, ratos falam de ovos, pintinhos recusam comida e galos debatem em conselhos. Pouco a pouco, a vida no galinheiro recuperou sua rotina monótona, mas, embora tudo fosse como antes, ali, nada jamais seria como deveria ser. O pavão vaidoso voltou a desfilar entre as galinhas e a falar aos pin-tinhos . E não estranhem os que porventura pensaram que ele teria saído derrotado, afinal, os ovos nun-ca foram exatamente a questão. Na cabeça do pavão ele até se sentia um vitorioso, pois, embora recla-masse os ovos alheios, a ave jamais propusera coisa alguma, tampouco dissera o que fazer deles, como, aliás, era de se esperar de alguém que jamais pusera coisa alguma. E como as galinhas e pintinhos con-tinuassem a admirá-lo cada vez mais, há quem diga que pavão e garnisé, desde a ocasião dois grandes amigos, já que não podem tomar parte no alto conselho, planejam, agora construir um grandioso palan-que no fundo do galinheiro de onde possam continuar a apaixonar multidões e a proclamar seus delírios. Resta saber se haverá espaço suficiente no palanque para tantas penas e tanta cor.

- Aristófanes de Heraclião - 5° ano, Direito

SOBRE O AUTOR: Aristófanes foi um dramaturgo grego que viveu entre 447 a.C. - 385 a.C. Dedicou-se à comédia, gênero que ajudou a difundir, deixando peças importantes como "As aves", "As rãs", "Lísístrata", entre outras. Aristófanes de He-raclião, seu primo em sexagésimo grau, embora não tenha o mesmo talento nas artes, tenta, de alguma forma, manter o

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V A N G U A R D A

Enquanto isso, na UNESP

Franca...

O começo do primeiro semestre letivo de 2015 foi marcado por grande movimenta-

ção política no campus. A paralisação estu-dantil do dia 20/05 teve boa adesão e con-

tou com 4 rodas de discussão, que pautaram opres-sões, a crise do cursinho popular, extensões comuni-cativas e populares e a história do movimento estu-dantil. A paralisação, como ferramenta política, contribui para o fortalecimento dos debates e do confronto de ideias, abrindo ainda mais um espaço de diálogo, conscientização e (des)construção; algo indispensável para um ambiente democrático politi-camente heterogêneo. As discussões, desta forma, fortaleceram também a reivindicação das pautas, que envolvem problemas como o baixo número de refeições do Restaurante Universitário (entre outros

graves déficits na política de permanência), repres-são contra a luta estudantil, desmonte do cursinho popular (S.E.U.), cortes de bolsas de extensão, im-pedimento da realização de novas contratações, so-brecarga no serviço dos servidores, entre outros fru-tos da política de sucateamento das universidades estaduais, combatida pelo Movimento Estudantil.

Outras duas paralisações ocorreram ao longo do semestre, nos dias 28/07 e 04/08, também con-tando com rodas de debate que abordaram as pau-tas estudantis, com destaque para o aumento do ticket do Restaurante Universitário, que no mês de agosto teve um aumento de preço para R$4,00.

junto ao coletivo. É inconcebível este tipo de discurso de ódio, ainda mais dentro de uma instituição pública de ensino.

Diante disso, buscamos o apoio dos professores nos departamentos e no Conselho de Curso, ao que es-tes

reagiram, sem maiores surpresas, com grande menos-

prezo em relação às causas desses grupos historica-mente marginalizados. O silenciamento reinou nas reu-niões, as quais contaram com falas no sentido de que “não podemos punir o mestrando por causa de sua ide-ologia”, como se preconceito fosse considerado ideolo-gia. Como sempre, professores escolhem proteger uns aos outros e se calar ao invés de assumir um comporta-mento criminoso entre eles.

Na última reunião de Conselho de Curso antes do recesso, tentamos levar como pauta esse debate nova-mente, exigindo um posicionamento do órgão, ou, caso contrário, a reunião não aconteceria. Diante disso, a escolha dos conselheiros foi a não realização da reuni-ão do Conselho de Curso, a qual sabemos ser funda-

mental para os alunos. Tudo para “defender” a “ideologia” do mestrando da casa. Novamente, o Con-selho de Curso preferiu se omitir e se calar perante um discurso de opressão feito dentro de sala de aula, por uma pessoa que possui, afinal, uma posição hierárquica de poder naquele ambiente. A luta, ainda assim, conti-nua. Aqueles negligenciados pela Universidade, que não os quer aqui, resistirão, sejam pretos, pobres, ín-dios, mulheres ou membros da comunidade LGBT*. Opressores não passarão!

PROFESSORES SUBSTITUTOS

Ao final do semestre passado, diversos concursos foram abertos e bancas foram realizadas para os de-partamentos de Direito Público e Privado, todos para professores substitutos. O curso de Direito passa, atu-

almente, por uma peculiar revitalização, a qual já ocorre há alguns anos: professores há muito tempo ti-tulares da UNESP estão se aposentando. Uma nova ge-ração está surgindo, e, nesse período de transição, ex-plodem os concursos para substitutos. Além disso, co-mo consequência dos cortes de gastos determinados pela Reitoria, os concursos para cadeiras e para titula-res são ainda mais raros. A pressão, no entanto, continua. Professores substitutos são, também, inferiorizados de certo modo, recebendo salários baixos e sendo obrigados a lecionar outras matérias para “tapar buracos” na grade (os quais, em alguns casos, são criados por professores ti-

tulares que tiram licença prêmio sem de fato merecê-la). Além disso, os professores substitutos atualmente não possuem qualquer possibilidade de continuidade em seu trabalho, mesmo que jovens e mostrando novas possibilidades dentro da sala de aula. A insegurança que esse processo causa para os alunos é extremamen-te prejudicial, já que a cada semestre letivo não se sabe se aquela matéria será ou não lecionada, o que inevitavelmente gera uma instabilidade no curso.

Boletim de Política Interna

e Qualidade de Ensino

• NÃO HOUVE REUNIÃO DO CONSELHO DE CURSO NOS MESES DE ABRIL E DE JUNHO DEVIDO À FAL-TA DE QUÓRUM DOCENTE

RACISMO INSTITUCIONALIZADO

Em meio às discussões de combate ao precon-ceito e intervenções realizadas pela representação discente, ainda presenciamos episódios lamentáveis

como na aula do 2° ano de Direito, em que um mes-trando em estágio de docência proferiu palavras de ódio em sua aula, fazendo uma suposta citação a qual apontava o problema do Brasil como "a herança da subserviência do negro, a preguiça do indígena e a malandragem do português" e que a UNESP-Franca está “cheia de boiolagem", mas "no sentido de fres-cura". Frente a este discurso retrógrado, na semana seguinte, em sua aula, ocorreu uma intervenção jun-to ao Coletivo Nagô, em que foram expostos dados estatísticos consequentes da homolesbotransfobia, racismo e xenofobia, seguido de um convite para os alunos se retirarem da sala e comporem uma discus-