Ernesto Pichler

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Ernesto Pichler (1902-1959) foi um dos precursores dos estudos de Mecânica de Rochas e Geologia Aplicada no Brasil Ernesto Pichler Atuando ao lado de ipeteanos como Milton Vargas e Tharcisio Damy, desenvolveu trabalhos pioneiros que contribuíram cientificamente não apenas para o IPT, mas também para o desenvolvimento da Ciência Geotécnica. Órfão e imigrante, Pichler não era oriundo da elite cafeeira ou da burguesia paulista. Sua trajetória foi incomum: antes de se tornar engenheiro, tirou seu sustento como padeiro, pedreiro e auxiliar de escritório, atividades que lhe permitiram concluir os estudos e ingressar na Escola Politécnica. Pichler prestou assistência técnica a obras de construção de estradas, aeroportos e barragens de usinas hidrelétricas no estado de São Paulo e no País. Em 1937 ingressou no IPT como assistente-aluno, permanecendo no Instituto por 22 anos. Faleceu aos 57 anos durante um trabalho de campo, realizando estudos preparatórios para a construção da Barragem de Jupiá, em 27 de novembro de 1959. Entre suas numerosas contribuições, podemos destacar os estudos de solos da cidade de São Paulo, a primeira classificação dos escorregamentos da Serra do Mar, e os estudos geotécnicos para a construção das principais usinas hidrelétrica paulistas.

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Trabalho historico sobre a "personalidade IPT" Ernesto Pichler

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Ernesto Pichler (1902-1959) foi um dos precursores dos estudos de Mecânica de Rochas e Geologia Aplicada no Brasil

Ernesto Pichler

Atuando ao lado de ipeteanos como Milton Vargas e Tharcisio Damy, desenvolveu trabalhos pioneiros que contribuíram cientificamente não apenas para o IPT, mas também para o desenvolvimento da Ciência Geotécnica.

Órfão e imigrante, Pichler não era oriundo da elite cafeeira ou da burguesia paulista. Sua trajetória foi incomum: antes de se tornar engenheiro, tirou seu sustento como padeiro, pedreiro e auxiliar de escritório, atividades que lhe permitiram concluir os estudos e ingressar na Escola Politécnica.

Pichler prestou assistência técnica a obras de construção de estradas, aeroportos e barragens de usinas hidrelétricas no estado de São Paulo e no País. Em 1937 ingressou no IPT como assistente-aluno, permanecendo no Instituto por 22 anos. Faleceu aos 57 anos durante um trabalho de campo, realizando estudos preparatórios para a construção da Barragem de Jupiá, em 27 de novembro de 1959.

Entre suas numerosas contribuições, podemos destacar os estudos de solos da cidade de São Paulo, a primeira classificação dos escorregamentos da Serra do Mar, e os estudos geotécnicos para a construção das principais usinas hidrelétrica paulistas.

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Vida na AústriaNasceu em 1902 na cidade de Innsbruck, Áustria, filho de Franz e Katharine Pichler. De família humilde, Pichler ficou órfão de pai e mãe ainda pequeno, indo morar com os tios.

A Áustria, após a Primeira Guerra Mundial, atravessou um difícil período de reorganização político-econômica e social.

Vida no BrasilErnesto Pichler chegou ao Brasil durante o conturbado governo de Artur Bernardes, sacodido pelas revoltas tenentistas. São Paulo, então governado por Carlos de Campos, vivia um dos episódios mais conflituosos de sua história – a Revolta Paulista de 1924 ou Revolta Esquecida – e, sob o comando do general Isidoro Dias, exigia a deposição do presidente da República.

Pichler iniciou suas atividades no País como padeiro em Presidente Prudente (SP), transferindo-se mais tarde para a capital para trabalhar em obras de construção civil. Trabalhou também em empresas comerciais como auxiliar de escritório e posteriormente no Banco Italo-Belga (1930-1933). O desejo de estudar engenharia o leva a conciliar a pesada rotina de trabalho com os estudos secundários, que retomou nos Ginásios Moura Santos (1929), Anchieta (1931) e Paulistano (1931 a 1932).

No ano de 1933, Pichler ingressou na Escola Politécnica, no curso de Engenharia Civil. Durante o período de faculdade trabalhou como professor no Ginásio Paulistano, além de dar aulas particulares de Matemática, Física e Química. Em 1938, terminou o curso de Engenharia e naturalizou-se brasileiro.

Em dezembro de 1940, casou-se com Edith Freire, com quem teve três filhos: Beatriz, Ernesto e Diana. Seu filho Ernesto também seguiu a carreira de engenharia: engenheiro naval, foi pesquisador do IPT por 33 anos.

Família de Pichler. Da esq. para a dir, em pé, Ernesto Jr., Beatriz e Diana; Edith Freire e

Ernesto | déc. 1950 -

A reconstrução do País foi possível graças a vultosos empréstimos de agentes internacionais como a Sociedade das Nações, embora as políticas adotadas para tais empréstimos não tenham contribuído efetivamente para a sanar as dificuldades financeiras.

Inserido neste contexto, o jovem Pichler fez o curso técnico de padeiro e um treinamento especializado na área de construção civil. Seu sustento vinha do trabalho na construção de túneis na região dos Alpes.

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Vida no IPT

Formado pela Poli em 1939, Pichler ingressou no quadro técnico do IPT como engenheiro-assistente, na Seção de Geologia e Petrografia. Tinha como companheiros de trabalho Milton Vargas e Fernando de Almeida.

No início da década de 40, o Governo Estadual apoiou o IPT na construção da Usina de Chumbo e Prata de Apiaí, com o objetivo de desenvolver a indústria mineral da zona da Ribeira e assegurar fontes próprias de chumbo, zinco, prata e outros metais de alto valor. Consequentemente, a Seção de Geologia e Petrologia foi transferida para Apiaí (SP), onde Ernesto Pichler permaneceu por cerca de 11 meses (1940-1941).

As atividades de Pichler no IPT iniciaram-se em 1937 como aluno-assistente, na recém formada Seção de Geologia e Petrografia, então chefiada por Tharcisio Damy de Souza Santos. A Seção deu importantes contribuições para os estudos geológicos no Brasil, tais como:

• Estudo sistemático das pedreiras e das ocorrências de granitos dos arredores da Capital, visando conseguir novas fontes de agregados para concreto. Foram estudadas as pedreiras da Serra da Cantareira, trabalho pioneiro publicado por Moraes Rego e Tharcisio Damy de Sousa Santos. Pichler auxiliou na pesquisa e desenvolveu o mapa geológico da cidade de São Paulo, complementando o mapeamento da Serra da Cantareira, infelizmente extraviado e nunca publicado.

• Estudos dos depósitos de minérios de alumínio da região do Planalto de Poços de Caldas (em conjunto com a Seção de Química do IPT). • Estudos geofísicos no vale do rio Tietê, para a prefeitura de São Paulo. Pichler e Milton Vargas fizeram os primeiros levantamentos geofísicos por eletrorresistividade. A pesquisa resultou na construção de um equipamento de sondagem no IPT.

• Estudos sobre a geologia de Santa Catarina e do Mato Grosso.

• Estudos petrográficos sistemáticos de várias rochas, com emprego de compensador Berek.

Encontro da turma da Poli de 1938. Da dir. para a esq, Marcelo Borges, Geraldo Pinto e sua

esposa, Benedito, Eduardo Rodrigues, Pichler, Alberto P. de Castro, Milton Vargas e Mario Dorsa | década de 50

Seção de Geologia e Petrologia do IPT é transferida para a cidade de Apiaí em

1940; Pichler realizou estudos na Usina de Chumbo e Prata, que foi a primeira a

refinar metais no Brasil com uso de carvão natural | 1941

Pichler realizou estudo petrográfico

em Santa Catarina para construção de

barragens em Blumenau e

Joinville | 1953

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Vida no IPTEm 1941, a Seção de Geologia e Petrografia é absorvida pela Seção de Metalurgia e pela Seção de Solos e Fundações, criada em 1936, pelo Eng. Ary Torres. Ernesto Pichler ficou responsável pela execução dos serviços de Geologia da Engenharia, e nesta Seção iniciou seus primeiros ensaios de Mecânica das Rochas.

No final da década de 40, Pichler foi convidado para executar estudos geológicos de fundações de barragens, como nas fundações da Usina Hidrelétrica de Salto Grande, no rio Paranapanema. Participou da investigação das condições dos solos da cidade de São Paulo, visando a construção de um futuro Metrô e da primeira classificação dos escorregamentos da Serra do Mar, dando início às pesquisas sobre escorregamentos em solos residuais.

Em 1950, foi recomendado pelo Prof. Karl Terzaghi à Universidade de Illinois - EUA para realizar estágio na área de Mineralogia das Argilas, sob a orientação do Prof. Ralph E. Grim. Os trabalhos realizados por Pichler durante essa década são inovadores e apresentam contribuições para diferentes áreas da Geologia:

• Desenvolvimento de método de identificação do mineral argila nos solos.

• Estudos sobre erosão linear – tema no qual o IPT é referência nacional – foram realizados pioneiramente por Pichler, em São Paulo, na região da cidade de Casa Branca (1953).

• O primeiro ensaio de perda d’água sob pressão, realizado na barragem de Barra Bonita-SP (1953).

• Os primeiros ensaios in situ de Mecânica das Rochas no Brasil, nas galerias das fundações da usina hidrelétrica de Paulo Afonso I (1954).

Pichler realizou estudos geológicos

da região onde foi construída a Via Anchieta | 1942

Visita de Pichler a Bahia quando foi trabalhar em Paulo Afonso IV | 1949

Seção de Solos e Fundações do IPT - esq. p. dir, o engenheiro Marcelo Kutner, Pichler e a secretária Odila | 1951

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Em 1955, o setor de Geologia Aplicada passa a ter Ernesto Pichler como chefe. Os estudos da Seção nesse período voltaram-se quase exclusivamente para a construção das usinas hidrelétricas paulistas: Ibitinga, Bariri, Caconde, Barra Bonita e Euclides da Cunha. O projeto da Usina de Jupiá, também apoiado pela Seção, representou um grande salto tecnológico por ser a primeira usina construída no rio Paraná, suportando uma vazão muito maior do que as demais usinas paulistas. 

Vida no IPT

Pichler publicou diversos trabalhos técnicos no campo das ciências geotécnicas. Seus trabalhos primam por mostrar a importância do conhecimento das propriedades do meio geológico para a segurança das obras de engenharia. Foi pioneiro nos mais diversos campos de atividades das Ciências Geotécnicas, como mineralogia, escavações subterrâneas e barragens.

Pichler visita a Catedral de Pampulha (MG). Nessa região realizou estudos para construção da Barragem de Pampulha | déc. 1940.

Pichler realizou estudo de compactação de solos no Aeroporto de Bauru (SP) | 1953

Aspecto da fundação da barragem de Barra Bonita | 1959

Pichler faleceu aos 57 anos durante estudos preparatórios na Barragem de Jupiá, a primeira usina construída no Rio Paraná