Ergonomia Onibus Urbano

download Ergonomia Onibus Urbano

of 16

description

Itiro Iida

Transcript of Ergonomia Onibus Urbano

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    56 ISSN 1679-8902

    ERGONOMIA DO NIBUS URBANO - ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE SANTOS - SP2

    Ergonomics of Urban Buses A Case Study in the City of Santos SP

    DOS SANTOS, Alda Paulina

    Arquiteta e Professora na Universidade Santa Ceclia - UNISANTA

    Resumo

    O planejamento urbano o instrumento norteador para o desenvolvimento de programas que buscam melhorar ou revitalizar aspectos como, por exemplo, a qualidade de vida da populao, dentro de uma dada rea ou do planejamento de uma nova rea urbana em uma dada regio, tendo como objetivo propiciar aos habitantes qualidade de vida adequada. De acordo com pesquisas realizadas, qualidade de vida pode ser definida como o momento de nossas vidas em que h um completo atendimento das necessidades bsicas necessrias ao nosso bem estar, como: sade, alimentao, educao, transporte, emprego , moradia e lazer. O transporte coletivo, principalmente o nibus, por ser um modo de transporte muito utilizado por uma grande parcela da populao urbana no Brasil, principalmente para realizao de atividades necessrias vida cotidiana, como deslocamento para o trabalho e escola. Para que os usurios do nibus possam realizar suas viagens em condies adequadas, necessrio que os veculos atendam as condies ergonmicas de conforto segurana e eficincia, como elemento fundamental para contribuio da qualidade de vida em busca de cidades mais saudveis. Esta pesquisa tem como objetivo a avaliao ergonmica dos aspectos fsicos dos nibus urbanos e a opinio dos usurios em relao a estes aspectos.

    A pesquisa foi desenvolvido em duas etapas principais:

    1. Levantamento das condies ergonmicas dos nibus urbanos.

    2 Trabalho Apresentado no 15 congresso Brasileiro de Transporte e Trnsito e parte do

    contedo apresentado na revista Ceciliana (Revista Interna da Universidade Santa Ceclia).

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    ISSN 1679-8902 57

    2. Entrevistas com os usurios para avaliar a opinio dos mesmos com relao s caractersticas de conforto dos nibus.

    Palavras-chave: Ergonomia, Qualidade de Vida, Cidades Saudveis.

    Abstract

    Urban planning is the guiding instrument for the development of programs that seek to improve or revitalize aspects such as the quality of life within a given area or planning a new urban area in a given region, and the order to provide residents adequate quality of life. According to surveys, quality of life can be defined as the moment of our lives where there is a complete fulfillment of basic needs necessary for our well being, such as health, nutrition, education, transport, employment, housing and leisure. Public transportation, especially buses, as a mode of transport used by a very large proportion of urban population in Brazil, mainly to carry out activities necessary for daily life such as commuting to work and school. So that users can accomplish their bus travel under appropriate conditions, it is necessary that vehicles meet the ergonomic conditions of comfort safety and efficiency as a fundamental contribution to the quality of life in search of healthier cities.

    This research aims to ergonomic evaluation of the physical aspects of urban buses and feedback from users in relation to these aspects.

    The survey was conducted in two main steps: 1. Survey of ergonomic conditions of urban buses. 2. Interviews with users to assess the views of the same characteristics with respect to the comfort of the bus.

    Keywords: Ergonomics, Quality of Life, Healthy Cities

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    58 ISSN 1679-8902

    Introduo

    Os nibus devem ser projetados para transportar passageiros com segurana e conforto. A avaliao das condies ergonmicas, associada pesquisa de opinio dos usurios de fundamental importncia para traduo das necessidades dos usurios em servios.

    A ergonomia pode ser definida de maneira geral como o estudo da adaptao do trabalho ao homem. O trabalho tem uma acepo bastante ampla, abrangendo no apenas mquinas e equipamentos utilizados para transformar materiais, mas tambm toda a situao em que ocorre o relacionamento entre o homem e seu trabalho. Isso envolve no somente o ambiente fsico, mas tambm os aspectos organizacionais de como esse trabalho programado e controlado para produzir os resultados desejados (IIDA,1990).

    O campo da Ergonomia praticamente ilimitado. Aplicam-se estudos ergonmicos nas mais diversas reas. Pode-se observ-la em equipamentos cirrgicos, odontolgicos e hospitalares, ferramentas, eletrodomsticos, mveis, informtica, transporte areo, rodovirio, naval, ferrovirio, espacial, mquinas e equipamentos pesados, tratores, guindastes, pontes rolantes, cabines, painis e salas de controle de linha de produo, etc.

    nibus Urbanos Aspectos Ergonmicos

    Diversas caractersticas dos nibus podem influenciar diretamente na qualidade de conforto dos mesmos: o assento, a higiene e segurana, o espao para circulao interna, as dimenses das portas, a roleta, os apoios, a altura dos degraus a visibilidade, e as condies ambientais, como conforto trmico, rudos e iluminao.

    Foram descritas as caractersticas ergonmicas dos nibus urbanos, dentre elas: assento, higiene e segurana, circulao interna, as portas, a

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    ISSN 1679-8902 59

    catraca, os apoios, os degraus, a visibilidade e os fatores ambientais (temperatura, rudo e iluminao).

    Levantamento das caractersticas ergonmicas dos nibus

    Para esta pesquisa foram analisados dois tipos de nibus que operam no sistema convencional de Transporte Coletivo de Santos: os veculos com carroceria Busscar e os veculos com carroceria Caio, srie Millenium, comemorativo aos 500 anos do Brasil.

    Caractersticas fsicas analisadas nos veculos

    Caractersticas do assento

    Foram analisadas a altura, largura e profundidade do assento e a distncia entre eles, assim como a largura e a altura dos encostos

    Caractersticas da roleta Foram analisadas a largura e altura da roleta

    Espao para circulao interna

    Foi analisada a largura do corredor, considerando duas fileiras de pessoas em p colocadas ombro a ombro no sentido longitudinal

    Apoios Foi analisada a altura dos apoios horizontais superiores, de ambos os veculos

    Degraus

    Foram analisadas a altura, a largura e a profundidade dos degraus, assim como a altura da escada para a pista nas portas de entrada e sada

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    60 ISSN 1679-8902

    Portas Foram analisadas as larguras das portas de entrada e sada

    Visibilidade

    Para a visibilidade do ambiente externo foi analisada a altura das janelas e a distncia do piso as janelas

    Corrimos Foram analisadas a altura e a distncia entre corrimos

    Campainhas Foi analisada a altura dos botes e cordes da campainha

    Dimenses e design do balastre Foram avaliados os balastres, utilizando o princpio dos manejos.

    Caractersticas ambientais analisadas nos veculos

    Temperatura Prximo ao motor de ambos os nibus

    Iluminao e rudo

    Trs pontos dentro do nibus: na frente (1 fileira de poltronas atrs da catraca), no meio (4 fileira de poltronas) e no fundo (ltima fileira de poltronas).

    As caractersticas fsicas analisadas em ambos os veculos esto de acordo com a resoluo n 1/ 93 do CONMETRO (Conselho Nacional de Metrologia Normalizao e Qualidade Industrial).

    J as caractersticas ambientais esto acima do recomendado pela legislao.A iluminao est com valores acima do estabelecidos pela NBR 5413 Norma Tcnica da ABNT (Associao Brasileira de Normas Tcnicas). O rudo no nibus carroceria Caio prximo ao motor esta acima dos padres

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    ISSN 1679-8902 61

    ergonmicos estabelecidos por IIDA (1977), assim como no nibus carroceria Busscar. A temperatura efetiva esta acima do estabelecido pela NR-17 (Norma Regulamentada pelo ministrio do trabalho, por intermdio da portaria 3214 de 08/06/78 previstas no captulo V da CLT).

    Pesquisa de Opinio com os Usurios

    A pesquisa de campo procurou levantar a opinio dos usurios dos dois tipos de nibus urbanos utilizados na cidade de Santos com relao s caractersticas ergonmicas dos veculos. A pesquisa foi feita atravs de entrevistas realizadas nos pontos de parada devido dificuldade de se entrevistar os passageiros e preencher os questionrios com o veculo em movimento.

    Foram entrevistados um total de 162 passageiros, sendo 82 usurios do nibus carroceria Caio e 80 usurios do nibus carroceria Busscar. Esta amostra d um nvel de confiana de 95% com uma margem de erro aproximada de 5% em relao populao pesquisada (com base no tamanho da amostra e na probabilidade de acerto).

    De acordo com a pesquisa de opinio com os usurios foram obtidos os seguintes resultados:

    Aspectos Positivos na Opinio dos Usurios

    Esperava-se que houvesse opinies distintas dos usurios a respeito dos aspectos ergonmicos dos nibus analisados, pois ambos tem carrocerias diferentes. No entanto, de maneira geral, de acordo com as anlises realizadas, verificou-se que o tipo de carroceria no interfere na opinio dos passageiros.

    Os principais pontos positivos, na opinio dos usurios, so os seguintes:

    Plataforma de acesso ao, nibus carroceria Caio

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    62 ISSN 1679-8902

    Os usurios do nibus carroceria Caio consideram que o nibus com plataforma de acesso (piso inteirio) facilita a entrada e sada dos veculos, facilitando a estabilidade dos membros inferiores, principalmente na descida do nibus, situao em que o controle muscular das pernas se torna mais difcil.

    Altura dos degraus do nibus carroceria Busscar A maior parte dos usurios dos nibus carroceria Busscar (67%) consideraram boa a altura dos degraus. Altura do assento de ambos os veculos analisados

    A maior parte dos usurios de ambos os veculos (62% carroceria Caio e 67% carroceria Busscar) consideraram boa a altura do assento. Posio dos dois tipos de campainha de ambos os veculos

    As maiores parte dos usurios de ambos os veculos consideraram boa a posio das campainhas de corda e de boto.

    Tipo da campainha

    A maior parte dos usurios prefere a campainha de boto, e ambos os nibus possuem este tipo de campainha, alm da campainha de corda.

    Altura do apoio horizontal

    Os usurios de ambos os veculos analisados consideraram boa a altura dos apoios horizontais.

    Nvel de rudo

    A maioria dos usurios do nibus carroceria Caio declarou-se indiferente ao nvel de rudo, no sendo este um fator de incmodo.

    Aderncia do balastre

    A maioria dos usurios considera que o balastre adere bem pega das mos.

    Altura das janelas Os usurios de ambos os veculos conseguem visualizar onde descer. 48%

    dos usurios do nibus carroceria Busscar acham boa a altura das janelas.

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    ISSN 1679-8902 63

    Aspectos Negativos na Opinio dos Usurios

    Os principais pontos negativos na opinio dos usurios so os seguintes:

    Altura das escadas

    A altura das escadas para a pista no nibus carroceria Busscar foi considerada elevada por mais de 50% dos usurios. Quando o motorista pra o nibus prximo da calada (o que nem sempre ocorre) fica mais fcil para os passageiros acessarem o veculo, porque diminui a distncia entre o primeiro degrau e a guia.

    Distncia entre assentos

    Embora esteja de acordo com a resoluo n1/ 93 do CONMETRO (Conselho Nacional de Metrologia Normalizao e Qualidade Industrial), a distncia entre assentos foi considerada pequena por 74% dos usurios dos nibus da carroceria Caio e por 65% dos usurios de nibus da carroceria Busscar. A distncia de 30cm realmente bastante inferior distncia entre assentos de nibus urbanos recomendada por Lida (1977) que igual a 70cm. Quantidade de apoios verticais

    A quantidade de apoios verticais foi considerada insuficiente por mais de 50% dos usurios de ambos os veculos.

    Altura das janelas do nibus carroceria Caio A altura das janelas do nibus carroceria Caio foi considerada alta por mais

    de 50% dos usurios.

    Largura da roleta

    A largura da roleta foi considerada ruim por mais de 70% dos usurios de ambos os veculos, embora ela esteja em conformidade com a resoluo n1 / 93. Verificou-se que alm da roleta ter uma largura reduzida, para evitar a passagem indevida de passageiros sem pagar, h barras de ferro obstruindo a passagem junto roleta, o que acaba aumentando o desconforto dos usurios, principalmente daqueles que carregam algum objeto.

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    64 ISSN 1679-8902

    Altura da roleta

    A altura da roleta foi considerada ruim pela maior parte dos usurios de ambos os veculos.

    Largura do corredor

    A largura do corredor est de acordo com a resoluo n1 / 93. No entanto, mais de 50% dos usurios de ambos os veculos analisados opinaram que pequena e quando o nibus est lotado a situao fica ainda pior. A recomendao para dimensionamento da largura do corredor considerar duas fileiras de pessoas em p (IIDA, 1977). Nos horrios de pico, verifica-se que se formam at trs fileiras de usurios no corredor de ambos os veculos.

    Pessoas em p

    Os usurios de ambos os veculos opinaram que o nmero de pessoas em p grande levando-se em considerao os horrios de pico.

    Higiene do veculo

    A higiene dos veculos foi considerada ruim por mais de 50% dos usurios de ambos os veculos.

    Rudo no interior do veculo carroceria Busscar

    O nvel de rudo foi considerado alto por 36% dos usurios dos veculos carroceria Busscar.

    Temperatura

    A temperatura no interior do veculo tambm foi um aspecto de desconforto apontado pela maioria dos usurios de ambos os veculos analisados. Este resultado se justifica tendo em vista que Santos uma cidade com temperaturas bastante elevadas principalmente no vero, com umidade relativa do ar alta. Esta condio provoca a sudorese contnua aumentando o desconforto dos passageiros, principalmente por ser um ambiente fechado. Verificou-se que a grande maioria dos veculos no possui um sistema de ventilao adequado para minimizar este desconforto, e somente a ventilao proveniente das janelas no consegue dissipar o calor nos interior dos veculos, principalmente quando esto cheios.

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    ISSN 1679-8902 65

    A partir dos resultados obtidos atravs da pesquisa de opinio foi possvel conhecer os usurios de transporte coletivo de nibus da cidade de Santos, assim como levantar os aspectos, que segundo eles, no esto dentro do padro de conforto.

    Resultado da Questo Aberta

    Alm das questes fechadas os usurios tiveram a oportunidade de expressar livremente sua opinio em uma questo aberta, sem nenhum estimulo dos entrevistadores com relao aos assuntos a serem comentados.

    Verificou-se que 90% dos usurios de ambos os veculos analisados comentaram a respeito do valor da tarifa, considerada alta.

    Muitos comentrios tiveram relao com o tempo de espera pelos nibus, que em algumas linhas chega a 50 minutos nos casos mais extremos.

    A ausncia do cobrador foi relatada pela maioria dos usurios de ambos veculos como fator de desconforto, pois quando os usurios no possuem o bilhete eletrnico a tarefa de cobrana do motorista do nibus, o que acaba retardando a sada do veculo.

    A maioria dos usurios do nibus carroceria Caio reclama que o nibus somente com porta central para descida dificulta a sada do veculo, principalmente para os usurios que se localizam no fundo do nibus. Os usurios consideram tambm que a elevao em ngulo do piso do nibus na parte traseira dificulta o equilbrio dos usurios que viajam em p.

    Opinio dos Portadores de Deficincia

    Os portadores de deficincia no eram o foco principal desta pesquisa e apenas seis usurios com dificuldade de locomoo foram entrevistados. Mesmo assim, julgou-se interessante colocar a opinio desses usurios porque

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    66 ISSN 1679-8902

    as dificuldades apontadas podem servir de incentivo para outros trabalhos na rea de transportes urbanos com foco neste tipo de usurio.

    Os portadores de deficincia relatam que h uma dificuldade de locomoo muito grande pois h poucas linhas com nibus adaptados (poucos possuem plataforma elevatria que abaixam at o nvel do piso da calada para facilitar o acesso). Esta situao faz com que os portadores de deficincia dependam da ajuda de outras pessoas, que nem sempre esto dispostas a ajud-los.

    A maior parte dos veculos ou no tem plataforma de acesso para deficientes (como o caso dos nibus com carroceria Busscar) ou, quando tem (com o caso do nibus carroceria Caio) ela no chega ao nvel do piso da rua, o que dificulta a entrada dos portadores de necessidades especiais, principalmente os cadeirantes. (Figura 5.1).

    Figura 1 nibus carroceria Caio com plataforma de acesso para deficientes que no chega ao nvel da rua.

    Fonte: Arquivo da pesquisadora (2004)

    Consideraes Finais

    O estudo aqui apresentado teve como base que o nibus urbano, assim como qualquer produto ou servio oferecido aos muncipes, deve fazer parte do planejamento urbano levando em considerao o conforto a segurana a sade e consequentemente a qualidade de vida de quem os utiliza.

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    ISSN 1679-8902 67

    A ergonomia defende que a opinio do usurio no processo do desenvolvimento de produto, fundamental para o seu sucesso pois ningum melhor do que o prprio consumidor final para dizer quais as dificuldades enfrentadas por ele na utilizao dos mesmos.

    Atravs da pesquisa foi possvel conhecer melhor o perfil dos usurios de nibus urbano da cidade de Santos e verificar que as opinies a respeito das caractersticas adequadas e inadequadas dos veculos independe de diferenas fsicas, assim como dos objetos transportados por eles nos veculos. A pesquisa mostrou que os veculos analisados atendem plenamente as normas vigentes, mas que muitos itens no atendem as necessidades de conforto dos usurios.

    Quantos aos aspectos fsicos dos nibus, que segundo a pesquisa de opinio no atendem as necessidades dos passageiros, sugere-se a necessidade de uma reviso do layout baseando-se nos tipos fsicos dos usurios, assim como nas normas existentes para adequao do seu texto no que se refere construo e montagem dos nibus urbanos, incluindo o design interno.

    Quanta aos aspectos ambientais, deve ser observada as normas que dizem respeito ao conforto dos usurios.

    Quanto iluminao, de acordo com as medies realizadas no interior do nibus os nveis de luminncia esto bem acima que o determinado na NBR - 5413 e na resoluo nmero 1/93. A iluminao excessiva acaba provocando reflexos. Durante o dia a claridade natural excessiva tambm contribui para o desconforto visual dos usurios. Para atenuar este desconforto recomendvel que os vidros laterais dos nibus tenham uma pelcula de escurecimento dos vidros dentro dos padres das normas vigentes. Para que esta pelcula tenha efeito de atenuar a claridade excessiva as janelas dos nibus deveriam permanecer fechadas, nesta condio necessrio o equilbrio trmico para proporcionar maior conforto aos passageiros.

    O equilbrio trmico pode ser conseguido atravs de ventilao permanente dentro dos nibus ou de ar refrigerado, pois a cidade de Santos

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    68 ISSN 1679-8902

    est freqentemente sujeita a altas temperaturas e umidade relativa do ar elevada.

    Em relao ao rudo, segundo IIDA (1977), o nvel de rudo mximo recomendado no interior do nibus de 75 dB. De acordo com as medies locais em ambos os veculos analisados, prximos aos motores o rudo ultrapassa este nvel. Sugere-se a atenuao do rudo entre a fonte e o receptor ou seja, fatores que causam rudo entre o agente causador e os passageiros. Verificou-se tambm que alm do rudo dos motores, a campainha e o sistema de ar comprimido para abrir e fechar a porta tambm so fontes de rudo em nvel secundrio gerando desconforto aos passageiros.

    Quanto higiene do nibus, embora no se trate de um aspecto ergonmico, sugere-se que haja maior ateno da empresa concessionria, assim como campanhas de orientao aos usurios para conservao da limpeza dos veculos. Sugere-se tambm a colocao de pequenas latas de lixo como j existem em alguns poucos. Para facilitar o embarque e desembarque dos passageiros sugere-se a adoo de pisos inteirios ao invs de degraus em todos os veculos o que aumentaria a segurana e conforto dos passageiros, principalmente no desembarque do veculo, pois o controle muscular dos membros inferiores mais difcil na descida.

    Objetivando o aspecto social, este trabalho teve a inteno de contribuir, para uma viso geral dos dois tipos de nibus mais comuns que circulam na cidade de Santos assim como dos usurios destes veculos e suas necessidades de conforto no sentido de despertar as organizaes pblicas e privadas e os empresrios bem como a comunidade em geral da importncia da ergonomia para o conforto e segurana tambm no nibus urbano.

    Embora, o decreto nmero 3981/02, que altera o decreto nmero 3758/01, em seu artigo primeiro faa a citao de postos avanados de cobrana sem cobrador, na opinio dos usurios a ausncia do cobrador prejudicial, pois causa o retardo da sada do veculo porque o motorista assume a tarefa de cobrana. Sugere-se a reviso do texto deste decreto, pois

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    ISSN 1679-8902 69

    alm de funo cobrana, o cobrador propicia a segurana e qualidade no atendimento dos passageiros.

    Sugere-se a realizao de pesquisas semelhantes em outros locais, abordando assuntos no tratados nesta pesquisa, como utilizao do nibus urbanos por portadores de deficincias e necessidades especiais (incluindo as obesas), o ponto de nibus como mobilirio urbano, e sua integrao com os nibus.

    preciso ressaltar que as concluses obtidas nesta pesquisa referem-se aos nibus urbanos da cidade de Santos, no podendo ser generalizada para outras cidades e sim utilizada para outros trabalhos direcionados para estudos similares como instrumento de apoio.

    Embora esta pesquisa tenha sido realizada no ano de 2004 (h oito anos), muito dos problemas citados continuam nos dias de hoje como, por exemplo, a largura das roletas que so estreitas impossibilitando que as pessoas que utilizam o nibus urbano passem com facilidade, principalmente aquelas que transportam mochilas ou sacolas, mulheres grvidas, obesos ou pessoas com algum tipo de dificuldade de locomoo. Outro problema bastante comum principalmente nos dias de calor a temperatura interna dos veculos, que no possuem ar condicionado aumentando o desconforto de quem utiliza. Uma das questes levantadas pelos usurios nesta pesquisa e em discusso atualmente o valor da tarifa, considerada alta e no compatvel com o servio prestado nas questes fsicas citadas neste trabalho e na disponibilidade dos mesmos. Os portadores de deficincia no foram o foco desta, entretanto importante salientar que os aspectos citados na NBR 9050/2004 (Acessibilidade para deficientes fsicos) sejam efetivamente seguidos e os motoristas sejam treinados para que possam atender a este usurio, com qualidade, conforto e segurana. A cidade de Santos esta com uma populao crescente impulsionada principalmente pela expectativa do pr-sal, e pela qualidade de vida. Se os nibus urbanos oferecessem condies favorveis de uso, com certeza muitas pessoas utilizariam o transporte coletivo, ao invs de utilizarem seus veculos particulares, o que acaba contribuindo para vivermos em cidades pouco saudveis em funo da poluio e congestionamento, resultando em trnsito catico.

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    70 ISSN 1679-8902

    Referncias Bibliogrficas

    ARAJO, G. Normas Regulamentadoras Comentadas. Rio de janeiro, 2002. CATLOGO BUSSCAR : Distrito Industrial . Joinville / Brasil , 2003. Disponvel em: [email protected]; . Acesso em: junho de 2012

    CATLOGO CAIO : So Paulo / Brasil, 2003. Disponvel em: www.caio.com.br CHAPANIS, Ethnic Variables in Human Factor Engineering. Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 1975.

    COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRFEGO. A Gesto do Trnsito e Transporte no Caminho Certo, Relatrio de Atividades, 1997 /2000.

    GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia. Adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre Bookmann , 1998.

    IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produo. So Paulo : Edgar Blucher, 1990. IIDA, I. Aspectos Ergonmicos do nibus Urbano,2. Rio de janeiro, RJ: Ministrio da Indstria e do Comrcio/ Secretaria de Tecnologia Industrial, MIC/STI., 1977.

    NORMA REGULAMENTADORA 17 - Portaria 3.214 Captulo V da CLT, 1978.

    PALMER, C. Ergonomia. Rio de Janeiro: Fundao Getlio Vargas,1976.

    PANERO, J. e ZELNIK, M. Las Dimensiones Humanas em Los Espacios Interiores. Mxico: Gustavo Gili, 1984.

    REVISTA CIPA Edio 260 Estudo do Rudo no nibus. So Paulo: Fundacentro, 2001.

    REVISTA INBUS TRANSPORT exemplares n1, n 2 e n 3,So Paulo, 2003. Disponvel em: . Acesso em: junho de 2012 REVISTA BRASILEIRA DE SADE OCUPACIONAL. Estudo das condies de trabalho e sade de motoristas de nibus urbanos de Belo Horizonte MG Ministrio do trabalho e emprego Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho vol.25, 1999.

    REVISTA DOS TRANSPORTES PBLICOS. Associao Nacional dos Transportes Pblicos , Ano 23 4 trimestre n 89, 2000.

    REVISTA DOS TRANSPORTES PBLICOS. Associao Nacional dos Transportes Pblicos, Ano 23 1 trimestre n 90, 2001.

  • Revista Intellectus Ano VIII | N. 22

    ISSN 1679-8902 71

    REVISTA TRUCK & VAN. NIBUS Chassis Carroarias, 2003. STIEL, W.C. nibus : Uma histria do transporte coletivo e do desenvolvimento Urbano no Brasil . So Paulo :Estdio com desenho , 2001.

    STELLMAN e DAUM. Trabalho e Sade na Indstria, vol 1. So Paulo: Fundacentro, 1987.

    WISNER, A. Por Dentro do Trabalho, Ergonomia Mtodo e Tcnica. So Paulo: FTD / Obor, 1987.

    Contato

    Alda Paulina dos Santos [email protected]